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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PALMAS CURSO DE ENGENHARIA CIVIL METODOLOGIA CIENTÍFICA Prof. JOSÉ VANDILO DOS SANTOS Doutor em História Social - UFRJ Mestre em Sociologia - UFPB

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINSCENTRO UNIVERSITÁRIO DE PALMAS

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

METODOLOGIA CIENTÍFICA

Prof. JOSÉ VANDILO DOS SANTOSDoutor em História Social - UFRJ

Mestre em Sociologia - UFPB

PALMAS – TO.

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SUMÁRIO

Apresentação

Plano de curso

1 – Educação pela pesquisa

2 – Estudando metodologia científica

3 - Os níveis e tipos de pesquisa científica

4 - 5 - Algumas formas do conhecimento e a ciência

6 - Análise quantitativa e análise qualitativa

7 - Técnicas de pesquisa

8 - Citações

9 - Os paradigmas da ciência clássica

10 - O método científico

11 - Texto complementar

12 - O projeto de pesquisa

13 - Atividades

Anexos

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APRESENTAÇÃO

Prezado (a) acadêmico (a)

Esta apostila surgiu da necessidade de um material básico para se

trabalhar em sala de aula no qual o aluno encontre o conteúdo numa linguagem

simples e de fácil compreensão, auxiliando-o na discussão das questões

pertinentes à metodologia científica.

Primeiramente, encontramos um texto sobre a importância da pesquisa na

universidade tanto por parte dos alunos como dos professores, depois

apresentamos os conceitos de metodologia, conhecimento, os tipos de

conhecimentos destacando o conhecimento científico, tendo em vista a sua

importância especial para a construção do saber na academia.

Em seguida, abordamos os vários tipos de produção cientifica, tais como:

artigos, resenhas, relatórios, fichas e resumos, como também o enquadramento

da Contabilidade no âmbito da ciência.

Por último, serão apresentadas as normas da ABNT - imprescindíveis a

construção de um texto científico - os tipos de pesquisa e as etapas de um projeto

de pesquisa.

Os conceitos fundamentais da metodologia serão tratados de acordo com

a realidade do curso, direcionando para a especificidade da pesquisa em cada

campo de estudo.

Espero que o aluno consiga aproveitar este material como fonte de

pesquisa e análise, e a partir dele aprofunde seus conhecimentos com

tranquilidade e segurança.

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PLANO DE CURSO

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Instituição: Universidade Federal do Tocantins

Curso: Engenharia Civil

Disciplina: Metodologia Científica Professor: José Vandilo dos Santos

Código: Carga Horária: 30 Créditos: 04

Pré-requisito(s): -

Período/Turno: 2º - Matutino Ano: 2013/2

2. EMENTA

- Instrumentalização teórica, técnica e crítica para a elaboração de projetos de pesquisa, monografias e outros trabalhos acadêmicos, para o aluno capacitar-se na apropriação e reelaboração do conhecimento nos respectivos cursos de forma interdisciplinar.

-

3. OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA

- Propiciar aos estudantes a oportunidade de discutir e conhecer as normas e técnicas de

pesquisas para que possam adquirir condições objetivas para a realização de um trabalho

científico.

4. OBJETIVO(S) ESPECÍFICO(S) DA DISCIPLINA

- Entender como é construído o conhecimento cientifico;

- Observar a contabilidade dentro do quadro das ciências;

- Identificar os métodos e técnicas específicos para cada tipo de projeto científico;

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5. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO1. Conceitos fundamentais sobre método e metodologia1.1 - Conhecimento científico e outras formas de conhecimento;1.2 - Conceito, classificação e divisão da ciência; 1.3 - Educação pela pesquisa1.4 - Enquadramento da contabilidade no âmbito da ciência;1.5 - Métodos científicos. 2. Procedimentos técnicos e didáticos2.1 - Técnicas de estudo e apresentação de trabalho;2.2 - Diretrizes para realização de um seminário;2.3 - Normas técnicas da ABNT.2.4 - Tipos de pesquisa:análise quantitativa e qualitativa3.Trabalhos científicos3.1 - Fichamento, resumo, artigo, papper, resenha, relatório e ensaio científico;3.2 - Monografia, dissertação e tese.4. Projeto de pesquisa4.1 - Classificação – os tipos de projetos;4.2 - Formulação de problemas, objetivos e hipóteses;4.3 - Coleta, análise e interpretação de dados.

5. Temas de seminários1. Aprendendo a ser pesquisador2. Questões de metodologia do ensino superior 3. Organizando atividades cientificas. 4. O que é plágio?5. Por que acontece plágio?6. Tipos de plágio no âmbito educacional7. Como o plágio pode ser evitado?8. Nem tudo é plágio9. História de vida10. História oral

6. Filmografia5.1 – Narradores de Javé5.2 – Oléo de Lourenzo5.3 – Trabalhando com projetos5.4 – Alexandria5.5 – O nome da rosa5.6 – Em nome de Deus

6. METODOLOGIA DO TRABALHO

- Os conteúdos serão ministrados através de aulas expositivas e de leituras, trabalhos de grupos e dinâmicas interacionais.

7. SISTEMA DE AVALIAÇÃO

– Serão objetos de avaliação as atividades de produção textual, participação em debates, provas escritas, além das habilidades, dos conhecimentos e atitudes desenvolvidas pelos acadêmicos de acordo com os objetivos da disciplina.

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8. ATENDIMENTO EXTRACLASSE

- As quartas-feiras das 19:00 as 22:00h – Disponível para tirar dúvidas e orientação.

9. BIBLIOGRAFIA

9.1 Básica

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.______. Como elaborar Projetos de Pesquisa.4.ed. São Paulo: Atlas, 2006.SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho cientifico. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2002.

9.2 Complementar

DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1995.FILHO, Geraldo Inácio. A monografia nos cursos de graduação.3.ed. Uberlânia-MG:EDUFU, 2003.MARION, José Carlos; DIAS, Reinaldo; TRALDI, Maria Cristina. Monografia para os cursos de administração, contabilidade e economia. São Paulo: Atlas, 2002.SANTOS, J. Vandilo. Caderno de Metodologia. Palmas: UFT, 2010.SILVA, Antonio Carlos Ribeiro da.Metodologia da pesquisa aplicada à contabilidade. São Paulo:Atlas, 2003.

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1. Educação pela pesquisaSávio Cordeiro1

Ninguém pode indagar aquilo que sabe, nem o que não sabe; por que não investigaria o que sabe, pois já o sabe, nem o que não sabe, pois nem ao menos saberia o que deve indagar. Zenon de Élea por Platão

1.1- Eficiência nos estudos do aluno pesquisadorO aluno recém-chegado na universidade se depara com uma realidade

completamente nova. Diferentemente dos cursos de 1º e 2º graus, aos quais ele

estivera acostumado. Nessa nova etapa de formação não existe a rigidez de

horários ou a preocupação dos professores em que os alunos que sentem mais

dificuldade de assimilação acompanhem o repasse de conteúdos.

A liberdade oferecida pelos cursos de nível superior, muitas vezes é mal

interpretada pelo aluno calouro. Chegar ao final da aula apenas para “dar

presença”, deixar que os companheiros “mais interessados” desenvolvam os

trabalhos de grupo são atitudes comuns dos estudantes, mas revelam com clareza

o extremo despreparo com que esses enfrentam a universidade.

Segundo Galliano (1986: 51), o nível de despreparo moral e intelectual de

estudantes ao ingressar na universidade é o maior fator de desestimulo e inibição

para muitos deles, inclusive é uma das maiores causas de desistência. Embora

seja um fator relevante, a utilização do método correto de estudo é um problema

cuja solução cabe exclusivamente a quem estuda. Seria bastante oportuno que tal

metodologia fosse conhecida pelo estudante já nos primeiros anos de estudo

primário, o que poderia favorecer o aprendizado e a assimilação mais satisfatória

de conteúdos.

Cada etapa de aprendizado constitui uma parte do esboço do profissional

que o aluno será no futuro, ao concluir o curso. Dessa forma, alunos despreocupados e desinteressados dão lugar a profissionais vazios de conteúdo e de ação, inadequados ao mercado de trabalho por se fazerem incompetentes. O desenvolvimento do aprendizado dentro da universidade vai

além da assistência de aulas e do estudo para obter aprovação. A realização de 1 Professor do curso de Ciências Sociais na URCA – Universidade Regional do Cariri – Crato-Ce., 1999.

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atividades práticas como a pesquisa e o aprofundamento da leitura são também

fatores que garantem o adequado aproveitamento do tempo dedicado à

universidade. Encarar o Curso como instrumento insubstituível para a formação profissional, com rigor e disciplina é condiçãosinequa non para garantir o sucesso.

Para quem se aventura nos caminhos do conhecimento porém, nunca é

tarde para utilizar uma metodologia eficiente no estudo e proporcionar a absorção

adequada e necessária de conteúdos. A força de vontade e a autodisciplina são

fundamentais nesse processo.

O rendimento das horas dedicadas ao estudo depende fundamentalmente

do método utilizado para estudar. Métodos que apresentam-se eficientes para algumas disciplinas, nem sempre mostram os mesmos resultados em qualquer área. Dessa forma, existem, de fato, métodos adequados para o

desenvolvimento do estudo de acordo com a matéria. A aplicação sistemática do

método correto é que vai garantir o bom aproveitamento do estudo.

O primeiro ponto a ser levantado é a disponibilidade de tempo para o

estudo. Diante da correria do dia-a-dia, são comuns as reclamações sobre falta de

tempo para o desenvolvimento de atividade como: leitura, resumos, trabalhos

extra-classe; embora possa surpreender, é comum também a constatação de

desperdício de tempo.

Convém ao aluno observar, no desenrolar do dia, períodos de tempo

intercalados entre atividades que possam ser utilizados para esse fim, por

menores que sejam esses intervalos.

A melhor forma de se descobrir onde está o tempo perdido é listando as

atividades desenvolvidas durante a semana. É importante mencionar na lista todas

as atividades com horário de inicio e de término de cada uma delas, sem esquecer

horário dispensado para refeições, higiene, lazer, locomoção ao trabalho, etc.

Diante desse relatório, será possível encontrar alguns minutos entre atividades

que se adéqüem ao estudo e ainda, descobrir que algumas atividades não

essenciais podem ser substituídas com fins de disponibilizar mais tempo para as

atividades acadêmicas.

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O segundo ponto relevante se concentra no aproveitamento das aulas.

Embora muitos alunos menosprezem os períodos em sala de aula, ou seja, não

valorizam o papel do professor, convém ressaltar que é dentro da classe, no

contato com colegas e professores que se procede a aprendizagem sistemática. O

professor com sua metodologia de ensino, expressa em aulas cuidadosamente

preparadas, e os colegas de sala com os questionamentos paralelos entre si,

proporcionam a troca de idéias inteligentes essenciais para o enriquecimento

intelectual do aluno. Não basta, porém, estar na sala ouvindo a explanação do professor, é necessário estar concentrado, ouvir atentamente os discursos e levantar questões, participando ativamente. Após o termino da aula, uma

simples revisão do conteúdo através da leitura de anotações e procurando

respostas para as dúvidas que permanecerem, pode garantir uma absorção mais

completa, evitando o acúmulo de perguntas e a conseqüente perda do fio da

meada. Posteriormente é produtivo elaborar uma síntese como reconstrução do

conhecimento abordado.

