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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO MANUFATURA DE COMPÓSITOS ESTRUTURAIS COM INSERÇÃO DE FIBRAS ÓPTICAS PARA SENSORIAMENTO DE DEFORMAÇÕES E DANOS MECÂNICOS ALUNO: Gustavo de Souza ORIENTADOR: Prof. Dr. José Ricardo Tarpani São Carlos 2016

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

MANUFATURA DE COMPÓSITOS ESTRUTURAIS COM INSERÇÃO DE FIBRAS

ÓPTICAS PARA SENSORIAMENTO DE DEFORMAÇÕES E DANOS MECÂNICOS

ALUNO: Gustavo de Souza

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Ricardo Tarpani

São Carlos

2016

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GUSTAVO DE SOUZA

MANUFATURA DE COMPÓSITOS ESTRUTURAIS COM INSERÇÃO DE FIBRAS

ÓPTICAS PARA SENSORIAMENTO DE DEFORMAÇÕES E DANOS MECÂNICOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de

Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo

Curso de Engenharia de Materiais e Manufatura

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Ricardo Tarpani

São Carlos

2016

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR

QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E

PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Professor Dr. José Ricardo Tarpani, meu orientador, pela oportunidade,

apoio e constante motivação na realização desse trabalho.

Agradeço ao Professor Andreas Echtermeyer por ter me recebido e orientado durante a

realização do Estágio em pesquisa BEPE-FAPESP.

Agradeço aos colegas Nan Te Kwai e Braian Uribe do GECoM - SMM- EESC pelo

auxílio durante a execução desse projeto.

Agradeço aos colegas Kaspar Lasn, Abedin Gagani, Dennis Gibhardte e Søren Heinze

do IPM-NTNU por toda atenção e suporte na realização dos experimentos durante o estágio

BEPE-FAPESP.

Ao Departamento de Engenharia de Materiais da EESC-USP e seus professores, por

contribuírem para a minha formação ao longo desses 6 anos de graduação.

A minha namorada Mirella Fares pelo companheirismo e apoio incondicional em

todos os momentos.

A todos meus amigos, em especial Daniel Cunha, Jorge Parreli e Rafael Ferro por

sempre estarem presentes nos bons e principalmente nos momentos difíceis ao longo desses 6

anos.

Aos meus pais, por sempre me apoiarem.

Aos Professores membros da banca por se disponibilizarem a avaliar e contribuírem

com esse trabalho

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“Não deixe sua chama se apagar com a indiferença.

Nos pântanos desesperançosos do ainda, do agora não.

Não permita que o herói na sua alma padeça

frustrado e solitário com a vida que ele merecia,

mas nunca foi capaz de alcançar.

Podemos alcançar o mundo que desejamos. Ele existe.

É real.

É possível.

É seu.”

Ayn Rand (A Revolta de Atlas, 1956)

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RESUMO

SOUZA G. Manufatura de compósitos estruturais com inserção de fibras ópticas para

sensoriamento de deformações e danos mecânicos. 2016. 53p. Monografia (Trabalho de

Conclusão de Curso) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São

Carlos.

Métodos simples de inserção de fibras ópticas em compósitos estruturais durante o processo

de manufatura foram desenvolvidos para as técnicas de infusão de resina em molde superior

flexível e enrolamento filamentar. Os métodos foram propostos e aplicados visando

interferência mínima nos processos durante a disposição dos sensores. Os laminados obtidos

via infusão foram ensaiados em tração, na qual duas técnicas de interrogamento das fibras

ópticas foram utilizadas: espalhamento luminoso e reflectometria do espalhamento óptico.

Nesses ensaios foram avaliadas a queda de propriedade mecânica do laminado devido a

presença da fibra óptica, o comportamento mecânico da fibra óptica durante o carregamento e

a deformação desenvolvida ao longo do comprimento do sensor embutido na estrutura. Os

vasos de pressão manufaturados via enrolamento filamentar foram testados em impacto e em

ensaio de pressurização onde as fibras ópticas foram capazes de detectar e medir a intensidade

do dano causado pelo impacto e monitorar os níveis de deformação causados nas direções

circunferenciais e longitudinais no ensaio de pressurização. Os resultados obtidos mostram o

grande potencial existente para o uso de fibras ópticas para monitoramento da condição

estrutural em tempo real de compósitos estruturais.

Palavras-chaves: Compósitos estruturais, monitoramento da integridade estrutural,

sensoriamento por fibras ópticas, Infusão a vácuo de resina líquida, enrolamento filamentar.

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ABSTRACT

SOUZA G.. Manufacturing of composite structures with embedded optical fibers for

strain and damage sensing. 2016. 53p. Monograph (Course Completion Assignment) – Sao

Carlos School of Engineering, University of Sao Paulo, Sao Carlos.

Simple methods of embedding optical fiber in composite structural during the manufacturing

process were developed for resin infusion under flexible tooling - RIFT and Filament

Winding- FW techniques. The methods were proposed and implemented focusing on minimal

interference in the processes during the arrangement of sensors. The laminates obtained via

infusion were tested in pure traction, in which two interrogating techniques of optical fibers

were employed: visible light scattering and Optical Backscatter Reflectometry –OBR Pure

tension tests evaluated the decrease of mechanical properties in laminates due the presence of

the optical fiber, the mechanical behavior of optical fiber during loading and the strain profile

along the length of the embedded sensor. Pressure vessels manufactured via filament winding

were tested in impact and pressurization in which the optical fibers were able to detect and

measure the intensity of the damage caused by the impact and monitor strain levels in the

hoop and longitudinal directions in the pressurization test. The results show the great potential

of optical fibers as a Structural Health Monitoring mean in structural composites.

Keywords: Structural composites, Structural Health Monitoring - SHM, Optical Backscatter

Reflectometer - OBR, Resin Infusion Under Flexible Tooling - RIFT, Filament Winding -

FW.

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Sumário

1. Introdução ......................................................................................................................... 19

1.1Compósitos estruturais: definição, aplicação e processos de manufatura. ...................... 19

1.2 Conceitos gerais e motivação ......................................................................................... 23

1.3 Monitoramento da integridade estrutural - SHM ........................................................... 24

1.4 Sistemas SHM baseados em fibras ópticas ..................................................................... 27

2. Objetivos ........................................................................................................................... 28

3. Materiais e Métodos .......................................................................................................... 29

3.1 Materiais ......................................................................................................................... 29

3.2Métodos ........................................................................................................................... 30

4. Resultados ......................................................................................................................... 33

4.1 LCPs com fibras ópticas embutidas avaliados por ensaios visuais via espalhamento de

luz. ........................................................................................................................................ 33

4.2 LCPs e vasos de pressão com fibras ópticas embutidas interrogados com reflectometria

do espalhamento óptico (Optical Backscatter Reflectometer - OBR) .................................. 38

i) Método de Inserção de fibras ópticas durante a manufatura de LCPs via RIFT ........... 38

ii) Ensaio de tração dos LCPs com fibra óptica embutida com monitoramento via OBR 41

iii) Método de Inserção de fibras ópticas durante a manufatura de vasos de pressão via

enrolamento filamentar. .................................................................................................... 44

iv) Ensaio de impacto em vaso de pressão com fibra óptica embutida com monitoramento

via OBR. ........................................................................................................................... 46

v) Ensaio de pressurização em vaso de pressão com fibra óptica embutida com

monitoramento via OBR. .................................................................................................. 48

5. Discussão .......................................................................................................................... 51

6. Conclusão e Trabalhos Futuros ......................................................................................... 53

7. Referências ........................................................................................................................ 54

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1. Introdução

1.1Compósitos estruturais: definição, aplicação e processos de manufatura

O continuo desenvolvimento tecnológico da sociedade moderna vem aumentando cada

vez mais a demanda por materiais com combinações de propriedades específicas. Isto é

especialmente verdadeiro para materiais que são requisitados em aplicações estruturais nas

áreas aeroespaciais, subaquáticas e de transporte Nesse contexto, a classe de materiais

compósitos torna-se excepcionalmente interessante em diversos projetos complexos

(Callister, 2014).

Um material compósito é uma mistura física de dois ou mais distintos nano e / ou

micro e / ou meso, e / ou macroconstituintes, não solúveis um no outro, tendo uma interface

reconhecível entre eles. Tipicamente, os materiais compósitos são formados por uma matriz

contínua que une, da forma, protege e transmite esforços através da interface de contato a uma

fase dispersa de reforço. O reforço é um material mais rígido que pode se apresentar na forma

de partículas ou fibras (figura 1). O material resultante tem um equilíbrio de propriedades

estruturais que é superior a cada material constituinte sozinho, o que é chamado de princípio

de ação combinada (ASM, 2001).

