Unidade Lectiva 1

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UNIDADE LECTIVA 1 EMRC - AMOSTRA

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Conteúdos programáticos da Unidade Lectiva 1 - A Pessoa Humana

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a Pessoa HUmana

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De regresso à escola…

Estamos de regresso à escola. Como passaram rapidamente as férias! Pensamos nas experiências e vivências que estes meses nos proporcionaram, algumas das quais lembraremos ao longo das nossas vidas. Estamos cheios de curiosidade e queremos saber o que os nossos colegas têm para nos contar sobre os dias em que não estivemos juntos.

Durante estes meses, conhecemos coisas novas e talvez tenhamos feito novos amigos; é por isso que temos muitas novidades para partilhar. Alguns falam sobre as pessoas e os sítios novos que conheceram, outros contam como aprenderam coisas diferentes nos livros que leram, nos programas de televisão que viram… em todas as experiências por que passaram. Cada vez mais, os nossos amigos parecem ocupar um lugar especial na nossa vida.

Crescemos! Pensamos de forma diferente sobre a realidade e reflectimos mais antes de decidirmos. Esta capacidade de questionar e pensar sobre as coisas que nos rodeiam parece aperfeiçoar-se. Somos cada vez mais curiosos e este espírito leva-nos a novas descobertas. Subitamente, a vida já não parece tão simples. Começamos a tomar cada vez mais

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consciência da influência que os nossos comportamentos têm sobre os outros e da maneira como nos afectam a nós. Sentimo-nos cada vez mais responsáveis e disponíveis para aprender novas coisas. Esta abertura, esta capacidade para aprender com todas as experiências que vivemos torna-nos intervenientes na construção da sociedade em que estamos inseridos.

Ser

seja ruídoseja beijoseja vooseja andorinhaseja lagoseja pacatez da árvoreseja aterragem de borboletaseja mármore de elefanteseja alma de gaivotaseja luz num olharseja um cardume de tardese grite: JÁ SOU.

Ondjaki. 101 poetas: Iniciação à poesia em língua portuguesa.

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Cada ser humano nasce inserido numa determinada comunidade. Desenvolve-se na família, no grupo de amigos, na escola e nos vários contextos com os quais contacta. Da comunidade recebemos saberes e valores, através das experiências que fazemos e da abertura à realidade que nos rodeia. Temos consciência da nossa existência, das nossas experiências e aprendemos com elas. Afirmamo-nos através dos nossos pensamentos, sentimentos e afectos, os quais comunicamos aos outros através da linguagem, verbal ou corporal.

Com a linguagem, conseguimos partilhar as nossas experiências, manifestando aos outros o que somos e aquilo em que acreditamos. De igual modo, revelamos a nossa intimidade, os nossos pensamentos e afectos através de palavras e comportamentos. Desenvolvemos a nossa experiência espiritual, exteriorizamos os sentimentos e manifestamos a nossa inteligência, abrindo-nos aos outros e a Deus.

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Santo e Senha

Deixem passar quem vai na sua estrada.Deixem passarQuem vai cheio de noite e de luar.Deixem passar e não lhe digam nada.

Deixem, que vai apenasBeber água de Sonho a qualquer fonte;Ou colher açucenasA um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde moraE onde volta depois de amanhecer.Deixem-no pois passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão.Que vai serUma estrela no chão

Miguel Torga. Diário I (Coimbra, 3 de Janeiro de 1932)

EXEMPLO

Toda a tarde a pensar no meu destino,E o rio, com mais água ou menos água,Sossegado a correrNum areal que o nega!Que lhe importa que o chão do seu caminhoSeja seco e maninho,Se ele é uma eterna fonte que se entrega?!

Miguel Torga. Diário VI (Coimbra, 21 de Março de 1953)

Açucena: Planta bolbosa da família das Liliáceas, de flores brancas e perfumadas, também conhecida por lírio branco; a flor desta planta.

Maninho: Estéril, não cultivado.

Vocabulário

Miguel Torga, escritor português, nascido em S. Martinho de Anta (Trás-os-Montes), a 12 de Agosto de 1907, exerceu medicina em Coimbra, onde veio a falecer a 17 de Janeiro de 1995.

