Treino Cognitivo em Idosos sem Demência

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Treino Cognitivo em Idosos sem Demência Estudo em idosos residentes no lar da Santa Casa da Misericórdia de Mondim de Basto Zélia Maria Faria Pereira Trabalho de Projeto apresentado à Escola Superior de Saúde de Bragança para a obtenção do grau de mestre em Envelhecimento Ativo Orientado por Professora Doutora Emília Eduarda Rodrigues de Magalhães Bragança, 2012

Transcript of Treino Cognitivo em Idosos sem Demência

  • Treino Cognitivo em Idosos sem Demncia

    Estudo em idosos residentes no lar da Santa Casa da Misericrdia de Mondim de Basto

    Zlia Maria Faria Pereira

    Trabalho de Projeto apresentado Escola Superior de Sade de Bragana para a

    obteno do grau de mestre em Envelhecimento Ativo

    Orientado por

    Professora Doutora Emlia Eduarda Rodrigues de Magalhes

    Bragana, 2012

  • Treino Cognitivo em Idosos sem Demncia

    Estudo em idosos residentes no lar da Santa Casa a Misericrdia de Mondim de Basto

    Zlia Maria Faria Pereira

    Trabalho de Projeto apresentado Escola Superior de Sade de Bragana para a

    obteno do grau de mestre em Envelhecimento Ativo

    Orientado por

    Professora Doutora Emlia Eduarda Rodrigues de Magalhes

    Bragana 2012

  • I

    Resumo

    O envelhecimento da populao um fenmeno demogrfico a nvel mundial que

    teve lugar na segunda metade do sculo XX, sendo considerado a expresso da

    inteligncia humana e do desenvolvimento social e tambm um desafio para a cincia e

    a sociedade (Fernndez-Ballesteroset al,2009).Nesta perspetiva a velhice no constitui

    um problema. Deve antes ser encarada como uma oportunidade de continuao do

    desenvolvimento atravs da construo e incrementao de programas de interveno

    cognitiva em idosos com envolvimento dos prprios especialistas em gerontologia, das

    famlias e da sociedade.

    Alguns estudos documentam declnio cognitivo ao longo do envelhecimento. No

    entanto, outras investigaes apontam que o treino cognitivo gera um aumento

    significativo no desempenho cognitivo dos idosos (Yassuda 2006).

    O presente estudo teve como objetivo avaliar o impacto do programa de

    estimulao cognitiva no desempenho dos idosos. Aplicou-se o Mini Exame Mental

    para avaliar a funo cognitiva dos participantes.

    Optou-se por realizar um estudo longitudinal, quasi experimental e quantitativo.

    O estudo foi realizado em utentes do lar da Santa Casa de Misericrdia de Mondim

    de Basto, em idosos sem diagnstico prvio de demncia.

    Como instrumento de recolha de dados utilizou-se o questionrio scio demogrfico

    e aplicou-se o Mini Exame Mental.

    Os resultados desta investigao apontam no sentido de existir uma melhoria no

    rendimento cognitivo. No pr-teste a mdia global foi de 20,7 pontos e na avaliao

    posterior foi de 23,8 pontos. Assim, os resultados indiciam um efeito positivo deste tipo

    de interveno cognitiva. Como tal, a aplicao de tais programas em instituies (como

    lares, centros de dia, entre outras) podem contribuir para prevenir ou a retardar

    problemas cognitivos, permitindo-lhes um envelhecimento ativo.

    Palavras- chave: Envelhecimento Ativo, Plasticidade cognitiva, Interveno cognitiva.

  • II

  • III

    Abstract

    Population aging is a world demographic phenomenon that started during the

    second half of the xx century; it is considered the expression of human intelligence and

    social development, as well as a challenge opportunity for science and society

    (Fernandez-Ballesteros et al, 2009).

    In this perspective old age is not a problem, it must be faced as a chance to keep

    developing through the construction and implementation of cognitive intervention

    programs with elder people, involving them, gerontology specialists, families and

    society.

    Researches show memory loss through the aging process, meanwhile, other

    studies show that training and practice improves their performance (Yassuda 2006).

    Decision was made to do a descriptive longitudinal study, to include a memory training

    program, with the objective of analyzing the impact of the memory stimulation program

    with the use of the Mini Mental Exam (MEM) after the training.

    We opted for conduct a longitudinal, quasi experimental and quantitative, consisting of

    a cognitive training program.

    The study was done at the Santa Casa da Misericordia de Mondim de Basto home, with

    old people without dementia pre diagnosis.

    The socio demographic questioner was used as the research data base to identify

    the ones without dementia.

    The results of this study show a better cognitive performance. On the pre-test, the global

    average was 20, 7 points while on the following evaluation the average was 23, 8

    points. Therefore, the results show a positive effect of this type of cognitive

    intervention, in institutions such as (old folks homes, day care centers and others) in a

    way to prevent and delay the cognitive problems in elder people, allowing them an

    active aging.

    Key words: Active aging, cognitive plasticity, cognitive intervention.

  • IV

  • V

    Lista de Abreviaturas

    OMS Organizao Mundial de Sade

    INE Instituto Nacional de Estatstica

    MEM Mini Exame Mental

    SOC Modelo de Seleo,Otimizao e Compensao

  • VI

  • VII

    ndice

    Introduo................................................................................................................... 1

    Parte I - Enquadramento Terico ............................................................................... 3

    1. Envelhecimento Demogrfico .......................................................................... 5

    2. Noes gerais sobre o envelhecimento ............................................................ 8

    2.1. Paradigma Contextualista .......................................................................... 11

    2.2. Envelhecimento Ativo ............................................................................... 13

    2.3. Teorias do envelhecimento ........................................................................ 16

    3.Institucionalizao ....................................................................................................... 21

    4. Cognio ......................................................................................................... 23

    4.1. Memria .................................................................................................... 23

    4.2. Ateno ...................................................................................................... 26

    4.3. Inteligncia ................................................................................................ 27

    4.4. Plasticidade cognitiva ................................................................................ 27

    5.Estratgias de treino cognitivo ..................................................................................... 30

    6. Treino cognitivo: reviso de alguns estudos ................................................... 32

    Parte II - Estudo emprico ........................................................................................ 37

    1. Metodologia ................................................................................................... 39

    1.1. Questo de Investigao ............................................................................ 39

    1.2. Objetivo da investigao ........................................................................... 39

    1.3. Tipo de estudo ........................................................................................... 39

    1.4. Seleo da amostra .................................................................................... 39

    1.5. Critrios de incluso .................................................................................. 40

    1.6. Caracterizao da Amostra ........................................................................ 40

    1.7. Instrumentos de recolha de dados .............................................................. 42

    2. Procedimentos ................................................................................................ 44

    2.1. Recolha de dados ....................................................................................... 44

    2.2. Procedimentos ticos e deontolgicos ....................................................... 44

    3. Plano de interveno ...................................................................................... 45

    4. Apresentao e discusso de resultados ......................................................... 47

    5. Discusso dos resultados ................................................................................ 58

  • VIII

    Concluses da investigao ................................................................................ 59

    Limitaes do estudo .......................................................................................... 59

    Implicaes para futuras investigaes ............................................................... 60

    Referncias Bibliogrficas .................................................................................. 63

    Anexos ...................................................................................................................... 73

    Anexo I - Cronograma de atividades ......................................................................

    Anexo II - Questionrio por Entrevista ...................................................................

    Anexo III - Mini Exame Mental de Folstein ...........................................................

    Anexo IV - Termo de Esclarecimento Livre e Informado ......................................

    Anexo V - Exerccios de clculo Mental ................................................................

    Anexo VI - Ateno visual ......................................................................................

    Anexo VII - Exerccios de Memria a curto prazo .................................................

    Anexo VIII - Exerccios de Evocao .....................................................................

    Anexo IX Libro de La Memria (Histria de Vida) ...............................................

  • IX

    ndice de Tabelas

    Pg.

    Tabela 1- Resultados de alguns estudos34

    Tabela 2 Caracterizao da amostra...40

  • X

  • XI

    ndice de Grficos

    Pg.

    Grfico 1 - Caracterizao dos participantes em funo do gnero... 41

    Grfico 2 - Caracterizao dos participantes em funo da idade.......41

    Grfico 3 - Caracterizao dos participantes em funo da escolaridade.......41

    Grfico 4 - Caracterizao dos participantes em funo da profisso exercida..42

    Grfico 5 - Caracterizao dos participantes em funo das atividades.42

    Grfico.6- Caracterizao dos participantes em funo dos anos de

    institucionalizao...42

    Grfico 7 - Pontuaes obtidas na orientao pr teste do MEM....47

    Grfico 8 Pontuaes obtidas na orientao ps-teste do MEM.47

    Grfico 9 Pontuaes obtidas na reteno pr teste do MEM 48

    Grfico 10 -Pontuaes obtidas na reteno ps-teste teste do MEM48

    Grfico 11- Pontuaes obtidas na ateno /clculo pr-teste do MEM......48

    Grfico 12 - - Pontuaes obtidas na ateno /clculo ps-teste do MEM..48

    Grfico 13 - Pontuaes obtidas na evocao no pr-teste do MEM.49

    Grfico 14- Pontuaes obtidas na evocao no ps-testeMEM49

    Grfico 15- Pontuaes obtidas na linguagem no pr-teste do MEM....49

    Grfico16- Pontuaes obtidas na linguagem no ps-teste do MEM49

    Grfico 17- Pontuaes total obtidas pr teste do MEM..50

    Grfico 18- Pontuaes total obtidos ps teste do MEM.50

    Grfico 19 - Anlise das mdias - orientao pr e ps teste......50

    Grfico 20 - Anlise de mdias da reteno vs Fases....52

    Grfico 21 - Anlise de mdias da ateno/ Clculo vs Fases..53

  • XII

    Grfico 22 - Anlise de mdias da evocao vs Fases54

    Grfico 23- Anlise de mdias da linguagem vs Fases..55

    Grfico 24- Anlise de mdias do pr e ps teste ...56

  • XIII

    ndice de Figuras

    Pg.

    Figura 1-Determinantes do envelhecimento ativo (de acordo com OMS, 2005).14

    Figura2-Domnios comportamentais e psicolgicos do envelhecimento ativo(adaptado

    Fernandez-Ballesteros, 2003).............15

    Figura 3 - Esquema geral dos sistemas de Memria de Pousada & Fluente

    (2007)24

  • XIV

  • 1

    Introduo

    A evoluo que ocorreu na psicologia do desenvolvimentodeixou de se restringir

    apenas infncia e adolescncia e encarou o envelhecimento como um fenmeno que

    ocorre ao longo de todo o ciclo vida (Fonseca, 2007).

