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47 Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 18: 47-68, 2008. Um sítio da tradição cerâmica Aratu em Apucarana, PR* Pedro Ignácio Schmitz** Jairo Henrique Rogge** SCHMITZ, P.I.; ROGGE, J.H. Um sítio da tradição cerâmica Aratu em Apucarana, PR. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 18: 47-68, 20008. Resumo: O texto descreve um sítio arqueológico descoberto na cidade de Apucarana, PR, no qual predominam elementos Aratu como eles foram estudados no Brasil Central, mas estão presentes também importantes elementos da tradição Itararé, como ela aparece no sul do Brasil. O sítio encontra-se em alta colina que divide as águas dos rios Tibagi, Pirapó e Ivaí, afluentes do rio Paranapanema. Em ambiente de clima subquente, com precipitação atmosférica de 1.500mm, solos ricos, cobertos por Floresta Tropical Semidecídua, vizinhando com Floresta Subtropical decídua com Araucaria angustifolia. Por AMS, o sítio foi datado do século XIV/XV de nossa era, data que corresponde ao período em que a tradição Aratu tinha criado núcleos de povoamento no Nordeste, no Centro-oeste, no Sudeste e no Sul do país, em áreas de Mata Atlântica, enclaves florestados dentro do cerrado e áreas de tensão ecológica na floresta tropical. Para deixar clara a posição do sítio, o trabalho recapitula as informações mais importantes da tradição Aratu. Palavras-chave: Apucarana – Sítio Aratu – Contato Itararé. Minas Gerais. Posteriormente foram estudados sítios no norte, nordeste e leste de São Paulo, em ambientes ainda parecidos. A recente descoberta de um grande assentamento Aratu em Apucarana, no norte do Estado do Paraná, no limite da Floresta tropical com a Floresta subtropical com presença de Araucaria angustifolia, mostra que a população dessa tradição cerâmica teve maior expansão e maior adaptabilidade ambiental do que parecia inicialmente, ocupando desde a densa floresta do litoral do Nordeste e Centro, a enclaves florestados em meio ao cerrado do Nordeste e do Brasil Central, até a floresta tropical do interior de São Paulo e do norte do Paraná. Seu território confrontava com o de outras populações, que muitas vezes competiam (*) Os autores agradecem a Osvaldo Paulino da Silva, Miriam Carle e Rogério Carle, que fizeram o trabalho de campo, a primeira análise e o relatório técnico, e deixaram todo o material e documentação sob a guarda do Instituto Anchietano de Pesquisas. Agradecem a Fúlvio Vinicius Arnt o apoio na leitura do texto e das ilustrações. (**) Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS. Schmitz <[email protected]>; Rogge <[email protected]> Introdução s primeiras pesquisas regulares sobre sítios da tradição cerâmica Aratu foram realizadas em áreas de clima quente, no litoral e no interior da Bahia, em Goiás e em A Pedro Ignácio Schmitz - Jairo Henrique Rogge.pmd 05/05/2009, 22:31 47

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Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 18: 47-68, 2008.

Um sítio da tradição cerâmica Aratu em Apucarana, PR*

Pedro Ignácio Schmitz**Jairo Henrique Rogge**

SCHMITZ, P.I.; ROGGE, J.H. Um sítio da tradição cerâmica Aratu em Apucarana,PR. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 18: 47-68, 20008.

Resumo: O texto descreve um sítio arqueológico descoberto na cidade deApucarana, PR, no qual predominam elementos Aratu como eles foram estudadosno Brasil Central, mas estão presentes também importantes elementos da tradiçãoItararé, como ela aparece no sul do Brasil. O sítio encontra-se em alta colina quedivide as águas dos rios Tibagi, Pirapó e Ivaí, afluentes do rio Paranapanema. Emambiente de clima subquente, com precipitação atmosférica de 1.500mm, solosricos, cobertos por Floresta Tropical Semidecídua, vizinhando com FlorestaSubtropical decídua com Araucaria angustifolia. Por AMS, o sítio foi datado doséculo XIV/XV de nossa era, data que corresponde ao período em que a tradiçãoAratu tinha criado núcleos de povoamento no Nordeste, no Centro-oeste, noSudeste e no Sul do país, em áreas de Mata Atlântica, enclaves florestados dentrodo cerrado e áreas de tensão ecológica na floresta tropical. Para deixar clara aposição do sítio, o trabalho recapitula as informações mais importantes datradição Aratu.

Palavras-chave: Apucarana – Sítio Aratu – Contato Itararé.

Minas Gerais. Posteriormente foram estudadossítios no norte, nordeste e leste de São Paulo, emambientes ainda parecidos. A recente descobertade um grande assentamento Aratu em Apucarana,no norte do Estado do Paraná, no limite daFloresta tropical com a Floresta subtropical compresença de Araucaria angustifolia, mostra que apopulação dessa tradição cerâmica teve maiorexpansão e maior adaptabilidade ambiental doque parecia inicialmente, ocupando desde adensa floresta do litoral do Nordeste e Centro, aenclaves florestados em meio ao cerrado doNordeste e do Brasil Central, até a florestatropical do interior de São Paulo e do norte doParaná. Seu território confrontava com o deoutras populações, que muitas vezes competiam

(*) Os autores agradecem a Osvaldo Paulino da Silva,Miriam Carle e Rogério Carle, que fizeram o trabalhode campo, a primeira análise e o relatório técnico, edeixaram todo o material e documentação sob a guardado Instituto Anchietano de Pesquisas. Agradecem a FúlvioVinicius Arnt o apoio na leitura do texto e das ilustrações.(**) Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS.Schmitz <[email protected]>;Rogge <[email protected]>

Introdução

s primeiras pesquisas regulares sobresítios da tradição cerâmica Aratu

foram realizadas em áreas de clima quente, nolitoral e no interior da Bahia, em Goiás e em

A

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pelos mesmos ambientes. O contato com essaspopulações resultou em sítios em que, alémdos materiais da tradição cerâmica Aratu, estãopresentes cerâmicas da tradição Tupiguarani, datradição Uru, ou da tradição Taquara/Itararé. No sítio de Apucarana, o abundantematerial cerâmico da tradição Aratu vemacompanhado de certo volume de elementosda tradição Taquara/Itararé, que dominava oPlanalto Meridional. O intercâmbio detecnologias na fabricação tanto da cerâmica,quanto do lítico, sugere a convivência nessaúltima aldeia de pessoas de duas populaçõesdiferentes.

O sítio localiza-se dentro da cidade deApucarana, na encosta de suave colina, a 785 mde altitude, junto às nascentes do rio Pirapó, nodivisor de águas entre os rios Tibagi e Ivaí.

Por enquanto Apucarana é um assentamen-to isolado num ambiente em que convergemformações florestais variadas, representativas doPlanalto Central, do Planalto Meridional e daBacia do rio Paraná. Ele está longe da principalárea de povoamento da tradição Aratu epróximo da área dominada pela tradiçãoTaquara/Itararé. Ainda não se conhece nosarredores nenhum sítio desta tradição meridio-nal, mas ao longo dos rios antes mencionadosforam localizados assentamentos da tradiçãoTupiguarani.

O texto começa com um panorama datradição cerâmica Aratu, buscando umamoldura para o sítio e a problemática destainstalação. Depois apresenta o sítio e o resgatedo material e descreve a cerâmica e os artefatoslíticos. As considerações finais procuramcaracterizar o assentamento e sua posição nopovoamento da área.

