Tradição Gaúcha em Ambientes Informacionais Digitais

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  • 8/14/2019 Tradio Gacha em Ambientes Informacionais Digitais

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    VIII ENANCIB Encontro Nacional de Pesquisa em Cincia da Informao28 a 31 de outubro de 2007 Salvador Bahia Brasil

    GT 3 Mediao, Circulao e Uso da InformaoComunicao oral

    TRADIO GACHA EM AMBIENTESINFORMACIONAIS DIGITAIS

    GAUCHA TRADITION IN DIGITAL

    INFORMATIONAL ENVIRONMENTS

    Caroline Kraus Luvizotto (PPG Cincias Sociais. UNESP/Marlia, [email protected])Jos Geraldo A. B. Poker (PPG Cincias Sociais. UNESP/Marlia, [email protected])

    Silvana A. B. Gregorio Vidotti (PPGCI. UNESP/Marlia, [email protected])

    Resumo: Considerando a tradio, dinmica e no esttica, como uma orientao para o passado e uma maneirade organizar o mundo para o tempo futuro, agindo como articuladora de atores e grupos sociais, uma forma degarantir a preservao, baseada em modelos que podem ser histrias fictcias, reais ou reinventadas, dando contados inmeros processos de simbolizao no curso da histria dos atores sociais, este trabalho discute a tradiogacha, a (re) inveno das tradies na sociedade da informao e os websites da World Wide Web comoambientes informacionais digitais para a preservao e disseminao da tradio de um determinado grupo, osgachos. Atravs da reviso da literatura sobre os temas e, da anlise de websites que apresentam contedosrelacionados ao tradicionalismo gacho, constatou-se que esses ambientes permitem aos atores sociais, que seencontram em diferentes segmentos da sociedade, tornarem-se agentes ativos do processo de organizao,recuperao e disseminao das tradiespara a preservao da histria e da cultura gacha.Palavras-chaves: Tradio. Gacho. Disseminao da Informao. Ambiente informacional digital. WorldWide Web.

    Abstract: Taking both dynamic and non-static tradition into consideration as an orientation to the past and a

    way to organize the world for the future time, acting as articulator of actors and social groups, a way to guaran-tee preservation, based on models that can be fictitious, real or made-up stories, and including the several pro-

    cesses of symbolization in the course of history of social actors, this work discusses the gaucha tradition, the

    reinvention of the traditions in the information society and the websites of the World Wide Web as digital infor-mational environments for the preservation and dissemination of the tradition of a specific group, thegauchos. By reviewing the literature on these themes and analyzing websites with contents related to the

    gaucho traditionalism, we observed that these environments allow social actors from different segments of so-ciety to become active agents in the process of organizing, retrieving and disseminating traditions for the

    preservation of both gaucha history and tradition.

    Keywords: Tradition. Gaucho/a. Information Dissemination. Digital Informational Environment. World Wide

    Web.

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    IntroduoUma anlise acerca da influncia da Internet na transmisso e re-inveno de

    tradies, na formao de identidades, sociabilidades e comportamentos requer umaperspectiva reflexiva baseada em teorias e conceitos capazes de abranger as variveis da

    dinmica cultural contempornea. Nesta dinmica cultural, as estratgias para a realizao das aes a seremempreendidas no cotidiano de cada indivduo so impulsionadas e definidas pela realidadedos sujeitos. Consequentemente, entre essas aes, encontram-se as estratgias de transmissode um lado, e busca de informaes de outro.

    Por esta razo, este estudo considera os contextos e processos social e cultural degrupos de atores na sociedade, procurando identificar como se do as prticas relativas ao

    processo de disseminao da informao emsites da World Wide Web da Internet.A World Wide Web pode ser entendida e visualizada como uma rede na qual as

    informaes em formato digital, reconfigurvel e fluido, esto estruturadas em websiteshipertextuais, aqui tratados como ambientes informacionais.

    A Web encontra-se imersa no ciberespao, que conforme Lvy[...] o novo meio de comunicao que surge da interconexo mundial decomputadores. O termo especifica no apenas a infra-estrutura material dacomunicao digital, mas tambm o universo ocenico de informaes que elaabriga, assim como os seres humanos que navegam e alimenta esse universo(LVY, 1999, p. 17).

    Juntamente com o crescimento do ciberespao desenvolve-se a Cibercultura oconjunto de tcnicas (materiais e intelectuais), de prticas, de atitudes, de modos de

    pensamento e de valores [...] (Lvy, 1999, p.17).Assim, para proceder a uma anlise de ambientes informacionais digitais (websites)

    que objetivam a comunicao entre os atores de uma comunidade e a disseminao de suas

    tradies, deve-se primeiramente considerar a condio de complexidade que envolve todasituao informativa. De modo simplificado, toda comunicao consiste na tentativa deemisso de uma informao com um determinado contedo a pessoas igualmentedeterminadas, por meio de um instrumento devidamente escolhido para esta finalidade. Nestesentido, se demarcada nos termos necessrios a um entendimento sociolgico, h que seconsiderar a informao como uma modalidade de ao social. Segundo Weber (1978, p.139) por ao social deve ser entendida toda ao com sentido prprio, dirigida para a aode outros.

