Trabalho, Constituição E Cidadania

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Trabalho, Constituição e Cidadania A dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas

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Coordenadores:Gabriela Neves Delgado

Ricardo José Macêdo de Britto Pereira

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Trabalho, constituição e cidadania : a dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas / Organizadores: Gabriela Neves Delgado, Ricardo José Macêdo de Britto Pereira. — São Paulo : LTr, 2014.

Bibliografi a.

1. Brasil — Constituição — História 2. Brasil — Política e governo 3. Cidadania 4. Constitucionalismo 5. Direitos fundamentais 6. Direitos sociais 7. Direito do trabalho 8. Estado de direito 9. Estado democrático I. Delgado, Gabriela Neves II. Pereira, Ricardo José Macêdo de Britto.

133:7.243-UDC 20610-41

Índice para catálogo sistemático:

1. Direitos sociais fundamentais : Relações detrabalho : Direito constitucional do trabalho

342.7:331

R

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Produção Grá�ca e Editoração Eletrônica: Peter Fritz Strotbek

Projeto de Capa: Fabio Giglio

Impressão: Paym Grá�ca

Abril, 2014.

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Versão impressa - LTr 5025.9 - ISBN 978-85-361-2881-8Versão digital - LTr 7749.7 - ISBN 978-85-361-2941-9

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Sumário

Apresentação ............................................................................................................................................................... 9

PARTE I — A DIMENSÃO COLETIVA DOS DIREITOSSOCIAIS TRABALHISTAS NA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA

Capítulo 1 — Crise estrutural do capital e novas dimensões da precarização do trabalho — direitos sociais trabalhistas e barbárie social no século XXI ......................................................................................................... 15

Giovanni Alves

Capítulo 2 — A corrosão do trabalho e a precarização estrutural ........................................................................... 27

Ricardo Antunes

Capítulo 3 — Precarização, terceirização e ação sindical ......................................................................................... 31

Graça Druck e Jair Batista da Silva

Capítulo 4 — A fábula do dinossauro trabalhista: discursos midiáticos sobre direitos e lutas coletivas ............... 46

Clarice Costa Calixto

PARTE II — A DIMENSÃO COLETIVA DOS DIREITOS SOCIAISTRABALHISTAS NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS

Capítulo 5 — Os direitos sociotrabalhistas como dimensão dos direitos humanos ............................................... 65

Gabriela Neves Delgado e Ana Carolina Paranhos de Campos Ribeiro

Capítulo 6 — Sindicatos globais e a proteção dos direitos trabalhistas ................................................................... 78

Inez Lopes

Capítulo 7 — Entre ficção e realidade: o internacionalismo operário e a atuação sindical no contexto do regime de acumulação predominantemente financeira ................................................................................................... 97

Pedro Mahin Araujo Trindade

Capítulo 8 — O reconhecimento de direitos aos trabalhadores imigrantes nas sociedades multiculturais e o papel dos sindicatos .......................................................................................................................................................... 111

Ricardo José Macêdo de Britto Pereira e Laís Maranhão Santos Mendonça

Capítulo 9 — As políticas migratórias e os sujeitos invisíveis no Brasil: os papéis da sociedade civil, Estado e sindicatos na proteção humanitária dos trabalhadores migrantes haitianos ...................................................... 129

Raquel Trabazo Carballal Franco

PARTE III — A DIMENSÃO COLETIVA DOS DIREITOS SOCIAISTRABALHISTAS NA PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL

Capítulo 10 – Constituição da República, Estado Democrático de Direito e Direito do Trabalho ........................ 151

Mauricio Godinho Delgado

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Capítulo 11 — O Direito do Trabalho e o Estado Democrático de Direito: o individual e o coletivo no exercício da autonomia do trabalhador ................................................................................................................................ 168

Menelick de Carvalho Netto e Guilherme Scotti

Capítulo 12 — Os direitos fundamentais (sociais) e a assim chamada proibição de retrocesso: contributo para uma discussão ......................................................................................................................................................... 176

Ingo Wolfgang Sarlet

Capítulo 13 – Direitos fundamentais e sociais trabalhistas, dignidade da pessoa humana, reserva do possível e proibição ao retrocesso social ................................................................................................................................ 198

Thais Safe Carneiro

Capítulo 14 — Direitos fundamentais à proteção da subjetividade no trabalho e emancipação coletiva ............. 212

Renata Queiroz Dutra

Capítulo 15 — A perspectiva deontológica de direitos sociais: dois exemplos de persistência de uma mentalidade anterior à Constituição de 1988 ............................................................................................................................. 231

Paulo Henrique Blair de Oliveira e Noemia Porto

PARTE IV — A DIMENSÃO COLETIVA DOS DIREITOSSOCIAIS TRABALHISTAS NA PERSPECTIVA SINDICAL

Capítulo 16 — Atuação sindical e trabalho decente ................................................................................................. 251

