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Manejo e controle de plantas daninhas em trigo Leandro Vargas Mario Antonio Bianchi Introdução O trigo é uma Liliopsida anual per- tencente à família Poaceae e ao gê- nero Trítícum. A espécie de trigo de maior interesse comercial éo Trítícum aestívum L. (trigo comum), utilizado na pa- nificação, produção de bolos, biscoitos, massas e produtos de confeitaria. Um dos fatores limitantes do potencial de rendimento da cultura de trigo é a inter- ferência causada pelas plantas daninhas. O controle inadequado das plantas daninhas (espécie vegetal que se desenvolve onde não é desejada) é um dos principais fatores relacionados ao baixo rendimento da cul- tura de trigo. As principais plantas daninhas do trigo, dentre as Liliopsidas, são o azevém (Lolium multíflorum), a aveia preta (Avena strígosa), e a aveia branca (Avena satíva); já dentre as Magnoliopsidas, o cipó-de-veado (polygonum convo/vu/us), o nabo (Raphanus raphanístrum e R. satívus), a erva-salsa (Bowlesía íncana), a flor-roxa (Echíum plantagíneum), a serralha (Sonchus oleraceus), a silena (Sílene gallíca) e a gorga (Spergula arvensís) são as mais co- Trigo no Brasil1253 muns e que causam maiores danos ao trigo. Em anos em que o inverno apresenta tem- peraturas médias mais elevadas, é comum observar, em lavouras de trigo, espécies de verão como o picão-preto (Bidens pilosa e Bídens subaltemans), leiteiro (Euphorbía heterophylla) e poaia (Richardía brasílíensís), além de plantas voluntárias de soja (Glycíne max) ou milho (Zea mays). O azevém e a aveia preta tiveram su- as ocorrências e densidades aumentadas nos últimos anos. Isso pode ser devido ao uso destas espécies para cobertura do so- lo e também pela dificuldade de controle na cultura de trigo e nos demais cereais de inverno. As perdas causadas pela interferência das plantas daninhas no rendimento de grãos de trigo podem ser devidas à com- petição, pelo efeito da alelopatia ou, indi- retamente, reduzindo a qualidade do pro- duto colhido. A competição ocorre quando qualquer fator do ambiente (água, luz, nu- trientes, etc.) é dividido entre a cultura e as plantas daninhas, tornando limitante o alcance do rendimento potencial da cul- tura (RICE, 1984).

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Manejo e controlede plantas daninhasem trigo

Leandro VargasMario Antonio Bianchi

Introdução

Otrigo é uma Liliopsida anual per-tencente à família Poaceae e ao gê-nero Trítícum. A espécie de trigo

de maior interesse comercial é o Trítícumaestívum L. (trigo comum), utilizado na pa-nificação, produção de bolos, biscoitos,massas e produtos de confeitaria.

Um dos fatores limitantes do potencialde rendimento da cultura de trigo é a inter-ferência causada pelas plantas daninhas. Ocontrole inadequado das plantas daninhas(espécie vegetal que se desenvolve ondenão é desejada) é um dos principais fatoresrelacionados ao baixo rendimento da cul-tura de trigo.

As principais plantas daninhas do trigo,dentre as Liliopsidas, são o azevém (Loliummultíflorum), a aveia preta (Avena strígosa),e a aveia branca (Avena satíva); já dentre asMagnoliopsidas, o cipó-de-veado (polygonumconvo/vu/us), o nabo (Raphanus raphanístrume R. satívus), a erva-salsa (Bowlesía íncana), aflor-roxa (Echíum plantagíneum), a serralha(Sonchus oleraceus), a silena (Sílene gallíca) ea gorga (Spergula arvensís) são as mais co-

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muns e que causam maiores danos ao trigo.Em anos em que o inverno apresenta tem-peraturas médias mais elevadas, é comumobservar, em lavouras de trigo, espéciesde verão como o picão-preto (Bidens pilosae Bídens subaltemans), leiteiro (Euphorbíaheterophylla) e poaia (Richardía brasílíensís),além de plantas voluntárias de soja (Glycínemax) ou milho (Zea mays).