Em um contexto amplo, os compósitos podem ser divididos em naturais (osso,

madeira, tecidos musculares, etc.) e sintéticos. Entre os sintéticos, uma série de outras

classificações podem ser feitas decorrente dos tipos (partículas ou fibras) e arranjos

(unidirecional, multidirecional) dos reforços existentes. Um esquema de classificação de

materiais compósitos é apresentado na figura 2.

Figura 1. Esquema de transferência de carga entre matriz e reforço em um compósito fibroso. Adaptado de

Callister (2014).

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Figura 2. Classificação dos materiais compósitos. Adaptado de Callister (2014).

No presente trabalho foram manufaturados e empregados laminados (Laminates).

Laminados Compósitos Poliméricos - LCPs (Fiber Reinforced Polymer - FRP) são feitos por

empilhamento de camadas individuais de arranjos de fibras uni- ou multidirecionais com

orientações espaciais específicas embutidas numa matriz polimérica de modo que todo o

empilhamento de camadas (laminado) possui propriedades globais bem definidas no plano

ortogonal à espessura do laminado. As propriedades da fibra basicamente definem o

desempenho mecânico do laminado compósito em termos de resistência à tração e rigidez, ao

passo que outros aspectos do desempenho do compósito dependem intimamente das

propriedades da matriz, tais como a temperatura máxima em serviço, as condições ambientais

e a resistência ao cisalhamento interlaminar.

Os reforços de fibras contínuas mais comumente incorporados em matrizes

poliméricas são vidro (Glass Fiber Reinforced Polymer – GFRP), carbono (Carbon Fiber

Reinforced Polymer – CFRP), e Para-Aramida. Outros materiais empregados como reforço

em menor escala são quartzo, boro, carbeto de silício e óxido de alumínio. Em relação às

resinas termofixas, poliésteres, por exemplo, oferecem uma combinação de baixo custo,

versatilidade em muitos processos e bom desempenho mecânico. No entanto, para compósitos

de alto de desempenho utilizados em aplicações estruturais, as resinas epóxi são

preferencialmente empregadas, na medida em que apresentam rigidez e tenacidade à fratura

elevadas, com igualmente boas propriedades térmicas (ASM, 2001).

LCPs são muito resistentes a vários tipos de corrosão, e se comparado às ligas

metálicas estruturais são mais leves por fatores superiores a até 4 vezes, o que faz com que

sua aplicação seja particularmente interessante na indústria aeroespacial. Como pode ser visto

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no gráfico da figura 3, que ilustra o crescimento da aplicação de compósitos em aeronaves

civis desde 1980, a utilização de materiais compósitos cresceu de 5-6% para 50% (no Boeing

787) em 30 anos. Isso por conta principalmente do barateamento das matérias primas e do

desenvolvimento de processos automatizados de manufatura (Campbell, 2006; Giurgiutiu,

2016).

Figura 3. a) Aumento do uso de compósitos em aeronaves civis no period de 1980-2010. b) Localização de

componentes compósitos na estrutura do Boeing 787 Dreamliner que correspondem a 50% do peso da aeronave.

Adaptado de Giurgiutiu (2016).

A versatilidade de manufatura dos LCP possibilita a essa classe de materiais diferentes

processos de fabricação que diferem entre si pelo custo do equipamento empregado,

complexidade de geometria e propriedades mecânicas do produto final. Para citar alguns dos

métodos mais comuns: Impregnação Manual (Handlay- UP), Enrolamento filamentar

(Filament Winding), Pultrusão (Pultrusion), Autoclave, Deposição computadorizada (Tape

Layer Delivery Head) e Infusão de Resina (Resin Transfer Moulding - RTM e Resin Infusion

under Flexible Tooling - RIFT).

As propriedades finais dos LCP estão intimamente ligadas a fração volumétrica de

fibras Vf e ao conteúdo de vazios ou bolhas que cada uma dessas técnicas apresenta (figura 4).

As figuras 5 e 6 ilustram em detalhes os processos empregados durante a realização do

presente trabalho, sendo eles RIFT e Filament Winding (wet), respectivamente.

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Figura 4. Propriedades apresentadas por laminados compósitos manufaturados por diferentes técnicas utilizando

o processo de hand lay-up como base de comparação. A capacidade de prover alto volume de fibras e baixa

porosidade volumétrica é fundamental para obtenção de boas propriedades finais. Adaptado de Harris (1999).

Figura 5. a) Vista explodida do processo de manufatura RIFT ilustrando os principais consumíveis e a ordem de

empilhamento e disposição desses materiais. b) etapas do processo de infusão de resina: lay-up, preenchimento,

e pós-preenchimento. Com boas condições de processo é possível alcançar fração volumétrica de fibras de 50% e

menos de 5% de porosidade. Adaptado de Govignon et al. (2010).

a

b

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Figura 6. Detalhamento do processo de manufatura por enrolamento filamentar molhado. As fibras longas

passam por um banho de resina e são tensionadas por um mandril rotativo. O olho “head” é responsável pela

orientação de deposição do reforço que pode seguir padrões helicoidais, polares e circunferenciais. Adaptado de

Campbell (2006).

1.2 Conceitos gerais e motivação

Grandes avanços na compreensão do comportamento mecânico e um maior domínio

das técnicas de manufatura de LCPs possibilitaram a essa classe de materiais uma ampla

gama de aplicações estruturais nos mais diversos setores da indústria, particularmente onde

alto desempenho mecânico (em especial resistência à tração e rigidez) aliado a baixo peso

estrutural são requisitos essenciais de projeto.

Entretanto, de acordo com Guemes et al. (2010) a relativamente pouca experiência

com os LCP no que tange aos seus mecanismos e modos de falha, quando comparados aos

seus homólogos metálicos, faz com que frequentemente se estabeleçam projetos estruturais

com elevados coeficientes de segurança, assim como sejam demandadas frequentes inspeções

destas estruturas, limitando assim o aproveitamento máximo do excepcional potencial de

propriedades mecânicas desta classe de materiais, bem como encarecendo o ciclo de vida dos

LCP em projetos construtivos, restringindo, por fim, seu uso mais disseminado.

Com o intuito de minimizar, ou mesmo eliminar estas limitações, sistemas de

monitoramento da integridade estrutural (Structural Health Monitoring - SHM) têm sido

desenvolvidos, aperfeiçoados e empregados aos componentes e estruturas LCP, propiciando a

sua monitoramento permanente e em tempo real quanto a eventuais mudanças bruscas de

comportamento, tais como, por exemplo, deformações excessivas e desenvolvimento e

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progressão de danos de origem térmica e/ou mecânica. Isto é conseguido por intermédio de

um conjunto de sensores estrategicamente distribuídos por toda a extensão do objeto de

interesse, os quais podem inclusive ser alocados (incorporados, embutidos ou inseridos) a este

último durante a própria manufatura do componente ou estrutura LCP.

Essa capacidade de monitoramento remoto e em tempo real de componentes e

estruturas LCP de elevada responsabilidade (high demanding components and structures) tem

o potencial de mudar completamente a forma como a manutenção é realizada, trazendo

enormes benefícios tanto em termos econômicos como e, principalmente, de segurança. Por

exemplo, ao invés da manutenção tradicional realizada periodicamente com base no tempo de

serviço do componente estrutural, haveriam critérios muito bem estabelecidos de manutenção

com base única e exclusivamente na condição atual (real) do mesmo, abstendo-se, portanto,

de manutenções desnecessárias (e de seus elevados custos diretos e indiretos), bem como se

evitando intercorrências, por vezes catastróficas, no espaço de tempo entre duas manutenções

programadas segundo o padrão tradicional de tempo de serviço do elemento ou conjunto

estrutural de interesse. Em 2002, a nona maior empresa de linhas aéreas americana gastou

cerca de US$5.32 bilhões de dólares somente em manutenção. Além disso, é estimado que o

erro humano em atividades de manutenção contribui com aproximadamente 15% de todos os

acidentes aéreos. (Herszberg et al., 2007)

Outra grande vantagem do sistema SHM é a sua capacidade de garantir

monitoramento permanente em áreas cujo acesso seria inviável por motivos de segurança,

como, por exemplo, no interior de tanques de combustível e outros produtos químicos, locais

de armazenamento de materiais perigosos, tubulações submersas, etc.

1.3 Monitoramento da integridade estrutural - SHM

Para que um sistema de sensoriamento remoto seja efetivo e eficiente ele requer um

esquema robusto de diagnóstico de danos. Uma vez que os sensores sejam estimulados, o

papel fundamental da ferramenta de diagnóstico é correlacionar essas informações com um

estado particular de dano (seja ele de origem mecânica, térmica, química, ou mesmo

radioativa), em termos de sua detecção, localização, intensidade e extensão. A precisão e a

confiabilidade desses dados recebidos a partir de sistemas SHM incorporados em

componentes e estruturas LCP dependem, sobretudo, da boa adesão dos sensores com o

substrato, de modo que os esforços experimentados pela estrutura possam ser integralmente

transferidos para o sistema SHM sem quaisquer interferências. Se a adesão entre o sensor e o

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LCP se deteriorar ao longo do tempo em serviço a transmissão das informações também é

negativamente afetada, reduzindo assim a capacidade do sensor se manter operacionalmente

confiável.

