TILÁPIA - FERNANDO KUBUTZA

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Por Dr. Fernando Kubitza e Publicado no Panorama da Aqüicultura 1999 2008 U U m m a a C C o o l l e e ç ç ã ã o o d d e e A A r r t t i i g g o o s s s s o o b b r r e e T T i i l l á á p p i i a a

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Indice 

Nutrição e alimentação de tilápias - Parte 1 - 1999 ................................................................. 4

Nutrição e alimentação de tilápias - Parte 2 – Final - 1999 .....................................................14

Qualidade da água, sistemas de cultivo, planjamento da produção, manejo nutricional e

alimentar e sanidade - Parte 1 - 2000 ..................................................................................24

Qualidade da água, sistemas de cultivo, planjamento da produção, manejo nutricional e

alimentar e sanidade - Parte 2 - 2000 ..................................................................................35

Questões freqüentes dos produtores sobre a qualidade dos alevinos de tilapia - 2006 .............53

Ajustes na nutrição e alimentação das tilápias - 2006 ............................................................63

Tilápias na bola de cristal - 2007 ..........................................................................................74

Tilápias na mira dos patógenos - 2008 .................................................................................82

Estes artigos foram selecionados de artigos referenciados publicados no Panorama da Aqüicultura 1999-2008. Distribuído com permissão do Panorama da Aqüicultura Ltda. pelo

Southern Ocean Education and Development Project, CIDA/Univ. of Victoria, Canada. Agosto 2009

 

 

 

 

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

Nutrição e Alimentação de Tilápias - Parte 1Por: Fernando Kubitza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura

Tilápia: um produto internacional

As importações de tilápias pelos paí-ses norte americanos e europeus crescem ano a ano e conferem à carne da tilápia o status de “commodity” internacional. As importações de tilápia pelos Estados Unidos podem ser usadas como um termômetro do potencial de mercado deste produto. Em 1993, os EUA importou 11,3 mil to-neladas de tilápia (10% como filés e 90% como peixe inteiro congelado). Em 1996 este montante cresceu 68%, ultrapassando 19 mil toneladas, sendo 20% na forma de filés e 80% como peixe inteiro congelado. Costa Rica, Taiwan, Indonésia e Equador lideraram as exportações de filés para os Estados Unidos em 1996 (28%, 16%, 15% e 15%, respectivamente, do total importado). Taiwan detém a primazia nas exportações de peixe inteiro congelado (95% do total importado pelos EUA em 1996).

De acordo com as informações apresen-tadas por Fitzsimmons e Posadas (1997), os preços pagos pelos importadores de países latino americanos são ao redor de US$ 1,25/kg pelo peixe inteiro (Honduras e Costa Rica) e US$ 5,50/kg de filé FOB Miami

(Colômbia). Peixes inteiros de Taiwan são vendidos entre US$ 1,45 a 1,65/kg. O mer-cado japonês chega a pagar preços de US$ 7,4 a 10/kg para tilápias frescas de grande tamanho e qualidade para sashimi.

Em curto prazo o Brasil pode se tor-nar o maior produtor de tilápia cultivada no mundo. Para abocanhar uma fatia do mercado internacional é preciso que a tilápia brasileira tenha preço e qualida-de competitivos comparados aos países asiáticos e latino-americanos tradicionais exportadores de tilápias. Estes requisitos também são necessários para conquistar e dividir espaço com outras carnes no mer-cado interno. No sudeste do Brasil o custo de produção de tilápias em viveiros varia entre R$ 0,9 a 1,0/kg. Em tanques-rede e raceways este custo normalmente ultra-passa R$ 1,20/kg. Devido a instabilidade do Real, o autor não se atreve a calcular este custo em dólares, tarefa que fica para o leitor. No entanto, por conta da recente alta do dólar, hoje estes preços parecem competitivos para exportação. Faltam volume de produção (bastante pulverizada entre milhares de pequenos produtores), padronização da qualidade do produto e

dentre mais de 70 espécies de tilápias, a maioria delas oriundas da áfrica, apenas três conquistaram destaque na aquicultura mundial: a tilápia do Nilo Oreochromis niloticus; a tilápia azul ou áurea Oreochromis aureus; e a tilápia de mossambique Oreo-chromis mossambicus. A estas 3 espécies somam-se os seus mutantes e híbridos, com cores variando do branco ao vermelho e, genericamente, chamados de tilápias vermelhas.

Atrás apenas das carpas, as tilápias estão entre os peixes de água doce de maior volume de produção. A pesca e a aqui-cultura mundial produziram 855 mil toneladas anuais de tilápia em 1990. A FAo relatou um aumento na produção de tilápias para 1,1 milhão de toneladas em 1994, ou seja um incremento de 245 mil toneladas atribuído à aqüicul-tura. lovshin (1997) estimou que 800.000 toneladas anuais de tilápias são produzidas em cultivo. Esta produção se iguala à captura anual de pescado em águas oceânicas e interiores no Brasil.

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Obs.: Devido a sua extensão este artigo será editado em duas partes consecutivas.

Tilápias vermelhas desenvolvidas com estratégias adequadas de manejo alimentar

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abertura dos canais para exportação.O potencial para tilapicultura no

Nordeste, principalmente em Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco e Sergipe e, no Centro-Oeste, particularmente Goiás*, vem atraindo o interesse de empresas nacionais e estrangeiras. Ao contrário do Centro-Oeste, rico em soja, milho e outros grãos, grande parte do nordeste ressente da insuficiência e altos preços destes in-sumos, o que encarece o custo das rações. O avanço da produção de soja, milho e outros grãos em áreas como o oeste baiano, Tocantins e sul do Maranhão, aliados a investimentos governamentais em infra-estrutura para escoamento da produção (hidro, rodo e ferrovias) podem viabilizar a chegada de grãos no Nordeste a preços mais competitivos. Ambas as regiões são privilegiadas com temperaturas elevadas o ano todo e intensa radiação solar. Isto favorece a produção de plâncton (alimento de grande qualidade e baixo custo) e o crescimento das tilápias. O uso de siste-mas que combinem o aproveitamento do alimento natural disponível com rações granuladas suplementares será o caminho para a produção anual contínua de tilápias com qualidade, a um custo inigualável, em volumes suficientes para o mercado interno e exportação.

Tilápias podem ser produzidas a um baixo custo. Para isto é necessário explorar a sua habilidade em aproveitar alimentos naturais e ado-tar estratégias adequadas de manejo nutricional e alimentar nas diferentes fases de cultivo. O pre-sente trabalho resume as exigências nutricionais de tilápias e as estratégias de alimentação das diversas fases de desenvolvimento e sistemas de cultivo.

1. Importância da nutrição e alimentação

Em função do sistema de produção adotado, as rações podem compor 40 a 70% do custo de produção, represen-tando o principal item de custo na pis-cicultura intensiva de tilápias. Portanto, uma das maneiras mais eficazes dos produtores minimizarem este custo é ajustar adequadamente a qualidade das rações e o manejo alimentar às diferentes fases de produção e ao sistema de cultivo utilizado.A adequada nutrição e manejo alimentar:

Possibilita o melhor aproveitamento do potencial de crescimento dos peixes.

Acelera o crescimento dos peixes, au-mentando o número de safras anuais.

Melhora a eficiência alimentar, mini-mizando os custos de produção.

Reduz o impacto poluente dos efluentes da piscicultura intensiva, contribuindo para o aumento da produtividade por área de produção.

Confere adequada saúde e maior tole-rância às doenças e parasitoses.

Melhora a tolerância dos peixes ao manuseio e transporte vivo.

Aumenta o desempenho reprodutivo das matrizes e a qualidade das pós-larvas e alevinos.

E, consequentemente, possibilita otimi-zar a produção e maximizar as receitas da piscicultura.

2. Nutrientes essenciais eexigências nutricionais das tilápias

Através dos alimentos disponíveis ou oferecidos, os animais devem obter suficientes quantidades de nutrientes essen-ciais de forma a garantir a normalidade de seus processos fisiológicos e metabólicos, assegurando adequado crescimento, saúde e reprodução. De uma forma geral, com algumas particularidades dependendo da espécie, é reconhecido que os peixes apresentam exigências em pelo menos 44 nutrientes essenciais, que incluem a água,

* Consideramos atualmente apenas Goiás e Distrito Fe-deral, visto que o cultivo de tilápias foi proibido no Mato Grosso e nas áreas do Mato Grosso do Sul que abastecem a Bacia do Rio Paraguai (Pantanal).

“As rações podem com-

por 40% a 70% do custo

de produção, represen-

tando o principal item

de custo na piscicultura

intensiva de tilápias.”

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aminoácidos essenciais, energia, ácidos graxos essenciais, vitaminas, minerais e carotenóides.

2.1. Aminoácidos essenciais

Os aminoácidos são unidades formado-ras das proteínas, portanto de fundamental importância na formação de tecido muscu-lar (crescimento) dos animais. Como para a maioria dos animais, os peixes necessi-

tam de 10 aminoácidos essenciais em sua dieta. As exigências destes aminoácidos em rações nutricionalmente completas para tilápia do Nilo são apresentadas na Tabela 1.

A Tabela 2 resume alguns resultados de estudos quantificando as exigências em proteína de tilápias em diferentes fases de desenvolvimento. Sinais indicativos da deficiência em proteínas e aminoácidos são: atraso no crescimento, piora na conversão

alimentar, redução no apetite e, em alguns casos, deformidades na coluna (triptofano) e cataratas (metionina).

2.2. Energia

Os animais necessitam de energia para a manutenção de processos fisiológicos e metabólicos vitais, para as atividades rotineiras, o crescimento e a reprodução. Esta energia provém do metabolismo de

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“ O conhecimento da energia digestível dos

alimentos é fundamental para a formulação de

rações suplementares e completas para as tilápias. ”

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carboidratos, lipídios (gorduras e óleos) e proteínas. Os peixes são mais eficientes no uso da energia comparados às aves e aos mamíferos, pois não gastam energia para regular a temperatura corporal. Desta forma, grande parte da energia é utilizada para crescimento. Este é um dos fatores que explicam os melhores índices de conversão alimentar dos peixes (0,9 a 1,8) comparados às aves (1,6 a 1,9) e suínos (2,5 a 2,9).

Tilápias aproveitam bem carboidratos e gorduras como fonte de energia, pou-pando assim a proteína das rações para crescimento. O balanço energia digestível/proteína (ED/PB) nas rações é fundamen-tal para maximizar a eficiência alimentar e o crescimento dos peixes. Além disso, também determina a composição corporal em gordura. A relação ED/PB em rações completas para tilápias deve variar de 8 a 10 kcal ED/g de PB. Alta ED/PB resulta em excessiva deposição de gordura visce-ral, reduzindo o rendimento de carcaça no processamento. Por outro lado, uma baixa ED/PB faz os peixes utilizarem proteína como fonte de energia, prejudicando o crescimento e a conversão alimentar.

O conhecimento da energia digestível dos alimentos é fundamental para a for-mulação de rações suplementares e com-pletas para as tilápias. A Tabela 3 resume informações sobre a energia digestível dos principais ingredientes utilizados em rações comerciais para tilápias.

A energia digestível das rações de-pende da combinação dos ingredientes, da habilidade digestiva dos peixes, do grau de moagem e do tipo de processamento (pele-tização, extrusão seca, extrusão úmida) que determina o grau de gelatinização do amido e a destruição de fatores anti-nutricionais presentes nos alimentos.

2.3. Ácidos graxos essenciais

Os ácidos graxos são os componentes dos lipídios (óleos e gorduras). Ácidos graxos essenciais são aqueles que não podem ser sintetizados pelo organismo animal a partir de outro ácido graxo ou qualquer outro precursor. Portanto, os peixes obtém os ácidos graxos essenciais via ração ou alimentos naturais disponíveis no ambiente de cultivo.

As exigências em ácidos graxos essen-ciais são bastante distintas entre os peixes de clima frio e temperado e os peixes tropicais. Peixes de águas frias e temperadas, como os salmonídeos e o bagre-do-canal, bem como as espécies marinhas, apresentam exigências em ácidos graxos polinsaturados da família ω-3. Os principais ácidos graxos desta família são o ácido linolênico - 18:3, ácido eicosapentenóico (EPA) - 20:5 e o ácido docosahexenóico (DHA) - 22:6.

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“A intensificação do cultivo das tilápias no Brasil, em

sistemas onde a disponibilidade de alimento natural é limitada,

aumentou a incidência de desordens nutricionais devido ao inadequado enriquecimento

vitamínico e mineral das rações.”

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Estes ácidos graxos são bastante abundantes nos organismos planctônicos e nos óleos de peixes marinhos.

Os peixes tropicais e de água doce, como as tilápias, geralmente apresentam apenas exigência em ácidos graxos da família ω-6 (ou ácidos graxos da família do linoléico - 18:2). Takeuchi et al. (1983) observou que alevinos de tilápia do Nilo necessitam pelo menos 1% de ácido lino-léico (18:2) em rações completas. Esta exi-gência é de 2% para a tilápia azul (Stickney e McGeachin 1983).Os ácidos graxos são importantes componentes das membranas celulares e servem como fonte de energia, principalmente para as espécies carnívoras que apresentam baixa capacidade de apro-veitamento de carboidratos. Os sinais de deficiência em ácidos graxos são: atraso no crescimento, redução na eficiência alimen-tar, podridão das nadadeiras, síndrome do choque, reduzido desempenho reprodutivo e alta mortalidade.

2.4. Minerais e vitaminas

Minerais e vitaminas desempenham papel importante na formação dos tecidos ósseos e sanguíneos, no crescimento mus-cular e em diversos processos metabólicos e fisiológicos essenciais para o adequado crescimento, saúde e reprodução dos animais. Embora as exigências minerais e vitamínicas dos principais peixes cultiva-dos já sejam conhecidas, até o momento pouca atenção foi dada a este assunto na nutrição das tilápias. Uma das razões está no fato da maioria dos sistemas de cultivo destes peixes contar com a contribuição de alimentos naturais, reduzindo os problemas nutricionais devido a deficiência de mine-rais e vitaminas nas rações.

A recente intensificação do cultivo das

tilápias em diversos países, inclusive no Brasil, utilizando tanques-rede, raceways e tanques com recirculação de água (sis-temas onde a disponibilidade de alimento natural é limitada) aumentou a incidên-cia de desordens nutricionais devido ao inadequado enriquecimento vitamínico e mineral das rações. Estes sistemas mais intensivos demandam o uso de rações nutricionalmente completas, com enrique-cimentos vitamínicos e minerais próximos dos valores apresentados na Tabela 4.

Os peixes podem absorver minerais, como o cálcio, diretamente da água. No entanto, as exigências da maioria dos minerais é satisfeita através dos minerais presentes nos alimentos naturais e nas ra-ções. Os alimentos de origem animal como as farinhas de carne e ossos e as farinhas de peixes são boas fontes de minerais. No entanto, rações completas formuladas à base de farelos vegetais necessitam suple-mentação adicional.

As exigências vitamínicas são satisfei-tas através de vitaminas obtidas no alimento natural ou nas rações. Uma particularida-de da nutrição vitamínica dos peixes é a não capacidade, da grande maioria das

espécies, em sintetizar o ácido ascórbico (vitamina C). De fundamental importância ao crescimento, formação da matriz óssea e funcionamento do sistema imunológico, a vitamina C deve ser obtida no alimento natural ou na ração. Rações completas para sistemas intensivos de produção devem ser suplementadas com fontes estáveis desta vitamina (Kubitza et al. 1998).

2.5. A importância do alimento naturalna nutrição de tilápias

Em ambientes naturais os peixes equi-libram sua dieta, escolhendo os alimentos que melhor suprem suas exigências nutri-cionais e preferências alimentares. Rara-mente são observados sinais de deficiência nutricional nestas condições. O alimento natural dos peixes é composto de inúmeros organismos vegetais (algas, plantas aquáti-cas, frutos, sementes, entre outros) ou ani-mais (crustáceos, larvas e ninfas de insetos, vermes, moluscos, anfíbios, peixes, entre outros). Em geral, os alimentos naturais explorados pelos peixes são ricos em ener-gia e em proteína de alta qualidade (Tabela 5), e servem como fonte de minerais e vitaminas. Estudos realizados em Israel (Gur 1997) demonstraram, com base no crescimento dos peixes, não ser necessário o enriquecimento vitamínico em rações usadas no cultivo de tilápias em viveiros com disponibilidade de alimentos naturais. No entanto a suplementação vitamínica destas rações melhorou a sobrevivência dos peixes. Em Israel, a suplementação vitamínica completa é apenas feita em rações destinadas às pós-larvas e ao cultivo em sistemas de produção mais intensivos, e em rações usadas no período de inverno e no tratamento de peixes doentes ou sob estresse.

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Tilápias são eficientes no aproveita-mento de alimentos naturais, notadamente o plâncton. Em viveiros com baixa reno-vação de água, cerca de 50% a 70% do crescimento de tilápias foi atribuído ao consumo de alimentos naturais (Schroeder

1983), mesmo com o fornecimento de ração suplementar. Este detalhe explica o menor custo de produção de tilápias em viveiros de baixa renovação de água com-parado ao cultivo intensivo em tanques-rede e raceways.

Rações suplementaresA produção de tilápias em viveiros de

baixa renovação de água pode ser feita de forma eficaz com o uso de rações nutri-cionalmente incompletas ou rações suple-mentares. De um modo geral estas rações

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“O sucesso econômico dos

sistemas de produção em

tanques de alto fluxo de água

(raceways) ou em tanques-

rede depende do uso de rações

completas. Estas rações

também são necessárias em

viveiros quando a biomassa

ultrapassa 6.000 kg/ha.”

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não dispõem de um correto balanço em aminoácidos essenciais, possuem menores níveis protéicos (22% a 24%), maior relação energia/proteína e não são suplementadas, ou o são apenas parcialmente, com premix vitamínico e mineral.

Rações nutricionalmente completas

Estas rações devem ser empregadas em sistemas de produção onde a disponibilidade ou o acesso ao alimento natural é limitado ou nenhum. O sucesso econômico dos sis-temas de produção em tanques de alto fluxo de água (raceways) ou em tanques-rede e gaiolas depende do uso de rações comple-tas. Estas rações também são necessárias

em viveiros quando a biomassa ultrapassa 6.000 kg/ha. Nas rações completas todos os nutrientes devem estar presentes de forma equilibrada e em quantidades que supram as exigências dos peixes para um adequado crescimento, saúde e reprodução. O enri-quecimento em vitaminas e microminerais é completo.

3. Subsídios à formulação de raçõespara tilápias

Nesta seção são resumidas informações básicas à formulação de rações para tilápias em diferentes fases de desenvolvimento, produzi-das em viveiros, tanques-rede e raceways.

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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999

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3.1. Perfil básico das rações paradiferentes sistemas e fases de cultivo

Na Tabela 6 são apresentadas sugestões sobre a composição básica, necessidade de suplementação vitamínica e mineral, forma de apresentação e tamanho dos peletes de

rações para tilápias em diferentes fases de desenvolvimento, cultivadas em tanques-rede, raceways ou em viveiros com maior ou menor disponibilidade de alimentos naturais. Sugestões quanto ao enriqueci-mento vitamínico em rações utilizadas na reversão sexual e alevinagem, e na recria

e engorda de tilápias em viveiros ou em tanques-rede e raceways são apresentadas na Tabela 7. Tais sugestões contemplam os conhecimentos sobre a nutrição de tilápias no mundo, bem como a experiência de pro-fissionais familiarizados com a produção comercial destes peixes.

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3.2. Restrições quanto ao uso de alguns ingredientes emrações para tilápias

Os nutricionistas de peixes vêm dedicando grande atenção aos estudos visando substituir as fontes protéicas e energéticas de origem animal (por exemplo, as farinhas e óleos de peixes) por fontes de origem vegetal, como os subprodutos do processamento de sementes de plantas oleaginosas (soja, girassol, algodão, entre outras) e amiláceas (trigo, arroz, milho, mandioca, entre outras). Também é de interesse o aproveitamento de subprodutos indus-triais, como os resíduos de cervejaria, leveduras, polpa de frutos e sementes, entre muitos

Comparativamente a outras espécies de peixes, as tilápias pa-recem apresentar maior habilidade em aproveitar estes alimentos alternativos. Rações formuladas à base de produtos de origem vegetal, com o farelo de soja como principal fonte de proteína podem ser utilizadas sem prejuízo ao desempenho das tilápias comparado ao uso de rações contendo produtos animais. Na Tabela 8 são reunidas informações sobre os níveis de inclusão de diversas fontes alterna-tivas de proteínas de origem vegetal nas rações de tilápias. Maiores informações sobre ingredientes alternativos para inclusão em rações para peixes podem ser encontradas na revisão de Pezzato (1995).

Na próxima edição (n. 53) publicaremos a Parte 2 desse artigo contendo: Nutrição e manejo alimentar durante a reversão sexual Nutrição e manejo alimentar na recria e engorda Nutrição e manejo alimentar de reprodutores Conversão alimentar (CA) de tilápias

Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D., especialista em Nutrição e Produção de Peixes

1- Planejamento da Produção de PeixesDias: 25-26/06/99 e 13-14/08/99

• Conceito de planejamento e controle da produção• Fatores que afetam o crescimento dos peixes a capacidade de suporte, a biomassa crítica e econômica nos diferentes sistemas de produção; determinação do ponto de biomassa econômica• Índices de desempenho e expectativa de crescimento dos peixes cultivados; aplicação dos conceitos de biomassa econômica e dados de desempenho no planejamento do cultivo; exercícios práticos; orçamento e balanço econômico do cultivo.

2- Qualidade da Água na Produção de PeixesDias: 16-18/07/99 - 27-29/08/99 e 15-17/10/99

• Importância, monitoramento e manejo da qualidade da água• Impacto da intensificação do cultivo e da qualidade do alimento e a qualidade da água• Sistemas de aeração: características, dimensionamento e operação.Aula de campo: instrumentos para monitoramento da qualidade da água; ensaios dinâmicos de qualidade da água. Problemas práticos enfrentados por técnicos e criadores de peixes.

3- Nutrição e Alimentação dos PeixesDias: 30/07 a 01/08/99 e 17-19/09/99

• Anatomia e fisiologia do trato digestivo; hábito alimentar e exigências nutricionais dos peixes• Processamento e granulometria das rações• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixesPrático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das rações; ensaio de estabilidade na água; discussões de problemas en-frentados por técnicos e criadores de peixes.

4- Principais Parasitoses e Doenças dos PeixesDias: 01-03/10/99

• Condições que favorecem a ocorrência de doenças• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento das principais doenças e parasitoses dos peixesPrático: técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamen-tos e agentes profiláticos. Discussões de problemas práticos enfrentados por técnicos e criadores de peixes.

5- Reprodução e Reversão Sexual de TilápiasDias: 22-23/10/99

• Estratégia de produção em larga escala e reversão sexual de pós-larvas de tilápias; reprodução; instalações; estratégias usadas na reversão sexual; preparo da ração e manejo alimentarPrático: Preparo de ração para reversão; sexagem de reprodutores; coleta e classificação de pós-larvas; instalações para reversão sexual; Técnicas para avaliar o sucesso da reversão.

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4. Nutrição e manejo alimentardurante a reversão sexual

Em condições naturais e em viveiros, o primeiro alimento das pós-larvas de ti-lápias são o fitoplâncton e os copépodos e cladóceros. Estes organismos possuem alto valor energético e podem conter ní-veis de proteína na matéria seca variando de 20 a 60%. Isto talvez explique o moti-vo dos melhores resultados de crescimen-to de pós-larvas de tilápias terem sido obtidos com rações contendo entre 40 a 50% de PB (como apresentado na Tabela 2) e energia digestível entre 3.600 a 4.000 kcal/kg.

Devido a necessidade de moagem fina para obter partículas de tamanho inferior a 0,5mm, as rações para pós-larvas estão sujeitas a maiores perdas de nutrientes por dissolução na água, principalmente os minerais, as vitaminas hidrossolúveis,

proteínas e aminoácidos livres. Para mini-mizar estas perdas é preciso que estas ra-ções apresentem boa flutuabilidade, redu-zindo o contato das partículas com a água e assim as perdas de nutrientes por disso-lução. Uma boa flutuabilidade das rações pode ser alcançada com a correta combi-nação de ingredientes e moagem fina da mistura. As rações usadas para pós-larvas e alevinos durante o período de reversão sexual devem ser fortificadas com pelo me-nos 3 vezes mais vitaminas e minerais do que o mínimo recomendado. Na Tabela 7 é apresentada a sugestão de enriquecimento para estas rações, bem como um exemplo de enriquecimento vitamínico e mineral de rações com 40 a 45% de proteína que vêm garantindo bons resultados na alimentação de pós-larvas de tilápias em pisciculturas de São Paulo.

Nutrição e Alimentação de Tilápias - Parte 2 - Final Por: Fernando Kubtiza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura

Pós-larvas de pei-xes crescem rapida-mente, portanto, são bastante exigentes em nutrientes. devido às pós-larvas apre-sentarem reservas corporais mínimas de nutrientes, qualquer deficiência na nutrição das mesmas é pronta-mente notada e, inva-riavelmente, catastró-fica. As pós-larvas de tilápias possuem tra-to digestivo completo e conseguem utilizar adequadamente ra-ções de moagem fina, boa palatabilidade e nutricionalmente com-pletas na primeira ali-mentação exógena.

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

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devido a sua extensão, o texto “Nutrição e alimentação” foi dividido em duas partes.A parte 1 foi publicada na última edição 52 – março/abril da Panorama da AQÜICULTURA.Sua referência bibliográfica encontra-se disponível em nossa redação e poderá ser enviada por fax ou e-mail aos assinantes que a solicitarem.

Legenda: Fernando Kubtiza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura

Page 15: TILÁPIA - FERNANDO KUBUTZA

Manejo alimentar. A reversão sexual deve ser iniciada com pós-larvas entre 9 a 12mm. A ração com 60mg de metiltes-tosterona/kg deve ser fornecida em 5 a 6 refeições diárias. Em cada refeição, a ração deve ser fornecida até o momento em que os peixes estiverem saciados. Isto é conseguido através de contínuo forne-

cimento de ração e atenta observação do consumo e atividade dos peixes. Deve se evitar excessiva sobra de ração nas unidades de reversão. Anéis de alimen-tação flutuantes são úteis para evitar que a ração se espalhe, sendo muito usados quando a reversão é feita em “happas”. Os peixes devem receber rações com me-

tiltestosterona por um período de 28 dias. Cerca de 600 a 800 gramas de ração são necessárias para cada 1.000 alevinos de 4 a 5 cm produzidos.

desempenho na reversão sexual. Os seguintes parâmetros indicam um bom desempenho após os 28 dias de reversão sexual: a) Tamanho dos alevinos: 4 a 5 cm (0,8 a 1g); b) Sobrevivência > 80%; c) Índice de reversão > 99%. Para alcançar este desempenho é necessário adequar o manejo nutricional e alimentar dos repro-dutores; atentar para a qualidade nutri-cional das rações, à qualidade da água e ao manejo alimentar; adquirir hormônio de fornecedor idôneo; uso de práticas auxiliares de manejo, como exemplo a classificação periódica dos alevinos por tamanho e eliminação de peixes que não apresentaram bom desenvolvimento du-rante a reversão. Maiores detalhes sobre as estratégias de reversão sexual de tilá-pias podem ser encontrados nos trabalhos de Popma e Green (1990), Contreras-Sán-chez et al (1997), Desprez et al (1997), Gerrero III e Guerrero (1997), Rani e Macintosh (1997), Mainardes-Pinto et al (1998) e Sanches e Hayashi (1998).

5. Nutrição e manejo alimentar narecria e engorda

A importância do alimento natural, notadamente o plâncton, no crescimento das tilápias já foi ressaltado anteriormen-te. Muitos sistemas de produção combi-nam os benefícios do alimento natural com o uso de rações suplementares ou completas, visando um aumento na pro-dutividade e melhora na conversão ali-mentar. Os piscicultores e nutricionistas devem estar atentos para ajustar a densi-dade dos nutrientes nas rações e o manejo alimentar em função do sistema de culti-vo adotado, otimizando a produtividade e minimizando os custos de produção.

5.1. Recria (5 a 100g) em viveiroscom plâncton

Enquanto a biomassa de tilápias em viveiros de recria com plâncton não ul-trapassar 4.000 kg/ha, rações com 24 e 28% de proteína, 2.600 a 2.800 kcal de

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Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

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A IMPORTâNCIA dO PLâNCTON E COMO ESTIMULAR A SUA FORMAÇãO

· Com a estocagem dos peixes e início da alimentação a água começa a adquirir uma coloração es-verdeada, o que indica a presença de plâncton.

· O plâncton contribui de forma significativa na alimentação das tilápias, produz oxigênio e remove a amônia da água, favorecendo assim um rápido desenvolvimento dos peixes. Além disso o plâncton sombreia o fundo dos tanques, impedindo a entrada de luz e o desenvolvimento de algas filamento-sas e plantas submersas.

· Se houver muita troca de água no início das etapas de recria o plâncton não se forma e o desenvol-vimento dos peixes será prejudicado. A água fica muito transparente, facilitando o desenvolvimento de algas filamentosas e plantas aquáticas no fundo dos tanques, o que pode prejudicar a qualidade da água e dificultar as operações de despesca.

· Se a água estiver muito cristalina no início das fases de recria, a formação do plâncton pode ser estimulada fechando toda a entrada de água e aplicando 2 a 3 kg de uréia/1.000m2/semana e cerca de 4 a 6 kg de farelos vegetais/1.000m2/dia. Farelos de arroz, trigo ou algodão, por exemplo, podem ser usados e também servirão de alimento para os peixes estocados.

· O ideal é deixar a água ir adquirindo uma coloração esverdeada até atingir transparência entre 40 a 50cm, o que pode ser medido com o auxílio do disco de Secchi. Atingida esta transparência, pode se interromper o uso de uréia e farelos.

· Quando a transparência da água for reduzindo e se aproximar a 30cm, é hora de começar a renovar um pouco de água. A quantidade de água renovada deve ser ajustada de forma a manter a transpa-rência da água entre 40 a 50cm.

· Lembre-se que o excesso de renovação de água é o principal fator responsável pelo insucesso na formação de plâncton.