O azevém e a aveia preta tiveram su-as ocorrências e densidades aumentadasnos últimos anos. Isso pode ser devido aouso destas espécies para cobertura do so-lo e também pela dificuldade de controlena cultura de trigo e nos demais cereaisde inverno.

As perdas causadas pela interferênciadas plantas daninhas no rendimento degrãos de trigo podem ser devidas à com-petição, pelo efeito da alelopatia ou, indi-retamente, reduzindo a qualidade do pro-duto colhido. A competição ocorre quandoqualquer fator do ambiente (água, luz, nu-trientes, etc.) é dividido entre a cultura eas plantas daninhas, tornando limitante oalcance do rendimento potencial da cul-tura (RICE, 1984).

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Período crítico de competição

De modo geral, a cultura deve per-manecer livre de competição no primeiroterço de seu desenvolvimento. No entan-to, esse período pode variar em função dascondições de ambiente, da população e ca-racterísticas das espécies em competição.

A redução mais acentuada da produti-vidade de trigo ocorre quando a competiçãoacontece nos estádios iniciais de desenvol-vimento da cultura (denominado períodocrítico de competição), que se estende até45 a 50 dias após a emergência (BLANCOet al., 1973). Trabalho realizado por Rigoli(2007) indica que o período anterior à in-terferência, em cultivar de trigo com por-te baixo, vai até 12 dias após a emergência,e o período crítico de prevenção da inter-ferência, ou seja, o período onde a culturadeve permanecer livre da interferência deplantas daninhas, é de 12 a 24 dias após aemergência das plantas de trigo. De modogeral, as culturas devem permanecer livresde competição no primeiro terço de seu de-senvolvimento. Nesse contexto, o perío-do crítico de uma cultivar com ciclo de 140dias termina aos 47 dias após a emergên-cia. No entanto, esse período pode variarem função das condições de ambiente queafetam o crescimento das espécies em com-petição. Durante esse período, os prejuízosprovocados são irreversíveis, sendo, por is-so, que, nessa época, o trigo deve estar li-vre da interferência de plantas daninhas.

Manejo de plantas daninhas em trigo

o controle de plantas daninhas consis-te na adoção de práticas que resultem naredução da infestação, mas não necessaria-mente na sua completa eliminação ou er-radicação. A redução da interferência das

plantas daninhas, considerando-se umacultura, deve ser feita até o nível em queas perdas pela interferência sejam iguaisao custo do controle, ou seja, de modo quenão interfiram na produção econômica dacultura (SILVAet al., 1999). Os métodos decontrole de plantas daninhas usados pe-lo homem, até hoje, são os mais variadospossíveis. Entre estes estão o controle pre-ventivo, cultural, mecânico e químico, quepodem ser utilizados na cultura do trigo,conjunta ou isoladamente, dependendo daépoca e das necessidades do produtor.

Método preventivo

O objetivo desse tipo de controle é evi-tar a infestação e/ou a reinfestação dasáreas em que as plantas daninhas sejameconomicamente indesejáveis. Essa práticavisa a redução da infestação apenas e nãoprograma o controle para eliminar espé-cies que infestam a área.

A prevenção engloba todas as medidasadotadas para prevenir a introdução e dis-seminação das plantas daninhas. Para isso,é indispensável conhecer as característicasreprodutivas e de disseminação das espé-cies daninhas.

Para colocar em prática o controlepreventivo, o agricultor deverá: usar se-mentes certificadas, evitar trânsito deanimais de áreas infestadas para áreas li-vres de plantas daninhas, limpar os equi-pamentos após trabalho em áreas complantas daninhas indesejáveis e controlaressas espécies em canais, margens da la-voura e caminhos (SILVA et al., 1999).