O diagnóstico pode mudar em função do tempo na medida em que um número maior

de dados é coletado pelo sistema, daí a extrema necessidade de se manter íntegra e estável a

interface de adesão entre o objeto de interesse e os sensores, independentemente dos efeitos

potencialmente degradantes àquela particular área de conexão entre as partes. Neste sentido,

caso seja respeitada a premissa de adesão perene entre sensor e LCP, um dos maiores

benefícios de algumas técnicas de SHM é sua habilidade de detectar danos em um estágio

muito primitivo e monitorar seu progresso até o comprometimento da confiabilidade

estrutural (Herszberg et al., 2007).

Alguns dos sistemas mais comuns de SHM são baseados em cerâmicas PZT e fibras

ópticas, onde o sensoriamento por fibras ópticas é a tecnologia com o maior potencial para

monitoramento estrutural contínuo e em tempo real de LCPs. (Sante, 2015; Huffenback,

2011).

Recentemente, a tecnologia de fibras ópticas esta sendo usada para monitorar

carregamentos e confiabilidade estrutural na are de construção civil. O pequeno diâmetro dos

sensores de fibra óptica permite que eles sejam aderidos na superfície da estrutura e,

especialmente no caso dos LCPs, sejam embutidos no interior do componente no processo de

empilhamento das camadas de reforço, durante o processo de manufatura.

A instalação dos sensores na superfície da peça de interesse requer perícia do operador

(já que este não é, ainda, um processo automatizado), demandando o emprego de técnicas

trabalhosas de adesão (visto que geometrias muito complexas do componente estrutural

exigirão não menos complexas operações de posicionamento e de distribuição dos sensores),

além de requisitar materiais de proteção para os sensores, todos estes fatores certamente

adicionando tempo e custos à produção. Além disso, o maior potencial de exposição do sensor

a danos superficiais de qualquer natureza (desgaste, impacto, corrosão, radiação), que podem

prejudicar sua durabilidade em serviço.

Os métodos mais versáteis de manufatura de LCP possibilitam inserir/incorporar os

sensores na estrutura simultaneamente à etapa de fabricação da mesma. Ou seja, a adição dos

sensores SHM pode ser realizada como parte do processo de manufatura do

componente/estrutura LCP, ao invés de operação secundária, posterior. Embutir os sensores

no próprio componente LCP dispensa os procedimentos de adesão e, particularmente, os de

proteção, já que o sensor estará plenamente protegido no interior do componente/estrutura.

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Ademais, quando devidamente inserido e distribuído, os sensores automaticamente proveem

um meio muito mais eficiente e representativo de transferência de dados quanto às

deformações impostas ao componente/estrutura LCP, assim como aos danos eventualmente

sofridos pelos mesmos.

Entretanto, um cuidado particular há de ser tomado no caso de sensores de fibras

ópticas, principalmente com relação às extremidades das mesmas, ou seja, onde elas imergem

e emergem do material a ser monitorado. Isto porque nessas regiões de transição, a fibra

óptica está sujeita a um ângulo de dobramento e, como sua estrutura primaria é cerâmica

(vidro), tal esforço pode facilmente causar fratura nos pontos críticos de dobra, impedindo

assim a correta obtenção de dados e, consequentemente, bem-sucedida realização do

correspondente diagnóstico de integridade estrutural. Geralmente, nessas regiões são

utilizadas proteções de silicone ou PTFE. É essencial que a fibra óptica esteja disposta no

arranjo pré-infusão (i.e, juntamente com as mantas de tecido de reforço e saco de vácuo) de

modo que suas extremidades não entrem em contato com a resina que será infundida.

Essencialmente porque, qualquer excesso de resina que recubra a fibra pode torna-la frágil e

suscetível a danos, além de inutiliza-la caso a resina escorra para o seu interior devido à

obstrução da passagem da luz. Em adição, é importante que os ângulos de entrada e de saída

da fibra sejam suaves a fim de evitar pontos concentradores de tensão (Beukema et al., 2012).

Sensores fibrosos integrados em estruturas LCP formam uma ótima combinação entre

sensor/substrato. Primeiro, porque ambos se enquadram na categoria de materiais de alto

desempenho mecânico e com baixo peso. Segundo, a fibra óptica pode ser integrada

diretamente no material, formando um SHM ideal. Além disso, os sensores ópticos oferecem

muitas vantagens em relação aos sensores convencionais de deformação (strain-gages).

Dentre elas podemos citar a imunidade à interferência eletromagnética, a resistência à

corrosão e aos ambientes submersos (Davis et al., 2012; Beukuma et al., 2012, Sonnenfeld et

al., 2011; Soller et al., 2010).

Geralmente, na manufatura de um LCP, quando fibras ópticas são embutidas entre as

camadas de tecido de reforço, uma região característica de acúmulo de resina (“resin pocket”)

aparece em torno do sensor. Essas regiões foram investigadas em LCPs de sistema de fibra de

carbono e resina epóxi cuja fibra óptica embebida estava recoberta com uma proteção

polimérica de poliamida. Nesses estudos foi observado que as zonas de acúmulo de resina no

entorno da fibra óptica podem reduzir significativamente a tensão máxima em compressão do

substrato (em torno de 40% nos casos mais extremos), além de diminuir apreciavelmente o

tempo de vida em carregamentos cíclicos. O tamanho da região de acúmulo pode variar de

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acordo com a orientação das mantas de reforço e, principalmente, com o número de camadas.

Estima-se que quando as fibras ópticas estão alinhadas com a direção do reforço esses

fenômenos são minimizados Nos experimentos realizados no presente projeto de pesquisa, tal

região foi encontrada com bastante frequência nas amostras preparadas. (Lammnens et al.,

2015; Surgeon et al., 1999; Jang et al.,1999).

1.4 Sistemas SHM baseados em fibras ópticas

Diversas técnicas de interrogamento podem ser empregadas baseadas em

sensoriamento por fibras ópticas. Monitoramentos mais simples utilizam um localizador de

falhas de laser na faixa do visível, que ao passar pela fibra gera um espalhamento de luz caso

haja uma fratura no seu comprimento, possibilitando a localização de um possível dano na

matriz do compósito por meio de inspeção visual. Um tipo especial de fibras ópticas aplicadas

como sensores SHM possui segmentos curtos e espaçados entre si, em que são criados

artificialmente refletores do tipo Bragg (Fibre Bragg Grating- FBG), através da mudança

local do índice de refração do núcleo da fibra. Interrogamentos mais complexos, onde a fibra

óptica inteira atua como um sensor, são chamadas de sistemas distribuídos de fibras

(Distributed Fiber Optical Sensing - DFOS), (Davis et al., 2012).

Desses sistemas de interrogamento os FBG são os mais conhecidos e utilizados,

estando no mercado a mais de 20 anos. Contudo, sensores de FBG possuem poder sensitivo

bastante localizado, o que significa que para monitorar o carregamento e detectar a presença

de danos e defeitos corretamente, a parte marcada com a rede de Bragg tem de ser

posicionada próximo ao sitio de concentração de tensão/deformação. Em outras palavras, para

monitorar grandes estruturas, seria necessário imprimir um grande número de redes na mesma

fibra óptica, tornando o material muito caro e possivelmente mais frágil, devido ao grande

número de interferência na sua constituição. (Davis et al., 2012).

Nesse caso, os sistemas DFOS baseados em reflectometria de espalhamento óptico

(Optical Backscatter Reflectometer - OBR) tornam-se bastante interessantes já que o

comprimento todo da fibra óptica convencional de telecomunicações atua como sensor.

Reflectometria de espalhamento óptico é um sistema composto de uma unidade de

interrogação conectada a uma fibra óptica convencional sem nenhuma modificação (sem

redes de Bragg, por exemplo). O sinal coletado corresponde ao armazenamento contínuo do

espalhamento de luz monocromática incidida dentro das fibras ópticas em função da posição

ao longo da mesma

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Dependendo do sistema utilizado, ele pode se basear em três espalhamentos especifico

da onda eletromagnética. O espalhamento Rayleigh é devido às flutuações existentes na

densidade e composição da sílica, o Raman devido à vibração térmica molecular e o Brillouin

devido às interações fótons- fônons na estrutura da fibra óptica Os métodos se diferenciam no

alcance, resolução, velocidade, sensibilidade e precisão. Sistemas Rayleigh OFDR oferecem

uma alta resolução espacial na ordem de um centímetro (comparado com 50 cm comum ao

caso de sistemas Brillouin). Contudo, a máxima distância de alcance é limitada a 100 m

(sistemas Brillouin alcançam ordens de 50 km). No futuro, nas aplicações industriais, existe a

possibilidade de ambos os sistemas podem vir a ser combinados na mesma linha de

interrogação com objetivo de unir o melhor das duas técnicas (Soller et al., 2005; Breysse et

al., 2012).

