Trabalho pós ergonomia aplicação da ferramenta ocra em análise ergonômica do trabalho

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APLICAÇÃO DA FERRAMENTA OCRA EM ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ANA THAIS DE SOUZA Código da Turma: 0166 RA: 7392

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APLICAÇÃO DA FERRAMENTA OCRA EM ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

ANA THAIS DE SOUZA Código da Turma: 0166

RA: 7392

SÃO PAULO, SPMAIO – 2.014

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ANA THAIS DE SOUZA

APLICAÇÃO DA FERRAMENTA OCRA EM ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Trabalho apresentado ao Professor Doutor

Roberto Costa, coordenador do Curso de Pós-

graduação em Ergonomia, referente à

disciplina de Ergonomia e Saúde, da turma

0166.

Universidade Gama FilhoSão Paulo/SP, 14 de maio de 2014

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INTRODUÇÃO

Atualmente têm sido evidentes os esforços empresariais para a busca de melhores

desempenhos na qualidade dos produtos, aumento da produtividade, redução dos custos

para a produção e sobrevivência no mercado consumidor.

Segundo Guérin et al (2.001), com o crescimento da atividade industrial e o

consequente aparecimento das patologias associadas ao trabalho, as empresas estão

necessitando adaptar seus ambientes de trabalho, investindo em princípios ergonômicos

para adaptar seus sistemas, tornando-os mais produtivos e otimizando a energia do

trabalhador.

O processo de globalização exigiu do sistema produtivo, que as condições

ambientais do trabalho fossem levadas em consideração, os movimentos realizados pelo

trabalhador e a reserva energética considerada, uma vez que se apresentam como fatores

relevantes para a condição produtiva do trabalhador.

Segundo a Portaria nº 25, de 29 de Dezembro de 1.994, do Ministério do Trabalho

Emprego, estabelece através da norma regulamentadora número 17, referente à Ergonomia,

a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores, da

Análise Ergonômica do Trabalho. A ABERGO Associação Brasileira de Ergonomia

preconiza ainda que sejam utilizadas para a construção de documentos precisos mais

eficientes, as ferramentas/ instrumentos previstos na ISO 11228 em suas partes I, II e III.

Como forma de padronizar mundialmente os instrumentos de avaliação.

Previstos na Norma ISO 11228 parte II, cada qual com sua particularidade e

adequação, destacamos o Método OCRA, tema do presente trabalho, relacionamos sua

aplicabilidade para a Análise Ergonômica do Trabalho.

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MÉTODOS

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi à pesquisa

investigativa, visando promover maior familiarização do tema proposto, a aplicabilidade do

Método Ocra, na construção da Análise Ergonômica do Trabalho.

O levantamento dos dados, considerados fundamentais à pesquisa foi confeccionado

através de bibliografias, isto é, através de documentos constituídos de artigos científicos já

elaborados, páginas da internet e participação em cursos específicos do tema exposto, por

parte desta autora.

Foram selecionados artigos publicados, com vasto conteúdo sobre o tema abordado.

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DESENVOLVIMENTO

CONSIDERAÇÕES SOBRE ERGONOMIA

Segundo IIDA (2.005), a Ergonomia é uma ferramenta multidisciplinar que abrange

os setores gerais da empresa. Inicialmente concentrava-se no sistema homem - máquina,

exclusivamente no sistema industrial. Hoje esse conceito evoluiu e sua área de abrangência

tornou-se bastante ampla, onde o sistema homem - máquina, e os fatores ambientais,

interagem entre si, como sistemas complexos para a realização de um trabalho.

As definições de ergonomia são marcadas por uma visão do trabalho onde o centro

dos estudos é a mobilização física do ser humano. (FALZON, 1.996, p.2).

Já, OLIVEIRA NETTO (2.006), assinala que a ergonomia é o estudo do trabalho em

relação ao ambiente em que é desenvolvido. A ergonomia é adaptar ou adequar, o local de

trabalho ao trabalhador, visando prevenir acidentes e as doenças profissionais.

BARBOSA FILHO (2.011, p.70), define ainda como a ciência do conforto humano, a

busca do bem estar, a promoção da satisfação no trabalho, a otimização da capacidade

produtiva e a segurança total.

