Transição pra a vida pós escolar autor - joaquim colôa
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A VIDA PÓS ESCOLAR: NECESSITA-SE LIVRE TRÂNSITO1
Joaquim Colôa
http://www.slideshare.net/jcoloa
https://www.facebook.com/groups/244591468914345/
Janeiro de 2014
1 Este texto foi elaborado para ser publicado em ebook pela Universidade Lusófona. O ponto de partida foi a comunicação, com o mesmo tema, apresentada no VI Seminário Educação Inclusiva Lisboa na Universidade Lusófona a 5 de Outubro de 2013.
Índice Geral
A Vida Pós Escolar: Necessita-se Livre-Trânsito..................................................................4
Do Conceito: Transição para a Vida Pós Escolar..................................................................8
A Importância de Formalização de um Plano Individual de Transição...............................13
A Importância de um Trabalho Colaborativo......................................................................17
Competências de Autodeterminação e Autoconhecimento..................................................20
Em Jeito de Síntese..............................................................................................................25
Referências Bibliográficas...................................................................................................26
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Índice de Figuras
Figura 1 Três Grandes Abordagens do Processo de Transição............................................10
Figura 2 Componentes do Processo de Transição................................................................12
Figura 3 Intervenção Baseada nos Recursos da Comunidade..............................................18
Figura 4 Relação Entre as Condições da Pessoa e as Condições do Meio Ambiente..........22
Figura 5 Pressupostos de Acessibilidade e Participação......................................................23
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A Vida Pós Escolar: Necessita-se Livre-Trânsito
A escolarização de grupos cada vez mais heterogéneos, resultante do
reconhecimento do direito à educação independentemente da condição intrínseca da pessoa
ou da sua condição social e, ou económica, tem sido a principal justificação para o
desenvolvimento de movimentos em prol da inclusão sustentados por diversos setores da
sociedade portuguesa. Um desafio de cidadania que, individual ou coletivamente, tenta
colocar de forma consistente na agenda sócio politica e inerentemente educativa, para além
do direito a todos estarem na escola, a promoção da equidade e do sucesso educativo de
todos os alunos.
A(s) diversidade(s) dos alunos que frequentam as escolas portuguesas coloca não
somente um desafio quanto aos modelos organizacionais e à gestão dessas mesmas escolas
mas também à decisão sobre os processos pedagógicos mais adequados. Esta realidade
evidencia a necessidade do sistema escolar adequar respostas individualizadas, com base
na flexibilização do currículo e diferenciação pedagógica, para possibilitar delinear
percursos de aprendizagens e ações de avaliação também individualizadas de modo a
consubstanciar diversas diretivas internacionais de que o Estado Português é subescritor
nomeadamente a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994).
Resultado dos movimentos pela inclusão, o problema a resolver já não radica tanto,
pelo menos nas sociedades ocidentais, no direito de acesso à educação mas centra-se
sobretudo nos aspetos de equidade ou seja os direitos na educação. No entanto, a escola
não se encontra imune às dinâmicas sócio culturais. Assim, se por um lado se ouvem vozes
no sentido da escola atender à diversidade e promover a igualdade de oportunidades, por
outro a sociedade atual tem, com base em políticas de globalização, criado um ideário de
homogeneização no pressuposto de que este é o caminho potenciador dessas
oportunidades. Embora não seja nosso objetivo desmontar esta aparente contradição, a
verdade é que a realidade tem vindo a demonstrar que este ideário acentua as
desigualdades, constituindo-se o seu combate o maior desafio do século XXI (Giddens,
2000). A verdade é que envolvida nesta teia complexa e global de dinâmicas sociais a
escola confronta-se com a necessidade de centrar a sua ação numa transformação do
sujeito com base numa relação com o ganho financeiro, em detrimento da sua vocação
humanista no qual se centram os processos de inclusão (Becker, 2010).
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Nesta perspetiva os problemas colocados ao processo de Transição para Vida Pós
Escolar adquirem especial relevância. Para além dos índices de desemprego que têm vindo
a aumentar, afetando sobretudo as populações que apresentam maiores fragilidades,
assiste-se ao recrudescimento das críticas à escola por, supostamente, não ser o
suficientemente exigente e seletiva nem conseguir desenvolver os conhecimentos e as
competências que a vida profissional atual exige. Segundo a European Agency for
Development in Special Neeeds Education (2002), em 1995 30% dos jovens, entre os 20 e
os 29 anos, não tinha conseguido atingir uma qualificação ao nível do ensino secundário.
Percentagem que se apresenta mais elevada para os alunos com necessidades especiais. A
ser assim em 1995, não nos parece que com a crise económica atual o panorama seja mais
animador. A recessão e até mesmo algumas questões ideológicas emergentes nas
sociedades atuais têm vindo a colocar novos desafios às políticas e práticas de inclusão.
Também as incertezas que atualmente apresenta o mercado de trabalho confrontam as
pessoas, ao longo da sua vida adulta, com problemas complexos que se relacionam não só
com o ingresso mas com a própria permanência nesse mercado de trabalho. Por este
motivo e como já se afirmava na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994, p. 34):
Os jovens com necessidades educativas especiais devem ser ajudados
para fazerem uma efetiva transição da escola para a vida adulta. As
escolas devem apoiá-los a tornarem-se economicamente ativos e dotá-los
com as competências necessárias à vida diária, oferecendo formação em
competências que respondam às exigências sociais e de comunicação e às
expectativas da vida adulta.
