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  • 7/21/2019 Trabalho Imaterial

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    UFRNSociologia do trabalho

    Cesar Sanson

    Trabalho imaterial

    O corao, o centro da criao de valor, otrabalho imaterial Gorz.

    Na sociedade ps-industrial, o conhecimento, a comunicao e acooperao, ativados sobretudo pela evoluo !n"ormacional, mas noapenas, passam a ser considerados como os principais recursosdemandados ao su#eito do trabalho, algo $ue na sociedade industrial erarenegado. % import&ncia $ue esses atributos ad$uirem, no processoprodutivo, ' a base da categoria trabalho imaterial, $ue vem se sobrepondonas (ltimas d'cadas do s'culo )) ao trabalho industrial.

    % origem do conceito trabalho imaterial ' atribu*da a +aurizio

    azzarato e %ntonio Negri em um artigo

    publicado na revista "rancesa Futur Anterieur //0,para dar conta da nova realidade do capitalismo ps-"ordista. 1e maneira complementar e no mesmomomento, 2aolo 3irno, em artigo da revista italianaLuogo Comune, atualizava um outro conceitomar4iano, o de General Intellect. 5 conceito detrabalho imaterial d6 conta das dimens7es sub#etivasde um trabalho $ue se alimenta e alimenta umadin&mica de conhecimento $ue no mais ' controlada

    pelo capital e 84ada em suas ma$uinarias, mas a"ere arede social dos c'rebros9 o General Intellect C5CC5,:;;ssas caracter*sticas de um trabalho $ue tem necessidade daincorporao do saber, do conhecimento, das habilidades do trabalhador, ese "az na reativao do trabalho vivo, na cooperao inteligente e nalinguagem comunicante, apro4ima-se do conceito mar4iano de generalintellect, conceito $ue ser6 visto ? "rente. % novidade do trabalho imaterialconsiste em $ue

    tende a trans"ormar a organizao da produo, das

    rela7es lineares da linha de montagem ?s in(meras eindeterminadas rela7es das redes disseminadas. %in"ormao, a comunicao e a cooperao tornam-seas normas da produo, trans"ormando-se a rede emsua "orma dominante de organizao. %ssim ' $ue ossistemas t'cnicos de produo correspondemestreitamente a sua composio social9 de um lado, asredes tecnolgicas, e de outro a cooperao dossu#eitos sociais $ue trabalham. >ssa correspond@nciade8ne a nova topologia do trabalho e tamb'mcaracteriza as novas pr6ticas e estruturas dee4plorao A%1B e N>G!, :;;=9 ==-=0.

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    5 car6ter Drevolucion6rioE do trabalho imaterial, segundo Aardt eNegri :;;=9 =0 repousa no "ato de $ue Das "ormas centrais de cooperaoprodutiva #6 no so criadas pelo capitalista como parte do pro#eto paraorganizar o trabalho, mas, emergem das energias produtivas do prpriotrabalhoE. 5s autores desenvolvem tr@s aspectos do trabalho imaterial $uedenominam de Dsociologia do trabalho imaterialE na economiacontempor&nea. >ssas mani"esta7es de trabalho so9 o trabalhocomunicativo de produo industrialF o trabalho interativo de an6lisesimblica e resoluo de problemasF e o trabalho de produo emanipulao de a"etos. Citam como e4emplo, no primeiro caso, a ind(striaautomobil*stica. 1estacam $ue a principal mudana estrutural do modoprodutivo da sociedade industrial"ordista para a sociedade ps-indutrialps-"ordista reside na so8sticao da relao produo-consumo, ecitam o toHotismo como a base da inverso "ordiana entre a produo e oconsumo, modelo $ue busca uma r6pida comunicao entre a produo e oconsumo. Bem-se ho#e um circuito de feedbackdo consumo para a produo$ue e4ige r6pidas mudanas na engenharia de produo, no sentido de $ue

    a deciso do $ue ser6 produzido no ' monoplio da empresa como nomodelo "ordista, mas ' o consumidor $uem decide. Note-se $ue aimaterialidade do trabalho a$ui reside na$uilo $ue no est6 dado deantemo, mas precisa a todo o momento ser criado e recriado. 2ara amaioria das empresas, sobreviver no mercado

    passa pela pes$uisa permanente de novas aberturascomerciais $ue levam ? de8nio de gamas deprodutos sempre mais amplos ou di"erenciados. %inovao no ' mais subordinada somente ?racionalizao do trabalho, mas tamb'm aosimperativos comerciais. 2arece ento $ue a mercadoria

    ps-industrial ' o resultado de um processo de criao$ue envolve tanto o produto $uanto o consumidor%II%%B5 e N>G!, :;;9 JJ0.

