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  • AA SSEEGGUURRAANNAA DDOO SSAANNGGUUEE

    As transfuses com sangue contaminado pelo HIV so responsveis por 5% a 10% dos casos de transmisso do vrus nos pases em desenvolvimento. A garantia de um estoque suficiente de sangue seguro implica desafios ticos e financeiros nos pases com poucos recursos, onde muitas pessoas correm o risco de serem infectadas ou j esto vivendo com HIV. Coletar sangue contaminado perda de tempo e dinheiro, alm de colocar em risco a vida dos pacientes que o recebem.

    A epidemia de HIV/AIDS teve um impacto enorme sobre as estratgias de coleta de sangue. Apesar dos doadores ideais serem os adultos e jovens saudveis, eles provavelmente so sexualmente ativos e tambm correm risco de serem infectados pelo HIV. Outras pessoas relutam em doar sangue porque no querem enfrentar a possibilidade de estarem infectadas ou temem que seu sigilo no seja protegido. Outras, ainda, usam o servio de coleta de sangue como forma de descobrirem sua situao quanto ao HIV.

    As pessoas que tm resultados positivos para o vrus da AIDS precisam ser encaminhadas para

    orientao e acompanhamento. Deve-se proceder de maneira a no invadir a privacidade das pessoas, nem permitir que sejam questionadas sobre o motivo pelo qual no esto doando sangue.

    Cada vez mais, os bancos de sangue esto relacionando informaes sobre doao de sangue no contaminado com a prtica do sexo mais seguro, alm de estarem trabalhando mais de perto com organizaes e servios de sade envolvidos em preveno e tratamento do HIV. A colaborao ajuda a tornar a coleta de sangue seguro mais fcil e bem-sucedida: a equipe pode explicar ao pblico o que acontece durante o processo da coleta, enfatizando a grande responsabilidade de doar sangue no contaminado.

  • EESSTTRRAATTGGIIAASS PPAARRAA OO SSAANNGGUUEE SSEEGGUURROO Receber uma transfuso de sangue contaminado pelo HIV acarreta um risco de mais de 95% de transmisso do vrus.

    Ao Anti-AIDS explica como tornar o sangue seguro.

    DOANDO SANGUE SEGURO A melhor maneira de garantir que o sangue doado no est contaminado encorajar a doao

    de pessoas que:

    no sejam pagas e queiram doar sangue voluntria e regularmente estejam em situaes de baixo risco de infeco pelo HIV e outras infeces transmitidas

    atravs do sangue sejam saudveis, para no prejudicarem a prpria sade, no estejam grvidas ou anmicas

    nem sofrendo de qualquer infeco sejam informadas sobre os testes a serem feitos em seu sangue doado,inclusive de HIV.

    EVITANDO DOAES SEM SEGURANA

    A opo por doadores pagos uma forma que pode levar a um comrcio de sangue ilegal e a um estoque nada seguro. As pessoas que precisam vender seu sangue para viver so, freqentemente, as que correm maiores riscos de serem portadoras de doenas serias e transmissveis.

    A doao de sangue nunca deve ser compulsria e nem deveria ser feita em instituies como prises ou foras armadas. Mesmo que as autoridades encorajem as doaes voluntrias, quase sempre difcil para essas pessoas decidirem livremente se desejam doar sangue. Os resultados positivos de testes geralmente resultam em discriminao, como o isolamento na priso ou a dispensa das foras armadas.

    Em reas rurais, onde os estoques de sangue so escassos, os membros da famlia dos pacientes so convidados a doar sangue. Entretanto, isso deve ser evitado, a menos que no exista outra alternativa. Em algumas reas onde h muitas pessoas HIV+, boa parte do sangue doado por parentes est contaminado e precisa ser descartado.

    Os familiares doadores devem sempre ser orientados antes da doao e seu sangue s deve ser coletado caso se enquadem nos critrios nacionais para doao de sangue. Se no tiverem o HIV, devem ser estimulados a doar com regularidade.

    PRINCIPAIS PONTOS

    Os servios de sangue usam trs estratgias bsicas para reduzir o risco de transfuses de sangue contaminado: Recrutamento e orientao de doadores voluntrios gratuitos que estejam em situaes de baixo risco de infeco Examinar todo o sangue doado fazendo testes de HIV e outras infeces transmitidas pelo sangue Reduzir o nmero de transfuses de sangue e produtos derivados do sangue.

    Os servios de sangue esto desenvolvendo essas estratgias atravs do estabelecimento de um

    processo de seleo de doadores, do treinamento da equipe em tcnicas de educao e orientao, do fornecimento regular de equipamento para coleta, exame e armazenagem de sangue, da determinao de diretrizes para transfuses de sangue e da garantia do controle de qualidade.

  • s vezes, mesmo uma pessoa que apresente o sangue com resultado negativo pode ter o HIV - em geral devido ao perodo de incubao. Os testes de HIV no detectam o prprio vrus, mas os anticorpos produzidos pelo sistema imunolgico em resposta infeco. Entretanto, o organismo pode levar at trs meses para produzir os anticorpos.

    Durante o perodo de incubao, um exame de anticorpos para HIV vai ter um resultado

    negativo, ainda que o HIV esteja presente no sangue e possa ser transmitido. Por isso, muito importante que qualquer pessoa que tenha corrido algum risco durante os ltimos trs meses seja orientada a no doar sangue.

    Se um banco de sangue testar no mnimo 40 amostras por dia, o teste ELISA o mais

    indicado, em razo do custo. Se forem menos de 40 amostras, deve ser feito um exame de HIV mais rpido e simples. No entanto, testes muito sensveis podem produzir resultados falsamente positivos (sangue com resultado positivo que, na verdade, negativo). Assim, um resultado positivo no significa necessariamente que a pessoa est infectada pelo HIV.

    No se deve informar pessoa depois de apenas um teste com resultado positivo. Deve-se

    testar uma segunda amostra de sangue, preferencialmente atravs de um teste diferente. No precisa ser um teste WESTERN, mas deve ser feito em separado e verificado com rigor. A pessoa s deve ser informada sobre seu estado de infeco pelo HIV se os resultados de ambos os testes forem positivos e caso seja possvel oferecer orientao e acompanhamento de apoio. REDUZINDO AS TRANSFUSES DE SANGUE

    Apesar dos procedimentos rigorosos para examinar o sangue, algumas unidades de sangue contaminado podem escapar do controle. importante reduzir ao mnimo o nmero de transfuses, para manter o risco de infeco o mais baixo possvel, alm de reduzir os custos e o uso de produtos derivados do sangue.