Alguns componentes das medidas pre-ventivas são:• uso de sementes livres de sementes de

plantas daninhas. A aquisição de semen-tes de fontes não confiáveis pode causar

sérios problemas, como a introdução deespécies exóticas;

• limpeza de máquinas e equipamentos an-tes de transferi-los de áreas infestadaspara áreas limpas. Esta é uma das manei-ras mais fáceis de redução dos problemascom plantas daninhas;

• manutenção das áreas próximas da lavou-ra livres de plantas daninhas, bem comoem locais próximos de cercas e bordas delavouras;

• não permitir que animais movam-se dire-tamente de áreas infestadas para áreas li-vres de plantas daninhas; e

• evitar que as plantas daninhas produzamsementes ou outros órgãos de reprodu-ção.

Controle cultural

o controle cultural consiste em usarqualquer condição ambiental ou procedi-mento que promova o crescimento da cul-tura, tendendo a diminuir os danos dasplantas daninhas. Esse método está basea-do em dois princípios: as primeiras plantasque ocupam uma área tendem a excluir asdemais e a espécie melhor adaptada predo-minará no ambiente (FLECK,1992).

Tal controle usa, principalmente, as ca-racterísticas da cultura para inibir o desen-volvimento das plantas daninhas. Assim, énecessário conhecer detalhadamente as ca-racterísticas da cultura que está sendo ins-talada e das plantas daninhas envolvidas.Também é necessário conhecer a respostadessas espécies às práticas culturais a se-rem adotadas, pois as espécies favoreci daspor determinadas práticas tendem a se per-petuar. Contudo, se as práticas culturais fa-vorecem o crescimento rápido e vigorosoda cultura e afetam negativamente as plan-tas daninhas, a tendência é de que as ervas

Trigo no Brasil 1255

sejam eliminadas ou tenham seu desenvol-vimento reduzido.

Dessa forma, deve-se selecionar a cul-tura a ser implantada na área para que es-ta obtenha a máxima vantagem sobre asplantas daninhas. Os tratos culturais de-vem ser realizados de forma a proporcio-nar o máximo benefício à cultura, em re-lação às plantas daninhas. A escolha dacultivar adequada para as condições de so-lo e clima da região, a adubação correta e aadequação da densidade, da profundidade,do espaçamento entre as linhas e da épocade semeadura são fatores que podem pro-porcionar grande vantagem para a cultu-ra. A adubação do solo, a profundidade e aépoca de semeadura devem ser favoráveisà rápida germinação das sementes, à emer-gência das plântulas e ao estabelecimentovigoroso e uniforme da cultura. O espaça-mento entre linhas pode ser reduzido até omáximo possível, para aumentar a cobertu-ra do solo, diminuindo o espaço e a dispo-nibilidade de radiação solar para as plantasdaninhas.

A rotação de culturas impede o au-mento de uma determinada espécie em ra-zão da monocultura. Algumas espécies deplantas daninhas adaptam-se melhor a de-terminadas culturas; assim, se a mesmacultura for cultivada em anos seguidos, atendência é que as espécies daninhas quemelhor se adaptem àquelas condições setornem predominantes. A rotação, além decriar diferentes dinâmicas competitivas naárea, oportuniza o uso de diferentes tiposde herbicidas, colaborando para o controledas plantas daninhas na cultura atual e nasculturas subsequentes. A escolha das cul-turas a serem usadas deve levar em consi-deração as plantas daninhas existentes naárea, além das características físicas, quí-micas e topográficas dessas.