Para saberes mais

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Acreditava-se, desde a Grécia antiga, que o ser humano era composto por duas dimensões: o corpo e a alma ou o espírito. Este pensamento integrou a filosofia de várias culturas, tendo chegado ao cristianismo. Para o pensamento cristão actual, estas duas realidades — a corporal e a espiritual — são inseparáveis. O ser humano é compreendido como uma unidade corpo-espírito.

Deste modo, nem o espírito nem o corpo, isoladamente, dão conta daquilo que é o ser humano. Nenhum de nós é simplesmente corpo, nem simplesmente espírito. Quando amamos, pensamos ou tomamos decisões fazemo-lo simultaneamente de forma espiritual e física.

Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza.

Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est.

As encíclicas são cartas pastorais enviadas pelo bispo de Roma, o papa, à Igreja. O nome das encíclicas corresponde às primeiras palavras do texto, redigido em latim.

Para saberes mais

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Se não fôssemos corpo, não seríamos capazes de nos revelarmos aos outros, de com eles comunicarmos e, em geral, de estabelecermos relações de comunhão. É através do corpo que nós exprimimos o que pensamos, o que sentimos ou as nossas decisões. Sem corpo seríamos seres virados para dentro de nós, como conchas fechadas que não comunicam com o exterior.O nosso corpo exprime as mensagens do nosso espírito. Observa, as imagens que se seguem e procura captar, através das expressões corporais ou da maneira de se vestirem e arranjarem, os sentimentos, as emoções, os pensamentos ou a vontade que as personagens transmitem.

A palavra ‘pessoa’, de origem latina, deriva de persona, “máscara de teatro”; por extensão, significa o papel atribuído a essa máscara, a ‘personagem’. Relacionado com o ser humano, o pensamento cristão e, sobretudo, Santo Agostinho, usou a palavra para se referir às três pessoas (divinas) da Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra ‘pessoa’ designava a capacidade de estabelecer relação com os outros.

Para saberes mais

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AAzulejos representando Crianças a Brincar na Rua, Francisque Poulbot

Homem e mulher Masai, Tanzânia

Mulher com filho morto, Kathe Schmidt

O Mártir, Auguste Rodin

Rua de Paris, Andre Fougeron Mãe e criança em Holland Park, Dora Holzhamdler

A mulher grávida, Pablo Picasso Mikado, Anónimo

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Auto-retrato com chapéu de palha, Vincent van Gogh

Através dos meios de comunicação social, chega até nós um forte apelo ao consumo de determinados produtos e marcas, cujo valor está baseado no poder das imagens. Associada ao consumismo está uma determinada imagem aparente de nós mesmos que procuramos transmitir aos outros, a qual se constrói a partir de modelos que a sociedade cria, de que é exemplo a moda.

Por vezes, procuramos mostrar aos outros que somos aquilo que de facto não somos, vivendo uma vida de aparência, ou seja, uma vida não autêntica. Ser genuíno e autêntico, relacionando-nos com os outros a partir do que somos, daquilo em que acreditamos, nem sempre é fácil. Mas a verdadeira riqueza pessoal não se encontra nos bens que cada um possui, mas nos valores em que se acredita. Cada pessoa vale pelo que é e não pelo que tem.

É importante estabelecer o equilíbrio entre o nosso interior (o nosso mundo espiritual) e o aspecto exterior (o nosso mundo corporal). Por isso, zelamos pela saúde do nosso corpo, mantendo cuidados de higiene diários, bem como uma dieta alimentar equilibrada. O cuidado que temos com a forma como aparecemos perante os outros não significa falta de autenticidade. Desde que corresponda à beleza interior (sentimentos positivos em relação aos outros), o facto de nos arranjarmos exteriormente faz com que nos sintamos bem connosco próprios e faz

“Conhece-te a ti mesmo.”

Sócrates, filósofo grego (séc. V)

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com que os outros tenham uma ideia mais agradável a nosso respeito. Isto não pode ser confundido com vaidade, porque ser vaidoso é ser fútil, superficial e viver quase exclusivamente para a sua imagem exterior, sem atender aos aspectos mais importantes.

Num mundo que vive para o culto da aparência, onde a mentira é um meio para se passar uma imagem de si que não corresponde à realidade, é cada vez mais premente que cada ser humano seja autêntico, seja ele mesmo, sem procurar enganar os outros. A maior riqueza encontra-se na solidariedade e na entrega às outras pessoas, de forma desinteressada.

