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L847c LONDERO, Josirene Candido

Caderno de Ética Aplicada ao Direito Dom Alberto / Josirene Candido Londero. – Santa Cruz do Sul: Faculdade Dom Alberto, 2010.

Inclui bibliografia.

1. Direito – Teoria 2. Ética Aplicada ao Direito – Teoria I. LONDERO, Josirene Candido II. Faculdade Dom Alberto III. Coordenação de Direito IV. Título

CDU 340.12(072)

Catalogação na publicação: Roberto Carlos Cardoso – Bibliotecário CRB10 010/10

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APRESENTAÇÃO

O Curso de Direito da Faculdade Dom Alberto teve sua semente

lançada no ano de 2002. Iniciamos nossa caminhada acadêmica em 2006,

após a construção de um projeto sustentado nos valores da qualidade,

seriedade e acessibilidade. E são estes valores, que prezam pelo acesso livre

a todos os cidadãos, tratam com seriedade todos processos, atividades e

ações que envolvem o serviço educacional e viabilizam a qualidade acadêmica

e pedagógica que geram efetivo aprendizado que permitem consolidar um

projeto de curso de Direito.

Cinco anos se passaram e um ciclo se encerra. A fase de

crescimento, de amadurecimento e de consolidação alcança seu ápice com a

formatura de nossa primeira turma, com a conclusão do primeiro movimento

completo do projeto pedagógico.

Entendemos ser este o momento de não apenas celebrar, mas de

devolver, sob a forma de publicação, o produto do trabalho intelectual,

pedagógico e instrutivo desenvolvido por nossos professores durante este

período. Este material servirá de guia e de apoio para o estudo atento e sério,

para a organização da pesquisa e para o contato inicial de qualidade com as

disciplinas que estruturam o curso de Direito.

Felicitamos a todos os nossos professores que com competência

nos brindam com os Cadernos Dom Alberto, veículo de publicação oficial da

produção didático-pedagógica do corpo docente da Faculdade Dom Alberto.

Lucas Aurélio Jost Assis Diretor Geral

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PREFÁCIO

Toda ação humana está condicionada a uma estrutura própria, a

uma natureza específica que a descreve, a explica e ao mesmo tempo a

constitui. Mais ainda, toda ação humana é aquela praticada por um indivíduo,

no limite de sua identidade e, preponderantemente, no exercício de sua

consciência. Outra característica da ação humana é sua estrutura formal

permanente. Existe um agente titular da ação (aquele que inicia, que executa a

ação), um caminho (a ação propriamente dita), um resultado (a finalidade da

ação praticada) e um destinatário (aquele que recebe os efeitos da ação

praticada). Existem ações humanas que, ao serem executadas, geram um

resultado e este resultado é observado exclusivamente na esfera do próprio

indivíduo que agiu. Ou seja, nas ações internas, titular e destinatário da ação

são a mesma pessoa. O conhecimento, por excelência, é uma ação interna.

Como bem descreve Olavo de Carvalho, somente a consciência individual do

agente dá testemunho dos atos sem testemunha, e não há ato mais desprovido

de testemunha externa que o ato de conhecer. Por outro lado, existem ações

humanas que, uma vez executadas, atingem potencialmente a esfera de

outrem, isto é, os resultados serão observados em pessoas distintas daquele

que agiu. Titular e destinatário da ação são distintos.

Qualquer ação, desde o ato de estudar, de conhecer, de sentir medo

ou alegria, temor ou abandono, satisfação ou decepção, até os atos de

trabalhar, comprar, vender, rezar ou votar são sempre ações humanas e com

tal estão sujeitas à estrutura acima identificada. Não é acidental que a

linguagem humana, e toda a sua gramática, destinem aos verbos a função de

indicar a ação. Sempre que existir uma ação, teremos como identificar seu

titular, sua natureza, seus fins e seus destinatários.

Consciente disto, o médico e psicólogo Viktor E. Frankl, que no

curso de uma carreira brilhante (trocava correspondências com o Dr. Freud

desde os seus dezessete anos e deste recebia elogios em diversas

publicações) desenvolvia técnicas de compreensão da ação humana e,

consequentemente, mecanismos e instrumentos de diagnóstico e cura para os

eventuais problemas detectados, destacou-se como um dos principais

estudiosos da sanidade humana, do equilíbrio físico-mental e da medicina

como ciência do homem em sua dimensão integral, não apenas físico-corporal.

Com o advento da Segunda Grande Guerra, Viktor Frankl e toda a sua família

foram capturados e aprisionados em campos de concentração do regime

nacional-socialista de Hitler. Durante anos sofreu todos os flagelos que eram

ininterruptamente aplicados em campos de concentração espalhados por todo

território ocupado. Foi neste ambiente, sob estas circunstâncias, em que a vida

sente sua fragilidade extrema e enxerga seus limites com uma claridade única,

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que Frankl consegue, ao olhar seu semelhante, identificar aquilo que nos faz

diferentes, que nos faz livres.

Durante todo o período de confinamento em campos de

concentração (inclusive Auschwitz) Frankl observou que os indivíduos

confinados respondiam aos castigos, às privações, de forma distinta. Alguns,

perante a menor restrição, desmoronavam interiormente, perdiam o controle,

sucumbiam frente à dura realidade e não conseguiam suportar a dificuldade da

vida. Outros, porém, experimentando a mesma realidade externa dos castigos

e das privações, reagiam de forma absolutamente contrária. Mantinham-se

íntegros em sua estrutura interna, entregavam-se como que em sacrifício,

esperavam e precisavam viver, resistiam e mantinham a vida.

Observando isto, Frankl percebe que a diferença entre o primeiro

tipo de indivíduo, aquele que não suporta a dureza de seu ambiente, e o

segundo tipo, que se mantém interiormente forte, que supera a dureza do

ambiente, está no fato de que os primeiros já não têm razão para viver, nada

os toca, desistiram. Ou segundos, por sua vez, trazem consigo uma vontade de

viver que os mantêm acima do sofrimento, trazem consigo um sentido para sua

vida. Ao atribuir um sentido para sua vida, o indivíduo supera-se a si mesmo,

transcende sua própria existência, conquista sua autonomia, torna-se livre.

Ao sair do campo de concentração, com o fim do regime nacional-

socialista, Frankl, imediatamente e sob a forma de reconstrução narrativa de

sua experiência, publica um livreto com o título Em busca de sentido: um

psicólogo no campo de concentração, descrevendo sua vida e a de seus

companheiros, identificando uma constante que permitiu que não apenas ele,

mas muitos outros, suportassem o terror dos campos de concentração sem

sucumbir ou desistir, todos eles tinham um sentido para a vida.

Neste mesmo momento, Frankl apresenta os fundamentos daquilo

que viria a se tornar a terceira escola de Viena, a Análise Existencial, a

psicologia clínica de maior êxito até hoje aplicada. Nenhum método ou teoria foi

capaz de conseguir o número de resultados positivos atingidos pela psicologia

de Frankl, pela análise que apresenta ao indivíduo a estrutura própria de sua

ação e que consegue com isto explicitar a necessidade constitutiva do sentido

(da finalidade) para toda e qualquer ação humana.

Sentido de vida é aquilo que somente o indivíduo pode fazer e

ninguém mais. Aquilo que se não for feito pelo indivíduo não será feito sob

hipótese alguma. Aquilo que somente a consciência de cada indivíduo

conhece. Aquilo que a realidade de cada um apresenta e exige uma tomada de

decisão.

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Não existe nenhuma educação se não for para ensinar a superar-se

a si mesmo, a transcender-se, a descobrir o sentido da vida. Tudo o mais é

morno, é sem luz, é, literalmente, desumano.

Educar é, pois, descobrir o sentido, vivê-lo, aceitá-lo, executá-lo.

Educar não é treinar habilidades, não é condicionar comportamentos, não é

alcançar técnicas, não é impor uma profissão. Educar é ensinar a viver, a não

desistir, a descobrir o sentido e, descobrindo-o, realizá-lo. Numa palavra,

educar é ensinar a ser livre.

O Direito é um dos caminhos que o ser humano desenvolve para

garantir esta liberdade. Que os Cadernos Dom Alberto sejam veículos de

expressão desta prática diária do corpo docente, que fazem da vida um

exemplo e do exemplo sua maior lição.

Felicitações são devidas a Faculdade Dom Alberto, pelo apoio na

publicação e pela adoção desta metodologia séria e de qualidade.

Cumprimentos festivos aos professores, autores deste belo trabalho.

Homenagens aos leitores, estudantes desta arte da Justiça, o Direito.

.

Luiz Vergilio Dalla-Rosa Coordenador Titular do Curso de Direito

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Sumário

Apresentação...................................................................................................... Prefácio............................................................................................................... Plano de Ensino..................................................................................................

Aula 1

Aprendendo Valores Éticos................................................................................

Aula 2

A Ética na virada dos Séculos............................................................................

Aula 3

A Consciência Moral..........................................................................................

Aula 4

O Ser Humano como Ser Integral.....................................................................

Aula 5

O Cuidado na formação dos Cuidadores..........................................................

Aula 6

Admissão em Centro Cirúrgico como espaço de Cuidado................................

Aula 7

Revista Eletrônica de Enfermagem...................................................................

Aula 8

Ética..................................................................................................................

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”.

Centro de Ensino Superior Dom Alberto

Plano de Ensino

Identificação

Curso: Direito Disciplina: Ética Aplicada ao Direito

Carga Horária (horas): 30 Créditos: 2 Semestre: 10º

Ementa

Ética Geral: o fenômeno moral e a filosofia ética. Consciência ética. Ética da alteridade. Ética especial: aspectos éticos referentes à vida, à procriação, à família, à ordem social, à propriedade. Ética Profissional no âmbito das diversas profissões jurídicas Arquétipo do profissional de Advocacia e Contemporaneidade. Princípios e Especificidades. Construção de Imagem e Conteúdos Profissionais. Capital Social do Advogado. Código de Ética da OAB.

Objetivos

Gerais: Específicos:

Inter-relação da Disciplina

Horizontal: Sociologia e Filosofia Aplicada ao Direito, Direito Constitucional. Ciência Política, Psicologia Aplicada, Antropologia, Hermenêutica Jurídica, Língua Portuguesa.

Vertical: Sociologia e Filosofia Aplicada ao Direito, Direito Constitucional. Ciência Política, Psicologia Aplicada, Antropologia, Hermenêutica Jurídica, Língua Portuguesa.

Competências Gerais

- leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico-jurídicas; - interpretação e aplicação do Direito; - pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito; - adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias, administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos; - correta utilização da terminologia jurídica ou da Ciência do Direito; - utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica; - julgamento e tomada de decisões; - domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensão e aplicação do Direito.

Competências Específicas

Capacidade de atuação técnica e responsável na mediação de conflitos, buscando a solução extrajudicial mais adequada ao caso concreto.

Habilidades Gerais

- desenvolver a capacidade de leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico-jurídicas; - desenvolver a capacidade de interpretação e aplicação do Direito; - incentivar a pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito;

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”.

- desenvolver a capacidade de atuação técnico-jurídica adequada, em diferentes instâncias, administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos; - desenvolver a capacidade de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica; - desenvolver a capacidade de julgamento e tomada de decisões; - dominar tecnologias e métodos para permanente compreensão e aplicação do Direito.

Habilidades Específicas

Estar apto a atuar mediante a utilização de uma via alternativa à jurisdição, na busca da solução mais adequada a cada espécie de conflito, a cada caso concreto.

Conteúdo Programático

Estratégias de Ensino e Aprendizagem (metodologias de sala de aula)

Aulas expositivas dialógico-dialéticas. Trabalhos individuais e em grupo e preparação de seminários.

Avaliação do Processo de Ensino e Aprendizagem

A avaliação do processo de ensino e aprendizagem deve ser realizada de forma contínua, cumulativa e sistemática com o objetivo de diagnosticar a situação da aprendizagem de cada aluno, em relação à programação curricular. Funções básicas: informar sobre o domínio da aprendizagem, indicar os efeitos da metodologia utilizada, revelar conseqüências da atuação docente, informar sobre a adequabilidade de currículos e programas, realizar feedback dos objetivos e planejamentos elaborados, etc. Para cada avaliação o professor determinará a(s) formas de avaliação podendo ser de duas formas:

1ª Avaliação – Um trabalho aplicado em sala de aula com 10,0 (dez); 2ª Avaliação: Uma prova com peso 8,0 (oito) e Sistema de Provas Eletrônicas – SPE com peso 2,0 (dois).

Avaliação Somativa

A aferição do rendimento escolar de cada disciplina é feita através de notas inteiras de zero a dez, permitindo-se a fração de 5 décimos. O aproveitamento escolar é avaliado pelo acompanhamento contínuo do aluno e dos resultados por ele obtidos nas provas, trabalhos, exercícios escolares e outros, e caso necessário, nas provas substitutivas. Dentre os trabalhos escolares de aplicação, há pelo menos uma avaliação escrita em cada disciplina no bimestre. O professor pode submeter os alunos a diversas formas de avaliações, tais como: projetos, seminários, pesquisas bibliográficas e de campo, relatórios, cujos resultados podem culminar com atribuição de uma nota representativa de cada avaliação bimestral. Em qualquer disciplina, os alunos que obtiverem média semestral de aprovação igual ou superior a sete (7,0) e freqüência igual ou superior a setenta e cinco por cento (75%) são considerados aprovados. Após cada semestre, e nos termos do calendário escolar, o aluno poderá requerer junto à Secretaria-Geral, no prazo fixado e a título de recuperação, a realização de uma prova substitutiva, por disciplina, a fim de substituir uma das médias mensais anteriores, ou a que não tenha sido avaliado, e no qual obtiverem como média final de aprovação igual ou superior a cinco (5,0).

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”.

Sistema de Acompanhamento para a Recuperação da Aprendizagem

Serão utilizados como Sistema de Acompanhamento e Nivelamento da turma os Plantões Tira-Dúvidas que são realizados sempre antes de iniciar a disciplina, das 18h00min às 18h50min, na sala de aula.

Recursos Necessários

Humanos Professor.

Físicos Laboratórios, visitas técnicas, etc.

Materiais Recursos Multimídia.

Bibliografia

Básica

BITTAR, Eduardo Carlos. Bianca. Curso de Ética Jurídica. 3ed. São Paulo: Saraiva, 2007. LANGARO, Luiz Lima. Curso de Deontologia Jurídica. São Paulo: Saraiva, 1996. NALINI, José Renato. (org.) Nova Ética Geral e Profisisonal. São Paulo: RT, 2008. VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 1995. ARAÚJO DE OLIVEIRA, M. Ética e Sociabilidade. São Paulo: Loyola, 1993.

Complementar

PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2005. SODRÉ, R. de A. A Ética Profissional e o Estatuto do Advogado. São Paulo: LTR. BARBOSA, Rui. O Dever do Advogado. Rio de Janeiro: EDIPRO, 2007. CALAMANDREI, Piero. Eles, os Juízes, vistos por nós, os Advogados. São Paulo: Martins Fontes, 2000. CENEVIVA, Walter. Segredos Profissionais. São Paulo: Malheiros, 1996.

Periódicos

Jornais: Zero Hora, Folha de São Paulo, Gazeta do Sul, entre outros. Jornais eletrônicos: Clarín (Argentina); El País (Espanha); El País (Uruguai); Le Monde (França); Le Monde Diplomatique (França). Revistas: Revistas: Magister, Revista dos Tribunais, Revista do Conselho Federal de Justiça.

Sites para Consulta

www.camara.gov.br www.tma-rs.org.br www.tjrs.jus.br WWW.cnj.jus.br WWW.cjf.jus.br www.trf4.gov.br www.senado.gov.br www.stf.gov.br www.stj.gov.br www.ihj.org.br www.oab-rs.org.br

Outras Informações

Endereço eletrônico de acesso à página do PHL para consulta ao acervo da biblioteca:

http://192.168.1.201/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl.xis&cipar=phl8.cip&lang=por

Cronograma de Atividades

Aula Consolidação Avaliação Conteúdo Procedimentos Recursos

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Missão: "Oferecer oportunidades de educação, contribuindo para a formação de profissionais conscientes e competentes, comprometidos com o comportamento ético e visando ao desenvolvimento regional”.

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Legenda

Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos Procedimentos Recursos

Código Descrição Código Descrição Código Descrição

AE Aula expositiva AE Aula expositiva AE Aula expositiva

TG Trabalho em grupo

TG Trabalho em grupo TG Trabalho em grupo

TI Trabalho individual

TI Trabalho individual TI Trabalho individual

SE Seminário SE Seminário SE Seminário

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APRENDENDO VALORES ÉTICOS Autora: Fagundes, Márcia Botelho. Belo Horizonte, Ed. Autêntica 4.ed, 2001. Resumo

A questão da ética, da moral e dos valores é tão antiga quanto a própria humanidade. A luta entre o bem e o mal, que faz parte do imaginário do povo desde o alvorecer da vida, não é senão uma tentativa de organização e compreensão de assuntos comuns a todas as culturas e civilizações. Egípcios, romanos e gregos na Antigüidade; povos do oriente e ocidente; culturas mais ou menos evoluídas; o homem antigo e o homem moderno, o jovem e o adulto: todos têm em comum o fato de estarem sempre se perguntando pelo bem, pelo mal, pela escolha, pelo sentido das coisas e da vida.

Uma educação com valores permite que cada indivíduo descubra e escolha livremente as crenças e as maneiras de viver que melhor o conduzam a um crescimento pleno e à felicidade tão almejada. A educação está comprometida com os valores éticos. Educar não é somente informar, transmitir conhecimentos, mas também integrar o educando em uma cultura com características particulares, como a língua, as tradições, as crenças e os estilos de vida de uma sociedade.

A ética não se resume a um conjunto de deveres ou a um código de regras; é antes de mais nada a aquisição de hábitos e atitudes que se convertem em uma maneira própria de viver. E a educação não pode ser neutra em relação aos valores. Existe um provérbio que diz o seguinte: “Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”. Precisamos ser coerentes, íntegros, agindo de acordo com os princípios que defendemos e acreditamos. Hoje vivemos uma crise social relacionada a valores que nos sinaliza que outros tempos estão chegando e que mudanças ocorrerão.

No séc. XX, a cultura ocidental foi organizada de acordo com os valores da ciência e da tecnologia, e muitas transformações ocorreram na história da humanidade: - valores herdados das tradições, greco-romana, cristã, ... desapareceram e foram substituídos por valores da sociedade industrial; - civilização moderna perdeu as esperanças de uma nova ética social e política; - final do séc. XX basicamente marcado pela indiferença e pela apatia dos indivíduos; - homem moderno está sendo engolido pelo “vazio” e há uma crise diante deste vazio; - Vivemos um momento histórico com o desejo de uma nova ética, uma política diferente e o estabelecimento de valores que nos orientem.

Diante disso tudo, somos levados a refletir sobre que sociedade estamos formando, que perfil de crianças, adolescentes, jovens e adultos queremos formar ou estamos formando? Como transmitir valores? Em que direção?

A preocupação com os valores é tão antiga como a humanidade, mas é só a partir do séc. XX que surge como disciplina escolar. Existem diversos tipos de valores (econômicos, culturais, lógicos, éticos, estéticos, religiosos, etc.). Vamos ficar nos valores éticos. Como se dá a formação dos valores? A) podem ser transmitidos através de hábitos que se adquirem inicialmente de forma repetitiva; assimilados no convívio com os adultos, cujo exemplo forma a consciência do jovem para o bem e para o mal; através de estímulos permanentes; situações de confronto como forma de permitir que valores se perpetuem, cresçam, floresçam e se desenvolvam; etc. VAMOS PENSAR SOBRE ALGUNS VALORES OU VIRTUDES: ♣ Amizade

Pode-se defini-la como um afeto pessoal puro, recíproco, que inicia-se e se fortalece com a convivência. A amizade é sustentada por meio de sentimentos como a sinceridade, a generosidade e o afeto mútuo. Às vezes, cometemos enganos e confundimos uma amizade verdadeira com outra “amizade”, aquela baseada no egoísmo e na mentira.

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Uma amizade sincera tem de ser recíproca, quer dizer, temos que saber dar e receber ao mesmo tempo. O valor da verdadeira amizade que nos alegra e nos dá prazer se encontra no tratamento afável e na boa convivência com as outras pessoas. É um sentimento tecido de confiança e de familiaridade, onde não existe inveja, nem avidez. Busca-se sempre a igualdade. Fatores que favorecem a construção de uma verdadeira amizade: generosidade, amabilidade, cordialidade, respeito, reciprocidade nos afetos e sentimentos, preocupação pelos problemas dos outros, tolerância.

Estamos tratando a amizade como um valor e, como tal, é importante perceber que muitas posturas impedem a construção da verdadeira amizade. Ou seja, amizade não combina com intolerância, egoísmo, mentira e falsidades. Um bom exemplo destes valores contrários à amizade foi personificada no “Amigo da Onça”, personagem da célebre história do cartunista pernambucano Péricles de Andrade Maranhão. A história que deu origem o personagem.

Dois caçadores conversavam em seu acampamento: - O que você faria se estivesse agora na selva e uma onça aparecesse na sua frente? - Ora, dava um tiro nela. - Mas e se você não tivesse nenhuma arma de fogo? - Bom, então eu matava ela com meu facão. - E se você estivesse sem o facão? - Apanhava um pedaço de pau. - E se não tivesse nenhum pedaço de pau? - Subiria na árvore mais próxima! - E se não tivesse nenhuma árvore? - Sairia correndo. - E se você estivesse paralisado pelo medo? Então, o outro, já irritado, retruca: - Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça? ♣ Cooperação

Podemos entender cooperação como uma ação que se realiza em conjunto com uma ou mais pessoas visando a um mesmo objetivo. Algumas vezes, esta ação beneficia um membro do grupo mas, na maioria dos casos, ocorre de todos serem beneficiados. Esta ação só pode ser considerada cooperação se existir reciprocidade, senão é apenas uma simples ajuda.