    O mais importante prevenir as doenas que exijam transfuses de sangue. Nos pases em

    desenvolvimento, a maior parte das transfuses feita em crianas e mulheres, devido anemia ou complicaes do parto. Os programas comunitrios de assistncia mdica precisam oferecer tratamento para malria e verminose em gestantes e crianas vulnerveis, assim como melhorar a nutrio, a qualidade da gua e o saneamento.

    Agradecemos ao Dr. Jean Emmanuel, chefe, Unidade de Segurana do Sangue, OMS;

    Dr. Robert Beal, diretor interino, Departamento de Sangue, IFRCRC; Sr. David Mvere, diretor tcnico,

    RK Shamu, Servio Nacional de Transfuso de Sangue, Zimbbue; Dra. Zarina Bharucha, chefe,

    Departamento de Medicina de Transfuso, Tata Memorial Hospital, Bombay, ndia.

    Fonte deste artigo: TANESA Project, PO Box 434, Mwanza, Tanznia.

  • O QUE HEPATITE B?

    Todo o sangue deve ser examinado para ver se est contaminado pela hepatite B, infeco por um vrus que pode afetar o fgado. A infeco pode ser assintomtica, mas so comuns os sintomas de cansao, ictercia e perda de apetite. A maior parte das pessoas se recupera completamente da infeco inicial aguda sem qualquer tratamento, mas 10% tm hepatite crnica, continuam a infectar outras pessoas e correm perigo de vida ao desenvolverem cirrose heptica.

    O vrus pode ser transmitido pela saliva e por outras secrees do organismo. Formas

    comuns de transmisso so: da me infectada para o beb, antes ou depois do parto; durante o sexo sem proteo com um parceiro infectado; por uma transfuso de sangue contaminado; pelo contato ntimo com uma pessoas infectada, usando a mesma escova de dentes ou gilete e por seringas contaminadas.

    A nica maneira de saber se uma pessoa est com hepatite B atravs do exame de sangue.

    As pessoas portadoras do vrus precisam ser educadas sobre como se cuidar, limitando a ingesto de bebidas alcolicas, evitando a transmisso por escovas de dentes ou giletes e praticando sexo seguro. Em alguns pases, as crianas so vacinadas rotineiramente contra a hepatite B, assim como os parentes prximos das pessoas com hepatite crnica.

    O sangue pode ser examinado para verificar se est contaminado com hepatite C, uma forma

    de vrus descoberta recentemente, transmitida principalmente pelo sangue e que causa doena crnica na maioria das pessoas infectadas.

  • SSAANNGGUUEE SSEEGGUURROO EE SSEEXXOO MMAAIISS SSEEGGUURROO A educao e a orientao para os doadores no s ajudam a tornar seguro o estoque de sangue mas tambm a promover

    um comportamento sexual mais seguro. EDUCAO DO PBLICO

    Informaes bsicas so apresentadas em folhetos, artigos de jornal, campanhas de rdio e televiso. O recrutamento de doadores pode ser feito durante as campanhas ou palestras em igrejas e escolas, por exemplo. As mensagens devem enfatizar as razes para se fazer a doao, incluindo histrias sobre as vidas salvas por transfuses de sangue. A educao tambm deve ressaltar a necessidade de se fazer a doao responsvel, sem colocar os pacientes em risco de infeco pelo HIV e outros vrus. ANTES DE DOAR SANGUE

    Quando as pessoas chegam ao centro de coleta ou s unidades mveis, bom conversar ou mostrar um vdeo, em grupos pequenos, explicando o processo de orientao e coleta de sangue. As principais mensagens so: que acontece quando a pessoa decide doar sangue por que so necessrias doaes seguras e regulares sangue doado testado para verificar a presena de HIV e outras infeces fatos bsicos sobre HIV e sua preveno sigilo garantido a importncia de decidir no doar sangue se achar que pode ter o HIV ou uma outra infeco

    (auto-excluso) onde buscar orientao e teste de HIV se desejar.

    ORIENTAO INDIVIDUAL

    O ideal que cada doador em potencial tenha uma conversa individual com um agente de sade treinado, antes do sangue ser coletado. A equipe precisa ser capaz de dar informaes corretas, perguntar e responder com sensibilidade e encaminhar as pessoas a outras fontes de apoio.

    Quem deseja doar sangue pode no ter parado para pensar que pode ser HIV+. Por outro

    lado, muito importante evitar que usem os servios de doao de sangue como centros de teste. O(A) orientador(a) ou enfermeiro(a) deve verificar se a pessoa entende como o HIV transmitido, explicar que testes sero feitos, por que e qual o perodo de incubao. O profissional de sade tambm deve explicar que o sangue pode no ser usado por algumas outras razes, inclusive anemia ou sfilis, que podem ser curadas.

    Os doadores precisam entender por que so necessrias perguntas pessoais, como atividade

    sexual e uso de drogas injetveis. Discutir tais questes pode ajud-las a decidir se devem doar sangue ou excluir-se por terem corrido risco de contrair o HIV.

    Em Honduras, o Programa Nacional de Sangue da Cruz Vermelha oferece orientao prvia a

    doadores voluntrios. So distribudos folhetos com informaes sobre o HIV e explicaes a respeito da importncia de no haver doao de sangue quando a pessoa participou de atividades associadas ao risco de infeco.

  • Cada doador em potencial orientado a ler o folheto. Um enfermeiro encoraja as perguntas e verifica se as informaes foram bem entendidas. Depois, faz perguntas especificas sobre o comportamento sexual, sobre todas as formas de sexo sem proteo, inclusive o sexo com outros homens e qualquer histria de doenas sexualmente transmissveis.

    TEMORES SOBRE A DOAO DE SANGUE "Tenho receio de que o resultado de meus testes de HIV e sfilis sejam divulgados." Um bom sistema para manter o sigilo precisa ser desenvolvido e explicado claramente aos doadores. "Tenho medo de ser infectado com o HIV ao doar sangue." No h risco de infeco porque para cada pessoa usada uma agulha e uma seringa novas. "Receio que doar sangue cause fraqueza ou infertilidade." Muitos doadores tm doado seu sangue ao longo de mais de 50 anos, at quatro vezes ao ano, sem qualquer prejuzo para sua sade. "No posso doar sangue porque acho que estou anmico." Antes de colher o sangue, um teste simples feito com uma gota de sangue de uma picada no dedo para verificar se a pessoa est anmica. "Odeio agulhas." Um anestsico local aplicado na pele para garantir que a doao no seja dolorosa. O doador no precisa observar o procedimento. "D muito trabalho e estou ocupado." Doar sangue pode significar a vida de um paciente. Mesmo as pessoas muito ocupadas sempre podem arranjar tempo de doar.

