TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta...

48
TURISMO E CULTURA DESTINOS E COMPETITIVIDADE FERNANDA CRAVIDÃO NORBERTO SANTOS COORDENAÇÃO IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA COIMBRA UNIVERSITY PRESS Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Transcript of TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta...

Page 1: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

TURISMO E CULTURADESTINOS E COMPETITIVIDADE

FERNANDA CRAVIDÃONORBERTO SANTOSCOORDENAÇÃO

IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITYPRESS

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 2: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

I N V E S T I G A Ç Ã O

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 3: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

edição

Imprensa da Univers idade de CoimbraEmail: [email protected]

URL: http//www.uc.pt/imprensa_ucVendas online: http://livrariadaimprensa.uc.pt

coordenação editorial

Imprensa da Univers idade de Coimbra

conceção gráfica

António Barros

infografia da capa

Carlos Costa

pré ‑impressão

Alda Teixeira

execução gráfica

www.artipol.net

isBn

978-989-26-0544-9

depósito legal

368716/13

OBRA PUBLICADA COM O APOIO DE;

© dezemBro 2013, imprensa da universidade de coimBra

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 4: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

TURISMO E CULTURADESTINOS E COMPETITIVIDADE

FERNANDA CRAVIDÃONORBERTO SANTOSCOORDENAÇÃO

IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITYPRESS

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 5: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

5

S u m á r i o

David Crouch

The culture of leisure and tourism: engaging space and sustainability 21

I – DESTINOS E COMPETITIVIDADE

Jorge Umbelino

Crises próprias e crises alheias: análise de impates na oferta turística 37

Jorge Humberto Soares Marques, Norberto Nuno Pinto dos Santos

O centro litoral de Portugal como destino de turismo de negócios. Análise

à oferta de alojamento e de espaços para reuniões . . . . . . . . . . . . . . 75

João Luís Fernandes

Turismo, precariedade territorial e dinâmicas de desterritorialização 111

II – VIAGENS

Carminda Cavaco

Resiliência dos destinos turísticos das praias frias: do Canal da Mancha ao

Golfo da Finlândia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

Eduardo Brito-Henriques

Africa viewed through the lens of ‘blue travel’: visual tourism and colonial

imagery . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 6: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

6

João Sarmento

Tourism routes: material heritage of portuguese origin in Morocco and

Goa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209

Valentino Alves e Rui Gomes

Portugal de lés a lés: os itinerários nos livros de viagens britânicos entre

1950 e 2000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231

III – TURISMO CULTURA E CIDADE

Carlos Fortuna, Carina Sousa Gomes

Turismo, cidade e universidade: o caso de Coimbra . . . . . . . . . . . . . . 273

Roberto Reis

As recriações históricas em Portugal – perspetivas e impatos . . . . . . 297

Gabrielle Cifelli, Paulo Peixoto

Contradictory aspects of tourism in historic centres: pelourinho

revisited . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337

Luís Alcoforado, A.M. Rochette Cordeiro, António Gomes Ferreira

O turismo entendido como vetor estratégico em projetos educativos

municipais promotores de desenvolvimento sustentado. Reflexões a

propósito do caso da Figueira da Foz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 357

IV – TURISMO E ESPAÇO RURAL

Elisabeth Kastenholz

Living, sharing and marketing the overall rural tourism experience –

a concetual discussion and first results from a research project in 3

portuguese villages . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371

Orlando Simões e Vivina Almeida Carreira

Processos de patrimonialização em contexto rural: o caso de Póvoa

Dão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 395

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 7: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

7

Zília Tovar, Paulo Carvalho

Percursos pedestres e turismo de passeio pedestre em Portugal . . . . 413

V – TURISMO E DESPORTO

Dimitra Margieta Lykoudi, Georgia Zouni

Host residents’ perceptions towards a mega event: the case of the Athens

2004 olympic games . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 439

Nuno Gustavo

O golfe – lazer, turismo e sustentabilidade. Reflexões sobre o caso

português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 453

Paulo Nunes

O turismo desportivo – a emergência de um produto turístico de mercado

global, paradoxo ou realidade? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 471

VI – TURISMO E NATUREZA: DOIS EXEMPLOS EM ILHAS ATLÂNTICAS

Daniel Neves, Lúcio Cunha, José Manuel Mendes

Turismo natureza e riscos na Ilha da Madeira: avaliação, perceção, estra-

tégias de planeamento e prevenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 489

Lúcio Cunha e Rui Jacinto

Turismo e desenvolvimento dos territórios insulares. Apontamentos para

uma geografia do turismo de Cabo Verde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 507

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 8: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

9

n o ta i n t r o d u t ó r i a

Durante o século XX as dinâmicas apresentadas pelo turismo não tem

praticamente paralelo com outras atividades quer seja ao nível económico,

quer social ou cultural. Porém, é a partir dos anos 60 do século passado

que o turismo se consolida e diversifica, abrangendo progressivamente

mais territórios e cativando mais população para participar nos fluxos e

fazer uso dos destinos enquanto turistas, sempre mais longe, mais exó-

tico, mais raro, mais exclusivo, mais sofisticado. Neste contexto, o turismo

torna-se num verdadeiro campo de investigação interdisciplinar onde a

geografia, a sociologia, a história, a economia assumem um papel funda-

mental. Integra, cada vez mais, uma interpretação com dimensões holís-

ticas que continua a encontrar novos campos de intervenção, inovando,

diversificando, patrimonializando e aproveitando recursos que passam a

ser parte integrante dos processos de desenvolvimento local e regional.

Na verdade, o setor do turismo constitui-se, no século XXI, como um

conjunto de serviços/indústria que se apresenta com caraterísticas multidi-

mensionais, multifacetadas e hiperfuncionais, o que explica as dualidades

e ambiguidades envolvidas na sua perceção e representação. Assim, um

dos problemas subjacentes aos estudos de turismo estriba-se no seu célere

crescimento e desenvolvimento. De acordo com os dados estatísticos da

Organização Mundial do Turismo (2012) o turismo internacional em ter-

mos mundiais continua a registar um crescimento permanente e gradual,

verificando-se um total de 530 milhões de turistas internacionais em 1995

e 1035 milhões em 2012.

Taleb Rifai, Secretário-geral da Organização Mundial do Turismo (OMT),

realça, que mesmo a instabilidade socioeconómica de 2012, mundial, mas

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 9: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

10

com especialmente impato na Europa, não originou decréscimo de turistas

ou de representatividade de receitas no PIB dos países. Comprova-se, deste

modo, que o setor patenteou uma capacidade de adaptação às condições

de mudança do mercado, devendo ser encarado, como refere a OMT, como

um sustentáculo de empreendedorismo e uma solução para estimular o

crescimento económico. O turismo resulta, de fato, do aproveitamento por

parte dos stakeholders dos novos valores e tempos sociais, da conjugação

de fatores que contribuem para o acréscimo de mobilidade espacial, do

acesso a mais informação e formação pessoal, da vontade de divertimento

e desenvolvimento ao longo da vida.

As práticas de fruição dos tempos livres têm-se diversificado, quer em

relação aos tempos, quer em relação aos modos e também em relação

aos territórios que os enquadram. Hoje, o lugar e a sua singularidade

estão cada vez mais presentes na procura turística. Estes modos de

“fazer” turismo apelam a experiências, a uma atracão que remete para

a memória, a uma identidade social e territorial. Os sítios, os lugares,

os territórios, adquirem novas dimensões, simbólicas e imagéticas,

por um lado, mas também de proximidade, proteção e afetivas, por

outro lado. Ao turismo de massas justapõe-se um turismo de nicho,

alternativo e muito orientado para públicos segmentados e mesmo

de elevado nível de personalização. Este tipo de oferta de turismo e

lazer permite um ajustamento capaz de valorizar interesses especiais e

dar ênfase à autenticidade valorizando como principais segmentos de

desenvolvimento dos turismos de nicho a cultura, o ambiente, o rural

e o urbano, que serão expressão central nas temáticas desenvolvidas

nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de

relação entre oferta e procura turísticas assentes na ideia de que para

além do turismo massificado (o velho turismo) se pode identificar um

novo turismo. À representação estandardizada, de pacotes rígidos e

abrangência mesclada de públicos, porque indiferenciados, aculturais

e pouco envolvidos ambientalmente, sobrepõe-se uma outra persona-

lizada, participativa, dependente da vontade expressa do consumidor

turista, especialmente envolvido cultural e ambientalmente, f lexível e

tecnologicamente experiente.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 10: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

11

O Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT) assume-se como ele-

mento diretor das intervenções para o desenvolvimento do Turismo em

Portugal, no horizonte temporal até 2015. Através da valorização da qua-

lidade, da geração da competitividade e da promoção da sustentabilidade

como modelo de desenvolvimento, procura-se que a oferta do turismo

nacional potencie a vocação natural de cada destino; melhore a qualidade

urbana, ambiental e paisagística do território; desenvolva a participação

e crie experiências distintivas e inovadoras; incremente a animação cul-

tural, desportiva ou lúdica, reforçando a imagem de marca do destino e

a segmentação da clientela; qualifique e especialize continuadamente os

recursos humanos envolvidos; integre conhecimento que permita qualidade

do serviço, inovação e reforço da competitividade empresarial do setor.

Neste contexto, as ligações entre o turismo e os territórios são parti-

cularmente importantes no encadeamento das práticas turístico/culturais

na sociedade contemporânea. É neste sentido que as novas cumplici-

dades entre o turista/visitante e o lugar representam, para a sociedade

contemporânea, por um lado, um elo entre a tradição e a modernidade,

por isso uma ligação em construção permanente, e, por outro, um desafio

permanente onde se cruzam os destinos com a competitividade, o posi-

cionamento e o marketing.