A reciprocidade implica em troca – implica em dar e receber. Não devemos esperar passivamente que o outro tome a frente. Na cooperação é importante que todos tomem a iniciativa da ação. A cooperação está relacionada de maneira muito próxima a outros valores como solidariedade, o companheirismo, a amizade, a generosidade e o respeito. Vejamos o que conta uma lenda árabe: “Certa vez, numa floresta, em pontos diferentes, encontravam-se duas pessoas perdidas: um cego e outro com as pernas atrofiadas. Um não conseguia andar até a saída e o cego não a achava. Depois de inúmeras tentativas, cada um a seu modo, eles se encontraram: o homem que não enxergava tropeçou e caiu sobre o companheiro assustado. Logo eles começaram a conversar e a lamentar suas situações e mazelas, concluindo que não teriam condições de sair dali. Mas eis que surge uma idéia. O homem que não tinha como caminhar disse: - Você que não pode enxergar, ponha-me nas suas costas e eu lhe mostrarei a saída. E os dois se foram...”

Os dois eram deficientes. Nós somos assim também: temos nossas dificuldades. Umas mais explícitas como no caso da história e outras que tentamos ocultar. Capazes em algumas coisas e incapazes em outras. Não damos conta de tudo. Não somos super-homens e temos as nossas limitações. Nessa lenda está embutida a cooperação entre as pessoas e não a acomodação. É preciso trabalhar em conjunto para superarmos as nossas deficiências. Trabalho de equipe é a

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melhor estratégia não só para sobrevivermos mas, principalmente, para vivermos bem. Quando cooperamos, cada um contribui com suas habilidades, competências e se complementa com outras habilidades e competências que não possui, promovendo uma sinergia que aumenta a capacidade de toda a equipe. É por isso que se diz que a competência de uma equipe afinada é maior que a de seu integrante mais competente, porque habilidades são trocadas e a aprendizagem de todos é promovida. ♣ Diálogo

O diálogo é uma conversação entre duas ou mais pessoas. No ato de dialogar, as pessoas podem descobrir interesses comuns que contribuirão para uma melhor convivência. Mas antes de tudo, precisamos estar atentos a certas atitudes fundamentais que dão condições, que serão terreno fértil, para que o diálogo aconteça. São elas: a) estar aberto ao outro; b) acolher o outro; c) respeitá-lo; escuta-lo; comunicar-se com o outro; d) utilizar uma linguagem comum; e) compartilhar a reflexão e a crítica.

Saber dialogar é uma habilidade do ser humano e precisa ser exercitada. Ela acontece quando existe uma escuta recíproca e atenta; quando se usa a palavra adequada; quando se respeita e se é sincero.

Torna-se impossível pensar em diálogo de maneira só racional, desprovido de emoções. Este “diálogo” é ineficaz. UM diálogo construtivo envolve o indivíduo como um todo: um ser que pensa, que sente e age. Para um diálogo saudável é necessário: desejo manifesto das pessoas em participar, a flexibilidade, a tolerância e a atitude empática. É bom lembrar que o corpo fala. A comunicação é permeada pelo não-verbal. O diálogo também se faz por meio de gestos, de inflexões (ação ou efeito de dobrar, curvar, inclinar, inflexão do corpo), de vozes e de olhares.

Na comunicação verbal, é muito importante saber escolher as palavras que vão ser ditas, já que: ☺ Uma palavra qualquer pode gerar uma discórdia. ☺ Uma palavra cruel pode ser destrutiva. ☺ Uma palavra amarga pode provocar o ódio. ☺ Uma palavra brutal pode romper o afeto. ☺ Uma palavra agradável pode suavizar o caminho. ☺ Uma palavra a tempo pode evitar um conflito. ☺ Uma palavra alegre pode iluminar o ida. ☺ Uma palavra amorosa pode mudar um comportamento.

Os conflitos se resolvem dialogando e nunca através da força física nem da dominação do outro. O diálogo é fonte de bem-estar, de enriquecimento e de paz. Para convivermos temos que estar atentos uns aos outros, escutando sempre e pensando que o outro também tem idéias interessantes, ainda que, às vezes, diferentes das nossas. Quando não estamos nos comunicando com o mundo externo, nos comunicamos com o interno, fazendo análises das situações, tecendo julgamentos, alimentamos sentimentos, tomamos decisões, planejamos ações, etc. A comunicação com o mundo externo nos permite influenciar o ambiente. Assim, podemos ver a importância da comunicação na vida do ser humano. São as conversas conosco mesmos que vão determinar nossos estados emocionais. A linguagem é ao mesmo tempo instrumento de pensamento e comunicação. Se bem utilizado nos aproxima das pessoas, se mal utilizado nos afasta de nossos semelhantes. Podemos fazer um diálogo ou monólogo a dois.

♣ Responsabilidade Esta é uma história sobre 4 pessoas;

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Todo mundo, alguém, qualquer um e ninguém. Havia um importante trabalho a ser feito e todo mundo Tinha certeza de que alguém o faria.

Qualquer um podia tê-lo feito mas ninguém fez. Alguém zangou-se porque era um trabalho de todo mundo. Todo mundo pensou que qualquer um poderia faze-lo Mas ninguém imaginou que todo mundo deixasse de fazê-lo.

Ao final, todo mundo culpou alguém, quando ninguém fez o que qualquer um poderia ter feito.

Autor desconhecido

A responsabilidade pode ser entendida como a capacidade que a pessoa tem de sentir-se

comprometida a dar uma resposta ou cumprir uma tarefa sem nenhuma pressão externa. O indivíduo responsável toma suas decisões, faz o que tem que ser feito, sem ficar esperando que lhe dêem ordens ou lhe façam cobranças. A responsabilidade pode ser vista sob dois pontos de vista: individual e coletivo. a) Responsabilidade Individual: ser responsável é ter livre escolha – para o bem ou para o mal – e saber lidar com as conseqüências da atitude tomada. O responsável está sempre pronto para responder por seus atos conscientemente. b) Responsabilidade coletiva: ser responsável é ter a capacidade de influir, intervir na medida do possível, seja na vida pessoal e familiar ou nas decisões da coletividade. A virtude responsabilidade está inserido em outros valores tais como liberdade, justiça e diálogo, já que muitas vezes os valores coexistem, ou seja, estão interligados. São eles: - Aceitar qualquer crítica positiva. - Evitar a passividade, a indiferença. - Aprender a relativizar, a ampliar e aprofundar a visão dos problemas. - Estimular uma visão positiva frente à situações difíceis. - Buscar soluções e tomar atitudes.

♣ Respeito

Respeito é um valor que envolve muitas atitudes importantes: a consideração, a admiração por uma pessoa, o cuidado pela natureza, pelos animais e pelas plantas, enfim, pelo mundo que nos cerca. Dignidade é o respeito que temos por nós mesmos. Respeito é um valor que se refere a nós mesmos e aos demais. Respeito é a convivência com as diferenças, de classe, de raça, de cultura, de crenças religiosas, etc. Muitas vezes podemos ser hostis e intolerantes com o diferente de nós. Alguns exemplos de situações onde conflitos podem acontecer: Diferenças ideológicas, em especial de caráter religioso - A variedade de religiões tem sido causa de manifestações violentas de intolerância, às vezes até sangrentas. A intolerância religiosa já provocou guerras ao longo da história da humanidade. Diferenças de caráter social e cultural, diferenças chamadas étnicas – Muitas pessoas acreditam que “são melhores”, “têm mais valor que outras” porque vêm de culturas e localidades que consideram superiores. Como exemplo, temos a escravidão no Brasil e a exploração do negro pelos brancos. Diferenças físicas ou fisiológicas, e as diferenças de comportamento consideradas, por muitos, como “anormalidades” – Incluem-se neste grupo os homossexuais, aidéticos, leprosos, filhos de mães solteiras, que têm sido rejeitados durante séculos.

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Na intolerância não escondemos os sentimentos de aversão, e a rejeição é explícita. Já na tolerância, somos “bonzinhos”, reprimimos a rejeição e “engolimos”, toleramos o que nos incomoda. É como falarmos para a outra pessoa: tolero suas idéias absurdas e suas atitudes sem sentido. A tolerância é a expressão que impede de ver o outro com aceitação, quer dizer, de tentar sentir o que o outro sente e procurar entender sua forma de viver, a partir de seus pontos de vista. É não ter empatia com o outro.

♣ O Bem como valor Passamos grande parte de nossas vidas tentando escolher entre o certo e o errado, entre o

bem e o mal. E como saber o que é o BEM (com o sentido de valor e virtude), o certo, o correto, o verdadeiro, o honesto? Como saber encontrar o caminho? Perceber as nossas obrigações e deveres implica em praticá-las? Por que temos de observar as normas, os costumes e os princípios? A maioria dos educadores e filósofos acredita que a reflexão do conflito é a questão fundamental da ética.

A cultura da humanidade baseia-se em três premissas básicas que servem de sustentação para o pensamento ético: - Visão cosmocêntrica: tem como crença que o universo é o centro de tudo. - Visão teocêntrica: coloca Deus como o centro da vida e das coisas; Deus é o criador. - Visão antropocêntrica: o centro é o próprio homem.

O ser humano tem sido representado ou explicado a partir destas três maneiras de compreender o mundo e a vida. Ele se expressa na conduta, nas atitudes, nas maneiras de agir. Quando nos perguntamos sobre o que é o bem e o mal respondemos de forma diferente, de acordo com a nossa visão de mundo que pode estar situada ou na ordem cósmica, ou na ordem divina ou na própria consciência humana. Pensamos e agimos de acordo com o nosso senso ético, ou seja, com os valores que assimilamos ao longo da vida e que nos guiam.

A palavra grega ethos, ética, significa costumes (tradição-sabedoria dos velhos, religião, senso comum) e caráter (qualidades pessoais para a conduta e atitudes).

A palavra COSTUMES diz respeito à morada do homem na terra e à busca pela sobrevivência. Aqui os valores são estabelecidos como regras de comportamento na sociedade e são transmitidos de geração em geração.

CARÁTER refere-se à própria ação em si; ao “agir corretamente”. Tem o sentido de realização, de busca da perfeição. As características pessoais são representadas pelos sentimentos e pelas atitudes dos indivíduos que têm livre escolha para respeitar ou transgredir os valores vigentes.

É comum a utilização dos termos ética e moral como sinônimos, apesar de não terem os mesmos significados. Moral, do latim mores, significa “maneira de se comportar regulada pelo uso”, pelo costume. Está relacionada com as normas estabelecidas dentro de uma sociedade, com os códigos usados para organizar e controlar as relações entre os indivíduos, e para regulamentar o comportamento das pessoas. Cada cultura estabelece uma série de padrões aos quais a conduta do indivíduo deve se adequar. São as regras morais. O comportamento moral vai variar de acordo com o tempo e o lugar, conforme as condições históricas e físicas que disciplinam a vida entre os homens. A moral não fica restrita tão somente à herança dos valores transmitidos pela tradição. Na adolescência, quando o pensamento abstrato e a reflexão crítica estão em plena fase de desenvolvimento, os valores herdados são questionados.

A ética vai além da obediência às regras e normas sociais. Atua no campo dos conflitos das relações humanas. Não soluciona questões polêmicas, mas seu objetivo é justamente investigar, provocar a reflexão. A ética pressupõe uma busca racional de como devemos viver para ter uma vida boa.

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A conduta ética é uma conseqüência de um pensamento ético e isto implica em considerar o bem-estar das outras pessoas, a começar pelas mais próximas, com as quais convivemos. Agir eticamente é perceber que somos membros de uma comunidade e não indivíduos isolados.

Não existe uma receita pronta com regras de comportamento adequadas para serem aplciadas em cada situação que enfrentamos. O indivíduo deve ter liberdade para escolher o melhor caminho, o mais adequado para cada situação conflitiva.

Essa liberdade de escolha é que nos faz mais responsáveis por nossas ações ou omissões, pois todo o indivíduo tem que responder, diante de si mesmo e diante dos outros, pelo que faz ou pelo que poderia fazer. Cada um tem uma maneira particular de ser e de agir. Há sempre uma parcela de indeterminação e é isto que marca as diferenças entre as pessoas.

E a consciência/ O termo consciência refere-se em primeiro lugar ao reconhecimento pelo indivíduo de algo

que está fora ou dentro dele. Pode ser usado também para designar o conhecimento do bem e do mal. Neste caso, fala-se de consciência ética. A consciência é produto dessa luta, às vezes ferrenha, entre o bem e o mal. É o que cada pessoa tem para si mesma como certo ou errado. As opiniões são diferentes a respeito de todas as coisas ou situações. Umas pessoas pensam de um jeito, outras de outro e essa diversidade de pensamentos é muito rica; senão, de que maneira seriam construídos os nossos diálogos, as nossas conversas, as trocas de idéias? Temos consciência ética quando fazemos escolhas; quando assumimos voluntariamente certas normas, atitudes, posturas, diante das situações com que nos defrontamos.

É importante que estas escolhas sejam pertinentes com as nossas idéias e princípios que defendemos. A ética exige que não tomemos posições que contrariem, que entrem em choque com nossas convicções. Porém, nossos desejos e nossos sentimentos nem sempre estão de acordo com os valores éticos que defendemos. É preciso aceitar este conflito entre desejos e razão, pois a consciência ética só se impõe na transferência do pensamento para a ação. Por exemplo, em momentos de raiva você pode desejar dar uma surra no seu colega. Mas quando você pensa e usa a razão, acaba agindo de outra maneira. Neste caso, você está tendo consciência ética.

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A ÉTICA NA VIRADA DO SÉCULO I. A ÉTICA E SEUS FUNDAMENTOS ♪ A Ética é a arte que torna bom aquilo que é feito e quem o faz. É a arte do Bom. Ciência do Bom. ♪ A Ética é uma arte, hábito (ethos), esforço repetido até alcançar a excelência no agir. O artista torna-se virtuoso após muito exercício. (ex.: pianista) ♪ A Ética torna bom aquilo que é feito. ♪ A Ética torna bom também o homem que faz ações boas. Assim, realizando ações boas, a pessoa realiza a si mesma como pessoa boa, cuja presença faz bem aos circunstantes, à semelhança do grãzinho de mostarda da parábola evangélica.

Neste início do Terceiro Milênio, nos deparamos com a perda ética (comunidades que não

mais possuem uma regra de ações). Temos um pluralismo cultural, enorme crescimento das áreas do saber, um universo voltado ao consumismo.

A falta de um paradigma ético ameaça a existência. Por isso, existe hoje uma preocupação e retorno ao discurso ético. Fala-se muito sobre os aspectos derivados e operacionais da Ética, mas pouco sobre os Fundamentos da Ética.

O QUE É ÉTICA?

Se hoje, as ciências falam tanto sobre Ética e Profissão, Ética na Sociedade, Bioética, Ética

da Família, Ética na Política, porque as pessoas não mudam, as coisas não mudam? Até meados do séc. XX, a humanidade era dirigida por grandes sistemas religiosos e filosóficos, no Oriente e Ocidente. Ex.: Cristianismo, Positivismo, ... que remete ao ensino dos valores humanos. A sociedade era influenciada por princípios de comportamento, ou valores, que eram transmitidos pelo avô, pelo pai ou mãe, pelos padres, pastores, professores, autoridades, ... Adultos que não iriam enganar as crianças.

As coisas mudam no final do séc. XX, pelas ondas radiotelevisivas, pessoas desconhecidas entram nos nossos ouvidos e nas nossas casas. Não são filósofos nem teólogos nem sábios. A competição, interesses do capitalismo e necessidade de sobrevivência nesse mercado fazem com que alguns profissionais (jornalistas, economistas, psicanalistas, figuras de espetáculo e políticos,...) decidem o que falar, e não falar, o que mostrar e não mostrar, o que fazer e não fazer, o que discutir e não discutir, o bem e o mal. Que futuro vamos esperar?

Qual seria a primeira tarefa de uma sociedade moderna, com vista à implantação da Ética? Controlar os meios de comunicação. Como? ♪ Através de mecanismos representativos da consciência nacional. ♪ Assistir de forma crítica, reflexiva os programas.

CIÊNCIA FUNDANTE DA ÉTICA: METAFÍSICA: “a maneira mais profunda, a mais profunda possível, de encarar as coisas, os entes. A Metafísica sonda tudo aquilo que pode ser experimentado pelo homem (tudo o que vê, sente ou percebe).

Hoje, as pessoas religiosas, são as que dão à metafísica um significado ainda mais profundo, atribuindo-lhe a análise também das realidades supranaturais e imateriais, como essência e existência, Deus e anjos.

A Metafísica leva o homem a ler dentro da história e do mundo. Por baixo das mudanças cósmicas e das tragédias da história, o pensador metafísico descobre algo basilar, firme, permanente, a partir do qual interpreta a dinâmica das coisas e dos homens. Este elemento

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basilar, quase base de uma construção, chama-se substância ou essência ou fundamento ou modelo de interpretação do mundo.

Na visão de mundo de uma pessoa religiosa, por exemplo, o elemento basilar é Deus, e tudo é encarado com os olhos de Deus, princípio metafísico que nunca vai mudar. Exemplo: a vida é sagrada porque foi produzida por Deus que é Sagrado e a sagrou, e portanto, é intocável. ♪ Para um estóico da Grécia ou um Idealista Alemão do Séc. XIX, o elemento basilar do universo é o Logos, ou seja, una Inteligência ou Idéia ou Razão que está dentro do universo e se manifesta na mente e na história dos homens. ♪ Para um filósofo marxista, um dos elementos basilares do processo histórico é o trabalho em sua dimensão humana, a partir do qual são diagnosticados os problemas da sociedade e são apontados caminhos de solução. ♪ Alguns pensadores consideram como princípio basilar do agir humano a inexistência de

qualquer regra fixa vinda do passado. Toda a ação com efeitos positivos é considerada boa e no futuro, o resultado é quem vai dizer se esta ação é boa ou má, verdadeira ou falsa. ♪ Esta ética dos resultados fluirá para a psicanálise, cujo elemento metafísico é a sexualidade. ♪ Os Positivistas – elemento basilar é o fato observado como dado de partida de qualquer reflexão, no contexto das leis físicas.

Temo, assim, uma metafísica religiosa, uma metafísica racionalista, uma metafísica naturalista e psicanalista, uma metafísica marxista, positivista e pragmatista, ou seja, modelos, princípios ou paradigmas, a partir dos quais todo o resto é julgado. Estes elementos basilares, por não serem imediatamente visíveis e por estarem atrás das aparências físicas, pertencem à METAFÍSICA: no grego meta tá física (para além das coisas físicas).

Sem estes elementos fundantes, metafísicos, alcançados na longa reflexão e meditação, é impossível pensar uma Ética. Dissemos que a Ética é a arte de realizar o Bom. Ora, o Bom de qualquer coisa ou pessoa é a realização plena de si mesma, ou seja, da sua essência ou substância, do Fim para o qual ela existe. Esta finalidade, essência ou substância, é apontada pela Metafísica. Somente passando pela metafísica, podemos definir as leis éticas que regulam a realização de si. Em outras palavras, é necessário definir primeiro o sujeito da ética e depois as normas do seu comportamento moral.

MULTIPLICIDADE DAS AÇÕES NA UNIDADE DOS PRINCÍPIOS A metafísica unifica a variedade das realidades num só princípio ou em alguns poucos

princípios. Ela busca a unidade na multiplicidade. A metafísica é o lugar onde o pensador se refugia quando lá fora os homens fazem barulho e tumultos. Sabemos que a natureza mineral-animal é imutável e sujeita às leis da natureza, a natureza humana é extremamente mutável em sua esfera criativa. Daí alguns concluírem pela impossibilidade de princípios éticos estáveis. Sabemos que a existência da pessoa é algo singular, não redutível à universalidade. Uma vez que o ato humano é corporeamente singular, parece impossível reduzi-lo à leis universais.

O ação humana é também sujeita à historicidade, numa história que é individual e coletiva, movimento mutável, ...onde o bom de hoje parece não ser o bom de amanhã.

Há cem anos atrás o homem adaptava-se à natureza todo-poderosa. Hoje, o homem a agride, transforma, criando fatos físicos totalmente novos, como os embriões, com os quais deve construir uma convivência mediante ações éticas, uma bioética. É aí que reside todo o problema: o homem é livre. A existência do homem é diferente da existência das coisas: as cosias são determinadas pela física das leis naturais, enquanto a ação humana é norteada pela Ética dos valores. As leis naturais são estáveis; mas, o que dizer das normas morais que norteiam a ação concreta de cada dia? É possível detectar leis eternas do agir humano? Como conjugar mutabilidade e estabilidade? Estes opostos são insolúveis na ausência de uma perspectiva metafísica. ♪ O que é o Bom? ♪ É o homem quem decide o Bem e o Mal?

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♪ Ou existem, fora do homem, instâncias que decidem o Bem e o Mal? A questão dos fundamentos da Ética é tão decisiva, que sobre ela debruça-se a primeira

página do livro mais lido, a Bíblia: Adão e Eva quiseram apropriar-se do fruto do conhecimento do bem e do mal, ou seja, quiseram possuir o poder de definir o que é bem e mal, poder que a Deus pertence.

Historicamente, são apontados três Fundamentos: 1. Fundamento cósmico da ética. 2. Fundamento religioso da ética. 3. Fundamento antropológico da ética.

FUNDAMENTO CÓSMICO DA ÉTICA O Bom é a natureza: viva segundo a Natureza.

A agricultura ensina que o homem deve harmonizar-se com o curso das estações, das chuvas, da semeadura e da colheita. Homem e natureza devem viver em sintonia recíproca. Certa pessoa deixou de fumar observando os passarinhos sobre a janela de casa; ela disse a si mesma: olha aí o passarinho voando e cantando alegre sem doenças nos pulmões, e eu, que sou inteligentão, aqui tossindo e decrépito.

