UM PENSAMENTO VIVO
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Um pensamento vivo1
A Revista do Caf, em sua edio comemorativa do centenrio do Centro do
Comrcio de Caf do Rio de Janeiro, publicou entrevista com o ex-ministro (agricultura
e economia), ex-deputado federal e professor emrito da FEA-USP, Dr. Antnio Delfim
Netto. Percorrendo as quatro pginas que compem a matria, nos damos conta da
estonteante lucidez com a qual se posiciona o professor. As temticas abordadas h
quase 20 anos atrs continuam pertinentes, pois transitam em torno dos problemas dos
quais ainda muito padece a cafeicultura brasileira.
O grau de tutela governamental sobre o agronegcio aparenta consistir no
aspecto fundamental da anlise do professor Delfim. Com bem denota o professor, a
administrao pblica do mercado de caf fazia algum sentido macroeconmico quando
a pauta exportadora brasileira era, majoritariamente, dominada pelos embarques de caf.
Atualmente e felizmente para a nao, no mais assim! A diversificao da matriz
econmica-(agro)industrial brasileira no possibilita qualquer chance de xito em
tentativas de gerir um mercado especfico ou administrar a taxa de cmbio.
Recentemente, as lideranas da cafeicultura tornaram a empenhar-se pelo
reestabelecimento de polticas pblicas de interveno no mercado de caf com um
importante diferencial inovativo: as polticas estariam moldadas para adequarem-se ao
ciclo bienal de produo. Se por um lado no se pode continuar demonizando a
subveno pblica para a produo agropecuria, por outro, deve-se ter muito claro a
limitao do poder pblico em alcanar metas em ambientes sumamente complexos
como , atualmente, a financeirizao que controla desde a produo at as transaes
de commodities.
A experincia passada demonstrou que as tentativas de administrar o mercado
por meio de cotas, retenes e outros procedimentos artificiais foram extremamente
prejudiciais aos interesses da cafeicultura brasileira. Todos devem se recordar do
fracasso que foi a Associao dos Pases Produtores de Caf (APPC) que, em 2001,
tentou frear as exportaes dos pases signatrios e gerou uma perda estimada por mim
e pelo meu colega Luis Moricochi de US$400 milhes em receitas cambiais naquele
ano safra.
Devemos ter polticas pblicas apropriadas, entretanto priorizando aquelas que
so pr-mercado como os contratos de opes; as subvenes para a contratao de
seguro (segurana contratual); o financiamento continuado visando o incremento da
qualidade do caf brasileiro; etc... Essa histria de que a cafeicultura no Brasil vai
acabar uma tremenda balela. O professor Delfim nos lembra de que no o caf que acaba, mas a propriedade que muda de dono. 1 O resgate da entrevista foi uma sugesto do Dr. Guilherme Braga, diretor executivo do
CECAFE.
Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng. Agr., M.S., Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
Pesquisador Cientfico do IEA