Madre Teresa de Caucutá, (1910-1997)

Raoul Follereau, (1903 - 1977)O espaço que nos rodeia influencia a maneira como nos sentimos. Por isso, procuramos harmonizar aquilo que somos com o espaço onde habitamos ou trabalhamos.

Uma das mais antigas artes que o ser humano desenvolveu para construir espaços onde se sinta bem foi a arquitectura. Utilizada desde a pré-história, as suas primeiras funções foram a protecção e a habitação.

Actualmente, a arquitectura preocupa-se também com o conforto, a estética e a eficiência energética. Seria bom que nos identificássemos com os locais que frequentamos e com a casa onde vivemos, dado serem relevantes para o nosso equilíbrio. Infelizmente, isso nem sempre é possível, uma vez que muitas pessoas não têm possibilidade financeira para escolherem o sítio onde gostariam de trabalhar ou onde gostariam de viver. Acabam por se ter de contentar com as condições possíveis!

Existem investigações sobre os ambientes e os locais onde habitamos. Uma delas é chamada Feng Shui. É uma ancestral técnica oriental que permite compreender a influência das cores, materiais, formas e elementos naturais à nossa volta — tanto em casa como no trabalho.

Para saberes mais

O quarto de Van Gogh, Vincent van Gogh

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A pessoa caracteriza-se por três dimensões fundamentais, a biológica, a social e a espiritual.

A dimensão biológica caracteriza todos os seres vivos, tornando-os, neste aspecto, semelhantes. A dimensão social encontra-se associada às espécies animais, à sua capacidade de comunicação, de organização em grupo; no entanto, no ser humano, esta dimensão é muito mais complexa, como podemos verificar pela organização das sociedades humanas.

A dimensão espiritual é a vida interior do ser humano: a sua capacidade racional (o pensamento), a vontade e a consciência moral, a afectividade (sentimentos, emoções) e a relação com o transcendente. Todas estas capacidades espirituais estão na base da comunicação com os outros, que acontece a um nível muito superior ao dos animais, especialmente através da complexa linguagem verbal.

Um dos aspectos que distingue o ser humano de todas as outras espécies é a sua capacidade de distinguir entre o bem e o mal, de tomar decisões livres e responsáveis, agindo assim sobre a realidade que o rodeia, orientado por valores éticos e pela capacidade de análise da realidade. Somos, portanto, livres e capazes de tomar opções individuais.

Mas as pessoas, embora partilhem muitos aspectos em comum, não são iguais. Cada pessoa tem as suas particularidades e é naturalmente irrepetível.

as Dimensões Da Pessoa

Vocabulário

Transcendente: Deus; o sagrado.

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dimensão BioLógica

Cada ser humano apresenta características biológicas únicas. Dos nossos pais recebemos a herança genética através da qual partilhamos traços fisionómicos com a nossa linhagem materna e paterna. Contudo, as nossas características físicas não são apenas o somatório da herança das características da mãe e do pai, apresentamos traços distintos que fazem de cada pessoa um ser único.

A identidade sexual é um aspecto importante da dimensão biológica da pessoa. Do pai recebemos a informação genética, que define a nossa identidade sexual. Esta caracteriza-se pela diferenciação dos órgãos genitais masculino e feminino, e, portanto, pela diferenciação do homem e da mulher. Os homens e as mulheres não têm apenas diferenças do ponto de vista biológico, também se diferenciam nas suas características psicológicas e comportamentais.

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A identidade sexual do bebé é definida pelos cromossomas da célula sexual masculina, o espermatozóide. Estes cromossomas apresentam a denominação científica de cromossomas X e Y. É o cromossoma Y que define o sexo masculino do bebé. Os cromossomas sexuais dos óvulos são sempre X. Se, no momento da fecundação, o espermatozóide tiver cromossomas sexuais X, o bebé fica com um par de cromossomas XX (do pai e da mãe) e é uma menina. Se, pelo contrário, o espermatozóide tiver cromossomas sexuais Y, o bebé fica com um par de cromossomas XY (da mãe e do pai) e é um menino.

Para saberes mais

Vocabulário

Informação genética: Conjunto de informação, presente na cadeia de ADN (ácido desoxirribonucleico), transmitida de pais para filhos através das células sexuais.

Fisiológica: Que diz respeito às funções dos diferentes órgãos dos seres vivos.

Fisionómica: Que diz respeito aos traços do rosto, às feições.