Nesta perspectiva cosmológica, a Natureza é a mestra da Ética. Ela indica ao homem o que é bom e mau. Podemos, por exemplo, aprender com as laboriosas formigas. Observando-as, percebe-se que o instinto delas é de cooperação. Entrelaçam pontes fazendo as outras passarem sobre si. Olhando para as formigas, podemos afirmar que, por natureza, o homem é um animal cooperativo e altruísta?

Segundo os estóicos na Grécia, mestres do viver segundo a natureza, todos os viventes tendem a conservar a si mesmos, a não fazer algo que possa prejudicar o seu próprio ser. É bom alquilo que incrementa o nosso ser e é chamado de virtude. É mal aquilo que prejudica e diminui o nosso ser, e chama-se vício. Segundo os estóicos, a Natureza é Inteligente, tem uma Mente, uma Racionalidade.

O homem pode retirar lições da Natureza, do Logos da Natureza, que também estaria no Homem. A Natureza também ensina a preservar os filhos, os parentes e todos os semelhantes; portanto, a ética é comunitária FUNDAMENTO RELIGIOSO DA ÉTICA A) O Bom é Deus: revestir-se da Divindade.

Aqui entendemos por “Deus” o Deus-Pessoa e Deus-Pai das Religiões, não o deus-Energia ou deus-Mundo, que no fundo, é algo material chamado impropriamente de “deus”. A pessoa religiosa procura conhecer Deus. Mas conhecer é amar e amar é assimilar-se entre pessoas que se amam. Em contato com Deus, a pessoa que busca conhecê-lo, se assimila a Ele, revestindo-se das virtudes e dos atributos da Divindade que são: beleza, bondade, verdade. Uma vez revestidos da beleza Divina, o homem envia mensagens de bondade ao mundo, como Moisés descendo Sinai com o rosto radiante e os Mandamentos na mão.

Na visão religiosa do mundo, Deus é a Verdade, que é ao mesmo tempo Beleza e Bondade. Aquele que conhece Deus conhece a verdade, a beleza e a bondade. Conhecendo-as, assimila-as dentro de si, pois é chama que arde e assimila tudo a si. O homem que esteve em contato com Deus pela contemplação intuitivo-intelectiva, torna-se ele mesmo verdadeiro, bom e belo Sendo bom dentro de si, suas ações serão boas, pois, o agir segue o ser. (Aristóteles já afirmava isso).

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Para Aristóteles, “O Verdadeiro, o Belo e o Bom se interpenetram reciprocamente”. Para Platão, o ponto máximo do homem liberto da caverna é o Conhecimento do Bom: Verdade e Bondade, Bom e Conhecimento, se confundem. Há uma frase evangélica que estabelece uma relação imediata entre Verdade e Liberdade. “Conhecereis a Verdade e A Verdade vos libertará”, pois a verdade liberta das idéias falsas que produzem ações erradas. Deus é o ser por excelência. Para a Filosofia, a Ontologia é o estudo do Ser, a Crítica é o estudo do Verdadeiro, a Estética é o estudo do Belo, a ética é o estudo do Bom.

O Logos da Religião é a Mente Divina criadora do universo a sua imagem: “Façamos o homem a nossa imagem”. B) Contra o fundamento religioso da Ética, alguns afirmam que o fundamento da ética é o poder e o interesse.

Para Nietzche, bom e mau são palavras que atribuímos à pessoas e situações por costume, por conveniência, por simpatia, por interesse. Deus não existe, está morto segundo Nietzche. Para Sartre (1937), “neste mundo cruel o outro, é para mim um inferno com seus olhos que me espiam, me limitam, me julgam: “L’autre c’ést l’enferm!” , numa vida que não passa de um andar em círculo dentro de uma cloaca espessa à procura de uma saída que não existe, até ficar louco”.

Para Schopenhauer, a vida é um sofrer, uma vontade que nunca se sacia e sempre sofre da falta; e o homem é um animal selvagem, amansado pela civilização, que mostra quilo que realmente é, apenas o deixa solto, o único que faz sofrer os outros pelo prazer de ver como eles sofrem. Segundo esse autor, em termos éticos, o homem praticaria a justiça e a bondade, para não ser devorado pelos outros.

Para Nietzche, a Ética do aperfeiçoamento e da hominizaçõa, isto é, a ética das Religiões, de Sócrates e de Platão, é um equívoco, é uma decadência, é uma doença. É indigno para o Homem dobrar-se ao sobrenatural.

FUNDAMENTO ANTROPOLÓGICO DA ÉTICA O Bom é a Liberdade do Homem em se autocriar.

Cabe ao Homem decidir o Bem e o Mal, a partir de uma Filosofia do Homem: a única divindade para o homem é o próprio homem (Marx). ♪ Kant (1724-1804): para ele as normas éticas devem ser obra da razão humana. Devem ser científicas, universais e necessárias, ancoradas na metafísica. Portanto, a primeira função da Ética é procurar uma norma universal e necessária, válida para todos os homens em todos os tempos e lugares. Para Kant, o Homem é livre, porque a vontade não está sujeita às leis físicas da natureza. Por exemplo, a pedra lançada ao ar deve necessariamente cair, mas o homem com desejo da mulher alheia pode desviar-se desse instinto. Nos átomos do corpo o homem é sujeito às leis físicas, mas na escolha moral de sua vontade ele é livre: ele pode escolher ser bom ou mau, comportar-se deste modo ou não. Para Kant, na natureza há leis, na ética há deveres; e a existência de um dever me diz que sou necessariamente livre. Ele dá um exemplo: se um tirano obriga alguém a testemunhar falso contra um inocente, ele pode ceder e dizer o falso; mas depois teria remorso. Isto demonstra que você sabia que podia e e devia dizer a verdade: sabia, devia, podia. E sabia porque, num mundo onde todos dissessem o falso, seria impossível viver, sendo, portanto, obrigatório dizer a verdade (universalidade e necessidade da norma ética). ♪ Marx: ética fundada no Homem. 1) O que é o homem? 2) Como o homem torna-se livre? – Buca mostrar o Homem a partir do Trabalho. Marx diz que a organização e mentalidade da empresa capitalista incapacita o Homem a adquirir e exercer as capacidades de inteligência,

consciência, liberdade, sociabilidade e estética. Saindo do reino da necessidade vive-se no reino da liberdade. Não sou livre se ao meu lado há um só homem que ainda não o é, se eu estou livre

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da preocupação do aluguel e o vizinho não está. O meu ir ao cinema não é uma ação livre, se há uma só pessoa impedida, por causas sociais (portanto também minhas), de ir ao cinema. CONCLUINDO

Foi dito que o drama da era científica, era da especialização tecnológica, é o esquecimento do

ser, ou seja, a perda do costume de contemplar as coisas em sua raiz mais funda, metafisicamente, por trás das aparências, por trás da vitrine, por trás da utilidade imediata, para além da instintividade do aqui e agora.

Caberá à Filosofia e à Metafísica (para o crente conjuntamente com a teologia), imporem-se novamente, elaborando e re-elaborando a compreensão profunda da existência humana, visão capaz de dar fundamento, motivação, alento e norte às ações do dia.

II. ÉTICA E RAZÃO MODERNA

Entre 1914 e 1945, as sociedades ocidentais viveram uma crise profunda. Uma crise

multiforme e universal: todos os aspectos da vida foram por ela atingidos. Sociedade, política, costumes, crenças, saber, mentalidade viram-se penetrados e desarticulados por idéias e eventos que pareciam por em questão a possibilidade de sobrevivência de uma tradição três vezes milenar. ♪ Entre 1950 e 1980: nações hoje do chamado do Primeiro Mundo, incluindo o Japão, tem um crescimento econômico, de progresso científico e tecnológico nunca existido antes na História. Não é no terreno da produção dos bens materiais e da satisfação das necessidades vitais que a crise profunda se delineia. É no terreno das razões de viver e dos fins capazes de dar sentido à aventura humana sobre a terra. A crise da civilização não é mais a crise do ter, mas a crise do ser. Aparece o conflito nas consciências individuais e na consciência social entre sentido e não-

sentido. O período desses ‘trinta anos gloriosos’ deu origem à idéia e linguagem do desenvolvimentismo. Com o fim desse período, se desenha uma nova configuração, ‘O desenvolvimento cultural’ como fator mais importante no avanço da sociedade. Finalmente, pelos meados da década de 80 (1980), anuncia-se a idade da “ética”. Desenvolvimentismo, Cultura e Ética três conceitos de pensamento e de linguagem que permeiam e vão dar um novo sentido à sociedade ocidental. Em 1950, os países envolvidos na guerra já tinham se reconstruído materialmente. A satisfação das necessidades materiais e um domínio até então desconhecido pela humanidade, pela racionalidade científico-técnica a serviço dessa satisfação, o problema do sentido passa a ser o maior desafio dessas sociedades e a reflexão sobre a cultura e a ética impõe-se. A Ética se constitui como ciência dos costumes transmitidos na sociedade, dos estilos permanentes do agir dos indivíduos (hábitos), bem como da comprovação crítica de novos valores que a evolução da sociedade faz surgir. ÉTICA E RAZÃO MODERNA A ética na cultura ocidental traz consigo características do pensamento filosófico do mundo antigo, do cristianismo, do pensamento filosófico-científico do mundo moderno. Com efeito, a Ética ou “ciência do ethos” perde sua força, ou seja, é enfraquecida em um momento de crise histórica. O advento da razão moderna significou uma profunda revolução nos fundamentos da Ética. Houve um deslocamento do pólo metafísico para o pólo lógico, encaminhando a Ética para novas direções. O organismo social, a sociedade, atingida pela corrupção e perversão humana, reage com as forças mais vivas do seu ser para preservar os valores mais sagrados da vida e da pessoa humana. Tal reação, autenticamente sadia, dirige-se principalmente par corrigir os graves e freqüentes

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desvios que se manifestam no agir dos que assumem funções políticas e profissionais das diversas áreas. Assim, surge a discussão da ética na política, nas universidades, na sociedade, nas ciências humanas e sociais. A ética profissional não se restringe a um código repleto de proibições impostas e de sanções contra os que violarem tais preceitos. A ética é bem mais ampla e exigente. Tem por fundamento o conceito do bem e do mal relacionado com a realização dos valores da pessoa humana. A genuína qualidade de um profissional, portanto, é servir bem aos que dele necessitam. Esse “servir bem” de cada profissão exigiu que se definisse objetivamente por uma lei emanada dos respectivos órgãos legislativos da sociedade, ou por um compromisso resultante do consenso formado entre os próprios profissionais sob o controle do seu órgão representativo e homologado pelo poder público para conhecimento de toda a sociedade. É o denominado Código de Ética de cada profissão. ÉTICA, EDUCAÇÃO E QUALIDADE

A questão ética é universal. Coloca-se hoje, com urgência crescente, para toda a sociedade, cada uma das pessoas e corpos sociais, a família, a escola, a sociedade civil, o governo, em todos os setores da atividade humana, política, economia, saúde, educação, até a religião, tudo enfim que diz respeito, de perto ou de longe, ao ser humano no mundo e a sua vocação como pessoa.

Generalizou-se o sentimento de que a vida humana e a sociedade precisam ser revistas à luz da ética, sob pena de caminharmos sem rumo para os maiores desastres, senão para o completo caos, perdendo a possibilidade de sermos felizes e de alinharmos a esperança de um mundo de paz e de justiça.

Hoje, o ser humano tem dado mais valor ao que tem do que ao que é, à conquista e ao domínio desse mundo pelo dinheiro, pelas armas, pela ciência e pela tecnologia do que à assimilação pessoal e à vivência comunitária dos valores que dão sentido à vida humana, como a verdade e o bem, a justiça e o amor.

A ética perdeu para a economia. O desenvolvimento do capitalismo , inicialmente voltado para o enriquecimento próprio, o progresso e o desenvolvimento técnico e financeiro, foi-se deslocando, historicamente, da produção para o consumo, pois o crescimento do mercado e a sofisticação dos produtos foi levando-o a reconhecer que não basta produzir mais, mas é preciso produzir melhor para satisfazer os consumidores e conseguir vender, tal a importância que se dá hoje à qualidade de vida. Falar de qualidade é, no fundo, se reorientar para a ética, que confere qualidade ao ser e à vida. Qualidade é um conceito novo. Coloca novas questões para o engenheiro, para o economista, que lidam com a produção e a distribuição, mas também para o filósofo, que percebe na mudança de foco, a transformação da cultura, e, sobretudo para o pedagogo, que vê transferido para a educação conceitos e perspectivas, que lhe vão modificar em profundidade a maneira de entender sua arte e as formas de práticá-la. Surge a reflexão e discussão sobre a humanização no atendimento e serviços. O CARÁTER ÉTICO DO AGIR HUMANO

Não podemos olhar para a ética como sendo apenas um conjunto de normas a serem observadas na vida social e pessoal, na política, na atividade profissional e nos negócios. Se assim fosse, o problema ético consistiria em justifica a obrigatoriedade de tais normas, com base ora na natureza, na tradição ou nos costumes, ora na necessidade de garantir o convívio social ou a ordem nas trocas mercantis, ou ainda, nos preceitos divinos ou no mútuo consenso entre as pessoas e os agentes sociais.

A gravidade ética da atual conjuntura cultural vem da colocação em questão de todos esses fundamentos alegados, de tal sorte que, sobretudo a juventude, parece não acreditar mais nem em Deus, nem na tradição, nem em lei de espécie alguma, e questionar radicalmente qualquer exigência que signifique um limite imposto a sua irreprimível necessidade de viver.

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A contestação chega a tal ponto, que a sociedade reclama uma nova forma de convivência, o que equivale a dizer, uma nova ética.

O educador toma consciência de que é responsável pela transmissão de valores e, ao mesmo tempo, pela educação da liberdade dos educandos, que questionam tais valores. Na ordem jurídica, podemos ser levados a pensar a liberdade fundamentalmente como escolha, estabelecendo que o educador não pode nunca deixar de impor certos limites à liberdade do educando, sob pena de prepará-lo mal para a vida, deixando-lhe fazer todas as vontades.

A ética requer liberdade, convivência, respeito e atenção recíproca, o serviço e o amor do outro, do próximo.

A ética não consiste, pois, principalmente no estabelecimento teórico dos preceitos que devem ser seguidos, nem tampouco no agenciamento de normas, regulamentos ou sanções que induzam ou exerçam coação sobre os educandos, para que ajam segundo a lei e os preceitos morais. Todos os elementos de obrigatoriedade ética, todos os mandamentos, resumem-se e dependem desses dois primeiros: amar a Deus e ao próximo.

ÉTICA E A CRISE GLOBAL EM QUE VIVEMOS

O Brasil, nesses 500 anos de vida, nunca deixou de ser um país umbilicalmente ligado à Europa e ao Ocidente. Trezentos anos de colônia, sob o império da metróple-capataz, sem a mínima condição de opções próprias de criar um projeto de Estado-Nação.

Passamos ao Império no século passado, mantendo o regime de escravidão no trabalho e o de exclusão e massacre da população indígena. Fomo o último país do mundo a abolir a escravatura, juntamente com Cuba. Até o começo do séc. passado, tivemos um país com uma economia escravocrata, depois coronelista.

O processo de desenvolvimento veio impregnado de vícios de uma herança sócio-cultural. Processo de urbanização virou máquina de favelamento na periferia, de congestionamento nos centros das grandes cidades e de poluição em toda a parte.

A crise cultural, de mudanças radicais em nossa história ocidental, de um mundo globalizado, traz questões como: Para onde vamos? Que sentido tem o dia a dia de nossos esforços, realizações e frustrações? A crise ética é uma questão não só do Brasil, é mundial.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MARCÍLIO, Maria Luiza; RAMOS, Ernesto Lopes (Coordenadores.). ÉTICA NA VIRADA DO SÉCULO: Busca do Sentido da Vida. São Paulo: LTr, 1997.

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A CONSCIÊNCIA MORAL GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia. Das Letras, 1996.

Desde o início, Kant tinha a forte impressão de que a diferença entre o certo e o

errado tinha de ser mais do que uma questão de sentimento. Nesse ponto ele concordava com os racionalistas, para quem a diferenciação entre certo e errado era algo inerente à razão humana. Todas as pessoas sabem o que é certo e o que é errado; e não o sabem por que aprenderam, e sim porque isto é algo inerente a nossa razão. Kant acreditava que todos os homens possuem uma razão prática, que nos diz a cada um o que é certo e o que é errado no campo da moral.

A capacidade de distinguir entre certo e errado é tão inata quanto todas as outras propriedades da razão. Todas as pessoas entendem os acontecimentos do mundo como causados por alguma coisa e todos têm também acesso a mesma lei moral universal. Esta lei moral tem a mesma e absoluta validade das leis do mundo físico. Ela é tão basilar para a nossa vida moral quanto é fundamental para a nossa razão o fato de que tudo possui uma causa, ou de que sete mais cinco são doze.

A lei moral vale para todas as pessoas, em todas as sociedades, em todos os tempos. Ela não diz, portanto, o que você deve fazer nesta ou naquela situação. Ela diz como você deve se comportar em todas as situações.

Kant formula sua lei moral como um imperativo categórico. Por imperativo categórico Kant entende que a lei moral é “categórica”, ou seja, vale para todas as situações. Além disso, ela é também um “imperativo”, uma “ordem”, portanto, e também é absolutamente inevitável.

De acordo com Kant, ... primeiro devemos sempre agir de modo a podermos desejar que a regra a partir

da qual agimos se transforme numa lei geral. Quando faço alguma coisa, preciso estar certa de que posso desejar que todos os

outros façam a mesma coisa na mesma situação. Dessa maneira estarei agindo em consonância com a lei moral interna. Kant formulou o imperativo categórico de modo a que nós tratemos as outras pessoas sempre como um fim em si mesmo, e não como um

simples meio para se chegar a outra coisa.

- Não devemos, portanto, “usar” as outras pessoas em proveito próprio. ... Todas as pessoas são um fim em si mesmas. ... - Isto lembra um pouco a “regra de ouro”: “não faças para os outros aquilo que

não desejas para ti”. - ... esta é uma diretriz formal que compreende basicamente todas as

possibilidades de escolhas éticas. Podemos dizer que esta regra de outro expressa, de certa maneira, o que Kant chamou de lei moral.

- Mas tudo isto não passa de afirmações. Não podemos provar com nossa razão o que é certo e o que é errado.

- Kant considerava a lei moral tão absoluta e universal quanto a lei da causalidade, por exemplo. Esta também não pode ser provada pela razão, e nem por isso deixa de ser inevitável. Ninguém contestaria isto.

... - ... quando Kant descreve a lei moral, o que ele descreve é a consciência humana.

Não podemos provar o que a consciência diz, mas sabemos o que ela diz. (...)

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- (...) O que se pode chamar de ação moral tem de ser o resultado do esforço em superar-se a si mesmo. Só quando você faz alguma coisa por considerar seu dever

seguir a lei moral é que você pode falar de uma ação moral. Por isso é que a ética de Kant também é freqüentemente chamada de ética do dever.

Posso considerar meu dever conseguir dinheiro para os que não têm o que comer ou onde morar.

- Mas o importante é que você o faça porque considera isto certo. Mesmo que o dinheiro que você conseguiu ajuntar se perca a caminho e jamais chegue a saciar a fome daqueles a quem se destinava, ainda assim você seguiu a lei moral. A sua atitude estava correta e a atitude correta é para Kant decisiva para que possamos chamar algo de moralmente correto, não as conseqüências da ação. Por isto é que também chamamos a ética de Kant de ética da atitude.

- Por que era tão importante para Kant saber quando exatamente estamos agindo segundo a lei moral? Não é muito mais importante que o que fazemos sirva as outras pessoas?

- (...) Só quando nós mesmos sabemos que estamos agindo segundo a lei moral é que agimos em liberdade.

Sugestão de atividade:

Objetivo: ampliar os conhecimentos a partir da leitura das idéias de Kant. Discutir com os colegas “a regra de ouro” de Kant. Procedimentos: a) Formar grupo de .... alunos. Cada grupo deverá escolher um relator. b) Identificar, na vida cotidiana (no trabalho ou fora dele), alguma situação vivida em que foi tomada uma atitude tendo como princípio a “regra de ouro”. c) Cada relator do grupo apresentará a situação narrada para a turma.

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O SER HUMANO COMO SER INTEGRAL

“Nós não somos os criadores de nossas idéias, Mas apenas seus porta-vozes; são elas que nos dão forma... E cada um de nós carrega

a tocha que no fim do caminho outro levará”. Carl Gustav Jung

Todo ser humano é um ser integral, isto é, integrado por aspectos sociais, emocionais,

espirituais e racionais. Em conseqüência, qualquer ser humano que deseja excelência em sua vida pessoal, profissional e comunitária precisa atuar de modo equilibrado com a alma, o coração e a razão. Isto se constitui na prática profissional de hoje, um diferencial competitivo.

Hoje, mais do que antes, todos preferem contratar ou trabalhar com profissionais íntegros, isto é, que tenham excelência em todos os aspectos do comportamento. ALGUNS CONSELHOS: ♣ Devemos estar cada vez mais habilitados a ouvir o coração e seguir sua orientação, uma vez que a quantidade de informações presentes no mundo nem bem é digerida e já estamos recebendo outra avalanche de dados. ♣ Manter claro o propósito de vida e atuar totalmente comprometido com esse propósito. PROBLEMAS QUE PODEMOS NOS DEPARAR EM NOSSO TRABALHO: ♣ Tecnologia pode falhar (ex.: notebook travar) ♣ Quando deixamos de gostar o que fazemos, ou seja, não colocamos mais a alma no trabalho porque deixou de ser um propósito de vida para a pessoa. Ela dá, em sua rotina intensa, um pouco de sangue, um pouco de vida, um pouco de cérebro e muitos braços. O restante – o coração, as grandes idéias, os grandes sonhos – fica lá fora, bem distante, em outro mundo. Quando isso acontece, as conversas com outros podem se transformar num inferno; queixas do local de trabalho, dos projetos, dos colegas, da instituição, ... Para as pessoas do local de trabalho, esta pessoa pode-se transformar numa pessoa insuportável de conviver.