    De acordo Magalhes (2011) o modelo atual de desenvolvimento humano ao longo

    do ciclo da vida, com a evoluo das diferentes capacidades, para as quais contribuem

    vrios fatores, no unidirecional, nem universal, nem irreversvel. Apesar de algumas

    capacidades se poderem deteriorar, outras mantm-se e podem ser inclusive

    enriquecidas.

    A memria a funo superior mais estudada no mbito do envelhecimento normal

    e se umas capacidades declinam com o passar dos anos, outras mantm-se bem

    preservada ,de acordo com Garcia (2009).

    Os estudos sobre a plasticidade cognitiva demonstram que o crebro tem a

    capacidade de modificao e de adaptao e que atravs dos programas de treino

    cognitivo se pode preservar um bom nvel de eficincia nas pessoas idosas bem como

    possibilitar a recuperao dos processos cognitivos.

    Em Portugal, os estudos sobre o treino da memria em idosos institucionalizados

    ainda so escassos. Deste modo, o presente estudo pretende responder pergunta qual o

    efeito de um programa de treino cognitivo em idosos institucionalizados sem

    diagnstico de demncia?

    O estudo foi realizado no lar da Santa Casa de Misericrdia de Mondim de Basto,

    com idosos sem diagnstico prvio de demncia.Como instrumento de recolha de dados

    utilizou-se o questionrio scio demogrfico e aplicou-se o MEM. A amostra foi de

    catorze indivduos.

    A presente investigao foi dividida em duas partes. Na primeira refere-se o

    enquadramento terico que, de alguma forma, deu suporte investigao realizada. Para

    tal, no primeiro ponto, abordou-se o processo Envelhecimento Humano,

    designadamente os aspetos relacionados com o envelhecimento demogrfico, tanto a

    nvel internacional como a nvel nacional. Segue-se a descrio do que a velhice e o

    envelhecimento,bem como teorias explicativas do envelhecimento as biolgicas e as

  • 2

    psicossociaise a institucionalizao. Por fim, explanou-se a cognio, com

    referncia aos sistemas da memria e s alteraes provocadas pela idade, a nvel

    cognitivo. De seguida abordou-se a inteligncia, ateno, a plasticidade cognitiva, bem

    como atividades que podem ser realizadas ao nvel do treino cognitivo e, por fim, fez-se

    a reviso de alguns estudos.

    Na segunda parte, referente ao estudo emprico, onde se expe e justifica a

    metodologia utilizada para alcanar o objetivo da presente investigao, apresentam-se

    e analisam-se os resultados obtidos, seguindo-se adiscusso dos mesmos, pretendeu-se

    dar conta das principais concluses retiradas dos resultados analisados.

  • 3

    ParteI- Enquadramento Terico

  • 4

  • 5

    1. Envelhecimento Demogrfico

    De acordo com Fernandez-Ballesteros, Pinquarty eTorpdalh (2009), o

    envelhecimento da populao no apenas um fenmeno demogrfico da europa mas

    sim um fenmeno mundial.

    Na atualidade, o envelhecimento populacionaltem-se vindo a construir como um

    tema fundamental no apenas pela relevncia do processo, mas tambm pelas

    consequncias multidimensionais que o encerra(Dias & Rodrigues, 2012).

    A longevidade, o limite mximo de vida e a expectativa de vida so trs conceitos

    bsicos, apontados por Vega & Martinez (2000), para se referir ao tempo que vive um

    indivduo. Quanto longevidade, esta uma caracterstica que define as pessoas que

    vivem muitos anos e que superam a expectativa mdia de vida. O citado conceito diz

    respeito expectativa de uma determinada populao, relativamente esperana mdia

    de vida. Uma pessoa longeva aquela que tem uma idade entre a expectativa mdia de

    vida da sua populao e o limite mximo de vida da espcie (Vega & Martinez 2000).

    Em relao ao segundo conceito, o limite mximo de vida, ele refere-se ao nmero

    mximo de anos que j viveu um indivduo da espcie e pode ser designado de perodo

    de vida ou expetativa de vida mxima potencial (Vega & Martinez 2000). No que

    concerne ao terceiro e ltimo conceito, a expetativa de vida diz respeito ao nmero de

    anos que se prev que um indivduo ir viver. De acordo com os autores citados em

    ltimo, a expectativa de vida tambm pode denominar-se por esperana mdia de vida e

    o valor da mesma pode depender dos fatores ambientais, de acontecimentos externos ao

    indivduo, da incidncia de doenas, dos avanos mdicos e tecnolgicos. A esperana

    mdia de vida no deixou de aumentar, incrementando, assim, o envelhecimento

    demogrfico que se regista, em quase todos os pases do mundo (Naes Unidas, 2010).

    De acordo com Naes Unidas (2010), em 2000, havia 600 milhes de pessoas com

    mais de 60 anos, nmero trs vezes superior ao ano de 1950, e em 2009 havia cerca de

    700 milhes de pessoas idosas. No ano de 2050, estima-se que chegar a 2 bilies de

    pessoas com mais de 60 anos, o que significa que vai triplicar num espao de cinquenta

    anos (Naes Unidas, 2010). Esta estimativa tambm apresentada pela Organizao

    Mundial de Sade (OMS, 2011).

  • 6

    De acordo com o INE (2002), o envelhecimento demogrfico definido pelo

    aumento da proporo das pessoas idosas na populao total. Aumento esse que se

    consegue em detrimento da populao jovem e/ou em detrimento da populao em

    idade ativa, o que tem vindo a aumentar em Portugal. Nazareth (2009) considera que o

    envelhecimento demogrfico se divide em dois tipos: envelhecimento na base da

    pirmide e envelhecimento no topo da mesma. Enquanto o primeiro diz respeito

    diminuio da percentagem de jovens, o segundo refere-se ao aumento da percentagem

    de pessoas de idade mais avanada. No entanto, estes fenmenos de envelhecimento

    esto interligados, uma vez que quando a populao mais jovem comea a diminuir

    (base da pirmide), os restantes grupos de idades aumentam a sua importncia

    (Nazareth, 2009). Como tal, leva a um duplo envelhecimento (INE, 2011). Portugal, em

    1970, tal como a maioria dos pases europeus, apresentava um duplo envelhecimento,

    apesar de nesta altura ser um dos pases mais jovens do contexto europeu,

    envelhecimento, esse, que ocorreu no perodo a seguir ao fim da Segunda Guerra

    Mundial (Nazareth, 2009). Consequentemente, as pirmides etrias em Portugal tm

    vindo a sofrer alteraes. Em 1981, 25% da populao pertencia ao grupo etrio mais

    jovem e a populao mais idosa (com mais de 65 anos) representava 11,4%. Mas esta

    tendncia inverteu-se e, em 2011, o grupo etrio dos mais jovens (0-14 anos)

    representava 15% da populao e a faixa etria dos idosos representava cerca de 19 %

    (INE, 2011). Segundo as previses do INE (2009), em 2060, residiro em Portugal 271

    idosos por cada 100 jovens, mais do dobro do valor projetado para 2009 (116 idosos por

    cada 100 jovens). O envelhecimento populacional a nvel geogrfico no se processou

    uniformemente segundo os resultados provisrios do INE (2012) pois cerca de um tero

    dos idosos encontra-se na regio Norte, sendo de 31% do total da populao idosa,

    seguindo-se as regies Centro e Lisboa, ambas com pesos prximos de 26%. Nas

    regies do Alentejo, Algarve, Autnomas da Madeira e dos Aores encontram-se,

    respetivamente 9,1%; 4,4%; 2%; 1,6% dos idosos residentes no pas.

    Em relao fertilidade, as Naes Unidas (2010) consideram que improvvel

    que volte a alcanar os altos nveis que foram caractersticos do passado e, ainda, que os

    pases em desenvolvimento tero menos tempo para se adaptar s consequncias deste

    fenmeno de envelhecimento. Os nveis de fecundidade na sociedade portuguesa caram

    drasticamente, permanecendo a nveis inferiores para renovar as geraes futuras

    (Carrilho & Patrcio 2010). Este facto e a longevidade, segundo os mesmos autores,

    repercutem-se na composio etria da populao e assinalam um processo de

  • 7

    envelhecimento demogrfico. Projees recentes de Portugal indiciam que os idosos

    tm vindo a aumentar significativamente ao longo dos tempos, sendo que, em 2011, a

    proporo de populao com 65 ou mais anos era de 19%, contrastando com os 8 %, em

    1960 e os 16% na dcada anterior (INE, 2011).

    O envelhecimento demogrfico acompanha alteraes a vrios nveis na sociedade,

    de acordo Fontaine (2000), Oliveira (2005) e INE (2011). A nvel econmico, o

    consequente aumento dos reformados implica menos receitas para o estado; a nvel

    social, envolve a necessidade de criar infraestruturas adequadas, tais como redes de

    apoio a idosos; a nvel cultural, surge a necessidade de criar de condies no sentido de

    que os idosos otimizem as oportunidades e capacidades, uma vez que tm um aumento

    significativo do tempo de lazer; por fim, a nvel mdico exige-se mais cuidados e gastos

    com medicao. O envelhecimento da populao torna-se um fator determinante para a

    necessidade de tomar medidas para aumentar o seu impacto positivo e diminuir o

    impacto negativo que esteja subjacente(Sequeira, 2010).

  • 8

    2. Noes gerais sobre o envelhecimento

    A palavra velhice deriva de velho, do latim veclus, vetulusm,que por sua vez,

    definida por uma pessoa de muita idade (Fernndez-Balesteros, 2004). Hamilton (2002)

    expe que a velhice era extremamente rara nos tempos pr-histricos.ParaSpar e La Rue

    (2005) a delimitao do perodo que corresponde velhice no consensual.O mesmo

    autor considera que o envelhecimento apresenta vrias alteraes, tanto a nvel

    psicolgico como biolgico, sucedendo de forma gradual, ao longo do ciclo vital e,

    como consequncia, no possvel delimitar uma data exata para que a pessoa possa ser

    considerada velha. No entanto, a OMS delimita a idade dos 65 anos como um marco

    cronolgico para a definio de pessoa idosa, correspondendo idade da reforma.

    Ao longo da histria o envelhecimento no foi das reas que mais ateno mereceu,

    o que resultou, em parte, das estruturas sociais vigentes, nas quais o nmero de crianas

    e jovens eram, na maioria das vezes, ultrapassado pelo nmero de idosos (Vega &

    Martinez, 2000).De acordo com autores supracitados o envelhecimento representa para

    alguns indivduos a entrada num ciclo que pode ter uma elevada durao, tendo em

    conta que a expectativa de vida tem aumentado neste ltimo sculo.