MINICUCCI, (1.995, p.97), quando fala de ergonomia, destaca que é uma ciência

que tem como objetivo estudar principalmente o meio ambiente físico, tendo como destaque

o ruído, a vibração, os ambientes térmicos, os horários de trabalho, a duração das tarefas,

as pausas realizadas entre os trabalhos, as dimensões dos postos de trabalho, o

treinamento e aprendizagem com que as tarefas são executadas. O ambiente de trabalho

com as condições inadequadas tem levado o trabalhador rapidamente à fadiga, aos

acidentes, os baixos rendimentos, as neuroses profissionais e as doenças psicossomáticas.

Estas condições tiveram influencia direta no estudo da adaptação do trabalho ao homem.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO E A DOENÇA OSTEOMUSCULAR

RELACIONADA AO TRABALHO (DORT)

O avanço tecnológico e as condições de trabalho adaptadas à produtividade

imediatista, oferecidas aos trabalhadores têm gerado, aos trabalhadores desconforto físico e

mental, evoluindo para o aumento das diversas doenças ocupacionais, que atualmente

estão também relacionadas à tal modernização.

Atualmente denominadas Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

(D.O.R.T.), as Lesões por esforços repetitivos, têm sido fato originário de muitas das

preocupações de organizações empresariais, além de trazerem sofrimento psicofisiológico

aos trabalhadores.

Conceitualmente DORT envolve transtornos funcionais, mecânicos e lesões de

músculos, tendões, nervos, bolsas articulares, desenvolvidos pela má utilização das

estruturas corporais, levando a dor, fadiga, e problemas ocupacionais. (COUTO, NICOLETTI

& LECH, 2007).

Nicolleti (1994) corrobora que entre os fatores iniciais para o aparecimento da DORT,

se destacam as posturas incorretas, os movimentos repetitivos, as ausências de períodos

para recuperação da fadiga, a pressão por resultados, a tensão e as horas extras.

Essencialmente, a prevenção da ocorrência de DORT, de destaca a aplicação de

medidas de gestão do risco, sendo efetiva somente se for baseada num correto diagnóstico

das situações de risco e, em situação real de trabalho, o diagnóstico é predominantemente

realizado com a aplicação de métodos observacionais.

Cheung et al (2008) compartilha que a fisiopatologia das lesões por esforços

repetitivos, é a falta de tempo suficiente de repouso, podendo levar a micro traumas destas

estruturas, pelo excesso de uso contínuo. Destaca ainda que os membros superiores,

quando expostos a posições elevadas mantidas, passa por isquemia muscular local e

acúmulo de ácido lático, além de compressão nervosa direta, ou encurtamento muscular

que segue com a compressão nervosa.

Lesões detectadas inicialmente são facilmente recuperáveis, o que não ocorre em

estágios mais avançados, em que a evolução é direcionada para a perda da capacidade

laborativa parcial ou em alguns casos total.

Frequentemente as lesões mais comuns nas mãos são fasciíte palmar e miosite das

lumbricais, no punho tenossinovite de flexores e dedos, no cotovelo epicondilites

principalmente a lateral, no ombro tenossinovite do bíceps e tendinite do músculo

supraespinhoso: no pescoço: síndrome da tensão cervical.(COUTO, 2000, p. 30)

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Couto (2007) destaca alguns problemas relacionados a trabalho em linhas de

produção como sendo agentes primordiais no aparecimento das disfunções, inclusive

relacionadas com a sobrecarga de coluna, como a alta velocidade exigida nas linhas de

produção, dificultando a realização do trabalho; concentração dos movimentos, gerando

como forma compensatória distúrbios em membros superiores e coluna.

Fatores psicológicos se destacam nos dias atuais. Tulder & Malmivaara (2007)

relatam que estudos epidemiológicos têm mostrado os fatores psicossociais no local de

trabalho, como baixa atitude da decisão, distúrbios psíquicos, monotonia no trabalho e

relações pobres dentro do local de trabalho, como associados aos sintomas de esforço

repetitivo.

Estes agentes causadores de LER estão resumidos principalmente nos aspectos

produtores de estresse físicos nas estruturas corporais já descritos, porém vários fatores

externos podem contribuir na aquisição desta doença como temperaturas frias ou vibrações

na execução do movimento. Com isso é de extrema importância a prevenção destes fatores.

A pró-atividade deve ser realizada através da inclusão de pausas, alongamentos e

relaxamento das estruturas exigidas para a execução da tarefa (CHEESMAN, 2008).

