Transferencia de Eletrons Em Sistemas Biologicos

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  • Quim. Nova, Vol. 25, No. 4, 624-638, 2002

    *e-mail: [email protected]

    TRANSFERNCIA DE ELTRONS EM SISTEMAS INORGNICOS DE VALNCIA MISTA

    Reginaldo C. Rocha e Henrique E. Toma*Instituto de Qumica, Universidade de So Paulo, CP 26077, 05513-970, So Paulo - SP

    Recebido em 3/5/01; aceito em 6/7/01

    ELECTRON TRANSFER IN INORGANIC MIXED-VALENCE SYTEMS. This article reports on some basic and conceptualprinciples concerning electron transfer (ET) and/or intervalence transfer (IT) phenomena in inorganic mixed-valence systems.

    Keywords: electron transfer; intervalence charge transfer; mixed-valence.

    INTRODUO

    Em um contexto bastante abrangente, os materiais de valnciamista1 so aqueles que contm ons em mais de um estado de oxida-o formal em uma mesma unidade molecular. Existem muitos exem-plos na bioqumica (p. ex. metaloenzimas contendo mltiplos stiosde transferncia eletrnica e clusters de ferro-enxofre), na qumicamineral (p. ex. magnetita), ou envolvendo slidos moleculares (p.ex. cermicas condutoras).

    De fato, a existncia de sistemas de valncia mista remonta histria evolucionria da Terra e de outros planetas. Alm disso, umavariedade de minerais de valncia mista tem atrado ateno desde aantiguidade. O carter de valncia mista , na verdade, responsvelpela colorao de vrios minerais bem conhecidos. Por exemplo, ocontrole dos estados de oxidao do ferro em seus xidos (FeO, Fe3O4,Fe2O3) foi elegantemente utilizado na pintura de vasos pelos gregosantigos para se produzir o preto e o vermelho caractersticos dascermicas ticas2.

    No entanto, somente h pouco mais de trs dcadas que osprimeiros artigos de reviso acerca dos compostos de valncia mistaapareceram na literatura3-5, na tentativa de se tratar os materiais devalncia mista como uma classe separada de compostos, cujas pro-priedades podiam ser correlacionadas com as estruturas molecularese eletrnicas de seus componentes. Desde ento, o fenmeno devalncia mista tem atrado o interesse de uma ampla variedade decientistas, que se estende de qumicos a fsicos, de bilogos agelogos.

    A qumica inorgnica, em especial, tem colaborado com grandeparte do conhecimento terico e experimental acumulado neste cam-po, principalmente atravs do estudo dos complexos polinuclearesde valncia mista6-9. Os compostos de coordenao tiveram, de fato,uma histria antiga dentro deste assunto. Por exemplo, o azul daPrssia, Fe[Fe(CN)6], que um complexo de valncia mista comuma estrutura do tipo Fe(II)Fe(III) mediada por pontes de cianeto,foi um dos primeiros materiais qumicos descritos na literatura hquase trs sculos10. Na realidade, o azul da Prssia prottipo deuma extensa srie de compostos do tipo M

    x[M(CN)5(L)]y, onde M

    e M so ons metlicos em estados de oxidao distintos, e L, umligante qualquer11,12. Esses compostos tm despertado interesse pelacapacidade de formar filmes12,13 finos e condutores, apresentandovariaes cromticas em funo das mudanas nos estados de oxida-o12.

    Todavia, somente no incio dos anos 70 do sculo passado queforam reportados os primeiros complexos planejados e preparadosem laboratrio, bem como estudados por meio de tcnicas modernasde espectroscopia e eletroqumica. Esse o caso do dmero -pirazina-bis{pentaaminrutnio}(5+), [(NH3)5Ru(pz)Ru(NH3)5]5+, que ficouconhecido como on de Creutz-Taube14 (Esquema 1), e do monoctionbiferroceno contendo grupos 5-ciclopentadienil como ponte15,[(cp)Fe(cp-cp)Fe(cp)]+ (Esquema 2).

    Desde ento, qumicos inorgnicos tm demonstrado grande in-teresse na explorao de molculas em que dois ou mais centrosmetlicos conectados por meio de um ligante-ponte (que normal-mente um orgnico heterocclico, mas pode variar desde entidadesmono- ou diatmicas at ligantes polifuncionais) apresentem algu-ma comunicao eletrnica metal-metal do tipo doador-aceitador.

    O grande sucesso dos sistemas de valncia mista, em particulardaqueles baseados em oligmeros de metais de transio, deve-se aoimportante papel destas espcies como modelos ideais na investigaode processos de transferncia eletrnica inter- e/ou intramoleculares.Isso porque a complexidade cintica e dinmica e o desconhecimentoda configurao nuclear/geomtrica em reaes de transferncia deeltrons intermoleculares tornam impraticvel o estudo direto de taissistemas. Por outro lado, o emprego apropriado de complexos devalncia mista tem sido eficaz dentro desse propsito, uma vez que a

    Esquema 2. O ction biferroceno

    Esquema 1. O on complexo de Creutz-Taube

  • 625Transferncia de Eltrons em Sistemas Inorgnicos de Valncia MistaVol. 25, No. 4

    natureza qumica do ligante-ponte mediador pode ser conveniente-mente escolhida e a estrutura molecular dessas espcies conhecidana etapa de transferncia eletrnica. Ademais, a estrutura eletrnicados membros que os compem pode ser modulada por meio de pertur-baes qumicas de esfera interna ou de esfera externa.

    Essa abordagem tem sido aplicada adequadamente para espciesmetal-orgnicas envolvendo principalmente alguns dos elementosda primeira e da segunda sries de transio (na maioria, complexoshomo- e heteronucleares contendo amina6-9,16-19, carboxilato6,9,16,18,20-23

    , cianeto6,7,9,16,17,19,24, fosfina25 e polipiridil-derivados6,8,9,26-30 comocoligantes e uma grande variedade de ligantes-ponte envolvendo gru-pos carboxilato, ciano, halo, hidroxo, nitro, oxo, e, principalmente,heterocclicos orgnicos nitrogenados6-9; ligantes-ponte oxigenadosno-inocentes, sejam eles do tipo dioxolenos8,31,32 ou poli-funcionais33,34, e sulfurados6,8,17,35,36 tambm tm sido empregados).Complexos dos elementos de transio do Grupo 8 (em particular,ons ferro6,9,16,17,19,24,29,36,37, rutnio6-9,16-23,26-28,30,36-38 e smio8,21,27,30,39-41com estados de oxidao +II e +III configurao eletrnica d6/d5de spin baixo) so especialmente interessantes devido a algumas ca-ractersticas tais como: cintica favorvel, estabilidade termodinmica,viabilidade sinttica, e qumica redox bastante flexvel6,38,42,43. Almdisso, no estado de oxidao formal +II, tais ons so fortes doado-res- que interagem eficientemente com ligantes aceitadores-6,38,43.

    As caractersticas combinadas dos complexos inorgnicos devalncia mista lhes atribuem propriedades supramoleculares origi-nais com aplicabilidade em diversas reas: converso de energia,novos materiais, catlise e eletrnica molecular, entre outros44.

    TRANSFERNCIA DE ELTRONS

    As reaes envolvendo transferncia de eltrons so onipresentesem sistemas biolgicos, fsicos e qumicos. Na natureza, a ocorrn-cia dessas reaes est intimamente relacionada aos processos detransferncia de energia, a exemplo do que se d no centro de reaofotossinttica, na fosforilao oxidativa, e em muitos outros eventoscom mltiplas etapas de transferncia de eltrons acopladas, tal comoocorre na cadeia respiratria.

    Em ltima anlise, o fenmeno de transferncia eletrnica semanifesta nos principais processos responsveis pela manutenoda vida. A compreenso das interaes desse tipo , portanto, crucialno entendimento de mecanismos de reaes fundamentais, o queexplica porque esta constitui uma das reas de pesquisa mais amplase ativas no mbito das cincias moleculares modernas45.

