Trabalho Análise Metodológica Livro de Jorge Ferreira - Trabalhadores do Brasil

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Humanas Curso de História Teoria da História II Lilian Mascarenhas de Carvalho ANÁLISE METODOLÓGICA: Livro: Trabalhadores do Brasil O Imaginário Popular 1930-45 Jorge Ferreira

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAISInstituto de Ciências Humanas

Curso de História Teoria da História II

Lilian Mascarenhas de Carvalho

ANÁLISE METODOLÓGICA:

Livro: Trabalhadores do Brasil O Imaginário Popular 1930-45

Jorge Ferreira

Belo Horizonte29 Outubro 2012

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Lilian Mascarenhas de Carvalho

ANÁLISE METODOLÓGICA:

Livro: Trabalhadores do Brasil O Imaginário Popular 1930-45

Jorge Ferreira

Trabalho de pesquisa relativo à análise metodológica apresentado à disciplina Teoria da História II do 3º Período do Curso de História do Instituto de Ciências Humanas da PUC Minas BH.

Professor: Mário Kleber

Belo Horizonte29 Outubro 2012

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO............................................ 01

2.OBJETO DE PESQUISA.................................... 02

3.PROBLEMATIZAÇÃO....................................... 03

4.REFERENCIAL TEÓRICO................................... 05

5.LINHA HISTORIOGRAFICA................................. 06

6.METODOLOGIA........................................... 08

7.BIBLIOGRAFIA.......................................... 09

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é uma análise metodológica do livro

Trabalhadores do Brasil o imaginário popular 1930-45

escrito por Jorge Ferreira. Para iniciar o trabalho, é

necessário uma breve fala sobre o autor bem como uma breve

síntese do assunto abordado no livro.

O autor Jorge Ferreira possui graduação e mestrado em

História pela Universidade de São Paulo(1996), atualmente é

Professor Titular da Universidade Federal Fluminense e é

pesquisador da FAPERJ no Programa Cientistas do Nosso

Estado. Possui experiência na área de História do Brasil

República, com ênfase nos estudos de História Política e

História Cultural.

No livro Trabalhadores do Brasil, Jorge Ferreira

reconstitui ideias, praticas políticas e estratégias de

vida dos grupos sociais que viveram o período do primeiro

governo da era Vargas. Com uma rigorosa seleção de fontes e

se utilizando de conceitos de autores da História Cultural

como Thompson, Ginzburg, Chartier, Darnton e Peter Burke,

esse livro analisa a forma como o discurso varguista foi

sendo apropriado por diversos atores sociais que

vivenciaram essa experiência política em seu cotidiano.

Em um primeiro momento, tentaremos destacar de forma mais

aprofundada o objeto de pesquisa do autor, em seguida

discutiremos a problematização estabelecida pelo autor bem

como sua resposta a esse questionamento, feito isso

iniciaremos uma análise do referencial teórico do autor bem

como a linha historiográfica que foi utilizada nesse

trabalho e finalmente a metodologia utilizada pelo autor.

Em suma, tentaremos de forma breve e esclarecedora analisar

os principais aspectos metodológicos do livro se utilizando

muitas vezes trechos do livro para melhor explicitar as

discussões teóricas aqui apresentadas.

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OBJETO DE PESQUISA

O objeto de pesquisa do autor remete ao “mito” Vargas, o

que alterou na vida dos trabalhadores e pessoas comuns.

Mesmo com a propaganda sofisticada e massificante, ele

procura entender qual significado Vargas e sua política

exprimiam nessa parte da população. Como as pessoas comuns

do país viam a situação do governo, como enxergavam a

figura Getúlio Vargas.

Como o próprio autor nos diz:

“ O objetivo deste livro, portanto, é reconstituir, em um enfoque histórico cultural,

algumas ideias, crenças, práticas políticas e estratégias de vida de grupos sociais que

viveram em uma época geradora de muitos desencontros entre os historiadores: o

primeiro governo de Getúlio Vargas.” (FERREIRA, 1997)

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PROBLEMATIZAÇÃO

O autor Jorge Ferreira, em seu livro levanta uma questão

interessante acerca do primeiro governo da chamada era

Vargas. Em seu livro ele coloca a seguinte indagação:

”Mas qual o significado que a imagem de Vargas assumiu na cultura política popular da

época? Quais as representações que dele construíram os trabalhadores, as pessoas

pobres e os indivíduos comuns?”(FERREIRA, 1997).

Com base nesse trecho e com a completa leitura do livro bem

como a leitura de outros textos descritos na bibliografia

desse trabalho, pudemos perceber que a principal pergunta

estabelecida pelo autor e que é discutida ao longo do livro

faz menção ao próprio título do livro “ o imaginário

popular”, ou seja ele destaca a forma como o dito sucesso

varguista era vista pelos populares, por pessoas comuns,

pobres e trabalhadores.

Diferentemente de outros trabalhos acerca da era Vargas, o

livro analisado opta por uma perspectiva diferenciada, uma

vez que se utiliza em grande parte do imaginário popular

acerca da política estabelecida no período em questão.