    O sentido o significado atribudo pelo ator ao, e o leva a escolher os princpios,os procedimentos e a finalidade. Para Weber (1978) a ao social se difere de todas as outrasformas de ao exatamente por isso: porque o ator tem conscincia daquilo que escolhe, e as

    aes podem ser classificadas conforme o grau de conscincia do ator sobre o significadodelas. Weber distinguiu assim quatro tipospuros ou ideais de ao: ao racional com relaoa fins, ao racional com relao a valores, ao afetiva e ao tradicional. As duas ltimasformas de ao encontram-se no limite da conscincia, e por isso so carregadas de elementosemocionais, sobre os quais o ator no tem pleno domnio. Da a condio de irracionalidadeque pesa sobre elas.

    Por consistir numa ao planejada e estratgica, quer dizer, realizada mediante umaoperao lgica na qual atores sociais calculam e delimitam previamente a melhor forma detransmitir um contedo especfico, a informao precisa ser considerada como uma dasmodalidades da ao racional, seguindo a conceituao da teoria sociolgica de Max Weber.

    Para Weber, h dois tipos de ao racional, cuja classificao em um ou outro tipo

    depende do objetivo a ser alcanado na ao: ao com relao a fins ou ao com relao avalores. No primeiro caso, diz Weber,

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    Age racionalmente com relao a fins aquele que orienta sua ao conforme o fim,meios e conseqncias implicadas nela e nisso avalia racionalmente os meios emrelao aos fins, os fins com relao s conseqncias implicadas e os diferentes finspossveis entre si; em todo caso, pois, aquele que no age nem afetivamente(emotivamente sobretudo), nem com relao tradio. (WEBER, 1978, p. 139-

    140. Itlicos do autor).Quanto ao racional valorativa, segundo Weber, difere da primeira forma sobretudo

    pela especificidade do clculo que orienta a adequao entre os fins pretendidos e a escolhados meios. Neste caso, o que move o ator social so antes os princpios requeridos pela aodo que os resultados obtidos por meio dela. Por isso, explica Weber:

    Age de modo estritamente racional com relao a valores quem, sem considerar asconseqncias previsveis, se comporta segundo suas convices sobre o que odever, a dignidade, a beleza, a sabedoria religiosa, a piedade ou a importncia deuma causa, qualquer que seja seu gnero, parecem lhe ordenar. Uma ao racionalcom relao a valores sempre (no sentido de nossa terminologia) uma aosegundo mandatos ou de acordo com exigncias que o agente acredita seremdirigidas para ele (e diante das quais o agente se acredita obrigado). (WEBER, 1978,

    p. 141. Aspas do autor)Em se tratando da informao, ela pode ser considerada como uma modalidade de

    ao racional com relao a fins medida que se orienta sobretudo pela adequao entre finse meios, obtida mediante a expectativa dos resultados a serem alcanados. Esta caracterizaose mantm mesmo que se enfoque o caso da informao com contedos ditos tradicionais,que poderiam ser confundidos com contedos valorativos. Isto porque o que move a ao doator, o sentido atribudo a ela, vislumbra antes a avaliao sobre a melhor forma de transmitirtradies a um grande nmero de pessoas, do que propriamente com a escolha de meios

    permitidos, selecionados eticamente para alcanar a finalidade proposta.Dessa forma, luz da Sociologia de Weber, a condio de complexidade aumenta

    ainda mais quando se tenta compreender a complicada relao existente entre a informao e

    a Internet, em especial a World Wide Web, como meio escolhido pelos atores sociais e ocontedo a ser transmitido, qual seja aquilo que os atores referidos nomeiam como tradio

    gacha.De imediato, a ateno do analista deve se concentrar na curiosa alquimia realizada

    pelos atores, que se apropriam de elementos tpicos da racionalidade moderna para fazeremdeles instrumentos eficazes de divulgao de tradies, de um contedo que, por causa desuas caractersticas de irracionalidade, seguindo a teoria de Weber, em nada se assemelha forma e aos meios altamente racionalizados escolhidos para o envolver e transmitir.

    No estrito espao deste estudo optou-se por restringir a anlise apenas ao aspecto dainstrumentalizao da Internet para a transmisso de tradies, sem avaliar o grau deracionalidade presente na adequao fins e meios, nem os resultados obtidos pela ao dosatores, ou considerar as conseqncias provocadas por eles.

    O Gacho e Suas TradiesA histria da ocupao do estado do Rio Grande do Sul comeou muito antes da

    chegada dos portugueses quele territrio. Darcy Ribeiro em O povo brasileiro a formaoe o sentido do Brasil (1995) traz um captulo especial sobre a regio do sul do Brasil1. Oautor destaca que esta uma rea cultural complexa e singular e que sua caracterstica bsica,em comparao com as outras reas culturais brasileiras, sua heterogeneidade cultural, umavez que a configurao histrico-cultural do estado do Rio Grande do Sul constituda portrs elementos: os lavradores matutos, de origem principalmente aoriana; os representantes

    atuais dos antigos gachos e a formao gringo- brasileira dos descendentes de imigranteseuropeus.A coexistncia destes trs complexos culturais operou ativamente no sentido de

    homogeneiz-los, difundindo traos e costumes de um ou outro. Para o autor esta a

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    singularidade do povo rio-grandense de hoje. A complexidade de sua origem histrico-cultural torna-o um grupo diferente dos demais brasileiros (RIBEIRO, 1995, p. 409).