Desta forma podemos afirmar que as lesões por esforço repetitivo apresentam dois

grandes problemas, sendo um para as organizações e outro para os trabalhadores, não

podendo definir quem sofre maior prejuízo, pois as consequências acabam sendo danosas

para ambos.

Choudhary’s et al (2003) define que as doenças ocupacionais de origem repetitiva

ocupam o primeiro lugar nos problemas de saúde, afetando diretamente a qualidade de

vida dos acometidos, já para as empresas as perdas são relacionadas a baixa da

produtividades e danos financeiros para instituição.

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ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO E O MÉTODO DE ANÁLISE OCUPACIONAL DE AÇÕES REPETITIVAS (Occupational Repetitive Actions - OCRA)

Segundo Santos e Fialho (1995, p.141) Análise Ergonômica do Trabalho

denominada se destaca pelo levantamento do comportamento do homem no trabalho,

considerado essencialmente o comportamento que pode ser analisado, isto é, as atividades

desenvolvidas pelo trabalhador, que possam ser avaliadas, através de métodos e de

técnicas que sejam aplicáveis numa determinada situação de trabalho.

Já o Método OCRA, é ferramenta descrita na Norma Europeia - EN 1005, em sua

parte cinco (5), Segurança das Máquinas - Desempenho físico humano/ Apreciação dos

riscos relativos à manipulação repetitiva à alta frequência e posteriormente creditada na

Norma ISO 11228-3, como ferramenta preconizada pela ABERGO (Associação Brasileira de

Ergonomia).

O método Occupational Repetitive Actions (OCRA), desenvolvido pelos Doutores

Enrico Acchipinti, Daniela Colombini e Michele Fanti, a pedido do grupo técnico de estudo

das lesões musculoesqueléticas da Associação Internacional de Ergonomia (IEA), a partir

de 1996, descreve como uma ferramenta de avaliação e análise dos fatores de risco

associados a movimentos repetitivos de membros superiores, através do cálculo de um

índice qualitativo (PAVANI, 2007; ANTONIO, 2003).

Neste sentido o modelo OCRA baseia-se na relação entre o número médio diário de

ações efetivamente realizadas pelos membros superiores em tarefas repetitivas (ATO), e o

número correspondente de ações recomendadas (ATR) (NAJARKOLA, 2006). Ou seja, o

OCRA é particularmente indicado para análise de tarefas em relação a diversos fatores de

risco dos membros superiores e este tem sido aplicado em diferentes setores de trabalho

que envolvem movimentos repetitivos e / ou esforços dos membros superiores (CALVO,

2009).

Apresenta-se em duas versões de aplicabilidade, o Indice OCRA e o Checklist

OCRA.

ÍNDICE OCRA

O índice OCRA é mais complexo a se utilizar e requer muito tempo de avaliação do

processo. Considerado como um dos métodos de quantificação mais sofisticados visa à

precisão por uma acumulação de avaliações de detalhes. Necessita muito tempo de análise,

particularmente no caso de tarefas complexas e múltiplas.

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O estudo representativo neste caso preconiza na coleta de dados algumas horas até

alguns dias necessários para identificar às ações técnicas, as percentagens do tempo das

posições, a frequência dos esforços, das posturas ou movimentos difíceis, da repetição dos

mesmos movimentos, da presença de fatores adicionais (fatores físicos, climáticos

ambientais como frio, luvas, vibrações...), das durações de recuperação e da duração diária

das tarefas repetitivas, requerendo numerosas quantificações.

Desta forma, o índice OCRA, tem seu procedimento de avaliação baseado em três

etapas:

1. Determinação da frequência das ações técnicas por minuto e cálculo de número

real de ações técnicas efetuadas durante o trabalho, para cada membro superior.

2. Cálculo em números de ações técnicas de referencia durante o trabalho em

funções da frequência dos esforços, das posturas/ movimentos difíceis, da

repetição dos movimentos, da presença de fatores adicionas, das durações das

recuperações e da duração diária das tarefas repetitivas. Esta fase requer

numerosas quantificações.

3. Cálculo do índice de risco OCRA = ações técnicas efetuadas durante o trabalho

(ATA)/ número de ações técnicas de referencia (RTA), isto é Cálculo do Índice

de risco OCRA = ATA/RTA. Desta forma Índice OCRA

Quadro: Critérios de Classificação do Índice OCRA

FAIXA VALORES OCRA

NÍVEL DE RISCO CONSEQUENCIAS

Verde Menor ou igual a 2,2

Ausência de Risco Nenhuma ação a prever.