José Claudio Monteiro de Brito Filho

Capítulo 17 — Arranjos institucionais e estrutura sindical: o que há de novo no sistema jurídico sindicalbrasileiro? ................................................................................................................................................................ 258

Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva

Capítulo 18 — Sindicato e trabalhador: flexibilidade por meio do sujeito ............................................................. 287

Márcio Túlio Viana

Capítulo 19 — Em busca da participação igualitária: a implementação de cotas de gênero nas eleições sindicais e o exemplo da CUT ............................................................................................................................................... 298

Milena Pinheiro Martins e Raissa Roussenq Alves

Capítulo 20 — Direito de greve e antissindicalidades de origem estatal ................................................................. 314

Ricardo José Macêdo de Britto Pereira e Laís Maranhão Santos Mendonça

Capítulo 21 — Direito de greve entre afirmação e repressão: o caso CSN .............................................................. 331

Cristiano Paixão e Ricardo Lourenço Filho

Capítulo 22 — Tendências desmobilizadoras oriundas da terceirização e da precarização trabalhistas: reflexos na atuação sindical ................................................................................................................................................. 351

Gabriel de Oliveira Ramos e Renata Queiroz Dutra

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PARTE V — A DIMENSÃO COLETIVA DOS DIREITOS SOCIAISTRABALHISTAS NA PERSPECTIVA DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA

Capítulo 23 — Acordos coletivos de trabalho: possibilidades e limites firmados pela Constituição Federal de 1988 ......................................................................................................................................................................... 367

Gabriela Neves Delgado e Ricardo José Macêdo de Britto Pereira

Capítulo 24 — O direito fundamental à informação nas negociações coletivas trabalhistas: breves apontamentos para sua efetividade no Estado Democrático de Direito ...................................................................................... 380

Murilo Rodrigues Coutinho

Capítulo 25 — A “revolução” das negociações coletivas: precarizando direitos dos trabalhadores terceirizados . 394

Lara Parreira de Faria Borges

Capítulo 26 — A eficácia horizontal dos direitos fundamentais na relação de emprego: análise das dispensas coletivas ................................................................................................................................................................... 410

Guilherme Lissen Bezerra Henrique da Rocha e Oyama Karyna Barbosa Andrade

Capítulo 27 — A ação civil pública e as dispensas coletivas ..................................................................................... 428

Augusto Grieco Sant’Anna Meirinho e Lorena Vasconcelos Porto

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Apresentação

O Grupo de Pesquisa Trabalho, Constituição e Cidadania é composto por professores, pesquisadores e alunos da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília — UnB, aberto a participantes de outras universidades, faculdades e instituições. O Grupo vem realizando diversas atividades acadêmicas no âmbito do Direito do Trabalho, com objetivo de ampliar seu raio de ação no enfrentamento dos desafios cotidianos para a regulação adequada e protegida das relações de trabalho.

As linhas de pesquisa do Grupo concentram-se em duas grandes áreas. A primeira denomina-se A configuração do Estado Democrático de Direito e o mundo do trabalho, que destaca “a importância do trabalho digno na perspectiva do Estado Democrático de Direito propondo, para tanto, a utilização de instrumentos jurídico-institucionais que viabilizem a sua afirmação ética, enquanto elemento indispensável para a constituição, crescimento e realização do trabalhador, potencializando as marcas de sua condição humana”. A segunda linha é Trabalho e Direitos Fundamentais, que propõe uma “revisão epistemológica do Direito do Trabalho, fundada na teoria dos direitos fundamentais, a partir da compreensão da Constituição Federal de 1988 enquanto base de unidade e expressão de diversidade das relações de trabalho no Brasil”(1).

O grupo vem se dedicando a destacar as potencialidades do Direito do Trabalho como instrumento de inclusão social, por meio de patamares civilizatórios para os que vivem do trabalho, almejando a melhoria de sua condição social, conforme padrão constitucionalmente assentado em 1988.

O resgate, a preservação e a intensificação do caráter tuitivo e emancipatório do Direito do Trabalho reclamam reflexões interdisciplinares e dos institutos justrabalhistas, assim como revisão de conceitos e teorias, para dar ênfase à incidência dos princípios do Estado Democrático de Direito e dos direitos fundamentais nas relações de trabalho.

O acesso aos direitos trabalhistas, consagrados no ordenamento jurídico, pressupõe o manejo de diversos instrumentos previstos na Constituição de 1988, destinados, por um lado, a promover transformações no mundo do trabalho e, por outro, a preservar suas conquistas históricas.

O fortalecimento do Direito do Trabalho, a partir de perspectiva humanitária e constitucional, representacontraponto às diversas investidas no intuito de esvaziar sua força vinculante, desprestigiar sua estrutura normativa e flexibilizar suas normas, por meio da difusão da ideia desvirtuada de que o Direito do Trabalho seria peso ou obstáculo ao desenvolvimento econômico.

