UM GRITO DE ALFORRIA: ADICTOS NUNCA MAIS!RIOS DE CLÍNICA DE RECUPERAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS...

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UM GRITO DE ALFORRIA: ADICTOS NUNCA MAIS! Cidadãos Brasileiros Como Outros Quaisquer. Portadores de Uma Doença Como Outra Qualquer.

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UM GRITO DE

ALFORRIA: ADICTOS

NUNCA MAIS!

Cidadãos Brasileiros Como Outros Quaisquer.

Portadores de Uma Doença Como Outra

Qualquer.

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UM GRITO DE ALFORRIA:

ADICTOS NUNCA MAIS!

Saiba Porque os Tratamentos

para Dependentes de Drogas

Normalmente Não Dão Certo

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Dedicado aos meus filhos Victor Marcelo R. da Rocha e Maria Isabel G. da

Rocha. O princípio da busca e o fim da angústia. Victor que há 16 tantos anos sustenta meus sonhos e planos e Maria que,

em poucos meses de vida, vida de bebê, fez a minha vida renascer.

.

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Texto revisado em concordância com o Novo Acordo da Língua

Portuguesa

© - 2011 - Marcelo da Rocha

Capa

Fábio Soares da Silva

Contato: [email protected] – celular 21 8394 8883

Contra capa

Ana Claudia de Góes Lopes da Rocha

Revisão

Bianca Coutinho

Contato: [email protected]

Editoração

Marcelo da Rocha

Gráfica Impressão

Tesouro Laser Cópias

ADQR – ASSOCIAÇÃO DOS DEPENDENTES QUÍMICOS

EM RECUPERAÇÃO

BRASIL

E-mail: [email protected] [email protected]

http://www.adqrbrasil.com

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Agradecimentos Francisco Fabiano – O “Velho Chico”. Amigo leal e co-fundador da ADQR, com sua incansável determinação e

alegria, além de uma extraordinária capacidade de me suportar, foi pessoa fundamental que fez com que o Movimento dos Dependentes Químicos chegasse a existir. Velho Chico, tenho saudades de ti!

Dona Eracy Ciattei Cavalheira errante. Sem escudeiros ou palácios, lutando ora com dragões, ora com tiranos. Meu

mais sincero muito obrigado por ter dado abrigo e carinho à família de retirantes fugitivos e lutado por nossas vidas e saúdes. Sem a senhora minha família jamais teria conseguido superar os obstáculos da vida.

Para Sonia Maria – Iaiá – Mãe. Este livro é a chance que Deus me dá de produzir um agradecimento a

maior revolucionária que tive a oportunidade de conhecer. Uma mulher de fibra e coragem dignas de narrativas épicas. Uma visionária, capaz de sonhar com um mundo surreal no qual seus filhos tinham educação, tinham escola. Ela que desejava aprender a juntar as letrinhas e desvendar seus significados, mas que não teve oportunidade, pois o canavial campista era seu professor desde que aprendeu a andar. Viu do meio do mato, ainda vestida de chita, dois filhos na faculdade, nunca lhe faltando comida. A boia-fria formou na UERJ uma MATEMÀTICA e na PUC um ANALISTA em computadores. Do seu terceiro filho, que não é doutor, o carinho eterno de maior admirador.

A minha esposa amada, mãe de minha filha Maria Isabel. Minha doce descendente de nordestinos de olhos verdes e lindos, ANA. Que só não são mais lindos que teu sorriso. Sorriso que só não é maior que

seu coração. Coração que não é mais puro que sua alma. Alma pela qual me apaixonei quando ainda era garoto e não resistia ao te ver sem querer te ter.

Desejo que suportou mais de 10 anos de privação. Cruel privação de não poder seus olhos ver. Separados por momentos e

lugares diferenciados. Mas nunca, me parece, deixamos de estar apaixonados. Doce Ana que me reencontra na dor, me reencontra na lama, que me

reencontra, que me ama.

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Nestes dias mais azuis, minha maior frustração: não ser mais íntimo de Deus para pedir-lhe que o firmamento mudasse de cor em homenagem ao nosso amor.

Te amo!

