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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA Estudo da prevalência de transtornos psiquiátricos em pacientes com ataxia espinocerebelar do tipo 3 e da relação com o tamanho da expansão trinucleotídica CAG Ribeirão Preto 2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA

Estudo da prevalência de transtornos psiquiátricos em pacientes com ataxia espinocerebelar do tipo 3 e da relação

com o tamanho da expansão trinucleotídica CAG

Ribeirão Preto 2013

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UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA

Estudo da prevalência de transtornos psiquiátricos em pacientes com ataxia espinocerebelar do tipo 3 e da relação

com o tamanho da expansão trinucleotídica CAG

Ribeirão Preto 2013

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre junto ao Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento. Área de concentração: Saúde Mental Orientador: Prof.a Dr.a Flávia de Lima Osório

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Autorizo a divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA

Almeida-Silva, Uanda Cristina Estudo da prevalência dos transtornos psiquiátricos em

pacientes com ataxia espinocerebelar do tipo 3 e da relação com o tamanho da expansão trinucleotídica CAG/ Uanda Cristina Almeida Silva – Ribeirão Preto, 2013.

79 p.; 30 cm Dissertação de mestrado – Faculdade de Medicina de Ribeirão

Preto – Universidade de São Paulo, 2013. Orientador: Prof.a Dr.a Flávia de Lima Osório. 1. Ataxia espinocerebelar 2. Doença de Machado-Joseph 3.

SCA3. 4. Transtornos psiquiátricos 5. Transtornos de humor

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Agradecimentos

Agradeço a minha queria orientadora Profa Dra Flávia de Lima Osório, pela orientação e extraordinária paciência em me guiar

diante de um mundo tão novo e desconhecido para mim como o do trabalho científico.

Agradeço aos professores Dr. Jaime Eduardo C. Hallak e Dr. Wilson Marques Junior pelas contribuições valiosas que abri ram caminhos.

Aos pacientes que participaram deste estudo, os quais tiveram muita disponibilidade de conversar por telefone e adequando horários para

realização da entrevista, sempre muito interessados em compartilhar.

Agradeço aos meus amados pais Nirton Leonardo da Silva e Maria

da Penha A. Silva, aos meus irmãos Leonardo, Marcele e a minha cunhada Juliana pelo incentivo e palavras de apoio durante todas as

etapas deste t rabalho.

Aos meus amigos do Serviço de Interconsulta em Saúde Mental que sempre me apoiaram nos momentos de maior necessidade com

palavras de encorajamento e acolhimento, em especial a Catalina e a Leila que me esquentaram nos dias mais frios.

A todos os meus amigos e, em especial, as amigas- irmãs,

companheiras, cúmplices e fiéis escudeiras Ana Maria Del Bianco Faria e Marina Delduca Cilino que estiveram do meu lado nos

momentos de maior aflição, amparando-me com palavras de amor ou mesmo com silêncio carregado deste.

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Passagem da noite É noite. Sinto que é noite não porque a sombra descesse (bem me importa a face negra) mas porque dentro de mim, no fundo de mim, o grito se calou, fez-se desânimo. Sinto que nós somos noite, que palpitamos no escuro e em noite nos dissolvemos. (...) É noite, não é morte, é noite de sono espesso e sem praia. Não é dor, nem paz, é noite é perfeitamente a noite. Mas salve, olhar de alegria! E salve, dia que surge! Os corpos saltam do sono, o mundo se recompõe. Que gozo na bicicleta! Existir: seja como for. A fraterna entrega do pão. Amar: mesmo nas canções. De novo andar: as distâncias, as cores, posse das ruas. Tudo que é à noite perdemos se nos confia outra vez. Obrigado, coisas fiéis! Saber que ainda há florestas, sinos, palavras; que a terra prossegue seu giro, e o tempo não murchou; não nos diluímos. Chupar o gosto do dia! Clara manhã, obrigado! O essencial é viver! Carlos Drummond de Andrade (A rosa do povo)

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RESUMO

ALMEIDA-SILVA, U. C. Estudo da prevalência de transtornos psiquiátricos em pacientes com ataxia espinocerebelar do tipo 3 e da relação com o tamanho da expansão trinucleotídica CAG. 2013. 79 p. Dissertação de mestrado- Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, 2013. As ataxias espinocerebelares (SCA) fazem parte do grupo de ataxias cerebelares autossômicas-dominantes, e são caracterizadas por degeneração cerebelar e de suas conexões aferentes e eferentes. O tipo 3 da doença (SCA3) é o mais prevalente no Brasil e no mundo, caracterizado por distúrbio da marcha, seguido por um quadro de disartria e disfagia, com hipomotilidade dos músculos da faringe. Clinicamente, observa-se uma importante associação entre a SCA3 e alterações neuropsicológicas e psiquiátricas. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo avaliar a associação entre SCA3, as alterações genéticas desta (expansão dos tripletos CAG) e os transtornos psiquiátricos do Eixo 1 do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV). Utilizou-se da Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV (SCID-I), a qual foi aplicada por telefone, por um profissional treinado, juntamente com um questionário sociodemográfico e clínico. Dos 187 pacientes previamente cadastrados em um banco de dados, 53 foram localizados e entrevistados. Os dados foram analisados por meio de testes estatísticos, adotando-se como nível de significância p 0,05. Os resultados apontaram que praticamente metade da amostra (N=26) apresentou algum transtorno psiquiátrico, dentre os quais se destacaram os transtornos de humor (45,2%), com maior prevalência para distimia (26,2%) e depressão atual (18,7%). Apenas 3,7% da amostra apresentou transtorno de ansiedade (fobia simples) e outros 3,7%, transtorno de abuso de substância alcoólica no passado. Não se observou associações entre a presença de tais transtornos e as características sociodemográficas da amostra, com exceção à renda que se mostrou inferior no grupo de pacientes com depressão atual (p=0,001). Quanto às características clínicas e sintomatologia da doença, encontrou-se que no grupo de pacientes com distimia, os prejuízos motores nos membros superiores são mais significativos (p=0,05). Nenhuma associação foi evidenciada em relação ao número de expansões CAG. A percepção de que a doença interfere de forma muito negativa na vida atual, mostrou-se como um fator de risco para o surgimento de transtorno psiquiátrico (odds ratio= 12,4, p=0,03). Por outro lado, a percepção da saúde atual como ruim se associou ao surgimento do quadro de distimia, aumentando os riscos em 7,77 vezes (p=0,01). Conclui-se que é alta a prevalência dos transtornos de humor em pacientes com SCA3, com taxas superiores a da população geral. As associações evidenciadas sugerem que tais transtornos estão mais relacionados ao impacto da evolução da SCA3 na vida destes pacientes do que à alteração genética subjacente a ataxia. Palavras chave: 1. Ataxia espinocerebelar 2. Doença de Machado-Joseph 3. SCA3. 4. Transtornos psiquiátricos 5. Transtornos de humor

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ABSTRACT

ALMEIDA-SILVA, U.C. Study of the prevalence of psychiatric disorders in patients with spinocerebellar ataxia type 3 and its relationship with the length of CAG nucleotide expansion. 2013. 79 p. Masters dissertation – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, 2013. Spinocerebellar ataxias (SCA) comprise the dominant autossomic cerebellar ataxias group and are characterized by degeneration of the cerebellum and its afferent and efferent connections. The most recurrent type of the disease in Brazil and also around the globe (type 3 - SCA3) is marked by ataxia and subsequent dysarthria and dysphagia including hypomotility of the pharynx muscles. Clinically, an important association between SCA3 and neuropsychological/psychiatric alterations may be evidenced. In this regard, this study aims to shed light on the association between SCA3, genetic alterations (e.g. CAG triplet expansion) and psychiatric disorders described in Axis 1 of the Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders (DSM-IV). For assessment purposes, the Structured Clinical Interview for DSM-IV (SCID-I) was conducted by telephone, along with a demographic and clinical questionnaire. All instruments were applied by a qualified professional. 53 out of 187 patients that had previously been registered in a database were located and interviewed. Data was analyzed by statistical tests, considering p 0,05 as a significance level. Results indicated that nearly half of the sample (N=26) showed signs of psychiatric disorders, remarkably mood disorder (45,2%) with high prevalence of dysthymia (26,2%) and current depression (18,7%). Only 3,7% of the sample evidenced anxiety disorder (simple phobia) and another 3,7%, history of substance abuse disorder (alcohol). Apart from income, which proved to be lower for the group with current depression (p=0,001), there was no connection whatsoever between the presence of such disorders and the sociodemographic constitution of the sample. Regarding clinical features and symptoms, significant disruption of upper limbs motor function was identified in the dystymic patients (p=0,05). No association was evidenced regarding the size of CAG expansions and the psychiatric condition. The patient’s perception that the SCA3 interferers negatively in their life, proved to be a risk factor for the onset of psychiatric disorders (odds ratio= 12,4, p=0,03). Also in this direction, patients who considered personal health as bad were 7,7 times more likely to develop dysthymia (p=0,01). We concluded that there is a high prevalence of mood disorder in patients with SCA3, with higher rates than the general population. The highlighted associations suggest that these disorders are more related to the impact of the SCA3 symptoms in the life of the patients than with the genetic alterations underlying ataxia. Key Words: 1. Spinocerebellar ataxia 2. Machado-Joseph disease 3. SCA3. 4. Psychiatric disorders 5. Mood disorder

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 -

Principais características clínicas dos diferentes tipo de SCApolyQ, segundo Subramony (2012) .................................................................

12

Tabela 2 - Principais resultados dos estudos que avaliaram indicadores de depressão e ansiedade em pacientes com SCApolyQ .............................

17

Tabela 3 - Caracterização sociodemográfica da amostra......................................

29

Tabela 4 - Caracterização clínica da amostra .......................................................

30

Tabela 5 –

Caracterização da sintomatologia clínica na amostra .......................... 30

Tabela 6 –

Características psiquiátricas da amostra .............................................. 31

Tabela 7 –

Comparação entre os diferentes grupos de transtornos psiquiátricos e as variáveis sociodemográficas .........................................................

35

Tabela 8 - Comparação entre os diferentes grupos de transtornos psiquiátricos e as características clínicas da amostra ................................................

37

Tabela 9 - Comparação entre os diferentes grupos de transtornos psiquiátricos e os sintomas clínicos ..........................................................................

39

Tabela 10 - Comparação entre os diferentes grupos de transtornos psiquiátricos e as características psiquiátricas da amostra ........................................

41

Tabela 11 - Estimativa do parâmetro de regressão logística univariada, considerando a variável qualquer transtornos psiquiátricos como desfecho ...............................................................................................

43

Tabela 12 - Estimativa do parâmetro de regressão logística univariada, considerando a variável depressão atual como desfecho.....................

44

Tabela 13 - Estimativa do parâmetro de regressão logística univariada, considerando a variável distimia como desfecho ................................

45

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 -

Fluxograma relativo ao processo de inclusão e exclusão de sujeitos no estudo ..............................................................................................

26

Figura 2 - Porcentagem de prevalência dos transtornos psiquiátrico na amostra estudada (N=53) .....................................................................

32

Figura 3 - Distribuição dos diferentes transtornos de humor na amostra total (N=53) ..................................................................................................

33

Figura 4 - Correlação entre as variáveis Maior expansão CAG e idade de início da SCA3 (N=53) ........................................................................

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10 1.1 Ataxias Hereditárias ....................................................................................................... 10 1.2 Ataxia Espinocerebelar do tipo 3 (SCA3) ...................................................................... 13

1.3 SCA3 e a associação com transtornos neuropsiquiátricos.............................................. 15

2 OBJETIVO........................................................................................................................... 21 2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 21 2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 21

3 MÉTODO ............................................................................................................................. 22 3.1 Características do contexto do estudo ............................................................................ 22

3.2 Participantes.................................................................................................................... 22 3.3 Coleta de Dados .............................................................................................................. 23

3.3.1 Fase 1: quantificação das expansões dos tripletos CAG ......................................... 23 3.3.2 Fase 2: investigação de comorbidades psiquiátricas ............................................... 25

3.4 Análise dos Dados .......................................................................................................... 27

3.5 Aspectos Éticos............................................................................................................... 28

4 RESULTADOS .................................................................................................................... 29 4.1 Caracterização sociodemográfica e clínica da amostra .................................................. 29

4.2 Indicadores de Transtorno Psiquiátrico .......................................................................... 32

5 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 47

6 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 56

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 57

APÊNDICES ........................................................................................................................... 65 APÊNDICE A – Questionário de Identificação ................................................................... 65

ANEXOS.................................................................................................................................. 66 ANEXO A – Carta de aceite do Comitê de Ética em Pesquisa HCRP e FMRP-USP ......... 66 ANEXO B – Artigo publicado. ............................................................................................ 67

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Ataxias Hereditárias

As ataxias hereditárias compreendem um grupo complexo de doenças genéticas que

constituem um campo extenso de pesquisa na área clínica, anátomo-patológica e genética.

Embora raro, esse grupo de doenças se manifesta, clínica e geneticamente, de forma muito

heterogênea, dificultando sua diferenciação. Assim, as múltiplas formas de manifestação das

ataxias levaram pesquisadores a questionarem a uniformidade destas doenças e a procurarem

critérios que pudessem favorecer o reconhecimento, a discriminação e formas de classificação

mais acuradas (REIS et al., 1998).

Em 1863, Nikolaus Friedreich, foi o primeiro pesquisador a descrever claramente uma

ataxia hereditária. Na busca de um melhor entendimento e de uma discriminação mais

consistente entre as diferentes apresentações, Pierre Marie, em 1893, propôs uma divisão das

ataxias hereditárias em dois grupos: um com padrão de hereditariedade autossômico-

recessivo, e outro, de início tardio, com achados clínicos distintos e padrão de hereditariedade

autossômico-dominante. Posteriormente, Greenfield, em 1954, Konigsmark e Weiner, em

1970, e Harding, em 1982, aperfeiçoaram a classificação das ataxias hereditárias dominantes,

baseando-se nas manifestações clínicas da doença e nos avanços do conhecimento em

genética (REIS et al., 1998). A partir de tais achados, Rosemberg, em 1995, sistematizou uma

nova classificação, composta por nove subtipos, a qual vem sofrendo alterações na atualidade,

com o avanço das técnicas genéticas e da biologia molecular.