1. A tradição Aratu

A tradição cerâmica Aratu foi estabelecidapelo PRONAPA (Programa Nacional dePesquisas Arqueológicas) a partir de trabalhorealizado por Valentin Calderón, na Bahía. Onome foi dado em atenção à cidade industrial deSalvador, na qual foram encontrados sítiosrepresentativos (Brochado et al. 1969).

Pesquisas sobre a tradição foram feitas naBahía (Calderón 1969, 1971, 1974; Fernandes2003), no Espírito Santo (Perota 1971, 1974),em Minas Gerais, com o nome de tradiçãoSapucaí (Dias Jr. 1971); no Tocantins (Oliveira2005; Morales 2005); em Goiás (Schmitz et al.1982; Wüst 1983; Schmitz & Barbosa 1985,Robrahn-González 1996; Viana 1996; 2004);em São Paulo (Maranca, Silva & Scabello 1994;Alves & Cheuiche Machado 1995/96; Alves &Calleffo 1996; Robrahn-González et al. 1998;Caldarelli 1999, 2003; Gomes 2003; Alves2003, 2004; Afonso & Moraes 2005/2006).

A tradição identifica uma populaçãoagrícola, com grandes e duradouros sítioshabitacionais, em que poderiam morar até maisde mil pessoas, junto aos quais podem serencontrados cemitérios contendo até umacentena de urnas funerárias. Sítios atribuídos aessa tradição vêm sendo encontrados no Nordes-te, Centro, Sudeste e Sul do Brasil, em áreas declima quente a sub-quente, com solos suficientespara agricultura, cobertas por florestas, regadaspor abundantes chuvas anuais, mesmo se estassão interrompidas por diversos meses secos;instalação preferencial em interflúvios, naproximidade de córregos e rios menores, emrelevo suave a medianamente ondulado. (cf.Geografia do Brasil 1977, passim).

Eles foram registrados em diversos locais dacosta da Bahía, de Sergipe, de Alagoas e doEspírito Santo, em áreas de clima quente e super-úmido, sem mês de seca, cobertas por Florestaperenifolia higrófila; no interior da Bahía, doPiauí, do Tocantins, do norte e sudeste de Goiás,em áreas de clima quente, semi-úmido com váriosmeses de seca, cobertas por Floresta tropicalsemi-decídua, formando enclaves em áreas decerrado; também no sul de Minas Gerais, nonorte, nordeste e leste de São Paulo e, com onovo sítio aqui descrito, também no norte doParaná, em áreas de clima quente a sub-quente,úmido, cobertas por Floresta tropical semi-decídua, com presença, ou na proximidade deCerrados. Das áreas em que predomina oCerrado parecem ter sido aproveitados paraassentamento os maiores enclaves florestados, naverdade ricas áreas de tensão ecológica, que lhesproporcionariam o domínio simultâneo de um

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variado gradiente ambiental. Nas áreas deFloresta tropical semi-decídua do Sudeste e Sul,a proximidade de enclaves de Cerrado parece tersido igualmente importante para estabelecerassentamentos. A proximidade do sítio deApucarana com a floresta de Araucária podenão ser casual: na ausência de maior quantidadede frutos do cerrado, o pinhão no outonocomplementaria bem os cultivos de primavera-verão. Nos grupos estabelecidos ao longo dacosta atlântica, a relação com o ambienteprovavelmente não seria a mesma e outrosrecursos poderiam complementar os cultivos(Figs. 1 e 2).

No limite com todos esses ambientes eculturas deveriam existir tensões fronteiriças, quepoderiam ser belicosas ou pacíficas. Na biblio-grafia da tradição Aratu foram registrados

diversos fenômenos de fronteira: com populaçõesda tradição Tupiguarani eles foram registrados noEspírito Santo, na Bahía, em Goiás, em MinasGerais e em São Paulo; com populações datradição Uru, foram registrados em Goiás, noTocantins e em São Paulo; com populações Jêdo Planalto Meridional resultaram contatos noParaná (o sítio em análise) e no sul de MinasGerais, onde, na fase Jaraguá, aparece uma casasubterrânea. Que tipo de relações haveria entreas populações da tradição Aratu e as datradição Una, nos cerrados de Goiás e MinasGerais, é mais difícil de estabelecer pela seme-lhança existente entre as cerâmicas dessas duastradições. Limites territoriais costumamoriginar sítios em que elementos de mais de umacultura aparecem juntos, mas não é fácildesvelar os processos que os originaram, as

Fig. 1. Áreas de ocorrência da tradição Aratu.

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relações que surgiram e a intensidade queassumiram (Rogge 2005; Souza 2005).

Nos sítios, a cerâmica costuma ser abundan-te, com variedade de formas e tamanhos, comonos outros grandes grupos agricultores brasilei-ros. Na preparação da pasta, além da argila, deacordo com a região, eram usados elementosminerais (areia quartzosa, hematita, grafite,mica) e vegetais (algum tipo de cariapé). Ovasilhame compreende jarros piriformes, ouglobulares, com até 75 cm de altura e 60 cm de

diâmetro; panelas grandes, médias e pequenas,com bordas inflectidas, mas sem reforços; tigelasde vários tamanhos, com bordas diretas, às vezesacasteladas; pequenos vasos geminados, muitocaracterísticos; recipientes com bases de múltiplosfuros, realizados enquanto a pasta estava fresca.As superfícies externas desse vasilhame sãoalisadas, algumas vezes engobadas ou compintura vermelha, com uma incisão, um entalhe,um rolete não obliterado, uma fila ou faixa decorrugados junto à borda. Raramente aparecem

Fig. 2. Vegetação original da área em que se instalou a tradição Aratu. Compare com o mapa da Fig. 1.

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pequenos apêndices mamilonares, em botão ouasa. Esta cerâmica não se confunde com a depopulações agrícolas vizinhas, que são a Uru e aTupiguarani, nem com a cerâmica da tradiçãoUna e da tradição Itararé, de populações nasquais o cultivo é menos desenvolvido e a caça e acoleta são mais aparentes.

O material lítico se compõe de seixospercutores, quebra-cocos, polidores, raspadoreslaterais, lâminas polidas de machado comgarganta ou semi-lunares, mãos-de-pilão picoteadase martelos, talhadores lascados e lascas comalgum retoque ou usadas diretamente. Aslâminas em forma de meia-lua são abundantesnos sítios do sudeste de Goiás, mas não é claro sepodem ser tomadas como identificadoras datradição.

Já existe certo número de datas que permi-tem pensar a expansão da tradição e as cronolo-gias regionais. Na Bahía os sítios apresentamcinco datas de C-14, entre 1080 +- 90 AP (SI-542) e 590 +- 50 AP (SI-541). No EspíritoSanto há três datas de C-14 para a tradiçãoAratu: 600 +- 45 AP (SI-1186), 470 +-80 AP(SI-1188) e 350 +- 60 AP (SI-1187). Em MinasGerais os sítios, inicialmente atribuídos àtradição Sapucaí, estão datados por C-14 em855 +- 90 AP (SI-822) e 855 +- 70 AP (SI-824).Em Goiás, onde os numerosos sítios se apresen-tam como grandes aldeias, 15 datas de C-14formam uma seqüência de 1220 +- 50 AP (Beta99031) a 480 +- 50 AP (Beta 92530); existemainda duas datas maiores, cujo significado émenos claro: 1650 +- 50 anos A.P. (Beta 92528)e 2280 +- 60 anos A.P. (Beta 92529). No MédioTocantins a única data de C-14 é 780 anos A.P.(Morales 2005).