Page 17: TILÁPIA - FERNANDO KUBUTZA

ED/kg e sem enriquecimento vitamínico e mineral podem ser utilizadas manten-do adequado crescimento e conversão alimentar. Durante esta fase os peixes devem ser alimentados entre 2 a 3% do peso vivo ao dia, quantidade dividida em 2 refeições diárias. O uso de rações flutu-antes permite melhor ajustar a quantidade de ração fornecida. Alimentar os peixes tudo o que eles podem consumir numa refeição maximiza o crescimento, o que é desejado nas fases iniciais. Porém, tal prática pode não ser a melhor estratégia do ponto de vista econômico, principal-mente nas fases de engorda (Tabela 9). Estes níveis de arraçoamento de 2 a 3% do PV ao dia podem parecer insuficien-tes para peixes deste tamanho. No entan-to não deve ser esquecido que os peixes consomem plâncton o tempo todo, com-plementando o nível de ingestão de ali-mentos. A conversão alimentar na recria em tanques com plâncton deve ficar abai-xo da unidade, com valores de 0,8 sendo

bastante comuns. Se isto não se confir-mar, pode estar ocorrendo problemas na qualidade da ração, qualidade da água, manejo alimentar, produção de plâncton, qualidade dos alevinos, doenças, ou bai-

xas temperaturas.Quando a biomassa nos viveiros ultra-

passar os 4.000 kg/ha, o plâncton disponível não é capaz de complementar a nutrição e manter os mesmos índices de desempenho dos peixes na recria. A partir deste ponto é recomendável o uso de rações com 28 a 32% de proteína, energia digestível entre 2.900 a 3.200 kcal/kg (Tabela 6) e suple-mentação mínima de vitaminas e minerais (Tabela 7). Deve ser esperada uma piora nos índices de conversão alimentar a par-tir deste ponto, devido tanto à diminuição no plâncton disponível por animal, quanto à deterioração progressiva na qualidade da água. Ainda assim valores de conversão en-tre 1,0 e 1,2 devem ser obtidos. Sob condi-ções adequadas de temperatura da água (28 a 32 °C), tilápias de 1g atingem o peso de 100g após 60 a 70 dias de recria em viveiros com plâncton. Se isto não ocorrer, confira as densidades de estocagem, a qualidade da água e das rações, a abundância de alimento natural, o manejo alimentar e a qualidade

“Em tanques-rede

e raceways a disponi-

bilidade de alimento

natural é limitada e

os peixes estão sub-

metidos a uma maior

pressão de produção

e estresse”

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

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Page 18: TILÁPIA - FERNANDO KUBUTZA

dos alevinos. 5.2. Recria (5 a 100g) em tanques-redee raceways

Em tanques-rede e raceways a dispo-nibilidade de alimento natural é limitada e os peixes estão submetidos a uma maior pressão de produção e estresse. Portanto, é recomendável que as rações sejam mais concentradas em proteínas (36 a 40%), energia digestível (3.200 a 3600 kcal/kg) e recebam um enriquecimento mineral e vitamínico ainda maior, conforme sugeri-do nas Tabelas 6 e 7. Descuido com este detalhe pode resultar em grandes perdas econômicas devido a distúrbios nutricio-nais e uma maior susceptibilidade dos peixes às doenças. A taxa de alimentação diária deve ser ajustada para 70 a 80% do máximo consumo diário, ou cerca de 3 a 4 % do peso vivo ao dia, em função principalmente do tamanho dos alevinos, da temperatura da água e da concentração em nutrientes da ração. Esta quantidade de alimento deve ser dividida em 3 refei-

ções. O consumo pode ser aferido perio-dicamente alimentando os peixes tudo o que eles puderem consumir durante um dia, permitindo assim reajustar a taxa de alimentação para 70 a 80% do máximo consumo. A conversão alimentar espera-

da nesta fase deve girar entre 1,1 e 1,3. 5.3. Engorda (100 a 600g) em viveiroscom plâncton

Durante a engorda em viveiros até o limite de 6.000 kg/ha, o piscicultor pode utilizar rações sem suplementação mineral e vitamínica, entre 24 e 28% de proteína e energia digestível de 2.600 a 2.800 kcal/kg. O nível de arraçoamento deve ficar entre 1,5 a 2,% do peso vivo ao dia, dividido em 2 refeições. O tempo necessário para que as tilápias alcancem 600g não deve ultrapassar 110 dias sob condições adequadas de tem-peratura. A conversão alimentar deve fica entre 1,3 a 1,5. Se o objetivo é produzir mais do que 6.000 kg de tilápia/ha, a partir des-ta biomassa é recomendável o uso de uma ração suplementada com minerais e vitami-nas e com maior concentração protéica (28 a 32%) e energética (2.800 a 3.000 kcal/kg). Deve ser esperada um piora nos índices de conversão alimentar (1,5 a 1,7) e uma redu-ção na velocidade de crescimento, devido à diminuição no plâncton disponível e a pro-gressiva redução na qualidade da água.

“Quando a biomas-sa nos viveiros ultra-passar os 4.000 kg/ha, o plâncton disponível não é capaz de com-plementar a nutrição e manter os mesmos ín-dices de desempenho dos peixes na recria.”

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

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Rações com 32 a 36% de proteína e 2.900 a 3.200 kcal ED/kg e enriquecidas com pelo menos níveis duplos de vitami-nas e minerais devem ser usadas na en-

gorda de tilápias em raceways e tanques-rede (Tabelas 6 e 7). O arraçoamento diário entre 1,5 a 2,5% do peso vivo deve ser dividido em 3 refeições. A expectativa

de conversão alimentar é de 1,5 a 1,8. Sob condições adequadas de temperatura (28 a 32 °C). Cerca de 130 dias serão necessá-rios para os peixes chegarem a 600g.

5.4. Engorda (100 a 600g) em tanques-rede e raceways

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

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Page 20: TILÁPIA - FERNANDO KUBUTZA

6. Nutrição e manejo alimentarde reprodutores

A crescente demanda, tanto em quan-tidade como em qualidade, por pós-larvas e alevinos de tilápias vem exigindo aten-ção especial no que diz respeito à nutri-ção de reprodutores. A intensa coleta de pós-larvas ou ovos gera a necessidade de fornecer aos reprodutores um alimen-to nutricionalmente completo. Diversos estudos demonstram a importância da correta nutrição sobre o desempenho re-produtivo dos peixes, à semelhança do observado com outros animais. Alguns exemplos são listados na Tabela 10.

A seguir são listados alguns exemplos da influência da nutrição sobre o desem-penho reprodutivo de tilápias:Tilápia de Mossambique / Oreochromis mossambicus:

Rações deficientes em vitamina C resul-tou em reduzida taxa de eclosão, aumento na proporção de embriões deformados, atraso no

crescimento e redução na sobrevivência das pós-larvas e dos alevinos (Tabela 11).

Tilápia-do-Nilo / Oreochromis niloticus: Baixos níveis de proteína na ração re-sultou em atraso na maturação sexual (pu-berdade) e no desenvolvimento e maturação dos oócitos (Gunasekera et al 1995) Machos alimentados com ração con-tendo farelo de algodão apresentaram atra-so na maturação dos testículos e redução no número e na motilidade dos esperma-tozóides (Salaro et al 1998a). Em fêmeas houve atraso e diminuição do número de desovas (Salaro et al 1998b). Estes efeitos foram atribuídos ao gossipol, fator anti-nutricional presente no farelo de algodão.

Rações contendo 40% de farelo de folhas de leucena resultou em redução na produção de pós-larvas e no peso corporal das fêmeas. Estes efeitos foram atribuídos à mimosina, composto anti-nutricional presente na leucena (Santia-go et al 1988).

...“Muitos piscicul-tores subestimam ou esquecem os índices de conversão alimen-tar obtidos. A correta determinação da con-versão alimentar e do tempo de cultivo é fun-damental para avaliar a relação custo/benefício das rações comerciais disponíveis.”

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Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.d., especialista em Nutrição e Produção de Peixes

1- Planejamento da Produção de Peixesdias: 13-14/08/99

• Conceito de planejamento e controle da produção• Fatores que afetam o crescimento dos peixes a capacidade de suporte, a biomassa crítica e econômica nos diferentes sistemas de produção; determinação do ponto de biomassa econômica• Índices de desempenho e expectativa de crescimento dos peixes cultivados; aplicação dos conceitos de biomassa econômica e dados de desempenho no planejamento do cultivo; exercícios práticos; orçamento e balanço econômico do cultivo.

2- Qualidade da Água na Produção de Peixesdias: 16-18/07/99 - 27-29/08/99 e 15-17/10/99

• Importância, monitoramento e manejo da qualidade da água• Impacto da intensificação do cultivo e da qualidade do alimento e a qualidade da água• Sistemas de aeração: características, dimensionamento e operação.Aula de campo: instrumentos para monitoramento da qualidade da água; ensaios dinâmicos de qualidade da água. Problemas práticos enfrentados por técnicos e criadores de peixes.

3- Nutrição e Alimentação dos Peixesdias: 30/07 a 01/08/99 e 17-19/09/99

• Anatomia e fisiologia do trato digestivo; hábito alimentar e exigências nutricionais dos peixes• Processamento e granulometria das rações• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixesPrático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das rações; ensaio de estabilidade na água; discussões de problemas en-frentados por técnicos e criadores de peixes.

4- Principais Parasitoses e doenças dos Peixesdias: 01-03/10/99

• Condições que favorecem a ocorrência de doenças• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento das principais doenças e parasitoses dos peixesPrático: técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamen-tos e agentes profiláticos. discussões de problemas práticos enfrentados por técnicos e criadores de peixes.

5- Reprodução e Reversão Sexual de Tilápiasdias: 22-23/10/99

• Estratégia de produção em larga escala e reversão sexual de pós-larvas de tilápias; reprodução; instalações; estratégias usadas na reversão sexual; preparo da ração e manejo alimentarPrático: Preparo de ração para reversão; sexagem de reprodutores; coleta e classificação de pós-larvas; instalações para reversão sexual; Técnicas para avaliar o sucesso da reversão.

Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 12:00 hs e das 14:00 às 18:00hs; domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs

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Inscrição: Incluído material didático: R$ 280,00 (com até 28 dias antecedentes à data do curso) R$ 330,00 (com menos de 28 dias do curso ou no dia)

Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 0796 c/c 45320-7Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante de depósito para o fone/fax: (011) 7397-2496

Cursos Avançados em Piscicultura em Jundiaí - SP 7. Conversão alimentar (CA) de tilápias

O índice de conversão alimentar (CA) é calculado dividindo-se a quantidade total de ração fornecida (em um viveiro, tanque-rede, ou raceway) pelo ganho de peso dos peixes. O ganho de peso é calculado subtraindo-se da produção obtida em um vivei-ro, tanque-rede ou raceway, o peso total dos peixes na estocagem. Muitos piscicultores esquecem deste detalhe, e subestimam os índices de conversão alimentar obtidos. A correta determinação da CA e do tempo de cultivo é fundamental para avaliar a relação custo/benefício das rações comerciais disponíveis. Diversos fa-tores afetam a conversão alimentar dos peixes. Alguns deles são comentados a seguir:

Qualidade do alimento. Quanto mais próxima for composição em nutrientes disponíveis nos alimento das exigências nutricio-nais do peixe, melhor será a CA. Outros fatores como o grau de moagem dos ingredientes, a palatabilidade e a estabilidade das rações na água também afetam a conversão alimentar.

Espécie de peixe. As espécies de peixes apresentam respos-tas diferenciadas quanto à demanda energética para atividades essenciais (natação, respiração, osmorregulação, captura de ali-mento; expressão do seu comportamento; reprodução; digestão do alimento e metabolismo dos nutrientes assimilados, entre outras). Portanto, é natural que estas diferenças influenciem os índices de CA de cada espécie.

Idade ou tamanho dos peixes. Dentro de uma mesma espé-cie, peixes menores (mais jovens) apresentam melhores índices de CA, o que pode ser explicado pelo fato dos peixes menores apresentarem uma maior relação taxa de crescimento/exigência de manutenção comparados a peixes de tamanho maior. Peixes de menor tamanho também são mais eficientes na utilização do alimento natural quando este for disponível.

Sexo e reprodução. No caso específico de tilápias este fator é muito importante. Por exemplo, as fêmeas de tilápias-do-Nilo direcionam grande quantidade de energia dos alimentos para a produção de ovos e cuidado parental, portanto crescem mais len-tamente e apresentam piores índices de CA que os machos. De uma forma geral, quando os peixes entram em fase de reprodu-ção os índices de conversão alimentar tendem a piorar devido ao maior gasto da energia com as atividades relacionadas à re-produção (formação de gônadas, côrte e disputa pelos parceiros, construção e defesa de ninhos, cuidado parental, entre outros).

disponibilidade e capacidade de aproveitamento do alimen-to natural. Anteriormente foi discutida a importância do alimen-to natural no crescimento das tilápias. Como os cálculos de CA são feitos com base na quantidade de ração fornecida, uma maior disponibilidade de alimento natural nos tanques e viveiros con-tribui para a redução dos valores de CA. Peixes como as tilá-pias, que aproveitam bem o alimento natural disponível tendem a apresentar melhores índices de CA do que, por exemplo, peixes carnívoros, que não possuem habilidade no aproveitamento do plâncton e outros alimentos naturais disponíveis nos viveiros.

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Page 22: TILÁPIA - FERNANDO KUBUTZA

Qualidade da água. Quanto melhor for a qualidade da água melhor serão os índices de conversão alimentar. Reduzidos ní-veis de oxigênio dissolvido, elevada concentração de gás carbô-nico e metabólitos tóxicos como a amônia e o nitrito resultam em redução no consumo e no aproveitamento dos alimentos, prejudicando os índices de CA.

densidade de estocagem. O aumento na densidade de esto-cagem geralmente piora a CA, pois reduz a disponibilidade de alimento natural por peixe e acelera a degradação da qualidade da água devido aos maiores níveis de arraçoamento exigidos.

Temperatura da água. O peixe é um animal pecilotérmico, portanto sua atividade metabólica aumenta com a elevação na temperatura da água. Cada espécie exige uma faixa específica de temperatura (zona de conforto térmico) para melhor expressar o seu potencial de crescimento e utilização do alimento disponí-

vel, o que influencia sobremaneira os índices de CA. No cultivo de tilápias a zona de conforto térmico está entre 28 a 32 °C. No inverno a conversão alimentar das tilápias piora sensivelmente.

Nível de arraçoamento. Se o nível de arraçoamento for muito baixo, é possível que os peixes consigam ter atendidas apenas as suas necessidades de manutenção, resultando em ganho de peso zero. O aumento nos níveis de arraçoamento acima das exigências de manu-tenção melhora a CA. Níveis excessivos de arraçoamento (Tabela 9), mesmo não havendo desperdício de ração, geralmente promove uma maior velocidade de passagem do alimento no trato digestivo, o que reduz a sua digestão e assimilação, piorando a CA.

Na Tabela 12 são resumidos os índices de conversão alimen-tar obtidos com tilápias de diferentes tamanhos, mantidas em ambientes distintos e alimentadas com rações de composição e formas de apresentação variadas.

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

qualidade da água, sistemas de cultivo, pla-nejamento da

produção, mane-jo nutricional e alimentar e sanidade.

N um médio prazo o Brasil poderá se tornar um dos maiores pro-

dutores de tilápia no mundo. Embora a maior parte da produção comer-cial de tilápias esteja no momento concentrada nos estados do Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais, as regiões Nordeste e Centro Oeste deverão abrigar os maiores pólos de produção de tilápia em nosso país. O reconhecimento deste potencial culmina com a realização, em setembro próximo, do 5º Simpósio Internacional sobre a Aqüicultura de Tilápias (5º ISTA). Com o intuito de contemplar o referido evento, e sob a sugestão da Panorama da Aqüicultu-ra, elaboramos em duas partes, este artigo especial com enfoque sobre os sistemas de produção, o planejamento do cultivo, o manejo nutricional e alimentar e as principais doenças registradas no cultivo intensivo de tilápias. O material aqui apresentado é uma síntese de alguns dos capítulos do livro que será lançado durante o 5º ISTA, e que reúne a tecnologia hoje disponível no mundo para a produção comercial de tilápias.

Através de um adequado planejamento da produção em fases e ajuste do manejo nutricional e alimentar às diversas fases de de-senvolvimento e sistemas de cultivo, as tilápias podem ser produzidas com custos e rentabilidades mais atrativos do que a grande maioria das espécies de peixes cultivadas no Brasil.

Para que isto seja possível, os piscicultores e técnicos devem

Por: Eng° Agr° Fernando Kubitza (Ph. D.)

Méd. Vet. Ludmilla M. M. KubitzaACQUA & IMAGEM SERVIÇOS

conhecer particularidades deste peixe no que tange à tolerância às condições adversas de qua-lidade da água; sua habilidade de aproveitamento do alimento natural, suas características de manejo e índices de desempenho. Neste artigo vamos sumarizar al-guns fundamentos e informações importantes ao planejamento da produção de tilápias em diferentes sistemas de produção.

TILÁPIAS:Parte I

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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000

Características das principais espécies de tilápia

Algumas das características que colocaram as tilápias no pódio das principais espécies cultivadas co-mercialmente são: 1) a facilidade de reprodução e obtenção de alevinos; 2) a possibilidade de manipulação hormonal do sexo para obtenção de populações masculinas; 3) a boa acei-tação de diversos tipos de alimentos; 4) a grande capacidade de aproveitar alimentos naturais em viveiros; 5) conversão alimentar entre 1 a 1,8; 6) bom crescimento em cultivo intensivo (5 a 500g em 4 a 5 meses); 7) grande rusticidade, suportando bem o manuseio intenso e os baixos níveis de oxigênio dissolvido na produção e, sobretudo, sua grande resistência às doenças; 8) a carne branca, de textura firme, sem espinhos, de sabor pouco acentuado e de boa aceitação.

Dentre mais de 70 es-pécies de tilápias, a maioria delas oriundas da África, quatro conquista-ram destaque na aqüicultura mundial: a tilápia de Moçambique Oreochromis mossambicus, a tilápia-do-Nilo Oreo-chromis niloticus; a tilápia azul ou tilápia áurea Oreochromis aureus e a tilápia de Zanzibar Oreochromis urolepis hornorum. Na Tabela 1 são resumidas as principais características destas espé-cies. Combinações entre estas espécies foram usadas para obtenção de tilápias híbridas, em particular as tilápias verme-lhas. As características destes híbridos são intermediárias, dependendo do grau de contribuição das espécies que lhe deram origem.

Qualidade da água na produção de tilápias

Dentro dos seus limites de tole-rância, as tilápias se adaptam bem às diferentes condições de qualidade de água. São bastante tolerantes ao baixo

oxigênio dis-solvido, convi-vem com uma faixa bastante ampla de aci-

dez e alcalinidade na água, crescem e até mesmo se reproduzem em águas salobras e salgadas e toleram altas concentrações de amônia tóxica comparadas à maioria dos peixes cultivados.

Oxigênio dissolvido. Alevinos de tilápia-do-Nilo de 10 a 25 gramas sobreviveram à exposição ao oxigênio dissolvido entre 0,4 a 0,7mg/litro por 3 a 5 horas, até quatro manhãs consecuti-vas, sem registro de significativa morta-lidade. Também há relatos desta tilápia tolerar oxigênio zero (anoxia) por até 6 horas. Apesar desta tremenda habilida-de em sobreviver algumas horas mesmo sob anoxia, tilápias freqüentemente expostas ao baixo oxigênio dissolvido ficam mais susceptíveis às doenças e apresentam desempenho reduzido. Quando a concentração de oxigênio dissolvido atinge 45 a 50% da saturação (aproximadamente 3 a 3,5 mg/litro, a 28-30°C), a tilápia-do-Nilo começa a reduzir sua atividade e, portanto, o consumo de oxigênio. Este parece ser um mecanismo regulador do consumo de oxigênio, compensando assim a redução do oxigênio na água. A con-

Tilápias Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2000

O autor do artigo, Fer-nado Kubitza com um exemplar de tilápia ni-lótica pesando 4,2 kg, criada em Porecatu

Tabela 1. Caracteristicas das espécies de tlápias mais cultivadas.

1 a 3 dias ocorre com tilápias em água com pH 3 e uma mortalidade de 50% foi regis-trada após 19 dias em água de pH 4. Quando exposta ao pH baixo, as tilápias apresen-

centração crítica de ox igên io ( g r a n d e desconfor-to) para a as tilápias está entre 20 a 10% da satura-ção a tem-peraturas entre 26 a 35°C, ou

seja, entre 1,6 a 0,7mg/litro.

pH. O pH da água no cultivo de tilápias deve ser mantido entre 6 a 8,5. Abaixo de 4,5 e acima de 10,5 a morta-lidade é significativa. Morte total entre

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tam sinais de asfixia (movimentos operculares acelerados e boquejamento na superfície). O corpo e as brânquias apre-sentam excesso de muco. Peixes mortos permanecem com a boca aberta e apresentam os olhos saltados, semelhantes aos sinais de morte por falta de oxigênio. Acidez excessiva causa aumento na secreção de muco, irritação e inchaço nas brânquias, culminando com a destruição do tecido branquial. Em viveiros com excesso de fitoplâncton (águas muito verdes) e baixa alcalinidade total (< 20mg de CaCO3/litro) o pH pode alcançar valores acima de 12 ao final da tarde em dias muito ensolarados. Isto pode inibir o consumo de alimento e, se ocorrer com freqüência, afetar o crescimento dos peixes. Mortalidade direta devido a esta elevação do pH geralmente não é observada, pois os peixes geralmente encontram conforto em águas mais profundas. No entanto, o elevado pH pode potenciar os problemas com toxidez por amônia e aumentar a susceptibilidade dos peixes às doenças, ao manuseio e transporte.

Amônia. Proveniente da própria excreção nitrogena-da dos peixes e da decomposição do material orgânico na água, a amônia está presente na água sob duas formas: o íon amônio NH4

+ (forma pouco tóxica) e a amônia NH3 (forma tóxica). Os kits de análise de água mensuram a amônia total na água, ou seja, NH4

+ e NH3 juntos. Para saber quanto da amônia total está na forma tóxica, é preciso medir o pH da água. Quanto maior for o pH, maior será a porcentagem de

amônia tóxica na amônia total. Assim, uma água com 2mg de amônia total pode conter apenas 0,0014mg de NH3/litro a pH 7 (0,7%) ou níveis tóxicos maiores que 1mg em água com pH acima de 9,3. Tabelas relacionando a porcentagem de amônia tóxica ao pH da água podem ser encontrados em livros de qualidade de água e nos manuais dos kits de aná-lises. A concentração de amônia não ionizada de 0,20mg/L deve servir como alerta no cultivo de tilápias. Mesmo sem observar mortalidade diretamente atribuída à toxidez por amônia, a exposição dos peixes a níveis sub-letais de amônia afeta a lucratividade do empreendimento, por comprome-ter o crescimento e a conversão alimentar, a tolerância ao manuseio e transporte e a condição de saúde dos peixes. As concentrações letais que mata 50% dos animais (LC50) dependem da espécie de tilápia, do tempo de exposição, do tamanho do peixe, da pré-exposição ou adaptação a níveis sub-letais de amônia, entre muitos outros fatores. A LC50 para 24 a 96h de exposição varia de 2,3 a 6,6mg de NH3/l. O monitoramento semanal da amônia e pH deve ser feito em viveiros e tanques com altos níveis de arraçoamento. Como o pH da água nos viveiros tende a subir ao longo do dia, as medições de amônia e pH devem ser feitas ao final da tarde, quando a probabilidade de ocorrer problemas com toxidez por amônia é maior.

Temperatura. Tilápias são peixes tropicais que apresentam conforto térmico entre 27 a 32°C (Figura 1). O manuseio e o transporte sob baixas temperaturas (<22°C), principalmente após o inverno, resultam em grande morta-lidade. Tilápias bem nutridas e que não sofreram estresse por má qualidade da água, toleram melhor o manuseio sob baixas temperaturas. Temperaturas acima de 32°C e abaixo de 27°C reduzem o apetite e o crescimento. Abaixo de 20°C o apetite fica extremamente reduzido e aumenta os riscos de doenças. Temperaturas abaixo de 14°C geralmente são

letais as tilápias.Salinidade. Em regiões onde a expansão da aqüicultura

só é possível com o uso de água salobra ou salgada o cultivo

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de tilápias tolerantes à salinidade é uma alternativa. A tilápia de Moçambique e a tilápia de Zanzibar apresentam grande tolerância à alta salinidade, crescendo e se reproduzindo de forma mais eficiente em águas salobras do que em água doce. Ambas são capazes de se reproduzir à sali-nidade acima de 32ppt (água salgada). A tilápia azul e a tilápia-do-Nilo também podem ser aclimatadas à água salgada. A tilápia-do-Nilo se reproduz normalmente em salinidades de até 15ppt. No entanto, a reprodução não ocorre a 30ppt (água salgada). O crescimento da tilápia azul e da tilápia-do-Nilo é maximizado é maximizado a salinidades ao redor de 10ppt. Além das particulari-dades de cada espécie, outros fatores parecem afetar a tolerância das tilápias à salinidade, entre muitos a estra-tégia de adaptação, a idade dos peixes no momento da transferência e a prévia exposição de ovos e pós-larvas à água de maior salinidade. Uma adaptação gradual, com o aumento da salinidade na ordem de 5ppt ao dia, resulta em melhor sobrevivência após a transferência para água salgada do que com a transferência direta. A tolerância à salinidade aumenta com a idade/tamanho do peixe. Para a tilápia vermelha da Flórida, a tolerância é maior aos 40 dias de vida, embora isto não exclua a necessidade de adaptação gradual. A tilápia-do-Nilo apresenta baixa tolerância até os 40-45 dias de vida. O tamanho parece ser mais importante do que a idade, no que diz respeito à tolerância à salinidade. Para a tilápia do Nilo, a tolerância máxima a salinidade parece ser atingida com alevinos maiores que 5cm.

Limites de produção no cultivo de tilápias

Os sistemas de produção utilizados no cultivo de tilápias são bastante diversificados em função: 1) da disponibilidade de recursos financeiros e insumos de produção; 2) do acesso e da viabilidade do emprego de tecnologia; 3) da disponibilidade de recursos hídricos; 4) da disponibilidade de área; 5) das condições climáticas prevalentes; 6) das particularidades do mercado consu-midor; 7) das características intrínsecas de cada empresa; entre outros fatores. Assim, os índices de produtividade, custos de produção e lucratividade são bastante distintos entre os diferentes sistemas de produção de tilápias. Por exemplo, biomassa entre 30 a 400kg de peixes/ha podem ser sustentadas em viveiros que não receberam qualquer aporte de nutrientes (ração ou fertilizantes). Viveiros nos quais os peixes são alimentados com ração, podem sustentar entre 4.000 a 40.000kg de peixe/ha, em função da qualidade da ração, uso ou não de aeração e intensidade de troca de água. Em outro extremo, 200kg de peixes/m3 (extrapolando, seriam 2.000t de peixes/ha) são produtividades comuns em tanques de alto fluxo e tanques-rede de pequeno volume.

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Capacidade de suporte e o concei-to de biomassa econômica

Independente dos sistemas de cultivo e das estratégias de produção adotadas, o conhecimento dos concei-tos e a quantificação da capacidade de suporte, biomassa crítica e biomassa econômica, bem como dos índices de desempenho das espécies cultivadas, é fundamental para o adequado plane-jamento e otimização da produção. Na Figura 1 é representado, graficamente, os conceitos de Biomassa Crítica, Biomassa Econômica e Capacidade de Suporte.

CAPACIDADE DE SUPORTE (CS). É a máxima biomassa de peixes capaz de ser sustentada em uma unidade de produção (viveiro, tanque-rede, raceway, etc). O crescimento dos peixes (ou da popula-ção de peixes) é zero no momento em que a capacidade de suporte foi atingida (Figura 1). Qualquer tentativa de superar este limite de biomassa sem incrementar a estratégia de cultivo pode resultar em perda parcial ou total da produção. A capacidade de suporte pode ser expressa em relação à área (kg/ha, kg/1.000m2 ou kg/m2) ou ao volume (kg/m3) da unidade de produção. A determinação da capacidade de suporte é feita com base nos resultados de cultivos anteriores ou pode ser estimada através dos dados de produção obtidos em outras piscicultu-ras ou mesmo obtidos em publicações técnicas.

BIOMASSA CRÍTICA (BC). Em algum momento do cultivo o crescimento diário dos peixes (ou da população de peixes) atinge um valor máximo, ou seja, o máximo ganho de peso possível por peixe (g/dia) ou por unidade de área (kg/ha/dia) ou volume (kg/m3/dia). Neste momento dizemos que a unidade de produção atingiu a sua biomassa crítica (Figura 1). A partir do ponto de biomassa crítica o cres-cimento dos peixes começa a ser cada vez mais reduzido até que o sistema atinja sua capacidade de suporte e os peixes parem de crescer.

BIOMASSA ECONÔMICA (BE). A biomassa econômica corresponde a uma biomassa entre a capacidade de suporte e a biomassa crítica (Figura 1). A biomassa econômica representa o valor de biomassa onde há o maior lucro acumulado durante o cultivo (máximo lucro possível) e o ponto onde a despesca (parcial ou total) deve ser realizada. Avançar o cultivo além da biomassa econômica resulta em redução da receita líquida por área ou volume, ou seja, diminuição no lucro, além de gasto adicional de tempo com a ocupação desnecessária da unidade de produção.

Figura 1.Representação gráfica dos pontos de Biomassa Crítica, Biomassa Econômica e Capacidade de Suporte, em viveiros de baixa renovação de água e sem aeração, usados na de peixes ali-mentados com ração.

O ponto de biomassa econômica de uma unidade de produção depende, basicamente, do custo de produção e do valor de mercado do peixe produ-zido. Por hora vamos assumir que, em geral, a biomassa econômica gira em torno de 60 a 80% da capacidade de suporte. A capacidade de suporte dos sistemas de produção em tanques e viveiros com baixa renovação de água é determinada, em sua ordem, pelos seguintes fatores: (1). Quantidade de alimento disponível; (2). Qualidade do alimento; (3). Níveis críticos de oxigênio dissolvido; (4). Concen-tração de amônia e gás carbônico na água. Tilápias são reconhecidas pela grande habilidade em reduzir a carga orgânica nos viveiros, quer pelo eficiente consumo de plâncton,

quer pelo consumo de outros resíduos orgânicos. Soma-se a isto sua grande capacidade em tolerar baixos níveis de oxigênio dissolvido. Isto explica a maior capacidades de suporte obser-vada na produção de tilápias quando comparada a maioria dos peixes de respiração branquial. Na Tabela 2 são sumarizados os valores de capacidade de suporte observados em diferentes sistemas de produção de tilápia. Tam-bém é apresentada uma estimativa dos valores de biomassa econômica para estes mesmos sistemas.

A produção em fases e o uso eficiente do espaço

A produção em fases (Figura 2) otimiza o uso das unidades de produção (viveiros, tanques-rede e raceways). Na Tabela 3 é apresentado uma comparação onde, com a mesma área de produção, uma piscicultura pode produzir 38% mais tilápias utilizando 3 fases, contra um única fase de produção. O funda-mento básico é a manutenção de uma biomassa sempre próxima ao ponto de biomassa crítica, o que permite um arraçoamento médio mais elevado e maior ganho diário em biomassa (kg/ha/dia ou kg/m3/dia). Em cada fase, a estocagem deve ser feita a uma biomas-sa de peixes logo abaixo da biomassa crítica e a despesca realizada quando a

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biomassa econômica for atingida. No ciclo seguinte repete-se este mesmo procedimento (Figura 2). A adoção da produção em fases exige, porém, um uso mais intenso de mão-de-obra e um sistema eficiente de movimentação dos peixes dentro da piscicultura. Os resultados, no entanto, compensam este maior empenho.

Sistemas de produção de tilápias

* Sistemas de cultivo: 1. Extensivo ou rudimentar; 2. Adubação orgânica e/ou inorgânica; 3. Alimento suplementar com ou sem adubação; 4. Ração com-pleta em viveiros de baixa renovação de água; 5. Ração completa e aeração de emergência com baixa renovação de água; 6. Ração completa e troca parcial de água com aeração; 7. Recirculação de água com aeração; 8. Tanques de alto fluxo de água (raceways); 9. Tanques-rede de pequeno volume (até 6m3).