PREFÁCIO DO AUTOR

Longe de ser uma autobiografia “Um Grito de Alforria: Adictos Nunca Mais!” É... Uma contestação a todos os modelos de tratamentos existentes para dependentes de drogas no Brasil. Uma crítica às posturas acomodadas, sem ética e pouco científicas dos profissionais da área. Uma análise das ações e política públicas para a questão das drogas. Uma tomada de postura cidadã de um portador da doença dependência química. Uma denúncia à prática de maus tratos e torturas físicas e psicológicas contra dependentes químicos como algo que está sendo banalizado na sociedade brasileira. Tudo fundamentado, com textos científicos, extratos da mídia e com a experiência de quem vive o lado de paciente do sistema e foi líder de um movimento de inclusão social sem precedentes na história brasileira, movimento ADQR - da associação dos dependentes químicos. Uma abordagem inteligente e lúcida da realidade das drogas no Brasil

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INÍCIO ............................................................................................................................................... 12

ESCRAVOS-ANÔNIMOS................................................................................................................. 13

QUEM MANIPULA QUEM? ............................................................................................................. 17

OS SIMPLISTAS .............................................................................................................................. 26

“É PRECISO DAR MAIS DO QUE DOZE PASSOS!” .................................................................... 26

PARÁBOLA DO MECÂNICO .......................................................................................................... 31

POR QUE ACEITO O TERMO DEPENDÊNCIA QUÍMICA ............................................................. 35

CLASSIFICAÇÕES MÍNIMAS PARA SE PROPOR TRATAMENTO ADEQUADO ........................ 37

ENTREVISTA CONCEDIDA NO INÍCIO DO MOVIMENTO AO JB ................................................ 57

A ADQR – ASSOCIAÇÃO DOS DEPENDENTES QUÍMICOS EM RECUPERAÇÃO ................... 58

DEPÓSITO DE PACIENTES............................................................................................................ 69

LUTAS ADQR .................................................................................................................................. 76

ADQR X CAMARADA HALAIS ....................................................................................................... 79

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UM SONHO - MANIFESTO ADQR .................................................................................................. 84

RESUMOS DA ADQR ...................................................................................................................... 86

CADÊ A ÉTICA? O GOOGLE NÃO ACHOU! ...............................................................................107

CLIPPING DE TORTURADOS NA DEPEDÊNCIA ....................................................................... 119

DEPÓSITO DE PACIENTES..........................................................................................................120

CÁRCERE PRIVADO TERCEIRA SÉRIE TIM LOPES 27/03/2002 ................................................................123

CLÍNICA DE DEPENDENTES QUÍMICOS É ACUSADA DE MAUS TRATOS 24/04/2006......................................................................................................................................124

PROPRIETÁRIOS DE CLÍNICA DE RECUPERAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS SÃO DENUNCIADOS EM UBERLÂNDIA .................................................................132

CLÍNICAS CLANDESTINAS MALTRATAM DEPENDENTES QUÍMICOS 10/09 ..............................................136

O CASO BETE E ALEX .................................................................................................................146

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS. ..............................................................................................154

INVOLUNTÁRIO LEGAL, ILEGAL X COMPULSÓRIA E SUA CONSEQUÊNCIA. .....................173

SOBRE A INICIAL ( PETIÇÃO) .....................................................................................................185

CÁRCERE PRIVADO TERCEIRA SÉRIE TIM LOPES 27/03/2002 JN TV GLOBO ...........................................186

JUSTIÇA OBRIGA INTERNAÇÃO DE VICIADA EM CRACK ......................................................191

O ESTADO REDUTOR DE DANOS ..............................................................................................194

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A LIFE DEVOTED TO HELPING DRUG ADDICTS ......................................................................205

ZURIQUE NÃO É AQUI! ................................................................................................................209

TERAPIA EM GRUPO VIROU “GRUPO .......................................................................................215

VERDADES II.................................................................................................................................221

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-Marcelo da Rocha- 12

INÍCIO

Convido você neste momento a acompanhar-me no que pretendo

que seja o início de uma reflexão sobre a possibilidade de um grito de alforria de um segmento da sociedade estigmatizado, sofrido, portador de uma doença.