A proposta de reforçar o caráter tuitivo e emancipatório do Direito do Trabalho é desafiadora. Os avanços pretendidos, para além do aspecto puramente normativo, concentram-se também no debate sobre as profundas transformações nos sistemas de produção de bens e serviços e seus efeitos nos mais variados aspectos das condições de trabalho. Ademais, são identificadas práticas vivenciadas nos ambientes de trabalho e como elas interagem com os movimentos de organização ou desorganização no e pelo trabalho.

O Grupo de Pesquisa optou por analisar, em suas discussões temáticas periódicas, textos acadêmicos do universo jurídico, além de textos da Filosofia, da Sociologia e da Psicologia do Trabalho, que dialogam com o Direito do Trabalho em perspectiva interdisciplinar.

Nesta obra, autores da Sociologia do Trabalho contribuíram para a percepção das transformações no mundo do trabalho, ao detectar possíveis tendências e mobilizações de resistência a determinadas ideologias e estratégias do poder econômico, implantadas ao preço do comprometimento de conquistas sociais históricas. Vários autores do universo jurídico igualmente despontaram como articulistas desta obra coletiva.

Trata-se, portanto, de coletânea com artigos dos integrantes do Grupo de Pesquisa, docentes e alunos da pós-graduação, além de autores externos à Universidade de Brasília que foram convidados, por serem todos eles interlocutores permanentes do Grupo, por meio de sua produção científica.

(1) As linhas de pesquisa foram conceituadas na Plataforma Lattes, no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil.

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A regulação do trabalho na sociedade, diante das profundas e velozes transformações, não pode prescindir de sujeitos coletivos auto-organizados. Isso porque a capacidade normativa do Direito do Trabalho requer alguma margem de mobilidade para dar conta das inovadas e variadas situações, o que exige a presença e participação efetiva dos atores sociais na dinâmica constitutiva de direitos.

O desenvolvimento das pesquisas levou em consideração tais aspectos. Na obra coletiva, os debates intercalados se concentraram em cinco eixos temáticos: o sociológico, o dos direitos humanos, o do constitucionalismo, o dos sindicatos e o da negociação coletiva.

É com imensa alegria e orgulho que apresentamos à comunidade científica, ao meio jurídico e à sociedade como um todo o resultado desse esforço acadêmico coletivo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Trabalho, Constituição e Cidadania.

O título do livro — Trabalho, Constituição e Cidadania: a dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas — retrata o Grupo de Pesquisa. Não só as atividades e a produção material nele incluídas, mas, também, as múltiplas relações humanas, vivências e momentos gratificantes que seus encontros propiciam ao longo de sua existência.

Nesta coletânea, os capítulos estão assim distribuídos: na Parte I, A dimensão coletiva dos direitos sociais na perspectiva sociológica, há quatro capítulos: 1 – Crise estrutural do capital e novas dimensões da precarização do trabalho — direitos sociais trabalhistas e barbárie social no século XXI ; 2 – A corrosão do trabalho e a precarização estrutural; 3 – Precarização, terceirização e ação sindical; 4 – A fábula do dinossauro trabalhista: discursos midiáticos sobre direitos e lutas coletivas.

Na Parte II, A dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas na perspectiva dos direitos humanos, há cinco capítulos: 5 – Os direitos sociotrabalhistas como dimensão dos direitos humanos; 6 – Sindicatos globais e a proteção dos direitos trabalhistas; 7 – Entre ficção e realidade: o internacionalismo operário e a atuação sindical no contexto do regime de acumulação predominantemente financeira; 8 – O reconhecimento de direitos aos trabalhadores imigrantes nas sociedades multiculturais e o papel dos sindicatos; 9 – As políticas migratórias e os sujeitos invisíveis no Brasil: os papéis da sociedade civil, Estado e sindicatos na proteção humanitária dos trabalhadores migrantes haitianos.

Na Parte III, A dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas na perspectiva constitucional, há seis capítulos: 10 – Constituição da República, Estado Democrático de Direito e Direito do Trabalho; 11 – O Direito do Trabalho e o Estado Democrático de Direito: o individual e o coletivo no exercício da autonomia do trabalhador; 12 – Os direi-tos fundamentais (sociais) e a assim chamada proibição de retrocesso: contributo para uma discussão; 13 – Direitos fundamentais e sociais trabalhistas, dignidade da pessoa humana, reserva do possível e proibição ao retrocesso social; 14 – Direitos fundamentais à proteção da subjetividade no trabalho e emancipação coletiva; 15 – A perspectiva deontológica de direitos sociais: dois exemplos de persistência de uma mentalidade anterior à Constituição de 1988.