Numa instituição ou local de trabalho, a atenção ou cuidado ao cliente significa nada mais, nada menos, do que ser hábil nos relacionamentos interpessoais tanto com clientes internos quanto com clientes externos.

A dedicação absoluta ao trabalho pode impedir o prestar atenção ao desconforto gerado pelo mesmo. Pode-se fazer do “inferno” um hábito de vida. Uma pessoa infeliz com seu trabalho pode criar um verdadeiro inferno para toda a família: reclama de tudo. A família em casa evita reclamar, tentando compreender o familiar infeliz e tendo uma espécie de pena dele.

EM BUSCA DE EXCELÊNCIA PERDIDA

O cenário econômico da globalização e de incertezas proporciona grandes desafios aos trabalhadores. Desafios: a) Aprimorar resultados constantemente; b) liderar pessoas e ser liderado.

Para ser bem sucedido nesses desafios é preciso compreender melhor a dimensão humana. É preciso compreender que todo ser humano é um ser integral com características sociais, emocionais, espirituais e racionais. Características que precisam ser desenvolvidas de modo integrado. Na essência, significa atuar – de modo equilibrado – com a alma, o coração e a razão em todas as situações: no trabalho, na vida pessoal e na comunidade em que se vive. Há um poema de Fernando de Pessoa que resume o que significa atuar com alma, coração e razão integrados, criando-se um padrão de excelência total:

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Para ser grande, sê inteiro: Nada teu exageres ou excluas.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.

Assim em cada logo a lua toda brilha, Porque alta vive.

(Fernando Pessoa)

Há mais de um século os seres humanos são levados a crer que o lado racional (razão) se desenvolve e se aplica melhor no trabalho. O lado emocional (coração) se desenvolve na terapia e em casa. O lado social (visto só como lazer), em clubes, e o espiritual (alma), nos templos religiosos. Esse grande equívoco conceitual tem levado milhares de profissionais ao estresse, à falta de ânimo para trabalhar, à falta de propósito na vida. Ainda são comuns discursos orgulhosos de algumas pessoas parecidos com este: “Em casa sou de um jeito e no meu local de trabalho sou outra pessoa completamente diferente”. Bem, na realidade, se essa pessoa for de fato, completamente diferente, ela está doente. No mínimo de um distúrbio chamado esquizofrenia.

Espera-se que um profissional seja um excelente pai, esposo, filho e cidadão. Hoje, o profissional precisa demonstrar afetividade, coerência de ações e compromisso nos vários papéis que desempenha em sua vida pessoa e comunitária. Ações que incluem leitura, cursos e seminários para o auto-desenvolvimento contínuo que darão novo molde ao profissional de um padrão de excelência em 360º.

Jack Canfield, conferencista e escritor, diz que “não podemos mais, nos dias de hoje, acreditar

que tragédias simplesmente acontecem. Elas existem para nos alertar sobre algo que estava bem, mas precisa ser mudado”. A tecnologia é importante, mas não pode estar desconectada do coração. A conexão está em compartilhar o conhecimento que se tem com os outros. E em saber aproveitar as oportunidades para isso”.

Refletindo sobre o que estamos fazendo com nossa vida: O que vamos responder, no fim dela, quando formos avaliados: se soubemos aproveita-la ou não. Ela vai nos levar ao Céu ou Inferno, após a morte, como resultado da maneira como gerenciamos nossa existência no planeta. Precisamos aprender a conectar coração e tecnologia e seguir buscando realizações que dêem significado a nossas vidas e as de outras pessoas.

O equilíbrio só é possível pelo movimento constante, em sinergia com o movimento das mudanças. É preciso também humildade para estar aberto a novos conhecimentos, a novos métodos, a novas posturas.

De acordo com Bene Catanante, “Quem está muito seguro de seus conhecimentos antigos, nesta época de tantas instabilidades e tantas novidades, não percebe nada do que acontece a sua volta. E corre altos riscos de sair definitivamente do mundo organizacional. Porque quem sabe muito do que não é mais necessário não sabe nada. Tem que se dispor a aprender e reaprender como um estudante principiante entusiasmado e receptivo”. P. 41

♣ - COMPREENDER A SI EMSMO COMO UM SER INTEGRAL – O 1º DESAFIO

Vivemos em um mundo interdependente. Na teia da vida, tudo está interligado. Quando um setor não está bem, afeta os outros. Quando um órgão de nosso corpo está doente, todo o corpo sofre, o que afeta nosso humor e desempenho profissional, assim como uma dor emocional.

Até a década de 8O, as empresas viam o ser humano como a ciência o percebia: em partes. Exigia-se que o funcionário fosse profissional no trabalho e ponto final. Que utilizasse sua parte profissional para atuar na empresa e deixasse em casa as outras partes, como os sentimentos, o amigo, o ser que se emociona, que intui. Exigiam do profissional exclusivamente sua parte

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racional, fria, infalível. Era assim também na ciência. Os médicos, por exemplo, olhavam para o humano como uma porção de partes. Se a pessoa tivesse um problema no estômago, o especialista fazia um diagnóstico com base no estômago, que não estava bem. Essa atitude é chamada de mecanicista, cartesiana, ainda persiste em boa parte da medicina. Trata-se um estômago como se concerta um pneu, um carburador de carro. Lida-se com a doença sem nenhuma (ou quase nenhuma) consideração pelo ser humano doente. Boa parte dos médicos ainda trata a doença, e não o doente.

Hoje, a ciência mais avançada, a física, reconhece que a realidade é holográfica. Em cada parte, na essência, existe o todo, e o todo contém uma fração completa de cada uma das partes. Portanto, quando uma parte é afetada o todo também é. Se uma parte está afetada, isso é conseqüência do todo. Para curar uma parte, portanto – no caso do ser humano -, é importante analisar a causa, o desequilíbrio do todo.

Quando a ciência avança, as empresas acompanham esse avanço. Quando os conceitos e os paradigmas da ciência mudam, também se transformam os paradigmas das empresas. O mercado está em constante mudança e adaptação. Quando a ciência muda, o mundo muda.

O diferencial competitivo das organizações, instituições do novo milênio já é e continuará sendo os seres humanos. São os seres humanos que vão dizer qual tecnologia usar e como usá-la. O capital humano precisa ser valorizado. E estamos nos referindo ao capital humano do talento. O que mantém a permanência do capital humano numa organização de trabalho, não vai ser o tempo de casa, mas o contínuo sucesso como profissional. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SER INTEGRAL A natureza humana é reconhecida essencialmente como social, emocional, espiritual e racional.

a) SOCIAL: fala de sua imagem. Como você é visto pelos outros – o que é reflexo de como você se vê.

Se você tem uma auto-imagem de bem-sucedido ou de fracasso, passa isso para os outros automaticamente. O mesmo acontece se você se vê como entusiástico ou deprimente, competitivo ou cooperativo, arrojado ou medroso, etc. Os outros vêem aquilo que você mesmo reflete. b) EMOCIONAL: o emocional é como reage em relação a si mesmo. Como se aprecia. Quais as emoções mais presentes em sua vida. Como reage em relação aos outros – o que é reflexo de como reage em relação a si mesmo.

Se costuma ter consigo mesmo atitudes críticas incentivadoras ou destrutivas, sem perceber faz o mesmo em relação aos outros. Isso também acontece com os sentimentos mais freqüentes de atividade ou indiferença, paciência ou impaciência, etc.

c) ESPIRITUAL: O espiritual é sua razão de existir, seu propósito de vida. São as lições que você veio aprender/ensinar neste planeta – o que é reflexo das experiências que se repetem continuamente.

d) RACIONAL: É o que você consolida neste planeta, as realizações resultantes de suas decisões – o que é reflexo de seu nível de consciência.

Dependendo do nível de consciência, nosso foco de vida é mais direcionado para: ter, ser, fazer

ou servir.

♣ - DESENVOLVER O SOCIAL DO SER INTEGRAL – O 2º. DESAFIO

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O ser humano é um ser social por natureza, por cultura e até por uma questão de sobrevivência. O ser humano agrega valor aos diferentes ambientes onde se situa (familiar, de trabalho, escolar, igreja, lazer,..). No ambiente de trabalho, desenvolver o ser social possibilita conquistar uma imagem fortalecida perante seus pares, subordinados, clientes internos, clientes externos e na comunidade. Quando esse conjunto que forma a característica social do ser integral também se fortalece no convívio particular e se mantém coerente além dos muros de sua casa e local de trabalho, sua imagem real passa a ser consistente na comunidade de modo geral.

É certo que, quando você muda, tudo a sua volta muda. Quando você está inquieto, o prazo para começar as mudanças é exatamente agora. Enquanto

você aguarda melhor oportunidade para começar a mudar e conscientemente você não faz nada diante das mudanças necessárias, seu inconsciente “arruma um jeito” e cria, a sua maneira, fórmulas para eliminar a inércia. São fórmulas, atitudes inconscientes de como proceder diante do medo da mudança agora.

♣ - DESENVOLVER O EMOCIONAL DO SER INTEGRAL – O 3º. DESAFIO Daniel Goleman, considerado o pai da Inteligência emocional, que tem escrito muito sobre a

Inteligência emocional e tem alertado os pais e educadores de suas responsabilidades de preparar os adultos de amanhã para o sucesso ou para o fracasso pessoal e profissional. Ele defende a teoria de que o QE (quociente emocional) é mais importante que o QI (quociente intelectual). Suas constatações foram:

Adultos que: ◙ tiveram uma infância em que souberam lidar sabiamente com o afeto ou com a carência

dele, ◙ souberam adiar recompensas imediatas para ganhar mais a médio prazo, ◙ aprenderam a conviver harmoniosamente com outras crianças nos jogos sociais

tem quociente emocional elevado. Na fase adulta, esse quociente emocional elevado lhes propicia mais chances de ser bem-

sucedidos na vida pessoal e profissional do que outras crianças com quociente intelectual elevado, mas sem quociente emocional tão bom. O sucesso de nosso trabalho não é “só uma questão de sorte”. Sucesso é a combinação de uma série de competências pessoais expressas nos momentos certos, nas horas certas e com as pessoas certas. Quando tudo indica estar errado e sem solução, é então que o emocional bem desenvolvido vai fazer a diferença.

Para criar relacionamentos consistentes (parcerias), portanto, é preciso investir continuamente no fortalecimento da imagem perante os parceiros. É importante vasculhar a esfera emocional para ver quais são seus sentimentos mais freqüentes: negativos ou positivos? Saiba que ninguém agüenta viver com vítimas sofredoras por muito tempo. A observação constante de si mesmo é o

maior instrumento de transformação humana. Reconhecemos mais facilmente nos outros aquilo

que nos é familiar. Somos sempre luz e sombra. Não somos só amor, não somos só compreensão, não somos só

alegria, não somos só discernimento, não somos só coragem... Somos exatamente iguais a tudo o que existe no mundo – duas polaridades, a positiva e a negativa. Muitos tentam negar seu lado sombra. Precisamos ter a consciência de que somos duas polaridades ao mesmo tempo – em qualquer situação. É possível administrar as próprias sombras, o lado negativo. É possível equilibrar sombra e luz. E aí está a chave do desenvolvimento dessa característica do ser integral – o lado emocional.

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A propósito, ter consciência da necessidade de manter o emocional equilibrado não é a mesma

coisa que estar equilibrado. Quem não consegue sair de suas sombras precisa de ajuda profissional. Não busque parecer ser auto-suficiente. Consulte um terapeuta.

♣ DESENVOLVER O ESPIRITUAL DO SER INTEGRAL – O 4º. DESAFIO

Segundo pesquisas, profissionais de alta performance, que atuam com excelência são os que trabalham com alma e espírito. Trabalhar com alma significa trabalhar com energia, “vestir a camisa” e comprometimento pessoal. Um profissional de alta performance, que atua com excelência, tem sido descrito como um profissional “Que é automotivado”, “Que tem espírito de equipe”. Segundo pesquisas: O espírito numa organização remete a “Energia pura”, “Energia invisível”, “Vida”, “A essência do ser humano”.

O espiritual, presente em todas as culturas e característica natural do ser humano, alinhada com o invisível, com o que se pode sentir mas não se pode medir, do que se pode falar mas não se pode tocar.

Fazendo-se um paralelo com o desenvolvimento espiritual de profissionais e sua aplicabilidade no trabalho, foi possível constatar que pessoas com grau de espiritualidade bem desenvolvido

costumam ter clareza de sua missão, dos benefícios que agregam com o próprio trabalho, da

diferença que fazem no mundo pessoal, profissional e na comunidade em que vivem.

A espiritualidade no trabalho está relacionada com a consciência de algumas premissas: 1. Você trabalha para prestar constas a si mesmo e a Deus

▪ Seu foco no trabalho não se restringe a receber a aprovação dos outros. A aprovação dos outros continua importante, mas é conseqüência de sua auto-aprovação.

▪ Portanto, você trabalha por uma causa pessoal e não faz nada que esteja prejudicando terceiros.

▪ Você não finge que não está acontecendo nada quando percebe que outros estão agindo em prejuízo de terceiros. Terceiros, nesse caso, não representam apenas seus conhecidos.

▪ Você não sai gritando também. Age conectado com sua alma, seu coração e sua razão. E toma o que reconhece ser uma atitude sábia no momento.

2. Negócios saudáveis e profissionais excelentes são aqueles que preservam

▪ A natureza – isso significa considerar até os resíduos que o consumidor joga no lixo.

▪ A saúde humana – saúde é percebida como o movimento equilibrado do social, emocional, espiritual e racional. Diz respeito à saúde física, emocional, mental e espiritual. Considera a sua saúde e a de todos os que estão próximos.

▪ A integridade da sociedade – isso significa ter consciência de que cada ação afetará positiva ou negativamente o todo e buscar oferecer produtos e serviços que propiciem o desenvolvimento - com integridade – próprio e da sociedade.

3. Responsabilidade social é uma causa permanente

▪ Esse é um exercício contínuo, motivado pela consciência da cidadania. A prática da cidadania é feita no dia-a-dia. Em casa, com os vizinhos, com os colegas de trabalho, no trânsito, na rua, nas praças públicas. Trata-se de incluir em sua vida o hábito de prestar serviço a quem necessita.

4. A sustentação do sucesso pessoal, profissional e organizacional está no equilíbrio entre

ter, ser, fazer e servir.

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▪ É preciso compreender que o conceito de abundância e prosperidade equivale a saber usufruir tudo o que se tem e aspirar ao necessário em todos os sentidos da vida. Usufruir tudo ao mesmo tempo possibilita vivenciar a plenitude, a paz interior, a celebração dos pequenos e grandes sucessos. Não há lugar par ganância.

Espiritualidade no trabalho tem a ver com devoção, com fé no invisível, com propósito de

vida. E o propósito de vida de uma pessoa elevada espiritualmente tem a ver com propiciar benefícios coletivos. Sempre. A devoção não se restringe à templos. A devoção está intrinsecamente ligada à conduta, às crenças de como agir em seu ambiente a serviço de Deus.

A grande maioria das pessoas desenvolve a espiritualidade seguindo uma prática religiosa. Mas para praticar a espiritualidade no trabalho não basta simplesmente seguir uma religião. Há muitas pessoas que se dizem espiritualizadas porque praticam uma religião, mas não estão

praticando a espiritualidade no trabalho, dentro do conceito do ser integral. A responsabilidade social é visível nas pessoas com elevado grau de espiritualidade. O desprendimento de algumas ambições em favor de causas coletivas.

Somos o que pensamos. Somos o que somos em função de nossas crenças. Temos o livre arbítrio, a livre escolha. Tudo na vida é uma questão de escolha, de exercer conscientemente o livre arbítrio.

♣ DESENVOLVER O RACIONAL DO SER INTEGRAL - O 5º. DESAFIO

Até década de 8O - foi a característica mais valorizada no sistema universitário ocidental. Antigamente se ouvia dizer que o ser humano é um animal racional e isso o diferenciava das

outras espécies de animais. Ultimamente, a palavra “racional” passou a ser um adjetivo apropriado para pessoas consideradas frias, lógicas, sem coração. Nem um nem outro aspecto do ser integral pode ser negligenciado (emocional, racional, espiritual e social).

Esta característica tem sua importância porque no racional reside a capacidade de elaboração, da descoberta de uma explicação de acontecimentos. Porque aí estão a lógica, a análise, o discernimento e a síntese.

As descobertas (ou insights) são fruto de inúmeras observações da mesma situação ou de

situações similares aliadas à capacidade de análise e de síntese e à visão integrada do todo.

Como posso desenvolver a capacidade de análise e de síntese? Posso exercita-lo continuamente respondendo a mim mesmo: ◙ Que aprendizado posso tirar dessa situação? ◙ Que aprendizado posso tirar desse dia? ◙ Que aprendizado posso tirar de minha família? ◙ Que aprendizado posso tirar dessa atitude? ◙ Que aprendizado posso tirar dessa descoberta?

Quanto mais consciência tiver de suas escolhas, mais você vai se sentir responsável pelas conseqüências. Não escolher também é uma escolha. Podemos não escolher para responsabilizar o outro pelas conseqüências. Há momentos que precisamos escolher e há momentos que precisamos também permitir que outros também façam a sua escolha. Ex.: nossos familiares terem o direito de escolha do cardápio, restaurante, cinema, etc.

Os resultados de nossas escolhas levam ao aprendizado. A sabedoria é resultante de aprendizados que se ampliam pelo tempo de vivência. Mas a sabedoria também é resultante da sincronia entre intuição e razão. Para alguns autores, a intuição é parte do pensamento racional. Ela nos busca colocar na direção certa diante de escolhas. A intuição também pode ser desenvolvida. Assim como a análise e a síntese. Situações que possibilitem o ficar consigo mesmo (meditação, música, artesanato, dança, ...) desenvolvem a intuição.

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O CUIDADO NA FORMAÇÃO DOS CUIDADORES

Que bom que não sou o melhor de todos, porque ainda me resta Um caminho a percorrer para melhorar.

Que bom que não tenho tudo, só assim me animo de lutar pelo que falta. É realmente bom que eu não saiba tudo. Se soubesse não teria o que aprender.

Que bom que eu tenho defeitos. Se não os tivesse, viveria só, não compreenderia as faltas do meu próximo.

Que bom que não sou o mais forte do mundo. Se o fosse não precisaria de quem me auxiliasse e não compreenderia a ajuda porque tentaria fazer tudo sozinho.

Que bom que não estou sozinho. Se você não existisse, eu não perceberia o quanto preciso corrigir-me.

Que bom que somos uma família, que necessitamos uns dos outros, Que buscamos caminhos e alternativas para transformar e crescer.

(autor desconhecido)

O profissional de enfermagem é exigido um comportamento profissional, mas é importante

também que se pense sobre a saúde emocional do cuidador que precisa ser valorizado e respeitado como ser humano. O que não cuidamos ou o que não é cuidado se desestrutura até chegar à morte. É o cuidado que faz o mundo ser mais humano.

O verdadeiro sentido do cuidado exige sabedoria, conhecimento, sensibilidade e principalmente amor para que possa ser transferido algo para outra pessoa que necessita de cuidado. A(O) enfermeira(o) é um ser humano antes de mais nada. Como está sendo cuidado ou como está se cuidando? Precisa interagir com outros seres e consigo mesmo e com seus sentimentos. É um ser que pensa, critica, ama, sofre, chora e ri diante da vida ou da morte.

Na Enfermagem, a maioria são mulheres (aprox. 80%) e exercem jornada dupla ou tripla de trabalho, como ainda precisam lidar com o improviso e criatividade em suas atividades.

Existe uma mentalidade de que quem cuida sabe se cuidar. Não está de todo errado porque o profissional tem um conhecimento técnico, mas e o lado emocional, a satisfação, o sofrimento, a dor, a angústia? É no enfrentamento das emoções que se é possível desenvolver como ser humano.

Para Lacerda e Costenaro (1998) citado por Jaqueline de Souza, existem várias maneiras de cuidar do cuidador: ♣ oficinas de autoconhecimento; ♣ fortalecimento do self; ♣ grupos de ajuda mútua; ♣ grupos que reforcem o self dos funcionários, com a família, entre outros. ♣ atividades de lazer ♣ cursos para o desenvolvimento pessoal.

É necessário cuidarmos de nossa auto-estima e a dos colegas que pode ser conseguido com um

olhar diferente, uma nova postura diante da vida, um gesto de carinho consigo mesmo, um cuidado que muitas vezes damos aos outros e não damos a nós mesmos.

CUIDADO NA FORMAÇÃO PESSOAL

O cuidado é uma ação que fazemos a nós mesmos desde que adquirimos condições de nos auto-

cuidarmos. Os profissionais da saúde precisam solidificar o relacionamento consigo mesmos, exercitarem a flexibilidade e saberem valorizar o conhecimento do outro. É preciso a valorização do seu eu, o seu lado espiritual, humano. Podemos nos lembrar de pessoas que nos marcaram pelo seu carinho.

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É preciso lembrar da necessidade da humanização no trabalho, o comprometimento com a profissão, a atitude reflexiva sobre o fazer, saber dialogar e escutar, a necessidade de uma formação continuada, etc.

O profissional de Enfermagem é gente que cuida de gente. O cuidar pode ser definido como uma “forma de ser, de viver, de se expressar”. (p. 12) Existe a necessidade que vai além da técnica, do científico, ou seja, “sermos, vivermos, nos conhecermos, poder nos expressar”.