Viveiros adubados. A tilápia pode ser cultivada em viveiros adubados com fertilizantes inorgânicos, estercos animais e subprodutos vegetais. A calagem é utilizada para corrigir a acidez, a alcalinidade e a dureza da água sempre que necessário. A adubação promove a produção de alimento natural, notadamente o plâncton, eficientemente aproveitado pelas tilápias. A capacidade de suporte pode variar entre 1.000 a 3.700 kg/ha, em função da qualidade e da quantidade dos fertilizantes aplicados. A adubação execessiva compromete a qua-lidade da água, prejudicando o desenvolvimento e a sobrevivência dos peixes.

Adubação e alimento suplementar. A substitui-ção de parte dos fertilizantes por um alimento suplemen-tar aumenta a oferta de alimento e reduz a carga orgânica nos viveiros, permitindo o aumento na capacidade de suporte. Uma mistura de farelos, restos de restaurantes e varejões, e até mesmo rações peletizadas de baixo custo são usados como alimento suplementar. No alimento na-tural os peixes obtém aminoácidos essenciais, vitaminas e minerais que faltam no alimento suplementar. Apesar do menor impacto sobre a qualidade da água comparado ao uso exclusivo de adubos, os alimentos suplementares geralmente apresentam baixa estabilidade na água e reduzida digestibilidade, favorecendo um considerável acúmulo de nutrientes e resíduos nos viveiros. As fezes dos peixes e as sobras de alimento contribuem com o desenvolvimento do plâncton. O excesso de fitoplâncton e a degradação da matéria orgânica reduz o oxigênio na água, particularmente à noite. Assim, a capacidade de suporte é limitada entre 2.500 a 8.000kg/ha, dependen-do da qualidade do alimento suplementar utilizado e da quantidade de adubos aplicada.

Viveiros com baixa renovação de água e ração completa. O próximo passo para incremento da capacia-de de suporte é o uso de rações completas (que reúnem todos os nutrientes exigidos pelos peixes). Isto diminui a depêndencia quanto ao alimento natural. No entanto, a

Figura 2.Representação da produção de tilápias em fase única e em três fases.

Tabela 3. Expectativa de produtividade no cultivo de tilápia do Nilo utilizando estratégias de produção com uma única fase (1g a 800g), ou uma estratégia de produção com 3 fases (1g _ 30g _ 200g _ 800g).

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tilápia ainda assim se beneficia do alimento natural disponível. Adubar os viveiros nas fases iniciais também traz benefícios às tilápias. A adubação é interrompia com o avanço do cultivo, pois as fezes e a excreção nitrogenada dos peixes são suficientes para manter uma adequada produção de plâncton e outros organismos. O excesso de ma-terial orgânico nos viveiros acelera a degradação da qualidade da água e prejudica o crescimento e a sobrevivência dos peixes. A capacidade de suporte de tilápias em viveiros com ração com-pleta, baixa renovação de água e sem aeração varia entre 6.000 a 10.000kg/ha, sendo limitada pela concentração de oxigênio dissolvido, a qual

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Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D., especialista em Nutrição e Produção de Peixes

1 - Tanque-rede: Produção, Problemas e Soluções Dias: 14-15/07/00

• Fundamentos; planejamento e controle;• Manejo nutricional e alimentar; índices de produção;• Introdução aos problemas no cultivo de peixes em tanques-rede.• Seminário participativo com técnicos e produtores/empresários apresentando os problemas práticos e soluções encontradas no cultivo de peixes em tanques -rede. • Debate sobre as perspectivas futuras para a atividade no Brasil.

2- Planejamento e Economia Aplicados à PisciculturaDias: 28-30/07/00

• Planejamento e controle da produção;• Controle do crescimento dos peixes;• Capacidade de suporte, biomassa crítica e biomassa econômica nos diferentes sistemas de produção;• Determinação da biomassa econômica; • O uso dos índices de desempenho e da biomassa econômica no planejamento da produção; • Noções aplicadas de orçamento, fluxo de caixa, cálculo da depreciação e inventários; avaliação do desempenho econômico em pisciculturas.• Exercícios Práticos.

3 - Nutrição e Alimentação de Peixes CultivadosDias: 04-05/08/00

• Anatomia / fisiologia digestiva; hábito alimentar e exigências nutricionais dos peixes.• Processamento e granulometria das rações.• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes.• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes.• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixes.Prático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das rações; en-saio de estabilidade das rações na água. Discussões de problemas práticos.

4 - Parasitoses e Doenças dos Peixes CultivadosDias: 25-26/08/00

• Condições que favorecem a ocorrência de doenças.• Mecanismos de defesa dos peixes e modos de transmissão de doenças.• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento das principais doenças e parasitoses dos peixes.Prático: Técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamentos e agentes profiláticos. Discussões de problemas práticos enfrentados por técnicos e criadores de peixes.

5 - Técnicas de Transporte de Peixes VivosDias: 15-16/09/00

• Fisiologia aplicada ao transporte.• Fatores que o transporte.• Condicionadores e profiláticos.• Tanques e Equipamentos.• Procedimentos rotineiros.• Cargas para alevinos e peixes adultos vivos.• Previsão do consumo de oxigênio no transporte.Prático: Ensaios dinâmicos de transporte; difusores e equipamentos; condiciona-dores e profiláticos.

Cursos Avançados em Piscicultura em Jundiaí - SP

Inscrição: Incluído material didático e almoços (sexta-feira e sábados): R$ 300,00 com 7 dias de antecedência ao curso;

R$ 350,00 na semana que antecede, ou no dia do curso.

Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 1586 c/c 08120-8Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante

de depósito para o fone/fax: (11) 7397-2496

Aqua & Imagem Serviç[email protected]

Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 18:00hs; Domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs

diminui progressivamente com o aumento na quantidade diária de ração fornecida. Portanto, a capacidade de suporte é limitada pelo máximo arraçoamento que pode ser aplicado sem comprometer o oxigênio dissolvido na água. Em viveiros para tilápia isto gira em torno de 60 a 100kg de ração/ha/dia, dependendo da qualidade da ração utilizada.

Aeração de viveiros e produção de tilápias. Em viveiros com baixa renovação e uso de ração completa, a aeração de emergência permite aumentar o arraçoamento para 120kg/ha/dia ou mais. No entanto, mais que 120kg de ração/ha/dia pode elevar a concentração de amônia na água. Níveis tóxicos de amônia podem ocorrer ao final da tarde com o pH da água acima de 8,5. Embora a aeração segure o oxigênio dentro de valores aceitáveis, a amônia reduzirá o desempenho dos peixes. A capacidade de suporte é atingida entre 10.000 a 20.000kg/ha, em função da qualidade da ração e da potência de aeração empregada. Em Honduras, Coddington e Green (1993) observaram melhoria de 18 a 21% no crescimento, 3 a 5% na sobrevivência e 21 a 25% na produção de tilápias em viveiros com aeração. Iniciar a aeração quando a concentração de oxigênio atingia 30% da saturação (ao redor de 2,4mg/litro) não melhorou o de-sempenho produtivo ou a sobrevivência da tilápia-do-Nilo, comparado ao início da aeração a 10% da saturação (ao redor de 0,8mg/litro). Para fins práticos, podemos esperar um incremento de 20 a até 60% na capacidade de suporte de tilápias com o uso de aeração de emergência. Deste ponto em diante, o incremento na capacidade de suporte depende da renovação de água.

Viveiros com renovação de água e aeração. A reno-vação de água diminui a a carga orgânica e a concentração de amônia na água, o que permite aumentar o araçoamento e, portanto, a capacidade de suporte. Muitos sistemas com renovação parcial de água usam aeração, geralmente a partir do ponto de biomassa crítica. A capacidade de suporte pode chegar a 40.000kg/ha, em função da taxa de renovação de água, da existência ou não de aeração, da forma como a aeração é aplicada, entre muitos outros fatores. Em Israel, biomassa, de tilápia ao redor de 70.000kg/ha foram alcan-çadas em tanques com 3 trocas parciais de água por dia para remoção das fezes.

Produção de tilápias em raceways. “Raceways” são tanques com alto fluxo de água, entre 1 a 20 trocas totais por hora (Figura 3). Os resíduos (fezes e sobras de rações) são arrastados com a corrente de água para fora do raceway. A capacidade de suporte para tilápias em raceways 60 a 200kg/m3, em função da renovação de água disponível e do uso ou não de aeração. O oxigênio dissolvido é o primeiro fator limitante da produção em raceways. Berman (1998) descreve o sistema de produção da Aqua Corporation International S.A., na Costa Rica. Cerca de 4.200 toneladas de tilápias de 900g são produzidas anualmente. As últimas duas fases de

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produção (50 a 300g e 300 a 900g) são feitas em raceways, com uma biomassa final ao redor de 70kg/m2.

Sistemas de recirculação de água. A recirculação é uma boa alter-nativa quando a água for limitada ou quando há necessidade de aquecimento da água. Há necessidade de instalar

filtros mecânicos para remoção dos resíduos orgânicos e de filtros bioló-gicos para transformar a amônia em nitrato (Figura 4).

O sistema de cultivo “Dekel”, desenvolvido em Israel e difundido em vários países, serve como um bom exemplo de um sistema de recircula-ção utilizado no cultivo de tilápias

Figura 3.Representação esquemática de sistemas de alto fluxo.

(Figura 5). Neste sistema os peixes são produzidos em tanques circulares ou hexagonais com fundo cônico para facilitar a remoção dos resíduos orgâni-cos (fezes, restos de ração e plâncton). Os tanques são escavados em terra e podem ou não ser revestidos. Aeradores de pá são usados para oxigenação e promoção de um movimento circular da água que concentra os resíduos or-gânicos ao redor de um dreno central para eliminação através de descargas de água periódicas. A água que deixa os tanques de produção é conduzida a um

Figura4.Representação esquemática de um sistema de recirculação de água.

reservatório (geralmente um viveiro ou represa), onde ocorrem a sedimentação dos resíduos orgânicos, os processos de nitrificação e a reoxigenação parcial da água através da fotossíntese. No reservatório geralmente são estocados peixes como a carpa comum e mesmo tilápias, que se beneficiam dos resíduos

Produção de tilápias em gaio-las. No cultivo de tilápias em gaiolas a produção por ciclo pode variar de 30 a 300kg/m3, em função do tamanho da gaiola (ou tanque-rede) utilizada. Gaiolas de baixo volume (até 6m3) permitem produzir 200 a 300kg de tilápia/m3 por ciclo. Alguns recordes foram estabelecidos em gaiolas de baixo volume/alta densidade. Na China 680kg de carpas foram produ-zidos em gaiola de 1-m3 (Schmittou, comunicação pessoal). No Brasil, a biomassa de tilápias em gaiolas de 4-m3 pode chegar a 480kg/m3 (Ivantes, comunicação pessoal). Estes valores devem estar próximos à capacidade de suporte em gaiolas de baixo volume. Em outro extremo estão os tanques-rede de maiores dimensões (acima de 10m3), onde a produção pode variar entre 30 a 100kg/m3. Esta diferença se deve a maior taxa de renovação de água em tanques-rede de baixo volume comparado aos de grande volume, per-mitindo a manutenção de uma qualidade de água melhor no interior dos tanques-rede. O Dr. Holmer R. Schmittou foi o idealizador do sistema de tanque-rede de baixo volume e alta densidade, hoje bastante popular no cultivo de tilápias em diversos países, notadamente a Chi-na e o Brasil. No cultivo em gaiolas, o acesso dos peixes ao alimento natural é limitado. Assim, para se obter ade-quado crescimento e saúde dos peixes ao longo do cultivo é necessário o uso de rações nutricionalmente completas e de alta qualidade.

Figura 5.Representação esquemática do sis-tema de recirculação tipo “Deckel” desenvolvido em Israel.

Tilápias Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2000

orgânicos e do alimento natu-ral disponível. Do reserva-tório, a água retorna, por bombeamento ou por gravida-de, aos tanques de produção de tilápias. Bio-massas entre 10 a 25 kg de

tilápia/m2 (100.000 a 250.000 kg/ha) são mantidas nos tanques de produção. No entanto, quando considerada a área ocupada pelo viveiro-reservatório, a capacidade de suporte cai para 3,9 a 4,5 kg/m2 (39.000 a 45.000 kg/ha). Em geral, a capacidade de suporte no cultivo de tilápias com recirculação de água gira entre 20 a 60kg/m3. O risco

de perdas de peixe por falha instrumental ou por doenças aumenta nos sistemas de re-circulação, exigindo do piscicultor uma atenção maior quan-to aos pontos críticos do sistema.

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O conceito de capacidade de suporte no cultivo de peixes em gaiolas. Os limites de capacidade de suporte e os níveis de arraçoamento estabeleci-dos para cultivo em viveiros servem como referência para definir os limites de capacidade se suporte em represas com gaiolas. Por exemplo, um açude suporta 6.000kg de peixes/ha e um ar-raçoamento de até 60kg de ração/ha/dia quando os peixes são cultivados soltos. Se optarmos por gaiolas, A biomassa de todos os peixes confinados não deve exceder estes limites. Por segurança, a capacidade de suporte nos viveiros com gaiolas constuma ser mantida abaixo dos limites para peixes soltos. A van-tagem do uso de gaiolas é a facilidade de colheita dos peixes. Para pequenos açudes e viveiros utilizados com gaiolas, a biomassa econômica deve ficar entre 2.500 a 3.500kg/ha quando a renovação de água for limitada. O arraçoamento é mantido entre 30 a 40kg/ha/dia.

Planejando a produção de tilápias

Para planejar a produção de tilápias, o piscicultor precisa definir, com base nos resultados de cultivos anteriores, ou de acordo com os sis-temas de produção detalhados neste artigo, a capacidade de suporte e a biomassa econômica do seu sistema. Adicionalmente, precisa ter uma noção dos índices de desempenho das tilápias nas diferentes fases de desenvolvimento (Tabela 4).

Figura 6.Esquemática de gaiolas de baixo volume (até 6m3).

Planejamento da produção de tilá-pias em viveiros

Tabela 4. Expectativas de ganho de peso (GDP, em g/peixe/dia) e da duração (em dias) de algumas fases no cultivo da Tilápia-do-Nilo.

Para calcular a necessidade de área em cada fase é preciso conhecer a relação entre a área das mesmas. Na despesca da Fase 1, são capturados 22

peixes/m2. Isto é suficiente para esto-car 2,9m2 (22/7,6) de viveiro da Fase 2. Assim, a relação entre as áreas da Fase 1 e Fase 2 é de 1 para 2,9 (ver a Tabela 5). A despesca da Fase 2 rende 7,2 peixes/m2, o suficiente para estocar 3,6m2 (7,2/2) de viveiros na Fase 3. No entanto, os viveiros da Fase 2 giram um ciclo de 60 dias contra 120 dias na Fase 3. Assim, quando os viveiros da Fase 2 completarem mais um ciclo será necessário disponibilizar um segundo grupo de viveiros da Fase 3. Portanto, cada 1m2 da Fase 2 abastecerá 7,2m2 (3,6 x 2) da Fase 3. Mantendo a relação entre as áreas das 3 fases teremos: Fase 1: 1,0m2; Fase 2: 2,9m2; e Fase 3: 21,0m2 (2,9m2 x 7,2m2). Agora podemos dividir

Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2000 Tilápias

Tabela 5. Plano de produção de tilápia-do-Nilo em viveiros de baixa renovação, sem aeração e com o uso de ração completa.

No exemplo a seguir está o pla-nejamento da produção de tilápias em viveiros com o uso de ração completa, aeração de emergência e baixa renova-ção de água. Estabelecemos a biomassa econômica ao redor de 8.500 kg/ha na Fase 3 (fase final) e 6.500 kg/ha nas Fases 1 e 2. Usamos a expectativa média desempenho (Tabela 4) e deixamos 10 dias extras para completar a despesca e realizar a estocagem dos viveiros nas Fases 1 e 2 (duração do ciclo= 50 dias + 10 dias = 60 dias) e mais 20 dias para a Fase 3 (duração do ciclo= 100 dias + 20 dias). A expectativa de sobrevivência é de 85%, 95% e 98% para as fases 1, 2 e 3, respectivamente. Assim, montamos a Tabela 5.

a piscicultura em partes: 1 parte para a Fase 1; 2,9 partes para a Fase 2; e 21 partes para a Fase 3. A soma de todas as partes corresponde a 24,9 (100%). A Fase 1 ocupará 4% da área total (1x100/24,9); a Fase 2 ocupará aproximados 12% (2,9x100/24,9) e, a Fase 3 ocupará 84% da área total (21x100/24,9). Vamos supor que exista uma piscicultura já im-

plantada com uma área total de viveiros de 40 hectares. A área total de viveiros alocada para as Fases 1, 2 e 3 será 0,16ha (4% de 40ha), 4,8ha (12% de 40ha) e

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33,6ha (84% de 40ha). O potencial de produção de tilápias de 450g da pisci-cultura em questão pode ser calculado da seguinte maneira:

· Os viveiro da Fase 3 permanecem ocupados 120 dias por safra, ou seja, podem produzir 3 safras por ano (365dias/120dias);

· Se todos os 33,6 hectares destina-dos à Fase 3 forem utilizados, o potencial de produção anual será: 33,6 ha x 3 safras x 8,5t/ha/safra = 857 toneladas.

No entanto, nem sempre todos os viveiros disponíveis se ajustam perfei-tamente ao planejamento inicialmente realizado. O piscicultor ou o técnico deverá avaliar como os viveiros estão distribuídos dentro da propriedade e alocá-los às fase de cultivo que melhor convier, de forma a atender satisfatoria-mente a logística de produção. Os vi-veiros também apresentam dimensões variadas, o que dificulta a alocação dos mesmos nas proporções ideais entre as fases de cultivo. Deste modo, nem sem-pre é possível aproveitar com 100% de eficiência a área de produção disponí-vel. Outros fatores também contribuem com a diminuição da eficiência de uma piscicultura. Por exemplo, os atrasos na entrega de alevinos e na venda dos peixes terminados; mortalidades inu-sitadas de alevinos após o transporte; entre muitos outros. O piscicultor/técnico deve estar atento e antecipar tais problemas, assegurando estoques reguladores de alevinos, antecipando compromissos de venda, entre outros cuidados.

Planejamento da produção de tilápias em gaiolas

Com os mesmos dados do exem-plo anterior podemos planejar a pro-dução de tilápias em gaiolas. Os cálculos seguem a mesma lógica do planejamento para viveiros. Vamos supor que dispomos de um açude de

20 hectares, com renovação mínima de água. O primeiro passo é estabe-lecer a biomassa econômica para este açude. Neste exemplo, será de 2.500 kg/ha, ou seja, em momento algum a soma da biomassa de todas as gaiolas deve exceder a 50 toneladas no açude em questão. Com esta biomassa eco-nômica, o arraçoamento diário não deverá exceder 40 a 50kg de ração/ha. Com base nos níveis de oxigênio dissolvido pela manhã, o piscicultor poderá decidir, ao longo do cultivo, sobre o aumento ou redução no número de gaiolas no açude. Cada gaiola tem 4m3 de volume útil. Os alevinos serão estocados com peso médio ao redor de 4g. Na Tabela 6 segue um resumo da estratégia de produção e índices de desempenho esperados em cada fase do cultivo.

A relação entre volumes é a porcentagem do volume de gaiolas destinadas a cada fase é calculada da mesma forma que no exemplo anterior. Portanto, a as Fases 1, 2 e 3 utilizarão 7, 11 e 82% das gaiolas, respectivamente. Com base nesta proporção vamos es-tabelecer um módulo de gaiolas como detalhado a seguir:

Fase 1: 7 gaiolas, equivalente a Biom. mé-dia de 7 x 4m3 x 53kg/m3 = 1.484kg;Fase 2: 11 gaiolas, equivalente a Biom. mé-dia de 11 x 4m3 x 102kg/m3 = 4.488kg;

Fase 3: 82 gaiolas, equivalente a Biom. média de 82 x 4m3 x 121kg/m3 = 39.688kg.

A biomassa total do módulo é 45.660kg, o que representa 91% (0,91) das 50 toneladas estabelecidas como biomassa econômica para o açude. Assim, poderemos ter no açude:

Fase 1: 7 gaiolas / 0,91 = 8 gaiolas (8x4x53= 1.696kg);Fase 2: 11 gaiolas / 0,91 = 12 gaiolas (12x4x102= 4.896kg);Fase 3: 82 gaiolas / 0,91 = 90 gaiolas (90x4x121= 43.560kg).

No total seriam 50.152kg de pei-xes estocados em um dado momento, o que está bem próximo da biomassa econômica proposta.

Esperamos que esta primeira parte tenha ajudado o leitor a conhecer um pouco mais sobre as tilápias, suas particularidades quanto à qualidade de água e a capacidade de suporte para este peixe em diferentes sistemas de cultivo. Com base nestas informações básicas, já é possível iniciar o planejamento da produção na próxima safra. Na segunda parte deste artigo traremos sugestões quanto ao manejo alimentar em cultivo intensivo e uma resenha das principais doenças registradas na produção comer-cial de tilápias.

Tilápias Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2000

Tabela 6. Estratégias de produção e expectativa de desempe-nho para o planejamento da produção no cultivo de tilápias em gaiolas em 3 fases.

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O s alimentos podem compor 40 a 70% do custo de produção de ti-

lápias, dependendo do sistema de cultivo empregado, da escala de produção, da produtividade alcançada, dos preços dos outros insumos de produção, dentre outros fatores. Os produtores podem minimizar de forma significativa este custo com a adoção de um manejo alimentar adequado e uso de rações com qualidade compatível com as diferentes fases de desenvolvimento dos peixes e com o sistema de cultivo utiliza-do. Através de uma adequada nutrição e manejo alimentar é possível:

· Melhor explorar o crescimento dos pei-xes e aumentar o número de safras anuais.

Por: Eng° Agr° Fernando Kubitza (Ph. D.) Méd. Vet. Ludmilla M. M. KubitzaACQUA & IMAGEM SERVIÇOS – Jundiaí, SP

Inúmeras são as variáveis e processos que envolvem a qualidade final do peixe para consumo. Neste artigo serão apresentados os aspectos básicos do manejo nutricional e alimentar, bem como as principais parasitoses e doenças no cultivo comercial de tilápias. O leitor poderá obter informações mais detalhadas sobre estes assuntos nas edições 52 e 53 da Revista Panorama da Aqüicultura, no livro “Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes Cultivados” 3a. Ed. (Kubitza e Kubitza 1999) e no livro “Tilápia: tecnologia e planejamento na produção comercial” (Kubitza 2000) que será lançado no 5 ISTA -Simpósio Internacional sobre Tilápia na Aqüicultura.

· Melhora a eficiência alimentar, mini-mizando os custos de produção.· Reduzir o impacto poluente dos efluen-tes da piscicultura intensiva, aumentando a produtividade dos sistemas de produção.· Obter melhor saúde e maior tolerância às doenças e parasitoses.· Melhorar a tolerância dos peixes ao manuseio e ao transporte vivo.· Incrementar o desempenho reprodutivo e a qualidade das pós-larvas e alevinos.· E, finalmente, otimizar a produção e maximizar as receitas da piscicultura.

Com a recente intensificação do cultivo das tilápias em diversos países, in-clusive no Brasil, utilizando tanques-rede, raceways e tanques com recirculação de água (sistemas onde a disponibilidade de alimento natural é limitada), houve um au-mento na incidência de desordens nutricio-nais devido ao inadequado enriquecimento vitamínico e mineral das rações. Estes sistemas mais intensivos demandam o uso de rações nutricionalmente completas, com enriquecimentos vitamínicos e minerais. Mais informações sobre as exigências nutricionais e os subsídios à formulação de rações para tilápias podem ser encontrados no artigo de Kubitza nas edições 52 e 53 desta revista. Neste artigo nos limitaremos

Parte II

Qualidade da água, sistemas de culti-vo, planejamento da produção, manejo nutricional e alimen-tar e sanidade.

MANEJO NUTRICIONAL E ALIMENTAR

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aos aspectos práticos do manejo alimentar no cultivo intensivo de tilápias.

A importância do alimento natural na nutrição de tilápias

O alimento natural dos peixes é composto de inúmeros organismos vegetais (algas, plantas aquáticas, frutos, sementes, entre outros) ou animais (crustáceos, lar-vas e ninfas de insetos, vermes, moluscos, anfíbios, peixes, entre outros). Algumas espécies de tilápias, em particular a tilápia-do-Nilo, aproveitam de forma eficiente o fito e o zooplâncton. Em viveiros com baixa renovação de água, cerca de 50 a 70% do crescimento de tilápias foi atribuído ao con-sumo de alimentos naturais, mesmo com o fornecimento de ração suplementar. Este detalhe explica o menor custo de produção de tilápias em viveiros de baixa renovação de água comparado ao cultivo intensivo em tanques-rede e raceways. O plâncton é rico em energia e em proteína de alta qualidade e serve como fonte de minerais e vitaminas no cultivo de tilápia em viveiros. Estudos realizados em Israel demonstraram, com base na resposta em crescimento, não ser necessário o enriquecimento vitamínico em rações usadas no cultivo de tilápias em viveiros com disponibilidade de alimentos naturais. No entanto a suplementação vitamínica das rações melhorou a sobre-vivência dos peixes. Em Israel, apenas as rações destinadas às pós-larvas e ao cultivo em sistemas mais intensivos recebem suple-mentação vitamínica completa. Esta suple-mentação também é feita em rações usadas no período de inverno e no tratamento de peixes doentes ou sob estresse.

Rações suplementares. A produção de tilápias em vivei-

ros de baixa renovação de água pode ser feita de forma eficaz com o uso de rações suplementares (nutricionalmente incom-pletas). De um modo geral estas rações não dispõem de um correto balanço em ami-noácidos essenciais, apresentam menores níveis protéicos (22 a 24%), maior relação energia/proteína e não são suplementadas, ou o são apenas parcialmente, com premix vitamínico e mineral.

Rações nutricionalmente completas. Estas rações devem ser empre-

gadas em sistemas de produção onde a disponibilidade ou o acesso ao alimento

natural é limitado. O sucesso do cultivo de tilápias em raceways ou em tanques-rede depende do uso de rações completas. Estas rações também são necessárias em viveiros quando a biomassa ultrapassa 6.000 kg/ha. Nas rações completas todos os nutrientes devem estar presentes de forma equilibrada e em quantidades que supram as exigências dos peixes para um adequado crescimento, saúde e reprodução. O enriquecimento em vitaminas e microminerais é completo.

Programa nutricional e alimentar para tilápias

Na Tabela 1 são apresentadas su-gestões quanto a composição nutricional básica, a necessidade de suplementação vitamínica e mineral, a forma de apresen-tação e o tamanho dos peletes em rações para tilápias em diferentes fases de desen-volvimento e sistemas de cultivo.

Manejo alimentar na reversão sexual. A reversão sexual é aplicada em

pós-larvas com 9 a 13mm. A ração com 30 a 60mg de metiltestosterona/kg deve ser fornecida em 5 a 6 refeições diárias. Durante uma refeição os peixes devem ser alimentados até serem saciados. Para tanto, é preciso que o tratador observe atentamente o consumo e a atividade dos peixes, evitando excessiva sobra de ração nas unidades de reversão. O uso de anéis de alimentação facilita o manejo alimentar em hapas e permite uma boa observação do consumo quando a reversão é realizada em unidades de maiores dimensões (hapas, tanques e viveiros). Os peixes devem receber rações com metiltestosterona por um período de

28 dias. Cerca de 600 a 800 gramas de ração são necessárias para 1.000 alevinos de 4 a 5 cm produzidos.

Nutrição e manejo alimentar na recria e engorda.

A importância do alimento natural, notadamente o plâncton, no crescimento das tilápias já foi ressal-tado anteriormente. Muitos sistemas de produção combinam os benefícios do alimento natural com o uso de rações suplementares ou completas, visando um aumento na produtividade e melhora na conversão alimentar. Os piscicultores e nutricionistas devem estar atentos para ajustar a densidade dos nutrientes nas rações e o manejo alimentar em função do sistema de cultivo adotado, otimizando a pro-dutividade e minimizando os custos de produção.

Manejo alimentar na recria (5 a 100g) em viveiros com plâncton.

Enquanto a biomassa de ti-lápias em viveiros de recria com plâncton não ultrapassar 4.000 kg/ha, rações com 24 e 28% de proteína, 2.600 a 2.800 kcal de ED/kg e sem enriquecimento vitamínico e mine-ral podem ser utilizadas mantendo adequado crescimento e conversão alimentar. A taxa de alimentação deve ser ajustada entre 4 a 2% do peso vivo ao dia, do início ao final desta fase, sendo estas quantidades divididas em 2 refeições diárias. O uso de rações flutuantes permite melhor ajustar

Tabela 1. Sugestões quanto aos níveis de proteína bruta (PB), energia digestível e suplementação vitamínica (Sup. vitam.) e mineral (min.) em rações para tilápias nas diferentes fases de desenvol-vimento, cultivadas em viveiros com plâncton (VIV) ou em tanques-rede e raceways (TR/RW).

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a quantidade de ração fornecida. Ali-mentar os peixes tudo o que eles podem consumir numa refeição maximiza o crescimento, o que é desejado nas fases iniciais. Porém, tal prática pode não ser a melhor estratégia do ponto de vista econômico, principalmente nas fases de engorda. Na Tabela 2 pode ser observado o efeito dos níveis de alimentação sobre o crescimento e a conversão de tilápia. Níveis de alimentação entre 4 a 2% do PV ao dia podem parecer, à princípio, insuficientes para peixes entre 5 a 100 gramas. No entanto, não deve ser esque-cido que os peixes consomem plâncton o tempo todo, complementando o nível de ingestão de alimentos. A conversão alimentar na recria em tanques com plâncton deve ficar abaixo da unidade, com valores de 0,8 sendo bastante co-muns. Se isto não se confirmar, pode estar ocorrendo problemas na qualidade da ração, qualidade da água, manejo alimentar, produção de plâncton, qua-lidade dos alevinos, doenças, ou baixas temperaturas.

Quando a biomassa nos viveiros ultrapassar os 4.000 kg/ha, o plâncton

disponível não é capaz de complementar a nutrição e manter os mesmos índices de desempenho dos peixes na recria. A partir deste ponto é recomendável o uso de rações com 28 a 32% de proteína, energia digestível entre 2.900 a 3.200 kcal/kg (Tabela 1) e suplementação mínima de vitaminas e minerais, confor-me recomendado por Kubitza (Revista Panorama da Aqüicultura, vol. 9, nos. 52 e 53 1999). Deve ser esperada uma

Tabela 2. Influência da taxa de alimentação diária sobre o ganho de peso (GDP) e conversão ali-mentar (Conv. alim.) de alevinos de tilápia do Nilo em aquários (Xie et al 1997) e de tilápia ver-melha da Flórida, híbrido entre O. hornorum e O. mossambicus, cultivadas em tanques-rede (Cla-rk et al 1990).

piora nos índices de conversão alimen-tar a partir deste ponto, devido tanto à diminuição no plâncton disponível por animal, quanto à deterioração progres-siva na qualidade da água. Ainda assim, conversão alimentar entre 1,0 e 1,2 deve ser obtida. Sob condições adequadas de temperatura da água (28 a 32°C), tilápias de 5g devem atingir o peso de 100g entre os 60 a 70 dias de recria em viveiros com plâncton. Se isto não ocorrer, confira as

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densidades de estocagem, a qualidade da água e das rações, a abundância de alimento natural, o manejo alimentar e a qualidade dos alevinos.