Se bem que expressão, nesse tempo, de outros modos muito menos

concorrenciais e competitivos e muito mais elitistas e diferenciadores de

classe, estas são ligações antigas. Quando os filhos da burguesia inglesa,

no final da sua formação académica, realizavam a viagem, o “tour” que

os levava a conhecer os lugares das civilizações clássicas ou as grandes

referências culturais de então, como Praga ou Paris, eram os territórios que

procuravam. Estes espaços retratavam as relações com a sociedade, com a

cultura e com a vida quotidiana, assumindo-se, por isso, como territórios

onde o material e o intangível se cruzam, criam e recriam, completando-se,

opondo-se, mas sempre compondo uma identidade e uma singularidade

motivadora, tanto ontem como hoje, da visita ao destino e da viagem que

leva o turista até ele.

A importância do território, e por esta via dos lugares, vai-se tornando

progressivamente mais competitiva. A sociedade vai adquirindo novas

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 11: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

110

Organización Mundial de Turismo (OMT), (1995), Conceptos, definiciones y clasi-

ficaciones de las estadísticas de turismo. Manual Técnico N.º 1. Madrid: OMT.

Publituris Tourism Hotel Guide 2011, Annual Special Edition n.º 11. Lisboa: Work-

media Comunicação, SA.

rogers, T., (2008), Conferences and Conventions. A Global Industry, 2nd Ed.,

Oxford: Butterworth-Heinemann.

shone, A., (1998), The Business of Conferences: a hospitality setor overview for the

UK and Ireland. Oxford: Butterworth-Heinemann.

sWarbrooke, J. e horner, S. (2001), Business Travel and Tourism. Oxford:

Butterworth-Heinemann.

UNWTO, (2006), Measuring the Economic Importance of the Meetings Industry

– Developing a Tourism Satellite Account Extension. Madrid: World Tourism

Organization.

Weber, K. e chon, K., ed., (2002), Convention Tourism. International Research

and Industry Perspetives. New York: The Haworth Hospitality Press.

Outras fontes

Entre junho e agosto de 2011 foi efetuada pesquisa de informação nos seguintes

sítios de Internet:

Federação Equestre Portuguesa (http://www.fep.pt/)

Gabinete de Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente

e Ordenamento do Território (http://www.gpp.pt/valor/DOP_IGP_ETG.html)

Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (www.icnb.pt/)

Montebelo Aguieira Lake Resort and Spa (http://www.montebeloaguieira.pt/)

Navio Santa Maria Manuela (http://www.santamariamanuela.pt/pt)

Sítios oficiais das câmaras municipais das três sub-regiões.

Termas de Portugal (http://www.termasdeportugal.pt/)

Turismo de Coimbra (http://www.turismodecoimbra.pt/)

Turismo do Centro de Portugal (http://www.turismodocentro.pt/pt/)

Universidade de Coimbra (http://www.uc.pt/candunesco/)

ViniPortugal (http://www.viniportugal.pt/index.php)

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 12: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

111

joão luís fernandes

CEGOT, Universidade de Coimbra

t u r i s m o , p r e c a r i e d a d e t e r r i t o r i a l

e d i n â m i c a s d e d e s t e r r i t o r i a l i z aç ão

Introdução

Enquanto processo geográfico e uma cadeia de serviços, o turismo tem

ampliado as suas fronteiras espaciais, sociais e funcionais. Estendeu-se

para lugares remotos, alargou-se a consumidores mais heterogéneos e

diversificou-se em termos de atividades e ocupação dos tempos livres.

Nesse sentido, o fenómeno turístico é um importante modelador das pai-

sagens, das territorialidades pessoais e coletivas e dos fluxos de capitais

e pessoas. Central em estratégias de marketing territorial, o turismo tem

sido o foco de múltiplos processos de reconversão funcional de lugares

em crise e de promoção de grupos sociais mais vulneráveis que, deste

modo, participam na mobilidade de diferentes categorias de capital. No

entanto, enquanto atividade muitas vezes promovida pela iniciativa pri-

vada mas que se envolve com bens públicos, o turismo incorre em riscos

sociais nem sempre fáceis de gerir e mitigar. A apropriação alógena de

recursos, as restrições de acesso a espaços geográficos, assim como a

privatização e o encarecimento dos solos, são alguns dos fatores que

podem conduzir ao aumento da fragmentação do espaço e a dinâmicas

de desterritorialização de comunidades locais. A referida fragilização e

a correspondente precariedade territorial de grupos mais vulneráveis

depende de variáveis como a permeabilidade dos projetos turísticos ao

contexto local, o ordenamento dessas atividades e o grau de participação

dos atores endógenos.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 13: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

112

1. Alargamento dos territórios turísticos. O turismo perante novos

contextos

Entre outros fatores, a compressão do espaço-tempo, a correspondente

redução das distâncias e a procura de lugares mais remotos e de padrões

geográficos contrastados em relação aos pontos de partida tem-se traduzido

no alargamento dos territórios turísticos (Claval, 2002). Florestas, como

a Amazónia, latitudes polares ou subpolares, como a Lapónia, contextos

desérticos ou semi-desérticos, como o Sara ou a Patagónia, fazem agora

parte do mapa mundial da atividade turística. Expandindo-se numa ace-

lerada dinâmica de difusão espacial, o turismo alargou-se para múltiplas

dimensões geográficas, como a profundidade e a altitude, dando centra-

lidade turística a lugares como, por exemplo, Cabo Verde ou o Nepal,

destinos importantes para, respetivamente, a prática da pesca submarina

e do montanhismo.

A procura do exotismo e a colocação do corpo em contextos de limite

na fronteira do conforto, tem sido acompanhada pela multiplicação de

modalidades de fruição, com a resultante dispersão das categorias e clas-

sificações da atividade turística. Longe dos tempos nos quais se associava

o turismo (heliotrópico) à busca do bem-estar na linha de contato entre

a terra e o mar, as territorialidades do turista são hoje mais complexas e

diversificadas (Williams, 2009). Não apenas se buscaram lugares novos e,

até há não muito tempo, à margem dos fluxos turísticos, como se renova

a relação do turista com espaços já conhecidos mas agora procurados

para diferentes fruições e atividades. Daqui nascem conceitos nem sem-

pre fáceis de sistematizar mas que, na sua essência, renovam a relação

do turista com a paisagem. Os mercados turísticos, cada vez mais hete-

rogéneos, sustentam o ecoturismo e o turismo de aventura, o turismo

cultural mas também o turismo religioso, o turismo rural e o urbano.

Noutros contextos, busca-se o turismo sombrio e o reality tourism, uma

experiência que coloca o turista em contextos extremos de desconforto e

risco auto-induzido. Estes, em subdivisões complexas ainda com análises

teóricas em construção, podem incluir quer o turismo cemiterial, quer o

turismo nuclear ou de guerra, dando centralidade a traumascapes asso-

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 14: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

113

ciadas ao sofrimento individual e/ou coletivo e a momentos negativos da

História da humanidade (Tumarkin, 2005). Noutras perspetivas, cruza-se o

turismo com os territórios da pintura, do cinema ou da literatura. O turista

pós-moderno consome lugares com topónimos reais encontrados com

facilidade nalgum atlas geográfico ou em suportes de cartografia digital,

como o Google Earth, como procura também lugares de fição, espaços

que territorializam representações e mundos imaginários, quantas vezes

reunidos em parques temáticos ou outros espaços de lazer e espetáculo

(Beeton, 2005). Este novo turista procura lugares de narrativas e aconteci-

mentos, espaços topobiográficos associados a grupos humanos, coletivos

étnicos ou pessoas relevantes que, aqui escreveram, ali viveram, noutro

lugar morreram. Por outro lado, viaja-se para simples contemplação mas

também para intervir repetindo gestos ancestrais (como no agro-turismo),

mas também se procuram territórios para criar algo de novo, no que

agora se designa turismo criativo (Richards e Wilson, 2006). Valoriza-se a

paragem mas também, noutros casos, a velocidade e o trajeto. Fruem-se

geossímbolos pontuais mas também símbolos espaciais lineares, aqueles

que se consomem em movimento, como um rio, uma estrada ou uma linha

de caminho-de-ferro. Estes novos territórios turísticos acompanharam a

segmentação dos mercados e o alargamento social e etário das fronteiras

do turismo. Da criança ao adolescente, do adulto ao idoso, do hetero ao

homossexual, das elites sociais às classes de poder económico e político

mais modesto ou mesmo, no extremo do turismo social, aos grupos huma-

nos mais vulneráveis, o turista é hoje uma personagem mais diversificada

em termos de objetivos, consumos e agrupamento etário, socioeconómico

ou outro (Simões e Ferreira, 2009). A dispersão dos tempos do turismo

por momentos mais fragmentados ao longo do ano reduziu, nalguns luga-

res, a concentração espácio-temporal dos consumos e alargou também as

fronteiras de uma atividade agora mais difícil de regular.

Com esta dilatação, o turismo dispersou-se para espaços de diversi-

dade e de maior sensibilidade ecológica e social. Os territórios turísticos

tornaram-se social, cultural e economicamente mais fragmentados a ponto

de, como refere Steil (2006), ser difícil pensar o mundo sem o turista,

que hoje se coloca na proximidade de populações com graus heterogé-

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 15: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

114

neos de vulnerabilidade. Alguns destinos são territórios de precariedade

social, muitos hotspots turísticos confrontam os visitantes com populações

de rendimentos médios diários abaixo dos 2 USD, como Katmandu (no

Nepal), Goa e Kerala (na Índia), Luxor (no Egipto), o Parque Nacional

de Kruger (na África do Sul) ou Mombassa (no Quénia) (Roe, Goodwin

e Ashley, 2002).

É importante desconstruir a ideia simplista de que as comunidades de

acolhimento viviam, antes dos fluxos turísticos, em estado de equilíbrio

ideal, num resistente e isolado auto-sustento de geografias confinadas

(Steil, 2006). As populações locais resultam elas próprias de interações,

trocas e negociações. Ainda assim, em muitos microterritórios – mais que

um elemento perturbador, o turismo tem sido um fator de mudança e

abertura à influência e territorialização local de escalas geográficas mais

alargadas. Na maior parte dos casos, o turismo acelerou a terciarização

da economia, da população ativa e do espaço. Por exemplo, a atividade

turística, como em Cancum (no México), foi uma inovação em áreas de

agricultura pobre ou em localidades pesqueiras como, no Sul de Espanha,

Torremolinos, Fuengirola ou Lloret del Mar que, em poucas décadas, se

tornaram importantes aglomerados turísticos (Potter, Binns, Smith e Elliott,

2004). Em regiões como os Himalaias e países como o Nepal, o turismo

estimulou a circulação de moeda e a mercantilização do quotidiano, alte-

rando os ritmos, as opções e as trajetórias de vida da população local.