Os percursos de aprendizagem proporcionados na escola ganham particular
visibilidade e utilidade quando relacionados com as expectativas sócio culturais das
comunidades, mais ou menos alargadas, em que os alunos participam particularmente no
que respeita aos alunos com necessidades especiais. Isto porque se pressupõe que as
aprendizagens realizadas por estes e, em abono da verdade, por todos os alunos sejam o
suficientemente relevantes e funcionais para promoverem o sucesso pessoal de cada jovem
adulto e concorram para a inserção profissional e participação social ativa, autónoma,
crítica e consciente.
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Como defende Zêzere (2002) a escolarização é uma fase que deve servir como
instrumento promotor do desenvolvimento pessoal e social. Um processo percursor da
inserção social que torna mais efetiva e qualitativa a Transição para a Vida Pós Escolar. A
escolarização deve promover nos alunos com necessidades especiais as competências e o
sentimento de bem-estar promotores da efetiva qualidade de vida. Um conceito que,
atualmente, pela sua dimensão multifatorial e eminentemente pessoal implica novas formas
de atendimento à diversidade assim como novos recursos. A promoção da qualidade de
vida aponta para a importância da plena participação da pessoa com necessidades
especiais, nomeadamente no que se refere ao seu direito a tomar decisões e fazer escolhas
sobre a sua vida. Deste modo os apoios devem ser desenvolvidos com base em redes
sociais de proximidade, em que o fator apoio profissional deve ser integrado com o fator
pessoal equacionando-se não só a pessoa com necessidades especiais, como a sua família e
amigos. No entanto, é à escola, enquanto instituição social formal, que compete, em
primeira instância, promover para além da aquisição das competências de literacia e
numeracia, as competências requeridas para a vida social como as que se referem ao
mundo do trabalho. Deste modo o currículo escolar deve contemplar Três grandes áreas de
competências: i) competências académicas, competências vocacionais e profissionais e
competências pessoais e sociais. O processo de transição é assim comumente visto, grosso
modo, como um processo de orientação social cujo objetivo essencial é o emprego.
Um processo de orientação social que implica mudança (...) e que é
fulcral para a integração na sociedade. A transição requer uma mudança
nas relações, nas rotinas e na autoimagem. De forma a garantir uma
transição suave da escola para o local de trabalho, os jovens com
deficiências necessitam de definir metas e de identificar o papel que
querem desempenhar na sociedade. (International Labour Office (1998,
p. 8).
Nesta perspetiva Transição para Vida Pós Escolar no âmbito da educação especial
coloca a enfâse nos resultados das aprendizagens, nas competências aprendidas na escola
de modo a que permitam ao futuro jovem adulto ser produtivo. Uma dinâmica que foca
sobretudo a área do emprego, ou seja, tem como principal objetivo a empregabilidade. A
razão mais vezes esgrimida, para a centralidade deste principal objetivo, é económica. No
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entanto, a realidade revela-nos que o processo de Transição para a Vida Pós Escolar é
constituído por um conjunto de transições contínuas e integradas, logo multitemporais e de
configuração multifacetada. Este conjunto de transições (in)formam, inevitavelmente, os
aspetos mais centrados no fator trabalho e empregabilidade dos alunos com necessidades
especiais. Independentemente desta perspetiva, não podemos escamotear que os processos
de inclusão exigem às escolas a qualificação e habilitação de todos os alunos,
nomeadamente dos que apresentam necessidades especiais, de modo a que participem na
sociedade. Um entendimento que confere ao processo de Transição para a Vida Pós
Escolar, um trabalho também ele multifatorial e multissetorial, bem como contínuo,
embora com especial incidência em alguns momentos do ciclo de vida das pessoas com
necessidades especiais.
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Do Conceito: Transição para a Vida Pós Escolar
Várias expressões têm vindo a ser utilizadas ao longo do tempo para denominar o
processo de transição do período da escolaridade obrigatória, para a formação direcionada
para o mercado de trabalho. Em alguns países nomeadamente em Portugal, este processo
inicia-se e desenvolve-se, em parte, algum tempo antes do términus da escolaridade
obrigatória. O conceito de transição da escola para o emprego ou para a vida
profissionalmente ativa é referido em diversos documentos internacionais, embora nem
sempre com denominações e com definições coincidentes. Para além de algumas nuances
de perspetiva e cariz teórico as diferenças têm também refletido as mudanças sociais,
económicas e mesmo politicas tanto no que se refere ao fator necessidades especiais como
ao fator emprego. No Hellios (1996, p. 4) o processo de Transição é descrito, numa
dimensão multifatorial e multitemporal, como um contínuo “de adaptações, envolvendo
diferentes variáveis ou fatores. É um processo que acontece permanentemente ao longo da
vida de um indivíduo em momentos críticos como a entrada no jardim-de-infância, o fim
da escolaridade obrigatória ou a mudança de ciclo de ensino”. No International Labour
Office (1998), mantem-se a dimensão multifatorial percebendo-se a importância conferida
à autoafirmação. Neste documento a Transição é definida como:
Um processo de orientação social que implica mudanças de estatuto e de
papel (e.g. de estudante para formando, de formando para trabalhador e
da dependência para a independência) e que é central para a integração
na sociedade. […] A transição requer uma mudança no relacionamento,
nas rotinas e na autoimagem. Para garantir uma transição mais suave da
escola para o trabalho, os jovens com necessidades educativas especiais
necessitam de definir metas e de identificar o papel que querem
desempenhar na sociedade (pp. 5 - 6).