Tendo em vista a grande heterogeneidade fenotípica deste grupo de doenças, o uso de

técnicas de exame genético - como a reação de cadeia em polimerase (PCP) – têm sido

determinante para a localização do lócus gênicos das alterações cromossômicas, permitindo

uma nova forma de organização destas doenças, conhecida como classificação clínico-

genética. A classificação atual divide-se entre as ataxias autossômicas-recessivas, as ataxias

autossômicas-dominantes, as ataxias ligadas ao X e as ataxias mitocondriais (TEIVE, 1997).

As ataxias autossômicas-dominantes compreendem as ataxias espinocerebelares

(SCA), atrofia dentatorubropalidoluysiana e as ataxias periódicas (TEIVE, 1997). Atualmente

já foram descritos pelo menos 31 tipos geneticamente distintos de SCA (SMITH et al., 2012),

as quais compartilham algumas características clínicas, como ataxia progressiva e outros

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Introdução | 11

sinais neurológicos decorrentes da degeneração do cerebelo e do tronco cerebral, além de

disartria, incoordenação motora dos membros superiores e diversos movimentos anormais dos

olhos que variam de acordo com o genótipo (SUBRAMONY, 2012).

Outro aspecto característico deste grupo de doenças é o início tardio dos sintomas, que

ocorre geralmente na terceira ou quarta década de vida, embora também possa ocorrer na

infância ou idades mais avançadas (DURR, 2010).

Segundo Subramony (2012), o diagnóstico das SCA é baseado na história familiar, nas

características clínicas, nos exames de imagem e no teste genético. A diferenciação entre os

tipos baseada puramente em critérios clínicos não tem se mostrado possível, tendo em vista a

inexistência de sintomas patognomônicos para um tipo específico e a própria variabilidade

fenotípica dentro de um mesmo tipo.

De acordo com Schöls et al. (2004), os estudos sobre a prevalência da ataxia

espinocerebelar se restringem a algumas áreas isoladas do mundo, não refletindo, assim, a real

ocorrência da doença. Contudo, os mesmos autores apontam que, em geral, é estimada uma

prevalência de aproximadamente três casos da doença a cada 100.000 pessoas, embora

acreditem que esta frequência subestime a ocorrência real. Cabe ressaltar a existência de uma

variabilidade na prevalência dos tipos de SCA segundo as características étnicas regionais,

como, por exemplo, a SCA2, mais prevalente na parte leste de Cuba, SCA1 na Sibéria e

SCA3 em Portugal e no Brasil (SUBRAMONY, 2012).

Entre os tipos de ataxia espinocerebelar mais estudadas, destaca-se um subgrupo que

compartilha uma mesma forma de mutação, envolvendo a expansão na repetição da glutamina

(CAG), as SCApolyQ, que compreendem os tipos 1, 2, 3, 6, 7, 17 e a atrofia Dentatorubro-

pallidoluysian (DRPLA). Outras doenças neurodegenerativas também são causadas pela

expansão CAG, tais como a doença de Huntington e a atrofia muscular espinobulbar

(Kennedy's disease), o que justifica ser este grupo de doenças conhecido como doenças

poliglutamínicas (LA SPADA et al., 1991; THE HUNTINGTON DISEASE

COLLABORATIVE RESEARCH GROUP, 1993; DURR, 2010; SUBRAMONY, 2012).

As SCApolyQ dos tipos 1, 2, 3, 6, 7, 17 representam 45% das ataxias cerebelares

dominantes conhecidas, segundo um estudo de prevalência realizado por Durr et al. (2010),

considerando 826 pacientes, a maioria de origem francesa. Na Tabela 1, estão as principais

características clínicas desses tipos, segundo Subramony (2012).

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Introdução | 12

Tabela 1 - Principais características clínicas dos diferentes tipos de SCApolyQ, segundo Subramony (2012).

Tipo de SCA Principais Características

SCA1

Ataxia, disfagia, neuropatia sensitiva, perda dos reflexos dos

tendões e sinais extrapiramidais, como distonia e declínio

cognitivo.

SCA2 Ataxia associada à lentidão dos movimentos sacádicos,

neuropatia proeminente levando a arreflexia generalizada,

parkinsonismo, disfunção cognitiva (função executiva), disfagia,

atrofia facial e fasciculação.

SCA3 Ataxia associada à espasticidade, oftalmoplegia, lentidão

sacádica, atrofia facial e da língua, fasciculação, neuropatia

sensitiva, amiotrofia, problemas cognitivos (disfunção cognitiva

frontal), problemas com sono e distonia.

SCA6 Ataxia cerebelar de progressão lenta e nistagmo downbeat.

SCA7 Ataxia associada a sinais de comprometimento neuronal motor

superior e degeneração da retina.

SCA17 Ataxia, sinais extrapiramidais e demência.

SCA: ataxia espinocerebelar.

Apesar da variabilidade genotípica estar associada às origens étnicas da população,

sabe-se que a SCA3 é o tipo mais comum de ataxia espinocerebelar no mundo. Esse fator,

somado a outros que serão descritos a seguir, coloca a SCA3 em destaque, razão pela qual

esse tipo específico é objeto deste estudo.

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Introdução | 13

1.2 Ataxia Espinocerebelar do tipo 3 (SCA3)

A SCA3 é também denominada de Doença de Machado-Joseph, em função dos

sobrenomes das duas primeiras famílias – de descendência portuguesa - nas quais a doença foi

identificada, na década de 70, nos Estados Unidos (REIS et al., 1998).

No caso específico da SCA3, o aumento da expansão CAG ocorre no cromossomo

14q, onde o gene responsável pela doença, MJD1, codifica a proteína mutante ataxina-3

(PAULSON, 2012). Os genes normais apresentam entre 12 a 40 repetições CAG, enquanto os

mutantes têm entre 62 e 84 repetições (JARDIM et al., 2001). Há evidências de que

expansões maiores dos tripletos estão associadas a quadros da doença mais precoces e de

maior gravidade (REIS et al., 1998; JARDIM et al., 2001; SCHÖLS et al., 2004; PAULSON,

2012), fenômeno conhecido como antecipação.

Inicialmente, acreditava-se que a SCA3 estava restrita a descendentes portugueses,

mais especificamente daqueles provenientes da região de Açores. Contudo, ao longo dos

tempos, este tipo vem sendo cada vez mais diagnosticado em famílias espalhadas pelo mundo,

independentemente da etnia. Segundo Teive e Arruda (2004), dentre as ataxias

espinocerebelares, o tipo 3 é a forma mais comum, apresentando também grande

heterogeneidade fenotípica, aspectos esses também apontados por Pedroso et al. (2012).

A SCA3 representa aproximadamente 20% do total de ataxias nos Estados Unidos e

cerca de 50% ou mais na Alemanha, China, Taiwan, Portugal e Brasil (SCHÖLS, 1995;

TANG et al., 2000; SOONG et al., 2001; SILVEIRA et al., 2002; VALE et al., 2010). As manifestações clínicas associadas à SCA3 têm início variável (dos 5 aos 73 anos de idade),

mas ocorrem frequentemente na idade adulta, por volta dos 37 anos, sendo que pacientes com início

precoce dos sintomas tendem a apresentar quadro clínico mais severo e pior prognóstico,

característica esta comum às demais SCA (REIS et al., 1998; SCHÖLS et al., 2004; PAULSON,

2012). Geralmente, o início dos sintomas ocorre através de um distúrbio progressivo da marcha, o

qual é seguido por um quadro de disartria e disfagia, com hipomotilidade dos músculos da faringe e

reflexo faríngeo bastante exacerbado (REIS et al., 1998). Os sintomas mais frequentes são ataxia

cerebelar, síndrome piramidal, distonia e rigidez extrapiramidal, neuropatia periférica e

oftalmoplegia externa progressiva (JARDIM et al., 2001). Segundo Paulson (2012), a atrofia cerebral e a perda neuronal têm sido descritas em várias

áreas, incluindo globo pálido, núcleos talâmicos e subtalâmicos, substância negra, núcleos

vermelhos, fascículo longitudinal medial, vários núcleos pontinos e núcleos motores dos nervos

cranianos, pedúnculos cerebelares superior e médio, núcleo denteado do cerebelo, colunas de

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Introdução | 14

Clarke e tratos espinocerebelares, núcleos vestibulares, células do corno anterior, coluna posterior

e gânglios da raiz posterior. Segundo o mesmo autor, em geral, o córtex cerebelar, o núcleo

olivar e o trato cortico-espinal se mantêm preservados. Em função da heterogeneidade clínica, o diagnóstico definitivo da SCA3 é feito por meio

de exame genético, através do qual se estuda o ácido desoxirribonucléico (DNA) do paciente, que

é geralmente extraído de linfócitos obtidos do sangue periférico. A identificação do lócus da

alteração gênica bem como a identificação de repetições trinucleotídicas CAG maiores do que

61 selam o diagnóstico da doença (REIS et al., 1998).

A variabilidade de manifestações clínicas também determina pelo menos quatro

subtipos diferentes de SCA3: a) Tipo I, que tende a iniciar-se por volta dos 25 anos de idade e

apresenta como principais sintomas, ataxia cerebelar, síndrome cortico-espinhal, disfagia e

disartria, oftalmoplegia, fasciculações faciais e linguais e mioclonias faciais - em geral, os

pacientes morrem após 15 anos do início dos primeiros sinais da doença; b) Tipo II, que é

caracterizado por início um pouco mais tardio, em torno da terceira década de vida e pela

presença de ataxia cerebelar, nistagmo, disartria e disfagia, paresias oculares e síndrome

piramidal; c) Tipo III, cujo início dos sintomas ocorre geralmente após os 40 anos,

destacando-se como principais sintomas, além de ataxia cerebelar, nistagmo da mirada

vertical, disartria leve, a diminuição ou inexistência de reflexos tendinosos, atrofia muscular

distal, perda da sensibilidade distal e miofasciculações; d) Tipo IV, cuja apresentação

fenotípica é a mais rara, com início entre 38 e 47 anos, sendo os principais sintomas ataxia

cerebelar, manifestações de parkinsonismo em grau variado, perda da sensibilidade, atrofia

distais e sinal de Babinsk (REIS et al., 1998; PAULSON et al., 2012).

A SCA3 apresenta curso progressivo, sendo a sobrevida média, após o início dos

sintomas, de cerca de 20 a 25 anos (KLOCKGETHER et al., 1998). O óbito geralmente

sobrevém devido a complicações decorrentes da deterioração do quadro neurológico, sendo a

pneumonia por broncoaspiração a principal delas.

Por se tratar de uma doença altamente incapacitante, a SCA3 impõe severas restrições

à vida dos pacientes e de seus familiares. Segundo Sequeiros e Coutinho (1993), o progresso

das perturbações motoras leva a restrições importantes na deambulação, que ao longo do

tempo, faz com que os pacientes fiquem acamados. Além disso, como a sintomatologia tende

a se agravar a partir do início da doença e a se estender por vários anos, os déficits em termos

de ajustamento social trazem profundos impactos para a qualidade de vida destes pacientes.

Do ponto de vista clínico, observa-se uma importante associação entre a SCA3 e as

alterações neuropsicológicas e psiquiátricas. Nesse sentido, estudos mais atuais têm apontado

para uma possível ligação entre a degeneração cerebelar e os prejuízos cognitivos, muito

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Introdução | 15

embora estes achados ainda se mostrem controversos. Nos últimos anos, tem-se notado um

aumento do interesse da comunidade científica no que diz respeito à avaliação de alterações

neuropsicológicas e, principalmente, psiquiátricas nos pacientes com SCA3 (ALMEIDA-

SILVA et al., 2013). Até o momento, nenhum tratamento específico para SCA3 foi estabelecido. Os

tratamentos atuais estão baseados na melhora de sintomas. Assim, medicações anti-espásticas e

antiparkinsonianas, intervenções fisioterápica, fonoaudiológica e psicológica, devem, sempre que

possível, ser indicados na tentativa de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e favorecer o

enfrentamento da doença (REIS et al., 1998; SCHÖLS et al., 2004; SILVA et al., 2010).

1.3 SCA3 e a associação com transtornos neuropsiquiátricos

Uma quantidade reduzida de estudos, até o momento, dedicou-se a avaliar as possíveis

associações entre as ataxias espinocerebelares e as alterações neuropsiquiátricas.

Recentemente, realizou-se uma revisão sistemática da literatura envolvendo as SCApolyQ, com

o objetivo de se avaliar as alterações psiquiátricas e neuropsicológicas em pacientes deste

grupo de doenças (ALMEIDA-SILVA et al., 2013). A maior parte dos estudos que

compuseram a referida revisão procedeu de países europeus, fator de bastante importância no

estudo das SCA, tendo em vista que alguns genótipos da doença são mais característicos em

uma determinada etnia. Sendo assim, estudos envolvendo diferentes grupos étnicos se fazem

necessários, com intuito de se estabelecer as diferenças fenotípicas entre os tipos de SCA,

mesmo dentro de um tipo específico.

Os resultados desta revisão apontaram que os estudos direcionados à avaliação dos

aspectos neuropsicológicos e psiquiátricos, encontraram, no geral, maiores prejuízos para os

pacientes com SCApolyQ, sobretudo quando as diferentes funções cognitivas são avaliadas em

sua especificidade. Todavia, o limitado número de estudos torna estes achados ainda pouco

consistentes. Do mesmo modo, estudos que avaliam estes prejuízos de forma comparativa

entre os tipos de SCApolyQ são ainda mais restritos, não permitindo conclusões a este respeito.