Na Parte IV, A dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas na perspectiva sindical, há sete capítulos: 16 – Atuação sindical e trabalho decente; 17 – Arranjos institucionais e estrutura sindical: o que há de novo no sistema jurídico sindical brasileiro?; 18 – Sindicato e trabalhador: flexibilidade por meio do sujeito; 19 – Em busca da participação igualitária: a implementação de cotas de gênero nas eleições sindicais e o exemplo da CUT; 20 – Direito de greve e antissindicalidades de origem estatal; 21 – Direito de greve entre afirmação e repressão: o caso CSN; 22 – Tendências desmobilizadoras oriundas da terceirização e da precarização trabalhistas: reflexos na atuação sindical.

Na Parte V, A dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas na perspectiva da negociação coletiva, há cinco capítulos: 23 – Acordos coletivos de trabalho: possibilidades e limites firmados pela Constituição Federal de 1988; 24 – O direito fundamental à informação nas negociações coletivas trabalhistas: breves apontamentos para sua efetividade no Estado Democrático de Direito; 25 – A “revolução” das negociações coletivas: precarizando direitos dos trabalhadores terceirizados; 26 – A eficácia horizontal dos direitos fundamentais na relação de emprego: análise das dispensas coletivas; 27 – A ação civil pública e as dispensas coletivas.

Agradecemos a todos aqueles que se empenham para a consolidação do Grupo de Pesquisa Trabalho, Constituição e Cidadania, compreendendo as repercussões de seus trabalhos a partir das conexões necessárias entre ensino, pesquisa e extensão, nos termos das linhas de pesquisa indicadas. Agradecemos, especialmente, à mestranda e integrante do

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Grupo de Pesquisa, Lara Parreira de Faria Borges, por sua dedicação e auxílio inestimável no processo de formatação, compilação e sistematização dos artigos que compõem o presente livro. Agradecemos à LTr Editora, nas pessoas do Dr. Armando Casimiro Costa e Dr. Armando Casimiro Costa Filho, pela pronta acolhida da presente publicação e por seu compromisso na difusão dos estudos sobre o Direito do Trabalho.

Enfim, esta coletânea é apenas o início da tarefa incessante por diagnósticos possíveis do mundo do trabalho, na busca de terapêutica efetiva baseada na inclusão social protegida dos trabalhadores.

Brasília, novembro de 2013.

Gabriela Neves Delgado

Ricardo José Macêdo de Britto Pereira

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Parte IA Dimensão Coletiva dos Direitos SociaisTrabalhistas na Perspectiva Sociológica

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Capítulo 1Crise Estrutural do Capital e Novas Dimensõesda Precarização do Trabalho — Direitos Sociais

Trabalhistas e Barbárie Social no Século XXIGIOVANNI ALVES(1)

Sumário: 1. Introdução. 2. Maquinofatura. 3. Crise estrutural de valorização do capital. 4. Modo de vida just-in-time. 5. Vida reduzida. 6. O capital e as contradições vivas do modo de vida just-in-time. 7. A ideologia da gestão. 8. O trabalho ideológico. 9. Dimensões da precarização do trabalho e questão social no século XXI. 10. A nova precariedade salarial e a terceira geração da precarização do trabalho. 11. Direitos sociais trabalhistas e barbárie social. 12. Referências bibliográficas.

1. IntroduçãoO objetivo do texto é expor elementos categoriais necessários para o entendimento da natureza da questão social

no século XXI nas condições do capitalismo global. Iremos expor um conjunto de conceitos indispensáveis para a crítica do capital numa perspectiva materialista de cariz histórico-dialético. Explicaremos, de modo sucinto, o significado dos conceitos de capitalismo global, maquinofatura, crise estrutural de valorização do valor, precarização existencial, modo de vida just-in-time e trabalho ideológico. Eles são produto de uma reflexão elaborada no decorrer dos últimos anos de entendimento do complexo de reestruturação produtiva do capital baseado no “espírito do toyotismo” e na apreensão crítica das mutações da morfologia social do trabalho e do sociometabolismo do capital nas condições de sua crise estrutural(2). O entendimento do nexo essencial do espírito do toyotismo como “captura” da subjetividade nos conduziu efetivamente ao desvelamento da precarização do trabalho como precarização existencial(3). Finalmente, ao tratamos da metamorfose da questão social no século XXI, colocaremos a importância da efetividade dos direitos sociais trabalhistas na luta contra a barbarie social no século XXI.

Em primeiro lugar, é importante salientar o significado do conceito de capitalismo global. Nas nossas reflexões críticas, ele tem sido utilizado num sentido bastante preciso de capitalismo mundial na etapa da crise estrutural do capital. O conceito de capitalismo global implica um complexo de múltiplas determinações sócio-históricas discriminadas como sendo o capitalismo do novo complexo de reestruturação produtiva do capital sob o espírito do toyotismo ou o novo espírito do capitalismo(4); ou o capitalismo da financeirização da riqueza capitalista sob a hegemonia do capital financeiro(5); ou ainda o capitalismo sob dominância do neoliberalismo como bloco histórico que condiciona e constrange as políticas do Estado político do capital(6); e o capitalismo do pós-modernismo como lógica cultural permeado de irracionalidade social(7). Além disso, the last but not the least, capitalismo global é o capitalismo manipulatório em sua forma exacerbada tendo em vista a nova base técnica da sociedade em rede.