A Transição para Vida Pós Escolar, expressão que utilizamos e tal como a
entendemos, não encerra per si a ideia do fim da formação académica muito menos uma
lógica de inserção direta no mundo do trabalho após a escolaridade obrigatória que,
atualmente, corresponde ao 12.º ano de escolaridade. No entanto, embora em Portugal o
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processo de Transição para a Vida Pós Escolar coincida, legalmente, com os últimos três
anos dessa escolaridade, o processo de escolarização pode, em muitos casos, ser
prolongado. Esta continuidade deve-se ao facto dos alunos poderem integrar outros cursos
não havendo, nestes casos, relação direta entre o términus da escolaridade obrigatória e a
inserção no mercado de trabalho. Mesmo no período da escolaridade obrigatória o
processo de transição pode ser aliado a situações formais de formação profissional.
Realçamos que os alunos podem ser integrados em Cursos de Educação Formação (CEF),
Cursos de Nacionais de Qualificação (CNQ), coincidentes com algum tempo de
escolaridade obrigatória ou acrescidos a esta ou podem ainda continuar no sistema escolar
pela integração em Cursos Universitários.
Com base nos pressupostos antes descritos subescrevemos a referência da European
Agency for Development in Special Neeeds Education (2002) que, embora denominando o
processo, como Transição para Vida Adulta, o define enquanto: i) processo porque apela a
todo um trabalho prévio durante o período de tempo necessário à transição, ii) transfer na
medida em que se refere a uma passagem de um nível educacional ou de um estadio de
vida para outro e iii) mudança uma vez que implica sempre alterações seja em termos de
situações pessoais e, ou profissionais.
É inegável que, até por uma questão de dignidade humana, a relação pessoa –
trabalho ocupa um lugar central no projeto de vida de qualquer pessoa. Deste modo, como
defende Mendes (2004) a orientação escolar e profissional tem que ser encarada como um
conjunto de ações que apelam a um apoio sistemático, acrescentando nós interdisciplinar e
multifatorial, à construção de projetos de vida que possibilitem a exploração em qualquer
momento do ciclo de vida da pessoa com necessidades especiais, de formas diversas de
interação com os seus contextos experienciais. Assim, ainda segundo o mesmo autor o
processo de Transição para a Vida Pós Escolar não deve ser encarado como um
acontecimento ocasional e demasiadamente datado, que se esgota num único ato de
escolha, normalmente profissional. Antes da inserção no mercado de trabalho o aluno deve
passar por uma fase de sondagem relativamente às áreas profissionais que mais se
adequam às suas necessidades e expetativas e por uma fase de especialização conferida por
algum tempo de formação específica direcionada para determinada área e função
profissional.
Independentemente das fases antes aludidas, o processo de Transição desenrola-se
ao longo de todo o ciclo de vida da pessoa, o que implica um projeto de vida que está
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permanentemente em (re)construção. É um trabalho que se inicia, formalmente, quando a
pessoa começa a frequentar o 1.º ciclo mas que informalmente pode requerer ações
específicas desde que a criança nasce. Kim e Turnbull (2004), apontam para essa
perspetiva de continuidade identificando três grandes momentos no ciclo de vida da pessoa
que, pelas suas características, se destacam no processo de transição.
Segundo os autores antes referenciados a primeira grande abordagem / fase
corresponde ao tempo da Intervenção Precoce. Um tempo em que as ações desenvolvidas
são direcionadas para a qualidade de vida da família e inerentemente da criança com
necessidades especiais. A segunda grande abordagem / fase corresponde, essencialmente,
ao período da escolaridade obrigatória e implica atividades que procurem o equilíbrio entre
a qualidade de vida tanto do aluno como da sua família. A última grande abordagem / fase
corresponde ao final da escolaridade obrigatória e consequentes etapas, nomeadamente
outros contextos de formação escolar, em que o jovem adulto deve ser sujeito ativo na
construção do seu projeto de vida. Neste período, as intervenções centram-se não só nas
necessidades, como nos desejos, motivações e expectativas da própria pessoa com
necessidades especiais, pois o que adquire centralidade é a sua qualidade de vida.
O processo de Transição para a Vida Pós Escolar implica, ainda, transfer, a
passagem de uma situação existente para uma outra que se prevê venha a existir. É
qualquer tipo de alteração relativamente a contextos, serviços, níveis de ensino, escolas,
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Figura 1 Três Grandes Abordagens do Processo de Transição
apoios, escolas e outros serviços comunitários e mesmo atividade dentro do mesmo
contexto ou serviço. Em última análise é qualquer tipo de mudança significativa que ocorra
no ciclo de vida de qualquer pessoa com necessidades especiais, até esta atingir a idade
adulta.
Nesta linha de pensamento o processo de Transição para a Vida Pós Escolar é um
processo, contínuo e integrado, de mudanças que implica uma aprendizagem ao longo da
vida. Um processo de aprendizagem de competências práticas que ajudem a pessoa com
necessidades especiais a ser o mais autónoma e independente possível. Nesta linha de
pensamento a Transição para a Vida Pós Escolar consiste na promoção de competências
necessárias à vida quotidiana que correspondam às expetativas sociais e de comunicação
requeridas na vida adulta. Expetativas encaradas em duas vertentes essenciais: as que
radicam na própria pessoa e as que decorrem de tempos sociais e comunitários vivenciados
por determinada pessoa. Premissas que implicam técnicas e metodologias de formação ao
longo de toda a escolaridade incluindo experiências reais fora da escola. Estas experiências
devem manter uma relação direta com o contexto escolar do aluno nomeadamente o(s)
seu(s) grupo(s) de referência e com o currículo estabelecido para a sua idade
independentemente das adequações que possa prever o seu Programa Educativo Individual
(PEI). A manutenção da relação da atividade do aluno com o currículo normal refere-se
sobretudo às áreas nucleares.