Observou-se, também, que tais estudos carecem de uma metodologia de pesquisa mais

homogênea, sobretudo no que diz respeito à forma de acesso às variáveis estudadas.

Constatou-se o uso de uma ampla variabilidade de instrumentos para a avaliação das

diferentes funções, o que acarreta em maiores dificuldades para generalizações e comparações

dos achados.

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Introdução | 16

De maneira geral e por comparação indireta entre os diferentes estudos, observou-se

que os pacientes com SCA2, SCA3 e SCA1 tenderam a apresentar maiores níveis de prejuízos

cognitivos quando comparados aos demais tipos – levando-se em consideração, também, que

as SCA6, SCA7 e SCA17 foram menos estudadas para os aspectos considerados.

Descrever-se-ão a seguir, os principais resultados dos estudos que avaliaram os

aspectos neuropsicológicos com destaque para SCA3.

No que diz respeito aos prejuízos cognitivos associados às ataxias espinocerebelares,

evidenciou-se que esses tenderam a se manifestar de forma circunscrita às habilidades

cognitivas específicas e não a prejuízos da inteligência geral, principalmente no caso de

SCA3. Embora, retardo mental e quadros demências sejam relatados na literatura entre alguns

tipos específicos (SUBRAMONY, 2012), tais prejuízos não parecem ser um traço

característico na evolução desta doença.

Por outro lado, para a SCA3, prejuízos nas habilidades cognitivas específicas têm sido

atribuídos como parte da evolução da doença, com a maioria dos estudos apontando para

declínios, principalmente na função executiva, fluência verbal e função motora (MARUFF et

al., 1996; ZAWACKI et al., 2002; KAWAI et al., 2004; KLINKE et al., 2010; BRAGA-

NETO et al., 2012). Contudo, funções como atenção e memória de trabalho parecem mais

preservadas, conforme apontam os estudos de Zawacki et al. (2002), Bürk et al.(2003), Kawai

et al. (2004) e Braga-Neto et al. (2011).

O padrão de prejuízos cognitivos encontrados em SCA3 é bastante representativo do

grupo de SCApolyQ, em que parece existir a participação do córtex cerebral e principalmente

do lobo frontal, cujo envolvimento na função executiva já é bastante reconhecido. Alguns

estudos apontam para a relação funcional próxima entre cerebelo e córtex cerebral, sugerindo

que as alterações cognitivas descritas estejam ligadas à disfunção no circuito cortico-cerebelar

(GAMBARDELLA et al., 1998; STOREY et al., 1999; BÜRK et al., 2001; BÜRK et al.,

2003; KLINKE et al., 2010; SOKOLVSKY et al., 2010; VALIS et al., 2011. KAREN-

HAPPUCH et al., 2012).

No que diz respeito à associação com os transtornos psiquiátricos em pacientes com

SCApolyQ, a mesma revisão bibliográfica apontou para poucos estudos envolvendo esses

aspectos (N=15), dentre os quais dois eram descritivos.

Entre os estudos descritivos um deles envolvia apenas pacientes com SCA17, nos

quais foi relatada a presença de mudança de personalidade, agressividade, depressão,

alucinações e delírios (DE MICHELE et al., 2003). O outro estudo descritivo era prospectivo,

realizado com pacientes com SCA2 e conduzido por Reynaldo-Armiñán et al. (2002), em

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Introdução | 17

Cuba. Nesse estudo, foi utilizada como forma de avaliação a entrevista clínica com

especialistas, com achados que apontaram a presença de transtorno mental em 88% dos

sujeitos estudados (N=150), com destaque para transtornos de ajustamento, com humor

depressivo e ideação suicida (22%); transtornos do sono (20%); e transtornos de humor,

considerando depressão maior e distimia (16,7%).

Na Tabela 2, serão apresentadas as sínteses dos principais achados, considerando os 13

estudos comparativos, no que tange à sintomatologia psiquiátrica avaliada nos pacientes com

SCApolyQ, destacando que a maior parte dos estudos avaliou exclusivamente sinais e sintomas

de depressão e ansiedade.

Tabela 2 - Principais resultados dos estudos que avaliaram indicadores de depressão e ansiedade em pacientes com SCApolyQ.

Sinais/ Sintomas

Principais Instrumentos Utilizados Achados mais significativos

Depressão (N=13)

Beck Depression Inventory (N=05) Avaliação Clínica de Especialista (N=04) Hamilton Rating Scale for Depression (N=02) Hospital Anxiety and Depression Scale (N=02)

SCApolyQ > PG [39,50] SCA1 > PG [26]

SCA2 = PG [21,26, 29]

SCA3 > PG [06,07,11,25,76]

= PG [26]

= *em risco [43] > *em risco [11]

> SCA1, 2, 6 [36] < SCA1, 6 [26]

< Escl. Multipla [11] SCA6 = PG [62]

> PG [26]

Ansiedade (N=05)

Hospital Anxiety and Depression Scale (N=02) Hamilton Anxiety Scale (N=02) State-Trait Anxiety Inventory (N=01)

SCA3 > PG [06, 07, 25, 76] SCA6 < PG [62]

(>) Maior sintomatologia depressiva/ansiosa; categorias não exclusivas; PG: população geral; *indivíduos em risco genético para SCA3; N: número de estudos; entre []: referência dos estudos conforme lista apresentada a partir da página 57.

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Introdução | 18

Na investigação da sintomatologia depressiva a maioria dos estudos utilizou o método

de entrevista com especialista e/ou diferentes escalas de rastreamento de sinais e sintomas,

com destaque para a Beck Depression Inventory (BDI). Também para a avaliação da

sintomatologia ansiosa houve predomínio destas escalas. Nesse sentido, os achados para estes

estudos oferecem algumas limitações tendo em vista a) a não utilização de um instrumento

referendado como “padrão-ouro” para o diagnóstico dos transtornos psiquiátricos em sua

amplitude; b) a forte dependência, por parte das escalas de rastreamento auto aplicáveis, da

percepção do próprio participante; e c) a sobreposição de sintomas clínicos e psiquiátricos que

podem favorecer conclusões errôneas quanto ao aspecto avaliado.

A presença de indicadores de depressão e ansiedade não se fez homogênea para todos

os tipos de SCApolyQ, estando mais evidente para os pacientes com SCA3 e menos para os

pacientes com SCA2, cuja maioria dos estudos evidenciou ausência de diferenças

significativas em relação à população geral para os sintomas de depressão. Apesar de em

menor quantidade, os estudos que avaliaram sintomas de ansiedade também encontraram

maior sintomatologia no grupo de pacientes SCA3 que na população geral.

A maior prevalência de sintomas depressivos em pacientes com doenças

neurodegenerativas já é bastante estudada para outras enfermidades neurológicas, como a

doença de Huntington, Parkinson e a Esclerose Múltipla, com um corpo de estudos

considerável que chama a atenção para o aspecto proeminente desta sintomatologia, com a

evolução dos quadros degenerativos (FEINSTEIN, 2011; EPPING et al., 2011; VAN DER

HOEK et al., 2011).

Schimitz-Hübsch et al. (2011), num estudo para avaliar depressão em 526 pacientes

com SCA do tipo 1, 2, 3 e 6, encontrou uma prevalência estimada de 17,1%, utilizando a

escala Patient Health Questionnaire (PHQ), valor este maior do que o encontrado para a

população não clínica alemã (13%), utilizando o mesmo instrumento. Embora os

pesquisadores desse estudo não tenham encontrado diferenças significativas entre os

diferentes tipos de SCA para a sintomatologia depressiva, no item que avalia distúrbios do

sono, os pacientes com SCA3 sinalizaram maior prejuízo que os demais genótipos.

Por outro lado, um estudo realizado por McMurtray et al. (2006), comparando

pacientes com SCA1, SCA2, SCA3 e SCA6, evidenciou sintomas depressivos

significativamente maiores em SCA3 (60%) que em SCA1 (25%), SCA2 (23%) e SCA6

(27%), na avaliação de especialistas. Ainda assim, a maior presença de sintomas depressivos

em SCA3 não é uma unanimidade entre os poucos estudos comparativos entre tipos de SCA.

Klinke et al. (2010), avaliando sintomatologia depressiva por meio do BDI em um grupo de

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Introdução | 19

pacientes SCA1, SCA2, SCA3 e SCA6, tiveram como achados maior sintomatologia

depressiva para pacientes com SCA1 e SCA6, enquanto os pacientes com SCA3 não

apresentaram maiores indicadores depressivos do que o grupo controle. Também foi

encontrada, para este estudo, correlação entre a severidade da doença e os escores no BDI,

sugerindo maior sintomatologia depressiva quanto maiores os prejuízos motores.

No que tange às alterações psiquiátricas restritas aos pacientes de SCA3, Cecchin et al.

(2007), também por meio da BDI, compararam a prevalência de sintomatologia depressiva em

pacientes com SCA3 (N=79) em relação aos seus cuidadores e em relação a indivíduos com

risco genético para a doença. Encontraram o índice de depressão moderada a severa entre os

pacientes com SCA3 e seus cuidadores significativamente mais elevado (33,5% e 16,2%,

respectivamente), quando comparado aos indivíduos com risco para a doença (6,2%),

sugerindo que os sintomas depressivos não seriam uma condição primária associada à SCA3,

mas sim um quadro reativo frente ao processo direto ou indireto de adoecimento. Os referidos

autores não encontram associações entre esses sintomas depressivos, o número de repetições

da expansão CAG e a idade de início da doença. Apesar disso, chamam a atenção para o fato

de a depressão estar sendo subdiagnosticada entre esse grupo específico de pacientes, o que

requer atenção.

A presença de sintomatologia depressiva e ansiosa importante, nos pacientes com

SCA3, também foi assinalada nos trabalhos de Zawacki et al. (2002), Kawai et al. (2004) e

Braga-Neto et al. (2012), todos utilizando como instrumento de coleta de dados escalas de

rastreamento.

As hipóteses sobre a etiologia dos sintomas depressivos entre os pacientes com

SCApolyQ, ainda são bastante divergentes, com estudos que tendem a considerar a

sintomatologia depressiva como um fator reativo diante das inúmeras perdas inerentes à

evolução da degeneração. Esta hipótese é reforçada pela ligação encontrada entre maior

sintomatologia depressiva em pacientes com maiores sintomas de ataxia (CECCHIN et al.,

2007; SCHMITZ-HÜBSCH et al., 2010; KLINKE et al.,2010). Outra frente de estudos tende

a considerar os sintomas depressivos como um aspecto orgânico também relacionado à

degeneração (ORSI et al., 2011; ZAWACKI et al., 2002).

Acirrando ainda mais as discussões frente a estas duas hipóteses, um aspecto se

sobressaiu na revisão sistemática realizada, a partir da qual se observou que, embora os

estudos envolvendo os pacientes com SCA2 apresentem achados no sentido de um padrão de

prejuízos cognitivos e sintomatologia clínica que se aproxima dos achados dos estudos

envolvendo pacientes com SCA3, para SCA2, a maioria dos estudos não aponta maior

Page 21: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Introdução | 20

sintomatologia depressiva do que para a população geral, conforme apresentado na Tabela 2.

Nesse sentido, a segunda hipótese parece predominar, tendo em vista a possibilidade de que a

sintomatologia depressiva identificada seja um aspecto mais ligado à expressão fenotípica da

SCA3.

Com relação à associação entre as SCA e transtornos do pensamento, destacam-se os

estudos de casos realizados por meio de autópsia de pacientes portadores de SCA6 e

esquizofrenia, com resultados em nível exploratório, apontando para a raridade desta

associação entre as duas patologias, a qual parece associada à mutação no gene CACNA1A

(TASHIRO et al., 1999; NAKANISHI et al., 2004).

De nosso conhecimento, nenhum estudo, até o momento, avaliou - de forma

sistemática e por meio de um instrumento referendado como padrão-ouro na avaliação

diagnóstica dos transtornos psiquiátricos - a associação e a taxa de comorbidade entre SCA3 e

os transtornos psiquiátricos de Eixo 1, conforme definido pelo Manual Diagnóstico e

Estatístico de Transtornos Mentais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994).

Também não há evidências claras de associação ou não de comorbidades psiquiátricas com o

número maior de expansões da glutamina.

Assim, considerando-se: a) a necessidade de aprimorar o conhecimento e o

entendimento dos mecanismos neurobiológicos e genéticos envolvidos nos transtornos

psiquiátricos, b) o curso progressivo da SCA3 e o seu impacto negativo na qualidade de vida

dos pacientes, o que pode se associar a transtornos de adaptação e alterações do humor ou a

outros sintomas psiquiátricos, os quais, se diagnosticados, podem ser tratados e c) a ausência

de estudos que avaliem sistematicamente, por meio de entrevista diagnóstica, a associação

entre SCA3 e os diferentes transtornos psiquiátricos, propõe-se o presente trabalho.

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Objetivo | 21

2 OBJETIVO

2.1 Objetivo geral

- Avaliar a associação entre SCA3 e o tamanho da mutação (expansão dos tripletos

CAG) com os diferentes transtornos psiquiátricos do Eixo 1 do Manual Diagnóstico e

Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV).

2.2 Objetivos específicos

- Avaliar a prevalência de transtornos psiquiátricos do Eixo 1 em pacientes com o

diagnóstico de SCA3, por meio da Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV (SCID-I);

- Avaliar a associação entre comorbidades psiquiátricas e o número de expansões dos

tripletos CAG;

- Avaliar a associação entre comorbidades psiquiátricas e diferentes variáveis sócio-

demográficas em pacientes com SCA3.

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Método | 22

3 MÉTODO

3.1 Características do contexto do estudo

Este estudo foi conduzido no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP-USP).

O HC-FMRP-USP é um hospital escola de nível terciário, vinculado ao Sistema Único

de Saúde (SUS). A instituição oferece serviços de alta tecnologia e procedimentos médicos

especializados de alta complexidade, atendendo a Ribeirão Preto e região. Disponibiliza

atendimentos de internação (25.336 internações/ano), de ambulatório (478.895 consultas/ano)

e ainda de urgência/emergência (34.480 internações/ano), conforme o Relatório do Serviço de

Arquivo Médico do HC-FMRP-USP (dados relativos ao ano 2010).