Por fim, outra vantagem dos sistemas DFOS é que convertendo o comprimento total

da fibra óptica em um sensor aumenta a efetividade da transferência de carga da estrutura em

solicitação para a fibra óptica devido ao fato de seu comprimento ser muito maior do que o

comprimento crítico necessário. Portanto, a deformação medida na fibra através da técnica de

OBR é praticamente a mesma desenvolvida no substrato, o que nem sempre ocorre nos

sensores FBG devido ao seu comprimento limitado (Li 2012).

2. Objetivos

Os objetivos do presente trabalho dividem-se nos seguintes tópicos:

i. O desenvolvimento e o estabelecimento de metodologias de inserção/Inserção (o que

inclui o posicionamento, a distribuição, e a instalação) de fibras ópticas convencionais (i.e.,

fibras utilizadas na área de telecomunicações) durante o processo de fabricação de LCPs

planos por meio de infusão em RIFT e de vasos de pressão por meio de enrolamento

filamentar.

ii. Avaliar os “LCP sensoriados” por técnicas de caracterização materialográfica, onde

os parâmetros adequados de infusão possam ser encontrados e padronizados, a fim de

possibilitar o Inserção das fibras ópticas na estrutura dos laminados sem prejudicar a

qualidade do compósito final além de garantir a integridade do sinal emitido através do

sensor;

iii. Analisar a interferência das fibras ópticas na diminuição das propriedades

mecânicas dos LCP quando comparados com os laminados convencionais fabricados por

infusão bem como colocar à prova o funcionamento e o desempenho das fibras ópticas como

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elementos sensores de danos causados ao substrato compósito por meio de espalhamento de

luz;

iv- Monitoramento de LCPs planos e vasos de pressão pela técnica de reflectometria

de espalhamento óptico – OBR e correlacionar as medidas realizadas com as condições de

carregamento. LCPs devem ser ensaiados em tração pura e os vasos de pressão em ensaio de

pressurização e impacto.

3. Materiais e Métodos

3.1 Materiais

Na manufatura de LCPs com fibras ópticas embutidas para ensaio visual durante

carregamento trativo foram utilizadas fibras de reforço de vidro na arquitetura Tela

bidirecional referência AF - 0003, do fabricante Fibertex®

do Brasil, cujas especificações são:

densidade areal 200g/m² e espessura de camada de 1,8 mm. A resina epóxi utilizada foi a

LY5052 com agente de cura Aradur 5052, distribuídos pela empresa Huntsman® do Brasil,

cujos valores de viscosidade são de 500-700 mPa.s e tempo de trabalho de 110-160 min a

25°C.

As Fibras ópticas utilizadas são monomodo de especificação SM, MM62,5/125,

fabricadas pela Telcon®

e fornecidas pela empresa MarcaTelecom®

– Ribeirão Preto, com

operação nas faixas de comprimento de onda de 850 nm, 1310 nm e 1550 nm. A figura 7

ilustra o cabo de fibra óptica convencional e seus revestimentos externos utilizados para

proteção em operações de telecomunicações, tal qual fornecido pelo fabricante. Os ensaios

visuais foram realizados utilizando um laser localizador de falhas a laser (figura 8).

Figura 7. Cabo de fibra óptica convencional e seus revestimentos externos, utilizados para proteção em

operações de telecomunicações.

Capa polimérica “tubete” (800µm)

Revestimento “Cladd” (190 µm)

Fibra óptica (120 µm)

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Figura 8. Localizador de falhas a laser com comprimento de onda de 650 nm.

Na manufatura de LCPs com fibras ópticas embutidas para interrogamento via

equipamento OBR durante carregamento trativo foram utilizadas mantas de fibra de reforço

de vidro unidirecional Saertex® e na fabricação dos vasos de pressão via enrolamento

filamentar foi utilizado fibra de carbono Grafil® 34-700 WD. Em ambos processos a resina e

o agente de cura utilizados foram EPIKOTE® MGS RIMR 135 e EPIKURE

® MGS RIMH

137, respectivamente.

As fibras ópticas de medição (Primary Coated Optical Fiber – PCOF) e de transmissão

(Secondary Coated Optical Fiber – SCOF) usadas para interrogamento via equipamento OBR

4600,da Luna inc®, foram BF06158-02 e SMB-E15550H, da empresa Specialty Photonics

®.

O processo de terminação e fusão das fibras ópticas foi feito utilizando o kit de fibras ópticas

da empresa Fitel® (figura 9).

Figura 9. Ferramentas utilizadas no processo de terminação e fusão das fibras ópticas.

3.2Métodos

Os LCPs foram obtidos pela técnica de infusão a vácuo de resina liquida em molde

superior flexível RIFT( Resin Infusion under Flexible Tooling) adaptada para o Inserção dos

Equipamento de fusão de fibras

Spray de limpeza de

fibras Clivador

Feltro de limpeza

Alicate decapador

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sensores, como será descrito mais adiante no texto. 8 corpos de prova com seis camadas de

manta de reforço, de dimensões aproximadas 250mm x 40mm e 3 fibras ópticas embutidas

em cada foram obtidos de duas infusões. StraingGauges – SG foram aderidos as superfícies

dos corpos de prova e os ensaios mecânicos de tração simples foram realizados nas maquinas

de ensaio universal da EMIC® e Instron

®, ambas de célula de carga de 100kN.

Cinco vasos de pressão foram manufaturados via enrolamento filamentar nas

dimensões de ø140 mm x 630 mm de comprimento da parte cilíndrica com layup de camadas

[90/(+15/-15)2/90].Os ensaios de pressurização foram realizados com uma bomba hidráulica

onde antes do inicio dos ensaios os vasos foram enchidos com água. Os vasos foram dispostos

dentro de um container fora do laboratório e monitorados com uma câmera Gopro® durante

todo procedimento (figura10).

Figura 10. Sequência de fotos mostrando a preparação dos vasos de pressão para ensaio de pressurização. Os

vasos foram preenchidos com agua e colocados dentro de um container. Após o fechamento do Container a

pressurização foi feita utilizando uma bomba hidráulica.

A análise materialográfica das amostras seguiu o processo convencional de Inserçãos,

lixamento e polimento e foi caracterizada por meio do microscópio Zeiss® modelo Axio

Scope A1, com câmera de alta resolução modelo AxioCamCc5 integrada ao equipamento.

A Interrogação dos sensores por espalhamento Rayleigh foi feita utilizando o

equipamento) BR4600 da Luna® Inc (figura 11) onde a transformação da amplitude de sinal

(dB) para deformação (µƐ) é feita automaticamente na interface do software OBR® desktop.

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Resumidamente, o software armazena a medida realizada sem carregamento (medida de

referência) e correlaciona com as medições subsequentes. O diagrama de blocos da figura 12

mostra a sequência se passos para realizar a etapa de processamento dos dados a partir das

medições.

Figura 11.a) Interface do equipamento OBR4600 da empresa Luna® Inc. b) Esquema operacional do software

OBR desktop mostrando três parâmetros principais que podem ser escolhidos pelo usuário durante as análises:

Sensing Range (comprimento do sensor), Gauge Length (tamanho do sensor virtual criado pelo software) e

Sensor Spacing (distancia entre o centro de dois sensores consecutivos). Pela edição desses parâmetros o

software é capaz de converter automaticamente o sinal (amplitude, dB) em deformação (microstrain). Adaptado

de Grave et al., 2011.

Figura 12. O software OBR desktop mede o sinal das fibras ópticas (amplitude, dB), transforma o sinal em

deformação (µƐ) e permite ao usuário salvar os dados em arquivos de texto, que podem ser tratados usando

programas específicos como Excel®, Origin

®, etc.

b a

Amplitude

(dB)

Deformação

(µƐ)

Arquivo

de texto

(.txt)

Gráficos,

tratamento

de dados.

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4. Resultados

4.1 LCPs com fibras ópticas embutidas avaliados por ensaios visuais via espalhamento de

luz

Como citado no capítulo de materiais e métodos, a fibra óptica convencional de

telecomunicações apresenta, além do núcleo cerâmico, duas camadas externas de

revestimento. Uma primeira semelhante a uma tinta, que pode ser de acrilato ou PMMA, atua

como proteção contra possíveis danos no manuseio, evitando ângulos de dobramento muito

agudos. A segunda, uma capa polimérica mais externa, confere proteção mais robusta às

fibras durante o transporte e passagem dos cabos.

