Thomas Piketty soube a pouco

2
Livro: Capital no Século XXI Thomas Piketty soube a pouco A conferência de Thomas Piketty em Lisboa soube a pouco. Para quem está a ler ou já leu o livro, faltou falar do futuro, para quem não conhece a obra, tenho dúvidas que a venha a querer ler depois da apresentação que foi feita. Senão vejamos, o autor começou logo por referir que é “melhor a analisar o passado do que a prever o futuro”. Ora não é por essa razão que se lê o livro, é exatamente para tirar lições do passado para prever e influenciar o futuro, embora, cada um de nós deva tirar as suas conclusões. Sem gravata e com um ar descontraído, Piketty lembrou que “este não é um livro pessimista”, mas também não foi capaz de nos trazer otimismo, o que foi pena, porque é disso que estamos mesmo a precisar. Em termos de esperança, o professor chamou a atenção para a necessidade dos povos investirem na educação, que será a principal arma para lutar neste mundo globalizado. Quando pensamos no que se tem passado em Portugal ficou claro que a batalha no campo da globalização será muito difícil de ser ganha. Na sua apresentação, Piketty revelou que a diferença de rendimento existente entre os mais ricos e os mais pobres está hoje num ponto em que nunca esteve e que esta situação teve origem nas últimas décadas, onde os conselhos de administrações das grandes empresas acabaram por se aumentar a eles próprios, criando um conjunto significativo de indivíduos com uma riqueza considerável. E esta situação, ainda por cima, não teve uma resposta fiscal eficaz por parte dos governos que mantiveram uma carga fiscal marginal pouco significativa face à dimensão dos rendimentos auferidos.

description

conferência de Thomas Piketty em Lisboa

Transcript of Thomas Piketty soube a pouco

Page 1: Thomas Piketty soube a pouco

Livro: Capital no Século XXI

Thomas Piketty soube a pouco

A conferência de Thomas Piketty em Lisboa soube a pouco. Para quem está a ler ou já leu o

livro, faltou falar do futuro, para quem não conhece a obra, tenho dúvidas que a venha a

querer ler depois da apresentação que foi feita. Senão vejamos, o autor começou logo por

referir que é “melhor a analisar o passado do que a prever o futuro”. Ora não é por essa razão

que se lê o livro, é exatamente para tirar lições do passado para prever e influenciar o futuro,

embora, cada um de nós deva tirar as suas conclusões.

Sem gravata e com um ar descontraído, Piketty lembrou que “este não é um livro pessimista”,

mas também não foi capaz de nos trazer otimismo, o que foi pena, porque é disso que

estamos mesmo a precisar. Em termos de esperança, o professor chamou a atenção para a

necessidade dos povos investirem na educação, que será a principal arma para lutar neste

mundo globalizado. Quando pensamos no que se tem passado em Portugal ficou claro que a

batalha no campo da globalização será muito difícil de ser ganha.

Na sua apresentação, Piketty revelou que a diferença de rendimento existente entre os mais

ricos e os mais pobres está hoje num ponto em que nunca esteve e que esta situação teve

origem nas últimas décadas, onde os conselhos de administrações das grandes empresas

acabaram por se aumentar a eles próprios, criando um conjunto significativo de indivíduos

com uma riqueza considerável. E esta situação, ainda por cima, não teve uma resposta fiscal

eficaz por parte dos governos que mantiveram uma carga fiscal marginal pouco significativa

face à dimensão dos rendimentos auferidos.

Page 2: Thomas Piketty soube a pouco

Entrando nas questões relativas ao capital público versus capital privado, Piketty sublinhou

que “existe sempre uma hipocrisia sobre onde deve ser investido o dinheiro público”.

Sobre a forma como se tem gerado o capital privado, o professor referiu as questões relativas

ao imobiliário, dando como exemplo a Espanha, país onde nas últimas décadas este

investimento cresceu mais do que no Japão. Como as coisas hoje mudaram bastante, Piketty,

frisou que agora “é muito difícil adquirir propriedade, a não ser que seja herdada”.

Sobre as questões da dívida soberana, foi referido que “a inflação é benéfica para a redução da

dívida” e que, na Europa, a dívida dos países está dentro da zona Euro, o que poderá ser mais

fácil de gerir.

Contudo, faltou falar do impacto da austeridade e se o seu fim está ou não à vista dos

portugueses, e, no fundo, era desta matéria que todos estávamos ávidos de saber as últimas

da academia. Faltou falar de esperança. Ao faltar a este confronto Piketty deixou-nos com um

sabor a algo distante, como que a saber a pouco.

A.M. Santos Nabo