TXT-Diagnostico Psicopedagogico

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA - PROTOCOLO BREVE SILVA, Maria Luiza Quaresma Soares – CENEP-HC-UFPR [email protected] Área Temática: Psicopedagogia Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo O presente trabalho relata um modelo de avaliação breve que vem sendo utilizado pela psicopedagogia para a realização de triagens e avaliações em equipe multidisciplinar. Em tais equipes, profissionais da psicopedagogia e de outras clínicas, como psicologia, neuropsicologia, neuropediatria, serviço social, fonoaudiologia e terapia ocupacional, atuam conjuntamente. No procedimento de triagem, cada criança ou adolescente é encaminhado a uma das especialidades e durante 25 minutos realiza tarefas específicas com foco em sua aprendizagem e desenvolvimento. Em seguida, há o revezamento para as outras clínicas, sendo que a duração total da triagem para cada sujeito é de duas horas. A avaliação psicopedagógica completa somente é solicitada quando o resultado da triagem identifica disfunções acentuadas nas habilidades investigadas. Como esse é um protocolo extenso e tendo em vista que no modelo interdisciplinar as demais áreas terapêuticas colaboram com seus saberes para a compreensão do fenômeno; a psicopedagogia optou por adaptar alguns dos instrumentos clássicos de sua área e desenvolver outros. Assim, a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem-EOCA foi substituída pela Mini EOCA. E, surgiram também, dois roteiros descritivos de habilidades denominados Categorias da Triagem e Categorias da Avaliação Psicopedagógica. O trabalho fundamentou-se na Epistemologia Convergente de Jorge Visca e em autores que analisam a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática. A proposta aqui apresentada tem se mostrado eficaz para o objetivo a que se destina, ou seja, contribuir, dentro de uma equipe multidisciplinar, fornecendo pareceres sobre a característica da aprendizagem de cada sujeito, em termo de aptidões, interesses e desempenho em habilidades cognitivas e acadêmicas. Além disso, possibilita a identificação de áreas de desempenho que necessitem ser mais estimuladas e fornece subsídios para a reorganização dos ambientes da aprendizagem do sujeito avaliado. Palavras-chave: Psicopedagogia. Avaliação. Triagem. Aprendizagem. Multidisciplinar. Introdução A democratização do saber, institucionalizada pelo direito e obrigatoriedade a uma formação escolar básica, garantia do Estado a toda criança, é uma conquista social recente e inédita na história da humanidade. Como tudo que é novo, requer um tempo para acomodar- se. Assim, verifica-se como nunca antes, um grande número de crianças em plena atividade

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA - PROTOCOLO BREVE

SILVA, Maria Luiza Quaresma Soares – CENEP-HC-UFPR [email protected]

Área Temática: Psicopedagogia

Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo O presente trabalho relata um modelo de avaliação breve que vem sendo utilizado pela psicopedagogia para a realização de triagens e avaliações em equipe multidisciplinar. Em tais equipes, profissionais da psicopedagogia e de outras clínicas, como psicologia, neuropsicologia, neuropediatria, serviço social, fonoaudiologia e terapia ocupacional, atuam conjuntamente. No procedimento de triagem, cada criança ou adolescente é encaminhado a uma das especialidades e durante 25 minutos realiza tarefas específicas com foco em sua aprendizagem e desenvolvimento. Em seguida, há o revezamento para as outras clínicas, sendo que a duração total da triagem para cada sujeito é de duas horas. A avaliação psicopedagógica completa somente é solicitada quando o resultado da triagem identifica disfunções acentuadas nas habilidades investigadas. Como esse é um protocolo extenso e tendo em vista que no modelo interdisciplinar as demais áreas terapêuticas colaboram com seus saberes para a compreensão do fenômeno; a psicopedagogia optou por adaptar alguns dos instrumentos clássicos de sua área e desenvolver outros. Assim, a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem-EOCA foi substituída pela Mini EOCA. E, surgiram também, dois roteiros descritivos de habilidades denominados Categorias da Triagem e Categorias da Avaliação Psicopedagógica. O trabalho fundamentou-se na Epistemologia Convergente de Jorge Visca e em autores que analisam a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática. A proposta aqui apresentada tem se mostrado eficaz para o objetivo a que se destina, ou seja, contribuir, dentro de uma equipe multidisciplinar, fornecendo pareceres sobre a característica da aprendizagem de cada sujeito, em termo de aptidões, interesses e desempenho em habilidades cognitivas e acadêmicas. Além disso, possibilita a identificação de áreas de desempenho que necessitem ser mais estimuladas e fornece subsídios para a reorganização dos ambientes da aprendizagem do sujeito avaliado. Palavras-chave: Psicopedagogia. Avaliação. Triagem. Aprendizagem. Multidisciplinar.