    1e "orma ainda mais radical, o trabalho imaterial, nesse caso, ' acapacidade de materializar o imagin6rio e os gostos do consumidor. 5trabalho imaterial encontra-se no cruzamento, ' a inter"ace desta novarelao produoconsumo, uma vez $ue ativa e organiza essa relao.

    % ativao, se#a da cooperao produtiva, se#a darelao social com o consumidor ' materializada

    dentro e atrav's do processo comunicativo. K otrabalho imaterial $ue inova continuamente as "ormase as condi7es da comunicao e, portanto, dotrabalho e do consumo0. 16 "orma e materializa asnecessidades, o imagin6rio e os gostos do consumidor.> estes produtos devem, por sua vez, ser potentesprodutores de necessidades, do imagin6rio, de gostos.% particularidade da mercadoria produzida pelotrabalho imaterial pois o seu valor de uso consisteessencialmente no seu conte(do in"ormativo e cultural0est6 no "ato de $ue ela no se destri no ato doconsumo, mas alarga, trans"orma, cria o ambiente

    ideolgico e cultural do consumidor. >la no reproduz a

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    capacidade "*sica da "ora de trabalho, mas trans"ormao seu utilizador %II%%B5 e N>G!, :;;9 J=- J0.

    K nesse sentido $ue se pode a8rmar $ue o trabalho imaterial produz,acima de tudo, uma relao social uma relao de inovao, de produo,de consumo e, somente na presena dessa reproduo, a sua atividadetem um valor econLmico. >sta atividade mostra imediatamente a$uilo $ue aproduo material Mescondia. 3ale dizer $ue o trabalho no produz somentemercadorias, mas acima de tudo rela7es. % partir dessa an6lise, os autoresdesenvolvem sua tese central acerca da relao trabalho imaterial esub#etividade9 DSe a produo ' ho#e diretamente produo de relaosocial, a mat'ria-prima do trabalho imaterial ' a sub#etividade e o ambienteideolgico no $ual esta sub#etividade vive e se reproduzE %II%%B5 eN>G!, :;;9 J0. %cerca ainda da mudana signi8cativa na relaoproduo-consumo $ue se instaura na sociedade ps-industrial, +oulier-Ooutang :;;P0 comenta $ue agora no temos mais a sociedade-"6bricaindustrial, mas a empresa-sociedade.

    Com a produo Qe4*vel e a $ueda de se$uenciamontante produo0 #usante consumo0, no ps-"ordismo, o ato do consumo torna-se uma partedecisiva da produo em tempos reais e em Qu4ostensos. Se apenas o $ue #6 "oi validado pelo mercado eantecipadamente comprado por uma demanda cadavez mais diversi8cada ' produzido, a sociedade no 'somente penetrada ex o!t pelo mercado e pelocapitalismo, ele interv'm ex ante9 a sociedade torna-seum momento produtivo indispens6vel da empresaglobal. 5s Qu4os produtivos tornam-se irrevers*veis, o

    montante produz o #usante e o condiciona9 ' a (nicasoluo para reduzir o risco da superproduo. %in"ormao produzida pelos captadores instalados nocorpo social permite o a#uste, a alocao de recursos+5R!>-O5RB%NG, :;;P9 J/0.