Uma população que se esconde em sociedades secretas1 para obter tratamento, que choram e agonizam junto com suas famílias, que são vítimas de falsos profissionais, de maus tratamentos e são até torturados quando internados. Os melhores tratamentos apresentam índices de recuperação que não ultrapassam 35% de resultado positivo. Os que não conseguem estabilizar a doença vão morrer de outras doenças físicas relacionadas ao consumo, pela violência associada ou por overdoses. Mais de 60% têm pouca ou nenhuma chance de vida e permanecem em uma constante luta por uma sobrevida com dignidade. Não estou falando nem de portadores do vírus da AIDS nem tampouco de portadores de algum tipo fatal de câncer. Estou falando dos Escravos, dos Adictos, como fomos adestrados a nos autorrotularmos. Portadores de uma doença de crença incurável, que pode levar à morte, consequência que pode não ser a pior.

Este trabalho poderá ser usado como uma espécie de orientador para aqueles que estão iniciando seus tratamentos em dependência química2, pois é escrito por uma pessoa que ao longo de mais de 15 anos esteve em contato com os mais diversos tipos de tratamentos, de linhas terapêuticas e terapeutas. Sempre em busca de um diagnóstico acertado e um maior equilíbrio de seu quadro.

Não venho escrevendo na primeira pessoa do singular propositalmente, pois há o objetivo de um primeiro movimento de crítica aos comportamentalistas3, muito presentes nos tratamentos de dependentes químicos, dos quais reservarei um momento mais adequado para comentários sobre seus métodos, bem como alguns outros modelos disponíveis para possíveis tratamentos de dependência química.

1 Reuniões de irmandades anônimas onde o anonimato é fundamental para

participação. Tipo AA(alcoólicos Anônimos) ou NA ( Narcóticos Anônimos) 2 A Organização Mundial de Saúde tem um Código Internacional de Doenças onde classifica dependência química como uma enfermidade incurável e progressiva, apesar de poder ser estacionada pela abstinência. 3 busca as raízes do comportamento humano através de análises funcionais, evitando

assim, interpretações do terapeuta sobre a história de vida de seus clientes.

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-Um Grito de Alforria- 13

Além de paciente e observador também sou ex-militante do que talvez

tenha sido a única experiência de movimento social representativo dos dependentes químicos no Brasil, o ADQR (Associação dos Dependentes Químicos em Recuperação). Movimento pioneiro que ajudei a fundar e fui presidente, o qual não tenho dúvidas: é o que tenho de mais rico em experiência para partilhar, tendo a finalidade de contribuir com a promoção de uma possível construção de cidadania no perfil do subjugado, amordaçado, discriminado e envergonhado dependente químico.

A partir desta experiência a frente da ADQR, o que passarei a falar não é mais um discurso teórico e sim um constatação da valia de uma prática cidadã, da consciência de se viver em um Estado Democrático de Direito e não em uma república moralista religiosa.

ESCRAVOS-ANÔNIMOS

Voltando ao grito de alforria do “povo escravo”, é preciso contextualizar

aqueles que não estão familiarizados com os termos do mundo da dependência química.

A maior parte dos dependentes químicos (mais adiante quero dissertar sobre esta definição), sobretudo os que têm origem em NA (Narcóticos Anônimos) adotaram o nome para si de “adictos” que tem origem na palavra do latim addictu. Abaixo podemos observar um trecho da tese de doutorado de Dra. Vanuza Monteiro Campos Postigo para clarear este caso. Vamos a ela:

A adicção: terminologia e definição

O termo “adicção” provém do latim addictu, dos tempos da

República Romana. Adicctu, particípio passado do verbo addico,

addicere, significa “escravo por dívidas”, denomina o homem que,

para pagar uma dívida, se convertia em escravo por não dispor de

outros recursos para cumprir o compromisso contraído.

(GURFINKEL, 1995, p. 109).

No Dicionário Aurélio (1996), adicção significa "adicto" – que é na verdade um adjetivo – e diz respeito a:

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-Marcelo da Rocha- 14

1. Feiçoado, dedicado, apegado. 2. Adjunto, adstrito,

dependente; ou então 3. Em medicina é quem não consegue

abandonar um hábito nocivo, mormente de álcool e drogas, por

motivos fisiológicos ou psicológicos.