Seja como for, o turismo trouxe contextos inovadores, outros atores de

desenvolvimento e, não deixando nunca de ser uma oportunidade, colocou

novos problemas e desafios.

2. O turismo: do desenvolvimento local às vulnerabilidades sociais

e territoriais

Consoante a natureza das práticas e os lugares a que estejam associa-

das, a atividade turística pode colocar os turistas em risco. Em primeiro

lugar, pelos efeitos da aglomeração espácio-temporal. Em segundo, pela

sua deslocação para meios menos familiares à sua vida quotidiana, mais

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 16: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

115

suscetíveis em termos climáticos, geomorfológicos ou sociais (Page, Ben-

tley e Walker, 2005). Ainda que, como em alguns desportos radicais, o

auto-confronto voluntário com o risco seja uma componente central da

experiência do turista, a salvaguarda da segurança tem ocupado muito

do ordenamento dos territórios turísticos e da investigação nesta área

científica, fato que não tem eliminado as externalidades diretas e indiretas

desta atividade (Sharpley e Telfer, 2002). Por isso, é importante colocar

o foco nas comunidades recetoras uma vez que, em diferentes escalas

geográficas, estes novos contextos cruzam o turismo com os sistemas

socioeconómicos e políticos e com as trajetórias de desenvolvimento das

populações locais (Matias, Nijkamp e Sarmento, 2011).

O confronto do turismo com o desenvolvimento das populações e dos

territórios remete o debate para quatro questões essenciais: o turismo e

a criação de mais-valias; o grau de dispersão social e de territorialização

in situ da riqueza criada; a perenidade temporal da atividade turística; e

o ordenamento do turismo para a gestão das respetivas externalidades

(paisagísticas, ambientais, sociais, políticas, económicas e sociais).

Nalguns países, o turismo apresenta um peso significativo no emprego,

nas exportações e na produção global de riqueza. Em muitos lugares, a

chegada de fluxos turísticos aumentou o grau de exigência qualitativa

sobre infra-estruturas como o imobiliário e os transportes, ou em relação

a normas de qualidade de vida, como a certificação ambiental. Por outro

lado, o turismo é elemento central na promoção de lugares e está, ao

mesmo tempo, a montante e a jusante de estratégias de marketing ter-

ritorial em diferentes escalas, em lugares urbanos de forte centralidade

e mais elevado ranking mas também em espaços geográficos de baixas

densidades e ruralidade mais pronunciada (Williams, 2009). Em muitos

casos, o turismo tem sido uma oportunidade que promove a educação nas

comunidades locais, incentiva a aprendizagem de novas línguas e uma

formação mais prolongada, aumentando os níveis de competitividade e

auto-estima, como no caso da Jordânia e da região de Petra onde, segundo

Alhasanat (2010), a chegada de turistas terá valorizado a cultura de raízes

locais e estimulado o orgulho das populações autótones. Nesse sentido,

e num balanço difícil, o turismo pode ser uma via de sobrevivência de

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 17: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

116

narrativas alternativas e grupos minoritários, agora com maior visibilidade

e ganhos mediáticos e de poder, relevantes até em causas de natureza

política (Lac, 2005).

No geral, os investimentos na área do turismo são quase sempre bem

acolhidos e aguardados com expetativas elevadas. Ao contrário de ativi-

dades económicas à partida percebidas como pesadas e nefastas, como a

indústria transformadora ou a exploração mineira, o turismo tem amplo

reconhecimento enquanto inovação positiva de progresso e promoção de

oportunidades em princípio com escassos efeitos negativos.

No entanto, enquanto atividade sensível às conjunturas e a ocorrências

como as catástrofes naturais ou o terrorismo – os fluxos existentes hoje podem,

no curto prazo, deslocalizar-se para outros destinos, o turismo incorre

no risco da incerteza, da volatilidade e da imprevisibilidade, pelo que

também nesta área se desaconselham apostas monofuncionais (Sharpley

e Telfer, 2002).

Nas populações de acolhimento, estes problemas têm diferentes per-

ceções, consoante a idade, o local de residência, a formação académica

mas também o grau de envolvimento e dependência de cada grupo face

ao turismo (Alhasanat, 2010). As comunidades locais não são homogéneas

e nem revelam a mesma visão do fenómeno, fato compreensível porque

nem todos vivem os benefícios ou sentem as mesmas externalidades de

um projeto turístico. Esta reação local, mais ou menos participativa, mais

ou menos aberta ou hostil, depende do tempo e do ciclo turístico que vai

do entusiasmo inicial à indiferença e desta à saturação. Sigam-se, para o

efeito, as palavras de Stephen Williams (2009, p.143): “One of the most

familiar articulations of this idea has been provided by Doxey’s ‘Irridex’ –

a contraction of ‘irritation index’ – which attempts to show how attitudes

to tourism in a host area might change as the industry develops (…). The

model suggests that initially the tourists are welcomed, both as a novelty

and because of their scope for creating economic prosperity. As develop-

ments become more structured and commercialised, local interest in the

visitors becomes sectionalised (i.e., some local people become involved

with the tourists, others do not) and signs of apathy emerge, especially

amongst the uncommitted. If growth continues, physical problems of

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 18: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

117

congestion and spiralling development sow seeds of annoyance on the

part of local people, whose lives are now increasingly affected and incon-

venienced by tourism. In the final stage of Doxey’s model, annoyance has

turned to open antagonism and hostility towards the tourists, who are

now blamed, fairly or unfairly, for perceived detrimental changes to local

lifestyles and society”. Segundo o modelo de Doxley, citado por Williams

(2009), a relação da comunidade local com o turismo muda consoante

a etapa do ciclo de implantação do projeto, mas depende também das

condições locais e do modelo de interação dessas populações com os

referidos investimentos (Kreag, 2001).

Os potenciais desequilíbrios advêm do fato de, na experiência turística,

se dar a coexistência espacial de diferentes atores com interesses nem

sempre convergentes – turistas, empresários turísticos e, entre outros,

comunidades locais muito heterogéneas (Sharpley e Telfer, 2002). Com

efeito, enquanto impulsionador de fluxos de pessoas e capitais, o turismo

pode intervir nas hierarquias locais e regionais de poder. Nesta dinâmica

competitiva, acumulam mais-valias sobretudo os agentes que controlam

os fluxos e os símbolos e ícones que suportam o turismo pós-moderno

(Desforges, 1999).

O turismo pode constituir uma via para o controlo externo de alguns

lugares. Apenas um exemplo. Segundo Potter, Binns, Smith e Elliott (2004),

cerca de metade dos alojamentos em Barbados pertencem a proprietários

estrangeiros. Esse valor ascende a cerca de 75% no caso dos alojamentos

de luxo.

Nem sempre é fácil e direto fazer o balanço entre as vantagens e as

desvantagens de uma estratégia turística. Ainda assim, é extensa a lite-

ratura que trata o lado mais sombrio do turismo (Fennell, 1999; Hall e

Page, 2001). Se as consequências económicas são de fácil medição e

monitorização, o mesmo não ocorre quando se analisam as externalidades

de ordem social, cultural ou política. Os efeitos da atividade turística são

quase sempre sistémicos e podem envolver áreas como a Sociologia, a

Economia, a Antropologia ou a Ecologia. Na maior parte das vezes, só a

perceção de longo prazo e o distanciamento garantido pelas mudanças

estruturais permitem uma avaliação completa dos efeitos locais e regio-

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 19: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

118

nais do turismo, ainda para mais tendo em conta que esta atividade pode

interferir em lugares já antes instáveis.

No âmbito da performance económica dos países mais vulneráveis,

incorre-se no risco do aumento das importações caso não se associe o

turismo à produção local. Na ótica da Antropologia, o turismo pode ser

um impulso para a proteção artificial e descontextualizada de elemen-

tos culturais da população local que, como resultado da mercantilização

das identidades, se expõe ao visitante. Esta comercialização pode levar

à invenção/encenação de comunidades tradicionalizadas que se ajus-

tam ao imaginário do turista (Steil, 2006). Estes territórios turísticos de

tourees – grupos que encenam traços da sua cultura, criam contextos

espaciais (e culturais) anacrónicos perante um turismo que promove a

preservação do vernáculo quando já desapareceu o contexto geográfico

e socioeconómico que lhe deu origem (Lac, 2005). O turismo pode ter

criado condições para a manutenção das tradições, mantendo os artefa-

tos materiais ou as expressões culturais de uma comunidade depois de

contribuir para a modificação, nalguns casos irreversível, do espírito e do

contexto que os criou (Desforges, 1999). É com estas contradições que

o turismo étnico conduz os visitantes para o exotismo dos massai e dos

tupi-guaranis, grupos humanos que se percebem de modo estereotipado

em associação a lugares remotos mas centrais no imaginário ocidental – a

savana africana e a selva amazónica, respetivamente (Lac, 2005).

O contato das comunidades locais com os visitantes pode ainda incor-

rer no risco da imitação de comportamentos. Se esta permeabilidade

(ou efeito de demonstração) pode significar uma boa notícia no que diz

respeito, por exemplo, à procura de níveis superiores de educação e

formação (como o investimento no multilinguismo), pode também gerar

problemas e conflitos de natureza religiosa, política ou, tão-somente,

comportamental ou geracional. Em muitas áreas civilizacionais receia-se

a ocidentalização acelerada e desregrada das gerações mais jovens, com o

aumento de incidências desviantes como a criminalidade, a mendicidade

ou a prostituição (Potter, Binns, Smith e Elliott, 2004).