    >ste ' o primeiro impacto do trabalho imaterial na sociedade ps-industrial, tipi8cado como Do trabalho comunicativo de produo industrialE,na tipologia da sociologia do trabalho imaterial de Negri e Aardt. % segundamani"estao de trabalho imaterial ' o Dtrabalho interativo de an6lisesimblica e resoluo de problemasE. 5 e4emplo, citado nesse caso,

    mani"esta-se com maior intensidade no setor de servios, $ue se utilizacotidianamente da in"orm6tica, $ue tende

    progressivamente a rede8nir as pr6ticas e rela7es deproduo, #untamente com todas as pr6ticas e rela7essociais. % "amiliaridade e a "acilidade com a tecnologiade computao esto se tornando, cada vez mais, uma$uali8cao prim6ria geral para o trabalho nos pa*sesdominantes. +esmo $uando no e4iste contato diretocom computadores, o manuseio de s*mbolos ein"orma7es do modelo in"ormatizado de operao est6e4tremamente di"undido A%1B e N>G!, :;;9 P:0.

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    Na opinio dos autores, o uso de computadores, en$uanto tecnologiasde comunicao e seu modelo de interao, torna-se sempre maisindispens6vel em di"erentes trabalhos. econhecem $ue in"ormatizaocrescente de atividades, no setor, de servios, corresponde a empregos debai4o valor e de pouca $uali8cao no manuseio das in"orma7es, e at'mesmo levam a uma homogeneizao de procedimentos o $ue, nessaperspectiva, apro4ima-se do conceito de trabalho abstrato de +ar4.Comentam de "orma semelhante ao $ue a8rmam Castells ///0, o#ine///0 e Corsani :;;P0, $ue o aspecto inovador do computador deve-se ao"ato de poder modi8car continuamente a sua per"ormance mediante o uso,ou se#a, abre-se a$ui a possibilidade de um trabalho enri$uecido, mesmo$ue no se mani"este em toda a sua potencialidade, nem em toda e4tensodas atividades produtivas.

    % terceira "ace do trabalho imaterial ' o trabalho a"etivo, a$uele $ueapresenta a possibilidade de produzir redes, "ormas comunit6rias, aoproduzir ou manipular a"etos

    como a sensao de bem-estar, tran$uilidade,satis"ao, e4citao ou pai4o. ...0 Rma indicao daimport&ncia crescente do trabalho a"etivo, pelo menosnos pa*ses dominantes, ' a tend@ncia dosempregadores para en"atizar a educao, a atitude, apersonalidade e o comportamento Mpr-social comocapacita7es primordiais necess6rias aos empregados.

    Brabalhador com uma boa atitude e tra$ue#o social 'outra maneira de designar um trabalhador h6bil notrabalho a"etivo N>G! e A%1B, :;;=9 J/0.

    5 conceito de trabalho imaterial, entretanto, ' comple4i8cado $uando

    Aardt e Negri :;;=0 en"atizam $ue mesmo o trabalho envolvido em todaproduo imaterial continua sendo material, por mobilizar corpos e c'rebrose $ue imaterial ' o seu produto. >les reconhecem $ue nesse sentido, 'amb*gua a e4presso trabalho imaterial e $ue Dtalvez "osse melhor entendera nova "orma hegemLnica como trabalho biopol*tico, ou se#a, trabalho $uecria no apenas bens materiais, mas tamb'm rela7es e, em (ltima an6lise,a prpria vida socialE N>G! e A%1B, :;;=9 =;0.

    5s autores do relevo ao "ato de $ue o trabalho imaterial ' umatend@ncia, ou se#a, ainda no se apresenta hegemLnico $uantitativamente,mas #6 o ' $ualitativamente. 5 trabalho imaterial constitui uma minoria dotrabalho global, concentrando-se em algumas regi7es dominantes do

    planeta e se encontra ho#e em posio semelhante ? $ue estava o trabalhoindustrial h6 =; anos,

    $uando respondia apenas por uma pe$uena "rao daproduo global e se concentrava numa pe$uena partedo mundo, mas e4ercia hegemonia sobre todas asoutras "ormas de produo. %ssim como na$uela "asetodas as "ormas de trabalho e a prpria sociedadetinham de se industrializar, ho#e o trabalho e asociedade t@m de se in"ormatizar, tornar-seinteligentes, comunicativos e a"etivos N>G! e A%1B,:;;=9 =0.

