Trabalho Final

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Classes Sociais e Educação Expetativas dos estudantes universitários em relação ao seu futuro Trabalho final Cláudia Santos, 65176 Sociologia (SB1) – 2º ano Classes Sociais e Estratificação Docente: José Luís Casanova 7 Janeiro 2015

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Classes Sociais e Estratificação

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Classes Sociais e EducaoExpetativas dos estudantes universitrios em relao ao seu futuroTrabalho final

Cludia Santos, 65176Sociologia (SB1) 2 anoClasses Sociais e EstratificaoDocente: Jos Lus Casanova7 Janeiro 2015

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ndice

1. Introduo..................................................................................................................................... 12. Sntese de Teorias......................................................................................................................... 23. Perspetiva Terica e Metodologia Utilizadas3.1 Perspetiva Terica......................................................................................................... 33.2 Metodologia.................................................................................................................... 44. Anlise dos Resultados................................................................................................................. 55. Concluso....................................................................................................................................... 86. Anexos6.1 Caraterizao dos inquiridos........................................................................................ 96.2 Origens sociais dos inquiridos.................................................................................... 10

Referncias utilizadas: normas APA (6 edio)

1. IntroduoA nossa sociedade caraterizada por um sistema de desigualdades estruturadas entre diferentes agrupamentos de pessoas (Giddens, 2001, p.284). Essa estruturao tem por base o conceito de classe social e distingue-se de outros sistemas de desigualdades tendo em conta que as suas fronteiras so mais fludas, existindo a possibilidade de mobilidade social. Alm disto, so essencialmente diferenas de tipo econmico (acesso e controlo de recursos materiais) que distinguem as classes e o reflexo dessas diferenas reside em relaes mais impessoais em larga escala, associadas s condies econmicas vigentes na economia global. este tema das classes sociais que o presente trabalho pretende abordar, no mbito da unidade curricular de Classes Sociais e Estratificao, focando-se mais concretamente na questo da influncia da classe de pertena dos estudantes universitrios portugueses nas expetativas que tm em relao ao seu futuro profissional. Deste modo, pretende-se relacionar quantitativamente caratersticas socioprofissionais que permitam situar os estudantes numa posio de classe com um conjunto de questes indicativas das suas perspetivas em relao ao seu futuro, com o objetivo de perceber se essas perspetivas variam consoante a classe social de pertena e, caso tal se verifique, perceber se existem padres que caraterizem essas diferenas.Assim, o trabalho parte de uma sntese de teorias com concees clssicas (marxista, weberiana, teoria das elites e teoria funcionalista) e contemporneas (Wright, Giddens, Goldthorpe e Bourdieu) de classe social abordadas em sala de aula, sendo posteriormente expostas duas perspetivas tericas aplicadas ao subtema da educao. A par desta dimenso mais terica do trabalho realizado, apresentada a sua dimenso emprica, com uma anlise dos dados recolhidos com recurso ao inqurito por questionrio (110 casos), seguindo-se um breve apontamento das principais concluses obtidas.