    Mdenes e Cabaco(2008) referem queo envelhecimento pode ser descrito como um

    processo universalque afeta todos os seres humanos.Tem origem na conceo do ser,

    desenvolve-se aos longos dos anos e termina, inevitavelmente, na morte.Uma das

    consequncias forosas dos seres vivos o envelhecimento, variando de indivduo para

    indivduo, o qual um processo contnuo de degradao(Fontaine 2000). No sendo

    uma caracterstica especfica dos tempos modernos, como expe Hamilton (2002), nos

    ltimos anos, ganhou grande importncia. Foi a dcada de 80 que marcou um ponto

    importante no estudo do envelhecimento(Fonseca 2006). Ainda neste perodo, comeou

    a ganhar um estatuto cientfico, com abordagem transversal de uma multiplicidadede

    cincias, como a bioqumica, a medicina, a demografia, o direito, a psicologia, a

    sociologia e a poltica (Fonseca, 2006).Este estudo justificado pelo aumento

    significativo de pessoas com mais de 65 anos de idade na sociedade atual e, como

    referem as estatsticas demogrficas,o envelhecimento populacional continuar a

    aumentar, o que torna pertinente criar estratgias, aes reabilitativas epreventivas que

  • 9

    possam retardar problemas decorrentes do avanar daidade (Mdenes& Cabaco,

    2008).

    De acordo com Spar e La Rue(2005), envelhecer um processo constante ao longo

    da vida, que no ocorre apenas em determinada poca da vida, pelo que, definir quando

    somos velhos nem sempre um processo fcil.No entanto, o envelhecimento pode ser

    definido de vrias formas, no existindo apenas uma nica forma de o descrever. De

    vrias definies possveis destacaram-se as seguintes:

    Yates (1993), referido por Fonseca(2006, p.58), define o envelhecimento

    como um processo termodinmico de quebra de energia, geneticamente

    determinado e condicionado sob o ponto de vista ambiental, deixando para trs

    resduos que progressivamente aumentam a probabilidade de ocorrncia de

    doenas e outras situaes de instabilidade dinmica, que por fim resultam na

    morte.

    O Ministrio da Sade (2004) define envelhecimento como um processo de

    mudana progressivo da estrutura biolgica, psicolgica e social dos indivduos que,

    iniciando-se mesmo antes do nascimento, desenvolve-se ao longo da vida (p.3)

    Fontaine (2000 p. 23)faz referncia ao envelhecimento como sendo

    um processo diferencial (muito varivel de individuo para indivduo) que

    revela simultaneamente dados objetivos (degradaes fsicas, diminuio

    tendencial dos funcionamentos percetivos e mnsicos etc.) e tambm dados

    subjetivos que constituem de fato a representao que cada pessoa faz do seu

    envelhecimento.

    Fonseca (2010) define envelhecimentocomo um perodo do ciclo de vida emque a

    generalidade das caractersticas pessoais(biolgicas, psicolgicas e sociais) muda

    deuma forma relacionada entre si, orientando-seprogressivamente para a construo de

    umaimagem de si mesmo como idoso (p.125).

    Do que indicado por Fontaine (2000) e Oliveira (2008) resulta que cada indivduo

    pode ter diversas idades,sendo elas: idade cronolgica,idade biolgica, idade

    psicolgica e idade social e cultural. Para Fontaine (2000), a idade cronolgicadiz

    respeito idade que est presente no bilhete de identidade e a idade biolgica est

    ligada ao envelhecimento orgnico. A idade social determinada por aspetos culturais e

  • 10

    histricos que influenciam as expectativas da sociedade e dos familiares relativamente

    pessoa (Oliveira, 2008; Fontaine, 2000). A idade psicolgica est relacionada com

    competncias comportamentais a que cada pessoa recorre para responder s alteraes

    ambientais, a qual compreende as capacidades mnsicas (memria), as capacidades

    intelectuais(inteligncia) e motivaes para o empreendimento(Fontaine, 2000, p.25).

    Oliveira(2008) expe que a idade cultural apresenta diferentes particularidades, pois

    enquanto nas sociedades africanas a pessoa velha adquire uma grande valorizao

    social, nas ocidentais verifica-se precisamente o contrrio.

    Schroots eBierren (1980), referidos por Fonseca (2006),identificam trs

    componentes doenvelhecimento:a componente biolgica (senescncia), que resultada

    vulnerabilidade crescente de uma maior probabilidade de morrer; o envelhecimento

    social relativoaos papis sociais apropriados s expetativas da sociedade para este nvel

    etrio (p.55) e o envelhecimentopsicolgicodefinido pela sua capacidade de

    autorregulao do indivduo face ao processo de envelhecimento (p.56).

    Oenvelhecimentopode ser encarado como a ocorrncia de uma srie de processos,

    com padres diferenciados, pelo queBusse (1999) os separa emprimrio esecundrio: o

    envelhecimentoprimrio descrito como um processo intrnseco ao organismo e

    depende de fatores adquiridos ou hereditriose o secundriodepende de fatores

    ambientais que provocam traumas ou doenas. Neste sentido, o envelhecimento

    secundrio, apesar do estar relacionado com a idade, pode no ser causado diretamente

    por ela, o que leva a que seja reversvel (Busse, 1999). Tal distino tambm feita por

    Berger (2001) e Mailloux-Poirier (1995), os quais acrescentam, ainda, que

    envelhecimento e doena no so sinnimos.Aos padres de envelhecimento,Bierrene

    Schroots, (1996), referidos por Fonseca (2006),acrescentam um novo padro de

    envelhecimento, o envelhecimentotercirio, referindo-se s rpidas alteraes que

    ocorrem na velhice, rpido, antecede a morte.

    Para Fernndez-Balestreros (2009),a ltima fase da vida que se vive a

    velhice.Viver implica estar inserido num meio, ao qual torna-se necessrio a adaptao

    ao mesmo. Nessa existncia ocorrem alguns acontecimentos negativos, mas tambm um

    conjunto de oportunidades. De acordo com autor citado em ltimo, a evoluo da

    espcie humana trouxe tambm a possibilidade de nos adaptarmos com flexibilidade,

    diversidade e mudanas a novas situaes.Posada(2005) refere que a psicologia

    evolutiva estuda a evoluo e alteraes que ocorrem no comportamento ao longo da

    vida. Na maior parte das vezes, apenas referem alteraes positivas at meia-idade, a

  • 11

    partir da poucos autores dedicaram ateno, referindo apenas em alguns casos como

    uma poca onde apenas se vivenciam perdas.Esta perspetiva,j em desuso, considera

    que o ciclo de vida humanopode ser representado por uma curva em forma de U

    invertido, na qual assistimos a ganhos desde que nascemos, estabilizando pela meia-

    idade, e no final de vida ocorre um declnio, onde predominam, na sua maioria, perdas.

    Nos finais dos anos 70 surge, na psicologia evolutiva, o ciclo vital onde se estudam as

    mudanas que ocorrem independentemente da idade na qual o indivduo se encontra

    (Posada, 2005). Neste ponto, destaca-se Erikson(1997) que considera que o ciclo de

    vida humana constitudo por oitos estdios psicossociais, em que cada etapa se baseia

    sempre na anterior, estes estdios permanecem ligados a sistemas somticos, no qual se

    mantm pendentes de processos psquicos da personalidade e do domnio moral do

    processo social. A ltima crise dos oito estdios, segundoErikson(1997), designa-se por

    integridade vs. desespero, na qual se pretende alcanar sabedoria. O desespero resulta,

    na maioria das vezes, da ausncia do envolvimento dos idosos em algumas atividades,

    nas quais participar assume importncia para o idoso, evitando que este no se sinta

    estagnado na vida, da ser fundamental que o idoso mantenha o papel de av. Na

    perspetiva do ciclo vital a manuteno e regulao da perda so dois aspetos que

    dominam o desenvolvimento na velhice, contribuindo para a importncia de ter em

    conta que ganhos e perdas no acontecem apenas nas idades anteriores mas sim ao

    longo da vida (Cardoso & Rocha, 2010).

    Na opinio deNeri (2006), a forma mais completa para encarar o envelhecimento

    a noo de curso de vida ou life-span, uma vez que permite observar o desenvolvimento

    como um processo contnuo, multidirecional de mudanas gentico-biolgicas e

    socioculturais de natureza normativa e no normativa, marcada por perdas e ganhos

    concorrentes e por interatividade entre o indivduo e a cultura (Neri, 2006,p. 19).Para

    um envelhecimento com xito importante apresentar nveis elevados de bem-estar

    psicolgico(Pal & Fonseca, 2005).

    2.1. Paradigma Contextualista

    Fonseca (2007) descreve quatro teorias que procuram explicar o desenvolvimento

    humano no decurso da vida, sendo elas: abordagem ecolgica deBronfenbrenner (1979),

    contextualismo desenvolvimental deDixon, Lerner (1992), teoria da ao e do controle

    de deBrandtstadter (1984) e perspetiva desenvolvimental do ciclo da vida de Baltes

  • 12

    (1987, 1993, 1997, 1999, 2005). Quanto abordagem ecolgica, ela indica que o

    desenvolvimento decorre na sequncia de mudanas duradouras e estveis, resultantes

    da interao do indivduo com o meio, responsabilizando o indivduo pelo seu prprio

    desenvolvimento. No contextualismo desenvolvimental, os indivduos so produtores

    do seu prprio desenvolvimento, sobressaindo as ideias de plasticidade e de natureza

    interativa do desenvolvimento (indivduo cultura). Por outro lado, a teoria da ao e

    do controle refere que a ao individual e social, que regula o desenvolvimento e o

    indivduo, esfora-se para atingir determinados fins ou objetivos desenvolvimentais

    criando condies ecolgicas artificiais de acordo com as suas capacidades e

    competncias. Na perspetiva desenvolvimental do ciclo da vida, o desenvolvimento

    resulta da interao entre os fatores biolgicos, culturais e histricos, dando relevo a um

    desenvolvimento por oscilaes atravs de uma alternncia permanente entre ganhos e

    perdas desenvolvimentais.

    De acordo com Fonseca (2010), o recurso a mecanismos de seleo, otimizao e

    compensao (SOC), funciona como uma forma de o indivduo continuar o seu

    desenvolvimento de uma forma adaptativa na sua interao com o meio, maximizando

    os ganhos e minimizando as perdas.

    De acordo com Fonseca (2010), o modelo SOC procede da convico de que o

    curso da vida supe alteraes regulares em termos de objetivos e do sentido da prpria

    vida, requerendo, tais alteraes, que se faam mudanas sistemticas na distribuio de

    recursos.

    O ciclo de vida decorre em duas fases, nas quais se processam alteraes de

    objetivos e sentido da prpria vida. Enquanto na primeira fase da vida se investe em

    ganhos desenvolvimentais, na segunda fase centram-se na manuteno dos mesmos e na

    reparao de eventuais perdasFonseca (2010).

