Um olhar geométrico sobre os espaços esportivos

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Um olhar geométricosobre os espaços esportivos

A elegância exibida pela Geo­metria inspira desde enge­nheiros que constroem am­bientes modernos e exóticos, como o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que ganhou notoriedade internacional, até artistas consagrados pela pintura ou escultura.

Muitos desses mestres da arte se basearam nos prin­

cípios geométricos para desenvolver obras que atualmente pertencem ao patrimônio cultural da humanidade. Entre esses, pode­se destacar o caso do espanhol Pablo Picasso e do artista gráfico ho­landês Maurits Escher, um mestre em retratar espé­cies impossíveis de espaço por meio da exploração de padrões geométricos.

A versatilidade proporcionada pela Ciência Matemá­tica contribui na construção da maioria dos projetos que oferecem tecnologia, conforto e praticidade ao homem. O computador, por exemplo, foi idealizado por uma sucessão de experimentos e trabalhos de­senvolvidos por cientistas matemáticos.

Nesse sentido, o professor da área de exatas dispõe de um amplo campo de composições de idéias e es­paços, nos quais as aplicações dos conceitos mate­máticos se mostram úteis, indispensáveis e lógicas.Então, refletindo sobre os possíveis benefícios que a contextualização proporciona, pensei: “Como o alu­no da 7ª série / 8º ano pode assimilar, de forma mais coerente, conceitos geométricos sobre triângulos e variados tipos de quadriláteros”?

Nessa época, os estudantes estavam voltando das férias de julho do período letivo de 2007, o que coincidia com o término dos Jogos Pan­americanos sediados no Rio de Janeiro, e a maioria se mostrava entusiasmada com os resultados obtidos pelos atle­tas brasileiros.

Nesse agito de comentários esportivos, iniciamos os trabalhos envolvendo o estudo dos conceitos, pro­

priedades e classificações das figuras planas. Como o objetivo era atingir uma aprendizagem significati­va, exercícios dos livros didáticos foram deixados de lado e foi proposta uma atividade que apresentava a importância das figuras geométricas planas na orga­nização do espaço para a prática de alguns esportes: o vôlei, que utiliza retângulos para delimitar a qua­dra; o judô, que se beneficia de uma composição de quadrados; e o basquete, que usa um misto de retângulos e trapézios para demarcar o seu espaço. Os estudantes perceberam e compreenderam que a Geometria da aula de Matemática se faz presente o tempo todo nas quadras, piscinas e campos.

Considerando que o esporte promove a interação e a socialização, e que a filosofia da prática esportiva estimula o indivíduo a oferecer o melhor de si, con­tanto que respeitem regras e adversários, sugeri uma atividade para aliar o entusiasmo que o esporte gera e o estudo dinâmico dos conceitos geométricos.

Os estudantes receberam a seguinte orientação: “Usando o seu material, crie uma quadra que possua uma composição de figuras geométricas. Invente um novo esporte: organize as regras técnicas fundamen­tais, bem como a determinação de tempo e as rou­pas adequadas para sua prática”. Os alunos recebe­ram uma ficha com alguns itens a serem seguidos e registrados: Identificação dos integrantes do grupo; Nome do esporte; Significado do nome do esporte criado; Número e função dos participantes no jogo; Breve descrição do esporte; Organização do tempo; Roupas adequadas para a prática do jogo; Regras básicas para o funcionamento; Comentário sobre a atividade; Elaboração de um possível modelo de quadra para a prática do novo esporte.

Durante a realização da atividade, os alunos se mos­traram participativos, comprometidos e responsáveis. A produtividade aliada à criatividade deu origem a trabalhos formidáveis. Entretanto, não foi o resulta­do final que impressionou, mas todo o processo de construção e organização do trabalho.

Os alunos trabalhavam de forma cooperativa e so­lidária. A preocupação com a linguagem escrita e a

Kátia Bertolazi

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interpretação correta de conceitos matemáticos rela­cionados a uma forma geométrica fez a turma racio­cinar de modo investigativo, testando, questionando e buscando a maneira mais apropriada para retratar cada situação.