    As reaes de transferncia de eltrons podem variar desde mui-to simples at bastante complexas. No caso mais simples (como aquelerepresentado na Eq. 1)46, um eltron transferido em uma reao detroca (self-exchange) entre dois ons possuindo a mesma constitui-o molecular mas diferentes estados de oxidao. Nesse caso, noexiste mudana qumica no sistema.

    [RuIII(bpy)3]3+ + [RuII(bpy)3]2+

    (k = 1,2109 mol1 dm3 s1) (1) [RuII(bpy)3]2+ + [RuIII(bpy)3]3+

    Em contraste, a Eq. 2 ilustra um exemplo onde a reao total bastante complexa e envolve vrias etapas com transferncia de el-trons, bem como outras etapas de reaes intermedirias47.

    FeCl3 + 7 PhLi

    (2)[FePh4]4(Li+)4 + 3/2 PhPh + 3 LiCl

    No comeo dos anos 50, Taube48,49 props uma distino essen-cial entre duas classes de reaes de transferncia de eltrons: as queocorrem segundo um mecanismo de esfera externa, sem quebra ouformao intermediria de ligao qumica; e aquelas que se proces-sam de acordo com um mecanismo de esfera interna, onde um ligantedo tipo ponte conecta os grupos doador e aceitador em um complexobinuclear intermedirio durante a transferncia eletrnica.

    Exemplos clssicos de reaes de transferncia de eltrons deesfera externa50 so dados pelas Eqs. 1 46 e 3 51.

    [FeII(CN)6]4 + [IrIVCl6]2

    (k = 4,1105 mol1 dm3 s1) (3) [FeIII(CN)6]3 + [IrIIICl6]3

    Um exemplo bem conhecido de reao de esfera interna aqueleque se d entre os ons complexos [CrII(H2O)6]2+ e [CoIIICl(NH3)5]2+.49O on CrII, sendo bastante lbil, troca rapidamente um ligante guapelo ligante cloreto do on inerte CoIII (Eq. 4). Aps a etapa de trans-ferncia eletrnica no intermedirio binuclear contendo o cloretocomo ponte (Eq. 5), a labilidade invertida. O on CoII lbil e,portanto, perde o ligante cloreto, que permanece coordenado ao oninerte CrIII (Eq. 6)49.

    [CrII(H2O)6]2+ + [CoIIICl(NH3)5]2+

    (4) [(H2O)5CrII ClCoIII(NH3)5]4+

    (5) [(H2O)5CrIIICl CoII(NH3)5]4+

    (6)[CrIIICl(H2O)5]2+ + [CoII(H2O)(NH3)5]2+

    H+, H2O (7) 5 NH4+ + [CoII(H2O)6]2+

    Entretanto, os modelos mais simples para reaes de transfern-cia de eltrons de esfera interna so os complexos de valncia mista,cujo exemplo pioneiro representado pelo on de Creutz-Taube14(Esquema 1).

    Em um complexo desse tipo, a assimetria redox introduz umaperturbao eletrnica no sistema molecular, a partir da qual a osci-lao contnua de cargas promovida. A Eq. 8 ilustra o processopara o anlogo do on de Creutz-Taube contendo 4,4-bipiridina comoligante-ponte52-55.

    (8)

    A teoria cintica de Marcus56-58 para reaes de transferncia deeltrons de esfera externa e a teoria perturbacional de Hush5,59,60 paracomplexos de valncia mista do tipo doador-aceitador so ferramen-tas extremamente teis na compreenso do comportamento de taissistemas61.

  • 626 Quim. NovaRocha e Toma

    Um aspecto da maior importncia nesse tipo de reao a rela-o entre a velocidade de transferncia de eltrons62 e aexergonicidade, G0.63 Quando uma reao bastante exergnica(G0 > 0), pode-se eliminar a possibilidade de transfe-rncia eletrnica. Porm, a situao entre esses dois extremos qua-se sempre de muito interesse. Nota-se ainda que reaes moderada-mente endergnicas podem ocorrer se elas forem dirigidas por m-todos externos (p. ex. ptica ou eletroquimicamente). Nos casosisoergnicos (onde G0 = 0), tais como nas Eqs. 1 e 8, a barreiracintica (G) no zero e sua determinao experimental bastan-te relevante dentro dos modelos de Marcus e Hush5,57-60.

    Reaes de transferncia de eltrons de esfera interna so maisdifceis de se analisar do ponto de vista quntico, mas seus mecanis-

    mos moleculares complexos tm sido monitorados em muitos casos.A compreenso desses mecanismos tem sido aprofundada por meiode estudos da qumica dos complexos metlicos inorgnicos, parti-cularmente aqueles realizados por Taube43,49,65,66, Sutin67-69, Haim16,70,e colaboradores.

    As reaes de transferncia de eltrons fotoinduzidas26,30,71-74, poroutro lado, podem ser altamente endergnicas, o que permite estu-dar processos que seriam termodinamicamente proibidos, bem comoa cintica a eles associada.

    O estudo da transferncia eletrnica biolgica a longas distnci-as tem sido especialmente desafiador nas ltimas dcadas, tanto doponto de vista terico58,77-79 como do experimental34,80,81. Tunelamentoeletrnico e reconhecimento molecular so alguns dos conceitos es-senciais que tm sido estabelecidos por meio de tcnicas experimen-tais poderosas e precisas, tais como medidas de velocidade de rea-es de transferncia de eltrons dependente da temperatura e enge-nharia de protenas34,80,81 e de fragmentos de DNA82,83 modificadospor incorporao de complexos inorgnicos.

    Atualmente, alm de vrios livros66,71,73,78,84,85 e enciclopdias86enfatizando aspectos inorgnicos, orgnicos, fsicos e tericos, umgrande nmero de artigos de reviso sobre vrios aspectos de rea-es de transferncia de eltrons encontram-se disponveis (v. ref. 9e referncias citadas).

    Transferncia de Intervalncia

    A transferncia de intervalncia um caso particular de transfe-rncia de eltrons intramolecular que se manifesta em sistemasmoleculares contendo centros redox em diferentes estados de oxida-o9. Por isso que, quando um eltron transferido de um stiodoador (p. ex. menor estado de oxidao; redutor) para outro aceitador(p. ex. maior estado de oxidao; oxidante), diz-se que houve umatransio com mudana entre valncias, da o termo intervalncia.Interaes dessa natureza tambm so chamadas de transferncia decarga de intervalncia (IVCT) ou transferncia de carga metal-metal(MMCT). Em qumica inorgnica, esse fenmeno tem sido estuda-do principalmente em complexos bi- ou polinucleares de valnciamista6-9, o que constitui o tema central deste artigo.

    Uma transio de intervalncia um processo induzido por luzque, normalmente, pode ser monitorado atravs de uma banda deabsoro de baixa energia, na regio do infravermelho prximo. Es-sas bandas comumente apresentam uma estrutura vibracional bas-tante complexa, com dependncia de esfera interna e do solvente.

    Deve ser mencionado que bandas de intervalncia tambm po-dem ser observadas em complexos de esfera externa, do tipo[RuIII(NH3)6][FeII(CN)5(L)], onde a excitao ptica entre os centrosmetlicos se processa sem a intermediao de ligantes-ponte87.

    A partir da anlise dos processos de intervalncia (principalmenteatravs do formalismo perturbacional clssico de Mulliken-Hush5,59,60,embora modelos de acoplamento vibrnico mais recentes tenhamsido empregados88,89,90), qumicos e fsicos tm aprendido muito acercada natureza dos fenmenos de transferncia de eltrons ptica (oufotoinduzida) e dos mecanismos de acoplamento eletrnico edeslocalizao em sistemas do tipo doador-aceitador. Isso particu-larmente verdadeiro para sistemas de interao fraca (cargas locali-zadas) e de acoplamento forte (cargas deslocalizadas).