Nesses últimos trinta anos de desenvolvimento do capitalismo global, ocorreu a explicitação de duas determinações que consideramos fundamentais e fundantes da nova temporalidade histórica do capital: a constituição de uma

(1) Doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa e coordenador da Rede de Estudos do Trabalho — RET (<www.estudosdotrabalho.org>) e do Projeto Tela Crítica/CineTrabalho (<www.projetocinetrabalho.org>). É autor de vários livros e artigos sobre o tema trabalho e sociabilidade, entre os quais O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo (Boitempo, 2000), Trabalho e subjetividade: O espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório (Boitempo, 2011) e Dimensões da Precarização do trabalho (Práxis, 2013). Disponível em: <www.giovannialves.org>.

(2) ALVES, Giovanni. Dimensões da reestruturação produtiva — Ensaios de sociologia do trabalho. Bauru: Praxis, 2007.

(3) ALVES, Giovanni. Trabalho e subjetividade: o espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo, 2011.

(4) ALVES, Giovanni. Trabalho e subjetividade: o espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo, 2011. BOLSTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Eve. O novo espirito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

(5) CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.

(6) DUMÉNIL, Gérard; LÉVY, Dominique. The crisis of neoliberalism. New York: Harvard Press University, 2011.

(7) JAMESON, Frederic. Pós-modernismo: A lógica cultural do capitalismo tardio, São Paulo: Ática, 1998.

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nova forma de produção do capital que denominamos de maquinofatura; e o desenvolvimento da crise estrutural de valorização do valor que se manifesta principalmente na financeirização da riqueza capitalista e hegemonia do capital financeiro na dinâmica de acumulação de valor. Estas novas determinações estruturais postas pelo tempo histórico alteraram efetivamente a forma de ser da precarização do trabalho.

A precarização do trabalho é um traço estrutural do modo de produção capitalista, possuindo, entretanto, formas de ser no plano da efetividade histórica. Por natureza, a força de trabalho como mercadoria está imersa numa preca-riedade salarial que pode assumir a forma de precariedade salarial extrema ou então, de precariedade salarial regulada. O que regula os tons da precariedade salarial é a correlação de força e poder entre as classes sociais. É portanto uma regulação social e política.

Entretanto, nas últimas décadas de capitalismo global ocorreram dois grandes fatos históricos que incidem sobre a forma de ser histórica da precarização do trabalho: a emergência da maquinofatura, produto das revoluções tecnológicas do capitalismo tardio; e a emergência da crise estrutural de valorização do valor, decorrente fundamen-talmente do aumento da composição orgânica do capital. Nossa hipótese principal é que esses dois fatos históricos — a maquinofatura e a crise estrutural de valorização do valor — fatos históricos que não se reduzem a meros fatos tecnológicos e fatos econômicos, alteraram efetivamente os termos e modos de ser da precarização do trabalho sob o capitalismo global; inclusive, contribuindo para que ela — a precarização do trabalho — assumisse, primeiro, a caracterização de precarização estrutural do trabalho e depois, adquirisse o estatuto social de precarização existencial ou ainda, precarização do homem-que-trabalha.

2. MaquinofaturaA maquinofatura como nova forma de produção do capital, produto do desenvolvimento da manufatura e

grande indústria, surgiu como determinação da base técnica do sistema de produção de mercadorias, implicando irremediavelmente na constituição de uma nova relação homem x natureza. Na perspectiva histórico-materialista, a técnica como tecnologia ou ainda, a tecnologia como forma social da técnica, é uma mediação necessária do metabolismo social. No caso da sociedade capitalista, a base técnica do sistema produtor de mercadoria adquiriu determinadas formas sociais caracterizadas por Marx como sendo a manufatura e a grande indústria(8). Podemos considerá-las formas sócio-históricas no interior das quais se desenvolve o modo de produção capitalista. Entretanto, manufatura e grande indústria não são apenas categorias críticas da economia política do capital, mas categorias sociológicas que implicam um determinado modo de controle sociometabólico que emerge com a civilização moderna do capital.

Diz Marx, logo no início do capítulo 13 do livro I de “O Capital”:

“O revolucionamento do modo de produção toma, na manufatura, como ponto de partida a força de trabalho; na grande indústria, o meio de trabalho”(9).

Nesta pequena e interessante passagem, Marx salienta os “pontos de partida” dos revolucionamentos do modo de produção capitalista. Trata-se de uma colocação ontológica da forma de ser da produção social do capital. Como observaram anteriormente Marx e Engels, “a burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instru-mentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais.”(10): a manufatura ao constituir a cooperação e a divisão manufatureira do trabalho, revolucionou a força de trabalho; a grande indústria ao instaurar o sistema de máquinas, revolucionou o meio de trabalho.