Introdução

A democratização do saber, institucionalizada pelo direito e obrigatoriedade a uma

formação escolar básica, garantia do Estado a toda criança, é uma conquista social recente e

inédita na história da humanidade. Como tudo que é novo, requer um tempo para acomodar-

se. Assim, verifica-se como nunca antes, um grande número de crianças em plena atividade

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escolar, mas que enfrentam inúmeras dificuldades, por vezes perdem o interesse e deixam de

considerar o estudo como uma oportunidade para a vida e de ascensão social, algo bastante

presente nos discursos de duas a três gerações passadas. Para o aluno que apresenta algum

tipo de dificuldade na aprendizagem, o que era uma conquista passa a ser uma penitência.

Como é na escola que a criança inicia seu processo de socialização, interagindo com os pares

e com os adultos daquele ambiente, entraves nesse percurso trarão impactos desfavoráveis à

saúde psíquica, interferindo na auto-imagem e num futuro projeto de vida desse sujeito.

O tempo escolar é algo dinâmico e delimitado. Nele, os dias letivos são preenchidos

com atividades e objetivos a serem atingidos pelos alunos. Frente às dificuldades surgidas,

sejam elas inerentes ao aprendiz e/ou a seu contexto, relativas a metodologias ou específicas

aos conteúdos abordados, é necessário que o fenômeno seja compreendido com a maior

clareza possível pelo professor, de modo que ele possa buscar recursos para reorientar a

aprendizagem dessas crianças. Entretanto, não é possível exigir tal competência unicamente

do docente, e a escola conta também com a intervenção de equipes especializadas atuando em

seu próprio interior ou externamente, no intuito de promover a aprendizagem acadêmica.

Na escola pública, entre outras medidas surgem ações como, formação docente

continuada, lei da inserção do profissional pedagogo, psicólogo e assistente social no quadro

escolar, Salas de Recursos, Centros Especializados de Atendimentos e parcerias em Projetos

Pedagógicos e culturais como os oferecidos em Programas Universitários de Extensão. Todas

essas intervenções buscam ampliar redes de apoio para que a aprendizagem aconteça.

O presente trabalho insere-se no contexto apresentado, situação na qual a

psicopedagogia desenvolveu e utiliza um modelo de avaliação breve, como parte integrante de

um protocolo multidisciplinar. As triagens e avaliações realizadas nesse modelo são aplicadas

individualmente a alunos de escolas públicas cursando o Ensino básico, com baixo

rendimento na aprendizagem escolar. Visam fornecer pareceres sobre a característica da

aprendizagem dos sujeitos, em termo de aptidões, interesses e desempenho em habilidades

cognitivas e acadêmicas. Possibilitam ainda, a identificação de áreas de desempenho que

necessitam uma maior estimulação e podem fornecer subsídios para a reorganização dos

ambientes de aprendizagem do sujeito avaliado.

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Práxis psicopedagógica – filiação teórica

O papel da psicopedagogia, frente a uma queixa de dificuldade na aprendizagem, seja

ela de caráter primário ou associada a distúrbios psico-neurológicos, é investigar como aquele

sujeito, particular e único, interage com os objetos e realiza essa acomodação. Para tanto, faz

uso de procedimentos para colher e analisar informações em busca de parâmetros para a

compreensão do fenômeno.

A matriz diagnóstica utilizada na elaboração dos procedimentos aqui descritos

fundamentou-se na Epistemologia Convergente de Jorge Visca e em estudos sobre a

aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática.

A Epistemologia Convergente é uma teoria que agrega contribuições de três áreas do

conhecimento: Psicologia Genética, Psicanálise e Psicologia Social (VISCA, 1994, p. 9 e 16).