A Transição para a Vida Pós Escolar encara a aprendizagem bem como a estrutura
curricular que a corporiza com base no pressuposto de que a pessoa com necessidades
especiais, como qualquer pessoa seja, o mais possível, funcionalmente independente. Uma
independência e autonomia também ela multifacetada uma vez que se corporiza em
diversos contextos de vida sejam eles profissionais, sociais bem como culturais e de lazer.
Como qualquer pessoa, o jovem com necessidades especiais constrói expetativas de vida
em determinada comunidade, nomeadamente ter um trabalho significativo e remunerado,
desfrutar de uma vida social e ter oportunidades para crescer e aprender. Deste modo as
ações de transição devem basear-se no conhecimento do onde e como o jovem poderá
desenvolver a sua atividade, que transportes terá que utilizar, quais os locais de lazer que
poderá frequentar e quais os serviços a que poderá ter que recorrer como por exemplo
serviços de saúde.
Neste sentido o processo de transição deverá prever onde o jovem vive e, ou poderá
vir a viver e com que ajudas / suportes de apoio, sejam eles humanos e, ou materiais. É um
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trabalho que deve assentar numa matriz de desenvolvimento colaborativa e nortear-se por
políticas claras, realistas e com visão estratégica. Como defende o Nova Scotia.
Department of Education. Student Services Division (2005), é um processo que implica
diversos componentes.
O processo de Transição para a Vida Pós Escolar implica que as intervenções de
determinado presente sejam minimamente projetadas num possível futuro. Este futuro de
carater multitemporal e multifatorial não contradiz a necessidade de que, num tempo
específico do percurso escolar do aluno, sejam planificadas formalmente atividades
específicas e concretas de Transição. Uma planificação corporizada num Plano Individual
de Transição (PIT) que não substituindo o Programa Educativo do Aluno (PEI), dele passa
a fazer parte. O PIT infere ao PEI o sentido de que todas as ações desenvolvidas com o
aluno com necessidades especiais se norteiam pela necessidade de que venha a ter uma
atividade profissional devidamente remunerada e o mais autónoma e independente
possível. Esta premissa não deve descurar todas as outras vertentes de vida do aluno como
por exemplo a recreativa e afetiva.
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Figura 2 Componentes do Processo de Transição
A Importância de Formalização de um Plano Individual de Transição
Como defende Fânzeres (2007) o processo de Transição para a Vida Pós Escolar
abordado enquanto processo da responsabilização da escola deve concretizar a realização
dos projetos de vida de cada jovem. As variáveis registadas num PIT, devem prever
necessidades presentes e ser pensadas e desenvolvidas em articulação com entidades e
serviços que facilitem a continuidade e possibilitem a antecipação de resolução de
problemas que possam surgir em futuros próximos.
O PIT deve ser realista tanto no que se refere às condições da pessoa como do meio
ambiente bem como dos serviços necessários e disponíveis. Este instrumento de
planificação e ação deve incluir ou ser antecipado por um programa de orientação
profissional que facilite a emergência de escolhas vocacionais e informe a pessoa de
aspetos profissionais relevantes e significativos. Informação que não se cinge às
competências necessárias para desempenhar papéis em determinada àrea profissional mas
problematize aspetos como o mercado de trabalho, as possibilidades de formação e as
capacidades / potencialidades do aluno bem como o envolvimento efetivo desse aluno e da
família em todo o processo (Fânzeres, 2007).
Para muitos jovens com necessidades especiais bem como para a sua família a
Transição para a Vida Pós Escolar é um grande desafio. Deste modo o PIT permite
formalizar algumas decisões importantes sobre escolhas futuras, não só sobre aspetos
relativos a competências escolares como no que se refere a competências de comunicação
assim como outras de cariz social e afetivo. Devem também ser equacionadas variáveis
relacionadas com a habitação, o transporte, o emprego, as finanças, o lazer e o
envolvimento social que têm lugar no momento e, ou terão lugar no futuro.
O principal objetivo do PIT consiste em identificar oportunidades e experiências
significativas que ocorram ou possam vir a ocorrer durante a escolarização e que ajudem os
jovens a preparar melhor a sua Vida Pós Escolar, a sua vida enquanto adultos. Em
determinado momento da escolarização que, em Portugal, a legislação identifica como
sendo 3 anos antes do términus da escolaridade obrigatória (Lei nº 85/2009, de 27 de
agosto e Decreto-Lei nº 3/2008, de 7 de janeiro), o PIT é considerado instrumento
obrigatório. Este facilita a organização e hierarquização das competências pessoais e
perspetiva, de forma individual com base numa ação individualizada, uma linha de futuro.
13
Uma ação que potencia a preparação do jovem com necessidades especiais e muitas vezes
a sua família a enfrentarem novos desafios e novas oportunidades.