Segundo Morgan e Deese (apud Galliano, 1986: 66), existe um método

simples, apresentado através de uma formula que tem se mostrado como pratica

de promover melhor aproveitamento no estudo e se resume em:

Examinar = PL2REm que, P = perguntar; L = ler; e 2R = repetir e rever.

Assim, diante de um livro por exemplo, a varredura mental em busca de

informações já detidas sobre o assunto abordado na obra em forma de

questionamento prévio a leitura (perguntar), se constitui por si só já um estudo. O

segundo passo é a leitura rápida (ler), procurando captar a essência da obra, a

idéia geral do autor. Uma nova reflexão deve ser feita no sentido de tentar cruzar a

idéia do autor com aquilo que já se sabia sobre o assunto. Nesse estagio já é

possível identificar o que pode ser aprendido como o estudo daquela obra. É o

aprofundamento, pois, de retornar a leitura (repetir), agora de forma mais

aprofundada e detalhada, identificando as partes mais importantes (inclusive

marcando-as) de forma a encontrar a linha de raciocínio do autor. Sempre que for

necessário, o aluno deve interromper a leitura e desenvolver considerações

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próprias questionando mentalmente as idéias e marcando de forma diferenciada

trechos que gerem dúvidas ou que se confrontem com o pensamento do leitor. O

fim do processo de leitura se dará quando não mais houver mais duvidas quanto

ao conteúdo da obra e quando for possível esboçar um resumo com as próprias

palavras (rever).Caso a obra apresente-se útil às necessidades do aluno, o procedimento de

arquivamento de conteúdo através de fichas permite que se utilize esse estudo de

forma mais eficiente e prática mais tarde. A confecção de um arquivo de leitura é

muito importante para evitar perda de tempo ao fazer referenciamentos e por

promover o desenvolvimento da objetividade, já que na confecção das fichas

clareza e concisão são requisitos indispensáveis.

Para reforçar o aprendizado convém discutir com outras pessoas sobre o assunto abordado no livro. A troca de idéias é proveitosa e suscita

novos aspectos intrínsecos à percepção e à formação cultural de cada leitor.

É importante que o leitor observe a si mesmo, como se expressa, com que

tipo de conotações verbaliza o aprendizado. Deve-se lembrar que a meta final é a

assimilação, a capacidade de compreender as colocações do autor e aprender a

relacioná-las a outros assuntos, bem como, e principalmente, formar, através da

fundamentação literária, o desenvolvimento das próprias idéias.

1.2 - O professor pesquisador

Para entendermos a importância da pesquisa científica na sociedadeé

necessário entender o papel do professor universitário na comunidade que ele

está inserido.

A universidade existe para produzir e transmitir conhecimentos, seu papel

maior é contribuir para o desenvolvimento do país, através da aplicabilidade das

pesquisas ali produzidas na solução de problemas sociais e para o progresso da

ciência. Há bastante tempo, o fluxo de riquezas entre as nações baseia-se na

capacidade científica da sua população.

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Falar do Japão ou Alemanha no pós-guerra é demasiado óbvio. Países

para lá de arrasados que buscaram seu soerguimento via educação. Com visões

de futuro melhor, chegaram ao patamar de desenvolvimento tecnológico e

qualidade de vida se encontram atualmente.

Então, pode-se situar nesse processo a “educação primaria”, constituída de

ensino infantil e ensino fundamental e a educação científica a partir da graduação

e a pós. No ensino científico, todos os professores deveriam, eticamente falando,

ser pesquisadores, pois só tem algo a ensinar quem desenvolveu conhecimento próprio, novo (DEMO, 1999). Senão, não passa de um reprodutor de idéias e fórmulas alheias. Para fazer reproduções, os meios de

comunicação fazem melhor que qualquer um.

Por que então a pesquisa é tão essencial?

Simplesmente porque só a pesquisa científica tem condições de criar

soluções tecnológicas e sociais para as necessidades humanas. Como tecnologia

parece não ser o maior problema em termos de Brasil, a carência se volta para

atitudes políticas que solucionem os graves problemas sociais. Só a pesquisa

social pode, efetivamente, elaborar teorias que transformem a sociedade, que

modifiquem as baixas condições de sobrevivência da maioria da população e

promova uma democracia econômica.

Refere-se aqui à pesquisa com compromisso político enquanto instrumento

criador e transformador, desenvolvida por pessoas engajadas no processo de

intervenção social.

Diferentemente dos países centrais (desenvolvidos), onde as empresas

financiam pesquisas universitárias; a universidade privada brasileira restringe-se

às horas-aula, venda de conhecimento, enquanto à universidade pública cabe o

compromisso com a pesquisa.

Como fazer pesquisa se as universidades públicas estão praticamente

falidas?

Cabe a comunidade universitária recuperar o papel da pesquisa. No caso

dos professores isso significa ir além de lutar por melhores salários e resistir ao

sucateamento, pressupõe buscar a realização de pesquisas formais através de

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novos caminhos de captação de recursos públicos e novas parcerias, assim como

desenvolver a pesquisa como atividade cotidiana pela qual descobrimos a

realidade e criamos formas de compreender a dinâmica social, elaborar

experiências e transmiti-las.

É possível a instauração de um projeto político que valorize a pesquisa

como condição de transformações sociais. A exemplo de conquistas em políticas

públicas, o Estado de São Paulo é um modelo. Lá, por lei um percentual razoável

da receita tributária é destinada à pesquisa.

O professor pesquisador, entretanto, pode e deve ir bem mais longe do que

lhe é esperado pelas expectativas formais. Em sua didática é possível estabelecer

uma atitude de pesquisa com fins de desenvolver nos alunos uma nova forma de

dialogar com a realidade.

1.3- Didática reconstrutiva

A inclusão de uma didática neste texto de pesquisa justifica-se na proposta

de educação pela pesquisa e está intimamente ligada à possibilidade de educação

crítica, criativa e aberta que, possivelmente, não existiria fora da pesquisa; assim

como a dimensão pesquisa está tão intrinsecamente ligada à finalidade social da

ciência, que não se conceberia a sua existência dissociada daquela. A educação

pela pesquisa pressupõe uma atitude de indagação diante a vida que passa pela

didática em sala de aula.

Partindo do principio que professores pode e devem se tornar

pesquisadores, a pesquisa cientifica seria desenvolvida através da utilização de

recursos de liberação da criatividade e formas emancipatórias de relacionamentos

com os educandos.

No estudo da metodologia de pesquisa cientifica há uma dinâmica entre

normas e conteúdos. Nos currículos universitários, tende-se preferencialmente a

enfocar as normas técnicas e os procedimentos de organização de pesquisas.

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A questão é que o predomínio da técnica não traduz qualidade. A ênfase na

técnica geralmente resulta em trabalhos medíocres porque é responsável

justamente por apenas um dos aspectos da produção científica.

O processo de fazer ciência é composto de duas partes opostas e

complementares numa relação dialética. Como uma moeda com um dos lados

voltados para a organização e o outro para a criatividade.

A criatividade é o conteúdo, do qual também faz parte a descoberta de

alternativas por meios criativos. A contribuição do pesquisador é a “coisa viva”, por

mais elementar que seja, fundamental para o progresso da ciência na sua área de

estudo.

É óbvio que criatividade sozinha também não resulta em trabalho algum. O

corpo, a lógica e a coerência indispensáveis, só são alcançados pela técnica e

organização normalizadas. A ciência é também uma arte, como arte é preciso conhecer a base técnica, mas não se pode colocar a técnica acima da arte.

Nesse sentido, podemos dizer que “a criatividade é livre, as técnicas são

rígidas”. Porém, ao mesmo tempo em que elas se opõem, uma não funciona sem

a outra (CORDEIRO, 1998, passim).

Comumente, apresentam-se relatórios de pesquisa apenas normalizados,

às vezes reduzidos a apresentação superficial de provas com recursos ilustrativos,

como fotos, gráficos e tabelas, e ausência significativa de um texto desenvolvido

sobre o objeto pesquisado, o método e a discussão dos resultados alcançados.

Trabalhos, quase sempre, desnecessariamente produzidos, floreados e

repetitivos.

No sentido de se pensar em produção científica nova, onde cada um é

capaz de realizar conhecimento útil e se realizar nessa atividade, afirma-se que

descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar algo diferente.

Para se pensar a pesquisa como atitude cotidiana em educação, fruto de

comportamento curioso e livre dos alunos, e de abertura e criatividade dos

mestres, é necessário uma expectativa e um estimulo constante para o

questionamento dos saberes estabelecidos. Refletidos em nova motivação por

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parte daqueles que não mais querem apenas “dar aulas”, e no desejo de sair da

acomodação daqueles que devem deixar de ser meros objetos de ensino,

receptáculos de conteúdos prontos. É premente se possuir uma nova visão de

pesquisa cientifica.

Essa liberação parte da compreensão que o que realmente interessa é a

pesquisa. Esta é a maior finalidade da ciência, onde o aluno-mestre pesquisador

reveste-se de uma disposição intelectual ao inédito, inicia uma abertura mental ao

imprevisível, uma susceptibilidade às idéias ousadas e que possam contribuir à

realização de novos inventos e descobertas.

A principal característica das pessoas pesquisadoras é a curiosidade. São pessoas interessantes porque se interessam por tudo. Sabem que as

novas idéias são resultado de muitas informações, sem fronteiras de assunto ou

áreas delimitadas.

Ninguém desenvolve pesquisas e pensa criativamente a partir do nada. O

pensamento tem que ser alimentado com conhecimento, informações,

experiências, relacionamentos e impressões.

A atitude de pesquisar supõe uma expectativa, que leva a procurar idéias, a

manipular conhecimento e experiência. Ao adotar uma perspectiva de pesquisa

acontece uma abertura para mais possibilidades, como também para a mudança

(OECH, 1996: 18).

É importante observar que o relatório, enquanto forma de comunicação

através do método de exposição e organização de resultados de pesquisas, tem

seu papel indispensável na comunidade científica. Sem organização, é muito fácil

perder trabalho em indefinições e não conseguir realizar nada útil, nem apresentar

nada lógico. A proposta aqui é exercitar a ampliação de horizontes e

estabelecimento de comportamento crítico, que busca o bom senso, além da

participação ativa na sociedade.

Seguramente aos alunos-mestres não cabem possibilidades de pesquisas

ilimitadas. Há carência: de material, de profissionais dispostos a colaborar, de

recursos de informática; sobretudo, carece-se de dinheiro e tempo. Contudo, é no

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reconhecimento dos limites impostos que reside a possibilidade de ação através

da criação científica em alternativas de pesquisa.

O cientista criativo é tanto capaz de fazer um trabalho como manda o figurino, formal, dentro da ordenação prevista, como é capaz de começar pelo fim, de não citar ninguém, de afirmar o contrario do que todo mundo espera, de buscar espaços ilógicos para a invenção etc. (DEMO, 1983, p. 22).