Nossa hipótese é que, a maquinofatura, síntese da manufatura e grande indústria, ao pôr a gestão como nexo essencial da produção do capital revolucionou a relação homem-máquina. Deste modo, maquinofatura é uma nova transformação técnica da produção da vida social que alterou, nas condições da dominação da forma-capital, o controle do metabolismo social. Na verdade, o revolucionamento do modo de produção implica, cada vez mais, o revolucionamento do modo de vida, isto é, o revolucionamento de todas as relações sociais (o Marx de 1844 diria: o revolucionamento da “vida do gênero” [Gattungsleben] na sua forma abstrata e alienada (diz ele:”A vida mesma aparece só como meio de vida” — eis o verdadeiro sentido do trabalho assalariado).

(8) MARX, Karl. O capital — crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013.

(9) Idem.

(10) MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 1998.

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Portanto, o ponto de partida da maquinofatura não é o revolucionamento da força de trabalho (como na manufatura), nem o revolucionamento da técnica (como na grande indústria), mas sim o revolucionamento do homem-e-da-técnica, ou o revolucionamento da própria relação homem-técnica. Para isso, constituiu-se a ideologia da gestão nas condições da rede informacional.

Enquanto nova forma tecnológica de produção do capital baseada na rede informacional, a maquinofatura colocou a necessidade da gestão como “captura” da subjetividade do trabalho vivo, nexo essencial do toyotismo como inovação organizacional. Por outro lado, a gestão como “captura” da subjetividade do homem como trabalho vivo colocou a necessidade da produção como totalidade social (a disseminação do espírito do toyotismo pelas instâncias da reprodução social, loci do processo de subjetivação social).

Em síntese: toda forma de produção do capital (manufatura, grande indústria ou maquinofatura) implica, como pressuposto da base técnica, uma determinada forma organizacional do trabalho ou gestão e um determinado modo de vida adequado para a reprodução social (isso ocorre tanto na manufatura, quanto na grande indústria e maquinofatura). A maquinofatura, que se constituiu a partir de uma nova base técnica (a tecnologia informacional), põe, como pressuposto efetivo, a “captura” da subjetividade da pessoa humana por meio do espírito do toyotismo, implicando de modo intensivo e extensivo, o processo de reprodução social do trabalho vivo. Deste modo, com o surgimento da maquinofatura alteram-se os termos do estranhamento social dado pela relação tempo de vida/tempo de trabalho e pela constituição de um novo modo de vida: o modo de vida “just-in-time”.

Entretanto, é importante salientar, em termos ontometodológicos, que “pressuposto” quer dizer “determinação”, mas não “determinismo” — o que significa que a relação entre a maquinofatura (como rede informacional) e as novas formas de estranhamento social (dada pela precarização existencial como precarização do trabalho), não implica um determinismo tecnológico, tendo em vista que a base técnica — no caso, a rede informacional — oferece tão somente virtualidades desenvolvidas (ou não) pelo capital como mediação da forma social historicamente determinada. Enfim, não é a base técnica que produz estranhamento social, mas sim a forma-capital e as relações sociais de produção capitalista, mediadas pela luta de classes, que fazem com que a base técnica informacional da maquinofatura ponha o toyotismo e seus nexos essenciais/organizacionais como forma organizacional adequada da produção social.

Numa sociedade emancipada do domínio do capital, a nova base técnica informacional não implicaria na for-ma organizacional toyotista com seu modo de vida “just-in-time”, onde tempo de vida se reduz a tempo de trabalho. Uma sociedade de produtores auto-organizados desenvolveria outras virtualidades da forma técnica, explicitando outro modo de organização do trabalho e outro modo de vida. Portanto, não é a forma técnica das novas máquinas em rede que nos fazem adoecer (provocada pela “captura” da subjetividade do trabalho vivo), mas sim as relações sociais do capital como movimento de autovalorização do valor.

Noutras condições históricas, em que os sujeitos humanos se re-apropriam das condições objetivas e subjetivas da produção social, a nova base técnica de caráter informacional contribuiria, pelo contrário, para a explicitação de uma nova humanidade mais plenamente desenvolvida, tendo em vista a afirmação da rede como base material pressuposta do em-si da genericidade humana.

A maquinofatura, como a manufatura e a grande indústria, constitui uma forma histórica de produção do capital. Numa quadra histórica radicalmente nova, a base técnica informacional em rede teria outra denominação categorial capaz de expressar o verdadeiro significado da emancipação social: o comunismo dos homens e não das coisas.