No entanto, independentemente da datação formal da elaboração do PIT realça-se,
mais uma vez, que o processo de transição se deve iniciar tão cedo quanto possível. A
precocidade permite o tempo necessário para a implementação do que está definido no PIT
e facilita respostas à complexidade do processo de Transição para a Vida Pós Escolar. Ou
seja, o PIT não deve ser visto somente na sua formalidade enquanto documento, mas deve
apontar para a formalidade de um processo que se iniciou muito antes e que pretende
realmente apoiar o jovem a preparar-se para os desafios da vida adulta. Deste modo o PIT
deve espelhar a preocupação de uma organização baseada em pessoas individuais e
concretas, ou seja numa lógica de planificação baseada na pessoa. Com esta perspetiva de
planificação objetiva-se o que se quer atingir, com que apoios e recursos ou seja os
caminhos a percorrer, assim como emergem os principais aspetos que o jovem adulto não
equaciona como significativos no seu projeto de vida
Esta forma de planificar é muitas vezes referida na literatura como “Making Action
Plan” (MAP), que poderíamos grosseiramente traduzir por Elaboração de Planos de Ação.
Estes planos de ação expressam a pessoa concreta seja no que se refere aos seus sonhos
como às suas escolhas. São planos de ação de todo um conjunto de pessoas que apoiam a
participação da pessoa com necessidades especiais na definição do seu projeto de vida, do
seu percurso individual e na solução de problemas. Em última instância apoiam a pessoa a
aprender em contextos naturais e a usufruir de toda uma rede social que é próxima e
“amiga”. Uma rede de apoio que contribui para a própria planificação da ação
possibilitando, de forma mais realista, que determinada pessoa tenha controlo sobre os
acontecimentos da sua vida diária.
No entendimento de Evensen; Evensen; Zarrilli e Zarrilli (2008), o MAP é uma
ferramenta central para auxiliar a pessoa com necessidades especiais a planificar a sua
própria vida. É como que uma bússola que aponta possíveis direções, hipóteses de
caminhos futuros. Segundo os autores antes citados o seu início é parecido ao de uma
história que é contada, a narrativa de vida de uma pessoa. Uma parte que fará sobressair
aspetos importantes dessa vida e ao mesmo tempo identificará aspirações futuras. São estas
aspirações que servirão como fundamento para o desenvolvimento de todo o processo, um
guião flexível com base no qual se desenvolve toda a ação projetada / planificada. É o
mapeamento do que é a pessoa, dos seus sonhos e pesadelos, das suas crenças, desejos e
14
vontades, dos seus talentos, forças e fragilidades, das oportunidades que se lhe apresentam
e da forma como essas oportunidades se podem transformar em realidades de vida diária
nomeadamente dos suportes requeridos. Esta forma de encarar a planificação da Transição
para a Vida Pós Escolar pode ter como base um conjunto de questões, como:
1 – O que é um mapa de vida?
2 – O que é relevante na história da pessoa? Qual a história da pessoa?
3 – Quem é a pessoa (todos os intervenientes devem escolher algumas palavras
chave que possam definir a pessoa)?
4 – Quais os sonhos da pessoa?
5 – Quais os pesadelos ou medos da pessoa? Como evitar esses medos?
6 – Quais são as forças, dons e talentos da pessoa? Quais são as suas competências?
7 – Do que necessita a pessoa para concretizar os seus sonhos?
8 – De quem necessita a pessoa para concretizar os seus sonhos?
9 – Como concretizar o Plano de ação (responsabilidades, papéis e funções de cada
um dos intervenientes)
Desta forma a pessoa com necessidades especiais não só participa no seu projeto de
vida, nomeadamente no que se refere ao processo de Transição para a Vida Pós Escolar,
como tem a certeza que as suas escolhas são respeitadas de forma a garantir-se o seu
processo de decisão. Os profissionais e outros agentes do(s) seu(s) contexto(s) de vida
ajudam a pessoa no controlo dos acontecimentos e na previsão das consequências que
possam advir das escolhas efetuadas. Ajudam a resolver problemas que vão surgindo ao
longo da concretização dos projetos de vida e ao mesmo tempo apoiam o processo de
responsabilização da pessoa com necessidades especiais.
Esta perspetiva confere a cada pessoa com necessidades especiais a liderança do
próprio processo de transição. Liderança que se baseia em princípios como a
autodeterminação e o envolvimento individual e responsável. Uma proatividade que é
desenvolvida à medida que cada jovem adulto faz escolhas acerca do seu plano de futuro.
A definição de estratégias de trabalho baseadas em pessoas concretas favorece a sua
eficácia uma vez que fortalece o recurso a apoios e oportunidades que possibilitam a essas
pessoas assumirem e tomarem decisões concretas sobre a sua vida. Decisões que devem ter
a ver com grandes áreas de aprendizagem e trabalho como: i) saúde (necessidades médicas
e estilo de vida saudável), ii) atividades de vida diárias (cuidados pessoais, compras,
preparação de refeições, etc.), iii) habitação, iv) finanças e gestão do dinheiro, v) amigos e
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socialização, vi) transportes, vii) educação nomeadamente formação profissional e, ou
universitária, viii) emprego, ix) lazer, x) envolvimento na comunidade (espiritualidade,
associativismo, etc.) e xi) apoio legislativo. Para a planificação de cada uma destas e, ou de
outras áreas que poderão ser consideradas, a equipa interdisciplinar deve fazer-se as
seguintes questões gerais:
1. Quais são os objetivos do jovem?
2. Quais as competências e comportamentos de que o jovem precisa para atingir
estes objetivos?