    SISTEMAS DE VALNCIA MISTA

    Tipos e Classificao de Sistemas de Valncia Mista

    Nas sees anteriores foi descrito que, para uma reao de trans-ferncia de eltrons ser exergnica (G < 0; termodinamicamente

    Figura 1. Diagramas75 ilustrativos de energia livre (G) em funo decoordenadas de reao (Q) para trs tipos de sistemas: (A) assimtrico(doador aceitador) e exergnico (G < 0); (B) simtrico (doador =aceitador) e isoergnico (G = 0); e (C) assimtrico (doador aceitador)e endergnico (G > 0). Nos diagramas, G a energia livre de ativaoda reao

  • 627Transferncia de Eltrons em Sistemas Inorgnicos de Valncia MistaVol. 25, No. 4

    favorvel) ou endergnica (G > 0; termodinamicamente desfavo-rvel), o sistema deve ser assimtrico. Isto , as espcies doadora eaceitadora de eltrons que o compem devem ser qumica e/ou ele-tronicamente distintas. Isso porque, em ambos os casos, os estadoseletrnicos dos reagentes e dos produtos devem ser diferentes paraque ocorra variao de energia durante o processo de transfernciaeletrnica.

    No caso especfico de um complexo binuclear assimtrico devalncia mista, este pode conter dois ons metlicos de elementosdiferentes (sistema assimtrico heteronuclear) ou dois ons metli-cos do mesmo elemento em diferentes ambientes qumicos (sistemaassimtrico homonuclear). Exemplos desses sistemas so dados pe-las Eqs. 9 e 10, respectivamente.

    [Cl(bpy)2OsIILRuIII(bpy)2Cl]n

    (9)[Cl(bpy)2OsIIILRuII(bpy)2Cl]n

    [(NH3)5RuIILRuIIICl(bpy)2]n+1

    (10)[(NH3)5RuIIILRuIICl(bpy)2]n+1

    (onde n = 3 se L for neutro)

    Uma reao isoergnica, por sua vez, quase sempre envolve umsistema simtrico homonuclear; isto , um sistema molecular con-tendo duas unidades terminais idnticas, a exemplo do on de Creutz-Taube (Esquema 1) e do dmero do tipo (-L)bis{bis(2,2-bipiridina)clororutnio}(II,III), conforme representado na Eq. 11.

    [Cl(bpy)2RuIILRuIII(bpy)2Cl]n

    (11)[Cl(bpy)2RuIIILRuII(bpy)2Cl]n

    (onde n = 3 se L for neutro)

    Os complexos de valncia mista so classificados de acordo coma intensidade da interao eletrnica entre os centros metlicos doa-dor e aceitador. Robin e Day3 propuseram trs categorias de sistemasde valncia mista:

    Classe I. A interao entre os centros redox to fraca que o siste-ma de valncia mista exibe somente as propriedades indi-viduais de cada um de seus componentes redox isolados(similar soma das unidades monmeras de partida). Essaclasse representada principalmente por sistemas con-tendo molculas de ponte isolantes (p. ex. cadeiassaturadas) e/ou longas distncias entre os stios doador eaceitador (p. ex. protenas quimicamente modificadas pelacoordenao de complexos de metais de transio em re-sduos perifricos, onde dET tipicamente maior que 1215 )34,77-81. Nesses casos, a reao no-adiabtica ( 1013 em sistemas for-temente acoplados de classe III.6

    Se a interao for fraca ou moderada (E1/2 < 100 mV), todas astrs espcies (O,O; O,R; e R,R) encontram-se presentes em soluo,e o valor de K

    c deve ser obtido atravs de medidas espectros-

    cpicas54,55. Sutton e Taube tm descrito um mtodo baseado natitulao do complexo com um agente redox54, onde a concentraomxima da espcie de valncia mista obtida indiretamente, pormeio da relao de absorbncia em funo do nmero de equivalen-tes da espcie titulante6.

    No entanto, se a interao forte o suficiente para promover umdeslocamento total do equilbrio da Eq. 12 no sentido favorvel rea-o de comproporcionamento, para fins prticos somente a espcie devalncia mista poder ser monitorada e a constante de compro-porcionamento, K

    c, poder ser estimada diretamente atravs dos da-

    dos eletroqumicos96, j que G0 = RT(lnKc) = n1n2F(E) (onde

    E = E1 E2, E1 e E2 so os potenciais associados aos pares redoxrepresentados nas Eqs. 15 e 16, e n1 e n2 so os nmeros de eltronscorrespondentes a cada uma dessas etapas, respectivamente).

    [O,O]y + n1 e [R,O]yn1 (E1) (15)

    [R,O]yn1 + n2 e [R,R]yn1n2 (E2) (16)

    Para uma reao genrica do tipo representado acima, a expres-so geral de K

    c dada por:96

    (17)

    Entretanto, para uma reao simples envolvendo 1 eltron (n1 =n2 = 1), conforme esquematizado nas Eqs. 18 e 19 (que o caso

    Figura 2. Curvas de energia potencial para reaes de transferncia deeltrons em sistemas de valncia mista simtricos com diferentes graus deadiabaticidade: (A) classe I, (B) classe II e (C) classe III. Nelas, o fatorde adiabaticidade92; a energia de reorganizao; J = HRP = Hab aenergia de ressonncia; e G

    o

    ++ a energia de ativao de ordem zero, na

    ausncia de perturbao. Cada um dos parmetros acima ser melhordefinido no texto a seguir

    Figura 3. Voltamograma cclico ilustrativo de uma espcie binucleargenrica do tipo MIII/IILMIII/II com interao eletrnica mensurvel

  • 629Transferncia de Eltrons em Sistemas Inorgnicos de Valncia MistaVol. 25, No. 4

    normalmente estudado em complexos de valncia mista com metaisde transio de configurao d5/d6 de spin baixo), a equao acimapode ser simplificada para resultar a Eq. 20.

    [MIIILMIII]x+1 + e [MIILMIII]x (E1) (18)

    [MIILMIII]x + e [MIILMII]x1 (E2) (19)

    (T = 298 K) (20)

    (na equao acima, a separao E1/2 deve ser dada em mV)

    A energia livre de comproporcionamento associada constantede equilbrio K

    c composta de uma soma de, no mnimo, quatro

    termos:

    Gc = G

    en + G

    el + Gs +Gd (21)

    onde Gen

    um fator entrpico que reflete a distribuio estatsticada Eq. 12 (avaliado como RT ln); G

    el um fator eletrostticooriundo da repulso dos dois centros metlicos carregados conectadospela ponte (este termo negligencivel em sistemas de interaomoderada ou forte; em sistemas de classe II fracamente acopladoscom K

    c < 30, seu valor tipicamente < 0,15 kcal mol1, o que equiva-

    le contribuio medocre de ~6,5 mV)6; Gs um fator sinergstico,

    oriundo da estabilizao por transferncia de carga e efeitos aceitador-doador de esfera externa (na maioria dos sistemas de classe II sim-tricos, este termo responsvel pela maior parcela na estabilizaoda espcie de valncia mista); e o quarto termo, Gd (fator dedeslocalizao ou ressonncia), , na verdade, o nico componenteda energia de estabilizao com origem na deslocalizao eletrnica(este o termo dominante em sistemas de classe III).

    Para sistemas fracamente acoplados, a magnitude de Gd (Eq.22)6 pode ser estimada a partir da energia de Franck-Condon, , e daenergia de ressonncia, H

    ab, que, por sua vez, pode ser extrada dosparmetros da banda de intervalncia (v. mais adiante). Gd comumente de ~1% do valor de H

    ab para a maioria dos sistemas decargas localizadas reportados na literatura6.

    (22)

    Em sistemas totalmente deslocalizados, Gd estimado por:

    Gd FE1/2 Hab Eop (23)

    A natureza do ligante-ponte desempenha um papel bastante im-portante na intensidade da comunicao eletrnica, especialmenteatravs de interaes de transferncia de carga combinadas do tipo(ligante)d(metal) e do tipo d(metal)*(ligante). Ligantes depequena dimenso molecular so mais eficientes que os de maioresdimenses e, para um dado ligante-ponte, a natureza eletrnica doon metlico e dos coligantes tambm pode exercer uma influnciadramtica sobre a magnitude do acoplamento eletrnico, cuja deter-minao o assunto da prximo item.