Formas de desenvolvimento do capital

Manufatura Força de Trabalho (Homem)Grande Indústria Meio de Trabalho (Técnica)Maquinofatura Homem + Técnica = GESTÃO

3. Crise estrutural de valorização do capitalO conceito de crise estrutural de valorização põe efetivamente a determinação da base econômica entendida

como a nova condicionalidade objetiva da acumulação de capital ou extração de mais-valia. Do mesmo modo que a posição da maquinofatura não é tão somente uma posição técnica, a posição da crise estrutural de valorização do

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valor não é somente uma posição econômica. O que perpassa ambas é o estabelecimento de uma nova correlação de força e poder entre as classes sociais no mundo do capital.

Por um lado, a maquinofatura instaurou um novo modo de subsunção do trabalho ao capital, o que Ruy Fausto, elaborando o seu conceito de “pós-grande indústria” (conceito homólogo ao de maquinofatura), denominou de subsunção formal-intelectual ou espiritual do trabalho ao capital em contraste, por exemplo, com a subsunção formal (manufatura) e subsunção real (grande indústria)(11). Por outro lado, a crise estrutural de valorização do valor põe a necessidade irremediável de um novo patamar de desvalorização da força de trabalho como mercadoria (o que Mészáros identificará como sendo a precarização estrutural do trabalho)(12) .

No tempo histórico da maquinofatura e da crise estrutural de valorização do valor ocorreu a amplificação daquilo que denomino “condição existencial de proletariedade”(13), que implica — nas condições ideológicas vigentes do capitalismo manipulatório que obstaculiza a formação da consciência de classe — não o surgimento da “classe” como sujeito histórico, mas sim, a emergência da “multidão” e do “povo”.

Na medida em que se põe a crise estrutural de valorização do valor, a precarização do trabalho aparece como precarização salarial com suas implicações no emprego, carreira, salário e condições de trabalho. É o que explica a nova precariedade salarial com a vigência do trabalho flexível alterando as condições do estatuto salarial (contratação salarial, remuneração e jornada de trabalho). Ao mesmo tempo, na medida em que se põe a maquinofatura, a pre-carização do trabalho aparece também como precarização existencial, tendo em vista que a gestão da nova relação homem-natureza alterou, de modo qualitativamente novo, o metabolismo social do sujeito que trabalha, tendo em vista a tecnologia informacional e a adoção do sistema toyotista de produção; o que significa que o método just-in--time/kan-ban e a autonomação como disposição anímico-motivacional do trabalho vivo nos locais de trabalho das empresas capitalistas reestruturadas, contribuíram para o aumento, em intensidade e amplitude, da carga ideológica e pressão pelo cumprimento de metas e resultados (ela não diz respeito apenas à produção, mas à totalidade da vida social, o que significa o surgimento do modo de vida just-in-time).

4. Modo de vida just-in-time

Para que possamos entender o significado do conceito de “modo de vida just-in-time”, é importante apreender o significado do método “just-in-time/kan-ban” na ótica da gestão toyotista. Por exemplo, para Taiichi Ohno, ideólogo do toyotismo, o “just-in-time” significa que, em um processo de fluxo da produção industrial, as partes corretas neces-sárias à montagem alcançam a linha de montagem no momento em que são necessárias e somente na quantidade necessária. Eis a lógica do “just-in-time”: a produção a tempo certo. Para Ohno, uma empresa que estabeleça esse fluxo integralmente, pode chegar ao estoque zero. Além disso, por trás do princípio do estoque zero existe a vigência da empresa enxuta (“lean production”). Estoque zero exige necessariamente, na ótica do capital, a redução da força de trabalho na planta industrial(14).

Mas Ohno constatou que “é muito difícil aplicar o just-in-time ao plano da produção de todos os processos de forma ordenada. Uma falha na previsão, um erro no preenchimento de formulários, produtos defeituosos e re-trabalho, problemas com o equipamento, absenteísmo — os problemas são incontáveis.” E conclui: “Portanto, para produzir usando o just-in-time de forma que cada processo receba o item exato necessário, quando ele for necessário, e na quantidade necessária, os métodos convencionais de gestão não funcionam bem”. Enfim, o just-in-time como revolucionamento da produção de mercadorias implica uma novo método de gestão da produção.

Taiichi Ohno tentou resolver o problema do just-in-time repensando o fluxo de produção e instaurando um novo método de gestão em que o fluxo de produção ocorreria na ordem inversa: um processo final vai para um processo inicial para pegar apenas o componente exigido na quantidade necessária no exato momento necessário. Na verdade, Taiichi Ohno descobriu que o segredo do just-in-time é efetivamente a comunicação, isto é, indicar claramente o

(11) FAUSTO, Ruy. A Pós-grande indústria nos grundrisse (e para além deles). In Lua Nova, São Paulo: Cedec, n. 19, nov. 1989.

(12) MÉSZÁROS, István. Para além do capital — rumo a uma teoria da transição. Campinas: Editora da UNICAMP/Boitempo, 2002.

(13) ALVES, Giovanni. Dimensões da reestruturação produtiva — Ensaios de sociologia do trabalho. Bauru: Praxis, 2007.