Segundo Afonso e Moraes (2005-2006), emSão Paulo são conhecidos os seguintes sítios:Maranata (Olímpia), Água Limpa (Monte Alto),Água Branca (Casa Branca), Lagoa Preta I, LagoaPreta II, Tamanduazinho (São Simão) na baciado Rio Grande; Cachoeira das Emas I, na baciado rio Mogi Guaçu, e Caçapava I e Light na baciado rio Paraíba do Sul. Gaspar, Barbosa &Cordeiro (2007) acrescentaram, nessa bacia, umsítio em Aparecida, um em Natividade da Serra eum em São José dos Campos. Água Limpa, emMonte Alto, foi intensamente datada, não por C-

14, mas por TL, na USP: na Zona 1, as datas vãode 1524 +- 212 a 460 +- 50 anos AP (Alves2004: 315). A média das 10 datas seria 1035 +-148 anos AP, uma data compatível com as antigasda seqüência de Goiás. Na zona 2, as datas vão de890 +- 90 a 335 +- 35 anos AP (Alves 2004:315).A média dessas 10 datas seria de 582 +- 58 anosAP, uma data compatível com ocupações recentesda tradição Aratu em outros estados brasileiros.Em São Paulo temos ainda cinco datas de C-14do sítio de Caçapava I, que vão de 870 +- 40 a590 +- 50 anos AP (Caldarelli 2003). Há tambémduas datas no sítio Água Vermelha, uma de 1010+- 50 e outra de 700 +- 70 anos A.P. (Afonso &Moraes 2005-2006).

As datas disponíveis sugerem ocupaçõesantigas tanto na Bahia, como no sudeste deGoiás e no norte/nordeste de São Paulo. E umacontinuidade de ocupação, nas diversas áreas,até a conquista européia, apesar do avanço deoutras populações nos limites de seu territóriono leste, no oeste e no sul.

O sítio de Apucarana, com sua data de 590+- 40 anos AP (Beta 238714) é, por enquanto, oponto mais avançado para o Sul, já no limitecom a fria Floresta subtropical com Araucariaangustifolia.

As datas nos dão poucas informações sobrea origem da tradição e a especulação sobre amesma ainda não produziu resultados confiáveis(Brochado 1984). Acredita-se que a populaçãoteria pertencido ao tronco lingüístico Jê e que,no Planalto Central, os Kaiapó do Sul poderiamser representantes coloniais (Ataídes 1991, vertambém mapa de Peret 1971 e de Nimuendajú1980).

2. O sítio e a recuperação do material

Os dados para a descrição do sítio foramretirados do Relatório Final de Pesquisa doProjeto de Avaliação e Salvamento Arqueológicona Área do Empreendimento ImobiliárioResidencial Interlagos. Apucarana/Paraná,assinado por Osvaldo Paulino da Silva,Florianópolis, dezembro de 2001 (Fig. 3).

A história da identificação do sítioreporta-se aos últimos oito anos anteriores a

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2001, quando professores e alunos da escolaestadual Santos Dumont, localizada nacidade de Apucarana, começaram a recolherfragmentos cerâmicos e alguns artefatoslíticos numa antiga área de reflorestamentocom eucalipto.

A análise original do material cerâmico, bemcomo a elaboração do relatório respectivo,foram executadas pela arqueóloga Miriam Carle

e pelo estagiário Rogério Carle. A coordenaçãogeral dos trabalhos foi do arqueólogo Ms.Osvaldo Paulino da Silva.

O terreno possui topografia ondulada. Eleabrange antigas áreas agrícolas, utilizadasexaustivamente no ciclo do café. O centro dosítio encontra-se a 785 m de altitude, na altavertente de uma colina suave. Localizaçãogeográfica: 23º34’25.10S e 51º29’10.62W.

Fig. 3. A implantação do sítio arqueológico no ambiente e sua posição no EmpreendimentoImobiliário Residencial Interlagos.

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O levantamento foi executado através de umrastreamento superficial, orientado por transects,ou seja, linhas de caminhada distantes 10 m umada outra. Na área de maior concentração dematerial arqueológico procedeu-se, inicialmente, auma coleta assistemática do material de superfície.

Inicialmente fez-se uma coleta aleatória dosvestígios cerâmicos dispersos pelas áreas próximasà quadra 13, que são as quadras 2, 3, 12, 16 e 17.

Depois, quadriculou-se a quadra 13 eefetivou-se uma coleta sistemática de todos osvestígios dispersos superficialmente. Este núcleocentral tem aproximadamente 50 m de diâmetro(Fig. 3).

O resultado dos trabalhos apontou ainexistência de qualquer vestígio arqueológicorelevante, em superfície ou em profundidade, naárea do empreendimento fora da quadra 13,local onde foi identificado o sítio cerâmico.

Com autorização do IPHAN, todo omaterial, junto com o relatório, ficaram deposi-tados no Instituto Anchietano de Pesquisas,onde o material foi novamente submetido aanálise parcial, de que resultou esta publicação.

A retomada da análise mostra que se trata,realmente, de um sítio da tradição Aratu comoela é conhecida do Planalto Central (Schmitz etal. 1982; Wüst 1983; Robrahn-González 1996),com elementos da tradição Itararé, como éconhecida no Planalto Meridional (Schmitz1988).

A aldeia estava instalada num ponto altoque divide os rios Pirapó, Tibagi e Ivaí, junto àsnascentes do rio Pirapó, mas sobre um afluentedo rio Ivaí, em solo rico (terra roxa), provenienteda decomposição de basalto, coberto por densaFloresta tropical semidecidual. Vizinhava com aFloresta subtropical semidecidual com Araucariaangustifolia na qual ainda sobram quatro áreasdisjuntas de Cerrado: o Cerrado do Vale do Riodas Cinzas, no nordeste do estado, o CerradoNorte Velho, na margem direita do rio Tibagi, oCerrado Norte Novo, composto por pequenosfragmentos ilhados em meio à Floresta estacionalsemidecidual, na proximidade de Maringá (e deApucarana) e o Cerrado de Campo Mourão(Linsinger & Cervi 2008).

O clima da região é considerado subquente,superúmido, sem marcado período seco. Na

classificação de Koepen é Cfa de altura, comtemperatura média anual ao redor de 21ºC, ado mês mais quente ao redor de 24ºC e a domais frio ao redor de 17°C, com rara ocorrênciade geadas noturnas. As chuvas se distribuem portodo o ano, num total de aproximadamente1500 mm, sendo o mês mais chuvoso janeiro, ejulho o de menor precipitação.

O grosso fundo de uma grande panela datradição Aratu, no qual havia incrustação derestos alimentares, que tinham penetrado até ametade da parede, foi datado, por AMS, em590 +- 40 anos AP, idade radiocarbônicatradicional (Beta-238714), calibrada com 2sigmas em AD 1290 a 1420 (Cal AP 660 a 530).Esta data pode ser tomada como referência parasituar o assentamento de Apucarana comrelação aos outros assentamentos da tradiçãoAratu.