Manejo alimentar na recria (5 a 100g) em tanques-rede e raceways.

Em tanques-rede e raceways a disponibilidade de alimento natural é limitada e os peixes estão submetidos a uma maior pressão de produção e estresse. Portanto, é recomendável que as rações sejam mais concentra-das em proteínas (36 a 40%), energia digestível (3.200 a 3600 kcal/kg) e recebam um enriquecimento mineral e vitamínico ainda maior, conforme sugerido na Tabela 1. Descuido com estes detalhes pode resultar em grandes perdas econômicas devido ao reduzido crescimento e conversão alimentar, aos distúrbios nutricionais e a uma maior susceptibilidade dos peixes às doenças. A taxa de alimentação diária deve ser ajustada para 6 a 3% do peso vivo ao dia, do início ao final desta fase. Esta quantidade de alimento deve ser dividi-da em 3 refeições. O consumo pode ser aferido periodicamente alimentando os peixes tudo o que eles puderem consu-mir durante dois ou três dias. Utilizando a média de consumo nestes dias, a taxa de alimentação deve ser ajustada para 80 a 90% deste valor. Quando o objeti-vo for máximo crescimento, mesmo em detrimento da conversão alimentar, os peixes devem ser alimentados à vonta-de. A conversão alimentar nesta fase deve girar entre 1,1 e 1,3.

peratura. A conversão alimentar deve ficar entre 1,2 a 1,5. Se o objetivo é produzir mais do que 6.000 kg de tilápia/ha, a partir desta biomassa é re-comendável o uso de uma ração suplemen-tada com minerais e vitaminas e com maior concentração protéica (28 a 32%) e energética (2.800 a 3.000 kcal/kg). Deve se esperar uma piora

Tabelas de alimentação para tilápias. As tabelas de alimentação podem auxiliar no ajuste da quantidade de ração fornecida as tilápias. No entanto, devemos ter em mente que outros fatores diferentes da temperatura e do tamanho dos animais podem influenciar o consumo de alimento em tilápias. Assim, o piscicultor deve ficar bem atento ao manejo da alimentação, ajustando o arraçoamento de acordo com a resposta dos peixes e com as alterações na qualidade da água.

Nutrição e manejo alimentar de reprodutores

Para a produção de pós-larvas e alevinos de tilápias em quantidades e qua-lidade que supram a crescente demanda de mercado, é preciso atenção especial no que diz respeito à nutrição de reprodutores. A intensa coleta de pós-larvas ou ovos gera a

Tabela 3. Recomen-dações gerais da taxa de alimentação e do número de refeições por dia (Ref./dia) na produção da tilápia em tanques-rede usando ração flutuante com 32% de proteína bruta, sob diferentes condi-ções de temperatura da água (adaptado de Schmittou, sem data).

Tabela 4. Recomendações da taxa de alimentação para tilápias cultivadas em sistemas de recirculação e raceways (Rakocy 1989).

Manejo alimentar na engor-da (100 a 600g) em viveiros com plâncton.

Durante a engorda em viveiros até aproximadamente 6.000 kg/ha, o piscicultor pode utilizar rações sem suplemen-tação mineral e vitamínica, com 24 a 28% de proteína e energia digestível de 2.600 a 2.800 kcal/kg. O nível de arraçoamento deve ficar entre 2 a 1% do peso vivo ao dia, do início ao final desta fase, dividido em 2 refeições. O tempo necessário para que as tilápias alcancem 600g não deve ultrapassar 110 dias sob condições adequadas de tem-

nos índices de conversão alimentar (1,5 a 1,8) e uma redução na velocidade de crescimento, devido à diminuição no plâncton disponível e a progressiva redução na qualidade da água.

Manejo alimentar na engorda (100 a 600g) em tanques-rede e raceways.

Nestas condições devem ser usa-das rações com 32 a 36% de proteína e 2.900 a 3.200 kcal ED/kg. O enrique-cimento mineral e vitamínico deve ser dobrado. O arraçoamento diário varia de 3 a 1,5% do peso vivo, sendo dividido em 3 a 2 refeições do início ao fina desta fase. A expectativa de conversão alimentar é de 1,4 a 1,8. Sob condições adequadas de temperatura (28 a 32°C), são necessários 120 a 130 dias para as tilápias alcançarem 600g.

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necessidade de fornecer aos reprodutores um alimento nutricionalmente completo. A seguir são resumidos o resultados de alguns estudos sobre o efeito da nutrição no desempenho reprodutivo de tilápias:

Tilápia de Moçambique O. mossambicus:

• Rações deficientes em vitamina C resul-tou em reduzida taxa de eclosão, aumento na proporção de embriões deformados, atraso no crescimento e redução na sobrevivência das pós-larvas e dos alevinos (Tabela 5).

• Uchida e King (1960) observaram que reprodutores de Tilápia de Moçambique alimentados com ração para peixes (25%PB), produziram 6 vezes mais pós-larvas comparados a reprodutores alimentados com ração para coelho (16% PB) e, 14 vezes mais que reprodutores alimentados com um subproduto da moagem de trigo (12%PB; 10% fibra), conforme apresentado na Tabela 6.

Tilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus

• Baixos níveis de proteína na ração resultou em atraso na maturação sexual (puberdade) e no desenvolvimento e maturação dos oócitos (Gunasekera et al 1995)

• Machos alimentados com ração contendo farelo de algodão apresentaram atraso na maturação dos testículos e redução no número e na motilidade dos espermatozóides (Salaro et al 1998a). Em fêmeas houve atraso e diminuição do número de desovas (Salaro et al 1998b). Estes efeitos foram atribuídos ao gossipol, fator anti-nutricional presente no farelo de algodão.

• Rações contendo 40% de farelo de folhas de leucena resultou em redução na produção de pós-larvas e no peso corporal das fêmeas. Estes efeitos foram atribuídos à mimosina, composto anti-nutricional presente na leucena (Santiago et al 1988).

Tabela 5. Efeito da suplementação ou não de rações com ácido ascórbico sobre o desempenho reprodutivo e o desenvolvimento das pós-larvas de tilápia de Mossambique, Oreochromis mos-sambicus (Soliman et al. 1986).

Híbridos vermelhos de tilápia (Oreochromis spp.)

• Eguia (1996) observou uma produção de 6 a 12 pós-larvas/fêmea/dia em fêmeas de tilápia vermelha soltas em tanques e alimentadas com ração contendo 42% de proteína. Estes númerosnão passaram de 2 pós-larvas/dia em fêmeas abrigadas em happas e que não foram alimentadas com ração.

Tabela 6. Efeito do tipo de alimento no desempenho produtivo da Tilápia de Moçambique (adaptado de Uchida e King 1960).

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Juvenis de tilápia-do-Nilo com olhos opacos e saltados (exoftalmia). O corpo dos peixes se encontra escurecido e podem ser observadas áreas despigmentadas e lesões superficiais na pele. Um quadro com sinais clínicos externos semelhantes à septicemia por Streptococcus. A exoftalmia, a opacidade da córnea e o corpo escurecido também são sinais freqüentes em deficiências nutricionais. Assim, a confirmação das infecções por Streptococcus exige o isolamento desta bactéria em meios de cultura específicos.

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D oenças e parasitoses diversas são observadas no cultivo de tilápias.

Embora algumas doenças ou parasitoses sejam mais freqüentes que outras, ainda não foram identificados parasitos ou patógenos específicos para as tilápias. Os patógenos e parasitos coexistem com as tilápias no ambiente de cultivo. Qualquer desequi-líbrio causado pelo uso de densidades de estocagem excessivas, pela inadequada manutenção da qualidade da água, má nutrição e o manuseio grosseiro, aumenta a incidência de problemas com doenças. A

susceptibilidade das tilápias às parasitoses e doenças dependem de diversos fatores, entre muitos: a espécie ou linhagem de tilápia; as condições de qualidade da água e a carga orgânica nas unidades de produção; o estado nutricional dos peixes; e, princi-palmente as condições de temperatura da água. Condições sub-ótimas de temperatu-ra aumentam a predisposição das tilápias às doenças e parasitoses. Temperaturas baixas inibem a resposta imune e a habilidade dos peixes em reagir a diferentes antígenos. A resposta imune das tilápias é praticamente

PRINCIPAIS PARASITOSES E DOENÇAS EM TILÁPIAS

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inibida sob temperaturas ao redor de 16 a 18ºC. Nestas condições a atividade bac-teriana também é reduzida. No entanto, quando ocorre uma elevação da temperatu-ra ambiente, as bactérias retomam sua ati-vidade de forma mais rápida comparado à habilidade dos peixes em restaurar de forma eficiente o funcionamento do seu sistema imunológico. Isto explica a maior incidên-cia de doenças em tilápias nos períodos de inverno e início da primavera. As tilápias cultivadas sob condições de temperatura entre 23 a 32ºC, são menos propensas às parasitoses e doenças, a não ser quando são submetidas à água de má qualidade, a um manejo nutricional e alimentar inadequado e a um manuseio grosseiro. Assim, a quali-dade do manejo da produção é fundamental para o sucesso no cultivo. A intensificação no cultivo de tilápias cria condições para uma maior ocorrência de doenças. Os sis-temas de recirculação de água, o cultivo em raceways e em tanques-rede são mar-cados pelas altas densidades de estocagem e intenso arraçoamento. Isto aumenta o contato entre os peixes e a transmissão dos patógenos. Em sistemas de recirculação,

em particular, há uma mistura das águas de diferentes tanques de produção, favo-recendo a distribuição dos patógenos por todo o sistema. Isto favorece os surtos de doenças, podendo causar consideráveis perdas econômicas.

Principais parasitos das tilápias

Diversos parasitos externos e inter-nos causam problemas no cultivo de tilá-pias. Estes parasitos normalmente estão presentes na água, e se aproveitam de alguma situação de estresse causada pelo abaixamento da temperatura, má qualidade da água, má nutrição ou manuseio inadequado, que re-duzem a resistência das tilápias. O acúmulo de material orgânico nos viveiros e tanques durante o cultivo pode favorecer o aumento na população de alguns parasitos, gerando desequilíbrios na relação peixe-parasito-ambiente. As lesões causadas por estes parasitos geralmente não são tão severas, a não ser que um grande número de parasitos esteja presente

e que a infestação ocorra em órgãos vitais. Alguns parasitos, no entanto, se alimentam do sangue dos peixes e podem causar lesões bem severas, mesmo quando presentes em pequenos números. Seus danos também são mais severos em peixes menores. Muitos parasitos infestam as brânquias, dificultando a respiração dos peixes, causando a morte dos mesmos por asfixia.

Figura 1: Hifas de Fungos (Saprolegnia) em tilápia do Nilo. Esfregaço de pele visto ao microscópio (400X)

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Protozoários parasitos: a) são organismos microscópicos e unicelulares; b) a maioria se multiplica sem a presença do hospedeiro; c) se beneficiam do aumento na carga orgânica da água; d) ocorrência comum em cultivo intensivo; e) geralmente são en-contrados em pequenas quantidades em tilápias aparentemente sadias; f) alterações bruscas na qualidade do ambiente favorecem grandes infestações. Diversos tipos de protozoários foram isolados de tilápias em cultivo intensivo durante infestações de intensidade variável. A seguir é apresentado um resumo das principais características de alguns destes organismos e suas infestações em tilápias:

Ichthyophthirius multifiliis: a) causa a “Ictiofitiríase” ou “Doença dos Pontos Brancos”; b) perdas significatvas em regiões com inverno bem marcado; c) apresenta célula ovóide recoberta por cí-lios, diâmetro entre 0,5 a 1,5 mm e núcleo na forma de “ferradura” ou “C”; d) maior incidência durante em meses de tempera-turas amenas; e) peixes jovens são mais

PROTOZOÁRIOS PARASITOS DE TILÁPIAS

O cisto maduro se rompe, liberando milhares de formas infestantes, os “terontes”. Os terontes se encistam na epiderme, onde vivem se alimentando dos fluídos celulares e das células das tilápias. Cada cisto tem a aparência de um ponto branco.

O parasita encistado na pele, ao atingir a maturidade, abandona o corpo do peixe para multiplicação. Aloja-se no fundo dos viveiros ou em qualquer substrato disponível e começa a se dividir por fissão celular.

susceptíveis que peixes adultos; f) peixes que se recuperam de infestações moderadas desenvolvem resistência; g) Sinais clínicos: pontos brancos visíveis a olho nu na pele, nadadeiras e brânquias auxiliam no diag-nóstico; excesso de produção de muco e prurido nos peixes; lesões na pele favorece infecção bacteriana ou fúngica seundária; infestação severa nas brânquias dificulta a

respiração e causa asfixia; h) Tratamento (ver Tabela 7): formalina por tempo indefi-nido nas concentrações de 15 a 25ml/m3, em 3 a 4 aplicações com intervalos de 3 dias; sal a 1%, em 3 a 4 tratamentos espaçados a intervalos de 3 dias (viável em sistemas de recirculação e em aquários); elevar a temperatura acima de 30°C prejudica a reprodução do parasito.

Chilodonella sp: a) infestações mais fre-qüentes quando as tilápias são submetidas à condições de estresse, após o manejo inadequado, nutrição desbalanceada e queda na temperatura da água; b) estresse por elevada temperatura também pode fa-vorecer a infestação por Chilodonella; c) é um protozoário ciliado, de formato ovóide à semelhança de um coração; possui 8 a 15 fileiras paralelas de cílios na superfície ventral da célula; é um parasito obrigatório e se alimenta das células epiteliais (pele) dos peixes; d) pode se alojar em cistos, sobrevivendo por grande período na água ou no substrato dos viveiros e tanques; e) se reproduz por divisão binária e as for-mas jovens podem nadar e infestar outros peixes; f) sinais clínicos: pruridos e lesões cutâneas; aumento na secreção de muco; causam inflamação no tecido branquial, fusão das lamelas secundárias, dificuldades respiratórias e morte dos peixes por asfixia; g) diagnóstico: facilmente identificada em raspados de muco e brânquias vistos ao microscópio; h) controle: corrigir os desequilíbrios ambientais (no caso de baixas temperaturas, pouco pode ser feito em áreas abertas, embora em sistemas de recirculação o controle de temperatura pode ser viável); terapia com formalina, na concentração de 25 a 50ml/m3, aplicada por tempo indefinido e, se houver necessidade, repetir o tratamento após 4 a 5 dias.

Tricodinídios (Trichodina e Tripartiella): a) estão presentes em todos os ambientes de cultivo e geralmente ocorrem em pequeno número nos peixes; b) nas Filipinas foram registradas 5 espécies de Tripartiella infes-tando as brânquias de tilápias; c) maiores problemas em pós-larvas e alevinos, porém podem causar mortalidade severa em tilá-pias de maior porte, quando estes peixes são expostos à água de inadequada quali-dade e excessiva carga orgânica; d) baixas temperaturas favorecem as infestações; após o inverno, a elevação na temperatura leva a uma rápida multiplicação dos para-

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sitos, que se beneficiam do estado debilitado dos peixes que ainda não se recuperaram do estresse causado pelas baixas temperaturas; e) os Tricodinídios são um problema particular em tilápias que protegem as larvas na boca; estes ciliados se alojam na cavidade bucal e infestam as larvas; f) os tri-codinídios apresentam a forma de um disco; o diâmetro da célula geralmente está entre 40 a 60mm; a célula é circundada por cílios que auxiliam na locomoção e alimentação dos parasitos; g) possuem uma estrutura de fixação compostas por dentículos, que auxilia na aderência à pele, nadadeiras e brânquias; se alimentam filtrando o material orgânico pre-sente na água; o acúmulo de resíduos orgânicos nos viveiros e tanques favorece o aumento da população destes parasitos; altas densidades de estocagem aumentam o contato entre os peixes e favorece a infestação; h) a reprodução destes para-sitos ocorre por fissão binária (simples divisão em dois); i) sinais clínicos: excessiva produção de muco; prurido, corpo de coloração escura; lesões na pele favorecem a infestação secundária por fungos e bactérias; inflamação das brânquias e dificuldade respiratória, podendo culminar com massiva mortalidade dos peixes por asfixia; a mortalidade é maior em peixes mais jovens, principalmente quando ocorre uma infecção bacteriana secundária; j) diagnóstico: a identifi-cação dos tricodinídios é relativamente fácil uma vez que possuem aparência peculiar e inconfundível; raspado de pele e brânquias são examinados ao microscópico; k) controle: manutenção de adequada qualidade da água, bons níveis de oxigênio e redução da carga orgânica nos tanques e vivei-ros; tratamento com formalina na concentração de 170 a 250ml/m3 em banhos de 30 minutos a 1 hora; formalina na concentração de 15 a 25ml/m3 por tempo indefinido; sal em banhos de 30minutos a 1 hora 2,5 a 3%; tilápias toleram altas concentrações de sal; permanganato de potássio em banhos de 10 a 15 minutos na concentração de 5g/m3.

Epistylis sp, Ambiphrya (Scyphidia sp) e Apiosoma sp.: a) se desenvolvem em grande número em ambientes com grande carga orgânica; b) tilápias submetidas a estresse térmico po-dem sofrer grande infestação por estes parasitos; são mais fre-qüentes em alevinos; c) estes protozoários são sésseis (fixos), apresentam tamanho entre 40 a 100mm e possuem cílios em um arranjo circular na extremidade da célula; d) se fixam à pele, nadadeiras e brânquias dos peixes através de uma haste transparente e se alimentam de partículas orgânicas em sus-pensão na água; e) a reprodução ocorre por fissão binária; f) a distinção entre estes três gêneros é fácil de ser realizada, com base no formato do corpo e na aparência do núcleo; o Epistylis sp é o único que forma colônias, com aspecto se-

melhante a cachos de uvas; g) Sinais clínicos: infestações severas levam a uma excessiva produção de muco; hiperemia e lesões na pele; insfestação pesada no opérculo pode dificultar o batimento opercular e a respiração; Epistylis formam colônias com aspecto de pus nos raios duros das nadadeiras dorsais e também sobre o corpo; infestações nas brânquias podem causar asfixia; h) diagnóstico: feito através do raspado de pele e brânquias e posterior visualização ao microscópio; i) controle: manutenção de adequada qualidade da água, bons níveis de oxigênio e redução da carga orgânica nos tanques e viveiros; estes parasitos são facilmente combatidos com formalina a 170ml/m3 em banho de 1 hora se a temperatura da água estiver próxima a 14°C; para controle de Ambiphrya (Scyphidia) pode se usar o sal comum (cloreto de sódio) na concentração de 0,5 a 1% por tempo indefinido; as tilápias toleram bem estas con-dições de salinidade, sendo que algumas espécies se adaptam bem a salinidade equivalente a água do mar (3,6%).

Ichthyobodo: a) se manifesta quando o peixe é submetido a con-dições ambientais desfavoráveis (altas densidades, inadequada qualidade da água, deficiências vitamínicas, ou peixes já acometidos por outras infecções); b) pode causar mortalidade severa em tilápias, principalmente em pós-larvas e alevinos, infestando até mesmo os ovos em incubação; c) em tilápias maiores, o Ichthyobodo se

Tabela 7. Produtos e formas de tratamento usados na prevenção e controle de parasitos, fungos e bactérias em tilápias.

Figura 2: Ichthyophthirius multifiliis de raspado de brânquias de tilápia visto ao microscópio. Notar o núcleo em forma de “ferradura“.

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aproveita da queda da resistência associada a alguma condição de estresse, particular-mente sob temperaturas abaixo de 25°C; d) este parasito não tolera temperaturas acima de 30°C; e) o Ichthyobodo é um dos menores ectoparasitas que infectam os peixes (diâmetro ao redor de 5-8 x 10-15mm); tem formato esférico e piriforme; f) se fixa ao hospedeiro com o auxílio de um disco adesivo; possui 4 flagelos com movimentos rápidos e que podem ser observados ao microscópio; g) apresenta grande potencial reprodutivo e um caráter oportunista; h) sinais clínicos: encontra-dos na pele (geralmente nos espaços entre escamas), nas nadadeiras e nas brânquias de tilápias em água doce e salgada; causam lesões de pele similares às lesões causadas por outros protozoários; infestação severa nas brânquias podem causar a morte dos peixes por asfixia; i) diagnóstico: feito com a visualização, sob microscopia, de material raspado da superfície do corpo (muco e pele) e das brânquias; j) con-trole: medidas preventivas como as já sugeridas para outras parasitoses devem ser aplicadas; tratamento terapêutico é feito com sal comum na concentração de 0,5 a 1%; o Ichthyobodo apresenta caráter eurialino e pode resistir a alta salinidade; formalina ou permanganato de potássio nas concentrações e formas de aplicação recomendadas na Tabela 7.

Piscinoodinium e Amyloodinium: a) o Piscinoodinium é considerado um pro-blema potencial no cultivo de tilápias em água doce em diversos países; é um dinoflagelado de formato arredondado ou amebóide (formato de pêra) e tamanho entre 30 a 140 mm; possui um aparato de fixação denominado rizocisto (com a apa-rência de raízes) que penetra no tecido do hospedeiro; é um organismo clorofilado, o que lhe confere uma coloração

ligeiramente esverdeada; em seu interior podem ser observados os dinosporos, que são formas flageladas e móveis; o ciclo de vida é semelhante ao do Íctio.; as infestações são mais comuns quando a temperatura está ao redor de 23 a 25°C. Infestações em tilápias são mais comuns quando estas são estocadas em alta densidade, mal nutridas e submetidas a uma água de má qualidade e alta carga orgânica; c) o Amyloodinium é um dino-flagelado parasito de tilápias e em água salobra ou salgada; o parasito adulto (tro-fontes) tem diâmetro entre 50 a 350mm; seu ciclo de vida também é semelhante ao ciclo do Íctio, sendo completado em 5 dias a uma temperatura de 25°C; também possui rizóides como o Piscinoodinium; a temperatura ideal para o desenvolvimento do Amyloodinium varia de 23 a 27°C; as infestações não são observadas a tempe-ratura abaixo de 17°C; d) sinais clínicos: estes parasitos se fixam na pele das tilá-pias, causando irritação e grande produção de muco que confere ao corpo um aspecto aveludado ou ‘’empoeirado”. Daí o nome comum de “veludo” dado a infestação por estes dinoflagelados; também se aloja no tecido branquial, sendo que infestações severas dificultando a respiração, fazendo com que os peixes fiquem boquejando na superfície da água e possam morrer por asfixia; a infestação pode atingir os olhos e os parasitos podem penetrar debaixo da pele e se alojar no tecido subcutâneo, favorecendo a ocorrência de infecções bacterianas secundárias; e) diagnóstico: é feito através da observação de raspados de pele ou de brânquias ao microscópio ou em exame histopatológico da pele ou brânquias contendo alguma fase dos pa-rasitos; profissionais pouco familiarizados com estes parasitos podem realizar diag-nósticos imprecisos; f) controle: não é

fácil; melhor prevenir assegurando uma boa qualidade da água nos tanques e viveiros, mantendo os peixes bem nutridos e ajustando corretamente a densidade de estocagem dentro dos limites adequados para o sistema de cultivo; alguns profissionais mencionam que a elevação da temperatura da água para 32 -

34°C, onde possível, auxilia no controle da infestação; o sulfato de cobre também pode ser uma opção de tratamento em

Figura 3: Edema em brânquias de tilápia causado por infestação maci-ça por Chilodonella sp.

doses de acordo com a alcalinidade total da água (Tabela 7); o Piscinoodinium é bastante tolerante ao sal comum (cloreto de sódio) e ao tratamento com formalina. Muitos problemas com oodiniose ocorrem em águas com alta transparência. A en-trada de luz favorece o desenvolvimento destes parasitos clorofilados. Assim, uma medida prática que tem apresentado bons resultados no controle do Piscinoodinium em viveiros é o estímulo da formação do fitoplâncton através da diminuição do fluxo de água, aplicação de calcário quando necessário e adubação química dos viveiros ou mesmo a manutenção do arraçoamento se os peixes ainda estiverem se alimentando.

Esporozoários (Mixosporídios): a) são endoparasitas pertencentes ao filo Myxo-zoa, família Myxobolidae (Myxobolus e Henneguya); foram observados cistos cutâ-neos com microsporídos em alevinos de tilápia de Moçambique (O. mossambicus); infestações severas por Henneguya sp. foram observadas em ciclídeos nativos na América do Sul; os mixosporídios podem ser encontrados em tilápias em ambientes naturais, mesmo sem que os peixes apre-sentem qualquer sinal patológico evidente; sob condições de cultivo intensivo, as infestações por mixosporídios podem ser mais freqüentes; b) a infestação ocorre com a liberação dos esporos dos microsporídios que estão presentes nas cartilagens dos peixes mortos e em decomposição; esporos também podem ser liberados diretamente de peixes vivos; antes de estarem aptos para a infecção, os esporos necessitam passar por um período de potenciação nos sedimentos; c) Myxobolus cerebralis causa a doença de “whirling” ou “doença do rodopio”; este parasito parece estar disseminado no mundo todo e já foram observadas infestações em várias espé-cies de peixes, inclusive em tilápias em

Figura 4: Hemorragia intestinal (presença de gran-de quantidade de fluído sanguinolento nas alças intestinais) em tilápia vermelha.

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ambientes naturais; ocorre na forma de cistos repleto de esporos localizados nos tecidos; a severidade da doença é maior em peixes jovens; possui ciclo de vida complexo, envolvendo um hospe-deiro vertebrado (o peixe) e um invertebrado (o anelídeo Tubifex tubifex); os esporos apresentam formato oval a circular e variam muito de tamanho, geralmente com 7 a 10mm de comprimento por 7 a 10mm de largura e 6 a 8mm de espessura; c) Henneguya: inúmeras espécies de Henneguya foram encontradas em peixes de água doce; em tilápias há muitas referências de infestações por este parasito; a Henneguya apresenta um envelope de formato oval e alongado, no interior do qual estão alojados dois esporos ovais ou fusiforme; do envelope são projetados dois longos processos caudais semelhantes a um chicote, conferindo ao parasito a apa-rência de um espermatozóide; o tamanho dos esporos varia de 8 a 24mm de comprimento e o processo caudal de 20 a 45mm; d) sinais clínicos: cistos na pele e nas brânquias; também podem ser encontrados cistos no fígado, intestino, músculos, coração, rim, baço e outros tecidos; dentro destes cistos podem ser encontra-dos milhares de mixosporídios; infestações nas brânquias podem levar a uma oclusão da circulação branquial, necrose e disfunção respiratória; quando alojados nos músculos, os parasitos parecem ter pouco efeito sobre o hospedeiro; relatos de grande mortalidade de tilápias por infestações de microsporídios não freqüentes na literatura; no entanto, em alguns sistemas intensivos com recir-culação de água nos Estados Unidos, os microsporídios estão associados a consideráveis perdas econômicas no cultivo deste peixe; o movimento típico de rodopio em infecções por Myxobolus cerebralis resulta da destruição, pelo parasito, dos nervos cerebrais ligados à coordenação motora; lesões na coluna vertebral, com curvatura do tronco e da cauda, estão freqüentemente associadas a destruição do tecido cartilaginoso onde se alojam os cistos com os esporos dos parasitos; o escurecimento da parte posterior do tronco dos peixes também parece estar associado a destruição de nervos associados com o controle da pigmentação do corpo; outros sinais indicativos ocorrência de infestaçõpes por Myxobolus são as deformidades corporais em peixes que sobreviveram as infecções (má formação e retração do opérculo, a curvatura da coluna verte-bral e a mal formação da mandíbula); peixes com aspecto sadio e aparentemente não infectados, podem ser portadores dos esporos de mixosporídeos; infestações por Myxobolus cerebralis ou por Henneguya podem reduzir a imunidade das tilápias, tornando-as mais susceptíveis a bactérias, fungos e a infestação por outros parasitos; e) diagnóstico: feito a partir de raspados das lesões e cistos, observando a presença de esporos sob microscopia; a “doença do rodopio” também

Figura 5: Tilápia do Nilo com lesão ulcerativa no opérculo causada por infestação de fungo e bactéria.

Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D., especialista em Nutrição e Produção de Peixes

1 - Técnicas de Transporte de Peixes VivosDias: 15-16/09/00

• Fisiologia aplicada ao transporte.• Fatores que o transporte.• Condicionadores e profiláticos.• Tanques e Equipamentos.• Procedimentos rotineiros.• Cargas para alevinos e peixes adultos vivos.• Previsão do consumo de oxigênio no transporte.Prático: Ensaios dinâmicos de transporte; difusores e equipamentos; condicionadores e profiláticos.

2 - Reprodução e Reversão Sexual de TilápiasDias: 20-21/10/00

• Estratégia de produção em larga escala e reversão sexual de pós-larvas de tilápias: manejo da reprodução.• Instalações e estratégias usadas na reversão sexual.• Preparo da ração e Manejo Alimentar.Prático: Preparo de ração; sexagem de reprodutores; coleta e clas-sificação de pós-larvas; instalações para reversão; avaliação do sucesso da reversão.

3 - Qualidade da Água na Produção de PeixesDias: 10-11/11/00

• Controle e manejo da qualidade da água.• Efeitos da Intensificação do cultivo, rações e arraçoamento na qualidade da água.• Sistemas de aeração: dimensionamento e operação.Campo: Ensaios e equipamentos para controle da qualidade da água; discussões de problemas práticos.

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pode ser diagnosticada com um relativo grau de convicção com base nos sintomas, antes do desenvolvimento dos esporos; o diagnóstico definitivo é feito através de exame histopatológico da cabeça, carti-lagem vertebral ou brânquias dos peixes e posterior identificação dos esporos; f) controle: não há terapia para esta doença; a prevenção pode ser feita evitando a intro-dução de peixes portadores de esporos na piscicultura; peixes adquiridos devem ser submetidos a quarentena; equipamentos e tanques devem ser desinfectados quando suspeitar da ocorrência de mixosporídios; em alguns países como nos Estados Uni-dos, a ocorrência de mixosporídios deve ser obrigatoriamente notificada às autoridades sanitárias; constatado um foco da doença, alguns procedimentos são adotados: incine-ração dos peixes que estão com a doença ou com esporos dos parasitos; desinfecção de incubadoras e equipamentos; drenagem e desinfecção dos tanques para a erradicação dos esporos.