Como atrás se referiu, o turismo é uma atividade incerta e oscilante

muito sensível à imagem de um lugar que, a partir de variáveis como a

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 20: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

119

criminalidade ou o terrorismo, se pode (des)construir (Avraham e Ketter,

2008). Contudo, a montante, e no que ao terrorismo diz respeito, o efeito

mediático e as consequências económicas de um ataque numa área de

densidades elevadas aumenta a vulnerabilidade e a insegurança potencial

de territórios turísticos que, deste modo, se tornam alvos apetecíveis.

Ainda que tenham uma expressão integrada, muitos dos fatores de

vulnerabilidade das comunidades locais por efeito direto ou indireto do

turismo apresentam uma componente geográfica, sobretudo porque o

turismo será sempre um processo de apropriação e uso de lugares.

Neste debate entram questões como o risco de degradação dos espaços

públicos, a destruição do património edificado ou natural ou a deterioração

da matriz económica local, muitas vezes, como se verá no caso do Quénia,

assente num modelo de vida semi-nómada e pastoril, porventura já em

decadência mas com uma desconstrução que se precipita pela pressão da

chegada de outras atividades. Numa desestabilização que as Organizações

Não Governamentais (ONG) Tourism Concern e World-Wide Fund for

Nature (WWF) denominaram como eco-colonialismo, também no Quénia

e na Tanzânia, exemplo melhor desenvolvido mais adiante, o ecoturismo

foi um dos fatores que levou à expulsão de comunidades locais para

longe dos territórios habituais de vida (Desforges, 1999). Noutro exemplo,

segundo Potter, Binns, Smith e Elliott (2004), em Belize o turismo afastou

as comunidades locais do acesso à floresta, numa fragilização territorial

que Thomas Homer-Dixon (1994) designa por resource capture. Nesta tese,

um grupo social perde acesso aos recursos naturais depois de estes serem

apropriados por agentes com maior poder de decisão económica e política

ou na sequência da sua degradação, como ocorre, no caso da água, pelo

uso intensivo nalguns casos associado ao turismo. Nestes, a decomposição

espacial de grupos mais vulneráveis tanto pode estar associada a relações

assimétricas de poder, como ao não respeito pela capacidade de carga de

cada território turístico. Em especial nos contextos insulares, esse limite

é com frequência ultrapassado, com consequentes desníveis entre o total

de residentes e o volume global de visitantes, como em Santa Lucia, no

Caribe, onde a média anual de chegadas ultrapassa o quantitativo de

habitantes (Potter, Binns, Smith e Elliott, 2004).

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 21: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

219

Fes, Moulay Idrissi, Meknes, Volubilis, Midelt, Erfud, Errachidia, Ouarza-

zate, Marrakech, Taroudant, Tafrouat and Tiznit, Agadir, Essaouira, Safi

and El Jadida, and back to Casablanca.

4.2. Spatial Routes in Morocco

Considering the three main airports in Morocco – Casablanca, Marrakesh

and Agadir, (7,2; 3,3; 1,6 million passengers in 2010, respectively – Office

National des Aéroports, 2010), and the main passenger entry maritime

port – Tangiers, and the location of and distances between the 8 Forts

of Portuguese origin in Morocco (see Table II), I suggest one model of

‘multiple destination – trip changing’ (model 3) and two models of ‘Circuit

destination with stops – partial orbit’ (model 3a) (Figure 2). Border crossing

figure 2 – Morocco Map

Source: Author

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 22: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

220

at Ceuta is also another important tourist entry in the country and could

also be considered by slightly modifying the first model. From Agadir,

the nearest significant fort is Safi, at a distance of 253 km. Since there are

two important tourists attractions nearer (Marrakech and Essaouira are

241 km and 172 km away, respectively), it is not expected that tourists

travel to Safi, unless they are niche tourists with a particular interest in

heritage of Portuguese origin.

1. Total of 167 km (or 245 km including Ceuta): start in Tangiers and

travel to Asilah (49 km), then via inland to Alcacer Ceguer (85 km),

with a possible extension to Ceuta (crossing the border to Spain and

return 78 km), returning to Tangiers by the coast (33 km);

2. Total of 359 km: start in Casablanca and travel to Azamour (89km),

overnight in El-Jadida (16 km), continue to Safi (154 km), with a

possible extension to Souira Kedima (41 km), and return;

3. Total of 380 km: start in Marrakech and travel to Safi (154 km), continue

to Souira Kedima (41 km) and return following almost the same route.

figure 3 – Azamour

Source: Author, 2010

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 23: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

221

4.3. Forts in Goa

Goa is an independent state of India, located on the East Coast of the

country, with a population of 1,34 million people. It is one of the smal-

lest states of India, with an area of 3,702 square kilometres, bordering

two large states: Maharashtra to the north and Karnataka to the West

and South. Goa’s capital, Panaji, is located about 600 kilometres south of

Mumbai. While in the early 1960s ore, iron and manganese were the only

relevant exports of Goa, nowadays, tourism is the most important sector

of the state’s economy. Tourism boomed in the 1960s, after the Portuguese

withdrawal in December 1961, and the small territory became a haven

for hippies and low budget travellers. Throughout the 1960s, 1970s and

much of the 1980s this was the dominant and most visible type of tourism,

characterised by budget, small scale and low quality accommodation,

seasonal beach shacks, linear development along the main coastal roads

including seasonal shops, and a very pronounced spatially concentrated

on the coast. As Saldanha (2002, 96) puts it, ‘Quickly, drug trafficking,

psychedelic music and partying formed a sound (if relatively informal)

infrastructure for a hedonistic traveller culture still very much alive to

this day, mostly in the northern village of Anjuna.’

Throughout the last two decades, pressure on water supplies and

increasing water salination of coastal aquifers intensified, at the same

time as another type of tourism emerged. This was characterised by large

scale developments, aiming at attracting high spending tourists. Presently,

according to the Goa Department of Tourism (2010) there are 15 five star

hotels in Goa, which makes a total of 4601 beds (38 per cent of the total

number of beds in star category hotels). In 2009 the state registered more

than 2.5 million visitors (Goa Department of Tourism 2010). Importantly

here is the fact that ‘free itinerary travellers accounted for almost half of

foreign tourists arriving in Goa’ (Navhind Times 2011), which means that

these tourists have a great flexibility in the activities they do during the day.

In 2008, the Official Goa Tourism Web Site (www.goa-tourism.com) had

an entry for ‘Forts in Goa’ where it stated: ‘Compared to Indian standards,

Goan forts are very small in size’. This would immediately raise the issue

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 24: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

222

of Indian heritage versus Goan heritage (see Saldanha 2002). This ‘dispute’

is further complicated when it is stated that ‘Some are awesome in sheer

size like the Ruins of the St. Augustine’s Tower’ – built by Augustinian

missionaries in 1602 but not a Fort – ‘while others are marvellous pieces

of architecture, such as the Gate of the Adil Shah’s Palace at Old Goa’ –

the last evidence of a Palace built by the Sultan of Bijapur, but also not

a Fort. This text can no longer be found on the site, and presently (May

2011), only six Forts are presented in the official web site: Aguada, Cabo

da Rama, Cabo Raj Niwas (presently the official residence of the Governor

of Goa and a non visitable site), Chapora, Mormurgao (only ruins exist)

and Terekhol. Significantly, they do not match the ten forts (Aguada, Reis

Magos, Chapora, Khorjuvem, St. Estevao, Alorna, Mormugao, Cabo de

Rama, Colvale and Terekhol) that have been designated as ‘Tourist Places’

and are presently included in the list of the Goa Tourist Places, according

to the Protection and Maintenance Act of 2001 (Goa Government 2001).

This vague an imprecise text (where on the one hand it is written that

‘most of them [Portuguese Forts] are in reasonable state of preservation’,

and on the other hand ‘most of them lie in ruins’) reveals the little care

and emphasis that is put upon built heritage in Goa and the lack of a

strategy that aims, among other things, to promote and develop a type

of tourism that departs from the dominant ‘sun, sea, sand and rave’ type.

Despite some recent restoration in some forts2, throughout the state, very

little information can be obtained about these forts, either in the form of

leaflets, brochures or road signs. In 2008, I visited ten forts in Goa over a

period of five weeks. My personal experience revealed that the location of

some of the inland forts is also unknown to many locals, even at a short

distance from the actual sites. I could not find evidence of Sanquelim

Fort, near Bicholim, and for lack of time it was not possible to visit Tivim,

Pondá, Nanuz, Mormurgão and Anjediva. The diversity of the visited Forts

is considerable (see Table III).

2 In Reis Magos Fort restoration began in 2007 and it was expected to be completed in 2010. St. Estevao was the second fort to have restoration work. Built in the late 15th century by Adil Shah, it is one of the oldest forts in Goa. There are signs that Corjuem and Alorna could be the next targets of restoration.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 25: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

223

table iii – Forts in Goa

Name Built ConservationNearest fort

(km)

Tourism

infra-structures

1. Rachol 1520 Ruins 40 No

2. Old Goa Early 1500s Poor 8 Yes

3. Corjuem 1705 Good 10 No

4. St. Estevao 1498-1510 Ruins 8 No

5. Alorna 1746 Good 35 No

6. Tiracol 1746 Good (Hotel) 15 Yes

7. Chapora 1617 Ruins 15 Yes

8. Aguada 1612 Good (Hotel) 5 Yes

9. Reis Magos 1551 Good 5 Yes

10. Cabo de Rama 1763 Good 40 No

4.4. Spatial Routes in Goa

In Goa, unlike Morocco, not all forts are located on the coastal zone,

which is where tourists and tourism infrastructure are concentrated. This

can be an advantage in an attempt to disperse tourists in the state and to

allow for less visited regions to engage in tourism. Still, most Forts are

located in the north region of Pernem and Bardez (Fig. 4). At the same

time, also contrasting with Morocco, there is only one main entry in Goa,

which is the airport at Dabolim, one of the top 10 airports in India. In this

regard it is important to mention that a large number of tourists arrive

by charter flights (see Wilson 1997), a number that has been increasing:

between 1985 and 2011, the number of charter flights rose from 24 to 889,

and the number of passengers boosted from 3,568 to 171,000 thousand

(see Saldanha 2002 and Digital Goa 2011). Presently, over half of these

charter flights originate in Eastern Europe, with Russia topping the list

traditionally dominated by the UK, which also signals a change in the

tourists’ profile visiting the state. Still, British still account for almost half

of all foreign tourists in Goa. Tourists arriving by rail or bus are a small

fraction of the total number of tourists.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 26: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

224

Considering two main staging areas – that is the areas where most

hotels and tourism facilities are concentrated – in coastal Bardez and

coastal Salcete, it is possible to establish three models 3a ‘Circuit des-

tination with stops – partial orbit’, two of which depart from the same

point. Reflecting the small size of the state, especially when compared

with the case of Morocco, all of these routes have much shorter lengths,

approximately 80-95 kilometres.