3. Quais os programas comunitários, serviços e apoios disponíveis para apoiar
estes objetivos?
4. Quais as responsabilidades que devem ser assumidas pelo jovem, pela escola,
pelos diversos serviços de apoio, pelos serviços culturais e comunitários, e pela
sua família para que o jovem possa atingir os seus objetivos?
5. Quais são as barreiras e carências existentes nos atuais programas, serviços e
apoios que devem ser equacionados?
Para além do natural envolvimento de cada um dos jovens com necessidades
especiais é importante o envolvimento da família, bem como de outros agentes da
comunidade relevantes e significativos. A perspetiva de planificação baseada na pessoa
aponta não só para o mapeamento das forças e oportunidades da própria pessoa inserida em
determinada comunidade afetiva e social mas também o mapeamento das forças e
oportunidades referentes aos recursos comunitários disponíveis bem como necessários ao
desenvolvimento do PIT. Um trabalho que para além de aceitar a liderança da própria
pessoa deve identificar determinado profissional que seja gestor de todo o processo e
incentive a colaboração de todos os restantes profissionais bem como de todos os serviços.
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A Importância de um Trabalho Colaborativo
Devido ao cariz multidimensional, o processo de Transição para a Vida Pós Escolar
deve ser planificado e desenvolvido com base na intervenção de uma equipa
interdisciplinar. Independentemente do seu caráter multitemporal, sabemos que existem
momentos no ciclo de vida da pessoa com necessidades especiais onde a formalização do
processo de Transição para a Vida Pós Escolar deve ser uma opção. Seja porque, após a
escolaridade obrigatória, a pessoa equaciona a sua integração no mercado do trabalho, seja
porque passará a frequentar um curso profissional noutra instituição ou, ainda, porque
pensa frequentar o ensino universitário.
Uma equipa interdisciplinar que desenvolve uma ação colaborativa entre
profissionais diferenciados, tanto em termos de formação como de área de intervenção,
permite ter uma visão mais abrangente seja das necessidades como do trabalho a
desenvolver. Uma equipa que para além dos profissionais conta com a colaboração da
família e outras pessoas significativas e próximas da pessoa com necessidades especiais.
Se um indivíduo tem a informação necessária, provavelmente levará menos tempo e produzirá tão bem ou melhor que o grupo. Se, por outro lado, o problema necessita a incorporação do conhecimento, informação e julgamentos que estão acima do que uma única pessoa pode possuir, o produto do grupo pode ser superior (Hartford, 1983, p. 65).
A colaboração nas equipas interdisciplinares infere ao processo de Transição para a
Vida Pós Escolar uma dimensão de partilha de informação essencial para o sucesso tanto
da planificação como da intervenção. Se nesta dinâmica de partilha integrarmos o fator
comunicação aberta, como dimensão de uma tipologia de trabalho em equipa, assim como
a dimensão resolução de problemas enquanto metodologia de trabalho, temos uma equipa
que se centra nos processos das tarefas a desenvolver sem descurar os resultados dessas
mesmas tarefas.
Para além da preocupação em centrar a ação nos processos, a colaboração permite
olhar de forma mais abrangente para os recursos do meio envolvente. Deste modo facilita-
se o emergir de intervenções que podemos denominar como baseadas nos recursos da
comunidade, dinâmica que promove a (re)criação das redes de apoio necessárias e
17
realistas. Esta dinâmica apela ao mapeamento dos recursos comunitários, fazendo emergir
as fontes de suporte ao tempo que mobiliza a própria comunidade enquanto coletivo
responsável por todos os seus membros.
Figura 3 Intervenção Baseada nos Recursos da Comunidade
O trabalho em equipa baseado em redes comunitárias, para além da capacidade de
mobilizar a própria comunidade, tanto na sua vertente individual como coletiva, permite
(re)direcionar o trabalho para uma dinâmica de equipa interserviços. Uma intervenção
baseada numa ação interserviços torna o processo de Transição para a Vida Pós Escolar
mais eficiente e eficaz. Nesta perspetiva independentemente da implicação individual de
determinados profissionais e, ou de equipas específicas alarga-se a responsabilização aos
próprios serviços e, ou organizações que é desejável envolver. Assim considera-se a
responsabilidade individual a par da responsabilidade da equipa e esta por referência à
responsabilização de serviços concretos. Uma corresponsabilidade que se desloca, em
última análise, para os próprios serviços / entidades envolvidas no processo. Esta dinâmica
não rejeita as competências e o trabalho individual mas valoriza, sobretudo, o processo
sem descurar o produto. Uma valorização que advém da partilha e comunicação que se
18
estabelece entre os diversos profissionais e demais intervenientes nomeadamente os vários
serviços e a pessoa com necessidades especiais. Considera-se que existe uma relação de
interdependência no desenvolvimento de todo o processo e, inevitavelmente, dos sucessos
e insucessos da intervenção. Deste modo, estabelece-se uma avaliação bem como uma
intervenção holísticas que apontam para os diversos domínios de necessidades e
consequentes respostas requeridas para o desenvolvimento de todo o processo de avaliação
e intervenção.
O processo de Transição para a Vida Pós Escolar desenvolvido por equipas
interserviços, com base em redes comunitárias permite: i) centrar a ação nos processos, ii)
eliminar tarefas desnecessárias, iii) reorganizar e combinar tarefas, iv) implicar maior
número de agentes com menos custos e v) otimizar a partilha de informação, criando
canais de circulação dessa informação mais eficazes, eficientes e duradouros no tempo
bem como mais amplos relativamente ao número de pessoas e necessidades das mesmas.