    A expresso da cultura gacha est alicerada em tradies, em conhecimentos obtidospela convivncia em grupo, somados a diversos elementos, entre eles, os histricos e os

    sociolgicos. Seus legados e sua tradio so transportados para as geraes seguintes,sujeitos mudanas prprias de cada poca e circunstncia.O sc. XX foi o sculo das transformaes. Novos inventos passam a integrar a vida

    das pessoas mudando hbitos e conceitos. Na metade do sculo, a televiso, presente empraticamente todas as residncias, permitiu que informaes fossem transmitidas de maneiraglobalizada. O mundo passou a ser visto com outros olhos, e nem mesmo os costumes etradies ficam imunes a este fenmeno.

    Analisando a situao nacional, Gerson Moura (1984, p.8), afirma que[...] a chegada visvel do Tio Sam ao Brasil aconteceu no incio dos anos 40, emcondies e com propsitos muito bem definidos. A presena econmica, menosvisvel, era bem anterior e certas manifestaes culturais, como o cinema deHollywood, j inculcavam valores e ampliavam mercados no Brasil. Mas a dcadade 40 notvel pela presena cultural macia dos Estados Unidos, entendendo-secultura no sentido amplo dos padres de comportamento, da substncia dos veculosde comunicao social, das expresses artsticas e dos modelos de conhecimentotcnico e saber cientfico. O trao comum s mudanas que ento ocorriam no Brasilna maneira de ver, sentir, explicar o mundo era a marcante influncia que aquelasmudanas recebiam do american way of life.

    Estas transformaes tambm afetaram a sociedade rio-grandense. No entanto, emmeados do sc. XX, surgiu entre alguns gachos um sentimento novo: a sua diferena emrelao ao mundo.

    Vera Stedile Zattera (1995), historiadora, gacha de Caxias do Sul, descreve essesentimento:

    a nossa cidadania, nossa raa, to mesclada, mas to clara. nossa conscinciade sermos elementos batalhadores, especiais, que grita. hora de mostrarmos aomundo do que ns, gachos, somos capazes, do que gostamos, quais so nossasmusicas, quais so nossos hbitos, quais so nossas habilidades (ZATTERA,1995, p.153).

    Entretanto, as pessoas que se identificaram com esta pretenso no sabiam comomostrar suas razes histricas, seus costumes nativos, sua maneira de ser. Foram criados entoos Centros de Tradies Gachas (CTGs)2, com a finalidade de mostrar e perpetuar asmanifestaes de uma tradio gacha com a maior preciso possvel, atravs da msica,culinria, poesia, indumentria e sociabilidade, quer dizer, uma maneira especfica ediferenciada de ordenamento de aes e relaes sociais, para compor grupos sociaisigualmente especficos e diferenciados de modos de vida em relao a todos os outros.

    Nos CTGs estudam-se as danas, as poesias, as falas dogacho de antigamente, seushbitos e sua histria. Tal evocao tem como objetivo mostrar os aspectos caractersticos deuma cultura gacha original, em detalhes, ao pblico nacional e internacional. Isto tudo feito cumprindo as disposies da Carta de Princpios do Movimento Tradicionalista Gacho- MTG, movimento que tem como elementos norteadores preservar, promover e divulgar otradicionalismo gacho, atravs de atividades esportivas, campeiras, sociais, assistenciais,culturais, artsticas e recreativas. O MTG lidera hoje mais de mil CTGs somente no RioGrande do Sul, e outras centenas deles espalhados por todo o Brasil e pelo mundo.

    Entidade maior do Movimento Tradicionalista Gacho Brasileiro, a ConfederaoBrasileira da Tradio Gacha - CBTG, valoriza, organiza, defende, promove e representa astradies e a cultura gacha. Alm disso, a CBTG orienta as entidades confederadas, MTGs eCTGs, quanto autenticidade das manifestaes gauchescas e a fidelidade a suas origens,evitando o uso inadequado destas siglas por entidades no identificadas com o tradicionalismogacho.

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    O resultado da atuao da CBTG, do MTG e, por fim, dos CTGs, pode ser constatadonos dias de hoje: a populao do Rio Grande do Sul aprendeu a cultuar o seu Estado, ecomemora no dia 20 de setembro o Dia do Gacho 3 para lembrar de sua histria e das suastradies.

    Entre os iniciadores do movimento tradicionalista gacho destacam-se Barbosa Lessae Paixo Crtes, que criaram ou recriaram muito do que hoje se acredita ser o folclore gacho,como culinria, algumas danas, canes, indumentria, poesia e at costumes: [...] ramostradicionalistas, gente mantendo ativamente no presente os aspectos do passado, com vistas aofuturo. Quando algum elemento faltasse para a nossa ao, ns teramos de suprir a lacuna deum jeito ou outro (LESSA, 1985, p.64).