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Controle mecânico

o controle mecânico das plantas da-ninhas por meio do arranquio manual é aforma mais antiga usada pelo homem. Ocontrole mecânico consiste no uso de equi-pamentos que eliminam as plantas dani-nhas através do efeito físico, como a enxa-da e os cultivadores. O uso de cultivadorespara controle de plantas daninhas podeser bastante econômico para o agricultor.Mesmo após a introdução no mercado dosherbicidas, o uso desses equipamentos ébastante comum, principalmente em pe-quenas propriedades, onde o emprego deoutros métodos de controle é limitado, de-vido à falta de equipamentos e à topogra-fia do terreno. Em grandes propriedades, ouso do controle mecânico de plantas dani-nhas é bastante reduzido, em razão da ne-cessidade de maior agilidade.

Os principais tipos de cultivadoressão: com enxada fixa - arrastada atra-vés do solo por trator; enxada rotativa- acionada por meio da tomada de forçado trator; e enxada rotativa de arrasto -acionada pela resistência do terreno aodeslocamento.

Segundo Fleck (1992), os principaismecanismos responsáveis pelo controledas plantas daninhas por meio do métodomecânico são:• enterrio - as plantas morrem por falta de

luz para fotossíntese;• corte - consiste na separação da parte aé-

rea das raízes;• dessecação - as raízes, rizomas e estolões

são expostos e acabam morrendo por de-sidratação; e

• exaustão - a estimulação repetida da bro-tação das gemas leva à exaustão das reser-vas e morte das gemas (esse método é degrande importância para plantas perenes).

O cultivo mecânico adequado é aqueleque controla as plantas daninhas entre aslinhas e cobre aquelas existentes na linhada cultura com solo (FOSTER,1991).

O uso do controle mecânico, devido aobaixo rendimento requer planejamento pa-ra evitar que a competição entre a cultura eas plantas daninhas resulte em redução dorendimento. Além disso, a eficiência do con-trole mecânico é bastante variável, princi-palmente para espécies com fácil enraiza-mento e com vários fluxos germinativos.

Para plantas anuais e bienaís, o con-trole mecânico é altamente eficiente, maspara as plantas perenes que desenvolvemsistema radicular profundo, há maiores di-ficuldades de controle. É importante, noentanto, que o equipamento esteja bem re-gulado, procurando-se eliminar as plantasdaninhas, trabalhando somente a superfí-cie do solo para evitar possíveis danos àsraízes da cultura (FOSTER,1991).

As principais vantagens do métodomecânico são: economicidade; eficiênciaem solos secos e quebra crostas que, even-tualmente, formam-se na superfície dosolo, aumentando a aeração e a infiltraçãoda água. Já, as desvantagens são: não con-trola as plantas daninhas existentes na li-nha da cultura; danifica o sistema radicu-lar da cultura; pode reduzir o estande; eem período chuvoso, é inoperante e ine-ficiente, favorecendo a erosão (FOSTER,1991; FLECK,1992; SILVAet al., 1999).

No sistema plantio direto, a cobertu-ra morta exerce controle das plantas da-ninhas pelo seu efeito físico e, provavel-mente, pelo efeito químico. A palhada atuasobre a passagem de luz, temperatura eumidade do solo e ainda pode liberar subs-tâncias alelopáticas, criando condições ad-versas para a germinação e estabelecimen-to das plantas daninhas.

Controle químico

o controle químico, por meio do uso deherbicidas, é o método mais utilizado paracontrole de plantas daninhas em cereais deinverno. As estratégias de controle podemser adotadas rápida e eficientemente quan-do se usam herbicidas, comparadas ao usode somente medidas mecânicas. A eficiênciados herbicidas tem levado, muitas vezes, auma grande dependência desses compostosquímicos, com a exclusão de outros méto-dos. O controle químico deve ser visto comoferramenta adicional, e não como único mé-todo para diminuir os prejuízos com plantasdaninhas. Os herbicidas devem ser utiliza-dos com critérios rígidos, considerando seuscustos, eficiência e segurança ao ambiente eao homem, fazendo parte de um programaintegrado de controle de plantas daninhas.