    Acoplamento Eletrnico e Deslocalizao

    O exemplo mais simples de molcula de valncia mista talvezseja o ction de hidrognio molecular, H2+. Nesse caso, a interaoentre as espcies doadora e aceitadora se d por meio de recobrimento

    orbital direto, promovendo a deslocalizao da carga que, nesse exem-plo em particular, responsvel pela ligao qumica.

    Contudo, na maioria dos complexos de valncia mistainorgnicos, os centros metlicos encontram-se separados por umaespcie conectora intermediria (chamada de ponte ou ligante-pon-te) a uma distncia suficientemente grande para promover uma per-turbao fraca ou moderada com localizao de cargas. Nesse caso,o recobrimento orbital entre os centros doador e aceitador despre-zvel e a interao eletrnica se propaga atravs do ligante-ponte,principalmente por meio de conjugao orbital do tipo 97.

    Se existirem estados redox localizados, o eltron mpar se com-portar como uma carga em oscilao contnua atravs do ligante-ponte. A Eq. 24 ilustra esse fenmeno para um complexo binuclearde valncia mista formado pela associao de ons do tipo MIII/MII(d5/d6 de spin baixo).

    (24)

    A medida direta da constante de velocidade de troca eletrnicaintermetlica (Eq. 25) pode ser muito difcil. Entretanto, o anlogoptico (transferncia induzida por luz; Eq. 26) normalmente podeser observado tanto em sistemas simtricos (M

    a = Mb; G0 = 0) como

    em assimtricos (Ma Mb; G0 0).

    (25)

    (26)

    O processo da Eq. 26 tambm pode ser representado pela transi-o eletrnica M

    a(d)(d)Mb relacionada transferncia de

    intervalncia, conforme explicitado abaixo:

    (27)

    onde d3 o nvel de energia d de maior energia entre os trs orbitaismetlicos do tipo t2g quase degenerados98.

    Em complexos de interao muito forte (classe III de acordocom a classificao de Robin e Day)3 o eltron mpar do estado devalncia mista est completamente deslocalizado entre os metais, euma descrio como [II,II] mais apropriada que [II,III] paraambos os estados de oxidao. Nesse caso, a promoo eletrnicado estado fundamental para um estado de maior energia (processoradiativo) ser efetivamente uma transio * (Eq. 28).

    (28)

    No entanto, em complexos onde a interao entre os metais moderada (classe II), as valncias so localizadas e uma descrio[II,III] se aplica. Nesse caso, existe a possibilidade de um eltron sertransferido do metal de menor estado de oxidao para o outro stiometlico de maior estado de oxidao (Eqs. 26 e 27).

    Esse tipo especial de transferncia de carga intramolecular foichamado de transferncia de intervalncia (IT) por Hush, mas co-mum encontrar na literatura atribuio do mesmo fenmeno trans-ferncia de carga metal-metal (MMCT).

    Modelo de Hush

    O objetivo deste tpico fornecer uma viso geral da teoriaperturbacional de Hush5,59,60 e introduzir as suas principais equaese relaes. No caso de interesse em uma abordagem mais aprofundadado formalismo envolvido, o leitor poder consultar o Apndice, ondese encontra um resumo do desenvolvimento do modelo, que base-

  • 630 Quim. NovaRocha e Toma

    ado no formalismo de Mulliken para complexos de transferncia decarga100,101.

    Em um complexo de valncia mista do tipo MIILMIII (comcargas localizadas), a interao eletrnica entre o doador (MII) e oaceitador (MIII) atravs do ligante-ponte mistura os carteres eletr-nicos e induz a transferncia eletrnica. Essa comunicao tambmcria uma base eletrnica para a induo da transferncia ptica dipolo-permitida, com a magnitude da perturbao refletindo sobre a inten-sidade da banda de transferncia de carga metal-metal. Para umabanda com formato Gaussiano em um sistema de dois nveis, a ener-gia de ressonncia (H

    ab) originada pelo acoplamento eletrnico e orespectivo grau de deslocalizao eletrnica (2) podem ser calcula-dos a partir das Eqs. 29 e 30, respectivamente.

    (29)

    (30)

    onde os parmetros envolvidos so: mx = Eop, a energia da absoro

    mxima;

    mx, a absortividade molar; e 1/2, a largura da banda

    metade de sua altura/intensidade, que so obtidos diretamente a par-tir da banda associada transferncia de intervalncia (v. banda deabsoro ilustrativa na Figura 4); e d, a distncia de transfernciaeletrnica (que usualmente assumida como sendo equivalente separao metal-metal)102.

    Outros formalismos tericos mais rigorosos do ponto de vistaquntico encontram-se disponveis atualmente88-90. Todavia, a teoriade Hush ainda parece apresentar mais vantagens e maioraplicabilidade para sistemas com acoplamento moderado que os de-mais, o que a transforma no modelo mais adotado pelos cientistas nombito das interaes eletrnicas doador-aceitador.

    Algumas Relaes de Marcus-Hush

    A Figura 5 ilustra algumas relaes energticas em um processode transferncia de intervalncia. Nessas curvas so utilizadas coor-

    denadas generalizadas que incluem as vibraes e as oscilaesacopladas do solvente, que so tratadas classicamente como um con-junto de osciladores harmnicos.

    Algumas relaes importantes entre transferncia de eltrons tr-mica e ptica podem ser derivadas diretamente por meio dessas cur-vas105. A energia de transferncia de eltrons ptica (

    mx ou Eop), porexemplo, ditada pela energia de reorganizao62 do sistema (),108que, por sua vez, uma funo de suas componentes de esferas in-terna (i) e externa (o). Para os casos simtrico e assimtrico, talrelao expressa pelas Eqs. 31 e 32, respectivamente.

    mx = = i + o (31)

    mx = G + = G + i + o (32)

    onde i e o so dadas pelas Eqs. 33 e 34 a seguir.

    (33)

    (34)

    Nas equaes acima, fR e fP so as constantes de fora para o n-simo modo vibracional das ligaes metal-ligante no reagente e noproduto; (qR qP) a variao de distncia e ngulo de ligao queacompanha a transformao do reagente em produto; rD e rA so osraios inicos dos reagentes doador e aceitador; rDA a distncia decontato (rD + rA); e op e s so as constantes dieltricas ptica (cor-respondente polarizao eletrnica do meio;

    op = 2) e esttica

    (permissividade relativa correspondente ao dipolo do solvente).O modelo acima assume uma coordenao esfrica onde cada

    um dos stios (D e A) representado pelo centro de sua esfera inica.Alm desse, um modelo elipsoidal tambm foi proposto porCannon109, onde se acredita que os elipsides representem melhor oformato/volume molecular do sistema doador-aceitador. Ambos osmodelos so fundamentados na aproximao do contnuo dieltrico;isto , assumem uma dependncia homognea das propriedades fsi-co-qumicas do solvente (

    op1

    s1).

    Figura 4. Espectros de absoro eletrnica tpicos de espcies isovalentesMIII-L-MIII e MII-L-MII (.....) e de valncia mista MII-L-MIII ou MIII-L-MII ().A banda associada transferncia de intervalncia ilustra alguns dosparmetros empregados na estimativa do elemento de matriz do acoplamentoeletrnico, H

    ab

    Figura 5. Diagramas de energia vs. coordenadas nucleares para umatransferncia eletrnica adiabtica e assimtrica104

  • 631Transferncia de Eltrons em Sistemas Inorgnicos de Valncia MistaVol. 25, No. 4

    Dessa forma, as transies de intervalncia tm sido bastanteteis na explorao de efeitos estruturais e de solvente em reaes detransferncia de eltrons. Por exemplo, nos complexos simtricos[Cl(bpy)2RuIII(L)RuII(bpy)2Cl]3+ (L = pirazina, 4,4-bipiridina, 1,2-bis(4-piridil)etileno), d aumenta de 6,8 para 13,8 atravs da srie.Nela, observou-se que E

    op (IT) varia com 1/op 1/s de acordo comas Eqs. 31 a 34 em uma srie de solventes orgnicos polares e au-menta com 1/d em CD3CN 6,110 (mx aumenta de 7700 a 10800 cm1e H

    ab diminui de 400 a ~150 cm1, no mesmo sentido). Ambos osefeitos so preditos pelo contnuo dieltrico resultante, assumindoduas esferas sem interpenetrao. Melhor concordncia foi obtidacom um modelo de cavidade elipsoidal111.