Daí viria a expressão “indivíduo adicto”. Joyce McDougall é quem vai cunhar a palavra na língua francesa, pois os termos addict e addiction não existiam em francês e ela os formulou para fugir da palavra “toxicomanie” (MCDOUGALL, 1997, p. 200).

McDougall escolheu o termo “dependência da droga” (addiction em inglês), em vez de seu equivalente em francês, “toxicomania” (toxicomanie), por aquele ser mais expressivo do ponto de vista etimológico, destacando que addiction leva ao estado de escravo – portanto à luta desigual do indivíduo com uma parte de si mesmo – enquanto a seu ver a toxicomania indicaria prioritariamente o desejo de se envenenar (MCDOUGALL, 1989, p. 53), pois toxicomanie significa literalmente “um desejo louco por veneno” (Id, 1997, op. cit., p. 200).

Para ela, que está em busca de uma dimensão outra que não a

toxicológica ou farmacológica da patologia adictiva, o termo adicção

ilustra melhor o sentido dinâmico e fantasístico da procura ao objeto,

assim como a dimensão econômica e compulsiva adictivo (FINE,

2003, p. 186). Ou seja, privilegia a relação que se estabelece entre o

sujeito e o objeto da adicção, com destaque na busca desenfreada

envolvida na dinâmica desta relação. Vemos então que o resgate

feito do termo dos tempos romanos pretende colocar em relevo a

dimensão da fantasia envolvida na busca do objeto, para além de

uma concretude de uma dependência por um “envenenamento”

toxicológico.

(Campos Postigo:2006)

Excelente trabalho desenvolvido pela doutora Campos Postigo, o qual não tenho menor pretensão de contrariar. A ideia não é essa! Pelo contrário, o dependente químico que conhecemos guarda estreita relação com o termo romano:

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-Um Grito de Alforria- 15

Vemos então que o resgate feito do termo dos tempos

romanos pretende colocar em relevo a dimensão da fantasia

envolvida na busca do objeto, para além de uma concretude de

uma dependência por um “envenenamento” toxicológico.

Todavia a valorosa doutora está referindo-se tão somente ao

dependente quando fazendo uso da sua dita “droga de escolha”4. E eu

digo que o resgate do termo dos tempos romanos põe em relevo também no que, ou em quem, os tratamentos para dependentes químicos transformam seus pacientes: “escravo por dívidas”. É o discurso do dependente químico, do adicto, dentro das salas das irmandades: “Sou grato à irmandade pela minha vida”; nas ONG's: ”Sou grato à casa de recuperação, Nunca Mais Bebi”. Ou a gratidão é às igrejas, aos pais de santos, aos psicólogos, aos conselheiros: “Não tenho como pagar o que recebi aqui”.

Por esta gratidão, o dependente químico passa a ser escravo do programa, da linha terapêutica, da religião e etc.. Com as mesmas características de sua antiga escravidão: submissão, subjugação, dependência, constrangimentos públicos, clandestinidade (caso de drogas ilícitas, ou de quem bebe escondido, por exemplo), e por aí vai.

A gratidão costuma ser grande ao ponto de cegar o recuperando, que não percebe a sorte de constrangimentos aos quais foi submetido, humilhações e várias situações desnecessárias que nada tiveram de terapêuticas.

Muitos não conseguem ficar nos “tratamentos” por conta de regras esdrúxulas, autoritarismos, terror psicológico, confrontos e outras séries de barbáries em casas de internação e ambulatórios. Mas a gratidão é tanta que estas coisas tornam-se detalhes, como era detalhe e muito natural açoitar um escravo por tentar fugir da senzala no Brasil – colônia - império.

Como seus donos... Opa! Terapeutas dizem, estas situações fazem parte do tratamento, e quem não aguentar ou está negando a doença ou é muito resistente ao mesmo.

Um bom escravo é leal, ainda mais se este tiver a consciência de que é escravo por dívida e a dívida do dependente químico, agora que em tratamento, é por gratidão.

4 Substância química mais usada pelo dependente. Aquela pela qual ele tem

preferência; maior busca. Não necessariamente a única de uso.