A seguir, fundamentos que devem serobservados na seleção do tratamento comherbicida:• identificação daís) espéciets) problema;• aplicação do herbicida quando as plan-

tas daninhas estiverem em estádio ini-cial, em crescimento ativo e quando acultura estiver no estádio adequado dedesenvolvimento;

• uso de equipamento adequado e em per-feitas condições;

• regulagem do pulverizador para assegu-rar a aplicação na dose correta;

• leitura e uso das instruções do rótulo doherbicida e dos adjuvantes a ser usados; e

• observação do plano de rotação de cul-turas, para evitar problemas com o efei-to residual de herbicidas para a próximacultura.

Os produtos registrados e indicadospara uso na cultura de trigo, assim comosuas concentrações, classes toxicológicas eformulações, são apresentados na Tabela 1.

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Quando um método de controle é uti-lizado continuamente, seja mecânico ouquímico, é provável que ocorra o apareci-mento de populações de plantas daninhasresistentes ou tolerantes. Em alguns casos,poderá haver a seleção de biótipos resis-tentes em uma espécie, cuja população po-de aumentar e se constituir em um graveproblema. De modo geral, o fenômeno maiscomum é a substituição das espécies maissensíveis pelas mais tolerantes ao herbici-da que tem sido usado com maior frequên-cia. Por exemplo, o uso continuado de her-bicidas para controlar dicotiledôneas podelevar ao aumento de espécies monocotile-dôneas, como azevém e aveia. O conheci-mento da flora infestante das lavouras detrigo e suas reações aos diferentes métodosde manejo e controle são indispensáveispara que possam ser adotadas as práticasmais convenientes.

A resistência e a mudança na popula-ção de plantas daninhas podem ser evita-das pela integração de medidas de manejo(ou controle), tais como rotação de culturase uso alternado de herbicidas com diferen-tes mecanismos de ação.

Controle de gramíneas

Alguns herbicidas foram desenvolvi-dos para o controle de plantas daninhasmonocotiledôneas, na cultura de trigo.Entre os herbicidas atualmente indicadospara essa finalidade, destacam-se pendi-metalin, diclofop-metil, o clodinafop-pro-pargil e o iodosulfuron-metil. Esses her-bicidas são eficientes no controle de aveiapreta e de azevém. Pendimetalin é usadoem pré-emergência da cultura. A sua sele-tividade é dada por sua posição na camadasuperficial do solo (cerca de 2 em a 3 em),devendo o trigo ser semeado na profun-

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dida de aproximada de 5 em, Chuva inten-sa logo após sua aplicação, principalmen-te em solos de textura arenosa e com níveisde matéria orgânica abaixo de 2%, po-dem causar fitotoxicidade à cultura. A suamaior ação é no controle de azevém e deaveia preta. Já os herbicidas díclofop-metíl,clodinafop-propargil e iodosulfuron-me-til são usados em pós-emergência e, comexceção do clodínafop, têm maior eficiên-cia no azevém do que nas aveias. A eficá-cia desses herbicidas é dependente do es-tádio de desenvolvimento do azevém e dasaveias, sendo os melhores resultados obti-dos quando aplicados em plantas jovens,com 2 a 4 folhas.

O clodinafop-propargil, controla aveiapreta e aveia branca, em doses que variamentre 100 mL/ha a 150 mL/ha do produtocomercial. O iodosulfuron-metil, controlaplantas daninhas dicotiledôneas e possuiação sobre gramíneas, especialmente sobreazevérn, em doses de 70 g/ha a 100 g/ha.

Controle de dicotiledôneas

Ometsulfuron-rnetil, é eficaz no contro-le de várias espécies daninhas dicotiledône-as, embora seja pouco eficiente para algumasespécies, como o cipó-de-veado (polygo-num convolvulus). O metsulfuron-metilé persistente no solo e controla novos flu-xos de plantas daninhas de folhas largas poraté 30 dias após a sua aplicação. A exemplode outros herbicidas pós-emergentes, suaaplicação é indicada nos estádios iniciais decrescimento da cultura e das plantas dani-nhas (no máximo de 6 folhas), evitando-se,assim, a matocompetição e o efeito de co-bertura da folhagem, quando o jato de as-persão não atinge as plantas menores porestas serem cobertas pelas plantas dani-nhas mais desenvolvidas.