    Os mecanismos do modelo SOC so considerados processos universais de

    regulao do desenvolvimento que podem variar na expresso dofentipoedepender do

    contexto socio-histrico e cultural (Freund&Baltes, 2009). Os mesmos autores referem

    que a seleo tem a ver com a especificao de uma determinada via, ou conjunto de

    vias, para o desenvolvimento. Esta especificao seletiva supe a limitao de uma srie

    de alternativas dentro das possibilidades da plasticidade, determinadas por

    condicionantes biolgicos e culturais. A seleo tambm tem em conta o facto dos

    recursos como o tempo e a energia serem limitados ao longo do ciclo vital. Assim, tais

    recursosservem para estabelecer limitaes que permitem a especificao e a

  • 13

    diferenciao.Fonseca(2010) salinta quea seleo quando o indivduo seleciona um

    dado percurso desenvolvimental de entre um leque de oportunidades, base para a

    aquisio de novos recursos. Para Freund eBaltes (2009), a otimizao refere-se

    aquisio, aplicao e integrao de recursos implicados na concretizao para alcanar

    nveis de desempenho mais elevados. Na velhice, a otimizao das potencialidades

    uma das razes para investir tempo e energia em programas aprendizagem ao longo da

    vida, sendo este um requisito para envelhecer com xito e ativamente(Freund&Baltes,

    2009). A compensao diz respeito gesto das perdas, ou sejaao balano entre os

    ganhos e as perdas com o recurso aos meios disponveis(Freund&Baltes, 2009), o que

    vai de encontro da opinio de Fernndez-Ballesteros (2009), quando refere que a

    compensao um mecanismo para equilibrar as perdas sofridas e, apesar disso, manter

    um bom desempenho. Dado que tanto a compensao como a otimizao requerem um

    esforo individual e envolve um processo cuidadoso e seletivo, antes de decidir o que se

    deve otimizar e o que se deve compensar, este processo complexo requer a tomada de

    decises e a resolues de problemas (Fernndez-Ballesteros, 2009). Para Oliveira

    (2005), o modelo referenciado anteriormente permite um envelhecimento bem-

    sucedido, uma vez que possibilita a seleo do que mais importante, otimizando-oe

    usando eventuais compensaes. Para Neri (2006) significa simplesmente fazer e ser o

    melhor possvel com os recursos que se dispe (p. 27). Para Baltes e Smith (2004),

    citado por Fonseca (2010) o modelo SOC adquire a sua expressividade mais

    significativa na meia-idade, altura em que a perceo do envelhecimento comea a fazer

    se sentir de forma irremedivel (p.30). Assim em cada caso de envelhecimento bem-

    sucedido, existeuma apropriao criativa, individualizada, esocialmente apropriada, dos

    mecanismos de seleo, otimizao e compensao (Baltese Baltes, 1990 citado por

    Fonseca 2010).

    2.2. Envelhecimento Ativo

    Quando a Organizao Mundial de Sade (OMS),em 2002,adotou o termo

    Envelhecimento Ativo definindo-o como como um processo deotimizao das

    oportunidades de sade,participao e segurana, com o objetivo demelhorar a

    qualidade de vida medida que as pessoas ficam mais velhas (OMS, 2002,p.12). Nessa

    altura ainda poucos reconheciam a importncia que hoje universalmente se atribuiu ao

    envelhecimento.O Parlamento Europeu e a Comisso Europeia determinaram que o ano

  • 14

    de 2012 fosse o ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre

    Geraes(Fonseca, 2012).A expresso ativoalude participao contnua nas questes

    sociais, econmicas, culturais e civis, no s das pessoas saudveis e fisicamente ativas,

    mas tambm daquelas que apresentam alguma doena ou sejam fisicamente

    incapacitados (OMS, 2002). Como mencionamBauz eBennassar(2010), o

    envelhecimento ativo baseia-se essencialmente nos direitos humanos das pessoas idosas

    e nos princpios das Naes Unidas de independncia, participao,

    dignidade,assistncia e realizao das suas aspiraes.

    A figura 1apresentaum conjunto de fatores que interferem no envelhecimento ativo

    estabelecidos pela OMS (2002), representados de modo circular, uma vez que indicam

    as vrias direes em que os mltiplos sistemas atuam (Fernndez-Ballesteros 2009).

    O envelhecimento ativo depende, segundoRibeiro &Pal (2011), de uma

    diversidade de fatores assinalados de determinantes, onde se incluem os determinantes

    da esfera pessoal; comportamental; econmica; meio fsico; sociais e, por ltimo, os da

    esfera da disponibilizao dos servios sociais e de sade. A Organizao Mundial de

    Sade (2002) expe que, quer a cultura, quer o gnero so fatores determinantes

    transversais. Os valores culturais e as tradies determinam muito como uma sociedade

    Figura 1- Determinantes do envelhecimento ativo

    Fonte: Envelheciemnto Ativo uma Poltica de Sade (p.19), Organizao Mundial de Sade (2005), Organizao Pan-

    Americana da Sade.

  • 15

    encara as pessoas idosas e o processo de envelhecimento. Por outro lado, encontra-se o

    gnero, poisem muitas sociedades as mulheres jovens e adultas tm um estatuto social

    inferior ao dos homens.

    A figura 2 apresenta os quatro domnios do envelhecimento ativo em que se

    organizam as condicionantes psicolgicas e comportamentais, como: a sade

    comportamental e boa forma fsica; timo funcionamento cognitivo; autorregulao

    emocional e motivacional; alto funcionamento social.

    Figura 2 Domnios comportamentais e psicolgicos do envelhecimento ativo

    Fonte: Envejeciemnto Activo Contribuciones de la Psicologia, Fernndez-Ballesteros, R. (2009). Madrid: Pirmide.

    Em Portugal tm sido desenvolvidos programas de envelhecimento ativo, como o

    ProgramaNacional para a Sade das Pessoas Idosas,emitido em 2004, pela Direo

    Geral de Sadecom finalidade de adequao dos cuidados s necessidades das pessoas

    idosase promoo do desenvolvimento de ambientes capacitadores(MS, 2004).O

    Programa de Ao 2012, includo no Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da

    Solidariedade entre Geraes (2012),tem como principais medidas e iniciativas

    asOportunidades e Ganhos em Sade ao Longo da Vida; Acessibilidade para Todos/as

    Dentro e Fora de Casa; Segurana Social Perante Eventualidades da Vida; Conhecer,

    Ganhar Mais Sabedoria e Divertir-se; Novas Tecnologias de Informao e

  • 16

    Comunicao Informao til e Oportuna, Voluntariado e o dilogo entre Geraes

    (GP, 2012).

    Em suma, o envelhecimento ativo pode ser considerado como o produto do

    processo de adaptao que ocorre ao longo da vida, atravs do qual se pode alcanar um

    timo funcionamento fsico, cognitivo, emocional-motivacional e social (Fernndez-

    Ballesteros, 2009).Para o caminho do envelhecimento ativo devem-se conjugar as

    experincias universais do envelhecimento com estratgias individuais de compensao

    e preveno que otimizem o equilbrio entre ganhos e perdas na vida adulta

    tardia(Ribeiro & Pal, 2011).

    2.3. Teorias do envelhecimento

    As teorias que explicam o envelhecimento, na opinio deVega e Martinez (2000),

    Rossel, Herrera & Rico (2004) e Mailloux-Poirier (1995), so mltiplas e envolvem

    teorias biolgicas eteorias psicossociais. Assim sendo, de forma a entender o processo

    de envelhecimento, sero apresentadas algumas teorias divididas em duas categorias: as

    biolgicas e as psicossociais, as quais referem uma srie de etapas ou estdios na vida

    do ser humano.

    Teorias Biolgicas

    De acordo com Busse e Blazer (1996),o envelhecimento biolgico no diz

    respeito apenas aos ltimos anos da vida, pois pode iniciar-se logo na conceo. Este

    tipo de envelhecimento envolve as alteraes fsicas que se manifestam na idade adulta,

    tendo como consequncia um decrscimo na eficincia do funcionamento e termina na

    morte. Para Fonseca (2006), o envelhecimento biolgico um processo cujos efeitos

    so visveis mas cujo mecanismo interno permanece,em grande medida, desconhecido

    (p.56).

    Mailloux-Poirie(1995) e Vega e Martinez (2000)agrupam as teorias biolgicas do

    envelhecimento em: Teoria imunitria; Teoria gentica; Teoria do erro na sntese

    proteica; Teoria do desgaste; Teoria dos radicais livres; Teoria neuro-endcrina.

    Segundo a Teoria Imunitria, o envelhecimento resulta de alteraes que levam o

    sistema imunitrio a atacar as clulas do prprio organismo (Mailloux-Poirie, 1995). O

    mesmo apontado por Busse e Blazer (1999) quando referem queno envelhecimento se

  • 17

    verifica uma diminuio na eficincia dos mecanismos de proteo,o que diminui a

    vigilncia do sistema imunitrio. A destruio do sistema imunolgico resulta numa

    maior incidncia de doenas na populao idosa(Busse& Blazer, 1999). Hamilton(2002)

    sintetiza esta teoria com o facto do sistema imunitrio ter uma menor capacidade de

    produzir anticorpos, o que diminui a sua capacidade de combater as infees. O sistema

    imunitrio identifica de forma errada clulas do corpo como agentes infeciosos,

    acabando por atac-las.

    No que concerne Teoria gentica, o envelhecimento encarado como tendo uma

    base gentica e a vida do indivduo vem programada na clula ou nos genes da espcie.

    Assim, o limite mximo da vida encontra-se geneticamente programado(Mailloux-

    Poirie, 1995; Vega & Martinez, 2000). Esta programao, ou estes processos,

    encontram-se nas molculas do ADN dos genes dos indivduos. Rossel, Herrera &

    Rico(2004) referem que existe um certo nmero de divises celulares predefinido, o que

    implica uma limitao na reproduo celular (limite de Hayflick).

    A Teoria do erro na sntese proteica, explica o envelhecimento como consequncia

    da morte celular, a qual resulta da acumulao de mudanas acidentais que acontecem

    num determinado lugar ao longo da vida nas clulas(Mailloux-Poirie, 1995; Vega &

    Martinez, 2000). Estas mudanas aleatrias ou mutaes podem afetar as molculas de

    ADN que deixam de se reparar ou acontecem de uma forma muito rpida que no

    podem reparar-se. Estas mutaes acumulam-se no corpo celular e a clula perde a

    capacidade para funcionar e para dividir-se. Os erros podem tambm produzir-se na

    transcrio do ADN para o ARN ou na traduo do ARN para as protenas (Mailloux-

    Poirie, 1995; Vega & Martinez, 2000).