    Entretanto, importante mencionar que, devido aproximao docontnuo dieltrico, essa teoria funciona adequadamente para siste-mas relativamente hidrofbicos na ausncia de interaes especficasdo tipo soluto-solvente (p. ex. em complexos polipiridil-derivados) e/ou simtricos6, mas ela falha em complexos assimtricos contendosolvatao preferencial (p. ex. amina7,112, onde ligaes/pontes de hi-drognio podem ocorrer, e ciano-derivados113, onde a doao de umpar eletrnico resulta em interaes doador-aceitador). Isso porque osligantes de cada fragmento terminal possuem interaes especficascom molculas individuais do solvente, podendo, portanto, dar ori-gem a uma srie de fenmenos114. Por exemplo, a unidade metlicacontendo o stio oxidado (RuIII) em [(NH3)5RuIII(4,4-bpy)RuII(NH3)5]5+ seletivamente solvatada por dimetilsulfxido em mistura dedimetilsulfxido:acetonitrila. Isso maximiza a ligao de hidrogniosobre o on RuIII, que o mais cido115. Em [Cl(bpy)2OsIII(4,4-bpy)RuII(NH3)5]4+, os potenciais redox para OsIII/II e RuIII/II so muitoprximos devido natureza distinta dos ligantes presentes em cadacentro. Dessa maneira, a escolha apropriada do solvente pode provo-car a transferncia eletrnica dirigida RuIIOsIII, por otimizao dasinteraes do solvente com {RuIII(NH3)5}3+.112 Nesses casos, no hcorrelao definida entre E

    op e (op1 s1), sendo recomendvel a uti-lizao dos parmetros DN (donor number) ou AN (acceptor number)de Gutmann116 na racionalizao dos efeitos solvatocrmicos.

    Embora muitas anlises de constantes de velocidade de transfe-rncia de eltrons tenham demonstrado uma correlao evidente coma variao de parmetros estruturais de esfera interna (tal como dis-tncia de ligao metal-ligante)117, i s se torna bastante relevantequando ocorrem mudanas geomtricas drsticas com a transfern-cia de eltrons, como mudana de simetria molecular ou de nmerode coordenao; ou ento quando a reao se d em solventes apolares(nos quais a contribuio de

    o aproximadamente nula). Em

    solventes polares, o tipicamente da ordem de 1,01,5 eV, domi-

    nando totalmente a componente i, cujo valor tpico em complexosde valncia mista de configurao d5/d6 de spin baixo se insere nafaixa de 0,10,3 eV.6

    Evidentemente, a localizao/deslocalizao de cargas sobre osistema de valncia mista tambm exerce um papel determinante nacontribuio de cada um dos termos i e o. Esse aspecto, porm,ser enfatizado adiante junto com os critrios para se distinguir sis-temas de classe II ou classe III.

    As expresses dadas nas Eqs. 31 e 32 para mx esto relaciona-

    das s correspondentes energias de ativao para um processo detransferncia de eltrons trmico (G G

    o

    - H

    ab) por:

    (G = 0) (35)

    (G 0) (36)

    E a constante de velocidade de transferncia de eltrons :

    H

    (37)

    Nesses sistemas, a largura de meia-banda terica dada por:

    (38a)

    (38b)

    Nas relaes acima, as mudanas de freqncia nas vibraesacopladas e nas oscilaes do solvente (h h) esto includasem G como uma contribuio para a diferena entrpica entre es-tados (se = | | > kBT, deve-se incluir esta contri-buio explicitamente na barreira vibracional, uma vez que, nestecaso, a aproximao clssica no se aplica.

    Em complexos de valncia mista simtricos, as bandas deintervalncia so tipicamente encontradas na regio do infravermelhoprximo (de 1000 a 2000 nm, ou de 5000 a 10000 cm1). Elas po-dem aparecer em energias maiores para complexos assimtricos, jque

    mx depende de G. Alm disso, essas bandas normalmenteso largas e dependentes do solvente, com absortividade molar vari-ando de 10 a 104 mol1 dm3 cm1, dependendo do ligante-ponte.Ligantes pequenos com nveis ou * acessveis, tais como molcu-las diatmicas (p. ex. O2, N2, CN) e anis heterocclicos simplesconjugados (p. ex. pirazina), promovem acoplamento eletrnico maisforte por mistura do carter ligante nos orbitais d do metal.

    Distino entre Classe II e Classe III

    Basicamente, existem dois critrios prticos para se tentar dis-tinguir entre sistemas de classes II e III: (a) anlise da largura demeia-banda associada banda de intervalncia, e (b) investigao dadependncia de

    mx com o solvente.O primeiro critrio (a) foi proposto por Hush e decorre direta-

    mente das premissas do seu modelo perturbacional: se o sistemapossui cargas localizadas (perturbao fraca, de primeira ordem) entoa largura de meia-banda terica pode ser estimada atravs da Eq. 38,que, T = 298 K, resulta as Eqs. 39 e 40 para sistemas simtrico eassimtrico, respectivamente.

    1/2 = (2310 . mx)1/2 (39)

  • 632 Quim. NovaRocha e Toma

    1/2 = [2310 . (mx G)]1/2 (40)

    De acordo com essa proposio, o valor obtido dessa forma esta-ria no limite da transio carga localizada/carga deslocalizada. As-sim, se o valor obtido experimentalmente for superior ou igual aoprevisto pelas Eqs. 39 e 40, ento o sistema de classe II e a teoriade Hush se aplica. Se, por outro lado, 1/2 (experimental) < 1/2(calculado), ento o sistema se enquadra melhor na classe III deRobin-Day, com descrio de cargas deslocalizadas. Nesse caso, omodelo de Hush no se aplica adequadamente; todavia, ainda assim empregado freqentemente para fins comparativos6,9.

    O segundo critrio (b) deriva do fato de que, sendo um sistemade cargas deslocalizadas (classe III), no haver uma dependnciaentre energia de transferncia de eltrons ptica (

    mx) e energias dereorganizao (i e o), conforme indicado nas relaes de Hush-Marcus. Nesse caso, tanto as variaes de esfera interna como areorientao de dipolo do solvente ao redor dos centros redox dei-xam de ser importantes na escala de tempo das transformaes nu-cleares, uma vez que todos os modos se tornam mdios/simtricos(M

    aL MbL) e i no afetado. Da mesma forma, assumindo

    deslocalizao eletrnica completa, no haver variao lquida decarga entre M

    aII

    e MbII

    , de tal forma que a reorganizao do solventese torna irrelevante/invariante.

    As idias acima podem ser muito bem ilustradas atravs da Fi-gura 2C, onde os estados reagente e produto se encontram vertical-mente alinhados devido grande estabilizao por ressonncia (nolimite onde E

    op = 2Hab). Isso significa que a transferncia de cargano requer rearranjo nuclear.

    Uma comparao prtica dada pelos dmeros anlogos[{(NH3)5Ru}2(pz)]5+ 14 e [{(NH3)5Ru}2(4,4-bpy)]5+ 53-55: enquanto oprimeiro possui cargas deslocalizadas (com K

    c = 4106, H

    ab =

    3300 cm1, mx = 6400 cm1, mx = 5000 mol1 dm3 cm1, 1/2 =

    1200 cm1, e d = 6,8 )6 e Eop praticamente independe do solvente, o

    segundo apresenta comunicao eletrnica fraca entre os seus centrosmetlicos com cargas localizadas (os parmetros obtidos em D2O so:K

    c = 20, H

    ab = 390 cm1, mx = 9700 cm1, mx = 920 mol1 dm3 cm1,e 1/2 = 5200 cm1; d = 11,3 )6 e solvatocrmico conforme oesperado pela Eq. 34.