O material da coleção, composto pormilhares de fragmentos cerâmicos e algunsobjetos líticos, indica que se tratava de umaaldeia bastante grande. Os objetos vêm dascoletas superficiais assistemáticas iniciais, cobrin-do toda a área, e de coletas sistemáticas, na áreacentral quadriculada, feitas por Osvaldo Paulinoda Silva e seus auxiliares, conforme foi referidoanteriormente. Nestas coletas a quase totalidadeda cerâmica se compõe de fragmentos pequenosque, sem o material da escola, seriam insuficien-tes para o estudo e a reconstituição das peças.Mas, também nessas coleções existem numerososfragmentos de bordas, que tornaram o trabalhobem rico. Ao todo foram desenhadas 285bordas, uma excelente amostragem para caracte-rizar a cerâmica de um sítio.

3. A cerâmica

3.1 As formas da cerâmica

No conjunto dos 10.240 fragmentoscerâmicos é possível separar grandes categorias deformas (Figs. 4 e 5):

A) Recipientes grandes, panelas, com bordadireta, constrição na boca, lábio arredondadoou aplanado, base convexa, arredondada, corposub-globular ou levemente ovóide, abertura da

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Fig. 4. Os conjuntos cerâmicos do sítio: formas A-E, da tradição Aratu; forma F, da tradição Itararé.

boca 34 a 58 cm; às vezes apresenta desgaste naface interna junto da boca proveniente de uso,ao mexer no interior. Pasta com grande quanti-dade de grãos de hematita, às vezes tambémalgum cariapé. Usados para preparar alimentoscozidos como indicam o escurecimento e osresíduos na face interna da base. São oitobordas medidas (Tabela 1).

B) Recipientes grandes, médios e pequenos,classificados como panelas, com borda inflectida,não reforçada, corpo sub-globular, sub-cilíndri-co, ou ovóide, constrito na altura da inflexão,base convexa, arredondada, lábio predominan-temente arredondado, mais raramente aplanadoou em bisel, abertura de boca de 8 a 50 cm. Osrecipientes eram usados para preparar alimentoscozidos, como indicam o escurecimento e os

resíduos na face interna da base. Pasta comgrande quantidade de grãos arredondados dehematita, às vezes também com a presença decariapé esparso. São 136 bordas, das quais 68foram medidas (Tabela 1).

C) Recipientes grandes, médios e pequenos,tigelas, em semi-esfera ou calota de esfera, comborda um pouco introvertida, vertical, ouextrovertida, não reforçada, lábios arredonda-dos, raramente aplanados, base convexa,levemente arredondada, abertura da boca de 6 a42 cm. Pasta com denso cariapé bem fino,semelhante ao cariapé A dos sítios de Goiás (cf.Schmitz e outros 1982; Wüst 1983; Robrahn-González 1996), muitas vezes com alguns grãosde hematita. Paredes bastante finas. São 124bordas medidas (Tabela 1).

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Fig. 5. As bordas da cerâmica do sítio: A-D da tradição Aratu; F da tradição Itararé.

D) Formas duplas, pequenas, com bordadireta, aproximadamente vertical, lábio arredon-dado, base convexa arredondada. Pasta comdenso cariapé. Total: 4.

E) Fragmento com perfurações feitas enquanto apasta estava moldável. Pasta com cariapé. Total: 1.

F) Recipientes, geralmente pequenos, altos edelgados, borda levemente inflectida, lábio

biselado com pequeno reforço, forma ovóide ousub-cônica, base plana, aberturas da boca de 8 a28 cm, típicas formas itararé. Pasta com densocariapé, cariapé com grãos de hematita, ou areiaquartzítica angulosa, produzindo pastas equiva-lentes. Paredes geralmente finas: entre 6 e 22 cm.São 25 bordas. Nota-se a predominância deaberturas ao redor de 12 cm (Tabela 1).

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Os dois primeiros tipos de recipientesformam um conjunto, que se caracteriza pelaadição, na pasta, de bastante hematita em grãosarredondados, e a utilização como panelas napreparação de alimentos sobre o fogo. Osdemais tipos de recipientes formam outroconjunto, que se caracteriza pela adição na pastade cariapé e formas de tigelas, recipientes duplos,bases perfuradas e vasilhas Itararé.

Com exceção das vasilhas Itararé, elascorrespondem perfeitamente às formas estuda-das em Goiás pelos autores anteriormentecitados. As formas Itararé coincidem com aspublicadas para o planalto do Paraná (p. ex.

Chmyz 1977:64) e o litoral de SantaCatarina (p. ex. Schmitz 1988: 109 eSchmitz et al. 1993).

A espessura das paredes tambémpode ser usada para inferir otamanho do vasilhame, porquecostuma ser proporcional aotamanho. Sem considerar diferençasno antiplástico, foram realizadasmedições de todos os fragmentos dasseguintes amostras: coleta superficialinicial, com 256 fragmentos; coletada quadra 2, com 239 fragmentos;da quadra 3, com 199 fragmentos;da quadrícula 27Q-27R da quadra13, com 133 fragmentos; daquadrícula 21Q-21R, 22Q-22R,com 95 fragmentos; da quadrícula15I-15J, 16I-16J, com 75 fragmen-tos; da quadrícula S1-S2, T1-T2,com 76 fragmentos; da quadrícula19A-19B, 20A-20B, com 90fragmentos. Com eles organizou-se ográfico a seguir. Os fragmentosmuito finos, de 3 a 6 mm, corres-pondentes a vasilhas Itararé, emgrande parte haviam sido retiradosdas amostras na classificaçãoinicial e, por isso, estão sub-representados na presente conta-gem. No gráfico abaixo se vê umaampla distribuição das espessuras,desde 4 mm até 24 mm, mostran-do os extremos, mas também que amaior representatividade está nos

valores médios, com duas saliências, uma entre 8e 10 mm, outra entre 14 e 15 mm.

3.2 Pasta e construção

De modo geral, sem entrar em grandesdetalhes, podemos distinguir três tipos de pasta.

Pasta com grãos de hematita: os grãos dehematita, negros e arredondados, podemaparecer sob a forma de areia fina, média ougrossa, até de pequenos seixos dispersos; maisraramente estão misturados fragmentos angulo-sos de cor marrom. A hematita é natural dolugar e nasce da decomposição do basalto, que

Aberturas da boca do vasilhame do sítio

Tabela 1

Aberturas(em cm)

6 810121416182022242628303234363840424446485052545658

TOTAL

1

3

11

1

18

Forma A

255557364331143

4

2122

68

Forma B

1 3 4 5 7161413 5 5 9 719 3 4 3 3 2 1

124

Forma C

2 2 312 2 1 2

1

25

Forma F

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deixa todo o solo vermelho. Especialmente emrecipientes grandes, destinados ao uso sobre ofogo, ela pode ser muito densa, deixando poucoespaço para a argila, assemelhando-se o caco aum pé-de-moleque recheado de amendoim e apasta como placas ou torrões, sem muitauniformidade. Os grãos aparecem em superfícieslevemente erodidas e muitas vezes se desprendem,deixando inúmeras pequenas depressões arre-dondadas. A densidade diferente na utilização dehematita indica intencionalidade e seleção no seuuso. A utilização intensa de hematita na argilapode servir tanto para a criação de uma pastamais resistente para recipientes muito grandes,como para fomentar uma boa transmissão docalor do fogo para os alimentos que estão sendocozidos. As panelas, com isso, tornam-se pesadas,mas resistentes. A superfície dos fragmentos estábem alisada tanto interna como externamente ede cor marrom avermelhado; o núcleo é escuro.A parte oxidada apresenta espessuras diferentesnas paredes, sendo geralmente maior na superfí-cie externa. Ela resulta de uma cocção oxidanteincompleta e da presença da hematita. Juntocom a hematita pode ser usada certa quantidadede cariapé; se ele for mais abundante, a superfíciecozida torna-se mais acinzentada e mais leve.