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    >m s*ntese, os recursos $ue comp7em e recomp7em o trabalhoimaterial so o conhecimento, a comunicao e a cooperao na an6lise deAardt e Negri :;;-:;;=0, caracter*sticas reconhecidas por outros autores,?s vezes com terminologias di"erenciadas. Gorz :;;=0, por e4emplo, d6@n"ase ao conceito do saberF 3irno :;;:0 d6 desta$ue ? linguagemF3ercellone :;;m comum, os autores, entre outros, assumem $ue a"orma crescente do modo produtivo da sociedade ps-industrial #6 no 'apenas hegemonizada pelo capital, mas $ue o su#eito do trabalho #oga umpapel decisivo como parte integrante da prpria "orma de organizar otrabalho.

    5utro aspecto relacionado ao trabalho imaterial, na$uilo $ue lhe d6conte(do, ' o "ato de $ue no se restringe ao processo produtivo, aocontr6rio, alimenta-se tamb'm das e4ternalidades, de um conhecimento$ue vem de "ora do trabalho "abril, de "ora da "6brica. %o capital produtivointeressa a incorporao desse saber no cho de "6bricaF o trabalhador '

    estimulado a socializar as suas aptid7es acumuladas socialmente. Bendopresente $ue um dos componentes chaves no modo produtivo ps-"ordista 'o trabalho em e$uipe, a$ueles trabalhadores $ue ad$uiriram a habilidadelingu*stica "ora da "6brica, e ao mesmo tempo cultivam rela7es deinterao em outros grupos sociais, dominam melhor os espaos em $ue ainteratividade no processo produtivo ' e4igida.% concepo de organizaodo trabalho ps-"ordista se vale do tempo do Dno-trabalhoE, do Dmundo davidaE, ou se#a, das e4peri@ncias e conhecimentos maturados "ora do o"*cio,ad$uiridos no tr&nsito da vida cotidiana. 5 mundo da vida, e4presso deAabermas, ',

    por assim dizer, o lugar transcendental em $ue o

    "alante e o ouvinte se encontramF ' o lugar em $uepodem estabelecer reciprocamente a pretenso de$ue suas emiss7es concordam com o mundo ob#etivo,sub#etivo e socialF e em $ue podem criticar e e4ibir os"undamentos das respectivas pretens7es de validade,resolver seus desentendimentos e chegar a um acordoA%O>+%S, ///9

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    pois um recurso gratuito, uma e4ternalidade $ue seproduz sozinha, e $ue continua a se produzir. > da $ualas empresas apenas captam e canalizam a capacidadede se produzir G5I, :;;=9 /-:;0.

    Na nova "orma de organizar o trabalho so solicitados, aostrabalhadores, os re$uisitos da mobilidade, da Qe4ibilidade, daadaptabilidade, a capacidade de interao, de disposio lingT*stica, otalento comunicativo, re$uisitos esses oriundos menos do disciplinamentoindustrial e mais de Duma socializao $ue tem seu epicentro "ora dotrabalhoE. 3!N5, :;;:9 /=0. Na troca de opini7es, no grupo deconversao, h6 um reconhecimento de $uanto as $ualidades $ue sedesenvolvem "ora da "6brica so importantes para o trabalho realizado l6dentro. >ssas no so $ualidades e4plicitamente cobradas, mas se tornamrecursos importantes e so valorizadas pela empresa no desempenho e nogrupo de trabalho. % capacidade de argTio, de contestao e deconvencimento, assim como a habilidade em tomar iniciativas so

    compet@ncias amealhadas por a$ueles $ue desenvolveram ou desenvolvemessas $ualidades no cotidiano da vida.

    Brata-se de uma produo biopol*tica, isto ', Dpor um lado,incomensur6vel, pois no pode ser $uanti8cada em unidades 84as detempo, e, por outro lado, sempre e4cessiva no $ue diz respeito ao valor $ueo capital pode dela e4trair, pois o capital no pode nunca capturar toda avidaE A%1B e N>G!, :;;=9 /=0. K nesta perspectiva $ue se pode "alar$ue o trabalho imaterial se contrap7e ? teoria mar4iana da mais-valia ou,antes de tudo, e4ige uma atualizao de sua teoria. % novidade est6relacionada aos par&metros utilizados para de8nir o valor de umamercadoria. Na teoria mar4iana, o $ue determina o valor de uma