    Quando essa sesso de orientao foi introduzida, em 1991, a prevalncia do HIV entre

    doadores de sangue caiu de 0,38% para 0,19% um ano depois, embora o nmero total de hondurenhos com HIV tenha continuado a crescer.

    Se doarem sangue, os doadores precisam decidir se querem saber o resultado do teste de HIV

    Como j explicado na pgina 3, essa opo s deve ser oferecida se for possvel fazer um segundo teste e houver servios de orientao e apoio disponveis.

    APS DOAR SANGUE

    bastante difcil para muitos servios de transfuso de sangue oferecer orientao para as pessoas com resultados positivos aps a doao. Se no houver disponibilidade de servios de orientao, assistncia e tratamento, as pessoas no devem ser informadas sobre o resultado. possvel, no entanto, estabelecer ligaes de encaminhamento com organizaes de orientao j existentes (ver pgina 9).

    Os doadores negativos recebem publicaes convidando-os a doar novamente ou a participar de organizaes de doadores de sangue. Isto oferece uma excelente oportunidade para reforar a

  • educao que receberam antes de doar sangue. Desta forma, so encorajados a se tornarem doadores regulares, alm de conversar com outros sobre sexo e sangue seguros. Agradecemos ao Dr. E Vinelli, diretor mdico, Programa Nacional de Sangue, Cruz Roja Hondurefla; Dr. D. Mvere, diretor tcnico, Servio Nacional de Transfuso de Sangue, Zimbbue; Dr. S. Kalibala, UNAIDS; Dr. Y Sliep; Dr. Chaivej Nuchprayoon, diretor, Centro Nacional do Sangue, Thai Red Cross Society.

    European Commission 1995, Safe blood in developing countries: file lessons from Uganda. MANTENDO O COMPROMISSO

    O Servio Nacional de transfuso de Sangue do Zimbbue descobriu que estudantes acima de 16 anos tm nveis baixos de infeco pelo HIV. A educao bsica dada em palestras nas escolas, onde os estudantes so convidados a doar sangue em unidades mveis de coleta. Todo ano, dado um prmio escola da regio que teve o maior nmero de doadores. Alguns estudantes so recrutados tambm para serem agentes dentro das escolas, treinados em educao para doao de sangue e envolvidos em planejamento de material didtico e formas de abordagem. Nessas escolas, o recrutamento dobrou e os estudantes tm maior probabilidade de continuar doando sangue.

    Os estudantes contribuem atualmente com 65% do estoque de sangue do pais. A equipe est

    consciente, entretanto, de que novas infeces pelo HIV so comuns mesmo entre grupos com taxas mais baixas de presena do HIV. Em algumas reas, por exemplo, o nmero de meninas em idade escolar com HIV est aumentando muito rapidamente.

    MANTENDO A SEGURANA

    A anlise de informaes sobre doadores de sangue mostra que os doadores adultos, que voltam para doar sangue e receber orientao, apresentam menor probabilidade de ter infeces transmissveis pelo sangue do que os doadores principiantes. As pessoas que j doaram sangue precisam ser estimuladas a doar regularmente e a continuar se precavendo contra o HIV.

    O servio de sangue do Zimbbue busca os estudantes que deixam a escola, convidando-os a

    se registrarem para participar de sesses regulares de coleta de sangue em centros comunitrios locais. Os doadores, entre os estudantes que deixaram a escola, triplicaram desde o inicio do programa, em 1993, e a anlise mostra que continuam a apresentar baixos nveis de HIV. Alguns estudantes estabeleceram o clube da "Promessa 25" em 1994: ao conclurem os estudos prometem doar sangue 25 vezes em suas vidas e tentar permanecer HIV negativos. Para conseguir isso, os membros do clube e agentes entre os estudantes comemoram um Dia Nacional dos Jovens Doadores, sempre em dezembro, quando novos doadores so recrutados.

    No Zimbbue, insgnias, bons, lenos e placas so dados aos doadores regulares adultos. So realizados eventos especiais, onde as pessoas que doam sangue h muito tempo so homenageadas. A cobertura da imprensa nesses eventos ajuda a motivar outras pessoas a doarem sangue. Os doadores regulares tambm tm um papel fundamental como educadores e figuras modelo em suas comunidades.

  • INFORMAES PARA DOADORES DE SANGUE

    Seu nome no ser usado em nenhum banco de sangue. Usaremos o nome de solteira de sua me, seu local e data de nascimento.

    Voc receber um nmero de cdigo que vai ser usado em todos os seus registros e amostras de sangue.

    Voc dever responder a algumas perguntas sobre sua sade para garantir que doar sangue no vai prejudic-lo.

    Voc dever responder a algumas perguntas sobre sua vida privada para termos certeza de que os resultados dos testes esto corretos.

    Ser tirada uma amostra de sangue atravs de uma picada no dedo, para verificar se voc tem sangue suficiente para doar

    Se tiver, coletaremos seu sangue. Depois, pediremos a voc para descansar durante alguns minutos, fazer um lanche para repor o liquido perdido e tomar comprimidos de ferro para ajudar seu corpo a repor rapidamente o sangue doado.

    O sangue que voc doou ser testado para verificar se tem vrus de hepatite e HIV. Os resultados desses testes ficaro disponveis para voc (e mais ningum) em duas semanas,

    se desejar tomar conhecimento deles.

    Por favor, no doe sangue se:

    nos ltimos seis meses voc fez sexo sem ser seguro; ou no ltimo ano voc:

    a) tomou qualquer injeo fora de hospital ou clnica b) sofreu escarificao cutnea ou cortes feitos por curandeiro c) fez alguma cirurgia; ou

    se voc teve hepatite (ictercia e olhos amarelados) se voc est grvida, teve mal ria ou alguma infeco sexualmente transmissvel.

    Por favor doe:

    se voc j doou antes e foi considerado seguro quando j tiverem passado trs meses de sua ltima doao.

    Adaptado do folheto do Servio de Informao sobre Transfuso de Sangue de Uganda.

  • QQUUAANNDDOO OO TTEESSTTEE PPOOSSIITTIIVVOO Orientar os doadores quando seu teste positivo representa um desafio para os servios de sangue e grupos de orientao.

    Seria ideal que as pessoas com possibilidade de ser HIV positivas no doassem sangue. Entretanto, se a pessoa decide doar, deve ter a opo de saber ou no seu resultado.

    A pessoa s deve ser informada se dois resultados forem positivos e houver possibilidade de oferecer orientao e acompanhamento com apoio. Depois de conversar com um orientador, a pessoa pode decidir no doar sangue, mas pode desejar ser encaminhada para fazer o teste de HIV. Muitos servios de sangue esto tentando estabelecer ligao com servios de orientao de ONGs e hospitais.