1. Total 95 km: start from Salcete coast to Rachol (25-30 km) and then

journey directly to Cabo da Rama (40km) and return (20-25 km).

2. Total 85 km: start from Bardez coast to Tiracol (15 km), crossing by

ferry in Querim to this Goese enclave, journey to Alorna (35 km)

and return (35 km).

3. Total 80 km: start from Bardez coast to Corjuem (20 km), continue

to St. Estevao (10km), to Old Goa (8 km), to Reis Magos (15 km), to

Aguada (5 km), to Chapora (15 km) and return to departure point

(5-10 km).

figure 4 – Goa Map

Source: Author

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 27: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

225

figure 5 – Fort Aguada Ramparts

Source: Author, 2008

5. Conclusion

Despite the importance of tourism routes throughout the world, and

their imminent spatial dimension, geographers have largely neglected

their spatial architecture. In this article I intended to discuss the princi-

pal spatial configurations of tourism routes, providing international as

well as Portuguese examples, as well as drafting two applications of the

models using the Material Heritage of Portuguese origin in Morocco and

in Goa. There are a few points that should be stressed before closing

this preliminary analysis of spatial routes and material heritage of Portu-

guese origin in Morocco and Goa. The first one relates to the fact that if

a tourism route is designed solely thinking about one particular type of

heritage, it will function only for a specific niche tourism (see Simões and

Ferreira 2009), that is, for people who are only interested in fortifications

of Portuguese origin, for example. It is unlikely that many tourists want

to make a tour of a region or country looking only for a particular and

specific type of heritage.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 28: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

226

The second point is that a proposal as the one I have just presented,

which overlooks other important cultural aspects of these countries,

can be perceived and understood as being of a colonial nature, espe-

cially in the case of Goa (see Saldanha 2002), since in the Moroccan

case heritage of Portuguese origin goes back to a much earlier period

and has different resonances (see Sarmento 2011). In this Indian state

it would be important to connect or at least to point not only to other

heritage buildings of Portuguese origin, such as the abundant churches

and civil architecture, but especially to the various existing temples

(notable Ponda and Pernem), to museums, to festivals and to the many

sites of resistance and domination, which are historically interconnected

(Axelrod and Fuerch 1996).

Finally, this ‘neo-colonial view’ would only be the case if the inter-

pretation of these sites is one dimensional. At Fort Tirakol, now a

seven-room up-market heritage hotel where ancient quarters and cells

were transformed into rooms and lavish bathrooms with views towards

the Arabian Sea, there is a rich story that worked as a prelude to Goa’s

liberation (or occupation) in the mid 1950s. Freedom fighters occupied

the Fort for some days on several occasions and raised the Indian flag.

One other example if the case of Chapora Fort. After being the setting

of the Bollywood movie Dil Chahata Hai [Do your thing] (2001), hun-

dreds of Indians, for whom Portuguese built heritage is quite distant,

visit Fort Chapora every weekend to pose, capture and sit on the same

landscapes and stones where movie stars once were. These experiences

are not about the resonances of the colonial past, but about modern

contemporary India, and about the ways locals have been appropriating

these material sites. Understanding the opportunities and drawbacks

that tourism and heritage pose in the Global South, and the complex

role they play within the national and socio-cultural reconstruction of

post-conflict and postcolonial societies needs to be urgently addressed.

Most of these sites are associated with battlefields, slavery wharehouses,

and other events that should play an important role in the construction

of postcolonial states.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 29: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

227

6. References

appadurai, A. 1996, Modernity at Large. Cultural Dimensions of Globalization.

Chicago: University of Minnesota Press.

augé, M. 1995, Non-places: introduction to an anthropology of supermodernity.

London: Verso.

aXelrod, P. and fuerch, M.A. 1996, The flight of the deities: Hindu resistance in

Portuguese Goa, Modern Asia Studies, Vol. 30 (2), pp. 387-421.

bandyopadhyay, R. morais, D.B. and chick, G. 2008, ‘Religion and identity in India’s

heritage tourism’, Annals of Tourism Research, Vol. 35(3), July, pp. 790-808.

brito-henriQues, e. sarmento, j. and lousada, M.A. 2010, (eds.) Water and Tou-

rism. Resources, Management, Planning and Sustainability. Lisbon: Centro de

Estudos Geográficos.

capp, S. 2002, The European Institute of Cultural Routes, ARCCHIP Workshop A02,

Available at http://www.arcchip.cz/w02/w02_capp.pdf, assessed in May 2011.

dias, P. 2008, Norte de África. Lisbon: Arte de Portugal no Mundo, 1, Público.

DigitalGoa 2011, Goa Tourism industry rejoices healthy increase in chartered

flights, 27 May, Available at http://www.digitalgoa.com/ca_disp.php?id=1915,

accessed in July 2011.

flognfeldt, T. 1999, Traveler geographic origin and market segmentation: The

multi trips destination case, Journal of Travel and Tourism Marketing, Vol.

8(1), pp.111-124.

Goa Department of Tourism 2010, Tourism Statistics. Goa Department of Tourism.

Panaji.

Government of Goa (2001). Goa Protection and Maintenance Act. List of the Goa

Tourist Places, Act 56, Government of Goa. Panaji, Available at http://india.

gov.in/allimpfrms/allacts/522.pdf, Accessed in April 2011.

graham, A. papatheodorou, A. and forsyth, P. 2008, Aviation and tourism: impli-

cations for leisure travel. London, Ashgate.

henriQues, I.C. and medeiros, I. 2001, (eds.), Lugares de Memória da Escravatura

e do Tráfico Negreiro – Lieux de mémoire de l’esclavage et de la traite négrière.

Lisbon: UNESCO.

hunter, F.R. 2010, Manufacturing Exotica: Edith Wharton and Tourism in French

Morocco, 1917-20, Middle Eastern Studies, Vol. 46(1), pp. 59-77.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 30: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

228

leW, A. and mckercher, B. 2006, Modeling Tourist Movements. A Local Destination

Analysis, Annals of Tourism Research, Vol. 33(2), pp. 403-423.

lue, C.C., crompton, J.L., and fesenmaier, D. R. 1993, ‘Conceptualization of mul-

tidestination pleasure trips’, Annals of Tourism Research, Vol. 20, pp. 289-301.

mattoso, J. 2010, (org.) Portuguese heritage around the world – architecture and

urbanism, 3 vols., Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon.

mckercher, B., and leW, A.A. 2003, Distance decay and the impact of effective

tourism exclusion zones on international travel flows, Journal of Travel Research,

Vol. 42(2), pp. 159-165.

mckercher, B. and leW, A. 2004, Tourist Flows and the Spatial Distribution of

Tourists in A Companion to Tourism, Blackwell, Oxford, pp. 36-48.

moulin C. and boniface P. 2001, Routeing Heritage for Tourism: making heritage

and cultural tourism networks for socio-economic development, International

Journal of Heritage Studies, Vol. 7(3), 1, pp. 237-248.

navhind times 2011, Goa received record number of tourists in 2010, Available

at http://www.navhindtimes.in/, accessed 12 February 2011.

Office National des Aéroports 2010, Aéroport des Maroc: Trafic. Office National

des Aéroports, Casablanca.

oppermann, M. 1995, A model of travel itineraries, Journal of Travel Research,

Vol. 33(4), pp. 57-61.

saldanha, A. 2002, Identity, Spatiality and Post-colonial Resistance: Geographies

of the Tourism Critique in Goa, Current Issues in Tourism, Vol. 5(2), pp. 94-111.

sarmento, J. 2011, Fortifications, Post-colonialism and Power Ruins and Imperial

Legacies. London: Ashgate.

sarmento, J. and brito-henriQues, E. 2009, Overland tourism in the Istanbul to

Cairo route: ‘real holidays’ or McDonaldised niche tourism?, In Simões, J.M.

and Ferreira, C. (eds.) Turismos de Nicho, Centro de Estudos Geográficos,

Lisbon, pp.283-295.

sarmento, J. and etemaddar, F. 2009, Nomad Tribal Women and Tourism Develo-

pment: the Khamseh Tribes, Iran’. In Proceedings of Traditions and Transfor-

mations: Tourism, Heritage and Cultural Change in the Middle East and North

Africa Region Conference, 4-7 April 2009, Amman, Jordan, no pages.

simões, J. M. ferreira, C. 2009, Turismos de nicho – motivações, produtos, território.

Lisbon: Centro de Estudos Geográficos.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 31: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

328

Esta estrutura, para além de vir a constituir uma atração turística para

a cidade, teria igualmente como função ser um espaço de formação aberto

à comunidade e de um modo especial à comunidade educativa.

fig. 13. Mapa com a identificação das Terras de Santa Maria.