    Segundo a Teoria do Desgaste, o organismo encarado como uma mquina que

    sofre um desgaste natural,indo de encontro ao que acontece com o envelhecimento

    humano.Existem aspetos como a atividade, o trabalho e o exerccio, que no aceleram o

    envelhecimento ou a morte. No entanto existem alguns aspetos que podem estar

    relacionados com o desgaste natural, como a exposio solar, a exposio radiao ou

    o lcool (Mailloux-Poirie, 1995 e Vega & Martinez, 2000).

    Umasubteoria do envelhecimento biolgico a dos radicais livres (Vega &

    Martinez, 2000). Tendo por base a citada subteoria, Vega e Martinez (2000) salientam,

    que o radical livre reduz a eficcia celular e causa a acumulao de resduos na clula.

    Estes radicais livres podem ser produzidos pelo calor extremo, pelas interaes

    oxidativas ou pela radiao. De acordo com o autor supracitado, o processo de

  • 18

    envelhecimento e a morte prematura do organismo devem-se ao facto de existir uma

    acumulao excessiva de radicais livres que danificam a membrana e outros

    componentes da clula, acelerando o processo de envelhecimento e produzindo uma

    morte prematura do organismo (Vega & Martinez, 2000).

    Segundo a Teoria Neuro-endcrina, o envelhecimento est relacionado com o

    fracasso ou insuficincia do sistema endcrino, no que se refere coordenao das

    diferentes funes do corpo e grande parte das funes neuro - endcrinas diminuem

    com idadeMailloux-Poirie(1995).Vega & Martinez (2000) referem que o sistema

    endcrino controla as atividades do corpo atravs das hormonas, as quais regulam

    muitos processos metablicos,so produzidos nas glndulas endcrinas e transportadas

    atravs da corrente sangunea. Enquanto estes mecanismos hemostticos no esto

    deteriorados, o corpo consegue manter a sua capacidade de raciocinar em situaes que

    implicam stress. A morte pode acontecer pela incapacidade do organismo autorregular

    as mudanas que se produzem no corpo(Vega & Martinez, 2000).

    A Teoria Geodinmica (Yates, 1998), destacada por Vega e Martinez (2000),consta

    duma aproximao alternativa s teorias anteriores. No inclui apenas as teorias

    celulares, mas refere-se ao envelhecimento em geral. De acordo com os mesmos

    autores, esta teoria explica o envelhecimento pela acumulao da entropia, ou seja a

    desordem perante a ordem. O envelhecimento definido desta forma, ainda de acordo

    com Vega e Martinez (2000), um processo oposto ao desenvolvimento.Vega &

    Martinez (2000)ainda referem que a destruturao, a desorganizao, o desequilbrio,

    entre outros, no se estruturam, organizam ou equilibram, como acontece com o

    desenvolvimento, mas acumula-se. Esta acumulao de desordem uma fora, uma

    energia negativa que constitui a base do envelhecimento.

    Tomando por base aTeoria do sistema nervoso, Vega e Martinez (2000) explicam o

    envelhecimento com a perda de eficincia de alguns mecanismos. Assim, pode-se

    distinguir envelhecimento normal e envelhecimento patolgico do sistema nervoso. Em

    relao ao envelhecimento citado em ltimo, ele acarretar o aparecimento de certo tipo

    de demncias, mas s algumas pessoas so afetadas. O envelhecimento do sistema

    nervoso deteta-se a vrios nveis, entre eles est: alterao do nmero e tamanho dos

    neurnios e do tamanho dos mesmos, da estrutura neuronal, do ncleo dos neurnios, da

    morfologia das dendrites, do peso e morfologia do crebro, dos sistemas de sada e

    entrada dainformao, das sinapses, dos neuro - transmissores, das estruturas

    intracelulares.

  • 19

    Teorias Psicossociais

    De acordo com a Teoria da desvinculao, com o envelhecimento ocorre separao

    fsica, psicolgica e social (Rossell, 2004e Mailloux-Poirie, 1995). O envelhecimento

    implica um afastamento recproco do idoso relativamente sociedade em que est

    inserido e esta, por sua vez, tambm o rejeita. Neste sentido, a sociedade fora o idoso a

    isolar-se, o que o leva a desligar-se do mundo, a diminuir as obrigaes e atividades,

    circunscrevendo-se famlia e aos amigos. Os princpios bsicos desta teoria so: o

    envelhecimento implica um afastamento do idoso relativamente sociedade e da

    sociedade em relao ao mesmo; o envelhecimento tem uma vertente psicolgica, uma

    vertente social e a desvinculao saudvel para o indivduo (Mailloux-Poirie, 1995).

    Busse& Blazer (1999) so da opinio que os idosos acabam por ter um desvio da

    ateno do mundo exterior para o mundo interno, para os prprios sentimentos e

    pensamentos. No entanto, existe tambm uma separao social, que tem por base um

    decrscimo das suas relaes sociais, relaes que mantinham com a famlia, com igreja

    e com a comunidade em que est inserido(Busse& Blazer (1999).

    Segundo a Teoria da atividadeHavighurst (1987) os idosos devem-se manter ativos,

    de modo a conseguirem uma melhor qualidade de vida(Mailloux-Poirie, 1995). Neri

    (2001) aborda esta teoria referindo que o individuo ao envelhecer se depara com

    alteraes relacionadas com as suas condies anatmicas, psicolgicas e de sade que

    so especficas desta etapa da vida.No entanto, as suas necessidades sociais e

    psicolgicas permanecem as mesmas de antes. Paraenvelhecer com xito, de acordo

    com a teoria citada em ltimo, a pessoa deve permanecer ativamente na

    sociedade.Enquadrado na referenciada teoria, Rossell (2004) expe os princpios

    bsicos do envelhecimento, sendo eles a satisfao da vida vincula-se a papis

    familiares, sociais e laborais; o prolongamento da atividade prolonga a idade adulta e a

    meia-idade; preciso valorizar a atividade e atribuir ao idoso papis apreciados

    socialmente; a atividade depende do estado de nimo; por fim, a satisfao est

    vinculada com o tipo de atividade.

    Tendo em considerao a Teoria da continuidade,Mailloux-Poirie (1995) fazem

    referncia existncia de uma continuidade no comportamento do idoso.

    De acordo com a Teoria da subcultura, Rossel, Herrera e Rico (2004), consideram

    que os idosos interacionam mais com os indivduos da mesma idade ou prxima, de que

  • 20

    com indivduos de outras idades, pois apresentam mais afinidades, desde a forma de

    pensar, sentir, executar e perspetivar a vida.

    Segundo a Teoria do grupo minoritrio, Rossel, Herrera e Rico (2004) so da

    opinio que os idosos vm-se obrigados a ingressar num grupo, o qual apresenta

    caractersticas negativas como os de todas as minorias, segregao, pobreza e auto

    estima baixa, entre outros.

    Na Teoria das tarefas, o desenvolvimento entendido de modo a ter um

    envelhecimento bem-sucedido(Rossel, Herrera & Rico,2004). Esta teoria apresenta os

    perodos: incio da idade adulta(30-40 anos), ondeocorre concentraodas energias na

    consolidao profissional, social e familiar;maturidade (40-50anos), etapa em que o

    indivduo se afirma, continuando com as suas responsabilidades sociais e cvicas e

    fortalece as suas relaes sociais; ltimos anos da maturidade (50-60 anos), aqui os

    indivduos retificam a sua posio e corrigem os seus papis, existem perdas, papis

    novos e adequao ao seu novo grupo idade.

  • 21

    3. Institucionalizao

    Em Portugal os idosos representam, cada vez mais, uma faixa etria

    significativa, como apontam as estatsticas do envelhecimento

    demogrfico.Assim,Lemos (2000) declara que as sociedades desenvolvam mecanismos

    que possam assegurar qualidade de vida dos que envelhecem. Neste sentido,Pal (1997)

    classifica as redes de apoio ao idoso classificando-asem redes de apoio formaise

    informais.Ser feita a referencias redes formais pois o estudo desenvolve-se numa

    instituio dessas redes formais (lar de idosos).

    A Segurana Social, em 1996,definiu os lares de idosos como uma resposta social

    de alojamento coletivo, de carcter coletivo, em que este pode ser de carcter

    permanente ou temporrio, destinado a idosos que perdem a sua autonomia/

    independncia. A definio de Lar de Idoso est consagrada no Despacho Normativo n

    12/98 de 25 de Fevereiro. Considera-se lar o estabelecimento em que sejam

    desenvolvidas atividades de apoio social a pessoas idosas, atravs do alojamento

    coletivo, de utilizao temporria ou permanente, com fornecimento de alimentao,

    cuidados de sade, higiene e conforto, fomentando o convvio e propiciando a animao

    social e a ocupao dos tempos livres dos utentes(Bonfim, Garrido, Saraiva, & Veiga,

    1996). ainda objetivo dos lares proporcionar aos idosos servios para o seu bem-estar

    biopsicossocial, fornecer condies que permitam um retardar do envelhecimento,

    devem fomentar as relaes interfamaliares e potenciar a integrao social.

    Os autoresSousa, Figueiredo e Cerqueira(2004)referem que a institucionalizao

    ocorre com base em trs parmetros. O primeiro, aps a morte do conjugue, o idoso

    passa a viver sozinho e teme necessitar de auxlio e no o ter. Em segundo, quando o

    idoso sofre de uma doena ou queda e a casa no se encontra adequada para a nova

    situao. Por fim, quando a sua localizao geogrfica fica num local isolado e este

    pensa em morar num local mais adequado, como, por exemplo, a casa do filho. A casa

    representa para o idoso uma dimenso global de independncia pessoal de segurana,

    privacidade, identidade entre outras. Inserido numa comunidade tambm est associado

    as rotinas e sair implica alteraes nos costumes de vida. A casa

  • 22

    pode tambm surgir como um local de vulnerabilidade (Sousa, Figueiredo &

    Cerqueira 2004)Para os autores supracitados, a institucionalizao para o idoso, uma

    etapa que fica marcada pela sada da sua casa. De acordo com Hernandis e Martinez

    (2005), nesta fase o idoso tem que se adaptar a novas situaes, a novas relaes

    sociais, bem como a uma estruturao das rotinas dirias, em que as atividades

    dependem das normas que regulam a vida dos residentes e existe maior controlo sobre

    os aspetos vitais e perda de certas liberdades individuais. Ainda de acordo com os

    ltimos autores, no processo de institucionalizao o idoso confrontado com alguns

    desafios inerentes institucionalizao, existindo um abandono do seu lugar, diminui o

    contacto com os seus familiares e vizinhos, dos seus animais de estimao e muitos dos

    seus pertences. Torna-se, assim, fundamental dar especial ateno institucionalizao,

    de forma a proporcionar uma melhor qualidade de vida do idoso. Para Mdenes e

    Cabaco (2008), importante criar programas que apontem para a manuteno das

    capacidades cognitivas e funcionais nos idosos institucionalizados, permitindo ter uma

    melhor auto estima e qualidade de vida. Estes programas devem ter um carcter

    multidisciplinar e, na opinio de Calero(2003), a implementao de programas

    cognitivos numa instituio (centro de dia, lares, entre outros) requer poucos recursos e

    tem considerveis benefcios.