Essa contribuição produtiva, como toda arte, exige um esforço prévio na

busca e aquisição de conhecimentos fertilizantes à invenção e criação de

alternativas. O essencial é que se produza algo novo, ainda que seja uma interpretação e reconstrução do que havia sido formulado anteriormente por autores – na pesquisa teórica, que contribua com o progresso da ciência, e que

preferencialmente seja útil, no sentido de buscar melhorias de condição de vida e

trabalho para a população em geral.

Pedro Demo ressalta que no momento em que se inicia uma pesquisa

científica a sensação (normal) da primeira impressão é de perplexidade.

Não sabemos por onde começar, sobretudo se nunca nos tínhamos metido no assunto. Todavia é uma situação normal de que se julga pesquisador e não detentor de saber evidente e prévio. Pesquisador é alguém que se propõe a descobrir a realidade, supondo que nunca a sabemos satisfatoriamente, sempre há o que descobrir... (1983: 49-50)

Pesquisar nessa perspectiva significa aprender a aprender. E o

aprender aqui, refere-se ao aprendizado do mundo numa atitude de adestramento

(FREIRE, 1982: 9-10). Esse sentido de aprendizagem difere do ensino formal na

escola que é, basicamente, conceitual.

Aprender criativamente implica usar toda atenção no momento presente,

mantendo em perspectiva, ancorado, o tema de pesquisa.

Pense num bebê de oito meses. Para ele tudo é motivo de curiosidade, é

interessante e atrativo. Agora imagine alguém meditando, assistindo a vida numa

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postura igual, de total receptividade. São esses dois tipos de comportamento que

se precisa praticar para germinar idéias e descobrir novos caminhos de atuação e

reflexão: curiosidade e receptividade.Deve-se estar relaxado, receptivo, perceptivo como uma criança brincando.

Quando se brinca, não existe perde/ganha. Mesmo perdendo, se ganha sem

aprendizado. O erro não origina castigo, mas conhecimento.Nessa perspectiva, mantém-se a busca de respostas, sem compromisso de

acertar. O momento é de preparação para o desabrochar de idéias que acontece

em momentos distintos do processo criativo da pesquisa.

Para conceber algo novo, é necessário que se parta de conhecimentos

formulados anteriormente, busca-se uma grande quantidade de informações com

uma lembrança presente do problema que se está enfocando. Normalmente, as

idéias surgidas serão insights (relâmpagos) decorrentes da combinação

modificada das outras idéias.

- Fases do ato criativo:

1ª Fase Germinativa

- Definição do problema;

- Busca de informações pertinentes e afins;

- Incubação: tempo necessário para que se possa digerir e combinar os

dados livremente;

- Iluminação (insight): surgimento de novas idéias, geralmente caóticas.

2ª Fase Prática

- Seleção;

- Crítica;

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- Adequação e elaboração de idéias em propostas realizáveis.

1.4- Bloqueios ao pensamento criativo na elaboração de novas pesquisasA dificuldade comum ao pensamento criativo reside principalmente nos

bloqueios mentais originados do status quo. No sentido que é muito mais cômodo

o lugar comum, o pensamento padrão é fácil, e não discrepância ideológica e a

ausência de comportamentos desviantes obtêm aprovação (CORDEIRO, 1998 –

b: passim).

É importante ainda observar que no desenvolvimento da maioria das

atividades cotidianas não se exige criatividade. Pelo contrario, as ações rotineiras

do dia-a-dia são melhor executadas, com agilidade, quando sujeitas a um método,

porém, quando é necessário ser criativo, por força do hábito, as barreiras

interiores surgem com todas as couraças.

A esse respeito, Roger Oech (1996, passim) descreve os mais comuns

bloqueios mentais à criatividade:

“A resposta certa consiste na tendência de se procurar apenas uma e única resposta ao problema”, na realidade, em virtude da

complexidade, na pesquisa social existem várias respostas certas.

“Isso não tem lógica”. Refere-se à limitação imposta pelo tipo de

raciocínio que não entende a dualidade, os contrários opostos e

complementares em todos os fenômenos sociais e naturais.

“Siga as normas”. As normas cumprem o papel para que foram

criadas. Contudo, com o tempo, tornam-se obsoletas. A

desobediência é necessária, onde para criar, é preciso destruir.

“Seja pratico”. A exigência de se pensar com praticidade e

utilidade em todos os momentos é extremamente limitante para a

fase de germinação do pensamento. Ser prático é essencial para

“fazer as coisas acontecerem”, porém na fase inicial de criação não

deve ser considerado.

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“Evite ambigüidades”. As ambigüidades e os paradoxos são

geralmente evitados por provocarem problemas de comunicação.

Contudo, a ambigüidade é importante para criação de novas idéias.

“É proibido errar”. É óbvio que, na prática, deve-se evitar o erro,

até para não perder o emprego, morrer jovem. O que se chama

atenção aqui é a fobia de errar desenvolvida pelo sistema

educacional. No ensino infantil e no fundamental, o erro resulta em

punição e até em desrespeito. No processo criativo é preciso errar e

até dobrar a quantidade de erros. Ao se buscar idéias originais tem-

se que criticar os procedimentos usados anteriormente, testar os

pressupostos e acertar de vez em quando. Para encontrar

respostas corretas, tem-se que estar disposto a aceitar a

possibilidade de errar.

1.5 - Pressupostos ao ato criativo:

“Quem realiza o trabalho é você mesmo”, logo, para que algo

aconteça é necessário que se acredite. Acreditar para ver

acontecer e nunca ficar apensas “esperando ter condições” para

realizar algo. Enquanto na postura acomodada se desperdiça

tempo, justificando as dificuldades para realizar algo, na postura

criativa se usa o tempo buscando maneiras de fazer as coisas

acontecerem.

“Estado de espírito criativo” (sentimento, emoção, símbolos)

pode ser provocado. Logo, deve-se descobrir e utilizar recursos

para entrar nesse estado.

“erro faz parte da fase germinativa.Pelo erro sabe-se o que não

dá certo, oportunizando novas abordagens e podendo servir de

ponto de apoio para novas idéias.

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Para se criar algo novo é preciso abrir-se a uma visão crítica e contestadora da realidade que se vive. A insatisfação com o que

se apresenta alimenta a utopia dos ideais perfeitos.

A ciência é busca de solução, de mistérios, um após o outro, e

é isso que origina a criatividade na produção científica.

É necessário dedicar-se intensamente, concentrando toda

energia com entusiasmo naquilo que se deseja alcançar. Não é

supérfluo lembrar que entusiasmo,etmologicamente, significa ter os deuses em si. Desenvolver uma pesquisa com entusiasmo

é acreditar na própria capacidade de encontrar soluções para os

problemas.

1.6- Liberação da criatividadeEm síntese, são apresentadas as seguir algumas idéias a serem postas em

prática:

- A utopia – pela visão utópica chega-se a conceber situações com

respostas alternativas. A expressão “e se”, tem um papel importante aqui.

Quando se pensa em algo como o “e se” antecedente, abrem-se portas para

novas perspectivas;

- Os erros podem ser usados como pontos de referencia para outras formas

de pensar a pesquisa;

- Criar uma visão pessoal e positiva da realização do trabalho, contribui

para o seu êxito. “O poder de chegar lá, é a qualidade de estar lá;

- As metáforas são importantes instrumentos de compreensão do

funcionamento do “computador cerebral” e podem se configurar como excelente

recurso de liberação do pensamento criativo;

- O humor constitui-se num meio sem igual de superação dos bloqueios

mentais;

- Criar um “território de caça” significa partir na ofensiva de buscar

ativamente novas idéias em qualquer campo possível de descobrir-las.

Alguns “campos de caça”:

Viajar – visitar novos lugares;

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Contatar pessoas diferentes , conversar com pessoas que têm outros

valores;

Sonhar acordado;

Ler revistas científicas antigas – muitas idéias propostas em outras

épocas podem ser recicladas;

Estudar livros básicos sobre assuntos específicos;

Ler poesia apreciando as metáforas – observar as próprias

metáforas e criar muitas outras nas conversas corriqueiras;

Cinema, teatro e televisão (sem se empanturrar) podem ser

alimentos de qualidade no processo criativo, assim como ler

periódicos atuais;

Conversar não só com profissionais da área, mas com todas as

pessoas, pois no conhecimento científico, como em todas as áreas

do conhecimento humano, as descobertas muitas vezes acontecem

quando se está fora da rotina da pesquisa;

Habituar-se a ter consigo um bloco de notas e anotar todas as idéias

no momento em que surgem.

1.7- A tempestade de idéiasA tempestade de idéias é usualmente o meio de grande agilidade para se

produzir em grupo. O principio de funcionamento desse meio de provocar a

criatividade está na separação da fase de germinação de idéias da fase prática

(crítica e julgamento). O objetivo dessa prática (também conhecida por

brainstorming) é a criação de uma grande quantidade de idéias.

Na prática acontece da seguinte forma:

Junta-se um grupo de pessoas (é possível realizar a partir de duas

pessoas) em ambiente tranqüilo.

- Define-se um tema questionamento;

- Todas as pessoas dirão alguma coisa sobre o tema, uma sugestão, uma

resposta para a questão;

- Todas as coisas faladas serão anotadas tal qual foram faladas;

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- As sugestões são completamente livres;

- A única coisa proibida é se fazer censuras, críticas ou qualquer tipo de

reação negativa às idéias surgidas. Essa abertura a qualquer idéia contribui

para superação dos bloqueios mentais;

- Nesse instante todas as contribuições serão bem vindas;

- Deve-se motivar a participação de todos;

- Por fim, faz-se a seleção e adequação das melhores idéias, segundo o

grupo, ao assunto de interesse.

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2 -ESTUDANDO METODOLOGIA CIENTÍFICA

METODOLOGIA – o estudo do método na busca de determinado conhecimento – preocupação instrumental.

CIÊNCIA – é um conhecimento racional, portanto reflexivo, sustentado numa lógica racional, ou seja, conhecimentos sistematizados e verificáveis.

CONHECIMENTO – é desvendar, desbravar, apreensão de um objeto pelo sujeito, e quem conhece acaba por apropriar-se do objeto que conheceu.

CONCEITO – é a forma mais simples do pensamento e por meio dele fazemos representações mentais das coisas ou episódios que conhecemos.

2.2 - FORMAS DO CONHECIMENTO:

POPULAR RELIGIOSO FILOSÓFICO CIENTÍFICO

- valorativo - valorativo - valorativo - real - factual- reflexivo - inspiracional - racional - contingente- assistemático - sistemático - sistemático - sistemático- verificável - não-verificável - não-verificável - verificável- falível - infalível - infalível - falível- inexato - exato - exato aproximadamente

exato

2.3 - NATUREZA TEÓRICA-PRÁTICA DA ATIVIDADE CIENTÍFICA:

- Atividade intelectual intencional que visa responder às necessidades humanas.

Animal → sente – necessidades – respostas – ação instintiva rotineira – nível

prático;

Racional → pensa – problemas – soluções – ação intelectual – nível teórico.