    mercadoria ' a $uantidade de trabalho despendido para produzi-la, maisespeci8camente, a m'dia do tempo utilizado de acordo com o grau dedesenvolvimento das "oras produtivas. No trabalho imaterial, o tempo detrabalho #6 no ' necessariamente medido, pois tempo de trabalho e tempode no trabalho con"undem-se, sua linha divisria ' t@nue. +ar4 postula arelao entre trabalho e o valor em termos de correspond@ncia de$uantidades9

    uma certa $uantidade de tempo de trabalho abstratoe$uivale a uma $uantidade de valor. 1e acordo comesta lei do valor, $ue de8ne a produo capitalista, o

    valor ' e4presso em unidades mensur6veis ehomog@neas de tempo de trabalho. +ar4 viriaposteriormente a vincular esse conceito a sua an6liseda #ornada de trabalho e da mais-valia. >sta lei,contudo, no pode ser mantida ho#e na "orma em $ueSmith, icardo e o prprio +ar4 a conceberam. %unidade temporal de trabalho como medida b6sica devalor #6 no "az sentido ho#e em dia. 5 trabalhoe"etivamente continua a ser a "onte essencial de valorna produo capitalista, isto no muda, masprecisamos investigar de $ue tipo de trabalho estamostratando e $uais so as suas temporalidades. ...0 %

    #ornada de trabalho e o tempo de produo mudarampro"undamente sob a hegemonia do trabalho imaterial.

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    5s ritmos regulares da produo "abril e suas divis7esestan$ues entre o tempo de trabalho e o tempo em$ue no se trabalha tendem a declinar no reino dotrabalho imaterial. ...0 5 novo paradigma solapa adiviso entre tempo de trabalho e tempo de vidaA%1B e N>G!, :;;=9 /P-/J0.

    5 $ue h6 de novo a$ui ' o "ato de $ue o tempo de trabalho #6 nopode mais ser medido apenas pelas "oras produtivas ob#etivadas nam6$uina-"erramenta do tempo "abril. 5 elemento novo ' o lu! acrescidopelo oper6rio, o seu conhecimento, o seu saber, $ue e4trapolam o tempo"abril e so incorporados ao processo produtivo9 D5s custos de sua produomuitas vezes no podem ser determinados, e seu valor mercantil no podeser au"erido de acordo com o tempo de trabalho necess6rio $ue "oi gastoem sua criao. Ningu'm ' capaz de dizer com preciso onde, no conte4tosocial, o inventivo trabalho do saber comea, e onde terminaE G5I, :;;=9;0. Negri e Aardt destacam $ue, na medida em $ue se desenvolvem

    capacidades criativas de inovao e $ue se apresentam maiores $ue otrabalho produtivo de capital

    podemos reconhecer $ue essa produo biopol*tica ',por um lado, incomensur6vel, pois no pode ser$uanti8cada em unidades 84as de tempo, e, por outrolado, sempre e4cessiva no $ue diz respeito ao valor$ue o capital pode dela e4trair, pois o capital no podenunca capturar toda a vida. 2or isto ' $ue precisamosrever o conceito mar4iano de relao entre trabalho evalor na produo capitalista N>G! e A%1B, :;;=9/=0.

    % percepo contida a$ui ' de $ue o conhecimento, di"erentementedo trabalho social geral, ' imposs*vel de traduzir e mensurar em unidadesabstratas simples. >le no ' redut*vel a uma $uantidade de trabalhoabstrato de $ue seria o e$uivalente, o resultado ou o produto. Na opinio deGorz, o conhecimento recobre e designa uma grande diversidade decapacidades heterog@neas, ou se#a, sem medida comum. 5 conhecimento,nessa perspectiva, constitui-se num Dnovo capital 84oE, ou se#a, no podeser apropriado, divis*vel e $uanti8cado, pois a economia do conhecimentodese$uilibra a medio do trabalho e do valor. 2or ter se tornado a principal"ora produtiva, o conhecimento e

    conse$uentemente, os produtos da atividade socialno so mais, principalmente produtos do trabalhocristalizado, mas sim do conhecimento cristalizado.!ndica tamb'm $ue o valor de troca das mercadorias,se#am ou no materiais, no ' mais determinado emuma (ltima an6lise pela $uantidade de trabalho socialgeral $ue elas cont@m, mas, principalmente, pelo seuconte(do de conhecimentos, in"orma7es, deintelig@ncias gerais. K esta (ltima, e no mais otrabalho social abstrato mensur6vel segundo um (nicopadro, $ue se torna a principal subst&ncia social

    comum a todas as mercadorias. K ela $ue se torna aprincipal "onte de valor e de lucro, e assim, segundo

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    v6rios autores, a principal "orma do trabalho e docapital G5I, :;;=9 :/0.