Na concepção do projeto optou-se pela remoção da capa polimérica das fibras durante

o Inserção, visto que esta causaria uma descontinuidade muito grande na estrutura dos

componentes devido seu grande diâmetro, além de impedir a transferência dos esforços

sofridos pelo laminado para o sensor. Entretanto, a influência do cladd no processo de

transferência de esforços não era ainda conhecida e, por isso, durante o desenvolvimento da

metodologia de Inserção, três configurações de fibras ópticas foram propostas a fim de

estimar o efeito desse revestimento durante o carregamento dos corpos de prova.

A tabela 1 resume as configurações escolhidas durante a manufatura de três corpos de

prova em reforço de fibra de vidro na configuração tela, onde dois parâmetros foram variados:

a presença do revestimento cladd e a disposição da fibra óptica. No CP1, a fibra óptica foi

embutida sem cladd, no CP2, foi embutida com cladd e no CP3, o cladd foi mantido e a fibra

óptica foi aderida na superfície do laminado. O revestimento cladd foi removido

mecanicamente, com a utilização de um alicate óptico.

Tabela 1. Configurações das fibras ópticas embutidas nos LCPs

Corpo de Prova Fibra óptica

CP1 Embutida (sem cladd)

CP2 Embutida (com cladd)

CP3 Aderida na superfície (com cladd)

A integridade das fibras ópticas nos três corpos de prova, durante o carregamento em

tração, foi avaliada de modo qualitativo, através de inspeção visual. Uma fonte de laser, de

650nm, foi conectada a extremidade dos cabos de fibra óptica e na medida em que a carga de

tração foi aumentada, focos de espalhamento de luz puderam ser observados nos corpos de

prova, indicando a fratura local do sensor. Os corpos de prova foram avaliados em termos da

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deformação máxima, porcentagem da deformação máxima em que ocorreu a primeira falha, e

porcentagem da deformação máxima em que ocorreu a última falha. Foi observado que os

sensores embutidos falham de modo gradativo, à medida que a carga aumentou, apresentando

certa tolerância ao dano.

As sequências de fotos nas figuras 13, 14 e 15 ilustram CP1, CP2 e CP3 no decorrer

dos ensaios de tração onde uma foto foi tirada sempre que um novo foco de espalhamento de

luz surgia no laminado. As tabelas 2 e 4 apresentam tempo, deslocamento, deformação e

carga para CP1 e CP2 e as tabelas 3, 5e 6 resumem as análises relativas às falhas progressivas

dos sensores em função da deformação máxima dos corpos de prova para CP1 e CP2 e CP3,

respectivamente.

Analisando os resultados apresentados nas tabelas 3, 5 e 6 é possível observar que CP1

e CP2, que tiveram as fibras ópticas embutidas na sua estrutura no processo de manufatura,

tiveram uma deformação máxima de 2,67%, aproximadamente 60% da deformação máxima

apresentada pelo CP3, de 4,26%, que foi manufaturado pelo processo convencional de

infusão, com a fibra óptica aderida à superfície posteriormente.

No entanto, apesar de causar significativa queda de propriedade mecânica no laminado

final, os sensores embutidos nos CP1 e CP2 foram capazes de detectar, i.e. fraturarem e

gerarem espalhamento de luz devido a nucleação e crescimento de danos na matriz, a 25%

deformação máxima apresentada pelos corpos de prova, enquanto que a fibra aderida na

superfície do CP3 só foi sensível ao dano no momento da ruptura das fibras de reforço, na

falha final do corpo de prova (100% de deformação).

Comparando CP1 e CP2, tabelas 3 e 5, é possível observar que a presença do

revestimento cladd conferiu à fibra embutida no CP2 uma maior tolerância ao dano. A fibra

sem revestimento suportou até 45% da deformação máxima, enquanto que a fibra recoberta

com cladd atingiu 69% da deformação máxima. Além disso, a presença do cladd não é fator

determinante na diminuição das propriedades mecânicas do laminado visto que ambos os

corpos de prova resistiram à mesma deformação final de 2,67%.

A fim de avaliar melhor a queda de propriedade mecânica devido a presença das fibras

ópticas na estrutura dos laminados, seis corpos (três com fibra óptica embutida e três sem

fibra óptica embutida) foram ensaiados em tração. O gráfico da figura 16 mostra os valores de

tensão máxima média, apresentado pelas duas configurações. É possível observar que os

corpos de prova manufaturados pelo método de infusão tradicional, sem fibras ópticas

embutidas, apresentam uma tensão media de ruptura em torno de 425 MPa, enquanto que os

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corpos de prova manufaturados pelo processo modificado de infusão, com fibras ópticas

embutidas, apresentam uma tensão media em torno de 320 MPa, valor 30% menor.

Figura 13. Falha progressiva do CP1 em carregamento trativo, medida de forma qualitativa pela fratura e

espalhamento de luz no sensor de fibra óptica.

Tabela 2. Deslocamento, deformação e força em função do tempo de ensaio para o CP1.

Tempo Deslocamento

(mm)

Deformação

(%)

Força

(N)

0:00 - -

3:17 1,05 0,7 2200

3:27 1,20 0,8 2400

3:28 1,20 0,8 2400

7:10 1,80 1,2 3300

Tabela 3.Falha progressiva da fibra óptica em termos de deformação em relação a falha do laminado para CP1.

Deslocamento máximo 4,008 mm

Deformação máxima 2,67 %

Primeira falha da fibra óptica 26% da deformação máxima

Fibra óptica resistiu 45% da deformação máxima

0:00 3:27 3:17

3:28

7:10

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Figura 14. Falha progressiva do CP2 em carregamento trativo, medida de forma qualitativa pela fratura e

espalhamento de luz no sensor de fibra óptica.

Tabela 4. Deslocamento, deformação e força em função do tempo de ensaio para o CP2.

Tempo Deslocamento (mm) Deformação

(%)

Força (N)

0:00 - -

3:32 1,10 0,73 2386

4:50 1,26 0,84 2700

5:16 1,50 1,00 3063

7:21 2,05 1,36 3525

10:19 2,76 1,84 4340

Tabela 5. Falha progressiva da fibra óptica em termos de deformação em relação a falha do laminado para CP2.

Deslocamento máximo 4,006 mm

Deformação máxima 2,67 %

Primeira falha da fibra óptica 26% da deformação máxima

Fibra óptica resistiu 69% da deformação máxima

3:32 0:00 4:50

5:16 7:21

10:19

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Figura 15. Falha progressiva do CP3 em carregamento trativo, medida de forma qualitativa pela fratura e

espalhamento de luz no sensor de fibra óptica.

Tabela 6. Falha progressiva da fibra óptica em termos de deformação em relação a falha do laminado para CP3.

Deslocamento máximo 6,39 mm

Deformação máxima 4,26 %

Primeira falha da fibra óptica 100% da deformação máxima

Fibra óptica resistiu 100% da deformação máxima

Figura 16.Limite de resistência a tração em carregamento monotônico para LCPs com e sem fibra óptica

embutida. Laminados com fibra óptica embutida apresentaram uma redução de aproximadamente 30% na tensão

máxima.

Início Em andamento Fim

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4.2 LCPs e vasos de pressão com fibras ópticas embutidas interrogados com reflectometria

do espalhamento óptico (Optical Backscatter Reflectometer – OBR)

i) Método de Inserção de fibras ópticas durante a manufatura de LCPs via RIFT

O método de Inserção das fibras ópticas no layup de tecidos de reforço antes da

infusão de resina para interrogamento via OBR foi aperfeiçoado no projeto de estágio em

pesquisa no exterior BEPE-FAPESP, realizado no IPM – NTNU. Basicamente, a motivação

foi encontrar um método adequado que permitisse o Inserção das fibras ópticas sem alterar

significativamente a qualidade de manufatura dos laminados. Além disso, como era objetivo

realizar ensaios mecânicos, os sensores não poderiam ingressar e egressar no laminado pelas

extremidades das placas, visto que isso impossibilitaria o corte de corpos de prova, além de

dificultar a adesão de end tabs e fixação na máquina de ensaios.

Desse modo, a solução encontrada para embutir as fibras ópticas sem interferir na

produção dos corpos de prova foi adaptar a técnica de infusão de resina em molde superior

flexível para possibilitar a saída dos cabos pela superfície do laminado. Assim, além de

proporcionar o encaixe adequado na máquina de ensaio, o sensor ficaria livre das

interferências da pressão de fechamento da garra, aumentando tanto a vida útil do sensor

quanto sua confiabilidade para monitorar as cargas desenvolvidas na direção longitudinal de

carregamento. A figura 17 mostra um esboço do que foi pensado para desenvolver a

metodologia de Inserção.

Figura 17. Esboço da metodologia de Inserção para que as fibras ópticas não sofressem danos mecânicos devido

ao encaixa na garra da máquina de ensaios.