    As ONGs que do orientao, entretanto, tm dificuldade em acompanhar os doadores. No

    Zimbbue, por exemplo, algumas ONGs informaram que menos de metade das pessoas encaminhadas retornou para orientao. As razes mais comuns incluem; falta de disposio de ir ao centro de AIDS do local; temor sobre o tipo de infeco revelada no exame ou medo de estar com HIV; receio de ser encaminhado a um orientador j conhecido da pessoa; dificuldade de se deslocar para o centro de orientao durante o horrio de trabalho; e problemas com o servio de correios.

    Os servios de orientao sobre HIV recebem freqentemente o encaminhamento de pessoas

    com outras infeces, como sfilis ou hepatite, mas os orientadores podem no ter informaes suficientes sobre essas doenas. JOVENS DOADORES Em muitos pases, so recrutados doadores em idade escolar porque esto em situao de baixo risco. Pode ser melhor recrutar estudantes que j atingiram a maioridade legal e que, por isso, podem concordar em ser testados e receber os resultados sem a autorizao dos pais. Alguns bancos de sangue pedem que os pais aprovem a participao de seus filhos, embora ainda se discuta sobre o envolvimento dos pais na orientao, se o jovem for HIV+. Pode ser mais difcil informar e apoiar confidencialmente os jovens com testes positivos, especialmente se estiverem na escola e outros alunos passarem a ser doadores regulares.

    Agradecemos ao Dr. S. Kalibala, UNAIDS, e ao Dr. David Mvere, NBTS, Zimbbue.

  • ORGANIZAES DE ORIENTAO PODEM AJUDAR O SERVIO DE TRANSFUSO DE SANGUE:

    encorajando professores ou patres a liberarem tempo suficiente para educao e orientao antes, e orientao e apoio depois da doao

    educando a equipe do servio de sangue, professores e patres sobre o HIV, para assegurar que o sigilo seja respeitado e no haja discriminao.

    OS SERVIOS DE SANGUE PODEM AJUDAR OS ORIENTADORES:

    organizando orientao adequada antes de tirar o sangue, para ajudar as pessoas a decidirem no doar quando se envolveram em atividades de risco, ou a estimul-las a voltar para orientao se forem informadas de possveis resultados positivos

    garantindo que, se o primeiro teste de HIV for positivo, um segundo ser realizado, antes de se notificar algum de que est soropositivo

    tendo certeza de que informaes de encaminhamento esto sendo transmitidas ao servio de orientao antes de serem remetidas ao doador, de modo que o orientador esteja inteiramente informado e tenha tempo para se preparar

    assegurando que a informao para o doador contenha as vantagens de conhecer o resultado. ORIENTAO EFICIENTE

    Sempre que possvel, a mesma pessoa deve orientar antes e depois da doao, antes de encaminhar o doador a um servio de assistncia.

    A orientao antes da doao deve incluir uma conversa sobre o que significa para uma pessoa saber seu estado em relao ao HIV.

    Os doadores de sangue devem estar cientes de que sero encaminhados ao servio de assistncia se seu sangue no puder ser usado devido a outras infeces, como mal ria ou anemia, e no apenas HIV.

    Os doadores precisam entender o significado de um resultado no definido ou falso positivo.

  • ENCARTE BRASILENCARTE BRASIL

    SSAANNGGUUEE:: VVIIDDAA OOUU MMOORRTTEE

    A realidade do sangue no Brasil no satisfatria. Os rgos de fiscalizao tm revelado irregularidades que comprometem a qualidade do sangue. A imprensa, s vezes, ocupa o papel - que deveria ser do Estado - de denunciar as mazelas do setor. A situao fica mais preocupante quando o prprio Ministrio da Sade, no inicio de 1996, provocado pela opinio pblica, determina o levantamento dos 100 maiores bancos de sangue do Brasil, que so responsveis por 90% das transfuses e consomem 80% dos recursos financeiros gastos pelo ministrio em todo o territrio nacional. O relatrio, na poca, apontou que 60% dos bancos de sangue foram classificados como insatisfatrios com ressalvas e 40% foram classificados como insatisfatrios. Alguns foram at fechados por oferecer risco sade da populao. A SITUAO NO RIO

    O Rio de Janeiro no fica longe dessa realidade. Vrias denncias chegam ao conhecimento da populao, mostrando que os sistemas pblico e privado do sangue apresentam grandes distores. Inclusive o maior banco de sangue privado da regio, o Instituto de Hematologia Santa Catarina, foi interditado por desrespeitar as normas bsicas de qualidade e segurana no manuseio do sangue. E, como se no bastasse, a Secretaria Estadual de Sade confirmou as denncias de superfaturamento das cobranas feitas junto ao governo.

    60% dos bancos de sangue de todo o territrio nacional foram classificados como insatisfatrios com ressalvas, e 40% foram

    classificados como insatisfatrios.

    Outro relatrio importante da Comisso Estadual de AIDS, rgo da Secretaria Estadual de Sade, revelou um quadro mais gritante e criminoso, que num pais srio j teria determinado a priso dos gestores pblicos. O relatrio mostra que, de 1984 a 1995, quase mil pessoas contraram o vrus da AIDS devido ao sangue contaminado. Apesar dos avanos da medicina no sentido de conter as formas de contgio do HIV o resultado do levantamento revela uma clara omisso das autoridades responsveis pela sade pblica. Apesar dos dados revelados j representarem um nmero alarmante, sabemos que o sistema de notificao das doenas contagiosas inoperante e muitos casos sequer so informados.

    Isso nos faz reconhecer que a quantidade de pessoas infectadas provavelmente muito maior que o divulgado pelo relatrio. O que mais nos entristece saber que, apesar das sucessivas denncias, muito pouca coisa tem sido feita para reverter essa macabra realidade.

  • A CPI DO SANGUE Em maro de 1996, o Dr. Jorge Darze, diretor da Federao Nacional dos Mdicos, fez chegar s mos da Comisso de Sade da Assemblia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), na poca presidida por mim, um extenso relatrio onde identificava diversas irregularidades e pedia a instalao de uma Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) para investigao das denncias e identificao dos responsveis. Atravs da resoluo 249/96, a ALERJ aprovou a instalao da CPI do Sangue e a partir desse momento, com a assessoria do autor da denncia e da Dra. Adlia Nascimento Louzada, chefe do Banco de Sangue do Hospital Geral de Bonsucesso, os trabalhos da comisso foram iniciados.