(14) OHNO, Taiichi. O sistema toyota de produção — Além da produção em larga escala. São Paulo: Bookman, 1997.

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que e quanto é preciso de peças no processo de produção, criando, deste modo, um quadro de sinalização capaz de controlar a quantidade produzida — ou seja, a quantidade necessária (nesse caso, a comunicação se reduz a quadro de sinalização).

Portanto, o sistema Toyota possui dois pilares: a autonomação e o just-in-time/kan-ban, em que just-in-time é o sistema; kan-ban, o método [de comunicação]) e a “autonomação”, a disposição anímica [o trabalho vivo](15). Noutros termos: o método do sistema “just-in-time” reside na comunicação reduzida a esquema de sinalização das necessidades da produção; e como pressuposto indispensável do sistema just-in-time e do próprio método “kan-ban”, teríamos a autonomação como disposição anímica do trabalho vivo em colaborar. Eis o significado ontológico das categorias do ohnismo.

Os parâmetros do espírito do toyotismo inscrito no sistema/método “just-in-time/kan-ban” e na autonomação — isto é, produção enxuta, comunicação instrumental e colaboração do trabalho vivo — se reverberam na totalidade social, tornando imprescindível, nesse caso, a formação de sujeitos humanos (trabalho vivo) com disposição anímica para colaborar, requisito necessário da autonomação na produção capitalista.

Nossa hipótese é que o modo de vida “just-in-time” implica uma maior carga de pressão no plano psíquico do homem-que-trabalha tendo em vista que ele opera o fenômeno da vida reduzida. Na medida em que a produção toyotista torna-se totalidade social, ela impregna a vida social de elementos valorativos do produtivismo capitalista. O trabalho abstrato, que nasce na fábrica, dissemina-se pela sociedade burguesa. Por isso, temos salientado que nas condições do capitalismo global, a extensão do trabalho abstrato pela vida social, com as formas derivadas de valor, promovem o fenômeno da “vida reduzida”(16).

A “vida reduzida” impulsionada pelo modo de vida just-in-time é antípoda à “vida plena de sentido” (Lukács) que o homem-que-trabalha é incapaz de ter no sistema social do capital. Com a vida reduzida, o capital avassala a possibilidade de desenvolvimento humano-pessoal dos indivíduos sociais, na medida em que ocupa o tempo de vida das pessoas com a lógica do trabalho estranhado e a lógica da mercadoria e do consumismo desenfreado. A “vida reduzida” produz homens imersos em atitudes (e comportamentos) “particularistas”, construídos (e incentivados) pelas insti-tuições (e valores) sociais vigentes. Por isso, as condições de existência social que surgem do metabolismo social do trabalho reestruturado no capitalismo global, contribuem para a exacerbação do fenômeno do “estranhamento” na sociedade burguesa.

5. Vida reduzidaA vida reduzida significa a vida veloz, sinalizada, enxuta, capturada e invertida. Estas são as suas características

fundamentais nas condições do modo de vida just-in-time. A vida reduzida é vida veloz na medida em que a produção em rede, utilizando tecnologias informacionais sob os requisitos da gestão toyotista, intensifica o movimento de rotação do capital e por conseguinte, o processo de produção como totalidade social. Nas condições de crise estrutural de valorização do valor, exacerba-se a ânsia de valorização do capital, incrementando-se o movimento de rotação dos circuitos de valorização do valor. Ocorre o que I. Mészáros denominou de aumento da taxa de utilização decrescente do valor de uso das mercadorias ou ainda o que David Harvey denominou de compressão espaço-tempo(17). Na medida em que se constitui a sociedade em rede, a subsunção da totalidade social à produção do capital torna-se subsunção real. O aumento da produtividade do trabalho na produção de mercadorias se reverbera no aumento da velocidade dos circuitos vitais do organismo social.

Ao mesmo tempo, a vida reduzida é vida sinalizada (avaliada e qualificada) na medida em que estamos diante não apenas da suposta “sociedade da comunicação”, mas sim, da sociedade da comunicação-reduzida-a-sinalização, tal como ocorre, por exemplo, no kan-ban como método da gestão toyotista. Na sociedade midiática formada por redes, a comunicação contém um elemento de sinalização de procedimentos e requerimentos instrumentais que

(15) CORIAT, Benjamin. Pensar pelo avesso: o modelo japonês de trabalho e organização. Rio de Janeiro: Revan/UFRJ, 1994.

(16) ALVES, Giovanni; VIZZACCARO-AMARAL, André Luiz; MOTA, Daniel Pestana. Trabalho e saúde — A precarização do trabalho e a saúde do trabalhador no século XXI. São Paulo: LTr, 2011.

(17) MÉSZÁROS, István. Para além do capital — Rumo a uma teoria da transição. Campinas: Editora da UNICAMP/Boitempo, 2002. HARVEY, David. Condição pós-moderna — Uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Edições Loyola, 1992.

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