Pasta com cariapé: o cariapé, nos fragmen-tos em que é denso, se torna visível com umaumento de 20 vezes, como pequenos filamentosou gomos brancos, no meio de uma massa

uniforme de cor cinza. Nas tigelas, nas formasItararé e nas vasilhas duplas, ele costuma serdenso, produzindo massa fina, uniforme e leve.Geralmente ele vem acompanhado de certaquantidade de grãos de hematita, mas podetambém ser exclusivo. Os recipientes com muitocariapé, mesmo quando a parede é grossa,mantêm-se leves. A cor das paredes costuma sercinzenta, até bastante escura, tornando-se maismarrom se há muita hematita. Os núcleos dasparedes são escuros, destacando-se da pequenacamada oxidada que é mais amarelada.

Pasta com areia quartzosa: Cristais dequartzo de pequeno tamanho, angulosos,aparecem em certo número de fragmentos deformas itararé. Alguma vez acompanha um poucode cariapé. As demais características são parecidascom as formas itararé com uso de cariapé.

Novamente, os antiplásticos correspondemaos da tradição Aratu de Goiás; no PlanaltoCentral, em vez de hematita, era freqüentementeusado quartzo e feldspato. A areia fina devasilhas itararé se destaca no conjunto.

A construção das vasilhas não está muitoclara. Embora possamos supor que as panelasgrandes tenham sido produzidas com a sobreposiçãode roletes, nos fragmentos não se percebemquebras que confirmem este uso; a pasta é muitocompacta, cheia de grânulos de hematita e àsvezes recortada em forma de torrões. Emalgumas bases é possível ver placas sobrepostas,

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mas deduzir que a produção dos grandesrecipientes, muito regulares e bem acabados,tenha sido por sobreposição de placas nãoparece realista. Nos fragmentos correspondentesaos recipientes com muito cariapé, ou naquelesde areia quartzosa, como as paredes são finas, atécnica dos roletes seria ainda mais difícil, mastalvez necessária, seguida de um alisamentorigoroso. Nas formas correspondentes à tradiçãoItararé pode-se pensar no “paleteado”, queconsistiria em bater a superfície externa seguran-do a parede com um suporte interno (CláudiaInês Parelada, com. pes. 2007). Há necessidadede maior estudo para entender o tipo deprodução da cerâmica de Apucarana.

O acabamento interno e externo, em todasas formas, costuma ser muito bom, com asparedes lisas e talvez as paredes internas inicial-mente polidas, especialmente nas formas comcariapé. O leve desgaste das superfícies, emconseqüência do longo uso do terreno, tornadifícil dizer se, em algumas formas, também haviabrunido. Algumas peças são bastante escuras eoutras têm partes mais escurecidas. Nas vasilhasgrandes o fundo interno é bem mais escurecido,ocupando, às vezes, a metade da espessura.Aparentemente isto se deve à penetração desubstâncias durante o cozimento de alimentos.

As paredes são diretas, não reforçadas; odesenvolvimento delas é natural, as inflexões sãosuaves, sendo raros os ângulos.

Nas vasilhas grandes, as bases podem estarum pouco reforçadas, mas de forma natural,sem chamar atenção.

No conjunto do material cerâmico percebe-se que ele é muito parecido com o da tradiçãoAratu de Goiás. Por isso chama bastante atençãoo grupo de vasilhas da tradição Itararé, que àprimeira vista se distingue pelos elementos daforma, mas também, parcialmente, peloantiplástico. O conjunto desses elementos sugereque também a função tenha sido diferente.

4. O material lítico

O material lítico é muito menos numerosoque a cerâmica. Ele é produzido em basalto,diorito, riolito, arenito e calcedônia.

4.1 Mãos de pilão em basalto (Fig. 6, F-N)

Na coleta estão representadas oito mãos depilão, das quais sete são cilíndricas (G-N) e aoitava mais cônica (F); esta última serviu, aomesmo tempo, de “quebra-coco”. As primeirassete são de basalto, de coloração cinza mais claroa cinza mais escuro. No acabamento, elas tiveram,primeiro, um martelado fino, que nivelou assuperfícies, seguido de cuidadoso polimento, commovimentos no sentido do comprimento da peça,que resultaram em facetas longitudinais, às vezesmais aparentes, geralmente apenas perceptíveiscom determinada incidência da luz. O basaltousado era de composição fina e regular, provavel-mente colunar, mas não se percebem vestígios decórtex. A oitava mão de pilão foi feita sobrearenito silicificado de granulação grossa quetambém teve bom acabamento; ela apresenta emcada face uma depressão elíptica rasa e, nos lados,depressões menos marcadas e mais rasas. As mãos-de-pilão cilíndricas se assemelham às da tradiçãoTaquara/Itararé, a oitava tem similares nos sítiosAratu de Goiás.

Com exceção da oitava, que é inteira, asdemais estão quebradas predominantementepela ação do fogo, resultando em fraturas emângulo de 90°, cuja origem pode ser, geralmente,atribuída às roças ou desmatamentos, mastambém a variados golpes, redundando emsuperfícies de fratura rugosas. O mesmo seobserva nos sítios da tradição Taquara/Itararé.

Provavelmente as peças inteiras erambastante longas, embora não muito grossas. Oestado fragmentário em que se encontram,tratando-se geralmente de fragmentos mesiais, sóuma terminal, não permite calcular o tamanhooriginal, nem sua extremidade proximal.

Não há restos de sua produção no sítio,como poderiam ser lascas de preparação ougrandes núcleos, nem mesmo colunas de basaltoque seriam usadas como suporte.

A seguir, são descritas as peças do sítio.

Fragmento distal, s.n., da coleta da escola.Forma sub-cilíndrica, perfil transversal tendendoa elíptico por causa de pequena faceta longitudi-nal em ambas as faces, em razão de o suporte tersido mais largo que grosso (uma coluna de

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basalto?). A base (extremidade distal) conservadaé levemente convexa, com marcas de impactoproduzidas com o esmagamento de materiaismais duros que o basalto, possivelmente peque-nos grãos de quartzo ou hematita. Uma dasfacetas também sofreu semelhantes impactos(Fig. 6, H). Comprimento: 7,70 cm; perfil nomeio: 4,80 x 3,80 cm; na base: 4,40 x 4,10 cm.

Fragmento mesial, s.n., da coleta da escola,em basalto quase preto. As duas extremidadesresultaram de fratura possivelmente intencional,mas a superfície delas é rugosa. A partir de umadas extremidades foram tiradas pequenas lascas.Dois golpes na superfície polida tiraram lascasirregulares, que deixaram cicatriz áspera (Fig. 6,M). Comprimento: 8,60 cm; diâmetro: 4,90 cm.Perfil perfeitamente circular.

Fragmento mesial, s.n., da escola. As duasextremidades parecem quebradas intencional-mente (Fig. 6, L). Comprimento: 6,50 cm;diâmetro: 4,10 cm. Perfil perfeitamente circular.