    Outro exemplo bastante contrastante envolve algumas espciesde valncia mista simtricas do tipo [{Cl(bpy)2M}2(pz)]3+. Confor-me mencionado anteriormente, no complexo com M = Ru, os doiscentros metlicos encontram-se fracamente acoplados eletronicamen-te6,110 ([Cl(bpy)2RuIII(pz)RuII(bpy)2Cl]3+; classe II). Diferentemente,no caso do complexo anlogo com M = Os, o ligante compacto e amaior extenso radial dos orbitais 5d do smio conferem umainterao intermetlica mais forte.41 Na espcie -pirazina-bis{pentaaminsmio}(5+), em particular, verificou-se uma totaldeslocalizao eletrnica120 ([(NH3)5OsII(pz)OsII(NH3)5]5+; classeIII).

    Embora essa distino entre sistemas de classe II e de classe IIIparea simples e inequivocada (e realmente o em sistemas tpicosde cargas totalmente localizadas ou completamente deslocalizadas),ela pode se tornar uma tarefa bastante rdua quando se trata de siste-mas com comportamento ambguo, no limiar das classes II e III (namaioria das vezes classificado como sistemas na fronteira das clas-ses II/III)9,18,22, ou mesmo quando se trata de um sistema com carac-tersticas de classe III.9,121 O on [(NH3)5Ru(pz)Ru(NH3)5]5+, por exem-plo, parece possuir cargas totalmente deslocalizadas (classe III), mas freqentemente dado como um sistema de comportamento inter-medirio, na situao limite classe II/classe III, ou at mesmo declasse II (dependendo da tcnica utilizada na caracterizao). A suaclassificao tem sido um tema de muita controvrsia na literatu-ra6,7,121.

    O desenvolvimento de modelos adequados para se elucidar oque se classifica como transio de comportamento localizado-deslocalizado em alguns sistemas , na verdade, um tema importan-te, bastante explorado e que permanece longe de estar esgotado emqumica de valncia mista. Diferentemente do que ocorre nos casostipicamente localizados ou deslocalizados, as ferramentas tericasdisponveis no explicam adequadamente as propriedades intrincadase originais desse tipo de sistemas. Com o avano dos mtodos desntese e das tcnicas fsico-qumicas, os resultados de estudos re-centes41 tm revelado que tais sistemas so bem mais complexos doque se imaginava. Esse aspecto da qumica de valncia mista temsido reconhecido como um dos mais importantes atualmente no con-texto dos processos de transferncia eletrnica.

    CONSIDERAES FINAIS

    Embora as transies de intervalncia consistam essencialmenteem processos de transferncia eletrnica intramolecular, o conheci-mento de seus mecanismos envolvidos em processos adiabticos eno-adiabticos pode ser til na investigao de reaes de transfe-rncia de eltrons intermolecular. Isso nos conduz principal razode se estudar complexos binucleares de valncia mista.

    Reaes de transferncia eletrnica a longa distncia so de consi-dervel importncia em muitas reas de qumica, variando desdebioinorgnica at dispositivos eletrnicos moleculares artificiais. Con-tudo, em muitos casos, a transferncia de eltrons entre molculas dependente de uma srie de fatores que no podem ser conhecidosdetalhadamente, tais como a separao entre os centros redox no pontode transferncia e a conformao molecular, entre outros. Por outro lado,em complexos de valncia mista a transferncia eletrnica ocorre dentroda unidade molecular, para a qual a distncia entre os metais, bem comoa estrutura eletrnica e conformao molecular do ligante-ponte so bemconhecidos. Sendo assim, um processo de transferncia de intervalnciaem uma molcula de valncia mista um modelo natural para uma rea-o de transferncia eletrnica intra- ou intermolecular, e a informaoa respeito do processo de transferncia de intervalncia bastante rele-vante para outros processos com transferncia de eltron(s). Alm disso,anlise da interao eletrnica nesses complexos permite comparar ahabilidade de determinados ligantes atuarem como fios moleculares (de-pendendo da capacidade condutora destes materiais) para um potencialemprego em dispositivos eletrnicos.

    Este campo de pesquisa emergiu em duas direes bsicas. Pri-meiro, os princpios delineados acima tm sido estendidos a umaampla variedade de unidades metlicas terminais conectadas porligantes-ponte dos mais variados tipos. Isso proporcionou uma me-lhor compreenso da dependncia da interao eletrnica com a na-tureza de diferentes ligantes e espcies metlicas. Segundo, tentati-vas esto sendo realizadas no sentido de se controlar essas interaesa longa distncia por mtodos de manipulao externa, tais como:controle conformacional e dimensional do ligante-ponte8,60,122,123;controle eletroqumico externo dos estados redox8,31,124 (em sistemasonde o ligante eletroquimicamente ativo); controle por mecanis-mos de isomerizao fotoqumica125; ou ainda, controle e induo dainterao metal-metal por meio de efeitos cido-base ou de pH.8,126,127Alm disso, transies de carga de intervalncia (envolvendo trans-ferncia eletrnica vetorial em complexos de valncia mista) sosolvatocrmicas, pois o grau de reorganizao da esfera de coorde-nao (que inclui solvatao) requerida nos dois stios durante a trans-ferncia de carga dependente do solvente. Dessa forma, os efeitosde ambiente (principalmente os do solvente) proporcionam uma ou-tra forma natural de se modular interaes metal-metal8,111,112,128.

    Portanto, tais complexos bi- ou polinucleares de valncia mistaconstituem alguns exemplos prottipos de chaves ou interruptores

  • 633Transferncia de Eltrons em Sistemas Inorgnicos de Valncia MistaVol. 25, No. 4

    moleculares123,129, cuja elaborao o primeiro passo na construode dispositivos eletrnicos moleculares, uma vez que um circuitointegrado consiste essencialmente de um grande nmero de chaves.

    Entre os vrios tipos de dispositivos e componentes que desem-penham funes eletrnicas em escala molecular, os fios molecularesso de fundamental importncia, pois podem operar como conectoresque controlam/medeiam o fluxo eletrnico entre os diferentes ele-mentos de um sistema eletrnico molecular8,130-132. Os fios molecularespermitem tanto a transferncia eletrnica a longas distncias quantoa interao/perturbao dos componentes afastados.

    Muito do atual conhecimento sobre conduo eletrnica em fiosmoleculares baseado nas informaes acumuladas nos ltimos 40anos de trabalho sobre transferncia eletrnica em molculas do tipodoador-aceitador. Dessa forma, conhecido que o acoplamento ele-trnico atravs de uma cadeia ligando um doador e um aceitadoreletrnico pode determinar a velocidade de transferncia eletrnicaentre os fragmentos terminais da molcula. Esse mesmo tipo deinterao mediada por ponte reconhecido como um fator crtico natransferncia de eltrons a longas distncias em muitas estruturasbiolgicas (p. ex. protenas redox modificadas81, centros de reaesfotossintticas74,79,133 e cidos nuclicos/DNA83), na conduo ele-trnica e/ou transporte de carga por meio de camadasmoleculares132,134-137 e em sistemas organometlicos138 oueletroqumicos84,135,139, na emisso de eltrons em certas classes deemissores137,140, em processos redox prton-acoplados141,142, ou ain-da na conduo atravs de fios moleculares131,132,134,137,143.

    Portanto, os oligmeros polimetlicos de valncia mista tam-bm exercem um papel de fundamental importncia neste campo.

    Paralelamente aos estudos de transferncia de eltrons ptica,um outro assunto de fundamental importncia no desenvolvimentoda eletrnica molecular corresponde aos processos fotoqumicos.Processos de transferncia eletrnica fotoquimicamente induzidosso diferentes do anlogo ptico porque ocorrem em duas etapas: aabsoro inicial de um fton por um cromforo produz um estadoeletronicamente excitado, que pode ser seguida de uma transfernciade eltron(s) para outro grupo que suprime o estado excitado inici-al27,71. Visto que o cromforo e o supressor esto diretamente ligadospor um ligante-ponte, a transferncia do(s) eltron(s) entre eles dependente das propriedades da ponte exatamente da mesma manei-ra que os exemplos de reaes de transferncia de eltrons pticadados anteriormente.