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2.4- MÉTODOS E TÉCNICAS CIENTÍFICAS:

- Indutivo – a indução parte de registros menos gerais para enunciados dos mais

gerais;

- Dedutivo – transforma enunciados universais em particulares. O ponto de partida

é a premissa antecedente, em que tem valor universal, e o ponto de

chegada é o conseqüente (premissa particular);

- Dialético – pela etimologia da palavra de origem grega dialektos, que significa

debate, forma de discutir e debater. Consiste na formulação de

perguntas e respostas, e que traz à tona todas as falsas concepções;

- Hipotético-dedutivo – surge o problema e a conjectura, que serão testados pela

observação e experimento.

- Histórico – tem como pressuposto reconstruir o passado objetiva e

acuradamente, em geral relacionando com uma hipótese sustentável;

- Estatístico – é um método de analise, planejado por Quetelet, que permite obter

de conjuntos complexos representações simples e constatar se essas

verificações simplificadas têm relações entre si. Em Contabilidade o uso

da estatística é ferramenta imprescindível para compreender o

fenômeno do patrimonial em seus aspectos quantitativos, com suas

possíveis utilizações; daí ser um dos mais importantes instrumentos

utilizados pela ciência contábil;

- Comparativo – realiza comparações com o objetivo de verificar similitudes e

explicar as divergências no intuito de melhor compreender o

comportamento humano;

- Monográfico – também conhecido como estudo de caso, permite, mediante caso

isolado ou de pequenos grupos, entender determinados fatos, pertindo

do princípio de que qualquer caso que se estude em profundidade pode

ser considerado representativo de muitos outros ou até de todos os

casos semelhantes.

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3 - NÍVEIS E TIPOS DE PESQUISA CIENTÍFICA:

- Pesquisa acadêmica – é uma atividade pedagógica que visa despertar o espírito

crítico;

- Pesquisa de ponta – é a tentativa de negociação/superação científica e

existencial, a oferta de um dado novo para a

humanidade.

3.1 TIPOS DE PESQUISA CIENTÍFICA:

- caracterização segundo os objetivos:a) Explortatórias

b) Descritivas

c) Explicativas

- caracterização segundo as fontes de dados:a) campo

b) laboratório

c) bibliografia

- caracterização segundo os procedimentos de coleta de dados:a) pesquisa experimental

b) ex-post-facto

c) levantamento

d) estudo de caso

e) pesquisa ação

f) história oral

g) história de vida

h) documento

i) bibliografia

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3.2 -FORMAS BÁSICAS DE APRESENTAÇÃO DE TEXTOS:

a) RESENHA – consiste em apresentar o conteúdo de obras prontas

acompanhado ou não de avaliação crítica.

- As partes essenciais da apresentação do corpo da resenha são:

1 - Identificação da obra – autor, título, imprenta, total de páginas resenhadas.

2 - Credenciais do autor – formação, publicações, atividades desenvolvidas na

área.

3 - Conteúdo – idéias principais, pormenores importantes, pressupostos para o

entendimento do assunto e breve explicação das conclusões do autor.

4 - Crítica – determinação histórica e metodológica (científica, jornalística, didática)

da obra, contribuições importantes, estilo, forma, méritos, considerações éticas.

b) FICHAMENTO – consiste na coleta de informações de obras pesquisadas

por meio de apontamentos, anotações que serão utilizadas na futura

elaboração do texto.

c) RESUMO – apresentação sintética e seletiva das idéias de um texto.

d) RELATÓRIO CIENTÍFICO – basicamente é contar o que observou. Partes

essenciais: referencial teórico, metodologia, apresentação de resultados,

análise dos resultados, sugestões/recomendações.

e) PAPER – é o texto transcrito de uma comunicação oral.

f) ESQUEMA – texto que pode ser esquematizado de várias maneiras: com

palavras, gráficos, desenhos, chaves, flechas, etc.

g) ARTIGO – é uma pequena parcela de um saber maior, cuja finalidade, de

modo geral, é tornar pública parte de um trabalho de pesquisa que se está

realizando.

h) ENSAIO – consiste nas comunicações originais do pesquisador, após

apurado exame de um assunto. Destaca-se o espírito crítico e a

originalidade.

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i) COMUNICAÇÃO - transmitir informações, idéias, fatos e opiniões

peculiares de todo pesquisador. Essas apresentações são feitas oralmente

em eventos científicos.

j) MONOGRAFIA – trabalho de conclusão de curso (graduação e pós-

graduação);

k) DISSERTAÇÃO – trabalho de conclusão de curso - mestrado;

l) TESE - trabalho de conclusão de curso – doutorado.

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4. -ALGUMAS FORMAS DO CONHECIMENTO E A CIÊNCIA

Na busca de compreender o mundo através da observação espontânea

da realidade, o homem transmite para os seus semelhantes os conhecimentos

adquiridos ao logo do tempo. Em CERVO e BERVIAN (1979. p. 3-4), temos que

conhecer “é a relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto

conhecido”, sendo que no processo do conhecimento o sujeito cognoscente se

apropria, de certo modo, do objeto conhecido. Apropriação que leva ao

conhecimento sensível, se a apropriação é física e ao conhecimento intelectual se

a representação não é sensível. Como por exemplo, conceitos, verdades e leis.

Portanto, o homem penetra as diversas áreas da realidade para dela tomar posse.

Entretanto, existem certas atividades essenciais na cultura humana, que

não colocam grande ênfase no conhecimento (embora ele seja necessário para

executá-lo), mas em efeitos que influem em outras áreas sensibilidade.

Um caso típico é a arte. A arte é uma atividade que consiste em realizar

certos projetos de nossa imaginação, os quais visam transmitir efeitos emocionais

relacionados com a beleza.

Outro caso notório é o esporte. O esportista embora precise de

conhecimentos técnicos sobre a tarefa que executa, não visa transmitir nem

organizar conhecimento nenhum. Ele só tenta realizar determinadas ações, as

quais, neste caso, estão vinculadas a certo rendimento físico do corpo (força,

velocidade, destreza e etc.).

Ainda que existam especialistas em arte, capazes de transmitir técnicas

para que o artista possa exteriorizar mais satisfatoriamente sua imaginação, é

especialista em esporte, que conhecem regras e procedimentos para aprimorar o

comportamento físico do esportista, nem a arte nem o esporte são atividades

relativas ao conhecimento científico.

Mas há outras formas de conhecimento que são relevantes para a

cultura contemporânea, e que, em outras etapas da historia do homem, foram

ainda mais influentes do que aquilo que hoje chamamos de “ciência”.

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O conhecimento científico é metódico, e tem possibilidade de ser

defrontado com a realidade. Temos condições para aferir se ele é verdadeiro ou

falso, pelo menos teoricamente.

Contudo, existem certas formas de conhecimento que não costumam

ser incluídas no campo da ciência.

Uma forma especialmente famosa de conhecimento é o filosófico.

Também, em certo sentido, existe uma forma de conhecimento religioso. Com

efeito, ainda que muitas pessoas adotem um ponto de vista estritamente irracional

no plano religioso, muitas outras acham que as experiências místicas constituem

uma forma de conhecimento e podem, portanto, ser analisadas desse ponto de

vista.

Contudo, existe atualmente um grande preconceito em favor do

conhecimento científico e contra qualquer outra forma.

Em meados dos anos 30 e depois da Segunda Guerra, tanto a corrente

que chamamos de positivista¹ quanto muitas outras a ela relacionadas de maneira

indireta ou direta, levantaram a “palavra de ordem” de que a ciência era a única

forma racional de conhecimento.

Tudo que não fosse científico era ou conhecimento ingênuo do senso

comum (que, embora às vezes verdadeiro, não tinha método, organização nem

justificação) ou então falso conhecimento, obscuro e incompreensível, disfarçado

por uma linguagem aparentemente acadêmica.

Para eles, a filosofia era apenas uma disciplina dedicada a estudar as

afirmações científicas, uma espécie de “reflexão” sobre a ciência.

Atualmente, essas tendências, explicitamente positivistas, entraram em

decadência. Mas apareceram novos motivos para privilegiar o conhecimento

científico. É a revolução tecnológica.

De acordo com LAKATOS (1991, p. 21), podemos entender a ciência

como uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições

logicamente correlacionadas sobre o comportamento decertos fenômenos que se

deseja estudar: A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais,

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dirigidas ao sistemático conhecimento como objeto limitado, capaz de ser

submetido à verificação.

As ciências possuem:

objeto ou finalidade. Preocupação em distinguir a característica

comum ou as leis que regem determinados eventos.

função. Aperfeiçoamento, através do crescente acervo de

conhecimentos, da relação do homem com o seu mundo.

objeto. Subdividido em:

o material, aquilo que se pretende estudar, analisar,

interpretar ou verificar, de modo geral;

o formal, o enfoque especial, em face das diversas ciências

que possuem o mesmo material.

Ainda em LAKATOS (1991, p. 22), encontramos que a complexidade do

universo e a diversidade de fenômenos que nele manifestam, aliadas à

necessidade do homem de estudá-los para poder entendê-los e explicá-los,

levarem ao surgimento de diversos ramos de estudo e ciências específicas. Estas

necessitam de uma classificação, quer de acordo com sua ordem de

complexidade, quer de acordo com seu conteúdo: objeto ou temas, diferença de

enunciados e metodologia empregada.

Nem todos os fatos pertencem ao mundo físico, químico ou biológico.

Por exemplo, a psicologia é uma ciência cujo campos de interesse são a mente, o

inconsciente, os conflitos humanos etc. A sociologia estuda os grupos sociais, a

família, as populações, os Estados, as relações de poder, o conceito de conflito

etc.

Essas ciências não são ciências naturais, ciências dos fatos da

natureza. São ciências humanas, porque o homem é estudado a partir do ponto de

vista de sua condição humana. Nas ciências humanas, a condição especial do

homem tem um destaque inexistente nas ciências naturais. Então, há uma

primeira divisão possível entre as ciências: as naturais e as humanas.

As ciências estão divididas em formais (lógica e matemática), ou

factuais (naturais e sociais). Nas ciências naturais temos a física, química, biologia

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e outras. Nas ciências sociais encontramos a antropologia cultural, direito,

economia, política, psicologia, sociologia, etc.

Contudo, tanto as ciências naturais como as humanas participam de

uma propriedade fundamental. O conhecimento cientifico origina-se nos fatos

reais, sejam da natureza, do homem, da sociedade, da mente etc.

Que acontece, então, com a matemática? Se o conhecimento cientifico

tem origem nos fatos, na realidade, seja natural ou social, como é que a

matemática é uma ciência? A matemática não lida com objetos reais, nem com

pessoas, nem com forças, nem com entidades sociais etc. ela é uma ferramenta

importante em quase todas as ciências, mas seu objeto próprio, especifico não

tem nada a ver com os fatos.

A matemática é considerada pela maioria dos cientistas como uma

ciência. Porém, ela não depende da experiência. Um matemático não precisa

fazer observações ou experimentos para justificar suas afirmações etc. A

matemática é crítica, metódica e é sistemática. É seriamente estudada nos

grandes centros de pesquisa, e seria impossível desenvolver a maior parte das

ciências sem seu apoio. Isso foi causa de uma divisão, quase universalmente

aceita, no conjunto das ciências: ciências abstratas ou formais e factuais.