Nessa abordagem, o sujeito é visto como uma totalidade psicossomática, na qual,

primeiramente existe um corpo (substrato biológico) inserido no mundo, que em interação

com um objeto (ser maternante), desabrocha para uma consciência psíquica de si mesmo (eu

psicológico - mente). Visca (1994, p.68) denomina esse pensar como um esquema

referencial, e o vincula às teorias construtivista, estruturalista e interacionista. Construtivista,

segundo o autor, porque tanto sujeito quanto conhecimento vão sendo construído por etapas,

a partir de sucessivas sínteses entre o que já se sabe e novas aquisições. Estruturalista, porque

a construção que está surgindo é uma estrutura total, envolvendo a dimensão cognitiva e

afetiva de forma interatuante, frente aos desequilíbrios. E é interacionista, porque para se

construir uma estrutura é necessário haver interação com o outro e com o meio. A

aprendizagem ocorre na relação sujeito objeto, possuindo um aspecto cognitivo e um afetivo.

Psicologia Genética é o nome dado à teoria nascida da investigação que Piaget

empreendeu sobre a gênese da lógica no ser humano. Inicialmente era uma formulação

epistemológica, mas buscando responder a sua questão de estudo, e não dispondo do homem

pré-histórico para o intento, elegeu a criança como seu sujeito de pesquisa. Durante anos

analisou e descreveu as primeiras aquisições lógicas na criança o que resultou na elaboração

de uma teoria do desenvolvimento e uma concepção de aprendizagem (MORO, 2002, p.118).

O próprio Piaget1 (1979, Apud COLL e MARTÍ, 2004, p. 45) definia sua epistemologia

genética como a disciplina que estuda os mecanismos e os processos mediante os quais se

1 Piaget. Tratado de lógica y conocimiento científico (1). Naturaleza y métodos de la epistemología.

Buenos Aires: Paidós [Publicación original en francés, 1967].

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passa “dos estados de menor conhecimento aos estados de conhecimento mais avançados”.

Identificou na criança, três grandes estágios ou períodos evolutivos no desenvolvimento

cognitivo: um estágio sensório motor, indo do nascimento até os 18-24 meses

aproximadamente e culminando com a construção da primeira estrutura intelectual, o grupo

dos deslocamentos; um estágio de inteligência representativa ou conceitual, dos 2 aos 10-112

anos aproximadamente, que culmina com a construção das estruturas operatórias concretas; e

finalmente, um estágio de operações formais, no qual se dá a construção das estruturas

intelectuais próprias do raciocínio hipotético-dedutivo aos 15 ou 16 anos (COLL; MARTÍ,

2004, p.46).

Nos anos 70, Barbel Inhelder, uma das colaboradoras de Piaget, organizou os

procedimentos metodológicos utilizados por eles nas pesquisas clínicas e divulgou parte desse

material com o título de provas piagetianas. A característica deste protocolo é seu caráter

qualitativo distinto da psicometria que fornece dados quantitativos. Mais tarde, esse material

passou a compor protocolos de avaliação psicopedagógica com o objetivo específico de

identificar o estágio do desenvolvimento cognitivo alcançada pelos sujeitos. (DOMAHIDY-

DAMI; BANKS-LEITE, 1992, p.118).

As outras duas contribuições teóricas que compõem a Epistemologia Convergente são

as advindas da Psicanálise, área que descreve o psiquismo humano e suas motivações

inconscientes; e da Psicologia Social de Pichon-Rivière que analisa a influência de fatores

sócio-culturais na conduta dos sujeitos (VISCA, 1994, p.15).

Uma avaliação psicopedagógica, segundo o modelo da espistemologia convergente,

fará uso de recursos diagnósticos provenientes dessas três áreas. O sujeito realizará atividades

que forneçam subsídios a uma compreensão de seu desenvolvimento no que tange à cognição

e vínculos afetivos estabelecidos com objetos e situações de aprendizagem. Visca (1994,

p.68) considera três tipos de obstáculos à aprendizagem: epistêmico, epistemofílico e

funcional. A interrupção ou lentificação no desenvimento cognitivo do sujeito, caracteriza o

obstáculo epistêmico, e determina o nível de operatividade daquela pessoa. No obstáculo

epistemofílico, existe um vínculo inaquedado com objetos e situações de aprendizagem,

desencadeando um estado afetivo alterado que, segundo a teoria, pode se manifestar como

uma ansiedade confusional, esquizo-paranóide ou depressiva; agindo de forma predominante,

alternada ou coexistente. Já o conceito de obstáculo funcional possui duas variantes: quando

2 Coll não subdivide o período das operações concretas em pré-operatório, dos 2 aos 7-8 anos e só então o operatório concreto, como o faz o próprio Piaget (1993).