    Alternativamente, transferncia de energia pode ocorrer no casoda absoro de luz por um cromforo ser seguida pela emisso deluz de um outro, possibilitando, assim, a construo de fiosmoleculares fotnicos40,144. Exemplos interessantes de transfernciade energia entre unidades metlicas conectadas por cadeias longastm sido reportados39,40,145. A comunicao a longa distncia entrecromforo e supressor tambm depende das interaes entre os cen-tros, propagando-se atravs das redes de ligaes. Portanto, esse tipode interao tambm est sujeito a algum tipo de controle.

    Perspectivas

    Durante algum tempo (principalmente na dcada de 80), a im-portncia dos compostos de valncia mista esteve ligada busca pormateriais semicondutores e supercondutores. Os to celebrados xi-dos cermicos supercondutores em altas temperaturas so, na verda-de, materiais de valncia mista. Alm disso, esse fenmeno foi crucialpara a compreenso de muitos processos biolgicos, incluindo osmecanismos de transferncia eletrnica em metaloenzimas com ml-tiplos centros e da ligao de oxignio molecular a enzimas.

    Nos anos 90, a comunidade cientfica continuou demonstrandoum interesse crescente nos compostos de valncia mista e, com o

    surgimento de novas facilidades (mtodos e tcnicas modernas deinvestigao), este interesse dever aumentar progressivamente nes-te sculo. Isso porque a presena de valncia mista, em alguns tiposde sistemas, pode levar ao estabelecimento de um cdigo binrio decomutao, cuja manipulao desempenha um importante papel naprocura de materiais eletrnicos e/ou opto-eletrnicos moleculares.O mesmo vlido para os dispositivos de armazenamento de ener-gia.

    Atualmente, os campos de pesquisa de compostos de valnciamista envolvem as disciplinas de qumica, fsica e biologia. A nfaseterica envolve desde dmeros simples a oligmeros mais complica-dos e at slidos estendidos. Snteses laboriosas esto concentradasno controle fino da transio de comportamento localizado/deslocalizado. Tcnicas espectroscpicas pticas, magnticas e denutrons tm sido particularmente bem-sucedidas no estudo de sis-temas de valncia mista, as quais permitiram o mapeamento e a mo-dulao de estados vibracionais e magnticos de baixa energia, bemcomo a explorao de caractersticas especiais de novos estados ex-citados, pelo emprego de espectroscopia e fotoeletroqumica ultra-rpidas.

    O impacto do controle sobre os processos de transferncia deeltrons (bem como sobre os magneto-pticos) estende-se desde asreas tradicionais de eletrnica do estado slido, transporte de el-trons em semicondutores e estudo de metaloenzimas com mltiploscentros redox at a mimetizao de sistemas biolgicos (p. ex.fotossntese artificial), dispositivos de armazenamento de energia,sensores moleculares, e a rea recente de eletrnica molecular enanotecnologia.

    APNDICE

    A base do formalismo de Hush

    O modelo de Hush5,59,60 para acoplamento eletrnico metal-me-tal, que baseado em parametrizao espectroscpica, teve a suaorigem no tratamento perturbacional de Murrell146 e foi derivado dateoria das interaes doador-aceitador de Mulliken101.

    De acordo com esse formalismo, o campo de potencial do onaceitador no-reduzido tratado como um termo de perturbao noHamiltoniano que opera sobre a funo de onda de ordem zero (noperturbada), D, que descreve o sistema quando o eltron mpar a sertransferido se encontra completamente localizado sobre o stio doa-dor. O estado de ordem zero com o eltron totalmente localizadosobre o on aceitador denominado A.

    As funes de onda resultantes (perturbadas) para ambos os es-tados fundamental (Eq. 41) e excitado (Eq. 42) so escritas como:

    D = D + A (41)

    A = A + D (42)

    Murrell derivou as expresses perturbacionais para e pararesultar as Eqs. 43 e 44, respectivamente.

    (43)

    (44)

    onde

  • 634 Quim. NovaRocha e Toma

    (45)

    e

    (46)

    Assumindo-se que || >> ||, ento o momento de transio (naaproximao do dipolo eltrico) entre D e A ser dado pelas Eqs.47 e 48.

    (47)

    (48)

    Hush destacou que, no limite onde SAD ~ 0 (isto , quando aintegral de recobrimento entre A e D for negligencivel), a Eq. 48se reduz seguinte frmula simplificada:

    (49)

    onde e0 a carga do eltron e r (igual a d na notao utilizada nesteartigo) a distncia entre os stios doador e aceitador.

    A magnitude da fora do oscilador, fosc

    , por sua vez, pode serestimada experimentalmente dos dados espectroscpicos pela Eq.50 5,147,148 e teoricamente pela Eq. 51 5,94,147:

    !!

    !"!

    (50)

    "#

    (51)

    onde, na Eq. 50, a absortividade molar () e a largura de meia-banda(1/2) so dados em mol1 dm3 cm1 (ou cm2 103/mol) e cm1, respec-tivamente149; e, na Eq. 51, as unidades de MDA so eltron ngstrm(e ).

    Dessa forma, o momento de transio dado por:

    (52)

    e segue que

    $

    (53)

    onde a distncia d = rDA dada em , e a energia de transio(E

    op) em cm1, que comumente obtida de mx.150A partir das Eqs. 43 e 44 no limite S = 0, conclui-se que a ener-

    gia de ressonncia resultante da interao eletrnica (por transfern-cia de carga) em um sistema fracamente acoplado dada pela ex-presso final (Eq. 55) da Eq. 54, que exatamente a frmula deHush introduzida nas sees anteriores.

    (54)

    (55)

    Neste artigo, utilizou-se o smbolo Hab para se referir energia

    de acoplamento eletrnico. Essa a notao mais comum entre osqumicos inorgnicos, apesar de no ser difcil encontrar outras for-mas como HDA ou J.

    AGRADECIMENTOS

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo(FAPESP) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico eTecnolgico (CNPq) pelo apoio financeiro.

    REFERNCIAS E NOTAS

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    90. Apesar de vrios modelos com nfase nas propriedades de esfera internaterem sido descritos91, o tratamento vibrnico de Piepho, Krausz e Schatz(que conhecido por modelo PKS)88 tem recebido maior ateno. Emboraesse formalismo seja quanticamente mais rigoroso, apenas os modosvibracionais internos e simtricos so levados em conta, por meio defreqncias mdias concernentes s ligaes metal-ligante. Isso temlimitado a sua aplicao a alguns poucos sistemas deslocalizados, j queem sistemas de perturbao moderada os modos do solvente (efeitos domeio) se tornam bastante relevantes. Nesse aspecto, o modelo clssico deHush5 apresenta vantagens. Alm disso, o ltimo mais comumenteutilizado pela pouca complexidade terica e por sua parametrizaoespectroscpica, tornando mais vivel a tarefa de se comparar dados comsries de sistemas reportados em literatura.

    91. Mayoh, B.; Day, P.; J. Am. Chem. Soc. 1972, 94, 2885; Mayoh, B.; Day,P.; Inorg. Chem. 1974, 13, 2273; Ratner, M.; Ondrechen, M.; Mol. Phys.1976, 32, 1233; Lauher, J.; Inorg. Chim. Acta 1980, 39, 119; Burdett, J.E.; Comment. Inorg. Chem. 1981, 1, 85; Zhang, L.-T.; Ko, J.; Ondrechen,M. J.; J. Phys. Chem. 1989, 93, 3030.

