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Trabalho e Práxis Social

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Trabalho e Práxis Social

Os Modos de Produção e a Vida Social

Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Profa. Esp. Regina Inês da Silva Bonança

Revisão Textual:Prof. Ms. Claudio Brites

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Os Modos de Produção e a Vida Social

· Categorias da Economia Política

· Modos de produção e suas determinações na reprodução das relações sociais

· Forças, relações e modos de produção

· Estudar as categorias para a análise dos elementos constitutivos dos modos de produção.

· Conhecer os modos de produção e suas determinações na reprodução das relações sociais.

· Compreender que o objeto da Economia Política é histórico e que dele se extrai as categorias que devem ser compreendidas num duplo sentido: ontológico e reflexivo, também chamado intelectivo.

Nesta Unidade, estudaremos as categorias relacionadas aos modos de produção.

A partir da análise dessas categorias, iremos nos aprofundar nos primeiros grupos humanos a se organizarem em torno de um trabalho processual e na origem da diferenciação social e econômica.

Na contemporaneidade, para a atuação do profissional de Serviço Social, é essencial a compreensão das relações de trabalho e seus fundamentos.

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Unidade: Os Modos de Produção e a Vida Social

Contextualização

Nossa unidade se inicia com a apresentação da ilustração no link abaixo, do cartunista Diemer, que aborda a divisão social do trabalho entre os gêneros humanos. Quais fatos você acredita que suscitaram a visão crítica do autor nessa produção? Acesse:

http://3.bp.blogspot.com/-nGlFODbxqLI/TXViM98EpEI/AAAAAAAAAJM/yMgCopc3ltU/s1600/charge_dia_internacional_da_mulher_thumb3.jpg

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Categorias da Economia Política

Como vimos na unidade anterior, a Economia Política estuda as relações sociais que os homens estabelecem na produção de bens e serviços que asseguram a manutenção da vida social.

O objetivo da Economia Política é histórico e sua análise formula categorias que devem ser compreendidas em duplo sentido:

✓ Ontológico – Na medida em que expressa a existência real, histórica, essas categorias são formas de existência do ser social, que funcionam e operam efetivamente na vida em sociedade. Elas ocorrem independentemente do conhecimento que os homens possam ter a seu respeito;

✓ Reflexivo/intelectivo – No exercício reflexivo de um pensamento racional, da perspectiva teórica, os homens conseguem tomar consciência apreendendo a essência a partir da sua aparência. Com isso, é possível sua reprodução nas relações e na dinâmica social. Essa, por sua vez, torna-se produto do pensamento e com isso toma a forma de categorias reflexivas.

Mesmo com o desconhecimento teórico não há o impedimento em sua prática social e os homens conseguem realizar e estabelecer relações econômicas. Lidamos com o nosso dinheiro e orçamento pessoal sem que para isso seja necessário conectar o dinheiro com o valor, suas funções econômicas, de trabalho e de como ele se constituiu historicamente.

Para Marx (apud PAULO NETTO; BRAZ, 2012):

[...] toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem imediatamente (MARX,1985, III, 2, p. 271); de fato, se a aparência das coisas (sua forma de se manifestar) mostrasse a sua essência, bastaria observá-las minuciosamente para conhecê-las – e comprova-se com isso que não é verdade; mais ainda: o conhecimento científico revela os limites da experiência que lida com as aparências: parece [...] paradoxal que a Terra gire em torno do Sol e que a água seja formada por dois gases altamente inflamáveis. As verdades científicas serão sempre paradoxais se julgadas, pela experiência de todos os dias, a qual somente capta a aparência enganadora das coisas (MARX,1982a, p.158).

Entendemos que na Economia Política, como também em qualquer outra teoria, o processo de conhecimento científico observa a aparência como ponto de partida e avança para idealmente chegar à sua essência.

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Unidade: Os Modos de Produção e a Vida Social

Modos de produção e suas determinações na reprodução das relações sociais

Os primeiros grupos humanos surgiram na Terra há cerca de 120 a 200 mil anos. Eles a povoaram em diferentes territórios e, por conta disso, esses diferentes grupos experenciaram diversas formas de evolução social.

Denominadas de comunidades primitivas, elas viviam em abrigos precários e sua alimentação era constituída de vegetais e caças eventuais. Com a produção de materiais mais aperfeiçoados como o arco e a flecha, redes de pesca, canoas e remos, os grupos gradativamente começaram a mudar o cenário de escassez por meio do compartilhamento das atividades e dos frutos gerados por ela entre todos os membros.

Por todas as atividades serem comuns a todos, seus resultados eram divididos e não existia a propriedade privada; existia nesse período histórico a igualdade que era resultante de uma carência geral e a distribuição igualitária do pouco que se produzia. Não existia diferenciação social, havia apenas uma repartição de tarefas entre os gêneros humanos. Tal cenário perdurou por mais de trinta mil anos e gestou os elementos que tornaram possível sua dissolução: domesticação dos animais e surgimento da agricultura.