O CUIDADO COM O FAMILIAR

O cuidado do profissional enfermeiro(a) se estende também ao cuidador familiar do doente, que sofre com a situação de doença que está acompanhando e vivenciando (pacientes em estágio terminal ou politraumatizados). Os familiares cuidadores se deparam com situações não esperadas ou em casos de pacientes terminais se deparam com a possibilidade da perda eminente do ente querido. Situações permeadas por desespero, insatisfação e medos. Estes cuidadores sofrem emocionalmente com as situações vivenciadas durante o período de internação. Possíveis intervenções ou procedimentos técnicos desconhecidos pode se apresentar como assustador aos familiares (ex.: colocação de tubos de oxigênio, ...)

Para o cliente cuidado e seus familiares, o enfermeiro(a), muitas vezes, é visto apenas no seu fazer profissional. Assim, é importante que o profissional da enfermagem se questione sobre sua prática e se pergunte se existe alguma diferença entre cuidado humano, cuidado profissional e o cuidado de enfermagem.

A essência do cuidado está na relação humana, de fé e de esperança e estes tipos de cuidado o cuidador familiar sabe espontaneamente dedicar. As atitudes técnico-científicas não podem ser realizações sem base humanista. O cuidador pode participar das técnicas (recebendo orientações) para que aos poucos perca o medo, a angústia. Toda orientação de cuidado dada a um familiar no processo de alta precisa ser feita com muito cuidado.

Costenaro (1998) citado por Souza diz que “precisamos ir além da punção venosa com buterfley, do banho de leito, do controle dos sinais vitais, do curativo, da mera execução de procedimentos técnicos, que não consideram o cliente, o qual está recebendo o atendimento, como alguém que pensa, sente, e tem o direito de participar”.

Gente que lida de gente deve lidar com o coração, se colocar sempre no lugar do seu cliente e valorizar o seu cuidador familiar que está ao lado, respeitando seus medos, anseios, crenças e tabus.

O cuidado é o objeto (essência) de trabalho da enfermagem, como tal, deve ser discutido, aprendido e valorizado pelos profissionais que compõem a equipe de enfermagem. O cuidar de si é primordial para que se possa cuidar de um outro. O investimento pessoal contribui para o cuidado de si, contagiando outros com o bom astral, segurança, sorriso e simpatia.

A habilidade para cuidar de pacientes depende em grande parte de quão bem você cuida de você mesmo. Quanto mais e melhor você cuidar de você mesmo, tanto melhor você viverá, tanto melhor você amará, e tanto melhor você trabalhará. Nesse aspecto paremos para refletir um pouco. Responda a seguinte pergunta: “Você tem cuidado de si? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes.

O trabalho necessita de coleguismo, parceria, ajuda mútua, valorização e crescimento em equipe e socialização de saberes.

Podemos nos perguntar: “Por que não encontramos satisfação no que fazemos, mesmo que seja o que sempre quisemos fazer?”. Será que não está relacionado ao quanto e como estamos sendo cuidados e valorizados? É preciso que estejamos bem conosco mesmos para passar adiante um cuidado com satisfação. Há situações em que colegas podem ser cuidados por colegas através de esclarecimento de dúvidas, companheirismo, interesse em saber se está tudo bem, incentivos, expressões de carinho, o saber ouvir, conversas de encorajamento e da socialização de divertimento.

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O cuidado de si mesmo pode ser visto através do ‘estar bem’, ter idéias positivas e alegres, valorização pessoal, investir no visual, controle e atenção para fazer as coisas certas, bem se cuidar para não repetir os erros dos outros e aprender com os mesmos.

Sabe-se que o trabalho da enfermagem, ainda é permeado por alguns fatores que interferem na humanização da assistência, como por exemplo: carência de pessoal, condições de infra-estrutura inadequadas de trabalho, grande número de pacientes, falta de um maior reconhecimento e valorização da profissão por parte de pacientes e de empregadores.

Como profissional de enfermagem, o que você poderia dizer sobre o cuidado de si. Descreva alguns aspectos e reflita sobre os mesmos posteriormente. Estabeleça alvos ou metas a curto, médio e longo prazo para sua vida profissional e pessoal. Algumas idéias obtidas na obra de:

SOUZA, Jaqueline de. O cuidado na formação dos cuidadores. Universidade de Santa Cruz do

Sul, 2000. 39p.

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Desejo a você!

Sucesso, crescimento,

alegrias e muita satisfação

no trabalho, vida pessoal e familiar.

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ADMISSÃO EM CENTRO CIRÚRGICO COMO ESPAÇO DE CUIDADO

Enêde Andrade da Cruz1 Zulene Maria de Vasconcelos Varela2

CRUZ, E. A.; VARELA, Z. M. V. Admissão em Centro Cirúrgico como espaço de cuidado. Revista Eletrônica

de Enfermagem (on-line), v. 4, n. 1, p. 51 – 58, 2002. Disponível em http://www.fen.ufg.br/.

INTRODUÇÃO METODOLOGIA ADMISSÃO NO CENTRO CIRÚRGICO COMO ESPAÇO DO CUIDADO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADMISSÃO EM CENTRO CIRÚRGICO COMO ESPAÇO DE CUIDADO RESUMO: Objetivamos neste estudo com abordagem qualitativa, descrever o cuidado da enfermeira na admissão de pessoas em Centro Cirúrgico, a partir da observação assistemática deste profissional, realizando este procedimento. Na instituição escolhida, o espaço para admissão é comum a todos os elementos da equipe, ao fluxo de pessoas e clientes, que permanecem próximos um dos outros, gerando interpretações errôneas na comunicação, dificultando a efetivação desse cuidado. A preocupação da enfermeira, em desenvolver a admissão, como prerrogativa própria e humanização foi evidente. A continuidade desse procedimento, é dificultada pela equipe cirúrgica, para liberação do paciente, o que está marginalizando as alternativas de cuidado e gerando insatisfação nas profissionais. UNITERMOS: Cuidado, Enfermagem, Admissão em Centro Cirúrgico. NURSING ASSISTANCE FOR PATIENTS IN SURGICAL CENTER ADMISSION

ABSTRACT: We objectified in this study with qualitative handling, to analyze the nurse's care in the people's admission in Surgical Center, starting from this professional's assistematic observation, accomplishing this procedure. In the chosen institution, the space for admission is common to all the elements of the team, to the people's flow and customers, that stay close one of the other ones, generating erroneous interpretations in the communication, hindering of that the efective care. The nurse's concern, in developing the admission, as own prerogative and humanização was evident. The continuity of that procedure, it is hindered by the surgical team, for the patient's liberation, what is leaving out the care alternatives and generating dissatisfaction in the professionals. KEY WORDS: Care, Nursing, Admission in Surgical Center. INTRODUÇÃO

Ao longo de sua experiência profissional, como docente em campo de prática em Centro Cirúrgico (CC), a autora tem convivido com situações complexas, no momento da entrada do paciente nesse setor.

Sabe-se que a chegada de uma pessoa que necessita de cirurgia, nesse setor, é sempre precedida da sensação de medo: medo do desconhecido, do ambiente estranho, medo da cirurgia e do seu resultado, medo da anestesia, das alterações da imagem corporal, enfim, medo da morte, além de outros tidos como grandes inimigos do homem. Assim, a necessidade de receber informações, atenção e apoio, como um cuidado especial, é imprescindível, até porque sua percepção está, muitas vezes, aguçada tentando captar algo que possa estar interferindo ou que venha a interferir na sua dita operação. São situações como essas, que podem aumentar os seus temores e, conseqüentemente, sua ansiedade e insegurança, frente à perspectiva imediata da cirurgia.

Para quem se encontra nessa situação individual, particular e mesmo única, as circunstâncias também apresentam características específicas, uma vez que, ao se aproximar o momento da cirurgia, é comum

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à pessoa sentir-se atemorizada ou mesmo ameaçada, não só pelo ambiente estranho, equipamentos, paramentação da equipe, pessoas estranhas etc. como, também, pela forma como é recebido considerando que cada pessoa reage de maneira diferente aos seus temores e preocupações já destacados por D’ASSUMPÇÃO (1994, p.16) no apelo de um paciente aos médicos:

”ao me levarem para a sala de cirurgia, por favor não me deixem sozinho e sem qualquer informação sobre o que irá acontecer, ... para mim, tudo é novidade, tudo é assustador. Porém, se alguém que eu já conheça, estiver junto de mim, estarei seguro e me será mais fácil enfrentar tudo aquilo que virá em seguida”.

Justamente, nesse momento, é que o paciente pode exteriorizar o estresse emocional, pelo que

precisa ser ouvido, cumprimentado, valorizado e chamado pelo nome, não por apelidos como freqüentemente acontece, tipo “tio”, “vô” ou “vó”. CASTELLANOS et al (1985), destacaram situações dessa natureza, como negativas e indicadoras de desrespeito ao paciente, com probabilidade, inclusive, de aumentar seus temores e insegurança.

O sentir-se ameaçado e inseguro, pode ser conseqüência de outros fatores, ao exemplo de ocorrências no contexto do ambiente de CC, pois tudo aquilo que o paciente vê e escuta nesse local, tende a gerar um sentimento até certo ponto ameaçador, fazendo aumentar a sua ansiedade e insegurança, além de caracterizar um cuidado desumano e com baixo nível de qualidade.

Dentre as ocorrências que podem surgir no contexto do ambiente em CC, encontram-se aquelas referentes à própria dinâmica do trabalho de equipe, além de outras relacionadas ao fluxo de pessoas, de vez que o ambiente é único e compartilhado por todos. Tem-se, como exemplos, o transporte de grandes frascos com conteúdo sanguinolento, aspirado de cirurgias anteriores; o transporte de peças cirúrgicas mal acondicionadas e descobertas; o abandono do paciente para cumprimentos efusivos e demorados com companheiros (as) de trabalho; o surgimento inoportuno, naquele local e naquele momento, de funcionário, dirigindo-se à enfermeira próxima ao paciente, para informar que: “o aspirador desta sala não está funcionando”, ou “está faltando oxigênio nesta sala”, ou “o ar condicionado desta sala não está funcionando” ou, ainda, “o anestesista desta sala não chegou”. Essas situações podem ser comuns e naturais para a equipe, mas não o são para o paciente. Para esse, elas se colocam como ameaçadoras e geradoras de conflitos e ansiedades, trazendo-lhe desconforto, desconfiança, insegurança, e estresse, ao ponto de muitas, determinar, a suspensão da cirurgia.

Nesse ambiente, a vida diária da enfermeira, como administradora e coordenadora da assistência de enfermagem, está inserida em um mundo intersubjetivo, compartilhado com seu semelhante, sendo portanto, um mundo comum que pode ser vivenciado e interpretado por todos. Agindo sobre os outros e sendo por esses também afetada por eles a enfermeira, como coordenadora da assistência, pode estabelecer um relacionamento mútuo de comunicação terapêutica envolvendo a equipe e a pessoa necessitada de cirurgia, para um cuidado de qualidade, ou, caso contrário, para o desencadear de desajustes.

O cuidado da enfermeira, na admissão do paciente em CC, deve ter como um dos objetivos o de reduzir os agentes estressores, que podem ocorrer nesse momento, proporcionando o conforto, a ajuda e o apoio exigidos para o bem-estar da pessoa necessitada de cirurgia. As ocorrências oriundas do ambiente e/ou do contexto social, podem interferir no sucesso da cirurgia.

O Contexto ou espaço social, segundo CHINN et al (1995), é o local dentro do qual a experiência e os valores surgem e interagem, colocando-se na dependência da importância cultural e da influência da representação mental dessa experiência, que envolve julgamento. Este julgamento, segundo as autoras, abrange a exploração de significados adquiridos em função do contexto e da imagem mentalmente construída, como resultado prático do significado conceitual do contexto estudado.

É nesse instante que a pessoa precisa da atenção da enfermeira, tida, no caso, como a profissional capacitada para prestar o cuidado e o conforto de que necessita, a fim de reduzir o nível de ansiedade e dissipar seus temores, readquirindo por conta disso, a confiança abalada.

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A enfermeira deve, pois, receber a pessoa e mostrar sua presença, mostrando que sua existência ali significa, segundo SANTIN (1998 p.129), “estabelecer laços pessoais de intersubjetividade, onde há espaço para a confiança e esperança”. É preciso, assim, que o paciente sinta a enfermeira como uma brisa suavizante, capaz de lhe trazer novas esperanças (ZEN & BRUTSCHER, 1985).

Estar presente requer, por conseguinte, um comportamento de mostrar-se por inteiro, ou seja estar diretamente ligada à demonstração de afeto e de dar atenção ao outro. Tal se expressa na forma de ouvir o outro, um ouvir atento e reflexivo, para uma maior compreensão do que se passa com o outro. É uma forma essencial de cuidado (SILVA, 1999).

É nesse momento que o cuidado dos profissionais, junto à pessoa necessitada de cirurgia, torna-se indispensável ao bem-estar da mesma, pela interdependência que se cria entre ambiente interno e externo interferindo nas percepções dessa pessoa, tornando o ambiente ameaçador ou não (Watson, 1979 apud GEORGE, 2000; TALENTO, 1993). A interdependência de ambientes, aqui referenciada, pode ser possível através da experiência de integração de ações humanitárias, entre enfermeira e paciente; é como se, por alguns instantes, pudesse haver troca de papeis, lançando mão de técnicas e estratégias reconhecidas no trabalho em Enfermagem, como essenciais, ao compartilhamento e compreensão mútuos. É sentir-se em um estado de ser mais, sendo pessoa, no sentido ontológico, na busca do ser mais junto com o outro.

Essa busca só pode alcançar resultados através do diálogo, que se constitui no “ser do homem”, com uma forma de relação em que a pergunta e resposta, funcionam como meios de comunicação. Comunicação de um ser que fala, uma tradição que precisa ser reconhecida e compreendida, uma historia de vida expressada através da linguagem, com suas idéias e conjecturas (pré-julgamentos e julgamentos) e que têm importância na interpretação de possíveis resultados da ação terapêutica da enfermagem. Essas constituem possibilidades de abertura de novas alternativas, para a interpretação e compreensão do que se passa consigo naquele momento de sua história de vida (GADAMER, 1990).

A interpretação só pode ser efetivada a partir do que se ouve e do que se sabe do outro, através da linguagem; na verdade, o que se sabe muda no curso da história de vida e de novas experiências que vão sendo acumuladas, mudando, também, as perspectivas segundo BARRETO et al (1999), que são necessárias à compreensão, para correção ou eliminação de necessidades de cuidado.

A pessoa, nesse momento, está precisando de cuidado – admissão – atenção, preocupação e valorização da sua condição – necessitada de cirurgia – a fim de que a enfermeira, possa compreendê-la e controlar toda e qualquer situação no ambiente, capaz de interferir na aceitação do procedimento, readquirindo, assim, a confiança no sucesso da operação. Para tanto, nesse instante, a enfermeira precisa assumir a posição de mãe carinhosa, compreensiva e protetora; de psicóloga, na identificação, compreensão e conforto em presença de alterações comportamentais; de assistente social, na identificação e compreensão dos problemas relativos à sua cultura e necessidades pessoais, ajudando a resolve-los. Assume até mesmo, a posição de uma religiosa, para dar apoio espiritual à pessoa, auxiliando-a, conforme sua religião, a utilizar a meditação e a crença em si e no aspecto espiritual, para o enfrentamento de situações difíceis (Watson, 1979 apud GEORGE, 2000). Não raro se coloca como advogada, para defendê-la e apoiá-la em todas intercorrências decorrentes da dinâmica do trabalho, do ambiente e do próprio procedimento cirúrgico e de mensageira, para manter o elo de ligação com a família da pessoa que está sendo operada, até sua saída desse setor.

A manutenção de um ambiente seguro é uma das primeiras necessidades, recomendadas, inclusive por TUDOR (1994), quando fala da expansão do papel do enfermeiro de centro cirúrgico.

Também, Roy apud GALBREATH (2000), lembra que os estímulos provenientes do ambiente, ou seja, as condições, circunstanciais e situações encontradas ou que circundam o mesmo, podem afetar o comportamento de pessoas ou grupos, dificultando sua adaptação. Essa dificuldade é decorrente dos estímulos negativos do ambiente, produzindo respostas também negativas de adaptação e de enfrentamento, pela interferência no subsistema regulador do organismo, de natureza química, neural ou endócrina. Portando, a percepção do paciente, distorcida da realidade, pode constituir um acontecimento estressante e ameaçador, conduzindo, muitas vezes, à suspensão da cirurgia.

É só de posse dessa compreensão, que a enfermeira pode promover uma assistência humanizada, assim entendida como o ato de receber e de assistir o paciente com humanidade, levando-o a perceber, ou

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mesmo, a sentir, que suas necessidades imediatas, no momento em que adentra ao CC, estão sendo satisfeitas (FERREIRA, 1971).

Considerando que o momento da admissão em CC é um dos poucos momentos em que a enfermeira desse setor pode atuar diretamente com o paciente, deve essa profissional centralizar sua atenção no cuidado - admissão e no ambiente, a fim de proporcionar melhores condições de atendimento ao mesmo. O cuidado, é um ato profissional do enfermeiro e se expressa na interação com a pessoa necessitada de assistência e de apoio para sua sobrevivência e seu bem-estar e/ou de ajuda, compreensão e capacitação para enfrentar situações de risco. Nesse sentido, busca-se, com este trabalho, descrever o cuidado da enfermeira, frente ao fenômeno da admissão do paciente em CC, vez que, de um lado, está a profissional e seu universo de trabalho, e, do outro, a pessoa necessitando de cirurgia, com uma visão de mundo diferente, até porque se encontra fora de sua cultura, (Leininger apud GEORGE, 2000).

Espera-se, com este trabalho, oferecer uma contribuição à construção do conhecimento, especialmente, à reflexão da enfermeira sobre os aspectos essenciais de cuidado, a serem considerados na admissão do paciente em CC. METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência a partir da observação do cuidado da enfermeira, durante a admissão da pessoa necessitada de cirurgia, em CC.

Contamos com o apoio de uma colega que, trabalhando na Instituição, facilitou sobremodo nosso acesso à mesma, desde a Diretoria até o setor de observação, no caso o CC. Nessa unidade, fomos muito bem recebidas e apresentadas, de logo, aos sujeitos da pesquisa. Para continuidade do trabalho e respeitando os aspectos éticos determinados pela Resolução 196/96 BRASIL (1996), sobre pesquisas com seres humanos, a proposta do estudo foi apresentada às enfermeiras, com os devidos esclarecimentos, a partir do que conseguimos de todas, a assinatura do termo de consentimento, para efetivação da observação, considerada sem risco e/ou constrangimento. Essa forma de proceder, foi escolhida para captação da realidade do mundo empírico, pela maior probabilidade de ser fiel aos eventos naturais e, ainda, de favorecer a obtenção de resultados mais coerentes com a realidade.

Foram observadas três enfermeiras de uma Instituição Pública, de grande porte, da cidade de Fortaleza - Ceará, as quais estavam procedendo à admissão de pacientes em CC, que iriam ser submetidos a cirurgia.

A observação caracterizada como não estruturada ou assistemática, foi realizada pela autora, no dia 03.05.2000, no período das 10h00 às 14h00, no CC da Instituição supra- citada. O espaço de tempo, das 13h00 às 14h00, caracterizou-se como o período real de observação do cuidado, vez que foi o momento da admissão dos pacientes nesse setor, para realização das cirurgias, na parte da tarde. No total foram seis admissões.

Tal observação foi justificada pela necessidade de ser obtido o conhecimento espontâneo do cuidado da enfermeira, na admissão do paciente, nesse momento, de forma casual. O êxito dessa observação está diretamente ligado à experiência, perspicácia e discernimento do pesquisador, para registrar, fielmente, os dados obtidos, não se caracterizando portanto, de totalmente espontânea, dada a necessidade de interação mínima com o sistema e com o controle que se impõem em situações semelhantes (LAKATOS & MARCONI, 1995).

Assim, percebendo a presença (ou ausência) de uma ocorrência ou de um fato importante, é despertada a curiosidade do pesquisador, para questões de seu interesse, na busca de respostas para as mesmas (FUREGATO, 1999).

Para tanto, é, pois necessário, caracterizar o ambiente em que se deu a admissão do paciente. O espaço onde a admissão é desenvolvida, é comum a todos os elementos da equipe, tanto interna

quanto externa, vez que existe uma porta ampla que dá acesso ao corredor interno do CC, e que permanece aberta, a maior parte do tempo.

Essa situação, aliada ao fato do corredor, ser relativamente estreito, possibilita freqüentes interrupções, no cuidado prestado pela enfermeira, decorrentes da solicitação de orientações administrativas e assistenciais, e de informações por parte da clientela interna e externa ao CC: sobre os pacientes que estão

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chegando, aguardando, ou que se encontram em cirurgia, ou, no Centro de Recuperação Pós-Anestésica (CRPA). Referida porta, colocada diretamente em frente ao CRPA, propicia uma maior rotatividade dos profissionais para o desenvolvimento de suas atividades, dando margem, também, a conversas indesejáveis e ao transporte de material, com aspecto desagradável para o paciente que está à espera da cirurgia. Alem dessas situações, outras semelhantes ocorrem no percurso que vai até à Sala de Operação (SO).

Esse é um espaço limitado para a demanda de fluxo de pessoas, onde se incluem os pacientes que permanecem muito próximos, um dos outros, dificultando o trabalho e provocando interpretações erradas no processo de comunicação.

No contexto social estudado, foi observado o direcionamento de vários profissionais, afluindo para o local de recebimento do paciente no CC, os quais apenas demonstraram curiosidade de verificar quem estava chegando, vez que, após alguns segundos, retornavam aos seus locais de trabalho, sem nada terem feito. No entanto, a preocupação em receber o paciente foi manifestada pelas enfermeiras, como uma prerrogativa própria, evidenciando situação de ajuda.