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ainda não houve uma reflexão sobre um determinado problema ou setor da realidade por parte

da teoria psicoanalítica ou piagetiana; ou mesmo se já o fizeram, não apresentaram

instrumento específico de avaliação para o dito setor ou aspecto do real. Nesse caso, Visca

(1991, p. 30; 1994, p.68) diz recorrer a instrumentos de filiação sensual-empirista, da

psicometria tradicional; oposto aos princípios construtivista, estruturalista e interacionista

adotados em sua teoria, mas que lhe fornecem como resultado, os obstáculos funcionais; e

nesse contexto, tal resultado é considerado como uma hipótese diagnóstica auxiliar. A outra

maneira de conceber um obstáculo funcional corresponderia às diferenças funcionais

peculiares da cognição, frente a certas patologias e identificadas quando da aplicação do

método clínico piagetiano. (VISCA, 1994, p.68-69; AJURIAGUERRA, 1992, p. 124).

Aprendizagem escolar

No contexto da aprendizagem escolar, a linguagem é uma das funções cognitivas mais

solicitadas. É por meio desse recurso que a criança tem acesso ao conhecimento. Numa

concepção vigotskiana, a linguagem surge como instrumento lógico e analítico do

pensamento. O sujeito, ao interagir com o ambiente, internaliza elementos deste ambiente

recriando significados rumo a uma auto-regulação de seu agir que se completa no momento

da autonomia (STOLTZ, 2004). Sem uma linguagem a autonomia não se realiza, uma vez que

o pensamento reflexivo para exercer sua função especulativa carece de uma forma, código

lingüístico. A leitura e a escrita surgem como uma segunda modalidade de linguagem.

Verifica-se que nos primeiros anos escolares, a tarefa mais importante é o domínio da notação

e decifração desse código.

Ler e escrever são invenções humanas, habilidades socialmente construídas e

necessárias no atual estágio civilizatório. Para alguns pode ser uma tarefa simples, para outros

uma árdua aprendizagem. Isso porque, como diz Cagliari (1998, p. 37), aprender é um ato

individual: “depende muito da história de cada aprendiz, de seus interesses, de seu

metabolismo intelectual”. No que concerne a esse metabolismo, várias funções cognitivas são

exigidas, entre as quais, memória, percepção, atenção, processamento visual, processamento

fonológico e adequada resposta motora. Contudo, estudiosos são unânimes em reconhecer que

essa aprendizagem requer um ensino sistemático quanto aos seus princípios e regras, bem

como, que o aprendiz se envolva em atividades práticas nas quais possa exercitar, avaliar e

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ajustar-se às convenções da língua (SOARES, 2004; FARACO, 1992; SCLIAR-CABRAL,

2003).

A aquisição de conhecimentos matemáticos, por sua vez, abrange uma diversidade de

áreas e de habilidades cognitivas. Dentre estas, destacam-se os princípios aritméticos de

associatividade, comutatividade, estimativa e sua correta aplicabilidade na resolução de

problemas orais e escritos. Para a interpretação de representações numéricas é fundamental

que a informação seja compreendida de maneira lógica e ordenada. Dificuldade na elaboração

de conceitos verbais e não verbais e/ou disfunções no processamento visoespacial constituem

obstáculos para a compreensão das relações quantitativas, raciocínio classificatório e de

seriação (OLIVEIRA, et al., 2006, p.124). Dornelles (2006, p.141) salienta que, “é preciso

conhecer o desenvolvimento de habilidades necessárias para a aprendizagem de cada

conteúdo matemático e é necessário reconhecer as características dos alunos com dificuldade

para favorecer sua aprendizagem”.

Portanto, para que se possa identificar a maneira como a criança raciocina, re-elabora

os conteúdos da aprendizagem formal e efetivamente aprende, ou não; é necessário que os

instrumentos utilizados sejam sensíveis o suficiente para captar aspectos de cada um dos

temas abordados até aqui. Como já mencionado, tradicionalmente, a psicopedagogia faz uso

de um extenso protocolo, próprio para esse fim; enquanto que, a proposta deste artigo é

apresentar um modelo de avaliação igualmente eficaz, mas de aplicação breve e que possa

compor um protocolo multidisciplinar.

