Trabalho e subjetividade - espírito do toyotismo

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TRABALHO E SUBJETIVIDADE – O ESPÍRITO DO TOYOTISMO NA ERA DO CAPITALISMO MANIPULATÓRIO (ALVES, Giovanni, 2011) A obra de Giovanni Alves é o resultado de um estudo sobre as engrenagens de envolvimento e subordinação do trabalhador no novo ambiente de trabalho e novo processo de produção na era do capitalismo global. Para Alves, a trajetória da restruturação do processo produtivo do capital implica na constante ampliação do excedente econômico por meio de mudanças tecnológicas e nos métodos de gestão da força de trabalho . Disso decorre uma nova lógica de controle e organização do trabalho denominada de “captura” da subjetividade do trabalho vivo pelo capital. A nova planta produtiva, baseada no “espírito toyotista”, agora combina a ampliação do maquinário (técnico-cientifico-informacional), a intensa exploração do trabalho, o aumento da informalidade e a perda direitos para se apropriar ainda mais, com maior intensidade, do intelecto do trabalho utilizando conceitos presentes na realidade do trabalhador (colaborador, parceiro, polivalência, entre outros). O autor chama isto de controle do metabolismo social que articula em si e para si, de modo contraditório, mente e corpo do homem que trabalha. Alves aponta alguns elementos deste novo metabolismo social (sociometabolismo), afirmando ser esta uma estratégia de sociabilidade pautada na cultura do medo : práticas sociais de acumulação por espoliação (roubo, desvio de direitos de alguém); conjunto de coerções; apropriação de capacidade, conhecimentos, hábitos de pensamento, etc. REESTRUTURAÇ ÃO DO PROCESO PRODUTIVO DO CAPITAL AMPLIAÇÃO DO EXCEDENTE ECONÔMICO MUDANÇAS •TECNOLÓGICA; •GESTÃO DA FT. NOVA LÓGICA DE CONTROLE E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO VIVO CAPTURA DA SUBJETIVIDADE DO HOMEM QUE TRABALHA ESPÍRITO DO TOYOTISMO

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TRABALHO E SUBJETIVIDADE – O ESPÍRITO DO TOYOTISMO NA ERA DO

CAPITALISMO MANIPULATÓRIO (ALVES, Giovanni, 2011)

A obra de Giovanni Alves é o resultado de um estudo sobre as engrenagens de

envolvimento e subordinação do trabalhador no novo ambiente de trabalho e novo processo de produção na era do capitalismo global.

Para Alves, a trajetória da restruturação do processo produtivo do capital implica na

constante ampliação do excedente econômico por meio de mudanças tecnológicas e nos métodos de gestão da força de trabalho.

Disso decorre uma nova lógica de controle e organização do trabalho denominada de “captura” da subjetividade do trabalho vivo pelo capital.

A nova planta produtiva, baseada no “espírito toyotista”, agora combina a ampliação do

maquinário (técnico-cientifico-informacional), a intensa exploração do trabalho, o

aumento da informalidade e a perda direitos para se apropriar ainda mais, com maior

intensidade, do intelecto do trabalho utilizando conceitos presentes na realidade do

trabalhador (colaborador, parceiro, polivalência, entre outros). O autor chama isto de

controle do metabolismo social que articula em si e para si, de modo contraditório,

mente e corpo do homem que trabalha.

Alves aponta alguns elementos deste novo metabolismo social (sociometabolismo), afirmando ser esta uma estratégia de sociabilidade pautada na cultura do medo:

práticas sociais de acumulação por espoliação (roubo, desvio de direitos de

alguém);

conjunto de coerções;

apropriação de capacidade, conhecimentos, hábitos de pensamento, etc.

REESTRUTURAÇÃO DO PROCESO

PRODUTIVO DO CAPITAL

AMPLIAÇÃO DO EXCEDENTE ECONÔMICO

MUDANÇAS

•TECNOLÓGICA;

•GESTÃO DA FT.

NOVA LÓGICA DE CONTROLE E

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO VIVO

CAPTURA DA SUBJETIVIDADE DO

HOMEM QUE TRABALHA

ESPÍRITO DO TOYOTISMO

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Estes elementos das inovações sociometabólicas do capital, fundamentados na

sociabilidade da cultura do medo, proporcionam um novo ambiente social propício para

o novo modelo produtivo do capital.

Sendo assim, no surgimento de novas práticas empresariais de “captura da

subjetividade” do trabalho vivo e da força de trabalho surgem mecanismos

organizacionais de incentivo à participação e envolvimento de empregados na solução

de problemas no local de trabalho. Esta apropriação/espoliação da criatividade

intelectual (ou emocional) do trabalhador, sob a “desculpa” de agregar valor à produção

o autor denomina de “sociabilidade da predação” que caracteriza o metabolismo social do capitalismo global.