São abstratas ou formais porque os objetos com os quais trabalham não

são entidades do mundo real, que possamos perceber através dos sentidos. Elas

não trabalham com fatos. Trabalham com idéias.

Por outro lado, mesmo que alguns cientistas façam experimentação,

pelo menos, observam (por exemplo, a Astronomia). A necessidade de

experiência, típica das ciências naturais e humanas, é responsável pelo fato de

que essas ciências sejam às vezes também chamadas de “ciências empíricas”. É

uma ciência dos fatos, ou, então, da experiência dos fatos.

As ciências humanas também são ciências factuais, mas não se

preocupam dos fenômenos puramente naturais. O interesse dominante são os

fenômenos e atividades relacionadas com o homem, a cultura, a sociedade e os

elementos que fazem parte da comunicação, como a linguagem.

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Desde os antigos filósofos já havia a preocupação em estudar as

organizações sociais. Apesar disso, é só no século passado que se começa a falar

em “ciência do homem”, às vezes chamadas “ciência da cultura” e, em tempos

mais recentes, “ciências sociais”. A maioria dos pensamentos sobre o homem, a

história, a cultura e a sociedade eram de caráter exclusivamente filosófico ou

religioso.

É só depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que começam a

aparecer as disciplinas que estudam o homem com as características que hoje

reconhecemos às ciências. Disciplina como a sociologia ou psicologia só em

tempos bastante próximos ganham crédito acadêmico e são lecionadas nas

universidades.

A divisão entre ciências naturais e humanas embora ambas sejam

factuais, acontece devido as propriedades específicas de cada uma serem

diferentes. O homem é um ser pensante e afetivo: ele tem uma forma “superior” de

inteligência, tem emoções que influem em suas atividades e tem a capacidade de

transformar o mundo. O homem não é um objeto passivo como as forças, a

energia, a luz, as células, os planetas ou outras entidades que fazem parte das

ciências naturais. Daí vemos que o homem e a sociedade não são mecanismos, e

não seria correto tentar aplica-lhes exatamente as mesmas técnicas que usamos

no estudo da natureza.

A ciência moderna com seus quatros séculos de desenvolvimento, responsável

pelo progresso material atingido pelas sociedades avançadas de hoje, não se

mostrou capaz se exterminar as desigualdades sociais e os sofrimentos humanos

delas decorrentes. Na maioria das vezes tem ela funcionado como instrumento do

poder. Isto porque, sendo social, ela representa um processo social como tantos

outros, sujeito às vicissitudes das formas de organização societária e aos

percalços da influência dos produtores sobre o uso de seus produtos; apesar de

seus ideais de neutralidade e objetividade, idéias que refletem a racionalidade do

ser humano, a ciência esta presa à contradição de ser uma produção do homem,

de sua grandeza e de suas misérias.

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QUESTÕES PARA REFLEXÃO:

1. Estabeleça a diferença entre o conhecimento cientifico e outros tipos de

conhecimento.

2. Quais as características do conhecimento cientifico?

3. Comente as diferenças entre ciências formais e as ciências factuais.

4. Como podemos classificar a Engenharia no quadro das ciências?

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6 - ANÁLISE QUANTITATIVA E ANALISE QUALITATIVA

Introdução

Chamamos análise quantitativa de uma pesquisa a que se baseia em

mensurações e no cruzamento de dados estatísticos. Fazem parte dela os

cálculos de média e proporções, a elaboração de índices e escalas. A análise

quantitativa decorre de técnicas especificas de mensuração, como questionários

com respostas de múltipla escolha.

A análise qualitativa é a que utiliza mecanismos interpretativos e de

descoberta de relações e significados. Os recursos disponíveis para esse tipo de

análise são entrevistas, observações, questionários temáticos e abertos,

interpretação de formas de expressão visual como fotografias e pinturas, e

estudos de caso.

A magia dos números e a profundidade dos depoimentos

Já explicamos que a regularidade dos fenômenos sociais permite que eles

sejam mensuráveis, isto é, que seja quantificável sua freqüência e até mesmo sua

tendência de desenvolvimento ou de involução. Essas quantificações têm

auxiliado muito os pesquisadores na elaboração de projeções fidedignas a

respeito dos acontecimentos sociais.

Dissemos também que os indicadores quantitativos, além de propiciarem

mensurações e projeções, foram utilizados por parecerem aos olhos dos

sociólogos do passado mais imparciais e menos suscetíveis de desvios

resultantes do envolvimento do pesquisador com a realidade pesquisada.

O que procuramos mostrar é que as análises quantitativas não possuem a

fidedignidade nem a objetividade almejada. A escolha de qualquer indicador –

quantificável ou não – obedece a critérios teóricos e a avaliações de caráter

qualitativo. Uma simples análise estatística do número de assaltos em uma

cidade, por exemplo, implica uma avaliação qualitativa a respeito da fonte de

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dados e de seus critérios de registro. Poderão ser utilizadas informações

existentes nas delegacias e em outras instituições publicas, assim como o

pesquisador pode julgar importante pesquisar dados de primeira mão – aqueles

coletados originalmente por ele – para detectar acontecimentos não registrados.

A decisão de uso de uma fonte de dados é qualitativa e envolve uma

profunda avaliação do pesquisador. As enquetes sobre agressão a mulheres ,

estupro e aborto raramente se baseiam nas estatísticas oficiais, pois se sabe que

grande parte desses crimes não é denunciada, o que torna os dados existentes

nas delegacias bastante frágeis na representatividade do fenômeno a ser

estudado.

É muito comum que as pesquisas se desenvolvam de maneira a integrar

procedimentos quantitativos e qualitativos em diferentes etapas do trabalho.

Podemos cruzar, no estudo da insegurança da população nas grandes cidades, os

dados quantitativos regionais e as pesquisas qualitativas realizadas junto à

população. Esse cruzamento poderá nos mostrar, por exemplo, se as regiões

onde ocorrem mais assaltos são aquelas nas quais a população apresenta uma

atitude mais temerosa e insegura. Os primeiros dados decorrem de análises

quantitativas, os seguintes, de estudos qualitativos.

Portanto os critérios que fazem um pesquisador optar por um procedimento

estatístico ou um interpretativo não se baseiam nunca em uma questão de

fidedignidade. Hoje os pesquisadores não almejam mais um distanciamento em

relação ao objeto de estudo, ao contrario, reconhecem as vantagens do

conhecimento profundo de uma realidade na identificação de suas características

mais sutis. Por outro lado, sabemos que os dados quantitativos não estão isentos

de formulações partidárias e ideológicas.

Estamos conscientes do abuso no uso de cifras, taxas e índices em

pesquisas e mesmo em reportagens jornalísticas. E graças ao poder alusivo

desses indicadores, vivemos em meio a um discurso que lança mão,

indevidamente, de seu poder persuasivo e demagógico. Muitos gráficos e

tendências que pretendem exibir, por exemplo, desempenho econômico ou

preferências eleitorais transformam-se em argumentos cujo objetivo é gerar o

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comportamento que se deseja revelar e medir. Consciente disso, o próprio mundo

publicitário utiliza essa linguagem em promoção de produtos e no estimulo ao

consumo.

RESUMINDO:

A analise quantitativa – visa a objetividade dos fatos, o controle, a

precisão, possibilita análises estatísticas. Os elementos básicos da análise

são os números, o pesquisador mantém distância do processo, independe

do contexto, o raciocínio é lógico e dedutivo;

A análise qualitativa – compreende os aspectos subjetivos da realidade

estudada,desenvolve a teoria, descoberta, descrição e interpretação. Os

elementos básicos da análise são as palavras e idéias, o pesquisador

participa do processo, depende do contexto, gera idéias e questões para

pesquisa, o raciocínio é dialético e indutivo, descreve os significados e

descobertas.

(Adaptado de: COSTA, Cristina. Sociologia. Introdução à ciência da sociedade. 2a. ed. São Paulo, Moderna, 2001).

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7 - TÉCNICAS DE PESQUISA

ENTREVISTA

QUESTIONÁRIO

FORMULÁRIO

2. ENTREVISTA

- é conversa orientada para um objetivo definido;- é recolher, através de interrogatórios do informante, dados para a pesquisa;- é um encontro entre duas pessoas a fim de que uma obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional;- é um procedimento utilizado na investigação social para a coleta de dados ou para ajudar no diagnostico ou no tratamento de um problema social.

Critérios para o preparo e a realização da entrevista

1. o entrevistador deve planejar a entrevista, delineando cuidadosamente o objetivo a ser alcançado;

2. obter, sempre que possível, algum conhecimento prévio acerca do entrevistado;

3. marcar com antecedência o local e horário para a entrevista;4. criar condições, isto é, uma situação discreta para a entrevista;5. escolher o entrevistado de acordo com a sua familiaridade ou

autoridade em relação ao assunto escolhido;6. fazer uma lista das questões, destacando as mais importantes;7. assegurar um numero suficiente de entrevistados, o que dependerá

a viabilidade de informações a ser obtida.

Critérios pessoais do entrevistador

- ser discreto- evitar ser importuno- deixar à vontade o informante- dirigir a entrevista e mantê-la dentre dos propósitos dos itens pré-estabelecidos- ser habilidoso e elegante-evitar que o diálogo se desvie dos propósitos de sua pesquisa- deve apenas coletar dados e não discuti-los com o entrevistado- falar pouco e ouvir muito- anotar cuidadosamente os informantes coletados

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- obter e manter a confiança do entrevistado- dar e manter a confiança do entrevistado- dar o tempo necessário para que o entrevistado discorra satisfatoriamente sobre o assunto- dar prioridade as perguntas que tenham menores probabilidades de provocar recusa ou produzir qualquer forma de negativismo- uma pergunta após outra, a fim de não confundir o entrevistado.

2. QUESTIONÁRIO

- é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma serie ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador;

- é a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita medir com melhor exatidão o que se deseja;

- se respondido na ausência do entrevistador, deve ser acompanhado de instruções minuciosas e especificas.

Classificação das perguntas

1. Perguntas abertas- destinam-se a obter uma resposta livre

- embora possibilitem recolher dados ou informações mais ricas e

variadas, são codificadas e analisadas com maiores dificuldades.

Ex.: Do que você gosta mais na cidade?

2. Perguntas fechadas- destinam-se a obter respostas mais precisas, padronizadas, de

fácil aplicação, fáceis de codificar e analisar.

Ex.: Seu nível de escolaridade é:

( ) ensino fundamental

( ) ensino médio

( ) ensino suprior

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2. FORMULÁRIO

- Instrumento essencial para a investigação social, cujo sistema de coleta de

dados consiste em obter informações diretamente do entrevistado;

- é o nome geral usado para designar uma coleção de questões que são

perguntadas e anotadas para um entrevistador numa situação face a face.

Qualidades

1. adaptação ao objetivo de investigação

2. adaptação aos meios que se possui para realizar o trabalho

3. precisão das informações em um grau de exatidão suficiente e satisfatório

para o objetivo proposto.

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8 - CITAÇÕES

CITAÇÃO – é a inclusão no texto de informações extraídas de outras fontes.

CITAÇÕES CURTAS – (até 4 linhas), entram no alinhamento normal do texto,

entre aspas.

CITAÇÕES LONGAS – (mais de quatro linhas), devem ser destacadas do

parágrafo, com recuo.