Triagem e Avaliação psicopedagógica em equipe multidisciplinar

Quando a criança chega à sala do psicopedagogo pela primeira vez, ela encontra uma

mesa com materiais pedagógicos dispostos estrategicamente. O objetivo é que, na interação

com esse material, a criança forneça dados que possibilitem identificar, entre outros aspectos

de seu desenvolvimento e aprendizagem, preferências, aversões, reações evitativas, nível de

independência emocional e cognitivo, linguagem e conhecimentos adquiridos; ou seja,

manifestações cognitivo-afetivas do sujeito em situação de aprendizagem. O recurso utilizado

para isso é o aqui denominado de Mini EOCA. O Profissional utiliza a mesma solicitação

feita na EOCA tradicional proposta por Jorge Visca (1996, p.44): “... gostaria que você,

usando esse material, me mostrasse o que sabe fazer, o que lhe ensinaram, o que você já

aprendeu.” Enquanto a criança inicia ou não a exploração do material, o terapeuta registra

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aspectos dessa interação no protocolo Categorias da triagem psicopedagógica, Tabela 1, ao

mesmo tempo em que direciona a atividade da criança para início da testagem proposta no

Esquema seqüencial da triagem e avaliação Psicopedagógica, Tabela 2.

Tabela 1 – Categorias da Triagem psicopedagógica

Categoria Desempenho Vínculo com o ambiente escolar (1) Alterado (2) Não-alterado Vínculo com a aprendizagem da matemática (1) Alterado (2) Não-alterado Vínculo com a aprendizagem da linguagem escrita (1) Alterado (2) Não-alterado Desempenho acadêmico em relação à série em curso (1) Alterado (2) Não-alterado Desempenho na leitura (1) Alterado (2) Não-alterado Desempenho na escrita (1) Alterado (2) Não-alterado Desempenho na matemática (1) Alterado (2) Não-alterado Controle da atenção observado durante a triagem (1) Alterado (2) Não-alterado Organização e planejamento das ações (1) Alterado (2) Não-alterado Comunicação verbal (1) Alterado (2) Não-alterado Expressividade e tônus corporal (1) Alterado (2) Não-alterado Autonomia e criatividade no uso dos materiais (1) Alterado (2) Não-alterado

Os materiais pedagógicos mencionados anteriormente constituem o próprio material

avaliativo da triagem e também extensivo à avaliação completa, que pode ou não ser

realizada, dependendo da necessidade verificada a partir da análise desse primeiro

procedimento. São jogos confeccionados especificamente para esse fim, nos quais as

habilidades acadêmicas, cognitivas e aspectos vinculares são testados.

Tabela 2 - Esquema seqüencial da triagem e avaliação Psicopedagógica

Ações do psicopedagogo Estratégias do psicopedagogo Mini Entrevista Operativa centrada na aprendizagem – Mini EOCA

Elaboração de uma 1ª Categorização de desempenho da triagem psicopedagógica a partir de informações colhidas da Mini EOCA

Testagens

Elaboração de uma 2ª Categorização de desempenho da avaliação psicopedagógica, a partir dos resultados obtidos da aplicação das provas:

- Projetivas (par educativo e/ou família educativa);

- Leitura (reconhecimento do alfabeto, decodificação de palavras e pseudopalavras, compreensão e fluência leitora);

- Escrita (ditado, cópia e produção de texto);

- Operatórias (Seriação, classificação e conservação de quantidades);

- Conhecimentos da matemática (contagem, notação numérica, resolução de operações e de problemas orais e escritos).

Discussão interdisciplinar sobre os dados da Anamnese recolhidos pelo Serviço Social e Psicóloga.

Elaboração, em equipe multidisciplinar, de um relatório da avaliação aos pais, contendo os resultados por áreas pesquisadas.

Devolutiva multidisciplinar aos pais e criança.

Entrevista com o aprendiz, pais, e/ou demais pessoas envolvidas.

Encaminhamento do relatório de avaliação à Escola e convite para uma reunião em equipe, quando

Elaboração, em equipe multidisciplinar, de um relatório da avaliação para a escola contendo os resultados por áreas pesquisadas.

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necessário.

Para a avaliação do vínculo com a aprendizagem, a criança dispõe de folha de papel

sulfite, lápis preto e borracha. Recebe a solicitação própria para realizar as provas projetivas

Par Educativo e/ou Família Educativa (VISCA, 1998, p.21-30). Para a prova Par Educativo,

elaborou-se um modelo imprenso no qual os resultados encontrados são anotado, conforme

Figura 1.