SIG Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

Paralelamente, e uma vez que nos Concelhos das Terras de Santa Maria

da Feira são já realizados outros eventos de recriação histórica (Arouca,

Uma Recriação Histórica Espinho – Vir a Banhos. Recriação de uma praia

do início do século XX; Gondomar – A recriação histórica da Assinatura

da Convenção de Gramido; Murtosa – Reconstituição do Ciclo do Milho;

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 32: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

329

Oliveira de Azeméis. Era Uma vez, Mercado à Moda à Antiga; Santa Maria

da Feira: Viagem Medieval, Festa das Fogaceiras, Via-Sacra, Invasões

Francesas, Centenário Vale do Vouga, Centenário da República; Vila Nova

de Gaia – Feira Medieval de Vilar de Andorinho e Invasões Francesas

e Ovar – com um trabalho notável na Recriação Histórica da Visita de

D. Maria II a Ovar e o Desfile de Trajes do Concelho de Ovar “O Trabalho

e as Artes”), este Parque poderia vir a funcionar como um complemento

dessas atividades.

Com efeito, a realização destes eventos constitui hoje um fator de

dinamização e de valorização do Concelho, sendo este o conceito que se

poderia incutir no Parque. Em conjunto com outros eventos, espera-se

que este Parque poderia tornar-se numa ação estratégica prioritária para

a promoção e para o desenvolvimento cultural e turístico do concelho, e

consequente projeção do seu tecido empresarial.

Fig. 14. Recriação Histórica da Visita de D. Maria II a Ovar, em 2009.

Foto Sofia Vechina

A criação deste Parque Temático procurará oferecer ao visitante um

conjunto de atividades e de equipamentos que lhe permitam, aliar à

componente de diversão da visita, uma componente educativa, conhecer

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 33: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

330

as diferentes personagens e os tipos de atividades de outros tempos,

participando diretamente na recriação do ”modus vivendi” da época.

Todavia é fundamental este tipo de eventos irem de encontro ao obje-

tivo principal da Organização Mundial do Turismo (OMT) que é o “de

promover e desenvolver o turismo com vista a contribuir para a expansão

económica, a compreensão internacional, a paz, a prosperidade, bem

como para o respeito universal e a observância dos direitos e liberdades

humanas fundamentais, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

A Organização tomará todas as medidas necessárias para atingir este

objetivo”17, porque o turismo representa a primeira indústria em muitos paí-

ses, em termos da contribuição de PBI e emprego; representa um importante

fator na balança de pagamentos de muitas nações; transformou-se numa

fonte geradoras de emprego mais importante no mundo; é uma poderosa

força para contribuir para o entendimento internacional e a paz no mundo.

Assim a OMT contribui para que todos os países maximizem os aspe-

tos positivos do turismo bem como prevenir os seus impatos negativos,

colocando em prática o Código Mundial de Ética do Turismo:

1. Contribuição do turismo para a compreensão e respeito mútuo entre

homens e sociedades;

2. O turismo, vetor de desenvolvimento individual e coletivo;

3. O turismo, fator de desenvolvimento sustentável;

4. O turismo, fator de aproveitamento e enriquecimento do património

cultural da humanidade;

5. O turismo, atividade benéfica para os países e comunidades de

acolhimento

6. Obrigações dos atores do desenvolvimento turístico;

7. Direito ao turismo;

8. Liberdade das deslocações turísticas;

9. Direito dos trabalhadores e dos empresários da indústria turística;

10. Aplicação dos princípios do Código Mundial de Ética do Turismo

17 Artigo 3.º n.º 1 (Estatutos da OMT)

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 34: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

331

Com a aplicação do Código Mundial de Ética do Turismo, poder-se-á

dar um forte contributo para se atingir Objetivos de Desenvolvimento do

Milénio (ODM ):

Erradicar a pobreza extrema e fome; Alcançar o ensino primário uni-

versal; Promover a igualdade de género; Reduzir a mortalidade infantil;

Melhorar a saúde materna; Combater o VIH/SIDA, a malária e outras

doenças; Garantir a sustentabilidade ambiental e Fortalecer uma parceria

global para o desenvolvimento.

13. Considerações finais

Verificamos que no caso particular de Santa Maria da Feira, foram

diversos fatores que contribuíram para a consolidação de projetos de

recriação histórica, de “Living History” ou de “Reenactment”. Por sua vez

as dinâmicas obtidas permitiram a recuperação do Centro Histórico e do

Vale do Cáster. Estas duas prerrogativas juntas permitem sonhar com um

Parque Temático que englobe as diferentes épocas recriadas.

A tematização é sem dúvida uma das tendências a que o turismo tem

aderido. Mas não vem dissociada de outros fatores e tendências que a

cada dia surgem em todo o mundo. O turismo passa por transformações

na mesma velocidade em que as sociedades também se transformam.

Aparentemente, esta fuga da realidade, mesmo que por algumas horas,

tem levado milhares de pessoas a usufruir destes hotéis, bares, restau-

rantes e parques temáticos. Ressaltamos ainda, que os empreendimentos

temáticos, principalmente os parques, estimulam o desenvolvimento das

regiões onde estão inseridos.

No entanto, é necessário que se realizem pesquisas, de modo a oferecer

subsídios ao segmento que carece ainda de maior atenção. O turismo só

tem a ganhar com o fortalecimento destes empreendimentos.

As Terras de Santa Maria, pelo seu património, pela sua tradição his-

tórica e pelos inúmeros eventos que organiza em volta das recriações

históricas, e após as diversas obras de requalificação urbana dinamizadas

pelos eventos, assumem-se como um lugar privilegiado para uma possível

implementação de um parque temático.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 35: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

332

fig. 15. Viagem Medieval em Terra de Santa Maria.

Fonte: Óscar Maia

Para que funcione da melhor forma, o parque deve procurar integrar-se

da melhor maneira possível na rede de equipamentos existentes e contri-

buir para uma maior diversificação das atividades turísticas das Terras de

Santa Maria, tentando, simultaneamente, assegurar qualidade dos serviços

com a promoção de um turismo que respeite o meio ambiente.

Em género de conclusão, podemos dizer que, hoje em dia, a aposta em

parques temáticos é uma aposta válida, uma vez que, aliados ao turismo

temático, criam em geral, novas sinergias nas regiões ou localidades em

que se instalam e podem ser utilizados para rejuvenescer os destinos turís-

ticos tradicionais, porque atraem novos segmentos de mercado, melhoram

a imagem desses destinos e diversificam a sua oferta.

Como refere Mary Ashton18, “os parques temáticos representam, hoje,

uma proposta de pesquisa multifacetada, ligada ao turismo, à economia,

18 ashton, Mary Sandra G. Parques temáticos: espaços e imaginários. In: gastal, Suzana; gastogiovanni, Antonio Carlos (org.). Turismo na pós-modernidade (des) inquietações. Porto Alegre: Edipucrs, 2003.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 36: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

333

sociologia, história, geografia, e tantas outras áreas”, permitindo a melho-

ria das sinergias interdisciplinares.

“Os parques temáticos históricos são os fiéis depositários do património

imaterial porque apelam ao sentido de memória coletiva e exaltam os valo-

res históricos. Neles, apesar da componente economicista, estão implícitas

temáticas que fazem parte do património endógeno de uma determinada

região. Os conteúdos temáticos dos parques, apesar da sua vertente de

lazer, fazem referência a um passado, a uma tradição ou a uma memória

que poderia ser esquecido se não existisse esta vertente”19.

Referências bibliográficas

ashton, Mary Sandra G. Parques temáticos: espaços e imaginários. In: gastal,

Suzana; gastogiovanni, Antonio Carlos (org.). Turismo na pós-modernidade

(des) inquietações. Porto Alegre: Edipucrs, 2003.

bárcia, Paula (1990), Manual de História ao Vivo, Lisboa: Ministério da Educação.

benavente, Ana (Dir.).As Inovações nas Escolas – Um roteiro de projetos, Lisboa:

Instituto de Inovação Educacional. 1995.

berens, Daniel J., WWii Reenactment in west-central Wisconsin: context of his-

tory and memory from the last world war Eau Claire, Wiscosin MAY 2008.

http://minds.wisconsin.edu/bitstream/handle/1793/28790/BerensSpring08.

pdf?sequence=2.Acesso em 10 de Julho de 2009.

cabrita, Alexandre. Relatório acerca do 1º Encontro sobre Recriação Histórica,

Cultura, Turismo e Cidadania. Vendas Novas. 28 de Novembro de 2008.

carlos, Roberto; DIAS, Francisco de Almeida, 1957-, fotogr. Viagem medieval em

Terra de Santa Maria. 2002.

castro, Jesús Pena Castro. El negocio de la historia en la Feria Medieval de Noia.

Sociológica, pp: 81-100/2004.

cravidão, Fernanda. Turismo e Desenvolvimento – o distrito de Coimbra, 1980-

1987, separata de Arunce, Lousã.1989.

19 http://www.quintacidade.com/?p=1625. Acesso em 12 de junho de 2009.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 37: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

334

cunha, Lúcio. Turismo e desenvolvimento na Raia Central. Cadernos de Geografia,

14, Coimbra, FLUC, pp. 129-138. 1995.

daWson, Ian (1996), Standars of Living in the Middle Ages. Teaching History, 82,

Editores, pp. 25-31. Editorial Verbo.

féliX, Noémia. Saberes e Competências essenciais no Ensino da História, in

Competências essenciais do Ensino Básico, Cadernos do CRIAP, Lisboa: Asa

Editores, pp. 25-31. 2001.

gastal, Susana. Lugar de memória: por uma nova aproximação teórica ao patri-

mónio local. In: Gastal. S. (org.). Turismo investigação e crítica. São Paulo:

Contexto, p. 69-81. 2002.

giles, Howard, ”Recreating the Past for Live Events, TV, and Film: A Brief History

of Reenactment. http://www.eventplan.co.uk/history_of_reenactment.htm.

Acesso em 10 de Julho de 2009.

goeldner, Charles R., ritchie, J. R. Brent., mcintosh, Robert W. Atrativos, Entre-

tenimento, Recreação e Outros. In: Turismo. Princípios, Práticas e Filosofias.