Misturas formuladas de herbicídas,contendo 2,4-D, dicamba, metsulfuron-metil ou outros princípios ativos, am-pliam o espectro de espécies controladas,dando melhor controle geral de plan-tas daninhas em trigo. Diversas misturassão registradas e indicadas para uso nessacultura (Tabela 1).

O bentazon, é um herbicida segu-ro para trigo, apresenta amplo espectrono controle de plantas daninhas dicoti-ledôneas. No entanto, por ser produto detranslocação reduzida (ação de contato),sua eficiência é mais dependente do es-tádio de crescimento do que os produtossistêrnicos, sendo mais eficiente quandoas plantas daninhas se encontram nos es-tádios iniciais de desenvolvimento (2 a 4folhas).

O iodosulfuron-metil controla, além degramíneas, as principais plantas daninhasdicotiledôneas que ocorrem no trigo, emdoses de 70 g/ha a 100 g/ha.

Dessecação de plantas daninhas emsistema plantio direto

Poucos herbicidas estão disponíveis eregistrados para manejo (dessecação) deplantas daninhas antecedendo a semeadu-ra de trigo. Os herbicidas que podem serutilizados são 2,4-D, metsulfuron-rnetil,glifosato, paraquat e diuron (Tabela 2). En-quanto os dois primeiros controlam essen-cialmente plantas dícotíledôneas, glifosatoe paraquat são herbicidas totais, controlan-do tanto dicotiledôneas quanto gramíneas.Em áreas com elevada frequência de guan-xuma (Sida spp.), a utilização de metsulfu-ron e glifosato na dessecação, antecipandoa semeadura de trigo, tem sido uma alter-nativa mais eficiente do que a aplicaçãoisolada dos herbicidas.

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Tabela 1. Herbicidas seletivos, doses e época de aplicação indicadas para controle de plantas daninhas nacultura de trigo.

Nome comum

Pendimetalin

Bentazon

Metsulfuron-metil (2)

2,4-D amina

2,4-D éster (3)

2,4-D + MCPA2,4-D + PicloranMetribuzin (41

2,4-D éster + Dicamba2,4-D éster + Bentazon2,4-D amina + Bentazon

Diclofop-metil (5)

lodosulfuron-metil

Clodinafop-proprgil

Concentração(l)(gfL ou gfkg)

500 i.a.

600 i.a.480 i.a.600 i.a.

400 e.a.670 e.a.720 e.a.400 e.a.275 + 275 e.a.360 + 22,5 e.a.480 i.a.

280 i.a.

50 i.a.

240 i.a.

Produto comercial(g ou L/ha)

2,0 a 2,5 (a)2,5 a 3,0 (b)3,0 a 3,5 (c)

1,2 a 1,61,5 a 2,04,0

1,0 a 1,51,0 a 1,51,Oa 1,50,6a 1,01,Oa 2,01,00,30,6 a 1,0 + 0,20,6+0,81,0 + 0,8

1,5 a 2,0

70-100

100-150

Época de aplicação

Pré-emergência. A dose varia conforme textura dosolo. Solos arenosos Ia), francos (b) e argilosos (c).

Pós-emergência de plantas daninhas (2 a 6 folhas).Em trigo pode ser aplicado a partir do início do per-filhamento.

Pós-emergência de plantas daninhas (2 a 6 folhas).Em trigo pode ser aplicado no estádio de perfilha-mento (4 folhas- até ocorrência do 1° nó).

Pós-emergência de azevém e aveia (2 a 4 folhas). Emtrigo pode ser aplicado no estádio de perfilhamento(4 folhas- até ocorrência do l'nó).

