Transporte Público Urbano... Parte 06. Eficiência

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  • 6EFICINCIA NO TRANSPORTE

    PBLICO URBANO6.1 Eficincia econmica

    A eficincia econmica na produo de um bem ou servio diz respeito produtividade, expressa, de maneira geral, pela relao entre o produto obti-do e os insumos gastos na produo.

    No caso do servio de transporte pblico, o produto so as viagens ofer-tadas e os insumos so: veculos, pessoal, combustvel, pneus, peas e acess-rios, lubrificantes, etc.

    Do ponto de vista estritamente econmico, uma maior eficincia noprocesso de produo, para um dado padro de qualidade do produto ou servio,significa um custo final menor.

    No caso do transporte pblico, fixado o nvel de qualidade do servio, aeficincia econmica avaliada pelo custo por passageiro transportado.

    Uma vez definido o transporte a ser realizado: modo, local de origem e dedestino e quantidade de unidades a ser transportada nos diversos intervalos detempo, para que a eficincia econmica seja mxima (o custo mnimo), a prin-cpio, deve-se:l Reduzir ao mnimo a distncia de transporte, a fim de minimizar a quilometragem

    percorrida e o nmero de veculos utilizado, minimizando, assim, o gasto comcombustvel, lubrificantes, pneus, peas e acessrios, salrios e encargos sociais deoperadores, investimentos em veculos, etc.

    l Utilizar a mxima velocidade possvel, a fim de reduzir ao mnimo o tempo deviagem e, assim, minimizar o nmero de veculos e os gastos correspondentes:salrios e encargos sociais de operadores, investimentos em veculos, etc.

    l Empregar veculos com o mximo de capacidade, compatvel com a demandade passageiros e a geometria da via, a fim de reduzir a quilometragem rodadae o nmero de veculos, reduzindo, assim, os gastos com combustvel, pneus,salrios e encargos sociais de operadores, investimentos em veculos, etc.

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    6.2 Fatores que afetam a eficincia econmicaOs principais fatores que afetam a eficincia econmica dos sistemas de

    transporte pblico urbano por nibus so: tamanho dos veculos, estado das viasutilizadas, distncia entre paradas, tipo de prioridade nas vias, aproveitamento dafrota, configurao da rede de linhas, traado das linhas, programao daoperao, aproveitamento da mo-de-obra, sistema de bilhetagem, compe-tncia administrativa, morfologia e topografia da cidade, etc.

    A seguir so discutidos cada um desses fatores.Tamanho dos veculos

    Em princpio, quanto maior o tamanho dos veculos de transporte pbli-co, mais eficiente a operao (menor o custo final por passageiro trans-portado), pois menor o nmero de veculos e operadores necessrio, bemcomo a quilometragem percorrida.

    Contudo, o tamanho das unidades de transporte condicionado pelo fluxode passageiros (volume por unidade de tempo), intervalo mximo entre atendi-mentos, largura das vias, raios de curva nas converses, declividade das ruas, etc.Veculos grandes operando com ociosidade, ou veculos pequenos operando comintervalos reduzidos, so situaes em que ocorre ineficincia no transporte.Tipo e estado das vias

    A regularidade da superfcie de rolamento influi diretamente na velocidadeoperacional. Vias no pavimentadas, ou pavimentadas mas com buracos, lomba-das e valetas pronunciadas, exigem a utilizao de velocidades baixas, requerendouma frota maior na realizao do servio e, portanto, reduzindo a eficincia.

    O tipo de revestimento tambm influi na velocidade. As velocidades nasruas com paraleleppedo, devido s pequenas irregularidades da superfcie, somenores do que as desenvolvidas nas vias com pavimento de asfalto ou concreto.

    Por outro lado, as irregularidades nas vias e a existncia de poeira e lama,no caso das ruas no revestidas, provocam aumento dos custos de manutenoe operao, em razo do maior consumo de combustvel e do desgaste doscomponentes, bem como da reduo da vida til dos veculos.Distncia entre paradas

    Outro fator que afeta significativamente a velocidade mdia dos cole-tivos a distncia entre os locais de parada. Paradas muito prximas reduzema velocidade operacional, exigindo uma frota maior para realizar o mesmoservio.

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    Prioridade no sistema virioAs paradas nos cruzamentos e os congestionamentos de trnsito aumen-

    tam os tempos de viagem dos coletivos, reduzindo a velocidade operacionale exigindo uma frota maior.