CITAÇÃO DIRETA – transcrição literal de um texto ou parte do texto de um autor,

que conserva grafia, pontuação e língua originais.

CITAÇÃO INDIRETA – texto redigido pelo autor do trabalho, mas que mantém

fielmente a idéia original de outro autor.

ELEMENTOS QUE PODEM CONSTAR NO TEXTO:

capa; folha de rosto; folha de avaliações; dístico ou dedicatória; agradecimentos; sumario; lista de tabelas ou ilustrações; lista de siglas, abreviaturas e símbolos; resumo/sinopse; introdução; corpo; conclusão; anexos/apêndice; bibliografia; folha em branco/contracapa.

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9 - OS PARADIGMAS DA CIÊNCIA CLÁSSICA

O início da Idade Moderna registra um dos acontecimentos mais

importantes da história do pensamento: a proclamação e a realização da

autonomia da ciência em relação à filosofia e à teologia.

Uma das conquistas mais significativas da Renascença foi a autonomia

da filosofia em relação à teologia. Esta separação não era um fato isolado, mas

parte de um movimento mais amplo que vinha promovendo a independência de

todas as atividades humanas em relação à religião.

Na Antiguidade e na Idade Media a pesquisa cientifica e a filosófica era

uma coisa só; a filosofia era, de fato, não só a rainha das ciências, mas a ciência:

ela abrangia, em conformidade com a distinção aristotélica, a matemática, a física

e a metafísica.

O mérito de ter assegurado à ciência plena autonomia tanto em relação

à teologia como em relação à filosofia, dando à primeira um método e uma

finalidade diversas aos das duas ultimas, compete a Bacon, Galileu e Descartes.

Toda a filosofia moderna se caracteriza não apenas pela atitude critica

mas também por soberana confiança no método.

Francisco Bacon (1561-1626) nasceu em Londres, no seio de uma

família que pertencia à alta burguesia. Com o apoio de pessoas importantes na

época galgou os mais altos postos do governo. De 1621 em diante viveu retirado

em sua propriedade, na qual faleceu.

Bacon tinha projetado uma grande obra, que deveria ter como titulo

Instauratio magna, uma enciclopédia de todas as ciências, para renovar

completamente a pesquisa cientifica, colocando-a em base experimental. A obra

devia constar de seis partes, mas ele conseguiu terminar somente a duas

primeiras: o De dignitateetaugmentisscientiaru e o Novumorganon(novo

instrumento).

O pensamento filosófico do século XVII contribuiu para popularizar os

avanços do pensamento cientifico. Para Bacon, por exemplo, a teologia deixaria

de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade, que exatamente

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constituía um dos alicerces da teologia, deveria em sua opinião, ceder lugar a uma

duvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade. Para

ele o novo método de conhecimento, baseado na observação e na

experimentação, ampliaria infinitamente o poder do homem e deveria ser

estendido e aplicado ao estudo da sociedade.

O cientista, por meio da experiência, deve recolher informações

suficiente (o material) e, depois, mediante suas faculdades espirituais (a razão),

deve procurar elaborar noções gerais e leis universais.

Bacon divide as ciências em três grupos: as que se baseiam na

memória (historia natural e civil); as que se baseiam na fantasia (poesia em suas

varias formas); as que se baseiam na razão (filosofia e ciências experimentais).

O fim da ciência, segundo Bacon, é prático e não especulativo. A ciência

deve ajudar o homem a adquirir um controle mais perfeito sobre a natureza. O

objeto da ciência é a causa das coisas naturais. Bacon faz o seu principio: saber

verdadeiramente é saber pelas causas.

Não se pode, contudo, fazer uso do método indutivo enquanto a mente

estiver entulhada de preconceito e erros. É necessário, portanto, antes de se

começar a pesquisa cientifica, reduzir a mente a uma tábula rasa, eliminando-se

todos os preconceitos.

Sobre as varias fases do método indutivo, começa com a coleta e a

descrição do material. Para isso serve as tábuas, que são coordenações das

instâncias, isto é, das vezes que um fato se repete.

Recolhido material suficiente, pode-se formular uma primeira hipótese a

respeito, da natureza do fenômeno estudado. É uma hipótese provisória, que guia

o desenvolvimento ulterior da pesquisa. A indução deverá proceder pondo à prova

a hipótese formada em sucessivos experimentos, que Bacon chama de instâncias

prerrogativa ate conhecer a causa verdadeira do fenômeno.

Bacon tem o grande mérito de ter sido o primeiro a pôr-se de modo

sistemático o problema do método próprio das ciências experimentais, do seu

objeto e do seu fim.

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O seu método, apesar de ainda muito imperfeito nos pormenores (por

exemplo, insiste muito na fase inicial, isto é, na da coleta do material),

corresponde, em substância, às exigências das ciências experimentais, que têm

na experiência seu ponto de partida e de chegada.

Quanto ao fim da ciência, Bacon observa, com razão, que ele consiste

em estudar a natureza não para contemplá-la, mas para modificá-la e torná-la útil

ao homem. A ciência deve servir ao progresso da civilização, não a discussões

estéreis.

Com René Descartes a filosofia registra uma reviravolta decisiva,

recebendo uma colocação nova, substancialmente diferente da que tivera na

Antiguidade e na Idade Media. A sua orientação era então essencialmente

ontológica, tem do como objetivo constante e primário a investigação da razão

ultima das coisas (do homem, do mundo, de Deus).

Com Descartes a filosofia recebe uma colocação critica e gnosiológica:

o que quer verificar em primeiro lugar do conhecimento humano.

Descartes (1596-1650) que é considerado “o pai da filosofia moderna”,

nasceu na província da Turena (França), de família bem-estabelecida, filho de

joachim conselheiro no Parlamento da Bretanha e Jeanne, a mãe, morrendo em

1957. Sendo, Descartes, criado pela avó e a ama-de-leite.

O jovem Descartes estuda línguas e textos antigos, Historia, Poesia,

Arte da eloqüência, do mesmo modo que Teologia e Filosofia – sobretudo a

Filosofia aristotélica talo qual a interpretou São Tomas de Aquino.

“O Discurso do Método” é uma obra na qual Descartes trata da

racionalidade no método cientifico experimental. Descartes foi o primeiro pensador

a desenvolver um “método” para a ciência de forma geral, pratico e objetivo.

Dessa maneira, podemos ver que o “Discurso do método” marcou a época em

virtude de seu tom inovador.

Descartes exigia para si, em primeiro lugar, esta certeza absoluta. No

seu entender, apenas Deus e infinito e perfeito. O homem, por sua vez, é um ser

imperfeito. Em outras palavras, Descartes sugere que a metafísica crie a ciência.

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Sabemos que, em ultima analise, os métodos possíveis são dois: o

indutivo e o dedutivo. O primeira parte da experiência, o segundo de princípios

universais. Segundo LAKATOS (1991, p. 47), “a indução é um processo mental

por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientes constatados,

infere-se uma verdade geral ou universal”, sendo o método dedutivo o contrario,

ou seja, parte-se dos dados gerais.

Na opinião de Descartes, somente o segundo pode levar-nos aos

progressos do saber e à descoberta da verdade. De acordo com MONDIN (1982,

p. 66-67) as regras fundamentais do seu método são quatro:

Primeira regra: “Não incluir nos meus juízos nada alem daquilo

que se apresenta à minha inteligência tão clara e distintamente

que exclua qualquer possibilidade de duvida”.

Segunda regra: “Dividir todo problema que se tem de estudar em

tantas partes menores quanto forem possível e necessárias para

melhor resolvê-los”.

Terceira regra: “Conduzir meus pensamentos com ordem,

começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de

conhecer, para subir aos poucos, como por degraus, ao

conhecimento dos mais complexos, e supondo uma ordem

também entre aqueles dos quais uns não procedem naturalmente

dos outros”.

Quarta regra: “Fazer sempre enumerações tão completas e

revisões tão gerais que tenha a segurança de não ter omitido

nada”.

Estas regras, às quais Descartes não dá nenhuma denominação

especifica, costumam ser designadas pelos estudiosos como intuição, analise,

síntese e enumeração.

É a regra da intuição que Descartes enuncia seu celebre critério da

verdade: o da clareza e da distinção. Clara é uma percepção que está presente e

é aberta à mente atenta; do mesmo modo dizemos que vemos com clareza

quando as coisas, presentes ao nosso olho, nos movem forte e abertamente.

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Distinta é aquela percepção que, sendo clara, é tão disjunta e separada de todas

as outras que não contem em si nada alem do que é claro.

Vico em sua critica ao método cartesiano, observou por exemplo, que a

clareza e a distinção são propriedades mais do sujeito do que do objeto, não

constituindo por isso nenhuma garantia de conhecimento verdadeiro. Pascal, por

sua vez, notou que a clareza e a distinção são propriedades de matemática e da

geometria e censurou Descartes por tê-las transferida para outros campos do

saber. Na verdade, Descartes foi vitima das duas disciplinas citadas, às quais ele

mais se comprazia e se enganou pensando que poderia obter resultados

semelhantes na filosofia.

A segunda regra, a da analise, torna possível a intuição das ideias

simples. A originalidade de Descartes consiste em ter atribuído grande importância

à analise com a finalidade de preparar o terreno para a síntese e a dedução. A

duvida metódica, que é um dos pontos mais originais do pensamento cartesiano, é

também um momento essencial da analise.

O erro fundamental de Descartes, erro que Pascal e Vico não tardaram

a mostrar, consiste na supervalorização do racional, na idolatria da razão, elevada

à categoria de medida de todas as coisas.

As duas ultimas regras dizem respeito aos momentos mais importantes

da dedução: a síntese torna possível a enumeração completa de ideias

complexas.

Por outro lado, Isaac Newton (1642-1727) identificou o principio da

gravidade universal e fundamentou seus estudos na ideia de que o Universo é

governado por leis físicas e não dependente de interferência de cunho divino.

Igualmente a Descartes, para explicar os fenômenos naturais, substituiu a religião

pela ciência e a revelação milagrosa pela observação e experimentação

consolidando o racionalismo.

O primeiro e o segundo livros de Newton constituem um tratado de

mecânica e estuda os movimentos retilíneos e curvilíneos dos corpos esféricos e

não esféricos, dos projetos, dos pêndulos, dos líquidos. O terceiro livro da força da

gravidade, pelas quais os corpos tendem para o sol e os respectivos planetas, etc.

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Deste sistema de Newton faz parte, a existência de Deus como condição da

existência da estrutura e da ordem do mundo.

No século XVII a ciência dera passos gigantescos, especialmente por

obra de Galileu e Newton, mas sem conseguir provocar interesse fora do circulo

apodera-se de todos e penetra em todos os ambientes, desenvolvera, novas

disciplinas e invenções como a maquina a vapor.

À veneração pela ciência associa-se naturalmente o empirismo. Os

iluministas, seguindo o exemplo dos filósofos ingleses, que tinham elaborado seus

sistemas sob impulso do progresso cientifico, erigem a experiência como critério

da verdade. Tudo o que está alem da experiência é sem interesse e sem valor

como problema, Obviamente, a metafísica e a religião deixam de ser problemas e

transforma-se em superstições, sem o mínimo fundamento na razão e na

realidade.