Essa preocupação foi demonstrada na forma como a enfermeira que, com humanidade, se aproximava da pessoa, apresentando-se e pondo-se à sua disposição para ajudá-la. No entanto, a continuidade do cuidado de admissão, foi voltada mais para os seus aspectos técnicos/instrumentais, fato que se comprova quando, através dos questionamentos apressados e direcionados a esses cuidados, foram, em sua maioria, voltados às condições essenciais, ao desenvolvimento da cirurgia, tipo: “O Sr. Ou Sra. está em jejum? – tem alergia? diabetes? é hipertenso (a)? é tabagista? etilista?” Tal acontecia ao mesmo tempo em que folheava o prontuário, na busca de algo que pudesse interferir ou impedir o procedimento cirúrgico.

Também foi observada a passividade dos pacientes que durante a maior parte do tempo permaneceram com o olhar fixo na enfermeira que o admitia, sujeitando-se às regras e normas do serviço, por ela determinadas, limitando-se apenas, a responder alguns questionamentos que lhe foram direcionados, em forma apressada. Não raro esses pacientes limitaram a responder a última questão, que, por sinal, também não era ouvida pela enfermeira, preocupada em dar continuidade a outras perguntas, evidenciando pressa no cumprimento de sua tarefa.

Surpreendente também foi observar o descontentamento das enfermeiras com o seu próprio desempenho, quando eram interrompidas para esclarecer situações administrativas ou para atender solicitações apressadas da equipe médica, pelo paciente, quando nem mesmo haviam conseguido concluir a função técnica de admiti-lo, pelo que respondiam simplesmente: “calma já estou levando”, demonstrando, na fisionomia sua insatisfação. Apesar disso, limitavam-se a concluir a tarefa, de forma apressada em atendimento à solicitação.

Não foram observadas atividades ou ações de enfermagem voltadas às intercorrências no ambiente, principalmente quanto ao tumulto gerado pelas conversas paralelas, caso ocorrente em um determinado momento, quando foi dito, por uma enfermeira, junto a um paciente: “está faltando o Raio X”, e outro paciente, que aguardava sua admissão, ter questionado “é comigo?”. A enfermeira, de tão envolvida em sua atividade, sequer o ouviu e continuou dirigindo-se ao paciente que estava admitindo. O paciente que havia questionado ficou inquieto e, nesse momento, foi necessária a intervenção da autora (observadora), no sentido de tranqüilizá-lo.

No local de admissão do paciente, também foi percebido o respeito por parte da equipe de enfermagem do CC, em relação à atividade desenvolvida pela enfermeira.

Os comentários da observação do cuidado da enfermeira, na admissão do paciente em CC, foram fundamentados na resposta ao questionamento sugerido por CHINN et al (1995), para exploração de contexto e valores, o qual foi adaptado à realidade do estudo, na questão: Que resposta comportamental é esperada da enfermeira na admissão do paciente em CC, no contexto social descrito?

Também serviu de apoio a teoria trans-pessoal de Watson apud TALENTO (2000), amparada em trabalhos de vários humanistas, filósofos, desenvolvimentistas, psicólogos, e que encara o cuidado como o atributo mais valioso que a enfermagem tem para oferecer à humanidade. É dessa forma que propõe dez fatores básicos do cuidado, dos quais, os três primeiros formam os fundamentos filosóficos para a ciência do cuidado, constituindo as bases para essa análise:

1o A formação de um sistema humanístico-altruísta;

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2o A estimulação da fé-esperança; 3o O cultivo da sensibilidade para si e para os outros;

Foi considerada, ainda, a emoção transmitida pela enfermeira e percebida pela autora, nessa relação, vez que esta define o campo onde ocorre uma observação, independente do observador, o que especifica a natureza do ato, cuja emoção ou sentimento é influenciada, pelo campo de atuação. Condição essa destacada por MATURANA, (1995), que ressalta, ainda, que essa emoção precisa ser compreendida, levando-se em consideração, simultaneamente, a ocorrência, o aprendizado e o reconhecimento dos atos.

Para responder ao questionamento formulado, na resposta comportamental da enfermeira, na admissão da pessoa necessitada de cirurgia em CC, foi considerado o comportamento da equipe, observado no seu todo, mas, especificamente, o da enfermeira que, no contexto da observação, vê-se tolhida em sua autonomia, vez que é pressionada por todos para resolver, simultaneamente, os problemas administrativos da unidade e os assistenciais junto ao paciente.

O momento da chegada dessas pessoas ao CC é bastante complexo, isso porque elas chegam quase que simultaneamente, em razão de ser sempre idêntico o horário para o início da cirurgia e, também, face à pressão exercida pela equipe, para liberação das mesmas.

Essa situação dificulta o cuidado na admissão da pessoa, pela pressa exigida da equipe que nem se dá conta dessa condição e das necessidades decorrentes.

A preocupação da enfermeira em admitir a pessoa em CC, caracteriza-se como uma forma de valorização do mesmo, demonstrando um sentimento voltado para o aspecto humano do processo de comunicação, apesar da complexidade estrutural do ambiente que, em determinados momentos, induz a comportamentos indesejados.

A par disso, demonstra, também, uma preocupação em cumprir uma norma institucional, não pondo à mostra um interesse direto pelas condições emocionais do paciente, fato verificado na pressa com que a atividade era desenvolvida.

A passividade do paciente pode conduzir a falsas interpretações de sua condição, trazendo à tona evidências de que o processo de comunicação enfermeira x paciente não ocorreu, podendo o mesmo apresentar, posteriormente, reações emocionais negativas ou retardar sua recuperação (SILVA & SILVA, 1995).

O respeito da equipe de enfermagem demonstra, também, a consideração com o ser humano, no sentido de garantir a conclusão da atividade, talvez pelo seu envolvimento nas atividades de preparo da sala de operação, embora, em determinados momentos, tenha sido solicitada da enfermeira, alguma orientação, ou mesmo por respeito à atividade e situação da pessoa.

Nesse contexto o desenvolvimento das atividades, como um todo, é bastante dificultado pela complexidade da dinâmica de trabalho, decorrente da diversidade de visão de mundo e de valores que ocorrem no encontro de seres humanos, onde se encontram envolvidos: níveis de conhecimento, experiências de vida, sentimentos e emoções, em um processo de subjetividade e intersubjetividade. Nesse emaranhado de pensamentos, ocorrem diversas formas de operação mental, capazes de desencadear desconfiança, insegurança, ansiedade e estresse, pela própria estranheza do ambiente e da situação.

Caracterizada como complexa, essa situação exige compreensão, também designada de ética da compreensão, que tem como princípios básicos, a tolerância, o direito humano de livre expressão, o respeito institucional democrático às minorias e o respeito a argumentos contrários aos nossos, porque “o contrário de uma verdade não é um erro, mas uma verdade contrária” diz MORIN, (1997 pg. 24.). Essas constatações precisam ser consideradas para um cuidado de qualidade.

Nesse complexo contexto foi observado que todos estão voltados para o atendimento à pessoa que está sendo admitida, embora permaneçam atentos à clientela externa e interna (equipe) que se aproxima desse local, para alguma necessidade. A situação determina, assim, o comportamento da enfermeira no desempenho das atividades de admissão da pessoa, em CC, haja vista a influência que sofre, não só pela limitação do espaço, mas, também, pela dinâmica do trabalho e fluxo de pessoas. Topo ADMISSÃO NO CENTRO CIRÚRGICO COMO ESPAÇO DO CUIDADO

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Para Watson apud TALENTO (2000), o cuidado é o desenvolvimento de ações, atitudes e comportamentos, com base em conhecimento científico, experiência, intuição e pensamento crítico, realizado para e com o paciente/ser, para promoção, manutenção e/ou recuperação de sua dignidade. É o atributo mais valioso que a enfermagem tem a oferecer à humanidade. Trata-se da essência da enfermagem e denota reciprocidade entre a enfermeira e a pessoa. É baseado em valores humanísticos e comportamento altruísta, desenvolvido através do exame dos pontos de interação com várias culturas e experiências pessoais. É uma forma de relação compreensiva. Nessa situação, o cuidado pode ser desenvolvido a partir do exame dos próprios pontos de vista da pessoa, de suas crenças e valores, bem assim da forma como interage com outras culturas e outras experiências de vida.

Nesse contexto, o paciente é, portanto, o foco das atenções, pois, como ser humano, é constituído de corpo e alma, o que quer dizer, mente e emoção. A enfermeira deve buscar o olhar dessa pessoa, para escutar seus sentimentos e dialogar. É preciso que seja ela um ser cuidador, empenhado em cuidar de um ser humano único, que, naquele momento, vive o seu drama e que precisa ser compreendido (CREMA, 1999).

Para que isso aconteça, o cuidado – admissão – torna-se um fenômeno complexo que se concretiza em determinados contextos específicos, como o ambiente de CC, cujos significados são variados e dependem dos valores, crenças e experiências de vida, de quem vivencia a necessidade de uma cirurgia. É, portanto, um ato de afetividade e de partilha, que exige dedicação, compreensão e compromisso da enfermeira – ser humano, com o paciente, que vê, ouve e sente. Requer demonstração de afeto, disponibilidade, interesse e valorização do seu sentimento.

A admissão em CC, é entendida como um fenômeno concreto, constituído de ações e atividades de cuidado de enfermagem, dirigidas à pessoa necessitada de cirurgia, com necessidades evidentes e/ou potencializadas, pela iminência do ato cirúrgico ou pelas ocorrências oriundas da dinâmica de trabalho desse ambiente, segundo seus valores e forma de interação, visando à melhoria de sua condição, ao se submeter à cirurgia, e a reagir à mesma, de forma satisfatória.

O Cuidado deve ser entendido como um ato de interação, constituído de ações e atividades de enfermagem, dirigidas ao paciente e com ele compartilhadas, envolvendo o dialogo, a ajuda, a troca, o apoio, o conforto, a descoberta do outro, esclarecendo dúvidas através da capacidade de ouvi-lo, cultivando a sensibilidade, valorizando-o, compreendendo-o e ajudando-o a melhorar sua condição no enfrentamento da cirurgia ou diante de uma situação de risco conforme Figura 1.

Figura 01 – Admissão em Centro Cirúrgico

A intenção é que o paciente saia do CC em condições de recuperação, sem ter sido exposto a riscos de qualquer natureza, sendo essa, uma das finalidades do cuidado nesse setor (GHELLERE et al, 1993).

Com essas ações, a enfermeira pode criar um ambiente que favoreça a confiança, a liberdade e a transformação e que irão ser percebidas pelo paciente (FUREGATO, 1999). As pessoas, com o senso aguçado de percepção conscientizam-se dos eventos que ocorrem no meio, percebendo e reagindo de acordo com sua percepção de mundo.

Segundo Leininger, 1979 apud GEORGE, (2000), o cuidado é inerente à pessoa humana e é essencial à vida, ao nascimento, crescimento e desenvolvimento, como uma forma de promover o bem-estar, auto-realização e sobrevivência, ou mesmo encarar uma morte aliviada e tranqüila. Essa é a essência da enfermagem e saúde, sendo portanto, imprescindível a toda situação que envolva o encontro de profissionais e pessoas com problemas de saúde. Topo CONSIDERAÇÕES FINAIS

A admissão da pessoa necessitada de cirurgia, em CC, é um fenômeno complexo, aqui abordado,

apenas em alguns aspectos, que se constituíram fruto de observação.

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Neste estudo, foi verificado que, embora a preocupação da enfermeira em prestar o cuidado na admissão da pessoa em CC, tenha demonstrado um fazer voltado para a valorização e humanização do paciente, embora sofrendo transformações na interação e no processo de comunicação, o apoio destinado ao mesmo, pela equipe médica, entendida a equipe cirúrgica, é de difícil concretização, não sem deixar de direcionar o modo de assistir a pessoa, em CC. Um assistir voltado para os aspectos técnico-operacionais do cuidado, centrados nas condições essenciais ao desenvolvimento da cirurgia que, embora sejam importantes, não podem prescindir dos aspectos humanos do cuidado.

Essa situação pode até estar marginalizando as alternativas de cuidado, com vistas a minimizar o sofrimento da enfermeira, o mesmo acontecendo em relação às formas de enfrentamento do paciente em situações de risco.

A compreensão dessa situação demonstra que além de palavras e tentativas, é necessária uma ação transformadora que deve ter, como ponto de partida, a compreensão do ser, em uma relação humana de troca, de demonstração de afeto e de respeito, assumida por nós enfermeiras e pelo paciente em situações de risco, essencialmente em CC, onde a visão de mundo é totalmente diferente, para cada um que adentra ali, com a finalidade de ser submetido a algum tipo de cirurgia.

Este estudo serviu de estímulo à busca de estratégias que possibilitem uma maior compreensão das dificuldades enfrentadas pela enfermeira, ao proceder à admissão da pessoa em CC, principalmente aquelas relacionadas ao espaço destinado à concretização desse cuidado.

Nesse sentido, é necessário que as enfermeiras reflitam sobre a necessidade de buscar melhores condições de trabalho, de modo que possam oferecer um ambiente mais tranqüilo, em penumbra com música ambiente suave, onde seja possível dar tempo ao paciente para expressar seus sentimentos, crenças e valores, temores e experiências de vida, de forma que possam esses elementos ser trabalhados, não só para melhorar as condições de enfrentamento da cirurgia, e também ao profissional de assegurar melhor qualidade de vida no trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, J. A. E. et al. A Hermenêutica Filosófica de Gadamer In: BARRETO, J. A . E. et al. O Elefante e os Cegos.

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1 Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Docente da UFBA, Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará; 2 Enfermeira, Doutora, Professora Titular da Universidade Federal do Ceará

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Revista Eletrônica de Enfermagem - Vol. 06, Num. 03, 2004 - ISSN 1518-1944 Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás - Goiânia (GO - Brasil).

BEDIN, Eliana; RIBEIRO, Luciana Barcelos Miranda; BARRETO, Regiane Ap. Santos Soares Barreto - Humanização da assistência de enfermagem em centro cirúrgico. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 03, 2004. Disponível em http://www.fen.ufg.br/

Artigo de revisão / Review paper / Articulo de revisión HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM CENTRO CIRÚRGICO HUMANIZATION OF THE NURSING ASSISTANCE IN THE SURGICAL UNIT HUMANIZACIÓN DE LA ASISTENCIA DE ENFERMERIA EN UN CENTRO QUIRÚRGICO

Eliana Bedin1 , Luciana Barcelos Miranda Ribeiro2 , Regiane Ap. Santos Soares Barreto3

RESUMO: O estudo teve como objetivo levantar as principais literaturas nacionais que abordem a humanização em centro cirúrgico, identificando sua necessidade e importância na atividade da enfermagem. Ao buscar os artigos selecionou-se palavras-chaves e delimitou-se período de 1985-2002, resultando 31 artigos. Após analise, descreveu-se aspectos da formação acadêmica voltada para humanização, considerações éticas à assistência e a necessidade de humanizar o cuidado frente aos avanços tecnológicos. Concluiu-se que humanizar a assistência de enfermagem em centro cirúrgico é um desafio, entretanto, possível e essencial na prática da enfermagem, essencialmente nesta área.

PALAVRAS-CHAVES: Enfermagem de Centro Cirúrgico; Assistência; Ética.

ABSTRACT: This study consisted in a bibliographic review, which goal was a survey of the main national literature that approaches the humanization in the surgical unit, identifying and demonstrating the needs and the importance of the nursing staff daily activities. The search was made selecting the key words and the period between 1985 and 2002, where 31 articles were selected. Analyzing them we discussed about the theme, classifying it in four stages that made sense to the humanization for the nursing assistance in the surgical unit, describing aspects of the nursing graduation releasing for humanization, making ethics considerations to the assistance and demonstrating the needs of the humanized care in the presence of the technological development. We concluded that the humanization of the nursing assistance in the surgical units is a challenge, however, the humanized care is possible and essential to the nursing practice, mainly in a technological environment like the surgical unit.

KEYWORDS: Operating Room Nursing; Assistance; Ethics.

RESUMEN: El estudio tuvo como objetivo levantar las principales literaturas nacionales que aborden la humanización en un centro quirúrgico, identificando su necesidad e importancia en la actividad de la enfermería. Al buscar los artículos se seleccionó palabras-claves y se delimitó el periodo de 1985-2002, resultando 31 artículos. Despues del análisis, se describió aspectos de la formación académica orientada para la humanización, consideraciones éticas a la asistencia y la necesidad de humanizar el cuidado frente a los avances tecnológicos. Se concluye que humanizar la asistencia de enfermería en un centro quirúrgico es un desafio, mas, posible y esencial en la práctica de la enfermería.

PALABRAS CLAVES: Enfermería en Sala Quirúrgica; Etica.

INTRODUÇÃO

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A enfermagem é uma profissão que se desenvolveu através dos séculos, mantendo uma estreita relação com a história da civilização. Neste contexto, tem um papel preponderante por ser uma profissão que busca promover o bem estar do ser humano, considerando sua liberdade, unicidade e dignidade, atuando na promoção da saúde, prevenção de enfermidades, no transcurso de doenças e agravos, nas incapacidades e no processo de morrer.

Com o avanço científico, tecnológico e a modernização de procedimentos, vinculados à necessidade de se estabelecer controle, o enfermeiro passou a assumir cada vez mais encargos administrativos, afastando-se gradualmente do cuidado ao paciente, surgindo com isso a necessidade de resgatar os valores humanísticos da assistência de enfermagem. Para ZEN & BRUTSHER (1986, p.06):

“não se pode ficar atrás ou as margens desse processo. É dever de todos acompanhar o desenvolvimento das ciências humanas, científicas, culturais e tecnológicas dos tempos atuais o que vem implicar não só na necessidade da aquisição de novos conhecimentos como também na atualização dos mesmos.”

WALDOW (1998, p.62), salienta a importância de conciliar e harmonizar as diversas funções do enfermeiro, quando afirma:

“o cuidado humanístico não é rejeição aos aspectos técnicos, tão pouco aos aspectos científicos, o que se pretende ao revelar o cuidado é enfatizar a característica do processo interativo e de fruição de energia criativa, emocional e intuitiva, que compõe o lado artístico além do aspecto moral.”

Na amplitude de sua assistência, a enfermagem, assim como as demais profissões de saúde, se subdividem em várias áreas, neste momento, voltamos nossa atenção à humanização da assistência de enfermagem em centro cirúrgico.

Segundo FIGUEIREDO (2002, p.256),

“os profissionais de enfermagem que atuam no centro cirúrgico são geralmente os responsáveis pela recepção do cliente na sua respectiva unidade, (que deve ser) personalizada, respeitando sempre suas individualidades; o profissional deve ser cortês, educado e compreensivo, buscando entender e considerar as condições do cliente que normalmente já se encontra sob efeito dos medicamentos pré-anestésicos.”

As atividades de enfermagem no centro cirúrgico, muitas vezes, podem ser limitadas a segurar a mão do paciente na indução anestésica, ouví-lo, confortá-lo e posicioná-lo na mesa cirúrgica.

A importância e a responsabilidade da enfermeira quanto à observação e atendimento das necessidades psicossomáticas do paciente cirúrgico deve ser detectada, uma vez que possui função específica na eficácia da terapêutica de seus pacientes, pois dependendo de sua atitude pode facilitar ou impedir um programa de recuperação, visto que este paciente é invadido por medo do desconhecido num ambiente estranho (ZEN & BRUTSHER, 1986).

Até alguns anos atrás a função do enfermeiro na unidade de centro cirúrgico era dirigida para os aspectos gerenciais, o que o afastava do contato com o paciente, mas com algumas modificações na sistematização da assistência, o enfermeiro de centro cirúrgico sentiu a necessidade de prestar assistência mais direta ao paciente em todas as etapas do processo cirúrgico, destacando a importância desta para o sucesso do tratamento e o pronto restabelecimento do paciente (MEE KER & ROTHROCK, 1997).

Para OLIVEIRA (2001, p.104),

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“humanizar, caracteriza-se em colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os silêncios. O relacionamento e o contato direto fazem crescer, e é neste momento de troca, que humanizo, porque assim posso me reconhecer e me identificar como gente, como ser humano.”

Ainda VILA & ROSSI (2002, p.17) referem que a

“humanização deve fazer parte da filosofia de enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos não são mais significativos do que a essência humana. Esta sim irá conduzir o pensamento e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro, tornando-o capaz de criticar e construir uma realidade mais humana (...)”.

Não é apenas uma questão de mudança do espaço físico, mas principalmente uma mudança nas ações e comportamento dos profissionais frente ao paciente e seus familiares.

Em meio a tantas afirmações positivas, foi grande nossa decepção no primeiro contato com a unidade de centro cirúrgico, com o distanciamento entre teoria e prática, onde o enfermeiro era visto como “o administrador”, ocupando-se da manutenção de equipamentos, mesas, bandejas, papéis, entre outras rotinas e o paciente permanecia invisível a todos, sendo tratado como um objeto e não como um corpo vivo.

Este distanciamento aliado ao fato de que há escassez de literatura que envolva a humanização em centro cirúrgico, levou-nos à realização de um estudo que contemplasse a formação acadêmica relacionada à humanização, as considerações éticas envolvidas na assistência (des)humanizada, a necessidade de humanizar o cuidado frente aos avanços tecnológicos e a possibilidade de humanizar o cuidado no centro cirúrgico.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trata-se de um estudo qualitativo, realizado através de revisões bibliográficas, nos bancos de dados: Lilacs, Scielo, BDENF, no período de 1985 a 2002, por meio das palavras-chave: cliente cirúrgico, tratamento humanizado, assistência humanizada, centro cirúrgico, cuidados na admissão em centro cirúrgico e cuidar em enfermagem. Durante a pesquisa foram encontrados 1100 artigos, dentre os quais, utilizados 31, após a análise do título e resumo dos mesmos quanto à adequação ao tema proposto.

A FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO PARA O CUIDADO HUMANIZADO

Com relação à formação do aluno de graduação, o tema “comunicação”, sua importância para o estabelecimento de um diálogo franco e esclarecedor com o cliente, suas funções e formas, a comunicação terapêutica e sua aplicabilidade no cotidiano das ações de enfermagem, são debatidas constantemente com os graduandos, e mesmo com o empenho de docentes e discentes, durante o processo de ensino-apendizagem, mais especificamente nas atividades práticas, deparam com situações em que o processo de comunicação com o cliente parece ineficaz e/ou não oferece subsídios para o planejamento da assistência (AZEVEDO, 2002, p.19).

As atividades educativas dos profissionais de enfermagem vêm sendo discutidas em vários momentos pelas entidades representativas. Almeida et al apud ZAGO & CASAGRANDE (1996, p.54), salientam que,

“a educação em saúde precisa ser melhor estudada para que o enfermeiro possa recriar o processo educativo, contendo conhecimentos de pedagogia, porém transformado, para que não seja uma simples transferência de informações aos indivíduos, mas, um ensino que busca um resultado mais imediato sobre o modo como eles cuidam de sua saúde, porque se fundamenta uma necessidade imediata.”

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Durante o processo de formação os alunos são colocados em situações onde se torna necessário o processo de comunicação entre eles e o paciente, utilizando-se tanto da forma verbal, quanto não-verbal. Para AZEVEDO (2002, p.21), “a comunicação franca e aberta auxilia alunos e clientes a enfrentarem momentos de incerteza e ansiedade durante a realização de cuidados.”

Por outro lado, ZAGO & CASAGRANDE (1996, p.57), lembram que,

“os enfermeiros cirúrgicos brasileiros valorizam e desenvolvem atividades educativas com o paciente. Mas, a extensão, a visão desses profissionais quanto à atividade, o contexto cultural em que ocorrem e os padrões culturais dessa atividade ainda são incompatíveis com os pressupostos de educação e ensino de pacientes e de auto cuidado.”

Ao analisarmos vários artigos observamos que o avanço das ciências tem contribuído para as especializações que, em certos momentos foge ao que entendemos como assistência ao ser humano, mas SANTOS et al (2002, p.28), afirmam que “só uma equipe de enfermagem humanizada é que poderá humanizar o paciente”. Já para AZEVEDO (2002, p.23) a “comunicação é uma parte do cuidar adquirido pelos profissionais em forma de competência interpessoal”.

No centro cirúrgico, um dos fatores que vem afastando os profissionais de suas atividades é o avanço tecnológico desta unidade, o que tem favorecido a complexibilidade dos procedimentos ali realizados. Avelar apud JOUCLAS et al (1998, p.44) coloca que,

“(...) o enfermeiro de centro cirúrgico enfrenta uma crise compreendida pelo desafio entre a racionalidade cientifica do modelo biológico de assistência à saúde e seus valores culturais, sociais e éticos. Assim em seu dia–a–dia, vê–se constantemente impulsionado a transferir e adiar suas escolhas e ideais profissionais, entre as decisões tecnocratas, sentindo–se, cada vez mais, como um instrumento de controle, o que vem pesando sobre si como uma grande e constante ameaça.”

Amparados nestas afirmações asseguramos que não é possível termos profissionais conscientizados da necessidade de prestarem assistência humanizada aos pacientes se não forem preparados na graduação para estarem desempenhando tal atividade. AZEVEDO (2002, p.19), afirma que, “tanto para os alunos quanto para os enfermeiros a dificuldade no relacionamento enfermeiro/paciente é uma realidade enfrentada diariamente”.

A que se considerar comum certa dificuldade em estabelecer e/ou manter uma comunicação efetiva a clientes com nível de consciência alterado ou aqueles mais “reinvidicadores”, como concluiu (AZEVEDO, 2002, p.23). Entretanto, ainda concordamos com VILA & ROSSI (2002, p.147) quando revelam que “se cada um de nós entender e aceitar quem somos e o que fazemos, seremos capazes de lutar e agir para que essa mudança aconteça.” As bases da humanização são as ações do enfermeiro frente ao paciente, priorizando atitudes de respeito e privacidade, atingindo a satisfação do cliente. Concordamos com OLIVEIRA et al (2002, p.03) quando ressaltam que, “esta humanização deve ser implantada no coração antes mesmo de ser implantada no trabalho”.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS NA ASSISTÊNCIA (DES) HUMANIZADA NO CENTRO CIRÚRGICO

Levando em conta a ética profissional da enfermagem, a esses profissionais não compete apenas as ações técnicas e especializadas, mas a atenção às pessoas doentes da melhor maneira possível respeitando sua individualidade (GUIDO, 1995, p.103). Ainda, de acordo com a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (2003), Art. 1º “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”, não sendo necessário ações individualizadas, mas sim, ações coletivas que tenham como objetivo promover o bem estar do outro.

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O Código de Ética dos profissionais de enfermagem, por meio da Resolução n.º240/2000, p.35, capítulo I (COFEN, 2000), estabelece que,

“o profissional da enfermagem respeita a vida a dignidade e os direitos da pessoa humana, em todo seu ciclo vital, a discriminação de qualquer natureza, assegura ao cliente uma assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência, cumpre e faz cumprir os preceitos éticos e legais da profissão, exercendo a enfermagem com justiça, competência, responsabilidade e honestidade.”

Ao descrevermos as atividades desenvolvidas pela enfermagem no centro cirúrgico, temos: recepção e identificação do paciente, encaminhamento à sala de cirurgia, preparação e montagem da sala, teste e verificação da segurança dos equipamentos, mobilização e transporte de pacientes, recepção e avaliação em sala de recuperação anestésica, assistência individualizada e humanizada, encaminhamento e alta com segurança e respeito (GUIDO, 1995).

Consideramos que a humanização deve permear cada uma destas atividades, mesmo que equipamentos estejam presentes no procedimento. No centro cirúrgico, há momentos em que o paciente é esquecido em detrimento de questões burocráticas, ambientais, e até por falta de respeito. Durante a fase pré-anestésica, o paciente “pode ficar” exposto e até mesmo nu sobre a mesa cirúrgica aguardando o efeito dos anestésicos.

Brandão apud JOUCLAS et al (1998, p.46), demonstra claramente, quando coloca a visão do paciente cirúrgico:

“a caminho do centro cirúrgico, a maca atravessa corredores gelados, porém o frio dentro de mim não tem a ver com a temperatura do dia. Entre o apartamento e a mesa de operação é um longo caminho. Luto contra cada instante, tenho que chegar intacto à mesa. Preciso vencer alguns metros de corredores. Conto a possibilidade de vida por metros. Não há dor, indisposição, náuseas, eu poderia ter caminhado, batendo um papo (...)”.

No trabalho diário de um centro cirúrgico é de responsabilidade da enfermeira a recepção do paciente que na maioria das vezes é feita de forma mecânica junto a uma identificação que passa de nome e sobrenome para número e patologia. Ao realizar um estudo sobre a humanização da assistência de enfermagem prestada no centro cirúrgico, RODRIGUES (2000, p.18), traz fragmentos de entrevistas que demonstram o tratamento ético que é dispensado aos pacientes sob a ótica dos mesmos,

“quando me chamaram pelo meu nome, tive a certeza que sabiam o que estavam fazendo, isso me deixou mais tranqüila”, “fui recebida com bom dia, mas depois me deixaram sozinha em uma sala e eu só ouvia conversas no corredor, senti medo, foi muito ruim, eu estava angustiada e as moças ficaram discutindo preço de celular”. “O paciente tem direito a ser identificado pelo nome e sobrenome. Não deve ser chamado pelo nome da doença ou do agravo à saúde, ou ainda de forma genérica ou quaisquer outras formas impróprias, desrespeitosas ou preconceituosas” (SÃO PAULO, 1999, html).

O paciente é levado até a sala de cirurgia de forma fria, sem se estabelecer um diálogo ou mesmo uma relação de confiança profissional-paciente; depois de colocado na mesa operatória é esquecido, e a enfermagem passa a assumir função tecnicista, dispensando atenção aos equipamentos e seu funcionamento adequado, sem maiores esclarecimentos ou respostas às suas angustias. De acordo com o documento acima citado,

“o paciente tem direito a informações claras, simples e compreensivas, adaptadas à sua condição cultural, sobre as ações diagnosticadas e terapêutica, o que pode decorrer delas, a duração do tratamento, a localização de sua patologia, se existir necessidade de anestesia, qual o instrumental a ser utilizado e quais órgãos do corpo serão afetados pelo procedimento.”

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Quando se encerra o ato cirúrgico o paciente é transferido da sala de cirurgia para a sala de recuperação pós-anestésica, e neste momento, conforme a condição hemodinâmica, ou seja, dependendo do sucesso do ato anestésico-cirúrgico, o paciente acaba por não receber a atenção que a ele deveria ser dedicada, independente de seu estado geral.

Castellanos et al. apud GUEDES et al (2001, p.22) ressaltam que,

“o enfermeiro é o responsável pelo cuidado do paciente do centro cirúrgico e, se ele não o coloca em primeiro plano, irá atender à cirurgia e não ao paciente, promovendo, assim o controle de material, equipamentos e pessoal voltado para a cirurgia, tornando o paciente um objeto de trabalho, mas não o ser principal, sujeito desencadeante do processo.”

A atenção, muitas vezes, fica restrita a simples expressões como: “está tudo bem”, “respira fundo” ou “calma” sem ao menos olhar diretamente para ele. Relato de médicos que passaram para a situação de paciente demonstram essa, como Rabin & Rabin apud CAPRARA & FRANCO (1999, p.652) colocam ,

“fiquei desiludido com a maneira impessoal de se comunicar com os pacientes. Não demonstrou em momento nenhum, interesse por mim como pessoa que está sofrendo. Não me fez nenhuma pergunta sobre meu trabalho. Não me aconselhando a respeito do que tinha que fazer ou do que considerava importante psicologicamente, para o enfrentamento das minhas reações, a fim de me adaptar e responder a doença degenerativa. Ele como médico experiente da área, mostrou-se atencioso, preocupado, somente no momento em que me apresentou a curva de mortalidade da esclerose amiotrófica.”

Fato que merece destaque e muitas vezes é desencadeado por problemas administrativos, é o cancelamento de cirurgias, que já causou angústia e insegurança considerável ao paciente, prejudicando-o e desrespeitando-o, pois geralmente só é informado no centro cirúrgico, sendo que cada paciente tem sua reação e resposta particular, (ANTONIO et al, 2002), e para alguns pode ter efeitos desastrosos, mesmo que sejam esclarecidos ou que estes tentem racionalizar e compreender a situação (ANTÔNIO et al, 2002).

Baseados no Código de Ética dos profissionais de enfermagem (COFEN, 2000, p.34), verificamos no capitulo III, artigo 16º que é de responsabilidade da nossa profissão “assegurar ao cliente uma assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência”.

Associado ao cancelamento de cirurgias outros “dilemas éticos” podem ser relatados no atendimento ao cliente na eminência de uma cirurgia, como a invasão de sua privacidade e o desrespeito dentro da sala operatória; não se pode ignorar que a enfermagem no cuidado diário, toca e expõe o paciente muitas vezes sem autorização, adotando posturas de poder sobre o mesmo. Sentimentos de constrangimento, vergonha e embaraço, são demonstrados, porém o paciente pouco questiona acreditando ser imprescindível a invasão para sua recuperação. Entretanto, o sujeito do processo de trabalho da enfermagem, é um ser humano com personalidade, dignidade, preconceito e pudor (PUPULIM & SAWADA, 2002). Por outro lado, GUIDO (1995, p.106) ainda nos mostra claramente esses dilemas quando cita algumas situações a serem corrigidas para que se alcance a humanização e o respeito que é de direito do paciente:

“falta de atenção para com o cliente no que se refere a sua privacidade, além de comentários e discussões inoportunas e de falta de registro de situações e ocasiões importantes para o ensino e a pesquisa, no entanto sem autorização ou mesmo justificativa para o cliente daquele ato ou conduta.”

Lembrando novamente o Código de Ética da Enfermagem citamos os artigos 27 e 28 do capítulo IV que tratam dos deveres do profissional enfermeiro, sendo, o “Art. 27-Respeitar e reconhecer o direito do cliente de decidir sobre

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sua pessoa, seu tratamento e seu bem estar” e o “Art.28-Respeitar o natural pudor, a privacidade e a intimidade do cliente” (COFEN, 2000).

Ao discorrer sobre direitos e deveres, GUIDO (1995, p.106) lembra que,

“(...) todas as pessoas que convivem em busca de uma melhor condição de vida, querem seus direitos, esquecendo, às vezes, os deveres. A liberdade da equipe multiprofissional pode tolher a do cliente, ameaçando sua estrutura emocional, no entanto, não podemos esquecer que os profissionais de saúde também tem sentimentos e muitas vezes preocupam-se em agir com ética, buscando solucionar ou minimizar o sofrimento da maneira menos agressiva possível.”

Ao se respeitar e atender as necessidades e direitos do paciente, a equipe que com ele se relaciona terá sucesso em seu trabalho, já que é de responsabilidade principalmente do enfermeiro fazer com que esses direitos sejam cumpridos. Salientam MENDES et al (2000, p.217) a respeito do profissional enfermeiro:

“(...) mais do que qualquer outro profissional de saúde, os enfermeiros tem freqüentemente tempo, oportunidade e acima de tudo preparo para demonstrar seu conhecimento pelo direito do paciente, ser assistido com dignidade e ainda mais, de promover estes direitos, através de suas ações.”

Com isso é possível observar que, o atendimento dedicado ao paciente se distancia demasiadamente da teoria já que na prática em várias situações, a atenção individualizada é praticada de forma mecânica. Assim, a ética profissional que tanto deve ser conservada acaba sendo substituída por práticas adotadas devido à escassez de tempo ou mesmo por comodidade de certos profissionais, tornando o ambiente (des) humano.

A HUMANIZAÇÃO FRENTE AO AVANÇO TECNOLÓGICO

Ao longo da história a enfermagem vem se desenvolvendo, e a partir da Revolução Industrial teve um impulso considerável, em pesquisas, técnicas e novos conceitos que conquistou perante a sociedade; por outro lado, a ciência obteve um grande avanço a partir do momento em que se aliou à tecnologia, beneficiando-se dos princípios científicos e dos equipamentos mais simples aos mais sofisticados (RIBEIRO et al, 1999, p.15).

A tecnologia não consiste exclusivamente na aplicação pura do conhecimento, mas de vários conhecimentos reunidos, com a finalidade de encontrar a solução para uma anormalidade, RODRIGUES (1999, p.61) afirma que, “a descoberta científica resulta da busca do saber pelo saber em si, ainda que se admita que o cientista, sempre tenha um interesse por aquilo que esteja pesquisando”.

É claro que a tecnologia é essencial, desejável e necessária à modernização do atendimento aos pacientes no centro cirúrgico, tornando-se útil para prolongar a vida e diminuir o sofrimento de muitas pessoas, no entanto, não se deve deixar o paciente de lado dando prioridade aos aparelhos, conforme descreve RIBEIRO et al (1999, p.19) ao dizer que, “de nada adianta ser um humanista e observar o homem que morre por falta de tecnologia, nem ser rico em tecnologia apenas para observar os homens que vivem e morrem indignamente”.

Deve-se buscar o uso da tecnologia humanizada por parte dos profissionais que assistem o paciente no cento cirúrgico entretanto, analisando LOPES et al (1998, p.56) comprovamos que,

“na equipe de saúde este fenômeno não está presente, pois o paciente deixa de ser uma pessoa para ser um caso interessante. O paciente individualizado, com seus problemas, temores e necessidades não é sempre levado em conta”.

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O avanço tecnológico na área da saúde é uma grande conquista, porém, o melhor é associá-lo à humanização e a comunicação terapêutica, com intuito de obter resultados mais satisfatórios em relação ao bem estar dos clientes e da ciência.

Analisando a tecnologia e a humanização, observa-se que estas possuem características distintas, mas se faz necessário o uso de ambas para que o resultado do atendimento seja satisfatório por parte dos pacientes. Baseados nestas afirmações percebe-se que a humanização na enfermagem não é possível sem a tecnologia e vice-versa, não se pode aplicar a tecnologia nas ações da enfermagem sem que a humanização esteja presente (CARRARO, 2000, p.43).

Para CARRARO (2000, p.42),

“precisamos despir-nos da idéia que humanização e tecnologia compreendem apenas ações atuais e equipamentos de ultima geração. Não desconsidero estas idéias, apenas quero chamar a atenção para possibilidades de humanizar a aplicação de tecnologias simples, antigas e corriqueiras na enfermagem, lembrando que muitas vezes estão à nossa disposição e não as valorizamos em detrimento da sofisticação.”

É importante salientar que o avanço tecnológico na área da saúde é uma grande conquista, mas seria melhor associar esta tecnologia à uma assistência voltada para o paciente, onde o enfermeiro priorize “estar com” o ser humano, preservando-o de infortúnios e singularizando a assistência humanizada, com vistas a obter resultados mais satisfatórios em relação ao bem estar dos pacientes. RODRIGUES (1999, p.19) lembra que, “o tema tecnologia não se refere a algo que está a influenciar a nossa vida, refere-se antes a própria realidade na qual estamos totalmente inseridos e que, portanto, não podemos ignorar”.

Ainda VILLA & ROSSI (2002, p.139) ressaltam que,

“a humanização deve fazer parte da filosofia de enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são importantes, porém não mais significativos do que a essência humana. Esta sim, conduzirá o pensamento e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro, tornando-o capaz de criticar e construir uma realidade mais humana, menos agressiva e hostil para os pacientes que diariamente necessitam de atendimento (...).”

A partir dessas reflexões nos é possível afirmar que o avanço tecnológico não afasta o enfermeiro do seu objetivo primordial, de assistir os clientes de forma integral. Para Folta apud RIBEIRO et al (1999, p.19),

“não há evidências de que menor atenção à tecnologia implique em maior cuidado direto e humanizado, então, se faz necessário um equilíbrio entre a atenção dispensada, a tecnologia e a humanização do cuidado ao paciente”.

Para isso pode-se utilizar meios que favoreçam a interligação, onde um deles é a comunicação, como evidenciam LOPES et al (1998, p.60),

“a importância da comunicação é a explicação mais eficaz sobre os variados procedimentos, pois, além de promover maior grau de conhecimento e esclarecimento, favorece sentimentos de segurança e cooperação”.

Nesta perspectiva, muito empenho é necessário para que o progresso da tecnologia e da ciência não acabe por esvaziar a profissão de seu conteúdo humano, sendo imprescindível associar ao exercício profissional, a tecnologia e o conhecimento da personalidade do paciente, mantendo a assistência digna a quem tem sentimentos e racionalidade, e não a um amontoado de sinais, sintomas e reações (ZEN & BRUTSCHER, 1986, p.06). Enfim, é indispensável a “tecnologia do calor humano” nas relações enfermeiro-paciente, característica esta que enobrece, dignifica e eleva os ideais da profissão de enfermagem.

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HUMANIZAR O CUIDADO NO CENTRO CIRÚRGICO É POSSÍVEL?

Fazendo uma retrospectiva sobre a enfermagem, suas origens e evolução até o presente momento, não restam dúvidas que o cuidar é sua principal característica e seu marco referencial, representando as crenças e valores predominantes da prática da enfermagem. Com o passar dos tempos têm surgido várias definições de cuidar/cuidado de acordo com diferentes concepções. WALDOW (1992, p.30) afirma que o “cuidado pode ser considerado como a conotação de atenção, preocupação para, responsabilidade por, observar com atenção, com afeto, amor ou simpatia. Em geral, o termo implica a idéia de fazer, de ação”.

Para que o cuidado humano tenha efeito positivo, deve-se incorporar mais de um fator em sua estrutura, como a valorização da humanização, a criatividade na promoção da fé e da esperança, promoção do ensino-aprendizagem entre os profissionais, a prestação de cuidados, a expressão de sentimentos negativos e positivos, entre outros. TANJI & NOVAKOSKI (2000, p.802), afirmam que “o cuidado é imprescindível em diferentes situações da vida do ser humano, podendo ser adaptadas e ajustadas conforme a necessidade”.

A rotina e a complexidade do ambiente fazem com que os membros da equipe de enfermagem, na maioria das vezes, esqueçam de tocar, conversar e ouvir o ser humano que está a sua frente (VILLA & ROSSI 2002, p.143), conseqüências de uma rotina diária, que exigem um grande esforço físico e psíquico dos profissionais; ao realizar um estudo para avaliar os sintomas físicos de estresse na equipe de enfermagem em um centro cirúrgico. CARVALHO & LIMA (2001, p.31) chamam a atenção para, “... as muitas queixas que caracterizam sintomas físicos de estresse, dando a impressão de que esses sintomas tem interferido negativamente, tanto na vida do funcionário, quanto no seu trabalho...”.

Amparados nestas afirmações, constatamos que o trabalho do enfermeiro de centro cirúrgico, em determinados momentos constitui-se como um instrumento da equipe cirúrgica, ocupando-se de tarefas administrativas, como afirmam GUEDES et al (2001, p.24), “percebe-se que a função burocrática, planejamento, organização e o controle sejam elementos firmemente incorporados ao seu trabalho diário”, não restando tempo do seu expediente para dedicar-se aos cuidados com o paciente.

Desta forma, para que consigamos humanizar o atendimento de enfermagem é preciso que a equipe seja conscientizada e preparada para fazer a diferença no cuidado, passando a entender o paciente de forma humana; o enfermeiro é responsável por orientar, sanar dúvidas pertinentes ao procedimento trazendo uma maior tranqüilidade e segurança, não esquecendo de que ele também necessita de um ambiente adequado para realizar o seu trabalho.