No que diz respeito aos atendimentos ambulatoriais, estes são divididos em função das

especialidades. É nesse contexto em que se insere o Ambulatório de Neurogenética, o qual

iniciou suas atividades no ano de 1997, sob a coordenação do Prof. Dr. Wilson Marques

Junior. O ambulatório atende com frequência semanal e oferece, dentre outros, atendimento

diagnóstico e clínico aos pacientes portadores de ataxias espinocerebelares.

3.2 Participantes

A amostra deste estudo foi composta por pacientes com diagnóstico de SCA3,

atendidos pelo Ambulatório de Neurogenética do HC-FMRP-USP, os quais vêm sendo

acompanhados desde o início da investigação diagnóstica. Os pacientes provêm de diferentes

estados brasileiros, com predomínio do estado de São Paulo. Os referidos pacientes, cujo

diagnóstico clínico é confirmado por meio de exames de DNA, estão cadastrados em um

banco de dados, que no momento inicial da coleta de dados era composto por 187 indivíduos.

Este banco de dados agrupa as seguintes informações: nome do paciente, número do

registro do prontuário médico, data de nascimento, sexo e número de expansões do CAG.

Page 24: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Método | 23

Adotou-se como critérios de inclusão: indivíduos de ambos os sexos que aceitassem

participar da pesquisa, após consentimento verbal, mediante explicação dos objetivos do

estudo, sem limite de idade.

Estabeleceu-se como critérios de exclusão: não localização do sujeito, recusa em

participar da pesquisa, óbito e limitações e/ou ausência de condições clínicas para participar

da entrevista via telefone.

3.3 Coleta de Dados

Para atender aos objetivos acima, foi realizado um estudo descritivo com delineamento

do tipo transversal, o qual compreendeu duas fases distintas, a saber:

a) Fase 1: relativa ao diagnóstico e quantificação das expansões dos tripletos CAG

associadas à SCA3 por meio do exame de DNA;

b) Fase 2: relativa à investigação clínica das comorbidades psiquiátricas por meio da

Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV.

3.3.1 Fase 1: quantificação das expansões dos tripletos CAG

Esta fase do estudo já se encontrava concluída, e os dados alocados no banco de

dados, conforme descrito acima. Isto porque o exame de DNA é parte essencial da

investigação diagnóstica da SCA3 e é feito durante os primeiros atendimentos do paciente no

Ambulatório de Neurogenética, sendo analisado também o número de expansões do CAG,

conforme técnica abaixo especificada (LINHARES, 2007), utilizada de forma rotineira no

Laboratório de Neurologia Aplicada e Experimental da FMRP/USP, onde tais exames foram

processados.

- Extração do DNA: O DNA foi extraído a partir de leucócitos do sangue periférico.

Para tanto, utilizaram-se aproximadamente 10 ml de sangue, extraído em tubos de

Vacutainer™ contendo Ácido Etileno Diamena Tetra Acético (EDTA), através de punção

venosa periférica. Posteriormente, os 10 ml de sangue foram transferidos para um tubo Falcon

Page 25: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Método | 24

de 50 ml, adicionando-se a seguir 40 ml do tampão de lise 1 gelado (0,3 M de sacarose, 10

mM Tris-HCl, 5 mM MgCl2, Triton X 100 a 1%). Este tubo foi então centrifugado a 3200

rpm durante 5 minutos, a 4°C. O sobrenadante foi cuidadosamente derramado e o precipitado

ressuspenso em solução contendo 4,5 ml da solução de lise 2 (0,075 M de NaCl, 0,024 M de

EDTA sódico, 125 µl de Dodecil Sulfato de Sódio (SDS) 10% e 1,1 ml de perclorato sódico

5M).

Após nova centrifugação, o tubo foi agitado vigorosamente por 10 segundos em

temperatura ambiente. Adicionaram-se 2ml de NaCl 6M para a extração de proteínas,

seguindo-se nova agitação vigorosa, por 15 segundos e novo período de centrifugação de 5

minutos a 2.600 rpm em temperatura ambiente. O sobrenadante foi transferido para um tubo

de 50 ml, evitando-se a transferência do “pellet”. Adicionaram-se 7 ml de isopropanol

absoluto, misturando-se gentilmente. O DNA precipitado foi removido com uma pipeta

Pasteur selada e o excesso de isopropanol retirado. O DNA foi então lavado duas vezes com 3

ml de etanol a 70% e redissolvido em 100 a 300 µl de TE, incubando-se a 55°C por 10 a 20

minutos. Até o momento da sua utilização, foi conservado em temperatura de 4°C.

A análise da expansão (CAG)n responsável pela SCA3 foi realizada com a utilização

da reação em cadeia pela polimerase (PCR), utilizando-se os seguintes inicializadores

(primers): 4U1024(5’-TGTTACATTGTAGGAGCGGAA-3’) e 4U716(5’-

CACGACTGTCCCAGCATCACTT-3’). A reação do PCR, propriamente dita, foi obtida

através do termociclador Gene Amp PCR System 2400 (Perkin Elmer), em um volume final

de 50 µl, contendo 200 µM dNTPs, 15 mM magnesio, 10% DMSO, 10 pmoles de cada

primer, 200 ng DNA e 1,25 unidades da enzima Taq polimerase. A amplificação foi realizada

com um período de desnaturação inicial de 94°C por 5 minutos, seguida de 27 ciclos contendo

um período de desnaturação de 94°C por 30 segundos, 55°C por 30 segundos e 72°C por 30

segundos, seguidos por um período de extensão final de 72°C por 10 minutos.

O produto do PCR foi analisado inicialmente em um minigel de agarose a 3,2% e a

quantificação final realizada em um gel de acrilamida em um sequenciador automático 377

ABI (Perkin Elmers-ABI), seguindo-se da análise com o programa GENESCAN (ABI).

O número de expansões foi fornecido pela subtração de 278 do número de bases

aferidas pelo programa GENESCAN, correspondentes ao segmento não CAG, seguindo-se da

divisão por 3, de maneira a se ter o número de expansões CAG.

Conforme já pontuado, expansões maiores que 61 selam o diagnóstico de SCA3.

Page 26: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Método | 25

3.3.2 Fase 2: investigação de comorbidades psiquiátricas

Para coleta a de dados relativa às comorbidades psiquiátricas, utilizaram-se os

seguintes instrumentos:

- Questionário de Identificação (QI) – instrumento desenvolvido para o presente

estudo, que objetivou a coleta de dados complementares relativos à caracterização

sóciodemográfica e clínica da amostra estudada, sendo composto por 21 itens (APÊNDICE

A).

- Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV (SCID-I– versão clínica) - proposta

em 1997 por First et al., traduzida e adaptada para o português por Del-Ben et al. (2001), é um

instrumento utilizado para a elaboração de diagnósticos clínicos psiquiátricos baseados na

quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV). É

composto por dez módulos que podem ser aplicados de forma independente ou combinada,

conforme os objetivos almejados. Neste estudo foram utilizados todos os módulos.

A SCID-I foi aplicada pela psicóloga responsável por este estudo, a qual já

apresentava experiência prévia no uso deste instrumento em contexto clínico, na avaliação de

pacientes psiquiátricos.

A coleta de dados foi realizada via telefone. Essa metodologia de coleta de dados vêm

sendo utilizada pelo grupo de pesquisa que desenvolve este trabalho em estudos prévios

(FILHO et al., 2009) e foi referendado por Crippa et al. (2008) e Hajebi et al. (2012),

especialmente no que diz respeito ao diagnóstico de Ansiedade Social e de transtornos

psicóticos.

Optou-se por essa forma de coleta de dados em função: a) da facilidade de acesso aos

pacientes, uma vez que o retorno dos mesmos ao Ambulatório de Neurogenética ocorre com

frequência variável, estendendo-se a anos; b) do fato de muitos pacientes residirem em outros

municípios e estados distantes de Ribeirão Preto, e c) de muitos pacientes apresentarem

limitações na deambulação e movimentação em geral, fazendo com que a vinda ao HC-

FMRP-USP pudesse ser extremamente desgastante aos mesmos.

Os sujeitos foram contatados via telefone, através do número de telefone que constava

no “Sistemas HC”, um banco de dados que agrupa as informações cadastrais e clínicas dos

pacientes atendidos no referido hospital. As entrevistas foram realizadas entre março de 2010

a junho de 2012.

Page 27: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Método | 26

O contato com os sujeitos foi iniciado com a explicação sobre motivo do telefonema,

os objetivos do estudo, os aspectos éticos e as atividades a serem realizadas e, em seguida,

solicitou-se a participação. Aos sujeitos que concordaram em participar, prosseguiu-se, então,

com a aplicação do Questionário de Identificação e posteriormente da SCID-I. Essas

atividades foram realizadas em um tempo médio de 40 a 60 minutos. Finalizada a aplicação,

encerrou-se a coleta de dados. O aplicador colocou-se à disposição dos participantes para

dúvidas, esclarecimentos e eventuais questionamentos sobre a entrevista realizada e sobre o

estudo em questão, realizando orientações quando necessário.

O fluxograma abaixo (Figura 1) ilustra o processo de inclusão e exclusão dos sujeitos

no estudo.

Figura 1 - Fluxograma relativo ao processo de inclusão e exclusão de sujeitos no estudo.

Dos 187 pacientes inicialmente cadastrados no banco de dados, apenas 53 concluíram

todas as etapas da coleta de dados. Dos 134 pacientes que foram excluídos do estudo, 13 já

haviam falecido na ocasião da entrevista, três se recusaram a participar da pesquisa, três não

187 Pacientes

cadastrados no banco de

dados

53 Pacientes

incluídos no estudo

134 Pacientes

excluídos do estudo

13 Óbitos 115

Pacientes não

localizado

03 Recusas em participar

03 Limitações

e/ou ausência de condições

clínicas

Page 28: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Método | 27

apresentavam condições clínicas para realizar a entrevista (como por exemplo, pacientes que

estavam traqueostomizados ou com nível de consciência rebaixado) e 115 pacientes não

foram localizados.

O grande número de pacientes não localizados pode ser atribuído, em parte, às

características do banco de dados, criado de longa data, e pouco atualizado ao longo dos anos.

Destaca-se também como justificativa, a perda do seguimento no serviço por muitos dos

pacientes que, depois de diagnosticados, acabaram por dar continuidade ao acompanhamento

clínico em suas cidades de origem, desligando-se do HC-FMRP-USP.

3.4 Análise dos Dados

Os dados relativos à Fase 1, já se encontravam alocados em um banco de dados, no

qual, o número da maior e da menor expansão de CAG foi registrado. Os dados da Fase 2,

foram codificados manualmente e as análises estatísticas realizadas usando-se o pacote

estatístico SPSS, versão 17.0 (SPSS-INCORPORATION, 2010). Para caracterização da

amostra do ponto de vista sociodemográfico e clínico, utilizou-se a estatística descritiva, a

saber: frequência simples, média, mediana, desvio padrão e porcentagem.

Para análise das correlações entre a) a presença de SCA3 e de comorbidades

psiquiátricas; b) as comorbidades psiquiátricas e o número de expansões CAG e c) as

comorbidades psiquiátricas e variáveis sociodemográficas e clínicas, utilizaram-se dos

seguintes testes estatísticos não paramétricos, após constatar-se a ausência da distribuição

normal da amostra: Teste do Qui-quadrado, Teste Exato de Fisher, Teste de Mann Whitney e

Tesde de Correlação de Spearman.

Para a avaliação de possíveis variáveis preditoras, utilizou-se de regressão logística

univariada. As variáveis selecionadas para tal análise de regressão foram aquelas que

obtiveram p-valor 0,20 na análise simples. Posteriormente, para aquelas com significância de

p 0,05, ajustaram-se as mesmas, utilizando-se o modelo de regressão linear múltipla.

Adotou-se como nível de significância, para todos os testes estatísticos, p-valor 0,05.

Page 29: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Método | 28

3.5 Aspectos Éticos

Objetivando maior facilidade de acesso aos sujeitos da pesquisa, optou-se por coletar

os dados via entrevista telefônica. Essa forma de coleta atendeu aos requisitos metodológicos,

de forma a validar a pesquisa realizada, e também poupou os sujeitos de desgastes físicos com

vindas ao HC-FMRP-USP, o que foi extremamente importante, considerando-se as

características clínicas da doença, na qual predominam dificuldades na deambulação. Assim,

a autorização para participação na pesquisa foi solicitada de forma verbal e, nesse sentido, foi

encaminhado ao Comitê de Ética o pedido de dispensa do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, o que foi deferido (ANEXO A).

Todos os sujeitos foram informados verbalmente, sobre as justificativas, objetivos,

procedimentos, riscos e benefícios da pesquisa a qual estavam sendo convidados a

participarem voluntariamente. Aos sujeitos identificados como portadores de algum dos

transtornos pesquisados, foi oferecido esclarecimento e orientação de busca de tratamento

junto à Unidade de Saúde mais próxima de sua residência.

A todos os sujeitos foi garantida a total liberdade de interromper a sua participação,

fosse no decorrer ou após a participação na pesquisa, sem qualquer constrangimento ou

prejuízo em seu tratamento. Garantiu-se a não identificação pessoal dos sujeitos, utilizando os

dados obtidos apenas para divulgação científica.

O presente trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa do

HCFMRP-USP em 12/04/2010 (Processo HC-RP No 3119/2010- ANEXO A).

Page 30: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 29

4 RESULTADOS

4.1 Caracterização sociodemográfica e clínica da amostra

A amostra do presente estudo foi composta por 53 pacientes, cujas características

sociodemográficas, clínicas e psiquiátricas estão apresentadas nas Tabelas de 3 a 6.