Trematodos monogenéticos: a) são ecto-parasitas do grupo dos platelmintos; pos-suem uma estrutura de fixação denominada

e nas nadadeiras, embora possa se instalar nas brân-quias dos peixes; infestação pesada pode causar irritação na pele, fazendo com que o peixe fique letárgico e frequentemente se esfre-gue no fundo e nas laterais dos tanques; o movimento destes vermes sobre a pele pode ser observado mesmo a olho nu; c) Dactylogyrus sp: facilmente reconhecido pela presença de 4 manchas

MIXOSPORÍDIOS

“haptor”, a qual é equipada com ganchos; o Gyrodactylus sp e Dactylogyrus sp. são os monogenéticos mais freqüentes em tilápias; os problemas com estes parasitos aumentam com a intensificação dos siste-mas de produção (aumento nas densidades de estocagem e na carga orgânica na água dos tanques e viveiros); b) Gyrodactylus sp: facilmente identificado pela ausência de olhos e pela existência de um embrião em desenvolvimento dentro do parasito adulto (vivíparo); possui “haptor” com um par de ganchos longos e rodeado por 16 ganchos menores; encontrado no corpo

Figura 8: Tilápia com lesão fúngica na cabeça.

microcrustáceos da família Branquiurea; b) estes microcrustáceos já foram observados infestando tilápias; c) infestações por estes parasitos depreciam valor comercial dos peixes e podem abrir caminho para doenças fúngicas e bacterianas secundárias, que resultam em considerável mortalidade; c) estes organismos utilizam estruturas especí-ficas de fixação no hospedeiro, causando le-sões na pele e brânquias; infestações severas nas brânquias pode resultar em asfixia nos peixes; o Argulus em particular, se alimenta dos fluídos dos peixes com o auxílio de um rostro; pode servir como vetor de vírus e bactérias; infestações por Argulus resultam em anemia, redução no crescimento e até mesmo na perda de peso dos animais; d) Lernaea sp.: várias espécies de Lernaea afetam os peixes; possui ganchos especiais na região cefálica os quais penetram na musculatura dos peixes; apenas a região caudal, com aspecto de verme, é visível externamente; vários órgãos podem ser invadidos pelos processos cefálicos quando a infestação do parasito ocorre na região abdominal; mortalidade de tilápias devido a infestações por Lernaea foram registradas

TREMATODOS MONOGENÉTICOS

oculares (4 olhos) e “haptor” com um par de ganchos pequenos e 14 ganchos meno-res marginais; não gera embriões; a sua reprodução é feita através da liberação de ovos, dos quais eclodem larvas ciliadas que se desenvolvem em formas adultas e, posteriormente, invadem outros peixes. O Dactylogyrus é encontrado nas brânquias dos peixes; d) sinais clínicos: ocorrem na superfície do corpo, nadadeiras e brânquias; aumento na produção de muco, peixes letár-gicos e boquejando na superfície; infestação severa nas nas brânquias resulta em infla-

mação do epitélio branquial e ruptura dos capilares sanguíneos, prejudicando a respiração e levando os peixes à morte por asfixia; e) diagnóstico: feito atra-vés do raspado da superfície do corpo ou das brânquias dos peixes e exame do material coletado sob microscopia. Há a possibilidade de se fazer a iden-tificação do parasita diretamente nas brânquias através do uso de uma lupa de mão; f) controle: manter os peixes bem nutridos e garantir adequada qualidade da água, ajustando corre-tamente as densidades de estocagem e evitando grandes cargas orgânicas nos viveiros e tanques; banhos com

formalina a 170-250ml/m3 por 1 hora em tanques e aquários; formalina por tempo indefinido 25ml/m3 em tanques e viveiros; permanganato de potássio como recomen-dado na Tabela 7; triclorfom em tratamento por tempo indefinido nas doses de 0,5ml/m3 (para tilápias); tratamento indefinido com sal nas concentrações de 0,5 a 0,75%, viável em sistemas de recirculação de água.

Crustáceos parasitos: a) a Lernaea cypri-nacea e o Ergasilus sp são microcrustáceos pertencentes à família Copepodidae (co-pépodos). O Argulus sp e o Dolops sp são

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em diversos países; no Brasil, infestação de Lernaea em tilápias geralmente são restritas ao período do inverno, quando os peixes se apresentam debilitados com as baixas temperaturas; o ciclo de vida da Lernaea deve ser entendido para que as estratégias de controle do parasito sejam mais eficazes; e) Argulus sp: mais de 100 espécies de Argulus já foram identificadas; é conhecido como “piolho dos peixes”; há vários relatos de infestação em tilápias; parece ser um importante vetor de doenças virais e bac-terianas; apresenta o corpo achatado e oval, podendo medir até 1cm; f) Ergasilus sp: ocorre frequentemente nas brânquias dos peixes, sendo denominados de “larvas das brânquias”; as tilápias parecem apresentar maior resistência à fixação destes parasitos comparados a outros peixes; embora seja um parasito pouco freqüente em tilápias, grandes infestações podem ocorrer em cultivos intensivos com alta densidade de estocagem; causa hipertrofia, inflamação e fusão dos filamentos branquiais, dificul-tando a respiração dos peixes mesmo sob condições de adequado oxigênio dissolvido na água; g) diagnóstico: os parasitos são visíveis ao olho nu e facilmente identifica-dos; fases jovens (copepoditos) podem ser identificados com o uso de estereoscópio (lupa). h) controle: no caso da Lernaea a melhor política e evitar a introdução de peixes infestados ou não adquirir peixes de fornecedores suspeitos; o uso da qua-rentena é recomendável antes de distribuir os novos peixes por toda a piscicultura; infestações por microcrustáceos não têm sido observadas em tanques de larvicultura e alevinagem de tilápias; uma explicação para este fato é o hábito alimentar zooplanc-tófago das pós-larvas e dos alevinos, que acabam controlando as fases jovens destes parasitos; isto abre a perspectiva de uso de um controle biológico, particularmente da Lernaea, em tanques e viveiros de cultivo ou pesca recreativa com a estocagem simultânea de peixes plânctófagos ou filtradores; a duração do ciclo de vida da Lernaea depende da temperatura da água, sendo um fator determinante da estratégia de tratamento a ser adotada. Banhos com sal nas concentrações de 3 a 5% durante 1 minuto é um tratamento eficaz para todos os estágios da Lernaea; o Argulus não é sensível a elevação da salinidade na água, portanto tratamentos com sal comum são ineficazes contra este parasito. O triclor-

fom na concentração de 0,5mg de I.A./L, controla as fases de náuplios e os copepodi-tos, mas sua eficiência no controle das fases adultas é questionável. Durante o verão (28 a 32oC) devem ser feitas 3 aplicações a intervalos de 7 dias entre as aplicações. Nos meses mais frios (15 a 20oC) o intervalo entre as aplicações deve ser aumentado para 12-14 dias; tilápias são bastante tolerantes a doses elevadas de triclorfom; o controle químico do Argulus também é feito com o uso do triclorfom; outro produto utilizado no controle da Lernaea é o diflubenzuron (dimilin), um inibidor da formação de quitina, aplicado na dose de 0,05 a 0,10 mg/L (0,05 a 0,1g/m3). Antes de proceder ao tratamento com estes produtos, consulte um profissional experiente para melhor esclarecer os risco envolvidos no trata-mento e sugerir as melhores estratégias para solucionar o problema;

DOENÇAS BACTERIANAS

Pelo fato de serem de fácil dissemina-ção e por apresentarem caráter oportunista, as bactérias são importantes patógenos na piscicultura intensiva. Embora inúmeras

bactérias patogênicas já tenham sido isola-das em tilápias, apresentaremos neste artigo apenas as mais freqüentes e importância econômica: Streptococcus, Aeromonas e Pseudomonas e Flavobacterium co-lumnare.

Existem vários fatores que predis-põem os peixes a infecções por bactéria (bacterioses). Dentre os principais des-tacamos: a) má nutrição; b) inadequada qualidade da água (baixo oxigênio dissol-vido e elevados níveis de amônia tóxica e nitrito); c) excessivo acúmulo de resíduos orgânicos nos tanques e viveiros, o que serve de reservatório e substrato para a multiplicação de bactérias e outros or-ganismos patogênicos; d) o abaixamento da temperatura, fator de particular impor-tância no cultivo de tilápias em regiões com inverno bem definido; e) o manuseio grosseiro durante as despescas e as trans-ferências de peixes entre as unidades de cultivo; f) estresse durante o transporte vivo; g) infestações por outros parasitos.

Streptococcus sp.: a) a infecção por Strep-

CRUSTÁCEOS PARASITOS

Após fecundadas, as fêmeas da Lernaea começam a se alongar. Dois sacos de ovos ficam bem evidentes no corpo das fêmeas.

As fêmeas adultas da Lernaea liberam seus ovos na água. Dos ovos eclodem os náuplios.

Os copepoditos, em suas formas infestantes, vão se alojar na pele dos peixes, onde crescem e atingem maturidade.

Os naúplios crescem e se trans-formam em copepoditos. Estes passam por diversas fases de desenvolvimento antes de se instalarem nos peixes.

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tococcus é uma das doenças mais sérias nos sistemas de cultivo de tilápias em diversos países; a mortalidade é mais severa e freqüente em sistemas intensi-vos de criação, principalmente onde há um manejo inadequado da qualidade da água e da nutrição dos peixes; b) é uma bactéia Gram positiva com formato esférico (cocos), encontrada nos mais diversos ambientes; causa infecção em tilápias cultivadas em água doce e sa-lobra; tilápias em água com salinidade entre 15 a 30g/l, sob temperaturas va-riando de 25 a 30°C, apresentam maior susceptibilidade ao Streptococcus do que quando cultivadas em água doce na mesma condição de temperatura (Chang e Plumb 1996); c) a transmis-são do Streptococcus ocorre de forma horizontal (de peixe para peixe), sendo que a bactéria é liberada do peixe já morto ou moribundo para a água. Outra via de infecção é o uso de peixes conta-minados com Streptococcus no preparo de rações, procedimento comum em diversos países; d) sinais clínicos: coloração escura do corpo, letargia ou natação errática, em sentido espiralado devido inflamação da meninge cerebral dos peixes; corpo levemente curvado; abdômen distendido; córnea opaca e hemorrágica; hemorragia difusa na pele, ao redor da boca e do ânus; he-morragia na base das nadadeiras e no opérculo; em um estágio mais avança-do os olhos podem estar saltados uni ou bilateralmente (exoftalmia); os olhos podem apresentar uma inflamação granulomatosa bastante severa; podem

ocorrer lesões na epiderme, incialmente se apresentando como áreas despigmentadas, evoluindo para lesões mais definidas; Os sinais clínicos internos são: acúmulo de fluído sanguinolento na ca-vidade abdominal, causando ascite (acúmulo de líquido no abdômen); fluído san-guinolento no intestino que é facilmente eliminado pelo ânus após compressão abdo-minal; o fígado se apresenta pálido, o baço aumenta de tamanho e adquire uma co-loração escura, quase negra; o trato digestivo apresenta

infecções por Streptococcus e podem abrir novas perspectivas para o controle desta bactéria.

Flavobacterium columnare: a) causa a columnariose ou “doença da boca de algo-dão ou da cauda comida”; é uma bactéria Gram-negativa, na forma de bacilos alon-gados (bastonetes) e móveis, encontrado em colônias na forma de colunas, daí a de-nominação “Columnare”; b) normalmente habita os sistemas aquáticos e convive em pleno equilíbrio com os peixes, até que haja algum distúrbio ambiental (má nutrição ou piora na qualidade da água) ou pressão de manejo (excessiva densidade de estocagem e inadequado manuseio) e a resistência dos peixes seja diminuída; c) maior incidência nos meses de verão; temperaturas da água entre 28 e 30oC são ótimas para a bactéria; se instala em ferimentos ou lesões corporais causadas aos peixes durante o manuseio (despesca, pesagem, transporte e descarre-gamento) ou por parasitos, bem como em injúrias nas brânquias causadas por infes-tações parasitárias ou por um aumento na turbidez mineral da água; a tilápia-do-Nilo parece ser mais susceptível a esta doença quando exposta à água com pH muito ácido ou muito alcalino; d) sinais clínicos: perda de apetite e natação vagarosa; o peixe se isola do grupo e fica boquejando (asfixia) na superfície devido à infecção da bactéria nas brânquias; manchas descoloridas e localizadas na pele; lesões nas margens das nadadeiras, principalmente na caudal, com aspecto de apodrecimento (podridão das nadadeiras); lesões esbranquiçadas/amareladas ao redor da boca, apresentando

CRUSTÁCEOS PARASITOS

Após fecundadas, as fêmeas da Lernaea começam a se alongar. Dois sacos de ovos ficam bem evidentes no corpo das fêmeas.

As fêmeas adultas da Lernaea liberam seus ovos na água. Dos ovos eclodem os náuplios.

Os copepoditos, em suas formas infestantes, vão se alojar na pele dos peixes, onde crescem e atingem maturidade.

Os naúplios crescem e se trans-formam em copepoditos. Estes passam por diversas fases de desenvolvimento antes de se instalarem nos peixes.

Figura 9: Tilápia do Nilo com áreas despigmen-tadas sobre o corpo com desenvolvi-mento de fungos e hemorragias nas nadadeiras.

Figura 8: Tilápia com lesão fúngica na cabeça.

aparência geral avermelhada (hiperêmi-co); o coração e o rim também podem estar infectados; e) diagnóstico: o iso-lamento da bactéria é feito com o uso de meios de cultura seletivos como o BHI, o TSA e o Todd-Hewitt; um diagnóstico presuntivo pode ser realizado com a detecção de coccus Gram positivos no exame histológico do tecido infectado ou em esfregaços; f) controle: para evitar maiores problemas, manter adequada condições ambientais e boa nutrição; remoção imediata de peixes mortos e moribundos; quando a infecção é diag-nosticada tardiamente, pouco se pode fazer para reduzir a mortalidade; terapias atuais para o tratamento de septicemia por Streptococcus se baseiam no uso de ração medicada com antibióticos. Em casos avançados da doença, os peixes deixam de se alimentar e este tratamen-to pode ser de pouco efeito. Em casos menos severos a mortalidade diminui com o uso de ração medicada com antibióticos (Tabela 7); o uso indiscriminado de antibióti-cos pode levar a um aumento na resistência das bactérias; o melhor procedimento é reali-zar um antibiograma para se certificar a respeito de qual antibiótico é mais eficaz. Também é importante que o tratamento seja indicado por um profissional experiente e seja administrado correta-mente. Vacinas estão sendo avaliadas na prevenção de

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crescimento bacteriano com aspecto de tufos de algodão; áreas necróticas amareladas nas brânquias (colônias de bactérias), indicando a destruição do epitélio branquial, o que dificulta a respiração e causa a morte dos peixes por asfixia; e) diagnóstico: diagnós-tico presuntivo com base nos sinais clínicos característicos da doença; a visualização das bactérias sob microscopia também auxilia; o diagnóstico definitivo é feito com o iso-lamento da bactéria em meios de cultura específicos como o meio Ordal?s ou Hsu-Shotts. Descrições destes meios de culturas podem ser encontradas em Pavanelli et al (1998) e Inglis et al. (1993); f) controle: a columnariose é uma infecção secundária; o uso de boas práticas de manejo ajuda a evitá-la; evite injúrias aos peixes durante o manuseio; evite manuseio excessivo em períodos com temperaturas elevadas; o sal serve como profilático nas concentrações de 0,5 a 0,8% (5 a 8kg/m3) em banhos após o manejo ou durante o transporte; o permanganato também pode ser utilizado como preventivo, em banhos de 15 a 30 minutos, após o manuseio e transporte, na concentração de 5mg/litro. Tratamento: oxitetraciclina em banhos prolongados nas concentrações de 20 a 50 mg/litro (20 a 50g/m3); ou na ração em quantidade suficiente para um consumo ao redor de 50 a 75mg/kg PV/dia, durante 10 dias; permanganato de potássio em tratamento por tempo inde-finido nas concentrações de 2 a 4mg/L; ou em banhos de 30 minutos a 1 hora na con-centração de 5 a 10mg/L; outras opções de tratamento podem ser encontradas no livro “Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes Cultivados (Kubitza e Kubitza 1999). Septicemias causadas por Aeromonas e Pseudomonas: a) são bacilos móveis

Gram negativos, e freqüentemente estão associadas a um quadro de infecção ge-neralizada (septicemia hemorrágica) em peixes; a incidência é maior em tanques com excessiva carga orgânica e água de má qualidade; peixes submetidos a uma inadequada nutrição e a injúrias físicas durante o manuseio são ainda mais sus-ceptíveis a estas bactérias; b) septicemia por Aeromonas e Pseudomonas em tilápias ocorrem com maior freqüência em períodos de temperaturas baixas ou amenas, quando a resposta imunológica dos peixes é mais reduzida. Nestas condições a mortalidade e os prejuízos podem ser consideráveis; c) sinais clínicos: perda de apetite; natação vagarosa com os peixes se posicionando nas áreas mais rasas dos tanques; escurecimento do corpo; perda do equilíbrio; palidez das mucosas e brânquias (sinais indicativos de anemia; a Aeromonas destrói as hemácias); perdas de escamas; erosão ou destruição das nadadeiras; lesões circulares ou irregulares sobre o corpo, a semelhança de ulcerações; hemorragia nas bordas das lesões e na base das nadadeiras peitorais, pélvicas e caudal; olhos saltados (exoftalmia) e de aspecto opaco e hemorrágico; abdômen distendi-do com a presença de líquido de aspecto opaco e/ou ligeiramente sanguinolento na cavidade abdominal; fluído amarelado ou sanguinolento no intestino; hemorragia do tipo petequial nos órgãos internos; fígado hiperplásico (com aumento de tamanho), com coloração pálida ou ligeiramente esverdeada e hemorragias focais; o baço apresenta tamanho aumentado (esplenome-galia); os rins também ficam hiperplásicos e com aspecto friável; podem ser observados pontos hemorrágicos na parede interna da cavidade abdominal. Todos estes sinais são comuns em septicemias causadas por bacté-rias; d) diagnóstico: os sinais indicam que existe uma septicemia generalizada, porém o diagnóstico definitivo só pode ser feito com o isolamento da bactéria em meios de cultura específicos (Rimler-Shotts e TSA); e) controle: devido ao caráter oportunista destas bactérias, a melhor forma de evitar problemas com Aeromonas e Pseudomonas é utilizar boas práticas de manejo; banhos com sal nas concentrações de 25 a 30kg de sal/m3 por 10 a 30 minutos; ou com permanganato de potássio em banhos de 30 minutos a 1 hora na concentração de 5g/m3 são boas medidas profiláticas após o manuseio da despesca e transferências; no transporte utilize sal na concentração de 0,5

a 0,8% (5 a 8kg//m3); terapia para septicemia por Aeromonas e Pseudomonas geralmente empregam o uso de antibióticos devido ao caráter sistêmico destas bactérias. Na Tabela 7 são indicados algumas possibilidades de terapia para bactérias sistêmicas.

Saprolegniose: a) é o nome dado às in-fecções em ovos, larvas, alevinos e peixes adultos causadas por fungos da família Sa-prolegniaceae; dentre muitos fungos desta família, podemos destacar os do gênero Saprolegnia, Achlya e Dictyuchus; estes fungos estão distribuídos por todo o mundo, sendo encontrados na maioria dos ambientes aquáticos, vivendo às custas de resíduos orgânicos em decomposição; b) a Sapro-legnia parasitica é um dos mais frequentes fungos parasitos de peixes; é identificada pelo seu crescimento micelial branco ou cinza claro, com aspecto de algodão; as hifas (ou filamentos) são longas, finas, ramifica-das e não possuem segmentos; na porção final das hifas se formam os esporângios, estruturas que abrigam os esporos, formas infestantes do fungo. Os fungos geralmente agem como agentes secundários em peixes com lesões externas causadas por bactérias e parasitos. A inadequada nutrição e injúrias físicas devido ao mau manuseio durante a despesca, pesagem, transporte e descarre-gamento facilitam a infestação. Infecções por Saprolegnia em tilápias são bastante freqüentes durante o período do inverno e no início da primavera (quando o manuseio dos peixes começa a ser intensificado), e os peixes ainda apresentam reduzida resposta imunológica. O crescimento do fungo é ace-lerado a temperaturas entre 18 e 26oC e tende a se reduzir em temperaturas mais elevadas. Infecções em tilápias são facilitadas quando

Figura 10: Tilápia do Nilo com lesões ulcerativas e hemorragias na pele.

FUNGOS

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estes peixes estão submetidos às seguintes condições: 1) temperaturas abaixo de 24 oC e variações bruscas de temperatura; 2) pH da água em valores extremos; 3) má nutrição; 4) manuseio grosseiro, ocasionando perdas de escamas e outros ferimentos; 5) água com excessiva carga orgânica, o que favorece a proliferação dos fungos; c) sinais clínicos: o primeiro sinal de infecção é a presença de áreas despigmentadas na pele dos peixes; com a multiplicação e crescimento das

hifas, as áreas necrosadas começam a ser recobertas por pequenos “tufos de algodão” ou micélio (colônia formada pelas hifas); a destruição da pele e das escamas pode chegar a um ponto letal aos peixes; infecções nas brânquias podem resultar na asfixia dos pei-xes; peixes mortos são ricos reservatórios de esporos destes fungos devendo, portanto, ser removidos dos aquários tanques e viveiros; d) diagnóstico: é feito através dos sintomas observados no peixe e com a visualização, ao microscópio, do material raspado das lesões; e) controle: antes de iniciar qualquer tipo de tratamento, devem ser identificadas e corrigidas as causas que predispuseram os peixes à infecção fúngica: má nutrição, manuseio inadequado, infecções bacterianas ou parasitárias, queda brusca na temperatura, inadequada qualidade da água, manuseio de peixes sob condições inadequadas de temperatura (geralmente sob baixas temperaturas), entre outras. Os possíveis tratamentos para controlar infecções por saprolegnia são: Formalina em banhos de 1 hora nas concentrações de 150 a 300 ppm (15 a 30ml/100L); ou tratamento por tempo indefinido na concentração de 25ml/m3 em tanques e viveiros; Sal comum na concentração de 3 a 5% (300 a 500g/10L) em banhos de 5 a 10 minutos ou até o ponto em que o peixe tolerar ou se mostrar estres-sado; Sulfato de cobre em doses de acordo com a alcalinidade total da água (Tabela 7). Outras opções de tratamento podem ser encontradas em “Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes Cultivados (Kubitza e Kubitza 1999).

Figura 11: Tilápia Vermelha com hemorragia generalizada no corpo e nadadeiras.

Figura 12: Tilápia de diferentes colorações (laranja normal

e vermelha com manchas pretas).

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Questões freqüentes dos produtoressobre a qualidade dos alevinos de tilápia

Por: Fernando Kubitza, Ph.D.Acqua & Imagem - Jundiaí-SP

[email protected]

A valiar a qualidade e o custo benefício dos lotes de alevinos de tilápia é uma tarefa que exige experiência

e organização por parte dos piscicultores. Aos olhos de um leigo, alevinos são todos praticamente iguais. Uma grande quantidade de peixes miúdos adensados em embalagens plásticas ou em caixas de transporte. No entanto, quando se trata de tilápias, muitos pontos devem ser considerados pelos produtores. A começar pela eficiência da reversão sexual, a qualidade genética, o tamanho mínimo e a uniformidade de tamanho dos alevinos. A presença e grau de infestações por parasitos, os sinais indicativos de doenças e a sobrevivência registrada nos primeiros dias após o transporte. Outros pon-tos como o preço, a confiabilidade na entrega e o atendimento pré e pós-venda também merecem ser considerados. Funda-mental ainda é avaliar o desempenho de cada lote de alevinos recebidos (a taxa de crescimento, a conversão alimentar, a sobrevivência, o percentual de alevinos aproveitados e o descarte do fundo dos lotes; a participação do custo destes alevinos no custo total de produção). Portanto, todos estes

critérios devem ser avaliados para identificar fornecedores de ale-vinos que atendam às expectativas do seu empreendimento.

Problemas no fornecimento e na qualidade dos alevinos comprometem severamente os resultados e o retorno financeiro dos cultivos. Neste artigo são reunidas e discutidas as principais questões sobre qualidade de alevinos de tilápia que tenho recebido de piscicultores de diversos estados.

Nota: Para fins de orientação ao leitor, gostaria de definir rapidamente os termos pós-larvas, alevinos e juvenis utili-zados neste artigo. O termo “pós-larva” deve ser entendido como sendo os indivíduos que iniciam o processo de reversão sexual (peixes com 8 a 13mm). O termo “alevino” deve ser entendido como peixes entre 3 e 6cm, geralmente obtidos ao final do processo de reversão sexual. O termo “juvenil” deve ser entendido como peixes acima de 6cm (>2g) e não maiores do que 100g. Em alguns momentos no texto é especificado o tamanho dos juvenis a que se faz referência.

Alevinos de tilápia tailandesa

Foto

: BR

FISH

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Alevinos de Tilápia

Questões freqüentes dos produtoressobre a qualidade dos alevinos de tilápia

Qual o tamanho mínimo que um alevino de tilápia deve ter ao final do processo de reversão sexual?

Lotes de alevinos de tilápia bem produzidos geralmente apresentam peixes com tamanho entre 4 e 5cm ao final de 28 dias de reversão sexual. Idealmente, os alevinos devem atingir tamanho de pelo menos 3cm ao final dos 28 dias de tratamento com o hormônio metiltestosterona. Nos períodos de altas tempe-raturas (média de pelo menos 28oC) a reversão sexual pode ser finalizada com 21 dias. Ainda assim, os alevinos devem terminar a reversão com tamanho mínimo de 3cm, devido ao maior con-sumo de ração e crescimento sob estas altas temperaturas.

Diversos motivos podem fazer com que os alevinos não atinjam tamanho de 3cm ao final da reversão sexual. Entre muitos, a baixa temperatura durante a reversão; a elevada densidade de estocagem; os problemas de qualidade de água; a inadequada nutrição e alimentação; a infestação por parasitos.

Em condições de boa produção, um percentual muito pequeno dos peixes (geralmente menos de 5% do lote) deveria ter tamanho inferior a 3cm. Estes peixes pequenos devem ser descartados, pois geralmente são peixes que possuem baixo potencial de crescimento (e serão os retardatários ou rabeiras na engorda) e pode haver um percentual mais elevado de fêmeas neste grupo (particularmente no grupo de peixes com tamanho inferior a 2cm).

Alevinos muito pequenos ao final do período de reversão sexual estão adequadamente revertidos?

A resposta a esta pergunta depende muito da condição que provocou o atraso no crescimento destes peixes. As pós-larvas no início da reversão apresentam tamanho entre 8 e 13mm. Pei-xes que após 28 dias sequer atingiram tamanho de 2cm (20mm) apresentam grande probabilidade de não terem sido revertidos, pois provavelmente não consumiram suficiente ração com hormônio. Lotes com peixes pequenos assim podem apresentar elevado percentual de fêmeas. Diversos fatores podem provocar atraso no crescimento dos alevinos. Baixa temperatura da água - se o motivo do reduzido crescimento foram as baixas temperaturas da água durante a reversão é possível que após 28 dias de tratamento com hormônio ainda haja um significativo percentual de peixes não revertidos no lote. Sob temperaturas de água mais amenas (entre 23 e 25oC) é recomendável prolongar a reversão sexual para cerca de 35 dias, visto que o metabolismo dos peixes é mais lento, o que faz com que a definição do sexo demore mais tempo. Assim, se o produtor de alevinos conduziu a reversão por apenas 28 dias em um período de temperaturas amenas, os alevinos serão pequenos ao final da reversão e poderá haver um maior percentual de fêmeas no lote. Infestações por parasitos - quando o crescimento é prejudicado por parasitoses é possível que o percentual de fêmeas no lote seja maior. Isso se deve ao fato das pós-larvas e alevinos, quando parasitados, diminuírem o consumo de ração. Sob infestações severas, os peixes podem perder o apetite por completo e deixarem de se alimentar. Com isso, além do atraso no crescimento, ocorre um

aumento na mortalidade durante a reversão. Quando a mortalidade começa a ocorrer o produtor de alevinos ge-ralmente recorre a um tratamento terapêutico, que muitas vezes acaba controlando ou minimizando a infestação por parasitos. Após o tratamento, as pós-larvas que haviam diminuído ou paralisado o consumo de ração, retomam a alimentação. No entanto, como parte das pós-larvas pode ter ficado alguns dias sem consumir ração (e, assim, sem ingerir o hormônio), o percentual de fêmeas no lote tende a ser maior. Alta densidade de estocagem das pós-lar-vas durante a reversão - com o aumento na densidade de estocagem, o crescimento das pós-larvas e alevinos tende a ser mais lento e os peixes terminam a reversão com menor tamanho. Isso não chega a prejudicar a eficiência da reversão sexual. No entanto, alevinos estocados sob altas densidades correm mais risco de serem expostos a problemas de qualidade de água e a organismos patogênicos durante a re-versão, ficando assim mais sensíveis ao manuseio e transporte. Com isso a sobrevivência após o manuseio e transporte pode ser comprometida. Baixa qualidade nutricional do alimento usado na reversão - o atraso no crescimento dos alevinos pode ocorrer com o uso de rações nutricionalmente inadequadas ou de baixa qualidade (por exemplo, rações com níveis protéicos abaixo de 32%, e/ou rações com inadequada suplementação vitamínica e mineral; rações de baixa palatabilidade; rações de baixa estabilidade na água). Embora isso possa ter pequeno efeito na eficiência da reversão sexual, alevinos mal nutridos tendem a apresentar menor sobrevivência após o manuseio e transporte. Como salientado anteriormente, há uma tendência de encontrar um percentual maior de fêmeas entre os alevinos que terminam a reversão com tamanho inferior a 3cm.

Qual o máximo percentual de fêmeas aceitável em um lote de alevinos?

A resposta a esta pergunta depende muito do sistema de cultivo empregado e do peso médio desejado ao final da engor-da. Nos cultivos em tanques-rede a reprodução é inibida pelas altas densidades de estocagem e pela inadequada condição do ambiente para a reprodução. Assim, um lote de alevinos com alto percentual de fêmeas (>5%) causaria poucos problemas no cultivo em tanques-rede na produção de tilápias com peso médio ao redor de 500 a 600g. No entanto, na produção de tilápias maiores (acima de 800g), lotes com alto percentual de fêmeas geralmente resultam em maior heterogeneidade de tamanho ao final do cultivo, com as fêmeas do lote alcançando um peso médio bem inferior ao dos machos.

No cultivo em tanques de terra a estocagem de lotes de alevinos com mais do que 2 a 3% de fêmeas pode resultar em excessiva reprodução durante o cultivo. Estes problemas são ainda mais agravados quando o objetivo é produzir tilápias de grande tamanho (peixes acima de 800g), o que demanda um ciclo de produção mais longo. Assim, as fêmeas presentes no estoque terão tempo para se reproduzir diversas vezes e superpo-voar os tanques de cultivo. Este problema é ainda mais agravado quando se utiliza lotes de alevinos ou juvenis com mais de 2%

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Alev

inos

de

Tilá

pia

de fêmeas e que foram estocados durante o inverno para comercialização no início da primavera. Estes peixes, embora ainda pequenos, já atingiram ou estão muito próximos de atingir a idade de maturação sexu-al. Isso ocorrerá logo nos primeiros meses da recria e engorda, aumentando o potencial de superpopulação dos tanques de cultivo.

O que é a tilápia GIFT que está sendo ofertada no mercado?

A linhagem de tilápia denominada GIFT (lê se “guifiti”) foi obtida através de um programa de melhoramento genético que teve como base genética 8 linhagens de tilápias do Nilo. Este programa foi um esforço conjunto de países do sudeste asiático (Filipinas, Indonésia, China, Tailândia, Índia, entre outros) e da África (Costa do Marfim, Ghana e Egito), coordenado pelo ICLARM (International Center for Living Aquatic Resources Management). Instituições governamentais, universidades e centros de pesquisas de diversos países também colaboraram com este programa. Este programa foi batizado com o nome de GIFT que significa Genetically Improved Farmed Tilapia (na tradução, Tilápia Cultivada Geneticamen-te Melhorada).