  • 23

    4. Cognio

    4.1. Memria

    A memria a funo superior mais estudada no mbito do envelhecimento normal

    e se umas capacidades declinam com o passar dos anos, outras mantm-se bem

    preservada de acordo com Garcia (2009).

    De acordo com Fernandez& Fluente (2005), a memria um sistema que permite

    ao organismo obter e representar a informao, mant-la durante perodos variveis de

    tempo, recuper-la e us-la de forma adequada, no momento oportuno. A memria

    pode-se definir como a capacidade dos animais para adquirir, reter e utilizar

    conhecimentos e habilidades(Ruiz-Vargas, 2008). Segundo Belsky (2001), mais do que

    qualquer outro problema, a memria o que mais personifica a velhice.Yanguas,

    Leturia, Leturia eUriarte(2002) destacam que as funes cognitivas so aquelas funes

    e processos pelos quais o individuo recebe, armazena e processa a informao relativa a

    si mesmo eaos outros que esto em seu redor. De entre as vrias funes destacam-se a

    ateno, a perceo, a memria, a orientao e o juzo. Os autores supracitados em

    ltimo referem que a memria a funo cognitiva mais importante, pois est

    relacionada com as mudanas globais e intelectuais das pessoas idosas e desempenha

    cada vez mais um papel importante, sendo bsica para a resoluo de problemas e para a

    adaptao ao meio. necessrio diferenciar vrios tipos de memria, como funcionam e

    como so afetadas com a idade porque no se pode falar de um deterioro de memria

    unvoco (Yanguas, Leturia, Leturia&Uriarte2002). Schaie e Willis(2003),referenciam

    trs grandes sistemas que configuram a memria humana: a memria sensorial, a

    memria a curto prazo e memria a longo prazo.De acordo com Marchand(2001), a

    distino entre os sistemas de memria baseia-se na durao da informao armazenada

    e na capacidade de armazenamento.

    A figura 3 resume as estruturas do sistema de memria.

  • 24

    Figura 3 - Esquema geral dos sistemas de Memria

    Fonte: Psicologa De La Vejez (2007) In: Triad, Carmen y Villar, Feliciano,Psicologa De La Vejez. Madrid.

    Alianza Editorial.

    A Memria sensorial, de acordo com Pousada & Fluente (2007),regista o estmulo

    do exterior, durante fraes de segundos e antes de desaparecer. Na opinio de

    Mailloux-Poirier (1995), o sistema responsvel pela receo inicial da informaopois

    um mecanismo sensitivo que permite conservar uma cpia do estmulo durante dois

    segundos(p.177). Este sistema de memria,com o envelhecimento, sofre algumas

    transformaes, atingido particularmente a fixao das impresses sensoriais (Mailloux-

    Poirier, 1995).

    A Memria Curto Prazo,para Baddeye(2009)eSchaie eWills(2003),est relacionado

    com a reteno de pequenas quantidades de informao e mantm-na de forma

    consciente. Berger(1995)refere queeste sistema de memria muito limitadoe permite

    reter um nmero de telefone durante poucos segundos, os necessrios para o marcar. O

    mesmo autor refere que a capacidade de memria aproximamente de cinco palavras

    ou sete nmeros consecutivos(Berger, 1995, p. 178).Para Garca, Gonzleza, Ceballos,

    Daza, Carbonell eGarca (2008),no processo de envelhecimento, a memria a curto

    prazo parece no ter demonstrado um declive associado idade, na ausncia de

    demncia. No entanto,Baddelye (2009) defende que as pessoas mais velhas tm

    especial dificuldade de armazenar diversos itens de novas informaes na mente

    enquanto analisam de maneiras complexas, principalmente quando aparece material que

  • 25

    desvie a sua ateno (p. 418).Schaie eWills(2003)aludem que a memria a curto prazo

    pode ser divida em memria primria e memria de trabalho.Memria primriaimplica

    manter na mente uma pequena quantidade de informao como um nmero de telefone,

    tendo uma capacidade muito pequena e sendo muito breve. Se for necessrio recordar a

    informao mais tarde, ento esta informao tem que passar a memria de trabalho.

    Amemria de trabalho, conforme refereBaddeley (2009), um sistema de memria que

    serve de base nossa capacidade de manter as coisas em mente ao realizarmos tarefas

    complexas (p. 22).A memria de trabalho tambm est implicada quando necessrio

    manipular a informao para resolver um problema ou tomar uma deciso (Schaie &

    Wills, 2003).O envelhecimento, neste tipo de memria, est associado a um declnio das

    aptides, nomeadamente quando essencial a manipulao ativa da informao, por

    exemplo quando se pede para repetir os nmeros por ordem inversa(Spar & La Rue,

    2005).

    A memria a longo prazopossui uma grande capacidade de armazenamento de

    informao, a qual pode reter-se durante longos perodos de tempo (Schaie & Wills,

    2003), ou mesmo durante uma vida inteira (Berger, 1995).Quando a informao

    codificada transferida para a memria a longo prazo e onde se mantm at que seja

    necessria(Vega & Martinez, 2000).Triad&Villar(2007) referem que o sistema de

    memria a longo prazo constitudo por dois subsistemas: a memria declarativa e a

    memria no declarativa. O estudo com pessoas mais velhas tem demonstrado

    resultados impressionantes, como o caso dum estudo em que os idosos recordaram

    nomes ou fotografias de mais de 70% dos colegas da escola, passado quase 50

    anos(Spar & La Rue, 2005).A memria episdica uma memria virada para o

    passado, no se verificando em mais nenhum sistema de memria, e permite aos seres

    humanos lembrar-se do seu passado e das experincias(Tulving, 2002).De acordo

    Belsky(2001) e Rossell (2004)a memria episdica permite recordar acontecimentos

    especficos.Na opinio deGarca, Gonzleza, Ceballos, Daza, Carbonell &Garca

    (2008), parece existir uma deteriorao associada idade, na recordao dos

    acontecimentos recentes. Esta deteriorao verifica-se essencialmente quando a tarefa

    da memria episdica a que se prope a pessoa implica um esforo de recuperao e

    codificao da informao importante, isto quando a execuo desta tarefa requer a

    memria de trabalho (Garca, Gonzleza, Ceballos, Daza, Carbonell &Garca, 2008).

    Baddelye(2009)definiu a memria semnticacomo o sistema que permite armazenar

    o conhecimento sobre o mundo. ParaFernndez-Ballesteros, Zamarrn, Calero&

  • 26

    Trraga (2009),a memria semntica a parte do sistema da memria humana que se

    refere aos conhecimentos de temas, como conceitos, o significado das palavras e o

    conhecimento do mundo que nos rodeia, como atos, aes, eventos e pessoas. Em

    relao memria semntica, esta mantm-se de maneira estvel (Ruiz-Vargas,

    2008).ParaBelsky(2001), a memria procedimental ou implcita est relacionada com a

    informao que memorizamos e recordamos automaticamente, sem refletir nem pensar

    de forma consciente. Este sistema de memria inclui vrios tipos de aprendizagens

    como as emoes e muitas destrezas fsicas. Uma vez que se aprende uma destreza

    bsica (por exemplo, andar de bicicleta), este tipo de memriatorna-nos capazes de

    recordar automaticamente essa atividade, sem necessitar dum esforo consciente,

    quando este estmulo se apresenta de novo (Belsky 2001).A Metamemria, de acordo

    com Yanguas, Leturia, Leturia, eUriarte, (2002), consiste na forma como cada pessoa

    percebe a sua memria. Nas pessoas idosas ocorre um fenmeno de retroalimentao, o

    feedback e auto-justificao nas dificuldades da execuo.Ametamemria um

    fenmeno multidimensional que implica quatro reas principais: o conhecimento real

    sobre o funcionamento da memria, o uso das estratgias de memria, a autoeficcia da

    memria e a afetividade relacionada com a memria (depresso, ansiedade)(Schaie &

    Willis, 2003).

    4.2. Ateno

    Para os autores Fernndez-Ballesteros, Zamarrn, Calero e Tarraga (2009), a

    memria e ateno formam parte do que se denomina de cognio, ou seja do conjunto

    dos processos mentais que permitem elaborar a informao que se recebe e utiliza para

    dar respostas s necessidades.Vega e Martinez (2000) definem a ateno como a energia

    ou a capacidade necessrias para apoiar o processamento cognitivo, sendo a mesma

    dividida em quatro categorias diferentes: ateno mantida,ateno dividida, ateno

    seletiva e mudana de ateno. A ateno mantida consiste em manter a ateno na

    tarefa que se est a realizar durante um determinado perodo de tempo; aateno

    dividida quando se est a realizar duas tarefas ao mesmo tempo; a ateno seletiva

    quando se selecionam sinais importantes, de um conjunto de estmulos, isto encontrar,

    de forma seletiva, a informao que relevante e ignorar aquela que no se considera

    um requisito prvio para o desenvolvimento de uma conduta realmente adaptativa e

    afetiva; a mudana de ateno onde se alterna entre duas fontes de informao. Todas

  • 27

    estas categorias so importantes em qualqueretapa da vida. A ateno um processo

    complicado e onde intervm muitos fatores, como, por exemplo, os idosos precisam de

    mais tempo para processar a informao, mas com um tempo adequado de preparao,

    muitas diferenas de idade nas tarefas de ateno desaparecem(Vega & Martnez,

    2000). Oliveira(2008) e (Mdenes & Cabaco, 2008) so da opinio que paramemorizar

    necessrio prestar ateno, por isso, os idosos devemrealizar exerccios de forma a

    treinar a ateno e a controlar os distratores, porque uma memria eficaz depende do

    nvel de ateno adequado.

    4.3. Inteligncia

    Wechsler (1939) citado por Rossell,(2004) descreveu a inteligncia como a

    capacidade global do sujeito para atuar adequadamente, pensar razoavelmente e

    relacionar-se efetivamente com o meio envolvente.A inteligncia implica a capacidade

    para adaptar-se, ou aprender a adaptar-se, a novas situaes atravs de respostas

    adequadasFernndez- Ballesteros et al (2003 pg.50).

    De acor do com Horn (1970), citado por Belsky (2001) a inteligncia cristalizada ou

    pragmtica: refere-se categoria de inteligncia que reflete a base de conhecimentos de

    uma pessoa, a sua cultura, experincia, ou seja a quantidade de informao acumulada. .

    Esta depende da experincia acumulada e no se deteriora com o passar do tempo, mas

    pode ser melhorada (Hernandis & Martnez, 2005).