Tabela 3 - Caracterização sociodemográfica da amostra.

Variável N % Sexo Feminino Masculino

33 20

62% 38%

Escolaridade Ensino Fundamental

Ensino Médio Ensino Superior

17 24 12

32% 45% 23%

Atividade Profissional Ativo Inativo

24 29

45% 55%

(DP) Mediana (Min/Máx) Idade

51,47 (13,30)

51 (23/77)

Renda Familiar (R$) 2.600,75 (2.693,28) 1.700 (0/15.000)

N: número de participantes; %: porcentagem; : média; DP: desvio padrão; Min: valor mínimo; Máx: valor máximo; R$: reais.

Conforme descrito na Tabela 3, a maior parte da amostra foi composta por

participantes do sexo feminino (62%), com idade média 51,47 anos e com o nível de

escolaridade entre o fundamental e o médio (77%). Uma boa parte da amostra foi composta

por indivíduos inativos, aposentados por tempo de serviço (28%) e invalidez (26%). Com

relação à renda familiar, houve grande variabilidade de valores, com a média estabelecida em

R$ 2.600,00 (dois mil e seiscentos reais), valor que correspondente a aproximadamente quatro

salários mínimos atuais (novembro/2013).

Page 31: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 30

A seguir, serão apresentadas as Tabelas 4 e 5, referentes às características clínicas da

amostra do estudo.

Tabela 4 - Caracterização clínica da amostra.

Variáveis x DP

Idade de início da doença

42,0

11,14

Anos de doença

10,1 6,96

Expansão CAG menor

Expansão CAG maior

21,5

70,6

5,28

4,49

= média; DP= desvio padrão

Tabela 5 - Caracterização da sintomatologia clínica na amostra.

Variáveis N % Doença Manifesta Sim Não

49 04

92% 8%

Deambula Sim Não

46 07

87% 13%

IM- Membros Superiores Sim Não

26 27

49% 51%

IM- Membros Inferiores Sim Não

50 03

94% 6%

Alteração da fala Sim Não

39 14

74% 26%

Alteração da visão Sim Não

24 29

45% 55%

Alteração da deglutição Sim Não

33 20

62% 38%

Saúde Atual Ruim Boa

29 24

55% 45%

IM: incoordenação motora; X: média; DP: desvio padrão; N: número de participantes; %: porcentagem.

Page 32: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 31

De acordo com as Tabelas 4 e 5, observa-se que, no momento da coleta de dados, a

maioria dos pacientes já havia manifestado algum sintoma da doença (92%), os quais se

iniciaram à cerca dos 42 anos de idade, com tempo médio de doença de dez anos. Destaca-se

que tal informação refere-se à percepção dos pacientes, podendo ou não corresponder ao

início efetivo da doença.

O valor médio da menor expansão CAG foi de 21,52 e da maior foi de 70,6, segundo a

análise de DNA realizada, confirmando o maior número de expansões em relação à população

não clínica.

No que tange aos sintomas clínicos, embora 87% dos pacientes deambulassem, 94%

da amostra referiu queixas com relação à incoordenação motora dos membros inferiores. Já

com relação aos membros superiores, quase a metade da amostra (49%) relatou falta de

coordenação motora. Alterações na fala estiveram presentes em 74% dos pacientes, da

deglutição em 62% e da visão em 45%, sendo as alterações mais referidas disartria, disfagia e

diplopia, respectivamente.

A autoavaliação relativa à condição atual de saúde apontou que 55% dos participantes

a consideraram “Muito ruim/Ruim” e 45% a consideraram “Boa”.

A Tabela 6 apresenta o histórico psiquiátrico dos participantes do estudo,

considerando os antecedentes pessoais e familiares, tratamentos a que foram submetidos e o

nível de interferência dos sintomas clínicos da ataxia na vida atual dos participantes.

Tabela 6 - Características psiquiátricas da amostra.

Variáveis N % Antecedentes psiquiátricos pessoais Sim Não

09 44

17% 83%

Tratamento psiquiátrico Sim Não

09 44

17% 83%

Antecedentes psiquiátricos familiares Sim Não

14 39

26% 74%

Interferência da doença na vida atual Nada/ pouco Mais ou menos/muito

13 40

25% 75%

N= número de participantes; %= porcentagem.

Page 33: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 32

Em 17% da amostra (N=09), foram relatados antecedentes psiquiátricos pessoais e em

todos eles o diagnóstico era de transtorno depressivo. As formas de tratamento se dividiram

entre o medicamentoso (N=04), o tratamento psicoterápico ambulatorial (N=04) e a

internação integral (N=01)

Apenas 26% dos pacientes (N=14) referiram antecedentes psiquiátricos familiares, dos

quais a maioria não soube especificar o tipo (N=10). Os outros quatro casos se dividiram

igualmente entre o transtorno depressivo (N=02) e a esquizofrenia (N=02).

Quando perguntados sobre a interferência da doença nas condições de vida atual, 75%

dos participantes assinalaram as categorias “mais ou menos” e “muito”, enquanto 25%

consideraram “nada” ou “pouco”.

4.2 Indicadores de Transtorno Psiquiátrico

Considerando-se a avaliação da presença de transtornos psiquiátricos nos participantes

do estudo por meio da SCID-I, encontraram-se os resultados apresentados na Figura 2, tendo-

se por referência a amostra total (N=53).

Figura 2 - Porcentagem de prevalência dos transtornos psiquiátrico na amostra estudada (N=53).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Sem qualquerTranstornoPsiquiátrico

QualquerTranstornosPsiquiátricos

Transtornos deHumor

Transtornos deAnsiedade

Transtornos deAbuso de

Substância

50,9%49,0%

45,2%

3,7% 3,7%

N=27 N=26 N=24

N=2 N=2

Page 34: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 33

Conforme observado na Figura 2, aproximadamente a metade da amostra apresentou

algum transtorno psiquiátrico (N=26), dentre os quais se destacaram os transtornos de humor

(N=24). Os transtornos de ansiedade diagnosticados referiram-se a quadros de fobia simples

(N=02) e os transtornos de abuso de substâncias, álcool no passado (N=02).

Na Figura 3, estão discriminados os diferentes tipos de transtorno de humor

diagnosticados na amostra total.

TAB 1: Transtorno Afetivo Bipolar do tipo 1; Dist: Distimia; DP: Episódio Depressivo no Passado; DA: Episódio Depressivo Atual; DR: Depressão Recorrente.

Figura 3 - Distribuição dos diferentes transtornos de humor na amostra total (N=53).

Considerando-se o total da amostra (N=53), o transtorno de humor mais prevalente foi

a distimia, presente como condição única em 15% dos pacientes (N=08), seguida da distimia

em associação com a depressão atual, diagnóstico também conhecido como depressão dupla,

presente em 9,4% da amostra (N=05). Em 9,3% da amostra (N=05), foi diagnosticado

episódio depressivo atual, considerando que um paciente tinha episódio depressivo prévio,

evidenciando o quadro de depressão recorrente. Os pacientes com diagnóstico de distimia e

depressão atual, totalizaram 26,2% e 18,7% da amostra, respectivamente.

Dentre os 17% dos pacientes que na entrevista telefônica referiram ter antecedentes

psiquiátricos pessoais, o diagnóstico referido foi de transtorno depressivo (N=09). Este

diagnóstico foi confirmado para seis pacientes, entre os quais quatro tinham depressão atual,

15,0%

9,4%

7,5%

7,5%

1,8%

1,8%

1,8%

0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% 16,0%

Dist.

Dist + DA

DP

DA

DR

Dist + DP

TAB1 N=1

N=1

N=1

N=4

N=4

N=8

N=5

Page 35: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 34

dois pacientes apresentaram episódio depressivo prévio e dois fecharam diagnóstico também

para distimia. Um entre os nove pacientes com antecedentes psiquiátricos foi diagnosticado

com distimia exclusivamente e em outro foi diagnosticado transtorno afetivo bipolar tipo 1

(TAB1). Em apenas um paciente que referiu antecedente psiquiátrico, nenhum diagnóstico foi

identificado no momento da entrevista, fosse do ponto de vista atual ou passado.

Entre os 14 pacientes que referiram antecedentes psiquiátricos familiares, 64% (N=09)

apresentaram diagnóstico psiquiátrico prévio ou atual, para os quais os diagnósticos

encontrados foram: 28% (N=04) distimia, 21% (N=03) depressão atual, 7% (N=01) abuso de

álcool no passado e 7% (N=01) TAB1.

No que diz respeito à história psiquiátrica pessoal, dos 26 pacientes diagnosticados

com algum transtorno psiquiátrico, apenas oito referiram estar cientes de seu diagnóstico, de

maneira que 69% (N=18) não sabiam e, consequentemente, não faziam tratamento para o

transtorno psiquiátrico.

Realizou-se análise comparativa entre os pacientes diagnosticados como portadores de

algum dos transtornos psiquiátricos e aqueles sem transtornos, entre os pacientes com e sem

transtorno depressivo atual e entre os pacientes com e sem distimia com o objetivo de se

avaliar as variáveis clínicas e sociodemográficas que pudessem se associar aos diagnósticos

psiquiátricos encontrados na amostra. As Tabelas de 7 a 10 apresentam os resultados de tais

análises.

Page 36: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 35

Tabela 7 - Comparação entre os diferentes grupos de transtornos psiquiátricos e as variáveis sociodemográficas.

Variáveis Sócio-demográficas

CTP (N=26)

STP (N=27)

Estat. CDA (N=10)

SDA (N=43)

Estat. CDist (N=14)

SDist (N=39)

Estat.

Sexo Feminino (%) Masculino (%)

17 (65%) 09 (35%)

16 (59%) 11 (41%)

X2=0,212 p=0,646

07 (70%) 03 (30%)

26 (60%) 17 (40%)

p=0,72(a)

10 (71%) 04 (29%)

23 (59%) 16 (41%)

X2=0,680 p=0,41

Idade (anos) (DP)

52,6 (11,43)

50,3 (15,01)

U=313,00

p=0,49

53,7(7,9)

50,9(14,3)

U=199,50

p=0,72

52,0 (8,8)

51,0 (14,7)

U=258,00

p=0,76 Escolaridade Fundamental (%) Médio (%) Superior (%)

11 (42%) 09 (35%) 06 (23%)

06 (22%) 15 (55%) 06 (22%)

X2=2,95 p=0,22

04 (40%) 03 (30%) 03 (30%)

13 (30%) 21 (49%) 09 (21%)

X2= 1,172

p=0,56

05 (36%) 07 (50%) 02 (14%)

12 (31%) 17 (43%) 10 (26%)

X2= 0,759

P=0,68

Atividade Profissional Ativo (%) Inativo (%)

09 (35%) 17 (65%)

15 (56%) 12 (44%)

X2=2,34 p= 0,13

04 (40%) 06 (60%)

20 (47%) 23 (53%)

p=1,00(a)

05 (36%) 09 (64%)

19 (49%) 20 (51%)

X2=0,703

p=0,40

Renda (R$)

2.356,15 (2.231,08)

2.845,34 (3.113,77)

U=305,00 p= 0,54

1.170,00 (840,7)

2.941,40 (2.872,2)

U=113,50 p=0,02*

2.584,28 (2.500,36)

2.606,8 (2.793,16)

U=260,00 p=0,90

CTP: grupo com qualquer transtorno psiquiátrico; STP: grupo sem qualquer transtorno psiquiátrico; CDA: grupo com episódio depressivo atual; SDA: grupo sem episódio depressivo atual; CDist: grupo com distimia; SDist: grupo sem distimia; Estat.: estatística; DP: desvio padrão; (a) Teste Exato de Fisher, X2= teste do Qui-quadrado, U= teste Mann-Whitney, p= nível de significância; * diferença estatística significativa.

Page 37: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 36

Conforme observado na Tabela 7, para todos os três grupos de pacientes com

transtorno psiquiátrico, predominou o sexo feminino, embora esta diferença não tenha sido

significativa do ponto de vista estatístico. A idade média ficou em torno de 50 anos, não tendo

ocorrido diferenças significativas entre os grupos caso e os não-caso.

A ausência de diferenças estatísticas também foi evidenciada quando se comparou a

escolaridade e a atividade profissional entre os diferentes grupos, apesar dos pacientes sem

transtornos psiquiátricos terem maior porcentagem de sujeitos ativos e a maioria destes estar

concentrada em níveis de escolaridade mais avançados (ensino médio e superior).

A única variável sociodemográfica que apresentou diferenças estatísticas significativas

foi a renda, na comparação entre pacientes com e sem depressão atual. Constatou-se que os

pacientes diagnosticados com depressão atual apresentavam uma renda significativamente

menor do que os pacientes sem este diagnóstico (p=0,001). Embora a comparação da renda

entre os demais grupos não tenha alcançado diferenças estatisticamente significativas,

também se observou uma tendência de os grupos com qualquer transtorno psiquiátrico e com

distimia receberem uma renda inferior aos controles.

Quanto às características clínicas da amostra, a Tabela 8, demonstra que para todos os

grupos de pacientes caracterizados como casos, a média de início dos sintomas de SCA3 foi

em torno dos 40-42 anos, não tendo havido diferenças significativas se comparado aos grupos

controles. Também para a variável tempo de doença, embora a média de anos entre os casos

seja levemente maior do que para os controles, não houve diferenças estatísticas significativas

entre os grupos.

Para o tamanho das expansões CAG, maior e menor, também não foram encontradas

diferenças significativas entre os grupos. A média de tamanho para as expansões CAG

menores variaram de 20,1 a 23,2 e as maiores, de 70 a 71,1.

Page 38: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 37

Tabela 8 - Comparação entre os diferentes grupos de transtornos psiquiátricos e as características clínicas da amostra.

Variável Características clínicas

CTP (N=26)

STP (N=27)

Estat. CDA (N=10)

SDA (N=43)

Estat. CDist (N=14)

SDist (N=39)

Estat.