    A programao da CPI estabeleceu uma amostragem dos bancos de sangue pblicos e privados do estado, at porque a estrutura da comisso era insuficiente para investigar todo o setor. Alm das visitas realizadas, foram convocadas autoridades das trs esferas do governo responsveis por bancos de sangue, da Vigilncia Sanitria e de instituies correlatas ao trabalho da CPI. Foi extenso o rol de irregularidades constatadas nas nove unidades hemoterpicas inspecionadas em Niteri, So Gonalo, Itabora, Duque de Caxias, Campos e Rio de Janeiro. Destacamos as mais graves:

    Ausncia de responsvel tcnico nas unidades visitadas Equipamentos com desgaste e conservao precria Falta de Anti-HCV na triagem para hepatite C Irregularidade e/ou ausncia de testes para detectar a contaminao do sangue Realizao de transfuso diretamente do doador para o receptor com risco de contaminao

    pelo HIV e hepatite

    "De 1984 a 1995, quase mil pessoas contraram o HIV no Rio de Janeiro devido a sangue contaminado"

    Cmaras de conservao de hemcias com defeito Bolsas de plasma e concentrados de hemcias com prazo de validade expirado Atendimento feito por pessoal no treinado e lanche precrio ao doador No realizao de exames de anemia no doador Aferio incorreta da quantidade de sangue coletado Sangue testado acondicionado no mesmo local do sangue no testado Bolsas sem etiquetas para identificar o sangue Inexistncia de triagem clnica para verificao de doenas Ineficcia no controle de qualidade do sangue Temperaturas inadequadas para conservao do sangue e dos hemoderivados Quantidade insuficiente de estoques de sangue para transfuso em casos de emergncia reas fsicas inadequadas para triagem, coleta e fracionamento do sangue.

  • EM BUSCA DE AES CONCRETAS

    Diante de tantas evidncias e dos contundentes depoimentos prestados em audincias na ALERJ, a CPI sugere em seu relatrio final que o governo do estado instaure inqurito administrativo na Secretaria Estadual de Sade, a fim de apurar as responsabilidades pela ineficcia na fiscalizao das unidades.

    Prope ainda que a Secretaria de Sade, articulada ao Ministrio da Sade, defina as

    atribuies das reas federal, estadual e municipal, com relao s aes do sangue, aplicao de recursos financeiros e fiscalizao do cumprimento das normas. Tambm foi sugerida a instalao de centros de referncia nos municpios, para que se regule o abastecimento de sangue nas reas carentes, suprindo a atual deficincia no setor com a implantao efetiva da hemo-rede.

    O quadro constatado pela CPI do Sangue deixa patente que o Artigo 196 da Constituio

    Federal, que define a sade como "direito de todos e dever do Estado", vem sendo desrespeitado. Fica evidente ainda que a crise na rea no existe por falta de legislao, na medida em que temos uma das melhores no pais. Ela existe, sim, devido insensibilidade e omisso de nossas autoridades.

    Tnia Rodrigues Deputada estadual do Partido dos Trabalhadores do Rio de Janeiro e vice-presidente da Comisso de Sade da Assemblia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) Veja na pgina 20 trechos do que a Constituio Brasileira determina sobre os direitos do cidado sade, incluindo a questo do sangue.

  • PPAASSSSOO AA PPAASSSSOO DDAA DDOOAAOO DDEE SSAANNGGUUEE

    A doao de sangue algo vital no suporte clnico e cirrgico de muitos pacientes internados. essencial nos transplantes e no tratamento das leucemias.

    Em nosso pais existem normas legais que estabelecem a rotina efetuada nos servios de

    hemoterapia. Todas as etapas da doao devem seguir esta rotina, desde o atendimento inicial ao doador, a realizao dos testes sorolgicos nas amostras de sangue dos doadores, at a fase final em que o paciente recebe a transfuso.

    Qualquer cidado entre 18 e 60 anos, em boas condies de sade, poder doar sangue. Ao comparecer para doao, a pessoa no dever estar em jejum, apenas deve evitar alimentos gordurosos. Para doar necessrio que o indivduo esteja com um documento de identificao (carteira de identidade ou profissional). Com este documento ser feita a ficha de cadastro, que contm os dados pessoais de identificao do doador e onde sero registrados os resultados dos testes sorolgicos realizados.

    Aps o cadastro, sero verificados o peso, a altura, a temperatura do doador, assim como a presena ou no de anemia. Aps esta fase inicial, o doador ser entrevistado em relao a vrios aspectos de sua sade e de seus hbitos e tambm sero verificados a sua presso arterial e seu ritmo cardaco. A entrevista clnica a parte mais importante. Nesta etapa fundamental a veracidade das informaes fornecidas pelo doador - qualquer omisso ou informao falsa poder acarretar em riscos adicionais para o paciente que receber o sangue. A COLETA EM SI

    Sendo o indivduo considerado apto para doar sangue, ser encaminhado sala de coleta. Neste local feita a identificao de tubos e bolsas de sangue que sero utilizados para a coleta do sangue. Vale ressaltar que todo o material utilizado para a coleta descartvel, isto , s ser utilizado uma nica vez, no oferecendo riscos para os doadores. Muitos doadores se preocupam com esta etapa depois do advento da AIDS. Porm, no h nenhum risco para o doador.

    A bolsa um conjunto estril (livre de germes) que contm em seu interior uma soluo

    anticoagulante e nutridora. Esta soluo impede o sangue coletado de coagular e contm elementos essenciais que nutriro o sangue durante o seu armazenamento at a transfuso. A bolsa plstica poder ser nica ou, na grande maioria das vezes, ter uma ou duas bolsas satlites que permitiro o fracionamento do sangue (separao do plasma, hemcias e plaquetas).

    O procedimento de doao consiste de uma assepsia (descontaminao) do brao do doador com lcool a 70% e povidine, puno da veia e coleta da bolsa de sangue e de amostras. Esta etapa de curta durao - alguns minutos. Aps a doao o doador encaminhado para o lanche, que tradicionalmente oferecido a todo indivduo que doa sangue.

  • ANLISES LABORATORIAIS

    Terminada esta etapa, o sangue e as amostras vo para os respectivos laboratrios de fracionamento e sorologia. No laboratrio de fracionamento as bolsas de sangue so centrifugadas em centrifugas refrigeradas e o sangue separado em seus diferentes componentes, isto : concentrado de hemcias, concentrados de plaquetas e plasma fresco. Devido a diferenas biolgicas de cada componente, estes so preservados de formas diversas. O plasma fresco armazenado em freezer (-18o C), os concentrados de hemcias em geladeira (+4o C) e os concentrados de plaquetas em agitao constante (a +22o C).

    Todos estes componentes ficaro armazenados em lugar separado at a liberao dos resultados dos exames pelo laboratrio de sorologia e imunohematologia. No laboratrio de imunohematologia ser realizada a classificao do grupo sangneo do doador. No laboratrio de sorologia realizam-se os exames, que visam o controle da transmisso de doenas atravs das transfuses, para as doenas transmitidas pelo sangue. A rotina de testes sorolgicos executados em cada amostra de doador a seguinte: testes para sfilis, doena de Chagas, hepatites B e C, vrus da AIDS, vrus HTLV-I/II e a dosagem de uma enzima produzida pelo fgado (ALT).