Deste modo obtêm-se melhorias no que se refere ao tempo, precisão, flexibilidade,
qualidade das intervenções e dos serviços e, como já referimos, necessariamente dos
custos.
Outra mais-valia pela proximidade dos serviços e corresponsabilização institucional
dos mesmos, é a da facilitação no desenvolvimento e reconhecimento institucional e social
da autodeterminação da pessoa com necessidades especiais. Uma autodeterminação que
requer competências de autoconhecimento e fortalecimento identitário.
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Competências de Autodeterminação e Autoconhecimento
O processo de Transição para a Vida Pós Escolar, para além da promoção da
autonomia e independência, deve desenvolver competências de autodeterminação e
autoconhecimento. Um trabalho que deve ter em conta não só as diferentes necessidades
da pessoa, em diferentes momentos do seu ciclo de vida, por relação com a idade e os
contextos onde essa pessoa interage ou, sempre que seja possível antecipar, possa vir a
interagir.
Quanto às competências de autodeterminação referimo-nos à importância de
facilitar e encorajar as pessoas com necessidades especiais a serem proativas no sentido de
elas próprias manifestarem as suas vontades e os seus desejos, reivindicarem os seus
direitos e assumirem, como qualquer cidadão, os seus deveres. As pessoas com
necessidades especiais devem ser encorajados a organizarem, de forma o mais autónoma e
independente possível, as suas rotinas bem como a planificarem a sua vida nomeadamente
a projetarem diversas mudanças que se preveja que possam vir a ocorrer. Uma planificação
que deve equacionar questões de futuro respeitantes a algumas mudanças inevitáveis como
são, por exemplo, as mudanças de ciclo de ensino, a escolha de cursos técnico profissionais
e, ou cursos universitários ou outras de dimensão cultural, de lazer e mesmo afetivas. A
pessoa com necessidades especiais não deve, a partir de determinada idade, ser
representada por outros. Deste modo, segundo Evensen; Evensen; Zarrilli e Zarrilli (2008),
os diversos profissionais conjuntamente com a família e outras pessoas do círculo mais
próximo, sejam familiares ou amigos, devem desenvolver apoios e adotar atitudes que
permitam à pessoa com necessidades especiais: i) falar por si própria, ii) perguntar sobre o
que necessita, iii) gerir a sua própria atividade (interagir com outros para desenvolver
atividades adequadas às suas necessidades), iv) conhecer os seus direitos e
responsabilidades, v) utilizar os recursos disponíveis e vi) ser capaz de falar sobre a sua
condição (capacidades, incapacidades e limitações) seja pelo recurso à palavra oral, escrita,
imagens e, ou gestos.
Ainda no entendimento de Evensen; Evensen; Zarrilli e Zarrilli (2008), segundo
uma abordagem de resolução de problemas os profissionais no momento de planificarem
ações na área da Transição para a Vida Pós Escolar podem ter como guião cinco etapas
para a tomada de decisões:
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1 – Que decisões necessitamos tomar?
2 – Que decisões podemos tomar?
3 – Quais os prós e os contras de cada decisão (avaliar opções e escolhas)?
4 – Descrever e decidir sobre qual a melhor decisão.
5 – Avaliar de forma contínua a decisão tomada.
As competências de autodeterminação devem ser equacionadas no sentido de
qualificarem a pessoa com necessidades especiais a expressar-se relativamente às diversas
adequações e suportes de que necessita. Uma expressão proativa e participação efetiva nos
ambientes em que interage. A sua participação social deve ser valorizada nomeadamente
no que respeita a:
a) Fazer perguntas adequadas aos diversos profissionais com que interage (da área
da educação, da saúde, etc.);
b) Assumir a responsabilidade pelos seus cuidados de saúde (administração de
medicação, marcação de consultas, conhecimento das suas condições de saúde,
etc.);
c) Marcar reuniões de interesse para a sua vida do dia a dia, seja na escola ou em
qualquer outra organização nomeadamente a outras implicadas diretamente no
processo de Transição para a Vida Pós Escolar. Questões referentes à vida
universitária, ao emprego e outros serviços da comunidade que possam ser
relevantes para a vida de determinado jovem adulto;
d) Apoiar na procura ativa de emprego, incluindo a elaboração de um Curriculum
Vitae, preenchimento de formulários, preparação de entrevistas, etc.
e) Participar ativamente e de forma responsável na elaboração do seu PEI e outras
planificações que este possa integrar.
Pese o imperativo atual de que a pessoa com necessidades especiais adquira
capacidade de autodeterminação, esta só é possível quando a pessoa conhece bem as suas
capacidades e limitações. Conhecimento construído por relação com as condições do meio
ambiente onde vivencia ou pode vir a vivenciar experiências bem como a interagir.
O significado do que dizemos e do que ouvimos, em última análise do que somos,
muda consoante as referências sócio culturais que temos, as histórias de vida de cada um e
os contextos específicos em que nos situamos, sejam psicológicos e, ou físicos. Assim,
qualquer pessoa deve aprender a identificar e a gerir os seus estados psicológicos,
preferências bem como a (re)conhecer as suas capacidades e limitações. É esta construção
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identitária, este autoconhecimento, organizado numa constante dialética entre o que a
pessoa é em determinada comunidade específica, que cria condições de participação e
acessibilidade.