Em suma, o que ele procura entender é qual o impacto que a

política estado-novista causou entre as pessoas comuns

daquela época.

Tenta mostrar que a ideia de “totalidade” não existia de

fato, que o apoio esperado de Vargas da população

trabalhadora na verdade não era o mesmo que a população de

fato tinha para com o governo.

Para o autor, as pessoas comuns, ao fazerem a leitura do

discurso Varguista, se apropriavam dele dando novos e

diferentes significados aos códigos, normas e valores

autoritários e de acordo com suas experiências políticas

procuravam redirecioná-los em seu próprio beneficio. Ao

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fazerem isso abriam brechas no regime autoritário e

procuravam saídas alternativas. O que ele enfatiza

portanto, é que o apoio manifestado pela população não era

exatamente aquele que o governo almejava. Ele põe em pauta

a ideia de que a população optou pela aceitação o que não

implica passividade e conformismo, o próprio ato de

escrever para o presidente já demonstra a não passividade

com relação ao novo regime, seria mai um consentimento que

é entendido como aceitação de um estado de coisas que fugia

ao controle. Além disso, o objetivo não era exaltar

gratuitamente Vargas, e sim avançar, conseguir um emprego,

um aumento ou melhorar de vida. A aceitação do regime

portanto não implicava necessariamente resignação ou

conformismo.

O autor, ao levantar a questão do “totalitarismo” do

governo Vargas,tenta reverter a ideia de que o poder de

Vargas era total naquela sociedade, onde todos, inertes,

aceitaram passivamente a doutrinação política e sendo

aterrorizada pela violência policial do regime dando a

ideia de um regime sólido, coeso, compacto uniforme e

isento de contradições internas. Ele tenta conhecer mais de

perto a dimensão repressiva estatal, particularmente o

sistema carcerário e penitenciário, tentando reconstruir a

vida cotidiana e comum dos prisioneiros políticos,

particularmente os comunistas.

Nessa perspectiva ele percebe que os presos estabeleceram

estratégias de sobrevivência e com relativo sucesso

resistiram ao poder autoritário que os oprimia, mais ainda,

desvenda uma série de contradições dentro do aparato

repressivo do Estado sugerindo que mesmo em sua dimensão

mais tenebrosa, o regime político não foi coeso, unificado

e muito menos “total”.

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REFERENCIAL TEÓRICO

Como referencial teórico o autor utilizou o conceito

sugerido por Carlo Ginzburg de circularidade cultural, que

demonstrou, em um estudo de caso, que as ideias não são

produzidas apenas pelas classes dominantes e impostas, sem

mediações, de cima para baixo.

Ele utiliza também em sua bibliografia autores como

E.P.Thompsom, Robert Darnton, Natalie Zemon Davis, Roger

Chartier e Peter Burke.

Resumidamente, as analises da História Cultural negam que

as classes dominantes tenham o monopólio exclusivo da

produção de ideias. Com base nessa afirmação,o autor parte

do pressuposto de que as pessoas comuns também produzem

suas próprias ideias, crenças, valores, códigos

comportamentais que no conjunto convencionou-se a chamar de

cultura popular. Segundo o autor, as pesquisas em historia

cultural demonstram que as ideias, longe de serem impostas

por um grupo a toda a sociedade, circulam, e como defende

Chartier, as camadas populares se apropriam das mensagens

dominantes dando-lhes novos e diferentes significados. Em

outros termos, a “ideologia dominante” de uma sociedade não

é tão dominante quanto se pensava (FERREIRA, 1997).

Se utilizando dessa referencia o autor Jorge Ferreira

procura mostrar que o Estado “totalitário” de Vargas

possuía brechas, ele se utiliza das cartas de pessoas

comuns enviadas ao presidente e ao analisa-las percebe

exatamente o que nos diz Chartier, que as camadas populares

da sociedade brasileira daquela época, se apropriaram do

discurso Varguista e o modificaram com base na sua cultura

e experiência política.

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LINHA HISTORIOGRAFICA

Se torna um pouco difícil determinar qual a linha

historiográfica seguida pelo autor, num primeiro momento

podemos considerar que nesse trabalho especificamente, há

um alinhamento com a História Política bem como a História

Cultural pois no livro trata sobre relações de poder, mas

diferentemente de outros trabalhos, ele procura entender o

imaginário popular acerca da política exercida no governo

Vargas, permeia sua pesquisa com base no que trabalhadores,

pessoas comuns, pensavam e viam o governo bem como a

própria figura de Vargas, o que nos leva a pensar na Nova

História Política.

Para entender o porque de se pesar em Nova História

Política, podemos utilizar um trecho do livro onde Jorge

Ferreira faz a seguinte colocação:

“[...] A Secretaria da Presidência da Republica, desde a ascensão de Vargas ao poder, contribuiu para que a nova ordem política fosse aceita como legitima pelos trabalhadores, juntamente com inúmeras outras instituições.O canal de comunicação que se abriu entre eles e o governo central reforçava a imagem do Estado justo, que dispensava intermediários. [...]”