Fragmento mesial, s.n., da escola. As duasextremidades quebradas intencionalmente.Quase a metade da superfície está descascadapela ação do fogo (Fig. 6, N). Comprimento:3,70 cm; diâmetro: 5,00 cm.

Fragmento mesial, s.n., da escola. Uma dasextremidades está quebrada quase reta, a outra écônica, ação do calor do fogo (Fig. 6, J). Com-primento: 4,50 cm; diâmetro: 4,50 cm.

Fragmento mesial, s.n., da escola. As duasextremidades estão quebradas planas; estárachado longitudinalmente, aproximadamenteao meio das facetas longitudinais bifaciais. Naextremidade de uma das facetas, junto à quebralongitudinal aparece um resto de pigmentovermelho também polido. Nesta mesma faceta,ao longo de quase toda a extensão, temosdescascamento pelo fogo. Por causa das facetas,em ambas as faces, o diâmetro não é perfeita-mente circular, mas um pouco achatado, quaseelíptico (Fig. 6, G). Comprimento: 16,20 cm;diâmetro original numa extremidade: 4,80 cm;5,00 cm na outra extremidade.

Fragmento mesial, SCI 10544, da quadrículaC9/C10-D9/D10. Fraturas retas em ambas asextremidades. Quase a metade da superfície estádescascada pelo fogo (Fig. 6, I). Comprimento:5,60 cm; diâmetro: 4,80 x 4,50 cm.

Outro fragmento mesial da mesma, SCI1300, Q3, com quebras recentes (arado,trator?). Comprimento: 2,40 cm.

Mão de pilão/quebra-coco, s.n., da escola. Emarenito silicificado grosseiro, perfeitamenteformatada. Em cada uma das duas faces maiorestem depressões alongadas com alguns milímetrosde profundidade. Nos dois lados tem depressõesparecidas, um pouco mais rasas (Fig. 6, F).Comprimento: 15,70 cm; largura 5,70 cm;espessura: 4,60 cm.

Mão de pilão, lasca pequena polida debasalto. Cat. 2096.

Mão de pilão, fragmento bem polido (sempicoteamento). Cat. 0633.

Mão de pilão, fragmento bem polido. Cat.0643.

Mãos de pilão aparecem pouco nos sítios datradição Aratu. Elas existem em Goiás (Schmitzet al. 1982), mas são pequenas, picoteadas eirregulares, em nada parecidas com as deApucarana.

4.2 Lâminas de machado em basalto e diorito(Fig. 6, A-E)

Lâmina de machado em basalto fino, seme-lhante ao das mãos-de-pilão, s.n., da escola.Perfeitamente formatado e polido, petaloide,não se vendo sinais de picoteamento anterior.Finas estrias longitudinais em ambas as faces.Talão típico bem acabado, medindo 3,90 x 2,10cm, polido, com sinais de golpes. Num segundomomento a lâmina foi reciclada, retirando ogume polido com dois golpes na mesma face,criando um novo gume, com uma face polida(original) e a outra com duas cicatrizes delascamento. Provavelmente foi também neste

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momento que se acrescentou um gargalopicoteado, raso, de 2,50 cm de largura, que distaaproximadamente 3,00 cm do talão. A peçafinal mede 12,80 cm de comprimento; 6,10 cmde largura máxima; 3,40 cm de espessuramáxima (Fig. 6, C).

Lâmina de machado em basalto fino, perfeita-mente polido, s.n., da escola. Quebrado intencio-nalmente perto da parte distal, antes do adelga-çamento para o gume. Partindo da fraturaforam dados golpes em ambas as faces, talvezpara criar um novo gume, mas sem sucesso. Nãohá marcas de fogo. A parte proximal estápreservada, terminando num talão polido,medindo 4,40 x 2,70 cm. A peça remanescentemede 11,60 cm de comprimento por 6,80 cm delargura e 4,10 cm de espessura máxima (Fig. 6, A).

Lâmina de machado em basalto fino, perfeita-mente polido, parte mesial, s.n., da escola.Ambas as extremidades foram quebradas pelofogo e uma das faces foi descascada pelo mesmo.8,70 cm de comprimento; 9,30 cm de largura;4,70 cm de espessura máxima (Fig. 6, B).

Lâmina de machado em diorito, perfeitamen-te polida, composta por gume e parte do corpo.Quadrícula C9/C10 – D9/D19. O gumeapresenta pequenas mossas e brilho em ambas asfaces com uns 5 mm de largura. Comprimento:6,70 cm; largura: 6,70 cm; espessura remanes-cente: 3,40 cm (Fig. 6, D).

Lâmina de machado em basalto, perfeitamen-te polida, talão, s.n., da escola. Quebradaintencionalmente. Comprimento: 4,00 cm;largura: 4,50 cm; espessura: 3,70 cm. Talãopolido: 2,90 x 2,60 cm (Fig. 6, E).

Lâmina de machado em basalto, parte mesial,s.n., da escola. Quebrada pelo fogo e commarcas de fogo na superfície. Comprimento:6,00 cm; largura: 2,50 cm; espessura: 3,80 cm.

Lâmina de machado em basalto polido, umpouco mais que a metade de um gume, quebra-do intencionalmente. Cat. 10218. Medidas: 3,00x 4,90 x 3,10 cm.

Lâmina de machado em basalto polido,lasca de perto do gume. SCI-1299. Coletasuperficial Q3.

Fragmento irregular: 6,90 cm x 6,90 cm x3,20 cm.

Lâmina de machado em basalto polido,pequena lasca, próxima do talão. Cat. 10338(Q2): 4,20 x 2,80 x 0,0361 pés.

Lâmina de machado em basalto polido, talãobem acabado, com pequenas cicatrizes delascamento (golpes antigos) a partir do talão,SCI-1296, coleta superficial Q3. Comprimento:2,40 cm; largura: 4,70 cm; espessura: 3,40 cm.Talão: 2,80 x 2,20 cm.

Lâmina de machado em basalto, lascaintencional, bem polida. SCI-8428. A-14.Medidas: 4,00 x 3,10 x 1,50 cm.

Lâmina de machado em preparo, basalto,SCI-0615, coleta superficial Q3. Lasca semi-cortical, com uma parte de córtex (estreita, nosentido longitudinal); no vértice há uma pequenasuperfície que parece polida. Comprimento:6,00 cm; largura: 5,00 cm; espessura: 1,00 cm.

Do mesmo núcleo foi tirada outra lascasemi-cortical, com uma tira do mesmo córtex, namesma direção, mas sem marcas de polimento.SCI-0618, coleta superficial Q3. Comprimento:6,50 cm; largura: 4,50 cm; espessura: 2,00 cm.

Lâmina de machado em basalto, lasca deperto do gume, com aproximadamente metadeda face polida. SCI-2095, coleta superficial Q2.Tem o mesmo jeito do exemplar SCI-8428.Comprimento: 4,60 cm; largura: 3,70 cm;espessura: 1,50 cm.

Lâmina de machado em basalto avermelhado,parte mesial, quebrada pelo fogo. SCI-6034,quadrícula 15G/15H-16G/16H. Fragmentoirregular, medindo 4,40 x 3,70 x 4,00 cm.

Lasca de objeto polido (machado ou mão depilão). Cat. 5637. 3,40 x 2,50 x 0,70 cm.