    Quando algum destes exames apresenta resultados positivos ou duvidosos a bolsa de sangue

    descartada e no ser utilizada em hiptese alguma. Em nossa instituio o sangue contaminado ou suspeito incinerado. As amostras com resultados negativos nestes exames tero suas respectivas bolsas liberadas para o uso clnico.

    Os doadores que apresentaram qualquer resultado positivo ou duvidoso em qualquer um dos

    exames sero convocados para a coleta de uma nova amostra de sangue e esclarecimento mdico em relao ao resultado do exame. s vezes, pode-se ter resultados considerados falsos positivos, isto , quando um teste executado em uma nova amostra em que no se confirma o resultado inicial. Neste caso, o doador estar liberado para novas doaes. Porm, se o resultado inicial for confirmado na segunda amostra, o doador ser orientado e encaminhado para acompanhamento mdico.

    Estes so os procedimentos normais de doao e as diferentes etapas realizadas com o sangue coletado desde sua coleta at sua utilizao final, a transfuso. importante lembrar que as pessoas que desejarem apenas a realizao de exames sorolgicos no devem doar sangue, pois podero expor o paciente a riscos adicionais.

    Dra. Selma Magalhes Brito Chefe da Unidade de Hemoterapia/ Hospital Universitrio Pedro Ernesto Universidade do Estado do Rio de Janeiro

  • OOSS HHEEMMOOFFLLIICCOOSS EE AA AAIIDDSS

    H dois anos participei de um encontro em Santa Catarina que, coincidentemente, aconteceu na semana de 1o de dezembro. Ao final do ltimo dia manifestei meu repdio, pois no havia ocorrido um nico ato em relao ao Dia Mundial de Luta contra a AIDS. No seria de espantar, no fosse o evento um encontro de hemoflicos.

    Apesar de acreditar que a atuao dos hemoflicos junto aos vrios segmentos da sociedade

    ocorra de maneira tmida, percebo que fui um pouco compulsivo em minha avaliao, pois, se o movimento hemoflico no se expe tanto hoje em dia, no passado foi de fundamental importncia para muitas conquistas ocorridas em sade pblica e controle da qualidade do sangue.

    A hemofilia uma anomalia gentica que ocorre muito mais em homens do que em mulheres

    e se caracteriza pela deficincia de coagulao do sangue. Quando um vaso sangneo se rompe e um sangramento se inicia imediatamente, uma srie de protenas do sangue entra em reao com a finalidade de formar uma "gelatina" (o cogulo) no vaso e cessar o sangramento. O hemoflico no produz uma dessas protenas ou a produz em quantidade insuficiente, de tal forma que a cadeia de reao no ocorre. No acontecendo a reao, a "gelatina" no se forma e, conseqentemente, o sangramento no pra. Basicamente so conhecidos dois tipos de hemofilia: a hemofilia A (onde a protena deficiente o fator VIII) e a hemofilia B (onde o fator deficiente o IX).

    As hemorragias mais comuns nos hemoflicos no so as externas, mas as internas, que geralmente ocorrem dentro de articulaes, como joelhos e cotovelos, e que levam a um inchao com muita dor. Para estancar esses sangramentos necessrio que o hemoflico receba a protena que lhe falta. Essa protena somente pode ser obtida a partir do sangue de outras pessoas, e preciso um grande nmero de doadores para se chegar a uma quantidade de fatores suficientes para cada hemorragia. Da o risco que esses pacientes correm e o fato desse grupo de usurios de sangue ter sido o mais atingido pela transmisso. O APARECIMENTO DO HIV

    Nos anos 80, um grande nmero de hemoflicos se infectou com o HIV. Foi, sem dvida, uma poca muito difcil para esta comunidade j to sofrida em outros tempos. Na escola, no trabalho e em diversas esferas os hemoflicos sentiram na carne a desconfiana e o preconceito que a "nova era" trazia. nesse ponto, talvez, que resida o segmento de luta que a comunidade se engajou. A AIDS era, em resumo, mais um obstculo biolgico na vida de um hemoflico, e a briga pelo controle do sangue e esclarecimentos sociedade ganharam a ponta.

    A hemofilia, por sua vez, se no conhecida pela sociedade, era pelo menos lembrada e as

    "pessoas mais cultas" se enchiam de brilho ao demonstrar que sabiam que esse grupo de indivduos era mais um, alm dos homossexuais e usurios de drogas injetveis, que corriam o risco de se infectarem com o terrvel vrus da AIDS. Alis, os hemoflicos e outros politransfundidos passaram a ser considerados as "vtimas inocentes" da AIDS, que no haviam adquirido o vrus atravs de condutas "pecaminosas" ou "marginais".

  • A circunstncia pela qual a transmisso ocorreu uma vertente que precisa ser melhor discutida. De forma pattica, os produtores de hemoderivados e servios de sade vieram se redimir das conseqncias com base no argumento desses grupos de indivduos terem se infectado numa poca em que a cincia no dispunha de mecanismos e exames que pudessem impedir a transmisso.

    Nesse ponto, duas consideraes so de fundamental importncia. Em primeiro lugar, algum tempo se passou para que os centros de sade acordassem para o perigo que a comunidade vinha correndo, e a infeco continuou acontecendo mesmo nas pocas em que se cobrava um melhor controle do sangue. Em segundo lugar, o exame anti-HIV no o nico instrumento que garante a qualidade do sangue. Essa qualidade tambm envolve triagens e processos de produo. Dessa forma, o hemoderivado utilizado em hemoflicos era obtido a partir de um "pull de doadores combinados", elevando dezenas de vezes o risco de contrair o vrus. Isso numa poca em que as revistas internacionais dos institutos mais respeitados alertavam sobre a disseminao do vrus entre os hemoflicos.

    O desenvolvimento de tcnicas de inativao viral veio diminuir consideravelmente o risco de

    infeco atravs dos hemoderivados. Entretanto, so freqentes os desabastecimentos desses produtos nos centros de sade e, de poca em poca, o hemoflico se v obrigado a voltar no tempo e se submeter hemoterapia esquecida no passado. PREVENO, EDUCAO, DIREITOS

    Ontem e hoje o homem tem em suas mos um momento mpar de rever o seu caminho. Estou convencido de que a AIDS veio trazer tona muitas indagaes sociais de nosso tempo, outrora esmagadas pela opresso ou pelo descaso. A epidemia de HIV/AIDS traz consigo a discusso da sociedade em sua prpria concepo. A educao e a preveno, a sade e o direito sade, a distncia entre ricos e pobres, o moralismo e os preconceitos, a vida e o respeito vida, enfim, uma enxurrada de substantivos e adjetivos a serem refletidos.