    Nessa perspectiva, o conceito de mais-valia precisa ser revisto, eleno se reduz mais ? mais-valia produzida no tempo "abril. +ais do $ue isso,a mais-valia ' produzida incessantemente por$ue se vale tamb'm do tempode no trabalho, da$uele tempo $ue se encontra e4ternalizado ao processoprodutivo e inclui toda a vida social, o mundo da vida de $ue se "alavaanteriormente. 5 trabalho imaterial comple4i8ca a medio do trabalho eengendra inevitavelmente a crise da medio do valor9 DUuando o temposocialmente necess6rio a uma produo se torna incerto, essa incerteza nopode dei4ar de repercutir sobre o valor de troca do $ue ' produzidoE G5I,:;;=9 P;0. Cada vez mais $ualitativo, o trabalho se torna menosmensur6vel e coloca em 4e$ue a pertin@ncia das no7es de Msobretrabalhoe Msobrevalor, $ue passam a ser

    o resultado de um processo produtivo mais amplo da

    #ornada de trabalho estritamente entendida. 5 mais-valor ' gerado por uma cooperao social $uecompreende tamb'm o tempo de no-trabalho, otempo de aprendizagem, o tempo dos a"etos, o tempodo consumo cultural. >sta cooperao sociale4tratrabalho no ' paga pelo sal6rio, obviamente,mas constitui uma "ora produtiva "undamental. % elase deve a g@nese do mais-valor. Seria convenienteuma teoria do mais-valor e do lucro0 $ue v6 al'm da

    #ornada de trabalho individual. 1ever*amos consideraro processo de trabalho somente como uma parte deum processo de produo mais geral, $ue compreende,

    em si, a vida como tal 3!N5, :;;=9 ;V0.

    2or entender a produo da vida tamb'm no trabalho e para al'mdele, essa novidade do trabalho imaterial, ou se#a, a e4ig@ncia de umarede8nio do conceito de valor, altera a teoria mar4iana de mais-valia enecessita de uma nova teoria social $ue d@ conta de ampliar o conceito dee4plorao do trabalho. Ao#e, no paradigma da produo imaterial,portanto, nem a teoria do valor nem a e4plorao podem ser concebidas emtermos de tempo, por$ue

    devemos entender a produo de valor em termos do

    comum, assim tamb'm devemos tentar conceber ae4plorao como a e4propriao do comum. >m outraspalavras, o comum tornou-se o lcus da mais-valia. %e4plorao ' a apropriao privada de parte do valorproduzido como comum, ou de todo ele. %s rela7es ecomunica7es produzidas so comuns por sua prprianatureza, e no entanto o capital consegue apropriar-seem car6ter privado de parte de sua ri$ueza A%1B eN>G!, :;;=9 /V-//0.

    Sob a hegemonia do trabalho imaterial, a e4plorao #6 no 'primordialmente a e4propriao do valor medido pelo tempo de trabalho

    individual ou coletivo e, sim, a captura do valor $ue ' produzido pelotrabalho cooperativo e se torna cada vez mais comum atrav's de sua

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    circulao nas redes sociais. %s "ormas centrais de cooperao produtiva #6no so criadas apenas pelo capitalista como parte do pro#eto paraorganizar o trabalho, mas emergem das energias produtivas do prpriotrabalho. 5 comum a$ui, constitutivo ao trabalho imaterial, ' a produo decomunicao, de rela7es sociais e de cooperao, aspectos esses de di"*cilmensurao, por$ue partilhados.