Em geral, isso aconteceu em um primeiro momento nas comunidades primitivas que trabalhavam mais diretamente com pastoreio e plantações e, portanto, tornaram-se sedentárias em determinados territórios. Dados antropológicos sinalizam que essas transformações são datadas de 5.500 a 2000 antes de Cristo (a.C.) e alteraram as relações dessas comunidades entre si e sua prática de convívio com a natureza

Antropologia – é a ciência que tem como objetivo o estudo sobre o homem e a humanidade.

Os instrumentos de trabalho começaram a ser modificados e aperfeiçoados para atender novas necessidades de labor. Concomitante a descoberta dos metais e seu uso, realizou-se o controle do tempo medido pela natureza, aspectos esses que juntamente com a observação das estações do ano foram facilitadores na escolha do melhor momento para a semeadura e colheita.

Em um segundo momento, essas mudanças ocorreram nas comunidades que trabalhavam com ofício artesanais, que envolviam a produção de utensílios de cerâmica, metal, rodas e dos primeiros tecidos fabricados.

Com esses consideráveis progressos no processo de trabalho, resultados da ação do homem na natureza, iniciou-se a produção de mais bens, que ultrapassavam em muito as necessidades imediatas de sobrevivência dos membros das comunidades. Surge, então, o excedente econômico, a comunidade começa a ter mais do que precisa para seu real sustento, gerando, dessa forma, uma verdadeira mudança na vida das comunidades. Não tão somente a escassez se torna menor, mas inicia-se historicamente a acumulação dos produtos do trabalho.

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GlossárioExcedente – é a diferença entre o que a sociedade produz e os custos dessa produção. O volume do excedente é um índice de produtividade e riqueza (BARAN; SWEEZY,1974, p.19).

Dois grandes movimentos se farão presentes nesse momento histórico. O primeiro é o fato dos artesãos se tornarem mais especializados e, a partir disso, ocorre o segundo movimento, quando sua produção não precisava ser utilizada pela comunidade e começa a ser destinada à troca com outras. Começa, então, a nascer a mercadoria e suas primeiras formas de troca que vão originar o comércio como conhecemos hoje.

Paralelamente à possibilidade de acumulação de produtos, abre-se a porta para a exploração do trabalho humano. Quando a exploração começa a ocorrer nas comunidades primitivas, irrompe a divisão entre os membros que fabricam produtos diretos e aqueles que vivem dos bens excedentes.

O mercado dos escravos, de Hotace Vernet (1836), é o descanso do fatigado homem de negócios, tornado socialmente aceitável sob o rótulo de “belas artes”. A mulher branca representa uma luxuriante versão do ideal feminino de acanhamento e abandono das décadas de 1830 e 1840.

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Unidade: Os Modos de Produção e a Vida Social

Forças, relações e modos de produção

A história humana ficou marcada pelo aparecimento do excedente econômico, que foi o marco sinalizador do desenvolvimento do processo de trabalho capitalista. Vejamos agora as etapas do processo de trabalho na produção de bens:

✓ Meios do trabalho: a terra como meio universal do trabalho, seguida por tudo aquilo que o homem se utiliza para realizar o seu labor;

✓ Objetos do trabalho: é tudo aquilo que incide sobre o trabalho humano, por exemplo: as matérias brutas ou matérias já transformadas pela ação do homem;

✓ Força de trabalho: com sua força de trabalho, o homem transforma objetos do seu labor em bens úteis para a satisfação das necessidades humanas.

GlossárioMeios de produção – Segundo a teoria marxista, meios de produção são o conjunto formado por meios de trabalho e objetos de trabalho – ou tudo aquilo que medeia a relação entre o trabalho humano e a natureza no processo de transformação da natureza em si.

O conjunto dos elementos dos meios de produção, objetos e da força do trabalho cria as forças produtivas que são constituintes dos meios de produção.

ImportanteA força de trabalho é a energia humana dispensada no emprego do processo de trabalho. Não deve ser confundida com o trabalho realizado, que é produto/resultado dela.

Meios detrabalho

Forçasprodutivas

Meios deprodução

Geramprodutividade

no trabalho

Divisão socialdo trabalho

Relações deprodução

Objetos detrabalho

Processo detrabalho

Excedenteeconômico

Força detrabalho

Em seuconjunto gera

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O crescimento do trabalho surge amalgamado com a repartição do trabalho. Como vimos anteriormente, nas comunidades primitivas as atividades de labor eram diferenciadas pelos gêneros humanos. Portanto, a divisão sexual é a primeira forma constituída da repartição do trabalho. Ela surge antes do excedente econômico e começa a se subdividir entre o trabalho artesanal, o agrícola que, em um processo futuro, iria formar a divisão entre o campo e as cidades.

Com a formação da divisão social do trabalho e à medida que começa a desenvolver capacidade produtiva, a sociedade divide as ocupações necessárias à produção de bens para os seus membros e começa a repartir o labor por especialidades, embora ainda nesse momento não exista o controle de todas as fases dessa produção.

As forças produtivas que se efetivam em determinadas relações de caráter técnico e social estão fortemente vinculadas com a formação das relações sociais. As relações técnicas de produção dependem das características técnicas do processo de trabalho, como o grau de formação/especialização e as tecnologias empregadas. Elas se referem ao domínio que produtores diretos exercem sobre os meios e processos de trabalho em que estão inseridos.