    Quanto aos hemoflicos, a luta desta comunidade foi decisiva no passado para que valiosas

    vitrias fossem conquistadas. A qualidade do sangue que receberemos no futuro vir das veias dos cidados organizados, no nos esqueamos disso. No nos esqueamos tambm das estimativas da epidemia de HIV/AIDS para a virada do milnio.

    No nos esqueamos, enfim, que a participao deve se somar a todos os segmentos, pois

    nesse confronto da vida e da morte a participao poder trazer novos rumos. E quando h participao, h ideal. E quando h ideal, a cidadania no morre.

    Antnio Peppe Hemoflico, farmacutico e coordenador

    do Departamento Cultural do Grupo de Incentivo vida (GlV), de So Paulo.

  • OORRIIEENNTTAANNDDOO MMEELLHHOORR

    GUARDANDO SEGREDOS

    Este exerccio de treinamento visa ajudar orientadores a meditarem sobre a importncia da confiana e o que pode acontecer se o resultado do teste de algum se tornar pblico.

    A maior preocupao das pessoas com relao doao de sangue que seu sigilo no seja mantido. O sigilo essencial tanto para proteger a privacidade das pessoas, como para ajud-las a se sentirem seguras para discutir sua experincia pessoal.

    l Inicie o exerccio apresentando a questo do sigilo. Lembre ao grupo que as pessoas se sentem mais vontade para discutir problemas e sentimentos pessoais se tiverem certeza de que o orientador no vai comentar seu caso com mais ningum sem sua autorizao. 2 Divida o grupo em duplas. Pea a cada um para pensar em algum de sua confiana e escrever dez palavras descrevendo essa pessoa, tais como amiga, intima, honesta.

    3 Pea a cada dupla para ler suas palavras para todo o grupo e escrev-las em uma folha grande de papel, marcando as palavras comuns. 4 Divida o grupo em grupos menores de trs ou quatro pessoas para discutir as seguintes perguntas: O que precisa dizer e fazer, quando est orientando algum, para ajud-lo a confiar em voc? O que precisa fazer para que a pessoa continue a ter confiana em voc? O que poderia acontecer se o sigilo no fosse mantido? Quais so os benefcios de manter o sigilo? Convide uma pessoa de cada grupo menor a descrever as concluses para as demais. 5 Apresente a cada grupo menor uma situao (dois exemplos a seguir) e pea-lhes para discutir suas reaes e sentimentos se estivessem naquela posio. Voc foi diagnosticado como HIV+. O orientador prometeu no contar a ningum sobre o diagnstico sem sua permisso. Trs dias depois, voc recebe um telefonema de um amigo que quer confirmar a noticia de que voc est com o

    HIV Seu amigo soube pelo orientador.

    Voc trabalha em uma fbrica e o grupo de coleta de sangue chega. Enquanto est preenchendo o questionrio, voc menciona para a enfermeira que foi tratado de uma infeco sexualmente transmitida h quatro meses. Seu sangue no coletado. Depois, um amigo lhe diz que a pessoa atrs de voc na fila de doao viu seu questionrio e est espalhando entre todos seus colegas de trabalho que voc tem AIDS.

    possvel que uma

    situao como essa acontea com voc? Por que poderia acontecer? Como voc se sentiria? O que voc faria ou diria numa situao como essa? Se fosse orientador, como evitaria que isso acontecesse?

    Fonte: Sr. T. R. Makoni, coordenador de Orientao Nacional a Doadores de Sangue, NBTS, Zimbbue.

  • AVALIANDO O RISCO PESSOAL Esta atividade ajuda os orientadores a pensar sobre a forma de lidar com o risco em sua prpria vida, assim como a compreender melhor os motivos que levam outra pessoa a se arriscar e como se sentem a esse respeito. Antes de decidir fazer o teste de HIY as pessoas precisam de tempo para pensar sobre o que significa descobrir que so HIV+. Muitas sentem angstia ao discutir seu risco pessoal de ter o HIV (muitas vezes pela primeira vez) e temem ser julgadas. l Convide os participantes a pensarem sozinhos, durante alguns minutos, sobre o tema a seguir: "Recorde sua vida e identifique uma ocasio qualquer em que voc tenha se arriscado - quanto a sexo e relacionamentos, trabalho ou dinheiro, por exemplo. Pode ter sido um risco pequeno ou grande, mas muito importante para voc na ocasio."

    - Que fatores influenciaram sua deciso de assumir o risco? - Quais foram seus sentimentos na ocasio? - Qual foi o resultado de ter corrido o risco? - Voc geralmente se arrisca? - Como v o risco nos outros? Quando seus amigos se arriscam afetam voc? - Como isso influencia sua atitude em relao ao risco do HIV?

    Pode ser interessante

    escrever essas perguntas. 2 Depois de alguns minutos, pea a todos para escolher um par e partilhar sua situao como quiserem. Cada pessoa deveria falar durante alguns minutos e depois escutar a histria do seu par. 3 Convide todos a se reunirem em circulo. Estimule-os a explorar a ligao entre a forma como as pessoas enfrentam os riscos e como isso pode afetar sua resposta ao

    HIV/AIDS. Apresente as seguintes questes: - Sentimos que, em geral, est certo assumir riscos se tudo acaba bem. Mas temos a tendncia de culpar os demais quando as coisas do errado. - Somos, quase sempre, muito menos severos quando julgamos a ns mesmos do que ao julgar os outros. Isso est certo? - Ns nos arriscamos o

    tempo todo. 4 Convide, ento, as pessoas a relacionar essa discusso com seu trabalho de orientao. Como podem introduzir o assunto do comportamento sexual de risco sem parecer estar julgando? Como relacionar isso s informaes sobre sexo mais seguro e reduo do risco de infeco pelo HIV? Fonte: Working with uncertainty, publicado por FPA,Inglaterra.

  • DIREITOSDIREITOS

    A seguir, publicamos trechos da Constituio Brasileira a respeito dos direitos do cidado sade, incluindo a questo do sangue.

    Seo II Da Sade

    Art. 196. A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao.

    Art. 197. So de relevncia pblica as aes e servios de sade, cabendo ao Poder Pblico dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentao, fiscalizao e controle, devendo sua execuo ser feita diretamente ou atravs de terceiros e, tambm, por pessoa fsica ou jurdica de direito privado.

    Art. 198. As aes e servios pblicos de sade integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema nico, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

    I - descentralizao, com direo nica em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuzo dos

    servios assistenciais; III - participao da comunidade.