    Pela ao dos CTGs, associada a outros fatores histricos especficos, possvelafirmar que ocorre no Rio Grande do Sul um fenmeno singular, o tradicionalismo, que oculto aos aspectos e elementos da cultura local que os participantes de uma sociedadereconhecem como tradio, quer dizer, um conjunto de conhecimentos e prticas sociais quese cr sempre ter existido, e que evocado para dar sentido aes e relaes sociais dos

    atores e legitimar a singularidade do modo de vida de um grupo em relao a outros.Acompanhando a inovao das tecnologias de informao e comunicao, em meados

    dos 90 os CTGs passaram a divulgar em diversos sites da Internet uma concentrao deinformaes acerca da histria do estado do Rio Grande do Sul, seus smbolos, culinria,danas, msica, indumentria, folclore e cultura, alm da agenda de eventos que, assim comoo website tem o objetivo de demonstrar tudo que se nomeia como tradio gacha.

    (Re)Inveno das Tradies: a tradio na sociedade da informaoEntende-se a categoria tradio como um conjunto de sistemas simblicos que so

    passados de gerao a gerao e que tem um carter repetitivo. A repetio significaatualizao dos esquemas de vida. Isto significa que a tradio uma orientao para o

    passado, justamente porque o passado tem fora e influncia relevantes sobre o curso dasaes presentes. A tradio tambm se reporta ao futuro, ou melhor, indica como organizar omundo para o tempo futuro.

    Segundo Weber (1994), uma das formas de dominao em uma sociedade calcada natradio, a crena na santidade das ordens e dos poderes existentes desde sempre, cujocontedo no se tem possibilidade de alterar, funcionando como o cimento que une asordens sociais. Porm, salienta Sahlins (1990), os sistemas simblicos no devem ser

    pensados como estticos, e sim dinmicos, atendendo ao curso da histria para sereproduzirem. Desse modo, em toda mudana v-se tambm a persistncia da substnciaantiga: a desconsiderao que se tem pelo passado apenas relativa (SAHLINS, 1990, p.

    190). Assim, deve-se entender a categoria tradio como um campo que envolve um ritual eque possui status de integridade, uma forma de garantir a preservao, baseado em modelosque podem ser histrias fictcias, reais ou reinventadas, dando conta dos inmeros processosde simbolizao no curso da histria dos atores sociais. Em suma, a tradio passa a ter umcarter normativo, relacionado aos processos interpretativos, por meio do qual o passado e o

    presente so conectados para ajustar o futuro.Como observam Hobsbawn e Ranger (1997): toda tradio uma inveno, que

    surgiu em algum lugar do passado podendo ser alterada em algum lugar do futuro. Astradies esto sempre mudando, mas h algo em relao noo de tradio que pressupe

    persistncia: se for tradicional, uma crena ou prtica tem uma integridade e continuidade que

    resistem aos contratempos e as mudanas. A tradio sobrevive de citaes que podem sersnicas e/ou visuais e que consistem em traos de referncias de elementos que transportampara o passado. Mas estes traos encontram-se completamente descontextualizados e abertos a

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    qualquer contextualizao.Observa Sahlins que

    Para compreendermos os movimentos culturalistas contemporneos, as lies dasabedoria tradicional poderiam ser tomadas da seguinte forma: a defesa de umatradio implica alguma conscincia, conscincia da tradio implica algumainveno, a inveno da tradio implica alguma tradio (SAHLINS, 1990, p. 89).

    Segundo Hobsbawn e Ranger, a inveno de tradies ocorreQuando uma transformao rpida da sociedade debilita ou destri os padressociais para os quais as velhas tradies foram feitas, produzindo novos padrescom os quais essas tradies so incompatveis; quando as velhas tradies,juntamente com seus promotores e divulgadores institucionais, do mostras de haverperdido grande parte da capacidade de adaptao e da flexibilidade; ou quando soeliminadas de outras formas. Em suma, inventam-se tradies quando ocorremtransformaes suficientemente amplas e rpidas tanto do lado da demanda quantodo lado da oferta (HOBSBAWN; RANGER, 1997, p. 12).

    Isto posto, comea-se a delinear a forma especfica da (re)inveno da tradio nasociedade da informtica, num contexto que tem como elemento norteador a escassez do

    tempo e do espao, que suprime as distncias de comunicao entre os diversos locais doglobo e estabelece uma simultaneidade de interconexes que, de acordo com Castells (1999),conta com um enorme desenvolvimento das tecnologias, em especial as da informao,gerando novos meios de comunicao e, consequentemente, maior importncia da informaocomo fonte de valor.

    Ainda, segundo Castells (1999), este cenrio apresenta uma multiplicao deinformaes e imagens de todo o globo, lanadas pela mdia e pela indstria cultural ou sotrocadas por indivduos e grupos sociais, atravs dos novos meios de comunicao, como ainternet, difundindo identidades, tradies, articulaes tnicas e culturais.

    No contexto das tecnologias de informao e comunicao, em especial da Internet[...] o conhecimento e a informao no so imateriais e sim desterritorializados;

    longe de estarem exclusivamente presos a um suporte privilegiado, eles podemviajar. Mas a informao e o conhecimento tampouco so materiais! A alternativado material e do imaterial vale apenas para substncias, coisas, ao passo que ainformao e o conhecimento so da ordem do acontecimento ou do processo(LVY, 1996, p. 56).