Início da SCA3 (DP)

41,0 (9,1)

42,9(12,9)

U=274,00 p= 0,60

39,9 (5,9)

42,6(12,1)

U=153,50

p=0,30

40,9(6,06)

42,4(12,5)

U=198,00

p=0,41

Tempo de doença (DP)

11,4 (8,1) 8,8(5,5) U= 245,00 p=0,26

13,8 (10,7) 9,1 (5,4) U=141,50 p=0,18

11,6(9,60) 9,5 (5,79) U=204,00 p=0,49

Expansão CAG Menor (DP) Expansão CAG Maior (DP)

21,8 (5,23)

70,8 (4,3)

21,3(5,42)

70,4(4,7)

U=343,00 P=0,88

U=303,00 p= 0,39

23,2 (5,9)

70,0 (5,4)

21,1 (5,1)

70,8 (4,3)

U=170,50 p=0,30

U=203,50

p=0,79

20,1(5,33)

71,1(3,70)

22,0(5,24)

70,5(4,78)

U=219,00 p=0,26

U=231,50

p=0,40

CTP: grupo com qualquer transtorno psiquiátrico; STP: grupo sem qualquer transtorno psiquiátrico; CDA: grupo com episódio depressivo atual; SDA: grupo sem episódio depressivo atual; CDist: grupo com distimia; SDist: grupo sem distimia; Estat.: estatística; DP: desvio padrão; U= teste Mann-Whitney, p= nível de significância; * diferença estatística significativa; idade e tempo de doença: em anos.

Page 39: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 38

No que se refere aos sintomas clínicos de SCA3, pôde-se observar, na Tabela 9, a

ausência de diferenças significativas para quase todas as variáveis sintomas clínicos na

comparação entre os grupos de casos e não-caso. Destaca-se, contudo, que o grupo com

qualquer transtorno psiquiátrico apresentou uma tendência para maior presença de

incoordenação nos membros superiores (p=0,07), enquanto para o grupo de pacientes com

distimia esta diferença foi significativa quando comparada com o grupo controle (p=0,05).

Para a variável alteração da deglutição, observou-se como uma tendência a maior presença no

grupo de pacientes com depressão, se comparados ao grupo sem depressão (p=0,07).

Page 40: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 39

Tabela 9 - Comparação entre os diferentes grupos de transtornos psiquiátricos e os sintomas clínicos.

Variáveis Sintomas clínicos

CTP (N=26)

STP (N=27)

Estat.

CDA (N=10)

SDA (N=43)

Estat. CDist (N=14)

SDist (N=39)

Estat.

Deambula Sim (%) Não (%)

24 (92%) 02 (08%)

22 (81%) 05 (18%)

p= 0,42(a)

10 (100%) 0

36 (84%) 07 (16%)

p=0,32(a)

13 (93%) 01 (07%)

33 (85%) 06 (15%)

p=0,66(a)

IM- Membros Superiores Sim (%) Não (%)

16 (61%) 10 (38%)

10 (37%) 17 (63%)

X2= 3,182

p= 0,07

05 (50%) 05 (50%)

21 (49%) 22 (51%)

p=1,00(a)

10 (71%) 04 (29%)

16 (41%) 23 (59%)

X2=3,810 p=0,05*

IM- Membros Inferiores Sim (%) Não (%)

26(100%)

0

24 (89%) 03 (11%)

p= 0,23(a)

10 (100%)

0

40 (93%) 03 (07%)

p=1,00(a)

14 (100%)

0

36 (92%) 03 (08%)

p=0,56(a)

Alteração da fala Sim (%) Não (%)

19 (73%) 07 (27%)

20 (74%) 07 (26%)

X2= 0,007

p= 0,93

07 (70%) 03 (30%)

32 (74%) 11 (25%)

p=1,00(a)

12 (86%) 02 (14%)

27 (69%) 12 (31%)

p=0,31(a)

Alteração da visão Sim (%) Não (%)

14 (54%) 12 (46%)

10 (37%) 17 (63%)

X2= 1,510

p= 0,22

06 (60%) 04 (40%)

18 (42%) 25 (58%)

p=0,48(a)

09 (64%) 05 (36%)

15 (38%) 24 (62%)

X2= 2,773

p=0,10

Alteração da deglutição Sim (%) Não (%)

18 (69%) 08 (31%)

15 (55%) 12 (44%)

X2= 1,054

p= 0,31

09 (90%) 01 (10%)

24 (56%) 19 (44%)

p=0,07(a)

11 (79%) 03 (21%)

22 (56%) 17 (44%)

X2= 2,153

p=0,14

CTP: grupo com qualquer transtorno psiquiátrico; STP: grupo sem qualquer transtorno psiquiátrico; CDA: grupo com episódio depressivo atual; SDA: grupo sem episódio depressivo atual; CDist: grupo com distimia; SDist: grupo sem distimia; Estat.: estatística; DP: desvio padrão; IM: Incoordenação motora; (a) Teste Exato de Fisher; X2= Teste Qui-quadrado; p= nível de significância; * diferença estatística significativa.

Page 41: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 40

No que diz respeito aos aspectos psiquiátricos da amostra, apresentados na Tabela10,

observou-se que cerca de 20% a 40% dos pacientes classificados com algum diagnóstico

psiquiátrico já tinham antecedentes psiquiátricos pessoais, sendo que para o grupo com

qualquer transtorno psiquiátrico e com depressão atual houve diferenças significativas no

sentido dos antecedentes psiquiátricos estarem mais presentes nestes grupos do que nos

grupos controle (p 0,05). Do mesmo modo, para a variável tratamento psiquiátrico,

praticamente todos os pacientes que referiram antecedentes pessoais já estavam sob algum

tratamento, embora a diferença entre grupos só tenha atingido níveis significativos entre os

pacientes com e sem qualquer transtorno psiquiátrico (p=0,01).

Para a variável percepção da saúde atual, observou-se uma tendência dos participantes

com diagnóstico psiquiátrico considerarem sua saúde “ruim” (65 a 86%). Porém apenas para

o grupo de pacientes com distimia houve diferença significativa, no sentido destes

participantes terem uma percepção mais negativa de sua saúde do que o grupo sem distimia

(p=0,007).

No que diz respeito à variável interferência da doença na vida, observou-se que a

maioria dos pacientes, tanto nos diferentes grupos com transtornos psiquiátricos, como nos

grupos controle, houve predomínio da percepção negativa da doença em suas vidas. Contudo,

para os grupos com qualquer transtorno psiquiátrico e com distimia essa diferença foi mais

significativa, apontando para uma percepção ainda mais negativa (p=0,03).

Com relação aos antecedentes psiquiátricos familiares não foram encontradas

diferenças significativas entre os grupos e nenhuma tendência pode ser estabelecida com

relação a esta variável na distribuição dos pacientes nos grupos.

Page 42: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 41

Tabela 10 - Comparação entre os diferentes grupos de transtornos psiquiátricos e as características psiquiátricas da amostra.

Variáveis Características psiquiátricas

CTP (N=26)

STP (N=27)

Estat. CDA (N=10)

SDA (N=43)

Estat. CDist (N=14)

SDist (N=39)

Estat.

Antecedentes psiquiátricos pessoais Sim (%) Não (%)

08 (31%) 18 (69%)

01 (04%) 26 (96%)

p= 0,01(a)*

04 (40%) 06 (60%)

05 (12%) 38 (88%)

p=0,05(a)*

03 (21%) 11 (79%)

06 (15%) 33 (85%)

p=0,68(a)

Tratamento Psiquiátrico Sim (%) Não (%)

08 (31%) 18 (69%)

01 (04%) 26 (96%)

p= 0,01(a)*

03 (30%) 07 (70%)

06 (14%) 37 (86%)

p=0,34(a)

04 (29%) 10 (71%)

05 (13%) 34 (87%)

p=0,22(a)

Antecedentes psiquiátricos familiares Sim (%) Não (%)

09 (35%) 17 (65%)

05 (19%) 22 (81%)

X2= 1,766

p= 0,18

04 (40%) 06 (60%)

10 (23%) 33 (77%)

p=0,42(a)

05 (36%) 09 (64%)

09 (23%) 30 (77%)

p=0,48(a)

Percepção da Saúde Atual Ruim (%) Boa (%)

17 (65%) 09 (35%)

12 (44%) 15 (56%)

X2= 2,344

p= 0,13

08 (80%) 02 (20%)

21 (49%) 22 (51%)

p=0,09(a)

12 (86%) 02 (14%)

17 (44%) 22 (56%)

X2=7,378 p=0,007*

Interferência da doença na vida atual Nada/Pouco (%) Mais ou Menos/muito (%)

03 (12%) 23 (88%)

10 (37%) 17 (63%)

X2= 4,652 p= 0,03*

01 (10%) 09 (90%)

12 (28%) 31 (72%)

p=0,42(a)

0

14 (100%)

13 (33%) 26 (67%)

p=0,01(a)*

CTP: grupo com qualquer transtorno psiquiátrico; STP: grupo sem qualquer transtorno psiquiátrico; CDA: grupo com episódio depressivo atual; SDA: grupo sem episódio depressivo atual; CDist: grupo com distimia; SDist: grupo sem distimia; Estat.: estatística; DP: desvio padrão; (a) Teste Exato de Fisher; X2= Teste Qui-quadrado; p= nível de significância; * diferença estatística significativa.

Page 43: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 42

A fim de se verificar o comportamento conjunto das variáveis (relação) em função da

presença de diagnóstico psiquiátrico (qualquer transtorno psiquiátrico, episódio depressivo

atual e distimia), realizou-se regressão logística univariada e multivariada, considerando-se as

seguintes variáveis da análise simples:

- Para variável de desfecho qualquer transtorno psiquiátrico: atividade profissional,

incoordenação motora dos membros superiores, antecedentes psiquiátricos pessoais,

tratamento psiquiátrico, antecedentes psiquiátricos familiares, percepção da saúde atual e

interferência da doença na vida;

- Para variável de desfecho episódio depressivo atual: renda, tempo de doença,

alteração da deglutição e antecedentes psiquiátricos pessoais;

- Para variável de desfecho distimia: incoordenação motora dos membros superiores,

alteração da visão, alteração da deglutição, percepção da saúde hoje e interferência na vida

atual.

Os resultados destas análises podem ser visualizados nas Tabelas 11 a 13, em função

de cada grupo dos transtornos psiquiátricos estudados. Tomando-se como variável de

desfecho a presença de qualquer transtorno psiquiátrico, a Tabela 11 apresenta os resultados

da análise de regressão univariada.

Page 44: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 43

Tabela 11 - Estimativa do parâmetro de regressão logística univariada, considerando a variável qualquer transtorno psiquiátrico como desfecho.

Variável

OD

ICC 95%

p-valor Inferior Superior

Regressão

Univariada

Atividade profissional Não Sim IM- Membros superiores Não Sim Antecedentes psiquiátricos pessoais Não Sim Tratamento psiquiátrico Não Sim Antecedentes psiquiátricos familiares Não Sim Percepção da saúde atual Boa Ruim Interferência da doença na vida atual Nada/ Pouco Muito

1[ref.] 0,42

1[ref.] 2,72

1[ref.] 11,56

1[ref.] 11,56

1[ref.] 2,33

1[ref.] 2,36

1[ref.] 4,51

0,14

0,89

1,33

1,33

0,66

0,78

1,07

1,28

8,26

100,60

100,60

8,24

7,16

18,93

0,13

0,08

0,03*

0,03*

0,19

0,13

0,04*

Regressão Multivariada

Antecedentes psiquiátricos Não Sim Tratamento psiquiátrico Não Sim Interferência da doença na vida atual Nada/ Pouco Muito

1[ref.] 6,24

1[ref.] 6,24

1[ref.] 12,47

0,90

0,90

1,34

434,35

434,35

115,96

0,40

0,40

0,03*

ICC: intervalo de confiança; IM: incoordenação motora; OD: oddis-ratio; * diferença estatística significativa.

Verificou-se que entre as variáveis analisadas por meio da regressão multivariada,

apenas a variável Interferência da doença na vida mostrou-se significativa. Assim, aqueles

pacientes que avaliaram que a doença interfere de forma significativa em suas vidas

apresentaram 12,4 vezes mais chances de desenvolverem qualquer transtorno psiquiátrico.

Page 45: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 44

Na Tabela 12, estão apresentados os resultados da análise de regressão logística

univariada, considerando-se a depressão atual como variável desfecho.

Tabela 12 - Estimativa do parâmetro de regressão logística univariada, considerando a variável depressão atual como desfecho.

Variável

OD

ICC 95%

p-valor Inferior Superior

Regressão

Univariada

Renda (em Reais)

Tempo de doença (em anos)

Alteração da deglutição Não Sim

Antecedentes psiquiátricos pessoais Não Sim

0,60

1,09

1[ref.] 7,12

1[ref.] 5,06

0,35

0,99

0,83

1,05

1,02

1,21

61,28

24,39

0,06

0,09

0,07

0,04*

ICC:Intervalo de confiança; OD: oddis-ratio; * diferença estatística significativa.

Ao se considerar como variável desfecho a depressão atual, observou-se que não

foram encontradas variáveis preditoras, uma vez que a variável antecedentes psiquiátricos

pessoais, como referido anteriormente, estabelece uma relação direta com a doença atual.

Na tabela 13, estão apresentados os resultados da análise de regressão univariada,

considerando-se a distimia como variável desfecho.

Page 46: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 45

Tabela 13 - Estimativa do parâmetro da regressão logística univariada, considerando a variável distimia como desfecho.

Variável

OD

ICC 95%

p-valor Inferior Superior

Regressão

Univariada

IM – Membros superiores Não Sim

Alteração da visão Não Sim

Alteração da deglutição Não Sim

Percepção da saúde atual Boa Ruim

Interferência da doença na vida Nada/ Pouco Muito

1[ref.] 3,59

1[ref.] 2,88

1[ref.] 2,83

1[ref.] 7,77

1[ref.] 14,77

0,95

0,81

0,68

1,53

0,82

13,50

10,25

11,78

39,4

267,18

0,06

0,10

0,15

0,01*

0,01* ICC: Intervalo de confiança; IM: Incoordenação Motora; * diferença estatística significativa.