    5 trabalho imaterial, pelas caracter*sticas descritas, apro4ima-se doconceito de general intellect, descrito por +ar4 nos D"ragmentos sobre asm6$uinasE em suas anota7es Grundri!!e0, no e4*lio em ondres, emV=V, ao a8rmar $ue a natureza no constri as m6$uinas, se#am elas

    m6$uinas t@4teis, locomotivas, estradas de "erro,tel'gra"os etc. So produtos da laboriosidade humanaFso materiais naturais $ue se trans"ormam eminstrumentos da vontade e da ao humanas sobre anatureza. So como rgos do c'rebro humano criados

    pela mo humanaF conhecimento ob#etivado. ...0 W5desenvolvimento da ma$uinariaX revela at' $ue pontoo conhecimento social geral converteu-se em "oraprodutiva imediataF portanto, at' $ue ponto ascondi7es do prprio processo da vida social "oramcolocados sob o controle do intelecto coletivo WgeneralintellectX +%) aud5S15SY!, :;;9 :;0.

    +ar4 entende a ci@ncia, o conhecimento em geral, a capacidadecient*8ca acumulada e ob#etivada, como sistema de m6$uinas e

    utiliza o idioma ingl@s para dar "ora ? e4presso,

    como se dese#asse sublinh6-la. % noo de DintelectogeralE pode ter diversas origens9 talvez se#a umar'plica pol@mica ? Dvontade geralE de ousseausegundo +ar4, no ' a vontade, mas o intelecto o $ueos produtores acumulam0F ou talvez, o Dintelecto geralEse#a continuao materialista do conceito aristot'licode nou! oietiko!o intelecto produtivo, poi'tico0. +asa$ui, no importa a 8lologia. !mporta o car6tere4terior, social, coletivo $ue compete ? atividadeintelectual, en$uanto $ue dali prov'm, segundo +ar4,o verdadeiro motor da produo de ri$ueza 3!N5,

    :;;:9 :

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    m s*ntese, ' o "undamento de uma cooperao social mais ampla $uea$uela especi8camente do trabalho, constituindo-se como centro doprocesso de trabalho ps-"ordista. 2ense-se na produo contempor&nea, na$ual o partilhar do conhecimento "az os trabalhadores participarem

    na produo en$uanto pensantes-"alantes. Nenhumarelao, vemos, com a Mpro8ssionalidade, ou com oantigo Mo"*cio9 "alarpensar so atitudes gen'ricas doanimal humano, o contr6rio de $ual$uerespecializao. ...0 5 compartilhar, en$uanto pr'-re$uisito t'cnico op7e-se ? diviso do trabalho, acontradiz, a "az desmoronar. !sto no signi8ca,naturalmente, $ue o trabalho #6 no este#a subdividido,parcelizado, etc.F signi8ca $ue a segmentao do&mbito do trabalho #6 no responde a crit'riosob#etivos, Mt'cnicos, mas, $ue ' e4plicitamentearbitr6ria, revers*vel, cambiante. 2ara o capital, o $ue

    conta verdadeiramente ' a uni8cao origin6ria dodote lingT*stico-cognitivo, #6 $ue ' isso o $ue garante avelocidade da reao "rente ?s inova7es, ?adaptabilidade 3!N5, :;;:9 P:-PP0.

    Negri :;;=9 :J0, por sua vez, destaca $ue Do conte4to da produo' constitu*do pela cooperao social do trabalho imaterial, e tudo, isso,chamamos General IntellectE. >m suma, o trabalho imaterial cada vez maisse posta no centro do processo produtivo e apresenta implica7es novas,principalmente na ativao de um trabalho $ue di"ere da$uele $ue serealizava na sociedade industrial. Consubstanciado ? nova "orma e conte(dodo trabalho imaterial, a reorganizao do cho de "6brica contribui na

    compreenso das mudanas $ue se processam na organizao do trabalhona sociedade ps-industrial, tema abordado na se$T@ncia. Na realidade, amudana do cho de "6brica ', antes de tudo, o meio pelo $ual se atente ?e4ig@ncia de um trabalho sempre mais comple4i8cado e $ue permite arealizao, ao menos parcial, da concretude do trabalho imaterial.

    Referncias bibliogrcas

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  • 7/21/2019 Trabalho Imaterial

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