    A inteligncia fluida ou mecnica a categoria de inteligncia que reflete a

    capacidade de raciocinar, bem como a rapidez perante problemas novos, ou seja as

    destrezas no esto to dependentes da experincia. medida que o tempo passa as

    estruturas nervosas vo-se deteriorando, observando-se um declnio ao nvel do

    funcionamento da inteligncia fluida.

    4.4. Plasticidade cognitiva

    A OMS (2005) refere queno processode envelhecimento normal,

    algumascapacidades cognitivas, como a aprendizagem e a memria diminuem, com a

    idade. No entanto, os avanos dasneurocinciasmostraram evidncias favorveis

    plasticidade neuronal (Oliva, Dias & Reis 2009). De acordo com LeDoux (2002),

  • 28

    referenciadopelosautores citado em ltimo,o crebro humano composto por um grande

    nmero deneurnios intrinsecamente interligados que permitem a regulao de funes

    bsicas, como respirao e tarefas elaboradas.

    Para Klautau, Winograd e Bezerra (2009), o conceito de plasticidade cerebral

    refere-se s alteraes criativas produzidas no sistema nervoso como resultado da

    experincia, de leses ou de processos degenerativos(p. 556).Estaneuroplasticidade, na

    opinio deFernndez-Ballesteros, Zamarrn, Calero e Trraga (2009),est presente ao

    longo de toda a vida, dado que a aprendizagem produz mudanas no crebro. A

    plasticidade resulta, assim, de novos arranjos, modificaes e funcionamento das

    estruturas do sistema nervoso, em funo das experincias vividas pelo

    indivduo(Klautau, Winograd&Bezerra, 2009; Oliva, Dias& Reis, 2009).Neste sentido,

    a capacidade de plasticidade, que a maioria das estruturas do crebro possui, permite-

    lhe, perante estmulos, adaptar-se ao meio (Oliva, Dias & Reis 2009).A epignese

    expressa o facto de o crebro no ser indiferente s condies ambientais, uma vez que

    este um sistema que se transforma a partir da relao do corpo com o meio,

    reorganizando-se perante desafios e alteraes impostas em seu entorno (Klautau,

    Winograd& Bezerra, 2009). Neste sentido,com as experincias, ocorre aquisio de

    conhecimentos e informaes pelo sistema nervoso, o que provoca modificaes em

    diferentes locais do crebro, como salienta Oliva, Dias, e Reis(2009). De acordo com os

    autores citados em ltimo, a plasticidade manifesta-se, assim, nos comportamentos de

    aprendizagens, mas tambm nos de memria.Azevedo e Teles (2011)referenciam

    queexistem alteraes neuronais (a perda ou mau funcionamento de neurnios)

    decorrentes do processo normal de envelhecimento ou de doenas. Assim sendo, para os

    mesmos autores, o crebrono uma estrutura rgida, mas tem plasticidade, que

    possibilita a recuperao do mau funcionamento dos neurnios criando novas

    conexes entre estes, ou levando outros neurnios a tomarem o lugar daqueles que

    morreram(Azevedo & Teles, 2011, p. 78).

    Pelo facto do crebro ter capacidade de modificao e de adaptao,Yanguas,

    Leturia eLeturia (2002) salientam que caracterstica importante para realizao de

    programas de treinamento cognitivo.Neste sentido, a plasticidade cerebral, por meio dos

    citados programas, pode preservar um bom nvel de eficincia nas pessoas idosas e

    possibilita a recuperao dos processos cognitivos (Fontaine, 2000;Pea, 2009).Como

    expem Fernndez-Ballesteros, Zamarrn, Calero& Trraga (2009),as investigaes

    sobre a plasticidade cognitiva so baseadas em modelos experimentais que adotam o

  • 29

    formato do prteste - treino - ps teste e tm sido desenvolvidos principalmente com

    idosos saudveis. Os principais resultados, de tais investigaesapontam que os idosos

    saudveis melhoram substancialmente o rendimento cognitivo depois do treinamento

    nas reas cognitivas.Para os mesmos autores, aspetos da vida diria, ao longo da vida,

    como a estimulao fsica e social, a escolarizao e a carreira profissional so

    determinantes tanto para a capacidade de reserva cerebral, como para a reserva

    cognitiva.

  • 30

    5. Estratgias de treino cognitivo

    medida que se tem um maior conhecimento sobre o funcionamento da

    memria possvel desenvolver programas que permitem aos idosos melhorar a sua

    memria(Fernndez-Ballesteros, Fresnedo, Martinez& Zamarrn, 1999).Para Azevedo

    & Teles(2011) apesar de existir um declnio cognitivo associado idade este pode ser

    revertido, ou retardado, atravs do uso de programas de treino cognitivo, com diferentes

    exerccios para cada funo cognitivacomo refere Triad & Villar(2007). Os programas

    de treinamento cognitivo tm como objetivo levar a cabo uma interveno global, para

    o qualso criados exerccios que colocam em ao os diferentes processos mentais,

    como perceo, linguagem, ateno e memria, de forma a mant-los ativos, fortalecer

    as conexes e as redes neuronais subjacentes (Triad & Villar, 2007).Estes programas

    so geralmente estruturados na base dos mecanismos da memria, nas capacidades

    intelectuais com que se relacionam e nos fatores que influenciam o seu

    desempenho(Montorio & Izal, 2000).O treinamento cognitivo consiste num conjunto de

    estratgias e tcnicas que se ensinam, praticam e aplicam, com o objetivo de otimizar os

    processos e as atividades que foram ensinadas (Hernandis, 2010). Deste modo, o clculo

    mental uma das funes que, sem estar alterada, a mais resistente perda de uso

    (Serrano, S/D).De acordo com Kawashima (2005)as tarefas simples (fichas de clculo

    tipo tabuada) estimulam mais o crebro do que a resoluo de um problema de clculo

    complicado. O mesmo autor no seu livro apresenta um conjunto de imagens obtidas por

    (imagiologia) onde se pode ver atravs das cores que quase todas as regies do crebro

    esto ativadas. Ao contrrio na resoluo de problemas complicados as imagens

    mostram o crebro apagado.

    Nos idosos os recursos para as tarefas de ateno parecem estar diminudos (Pena,

    et al.,2001),pelo facto de a ateno ser um pr-requisito para qualquer processamento de

    informao, justifica-se realizar algumas sesses nos programas de treino

    cognitivo(Fernndez-Ballesteros, Fresnedo, Martinez & Zamarrn, 1999). Por sua vez,

    torna-se pertinente a realizao de exerccios de linguagem que consistem no processo

    de codificar a informao na memria e na recuperao da mesma.Mas com o

  • 31

    envelhecimento ocorrem alteraes no processo de compreenso e h diminuio da

    fluidez verbal(Triad & Villar, 2007). Assim a realizao de exerccios de linguagem

    tem como objetivo aumentar a fluidez verbal e favorecer a evocao atravs da

    linguagem (Penaet al 2001). importante treinar, por meio de exerccios, a funo

    cognitiva relacionada com a orientao espacial e temporalpara que seja mantida ou

    estimulada, uma vez que uma das funes que facilmente so afetadas por certos

    transtornos cognitivos (Triad & Villar, 2007). Existem exerccios que permitem

    manter ou estimular esta capacidade(Serrano,S/D). De acordo com Belsky (2001), as

    mnemotcnicas so estratgias para a estimulao da memria com a funo de facilitar

    a memorizao e a recordao, convertendo a informao com mais significado. So

    tcnicas de diversos tipos, como, por exemplo, a elaborao de uma lista em categorias

    significativas. Outra tcnica consiste em utilizar a imaginao para memorizar uma

    informao marcante. Pode-se, ainda, recorrer a ajudas externas que consiste em

    lembretes externos, como, por exemplo, calendrios e listas, que ajudam a recordar.

    Para trabalhar a estimulao da memria a longo prazo pode-se recorrer a exerccios de

    memria autobiogrfica, atravs da tcnica da reminiscncia, que permite o acesso

    informao armazenada no crebro (Serrano S/D). A reminiscncia,constaduma tcnica

    teraputica com o objetivo de ativar e atualizar a memria episdica a longo prazo.A

    reminiscncia atravs do livro autobiogrfico, tem por base o desenvolvimento de um

    livro estruturado que permite recorrer aos dados mais importantes da biografia da

    pessoa, ao longo do seu ciclo vital(Pea, 2009). De acordo com Triad e Villar (2007)

    pode utilizar tcnicas gerais como especficas que tratam de otimizar os trs processos

    bsicos que implicam a recordao, sendo eles: a codificao da informao, a sua

    reteno e manuteno na memria e a sua recuperao posterior, no momento em que

    os indivduos precisam. Estas estratgias gerais so utilizadas de forma combinada,

    dando lugar a tcnicas que permitem, por exemplo, aprender a reter informaes

    especficas(Triad& Villar 2007).

  • 32

    6. Treino cognitivo: reviso de alguns estudos

    As alteraes que ocorrem na memria, decorrentes do envelhecimento esto bem

    documentadas. Existem cada vez mais programas de treino de memria em idosos e

    vrios estudos apontam os seus benefcios. De seguida, expem-se alguns estudos que

    envolveram programas de treino de memria, bem como algumas das suas concluses.

    Souza e Chaves (2003) concretizaram um estudo, com o objetivo de analisar o

    efeito da estimulao da memria sobre o desempenho do Mini Exame do Estado

    Mental (MEM) e observar a correlao sociodemogrfica com o desempenhocognitivo.

    A amostra envolveu quarenta e seis idosos saudveis. O treino da memria baseou-se

    em atividades como palestras, aplicao de jogos, atividades e exerccios de raciocnio

    de diferentes tipos de memria. Os exerccioseram essencialmente compostos por

    resoluo de problemas, clculos, memorizao visual e leitura. Foi realizado em oito

    sesses, com a durao de duas horas cada. Os resultados indicam que a maioria dos

    participantesapresentou um aumento estatisticamente significativo nos pontos do MEM

    aps o treino de memria.

    Um estudo de Garca eGonzlez (2005) teve como objetivo analisar os efeitos de

    um programa de treino de memria em idosos. A amostra abarcou noventa e oito

    idosos, dos quais cinquenta e nove faziam parte do grupo experimental e trinta e novedo

    grupo de controlo. Os sujeitos selecionados pertenciam a lares de idosos e aos Servios

    Psicolgicos da Universidade de Granada. Aps a aplicao deprogramas de treino da

    memria, os resultados indicam que ogrupo de controlo melhoram ou mantiveram o seu

    rendimento cognitivo, enquanto os idosos que no participaram demonstraram um

    declive nas suas funes.

    Um outro estudo foi levado a cabo por Yassuda, Batistoni, Fortes eNeri (2006) com

    o objetivo de estudar os efeitos de um programa de treino de memria episdica. O

    estudoenvolveu uma amostra de sessenta e nove idosos saudveis. Os resultados deste

    estudo insinuaram que os idosos que participaram no treino intensificaram o uso de

    estratgias ensinadas.