    Para Schaff (1995),as transformaes revolucionrias das ltimas dcadas do sculo passado, com suas conseqentes modificaes na produo e nos servios, tambmprovocaram mudanas nas relaes sociais, na formao poltica, econmica e cultural dasociedade.

    Alm disso, essas transformaes e a incluso de inovaes tecnolgicas levaram acriao de um homem universal, tanto na sua formao global e no especializada, quanto na

    liberao da cultura nacional para o cidado do mundo.A sociedade atual fundamenta-se no distanciamento e aproximao entre o local e oglobal para a maioria dos indivduos e dos grupos sociais. Nas palavras de Anthony Giddens,quanto mais a tradio perde terreno, e quanto mais reconstitui-se a vida cotidiana em termosda interao dialtica entre o local e o global, mais os indivduos vem-se forados a negociaropes por estilos de vida em meio a uma srie de possibilidades (GIDDENS, 1997a, p. 5).

    Para GiddensNo cenrio do que eu chamo a modernidade tardia o nosso mundo de hoje o self,tal como os contextos institucionais mais vastos nos quais ele existe, tem de serconstrudo reflexivamente. No entanto, essa tarefa tem de ser cumprida no meio deuma confusa diversidade de opes e possibilidades. (GIDDENS, 1997a, p. 2-3)

    De acordo com o autor, na modernidade, a tradio deixa de ocupar o lugarprivilegiado que outrora ocupava nas sociedades pr-modernas, atuando como mecanismo decoordenao das prticas sociais. Na sociedade da informtica, as aes sociais soconstantemente reavaliadas e renovadas mediante a apropriao dos conhecimentos que vo

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    sendo produzidos sobre as prprias aes e os sistemas sociais nos quais elas tm lugar. Issono significa que a tradio desaparea, mas ela passa, contudo, a subordinar-se ao crivo daavaliao reflexiva (GIDDENS, 1997)

    A disjuno sistmica entre o global e o local traz como conseqncia direta a

    heterogeneidade scio-cultural: sociedades partilham bens, servios, mensagens e imagens,mantm as identificaes como o que produzido e dividido dentro dos seus limitesterritoriais e, ao mesmo tempo, criam novas formas de identificao.

    No contexto dos websites analisados a tradio pode ser caracterizada como umainveno, ou ainda uma re-inveno, intencionalmente produzida para servir de liame arelaes sociais que se quer manter para constituir um grupo. Por isso, a tradio podecarregar consigo uma srie de referncias e concepes, pois ela tem a sua epistemologia etraz dentro de si um sentido de coletividade. Nesse caso, a unio em torno de umacomunidade na Internet permitiria que aqueles que se identificam comogachos em relao tradio se reconheam enquanto um grupo diante do restante da sociedade, ou seja, aquelesque seriam os outros.

    A constituio de grupos sociais virtuais,composto por integrantes que no convivemfisicamente juntos num mesmo espao tornou-se possvel com a Internet e com aglobalizao. evidente que a tecnologia da informtica, que revolucionou os meios decomunicao, tem importncia preponderante na constituio de relaes virtuais entre as

    pessoas. Por causa da velocidade em que ocorre a comunicao e as vrias formas em que elapode acontecer, para se sentirem juntas, basta que as pessoas consigam compartilhar o tempo,no precisando mais se encontrar simultaneamente num mesmo espao.

    No entanto, a constituio de grupos sociais virtuais somente se viabiliza devido saberturas culturais provocadas pela fora da globalizao. So diversos os estudos queapontam o impacto da globalizao sobre as formas de organizao social vigentes at o finaldo sculo XX, como por exemplo os estudos de Habermas (2001 e 2002) e Santos (2002).

    Partindo dessas perspectivas e enfocando vrios fatores, tais estudos identificam atendncia de que, no contexto da globalizao, todas as sociedades venham a se tornarsociedades multiculturais, quer dizer, sociedades culturalmente abertas e heterogneas,constitudas de maneira a possibilitar que pessoas adotem diferentes modos de vida

    simultaneamente umas s outras.Sob a influncia da globalizao, as sociedades humanas tendem a se constituir pelo

    prisma da diversidade, de maneira que as formas de homogeneizao cultural, tpicas enecessrias s organizaes sociais at o final do sculo XX, tornam-se ineficazes e, emgrande medida, inaceitveis.

    O resultado diretamente derivado disto a criao de um novo direito, que permite s

    pessoas a possibilidade de usufruir um grau indito de liberdade, qual seja a deciso deescolher epraticara prpria cultura, de maneira que isto no comprometa a participao emtodas as instncias da sociedade.

    Na sociedade dita globalizada, observa-se a tendncia do aparecimento e dageneralizao daquilo que Zaoual (2003) chama de stios simblicos de referncia, isto ,lugares reais ou virtuais de convivncia cuja caracterstica principal a de se formaremmediante a livre adeso dos participantes, que se consideram igualmente livres para definirema si mesmos umsentido de vida.

    Logo acima, mencionou-se a teoria de Giddens sobre a complexidade da sociedadeglobal, mas dentre as vrias obras disponveis sobre o assunto, devem ser destacadas as de J.Habermas (2001 e 2002), Santos (2002 e 2003), Hffe (2005).