Figura 4 Relação Entre as Condições da Pessoa e as Condições do Meio Ambiente
A autodeterminação e o autoconhecimento criam autonomia à pessoa no sentido da
escolha dos facilitadores mais adequados para a sua vida diária de modo a que seja o mais
independente possível. Uma independência só efetiva quando existe acessibilidade. No
entanto a acessibilidade implica a participação da pessoa e esta exige a organização e
(re)estruturação dos ambientes de modo a que todos os sujeitos possam aceder, com o
mesmo direito de oportunidades, a situações de participação e aprendizagem. Participação
vista, do ponto de vista da pessoa, como sendo o menos exclusiva possível. Esta situação
deve entender-se tanto na questão dos ambientes ou serviços como dos próprios apoios,
dos facilitadores.
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Figura 5 Pressupostos de Acessibilidade e Participação
A acessibilidade e participação implicam a adequação do ambiente à pessoa e a
necessária adequação da pessoa ao ambiente. Esta última só possível quando a pessoa com
necessidades especiais tem uma conceção da sua própria identidade, quando se consegue
relacionar com os outros a partir da sua própria diferença. As condições intrínsecas devem
ser compreendidas na relação com as condições extrínsecas, ou seja com as barreiras
existentes no meio ambiente sejam elas físicas, atitudinais, etc. A consciencialização da
sua condição por interação com as condições do meio ambiente e com a atividade que
ocorre nos diversos cenários qualificará as decisões sobre os facilitadores sentidos como
necessários.
O autoconhecimento fará com que a participação, a autodeterminação, da pessoa
seja efetiva em diversos contextos de vida e com diversos parceiros de relação. Falarmos
do autoconhecimento é abordarmos a possibilidade da pessoa interagir no seu meio
ambiente mas, sobretudo, da capacidade de querer e saber interagir. A pessoa com
necessidades especiais deve conseguir fazer opções e tomar decisões, (re)conhecer as suas
preferências bem como as suas capacidades e limitações. Para que consiga desenvolver
competências relativas ao autoconhecimento a pessoa com necessidades especiais deve ser
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apoiada na compreensão das implicações das suas capacidades e limitações, das barreiras
que pode experienciar e dos desempenhos que pode denotar a diversos níveis da sua vida
diária.
Em determinados momentos do seu ciclo de vida a pessoa com necessidades
especiais, com o apoio dos diversos profissionais, deve compreender as implicações das
suas condições nomeadamente a projetar essas implicações num futuro mais ou menos
próximo. Implicações que devem ser relacionadas com os objetivos, necessidades e desejos
da própria pessoa com necessidades especiais. Esta deve saber, onde, quando e com quem
pode contar quando necessita partilhar sentimentos, preocupações, opiniões e desejos bem
como o pode fazer. A pessoa deve aprender quais os parceiros de relação (profissionais,
amigos, familiares) com quem pode partilhar as suas preocupações, opiniões e desejos. A
pessoa com necessidades especiais deve diferenciar o momento e o tipo e de partilhas que
mais se adequam às suas necessidades assim como diferenciar quais os parceiros de
relação que mais se adequam a essas partilhas.
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Em Jeito de Síntese
Em jeito de síntese, reafirmamos a necessidade do Processo de Transição para a
Vida Pós Escolar ser desenvolvido com base no trabalho de equipas interdisciplinares.
Equipas que adotem dinâmicas de comunicação aberta e de resolução de problemas. Estas
equipas devem referenciar-se, de forma explícita e corresponsável, a serviços concretos de
uma comunidade específica. A assunção de implicação dos diversos serviços necessários e
disponíveis cria uma dinâmica que podemos denominar de intervenção interserviços. Este
tipo de intervenções não só fortalece como (re)cria redes comunitárias de apoio que
suportam, de forma objetiva, o desenvolvimento da autodeterminação bem como do
autoconhecimento da pessoa com necessidades especiais.
Os pressupostos antes abordados centram as intervenções na pessoa com
necessidades especiais. Esta realidade dá voz à pessoa e (re)conhece, não só a sua
capacidade mas o direito a tomar decisões sobre o seu projeto de vida. Um projeto que
embora tenha momentos formais e mesmo legais tanto no que respeita à planificação como
ao tipo de intervenções mais específicas é considerado, enquanto processo, multitemporal e
multidimensional. Esta perspetiva continuada de ações, aponta como já referimos para a
coordenação de práticas e de políticas, levadas a cabo por diversos agentes e lideradas pela
pessoa com necessidades especiais. Uma coordenação que assuma os princípios da
inclusão como base de toda a ação seja ela ao nível das referidas práticas como das
aludídas políticas. Coordenação que aponte para a inclusão e que assuma que a pessoa com
necessidades especiais tem, como refere Costa (s/d) o direito a: i) viver num ambiente
familiar e não numa instituição, ii) a estudar numa escola da sua comunidade e não uma
escola especial, na maior parte dos casos, distante, iii) interagir com pessoas sem
deficiência e não unicamente com pessoas com deficiência, iv) aceder a todos os recursos
da comunidade e não aos confinados a espaços limitados e segregados, v) a desenvolver
atividades normais de recreação / lazer e não exclusivamente programas recreativos
especiais, vi) a tomar decisões sobre a sua vida e não seja totalmente controlada pelos
outros e vii) a trabalhar em serviços da comunidade e ser paga pelo seu trabalho e não
permanecer inativa ou estar ocupada em centros destinados exclusivamente à população
com deficiência.
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