  • 33

    Um estudo concretizado por Souza, Borges, Vitria eChiappetta, (2009) vem

    reforar a importncia do treino da memria em idosos institucionalizados. Realizaram

    uma investigaoprospetiva, observacional e transversal, com idosos cujas idades

    estavam compreendidas entre os 65 e 98 anos. Para avaliar a capacidade cognitiva

    foram utilizadas lista de palavras, fluncia verbal, evocao de lista de palavras e

    reconhecimento da lista de palavras. Os resultados do estudo sugerem que as mulheres

    tm melhor desempenho em atividades que envolvia habilidades. J na prova

    relacionada com a evocao,os resultados apontam para que sejam os idosos mais

    jovens a ter melhor desempenho. Por fim, os idosos com maior escolaridade que

    parecem ter melhor o desempenho nas habilidades que envolvam linguagem.

    Carvalho, Neri eYassuda (2010) realizaram um estudo com objetivo de verificar o

    efeito do treino de memria em idosos. A amostra reuniu cinquenta e sete

    idosossaudveis. Os resultados indicam que o treino de memria episdica, envolvendo

    a aprendizagem e a prtica com a estratgia de categorizao, promoveu a melhoria

    significativa no desempenho em tarefa da memria episdica e um maior uso da

    estratgia treinada.

    Em Portugal a investigao sobre a estimulao cognitiva ainda diminuta. No

    entanto, alguns estudos tm sido realizados. Rodrigues (S/D) realizou um estudo com

    objetivo de verificar se a exposio a um programa de estimulao cognitivatem efeitos

    a nvel das capacidades de memria, de abstraolgica, de rapidez psicomotora e de

    organizao. O programa de treino foi constitudo por um total de sete sesses

    estruturadas, onde foram trabalhadas competncias cognitivas vrias,como a memria, a

    ateno, a coordenao motora eas competncias de abstrao lgica. A amostra

    englobou 47 idosos, de ambos os sexos, com idadescompreendidas entre os 65 e 89

    anos e de diferentesnveis de escolaridade (0 a 3 anos e 4 a 7 anos).Os resultados

    apontaram para melhorias significativas no desempenho dos idosos, aps a realizao

    do programa de treino de memria.

    Castro (2011), realizaram um estudo com o objetivo de verificar o impacto do

    programa de estimulao cognitiva no desempenho cognitivo e na sintomatologia

    depressiva, de um grupo de idososinstitucionalizados.O programa decorreu em

    dezasseis sesses de estimulao cognitiva. Este estudo embarcou uma amostra

    constituda de quinze idosos,divididos pelo grupo experimental e grupocontrolo, sendo

    que o primeiro composto por 8 participantese os segundo por7. No qual obtiveram

    melhorias significativas no desempenho cognitivo dos idosos.

  • 34

    Para simplificar a comparao entre alguns estudos realizados sobre o treino de

    memria, com pretenses semelhantes do presente estudo, foi realizado um quadro

    sntese, que a seguir se expe.

    Tabela 1- Resultados de alguns estudos do treino cognitivo.

    Autores Participantes Resultados

    Sousa & Chaves (2003)

    Perfil das Habilidades cognitivas no Envelhecimento Normal

    46 idosos sem

    demncia

    Melhora significativa na pontuao

    do MEM.

    Garcia& Gonzales (2005)

    Eficacia de un programa de entrenamiento en memoria en el

    mantenimiento de ancianos con y

    sin deterioro cognitivo

    98 idosos sem

    demncia

    Melhoraram ou mantiveram o

    rendimento cognitivo

    Calero& Navarro (2006)

    Perfil das habilidades cognitivas no envelhecimento normal

    133idosos sem

    demncia

    Melhora para os participantes do

    grupo experimental significativa na

    execuo cognitiva e memria de

    trabalho. Controle piora nos testes

    Yassuda, Batistoni, & Andra

    Garofe Fortes (2006)

    Treino de Memria no Idoso Saudvel: Benefcios e

    Mecanismos

    69 idosos sem

    demncia

    No ps-teste o Grupo Experimental

    apresentou melhor desempenho na

    recordao de texto e maior uso de

    estratgias.

    Sousa, Borges, Vitria &Chiappetta

    (2009)

    Perfil das habilidades cognitivas no envelhecimento normal

    98 idosos sem

    demncia

    As mulheres mostraram melhor

    desempenho, nas habilidades, j na

    evocao foram os idosos mais

    jovens que tiveram melhor

    pontuao, enquanto os idosos com

    mais escolaridade tiveram melhor

    desempenho na habilidade e na

    linguagem.

    Carvalho, Neri, &Yassuda, (2010) 57 idosos sem

    demncia

    Melhoria significativa no

    desempenho da memria episdica.

    Rodrigues (2008)

    Efeito da estimulao cognitiva em Idosos

    47 idosos sem

    demncia

    Melhorias significativas no

    desempenho dos idosos aps a

    realizao do programa de treino das

    capacidades cognitivas.

    Castro (2011)

    Programa de estimulao cognitiva em idosos

    Institucionalizados

    15 idosos sem

    demncia

    Melhorias significativas no

    desempenho cognitivo.

  • 35

    Em suma, os estudos acima referenciados indicam que a plasticidade cognitiva

    permanece noenvelhecimento. Os idosos, quando estimulados,podem apresentar melhor

    desempenho em tarefascognitivas.

  • 36

  • 37

    Parte II - Estudo emprico

    Treino cognitivo em Idosos Institucionalizados sem Demncia.

  • 38

  • 39

    1. Metodologia

    1.1. Questo de Investigao

    Qual o efeito de um programa de treino de cognitivo em idosos institucionalizados

    sem diagnstico de demncia?

    1.2. Objetivo da investigao

    Tendo em conta a reviso bibliogrfica que sustenta este trabalho, props-se a

    realizao de uma investigao com o seguinte objetivo geral:

    Avaliar o efeito do programa de estimulao cognitivacom a aplicao do

    Mini Exame Mental (MEM)aps treino.

    1.3. Tipo de estudo

    O presente estudo quantitativo, longitudinalquasi-experimental de acordo com

    Pais Ribeiro (2007).

    1.4. Seleo da amostra

    Numa amostra no probabilstica, a probabilidade de qualquer elemento ser includo

    na amostra desconhecida (Ribeiro 1999).

    A amostra dos idosos participantes no estudo foi obtida atravs do tipo de

    amostragem no probabilstica,Os casos que participaram no estudo foram selecionados

    atravs da aplicao do Mini Exame Mental. No decorrer do programa de treino, seis

    indivduos desinteressaram-se, pelo que amostra ficou apenas com catorze indivduos.

  • 40

    1.5. Critrios de incluso

    Os critrios de incluso determinados tiveram em conta a escolha do treino que nos

    propusemos a efetuar:

    Ter idade 65 anos;

    Estar institucionalizado;

    No apresentar diagnstico de demncia

    Estar capacitado em atividades que envolvam clculo.

    1.6. Caracterizao daAmostra

    Na tabela 2 caracteriza-se sumariamente a situao pessoal dos idosos participantes

    no estudo.

    Tabela 2- caracterizao da amostra

    Caracterstica Escala f

    Gnero Masculino

    Feminino

    2

    12

    Idade

    70-75

    76-80

    81-95

    95 ou mais anos

    2

    4

    8

    0

    Escolaridade

    Nenhuma

    Ensino Primrio

    Ensino Secundrio

    Ensino Superior

    10

    12

    0

    0

    Profisso Exercida

    Agricultor (a)

    Comerciante

    Domstica

    8

    1

    5

    Atividades

    Fsica

    Manuais

    Fsica e outros

    Manuais e outros

    Atividade social

    Outros

    1

    2

    3

    5

    1

    2

    Institucionalizao

    1-2

    3-4

    5-6

    7-8

    9 ou mais

    5

    2

    2

    2

    3

  • 41

    A amostra foi constituda maioritariamente por elementos do sexo feminino, doze e

    dois do sexo masculino(ver grfico1).

    Grfico 1 - Caracterizao dos participantes em funo do gnero

    Relativamente idade dos elementos envolvidos na amostra a mdia de idades

    de 83,5 (ver grfico2)

    Grfico 2 - Caracterizao dos participantes em funo da idade

    A amostra apresentou uma maior preponderncia da no escolaridade, doze, e

    dois tinham o primeiro ciclo (ver grfico3).

    Grfico 3 - Caracterizao dos participantes em funo da escolaridade

    O grupo predominantemente representado por domsticas e agricultores, sendo

    respetivamente cinco e nove elementos (ver grfico 4).

  • 42

    Grfico 4 - Caracterizao dos participantes em funo da profisso exercida

    Os participantes realizam essencialmente atividades manuais (ver grfico 5).

    Grfico 5 - Caracterizao dos participantes em funo das atividades

    Pode-se verificar que a maioria, cinco participantes, est entre um e dois anos

    institucionalizado, seguido de trs idosos que esto h mais de nove anos. Os restantes

    idosos esto entre os trs e oito anos institucionalizados (ver grfico 6).

    Grfico 6 - Caracterizao dos participantes em funo dos anos de institucionalizao

    1.7. Instrumentos de recolha de dados

    Considerando que a maioria dos participantes no era alfabetizada, para recolha de

    dados demogrfico, optou-se pela tcnica de inqurito por entrevista (estruturada), uma

    vez que Marconi & Lakatos (1999) referem que se trata de uma tcnica que pode ser

    utilizada em todos os segmentos da populao, nomeadamente em no alfabetizados.A

  • 43

    recolha dos dados foi realizada pela investigadora, a qual registou as respostas dos

    entrevistados e cuja durao, em mdia, foi de trinta minutos.

    De seguida, expe-se uma breve descrio de cada instrumento utilizado.Para

    alcance do objetivo do presente estudo, tornava-se pertinente a recolha de dados que

    possibilitassem caracterizar os sujeitos na sua dimenso pessoal, social e profissional.

    Neste sentido, construiu-se um instrumento que incluiu: questes fechadas com vrias

    opes de resposta,para dar possibilidade aos inquiridos de emitirem

    opiniesparticulares e, no caso de serem diferentes das previstas, acrescentou-se

    aopooutras.As questes referiam-se idade, estado civil, habilitaes

    literrias,profisso exercida, ocupao/ cio, problemas de sade, necessidade de tomar

    algum medicamento, os anos e motivos e iniciativa de institucionalizao.

    O instrumento utilizado para o rastreio cognitivo foi o Mini ExameMental, como j

    foi exposto. De acordo com Sequeira (2010), oMini Exame Mental (1975) o

    instrumento de rastreio cognitivo mais utilizado