No processo de Inserção dois tipos de fibras ópticas foram utilizados, as PCOFs (fibras

de medida), que apresentam um revestimento superficial de PMMA, que possibilita melhor

transferência de carga da estrutura em solicitação para o sensor e as SCOFs (fibras de

transmissão) que, por terem uma capa protetora elastomérica, são mais resistentes a possíveis

fraturas, decorrentes do manuseio. Primeiro, as duas extremidades da fibra de medição foram

emendadas à duas fibras de transmissão por meio de fusão dos núcleos, utilizando o

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equipamento de fusão . Após a emenda, uma luva polimérica foi adicionada às regiões de

conexões para maior proteção das uniões (figura 18).

Em princípio, a emenda com o cabo de transmissão deveria ser realizada apenas em

uma das extremidades da fibra óptica que, posteriormente, seria conectada ao equipamento de

interrogação. Contudo, acoplamento de fibras de transmissão nos dois extremos das fibras de

medição é a facilidade maior de passar os cabos entre as diferentes mantas de reforço já que

como descrito acima, essas fibras são mais resistentes ao manuseio, aumentando as chances

de sucesso no Inserção de sensores intactos.

Figura 18. Fibra de medição acopladas com duas fibras de transmissão, configuração das fibras opticas usadas

no processo de Inserção.

As figuras 19, 20 e 21 ilustram a sequência de passos desenvolvidos na manufatura

dos laminados com fibras ópticas embutidas. A figura 20 mostra a disposição dos cabos

ópticos no layup de mantas secas, onde é possível observar que apenas as fibras de medição

ficam em contato direto com o reforço.

Durante o selamento do sistema (figura 21), pequenos furos foram feitos no saco de

vácuo, difusor e peel ply para dar passagem aos cabos de transmissão; nesse passo, as luvas

poliméricas de proteção também foram mantidas fora do sistema de infusão para permitir a

mobilidade dos cabos na hora da adesão dos endtabs nos corpos de prova (figura 21). Os

furos no saco de vácuo foram fechados posteriormente com fita bambam.

Duas infusões foram realizadas adotando o método proposto. Em cada infusão 12

fibras ópticas foram embutidas, distribuídas em quatro corpos de prova. As infusões foram

divididas entre “infusão 1”, com ordem de empilhamento [902/04]T e “infusão 2”, com ordem

de empilhamento [02/902/02]T . Em cada infusão, para cada corpo de prova, 1 fibra óptica foi

embutida entre as diferentes interfaces de reforço i.e. 0/0, 0/90 e 90/90. O objetivo era avaliar

experimentalmente entre quais interfaces as fibras ópticas proporcionariam melhores

medições de deformação.

Fibra de Medição (PCOF)

Fibra de Transmissão (SCOF)

Luva protetora

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Figura 19. Inserção dos cabos de fibra óptica nas mantas de fibra de reforço antes do início do processo de

infusão.

As tabelas 7 e 8 mostram o status de cada fibra óptica embutida nas infusões 1 e 2

após o processo de fabricação dos corpos de prova, que envolveu as seguintes etapas:

infusão, remoção dos consumíveis, corte, lixamento e colagem dos end tabs. Da análise das

tabelas 7 e 8 podemos observar que 50% dos cabos quebraram durante o processo de

fabricação dos corpos de prova. Todavia, foi observado que apenas 5% dos cabos quebraram

durante a manufatura (infusão e remoção de consumíveis) indicando que o método proposto

para o Inserção das fibras no processo de infusão é viável. Contudo, para que a sobrevivência

das fibras durante todo o processo alcance um nível satisfatório, as etapas de corte e

lixamento também devem ser projetadas e realizadas com maior cuidado.

Figura 20 Emersão das fibras ópticas pela superfície do laminado. Pequenos furos foram feitos no saco de vácuo

para que as extremidades livres dos cabos ficassem fora do contato com o fluxo de resina.

Emersão pela superfície do laminado

Emersão da fibra de transmissão do saco de vácuo, os furos foram

selados com fita bambam

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Figura 21. Corpo de prova com fibra óptica embutida pronto indicando o local da superfície do laminado de

saída da fibra óptica.

Tabela 7. Estados das fibras opticas embutidas após o processo de manufatura para a infusão 1

Infusão 1[902/04]T

Legenda CP1 CP2 CP3 CP4

1 0/0 1 Ok 1 quebrada 1 Ok 1 Ok

2 0/90 2 Ok 2 quebrada 2 quebrada 2 Ok

3 90/90 3 quebrada 3 Ok 3 Ok 3 Ok

Tabela 8. Estados das fibras opticas embutidas após o processo de manufatura para a infusão 1

Infusão 2 [02/902/02]T

Legenda CP1 CP2 CP3 CP4

1 0/0 1 Ok 1 quebrada 1 Ok 1 quebrada

2 0/90 2 quebrada 2 Ok 2 Ok 2 Ok

3 90/90 3 quebrada 3 Ok 3 Ok 3 quebrada

ii) Ensaio de tração dos LCPs com fibra óptica embutida com monitoramento via OBR

Os ensaios de tração foram realizados com deslocamento de 1mm/min onde a cada

2kN de carga, o equipamento era pausado para que a interrogação das fibras ópticas com o

OBR pudesse ser realizada. Os corpos de prova não foram carregados até a ruptura. Como

compósitos GFRP apresentam comportamento mecânico elástico, de acordo com a lei de

Hooke, era esperado que na etapa de pós-processamento dos sinais das fibras ópticas,

patamares constantes de deformação fossem observados ao longo do comprimento dos

sensores para cada nível de carregamento.

Para os corpos de prova testados, a interface de Inserção que melhor proporcionou a

observação dos patamares de deformação foi a 0/0, onde a fibra óptica estava alinhada com as

fibras de reforço no seu entorno. O gráfico da figura 22 mostra a deformação (Microstrain,

µƐ) ao longo do comprimento da fibra de medição (aproximadamente 15 cm) embutida na

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interface 0/0 do CP1- Infusão2, para carregamentos que variam de 2,4kN a 36kN. Essas

medições foram obtidas com 5mm de tamanho de sensor (GL=5mm) e 5mm de espaçamento

entre os sensores (SS=5mm).

Analisando a figura 22 nota-se um vale nos níveis de deformação entre as posições

5cm e 9 cm que destoa dos patamares obtidos a medida em que o carregamento aumenta, o

que pode ser melhor observado na figura 23, onde alguns carregamentos intermediários

foram omitidos. Como mostra a figura 24, essa diferença deveu-se a movimentação do sensor

no sistema quando a infusão de resina se iniciou. Quando a frente de fluxo de resina se

aproxima do sensor, a pressão de compactação é aliviada, o que permite a mobilidade da

fibra. Portanto, nessa região o sensor não estava totalmente alinhado com a fibra de reforço,

conferindo menor transferência de esforços em relação às demais regiões do comprimento.

Ainda com relação à figura 23, na última carga de carregamento (36,4kN), nota-se

uma grande variação na amplitude de deformação medida ao longo do comprimento da fibra

óptica, possivelmente devido ao início da fratura do sensor. Como foi observado para os

ensaios de espalhamento luminoso, as fibras opticas não rompem abruptamente mas sofrem

pequenas fraturas localizadas que causam perda de intensidade/ potência na transmissão do

laser. No caso da análise por OBR, essas microfalhas se apresentam como pontos dispersos

que distorcem a curva de deformação.

Por fim, o gráfico da figura 25 compara, para as infusões 1 e 2, os valores médios de

deformação obtidos ao longo do comprimento das fibras ópticas embutidas na interface 0/0

(excluindo posições em que o sensor estava desalinhado com a direção reforço) com os

valores de deformação medidos por Strain Gauges –SG, colados na superfície dos corpos de

prova. É possível observar que há boa concordância entre os valores medidos pelos SGs e os

obtidos pela interrogação dos sensores, porém para valores de deformação acima de 4000 µƐ

as fibras apresentam variabilidade crescente e falham antes dos SGs.

Nota-se ainda, pela diferença na inclinação das curvas, que a rigidez mecânica variou

de uma infusão para a outra, onde o laminado obtido na infusão 2 apresentou propriedades

ligeiramente melhores. Isso se deveu as modificações realizadas nas infusões para possibilitar

o Inserção das fibras. Na infusão 2, a operação de selamento dos furos feitos no saco de vácuo

foi mais eficiente do que na infusão 1, fazendo com que o processo alcance-se níveis de vácuo

superiores, refletindo em maior volume de fibras e menos porosidade.

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Figura 22. Valores OBR ao longo do comprimento da fibra optica embutida entre a interface 0/0 para

carregamento trativo de 2,4-36,4 kN.

Figura 23. Valores OBR ao longo do comprimento da fibra optica embutida entre a interface 0/0 para

carregamento trativo de 2,4-36,4 kN.