2. Enquadramento TericoMarx define classe social como um grupo de pessoas com a mesma condio face aos meios de produo e s relaes de explorao que se estabelecem a esse nvel, numa conceo econmica, que despreza critrios como os rendimentos ou a profisso, e dicotmica, que ope uma classe dominante a uma classe dominada. Nas sociedades capitalistas o capital que estrutura as relaes na diviso social do trabalho, entre capitalistas e trabalhadores assalariados. Tambm para Weber a conceo de classe de ordem econmica; uma caracterstica objetiva que influencia as oportunidades de vida dos indivduos e que gera conflito nas desigualdades que traz, ao nvel das possibilidades competitivas de acesso aos bens do mercado. Porm, essa situao no depende s da posse dos meios de produo, mas tambm de critrios como os saberes e as qualificaes.A teoria das elites tem subjacente a ideia de que em todas as sociedades existe um grupo de indivduos que, por caratersticas que os superiorizam, se destaca dos restantes formando uma elite. Mosca apresenta uma conceo dicotmica de ciso do poder, entre governantes (minoria organizada) e governados (maioria desarticulada). Por seu turno, Pareto concebe a existncia de uma elite (governante e no governante) e uma no-elite (as massas), podendo existir transferncias de poder entre as elites mas no entre as classes enquanto tal (circulao de elites).A perspetiva funcionalista defende que as desigualdades existem objetivamente enraizadas na sociedade e que a sua existncia fundamental para o funcionamento da mesma. Para Parsons, a diferenciao do status dos indivduos resulta da combinao entre a responsabilidade sob as aes coletivas coordenadas e o nvel dos seus conhecimentos e competncias tcnicas e cientficas. Para Davis e Moore, o facto de existir diferenciao na importncia das posies sociais que permite que todas elas sejam ocupadas. No entanto, Durkheim sugere a existncia de formas anmicas da diviso social do trabalho que ameaam a solidariedade (ex: diviso forada do trabalho).Ao nvel das teorias contemporneas (snteses das clssicas), Wright defende que as classes sociais na sociedade capitalista se definem com base nos critrios do controlo sobre os recursos econmicos, mas tambm dos recursos organizacionais e qualificativos. Apesar da oposio entre capitalistas e operrios (influencia marxista), existem grupos intermdios, com controlo apenas sobre alguns recursos (localizaes contraditrias, com caratersticas de exploradores e de explorados).Para Giddens, o mercado o mecanismo bsico das desigualdades e a definio de classes sociais feita segundo critrios de estruturao mediata (ex: propriedade dos meios de produo), imediata (ex: diviso de trabalho nas organizaes) e resultante de atributos no econmicos (ex: diferenas tnicas). Prximo desta teoria encontra-se Goldthorpe, para quem as localizaes de classe devem ter por base os critrios situao no mercado e situao no trabalho, sendo possvel distinguir, de modo mais geral, as classes de servios, trabalhadores no manuais e trabalhadores manuais.Por fim, Bourdieu concebe a constituio de classes sociais com base no volume, na estrutura e na trajetria do capital dos indivduos (econmico, cultural, social ou simblico). Os espaos sociais das classes enformam e so enformados pelo habitus, que corresponde ao inconsciente de classe e cultura interiorizada principalmente na socializao primria (influncia dos capitais de origem).3. Perspetiva Terica e Metodologia UtilizadasNa sociologia das classes sociais e da estratificao, a maior parte das propostas tericas e dos procedimentos operatrios que surgiram desde meados do sculo XX inclui, na anlise das sociedades contemporneas, algum tipo de especificao das dimenses escolares/educacionais. (Machado et al., 2003, p. 46)

3.1 Perspetiva TericaNeste ponto do trabalho procede-se, assim, a uma exposio de duas dessas propostas tericas (a de Pierre Bourdieu e a de Paul Willis), mais concretamente sobre a questo da influncia das desigualdades sociais nas desigualdades escolares (existncia ou no de reproduo cultural). Com estas duas anlises, pretende-se constituir uma base terica relacionada tanto com a hiptese da reproduo social e cultural em termos das expetativas dos estudantes universitrios face s suas origens sociais e classe de pertena como, por outro lado, com a hiptese de essas expetativas em relao ao futuro no serem assim to determinadas por aquelas caratersticas sociais (tais teorias sero posteriormente confrontadas com os resultados dos dados recolhidos).Alm do que foi dito anteriormente acerca da conceo terica de Bourdieu sobre classes sociais, revela-se pertinente neste ponto introduzir a questo das lutas que se estabelecem nos campos do espao social global, sendo que os indivduos, grupos e classes se servem de estratgias para manterem ou melhorarem a sua posio social relativa nesse espao e impor o princpio da hierarquizao mais favorvel para si. Aqueles que detm mais poder servem-se de mecanismos de violncia simblica, levando os dominados a aceitar como legtima a sua condio de legitimao. Neste sentido, a escola assume em Bourdieu um papel central nesses mecanismos, enquanto forma reconhecida de reproduo da estrutura social. A escola tende, assim, a reproduzir a hegemonia cultural das classes dominantes, oferecendo desvantagens aos estudantes das camadas socialmente menos privilegiadas, na medida em que o seu percurso escolar seria afetado negativamente pelo distanciamento entre a sua cultura e a cultura escolar. Nesta perspetiva, as esperanas subjetivas em relao escola variam segundo as probabilidades objetivas de mobilidade (Mnica, 1981, p. 85), o que remete para a ideia da interiorizao que os indivduos fazem da sua posio relativa no espao social (habitus de classe) e que faz corresponder os nveis de aspirao e expetativas dos estudantes s suas possibilidades objetivas de sucesso: uma vez aceite a sua inferioridade, transitam para ocupaes com perspetivas de carreira profissional limitadas [caso dos estudantes da classe operria] (Giddens, 2001, p.517). Alm disto, o autor defende ainda uma grande autonomia do sistema de ensino que, com a sua lgica prpria, perpetua as desigualdades sociais, chegando mesmo a afirmar que uma igualizao em termos econmicos ou em termos de vontade poltica no seria suficiente para eliminar as desigualdades escolares.A perspetiva de Willis, com a sua teoria da resistncia, vem de certa forma criticar aquela teoria da reproduo cultural, segundo a qual os grupos dominados aceitam passivamente a sua condio. Assim, para ele os estudantes so criadores ativos do mundo da escola e o seu desempenho e expetativas baseiam-se na sua cultura, utilizando a sua perceo acerca do sistema de ensino para reagir sobre ele. Focando o seu trabalho em estudantes da classe trabalhadora, o autor justifica o facto de eles obterem empregos correspondentes a essa posio social no por se sentirem inferiorizados, mas sim porque atravs dos seus comportamentos sociais de resistncia cultura escolar produzem a referida posio (ainda que involuntariamente), optando por uma identificao com a cultura do universo social dos seus pais. Como resultado, ocupariam tambm as mesmas posies dos seus pais, em trabalhos menos qualificados contribuindo, ainda que de forma crtica, para a reproduo da estrutura social em que se inserem. Neste sentido, para o autor a escola que contribui para a reproduo da referida estrutura social a mesma que contribui para a emergncia de lutas e comportamentos de resistncia reproduo das desigualdades, tendo em conta o potencial ativo e criativo dos estudantes. Apesar de partir de um ideal de igualdade de oportunidades, o investimento do sistema educativo nos seus mecanismos culturais acaba por resultar numa reproduo intergeracional das expetativas acerca do futuro profissional dos estudantes e da sua concretizao em empregos de acordo com as suas origens sociais.