Laranja 2,3 a 3,5 Risco muito baixo Melhorias recomendadas para fatores de risco: postura, força, ações técnicas, etc.

Vermelha Maior que 3,5 Risco Redesenho necessário das tarefas e lugares de trabalho.

Fonte: Instituto Sindical Europeu (ETUI), Classificação de métodos de avaliação e/ou

prevenção dos riscos de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

Desta forma, o Índice OCRA, tem uma relação custo benefício baixa, mas

comparando com outras ferramentas, é apenas um instrumento quantitativo para risco, sem

relação com investigação de causas ou qualquer indicativo de soluções de melhorias. Seu

uso potencial na relação com a Análise Ergonômicas do Trabalho (AET) seria quando da

destinação para elaboração da AET, para fins periciais, quando o interesse é estritamente a

quantificação do risco exposto, isto é métodos mais complexos, mais longos a utilizar,

requerem na maioria das vezes registros em vídeo e competências específicas

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metodológicas e em biomecânica, e sua aplicabilidade é foco em um posto de trabalho

específico.

Já o Checklist OCRA, é uma simplificação do Índice OCRA (descrito acima como um

método complexo).

CHECKLIST OCRA

Tem como principal finalidade a avaliação do risco de LER/DORT ao nível dos

membros superiores. Integra a avaliação dos principais fatores de risco de LER/DORT

(repetitividade, força, postura, ausência de períodos de recuperação e fatores adicionais)

utilizando os métodos simplificados de quantificação propostos por Colombini (1998).

Pontuação OCRA=(Frequência + Força +Recuperação + Posição + Repetitividade +

Outros) X Duração do Trabalho.

Na prática, os fatores de risco a avaliar com o Checklist OCRA são:

(1) Tempo de recuperação – Os dados devem ser obtidos considerando todo o turno

e a sequência efetiva da tarefa repetitiva, os períodos de recuperação, qualquer período de

trabalho não repetitivo e para, além disso, considerando as proporções de tempo de

recuperação, tempos de paradas e de almoço, em função do tempo de trabalho. Para

recuperação da fadiga, a literatura considera dois tipos de pausas, ou seja, a micro pausa,

em que haja 10 segundos por minuto ou 10 minutos por hora de trabalho em atividades com

movimentos repetitivos.

(2) Frequência da ação técnica – a frequência das ações técnicas é a variável que

mais contribui para a caracterização da exposição na análise de tarefas com movimentos

repetitivos e, para o seu registro, considera-se o valor limite de exposição, para ações

técnicas semelhantes, na ordem das 10 a 25 por minuto, estando associado ao número de

movimentos articulares simples (flexão/extensão, pronação/supinação) dos membros

superiores. Para esse fator a literatura considera que o número máximo recomendável é de

30 ações por minuto, com as demais condições de trabalho corretas. Esse número torna-se

então uma constante para cada tarefa repetitiva, desde que os outros fatores de risco sejam

ideais ou insignificantes.

(3) Fator Força – atividades de trabalho que exijam ações repetidas de força intensa

e/ou força moderada, como manipulação de objetos com peso superior a 3 kg, pegas

realizadas entre o indicador e o polegar com elevação, pega em pinça de objetos com peso

superior 1 kg, obtenção de força necessária que exija utilizar o peso do corpo, puxar ou

empurrar alavancas, carregar em comandos, abrir ou fechar, fazer pressão ou manipular

objetos e utilizar ferramentas, determinam uma pontuação a registrar na grelha obtida pelo

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somatório das duas componentes de força, a força intensa e a força moderada,

considerando o tempo de aplicação de força;

É desnecessário comentar que quanto maior o esforço requerido para executar uma

série de ações técnicas, menor a frequência com que deve ser realizada sem provocar alguma

fadiga ou lesão. Os fatores de risco sempre devem fazer referência ao tempo de força médio

em relação à duração do ciclo. Neste caso, é utilizada a escala de Borg, com os valores de 0 a

10, conforme o quadro abaixo.

Escala de Borg0,0 Ausente0,5 Extremamente Leve1,0 Muito Leve2,0 Leve3,0 Moderado4,05,0 Forte6,07,0 Muito Forte8,09,010,0 Máximo

Fonte: Colombini et al 2002, p.66.