    Anlise dos Ambientes Informacionais

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    No contexto da modalidade de ao racional, os atores sociais desenvolvem aarquitetura da informao de um site com o intuito de transmitir contedos informacionaiscom objetivo de possibilitar a construo de conhecimento, no caso especfico deste trabalho,sobre as tradies em um processo de disseminao e preservao da memria gacha.

    Para Moran O conhecimento no fragmentado, mas interdependente, interligado, intersensorial.Conhecer significa compreender todas as dimenses da realidade, captar e expressaressa totalidade de forma cada vez mais ampla e integral. Conheo mais e melhorconectando, juntando, relacionando, acessando o meu objeto de todos os pontos devista, por todos os caminhos, integrando-os da forma mais rica possvel (MORAN,2001, p. 18).

    A arquitetura da informao digital, de um modo geral, se aporta de mtodos deorganizao, tratamento, recuperao e disseminao de informao advindos da rea deBiblioteconomia, utilizando-se de Tecnologias de Informao e Comunicao, em especial,do hipertexto (textos, imagens estticas e dinmicas e sons interligados em formato de rede) eda estrutura da World Wide Web.

    Segundo Lara FilhoA arquitetura da informao no uma tcnica, no fornece receitas. Antes, ela umconjunto de procedimentos metodolgicos e sua aplicao no visa criar uma camisade fora no conjunto da informao de um site. Aprisionar o hipertexto emorganizaes altamente estruturadas no permitir escolhas. As especificidades eparticularidades de cada caso podem ser mesmo determinantes no caminho a seguir.Cabe arquitetura da informao balizar, sinalizar, indicar, sugerir, abrirpossibilidades (LARA FILHO, 2003, p. 04).

    Neste contexto, foram analisados, sob o aspecto informacional, os websitesinstitucionais da Confederao Brasileira da Tradio Gacha (CBTG), do MovimentoTradicionalista Gacho (MTG/RS), da Primeira Regio Tradicionalista Gacha, do 35 CTG(Porto Alegre RS) e do CTG Jayme Caetano Braun (Braslia DF), por serem

    representativos de um pensamento tradicionalista gacho. Entre os CTGs fundados no Brasil,o 35 CTG foi selecionado por ser o primeiro Centro de Tradies Gachas criado no pas, eo CTG Jayme Caetano Braun por representar o tradicionalismo fora do Estado do Rio Grandedo Sul.

    Ressalta-se que os elementos da metodologia da Arquitetura da Informao no foramcontemplados em seus aspectos especficos, por no ser o foco deste artigo cientfico.

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    Figura 1 Website da Confederao Brasileira da Tradio GachaFonte: http://www.cbtg.com.br/paginas - Acesso em: 12 ago. 2007

    O website da Confederao Brasileira da Tradio Gacha (CBTG) apresenta-seestruturado, conforme Figura 1, basicamente em um menu principal de opes que contempla:

    - Diretorias: informaes sobre os membros (nome, cargo/funo, endereo, telefonepara contato), conselho de tica, atas das reunies;

    - Diversos: ajuda para localizar scios, convnios, links relacionados a CBTG e aosMTGs, artigos e smbolos relacionados a cultura, a histria e a tradio gacha,receitas e frum de discusso;

    - Regulamentos: estatuto, cdigo de tica e carta de princpios;- Departamentos: diretoria geral, artstico, campeiro, esportivo, cultural, divulgao,

    integrao nacional, relaes internacionais, ordem cavaleiros, jovem, projetos,

    tesouraria e secretaria.O ambiente informacional digital da CBTG contm, alm das informaesadministrativas e estruturais de funcionamento, informaes que atendem aos objetivos daConfederao, concernentes divulgao das polticas e diretrizes de atuao do SistemaConfederativo do Movimento Tradicionalista Gacho, dos eventos nacionais para valorizaoda cultura, das tradies e do folclore gacho, dos elementos para autenticidade e preservaodas tradies gachas, bem como das expresses do Movimento Tradicionalista Gacho e doCentro de Tradies Gachas.

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    Figura 2 Website do Movimento Tradicionalista Gacho

    Fonte: http://www.mtg.org.br - Acesso em: 12 ago. 2007

    O website do Movimento Tradicionalista Gacho (MTG) apresenta-se estruturado,conforme Figura 2, possui um menu principal com opes que contemplam informaessobre:

    - MTG: o que o MTG, simbologia, histria, estatuto e regulamentos e cdigos detica, entre outros;

    - Rio Grande do Sul: histrico, Ordem dos Cavalheiros do RS;- Tradicionalismo: conceituao, carta de princpios, sentido de valor, sentido e alcance

    social;- Folclore: gastronomia, indumentria, folguedo, artesanato, chimarro e o cavalo;

    - Cursos, eventos, Semana Farroupilha, rodeios e fotos;- Editoriais, Notcias, Blog, Proseando;Objetivando a preservao, o resgate e o desenvolvimento da cultura gacha, o

    ambiente informacional digital do MTG contempla informaes sobre o MovimentoTradicionalista Gacho e sua estrutura administrativa, funcional e de congregao dosCentros de Tradies Gachas e entidades a fins, objetivando preservar o ncleo da formaogacha, cuja filosofia decorre da Carta de Princpios do MTG. Disponibiliza ainda,informaes sobre a histria do Rio Grande do Sul com destaque as bandeiras, ao hino, o

    braso das armas, as misses jesutas, as imigraes e as revolues entre outras, textosrelacionados ao tradicionalismo, editoriais, notcias, artigos, poesias, prosas, causos e um blogde comunicao entre os atores. Relata ainda, a Fundao Cultural Gacha que fornece

    respaldo ao MTG com relao as atividades ligadas ao tradicionalismo, a cultura e artesnativas.