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As lâminas de machado são bem acabadas esimétricas. Juntando os talões, as partes mesiais e osgumes, pode-se reconstituir a forma que presidia asua fabricação. As lâminas de machado podiam serrecicladas produzindo-se um novo gume lascado ouum gargalo picoteado; nas peças originais não sepercebem gargalos, só na peça reciclada.

A rocha usada para sua produção épreferencialmente o mesmo basalto das mãos-de-pilão; num caso foi usado diorito.

Lâminas de machado semelhantes sãoencontradas tanto nos sítios Aratu de Goiás,como nos sítios Taquara/Itararé do PlanaltoMeridional.

Fig. 6. O material lítico do sítio: A-E lâminas de machado; F-N mãos de pilão.

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Há poucas lascas, que pudessem sugerirprodução local das lâminas e também das mãosde pilão. Esta ausência poderia ser tomada comoindício de que as peças não eram feitas na aldeia.

4.3 Outras peças em basalto

Foram recolhidos ainda: duas lascassecundárias, dois pequenos núcleos cúbicos, trêsseixos de basalto, um deles possível percutor,outro quebrado pelo fogo, o terceiro natural.

4.4 Material em riolito e rocha semelhante

Na coleção existem os seguintes materiais:um raspador terminal, 6,90 x 5,20 x 3,40 cm;um núcleo/talhador bifacial, parcialmentecortical, 7,10 x 7,30 x 5,50 cm; uma lascasecundária com microlascamento em doisbordos transversais contíguos, 3,60 x 4,40 x 1,60cm; uma lasca secundária, com microlascamentolongitudinal, 3,50 x 2,90 x 1,30 cm; uma lascacom dorso, secção triangular, com um bordoretocado. 4,70 x 3,00 x 1,70 cm; 16 lascassecundárias pequenas; duas lascas pequenascorticais; nove núcleos pequenos; quatropequenos fragmentos. Ao todo são 36 peças.

O riolito aparece sob a forma de seixos comfino córtex. Como ele é vermelho, pode estarligado à terra vermelha da área. Ele era retalha-do, resultando em pequenas lascas, fragmentos,núcleos muito esgotados. Eventualmente, todosos produtos podiam ser usados.

4.5 Arenito Botucatu

Um fragmento de polidor bifacial com asfaces um pouco abauladas e bem polidas, oslados quebrados por golpes, 5,40 x 3,90 x 2,00cm; um pequeno fragmento de polidor unifacial,bem polido, 2,60 x 1,40 x 0,90 cm; um fragmen-to com um lado liso o outro áspero, 4,30 x 3,10x 2,30 cm; uma lasca secundária de arenitosilicificado com marcas de uso no bordo transver-sal, 2,50 x 2,70 x 0,80 cm. O arenito Botucatupodia ter sido usado na produção e terminaçãodas bonitas peças polidas em basalto.

Alisadores semelhantes também aparecemnos sítios Aratu de Goiás (Schmitz et al. 1982).

4.6 Utilização da calcedônia

Nesta matéria prima aparecem seixos,núcleos, lascas e fragmentos com ou sem uso. Aprodução de artefatos a partir da matériaprima, que aparece sob a forma de pequenos emédios seixos resistentes, costuma ser feita porretalhamento bipolar, apoiando o seixo a serpercutido num suporte duro e batendo na outraface. Os golpes resultam em fragmentos, lascas enúcleos com relativa uniformidade. Os fragmen-tos e lascas, às vezes até os núcleos, freqüentementeapresentam bordos aproveitáveis.

Dois seixos: uma drusa alongada cheia depequenos cristais, com uma das extremidadesbatida (percutor?), 6,10 x 4,30 x 3,50 cm; umseixinho de quartzo com as duas extremidadesbatidas, formando bisel, 2,80 x 2,00 x 1,70 cm.

Os pequenos núcleos são 25, geralmenteexplorados da borda da drusa para o centro,onde costumam quebrar. Às vezes a força dogolpe atravessava a drusa tabular de lado a lado.O retalhamento bipolar produzia lascas efragmentos menores e maiores; aos maioresclassificamos como núcleos. Amostras detamanho: 3,50 x 3,60 x 2,30 cm; 2,50 x 2,70 x2,00 cm; 2,80 x 3,00 x 1,50 cm; 4,00 x 4,80 x1,50 cm.

As lascas e fragmentos podem apresentarmarcas de uso e ulterior modificação, ou ficarsem estas marcas.

Sem marcas de uso contamos 44 peque-nos fragmentos e lascas.

Com marcas de uso contamos 40pequenas lascas, fragmentos e núcleos (Fig. 7),resultantes de retalhamento bipolar. Geralmentetêm talão cortical, forma aproximadamentetriangular, bordos naturalmente cortantes.Algumas vezes esses bordos sofreram pequenaregularização para melhorar ou modificar ogume, produzir uma ponta ou furador, atéfacilitar a preensão, mas seu uso é expedito, parauma só utilização. As marcas de uso, sob a formade microlascamento ou leve embotamento, seencontram em bordos longitudinais, maisraramente em bordos transversais ou em pontas.Amostras: lasca com bordo transversal usado,2,10 x 1,60 x 0,70 cm; lasca com grande bordolongitudinal e transversal parcialmente embota-

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do, parcialmente com microlascamento, 3,30 x2,50 x 0,50 cm; lasca secundária com bordolongitudinal regularizado e com microlascamento;lasca com dois bordos longitudinais com

microlascamento e ponta aguda em furador,2,70 x 2,70 x 1,10 cm; fragmento elípticoformatizado como enxó, com bordo transversalcom marcas de uso, 4,10 x 2,30 x 1,10 cm;

Fig. 7. Pequena amostra de lascas, fragmentos e pequenos núcleos de calcedônia, com marcas deuso ou retoque.

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núcleo bipolar com vértice retocado em pontagrossa, 5,70 x 3,20 x 1,60 cm; fragmento grossocom bordo longitudinal com retoque abrupto,criando gume de raspador e ponta grossa novértice com o talão, 3,50 x 2,80 x 1,80 cm.

A calcedônia usada vem de drusas origina-das do basalto. Ela apresenta diferentes coresdesde chumbo até cera, mas não é muito vistosa,predominando matizes de cinza, pardo e cera,geralmente em bandas ou faixas. Ela é de boaqualidade e raramente vem meteorizada. Não seconhece onde ela foi recolhida, se no córregopróximo ou num rio maior. O pequeno tama-nho das lascas, fragmentos e núcleos indica queas drusas, de que eles se originaram, não eramgrandes; raramente aparecem cristais correspon-dentes ao centro da drusa.

O material era usado com bastante eficiên-cia: 42 lascas e fragmentos (37,83%) apresentammarcas de uso; 44 fragmentos e lascas (39,63%)não têm marcas evidentes de utilização; 25(39,63%) são núcleos.

Material semelhante, em calcedônia, aparece,em pequenas quantidades, nos sítios Aratu deGoiás e é freqüente nos sítios Itararé do Sul doBrasil.

4.7 Avaliação geral do material lítico

Percebe-se uma forma definida de produçãoe uso do material lítico.