Os rostos expressavam a satisfação com que a tarefa era realizada, visto que dialogavam e discutiam a me­lhor forma de elaborar cada detalhe. Após a constru­ção do que chamamos de “ficha técnica do esporte”, cada grupo confeccionou uma maquete da quadra do esporte imaginado por eles, com direito a pintura caprichada, bonecos caracterizados, bolas, acessó­rios, banco de reserva e até arquibancada.

O trabalho artístico­artesanal da maquete superou as expectativas. Os estudantes criaram coisas por meio de seus próprios talentos, sentiram a importância de serem pacientes com o colega que tem mais dificul­dade e distribuíram tarefas conforme a habilidade de cada um. Além disso, provaram que bom­humor é excelente para quebrar obstáculos e chegar ao su­cesso, pois até trilha sonora escolheram para combi­nar com o trabalho realizado.

A aprendizagem significativa acontece quando o professor é capaz de estimular o estudante a estudar e agir com espontaneidade.

Quadro dos Esportes Fictícios criados pela turma da 7ª série/2007 da Escola Franciscana Santa Isabel, si-tuada em Bandeirantes/PR:

• Batalha Aquática: Pratica­se sentado em uma bóia, e o objetivo é “acertar” o adversário usando uma bola de plástico. O esporte pode ser praticado em uma piscina cujo espaço é delimitado por retângulos. A dificuldade reside na instabilidade da bóia, gerada pelos movimentos do jogador.

• Futebasquetebol: Uma mistura de futebol com bas­quete que demanda bastante atenção e velocidade. A quadra foi produzida utilizando trapézios e losan­gos. Uma das regras do esporte impõe que, fora do “garrafão”, só se pode jogar com os pés.

• FeTeMeKeR BORY: O nome do esporte originou­se da junção das letras iniciais dos nomes das criadoras. Segundo elas, “Bory” é para acrescentar charme e so­

fisticação. A quadra é composta por triângulos, retân­gulos, trapézios e um quadrado, o qual marca o centro da quadra. O esporte exige corrida, velocidade e rapi­dez de raciocínio, e uma das regras informa que ao tri­ângulo direito da quadra só terá acesso o jogador que veste camisa de número par e ao triângulo esquerdo, o atleta que estiver vestindo camisa de número ímpar. De acordo com as alunas, o esporte assemelha­se ao futebol, só que jogado com as mãos.

• Futevôlei: Caracteriza­se como um “tipo de vôlei” jogado com os pés, no qual a função do jogador é dominar a bola para seu companheiro e passá­la para o outro lado por cima da rede. A delimitação da quadra é feita por retângulos com linhas retas tracejadas. Uma das regras impõe que o jogador não pode tocar a bola com as mãos.

• Pirelli Ball: É uma espécie de esporte em que os jo­gadores correm e traçam estratégias de repasse de bola para acertá­la dentro do pneu para fazer a pon­tuação. A quadra compõe­se de retângulos com se­micircunferências para delimitar o espaço.

• Tabuleiro de Guerra: Caracteriza­se como um con­fronto entre dois jogadores oponentes que mos­tram suas habilidades no manejo das peças. Adap­tação do jogo de xadrez, a quadra é em forma de losango. Uma das regras determina que rei nunca “mata” rei, este anda para todos os lados e pode “pular” um participante do seu time.

• Bamboboll (b3): b3 é uma referência às três letras “b” que aparecem na denominação, simbologia que deriva de uma brincadeira humorada em relação à representação de uma potência. É uma mistura de bambolê com bola, e a quadra apresenta­se em for­ma de losango com um círculo ao centro trazendo o símbolo b3. O jogo mistura corrida com perfor­mance de bambolê; cada jogador pode ficar apenas 10 segundos com o bambolê parado na mão, caso contrário é marcada a falta. ¢

Kátia Socorro Bertolazi é graduada em Matemática, especialista em Educação Matemática e professora de Ensino Fundamental e Médio.

www.redecatolicadeeducacao.com.br

A aprendizagem significativa acontece quando o professor é capaz de estimular o estudante a estudar e agir com espontaneidade.