Trabalho 1 - G2 Edição em Jornalismo Impresso / Rose Esquenazi
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Gabriela Caesar 6 de maio de 2014
Morreu em 16 de abril deste ano Icushiro Shimada, aos 70 anos, em São Paulo. Ele
foi um dos proprietários da Escola Base e ficou conhecido internacionalmente 20 anos
atrás, em 1994. Na época, Icushiro Shimada e a mulher dele, Maria Aparecida
Shimada, foram acusados por duas mães de alunos da instituição de abusar
sexualmente dos filhos delas. A denúncia também envolvia professores, um perueiro e
os pais de outro estudante. O Caso Escola Base virou notícia de destaque nos jornais
do país e teve, ainda, repercussão na Europa, nos Estados Unidos e até no Japão. Com
o interesse da população e da mídia, a Polícia Civil agia às pressas. Em menos de duas
semanas, os pais de um estudante foram presos e os donos da escola tinham sido
indiciados. A Justiça pediu, porém, que outro delegado assumisse as investigações do
suposto crime. Assim, foi descoberto que tudo se tratava de engano. O estrago na
imagem da Escola Base e na vida dos acusados, no entanto, já estava feito. Segundo
reportagem da Folha de S.Paulo publicada em 10 de outubro de 1999 , os seis alvos da
acusação continuavam sem emprego ou indenização por danos materiais e morais
naquele ano. Eles aguardavam decisão da Justiça sobre o recurso, com o qual
discordavam do valor da indenização de R$ 12 mil, que seria paga pelo Estado.
Outro exemplo de erro da Polícia Civil ocorreu durante a apuração da morte do
ajudante de pedreiro e morador da Rocinha Amarildo de Souza, até então
desaparecido desde 14 de julho de 2013. Inicialmente conduzido pelo delegado
Ruchester Marreiros Barbosa, o inquérito apontava que Amarildo teria sido
sequestrado por traficantes da favela. De acordo com a Polícia Civil, a mulher de
Amarildo, Elisabete Gomes da Silva, estava ligada com o tráfico de drogas e, por isso,
deveria ser presa. A credibilidade da família de Amarildo diminuía na medida em que
as investigações do relatório de Ruchester avançavam. A busca, porém, mudou com a
troca do delegado responsável pelo Caso Amarildo. A Corregedoria Geral Unificada
chegou a analisar se Ruchester cometeu transgressões disciplinares. O delegado que
assumiu o caso, Orlando Zaccone, afirmou que Ruchester queria polemizar e não
tinha “elementos concretos” para as acusações. Com a informação de que Amarildo
foi torturado e assassinado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o
inquérito seguiu para as mãos do delegado Rivaldo Barbosa, da Divisão de
Homicídios (DH).
Apesar das semelhanças -- em razão da pressa nas investigações da Polícia Civil e da
agilidade da imprensa em publicar ou postar as novidades --, os erros do Caso
Amarildo foram corrigidos a tempo. Caso contrário, mais uma vez, a mídia e o Estado
fariam um pré-julgamento que traria consequências negativas e, quiçá, inapagáveis
para a vida da mulher e dos filhos de Amarildo.
Ambos os casos mostram que a imprensa precisa tomar cuidado ao publicar
informações passadas pela polícia – e por qualquer pessoa. É necessário lembrar que,
mesmo trabalhando para o Estado, os policiais são indivíduos e, portanto, têm
interesses e são parciais. Na nota abaixo, publicada em 7 de abril de 2013 na coluna
Ancelmo Gois, do jornal O Globo, percebe-se claramente o posicionamento a favor da
ganhadora do processo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), a empregada
doméstica Isabel Cristina da Silva Cruz.
“Patrão danadinho
A 70ª Vara do TRT do Rio determinou que a empregada doméstica Isabel Cristina da
Silva Cruz receba R$ 23 mil de indenização do ex-patrão. É que a doméstica estava
deitada em seu quarto quando o patrão, assanhado e peladão, tentou agarrá-la.
Ela pensou até em pular a janela, mas conseguiu fugir pelas escadas do edifício onde
o tarado saliente reside, em Laranjeiras.”
Mesmo que o TRT tenha tomado tal decisão, isso não significa que realmente
ocorreu. O tempo verbal usado no texto reproduzido acima é, portanto, errado.
Palavras fortes e difamatórias foram usadas. O jornalista também deveria ter
procurado o acusado e o advogado de defesa para um contraponto da história.
Algumas dúvidas ficaram na cabeça do leitor: quais provas foram apresentadas?
Quem foi testemunha? A partir de uma notinha no jornal, o “tarado saliente” de
Laranjeiras poderia ter virado alvo da população, como os donos da Escola Base, cuja
propriedade foi depredada, ou mesmo se suicidado por causa da repercussão do caso.
E, se não tivessem tido tamanho espaço na mídia, talvez o Caso Nardoni, o Caso Eloá
ou mesmo o Caso Bernardo Boldrini não teriam o mesmo desfecho.
Em “A Montanha dos Sete Abutres”, do diretor Billy Wilder, o jornalista Charles
Tatum vai atrás de uma notícia com potencial de ganhar repercussão na imprensa. Ele
quer um furo de reportagem. Para o repórter de um pequeno jornal, não importa se for
preciso passar por cima de princípios ou se a informação for manipulada.
Quando Tatum vai cobrir a caça às cascavéis numa cidade próxima, ele vê a
oportunidade de se destacar no mercado jornalístico. E uma reportagem de
repercussão pode surgir por trás de um homem que está soterrado dentro de uma
caverna, principalmente, se Tatum estiver no meio para interferir no rumo dessa
história.
O longa-metragem critica, assim, a vaidade de alguns jornalistas que preferem se
preocupar em assinar a matéria e se autopromover. Por outro lado, outros
profissionais resistem e se concentram na apuração e na checagem de informações.
Certamente, Tatum faria parte do primeiro grupo. O filme mostra, ainda, um
jornalismo marrom, superficial, vazio e, mais uma vez, em busca de publicar
rapidamente qualquer notícia.
Leia sobre outros casos em Jornalismo fast-food dá barriga, de Leonel Aguiar.