3.2 Metodologia Aps uma breve exposio sobre a teoria das classes sociais aplicada ao subtema da educao com duas perspetivas que tocam na questo do papel da escola na reproduo da estrutura de desigualdades sociais, segue-se o esclarecimento acerca da metodologia utilizada na concretizao emprica do presente trabalho.Tal como sugere o seu subttulo, o universo em estudo constitudo pelo conjunto dos estudantes a frequentar o sistema de ensino superior portugus. O interesse nesse subconjunto dos estudantes portugueses relacionou-se com o facto de o trabalho se focar na questo das suas expetativas em relao ao seu futuro profissional sendo que, tendo em conta aqueles que prosseguem os estudos alm da escolaridade obrigatria, so os estudantes universitrios os que teoricamente mais prximos esto de ingressar no mercado de trabalho. Desse conjunto dos estudantes do ensino superior foi selecionada uma de 100 casos, a qual composta por estudantes a frequentar o Instituto de Cincias do Trabalho e da Empresa (ISCTE-IUL). Tendo em conta os recursos disponveis a nvel temporal e monetrio, no se revelou possvel recorrer a um mtodo de amostragem representativo da populao em estudo, pelo que as instalaes do ISCTE foram as que proporcionaram uma recolha mais rpida dos dados. Deste modo, e apesar de algumas desvantagens, os elementos do grupo de trabalho selecionaram o inqurito (por questionrio) de rua, administrado diretamente, para efetuar a recolha da informao, uma vez que se pretendia construir uma base com dados primrios de modo a facilitar a gesto dos mesmos conforme o subtema de cada elemento. No entanto, tenha-se em conta um maior risco de enviesamento das respostas dadas pelos inquiridos (ex: maior inibio pelo contacto face a face), que se acresce ao facto de a amostra no ser representativa.