    Trs aes importantes para obter velocidades operacionais maiores so:preferncia nos cruzamentos para as vias onde circulam os veculos de transportepblico, faixas exclusivas ou separadas nas vias com trfego intenso e prioridadepara os coletivos nos semforos.Aproveitamento da frota

    Um baixo aproveitamento da frota pode ocorrer devido aos seguintesfatores: pouca eficincia e m qualidade do servio de manuteno, realizaode manuteno nos perodos de maior necessidade de nibus na operao eprogramao operacional mal elaborada, que deixa veculos parados porlongos tempos durante a operao. Quanto menor o aproveitamento da frota,maior a quantidade de coletivos necessrios.Configurao da rede de linhas

    Uma rede com superposies de linhas, linhas muito prximas e nmero delinhas maior que o necessrio leva a perda de eficincia operacional, exigindoquilometragens e frotas maiores. Essa perda de eficincia mais acentuada nosperodos de menor movimento, pela impossibilidade de aumentar muito ointervalo entre veculos sem prejudicar a qualidade.Traado das linhas

    Itinerrios tortuosos e sinuosos aumentam a necessidade de distnciapercorrida e conduzem a velocidades mdias mais baixas, por reduzir a veloci-dade nas converses. Com isso, a frota necessria maior.Programao da operao

    A correta alocao do nmero de veculos em cada linha nos diferentesdias da semana e perodos do dia leva a uma maior eficincia operacional,evitando a sobreoferta de lugares e, com isso, reduzindo a quilometragempercorrida e o nmero de veculos necessrios.Produtividade dos recursos humanos

    A produtividade adequada do pessoal fator fundamental para aeficincia do transporte, pois tem reflexo direto nos custos.

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    Sistema de bilhetagemO sistema de bilhetagem influi na eficincia econmica do transporte

    pblico por duas razes. Primeiro, pela maior ou menor agilidade queproporciona nas operaes de embarque nos veculos que tem impacto diretona velocidade mdia operacional e, portanto, na frota necessria. Segundo, pelamaior ou menor facilidade que enseja na concretizao de fraudes por parte deusurios ou funcionrios que influi diretamente na perda de arrecadao.Administrao e tamanho das empresas operadoras

    O aproveitamento adequado dos recursos humanos e materiais por parte dasempresas operadoras reflete diretamente nos custos e, portanto, na eficincia doservio de transporte pblico (produo de viagens). Assim, a organizao, acompetncia e a honestidade na administrao e na operao das empresasoperadoras so aspectos importantes no tocante eficincia.

    Por outro lado, considerando que as empresas de transporte apresentameconomia de escala nas atividades administrativas e de manuteno, bem comona aquisio de veculos e insumos, o tamanho das empresas operadoras pelo menos at um certo valor influi na eficincia do transporte.Morfologia da cidade

    A forma e o tamanho da cidade so fatores exgenos que afetam signifi-cativamente a eficincia do sistema de transporte pblico urbano. O tamanhoda cidade depende da populao e da densidade de ocupao do solo.

    Nas cidades mais compactas, as distncias envolvidas nos deslocamentosso menores e, em conseqncia, menor o custo do transporte, pois o nmerode veculos e a quilometragem percorrida so menores.

    Tambm so menores as distncias percorridas nas cidades com formatocircular, em relao s que apresentam forma alongada.Topografia da cidade

    A topografia da cidade tambm um fator exgeno que afeta a eficinciaeconmica do servio de transporte pblico. Quanto mais acidentada a topo-grafia, maior o gasto com combustvel e outros insumos, bem como menor avelocidade operacional e, assim, maior o nmero de veculos necessrios.

    6.3 Avaliao da eficincia econmicaPara avaliao da eficincia econmica da operao do transporte

    pblico por nibus so utilizados os seguintes principais indicadores.

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    ndice de quilmetros por veculo (km/vec/dia)O ndice de quilmetros por veculo corresponde relao entre o n-

    mero de quilmetros dirios percorridos e a frota total de veculos.Esse ndice permite avaliar a eficincia na utilizao da frota, e funo,

    sobretudo, da porcentagem do tempo que os veculos permanecem efetiva-mente circulando em operao. Depende, pois, da concentrao de viagens nosperodos de pico, da idade e estado de conservao da frota, da programaoda operao e do planejamento e eficincia do servio de manuteno.ndice de aproveitamento da frota (%)

    A frota total necessria de uma empresa, ou unidade de operao (gara-gem), igual frota mxima em operao nos perodos de pico, mais a frotade reserva da operao e mais a frota em manuteno.

    A frota de reserva refere-se aos coletivos que permanecem estacionadosem terminais ou outros locais estratgicos, prontos para entrar em servio nocaso de ocorrer problema com um veculo que est em operao (acidente,incidente, atraso excessivo, etc.).

    A frota em manuteno diz respeito aos veculos que permanecem na ga-ragem durante o dia para fazer manuteno preventiva (reviso) ou corretiva, eque, portanto, no podem ser colocados em operao.

    O ndice de aproveitamento da frota dado pela relao entre a frotamxima efetivamente em operao nos perodos de pico e a frota total, sendoexpresso em porcentagem.

    O valor desse ndice depende da idade dos veculos (quanto mais nova,menor o nmero de veculos em manuteno e de reserva da operao), do com-portamento dos motoristas (direo cuidadosa reduz a necessidade de manu-teno e de carros de reserva), da eficincia e da qualidade da manuteno(melhor a manuteno, menor a quantidade de carros em manuteno e menoro tempo de manuteno), etc.ndice de mo-de-obra (func/vec)

    O ndice de mo-de-obra corresponde relao entre a quantidade defuncionrios e o nmero de veculos na frota.