Trad. Roberto Cataldo Costa. 8 ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. P.150-171.

http://en.wikipedia. org/wiki/Historical_reenactment. Acesso em 8 de Julho de 2009

http://www.quintacidade.com/?p=1625. Acesso em 12 de Junho de 2009

http://www.teatro-vivarte.org/site/?page_id=2. Acesso 8 de Julho de 2009

huyssen, Andréas. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.

Jan., 27-30.

langley, Andrew. A Vida na Idade Média, Enciclopédia Visual, Lisboa: Editorial

Verbo. 1999.

lopes, Maria Virgílio Cambraia. Texto e criação Teatral na Escola, Cadernos Peda-

gógicos, Edições Asa. 1999.

oliveira, Maria do Rosário Barros. Os impactos dos eventos turísticos – o caso

da Viagem Medieval em Santa Maria da Feira. 2009.

maniQue, António Pedro e proença, Maria Cândida. Didáctica da História- Patri-

mónio e História Local, Lisboa: Texto Editora. 1999.

romero, Mabel Villagra. Actualidad del Asociacionismo Recreacionista en Europa:

el caso italiano. 2.º Encuentro de Grupos de Recreación Histórica Medieval de

Aragón, Alcañiz (Teruel). 2006.

solé, Maria Glória Parra Santos, “A técnica de história ao vivo – a realização de

uma feira medieval no Lindoso” (Didácticas e Metodologias de Ensino) Instituto

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 38: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

335

de Estudos da Criança – Universidade do Minho. Comunicação apresentada no

IV Encontro Nacional de Didácticas e Metodologias da Educação – ”Percursos

e Desafios”, Évora, 26-28 set. 2001.

trigo, Luiz Gonzaga Godoi. Turismo e Qualidade: tendências Contemporâneas.

6.ª ed. Campinas: Papirus, 1993.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 39: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

337

gabrielle cifelli

Universidade Cruzeiro do Sul

[email protected]

paulo peiXoto

CES, Universidade de Coimbra

[email protected]

c o n t r a d i c t o r y a s p e c t s o f t o u r i s m

i n h i s t o r i c c e n t r e s : p e l o u r i n h o r e v i s i t e d

Introduction

Urban intervention projects in rundown central areas of significant

historical, artistic and cultural value are a new aspect of contemporary

urban planning which aim to create greater visibility for certain sections

of city territory by enhancing their cultural references in order to reverse

the physical and social decay into which they have fallen and to boost

their economy.

These strategies, adopted in recent decades in rundown areas in

various European countries and in the United States, have been repro-

duced since the 1990s in cities in Latin American countries with the aim

of combining local development with heritage preservation. Therefore,

in many historic centres in large and medium-sized cities, investments

destined to promote culture aim to increase their attractiveness in terms

of tourism in order to boost this activity which, theoretically, leads to the

creation of jobs and income by enhancing and marketing material and

non-material cultural references.

In Brazil, these initiatives have taken place in some central areas of

recognised heritage value, such as the historic centres of Recife and Sal-

vador. They have also been converted into ways of boosting the economy

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 40: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

538

No entanto, a procura crescente de algumas ilhas (Sal, Boavista, Santiago,

S. Vicente, Fogo) pelo turismo internacional tem levado, ou pelo menos

acelerado, a concretização de alguns projetos de salvaguarda ambiental

que em muito contribuirão para um desenvolvimento sustentado das Ilhas.

Apresenta-se, a título de exemplo, um projeto para a definição de áreas

protegidas no âmbito da Rede Natura 2000, curiosamente financiado pela

União Europeia e preparado por entidades das Ilhas Canárias, parceiros

e ao mesmo tempo concorrentes no turismo macaronésio. Neste trabalho

(figura 4) são inventariados os principais territórios com valor ambiental

e paisagístico, no que pode ser considerado também um levantamento

de recursos para o turismo Natureza, complemento natural do turismo de

Sol e Mar, o principal produto turístico da Ilha.

4.3. Coesão: assimetrias e (re)organização sócio-territorial

Finalmente, o turismo pode representar um papel importante na difícil

tarefa de construção da coesão territorial do país. De fato, o caráter arqui-

pelágico impõe dinâmicas económicas distintas, diferencia oportunidades

de desenvolvimento e acentua assimetrias naturais. A dinâmica demográfica

registada nos últimos anos (figura 5) espelha esta diferenciação.

Assim se compreende a maior densidade populacional registada em

2010 nas Ilhas de Santiago (serviços administrativos), São Vicente (serviços

administrativos e culturais) e Sal (turismo). Assim se compreende, também,

que as Ilhas predominantemente rurais (Santo Antão, São Nicolau, Fogo

e Brava) tenham perdido população nos últimos 10 anos, enquanto as

restantes e, particularmente, as ilhas com vocação turística (Sal, Boavista

e Maio), assim como as ilhas onde se concentram as funções comerciais e

administrativas (Santiago e São Vicente) a tenham vindo a ganhar. Ao criar

oportunidades de emprego em ilhas menos desenvolvidas, o turismo tem

vindo assim, de algum modo, a contribuir para o equilíbrio demográfico

do arquipélago.

A fragmentação do território, pelo seu caráter insular, é um dos prin-

cipais problemas em termos de coesão. As distâncias físicas, os preços

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 41: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

539

dos transportes, as dificuldades no transporte de alguns tipos de bens são

obstáculos ao desenvolvimento das ilhas mais periféricas, num contexto

de circulação de pessoas e bens, sobretudo através de transporte aéreo.

figura 5 – Densidade da população (1940 e 2010) e variação da intercensitária

da população (1990/2000 e 2000/2010) nas ilhas de Cabo Verde

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 42: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

540

O desenvolvimento do turismo internacional veio modificar o padrão

de relacionamento das Ilhas de Cabo Verde com o Mundo e, se há cinco

anos atrás, o único aeroporto internacional (Europa, África e América)

que servia o país era o da Ilha do Sal, atualmente os voos internacionais

chegam e partem também de Santiago, da Boavista e de S. Vicente.

Por outro lado, a nível interno, a rede de transportes aéreos permite

o acesso quase imediato a todas as ilhas, com exceção das ilhas mais

ocidentais (Santo Antão e Brava; figura 6). Num modelo de desenvolvi-

mento turístico que procura, como referimos, ainda que para diferentes

públicos e jogando com recursos distintos, atingir todas as ilhas, a via-

bilidade da atual rede de transportes aéreos é um fator fundamental na

coesão territorial.

figura 6 – As linhas domésticas do TACV e a organização

do espaço do arquipélago de Cabo Verde

5. Conclusão

A atividade turística em Cabo Verde assenta num conjunto de fatores

naturais, históricos, sociais e locativos que se combinam de modo feliz

para permitir uma atratabilidade notável a nível do mercado internacional.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 43: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

541

Se as condições climáticas (“sol em 365 dias por ano” poderia ser o

slogan) são a base, a história da construção de um povo crioulo e de

uma nação arquipelágicos, com aspetos culturais ímpares na música e na

literatura, e a posição de charneira entre a Europa, a África e a América

são os fatores que favorecem o desenvolvimento de uma atividade em

crescimento lento mas sustentável e que é fundamental para o crescimento

económico do arquipélago.

Para além dos recursos naturais, os recursos humanos são fundamen-

tais no desenvolvimento do turismo. Para além dos recursos histórico-

-culturais já mencionados, Cabo Verde é um dos países africanos com

mais elevada taxa de literacia e com melhor formação dos seus quadros

médios e superiores. Esta formação, adquirida inicialmente na Europa

e no Brasil, começa a ser a ministrada nas várias escolas superiores do

país e constitui um elemento fundamental na construção de uma oferta

turística de qualidade.

As crises económicas recentes levaram tanto a um retraimento dos

investimentos externos no país, como a uma diminuição da procura turís-

tica a nível internacional, tendo afetado, de algum modo, o crescimento

económico do país com base nas atividades turísticas. No entanto, existe

uma enorme potencialidade para crescimento, potencialidade que terá de

ser equacionada em termos de versatilidade, de diferenciação de produtos

e de sustentabilidade ambiental, quer dizer, em termos de criação de uma

actividade económica moderna, geradora de riqueza, desenvolvimento e

equidade social a nível local e nacional.

Ao mesmo tempo que, enquanto actividade económica, o turismo é

capaz de promover desenvolvimento e equidade a nível interno e a ajudar

a afirmar o país no quadro internacional, ele será também o motor para

políticas e práticas de conservação e gestão a nível ambiental, ou seja,

permitirá efectivamente contribuir para um desenvolvimento sustentável:

conciliação entre as práticas de um turismo com futuro ou de um turismo

economicamente sustentável com um ambiente limpo e saudável e uma

sociedade equilibrada, rica, diversa e culturalmente genuína.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 44: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

542

6. Referências bibliográficas

alfama, v., gomes a. & brilha, J. 2008, Guia geoturístico da Ilha do Fogo, Coimbra:

Departameno de Ciências da Terra da FCTUC, 61 p.

almeida, G. 2003, Cabo Verde, uma viagem pela história das ilhas, Lisboa: Caminho.

amaral, I. 1964, Santiago de Cabo Verde. A terra e os homens, Memórias da Junta

de Investigação do Ultramar, n.º 48.