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    Figura 3 Website da Primeira Regio Tradicionalista / RSFonte: http://br.geocities.com/primeiraregiaors/ Acesso em: 12 ago. 2007

    O ambiente informacional da Primeira Regio Tradicionalista (RT) apresenta-seestruturado, conforme Figura 3, em um menu de opes principais (lado esquerdo) e um menude acesso aos sites oficiais de 8 dos 11 municpios da 1a RT (do lado direito). O menu

    principal possui links de acesso s principais informaes textuais sobre:- Rede de Informaes e Apresentao: boletins informativos dos CTGs da 1 RT;- ENART: Informaes sobre os Encontros de Arte e Tradio;- Calendrio de eventos e esportes da 1 RT; Datas comemorativas;- Contreg: informaes sobre o Congresso Tradicionalista Regional;- Resolues e regulamentos do MTG; Notcias do MTG;- CTGs da 1 RT; Coordenadorias: informaes sobre a diretoria e coordenadores da 1

    RT;- Regionalismo e Cultura: aspectos da histria, cultura e tradies gachas;- Poesias, Causos, Lendas: textos sobre estes elementos da tradio gacha;- Grupos Regionais; Galpes Virtuais com links para os CTGs e os grupos de tradio

    gacha;A RT tem por objetivo a coordenao das entidades tradicionalistas filiadas ao

    Movimento Tradicionalista Gacho (MTG) com sede nos municpios que compe a sua baseterritorial. Portanto, o website da 1 RT fornece informaes para a integrao das entidades

    componentes, e informaes relacionadas ao regionalismo, a cultura e as atividaes culturais esociais das entidades. Em funo do marcador de acesso contido no website pode-se afirmarque ele muito acessado pelos atores e/ou pelos usurios em geral da Internet.

    http://br.geocities.com/primeiraregiaors/enart.htmhttp://br.geocities.com/primeiraregiaors/enart.htm
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    Figura 4 Website do 35 CTG Porto Alegre / RSFonte: http://www.35ctg.com.br/index.php - Acesso em: 12 ago. 2007

    O ambiente informacional digital do 35 CTG - sede em Porto Alegre, apresenta-secom imagens que fazem referncia a elementos da tradio gacha e encontra-se estruturadoem um menu horizontal de opes, conforme Figura 4:

    - Histrico: texto sobre a histria de criao do 35 CTG;- Estatuto: abre um documento do Word com o estatuto da entidade;- Patronagem: informaes sobre os membros do conselho e da diretoria;- Invernadas: data e horrio dos cursos;- Eventos: calendrio das prximas atividades do 35 CTG;- Galeria de fotos, links, associe-se, mapa das mesas: opes em construo.

    Como um website em fase inicial de construo, algumas opes ainda no estoativas, mas pode-se perceber no Mural de Recados o desejo de enriquecer a comunicaoentre os atores neste ambiente informacional. Vale destacar que os cones iconogrficos das

    bandeiras do Rio Grande do Sul e do Brasil conduzem o usurio ao ambiente colaborativo daWikipdia.A figura 5, a seguir, ilustra o website do CTG Jayme Caetano Braun sede em

    Braslia / DF que se apresenta estruturado em dois menus principais (lado direito e ladoesquerdo), com opes que contemplam:

    - Menu Principal: incio; sexta nativa; histrico do CTG; estatuto; como chegar noCTG; parceiros; fotos 2006/2007;

    - Interatividade: jornal O Continente; livro de visitas; dicionrio gacho; dicas teis;fale conosco; danas de fandango;

    - Servios: como ingressar CTG; jogo de truco; poesias crioulas; invernada esportiva; programao 20 anos CTG JCB; logomarca vencedora; conselho de vaqueanos;

    telefone; grupo campereando; aulas de danas; roupas gachas; costelo 02 set; noiteitaliana.

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    Figura 5 Website do CTG Jayme Caetano Braun Braslia / DFFonte: http://www.ctgjcb.com.br/ - Acesso em: 15 ago. 2007

    Apesar de no instalado no Rio do Grande do Sul, o CTG Jayme Caetano Braunpossui o ambiente informacional digital mais ilustrativo entre os analisados, contemplandoimagens estticas e dinmicas que fazem referncia a elementos da cultura gacha. Ainterao dos atores com o ambiente pode ser percebida via Livro de Visitas.

    Consideraes FinaisA infra-estrutura de conectividade da Internet um aparato tecnolgico que permite a

    comunicao de atores no processo de disseminao de elementos da tradio, objetivando

    manter vivo aquilo que se apresenta como origem dopovo gacho em seus aspectos culturaise histricos.