O que nos remete a ideia de uma história política mais

voltada para o popular, que muito tem a ver com um fator

importante da Nova História Política apontada por Burke, a

descoberta da cultura pelos historiadores políticos a

começar pelo conceito de “cultura política”.

Ao colocar em relevância o papel da SPR na pratica de

legitimar a ascensão de Vargas ao poder perante os

trabalhadores reforçando a imagem de um Estado justo,

percebe-se uma aproximação com o que Burke destaca em A

escrita da história, o fato de estar a história política

dividida entre dois tipos de preocupação: com os centros do

governo (poder) e com as raízes sociais (da política e do

poder). Em geral, nas pegadas de Foucault, o interesse

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maior é pelas investigações acerca das formas concretas que

assume a luta pelo poder (e o seu exercício) em

instituições como a família, a escola, a fábrica, etc.

Para evidenciar melhor destaquemos outro trecho do livro:

“[...] A avaliação das mensagens contidas nas milhares de cartas enviadas a Vargas revela que as temáticas mais recorrentes são as que aludem ao respeito ao operário, ao reconhecimento de suas dificuldades e a valorização de seu papel na sociedade por parte do presidente, bem como à justiça e aos benefícios generosamente concedidos por ele.[...]”

Ou seja, com base nas analises das cartas enviadas o autor

tenta entender qual a profundidade de penetração da nova

política estado-novista nas mentalidades da população

comum. Ao verificar os pedidos expressos nas cartas, ele

percebe quais as temáticas mais frequentes, no caso as que

aludem ao operariado, ao reconhecimento de suas

dificuldades como é expressado na seguinte carta de

Dinorah, que assim argumenta com o presidente:

“[...]por isso eu imploro a V.Exa. que atenda o pedido que lhe vou fazer, como Chefe da Nação, como Pai dos Brasileiros, pois eu me considero sua filha, e um pai não deve negar nunca um pedido justo que lhe faz uma filha num dos momentos mais angustiantes de sua vida[...].”

Na visão do autor, o que Dinorah fez foi reinterpretar a

sua maneira o discurso estatal que pregava uma simbologia

do “grande pai”. Ele se utiliza de uma afirmação de Roger

Chartier que afirma que “ler, olhar ou escutar são,

definitivamente, uma série de atitudes intelectuais que –

longe de submeter o consumidor à toda poderosa mensagem

ideológica e/ou estética que supostamente o deve modelar –

permitem a reapropriação, o desvio, a desconfiança ou a

resistência.

Em suma, o próprio autor, na introdução do livro, nos

coloca que utilizara um enfoque histórico cultural, o que

nos leva apensar em história cultura bem como história

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política, essa ultima pelo fato de o assunto do livre ser

justamente a relação de poder ente Estado e sociedade.

Portando Jorge Ferreira se aproxima da Nova História

Política no momento em que se utiliza de um enfoque

cultural para tratar de um assunto Político.

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METODOLOGIA

Para a pesquisa feita por Jorge Ferreira apresentada nesse

livro, foram utilizadas como fonte principalmente cartas de

pessoas comuns e trabalhadores enviadas ao então presidente

Getúlio Vargas. Foi feita uma análise do discurso em todas

elas para se entender melhor o que de fato pensavam acerca

do governo.

Nessa análise das cartas, o autor procura entender o

significado que o nome Getúlio Vargas assumiu na cultua

política popular brasileira, busca considerar a repercussão

da legislação trabalhista e do discurso de valorização do

trabalho entre os trabalhadores.

O autor analisa também documentos burocráticos do governo

bem como documentos de penitenciárias e informações de

presos políticos. Se utiliza também de livros de memória.

Em todos esses documentos, faz uma analise pormenorizada

para entender o funcionamento do aparato estatal nas

camadas mais pobres da sociedade bem como entender a vida

cotidiana de presos políticos para melhor entender a

difusão do discurso Varguista e se realmente toda a

população permaneceu inerte e passiva perante a opressão

estatal.

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BIBLIOGRAFIA

FERREIRA, JORGE . TRABALHADORES DO BRASIL: O IMAGINÁRIO POPULAR. 1. ED. RIO DE JANEIRO: EDITORA DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 1997. 132P .

CARDOSO, CIRO FLAMARION & VAINFAS, RONALDO. DOMÍNIOS DA HISTÓRIA: ENSAIOS DE TEORIA E METODOLOGIA.5º EDIÇÃO. RIO DE JANEIRO: EDITORA CAMPUS LTDA. 1997.

RESENHA: CARDOSO, CIRO FLAMARION. UM HISTORIADOR FALA DE TEORIA E METODOLOGIA: ENSAIOS. BAURU, SP: EDUSC, – POR FABRÍCIO SANT’ANNA DE ANDRADE - REVISTA HISTÓRIA EM REFLEXÃO: VOL. 3 N. 5 – UFGD - DOURADOS JAN/JUN 2009