    92. O fator de adiabaticidade o coeficiente de transmisso eletrnica qued a probabilidade de um eltron passar do estado inicial do reagente parao estado final do produto no ponto de interseo de suas superfcies emuma reao trmica (Q = 0,0; onde as configuraes nucleares de ambosdevem ser idnticas para que se processe a transferncia eletrnica). Porsua vez, essa probabilidade depender do grau de mistura eletrnica entreos dois estados, que representada pela energia de ressonncia, J = HRP =H

    ab. A constante de velocidade de transferncia de eltrons dada pelaequao de Eyring (k =

    nexp(-G/RT)) contm um termo pr-

    exponencial representado pelo produto do fator de freqncia nuclear, n(cujo valor mdio em soluo assumido como 61012 s-1) e da constante

    de adiabaticidade definida acima. Assim, Marcus tem chamado deadiabticas ( = 1) as reaes em que o desdobramento de 2H

    ab em Q =0,0 grande o suficiente para no limitar a velocidade de transfernciaeletrnica. Quanto menor for H

    ab, menos adiabtica e, conseqentemente,mais lenta se tornar a reao. Quando 0 < 1, ento a reao no-adiabtica. Newton e Sutin68 propuseram o valor de H

    ab = 0,025 eV comocritrio de distino entre transferncia de eltrons adiabtica e no-adiabtica. Em uma situao limite, a estabilizao por ressonncia togrande que apenas um mnimo de energia correspondendo ao estadofundamental do sistema (deslocalizado) observado. A teoria de Marcuss se aplica corretamente para as reaes de transferncia de eltronsadiabticas, que o caso mais freqente.

    93. Jortner, J.; Pullman, B., eds.; Tunneling, Reidel: Dordrecht, 1986; Compton,R. G., ed.; Electron Tunneling in Chemistry, Elsevier Science Pub.: NewYork, 1989.

    94. Szabo, A.; Ostlund, N. S.; Modern Quantum Chemistry: Introduction toAdvanced Electronic Structure Theory, McGraw-Hill: New York, 1989;Levine, I. N.; Quantum Chemistry, 4a ed., Prentice-Hall: Englewood Cliffs,1991.

    95. Kaim, W.; Kasack, V.; Inorg. Chem. 1990, 29, 4696.96. Richardson, D. E.; Taube, H.; Inorg. Chem. 1981, 20, 1278; Richardson,

    D. E.; Taube, H.; Coord. Chem. Rev. 1984, 60, 107.97. Estudos com ligantes saturados e/ou espiralados de vrias extenses tm

    demonstrado que hiperconjugao- tambm pode promover umaressonncia doador-aceitador bastante significativa, cuja magnitude nopode ser justificada exclusivamente com base em efeitos de tunelamentoatravs da rede de ligaes do tipo 6,8.

    98. Uma possvel complicao a existncia de mltiplas transies deintervalncia no espectro de baixa energia em alguns sistemas particulares.Baixa simetria molecular e acoplamento spin-rbita desdobram os orbitaisd, provocando transies sobrepostas de cada um dos orbitais cheios doon MII para o orbital semipreenchido do on MIII: d12, d22, d32 (MaII) d31 (MbIII). Somente a transio de menor energia d32 (MaII) d31(MbIII) relevante para a transferncia de eltron(s) trmica, desde que asoutras possveis transies geram estados excitados interconfiguracionaisem MIII. Dessa forma, o processo d12 (MaII) d31 (MbIII) deve resultarem M

    aIII

    a configurao d12, d22, d31 em vez de d11, d22, d32.9999. Kober, E. M.; Goldsby, K. A.; Narayana, D. N. S.; Meyer, T. J.; J. Am.

    Chem. Soc. 1983, 105, 4303.100. Robert S. Mulliken, 1896-1986 (University of Chicago, IL, USA). Laureado

    com o Prmio Nobel de Qumica de 1966 por seu trabalho fundamentalsobre ligaes qumicas e estrutura eletrnica de molculas pelo mtododos orbitais moleculares.

    101. Mulliken, R. S.; J. Am. Chem. Soc. 1950, 72, 600; Mulliken, R. S.; J. Am.Chem. Soc. 1952, 64, 811; Mulliken, R. S.; Person, W. B.; MolecularComplexes, Wiley: New York, 1969.

  • 637Transferncia de Eltrons em Sistemas Inorgnicos de Valncia MistaVol. 25, No. 4

    102. O parmetro d no denominador da Eq. 29 se refere, na verdade, distnciade transferncia eletrnica real (isto , /e), e no separaogeomtrica metal-metal. Estudos recentes de espectroscopia Stark103 tmdemonstrado que dET normalmente menor que a distncia de separaoentre os centros metlicos doador e aceitador, dM-M. No entanto, valoresde dET nem sempre so acessveis, j que a sua determinao envolve ouso de tcnicas no-convencionais e pouco disponveis. Por isso que a gran-de maioria dos dados reportados na literatura atualmente envolvem dM-M eno dET. Contudo, importante reconhecer que as magnitudes da energiade acoplamento eletrnico e da deslocalizao determinadas dessa formaso intrinsecamente subestimadas.

    103. Karki, L.; Lu, H. P.; Hupp, J. T.; J. Phys. Chem. 1996, 100, 15637; Bublitz,G. U.; Boxer, S. G.; Annu. Rev. Phys. Chem. 1997, 48, 213; Bublitz, G.U.; Laidlaw, W. M.; Denning, R. G.; Boxer, S. G.; J. Am. Chem. Soc. 1998,120, 6068; Vance, F. W.; Slone, R. V.; Stern, C. L.; Hupp, J. T.; Chem.Phys. 2000, 253, 313.

    104. Conforme deve ter sido notado, os diagramas de energia em funo daconfigurao nuclear foram representados por energia livre de Gibbs,enquanto muitos outros autores utilizam curvas de energia potencial. Porisso importante comentar que, de acordo com Marcus e Sutin69, energiasde transio ptica (tais como EIT) esto relacionadas variao de energialivre, e no de entalpia ou de energia interna.

    105. Uma diferena conceitual bastante importante entre transferncia de eltronsptica e trmica que, no processo induzido por calor, deve haver umrearranjo estrutural que precede a etapa de transferncia eletrnicapropriamente dita. Isto , o sistema deve atingir a configurao representadano ponto de interseo entre as curvas de energia do reagente e do produto,onde as coordenadas nucleares de ambos os estados so idnticas. Emdecorrncia do princpio de Franck-Condon106, no processo induzido porluz a transio entre os estados ocorre verticalmente, sem rearranjo nuclearprecedendo a etapa de transferncia eletrnica. Portanto, imediatamenteaps a transferncia do(s) eltron(s), o produto se encontrar naconfigurao nuclear de equilbrio do reagente. Posteriormente, o sistemavibracionalmente excitado relaxa (dentro da escala de tempo vibracional)para resultar o produto em seu estado fundamental de equilbrio106.

    106. O princpio de Franck-Condon94 implica que, durante uma etapa elementarde transferncia de eltrons (trmica ou fotoinduzida), as posies dostomos (esferas interna ou externa) permanecem inalteradas. Ou seja, comoas freqncias de deslocamento vibracional (1012-1013 s-1), orientao dosdipolos do solvente (1011-1012 s-1) e difusional (109-1011 s-1) so muitomenores que a eletrnica (~1015 s-1), o processo de transferncia eletrnica praticamente instantneo em relao s etapas de rearranjo nuclear queo precedem/sucedem107.

    107. Libby, W. F.; J. Phys. Chem. 1952, 56, 863; Libby, W. F.; J. Chem. Phys.1963, 38, 420.

    108. Equivale energia de Franck-Condon em sistemas simtricos.109. Cannon, R. D.; Chem. Phys. Lett. 1977, 49, 299.110. Powers, M. J.; Meyer, T. J.; J. Am. Chem. Soc. 1980, 102, 1289.111. Brunschwig, B. S.; Ehrenson, S.; Sutin, N.; J. Phys. Chem. 1986, 90, 3657;

    Brunschwig, B. S.; Ehrenson, S.; Sutin, N.; J. Phys. Chem. 1987, 91, 4714.112. Hupp, J. T.; Neyhart, G. A.; Meyer, T. J.; J. Am. Chem. Soc. 1986, 108,

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    121. Somente para o complexo de Creutz-Taube, por exemplo, existe mais deuma centena de artigos dedicados especificamente a esse problema.

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    149. A expresso aproximada final de fosc

    assume que o clculo ser efetuadopara uma banda simtrica com um perfil tipicamente Gaussiano.

    150. Isso rigorosamente verdadeiro somente para bandas com formatoGaussiano5,60.