Por ultimo, temos Karl Popper (1902), as suas inovações mais notáveis

no campo epistemológico são duas; uma se refere a concepção de ciência, a outra

ao critério de demarcação entre teorias cientificas e não cientificas (ou, empíricas

e não empíricas).

Para Popper, o método cientifico parte de um problema (P1), ao qual se

oferecesse uma espécie de solução de evolução provisória, uma teoria tentativa

(TT), passando-se depois a criticar a solução, com vista à eliminação do erro (EE)

e esse processo se renovaria a si mesmo, dando surgimento ao novos problemas.

Portanto, para ele, a ciência começa e termina com problemas.

O primeiro passo na edificação da ciência são os problemas e, com

eles, as hipóteses e as conjecturas, e não a observação. A ciência é antes de tudo

invenção de hipóteses, a experiência (observação e o experimento) exerce o

papel de controladora das teorias. A observação não é o ponto de partida da

pesquisa, mas um problema. O crescimento do conhecimento marcha de velhos

problemas para novos por intermédio de conjecturas e refutações. Toda

investigação nasce de algum problema teórico/pratico sentido.

Sobre a tentativa de falseamento temos que quanto mais falseável for

uma conjectura, mais cientifica será, e será mais falseável quanto mais

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informativa, maior conteúdo empírico tiver. Exemplo: “amanhã choverá” é uma

conjectura que informa muito pouco 9quando, como, onde etc...) e, por

conseguinte difícil de falsear, mas também sem maior importância. Não é

facilmente falseável porque em algum lugar do mundo choverá. “Amanhã, em

lugar, a tal hora, minuto e segundo, choverá torrencialmente” é facilmente

falseável porque tem grande conteúdo empírico, informativo. Bastará esperar

naquele lugar, hora e minuto, e constatar a verdade ou falsidade da conjectura.

Estas conjecturas altamente informativas são as que interessam à ciência. É

verificando a falsidades de nossas suposições que de fato estamos em contato

com a realidade.

A intuição tenta a todo custo, confirmar, verificar a hipótese; busca

acumular todos os casos concretos afirmativos possíveis. Popper, a contrário,

procura evidências empíricas para torná-la falsa, para derrubá-la. Um único caso

negativo concreto será suficiente para falsear a hipótese, como quer Popper. Se a

conjectura resistir a testes severos, estará “corroborada”, não confirmada, como

querem os indutivistas.

Em resumo: o critério da falseabilidade estabelece que uma teoria pode

ser considerada científica somente quando satisfaz a duas condições: a) ser

falsificável, isto é, pode ser, em linha de princípio, desmentida ou contradita; b)

não ter sido ainda achada falso de fato. Desta forma pode-se pensar que uma lei

científica jamais poderá ser completamente verificada, ao passo que pode ser

totalmente falsificada.

Aqui estão em linhas gerais, algumas entre muitas, das teorias que

deram início a história da ciência enquanto pensamento metódico e sistemático.

Estes pressupostos ou paradigmas continuam válidos nos dias atuais juntamente

com novas formas de pensar sobre o fazer científico que vão surgindo de acordo

com as exigências e condições históricas de cada época, ou seja, um repensar

constante que com certeza só vem à contribuir para o desenvolvimento desta

importante forma de conhecimento humano.

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QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Qual a contribuição de Bacon para a formação do pensamento científico

clássico?

2. Comente sobre as regras do método cartesiano.

3. Comente sobre as inovações no método científico, trazidas por K. Kopper.

BIBLIOGRAFIA

CERVO,ª L. BERVIAN P.ª Metodologia Científica, 2ª edição – Revista e

ampliada, São Paulo, 1979.

HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na sociologia, Vozes, 4ª ed., Petrópolis, 1987.

LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Mariana de ª Metodologia Científica,2ª

edição, São Paulo, Ed. Atlas, 1991.

MONDIN. Batista. Curso de filosofia – Os filósofos do Ocidente, vol. 1,2,3, 6ª

ed., Paulus, São Paulo, 1981.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em Educação. Atlas, São Paulo, 1987.

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10 -O MÉTODO CIENTÍFICO

Segundo LAKATOS (1991, p. 39) “não há ciência sem o emprego dos

métodos científicos. Assim, o método é o conjunto das atividades sistemáticas e

racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo-

conhecimentos válidos e verdadeiros-, traçando o caminho a ser seguido,

detectando erros e auxiliando as decisões do cientista”.

O senso comum, aliado à explicação religiosa e ao conhecimento

filosófico, orientou as preocupações do homem com o universo. Somente no séc.

XVI é que se iniciou uma linha de pensamento que propunha encontrar um

conhecimento embasado em maiores garantias, na procura do real. Portanto, o

método científico pode ser considerado como a teoria da investigação.

As principais características do método científico são:

o método científico quer descobrir a realidade dos fatos, e estes,

ao serem descobertos, devem, por sua vez, guiar o uso do

método. Entretanto, como já foi dito, o método é apenas um meio

de acesso: só a inteligência e a reflexão descobrem o que os

fatos realmente são;

o método científico segue o caminho da duvida sistemática,

metódica que não se confunde com a duvida universal dos

céticos, que é impossível. O cientista, sempre que lhe falta à

evidência, como arrimo, precisa questionar a realidade;

o método cientifico, mesmo aplicado no campo das ciências

sócias deve ser aplicado de modo positivo, e não de um modo

normativo, isto é, a pesquisa positiva deve preocupa-se com o

que é e não com o que se pensa que deve ser.

Toda investigação nasce de um problema observado o sentido, de tal

modo que não se pode prosseguir, a menos que se faça uma seleção da matéria a

ser tratada. Esta seleção requer alguma hipótese ou pressuposição que irá guiar

e, ao mesmo tempo, delimitar o assunto a ser investigado. Daí o conjunto de

processos ou etapas de que se serve o método cientifico, tais como a observação

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e a coleta de dados, a hipótese que procurar explicar provisoriamente todas as

observações da maneira simples e viável, a experimentação que dá ao método

cientifico também o nome de método experimental, a indução da lei que fornece a

explicação ou o resultado de todo o trabalho da investigação, a teoria que insere o

assunto tratado num contexto mais amplo. O método cientifico aproveita ainda a

analise e a síntese, os processos mentais da dedução e indução, processos esses

comuns a todo o tipo de investigação, quer experimental, quer racional.

É oportuno distinguir aqui, método e processo. Por método entende-se o

dispositivo ordenado, o procedimento sistemático, um plano geral. O processo (a

técnica), por sua vez, é a aplicação especifica do plano metodológico e a forma

especial de executá-lo. O processo está subordinado ao método e é deu auxiliar

imprescindível.

De acordo com Triviños, a delimitação do problema não significa a

formulação do mesmo. Esta e muito mais do que aquela. Muitas horas de trabalho

podem ser perdidas se não existe adequada formulação do problema. Qualquer

que seja o ponto de vista teórico que oriente o trabalho do investigador, a

precisãoe a clareza são obrigações elementares que devem cumprir na tentativa

de estabelecer os exatos limites do estudo. A exatidão do enunciado não significa,

porem, que não existam diferença na maneira de formular a questão de pesquisa

fundamental que interessa. No enfoque positivista, por exemplo, a formulação do

problema deve ressaltar as relações entre os fenômenos, sem aprofundar na

busca das causas. Na linha teórica fenomenológica¸ o significado e a

intencionalidade possivelmente sejam colocados em relevo. Entretanto, no estudo

de natureza dialética destacar-se-ão os aspectos históricos, as contradições, as

causas etc.

É na formulação do problema onde a concepção teórica do estudioso

ficará mais claramente estabelecida. E não só ela, mas também os objetivos, as

hipóteses e/ou questões de pesquisa e, fundamentalmente, os métodos e técnicas

que se empregarão na analise e interpretação das informações reunidas.

Uma das maiores dificuldades que os pesquisadores encontram na

elaboração dos seus estudos,está, sem duvida, na definição do quadro teórico,

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referencial teórico, fundamentação teórica ou revisão da literatura. Seja nos

obstáculos ocasionados pela escassez de livros e revistas atualizadas no meio do

pesquisador, ou pela deficiência de veículos de informação, como também por

deficiências do tipo pessoal atribuídas à formação do investigador que interferem

negativamente nos resultados da pesquisa. Outro aspecto que dificulta o trabalho

do pesquisador pode ser também a deficiência deste na leitura de línguas

estrangeiras.

É interessante ver que o trabalho do investigador precisa contar com um

embasamento teórico para explicar, compreender e dar significado aos fatos que

se investigam. Para tanto, recomenda-se que o pesquisador inicie sua revisão

bibliográfica com uma linha teórica definida. Pois, a mistura de autores e obras,

muitas vezes, demonstra profunda desorientação teórica do autor da pesquisa. Na

maioria dos caso ele tem duvida sobre qual está de acordo com seus pontos de

vista, sua concepção de vida, seus princípios e coloca em foco da melhor forma o

assunto que é objeto de sua preocupação; ou tem carência de toda orientação

teórica especifica. Portanto, pode-se colocar pontos de vista de outros autores,

mas sempre e estritamente na mesma linha teórica.

A hipótese surge após a formulação do problema. A dificuldade está

presente. Diante dela o investigador vislumbra prováveis soluções. A hipótese

envolve uma possível verdade, um resultado provável. É uma verdade pré-

estabelecida, intuída, com o apoio de uma teoria. Os fatos poderão verificar ou

não a hipótese. Agora se pergunta: qual pode ser a solução ou soluções do

problema colocado? A hipótese indica caminhos ao investigador, orienta seu

trabalho, assinala rumos à investigação.

Portanto, uma vez formulado o problema, com a certeza de ser

cientificamente valido, propõe uma resposta “suposta, provável e provisória”, isto

é, uma hipótese. Ambos problemas e hipóteses, são enunciadas de relações entre

variáveis (fatos, fenômenos); a diferença reside em que o problema constitui

sentença interrogativa e a hipótese, sentença afirmativa mais detalhada.

A formulação correta das hipóteses deve reunir algumas condições,

algumas das quais são essenciais:

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1. As hipóteses devem ser expressas numa linguagem clara, simples.

Não é aconselhável abusar de vocábulos técnicos;

2. Os termos devem possuir a qualidade de ser verificáveis

empiricamente. Esta é uma característica essencial no enfoque positivista. Desta

maneira todas as expressões valorativas em subhipóteses;

3. As hipóteses devem ser especificas. As hipóteses amplas são validas

quando subdivididas em subhipóteses;

4. As hipóteses devem ter apoio de uma tória, surgir do âmbito de um

campo teórico;

5. As hipóteses devem ser, se possível, uma dimensão geral. Elas não

podem referir-se a um só fato. Sua abrangência deve ser muito mais ampla.

6. E, finalmente: a hipótese deve ser uma proposta favorável à

interrogativa colocada pelo investigador. Isto é, toda hipótese queparte de uma

teoria ou de um conjunto de conceitos orientadores deve ter a possibilidade de ser

comprovada, verificando empiricamente. Por exemplo:

“As crianças que repetem a primeira serie do 1° grau das escolas

publicas são de baixo nível socioeconômico”.