Pós-emergência de azevém e aveia e folhas largas (2a 4 folhas). Em trigo pode ser aplicado no estádio deperfilhamento (4 folhas- até ocorrência do 1° nó).

Pós-emergência de aveia (2 a 4 folhas). Em trigo podeser aplicado no estádio de perfilhamento (4 folhas-até ocorrência do 1° nó).

(1) i.a.= ingrediente ativo; e.a.= equivalente ácido.121 Adicionar 0,1% v/v de óleo mineral emulsionável (100 mL!100 l de água). O Metsulfuron-metil apresenta incompatibilidade biológica

com a formulação concentrado emulsionável de Tebuconazole, Paration metilico, Clorpirifós e Diclofop-metil.III2,4-D na forma éster está sendo retirado do mercado desde 2003.(4) Não aplicar em solos com menos 1% de matéria orgânica. Não misturar em tanque com outros agrotóxicos ou com adubo foliar.(5) Não misturar em tanque com latifolicidas. Sua aplicação deve ser efetuada três dias antes ou depois desses herbicidas.Fonte: Rodrigues e Almeida (2005); Reunião (2008).

Com o aumento da área ocupada pelabuva (Conyza spp.), o cultivo de trigo cons-titui-se em oportunidade para seu con-trole. As sementes de buva podem emer-gir após a colheita das culturas de verão

e desenvolverem-se até antes da semea-dura do trigo. Além disso, as sementes desoja resistentes ao herbicida glifosato, re-sultantes das perdas de colheita mecaniza-da, podem originar plantas que se consti-

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Tabela 2. Herbicidas não-seletivos, doses e época de aplicação indicada para manejo (dessecação) de plan-tas daninhas na cultura de trigo sob plantio direto.

I

Planta daninha Nome comum Concentração(gfl ou kg)

MonocotiledôneasAnuais

GlifosatoGlifosato-KParaquat + Diuron (1)

ParaquatMetsulfuron-metilParaquat + Diuron (1)

2,4-D éster (2)

GlifosatoGlifosato-KMetsulfuron-metil eGlifosato ou Glifosato-K2,4-D éster (2)

eGlifosato ou Glifosato-K

360 e.a. (3)

330 e.a.200 + 100 i.a.200 i.a.600 i.a.200 + 100 i.a.400 e.a.360 e.a.330 e.a.

DicotiledôneasAnuais

Monocotiledôneasanuais edicotiledôneasanuais eperenes

Produto comercial(gouUha)

Épocade aplicaçãoem relação à semeadura

1,Oa 1,51,Oa 1,51,0 a 1,51,0 a 1,54,01,Oa 1,5.1,Oa 1,51,5 a 2,01,5 a 2,04,0 e1,Oa 1,50,5 a 1,0e1,Oa 1,5

No mínimo 1 dia antes

No mínimo 1 dia antes

No mínimo 15 dias antes

No mínimo 1 dia antes

No mínimo 15 dias antes

(1) Usar somente nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta daninha.(2) 2,4-D na forma éster está sendo retirado do mercado desde 2003.(3) e.a. = equivalente ácido; i.a. = ingrediente ativo.Fonte: Rodrigues e Almeida (2005); Reunião (2008).

tuem em planta daninha importante parao trigo. Nessa condição, as plantas de bu-va e de soja são de pequeno porte, o que fa-cilita muito seu controle. Controle eficien-te dessas espécies pode ser obtido antes dasemeadura do trigo com o uso de glifosato(no g de equivalente ácido por hectare) as-sociado com o metsulfuron-rnetíl ou com o2,4-D. Após a emergência do trigo, os herbí-cidas íodosulfuron-metil e metsulfuron sãoeficientes no controle da buva e plantas vo-luntárias de soja.