Figura 24. Desalinhamento entre a fibra óptica embutida na interface 0/0 e a orientação das fibras de reforço. O

movimento dos sensores é devido ao fluxo de resina durante o procedimento de infusão.

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Figura 25. Curvas tensão deformação comparando as medições OBR com sensores resistivos (Strain Gauges-

SG) para corpos de prova da infusão 1 e infusão 2. A pequena diferença entre as infusões é devido a maior

porosidade e menor adesão entre fibra e matriz para corpos de prova da infusão 1.

iii) Método de Inserção de fibras ópticas durante a manufatura de vasos de pressão via

enrolamento filamentar.

Um mandril em escala laboratorial foi desenvolvido na NTNU para manufaturar os

vasos de pressão via enrolamento filamentar. Um método simples de Inserção das fibras foi

proposto, levando em conta que as fibras ópticas deveriam estar alinhadas o melhor possível

com a direção de reforço para que os esforços fossem transferidos adequadamente. O layup de

reforço escolhido durante o projeto dos vasos foi de [90/(+15/-15)2/90]. Nessa configuração,

era esperado qye a falha ocorresse com uma pressão mínima de explosão na direção

circunferencial, sendo, portanto uma falha considerada segura.

Dois padrões de Inserção para as fibras de medição foram propostos, um “padrão

circunferencial”, para monitorar os reforços alinhados a 90° que foi utilizado entre as

interfaces 90/15 e 15/90 e um “padrão linear” para monitorar os esforços alinhados a 15°, que

foi utilizado na interface +-15/+-15 (figura 26). Para o padrão circunferencial, um modelo em

papelão foi utilizado para garantir o espaçamento adequado de 6,3 cm entre as circunferências

no mandril (figuras 26 e 27). 8 fibras foram embutidas em casa vaso, sendo quatro em cada

padrão. Após a manufatura, foi realizado o procedimento de fusão das fibras de medição com

as fibras de transmissão e camadas de reforço de vidro foram adicionadas para proteção

superficial dos sensores (figura 28).

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Figura 26. Padrão circunferencial e linear de Inserção das fibras ópticas nos vasos de pressão. O padrão

circunferencial, utilizado para monitorar a direção cilíndrica dos vasos foi usado na interface 90/15 de reforços.

O padrão linear, responsável por monitorar a direção longitudinal foi usando nas interfaces 15/15.

Figura 27. Detalhe do método de Inserção das fibras ópticas na direção circunferencial.

Figura 28. Após a manufatura as fibras opticas foram acopladas com fibras de transmissão e camadas de reforço

de fibra de vidro foram aderidas a superficie dos vasos por impregnação manual para proteção das extremidades

dos sensores.

Cinco vasos foram manufaturados com a metodologia de Inserção de fibras proposta,

onde ao final do processo, antes dos ensaios, 40% de fibras no padrão linear e 35% no padrão

Padrão Linear Padrão Circunferencial

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circunferencial estavam intactas. A relativa baixa porcentagem de sobrevivência dos sensores

no processo de manufatura deve-se principalmente a fragilidade das fibras ópticas cerâmicas,

que quebraram principalmente na região dos domos, áreas de mudança brusca do diâmetro de

seção transversal.

iv) Ensaio de impacto em vaso de pressão com fibra óptica embutida com

monitoramento via OBR.

O primeiro vaso manufaturado foi fabricado com reforço de fibra de vidro. Esse vaso

foi utilizado para testar e aprimorar a viabilidade do método de Inserção das fibras ópticas no

padrão circunferencial. Após a fabricação foi decidido realizar um ensaio simples de impacto

com martelo, a fim de verificar se os sensores seriam capazes de detectar a região do dano e

monitorar sua intensidade. Esse teste foi feito para simular possíveis condições reais de

operação onde durante o transporte ou manuseio o vaso pode cair e sofrer danos de impacto

em algumas áreas. Nesse caso, saber avaliar a capacidade operacional remanescente do

componente é de suma importância.

Para esse ensaio o vaso foi colocado sobre uma mesa plana e a medida de referência

do OBR foi realizada. Como mostra a figura 29 e o esquema da figura 30, uma região distante

30 cm do domo direito do vaso foi marcada e martelada com martelo de cabeça esférica até a

região afetada se tornar opaca, indicando fratura local da matriz. Após esse procedimento a

fibra foi interrogada novamente com o OBR. A correlação entre o sinal de referência e a

medida após o teste de impacto foi realizada na etapa de pós-processamento.

Figura 29.Vaso de pressão reforçado com fibra de vidro que foi testado em impacto. Um martelo foi usado para

bater na estrutura até ser observado (detalhe) trincamento da matriz a uma posição de 30 cm do domo.

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Figura 30. Esquema ilustrando a posição do vaso onde o dano foi feito.

O gráfico de deformação (microstrain) vs posição da figura 31 mostra a região de

dano, encontrada na etapa de pós processamento do sinal do sensor para diferentes

combinações de tamanho de sensores (GL) e espaçamento entre eles (SS). Foram usados

diversos parâmetros GL e SS a fim de checar se os picos encontrados eram provenientes de

algum espalhamento aleatório do sinal ou se eram devido ao dano real (ruídos no sinal tendem

a não aparecerem na mesma posição quando parâmetros diferentes são empregados). Como

para todas as combinações os picos foram encontrados na mesma posição, é possível afirmar

que o dano devido ao impacto com martelo foi encontrado.

A figura 32 apresenta um aumento na região do dano. Nessa região é possível observar

que reduzindo os tamanho dos sensores (GL) e o espaçamento entre eles (SS) o pico de

deformação a aproximadamente 20,5 m tende a aumentar. Isso se deve ao fato de que os

sensores virtuais criados pelo OBR funcionam do mesmo modo que os StrainGauges (SG),

onde a deformação total medida ao longo do sensor é dividida pelo seu comprimento.

Portanto, reduzindo o tamanho dos sensores é possível medir o dano pontual causado pela

martelada em escala milimétrica.

Figura 31. Gráfico de deformação ao longo do comprimento da fibra óptica para o vaso que foi ensaiado em

impacto. Parâmetros diferentes de GL e SS mostram a região onde o dano foi encontrado.

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Figura 32. Gráfico de deformação ao longo do comprimento da fibra óptica para o vaso que foi ensaiado em

impacto. Parâmetros diferentes de GL e SS mostram a região onde o dano foi encontrado. Pode ser visto que

quando GL e SS são reduzidos, os picos de deformação aumentam, mostrando a capacidade do OBR para

detector danos a escalas muito baixas.

v) Ensaio de pressurização em vaso de pressão com fibra óptica embutida com

monitoramento via OBR.

Quatro vasos foram manufaturados em reforço de fibra de carbono e ensaiados em

pressurização. Para o layup proposto, a pressão média de estouro foi de 200 bar onde todos

os vasos apresentaram comportamento muito semelhante na evolução do carregamento nas

direções linear e circunferencial. As figuras 33 e 34 ilustram os gráficos de deformação ao

longo da posição da fibra para as fibras no padrão linear e circunferencial respectivamente,

durante o ensaio de pressurização do “vaso 2”.

Após a medida de referência, feita imediatamente antes do início dos ensaios, a

interrogação dos sensores foi realizada a 10, 20, 50, 100 e 200 bar durante o qual a

pressurização foi pausada e só retomada depois da medição completa. No pós-processamento

dos sinais, foram escolhidos 2cm para tamanho dos sensores (GL) e 1 cm para o espaçamento

entre eles (SS).

A figura 33 mostra a deformação ao longo dos 70 cm de fibra embutida na direção

longitudinal do vaso 2, nos níveis de pressurização 10, 20, 50 e 100 bar. A 10 e 20 bar as

medições de deformação tendem a seguir um patamar constante, sem espalhamento entre os

valores obtidos por sensores adjacentes. A 50 bar é observado certo nível de espalhamento no

patamar de deformação, que aumenta consideravelmente na medição realizada em 100 bar de

pressão. Acima de 100 bar os valores de deformação ao longo do sensor mostraram valores

completamente dispersos, o que foi considerado como falha da fibra.

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A figura 34 mostra a deformação ao longo dos quase 5 metros de fibra embutida na

direção circunferencial do vaso 2 nos níveis de pressurização 10, 20 e 50 bar. A 10 bar a

deformação medida pelo sensor é praticamente 0 ao longo de todo o comprimento. A 20 bar a

deformação medida pelos sensores virtuais aparenta seguir um padrão de pequenos picos e

vales que pode ser explicado devido a certa seções dos sensores não estarem completamente

alinhadas com a direção do reforço. Em 50 bar, devido ao início do espalhamento das

medições pontuais, os dados se apresentam como uma “nuvem” de deformação entre 1500 e

2500 µƐ.