A variável saúde atual mostrou-se preditora da presença de distimia. Assim, os

participantes que avaliaram sua saúde atual como ruim, apresentaram 7,77 vezes mais chances

de desenvolver distimia. Também a variável interferência da doença na vida atingiu níveis

significativos, indicando que os participantes que referiram que a doença interfere de forma

significativa em suas vidas tiveram 14,77 vezes mais chances de desenvolver distimia.

Em virtude do tamanho reduzido da amostra e ausência de pacientes diagnosticados

com distimia que avaliaram que a SCA3 não interfere de forma significativa em suas vidas,

necessitou-se utilizar para a estimativa do odds ratios a aproximação de Woolf e, em função

disso, não foi possível realizar a regressão multivariada. (WOOLF, 1955).

Por meio de análise de correlação, através do método de Spearman, verificou-se outras

possíveis associações entre as variáveis clínicas estudadas. Encontrou-se apenas correlação

negativa de magnitude estimada em 0,55, considerada de força moderada/forte entre as

variáveis maior expansão CAG e início da SCA3 (p<0,0001), conforme ilustrado na Figura 4.

Page 47: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Resultados | 46

(início da SCA3: em anos; ExpMaior: tamanho da expansão CAG).

Figura 4 - Correlação entre as variáveis Maior expansão CAG e idade de início da SCA3 (N=53).

Assim, observou-se que quanto menor foi a idade de início da doença, ou seja, quanto

mais precoce a manifestação da doença, maior foi o aumento da maior expansão CAG.

Page 48: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 47

5 DISCUSSÃO

Este trabalho teve por objetivo avaliar a prevalência dos diferentes transtornos

psiquiátricos do Eixo I em pacientes com SCA3, observando, ainda, se esta possível

associação poderia estar relacionada às variáveis clínicas, sociodemográficas e/ou à mutação

genética subjacente a doença.

No campo das doenças neurológicas, os transtornos psiquiátricos são muito frequentes,

destacando-se, entre estes, os sintomas de humor depressivo, cuja prevalência é estimada em

cerca de metade dos pacientes com acidente vascular cerebral, doença de Parkinson, epilepsia

recorrente e esclerose múltipla (SINANOVIC, 2012). As razões para o desenvolvimento dos

transtornos mentais nesses pacientes têm sido cada vez mais estudadas, levando-se em

consideração as alterações cerebrais oriundas desses quadros, as alterações genéticas que

muitas vezes os determinam (como no caso de Huntington e das SCA) e os múltiplos

problemas ambientais e sociais enfrentados por estes indivíduos.

Assim como em outras doenças neurodegenerativas, as SCA cursam com importantes

perdas de habilidades cotidianas, impondo severas restrições aos pacientes e comprometendo

drasticamente sua qualidade de vida. Esses fatores podem estar relacionados ao surgimento de

comorbidades psiquiátricas neste grupo de pacientes, principalmente relacionadas às

alterações de humor (LÓPEZ-BATISTA et al., 2007; SCHMITZ-HÜBSCH et al., 2010).

Para avaliação das comorbidades psiquiátricas, tomou-se como fonte amostral o banco

de dados do Ambulatório de Neurogenética do HC-FMRP que atende pacientes de diferentes

cidades e estados brasileiros. A amostra foi composta por pacientes consideravelmente

sintomáticos e que, em sua maioria, já conviviam com os limites e com as restrições impostas

pela doença há aproximadamente dez anos. Os principais sintomas apresentados pelos

pacientes foram, em ordem decrescente de frequência, alterações nos membros inferiores, na

fala, na deglutição, nos membros superiores e na visão, sendo o último entendido como

diplopia.

De todos estes sintomas, em sua maioria característicos da doença, um aspecto chama

à atenção: a alta prevalência de diplopia, uma vez que tal alteração não é considerada

específica em SCA3. Segundo Subramony (2012), as alterações oculares mais características

para este subtipo de ataxia são a oftalmoplegia e a lentidão sacádica. Uma possível explicação

para tanto pode estar associada à forma de coleta de dados, na qual o aplicador “apresentou” o

sintoma e o sujeito respondeu “sim” ou “não”. Acredita-se que uma consulta direta ao

Page 49: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 48

prontuário, confrontando os dados auto referidos pelo paciente teria sido de valia, podendo

oferecer dados mais fidedignos, avaliados sob a perspectiva clínica. Contudo, esta manobra

não foi utilizada, pois para boa parte dos pacientes a última consulta anotada em prontuário

havia acontecido há muito tempo, já que, como referido quando da escolha pelo método de

coleta de dados por telefone, muitos pacientes não faziam seguimento no serviço. Portanto, a

condição clínica avaliada na ocasião da consulta poderia não refletir o momento atual. A auto

percepção do sujeito sobre sua condição clínica atual foi uma forma de homogeneizar os

dados.

Quanto à prevalência dos transtornos psiquiátricos, a partir da análise dos resultados

obtidos por meio da SCID-I, aproximadamente metade dos pacientes com SCA3 (49%) foram

diagnosticados com algum transtorno psiquiátrico, com grande predomínio dos transtornos de

humor (45,2%), dentre os quais se destacou o transtorno distímico (26,2%) e a depressão atual

(18,7%). Outros diagnósticos psiquiátricos foram encontrados neste estudo, como transtorno

afetivo bipolar (1,8%), abuso de substância (3,7%) e transtorno de ansiedade (fobia simples)

(3,7%). Destaca-se, assim, a presença considerável de transtorno de humor, uma vez que os

demais diagnósticos de transtornos mentais apresentaram taxa de prevalência semelhante ou

mesmo inferior às encontradas na população brasileira (ANDRADE et al., 2012).

Considerando-se que os estudos envolvendo exclusivamente a SCA3 e outros

transtornos psiquiátricos- exceto os de humor- não são de nosso conhecimento, focar-se-á a

discussão nos aspectos ligados aos transtornos de humor.

A presença significativa de alterações de afeto de ordem depressiva, neste estudo, está

em concordância com estudos anteriores que apontaram para a presença significativa destes

sintomas em pacientes com SCA3, utilizando em sua maioria diferentes escalas de

rastreamento de sinais e sintomas (KAWAI et al., 2004; BRAGA-NETO et al., 2011;

ALMEIDA-SILVA et al., 2013).

Estudos clínicos que utilizaram uma mesma escala de rastreamento sinais e sintomas

encontraram indicadores de depressão moderada/severa que variaram consideravelmente,

entre 13% e 67% (ZAWACKI et al., 2002; CECCHIN et al., 2007; KLINKE et al., 2010).

Cabe ressaltar que estas escalas, embora versáteis e de simples aplicação, apresentam limites

importantes, pois dependem exclusivamente da auto percepção do sujeito, o qual, muitas

vezes, não está apto para considerar a sobreposição de sintomas psiquiátricos e clínicos.

Assim, nenhum estudo com SCA3 foi conduzido utilizando-se de entrevista diagnóstica, o

que não permite que comparações diretas sejam feitas.

Page 50: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 49

Até o momento, ainda há poucas investigações quanto aos indicadores depressivos em

outros tipos de SCA com a mesma mutação que o tipo 3 (SCApolyQ) (ALMEIDA-SILVA et

al., 2013). McMurtray et al. (2006), encontraram mais queixas depressivas (e não sintomas)

em pacientes com SCA3 (60%) que naqueles pacientes com SCA1 (25%), SCA2 (23%) e

SCA6 (27%). Em contrapartida, Klinke et al. (2010), obtiveram achados diferentes

comparando os mesmo tipos de SCA quanto à sintomatologia depressiva, de maneira que os

pacientes com SCA1 e SCA6 mostraram mais humor deprimido que os pacientes com SCA3

e o grupo controle.

Embora com uma manifestação clínica diferente da SCA3, mas com impactos na

qualidade de vida similares, alguns estudos investigando pacientes com SCA2 no que diz

respeito à sintomatologia depressiva apontaram para ausência de diferenças significativas com

relação à população geral (GAMBARDELLA et al., 1998; LE PIRA et al., 2002; KLINKE et

al., 2010). Entretanto, o estudo de Reynaldo-Armiñán et al. (2002), realizado por meio de

entrevista diagnóstica, apontou que entre os pacientes com SCA2 houve predomínio dos

transtornos de ajustamento com humor depressivo e ideação suicida, transtornos do sono e

transtornos de humor. Neste grupo, a porcentagem de pacientes diagnosticados com

transtorno distímico foi quatro vezes menor do que a encontrada nos pacientes com SCA3 no

presente estudo. Já para o transtorno depressivo maior, a diferença foi menor (SCA2 10% vs.

SCA3 18,7%).

Deste modo, o limitado número de estudos e os achados contraditórios, não permite

ainda concluir se há de fato maior prevalência de alterações de humor nos pacientes com

SCA3 em relação aos outros subtipos. Porém, é possível evidenciar que independentemente

do subtipo, no grupo de SCA, tal prevalência parece ser superior à da população geral.

Do mesmo modo, observa-se um aumento da prevalência de transtornos de humor em

outros grupos de doenças neurológicas crônicas e degenerativas. Na doença de Huntington,

também causada em virtude da mutação envolvendo a glutamina em outra parte do DNA, a

presença de transtornos psiquiátricos foi avaliada por Vassos et al. (2008), utilizando a SCID-

I, através da qual foi encontrada prevalência de 47,2% de transtorno de humor, valor muito

similar ao encontrado neste estudo para SCA3. Entretanto, observa-se uma diferença nos tipos

de transtornos de humor encontrados para os pacientes com Huntington, cuja sintomatologia

divide-se entre transtorno depressivo maior (44,4%) e transtorno afetivo bipolar (2,7%). Os

transtornos de ansiedade e psicótico, também foram encontrados para os pacientes com

Huntington, com prevalência idêntica de 16,7%, para ambos os diagnósticos (VASSOS et al.,

2008).

Page 51: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 50

Comparando-se com os pacientes de SCA3, os pacientes com Huntington têm

aproximadamente quatro vezes mais transtorno de ansiedade e consideravelmente mais

transtorno psicótico, cujo diagnóstico não foi identificado nos pacientes com SCA3. Cabe

ressaltar que, no caso da doença de Huntington, com frequência, o episódio de humor precede

a demência e os movimentos coreiformes (FOLSTEIN et al., 1983).

Em 2002, Leroi et al., também utilizando-se da SCID-I, encontraram 67,7% de

prevalência de depressão, índice duas vezes maior que o evidenciado nos pacientes com

SCA3 neste estudo. Um aumento semelhante foi encontrado na esclerose múltipla, cuja

prevalência de depressão ao longo da vida é estimada em cerca de 50% (SCHUBERT et al.,

1993; SADOVNICK et al., 1996).

Deste modo, esses dados da literatura e do presente estudo permitem concluir que a

prevalência de transtornos de humor nas doenças em questão é maior que na população geral,

considerando como referência um estudo recentemente realizado no Brasil, de cunho

epidemiológico, cuja prevalência de transtorno de humor foi de 11% (ANDRADE et al.,

2012). Esse aumento se mantém, ainda que se considere apenas a prevalência do episódio

depressivo maior, estimada entre 5,5% e 14,6% (considerando países de renda alta, média ou

baixa) ao longo de um ano (BROMET et al., 2011).

Ressalta-se que em comparação com o estudo realizado por Andrade et al. (2012), este

estudo apresentou uma taxa quatro vezes maior de transtorno de humor, com destaque para

distimia, caracterizada pela presença de humor depressivo crônico ao logo de pelo menos dois

anos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1994), cuja taxa chega a ser 20 vezes

maior no grupo de pacientes SCA3 e para o transtorno depressivo, aproximadamente duas

vezes mais prevalente no grupo de pacientes SCA3.

Diante dos altos índices de transtorno de humor encontrados nestes grupos de

pacientes, algumas hipóteses têm sido testadas, enfatizando ora o aspecto genético, ora o

orgânico, considerando as conexões nervosas em processo de degeneração e/ou os aspectos

reacionais, tendo em vista as perdas na qualidade de vida desencadeadas por estas doenças.

Sadovnick et al. (1996), chegaram à conclusão de que os altos índices de depressão

encontrados nos pacientes com esclerose múltipla não parecem ter uma base genética clara.

Isso porque, encontraram um maior risco de desenvolver depressão em familiares de primeiro

grau de pacientes deprimidos e sem esclerose múltipla, do que em familiares de pacientes com

esclerose múltipla independentemente da presença ou ausência do transtorno depressivo

nesses pacientes. Feinstein (2011), apontou o caráter complexo da depressão encontrada na

esclerose múltipla, uma vez que pacientes com o mesmo tempo de duração da doença têm

Page 52: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 51

diferentes curso e taxas de recaída para o transtorno depressivo. O autor observa ainda, que as

teorias com base em aspectos biológicos ou psicológicos devem ser admitidas como

complementares e não excludentes.

No caso da doença de Parkinson, algumas hipóteses para compreender a

sintomatologia depressiva têm sido exploradas, lançando luz sobre as possíveis bases

orgânicas compartilhadas por aquelas patologias. Em 2001, Nilsson et al. encontraram um

risco aumentado para o desenvolvimento de Parkinson em pacientes previamente

diagnosticados com transtorno afetivo em comparação com pacientes diagnosticados com

osteoartrite e diabetes. Em 2003, o estudo de Leentjens et al. também apontou para o caráter

preditivo da sintomatologia depressiva em indivíduos que desenvolveram Parkinson. Tais

estudos oferecem um modelo interessante de investigação da associação entre os transtornos

mentais que acompanham as doenças neurológicos, fornecendo importantes parâmetros para

se conhecer melhor a natureza das alterações encontradas na SCA3.