Qual a espécie ou linhagem de tilápia de mais rápido crescimento hoje no país?

No Brasil são cultivadas diversas linhagens de tilápia. Existem linhagens de cor cinza e as linhagens vermelhas. A maior parte das linhagens cinzas tem como base genética a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Exemplos destas linhagens são a tilápia tailandesa, a tilápia GIFT e as tilápias nilóticas não selecionadas. Esta última predominou nos cultivos comerciais no Brasil até o final dos anos 90.

Reprodutor de tilápia tailandesa

Foto do autor

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A tilápia tailandesa (ou Chitralada) é a li-nhagem mais cultivada no Brasil no momento. Esta linhagem descende de um grupo de tilápia do Nilo levada do Egito ao Japão e daí para a Tailândia e outros países do sudeste asiático. Nestes países esta linhagem foi melhorada. A Tailândia foi o país que lhe emprestou o nome e de onde vieram, em 1996, os primeiros alevinos de tilápia tailandesa para o Brasil. Alevinos para a formação de plantel de reprodutores foram vendidos a diversos produtores em todo o Brasil. Outros produtores de alevinos montaram seus plantéis a partir de alevinos nascidos em desovas que ocorreram em tanques de engoda. O DNOCS e a CODEVASF importaram novo material genético de tilápia tailandesa em 2003 e disponibilizaram este material a produtores de alevinos, particularmente na região Nordeste. A linhagem tailandesa apresenta crescimento superior ao das linhagens de tilápia do Nilo não selecionadas que se cultivava (e ainda se cultiva) no Brasil. No entanto, muitos produtores ainda preferem as tilápias do Nilo não selecionadas ou a tilápia cruzada (tilápia do Nilo não selecionada cruzada com a tailandesa) quando o mercado alvo é o pesque-pague. As tilápias do Nilo não selecionadas e as cruzadas toleram melhor o transporte de longa distância e são mais facilmente capturadas na pesca com anzol do que a tailandesa. Por outro lado, a tilápia tailandesa tem comportamento mais dócil, se adapta melhor nos cultivos adensados em tanques-rede e são um pouco mais fáceis de serem capturadas com rede de arrasto em tanques escavados, comparada a outras linhagens de tilápia cinza.

As linhagens de tilápia do Nilo denominadas GIFT (Genetically Improved Farmed Tilapia) foram recentemente introduzidas no Brasil. A primeira inicia-tiva foi da Aquabel, que adquiriu a linhagem comercial Genomar Supreme TilapiaTM (da empresa norueguesa Genomar). Esta linhagem é comercializada no Brasil com o nome de Supreme®. A segunda iniciativa de introdução da GIFT foi uma ação conjunta entre a

Universidade Estadual de Maringá no Paraná e a SEAP/PR (Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca). Foi impor-tado material genético da linhagem GIFT diretamente das Filipinas. Alevinos desta linhagem já estão disponíveis a produtores interessados em formar plantel de matrizes. Um estudo realizado em Bangladesh comparou o crescimento da linhagem GIFT com o crescimento de linhagens de tilápia do Nilo não selecionadas e que vinham sendo cultivadas naquele país. Neste estudo foi observado um ganho médio de peso 40 a 57% superior para a linhagem GIFT. Estudos semelhantes nas Filipinas demonstraram que a base genética original da linhagem GIFT (formada por uma combinação de 8 linhagens de tilápia do Nilo) apresentou crescimento cerca de 50-60% superior ao obtido com linhagens de tilápia do Nilo não selecionadas e que vinham sendo usadas pelos piscicultores Filipinos. Outros estudos compararam a linhagem GIFT com linhagens de tilápia do Nilo já submetidas à seleção e demonstraram a superioridade da linhagem GIFT em cerca de 10-15% no que diz respeito ao ganho de peso.

Quando foram usados alevinos não revertidos, o cres-cimento de uma das gerações da linhagem GIFT foi 15 a 20% superior em comparação com a linhagem tailandesa (Chitralada). Isso foi atribuído à maturação sexual mais tardia das tilápias GIFT, possibilitando atingir um peso médio maior antes do início da reprodução. Outro experimento realizado no Vietnam registrou crescimento cerca de 10% superior para a linhagem GIFT contra a linhagem tailandesa em tanques fertilizados onde os peixes também receberam ração extrusada.

Nestes países asiáticos o peso médio da tilápia ao final do cultivo raramente ultrapassa 400g, sendo mais comum a produção de peixes entre 200 e 300g. No Brasil, este ganho de peso de pelo menos 10% superior da linhagem GIFT sobre a linhagem Tailandesa não tem sido evidente em cultivos comer-ciais. A impressão que colhi junto a produtores com os quais conversei é de que a taxa de crescimento da tilápia GIFT é mais acelerada no início do cultivo e diminui quando o peixe atinge cerca de 200 a 300g. No entanto, como nos cultivos brasileiros a tilápia normalmente é recriada a um peso médio acima de 600g (muitas vezes próximo a 1kg ou até mesmo acima disso), após 300g parece haver uma recuperação da tilápia tailandesa quanto ao ganho de peso, equiparando seu crescimento ao da GIFT até o final de cultivo.

As linhagens vermelhas- no Brasil alguns produtores cultivam linhagens vermelhas de tilápia. “Tilápia vermelha” é uma denominação que engloba tilápias de coloração que varia do rosa claro (quase branco) a um tom laranja-claro – laranja-forte. Algumas linhagens são desprovidas de pigmentação ou man-chas escuras, enquanto que outras podem apresentar manchas escuras bem evidentes em diversas partes do corpo. Denomi-nações comerciais como Saint Peter, Saint Pierre e San Pietro foram utilizadas inicialmente para a tilápia híbrida de Israel. O nome Saint Peter foi generalizado como sinônimo de tilápia vermelha na região sudeste e diversas linhagens vermelhas são assim denominadas. De um modo geral as linhagens vermelhas cultivadas no Brasil apresentam crescimento 30 a 50% inferior e uma menor eficiência reprodutiva comparada à linhagem

Alevinos de Tilápia

Reprodutor de tilápia vermelha da linhagem Red Stirling

Foto do autor

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tailandesa, resultando em maior custo na produção dos alevinos e na engorda. Apesar disso, existem nichos de mercado que valorizam mais a tilápia vermelha e seus produtos do que as tilápias cinzas, justificando assim o cultivo das vermelhas em algumas localidades.

Um ponto deve ser ressaltado no que diz respeito à qualidade genética e à qualidade dos alevinos: apesar da genética ser muito importante, é comum ver alevinos de excelente base genética apresentarem desempenho inferior ao de alevinos de base genética aparentemente inferior (por exemplo, linhagens de tilápia do Nilo não selecionadas comparadas com a linhagem tailandesa).

podem reduzir os problemas com a desuniformidade de tamanho dos peixes durante o cultivo?

Estas são três questões muito freqüentes na cabeça dos produtores de tilápia. Diversas considerações merecem ser feitas para que se compreenda a estratégia de produção que deve ser adotada para melhorar o resultado dos cultivos, mensurado quanto ao crescimento dos peixes, conversão alimentar média dos lotes, uniformidade de tamanho dos peixes e custo de produção.

Diversos motivos contribuem com a desuniformidade no tamanho dos peixes. A diferença inicial no tamanho dos alevinos estocados certamente é um importante fator na heterogeneidade de tamanho dos peixes (mas não é o único). De uma maneira geral, os maiores alevinos do lote tendem a terminar a primeira etapa de cultivo com peso médio maior do que os alevinos menores. Deste modo, se houver uma boa classificação dos alevinos antes da venda, a desuniformidade de tamanho ao final do berçário ou recria é amenizada, mas não é eliminada por completo, pois outros fatores também contribuem com a variação no tamanho dos peixes durante o cultivo. Diferenças genéticas entre os indivíduos contribuem para aumentar a desuniformidade de tamanho. Assim, em um lote de alevinos de tilápias há sempre um grupo de peixes que possuem a melhor combi-nação genética (peixes que convertem melhor o alimento ingerido, que têm maior apetite, que se adaptam melhor às condições do ambiente de cultivo, que são mais tolerantes às infestações por parasitos, dentre outras características desejáveis). Portanto, estes peixes com a melhor combi-nação destas características se destacam no crescimento e formam o grupo “cabeceira”. No outro extremo ficam os peixes retardatários ou a “rabeira” ou o “fundo do lote”. Os peixes do fundo do lote “se arrastam” durante a fase de crescimento.

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de

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pia

Isso acontece porque fatores outros que a genética, também exercem grande influência na qualidade e desenvolvimento dos alevinos estocados na engorda. Dentre muitos vale ressaltar a nutrição e alimentação das matrizes; a qualidade da água durante a reversão sexual; a nutrição e o manejo alimentar das pós-larvas e alevinos durante a reversão; a eficiência da reversão sexual (medido pelo percentual de machos no lote); a condição sanitária durante a produção dos alevinos (grau de infestação por parasitos); a qualidade do manuseio e da preparação dos alevinos para o transporte e o próprio transporte. Estes fatores afetam o desenvolvi-mento dos peixes após a reversão e podem dar vantagens iniciais em crescimento e sobrevivência a alevinos bem produzidos, mesmo sendo estes de base genética inferior. Estas vantagens dificilmente serão minimizadas ao longo da engorda por alevinos que sofreram privações nutricionais, infestações por parasitos e estresse durante a produção.

Por quê ocorre variação no tamanho dos peixes durante o cultivo? Se o produtor de alevinos fornecer alevinos de ta-manho uniforme, a desuniformidade de tamanho na recria e engorda será solucionada? Quais estratégias de manejo

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19Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006

Entre o o fundo do lote e os cabeceiras existem os peixes com potencial de crescimento intermediário. A única ação do produtor para amenizar este problema é realizar o descarte dos peixes do fundo do lote. Manejo alimentar e densidade de estocagem também são fatores que contribuem com a desu-niformidade dos lotes. De um modo geral, o uso de elevadas densidades de estocagem em tanques-rede e em tanques de terra exacerbam a desuniformidade de tamanho entre os peixes. Res-trição alimentar associada a um aumento no número de refeições por dia também agravam este problema. Muitos produtores rea-lizam um número elevado de tratos diários na recria e engorda, utilizando pequenas quantidades de ração em cada refeição. Isso promove maior competição por alimento em cada refeição, com os peixes maiores e mais agressivos comendo mais do que precisam e os peixes menores ficando na míngua.

Devemos considerar que qualquer lote de alevinos adquirido durante o berçário ou recria se segmentará em três grupos: o cabeceira, o intermediário e o rabeira. Mesmo que o produtor de alevinos adote uma política de descarte de fundo de lotes ao final da reversão, o produtor que fará a recria destes alevinos ainda lidará com estes três grupos de peixes. No entanto, como os peixes muito ruins foram descartados pelo produtor de alevinos, o lote rabeira não será tão ruim assim, demandando o descarte de um menor percentual de peixes do fundo do lote. No entanto, quando o produtor de alevinos não adota a estratégia de descarte da rabeira ou do fundo dos lotes após a reversão, o comprador do alevino é quem vai ter que fazer o descarte e assimilar este custo.

Estudo de caso - Recentemente tive a oportunidade de analisar o resultado da engorda de tilápias em tanques-rede na Piscicultura Palmares de propriedade do Dr. Francis-co Leão. A Piscicultura Palmares se dedica exclusivamente à engorda de tilápias para venda aos pesque-pagues. No ma-nejo de rotina são adotadas 2 fases de cultivo. Na primeira fase (ou berçário) os alevinos pós-reversão são estocados em tanques-rede onde são crescidos até um peso médio entre 50

e 60g. No entanto, ao final desta primeira fase os peixes se distribuem em grupos de peso que variam entre 20 e 90g. Neste momento os alevinos são classificados em dois grupos: o lote cabeceira (peixes maiores e geralmente com peso entre 50 e 90g, dependendo do lote) e o lote “rabeira” (peixes menores e geralmente com peso médio entre 20 e 40g dependendo do lote). Em geral, os peixes rabeiras necessitam 60 a 70 dias a mais que os cabeceiras para atingir peso de venda pró-ximo de 600g. A conversão alimentar média dos lotes “cabeceiras” gira ao redor de 1,4, enquanto que para os lotes “rabeira” a média é de 1,7. Ou seja, além de ocupar por mais tempo as unidades de cultivo, os lotes rabeiras usam mais ração por quilo de peixe produzi-do. Esta diferença de 0,3 na conversão alimentar (1,7 – 1,4 = 0,3) por si só implica em um custo adicional de ração de R$ 0,27/kg de tilápia (considerando o preço da ração de engorda a R$ 0,90/kg). Resultado: o maior uso de ração e o tempo adicional na engorda aumentam o custo médio de produção.

Tenho visto resultados como estes da Piscicultura Palmares em muitos outros cultivos de tilápia e de outras espécies no Brasil. E, certamente, os produtores já visuali-zaram esse problema. Porém, por falta de controle ou por descuido na análise dos dados de produção, muitos ainda não conseguiram quantificar o que isso representa no custo de produção. A estratégia que deve ser adotada para ameni-zar este problema é o descarte o mais cedo possível de um percentual dos peixes do lote (os peixes rabeiras). Para fazer este descarte de forma eficaz, os lotes de alevinos adquiridos devem apresentar tamanho bem uniforme, para eliminar a influência do tamanho inicial dos alevinos no peso final no momento do descarte. Se os alevinos chegam desuniformes, o produtor tem que classificá-los antes da estocagem nos tanques de produção. Para quem trabalha com tanques-rede esse descarte é fácil de ser realizado. Com cerca de 10 a 14 dias no berçário os peixes devem ser novamente classificados (enquanto ainda são pequenos e não custaram muito ao produtor). Para os produtores que trabalham com tanques de terra, seria oportuno estocar inicialmente os alevinos em hapas com malha de 5mm para que seja fácil capturar os peixes após 10 a 14 dias para a classificação. Nesta classificação deve ser eliminado o fundo dos lotes. O percentual de peixes que deve ser eliminado é difícil de precisar. Se houve um descarte de fundo de lotes por parte do fornecedor dos alevinos ou juvenis, o percentual de des-carte adotado pelo produtor pode ser menor, por exemplo, cerca de 10-15% dos peixes do lote. Se o fornecedor dos alevinos não fez o descarte, o produtor terá que descartar uma quantidade maior de peixes, que pode variar entre 20 e 30% do lote. Fatores econômicos (custo dos alevinos, preço de ração e preço de venda final da tilápia) também devem ser analisados para determinar o percentual de descarte. Quanto maior for o percentual de descarte, melhor será o desempenho do lote no cultivo.

Alevinos de Tilápia

"Quando o produtor de alevinos não adota a

estratégia de descarte da rabeira ou do fundo dos lotes após a reversão, o comprador do alevino é quem vai ter que fazer o descarte e assimilar

este custo"

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Vamos ilustrar o impacto dessa estratégia de manejo no custo de produção da tilápia com o exemplo da Piscicultura Palmares. Vimos que a diferença em conversão alimentar média dos lotes “rabeira” foi de 1,7, o que representa um custo de ração de R$ 1,53/kg (1,7 x R$ 0,90/kg de ração). Para os lotes cabeceira, a conversão média foi 1,4, o que representa um custo de ração de R$ 1,26/kg de tilápia (1,4 x R$ 0,90/kg de ração). Se os lotes “rabeira” fossem eliminados o custo de ração seria o obtido com o lote cabeceira. Ou seja, uma redução no custo de produção de R$ 0,27/kg somente com a economia de ração.

No entanto, o descarte dos lotes “rabeira” implica em maior custo de aquisição de alevinos. Vamos considerar que sem o descarte dos lotes “rabeira” o aproveitamento global dos alevinos até o final do cultivo seja de 70% e que o objetivo é produzir tilápias com peso médio de 1kg (para facilitar os cálculos). Para cada tilápia de 1kg que chega ao final do culti-

vo foi necessário adquirir 1,43 alevino (1 / 70%). Se o custo do alevino for R$ 0,10/unidade, o custo de alevinos será de R$ 0,143 por quilo de tilápia (R$ 0,10 x 1,43 alevino). Com um descarte drástico de metade dos alevinos sobreviventes logo nas primeiras semanas do berçário (os 50% menores de cada lote), o custo de alevino por quilo de peixe dobrará, ou seja, passará a ser R$ 0,286/kg. Pois bem, neste exemplo, o descarte de metade dos alevinos aumentou o custo de alevinos em R$ 0,14/kg e reduziu o custo da ração em R$ 0,27/kg. Ou seja, ainda houve uma economia de R$ 0,13/kg de tilápia produzida.

Além dessa economia direta, há de se esperar uma redução adicional no custo de produção devido a economia de tempo na engorda, que se traduz em maior produção na mesma instalação e, portanto, redução do custo fixo. Por exemplo, se o ciclo de produção leva em média 300 dias (10 meses para sair de 0,5g e chegar a 1kg), usando somente os lotes “cabeceira” o ciclo de produção deve ficar no mínimo uns 60 dias mais curto (sendo conservador e considerando os 60 a 70 dias de economia de tempo para a produção de uma tilápia de 600g na Piscicultura Palmares). Assim, ao invés de 300 dias, os ciclos serão de 240 dias (8 meses). Isso possibilitaria aumentar em 25% a produção anual com a mesma instalação e possivelmente com a mesma equipe de funcionários, reduzindo assim o componente fixo do custo de produção.

O mais lógico e menos oneroso seria o produtor de alevinos descartar o fundo dos lotes ao final da reversão sexual. Assim quem vai produzir juvenis ou engordar a tilápia não precisará descartar um percentual muito grande de alevinos.

Quando estes alevinos não são descartados logo no começo do cultivo, eles lentamente chegam a um porte de juvenil (20g ou mais) e já carregam um considerável custo acumulado. E com esse porte, o produtor fica com dó de fazer o descarte. E esses peixes vão se arrastando até atingirem

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Classificação de juvenis de tilápia vermelha com o uso de um classificador de barras ajustáveis

Foto do autor

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peso de mercado. Esses alevinos deveriam ter sido descarta-dos ao final da reversão, onde ainda não acumularam muito custo. Descartar uma rabeira de 15 a 20% dos alevinos ao final da reversão seria uma prática justa e que em pouco tem-po retornará benefícios ao produtor de alevinos. Um cliente descontente por ter recebido um fundo de lote significa um cliente a menos na carteira e muitos potenciais novos clientes indo direto nos concorrentes.

Se o produtor de alevinos não descarta o fundo dos lotes, algum produtor vai ser premiado com um lote de ale-vino formado pela rabeira de diversos lotes de alevinos. São todos bonitinhos, de bom tamanho e bem classificados. Um capricho. Mas simplesmente eles se arrastam nos tanques de cultivo. O risco de receber fundo de lotes é maior para os produtores de pequeno porte que geralmente compram lotes pequenos de alevinos ou juvenis. O atraso na produção causado por fundos de lotes custará muito mais do que pagar 15, 20, 30% a mais por lotes de alevinos que tiveram o fundo dos lotes descartados.

Invariavelmente a mortalidade dos alevinos de tilápia nos primeiros dias após o transporte tem sido relativamente alta, principalmente no caso de alevinos pequenos (0,3 a 0,5g). A mortalidade diminui quando estoco alevinos maiores (1,0 a 2,0g ou 5-6cm). O que posso fazer para diminuir esta mortalidade?

Quando a mortalidade dos alevinos ocorre no transpor-te e continua por 3 a 4 dias após o transporte, esta, invaria-velmente, é resultado de problemas durante a produção e/ou o transporte. Alevinos que passaram por restrição alimentar ou foram mal nutridos; que sofreram com problemas de quali-dade de água; que foram manuseados grosseiramente durante a despesca e a classificação; que estavam com alta infestação por parasitos; que não receberam adequado jejum antes do transporte; que sofreram estresse no transporte (descuido com

o oxigênio nas caixas de transporte; carga excessiva de alevinos no transporte; temperatura elevada na água de transporte). Todas estas condições adversas contribuem com a mortalidade logo após o transporte.

A mortalidade também pode estar associada a problemas de qualidade de água no local de destino. O produtor deve preparar adequadamente os tanques onde os alevinos serão estocados. No caso de alevi-nos estocados em tanques-rede, a malha utilizada não deve ser muito grande a ponto de permitir que estes machuquem a cabeça tentando sair do tanque-rede. Use uma panagem macia e com menor tamanho de malha nos primeiros 5 dias até que os alevinos se habituem ao tanque-rede. Em geral alevinos pequenos (2-3cm) apresentam maior mortalidade pós-transporte, pois geralmente não conseguem tolerar a combinação estresse de manuseio e transporte e uma possível infestação por parasitos. A mortalidade destes pequenos alevinos é rápida (ocorre dentro de 1 a 3 dias após o transporte). Em tanques de terra esta mortalidade nem sempre é visível ao produ-tor, pois os alevinos mortos geralmente têm suas barrigas comidas pelos sobreviventes e com isso não aparecem na superfície da água. Em tanques-rede é mais fácil observar esta mortalidade. Alevinos de 5 a 6 cm geralmente são os que melhor toleram o manuseio e transporte. Como são maiores, também toleram um grau maior de infestação por parasitos comparados a alevinos menores. Juvenis de 20 a 30g podem apresentar alta mortalidade pós-transporte, principalmente por se machucarem mais durante o manuseio e a classificação por tamanho, dependendo do tipo de clas-sificador utilizado. Quando estocados em tanques-rede os juvenis podem se machucar tentando escapar pelas malhas das telas. Isso é mais comum com juvenis produzidos soltos em tanques de terra. Juvenis produzidos em tanques-rede já estão acostumados com o confinamento e não têm difi-culdade de se adaptar em um novo tanque-rede.

Alevinos de Tilápia

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O que o produtor pode fazer para melhorar a sobrevi-vência dos alevinos recebidos? Avaliar a sobrevivência de cada lote. Verificar se os alevinos recebidos estão com parasitos (exa-mes microscópicos) ou sinais de doença. Sugerir ao fornecedor de alevinos que realize um tratamento profilático para reduzir a infestação por parasitos antes do transporte. Se este tratamento não está sendo feito pelo fornecedor de alevinos, ele pode ser fei-to assim que os alevinos chegarem na propriedade. Na primeira semana pós-estocagem pode ser utilizada uma ração medicada para prevenir problemas com bacterioses, sob a recomendação e supervisão de um profissional qualificado. Quando a engorda é feita em tanques-rede e a estocagem é de juvenis, o produtor deve dar preferência aos fornecedores que produzem os juvenis em tanques-rede, ou mesmo aos fornecedores que adaptam os juvenis ao confinamento antes da comercialização. Se isso não foi possível, na primeira semana de estocagem nos tanques-rede os juvenis devem ser confinados em bolsão ou hapa de panagem macia e de malha de menor abertura, para que os mesmos não se machuquem tentando escapar dos tanques-rede.

Quais os principais fatores determinantes da qualidade dos alevinos de tilápia e como identificar isso no campo?

Para avaliar a qualidade dos alevinos é preciso acompanhar atentamente os lotes desde a estocagem até a finalização do culti-vo. Qualidade genética é importante e este parâmetro não dá para avaliar apenas olhando os alevinos. Tem que ver o resultado do cultivo (taxa de crescimento, conversão alimentar, sobrevivência, uniformidade de tamanho, dentre muitos outros fatores).

O que pode ser verificado de imediato? a) a condição corporal dos alevinos : observe a musculatura no dorso dos alevi-nos. Alevinos que foram bem alimentados apresentam dorso bem desenvolvido. Os que passaram por severa privação alimentar podem apresentar musculatura dorsal rebaixada. O produtor também deve se certificar da ausência ou da ocorrência de um número muito pequeno de peixes machucados ou de peixes com manchas ou descamação no corpo, ou ainda com podridão nas nadadeiras também deve ser verificada; b) a coloração vermelho

vivo das brânquias: que serve de indicativo da condição nutricional e da saúde dos alevinos; c) a presença e o grau de infestação por parasitos: através de exames microscópicos das brânquias e do muco; d) a uniformidade de tamanho: que indica o capricho do produtor em ofertar um bom pro-duto. No entanto, a uniformidade no tamanho dos alevinos por si só não é garantia de qualidade dos alevinos. Lembre-se que você pode estar recebendo um lote bem uniforme de peixes rabeiras; e) início da alimentação após-transporte: alevinos saudáveis e que sofreram pouco no manuseio e transporte começam a se alimentar poucas horas após a estocagem. Lembre-se que estes peixes ficaram um bom

Alevinos de Tilápia

período em jejum e o normal é demonstrarem grande apetite em poucas horas após a estocagem; f) sobrevivência pós-trans-porte ou sobrevivência na primeira etapa do cultivo: alevinos de boa qualidade apresentam alta sobrevivência pós-transporte. Mas não se isente da responsabilidade em contribuir com esta sobrevivência, assegurando um adequado ambiente e nutrição aos alevinos recebidos; g) percentual de peixes no fundo do lote: para avaliar isso é preciso verificar a distribuição de tamanho dos peixes após a fase de berçário. Se houve o descarte de fundo de lote pelo fornecedor dos alevinos, o produtor deverá encontrar ao final da primeira etapa de cultivo um percentual muito baixo de peixes no fundo dos lotes. Esse é um importante parâmetro indicador da qualidade dos alevinos.

Considerações finais

Conhecendo um pouco mais os critérios importantes na avaliação da qualidade dos alevinos, os produtores de tilápia podem agora apreciar o quão complexo e dedicado deve ser o trabalho dos produtores de alevinos para ofertar um produto de alta qualidade. E, quando encontram este produto no mercado, devem saber valorizá-lo. Por outro lado, devem cobrar mais pro-fissionalismo dos seus fornecedores quando o produto ofertado esta aquém de suas expectativas. A participação dos alevinos no custo de produção é relativamente pequena diante da importân-cia da qualidade deste insumo no resultado da produção. Assim, o produtor deve sempre considerar a opção de pagar mais por alevinos de melhor qualidade e entregues dentro das condições especificadas. A aparente economia na compra de lotes de ale-vinos baratos pode resultar em maior custo do produto final. A insatisfação quanto à qualidade do produto recebido e a ocorrência de elevada mortalidade de alevinos pós-transporte desgastam a relação entre o produtor e o fornecedor dos alevinos e atrasam os ciclos de produção. A estrutura e o pessoal ficam ociosos, os custos de produção se elevam e a programação de vendas acaba comprometida. Este furo na produção faz com que muitos com-promissos de entrega de peixes sejam adiados e descumpridos, Os clientes órfãos e insatisfeitos vão buscar a salvação junto aos seus concorrentes e podem nunca mais precisar da sua tilápia. Assim, esta rachadura no processo de produção e venda que começou com uma falha na qualidade no fornecimento dos alevinos pode acumular consideráveis perdas ao seu empreendimento, muitas das quais podem ser irreparáveis.

Foto do autor

Classificação de alevinos com classificador de barras

Estimativa volumétrica de alevinos com o auxílio de peneiras em preparação para o transporte

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14 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

Ajustes na nutrição e alimentação das tilápias

No atual desenvolvimento da tilapicultura no Brasil, falar sobre a importância da nutrição e alimentação no desempenho e saúde das tilápias pode até parecer preciosismo. Mas ainda há muitos piscicultores em nosso país com dificuldades na definição de um programa nutricional e alimentar e na avaliação da relação custo/benefício das rações disponíveis no mercado. Uma dúvida freqüente nas fazendas é se o manejo alimentar empregado é o mais adequado. Portanto, nada mais oportuno do que começar 2007 apresentando estratégias de alimentação que possam melhorar ainda mais o desempenho dos cultivos de tilápia, que é hoje a espécie mais produzida na aqüicultura nacional.

Por: Fernando Kubitza, Ph.D.Especialista em nutrição e produção de peixesAcqua Imagem Serviços [email protected]

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15Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

Alimentação de Tilápia

Os equívocos têm início já na produção dos alevinos. No intuito de fornecer a melhor nutrição possível, o produtor lança mão de rações com níveis de proteína muito acima das exigências nutricionais estabelecidas para pós-larvas e alevinos de tilápia. As conseqüências disso serão discutidas oportuna-mente. Na recria e engorda em tanques de terra os complica-dores são outros na hora de definir a estratégia alimentar. Com pouca compreensão da relação entre a densidade de plâncton e a biomassa estocada, há produtores que se excedem nas taxas de alimentação sob baixa estocagem (1 a 2 tilápias/m2), não tirando proveito da contribuição do alimento natural. Outros utilizam densidades elevadas e, para isso, investem em aeração e dis-põem de renovação de água, mas ainda insistem em usar rações baratas de baixa densidade nutricional, e que acabam resultando em pior conversão alimentar, menores taxas de crescimento e maior acúmulo de gordura visceral.

Outro complicador em tanques de terra é a dificuldade que muitos tilapicultores têm em estabelecer e manter uma ade-quada densidade de plâncton e implementar um eficiente manejo nutricional e alimentar. Geralmente os peixes são alimentados em excesso e acabam ficando preguiçosos no aproveitamento do alimento natural. Nos cultivos de tilápia em tanques-rede o manejo nutricional é um pouco mais uniforme, pois não há muita margem para brincadeiras e experimentações. Isso, no entanto, não impede que cada produtor experimente e encontre estratégias de alimentação que melhor sirvam às características do seu empreendimento, sem é claro prejudicar o desempenho dos peixes. Ainda assim, tenho visitado muitos produtores que já trabalham com tanques-redes há anos e uma das grandes ques-tões é se o manejo alimentar que empregam está adequado.

Em oportunidades anteriores nesta revista foram apresen-tadas matérias específicas sobre a nutrição e o manejo alimentar no cultivo de tilápias (Panorama da Aqüicultura, 1999 – Ed.52 e 53; Panorama, 2000 – Ed.60). Não por mera coincidência, estas matérias sempre acompanharam momentos importantes na tilapicultura nacional. O primeiro deles foi o início do cultivo da tilápia em tanques-rede no reservatório de Xingó no Rio São Francisco, marcado pelo Festival da Tilápia de Paulo Afonso (maio, 1999), que teve repercussão nacional e foi o estopim da tilapicultura em tanques-rede no Nordeste do Brasil. O segundo, foi o Simpósio Internacional sobre a Aqüicultura de Tilápias (ISTA – setembro, 2000) realizado no Rio de Janeiro, e que deve ser considerado um importante marco na difusão da tecnologia de cultivo de tilápias em nosso país.

Nos anos que seguiram até o momento houve um grande avanço no cultivo de tilápias. Primeira-mente pelo papel dos fabricantes de rações em ofertar produtos de qualidade para assegurar o sucesso dos cultivos intensivos (particularmente em tanques-rede, que até então vinha sofrendo grandes prejuízos com desequilíbrios nutricionais e doenças decorrentes da má nutrição). Segundo, pelos investimentos feitos em anos recentes na industrialização e comercialização da tilápia, com foco na exportação e na popularização deste peixe no mercado interno. A tilápia é hoje a espé-

cie mais produzida na aqüicultura nacional (seguramente cerca de 100 mil toneladas anuais) e um produto comum de se encontrar nas principais redes de supermercados do país, com poucas exceções. E, na lembrança deste autor, de 2000 até o momento, nada mais foi escrito nesta revista especificamente sobre o manejo nutricional e alimentar no cultivo de tilápias. Portanto, nada mais oportuno do que começar 2007 discutindo importantes aspectos do manejo nutricional e alimentar na produção de tilápias e apresentando estratégias de alimentação que possam ser de utilidade para a melhoria do desempenho dos cultivos.