Apoiados em nossas experiências acadêmicas temos observado que a cirurgia em si é um fator de estresse, tanto para o paciente, como para a equipe cirúrgica, no entanto é necessário que os profissionais tenham consciência de que o objetivo de seu trabalho é a recuperação do paciente, preocupando-se em detectar sinais de ansiedade, estresse e/ou outros fatores que possam interferir no bom andamento do ato cirúrgico. Como afirmam SANTOS et al (2002, p.26),

“a importância da qualidade da assistência de enfermagem nesse momento é capaz de contribuir para avaliar a tensão, ao transmitir para o cliente informações que lhe permitam enfrentar a situação em que se encontra com menos temor”.

A boa qualidade da assistência de enfermagem ao paciente cirúrgico inicia-se no pré-operatório. Segundo VALLE et al. (1997, p.35) analisando as orientações pré-operatórias sob a ótica dos pacientes, os mesmos “exaltam a importância do preparo pré-operatório efetuado pelas enfermeiras do centro cirúrgico trazendo-lhes, orientações acerca do procedimento cirúrgico e transmitindo-lhes segurança”.

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Ainda D’Assumpção apud CRUZ & VARELA (2002, p.52) descrevem sobre o medo, a incerteza e a angústia demonstrada pelo paciente ao transcreverem trechos de entrevistas, como este:

“ao me levarem para a sala de cirurgia, por favor não me deixem sozinho e sem qualquer informação sobre o que irá acontecer (...), para mim, tudo é novidade, tudo é assustador. Porém, se alguém que eu já conheça, estiver junto de mim, estarei seguro e me será mais fácil enfrentar tudo aquilo que virá em seguida.”

O paciente orientado quanto aos procedimentos a que será submetido no centro cirúrgico é um paciente com níveis de ansiedade, insegurança e medo menores do que aquele sem acesso a qualquer orientação.

Ao chegar no centro cirúrgico é necessário que o enfermeiro acolha calorosamente o paciente, encaminhando-o à sala de cirurgia, no entanto, no dia-a-dia das atividades cirúrgicas, há uma insatisfação por parte dos pacientes, quanto à prontidão ao atender chamados, ao apoio, às orientações recebidas desde a recepção até a sala operatória e durante o ato cirúrgico, o que leva a inferir que os cuidados de enfermagem no trans-operatório, na maioria das vezes, não estão incorporados ao cotidiano das atividades desenvolvidas, (JOUCLAS et al, 1998, p.47).

Ainda SANTOS et al (2002, p.26) descrevem que, “no centro cirúrgico, o paciente freqüentemente é assistido de forma mecânica, impessoal e seus problemas de natureza psicológica ou mesmo social muitas vezes são ignorados...”. Ao estudarem a relação entre pacientes e profissionais quanto à prática da humanização, CAPRARA & FRANCO (1999, p.651), trazem fragmentos de entrevistas realizadas com pacientes, entre estas se encontra uma que caracteriza a despersonalização a que é submetido o paciente ao ser internado, ao relatar que, “as próprias vestes são substituídas por roupas personalizadas e, como identificação, um simples número”. Desta maneira constata-se que mais uma vez o cotidiano se afasta do contexto teórico, podendo ser referida como a falta de sensibilidade da instituição para com o paciente. SILVA et al (2001, p.587) relatam a

“importância do enfermeiro pensar ao dispensar cuidados aos seus seres cuidados, mediados pela preocupação e desvelo pelo outro, considerando este momento de comunhão que se dá entre aquele que, cientificamente e humanamente, aprendeu os meios de ajudar o outro nas suas necessidades de saúde e de doença, e o outro que necessita receber tais cuidados.”

Na atividade diária de um centro cirúrgico encontramos variados comportamentos e atitudes entre os profissionais, sendo mais comuns as que desrespeitam o ser humano, como lembram CRUZ & VARELA (2002, p.52) sobre

“o abandono do paciente para cumprimentos efusivos e demorados com companheiros(as) de trabalho, o surgimento inoportuno, naquele local e naquele momento, de funcionários, dirigindo-se à enfermeira próxima ao paciente, para informar que: o aspirador desta sala não está funcionando, ou está faltando oxigênio nesta sala, ou o ar condicionado não está funcionando, ou ainda o anestesista não chegou.”

Essas situações podem até ser consideradas comuns e naturais entre os profissionais, mas não o são para os pacientes, para esses, estas situações se colocam como ameaçadoras, assustadoras e geradoras de conflitos e ansiedades, desencadeando diferentes sentimentos que podem vir a complicar o desenvolvimento da cirurgia ou do pós-operatório (ANTONIO et al, 2002, p.37).

Ao sair da sala de cirurgia a maioria dos pacientes são encaminhados para a sala de recuperação pós-anestésica, onde o cliente deve ser recebido pelo enfermeiro e ter as suas necessidades sanadas. Soares apud TEIXEIRA et al (1994, p.255), afirmam que, “um bom relacionamento entre enfermeiro e paciente reduz o impacto da cirurgia e as possibilidades de complicação, além de promover adaptação mais rápida...”.

A presença do enfermeiro ao lado do paciente, desenvolvendo uma relação de ajuda e compartilhando este momento tão angustiante, lhe trará conforto e segurança, tornando mais ameno e menos doloroso este momento. Ao

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avaliar os cuidados de enfermagem na sala de recuperação pós-anestésica, obteve-se alto grau de satisfação por parte dos pacientes nos itens: segurança demonstrada pelo pessoal de enfermagem nos cuidados, acolhimento do paciente e apoio, desde a chegada até ser encaminhado a unidade de internação (JOUCLAS et al, 1998, p.47).

No entanto, as orientações recebidas pelo paciente na sala de recuperação pós-anestésica muitas vezes não estão de acordo com o que é preconizado pelos referenciais teóricos, como coloca TEIXEIRA et al (1994, p.254) ao afirmarem que, “prestar informações específicas ao paciente sobre as sensações esperadas, pode ser útil, contudo, é importante antes de fornecer qualquer informação, ouvir o paciente, seus temores e dúvidas ...”, evitando que o mesmo fique sem saber o porque dos sintomas que está apresentando e até quando permanecerá neste estado desconfortante.

Após estas reflexões, pode-se afirmar que desde o momento em que o paciente é admitido para a realização de procedimento cirúrgico até a alta hospitalar, este não é mais o único responsável pelo que acontece consigo, mas toda a equipe. Durante sua permanência no centro cirúrgico, a responsabilidade recai sobre a equipe cirúrgica e mais diretamente no enfermeiro, passando a responder por tudo o que está ou possa acontecer com o mesmo, por isso, segundo SANTOS et al (2002, p.26) o enfermeiro de centro cirúrgico deve

“livrar-se de seu papel puramente técnico e integrar-se no cuidado total daquele cliente que está a sua frente. Em tão poucas ocasiões o indivíduo está tão dependente de outra pessoa com relação a sua segurança e bem estar quanto no período pré, trans e pós-operatório, ocasião em que precisa integrar-se ao desconhecido (ambiente e pessoas).”

Assim, é necessário que o enfermeiro esteja atento a todas as reações apresentadas pelo paciente nestes períodos, sendo imprescindível, segundo JOUCLAS et al (1998, p.48) “a utilização de um processo de interação interpessoal que ultrapasse o fazer mecânico, promovendo o espírito de humanização dos cuidados”. Neste sentido, é inevitável motivar e conscientizar os profissionais para as mudanças indispensáveis na obtenção de um ambiente mais humanizado no centro cirúrgico. RODRIGUES (2000, p.20) lembra que,

“humanizar o atendimento de enfermagem em centro cirúrgico tem sido um desafio constante, pois encontramos resistência de alguns funcionários e de vários profissionais de outras áreas, porém, acreditamos que o cuidado humanizado é essencial para a prática da enfermagem.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto sobre humanização no período transoperatório e os vários fatores que interferem nesta, podemos afirmar que não teremos uma equipe humana, em suas atividades diárias, se não for preparada para tal em sua formação. Com isso, fica um questionamento, que muito tem nos incomodado. Como podemos falar em humanização do paciente, se antes não podemos constatar a presença de equipes humanizadas?

Surge a necessidade de se repensar e reavaliar os conteúdos que estão sendo ministrados durante a graduação, quanto à qualidade do ensino e dos profissionais que estão sendo formados e encaminhados para o campo de trabalho, sendo imprescindível que os graduandos recebam uma formação mais humanista.

As ações éticas contempladas na graduação devem ser praticadas pelos enfermeiros ao assistirem seus pacientes, entretanto, a repetição diária das atividades, fazendo o profissional agir de forma mecânica, a sobrecarga de trabalho e até mesmo o comodismo, tem afastado consideravelmente a prática da teoria, deixando com isso indícios de insatisfação dos clientes com relação aos cuidados recebidos.

Aliado a estes fatores, encontramos os avanços tecnológicos interferindo e afastando a enfermagem da assistência adequada, desde a recepção dos pacientes no centro cirúrgico até serem encaminhados a unidade de internação ou

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para casa. O enfermeiro como mestre da criatividade deve utilizar meios que promovam a interligação tecnologia-humanização, favorecendo a preservação do calor humano nas relações enfermeiro-paciente.

Sendo o centro cirúrgico uma unidade de alta complexidade, tecnologia e procedimentos que invadem a privacidade dos pacientes se faz necessário que os enfermeiros que ali trabalham estejam conscientizados da importância de ouvir, olhar, tocar e serem presentes, pois, a segurança e a tranqüilidade favorecem o tratamento e a recuperação. Trabalhos multidisciplinares com a equipe de enfermagem podem favorecer a sensibilização para iniciar um processo de humanização interna que tenha conseqüências no atendimento.

Desta forma, o presente estudo ressalta a importância de mudanças frente aos profissionais, por levantar questionamentos a respeito da necessidade de inovação dos conceitos sobre assistência cirúrgica e implantar uma assistência cirúrgica humanizada, deixando de buscar as características relacionadas a problemas burocráticos, estruturais e técnicos, mas sim a uma questão que envolva atitudes, comportamentos, valores e ética moral e profissional.

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Texto original recebido em 17/05/2004 Aprovado para publicação em 10/12/2004

1Acadêmica de Enfermagem da Universidade Católica de Goiás – UCG. E-mail: [email protected] End.: Rua Nossa Senhora D’Abadia Qd.:05, Lt.:16, C-01, Jd. Primavera, Trindade-GO, CEP 75380-000 Fone: (62) 96033602

2Acadêmica de Enfermagem da Universidade Católica de Goiás – UCG. E-mail: [email protected] End.: Rua oito, nº 215 Bairro Santuario, Trindade-GO, CEP.: 75380-000 Fone: (62) 5051394

3Professora assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: [email protected].

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ÉTICAÉTICAÉtica é um dos mecanismos de regulação

das relações sociais do homem que visa garantir acoesão social e harmonizar interesses individuais ecoesão social e harmonizar interesses individuais ecoletivos.Paulo Antonio de Carvalho Fortes

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DIREITOS DO CLIENTE DIREITOS DO CLIENTE (PACIENTE)(PACIENTE)

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TODA PESSOA QUE NECESSITA DE TODA PESSOA QUE NECESSITA DE CUIDADOS DE SAÚDE TEM DIREITO:CUIDADOS DE SAÚDE TEM DIREITO:

� 1- A saúde e a correspondente educaçãosanitária para poder participar ativamente daprestação da mesma;

� 2- De saber como, quando e onde receber� 2- De saber como, quando e onde recebercuidados de emergência;

� 3- A liberdade religiosa e à assistência espiritual;

� 4- De ser respeitado e valorizado como pessoa;

� 5- De apelar do atendimento que fira suadignidade ou seus direitos como pessoa;

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� 6- De ser considerado como sujeito doprocesso de atendimento a que será submetido;

� 7- De conhecer seus direitos a partir do iníciodo tratamento;

� 8- De saber que será submetido aexperiências, pesquisas ou práticas que afetamo seu tratamento ou sua dignidade e de sucesso;o seu tratamento ou sua dignidade e de sucesso;

� 9- De ser informado a respeito do processoterapêutico a que será submetido, bem como deseus riscos e probabilidade de sucesso;

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� 10- De solicitar a mudança de médico, quandoo julgar oportuno, ou de discutir seu caso comum especialista;

� 11- À assistência médica durante o temponecessário e até o limite das possibilidadestécnicas e humanas do hospital;

� 12- De solicitar e de receber informações� 12- De solicitar e de receber informaçõesrelativas aos diagnósticos, ao tratamento e aosresultados de exames e outras práticas efetuadasdurante sua internação;

� 13-De conhecer as pessoas responsáveis pelotratamento e de manter relacionamento com asmesmas.

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� 14- A ter seu prontuário devidamentepreenchido, atualizado,

� 15- A rejeitar, até os limites legais, otratamento que lhe é oferecido e a receberinformações relativas às conseqüências desua decisão;sua decisão;

� 16- Ao sigilo profissional relativo à suaenfermidade por parte de toda a equipe decuidados;

� 17- A ser atendido em instituições com serviçosadequados.

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� 18- De conhecer as normas do hospitalrelativas à sua internação;

� 19- De receber familiares ou outras pessoasestranhas à equipe de cuidados;

� 20- De deixar o hospital independente de suacondição física ou situação financeira mesmocontrariado o julgamento do seu médico e docontrariado o julgamento do seu médico e dohospital, embora, no caso deva assinar seupedido de alta.

� 21- De recusar sua transferência para ooutro hospital ou médico até obter todas asinformações necessárias para uma aceitaçãoconsciente da mesma.

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CÓDIGO DE ÉTICA SEGUNDO A CÓDIGO DE ÉTICA SEGUNDO A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE

INSTRUMENTADORES CIRÚRGICOSINSTRUMENTADORES CIRÚRGICOS

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CÓDIGO DE ÉTICA DO CÓDIGO DE ÉTICA DO INSTRUMENTADOR CIRÚRGICOINSTRUMENTADOR CIRÚRGICO

� Art. 1º - O instrumentador Cirúrgicodefenderá com todas as suas forças e em todasas circunstâncias o direito fundamental davida humana.

� Art. 2º - O Instrumentador Cirúrgico dedicaráatenção especial ao doente precindo de raça,

� Art. 2º - O Instrumentador Cirúrgico dedicaráatenção especial ao doente precindo de raça,nacionalidade e religião;

� Art. 3º - O instrumentador Cirúrgico procuraráfamiliarizar-se com os vários aspectosorganizacionais e administrativos do hospital ecom dinâmica do bloco operatório objetivandouma integração adequada no seu ambiente detrabalho.

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� Art. 4º- O instrumentador cirúrgico, ciente deque o desempenho de sua função requerformação aprimorada, procurará ampliar eatualizar seus conhecimentos técnicoscientíficos e do desenvolvimento da própriaprofissão.

� Art. 5º - O instrumentador Cirúrgico executarácom rigor e presteza as orientações docirurgião, com vistas ao pleno sucesso do atocirúrgico;

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� Art. 6º - O Instrumentador Cirúrgico, evitaráabandonar o paciente em meio ao atooperatório sem causa justa e sem garantiade solução de continuidade de suasubstituição.

� Art. 7º - O Instrumentador Cirúrgico negará� Art. 7º - O Instrumentador Cirúrgico negarásua participação em pesquisas que violemos direitos inalienáveis da pessoa humana;

� Art. 8º - O Instrumentador Cirúrgico procurarámanter relações cordiais, espírito decolaboração e integração com todos osmembros da equipe cirúrgica;

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� Art. 9º - O Instrumentador Cirúrgico guardarásegredo sobre fatos que tenha conhecimentono exercício de sua profissão.

� Art. 10º - O instrumentador Cirúrgico farávaler seu direito, à remuneraçãocompatível com o trabalho realizado e comcompatível com o trabalho realizado e comdignidade da profissão;

� Art. 11º - O Instrumentador Cirúrgico colocaráseus serviços profissionais à disposição dacomunidade em casos de urgência,independentemente de qualquer proveitopessoal.

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FUNÇÕES DO INSTRUMENTADOR FUNÇÕES DO INSTRUMENTADOR CIRÚRGICO SEGUNDO A ASSOCIAÇÃO CIRÚRGICO SEGUNDO A ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE INSTRUMENTADORES NACIONAL DE INSTRUMENTADORES

CIRÚRGICOSCIRÚRGICOSEnfermeira Carmen Barcellos Spinelli.

Coren 80386

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FUNÇÕES DO INSTRUMENTADOR FUNÇÕES DO INSTRUMENTADOR CIRÚRGICOCIRÚRGICO

Aprovado em 20/01/1995Aprovado em 20/01/1995

� 1- Ao chegar no Centro Cirúrgico vestir ouniforme adequado, não esquecendo do“gorro” para proteger os cabelos, máscara paracobrir o nariz e a boca, e proteção para os pés.cobrir o nariz e a boca, e proteção para os pés.

� 2- Verificar com o “chefe” do centro cirúrgico aconfirmação da internação do paciente osexames pré-operatórios e para que salaescalado.

� 3- Escolher o material específico para a cirurgiae verificar se está em ordem.

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� 4- Se não estiver familiarizado com o cirurgião,perguntar antecipadamente os fios que serãoutilizados durante a cirurgia.

� 5- Usar técnica de “escovação” correta, vestiravental esterilizado e calçar as luvas.

� 6- Dispor na mesa o campo cirúrgico duplo,próprio para a mesa de instrumentador.próprio para a mesa de instrumentador.

� 7- Dispor o material da cirurgia na mesa,evitando contaminar o mesmo, verificandosempre se nenhum material necessário estáfaltando. (contar no início e final doprocedimento)

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� 8- Evitar qualquer tipo de contaminação,conservando as mãos acima da cintura nãopodendo encostar estas em qualquer lugar quenão esteja esterilizado.

� 9- Tomar o cuidado para não encostar com aparte não estéril do avental nas mesas auxiliarese de instrumentais, na falta de avental com opa(proteção nas costas)

� 10- Auxiliar na colocação dos campos quedelimitam a área operatória, entregando-os aoassistente e ao cirurgião

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� 11- Passar os instrumentos, sempre tendocuidado que seja do lado correto, para evitarquedas, e que o cirurgião tenha que virá-lo antesde usar, evitando acidentes.

� 12-Conservar o campo operatório semprelimpo e em ordem para evitartranstornos.transtornos.

� 13- Conservar os instrumentais sempre no lugarpróprio, nunca deixar a mesa desarrumada.

� 14- No caso de cirurgias em que são retiradosmateriais para exame, responsabilizar-sepor elas até que sejam encaminhados ao setorcompetente.

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� 15- Ter o controle do material e instrumentaldurante toda a cirurgia, prestando em toda equalquer manobra do cirurgião; (contarcompressas , gazes antes e ao término decada procedimento cirúrgico).

� 16- Evitar o desperdício de fios, porém tersempre o necessário para evitar complicaçõessempre o necessário para evitar complicaçõesdurante o ato cirúrgico.

� 17- Ser conscioso, lembrar que a vida dopaciente depende da assepsia do instrumental,além da habilidade do cirurgião.

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� 18- Ao final da cirurgia proceder o curativo nafenda cirúrgica, separar o instrumental dosmateriais pérfurocortante,evitando dessaforma acidentes.

� 19- Antecipar os pedidos do cirurgião, evitando oatraso no tempo operatório. Isto se consegueconhecendo instrumental, tempo cirúrgico e,conhecendo instrumental, tempo cirúrgico e,prestando atenção desenrolar da cirurgia, a fimde estar sempre um passo a frente do cirurgião.

� 20- Atenção, iniciativa e rapidez durante todo otempo.Manter sempre uma técnica perfeita.

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Decálogos dos Deveres do Decálogos dos Deveres do instrumentadorinstrumentador

� 1 conhecer os instrumentos pelos nomespróprios e colocar em sua mesa aquelesnecessários, segundo a operação a efetuar-se;

� Manter a assepsia rigorosa e ter todo materialManter a assepsia rigorosa e ter todo materialda dierése de síntese e de hemostasia;

� Diligência e ajuste de ações manuais;� Ordem e método na arrumação doinstrumental;

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� Limpeza e acomodação do instrumental usado,quando o cirurgião o deixa manchado desangue;

� Entregar o material com presteza, ao pedidoverbal do cirurgião;

� Entregar o instrumento que, por sinais manuaispossa fazer o cirurgião, de modo que o atooperatório se faça silencioso e admirável.operatório se faça silencioso e admirável.

� Entregar sucessivamente os instrumentos semque os peçam, quando o cirurgião realiza amesma sucessão de atos operatórios invariáveis;

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� Sincronizar tempos e ações manuais com ocirurgião e primeiro assistente, segundo técnicase detalhes bem estudados;

� Deve guardar um silêncio absoluto.� Que seja dona absoluta da mesa do instrumental;� Que lhes peça os instrumentos com precisão;� Que não lhe modifiquem a técnica;� Que não lhe peçam vários instrumentos aomesmo tempo, o cirurgião e o primeiroassistente;

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� Que não lhe invadam a liberdade de tomar osinstrumentos de sua mesa, seja o cirurgião ouos assistentes;

� Que não perturbe sua tranqüilidade comexposições chocantes;

� Que não se precipitem os pedidos doinstrumental;

� Que requeira do cirurgião ordem e métodos� Que requeira do cirurgião ordem e métodosajustados as ações manuais interdependente;

� Que exija o perfeito estado do material desutura e dos instrumentos de dierése ehemostasia, entregues pelo circulante;

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REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICOREFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

� 1- Ética e Bioética em Enfermagem

� autor Klinger Fontinele Júnior

� 2- ANIC -Associação Nacional dos Instrumentadores2- ANIC -Associação Nacional dos InstrumentadoresCirúrgicos

� 3- site do coren RS

� 4- Novo código de ética da Enfermagem

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OBRIGADO (A) PELO

CARINHO

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SE TUDO O QUE TRANSMITIMOS UNS AOS OUTROS FOI ORIUNDO DE UMA CONSCIÊNCIA, ISTO É SINAL DE QUE PODEMOS SINAL DE QUE PODEMOS MUDAR TUDO O QUE

QUISERMOS!

Klinger Fontinele Júnior

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