Para o autor, a constituição de redes de informações (redes informacionais), como base

técnica para a produção, promove importantes alterações no processo de trabalho e

produção do capital, citando o exemplo do da denominada “empresa em rede” e o

surgimento do trabalhador coletivo que alteraram o modo de controle do trabalho capitalista.

Com a reconstituição do trabalho coletivo pelas redes informacionais, o capital passou

a integrar, com maior intensidade, o “todo orgânico” na produção de valor, dando um

salto representativo na produtividade do trabalho social, exploração do trabalhador e extração da mais-valia.

Assim se estabelece o nexo do novo modelo de reprodução do capital: “captura” da

subjetividade do capital, sob as asas do modelo Toyota de produção. Sob o “espírito do

toyotismo”, o trabalho continua não dando satisfação imediata ao trabalhador

(desefetividade, como denominava Karl Marx). Porém Giovanni observa que o discurso

dos métodos de controle e gerenciamento da força de trabalho não são mais os mesmo

da era taylorista-fordista, mas surge agora o discurso do gerenciamento pós-moderno,

onde passa-se a chamar os operários de colaboradores que executam um trabalho em

equipe. Alves chama isso de racionalidade cínica do capital que visa estabilizar uma

situação de crise estrutural do capital.

Esta racionalidade cínica, torna o lugar de trabalho num lugar de aprendizagem

constante, admira a inteligência instrumental, favorece a atitude pró-ativa para

solucionar problemas e tem o supervisor como uma espécie de treinador de equipe.

Giovanni denomina de “Quarta Idade da Máquina” a base técnica das inovações

tecnológicas do capital que incorporam as sinergias da sociedade em rede e das

possibilidades tecnológicas proporcionadas. Para ele a Quarta Revolução Tecnológica

construiu a nova forma de precariedade salarial, sob à égide das técnicas de gestão

toyotista.

EMPRESA EM REDE

NOVO TRABALHO COLETIVO

ALTERAÇÕES NO MODO DE CONTROLE DO TRABALHO

CAPITAL INTEGRA COM MAIOR INTENSIDADE O TODO ORGANICO

NA PRODUÇÃO DE VALOR

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As inovações sócio-metabólicas constituídas pela abundância de valores-fetiches e pelos

nexos ideológicos do novo produtivismo executou-se o movimento da empresa para a

vida social e da vida social para a empresa, ou seja, valores sociais do mundo da vida

que constituem o mundo-sistema da empresa.

O espírito do toyotismo traz uma verdadeira reestruturação dos coletivos de trabalho

com: o esquecimento de experiências passadas, o apagar de memórias de lutas,

construção ideopolítica de um novo mundo de colaboração e consentimento com os ideais empresariais.

Os mecanismos de contrapartida salarial (novas formas de pagamento) e a nova gestão

da organização do trabalho (trabalho em equipe) são mediações da organização do

trabalho, sob as rédeas do novo capital, que contribuem para a “captura da

subjetividade” do trabalho vivo, as quais sedimentam os consentimentos desta captura.

Neste aspecto, Alves parece tentar desvendar os mecanismos envolvidos na produção

dos “consentimentos espúrios” que fundamentam a ordem sociometabólica do capital.

Para tanto ele faz uso das categorias freudianas, referindo-se à subjetividade e à captura

como algo que ocorre ao nível das três instâncias do psiquismo humano: consciente,

pré-consciente e inconsciente. Giovanni defende que as técnicas de manipulação

utilizadas atingem sobretudo o conteúdo oculto da pré-consciência e inconsciente, a fim

de influenciar o comportamento humano, no sentido da construção do novo homem produtivo.

Surge ai a existência de um mecanismo mental de substituição da realidade externa pela

psíquica, por meio do qual ocorre a manipulação do imaginário pelas imagens –

símbolos, valores-fetiches – fornecendo assim a base para construção de

consentimentos espúrios e a consequente condição (psíquica) para a captura da

subjetividade no trabalho.

Alves aborda ainda a constituição de um “inconsciente estendido” com novas doenças

da alma que surgem do quadro precário do trabalho. Se o estresse é uma das

EMPRESA

VIDA SOCIAL

MEDIAÇÕES DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO QUE SEDIMENTAM OS CONSENTIMENTOS DA "CAPTURA"

MECANISMOS DE CONTRAPARTIDA SALARIAL

(FORMAS DE PAGAMENTO)

GESTÃO DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

(TRABALHO EM EQUIPE)

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implicações psico-corporal, sendo uma reação natural do organismo diante de situação

de perigo ou solicitações externas inesperadas, relativa à atividade humana, à alienação

e perda do controle da atividade social, logo temos aí a negação da plenitude laboral,

desefetivação do trabalho vivo.

Por fim, a produção do capital é sim a produção (e negação) de subjetividades

humanas.