Uma variável pode ser considerada como uma classificação ou medida;

uma quantidade que varia; um conceito operacional, que contem ou apresenta

valores; aspecto, propriedade ou fator, discernível em um objeto de estudo e

passível de mensuração.

A variável é algo que “varia”, que muda. Na pesquisa quantitativa, a

variável deve ser “medida”; na pesquisa qualitativa, a variável é “descrita”. As

variáveis “são características observáveis de algo” que podem apresentar

diferentes valores.

Exemplos de variáveis; Idade, é uma variável e pode ter diferentes

valores: 15, 25, 35 etc anos. Religião: catolicismo, islamismo, protestantismo etc.

Os tipos de variáveis são independentes e dependentes. Variável

independente (X) é aquela que influencia, determina ou afeta outra variável; é

fatordeterminante, condição ou causa para determinado resultado, efeito ou

consequência; é o fator manipulado (geralmente) pelo investigador, na tentativa de

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assegurar a relação do fator com um fenômeno observado ou a ser descoberto,

para ver que influência exerce sobre um possível resultado.

Variável dependente (Y) consiste naqueles valores (fenômenos, fatores) a serem

explicados ou descobertos, em virtude de serem influenciados, determinados ou

afetados pela variável independente; é o fator que aparece, desaparece ou varia à

medida que o investigador introduz, tira ou modifica a variável independente; a

propriedade ou fator que é efeito, resultado consequência ou algo que foi

manipulado (variável independente).

Em uma pesquisa, a variável independente é o antecedente e a variável

dependente é o consequente.

Exemplo: - os indivíduos cujos pais são débeis mentais têm inteligência

inferior à dos indivíduos cujos pais não são débeis mentais.

X = presença ou ausência de debilidade mental nos pais;

Y = o grau de inteligência dos indivíduos.

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11 - TEXTO COMPLEMENTAR

O método cientifico

Em seu sentido mais geral, método significa a ordem que se deve impor aos diferentes

processos necessários para atingir um objetivo ou um resultado desejado. Em ciência, método é o

conjunto de processos que devem ser empregados na investigação e demonstração da verdade.

O método não se inventa. Depende do objeto da pesquisa. Os sábios da Antiguidade tiveram

o cuidado de anotar os passos percorridos e os meios que os levaram aos resultados descritos.

Outros, depois deles, analisaram tais processos e justificaram ou não a sua eficácia. Assim, os

processos empíricos transformaram-se gradativamente em métodos verdadeiramente científicos.

(Procure o verbete empírico no Dicionário básico de Sociologia.)

A época do empirismo passou. Hoje em dia não é mais possível improvisar quando se trata

de entender e explicar um fenômeno ou um fato social. A atual fase é a técnica, da precisão, da

previsão, do planejamento. Ninguém se pode dar ao luxo de fazer tentativas ao acaso para ver se

colhe algum êxito inesperado.

Devem-se excluir das investigações o capricho e o acaso, adaptar o esforço às exigências

do objeto a ser estudado, selecionar os meios e processos mais adequados. Tudo isso é dado pelo

método. Assim, o bom método torna-se fator de segurança e economia.

Muita vezes, um espírito medíocre guiado por bom método faz mais progressos nas ciências

que outro mais brilhante que vai ao acaso.

Fontenelle exaltou o método: “A arte de descobrir a verdade é mais preciosa que a maioria

das verdades que se descobrem”.

Evidentemente, o método não substitui o talento e a inteligência do cientista. O método

também tem seus limites: não ensina a encontrar as grandes hipóteses, as idéias novas e

fecundas, que dependem mais dos esforços de compreensão e reflexão do cientista e, em alguns

casos, de sua genialidade.

Dúvida: sistemática, metódicaExistem autores que identificam a ciência com o método, entendido como um modo

sistemático de explicar um grande numero de ocorrências semelhantes.

O método cientifico quer descobrir a realidade dos fatos, e estes, ao serem descobertos,

devem, por sua vez, guiar o uso do método. Entretanto, como já foi dito, o método é apenas um

meio de acesso: só a inteligência e a reflexão descobrem o que os fatos realmente são.

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O método cientifico segue o caminho da dúvida sistemática, metódica, que não se confunde

com a dúvida universal dos céticos. O cientista, sempre que lhe falta a evidência, precisa

questionar e interrogar a realidade.

Etapas do método cientifico

Toda investigação nasce de algum problema observado ou sentido, de tal modo que não

pode prosseguir, a menos que se faça uma seleção da matéria a ser tratada. Essa seleção requer

alguma hipótese ou pressuposição que irá guiar e, ao mesmo tempo, delimitar o assunto a ser

investigado. Daí o conjunto de processos ou etapas de que se serve o método cientifico, tais como:

a observação e coleta de todos os dados possíveis; as hipóteses que procuram explicar

provisoriamente toadas as observações de maneira simples e viável; a experimentação que dá ao

método cientifico também o nome de método experimental; a indução da lei que fornece a

explicação ou o resultado de todo o trabalho da investigação a teoria que insere o assunto tratado

num contexto mais amplo.

O método cientifico aproveita ainda a analise e a síntese e os processos mentais de dedução

e indução, comuns a todo tipo de investigação quer experimental, que racional.

Método e processo

É oportuno distinguir aqui método e processo. Por método entende-se o dispositivo

ordenado, o procedimento sistemático, em plano geral. O processo, por sua vez é a aplicação

especifica do plano metodológica e a foram especial de o executar; no processo usa-se a técnica

especifica para cada tipo de ação.

O processo está subordinado ao método e lhe é auxiliar imprescindível.

(Adaptado de: CERVO, A. L &Bervian, P.A.

Metodologia Cientifica. São Paulo, McGraw-Hill, 1975 apud OLIVEIRA, 2001.)

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12 - O PROJETO DE PESQUISA

O projeto de pesquisa divide-se nas seguintes partes: Introdução (onde,

além de um breve histórico, deve constar os objetivos, justificativa, identificação e

seleção do problema, hipóteses), referencial teórico, metodologia, cronograma de

execução, referências bibliográficas. As seções justificativa, identificação e

seleção do problema e hipóteses podem ser apresentadas como capítulos, se o(s)

autor(es) assim o desejar(em).

- Etapas do projeto:

1. Apresentação ou introdução (quem?)

2. Justificativa (por quê, importância)

3. Problemática (o quê, a questão, a grande pergunta)

4. Objetivos – geral e específicos - hipóteses (para quê? para quem?)

5. Fundamentação teórica (teorias e autores)

6. Metodologia (como? com quê? onde?)

7. Cronograma (quando?)

8. Orçamento (com quanto?)

9. Referências ou bibliografia.

1. Justificativa

Importância do projeto; motivos; atualidade; benefícios para a sociedade. Enfim

todos

os motivos e/ou razões que justificam a aplicação de recursos na busca dos

resultados

pretendidos pelo projeto de pesquisa.

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2. Identificação e seleção do problema

Nesta seção, o orientador deve identificar e delimitar o problema para que possa

ser executado dentro do prazo previsto, mostrar a importância do problema no

contexto a ser estudado. Por se tratar de um programa de iniciação científica, o

projeto proposto deve ter “um começo, meio e fim”. O problema deve ser

delimitado de tal forma que garanta o seu desenvolvimento dentro do prazo de

vigência da bolsa de iniciação científica, que é de um

ano. Esta seção pode fazer parte da introdução ou ser apresentada em capítulo

separado.

3. Hipóteses

Aqui, deve-se apresentar de forma clara e concisa a “resposta antecipada” para

solucionar o problema. Ou seja, qual ou quais respostas, a partir do conhecimento

que o orientador tem da literatura, se espera obter ou comprovar. Dependendo da

natureza do conhecimento e do tipo de projeto este item pode ficar implícito nos

objetivos e na metodologia.

4. Objetivos

Definir o que se pretende no desenvolvimento do estudo, considerando de forma

mais detalhada o desdobramento da delimitação. Pode ser dividido em objetivos

gerais específicos. Esta seção pode fazer parte da introdução ou ser apresentada

em capítulo separado.

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5. Metodologia

A metodologia compreende a especificação dos sujeitos/população envolvidos,

como será executado o projeto, quais processos estão envolvidos, como será feita

a coleta e análise dos dados, enfim, todos os meios necessários para se atingir os

objetivos do projeto de pesquisa.

6. Cronograma de Execução

É a periodização das fases de pesquisa e das datas-limite. Deve ser o mais

detalhado possível, descrevendo cada etapa do projeto de pesquisa, como na

tabela 3. As divisões de tempo devem ser efetuadas em unidades tão curtas

quanto possível. Recomendam-se divisões mensais.

Tabela 3 – Exemplo de cronograma de um projeto de pesquisa.

ATIVIDADES

2006

Jane

iro

Feve

reiro

Mar

ço

Abr

il

Mai

o

Junh

o

Julh

o1. Revisão Bibliográfica x x x

2. Elaboração do instrumental x

3. Pesquisa Campo x

4. Tabulação dos Dados x

5. Análise dos Dados x x

6. Redação x

7. Revisão x

8. Apresentação dos Resultados x

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7. Orçamento

O detalhamento das despesas necessárias para a realização da pesquisa é de

fundamental importância na execução de um projeto de pesquisa. Um orçamento

mal elaborado pode inviabilizar o projeto e, portanto, a obtenção dos resultados

desejados. A tabela 4 mostra um exemplo de orçamento.

Tabela 4 – Exemplo de orçamento de projeto de pesquisaEquipamento/operação Natureza Qde. Valor

unitárioValortotal

Briquetes de casca de arroz Mat. Consumo

10 ton 100,00 1000,00

Cabos de extensão termopares tipo T

Mat. Consumo

200m 500,00 1000,00

Fiação para instalação elétrica Mat. Consumo

Vários - 1000,00

Montagem do sistema Custeio 1 5000,00 5000,00

TOTAL 8000,00

REFERÊNCIAS

GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª ed. São Paulo : Atlas, 1999.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução a Sociologia. 24. ed. São Paulo : Àtica, 2001.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 20ª ed. São Paulo : Cortez, 1996.

SILVA, Antonio Carlos Ribeiro. Metodologia da Pesquisa Aplicada à Contabilidade. São Paulo : Atlas, 2003.

ZUKOWSKI JR, Joel Carlos; DIAS, Jucylene Maria C. S. Borba. Manual para Apresentação de Trabalhos Acadêmicos e Relatórios Técnicos.Palmas-TO: Ceulp, 2003.

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13 - ATIVIDADE

QUESTÕES

1. Quais as características do conhecimento cientifico?

2. Caracterize a pesquisa cientifica. Explique o é que pesquisar?

3. Identifique a diferença entre a pesquisa acadêmica e a pesquisa de ponta.

4. O que é coleta de dados e quais os seus procedimentos?

5. Escolha um tipo de pesquisa cientifica e comente.

6. Quais as diferenças ente um artigo cientifico e um ensaio cientifico.

7. Quais as etapas essenciais de um relatório cientifico?

8. Explique a diferença entre a técnica da entrevista e o questionário.

9. O que é “estudo de caso”?

10. Escolha um tema para pesquisar e justifique sua escolha.

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