Em relação à doença de Huntington, as explicações para a origem da sintomatologia

depressiva tendem a levar em consideração aspectos ambientais como o processo de

ajustamento a uma doença terminal e o enfrentamento diante das perdas desencadeadas pela

doença. Além disso, muitos estudiosos da área também apontam que os circuitos frontais e

subcorticais envolvidos no processo degenerativo aumentam a vulnerabilidade destes

pacientes, predispondo-os cada vez mais para o desenvolvimento dos sintomas depressivos

(PAULSEN et al., 2005).

Até o momento, a dúvida relativa às teorias construídas para justificar a alta

associação entre as alterações de humor e a SCA3, se orgânicas ou reativas as perdas

inerentes à evolução da doença, ainda permanece, com estudos embasando ambas as posições

(ZAWACKI et al., 2002; MCMURTRAY et al., 2006; CECCHIN et al., 2007; SCHMITZ-

HÜBSCH et al., 2011). Assim, na tentativa de se verificarem explicações para o aumento da

prevalência de transtornos psiquiátricos nos pacientes com SCA3, buscou-se testar a hipótese

de que, do mesmo modo como a severidade da doença está ligada ao tamanho da expansão

CAG mutante, também poderia haver uma relação entre o tamanho da expansão e o aumento

da prevalência dos transtornos mentais nesse grupo de pacientes. Essa hipótese embasou-se no

fato de que, algumas doenças geneticamente determinadas apresentam um fenótipo mais

característico no que diz respeito à suscetibilidade para desenvolver doenças psiquiátricas,

como acontece, por exemplo, na síndrome de Kleinefelter, que mesmo por mecanismos ainda

desconhecidos, predispõe indivíduos portadores a distúrbios psiquiátricos depressivos e

psicóticos (SAVIC, 2012).

Page 53: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 52

No caso dos pacientes com SCA3, entretanto, a hipótese genética não foi confirmada,

tendo em vista a ausência de relação entre o tamanho da expansão e os sintomas psiquiátricos,

sobretudo os de humor, evidenciados por este estudo. Nos trabalhos de McMurtray et al.

(2006) e Cecchin et al. (2007) também não foi estabelecida uma associação entre o tamanho

da expansão CAG e os aspectos neuropsiquiátricos avaliados. Do mesmo modo, para a doença

de Huntington, o tamanho da expansão mutante CAG não está relacionado aos sintomas

psiquiátricos evidenciados neste grupo de pacientes (ANDERSON et al., 2001).

Tendo em vista a perspectiva orgânica das alterações de humor que podem estar

subjacentes ao processo degenerativo desencadeado pela doença neurológica, Orsi et al.

(2011), avaliando conjuntamente pacientes com os tipos 1, 2, 6, e 8 de SCA, encontraram um

grau similar de sintomas depressivos para pacientes em diferentes estágios da doença. Para os

autores, tal fator contribui com a hipótese de que as alterações de humor sofridas por estes

pacientes seriam resultantes da degeneração neural patológica, ou seja, um aspecto intrínseco

da doença.

No estudo de Leroi et al. (2002), foram encontradas altas taxas de psicopatologia entre

os pacientes com doença cerebelar degenerativa em comparação ao grupo controle, formado

por cuidadores e membros da família que não estivessem em risco genético para a doença

neurológica e que estavam expostos ao estresse psicológico de acompanhar os doentes. Para

os autores, a maior prevalência de psicopatologia no grupo de pacientes também seria

evidência da ligação entre a patologia cerebelar e a ocorrência de transtornos mentais.

Com relação a outras doenças neurodegenerativas como Huntington, existem fortes

indícios de que a depressão associada seria mais um aspecto ligado às alterações cerebrais

desencadeadas pela doença, ao se considerar que o início dos sintomas depressivos pode

preceder as anomalias neurológicas em muitos anos (ANDERSON et al., 2001).

Além disso, estudos envolvendo exames de imagens em pacientes com doença de

Huntington, Parkinson e Epilepsia do lobo temporal têm apontado para alterações nos

circuitos corticais e subcorticais, que parecem compartilhar uma patofisiologia de disfunção

cerebral comum às desordens afetivas (MAYBERG et al., 1994; ANDERSON et al., 2001;

VALENTE e BUSSATTO-FILHO, 2013). No caso da SCA3, o fato do processo degenerativo

atingir, não exclusivamente, mas de forma mais pronunciada, o cerebelo, lança mais um

aspecto importante a ser marcado, considerando que estudos mais recentes apontam o papel

regulador dessa estrutura nas emoções e, consequentemente, nos transtornos psiquiátricos

(BALDAÇARA et al., 2008; WOLF et al., 2009).

Page 54: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 53

Destaca-se, por outro lado, um aspecto interessante evidenciado no estudo de Cecchin

et al. (2007), ao comparar pacientes com SCA3 e com esclerose múltipla quanto à

sintomatologia depressiva e ao grau de prejuízos físicos. No estudo, foi constatado que, não

obstante os pacientes com esclerose múltipla tivessem sinalizado maior sintomatologia

depressiva, obtiveram menores índices de incapacidade física que os pacientes com SCA3 e

que o grau de prejuízos físicos não estava associado à sintomatologia depressiva na esclerose

múltipla, embora estivesse na SCA3. Esse achado, no que se refere à SCA3, evidenciou outra

hipótese que deve ser considerada: a possibilidade de que o intenso impacto do processo

degenerativo na vida dos pacientes com SCA3 favoreça o desenvolvimento de transtornos de

ajustamento para estes pacientes.

No que diz respeito a este estudo, buscou-se identificar variáveis sociais e clínicas que

pudessem diferenciar os grupos de pacientes com e sem transtornos de humor e que tivessem

valor preditivo. Para as variáveis clínicas, observou-se uma tendência no sentido dos

pacientes que relataram mais alteração na deglutição, apresentarem maior prevalência de

episódio depressivo. Outra variável clínica que parece se relacionar com o transtorno de

humor foi a incoordenação motora dos membros superiores, que teve uma tendência a estar

aumentada no grupo de pacientes com distimia.

Um fator que se sobressaiu no presente estudo é o de que as variáveis que

despontaram como preditoras para os diagnósticos psiquiátricos estão intimamente

relacionadas à auto percepção dos pacientes sobre o impacto da doença em suas vidas. Nesse

sentido, os pacientes que sentiram mais a interferência negativa da SCA3 em seu cotidiano

tiveram cerca de 12 a 14 vezes mais chances de desenvolverem qualquer transtorno

psiquiátrico e distimia, respectivamente, em relação àqueles que não tinham tal percepção.

Assim como, os pacientes que relataram ter uma percepção da saúde negativa tiveram, cerca

de sete vezes mais chances de desenvolverem distimia. Estes fatores parecem favorecer a

hipótese de que a alteração de humor encontrada predominantemente nesta amostra seria uma

resposta reativa às limitações impostas pela evolução da doença na vida destes pacientes.

Outros estudos oferecem indícios a este achado de que a sintomatologia depressiva

seria, então, um aspecto mais reativo frente às limitações físicas impostas com o avanço do

processo degenerativo. Os achados de Schmitz-Hübsch et al. (2011) apontaram para uma

relação direta entre o progresso da sintomatologia clínica e o aumento do risco para depressão

em pacientes com diferentes tipos de SCA. Silva et al. (2010), realizando um trabalho

interventivo com terapia ocupacional, constataram que os escores de depressão, medidos por

meio da escala Hamilton Rating Scale for Depression, melhoravam em pacientes com SCA3

Page 55: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 54

submetidos a sessões de terapia ocupacional, cujo objetivo era promover maior adaptação e

independência para os pacientes.

Diante do exposto e dos achados deste estudo, parece ainda não ser possível concluir a

respeito da etiologia dos transtornos de humor nos pacientes com SCA3. As hipóteses que

associam o avanço do processo degenerativo em regiões ou em conexões cerebrais como

fatores que predisporiam o aparecimento de transtornos de humor em pacientes com SCA3,

bem como aquelas que entendem o aparecimento de tal sintomatologia como uma resposta

emocional reativa, frente aos entraves colocados na vida deste pacientes, têm sustentação

teórica prévia na literatura. No presente estudo, a segunda hipótese despontou como principal.

Entretanto, com o objetivo de testar a primeira hipótese, estudos envolvendo exames de

imagem poderiam contribuir substancialmente para lançar novos conhecimentos sobre a

questão das alterações cerebrais desencadeadas pela doença e o desenvolvimento dos

transtornos de humor.

Independentemente dessa lacuna que ainda é observada no estágio atual do

conhecimento relativo à área, vale a pena ressaltar que dos 26 pacientes diagnosticados com

algum transtorno psiquiátrico através da SCID-I, apenas oito já sabiam do diagnóstico e

faziam tratamento, de maneira que 70% dos pacientes diagnosticados com transtorno

psiquiátrico desconheciam seu diagnóstico e consequentemente a possibilidade de tratamento.

Tal aspecto tem particular importância, pois aponta para o sub-reconhecimento dos

transtornos mentais neste grupo clínico e para a necessidade de um acompanhamento clínico

que leve em consideração o fator psiquiátrico, tanto no âmbito do diagnóstico, tratando a

psicopatologia já instalada, como em caráter preventivo, de maneira a atenuar o impacto da

doença na qualidade de vida destes pacientes.

Para finalizar, alguns limites podem ser evidenciados neste estudo e devem ser

observados nas pesquisas futuras. A amostra muito pequena e não estimada estatisticamente

de pacientes com SCA3 não permite que tais dados possam ser generalizados de forma ampla.

Além disso, um desenho metodológico diferente, que contemplasse a comparação de grupos,

envolvendo uma amostra de indivíduos saudáveis para condições neurológicas e psiquiátricas,

teria possibilitado achados mais específicos. O fato de o estudo ter contado com apenas um

avaliador, ainda que treinado para utilização da SCID-I, pode levantar dúvidas com relação à

confiabilidade dos resultados.

Outro aspecto importante a ser considerado é que, embora a SCID-I aplicada via

telefone seja uma metodologia validada, que aumentou as chances de aderência dos

participantes ao estudo, não substitui completamente a avaliação presencial, cujo contato

Page 56: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Discussão | 55

favorece uma avaliação mais apurada e perceptiva. O fator presencial da avaliação também

seria importante para que outras variáveis clínicas pudessem ser melhor caracterizadas,

reduzindo-se os vieses com relação a essas variáveis que foram colhidas de maneira auto

referida, a exemplo, a severidade dos sintomas clínicos, cujos parâmetros variam segundo a

forma como cada informante percebe e lida com seus limites. No mesmo sentido, teria sido

importante o uso de escalas de avaliação do grau de ataxia e outros sintomas, de maneira a se

obter uma caracterização mais precisa e padronizada dos estágios de evolução da doença entre

os pacientes.

Page 57: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Conclusões | 56

6 CONCLUSÕES

A SCA3 pertence a um grupo de doenças neurodegenerativas de etiologia genética e

com padrão de hereditariedade autossômico dominante. Embora de início tardio, a SCA3

cursa com importantes prejuízos para a vida de seus portadores e, até o momento, ainda não

foi estabelecido nenhum tratamento específico. Neste estudo, não foi identificada uma

associação entre o tamanho da expansão CAG mutante e a presença de transtornos

psiquiátricos de qualquer natureza.

Observou-se, contudo, que estes pacientes apresentam uma alta prevalência de

transtornos psiquiátricos, com destaque para os transtornos de humor. Nesse sentido, o

presente estudo apresenta uma contribuição inédita ao avaliar os diferentes transtornos

psiquiátricos, não se restringindo aos do espectro depressivo e ansioso e utilizando a SCID-I

que permite a identificação de transtornos e não de sinas/ sintomas. Com isso, acredita-se que

um panorama mais realista deste contexto foi traçado.

Assim, os resultados do estudo fortaleceram as evidências prévias de que a presença

dos transtornos de humor, principalmente de ordem depressiva, está mais relacionada ao

impacto da evolução da SCA3 na vida destes pacientes que à alteração genética subjacente à

ataxia.

Page 58: UANDA CRISTINA ALMEIDA SILVA - University of São Paulo

Referências Bibliográficas | 57

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Apêndices | 65

APÊNDICES

APÊNDICE A – Questionário de Identificação

No..........................

QUESTIONÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO

Nome: ..........................................................................................................................................................

RG: ..............................................................................................................................................................

Data nascimento: .................................................................. Idade: ........................................................

Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

Escolaridade: ...............................................................................................................................................

Atividade profissional: ( ) Não ( ) Sim Qual: .................................................................................

Renda Familiar: ...........................................................................................................................................

Data Início Doença – SCA3: .......................................................................................................................

Sintomas da doença: ∗ Deambula ( ) Sim ( )Não

∗Incoordenação motora MS ( ) Sim ( )Não

∗Incoordenação motora MI ( ) Sim ( )Não

∗Alteração fala ( ) Sim ( )Não

∗Alteração visão ( ) Sim ( )Não

∗Alteração deglutição ( ) Sim ( )Não

Antecedentes psiquiátricos: ( ) Não ( ) Sim Qual: .........................................................................

Tratamento psiquiátrico: ( ) Não ( ) Sim Qual: ..............................................................................

Antecedentes psiquiátricos familiares: ( ) Não ( ) Sim Quem/ qual .............................................

Como você avalia a sua saúde hoje? ( ) muito boa ( ) boa ( ) ruim ( ) muito ruim

Quanto você acha que seu problema de saúde atrapalha a sua vida? ( ) nada ( ) um pouco

( ) mais ou menos ( ) muito

Medicações em Uso: ...................................................................................................................................

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Anexos | 66

ANEXOS

ANEXO A – Carta de aceite do Comitê de Ética em Pesquisa HCRP e FMRP-USP

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Anexos | 67

ANEXO B – Artigo publicado.

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Anexos | 68

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Anexos | 69

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Anexos | 71

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Anexos | 72

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Anexos | 73

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Anexos | 74

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Anexos | 75

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