Uma Avaliacao Contaminada

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  • Pessoa Colectiva de Utilidade Pblica

    Av. Prof. Anbal de Bettencourt, 9 - 1600-189 Lisboa Telef. +351 21 780 47 38 Fax +351 21 794 02 74 e-mail:[email protected] http://www.aps.pt

    UMA AVALIAO CONTAMINADA

    Uma recente comunicao, apresentada pela responsvel pelo painel de avaliao das

    cincias sociais, no Instituto Superior de Economia e Gesto*, a britnica Rosemary Deem, pe

    a nu as inmeras falhas do ltimo processo desencadeado pela FCT que mereceu, alis, por

    parte da APS, vivo repdio. Mas demonstra, tambm, como os avaliadores desenvolveram

    preconceitos sobre a comunidade cientfica portuguesa.

    Atravs dessa comunicao, ficamos a saber que:

    - a maior parte dos avaliadores fez o seu trabalho distncia, sem contato entre si

    (apenas estiveram juntos duas vezes por um perodo de 48 horas);

    - no existiu formao suficiente sobre a sociedade portuguesa, o contexto de

    recesso e de cortes nos servios pblicos, nem tampouco sobre a configurao e histria do

    sistema cientfico portugus;

    - as visitas s unidades duravam 3 escassas horas, impedindo um contato aprofundado

    com as realidades sob apreciao;

    - as avaliaes e os resultados da primeira etapa de avaliao estavam j previamente

    definidos, uma vez que a Fundao Europeia da Cincia firmou um contrato com a FCT que

    estipulava, partida, que 50% dos centros de investigao no seriam financiados;

    - o staff da FCT era reduzido, sofrendo com os cortes em recursos humanos

    qualificados e revelando grandes dificuldades no acompanhamento tcnico e logstico do

    processo;

    - os painis (apenas sete!) no conseguiam muitas vezes lidar com as especificidades

    disciplinares e a vastido de reas do conhecimento (basta ver que existia apenas um painel

    para todas as cincias sociais);

    - durante a avaliao, multiplicaram-se as incongruncias entre as orientaes do ex-

    Presidente da FCT Manuel Seabra e o staff tcnico, gerando confuso entre os avaliadores;

    - o regulamento permitia grande variao de financiamento entre unidades com a

    mesma classificao, uma vez que a FCT no estabeleceu valores mximos para cada item de

    avaliao;

    - a falta de coordenao e de calibrao entre os sete gigantescos painis levou,

    segundo a avaliadora, a que no houvesse um nico centro em cincias sociais classificado

    como excecional;

    * CHER, 28th Annual Conference of the Consortium of Higher Education Researchers , que teve lugar no

    Instituto Superior de economia e Gesto, em Lisboa, de 7 a 9 de Setembro de 2015.

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    Av. Prof. Anbal de Bettencourt, 9 - 1600-189 Lisboa Telef. +351 21 780 47 38 Fax +351 21 794 02 74 e-mail:[email protected] http://www.aps.pt

    - as regras de financiamento nunca foram devidamente explicadas, nem aos

    avaliadores, nem aos centros, o que originou falta de transparncia no processo;

    - os prprios avaliadores foram erroneamente informados pelo Primeiro Ministro, que,

    numa conferncia europeia sobre o Futuro da Cincia, considerou que as anteriores avaliaes

    tinham sido parciais e subjetivas.

    Mas a avaliadora vai mais longe, afirmando que os membros dos painis ficaram com

    m impresso da imprensa e da comunidade cientfica portuguesas, por ambas terem reagido

    de forma supostamente agressiva e que tal impresso poder influenci-los no futuro.

    Ora, a reside uma profunda contradio: se os erros foram to graves que a prpria

    avaliadora os identifica sem rodeios, como exigir comunidade cientfica portuguesa outra

    reaco que no o protesto e a indignao? E como compatvel o exerccio tendencialmente

    isento e imparcial de avaliao com este tipo de juzos impressionistas?

    A APS espera:

    i) que no se volte a repetir um processo de avaliao com to graves erros;

    ii) que avaliadores to susceptveis a contaminaes valorativas no mais sejam

    convidados a participar;

    Assim, relembramos uma das concluses do Encontro de Cientistas:

    Um processo de avaliao de unidades transparente e claro nos critrios de avaliao

    e nas regras de financiamento, alicerado em painis de avaliao slidos, com

    adequada presena de especialistas nas diversas reas e visitas devidamente

    aprofundadas ao terreno. Qualquer sistema de avaliao de qualidade tem de ter

    recursos, transparncia e justia nos critrios e procedimentos.