Protocolo de Avaliação Psicopedagógica

PROVA PROJETIVA – “PAR EDUCATIVO” Material: papel sulfite, lápis preto e borracha Procedimento: pede-se ao entrevistado que desenhe duas pessoas; uma que ensina e outra que aprende. (anotar a forma como a atividade é realizada: dinâmica, temática e produto). _________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

Após conclusão, solicita-se:

� Relato do que foi desenhado ______________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

� Idade e nome de cada pessoa desenhada ____________________________________________

_________________________________________________________________________________

� Título para o desenho_____________________________________________________________

Resultados: Tipo de vinculação estabelecida ( + ou - )

� ( ) aprendizagem formal ou sistemática ( ) aprendizagem informal ou assistemática

� Ênfase em um dos itens abaixo Ênfase em um dos itens abaixo

( ) nos objetos de aprendizagem ( ) nos objetos de aprendizagem ( ) na pessoa que ensina ( ) na pessoa que ensina ( ) na pessoa que aprende ( ) na pessoa que aprende

� Posição do desenho – inferior: à esquerda ( ) à direita( ); superior: à esquerda ( ) à direita( )

� Distribuição do desenho na folha: ( ) uniforme ( ) irregular

� Tamanhos do desenho na folha: ( ) pequeno ( ) grande ( ) médio

� Correlação entre os detalhes dos desenhos, título e conteúdo do relato: sim ( ), Não ( )

Conclusão: _______________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

|_____|_____|______|_____|_____|_____|_____|

Figura 1 – Impresso da Prova Projetiva Par educativo

As provas operatórias ou piagetianas de seriação, classificação e conservação de

quantidade também possuem formulário impresso próprio, como medida a garantir o registro

de argumentações importantes realizadas pela criança no decorrer da atividade. Contudo,

neste trabalho esses modelos não serão apresentados. Ressalta-se que a aplicação de provas

piagetianas é um recurso utilizado exclusivamente na avaliação, e em algumas situações, é

substituído por procedimentos realizados por outros profissionais da equipe multidisciplinar,

principalmente da neuropsicologia.

Para a avaliação da leitura, escrita e conhecimentos matemáticos foram adaptadas ou

desenvolvidas provas que investigam essas habilidades, e os resultados são apresentados em

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um 2º relatório descritivo que categoriza o desempenho da criança ou adolescente em cada

um desses itens, de acordo com a Tabela 3.

Tabela 3 – Categorias da Avaliação psicopedagógica

Descrição da habilidade 1 2 3 Vínculo com Aprendizagem no ambiente escolar

Reconhecimento do alfabeto

Decodificação de palavras reais regulares

Decodificação de palavras reais irregulares Decodificação de palavras inventadas Fluência leitora

Leitura

Compreensão sintático-semântica Uso de letra cursiva, qualidade do grafismo Escrita pré-silábica

Escrita silábica alfabética

Escrita alfabética

Normatização (uso de letras maiúsculas, parágrafos, pontuação)

Correspondência letra som em sílabas diretas ou regulares

Correspondência letra-som em sílabas complexas: invertidas (VC), representações múltiplas, dígrafos, encontros consonantais e fonemas nasais

Correspondência letra som em pares surdos / sonoros Escrita baseada na fala coloquial Hipercorreção Omissões, deslocamentos ou acréscimos de letras Segmentações e/ou junções inadequadas Troca na direção das letras ou algarismos (visual) Coerência e coesão na produção escrita

Escrita

Uso de acentuação

Compreensão do sistema numérico decimal (contagem e notação)

Operações matemáticas (+, -, x, : )

Problemas apresentados oralmente

Apr

endi

zage

m F

orm

al o

u S

iste

mát

ica

Raciocínio Matemático

Problemas apresentados de forma escrita Raciocínio de conservação de quantidades Raciocínio de classificação

Desenvolvimento cognitivo

Raciocínio de seriação Legenda do Nível do desempenho: 1 – Alterado 2 – Em desenvolvimento 3 – Conservado

Considerações Finais

Face à necessidade de um procedimento de triagem e avaliação psicopedagógica breve

a compor um protocolo multidisciplinar, a proposta aqui apresentada vem sendo bem aceita

pela equipe terapêutica e está cumprindo seu objetivo, o de realizar um diagnóstico amplo,

dentro de sua especificidade com qualidade e rapidez.

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Até o momento foram realizadas 15 triagens e 10 avaliações, seguindo esse modelo.

Nesse percurso, o protocolo foi alterado em vários aspectos, com o objetivo de adequar-se ao

que se espera do instrumento. Acredita-se que ao ser exposto aos profissionais da área, novos

olhares críticos possam surgir e, assim, enriquecê-lo.

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