As relações técnicas estão subordinadas às relações sociais de produção, que historicamente foram balizadas pelo determinismo do regime de propriedade, e pelos seus meios de produção fundamentais.

Como acontecia nas comunidades primitivas, as relações sociais de produção eram estruturadas em bases afetivas, de cooperação e ajuda mútua, nas quais a produção do trabalho coletivo era dividida sem que nenhuma pessoa do grupo tivesse mais do que a outra para sua sobrevivência e de sua família. No que se refere à propriedade particular ou privada de um mesmo grupo ou de um conjunto de grupos, suas relações são demarcadas por antagonismos, nelas estão inseridos os proprietários e não-proprietários dos meios de produção fundamentais, sendo esse o cerne da formação das classes sociais.

GlossárioAntagonismo – Posição ou situação contrária.

A mediação entre relações de produção e forças produtivas é denominada de modo de produção. Deve-se observar que o desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção não obedecem a uma sincronia, é comprovado historicamente que as forças produtivas são mais atuantes do que as relações de produção.

As forças de produção tendem, via de regra, ao desenvolvimento cumulativo; enquanto que as relações de produção sofrem com modificações lentas. Dessa forma, pode-se afirmar que no âmago do modo de produção encontra-se a base econômica da sociedade com dois pontos já consolidados no exame dos modos de produção.

O primeiro se refere às suas leis de desenvolvimento, que regulam a atividade econômica e a vida social, e que são diversas das leis da natureza. Em geral, são objetivas, pois operam independentemente do juízo de valor e da consciência dos homens.

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O segundo se refere à possibilidade de transformação estrutural e substantiva de um modo de produção que é determinada pela falta de interação entre as forças produtivas e as relações de trabalho. Para isso, podemos recorrer às seguintes reflexões de Marx:

Na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que nada mais é do que a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais aquelas até então se tinham movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, essas relações se transformam em seus grilhões. Sobrevém então uma época de revolução social. Com a transformação da base econômica, toda a enorme superestrutura se transforma com maior ou menor rapidez (MARX apud PAULO NETTO; BRAZ, 2012).

Esse trecho faz alusão à época da revolução social em que ocorria a transição de um modo de produção para outro. Temos dados históricos de sociedades com modos de produção dominantes, integrados a modos já substituídos do passado e com a combinação de formas de mais de um modo de produção.

A estrutura econômico-social de uma determinada sociedade é classificada também por sua formação social. O fruto do trabalho humano se reverte em bens que são constituídos de valores de uso para os membros da sociedade. O conjunto de bens que uma sociedade produz no decorrer de um espaço de tempo determinado é conceituado como produto social global, mas a relação entre a produção e a distribuição está totalmente atrelada ao regime de propriedade dos meios de produção e, portanto, não mantêm independência.

Se a propriedade é coletiva existe uma distribuição igualitária e no caso da propriedade privada ela ocorre de forma desigual. Sendo assim, as relações de distribuição são determinadas pelas relações de produção.

“O consumo é o processo no qual um bem é utilizado para a satisfação de uma necessidade determinada” (LANGE,1963, p.19).

Improdutivo - o consumode valores de uso que não

contribui para a continuidadedo processo produtivo

Produtivo - é o consumo demeios de produção no

processo produtivo

Coletivo - o consumo de umvalor de uso por um conjunto

de membros da sociedade

Individual - O consumo diretode um valor de uso por um

membro da sociedade

Consumo

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Deve-se compreender o consumo a partir da produção, pois é ela que oferece ao consumo o seu objeto.

Importante

Valor de Uso – O valor de uso de uma mercadoria, segundo Marx, é determinado de acordo com a utilidade relacionada às suas propriedades físicas: e seu valor de troca varia no tempo e no espaço.

Nesta unidade, ampliamos a nossa compreensão sobre o estudo da Economia Política, da constituição e do desenvolvimento do modo de produção, que são elementos importantes para a formação profissional dos assistentes sociais.

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Material Complementar

Para aprofundar seus estudos, sugerimos o livro Adeus ao trabalho?, de Ricardo Antunes, teórico do sindicalismo brasileiro. Nele você encontrará reflexões acerca das transformações do trabalho no mundo contemporâneo, enfatizando a fragmentações e a heterogeneização do mundo do trabalho.

• ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaio Sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Cortez ,2003. e-book

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Referências

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Cortez, 2011.

BARAN, P. A. A Economia Política do Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar,1977.

FAUSTO, B. História do Brasil. 12. ed. São Paulo: Edusp, 2004.e-book

LANGE,O. Moderna economia política. Rio de Janeiro: Fundo de cultura,1963.

MARX, K. Para a crítica da economia política: salário, preço e lucro – o rendimento e suas fontes. São Paulo: Abril Cultural, 1982

PAULO NETTO, J.; BRAZ, M. Economia Política: uma introdução crítica. v. 1, 4. ed., São Paulo: Cortez, 2012. E-book

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Anotações