Os cuidados com a nutrição dos reprodutores

Ao contrário do que muita gente imagina, não são o hormônio, o álcool, a ração e a mão de obra usada na reversão os principais componentes do custo de produção de alevinos. Mas sim, as despesas com a formação e manutenção dos re-produtores que, em uma situação normal, chegam a representar algo entre 30 e 60% deste custo, dependendo do sistema de produção de alevinos adotado. Portanto, descuidos no manejo dos reprodutores que prejudiquem a produção e a qualidade das pós-larvas e alevinos, amplificam em muito o custo de pro-dução. Entre estes descuidos está a má nutrição. Deficiências na nutrição comprometem não apenas a produção de ovos e pós-lavras, mas também o desenvolvimento, a sobrevivência e a qualidade dos alevinos.

Em diversas espécies de peixes já foram investigados os efeitos negativos da má nutrição sobre o desempenho repro-dutivo e a qualidade dos ovos e pós-larvas. No caso particular das tilápias, são resumidas aqui algumas informações. As rações para reprodutores de tilápia do Nilo devem ter entre 28 e 40% de proteína (Wee e Tuan, 1988; Siddiqui et al 1998; Al-Hafedh et al 1999). Baixa ingestão de proteína resulta em atraso na maturação sexual e baixa produção de ovos. Além da importância da nutrição protéica, é de conhecimento geral o impacto negativo de deficiências em vitaminas, minerais e ácidos graxos na eficiência reprodutiva de diversas espécies de peixes. Com tilápia, em particular, há um estudo digno de discussão neste artigo (Tabela 1).

Tabela 1 - Efeito da deficiência de vitamina C na ração dos reprodutores sobre a eclosão dos ovos e a qualidade das pós-larvas de Tilápia de Moçambique (Oreochromis mossambicus). Adaptado de Soliman et al 1986

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17Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

Alimentação de Tilápia

Reprodutores de tilápia de Moçambique alimentados com ração desprovida de vitamina C produziram ovos e larvas de baixa qualidade. A cada 1.000 ovos gerados pelas fêmeas mal nutridas, apenas 540 eclodiram (taxa de eclosão de 54%), resultando na produção de 540 pós-larvas. Destas, 57% (307 pós-larvas) apresentaram deformidades corpo-rais que comprometiam o seu desenvolvimento, restando apenas 132 pós-larvas aparentemente sadias (43% das que nasceram). Já para fêmeas bem nutridas, a cada 1.000 ovos produzidos, eclodiram 880 pós-larvas sadias (6,7 vezes mais pós-larvas sadias). As pós-larvas produzidas por ma-trizes que receberam ração com vitamina C apresentaram peso médio de 7,25mg (45% mais pesadas) do que as pós-larvas oriundas de fêmeas mal nutridas, com peso médio de 5mg. Ambos os grupos de pós-larvas foram submetidos a um período de crescimento de 35 dias, o equivalente à fase de reversão sexual. Durante este período as pós-larvas receberam ração nutricionalmente completa.

O interessante de notar é que, mesmo fornecendo uma adequada nutrição na fase de re-versão sexual, as pós-larvas oriundas de matrizes mal nutridas apresenta-ram baixa sobrevivência (1,8%) e crescimento (peso médio final de 0,03g), contra uma sobrevivência de 86,4% e peso médio final de 0,24g para as pós-larvas oriundas de ma-trizes bem nutridas. Este exemplo nos dá uma boa idéia do impacto da deficiência de uma única vitamina na ração dos reprodutores sobre a viabilidade dos ovos e a qualidade e a sobrevivência das pós-larvas. Deficiências de outras vitaminas e minerais com importantes funções fisiológicas na reprodução e no de-senvolvimento embrionário e larval podem comprometer seriamente a produção de alevinos.

Recomendações quanto ao manejo nutricional e alimentar na reprodução

Durante alguns anos tenho acompanhado o trabalho de diversos produtores de alevinos, não apenas de tilápias, mas também de peixes nativos, em diversas regiões do país. E, em muitas oportunidades, me deparei com situ-ações de baixa produção e qualidade de ovos (baixa taxa de fecundação e eclosão) e de pós-larvas, as quais foram corrigidas com a simples troca da ração que vinha sendo usada, confirmando o grande impacto da nutrição sobre a reprodução. Com espécies nativas, que desovam em uma época definida no ano, errar na nutrição dos reprodutores significa comprometer toda uma safra, porém com a tilápia, os erros com a nutrição podem ser rapidamente reparados.

Tilápias estão constantemente formando, enriquecendo seus ovos e desovando para atender a demanda reprodutiva imposta nos sistemas intensivos. Assim, mudanças na nutrição resultam em rápida resposta na produção e na qualidade dos ovos e das pós-larvas.

Minha recomendação aos produtores de alevinos de ti-lápia começa com o uso de rações nutricionalmente completas com pelo menos 32% de proteína na alimentação das matrizes. Estas rações devem ser usadas mesmo quando os reprodutores são estocados em tanques de terra com água verde (presença de fitoplâncton) e a uma baixa densidade (0,4 a 0,6kg de repro-dutor/m2). Rações de boa qualidade usadas na recria e engorda em tanques-rede geralmente suprem bem as necessidades nutricionais dos reprodutores. No entanto, em sistemas mais intensivos de reprodução (como a coleta de ovos em hapas) o uso de rações com 40% de proteína pode aumentar em 20 a 50% a produção de ovos e pós-larvas, além de melhorar a qualidade de ovos e conferir maior resistência das pós-larvas durante a reversão sexual, comparativamente ao uso de rações com 28

e 32% de proteína. Vale a pena avaliar isso, usando uma boa ração para peixes carnívoros. No entanto, o produtor deve estar ciente de que o fato de uma ração ter 40% de proteína não assegura que a mesma seja melhor do que uma com 32%. Importam a qualidade da proteína (digestibilidade e balanço em aminoá-cidos) e dos ingredientes, bem como o enriquecimento mineral e vitamínico e a qualidade do processo ao qual a ração foi submetida, dentre muitos outros fatores que podem interferir no valor nu-tritivo das rações. Na produção de ovos e pós-larvas em hapas os resultados da troca de uma ração podem ser avaliados rapidamente, desde que haja um registro preciso do número de ovos e pós-larvas coletados em cada hapa.

Quanto ao manejo alimentar dos reprodutores, algumas particularidades

devem ser compreendidas. Durante a reprodução as fêmeas se alimentam pouco, comparativamente aos machos, pois estão ocupadas com a incubação e proteção dos ovos e pós-larvas. Grande parte da farra na alimentação é feita pelos machos. Quando não é desejável que os reprodutores cresçam muito rápido, a taxa de alimentação deve ficar próxima dos níveis de manutenção (em torno de 0,4 a 0,5% do PV/dia). Assim, a ração deve ser fornecida de forma restrita. Uma boa estra-tégia é fornecer dia sim, dia não, uma quantidade de ração não superior a 1% da biomassa dos machos, em uma única refeição no dia. Dividir a alimentação em várias refeições pequenas não é recomendável quando se faz uma alimenta-ção restrita. Isso pode favorecer os peixes mais vorazes em detrimento dos mais tímidos, acentuando assim as diferenças de tamanho entre os machos.

"Deficiências de vitaminas e minerais

com importantes funções fisiológicas na reprodução e no desenvolvimento

embrionário e larval podem comprometer

seriamente a produção de alevinos"

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18 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

Quando se deseja que os reprodutores ganhem peso, a taxa de alimentação diária deve ficar entre 0,8 e 1% da biomassa total estocada (machos e fêmeas). Uma única refeição diária deve ser oferecida, para que todos os peixes tenham oportunidade de se alimentar. As fêmeas ganham peso durante a reprodução. Porém, este ganho de peso seria maior se elas fossem mantidas separadas dos machos, em descanso dentro de hapas ou de tanques. Se o interesse é aumentar rapidamente o tamanho das fêmeas, estas devem passar um tempo sem reproduzir e devem ser alimentadas diariamente entre 1 a 2% do PV dividido em duas refeições diárias.

Em meio à reprodução, os reprodutores devem ser alimentados preferencialmente antes das 10-11 horas, pois grande parte das desovas das tilápias ocorre em horários de muita luz (11 às 14 horas). Assim, não queremos muito alvoroço com peixes brigando pela ração no momento mais íntimo dos casais, principalmente se a reprodução é feita em hapas. Evite alimentar os peixes ao final do dia, para que eles não entrem o período noturno com a barriga cheia e possam sofrer mais com uma eventual queda nos níveis de oxigênio.

Proteína na ração das pós-larvas e alevinos durante a reversão sexual

Uma revisão nas pesquisas sobre a nutrição de pós-larvas e alevinos de tilápia do Nilo indica que, para pós-larvas e alevinos até cerca de 1g (fase de reversão sexual), os níveis adequados de proteína geralmente ficam entre 40 e 45%. Para alevinos de 1g a 10g os níveis de proteína na ração que resultaram em máximo crescimento ficaram entre 30 e 38% (Tabela 2).

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Tabela 2 - Níveis de proteína para máximo crescimento de pós-larvas e alevinos de tilápia do Nilo (Adaptado de Kubitza 2000; El-Sayed, sem data; Rotta et al 2003)

O interessante é que, mesmo com muitas informações disponíveis sobre as exigências protéicas para pós-larvas e alevinos de tilápia, a partir de 2002 diversas empresas de rações disponibilizaram e recomendaram rações com mais de 50% de proteína para a larvicultura de tilápias e outras

espécies de peixes. Seguindo estas orientações, muitos produ-tores de alevinos, com o intuito de oferecer a melhor nutrição possível e assim melhorar o crescimento e a condição dos seus alevinos, vêm utilizando estas rações na reversão sexual.

Em 2003 realizei um teste comparativo entre duas rações comerciais em pó para pós-larvas e alevinos: uma com 40% de proteína e outra com 55% (Tabela 3).

O principal motivo que me levou a realizar este teste foi o grande número de consultas que vinha recebendo, na ocasião, de produtores de alevinos de tilápia que se queixavam basicamente da baixa resistência dos alevinos que estavam produzindo. Havia alta mortalidade de alevinos ao final da reversão, particularmente após o manuseio, a depuração e o transporte. Muitos relataram que os alevinos, ainda durante a reversão, desenvolviam man-chas esbranquiçadas na pele. Um elo em comum entre estes produtores era o uso de rações comerciais com mais de 50% de proteína. Assim, estoquei alevinos de tilápia do Nilo (linha-gem tailandesa) com cerca de 0,3g em aquários de 50 litros (4 aquários para cada tipo de ração e 100 alevinos por aquário). Forneci quantidades iguais de ração (4 vezes ao dia) a todos os aquários durante um período de 20 dias.

Tabela 3 - Desempenho de alevinos de tilápia do Nilo (linhagem tailandesa) em aquários alimentados com duas rações comerciais (dados do autor)

Alimentação de pós-larvas de tilápia em hapa de reversão sexual

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19Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

Alimentação de Tilápia

Os aquários receberam aeração e troca contínua de água de forma a manter condições de qualidade de água semelhantes em todos os aquários. Os alevinos alimentados com a ração de 40% apresentaram um peso médio final de 1,6g contra 1,4g nos alevinos que receberam a ração de 55%. A conversão alimentar de 0,9 contra 1,2. Um resultado surpreendente, não acham? Principalmente considerando que, na ocasião, a ração de 40% custava cerca de R$ 1,20/kg contra R$ 1,80/kg da ração com 55% de proteína.

O leitor não deve concluir com isso que toda a ração com 40% de proteína é melhor que qualquer ração de 55% de proteína. O que deve concluir é que é preciso avaliar o resultado de desempenho e o custo benefício das rações que estão disponíveis no mercado. Mas, nesta questão de rações com alta proteína na alimentação de pós-larvas, eu não fui o único que experimentou tal resultado. Pesqui-sando na internet (aliás, esta é uma excelente ferramenta para os produtores e técnicos na busca de informações sobre tilápias e outros peixes), encontrei a íntegra do trabalho do Dr. Carmino Hayashi e colaboradores da Universidade Estadual de Maringá – PR. Eles haviam verificado que o nível de 38,6% de proteína digestível (41% de proteína bruta) proporcionou maior crescimento em pós-larvas de tilápia do Nilo (Tabela 4) e também registraram uma ligeira redução no crescimento e na sobrevivência dos peixes ofertando rações com níveis mais elevados de proteína.

catfish americano Ictalurus punctatus. Resultados de estudos como estes e a observa-

ção de problemas práticos no campo devem fazer os produtores questionarem o real benefício do uso de rações com altos níveis de proteína na reversão sexual de tilápias. Ainda mais diante do atual manejo da ali-mentação empregado pela maioria dos produtores, no qual se aplicam altas taxas de alimentação diária (acima de 30% do PV/dia) e um grande número de refeições (muitas vezes mais do que 8 refeições/dia). Com tanta ração e refeições assim, sobra proteína (aminoácidos), ainda mais quando são usadas rações com altos níveis protéicos.

Em outro estudo, um pouco mais antigo, realizado desta feita com alevinos de tambaqui também foi verificado que o aumento excessivo nos níveis de proteína prejudicou o crescimento e a conversão alimentar (Tabela 5). Lim et al. (1979) também verificaram uma ligeira redução no cresci-mento do milk fish com rações com 50 e 60% de proteína, comparado ao uso de rações de 40% e atribuíram isso à in-suficiente quantidade de energia de origem não protéica nas rações com alta proteína. Prather e Lovell (1973) também sugeriram que rações com altos níveis de proteína e baixa quantidade de energia não protéica podem ser tóxicas ao

Tabela 4 - Efeito dos níveis de proteína na ração sobre o desempenho de alevinos de tilápia do Nilo (Adaptado de Hayashi et al 2002)

Tabela 5 - Influência dos níveis de proteína bruta (PB) sobre o ganho de peso (GDP), a conversão alimentar (Conv. alim.) e a composição em gordura na matéria seca (MS) de juvenis de tambaqui (Adaptado de Meer et al 1995)

Rações com 50% ou mais de proteína também estão sendo usadas durante a fase de recria em tanques-rede, com tilápias de 5 a 20g. Recomendo fortemente aos produtores de alevinos reavaliar as estratégias nutricio-nais, até por que hoje se paga entre R$ 1,90 e 2,50/kg pelas rações com mais de 50% de proteína contra R$ 1,40 e 1,60/kg nas rações com 40%. Para justificar esta diferença de preço, um grande adicional em crescimento e sobrevivência ao manuseio e transporte

deveria ser esperado usando rações com alta proteína. O produtor tem que avaliar isso, pois cada fabricante tem sua fórmula, seus procedimentos de controle de qualidade de ingredientes, suplementações minerais e vitamínicas específicas, formas diferentes de pro-cessamento, dentre muitas outras variáveis que deter-minam a qualidade de uma ração. Os parâmetros que possibilitam avaliar isso (crescimento, tolerância ao manuseio e transporte e custo de ração por milheiro de alevino produzido) somente podem ser apurados com uma cuidadosa experimentação.

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20 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

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Tilá

pia Sugestão de manejo alimentar na reversão sexual

No box abaixo seguem resumidas minhas recomen-dações sobre a qualidade das rações e o manejo da alimen-tação durante a reversão sexual de tilápias. Informações mais detalhadas sobre o assunto poderão ser encontradas no livro Tilápia (Kubitza, 2000).

Manejo alimentar na recria e engorda de tilápias

O produtor deve ter em mente um importante funda-mento no manejo da alimentação: quanto mais próximo da máxima capacidade de consumo um peixe for alimentado, maior será o crescimento, porém, pior será a conversão alimentar. Com tilápias pequenas (até 20 a 30g), o pro-dutor deve buscar máximo crescimento, em detrimento da conversão alimentar. Isso é conseguido alimentando os peixes próximo da máxima capacidade de consumo em cada refeição. Por outro lado, quando os peixes ficam maiores e o consumo de ração significativo (o que ocorre com tilápias acima de 150 a 200g), o produtor deve priori-zar a conversão alimentar em detrimento do crescimento. Isso é alcançado alimentando os peixes de forma restrita, entre 80 a 90% do máximo consumo. Um modo prático de se atingir isso é usar a regra dos 15 minutos que tenho indicado para muitos produtores. Esta regra também deve ser aplicada no cultivo de tilápias em tanques de terra.

Usando a regra dos 15 minutos, o tratador poderá deter-minar a quantidade adequada de alimento que deve ser fornecida aos peixes, visando otimizar o crescimento e maximizar a efici-ência alimentar. Atenção para não usar peletes demasiadamente grande. Quando isso ocorre, a tilápia demora mais tempo para consumir a ração por uma limitação física, e assim fica a im-pressão após 20 minutos de que os peixes estão saciados, devido à sobra de ração que ficou na superfície.

• Estabilidade na superfície da água (flutuabilidade) - rações em pó que permanecem mais tempo na superfície d´água apresen-tam menores perdas de nutrientes, ficam mais tempo à disposição dos peixes e possibilitam uma melhor visualização do consumo e ajuste da oferta de ração. A flutuabilidade das rações em pó depende basicamente do tipo de ingrediente usado na fórmula e do grau de moagem da ração. Também o produtor irá notar que uma ração que flutua bem antes de ser impregnada com o álcool, pode não flutuar tão bem após a evaporação do álcool.

• Uso da extrusão no processo de fabricação - submeter a mistura ao processo de extrusão e a uma nova moagem aumentam os custos de fabricação. No entanto, melhora o valor nutricional da ração (devido ao aumento na disponibilidade e digestibilidade dos nutrientes de

Regra dos 15 minutos

Durante uma refeição deve-se observar o tempo necessário para o consumo da ração fornecida. Se durante as refeições de um dia a ração ofertada demorou mais de 20 minutos para ser consumida, nas refeições do dia seguinte deve ser reduzida a quantidade de ração em cada refeição. Se, por outro lado, a ração fornecida foi consumida em menos de 10 minutos, no dia seguinte a quantidade de ração por refeição deve ser aumentada. Assim, o produtor deve buscar fornecer em cada refeição o que os peixes são capazes de consumir em cerca de 15 minutos.

O acúmulo de gordura visceral, freqüentemente notado pelos produtores, está muito relacionado com a qualidade das rações. Rações com excessiva relação energia/proteína (àque-las com níveis protéicos baixos, geralmente abaixo de 28%), assim como rações desbalanceadas em aminoácidos essenciais, podem resultar em peixe demasiadamente gordo. No entanto, é no manejo da alimentação onde reside a causa mais comum do acúmulo de gordura corporal. Peixes alimentados em excesso, mesmo com uma ração bem balanceada, acumulam grande quantidade de gordura, particularmente nas vísceras. E isso, somente o produtor pode prevenir.

Cultivo em tanques-rede

No cultivo de tilápias em tanques-rede é muito fácil com-parar os resultados de diferentes rações e estratégias alimentares, de modo que o produtor pode rapidamente ajustar o manejo nu-tricional e alimentar e, até mesmo mudar de fornecedor de ração. Apesar de muitos produtores terem suas estratégias particulares de alimentação (número de refeições, quantidade fornecida, tamanho dos peletes e níveis de proteína para cada fase), é inquestionável a necessidade do uso de rações nutricionalmente completas, visto que as exigências nutricionais devem ser totalmente atendidas através da ração. Há alguns anos era comum observar desordens nutricionais em tilápias cultivadas em tanques-rede. Felizmente hoje a maioria dos fabricantes dispõe de rações nutricionalmente completas de alta qualidade especificamente desenhadas para atender às exigências do cultivo intensivo da tilápia tanto em tanques-rede como em sistemas de alto fluxo ou de recirculação. Na tabela 6 segue a minha recomendação de manejo nutricional para tilápias nestes sistemas de cultivo.

• Proteína entre 40 e 45% e moagem fina, com partículas menores que 0,5mm;

• Suplementação extra de vitaminas e minerais - para compensar as perdas por lixiviação na água. Esta suple-mentação adicional é uma prática de grande parte dos fabricantes. No entanto, muitas vezes o próprio produtor pode se encarregar disso na propriedade, adicionando premix vitamínico e mineral completo e, até mesmo, fortificando as rações com mais vitamina C (até cerca de 1g/kg).

Recomendações sobre a qualidade das rações e o manejo da alimentação

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21Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

Alevinos de Tilápia

Na Fase 1a do berçário geralmente são estocados alevi-nos pós-reversão entre 0,3 e 1,0g. A alimentação deve ser feita com ração farelada com 40%PB. Quando os peixes atingem cerca de 5g de peso médio (10 a 20 dias mais ou menos, dependendo do tamanho inicial e da temperatura da água), deve ser feita uma classificação para descarte dos peixes do fundo do lote. Os peixes com peso entre 3 e 8g (média de 5g) vão para a Fase 1b do berçário. Na primeira semana da Fase 1b ainda deve ser fornecida a ração em pó 40%PB, porém deve ser iniciada a oferta de peletes de 2mm de 35-36%PB. Como os peixes maiores e vorazes geralmente são os que se alimentam primeiro, procure fornecer primeiro os peletes de 2mm na quantidade que os peixes forem capazes de consumir (visualizar a sobra de ração nos anéis de alimentação). Em seguida, deve ser ofertada a ração farelada, para que os menores peixes do lote ainda possam se alimentar adequadamente e também crescer. Após esta primeira semana, a alimentação deve seguir exclusivamente com peletes de 2mm. No final desta fase (peixes próximos a 30g) é possível iniciar o forneci-mento de peletes de 3-4mm com 32%PB. Durante as fases de berçário, em cada refeição o produtor deve alimentar os peixes próximo à saciedade. No entanto, não deve haver muito desperdício (sobras) de ração.

Na Fase 2 - recria os peixes passam a ser alimentados com ração contendo 32% de proteína e peletes de 3-4mm, em quantidades entre 5 e 3% do peso vivo/dia, dividida em 3 ou 2 refeições. A quantidade de ração fornecida deve ser reajustada de acordo com a resposta alimentar. Use a regra dos 15 minutos. Na Fase 3 – terminação os peixes são alimentados com peletes de 3-4mm contendo 32% de proteína, em quantidade entre 3 e 2% do peso vivo ao dia. Não é necessário mais do que duas refeições ao dia. O tamanho dos peletes deve ser aumentado de acordo com o tamanho dos peixes. Quando os peixes atingem cerca de 300 a 400g, podem ser usados peletes de 5-6m, mantendo assim até um peso de 600g. Para tilápias acima de 800g podem ser fornecidos peletes de 8mm. Use a regra dos 15 minutos para ajuste da oferta de ração. Quando os peixes atingem cerca de 300 a 400g muitos produtores optam pelo uso de ração com 28% de proteína, acreditando que com isso haverá uma redução no custo de produção. Geralmente a diferença de preço entre uma ração com 28%PB e outra com 32%PB não é muito grande (cerca de 10%) e não compensa a redução no ganho de peso, o aumento na conversão alimentar e o maior tempo necessário para terminação da tilápia. Além disso, rações com baixa proteína geralmente promovem maior deposição de gordura visceral.

alguns ingredientes), confere maior homogeneidade na composição das partículas da ração (o que reduz a seletividade alimentar pelas pós-larvas), minimiza as perdas de nutrientes por dissolução na água e reduz a carga microbiológica da ração (pois alguns ingredientes, em particular os de origem animal, podem apresentar elevada contagem de bactérias nocivas ao desempenho e saúde dos peixes).

Estratégia de alimentação

• Quantidade de ração ofertada diariamente - Semana 1 – 25-30% do PV (peso vivo)/dia; Semana 2 – 20-25%; Semana 3 – 15-20%; e Semana 4 – 10-15% do PV/dia. Estas quantidades devem ser divididas em 5 a 6 refeições/dia. Não se prenda tanto ao percentual do peso vivo, pois o consumo de ração é regulado por diversos fatores, entre eles a

temperatura da água, o oxigênio, as infestações por parasitos, a composição e palatabilidade da ração, entre outros tantos, tor-nando difícil precisar exatamente o que será consumido. Portanto, tome como base a resposta dos peixes. Daí a importância de usar uma ração de boa flutuabilidade na água, que permita visualizar as sobras e, assim o ajuste na quantidade ofertada.

• Como fornecer: a quantidade diária acima sugerida deve ser dividida em 5 ou 6 refeições/dia. Em uma refeição, evite jogar toda a ração de uma vez só nos hapas ou tanques. Divida em pelo menos 3 parcelas, de forma que as pós-larvas tenham tempo de consumir as partículas antes que estas atinjam o fundo dos hapas e tanques. Anéis de alimentação ajudam a visualizar o consumo e não deixam que a ração escape através da malha dos hapas.

Tabela 6 - Recomendações quanto ao manejo nutricional e alimentar da tilápia em tanques-rede, sistemas de alto fluxo ou de recirculação

Recomendações complementares: A indicação apresentada nesta tabela sobre a quantidade de ração a ser fornecida diariamente deve ser usada como uma referência. O consumo real dos peixes pode ser afetado pela temperatura da água, por infestações parasitárias, pela qualidade da água nas unidades de cultivo, entre outros fatores. Assim, o tratador deve ficar atento ao consumo dos peixes e ajustar a quantidade de ração com base na resposta alimentar (presença de sobras ou velocidade de consumo). Use a regra dos 15 minutos na Fase 2 e Fase 3. Na Fase 1 procure alimentar próximo a saciedade em cada refeição.

Alimentação de tilápias em tanques-rede no reservatório de Xingó - Rio São Francisco

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22 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

Cultivo tanques de terra

No cultivo de tilápias em tan-ques de terra a estratégia nutricional e alimentar para cada fase de cultivo deve ser ajustada em função do estoque de peixes no tanque (biomassa) e da dis-ponibilidade de plâncton (notadamente o fitoplâncton). O produtor de tilápia deve ter em mente que o plâncton chega a contribuir com 50 a 70% do crescimento das tilápias em tanques com água verde e baixa renovação de água. Mesmo em tanques com alta densidade de tilápias, porém com água verde, esta contribuição ainda pode chegar a cerca de 30%. O plâncton contribui para o balanceamento da dieta das tilápias, fornecendo aminoácidos essenciais, ácidos graxos, minerais e vitaminas que podem estar ausentes ou em quantidades limitantes nas rações. Por isso, dificilmente são observados sinais de deficiências nutricionais em tilápias cultivadas em tanques de terra com águas verdes. Portanto, promover a formação do plâncton (deixar a água verde) é o primeiro dever de casa para quem cria tilápia em tanques de terra. As próprias tilápias contribuem para isso, realizando uma forte predação sobre os organismos do zooplâncton, que são importantes consumidores de algas. Controlando o zo-oplâncton, a população de algas do fitoplâncton tende a aumen-

tar. Tilápias também exploram intensivamente algas de maior porte que compõem o fitoplâncton, favorecendo a proliferação de algas de menor tamanho (conhecidas como nanoplâncton), que são ainda mais eficientes em termos de produção de massa planctônica. As algas do nanoplâncton também são aproveitadas pela tilápia, graças a sua habilidade em secretar, na faringe, um muco que auxilia na aglutinação destas minúsculas algas, concentrando-as para o consumo. Esta reciclagem de nutrientes do alimento natural e a constante oferta de ração aportam diaria-mente nutrientes importantes para a manutenção do plâncton.

Mesmo com esta facilidade, muitos produtores têm fa-lhado na formação e manutenção do plâncton. Diversos erros de manejo contribuem com isso. O mais comum deles é o excesso de renovação de água nos tanques. Isso se deve ao equivocado conceito de muitos produtores e técnicos de que, se não tiver água renovando constantemente, faltará oxigênio aos peixes. Assim, com o excesso de renovação de água, há uma diluição dos nutrientes e o plâncton não se desenvolve. Quando os pei-xes são alimentados com ração, os nutrientes excretados nas fezes e através das brânquias são suficientes para manter uma adequada biomassa de plâncton (se não houver uma renovação excessiva de água). Troca de água na recria e engorda de tilápias em tanques de terra somente faz sentido quando se atinge uma

determinada biomassa de peixes (a partir de mais ou menos 600g/m2 ou 6.000 kg/ha). Ou melhor, quando se atinge uma determinada taxa de alimentação (acima de 80kg/ha/dia). O disco de Secchi é uma ferramenta útil para determinar quando a água deve ser renovada. A transparên-cia da água em tanques de tilápia deve ser mantida entre 20 e 30cm. Quando a transparência cai abaixo de 20cm, é o momento de começar a renovar um pouco de água. Quando a transparên-cia retorna a valores entre 20 e 30cm a troca de água deve ser interrompida. Além da excessiva troca de água, ou-tras condições impedem a formação de adequado plâncton: a baixa alcalinidade da água (corrigida através da calagem); a presença de argila em suspensão na água (devido a enxurradas, aeração mal aplicada, dentre outros fatores) e a esto-cagem inicial de uma biomassa pequena de peixes. Esta última condição é algo muito comum quando os produtores não adotam o sistema de produção por fases. Por exemplo, quando se estoca 2 a 3 alevinos de tilápia de 1g nos tanques de terra, a biomassa que na estocagem é de apenas 2 a 3g por m2, permanece baixa durante um longo período. Assim,

a quantidade de ração aplicada no tanque é muito pequena, não fornecendo nutrientes suficientes para manter uma adequada

"Estamos em 2007 e muitos produtores estocam pequenos alevinos e esperam

meses para colher os peixes de tamanho de mercado, sem nenhum manejo intermediário.

O conhecimento de noções básicas de

qualidade de água e de planejamento da produção fariam uma

grande diferença nestas pisciculturas"

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Taques-rede com anéis de alimentação

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23Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

Alimentação de Tilápia

massa de plâncton. Além do atraso no crescimento, tal prática implica em ineficiente uso do espaço na piscicultura.

Muitos produtores ainda conduzem seus cultivos em uma única fase (estocam pequenos alevinos e esperam meses para colher os peixes de tamanho de mercado, sem nenhum manejo intermediário). O conhecimento de noções básicas de qualidade de água e de planejamento da produção faria uma grande diferença nestas pisciculturas.

Diferente do cultivo em tanques-rede, onde as condições de qualidade de água se mantêm relativamente constantes, nos tanques de terra, além das diferentes condições de disponibili-dade de alimento natural e das diferentes taxas de estocagem (e biomassa) de peixes, ainda ocorrem variações diárias em impor-tantes parâmetros de qualidade da água (oxigênio dissolvido, temperatura, gás carbônico, pH e amônia tóxica), que interfe-rem no consumo de alimento dos peixes. Isso faz do manejo alimentar das tilápias em tanques de terra uma arte. Uma arte que precisa ser assimilada e aprimorada dia a dia.