Auto-Avaliação das capacidades nacionais para a gestão global ambiental (NCSA-

-GEM). Relatório de transversalidade e sinergia entre as três convenções de rio

(CCD, CBD, CCC). Documento Final, PRAIA, Abril de 2007. Elaborado pelos

Consultores: Charles Yvon Rocha; Sónia Elsy Merino; Arlinda Duarte Neves. 13 p.

carreira, A. 1982, Estudos de economia Cabo-verdiana, Lisboa: INCM.

carreira, A. 1983, Cabo Verde. Formação e extinção de uma sociedade escravocrata

(1460-1878), Praia: Instituto Cabo-verdiano do Livro.

carreira, A. 1983, Migrações nas ilhas de Cabo Verde, Praia: Instituto Cabo-

-verdiano do Livro.

correia, E. 1993, Condições climáticas para o turismo balnear em Santiago (Cabo

Verde). Aplicação de duas classificações, Garcia da Horta, Revista do Instituto

de Investigação Científica Tropical, Lisboa, 14 (1 e 2), pp. 41-56.

correia, R. 2011, Erosão hídrica e agricultura na Ilha de Santiago. Um olhar

geográfico na perspectiva da teoria dos riscos. In cunha, Lúcio e jacinto, Rui

– Interioridades/Insularidades – Despovoamento/Desertificação: paisagens,

riscos naturais e educação ambiental em Portugal e Cabo Verde. Guarda: CEI,

pp. 159-175.

cunha, Lúcio, jacinto, rui (coord.; 2011), Interioridades/ Insularidades – Despo-

voamento/ Desertificação: paisagens, riscos naturais e educação ambiental em

Portugal e Cabo Verde. Guarda: CEI.

lopes, B., 1947, Chiquinho.

lopes, E. 2011, Mulheres e Ambiente – A problemática da ”apanha” de inertes na

Ilha de Santiago (Cabo Verde). Diss. Mestrado em Geografia Física, Ambiente

e Ordenamento do Território, Coimbra.

lopes, M. 1956, Chuva Braba.

lopes, M.1959, O Galo Que Cantou Na Baía.

lopes, M. 1959, Os Flagelados do Vento Leste.

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 45: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

543

Ministério do Ambiente e Agricultura. Direção-Geral do Ambiente. Terceiro Rela-

tório Nacional sobre o Estado da Biodiversidade em Cabo Verde. Cidade da

Praia, Setembro de 2006 [Equipa Técnica: Manuel Leão Silva de Carvalho; Sónia

Indira Araújo. Financiamento: Global Environment Facility . Edição: Direção-

-Geral do Ambiente

monteiro, s. & cunha, Lúcio 2011, Cheias rápidas em Cabo Verde. Um breve apon-

tamento acerca das tempestades de Setembro de 2009 na Ilha de S. Nicolau. In

cunha, Lúcio e jacinto, Rui – Interioridades/ Insularidades – Despovoamento/

Desertificação: paisagens, riscos naturais e educação ambiental em Portugal

e Cabo Verde. Guarda: CEI, pp. 177-189.

monteiro, s. & mendes, J. 2011, Riscos Naturais e percepção da vulnerabilidade

em Cabo Verde. In cunha, Lúcio e jacinto, Rui – Interioridades/Insularida-

des – Despovoamento/ Desertificação: paisagens, riscos naturais e educação

ambiental em Portugal e Cabo Verde. CEI, Guarda, pp. 135-157.

murteira, M. 1988, Os estados de língua portuguesa na economia mundial. Lis-

boa: Presença.

nascimento, J. 2011, Cidade e desenvolvimento urbano em Cabo Verde. In cunha,

Lúcio e jacinto, Rui – Interioridades/ Insularidades – Despovoamento/Deserti-

ficação: paisagens, riscos naturais e educação ambiental em Portugal e Cabo

Verde. Guarda: CEI, pp. 235-256.

ribeiro, M. 1961, A Ilha de Santiago. Contribuição para o estudo da sua fenome-

nologia socio-económica, Coimbra: FLUC (Tese de licenciatura).

ribeiro, O. 1960, A Ilha do Fogo e as suas erupções. Memórias da Junta de Inves-

tigação do Ultramar, n.º 1.

riga, A., vieira, e. & borges, M. 2011, Taiti. Diagnóstico geotécnico e ambiental. In

cunha, Lúcio e jacinto, Rui – Interioridades/ Insularidades – Despovoamento/

Desertificação: paisagens, riscos naturais e educação ambiental em Portugal

e Cabo Verde. Guarda: CEI, pp. 207-222.

semedo, J. 2011, Cabo Verde: insularidade, desertificação e gestão dos recursos

naturais. In cunha, Lúcio e jacinto, Rui – Interioridades/ Insularidades – Des-

povoamento/ Desertificação: paisagens, riscos naturais e educação ambiental

em Portugal e Cabo Verde. Guarda: CEI, pp. 117-133.

tavares, C. 2011, Praia urbana. Os assentamentos espontâneos. In cunha, Lúcio e

jacinto, Rui – Interioridades/ Insularidades – Despovoamento/ Desertificação:

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 46: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

544

paisagens, riscos naturais e educação ambiental em Portugal e Cabo Verde.

Guarda: CEI, pp. 223-233.

taglioni, F. 2003, Recherches sur les petits espaces insulaires et sur leurs organi-

sations régionales. Paris, Volume II, Mémoire d’habilitation à diriger des recher-

ches. (http://hal.archives-ouvertes.fr/docs/00/04/86/63/PDF/Section_1.pdf)

veiga, M. 1998, Cabo Verde, Insularidade e literatura. Paris: Karthala.

vitória, s., neves, l., tavares, a. & pereira, a. 2011, Modelação da susceptibilidade

a cheias através de Sistemas de Informação Geográfica. Um caso de aplicação

à região da Praia. In cunha, Lúcio e jacinto, Rui – Interioridades/ Insulari-

dades – Despovoamento/ Desertificação: paisagens, riscos naturais e educação

ambiental em Portugal e Cabo Verde. Guarda: CEI, pp. 191-206.

Fontes Web:

MINISTÉRIO DE ECONOMIA, CRESCIMENTO E COMPETITIVIDADE – DIREÇÃO

GERAL DO TURISMO, Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em

Cabo Verde 2010/2013, http://portoncv.gov.cv/dhub/porton.por_global.open_

file?p_doc_id=762

IPDT – Instituto de Turismo, Observatório do Turismo de Cabo Verde: http://www.

observatoriodoturismocv.org/pagina.php?id=41

Observatório do turismo: http://www.observatoriodoturismocv.org/multimedia/PLA

NO%20DE%20MARKETING%20CABO%20VERDE%20-%202010-2011%20-%20

23_07_2010.pdf

Plano de Marketing para o turismo de Cabo Verde: http://www.observatoriodoturis

mocv.org/pagina.php?id=89.

Master Plan do Turismo: http://www.ic.cv/InvetExterno.html

INE – Cabo Verde – Contas Nacionais.

INE – Estatísticas do Turismo.

PNUD (2004a), Rapport National sur le Développement Humain Cap Vert –2004,

Praia.

MINISTÉRIO DO AMBIENTE, AGRICULTURA E PESCAS GABINETE DE ESTU-

DOS E PLANEAMENTO. Segundo Plano de Ação Nacional para o Ambiente

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 47: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

545

DOCUMENTO SINTESE (2004-2014). VOLUME I: TEXTO PRINCIPAL Praia,

Março de 2004. http://www.governo.cv/documents/PANAII-sintese-final.pdf

Livro Branco sobre o Estado do Ambiente em Cabo Verde – 2004 (Capítulo sobre

Turismo) http://www.sia.cv/documentos/Livrobranco.pdf (Cap. turismo pp.

120 e segs.)

A CONFERENCIA INTERNACIONAL SOBRE EL TURISMO SOSTENIBLE EN PEQUEÑOS

ESTADOS INSULARES (PEI) Y OTRAS ISLAS, realizada em Lanzarote (Espanha),

http://www.datosdelanzarote.com/Uploads/doc/20051228202649551lanzarote

-s.pdf

Sistema de Informação Ambiental (SAI) http://www.sia.cv/index.php?option=com_con

tent&view=article&id=88&Itemid=108&lang=pt

As regiões ultraperiféricas da União Europeia: Indicadores para caracterizar a

ultraperificidade http://www.mcrit.com/rup/documentos/RUP_MEMORIA_

FINAL_POR_def.pdf

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt

Page 48: TURISMO E CULTURA - Universidade de Coimbra › files › previews › 107983_preview.pdf · nesta obra sobre Turismo e Cultura. Estas são, na verdade, formas de relação entre

Fernanda Delgado Cravidão

Geógrafa (1974) Professora Catedrática(1997) da Universidade de Coimbra.

Docente e investigadora desde 1975.Desde esta data tem desempenhado fun-

ções muitos diversas quer em gestão quer no domínio da Investigação. em várias

Licenciaturas, Mestrados e Doutoramentos em Universidades nacionais e estrageiras.

Coordenadora do Doutoramento em Turismo, Lazer e Património. Responsável pela

Cátedra da UNESCO Turismo Cultural e Desenvolvimento atribuída ao Mestrado

Lazer, Património e Desenvolvimento.

Integra o Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT).

Membro do Conselho Científico de várias revista nacionais e estrangeiras.

Member of IGU Commission on Evolving Issues of Geographyhical Marginality in the

Early 21st Century World

Cerca de duas centenas de trabalhos entre, livros, capítulos de livros, artigos, atas

e publicados em diversos países: Brasil, Estados Unidos, Espanha, Argentina, Reino

Unido, Índia, Israel, Taiwan, entre outros.

Norberto Nuno Pinto dos Santos

Geógrafo e doutor em Geografia Humana. Professor Associado com Agregação no

Departamento de Geografia da FLUC e Investigador no CEGOT, ao longo dos anos

de carreira universitária tem desenvolvido trabalhos na área da Geografia Social e

Económica, do Lazer, do Turismo e do Ordenamento do Território.

Publicou quatro livros: Regional and local responses in Portugal, IUC (2012); Trunfos

de uma Geografia Ativa. IUC (2011); Lazer. Da libertação do tempo à conquista

das práticas. IUC (2008) e A sociedade de consumo e os espaços vividos pelas famí-

lias, Colibri, Lisboa (2001).

É Membro da Associação Portuguesa de Geógrafos, Diretor do curso de Mestrado

Lazer, Património e Desenvolvimento. É coordenador do Grupo de investigação

Paisagens Culturais, Turismo e Desenvolvimento, do CEGOT. É Secretário da

Comissão Nacional de Geografia. Foi Diretor do curso Turismo, Lazer e Património,

de 2009 a 2013. Presidente da Comissão Científica do Instituto de Estudos

Geográficos, Coordenador do Centro de Estudos Geográficos.

9789892

605449

Versão integral disponível em digitalis.uc.pt