    Sem entrar na anlise dos contedos informacionais apresentados sob a forma deelementos da tradio gacha, preciso reconhecer que, de qualquer forma, ao navegar emambientes informacionais da Web o usurio tem contato com inmeras informaes edocumentos que possibilitam a construo de conhecimento sobre aspectos da tradio

    gacha ali apresentada.Da mesma forma, apesar dos questionamentos que possam incidir sobre a qualidade

    das informaes divulgadas tradicionalmente, os ambientes informacionais da Web permitemaos atores sociais envolvidos no desenvolvimento do website, tornarem-se agentes ativos no

    processo de armazenamento, organizao, recuperao e disseminao dos elementos datradio em estruturas hipertextuais.

    Isso significa que, pelas caractersticas prprias do meio utilizado, o website, mesmoque tenha sido produzido segundo um planejamento racional por aqueles que selecionam as

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    informaes e as apresentam como elementos da tradio, a construo do conhecimentoespecfico fica condicionado vontade do usurio, segundo suas prprias intenes,interesses, necessidades ou racionalidade.

    Diante disso, pode-se afirmar que o ato de buscar informao em ambientes

    informacionais digitais que disseminam os elementos da tradio gacha pode ser entendidocomo um exerccio de reconstruo subjetiva do conhecimento. Ento, pode-se dizer que, nocaso das tradies divulgadas via Internet, elas so duplamente re-inventadas: estosubmetidas s perspectivas de quem seleciona, organiza e dissemina os contedostradicionais, e lgica reconstrutiva daqueles que buscam tais informaes.

    Neste estudo, pode-se observar que, a despeito do inegvel potencial apresentado pelaWorld Wide Web, os sites analisados no utilizam em sua totalidade os recursos disponveisno meio digital, que contribuiriam para a disseminao de informaes de forma mais efetivae afetiva com imagens em movimento e sons, que facilitariam o entendimento dos aspectosdisseminados da cultura.

    Os ambientes informacionais em questo, no contexto da arquitetura da informao,

    esto estruturados em menus com acessos hierrquicos de informaes predominantementetextuais, possuemframes centrais que destacam as atividades culturais, sociais e esportivas desuas programaes, relacionam documentos institucionais que comprovam a autenticidade desuas entidades e apresentam informaes histricas do Rio Grande do Sul. Os contedosapresentados so considerados elementos da tradio gacha e foram selecionados, em geral,

    pelos atores desenvolvedores do website, como forma de disseminar aspectos da culturagacha, como por exemplo culinria, danas, poesias, atividades sociais e campeiras, entreoutros.

    No contexto da web 2.0, os websites podem ser mais colaborativos com relao aparticipao dos usurios na produo e transmisso dos elementos da tradio e da culturagacha, disponibilizando ferramentas que permitam a atuao efetiva na construo deespaos informacionais do tipo wikis para edio coletiva de informaes. Como exemplo,sugere-se a criao de ambientes que poderiam ser alimentados dinamicamente einterativamente pelos atores: a construo de dicionrios de vocabulrio gacho, de vdeoscom exibio de danas e msicas tpicas, transmisses online de eventos comemorativos.

    Finalizando, pode-se afirmar que os ambientes informacionais digitais e hipertextuaispossibilitam a disseminao de elementos da tradio e a manuteno da memria gacha, emum processo de comunicao dos atores, grupos e entidades relacionadas ao tradicionalismogacho.REFERNCIAS

    CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. 2ed. So Paulo: Paz e Terra, 1999.GIDDENS, A. Modernizao reflexiva. So Paulo: Ed. da UNESP, 1997.________. Modernidade e identidade pessoal. Oeiras: Celta Editora, 1997a.HABERMAS, J. A constelao ps-nacional. So Paulo : Littera Mundi, 2001.

    _______A incluso do outro. So Paulo : Loyola, 2002.HOBSBAWN, E.; RANGER, T. A inveno das tradies. So Paulo: Paz e Terra, 1997.HFFE, O. A democracia no mundo de hoje. So Paulo : Martins Fontes, 2005.LARA FILHO, D. de. O fio de Ariadne e a arquitetura da informao na www.DataGramaZero Revista de Cincia da Informao, v4, n.6, dez. 2003. Disponvel em: . Acesso em 12 ago 2007.LESSA, L. C. B. Nativismo. Porto Alegre: LP&M, 1985.

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    1Brasis Sulinos: gachos, matutos e gringos (Ribeiro, 1995).2 Em meados de 1940, o Rio Grande do Sul era palco do "americanismo". Revoltados com essa situao, em 1947, umgrupo de jovens fundou o Departamento de Tradies Gachas no Colgio Jlio de Castilhos, em Porto Alegre (GrmioEstudantil). A este grupo deu-se o nome "Grupo dos Oito", por serem oito componentes. Com o passar do tempo, osjovens, agora j em nmero maior, viram que o movimento precisava se alastrar. Foi quando em 24 de abril de 1948, foifundado o 35 CTG, o primeiro CTG fundado no RS. O 35 CTG foi o nome dado em homenagem RevoluoFarroupilha de 1835. Hoje, so milhares de CTGs espalhados pelo Brasil e tambm em outros pases.3

    20 de setembro considerado o Dia do Gacho pelo fato de ser o dia em que se iniciou a Revoluo Farroupilha e aluta pela independncia do Rio Grande do Sul: 20 de setembro de 1835.