Ao analisar fatores de risco, deve-se sempre fazer referência ao tempo de força

médio em relação à duração do ciclo, se algumas ações técnicas demandarem um esforço

superior ao nível 5,0 na escala de Borg, e durar pelo menos 10%, este esforço corresponde

a 50% da máxima contração voluntária dos músculos.

(4) Fator postura – a repetição de gestos idênticos durante pelo menos 50% do

tempo de ciclo constitui um potencial fator de risco e o trabalho que envolve movimentos

e/ou posturas extremas durante 1/3 do tempo de ciclo também, o que ocasiona que

qualquer combinação que exceda esse valor postural mínimo é considerada um risco

potencial. Estudos comprovam também que quando o tempo do ciclo é 2/3, constitui-se um

risco potencial maior.

Determinando que a obtenção da classificação para a postura seja efetuada através

da associação entre as posturas verificadas no nível do membro superior (ombro, cotovelo,

punho e mão/dedos/pega), considerando o seu tempo de duração no ciclo de trabalho e

registrando o valor mais elevado;

(5) Os tipos de pega e posição dos dedos, quando presentes em atividades

repetitivas, apresentam riscos quando maior que 2/3 do ciclo de trabalho.

(6) Fatores de riscos complementares – considera-se exposição a diversos fatores

de risco, designadamente (i) a avaliação temporal da utilização de ferramentas que

transmitem vibrações, (ii) ou que causem compressão na pele (por exemplo, vergões e

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calosidades), (iii) o registro de tempo de tarefas de precisão desenvolvidas (tarefas em

áreas inferiores a 2 ou 3 mm), a (iv) identificação da presença de mais do que um fator de

risco ao mesmo tempo ou (v) a presença de um ou mais fatores de risco adicional durante

todo o tempo, a (vi) utilização das mãos como ferramentas para bater e a respectiva

cadência por hora, a (vii) utilização de luvas inadequadas (por exemplo, desconfortáveis ou

finas) e (viii) a cadência imposta (total ou parcial).

A soma dos resultados obtidos em cada um dos fatores de risco referidos permite

obter o score final OCRA do membro superior avaliado.

A interpretação dos scores OCRA é quantitativa: índices de exposição inferiores a

7,5: risco aceitável (área verde); índices de exposição entre 7,6 e 11: risco limite (área

amarela); índices de exposição entre 11,1 e 14: risco baixo (área vermelho); e índices de

exposição entre 14,1 e 22,5: significam risco médio, enquanto pontuação maior que 22,5,

classificam-se como risco alto (área vermelho escuro/ violeta). Classificações acima de 11,1

determinam a necessidade de uma análise cuidadosa sobre as situações de trabalho, em

particular à medida que os níveis estão próximos do limite superior; índices de exposição

iguais ou superiores a 22,6: risco elevado (área violeta), quanto maior é o valor, maior é o

risco, devendo ser tomadas medidas urgentes no sentido de melhorar as condições, a

atividade de trabalho e vigiar de forma ativa, igualmente, o estado de saúde dos

trabalhadores.

A ferramenta de avaliação Checklist OCRA, se apresenta muito mais complexa que

as demais ferramentas de avaliação com a mesma finalidade, creditadas na ISO 11228 – 3

(ex: Strain Índice), porém com menor complexidade que o Índice Ocra.

Referente à sua aplicabilidade junto à Análise Ergonômica do Trabalho, é uma

ferramenta com viabilidade para confecção precisa de dados investigativos como

quantificação do risco mais simplificada, mais otimizada, porém não permite a investigação

de soluções.

Desta forma, visando a aplicabilidade da ferramenta Checklist Ocra, na construção

de uma Análise Ergonômica eficaz, sugere-se associação de outras ferramentas

complementares, com a finalidade de complementar o quesito de investigação de soluções,

gerando um documento mais preciso e eficaz para efeitos preventivos.

Associar um método com a finalidade de investigar os aspectos técnicos,

organizacionais e humanos a fim de determinar as condições de exposição, é prática

investigativa mais completa. Um exemplo de ferramenta é o Guia de Observação SOBANE

– DORT, que tem a finalidade de avaliar condições da coletividade do trabalhado e pessoal

técnico local. Esta ferramenta ao contrario do Método OCRA, não requer nenhuma formação

específica em ergonomia, ao contrário do Método OCRA, porém tem como objetivo principal

a busca de medidas de prevenção e melhoria da situação.