    Esse ndice permite avaliar a eficincia no aproveitamento dos recursoshumanos (mo-de-obra) e pode ser utilizado para uma avaliao global ou desa-gregada, considerando separadamente cada setor da empresa. Em geral, soconsiderados os seguintes grupos de trabalhadores: motoristas, cobradores, fis-cais da operao e funcionrios da manuteno e da administrao.

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    ndice de passageiros por quilmetro (pass/km)O ndice de passageiros por quilmetro dado pela relao entre a quan-

    tidade de passageiros transportados e o nmero de quilmetros percorridos.Esse ndice reflete o grau de utilizao do servio de transporte pblico por

    nibus na cidade, a eficincia do servio no tocante ao planejamento fsico darede de linhas e programao operacional e as caractersticas da ocupao e usodo solo urbano. Tambm influi nesse ndice o tamanho dos nibus.ndice de passageiros por veculo (pass/vec/dia)

    O ndice de passageiros por veculo obtido pela relao entre a quan-tidade de passageiros transportados por dia e o nmero de veculos.

    Esse ndice tambm reflete o grau de utilizao do servio de transportepblico, a eficincia do servio com respeito ao planejamento da rede de rotas, programao da operao e as caractersticas da ocupao e uso do solourbano. Depende, tambm, do tamanho dos nibus.Custo por quilmetro (R$/km)

    O custo por quilmetro rodado depende do tipo de veculo e da compe-tncia administrativa das empresas operadoras, bem como das condies deoperao (estado das vias, distncia mdia entre paradas, prioridade notrnsito, aproveitamento da frota, etc.).Custo por passageiro (R$/km)

    O custo por passageiro reflete a influncia de todos os fatores naeficincia econmica do servio de transporte coletivo.Relao entre o valor efetivamente arrecadado e o valorprevisto por passageiro transportado (%)

    Esta relao expressa o grau de fraudes cometidas por usurios oufuncionrios e depende do tipo de bilhetagem utilizado, do controle dautilizao de passagens com desconto e da honestidade dos operadores eusurios.

    6.4 Padres de eficincia econmicaNa Tabela 6.1 so apresentados valores mnimos/mximos considerados

    em geral satisfatrios para alguns dos ndices de medida da eficincia dotransporte pblico urbano por nibus.

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    Tabela 6.1 Valores mnimos/mximos considerados satisfatriospara alguns dos ndices de eficincia econmica.

    ndices de eficincia Valores mximos/mnimos*

    ndice de quilmetros por veculo (km/vec/dia) > 200

    ndice de aproveitamento da frota (%) > 90

    ndice de mo-de-obra (func/vec) Sem cobrador < 3,5 Com cobrador < 5,5

    ndice de passageiros por quilmetro (pass/km) > 2,5

    ndice de passageiros por veculo (pass/vec/dia) > 500 * Valores aproximados, pois dependem de inmeros fatores.

    6.5 Eficiencia socialA eficincia social avaliada com base no custo social, que reflete no

    apenas os custos monetrios da produo do bem ou servio, mas tambm oscustos dos impactos (positivos e negativos) sobre a qualidade de vida dapopulao e o meio ambiente natural e construdo.

    Como vrios aspectos do custo social so difceis de ser avaliados, aavaliao da eficincia social traz no seu bojo certa subjetividade.

    No caso do transporte coletivo urbano, o avaliao da eficincia socialenvolve a anlise da qualidade do transporte do ponto de vista dos usurios,trabalhadores e empresrios, do impacto na qualidade de vida da populao e dosimpactos no meio ambiente natural e construdo.

    A caracterizao da qualidade do transporte do ponto de vista dos usurios,trabalhadores e empresrios foi discutida no Captulo 5.

    O impacto na qualidade de vida da populao envolve a anlise dainfluncia, direta ou indireta, na segurana viria, na fluidez do trnsito, no usodo espao pblico (caladas, praas, etc.), na ocupao e uso do solo urbano,na eficincia da infra-estrutura pblica, na alocao de recursos pblicos, nagerao de empregos, nas atividades econmicas (comrcio e indstria), naaparncia da cidade, etc.

    Os impactos no meio ambiente natural e construdo podem serclassificados em dois grupos: poluio em todas as suas formas (atmosfrica,sonora, visual, por vibraes, etc.) e consumo de materiais no renovveis ouno reciclveis.

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    6.6 Questes1. Conceituar eficincia econmica na produo de um bem ou servio.2. Definido o transporte a ser realizado (local de origem e de destino e

    quantidade de unidades a ser transportada nos diversos intervalos de tempo),quais os aspectos a serem considerados para maximizar a eficincia econmica(otimizar economicamente o processo de produo)?

    3. Citar e comentar os principais fatores que afetam a eficincia econmica notransporte pblico urbano por nibus?

    4. Relacionar os principais parmetros utilizados na avaliao da eficincia eco-nmica do transporte urbano por nibus. Quais os intervalos de variaoconsiderados aceitveis para esses parmetros?

    5. Conceituar eficincia social e custo social na produo de um bem ou servio.6. Quais os aspectos envolvidos na avaliao da eficincia social dos sistemas de

    transporte coletivo urbano? Comentar cada um deles.