4 Anlise dos Resultados Dos 110 inquiridos, a maioria do sexo feminino (63%), enquanto o sexo masculino totaliza 37% da amostra. Quanto s suas idades, variam entre os 17 e os 65 anos, revelando uma concentrao at aos 25 anos (mdia de 22,5 anos); apenas cerca de 9% dos casos tm idade superior. Tendo em conta os valores no nvel de ensino universitrio, e podendo associ-los ao facto de 91% dos indivduos no ter mais de 25 anos, a maioria (71%) frequenta uma licenciatura, seguindo-se o mestrado (18,2%), sendo que os restantes no apresentam valores relevantes. Do total de licenciaturas a maioria pertence Escola de Sociologia e Polticas Pblicas (50,6%); nos mestrados a categoria mais frequente ser a Escola de Cincias Sociais e Humanas (45%).Apesar de ainda ser considervel a percentagem de inquiridos que exercem uma profisso enquanto estudam (quase 40%), o sustento econmico de uma maioria elevada (64%) continua a estar a cargo da famlia, sendo que da at autonomia financeira (...) podero passar-se ainda alguns anos. (Mauritti, 2002, p. 97). Neste sentido, optou-se por analisar as desigualdades sociais nas expetativas face ao futuro profissional apenas com base nas origens sociais dos estudantes universitrios em questo. Estas origens sociais de classe podem ser analisadas sob um complexo conjunto de dimenses, porm, a operacionalizao de indicadores socioeducacionais e socioprofissionais revela-se suficiente e eficaz para tal. O modelo adotado para esta operacionalizao o proposto por Almeida, Costa e Machado dado o seu potencial terico explicativo, ao abranger uma conceo relacional e praxiolgica de classe social (Casanova, 2004). Quanto escolaridade do grupo domstico de origem (indicador socioeducacional), a maioria relativa dos estudantes (35%) provm de famlias com o ensino secundrio, ao qual se segue o ensino universitrio (26%), sendo de referir o facto de famlias com os recursos educacionais mais baixos (nenhum grau de ensino e 1 ciclo do ensino bsico) serem pouco representadas nesta amostra (ver Anexo 6.3.1). Apesar de algum contraste entre os nveis mais baixos e os mais altos de escolaridade (exceo do ensino superior no universitrio), de referir que os estudantes oriundos de grupos familiares com o 2 e 3 ciclo do ensino bsico perfazem 30% do total. Quanto ao indicador socioprofissional, varivel construda a partir da profisso e da situao na profisso dos indivduos e cuja combinao resulta numa matriz de sete modalidades (ver anexo 7), permite localizar de forma compacta mas eficiente os indivduos em classes sociais, abrangendo as dimenses essenciais de estruturao das relaes entre as mesmas na sociedade portuguesa. No caso do presente trabalho, foram analisados os indicadores socioprofissionais individuais do pai e da me dos estudantes e, posteriormente, os do grupo domstico de origem.De modo geral, na distribuio das profisses do pai e da me dos estudantes destaca-se o facto de, tendo em conta as respostas vlidas, em ambos os casos os grupos dominantes so os de especialistas das atividades intelectuais e cientficas, tcnicos e profisses de nvel intermdio e trabalhadores dos servios pessoais, de proteo e segurana e vendedores (ver anexo 6.3.3). Quanto situao na profisso dos elementos do grupo familiar, em ambos os casos domina de forma notria o trabalho por conta de outrem (ver anexo 6.3.4).Tendo em conta os indicadores socioprofissionais individuais (pai e me), em nenhum dos casos as categorias esto todas representadas (ver Anexo 6.3.5) sendo que, das respostas vlidas, as classes mais frequentes no caso do pai so PTE e EDL, respetivamente, e no caso da me so PTE e EE (tendncia ligeira para pertena a classes com menos recursos que as do pai). Apesar disto, a maioria relativa da classe PTE tanto no indicador do pai como no da me dos inquiridos (percentagens vlidas de 37% e 47%, respetivamente) acaba por se refletir na predominncia de grupos domsticos de origem[footnoteRef:1] pertencentes a essa categoria ( qual se segue, relativamente aproximada, a classe EDL). Verifica-se assim na amostra recolhida uma tendncia para a no representao de estudantes universitrios oriundos de classes menos providas de recursos educacionais e socioprofissionais, sendo que os casos mais frequentes apresentam grupos domsticos com superioridade em termos desses capitais. [1: Matriz que combina os indicadores socioprofissionais individuais do pai e da me (ver Anexo 7).]

Analisando agora os principais resultados obtidos quanto s expetativas dos inquiridos, uma maioria relativa (44%) pretende ingressar no mercado de trabalho na sua rea, seguindo-se bastante prximo o objetivo de prolongar os estudos (ex:, tirar outro curso, mestrado, doutoramento, etc) (41%). A distribuio desta varivel no apresenta variaes muito relevantes quando combinada com os indicadores de classe social de origem. Tendo em conta, por exemplo, o indicador socioprofissional familiar, essas categorias so dominantes independentemente da modalidade (Quadro 1). Apesar do baixo nvel de associao, de referir o facto de o objetivo de trabalhar durante um tempo para depois voltar a estudar ser mais expressivo na modalidade de EE, (estudantes oriundos de uma classe mais desprovida de recursos) e de o objetivo de ingressar no mercado de trabalho ser comum totalidade de estudantes oriundos da categoria AA. Por seu turno, a opo de prolongar os estudos revela-se mais expressiva numa classe mais provida de recursos (TIpl). Tendo em conta a probabilidade esperada pelos estudantes de encontrarem emprego na sua rea, se o pretendessem neste momento, a maioria absoluta respondeu que era provvel (51%). Apesar de tambm esta questo no apresentar grandes nveis de associao com os indicadores de classe de origem dos estudantes, com o indicador socioprofissional do pai que se podem analisar de forma mais diferencial as vrias modalidades (Quadro 2). Deste modo podemos dizer que, apesar do otimismo geral em termos da obteno de emprego na rea, a maioria dos estudantes cujo pai pertence classe TI considera tal facto pouco provvel. Tambm quando o pai pertence categoria AA, 40% dos estudantes considera muito pouco provvel conseguir obter emprego naquela rea. Alm disto, revela-se interessante o facto de a resposta provvel e muito provvel se revelar mais expressiva no grupo de estudantes cujo pai pertence classe EE (menores recursos).