Txt1 - o Aprendiz de Filósofo

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O aprendiz de flósoo “Ao aprendiz de flósoo (ao jovem aprendiz, pretendo eu dizer, e na m qualidade de aprendiz mais velho) rogo que se não apresse a adoptar soluções, que não leia o ras de uma só es!ola ou tend"n!ia, que pro!u !onhe!er as argumentações de todas, e que queira tomar !omo prim#rio es!opo a singela açanha de !ompreender os pro lemas$ de !ompreend"%l em, de os !ompreender a undo, ha ituando%se a ver as dif!uldades re que se deparam nas !oisas que se afguram #!eis ao simplism superf!ialidade do que se !hama senso%!omum (a flosofa ', em pequena parte, a luta do om%senso !ontra o senso%!omum )* (+) epito$ seja a flosofa para o aprendiz de flósoo, não uma !on!lusões adoptadas, e sim uma a!tividade de elu!idação dos pro lema . esta a!tividade o que realmente importa, e não o a!eitar e propagan !on!lusões- /omo tive ensejo de notar algures, pode ser muito 0til pa vida pr#ti!a o simples !onhe!imento do enun!iado de uns tantos teorem de matem#ti!a$ por'm, não h# nisso som ra de valor !ultural$ só possu a!to valor !ultural o pereito entendimento dos ra!io!1nios que nos provas dos enun!iados- 2or isso mesmo, ao lermos um flósoo de genu1no m'rito de dois erros opostos nos !umprir# guardar%nos$ o primeiro, o de nos mante eternamente passivos e de tudo a!eitarmos !omo se ossem dogmas, de que depois tentaremos !onven!er o pró3imo* o segundo, o de !riti!armo demasiado !edo, antes de !hegarmos & !ompreensão do te3to- 2ara evita es!olho do segundo erro, a atitude ini!ial do aprendiz de flósoo dev re!eptiva e de todo humilde- 4e a!har uma ideia no te3to de um 5estre lhe pareça de #!il reutação, 6 !on!lua que ele próprio ' que a não e que o pensar do autor dever# ser mais fno, mais meandros a!etado, mais verrumante, do que ao primeiro relan!e se lhe afgurou$ que se lhe impõe portanto uma atenção maior (+)* e o melhor pro!esso nessa ase, ' talvez o de reazermos por ini!iativa nossa, !om e3empl amiliares da nossa própria e3peri"n!ia a doutrina e3posta pelo autor estudamos, at' que a tenhamos !omo !oisa nossa, porque eita de mat'r verdadeiramente nossa, e re!onstru1da pelo nosso esp1rito- (7u reproduzir uma teoria gen'ri!a, em elo!ução a stra!ta, mas re!onstitu1%la !om a amiliar e3peri"n!ia, não per!e e realmente o qu dizendo)-8 4. 9:;, António* “ 2re#!io do <radutor8 in =44>?, @ertrand* Os Problemas da Filosofa * /ole!ção 4tudium, Arm'nio Amado >ditor, B edição, /oim r CDEF, pp- G%CF)

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O aprendiz de filsofo

Ao aprendiz de filsofo (ao jovem aprendiz, pretendo eu dizer, e na minha qualidade de aprendiz mais velho) rogo que se no apresse a adoptar solues, que no leia obras de uma s escola ou tendncia, que procure conhecer as argumentaes de todas, e que queira tomar como primrio escopo a singela faanha de compreender os problemas: de compreend-los bem, de os compreender a fundo, habituando-se a ver as dificuldades reais que se deparam nas coisas que se afiguram fceis ao simplismo e superficialidade do que se chama senso-comum (a filosofia , em no pequena parte, a luta do bom-senso contra o senso-comum); ()Repito: seja a filosofia para o aprendiz de filsofo, no uma pilha de concluses adoptadas, e sim uma actividade de elucidao dos problemas. esta actividade o que realmente importa, e no o aceitar e propagandear concluses. Como tive ensejo de notar algures, pode ser muito til para a vida prtica o simples conhecimento do enunciado de uns tantos teoremas de matemtica: porm, no h nisso sombra de valor cultural: s possui de facto valor cultural o perfeito entendimento dos raciocnios que nos do as provas dos enunciados.Por isso mesmo, ao lermos um filsofo de genuno mrito de dois erros opostos nos cumprir guardar-nos: o primeiro, o de nos mantermos a eternamente passivos e de tudo aceitarmos como se fossem dogmas, de que depois tentaremos convencer o prximo; o segundo, o de criticarmos demasiado cedo, antes de chegarmos compreenso do texto. Para evitar o escolho do segundo erro, a atitude inicial do aprendiz de filsofo dever ser receptiva e de todo humilde. Se achar uma ideia no texto de um Mestre que lhe parea de fcil refutao, conclua que ele prprio que a no percebe, e que o pensar do autor dever ser mais fino, mais meandroso, mais facetado, mais verrumante, do que ao primeiro relance se lhe afigurou: e que se lhe impe portanto uma ateno maior (); e o melhor processo nessa fase, talvez o de refazermos por iniciativa nossa, com exemplos familiares da nossa prpria experincia a doutrina exposta pelo autor que estudamos, at que a tenhamos como coisa nossa, porque feita de matria verdadeiramente nossa, e reconstruda pelo nosso esprito. (Quem sabe reproduzir uma teoria genrica, em elocuo abstracta, mas no sabe reconstitu-la com a familiar experincia, no percebe realmente o que est dizendo).

SRGIO, Antnio; Prefcio do Tradutor in RUSSEL, Bertrand; Os Problemas da Filosofia; Coleco Studium, Armnio Amado Editor, 5 edio, Coimbra, 1980, pp. 6-10)