Para auxiliar nesta arte, deixo aqui uma referência: fiquem atentos à coloração das fezes da tilápia. Este é o mais eficiente indicador para a adequação do manejo alimentar em tanques com plâncton. O produtor atento irá notar na superfície da água a presença das fezes. Fezes de coloração marrom-esver-deada indicam que o peixe está explorando o alimento natural em conjunto com a ração fornecida. Se as fezes são de cor verde

intenso, é possível que a quantidade de ração fornecida esteja abaixo do adequado. Já quando as fezes se apre-sentam com coloração bege-marrom, muito pouco tom de verde, seguramente a oferta de ração está excessiva (ou pode não haver plâncton na água, no caso de águas transparentes ou barrentas).

Peixes que recebem muita ração ficam preguiço-sos em explorar o alimento natural (fitoplâncton). Na tabela 7 são apresentadas as estratégias de alimentação que tenho indicado para a recria e terminação de tilápias em tanques de terra com plâncton. Essa estratégia está adaptada às rações comerciais disponíveis no mercado (tamanho de peletes e níveis de proteína).

No cultivo de tilápias em tanques de terra com plâncton, conforme a biomassa de peixes aumenta em cada fase do cultivo, a disponibilidade de alimento na-tural por peixe (ou por quilo de peixe) diminui. Assim, o lógico seria iniciar uma fase com uma ração menos concentrada em nutrientes e finalizar cada fase com uma ração mais concentrada em nutrientes. Por exemplo, no berçário se a água estiver bem verde, no início poderia ser usada uma ração farelada com 30-32% de proteína, passando gradualmente para uma ração mais rica em proteína e na forma de peletes 2mm (32-36% de proteína) quando os peixes se aproximam de 5g. No entanto, geral-

Tabela 7 - Recomendações para o manejo alimentar de tilápias em tanques com água verde (plâncton)

Recomendações complementares: Promova rapidamente a formação do plâncton (mantenha a água fechada; calagem quando necessário; adubação inicial 5kg uréia/1.000m2 nas primeiras 2 a 3 semanas. Também pode ser feito o uso de farelos e estercos de aves e suínos em conjunto com a uréia nas primeiras semanas, não ultrapassando uma taxa de aplicação de 5kg de matéria seca por 1.000m2/dia).

Mantenha a água verde com transparência entre 20 e 30cm (se estiver fazendo adubação, pare de adubar quando a transparência chegar aos 30cm). Renove um pouco de água se a transparência cair abaixo de 20cm.

Na recria e engorda, enquanto a biomassa for menor que 200g/m2 (2.000kg/ha) forneça ração apenas uma vez ao dia em quantidade equivalente à metade da taxa de alimentação indicada nesta tabela. Quando a biomassa superar 200g/m2, alimente como indicado na tabela. Fique atento à coloração das fezes dos peixes e ajuste a taxa de alimentação com base nesse indicativo. Fezes marrons: reduza a oferta de ração; fezes verdes: aumente a oferta de ração; fezes marrom-esverdeadas: mantenha a alimentação como está.

Lembre-se que, com o aumento na biomassa de peixes do início ao final de cada fase de cultivo, a disponibilidade de alimento natural por quilo de peixe diminui. Assim, não reduza a qualidade da ração no final de cada fase de cultivo, pois os peixes precisam de um alimento ainda melhor nestes momentos.

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24 Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006

mente o produtor não encontra uma ração em pó com 30-32% de proteína. Duas alternativas ao produtor: moer peletes com 30 a 32% de proteína ou fornecer uma ração em pó com 40% de proteína de forma limitada (alimentação restrita).

Outra consideração importante no cultivo de tilápia em tanques com plâncton: na fase de terminação, principalmente da metade para o final da fase, o consumo de ração fica muito alto e há uma tendência dos produtores em comprar rações mais baratas, geralmente com baixo teor protéico (menos de 28%), acreditando que isso reduzirá o custo de produção. Neste momento a biomassa de peixes está alta e a disponibilidade de alimento natural diminui. Usar uma ração de baixa proteína, principalmente em situações em que se espera produzir mais do que 15-20 toneladas de tilápia por hectare, pode ser um tiro pela culatra. Principalmente se a ração for desbalanceada em aminoácidos essenciais e tiver baixo enriquecimento mineral e vitamínico (o que, geralmente, é uma regra nas rações de baixa proteína e de preços extremamente atrativos disponíveis no mercado). Mesmo o uso de uma boa ração com 28% de proteína nesta fase final pode não trazer vantagens em termos de redu-ção do custo de produção (exceto quando a biomassa final não ultrapassa 800g/m2 ou 8 toneladas/ha e há plâncton disponível). A economia no preço da ração é da ordem de 10%. No entanto é comum a conversão alimentar se elevar em mais de 15 a 20% quando se troca uma ração de 32% por uma de 28% de proteína. Assim, economiza 10% no preço de compra. No entanto, usa-se 15 a 20% mais ração por quilo de peixe produzido. Além disso, o crescimento um pouco mais lento do peixe com a ração de 28% de proteína requer um tempo adicional de cultivo de cerca de 30 (para tilápias até 600g) a 60 dias (no caso de tilápias de 1kg). O produtor deve lembrar que tempo é dinheiro e esta extensão da

engorda onera o custo de produção.No cultivo de tilápia, todo dia é dia de aprendizado e revisão

de conceitos e procedimentos. É natural que a tecnologia de cultivo, assunto do interesse de muitos pesquisadores e produtores em todo o mundo, passe por aprimoramentos e ajustes finos diariamente. E nem sempre estes novos avanços estão disponíveis de forma pronta e mastigada ao setor produtivo. Assim, os produtores e técnicos de-vem estar sempre abertos para rever seus conceitos e estratégias de produção, bem como estabelecer uma rotina ou hábito diário de busca de informações que lhe permitam expandir seus conhecimentos. Seja via internet, livros, revistas, seminários, cursos, entre outros.

A experimentação cuidadosa na propriedade também pos-sibilita grande aprendizado e identificação de correções no manejo da produção. Não devemos, também, nos esquecer que muito pode ser aprendido com os seus funcionários e os funcionários dos seus vizinhos e amigos tilapicultores, que estão dia a dia envolvidos dire-tamente com a produção e enfrentando problemas muito parecidos com os seus. Ouvir a experiência destas pessoas pode ser um hábito muito prazeroso e de integração de sua equipe de funcionários com a equipe de outras pisciculturas e até com você mesmo. Ainda mais quando estas reuniões informais são acompanhadas de um saboroso filé de tilápia e uma cerveja bem gelada.

Nunca se esqueçam de valorizar o material humano que têm em suas mãos. Lembrem-se de que pela mão dos seus trata-dores, passa, na forma de ração, pelo menos 50% do seu capital de giro. Assim, estimule-os a serem os melhores possíveis. Premiem quem merece. Finalmente, deixo aqui meus votos de que 2007 seja um ano de mudanças de atitude, de busca inces-sante por mais aprendizado e de resultados cada vez melhores nos cultivos. Esta somatória de evolução e sucesso contribuirá com a expansão da tilapicultura em nosso país.

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28 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008

Tilápias na mira dos patógenosPor: Fernando Kubitza, Ph. D.Acqua & Imagem Serviços [email protected]

Da euforia ao desastre

A rápida expansão no cultivo intensivo de tilápias no Brasil, particularmente com tanques-rede nos grandes reservató-

rios do país, está associada à instalação de um grande número de empreendimentos de pequeno porte, alguns de gerenciamento individual, outros conduzidos por associações de pescadores ou de pequenos produtores rurais. Geralmente, no início da operação destes empreendimentos tudo é uma festa. Porém, muitos destes empreendimentos negligenciam as boas práticas para um eficaz manejo sanitário preventivo. Adquirem alevinos e juvenis infes-tados por parasitos e não dão a devida importância a uma nutrição adequada, achando que todas as rações são a mesma coisa, e o que vale é o preço. Não contam com supervisão experiente, nem equipamentos adequados para as atividades de rotina. Assim, produtores iniciantes geralmente derrapam no manejo básico das classificações e transferências de peixes, experimentando alta mortalidade logo após as primeiras operações de manejo. Produ-tores iniciantes e sem orientação técnica segura, tendem a pecar pelo excesso de alimento fornecido aos peixes, o que geralmente compromete a conversão alimentar e a resistência dos peixes a algumas doenças. Ansiosos em retornar o capital investido aos caixas do empreendimento, se lançam sem conhecimento em irresponsáveis transportes de longa distância, sem um preparo correto dos peixes e sem dispor de equipamentos adequados.

Estimulada pela crescente expansão do consumo em mercados nacionais e internacionais, a aqüicultura mundial de tilápias experimentou grande intensificação a partir da década de 90. As estratégias de cultivo seguiram em direção ao aumento nas densidades de estocagem e a uma dependência cada vez maior das rações for-

muladas, reduzindo a contribuição dos alimentos naturais antes abundantes nos cultivos. Em diversos países prolifera-ram sistemas intensivos de cultivo com recirculação de água, cultivos em tanques de alto fluxo e também em tanques-rede

com alta densidade. No Brasil, em particular, a grande expansão da produção de tilápias deve ser atribuída ao aproveitamento dos grandes

reservatórios para o cultivo em tanques-rede de pequeno volume e alta densidade, além da intensificação dos cultivos em tanques de terra.

Antes desta intensificação as tilápias eram consideradas peixes de superior rusticidade e resistentes às do-enças, comparadas às demais espécies cultivadas. No entanto, o cenário que se presencia hoje nos cultivos intensivos de tilápia tem sido marcado por episódios de massiva mortalidade devido à desatenção e inabilidade no manejo e/ou por infecções causadas por uma grande gama de patógenos.

Portanto, a inexperiência dos produtores debutantes, o desconhecimento das boas práticas de manejo e dos fundamentos técnicos da atividade, bem como o inadequado preparo técnico dos profissionais que prestarão suporte a estes empreendimentos, são fatores que contribuem com as grandes perdas de peixes e prejuízos durante as primeiras incursões na criação. E isso pode contribuir de forma significativa com a instalação e proliferação de perigosos agentes patogênicos nas áreas de cultivo.

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29Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008

Tilápia

Tilápias na mira dos patógenosDoenças bacterianas de potencial risco

Diversas bacterioses em tilápia que, há alguns anos eram de pouca expressão ou mesmo sequer haviam sido diagnosticadas no Brasil, hoje impõem consideráveis prejuízos econômicos ao setor (Quadro 1 e Quadro 2). A globalização da tilapicultura, com a transferência de pós-larvas, alevinos e matrizes entre diversos países, tem favorecido a rápida disseminação de agentes patogê-nicos junto aos principais centros de cultivo.

Foto 1 – Mortalidade de juvenis de tilápias em tanque-rede (Foto: Fernando Kubitza)

Quadro 1 – Principais bactérias patogênicas na tilapicultura

Em 2001 foi publicado na revista Panorama da AQÜI-CULTURA (Vol. 11, no 66) um dos primeiros relatos alertando para a ocorrência de infecções por Streptococcus em exempla-res de tilápias provenientes de cultivos em tanques-rede e de pesque-pagues da Região Sudeste (Foto 2). Na ocasião, alguns patologistas e técnicos duvidaram da existência deste patógeno nos plantéis de tilápia em nosso país. Hoje, reconhecidamente, a septicemia causada por bactérias do gênero Streptococcus é tida como uma das mais graves patologias nas criações intensivas de tilápia no Brasil (como também é em outros países) e o seu potencial patogênico por diversas vezes mereceu destaque nas páginas desta revista (Panorama da AQÜICULTURA: Vol. 11, no 66; Vol. 15, no 89; Vol. 17, no 103 e Vol. 17, no 104) e em palestras apresentadas em diversos eventos do setor.

• Perda do apetite e letargia;• Ocorrência de mortalidade crônica (todos os dias aparecem peixes mortos nos tanques);• Natação errática e com movimentos espiralados;• Hemorragia nas nadadeiras e no corpo;• Hemorragia nos olhos e no ânus;• Podridão (necrose) das nadadeiras;• Lesões na pele (manchas brancas, lesões com aspecto inflamado ou ainda lesões na forma de úlceras ou furúnculos);• Abdômen distendido (ascite) geralmente devido ao acúmulo de fluído na cavidade abdominal;• Escamas eriçadas, em função da excessiva distensão do abdômen;• Hemorragia nas vísceras e nos órgãos internos;• Baço aumentado e de coloração escura;• Nódulos brancos no baço, rins e fígado;• Intestino com fluído sanguinolento.

QUADRO 2 – Sinais clínicos de bacterioses nos peixes

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31Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008

Mortalidade massiva de alevinos e juvenis devido à infecção por Flavobacterium columnaris (Panorama da AQÜICULTURA: Vol. 17, no 101) sempre foram comuns no cultivo de tilápias e outras espécies, particularmente após o manejo relacionado às despescas, classificações (Foto 3) e transporte. No entanto, no cultivo de tilápias em tanques-rede esta bactéria ganha importância econômica ainda maior quando acomete peixes de maior porte. Em virtude da particularidade de alguns mercados como, por exemplo, o mercado de peixes vivos para consumo ou pesca esportiva, tem havido a necessidade de realizar a seleção (classificação) dos lotes prontos para despesca, de forma a assegurar a venda de peixes com peso acima do míni-mo determinado pelos compradores. Este manuseio com peixes de grande porte muitas vezes é bastante traumático, resultando em perdas de escama, lesões no corpo e supressão da resposta imunológica dos peixes, favorecendo a Columnariose tanto nos peixes que foram vendidos como os que acabam ficando na piscicultura para completar o crescimento.

Foto 2 – Tilápia com infecção por Streptococcus apresentando natação errática e espiralada, corpo curvado em forma de “S” e coloração escurecida (Foto: Fernando Kubitza)

As septicemias causadas pelas bactérias do gêne-ro Aeromonas, Edwardsiella (especialmente a espécie Edwardsiella tarda - Foto 4) e Vibrio também são bastante freqüentes nos cultivos de tilápia, geralmente acometendo peixes com a resistência comprometida após estresses associados ao manejo ou a problemas de qualidade de água (Quadro 3).

Recentemente uma bactéria do gênero Francisella sp., extremamente virulenta para diversas espécies de peixes mari-nhos e de água doce, foi associada a massivas mortalidades de tilápia em cultivos comerciais em Taiwan, Havaí e Costa Rica (Hsieh et al 2006; Mauel et al 2007; Soto et al 2007). As baixas nos estoques de peixes nos tanques devido a esta bacteriose foram entre 5 e 80%, com média de 50%. Em 2005, esta bacte-riose, a princípio confundida com a doença causada por bactérias do gênero Pisciriketsia (comum causadora de septicemias em

• Deterioração da qualidade da água;• Nutrição deficiente (deficiências nutricionais);• Excessiva alimentação dos peixes;• Temperatura da água muito elevada;• Estresse físico e fisiológico no manuseio e transporte;• Excessiva estocagem nos tanques de cultivo;• Infestações por parasitos potenciais vetores de doenças.

Foto 4 – Tilápia com septicemia provocada por Edwardsiella tarda (Foto: Fábio Mori)

Tilápia

Foto 3 – Manejo de classificação dos peixes em empreendimento de tanques-rede (Foto: Daniel Umezu)

Quadro 3 - Fatores que favorecem a ocorrência de doenças bacterianas nos peixes

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salmonídeos), dizimou os estoques de tilápia de uma das principais empresas produtoras e exportadoras de filés frescos para os Estados Unidos, a Aqua Corpo-ration, na Costa Rica. Os sinais clínicos não específicos desta bacteriose incluem perda do apetite, comportamento letárgi-co, natação errática e olhos saltados. In-ternamente foi observado um sinal mais específico da doença, que é a presença de um grande número de nódulos brancos nas brânquias, no baço, no rim e nas gônadas. Estes nódulos ocasionalmente eram vistos no fígado e no coração. Até 30% dos filés dos peixes provenientes de estoques afetados apresentavam lesões granulomatosas de aspecto escurecido. Produtores que observarem os sinais clínicos típicos da infecção por esta bactéria (granulomas viscerais) devem comunicar o fato e enviar amostras de peixes moribundos a laboratórios de patologia de peixes para o diagnóstico do agente patogênico.

Doenças virais em tilápias

Apesar de ainda serem escassos os registros de viroses em tilápias, diversas espécies de peixes são acome-tidas por doenças virais, algumas delas extremamente severas e de notificação obrigatória em diversos países, levando à eliminação completa do estoque de peixes suspeito de ser portador da viro-se, bem como de estoques de matrizes potencialmente infectados.

Em 1994, Avtalion & Shlapober-sky observaram perda de apetite, escure-cimento do corpo e natação espiralada em tilápias com menos de 30 dias de idade, mantidas em laboratório. A mortalidade tinha início por volta do 4o e 6o dia de vida e um novo pico de mortalidade ocorria próximo do 14o dia de vida. Estes pesquisadores identificaram partículas semelhantes a iridovírus em células iso-ladas do cérebro dos peixes. Em 1997, Ariel e Owens, também observaram pós-larvas de tilápia de Moçambique com os mesmos sintomas de natação espiralada e corpo escurecido. A morte das pós-larvas ocorria cerca de 24 horas após o aparecimento dos sintomas. Não foram identificadas bactérias ou parasitos que pudessem explicar esta mortalidade. Ao

fornecerem pós-larvas com sintomas da virose como alimento a alevinos de um peixe carnívoro (Lates cal-carifer - barramundi), estes últimos desenvolveram sinais clássicos de virose causada por iridovírus. Pós-larvas de tilápias aparentemente sadias também se tornavam infec-tadas com o vírus, após comerem pós-larvas sintomáticas, moribundas ou mortas, que apresentavam os sintomas da virose. Mortalidade de até 100% era possível de ser obser-vada. Em diversos empreendimentos de produção de alevinos de tilápia no Brasil, sinais clínicos semelhantes aos relatados por estes pesquisadores podem ser obser-vados nas pós-larvas durante a reversão sexual. Em alguns casos que acompanhei, não foi detectada a presença de parasitos ou bactérias que pudessem explicar a sintomatologia da doença. Tampouco tratamento com produtos terapêuticos na água ou a inclusão de antibióticos na ração foi capaz de amenizar a mortalidade de pós-larvas e alevinos.

Sinais clínicos de doenças virais em peixes incluem hemorragia no corpo, ane-mia severa (brânquias ficam extremamente pálidas, quase brancas), os peixes apre-sentam abdômen distendido devido a um acúmulo de fluído na cavidade abdominal. Alevinos e juvenis costumam arrastar lon-gos cordões de fezes de coloração branca. Outros sinais clínicos de viroses se asseme-lham aos sinais das septicemias bacterianas (Quadro 2). Assim, muitos casos de viroses acabam sendo equivocadamente diagnos-ticados como bacteriose, particularmente quando alguma bactéria é isolada dos peixes afetados. É bem provável que episódios de viroses estejam ocorrendo em cultivos de tilápia no Brasil e no mundo sem que haja um real diagnóstico do problema devido à carência de profissionais treinados e de laboratórios equipados para o diagnóstico de doenças virais nos peixes. Em casos de mortalidade de peixes onde não é possível isolar ou diagnosticar um agente patogênico (parasitos ou bactérias), e/ou tampouco há indicativos de problemas ambientais ou de manejo, ou mesmo quando a terapia com antibióticos ou a aplicação de produtos terapêuticos na água não resolva o problema, o produtor deve suspeitar da ocorrência de virose e notificar algum

"É bem provável

que episódios de

viroses estejam

ocorrendo em

cultivos de tilápia

no Brasil e no

mundo sem que

haja um real

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problema devido

à carência de

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treinados e de

laboratórios

equipados para

o diagnóstico de

doenças virais

nos peixes."

Tilápia

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laboratório de patologia que possa assisti-lo no diagnóstico.

Vacinas

Diversas doenças bacterianas e vi-rais na criação de salmões, trutas, “catfish” americano e de diversas espécies de peixes marinhos, entre outros, são hoje controladas através da vacinação de alevinos e juvenis. A relevância da tilápia na aqüicultura mundial e a magnitude dos prejuízos causados pelas infecções bacterianas têm estimulado o investimento em pesquisas para o desenvol-vimento e avaliação de vacinas para prevenir as principais bacterioses que acometem este peixe. Vacinas contra Estreptococcose, Co-lumnariose, Vibriose e septicemias causadas por bactérias do gênero Aeromonas e Edwar-dsiella têm sido experimentalmente avalia-das. Vacinas contra Streptococcus iniae e Streptococcus agalactie (esta última espécie já diagnosticada no Brasil) já são produzidas comercialmente e utilizadas em diversos países. No país apenas uma vacina contra vibriose foi registrada para uso na aqüicul-tura. Em breve, novos produtos deverão estar disponíveis, visto que as empresas/laborató-rios que produzem vacinas para organismos aquáticos estão de olho no grande mercado representado pela tilapicultura no Brasil. O Ministério da Agricultura (MAPA) deve priorizar o atendimento às solicitações de registros de vacinas para uso em aqüicultura. Uma boa parte destas vacinas é preparada a partir dos patógenos que comprovadamente já estão presentes nos cultivos aquáticos no Brasil. Portanto, o risco do uso destas vacinas nas pisciculturas nacionais é praticamente inexistente.Também há um grande espaço para pesquisa e desenvolvimento nesta área a partir de cepas de patógenos isolados em nossos próprios cultivos. É preciso incentivar parcerias entre as instituições de pesquisa na área de ictiopatologia e as empresas públicas que dispõem, em seu corpo de especialistas, de profissionais altamente tarimbados no desenvolvimento de vacinas para outras espécies animais e mesmo para uso na me-dicina humana. As instituições de fomento à pesquisa devem priorizar o financiamento de iniciativas neste sentido.

O tratamento convencional das bacterioses na tilapicultura, feito através da administração de antibióticos incorpo-rados às rações nem sempre é eficaz, por

diversos motivos: a) os animais doentes geral-

mente deixam de se alimentar. As-sim os antibióticos acabam servindo apenas para prevenir que outros animais do plantel manifestem os sinais da doença:

b) os produtores invariavel-mente usam antibióticos sem ter a certeza de que o produto realmente é eficaz contra a bactéria combatida;

c) é muito difícil precisar a quantidade correta do produto que deve ser adicionada à ração, pois deve se levar em conta uma estimativa do consu-mo dos peixes no lote a ser tratado e uma possível perda do produto por dissolução na água;

d) alguns peixes comem mais do que outros e, portanto, a eficácia do trata-mento pode não ser homogênea no lote.

Além disso, a administração de anti-bióticos via ração implica em custo adicio-nal, nem sempre recuperado adequadamente visto que o tratamento sempre é feito após o início do curso de uma doença, quando já ocorreu alguma ou muita mortalidade. Portanto, a vacinação massiva de lotes de alevinos como forma de prover imunidade específica a estas doenças é de fundamental importância para a sustentabilidade da indús-tria. Por se tratar de uma prática preventiva, a vacinação pode colaborar significativamente para que a aqüicultura não seja manchete nos noticiários devido aos episódios constantes de mortalidade nos cultivos mundo afora. Com isso, além da melhor previsão dos resultados da produção, da redução no uso de medicamentos e da minimização dos custos associados ao tratamento de doenças, a aqüicultura se beneficiará imensamente ao passar a ter uma percepção mais positiva por parte do consumidor em relação ao de-senvolvimento da atividade e à qualidade e segurança dos seus produtos.

Boas práticas de produção para a pre-venção de doenças

Medicamentos e vacinas são fer-ramentas importantes na produção. No entanto, nenhuma delas é capaz de reparar os estragos causados pelo descaso no uso de boas práticas de produção e de manejo sanitário, que abrem as portas dos culti-vos às doenças.Dentre as principais boas

"É preciso

incentivar

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e as empresas

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desenvolvimento

de vacinas para

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para uso

na medicina

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Tilápia

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práticas de manejo sanitário em pis-cicultura, vale a pena ressaltar pontos fundamentais que todo produtor e técnico devem ter cristalizados em seus conceitos de produção (ver resumo no quadro 4).

Atenção à qualidade da água - monitoramento contínuo e manutenção de adequada qualidade da água nos tanques de criação. No caso da criação de tilápias em tanques-rede nos grandes reserva-tórios, o produtor pouco (ou nada)

pode fazer no que tange à correção da qualidade da água. Portanto, é fundamen-tal a escolha dos locais adequados para a instalação dos seus cultivos com base em uma análise criteriosa dos possíveis riscos associados ao local de implantação do projeto e das séries históricas dos parâmetros de qualidade de água dos re-servatórios quando estas são disponíveis. Em geral as análises dos parâmetros de qualidade de água são freqüentemente negligenciadas ou realizadas de maneira muito pontual, desconsiderando altera-ções sazonais que costumam ocorrer em alguns reservatórios.

Adequada nutrição e alimenta-ção - ajustar os níveis nutricionais das rações, o tamanho dos peletes e a oferta diária conforme a fase de desenvolvimen-to e as condições do cultivo.

Evitar o uso de resíduos animais na alimentação dos peixes - em épo-cas de altos preços das rações, muitos produtores buscam alternativas caseiras para baratear a alimentação dos peixes. Muitos deles lançam mão de resíduos animais (carcaças e vísceras de frango, por exemplo) ou dos resíduos resultan-tes do processamento do peixe, muitas vezes realizado na própria piscicultura. Tal prática pode favorecer a ocorrência de doenças bacterianas e virais.

Cuidados na introdução de alevinos, juvenis e reprodutores - dar preferência para a aquisição de alevinos e matrizes junto a produtores que empre-gam boas práticas de manejo sanitário na produção. Alguns parasitos comuns du-rante a reversão sexual de tilápias, como a tricodina e os monogenóides podem favorecer a infecção por bactérias. Em trabalho de pesquisa recente, pesquisa-dores do USDA nos Estados Unidos (Xu

et al 2007) demonstraram que o monoge-nóide Gyrodactylus niloticus serve como reservatório e vetor do Streptococcus e que infestações por este parasito podem agravar a severidade da mortalidade de tilápias infectadas com esta bactéria.

Manter os novos estoques re-cebidos (alevinos e juvenis) em locais isolados dos estoques já em produção - no caso do cultivo em tanques-rede, manter uma linha de tanques distante das demais linhas, exclusivamente para o recebimento de alevinos e juvenis.

Remoção imediata de peixes mo-ribundos ou mortos, que servem como potencial reservatório e propagadores dos patógenos. Peixes mortos em decomposi-ção liberam na água aminas biogênicas, dentre muitas a histamina, que podem provocar reações adversas (como o choque anafilático) ou deprimir o sistema imuno-lógico de peixes sadios no mesmo tanque ou, no caso do cultivo em tanques-rede, de peixes que estão em tanques posicionados próximos aos tanques-rede onde estão se acumulando os peixes mortos.

Isolamento das unidades de produção onde os peixes apresentam mortalidade crônica e sinais clínicos de doenças infecciosas - no caso da criação em tanques-rede, as unidades de cultivo afetadas devem ser deslocadas para uma linha isolada do bloco da produção.

Exames de rotina para detectar problemas - mesmo em lotes de peixes aparentemente sadios, periodicamente de-vem ser feitos raspados de brânquias e do muco dos peixes, de modo a detectar uma infestação parasitária ainda em seu início, facilitando o controle. Peixes moribundos devem ser sempre inspecionados para de-tecção de parasitos ou observações de sinais clínicos externos e internos indicativos de doenças. Peixes sadios também devem ser rotineiramente inspecionados, verificando a condição de integridade e coloração das brânquias, a integridade do muco e a firme-za das escamas, bem como a condição dos órgãos internos dos peixes, sempre atento a sinais clínicos que possam indicar alguma anormalidade.

Atenção constante ao com-portamento dos peixes - em especial durante as alimentações, observando a resposta em termos de tempo de consu-mo da ração.

"Para baratear

a alimentação

dos peixes alguns

piscicultores

lançam mão

de resíduos

animais, tais

como carcaças

e vísceras de

frango, ou

mesmo resíduos

resultantes do

processamento

do peixe, muitas

vezes realizado

na própria

piscicultura.

Tal prática

pode favorecer

a ocorrência

de doenças

bacterianas

e virais."

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Evitar uso indiscriminado de terapêuticos e fazer o uso de medicamentos apenas sob a orientação de um profissional ex-periente no tratamento de patologias em peixes.

Realizar a desinfecção de equipamentos que foram usados em outras propriedades (redes, puçás, caixas de transporte, roupas, calçados, bombas de água, entre outros).

No cultivo em tanques de terra, periodicamente os tanques devem ser drenados deixando que o seu fundo seja exposto ao sol forte por um ou mais dias. Tal prática também pode ser utilizada nos cultivos em tanques-rede, entre uma despesca e outra, mantendo os tanques suspensos, expondo a malha dos mesmos ao sol.

Do ponto de vista sanitário e, até mesmo, de segurança alimentar, a sustentabilidade da tilapicultura no Brasil depende de atitudes responsáveis por parte dos produtores e profissionais envolvidos no setor, bem como de ações melhores planejadas das instituições que fomentam o desenvolvimento aqüícola no país (em caráter estadual e federal). Um primeiro passo é padro-nizar os procedimentos sanitários nas pisciculturas atra-vés da elaboração e distribuição de um manual de boas práticas para o manejo sanitário em pisciculturas em tanques escavados e em tanques-rede, voltado à orien-tação de técnicos e produtores sobre os procedimentos mais adequados para a prevenção e controle das prin-cipais enfermidades. Ainda há um tabu muito grande entre profissionais de diversas classes sobre o quanto o produtor deve saber sobre tratamento de doenças na piscicultura. Em minha opinião ele deve saber o máximo possível sobre o assunto, pois na hora do aperto geralmente o produtor não encontra um especialista de plantão para socorrê-lo e aca-ba sendo dele próprio a decisão sobre o que fazer. Se não tiver a mínima idéia, palpites de vizinhos e comerciantes leigos acabam sendo a única alternativa que lhe resta. É preciso, também, que o Ministério da Agricultura, através de suas agências competentes, regulamente os produtos seguros para a prevenção e controle de enfermidades em animais aquáticos. Hoje, por exemplo, aplicar calcário ou sal nos tanques de cultivo pode ser considerado um procedimento ilícito, pois não há regulamentação sobre o uso destes produtos para fins de aqüicultura no país. Nesta regulamentação vale usar o bom senso. O melhor caminho é simplificar esta tarefa, balizando-se pelas normatizações existentes em países onde este assunto já está bem mais evoluído e sacramentado. Não adianta querer inventar a roda nesta questão. Melhor é empreender esforços para um maior rigor no controle da compra e na fiscalização do uso destes produtos.

Quadro 4 - Fundamentos básicos do manejo sanitário preventivo

• Contínuo monitoramento e correção da qualidade da água;• Assegurar uma correta nutrição através do uso de rações de qualidade adequada às condições do cultivo;• Prover adequado manejo alimentar, evitando alimentar os peixes de maneira excessiva;• Manter adequadas condições de estocagem;• Aquisição de alevinos com fornecedores idôneos e atentos ao manejo sanitário dos seus estoques;• Atenta observação do comportamento dos peixes e dos sinais indicativos de anormalidades e doenças;• Exames rotineiros de peixes sadios e moribundos;• Controle preventivo de infestações parasitárias e de potenciais vetores de doenças;• Rotina de remoção de peixes moribundos ou mortos;• Adequado manejo de classificação e manuseio dos peixes;• Uso de técnicas eficazes e equipamentos adequados no transporte de peixes vivos;• Apoio de profissional especializado para o estabelecimento de ações para o controle de doenças;• Desinfecção de equipamentos sempre que necessário.

Tilápia