    Pargrafo nico. O sistema nico de sade ser financiado, nos termos do artigo 195, com

    recursos do oramento da seguridade social, da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, alm de outras fontes.

    Art. 199. A assistncia sade livre iniciativa privada.

    1o As instituies privadas podero participar de forma complementar do sistema nico de sade, segundo, diretrizes deste, mediante contrato de direito pblico ou convnio, tendo preferncia as entidades filantrpicas e as sem fins lucrativos.

    2o vedada a participao de recursos pblicos para auxlios ou subvenes s instituies privadas com fins lucrativos.

    3o vedada a participao direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistncia sade no Pas, salvo nos casos previstos em lei.

    4o A lei dispor sobre as condies e os requisitos que facilitam a remoo de rgos, tecidos e substncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfuso de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercializao.

    Art. 200. Ao sistema nico de sade compete, alm de outras atribuies, nos termos da lei:

    I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substncias de interesse para a sade e participar da produo de medicamentos, equipamentos, imunobiolgicos, homoderivados e outros insumos;

    II - executar as aes de vigilncia sanitria e epidemiolgica, bem como as de sade do trabalhador;

    III - ordenar a formao de recursos humanos na rea de sade; IV - participar da formulao da poltica e da execuo das aes de saneamento bsico;

  • V - incrementar em sua rea de atuao o desenvolvimento cientfico e tecnolgico; VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem

    como bebidas e guas para consumo humano; VII - participar do controle e fiscalizao da produo, transporte, guarda e utilizao de

    substncias e produtos psicoativos, txicos e radioativos; VIII - colaborar na proteo do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

    PUBLICAESPUBLICAES

    Counselling for HIV/AIDS: a key to caring cobre o gerenciamento do servio de orientao e questes de poltica para planejadores e administradores.

    Sangue, direito vida um folheto produzido pela ABIA, com informaes gerais sobre os perigos da transfuso de sangue. Pedidos (grtis): Rua Sete de Setembro, 48 12o andar RJ/Rj - Brasil - 20050-000.

    Guidelines for blood danar counselling on human immunodeficiency virus (HlV) explica como integrar a seleo de doadores, avaliao do risco e orientao sobre HIV em programas de doao de sangue, para planejadores e equipe do programa. Um exemplar em ingls, francs ou espanhol, grtis, pode ser solicitado a International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies, PO Box 372, CH 1211, Geneva 19, Suia ou WHO (ver abaixo).

    Safe blood and blood products um curso por correspondncia (cinco manuais) contendo

    diretrizes para administrar a doao e a transfuso de sangue seguro (WHO/GPA/CNP/93). Disponvel em ingls (pea pelo no. 1930050) por 84 francos suos/US$60 (pases em desenvolvimento) ou 120 francos suios/US$84, pedido paraWHO/DST, 1211 Geneva 27,Suia. NOVOS RECURSOS

    TB/HIV: a clinical manual um guia de gerenciamento clnico para mdicos em pases com poucos recursos. Disponvel por 12 francos suos/US$10.80 nos pases em desenvolvimento, pedidos para WHO (ver acima).

    Starting the discussion: strategies for making sex safer baseado na srie popular Lets

    teach about AIDS e oferece diretrizes para a educao com participao sobre HIV, sexo e relacionamentos. Grtis para leitores nos pases em desenvolvimento e por 5 libras esterlinas/US$10 para os leitores dos demais pases. Pedidos para AHRTAG.

  • Ao Anti-AIDS um boletim internacional sobre preveno e controle da AIDS editado em ingls, francs, portugus e espanhol.

    A edio internacional em ingls produzida e distribuda por AHRTAG, Farringdon Point, 29-35/Farrington Road London ECIM 3JB, UK.

    Edies Internacionais

    Editora Executiva: Nel Druce Assistente: Sin Long

    Editores associados: ABIA (Brasil), Colectivo Sol (Mxico), ENDA (Senegal), HAIN (Filipinas), SANASO (Zimbbue), Univ.Eduardo Mondlane (Moambique).

    O compromisso da AHRTAG com o fortalecimento dos programas de assistncia sanitria bsica e reabilitao voltados para a comunidade, no hemisfrio sul, expresso pela maximizao do uso e impacto da informao, pela oferta de treinamento e recursos, e pelo apoio capacitao das organizaes parceiras.

    Esta edio brasileira foi financiada por Overseas Development Administration/ODA (Reino Unido) - 20.000 exemplares

    Associao Brasileira Interdisciplinar de AIDS ABIA Rua Sete de Setembro, 48/12 Centro 20050-000 Rio de Janeiro RJ Telefone: (21) 224-1654 Fax: (21) 224-3414 E-mail: [email protected] - Internet: http://www.ibase.org.br/~abia

    Presidente: Herbert de Souza

    Editores Responsveis: Bia Salgueiro, Fernando S, Jane Galvo, Richard Parker e Veriano Terto Jr.

    Conselho Editorial: Artur Kalichman (Prog.Est.DST-AIDS/SP), urea Celeste Abbade (GAPA/SP), Celso Ferreira Ramos Filho (HUCFF/UFRJ), Dirce Bonfim de Lima (HUPE/UERJ), Fernando Seffner (GAPA/RS), Jos Arajo Lima Filho (GIV/SP), Mario Scheffer (Grupo Pela VIDDA/SP) e Rogrio Costa Gondim (GAPA/CE).

    Coordenao Editorial: Jacinto Corra

    Jornalista Responsvel Mnica Teixeira-MT 15309

    Traduo: Anamaria Monteiro

    Reviso: Marta Torres

    Editorao eletrnica: Tanara de Souza Vieira/A 4 Mos Ltda

    Adaptao grfica, fotolitos e produo: A 4 Mos Ltda

    Impresso: Grfica Lidador

    Estratgias para o sangue seguroDoando Sangue SeguroEvitando doaes sem seguranaPrincipais pontos

    Reduzindo as transfuses de Sangue

    Sangue seguro e sexo mais seguroEducao do pblicoAntes de doar sangueOrientao individualTemores sobre a doao de sangueAps doar sangueMantendo o compromissoMantendo a seguranaInformaes para doadores de sangue

    Quando o teste positivoJovens doadoresOrientao eficienteEncarte Brasil

    Sangue: vida ou morteA situao no RioA CPI do SangueEm busca de aes concretasTnia Rodrigues

    Passo a passo da doao de sangueA coleta em siAnlises laboratoriais

    Os hemoflicos e a AIDSO aparecimento do HIVPreveno, educao, direitos

    Orientando melhorGuardando segredosAvaliando o risco pessoalDireitos

    Da SadePublicaes

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