A tabela 9 mostra a deformação média calculada a partir dos valores de deformação

medidos ao longo do comprimento dos sensores embutidos nas direções longitudinal a 10, 20,

50 e 100 bar e circunferencial a 10, 20 e 50 bar. Além disso, são apresentadas as medidas de

deformação obtidas por SGs dispostos nas duas direções para os respectivos níveis de

pressurização, incluindo o último valor de pressão onde foi possível realizar medida de

deformação antes da falha dos SGs (181 bar). A figura 35 mostra os resultados da tabela 9 na

forma de gráfico de barras.

Comparando os resultados da tabela 9 e figura 35, para os sensores de fibra óptica,

pode-se observar que a deformação na direção longitudinal começa ocorrer logo no início do

ensaio, a 10 bar, enquanto que a direção circunferencial permanece inalterada para esse nível

de carregamento. Contudo, o desenvolvimento da deformação nessa direção é exponencial, já

que a 50 bar a deformação circunferencial é quase 3,5 vezes a longitudinal.

É possível observar que as medidas de deformação realizadas com as fibras ópticas

apresentam valores médios de deformação próximos aos apresentados pelos sensores

resistivos (SG) para os variados níveis de carregamento e direções de medição. Entretanto as

fibras ópticas tendem a falhar em níveis de pressurização menores do que os SG, que

permanecem monitorando a estrutura a carregamentos bem próximos da ruptura final.

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Figura 33. Perfil de deformação medido ao longo da fibra longitudinal a pressões de 10, 20,50 e 100 bar.

Figura 34. Perfil de deformação medido ao longo da fibra circunferencial a pressões de 10, 20 e 50 bar.

Tabela 9. Valores médios de deformação no comprimento total das fibras na direção longitudinal e

circunferencial mais os valores medidos por SG para os patamares de pressão correspondentes.

Pressão

(bar)

SG

Linear

(µƐ)

Fibra

Linear

(µƐ)

SG

Circunferencial

(µƐ)

Fibra

circunferencial

(µƐ)

10 54 72 11 2 27 21

20 171 192 31 85 251 71

50 521 699 78 1871 2015 229

100 1217 1435 359 5139 -

181 2693 - 11886 -

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Figura 35.Gráfico dos valores médios de deformação no comprimento total das fibras na direção longitudinal e

circunferencial mais os valores medidos por SG para os patamares de pressão correspondentes.

5. Discussão

A partir dos ensaios visuais por meio de espalhamento de luz foi possível observar que

as fibras ópticas embutidas são mais sensíveis a detecção de nucleação e crescimento de

danos na estrutura dos compósitos do que a fibra somente aderida a sua superfície. Além

disso, as fibras embutidas apresentam certa tolerância ao dano, havendo uma faixa de

deformação entre a primeira falha (25%) e a falha final do sensor (69%, quando revestida com

cladd). Essa fratura progressiva dos sensores também pôde ser constatada nos ensaios

utilizando o equipamento de interrogação OBR, onde na medida em que o carregamento

evoluiu, o desvio entre as medidas de deformação ao longo do comprimento do sensor

aumentou devido a presença fraturas.

Para os ensaios de tração, durante as análises com OBR dos LCPs com fibras ópticas

embutidas, os sensores que apresentaram patamares de deformação ao longo do comprimento

para maiores níveis de carregamento foram os sensores embutidos alinhados com a direção

das fibras de reforço (interface 0/0). Nesse caso, os valores médios de deformação, medidos

ao longo do comprimento das fibras, apresentaram boa concordância com as deformações

medidas por SG. Nos ensaios de pressurização, as medições de deformação média das fibras

ópticas foram sempre um pouco acima dos SG devido a diferença de camadas em que foram

embutidos (SGs mais externos e fibras mais internas).

Durante o aumento da pressão interna, os sensores resistivos suportaram uma pressão

máxima de (181 bar), bem acima da máxima suportada pelas fibras (máximo de 100 bar no

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caso das embutidas na direção longitudinal).Para as fibras ópticas, foi observado que a 50 bar

a deformação na direção circunferencial era quase 3,5 vezes a deformação na direção

longitudinal. A deformação na direção circunferencial é duas vezes a longitudinal para vasos

isotrópicos. A diferença observada nos ensaios realizados nesse trabalho podem ser

justificadas por as fibras de reforço não estarem seguindo uma configuração isotrópica

([90/(±15)2/90] ao invés de [90/(0)2/90]) .

Ademais, pode-se dizer que a falha do sensor circunferencial acima de 50 bar foi por

esse ter atingido o limite de deformação máximo, já que nessa direção, a 100 bar, era esperado

uma deformação de aproximadamente 5000 µƐ (medido pelo SG), o que é maior do que a

máxima deformação suportada pela fibra óptica de vidro. A falha do sensor longitudinal

acima de 100bar pode ser justificada somente pela propagação de trincas na matriz, já que o

valor esperado de deformação acima desse patamar de pressão era em torno de 3000 µƐ

(medido pelo SG), um valor que pode ser medido pela fibra óptica sem causar sua falha.

No ensaio de impacto, a detecção de um pico de deformação na posição em que o

dano foi causado mostra o potencial do OBR como um meio eficiente de monitoramento da

condição estrutural (SHM) para vasos de pressão já que, através da interrogação dos sensores

foi possível localizar e avaliar rapidamente danos na estrutura somente correlacionando a

medida realizada após a avaria com a medida de referência da fibra, sem necessidade de

ferramentas adicionais. Outros dispositivos SHM, usados para monitorar vasos de pressão,

como é o caso de emissões acústicas utilizando sensores PZT, necessitam que o vaso seja

pressurizado durante as medições para detectar danos, consumindo mais tempo e recursos.

Nos dois processos de manufatura empregados, métodos simples de Inserção dos

sensores foram propostos. Porém a porcentagem de incorporação de sensores utilizáveis para

monitoramento ainda é muito baixa (máximo de 50% no caso das infusões) devido

principalmente à natureza frágil das fibras ópticas. Essa baixa porcentagem de incorporação

indica que em projetos futuros de monitoramento estrutural, quando as regiões de

monitoramento forem decididas, essas devem conter pelo menos duas fibras na mesma

direção para que haja uma maior probabilidade de sucesso no Inserção e interrogação desses

sensores.

Com relação à adaptação no processo de manufatura de LCPs por infusão de resina em

molde superior flexível foi observado através de ensaios de tração que laminados com fibras

ópticas embutidas apresentaram limite de resistência a tração médio 30% menor do que os

laminados fabricados pelo processo convencional. Contudo, pode-se dizer que a queda da

propriedade mecânica do compósito não é devido exclusivamente a presença do sensor mas

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devido também as modificações feitas no processo de infusão, que por apresentarem

procedimentos mais trabalhosos de selamento do sistema, são altamente dependentes da

experiência do operador para que o laminado final apresente boas propriedades i.e livre de

bolhas e apreciável volume de fibras.

6. Conclusão e Trabalhos Futuros

Com relação aos resultados apresentados nesse trabalho, pode-se concluir que:

1. Foram desenvolvidos métodos simples para incorporação de sensores de fibras

ópticas em laminados planos e vasos de pressão durante seus respectivos processos

de fabricação. Geralmente esses sensores são aderidos à superficie dos

componentes prontos o que compromete a integridade das fibras e a sensibilidade

do monitoramento.

2. A queda da propriedade mecanica devido a presença da fibra foi analisada e

estimada em uma diminuição de 30% no limite de resistencia a tração para

laminados com orientação bidirecional de fibras. Análises micrográficas

mostraram que esse fator de queda pode ser minimizado pela inserção da fibra

óptica alinhada com fibras unidirecionais de reforço. Nesse caso a descontinuidade

causada na estrutura é menor.

3. Os resultados obtidos avaliando estruturas compósitas com fibras ópticas

embutidas em diversos ensaios (tração, impacto e pressurização) mostram o

potencial do uso dos sensores de fibra ópticas interrogados com equipamento OBR

como meio de monitoramento da condição estrutural em tempo real de

componentes, criando “estruturas inteligentes”, capazes de localizar e avaliar as

proporções de possíveis danos estruturais e fornecer diagnóstico de suas

capacidade remanescente, sem a necessidade de retirar o componente da sua

função para realizar manutenção preventiva, economizando tempo e recursos.

Com relação aos futuros trabalhos, sugere-se: (i) investigar detalhadamente a queda da

propriedade mecânica devido à presença dos sensores, (ii) melhorias no método de Inserção

para que haja maior incorporação de sensores, (iii) utilização de revestimentos para as fibras

ópticas, ou mesmo (iv) utilizar fibras ópticas poliméricas para que haja diminuição a

fragilidade dos sensores e possibilitem eles resistirem a um nível de carregamento maior em

relação ao carregamento máximo possível para a estrutura em que estão embutidos.

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