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CONCLUSÃO

Foi objetivo deste trabalho, refletir sobre o Método OCRA, nas suas modalidades

Índice OCRA e Checklist OCRA e sua aplicabilidade junto à confecção da Análise

Ergonômica do Trabalho.

Cada qual com sua particularidade e complexidade, ambos modelos tem como

finalidade estritamente a quantificação do risco para lesões repetitivas nos membros

superiores.

Sendo o método OCRA, considerado mais complexo e sofisticado, comparado com

os demais ferramentas, apresenta aplicabilidade destinada à formulação de Perícias

Ergonômicas (Índice Ocra) , como para a criação de Análises Ergonômicas do Trabalho

(Checklist Ocra) de caráter preventivo.

Em suas duas modalidades, se faz necessário alto nível de conhecimento

especializado em ergonomia, biomecânica e estudo de movimento.

Na modalidade Índice de Ocra, sua aplicabilidade por ser mais complexa, minuciosa,

necessita de períodos maiores necessários para coleta de dados, dispendendo maior tempo

do profissional para a investigação da tarefa avaliada, fato este a ser considerado para

formulação de custos operacionais do trabalho.

Já o Checklist OCRA, por ser mais simplificado, porém não menos complexo, possui

uma otimização maior na sua aplicabilidade para elaboração da Análise Ergonômica do

Trabalho como ferramenta preventiva inicial.

Desta forma, sendo o método OCRA, uma ferramenta específica para quantificação

do risco para membros superiores, para ser aplicada como forma preventiva nas empresas,

precisa estar associada a outras ferramentas de avaliação, com outras modalidades como

avaliação de corpo inteiro (ART, OWAS, RULA...), modalidades de investigação de soluções

(SOBANE, FIFARIM/ para problemas lombares associados).

Uma Avaliação Ergonômica do Trabalho, avaliada única e exclusivamente pelo

método OCRA, terá como resultado obtido a quantificação do risco para lesão dos membros

superiores.

Instrumentos de avaliação normalmente abordam apenas fatores biomecânicos:

posições, forças, repetitividades, enquanto os estudos epidemiológicos destacam o papel

importante de outros fatores e aspectos físico-sociais.

Desta forma é importante, para a confecção eficaz da Análise Ergonômica do

Trabalho, não só a utilização de ferramentas de avaliação específicas, como avaliação num

contexto mais amplo, de forma a considerar uma visão global das condições de trabalho.

Sexo, idade e outras características individuais sugerem uma responda fisiológica

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individualizada às solicitações do trabalho específicas, devendo estas também serem

consideradas.

Desta forma, relacionando o método OCRA e sua aplicabilidade na Análise

Ergponômica do Trabalho, verificamos que é possível identificar com precisão o número de

ações técnicas, com considerações específicas para movimentos repetitivos com fator de

rosco de lesão, define valores para sobrecargas biomecânicas que estão presentes nas

atividades das linhas de produção, define valor que representa o número total de ações

técnicas efetivamente executadas durante a jornada de trabalho por um número total de

ações técnicas recomendadas durante a jornada de trabalho, que indica o grau de risco de

exposição, além de possibilitar um mapeamento quantitativo dos riscos ergonômicos,

principalmente quanto aos fatores biomecânicos, que apresentam uma maior incidência de

lesão.

Com isso, o método OCRA como ferramenta de análise de repetitividade é de grande

valia para demonstração do risco da atividade, mostrando a real situação das condições de

trabalho que muitos trabalhadores estão expostos ainda hoje, já que o principal foco da

indústria é a produtividade.

A seleção de métodos de avaliação do risco das Doenças Osteomusculares

Relacionadas ao Trabalho deve ser objetiva, baseada em informação científica e

fundamentada no conhecimento da situação de trabalho, uma vez que as classificações de

risco dependem, em larga medida, do método selecionado.

Deve-se, portanto, evitar a escolha de um único método de avaliação do risco, por

mais complexo e sofisticado que ele seja, a associação de mais ferramentas de avaliação

em uma única Análise Ergonômica direciona para um sucesso maior perante os resultados a

serem encontrados já que a maioria dos métodos existentes foram desenvolvidos e

“concebidos” para situações específicas.

Nota-se pouco interesse dos profissionais para utilização do Método OCRA, muitas

vezes por se relacionar com uma ferramenta mais complexa que exija um conhecimento

mais amplo e especializado para sua aplicação.

Faz-se necessário que outros estudos venham contribuir no desenvolvimento do

tema abordado.

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