O basalto de fina granulação, eventualmentediorito e arenito silicificado, é usado paraproduzir mãos de pilão e lâminas de machado,sempre muito cuidadosamente acabadas, asprimeiras por um rigoroso picoteamento seguidode polimento, os segundos só com alisamento epolimento. Estes artefatos têm morfologiapadronizada. Com exceção de uma mão de pilãoem arenito silicificado muito tenaz, e uma lâminade machado reciclada, as peças foram quebradase destruídas intencionalmente, ou por fogo, nassucessivas utilizações do terreno pelo homembranco, que plantou a área durante 20 anos edepois a reflorestou, com o que, muitas vezes,terá submetido a superfície do terreno a queima-das. A mão de pilão que está conservada édiferente das demais pela matéria prima, forma euso, não tendo só função ativa, mas também

passiva como base para esmagamento. A lâminade machado inteira foi reciclada, com a intençãode produzir um novo gume lascado e um rasogargalo picoteado para novo encabamento.

Aparentemente nem as mãos de pilão, nemas lâminas de machado foram produzidas nolocal da aldeia porque não foram encontradosvestígios que testemunhassem o trabalho prepa-ratório, como seriam as lascas de redução dossuportes. Estes deveriam ser bem grandes esupõem a existência de um afloramento derocha não intemperizada.

O basalto não era usado para produzirinstrumentos lascados porque não produz gumescortantes duradouros

O riolito, de origem semelhante à do basaltoe que produz bordos mais cortantes, foi usadopara produzir pequenas lascas e eventuaisinstrumentos lascados. Como não ocorre emblocos grandes, mas em seixos relativamentepequenos, sua utilidade não teria sido grande.De fato não foi muito utilizado.

A calcedônia, formada no basalto da região,proporcionou os gumes cortantes necessários nocotidiano da aldeia. Ao contrário dos artefatosem basalto, que produziram instrumentospermanentes e de longa duração, a calcedôniafornecia instrumentos expeditos, de fácil produ-ção quando necessários, de uso imediato,descartados depois da primeira utilização.

O arenito Botucatu, bastante consistente,com grande densidade de cristais arredondados,poderia ser um abrasador de primeira qualidadena produção de artefatos polidos.

Considerações finais

Reunindo os dados expostos no corpo dotrabalho fica bastante claro que, em Apucarana,temos um sítio da tradição cerâmica Aratu, compresença de elementos da tradição cerâmicaItararé. As formas e tamanhos da maior parteda cerâmica, os pequenos recipientes duplos e asbases perfuradas, além do intenso uso de cariapéna preparação da pasta são elementos ligados aessa tradição, como ela aparece no interior doBrasil. Por outro lado, as formas e pequenostamanhos de outra parte da cerâmica, são

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inconfundivelmente Itararé. No material líticoexistem elementos que podem ser consideradosuniversais na área, como as lâminas polidas demachado, os quebra-cocos, os percutores, asmãos, as lascas unipolares e o retalhamentobipolar. O que aproxima especialmente as mãosde pilão da tradição Itararé é o seu grandetamanho e perfeito acabamento, diferentesdaqueles do Planalto Central, onde elas sãopequenas e (mal) acabadas por picoteamento. Acomposição do material, tanto cerâmico quantolítico, indica que não se trata simplesmente deuma justaposição ou sobreposição de material.Na cerâmica, o uso de cariapé como antiplásticonas formas Itararé; no lítico, o tamanho eacabamento das mãos de pilão indicam fusão detécnicas que, por sua vez, sugerem um entrosamentoda população que vivia na aldeia, composta porpopulações atribuídas ao Planalto Central e depopulações do Planalto Meridional. O estadoem que se encontrava o sítio e a maneira como sefez a recuperação não permite dizer se materiaisdiferentes ocupavam lugares diferentes na aldeia.

A implantação do sítio num interflúvio, emterreno ondulado, de grande fertilidade, cobertopor vegetação arbórea densa, limitando compequena mancha de Cerrado e na proximidadede mata de Araucária, se parece com o padrãoAratu do Planalto Central, de Minas Gerais e deSão Paulo. Essa implantação também nãodestoa da tradição Itararé.

Apucarana é, por enquanto, o ponto maisavançado da tradição Aratu em direção ao sul,afastando-se bastante dos sítios mais próximos,que estão no norte, nordeste e leste de SãoPaulo. Com este assentamento o grupo passou afazer limite com novo ambiente, território deoutro grupo Jê, que não mais se baseia emcultivos tropicais, mas na coleta do pinhão daAraucária, na caça e em algum plantio. Tambémo padrão de instalação predominante nesseoutro grupo é diferente: em vez de grandes casassuperficiais, dispostas em círculo, da tradiçãoAratu, “casas subterrâneas”, especialmente emaltitudes em que o pinheiro era abundante.

Podemos perguntar o que levaria um grupode pessoas da tradição Aratu a se estabelecer tãolonge dos outros assentamentos conhecidos. Aresposta é prematura, mas tentadora: a varieda-

de de recursos da natureza. Na maior parte dossítios do interior, o ecótono floresta-cerradopossibilitava abundância de recursos criados eapropriados. Em Apucarana o cerrado eramenor e talvez mais afastado, mas no outono opinheiro-do-Paraná oferecia imensa riqueza desaborosas e nutritivas sementes. A união oucolaboração com populações desse novo espaçotraria vantagens para ambos os grupos: de certamaneira, recomporia a riqueza do ambiente deorigem dos adventícios, e ao grupo associadodaria acesso a mais produtos agrícolas.

Na proximidade do sítio Aratu de Apucaranaainda não se conhecem sítios da tradição Itararé,nos quais poderiam surgir as pessoas do contato,mas esta ausência pode ser vencida quando apesquisa for intensificada. Nos vales dos grandesrios da área, que são o Tibagi, o Ivaí e oParanapanema, foram estudados sítios datradição cerâmica Tupiguarani, mas no sítio emestudo não existe nenhum indício de contatocom eles.

O sítio Aratu de Apucarana foi encontradopor acaso e ainda está isolado, o que poderiacorresponder a um padrão de assentamentosemelhante ao observado no norte, nordeste eleste de São Paulo. Mas resulta, mais provavel-mente, de falta de pesquisa na área porque oambiente entre os sítios de São Paulo e o donorte do Paraná, seria favorável para o estabele-cimento do grupo.

Nos mapas etnográficos de Nimuendajú e dePeret não aparece, para o norte do estado doParaná, nenhuma indicação de presença degrupos do cerrado, como seriam os Oti-Xavante,registrados na margem direita do rio Paranapanemaou os Ofaié-Xavante registrados na margemdireita do rio Paraná e entre o Tietê e o Grandena margem esquerda do mesmo rio; ou osKayapó do Sul, que no mapa de Peret, ainda sãoassinalados na parte central do Estado de SãoPaulo, onde existem grandes manchas deCerrado. Acompanhando este ambiente, osantepassados dos Kayapó do Sul, ou de outrogrupo semelhante, poderiam ter chegado até onorte do Paraná, onde encontrariam outraspopulações do tronco lingüístico Jê, com as quaisestabeleceriam contatos. Dificilmente essaspopulações saltariam do norte de São Paulo

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Keywords: Apucarana – Aratu site – Contact with Itararé

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para o norte do Paraná sem ocupar os espaçosintermédios.

A cronologia do sítio, do século XIV/XV daera cristã, corresponde ao momento em que atradição Aratu, assim como é estudada pelosarqueólogos, alcançaria sua máxima expansão

no Nordeste, no Planalto Central, no Sudeste,até seu limite no Sul do Brasil. Ao tempo daconquista européia, as populações descendentesdeveriam ser conhecidas por nomes diferentes,que não faziam referência aos elementos materiaisque o arqueólogo usa para falar de seu passado.

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