O azevém resistente ao glifosato tam-bém pode ser um problema antes da seme-adura do trigo. Como o glifosato não apre-senta efeito sobre as plantas resistentes,deve-se utilizar herbicidas graminicidaspara controle dessa espécie. Os herbicidasdiclofop-metíl e iodosulfuron-rnetíl apre-sentam controle eficiente do azevém resis-tente ao glifosato e, ainda, os graminicidas

inibidores da enzima ACCase como halo-xyfop, clethodim, fenoxaprop, fluazifop esethoxydim são eficientes sobre o azevéme se apresentam como alternativas de ma-nejo do azevém em pré-serneadura do tri-go. Alguns desses graminicidas, como o ha-loxyfop, podem apresentar efeito residuale afetar a cultura do trigo. Portanto, indi-ca-se que a aplicação desses produtos ocor-ra com antecedência de 15 a 30 dias da se-meadura do trigo.

Deve-se observar, contudo, que é ne-cessário que as plantas daninhas tenhamárea foliar suficiente para absorver o her-bicida. Uma situação em que é comum ha-ver falhas no controle ocorre após a colhei-ta da cultura de verão, quando há corte daparte aérea das plantas daninhas. Nessescasos, é necessário aguardar o desenvolvi-mento de novas folhas antes da aplicaçãodos dessecantes.

Reações de cultivares de trigo a herbicidas

A tolerância de cultivares de trigoa herbicidas depende do estádio de de-senvolvimento em que a cultura se en-contra, da dose aplicada, da interação doherbicida com outros agroquímicos e atécom nutrientes aplicados na cultura. En-tre os herbicidas indicados para uso empós-emergência de trigo, bentazon e met-sulfuron-metil são seletivos, enquanto osherbicidas hormonais podem causar fito-toxicidade se forem aplicados de formainadequada.

De modo geral, todas cultivares de tri-go utilizadas no sul do Brasil são tolerantesàs doses normais de aplicação dos herbici-das registrados. Contudo, podem ocorreralguns problemas quando o agricultor mis-tura produtos incompatíveis (ácidos, inse-ticidas, etc.) no tanque do pulverizador ouquando utiliza adjuvantes em doses maio-res que as necessárias.

Resistência de plantas daninhasa herbicidas

No Brasil, algumas plantas daninhastornaram-se resistentes a herbicidas, des-tacando-se os casos que ocorrem nas cul-turas de verão, que são espécies daninhas

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selecionadas por aplicações repetidas deherbicidas inibídores de AiS, ACCAse, au-xinas sintéticas e ao glifosato.

A buva e o azevém são espécies queapresentam biótipos resistentes ao herbici-da glifosato (Figura 1) e que emergem no in-tervalo entre a colheita da cultura de verãoe a semeadura do trigo. Deve-se ter cuida-do para assegurar que a "dessecação" dessavegetação seja eficaz, de forma que a seme-adura do trigo ocorra na ausência de plan-tas remanescentes. Para isso, nas áreas comsuspeita de ocorrer bíótípos resistentes, in-dica-se realizar a primeira aplicação de her-bicidas com antecedência de duas a três se-manas à semeadura do trigo. Se ocorrerbiótipos de buva resistentes, é necessárioadicionar 2,4-D ou metsulfuron ao glifosa-to. No caso do azevém resistente, é indicadoadicionar herbicidas inibidores de ACCaseao glifosato. Se houver "escape" de plan-tas da primeira aplicação de herbicidas, de-ve ser aplicado herbicida à base de paraquatantes (1-2 dias) da semeadura do trigo.

Em trigo, foi identificado um biótipo deRaphanus saiivus (nabiça) resistente à açãode metsulfuron-metil e outros herbicidasinibidores de ALS.Em áreas em que houvera presença do biótipo resistente, as alter-nativas de herbicidas para controle são: obentazon e os herbicidas do grupo das au-xinas sintéticas (hormonais).

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Figura 1. Azevém (Lolium multifiorum) e buva (Conyza spp.) resistentes a glifosato, infestando trigo.Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS.

Referências

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