As células dos seres humanos contêm, cada uma, dois pares de 23 cromossomas, num total de 46 cromossomas. Cada cromossoma contém uma cadeia, em forma de hélice, de ADN com toda a informação genética.

Mas as células sexuais (o espermatozóide e o óvulo), ao contrário das outras células, só têm 23 cromossomas. No momento da fecundação, o óvulo e o espermatozóide unem-se e juntam, em pares, os 23 cromossomas provenientes da mãe e os 23 cromossomas provenientes do pai, dando origem a um ser geneticamente diferente. Todavia, a diferença do novo ser em relação aos pais não se fica por aqui, uma vez que os cromossomas provenientes da mãe e do pai trocam pequenos fragmentos de informação genética (ADN). As diferentes combinações possíveis de cromossomas e ADN são tantas que cada ser humano é uma espécie de “milagre”: um ser único e irrepetível.

Para saberes mais

O cérebro humano é muito mais desenvolvido do que o das restantes espécies animais. Este desenvolvimento faz com que os seres humanos sejam dotados de inteligência superior, que se manifesta na capacidade de resolver problemas complexos e elaborar raciocínios profundos. Esta inteligência permite-lhes ao ser humano pensar e agir sobre o mundo que os rodeia e confere-lhes grande autonomia, liberdade e capacidade de decisão pessoal.

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A família tem uma importância fundamental no desenvolvimento da pessoa, nela fazemos a primeira experiência de sermos únicos. De igual modo, tomamos consciência de que cada uma das pessoas com que nos relacionamos é única.

Quando os pais dão o nome a um filho, estão, simbolicamente, a atribuir-lhe uma identidade própria que o distingue como pessoa e o diferencia dos outros. Por isso, o profeta Isaías refere que Deus chama cada um pelo seu nome, pois o nome (a identidade) de cada pessoa é sagrado. Assim se entende a origem cristã do direito ao bom nome que cada pessoa tem, ou seja a ser respeitado na dignidade e na sua identidade.

dimensão sociaL

O ser humano afirma-se em sociedade, através da família e dos diversos grupos sociais e culturais aos quais pertence. Nela, cada ser humano estrutura os seus conhecimentos e valores que influenciam atitudes e comportamentos, bem como as suas decisões.

Artigo 26º(Outros direitos pessoais)

1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra e à reserva da intimidade da vida privada e familiar.

Constituição da República Portuguesa

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As associações culturais e recreativas, os clubes desportivos, assim como outras instituições favorecem a participação das pessoas na vida social. São formas de socialização que manifestam a tendência natural das pessoas para cooperarem, procurando atingir objectivos que vão muito para além das suas capacidades individuais. As associações estimulam as aptidões de cada pessoa, o seu espírito de iniciativa e de responsabilidade, contribuindo para o exercício da cidadania.

A vivência em sociedade permite a realização da vocação humana, uma vez que, em princípio, as sociedades estão orientadas para a realização de cada indivíduo e para o cumprimento do bem comum.

Através delas, cada pessoa é herdeira de um passado e a ele devedora. Dessa herança, cada um recebe tradições, crenças, formas de vida, leis, regulamentos, etc. Estes últimos enquadram os direitos e os deveres das pessoas. Assim, cada membro da sociedade sabe quais são os direitos que pode reivindicar e os deveres que deve respeitar.

A curiosidade natural e a procura de respostas para problemas levam o ser humano, individual e colectivamente, a progredir através de novas aprendizagens e descobertas, por forma a encontrar soluções inovadoras. Alguns dos resultados concretizam-se no chamado avanço tecnológico, na inovação científica e no desenvolvimento material das sociedades. Tudo isto resulta da acção do ser humano, enquanto sujeito influente e corresponsável pelas transformações que ocorrem à sua volta.

Contudo, verificamos que, muitas vezes, as mudanças não respondem aos verdadeiros interesses da pessoa. Por exemplo, algumas aplicações tecnológicas, sendo aparentemente boas, podem revelar-se prejudiciais para o ser humano. De facto, podemos usar a nossa inteligência e liberdade tanto para o bem como para o mal.

Associação de Solidariedade Social.

A pessoa humana é, e deve ser, o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais.

Gaudium et Spes 25,1

Explosão Núclear sobre Bikini AtollNave espacial Soyuz a descolar

Rússia

Marie Curie no seu laboratório,

Escola Inglesa (séc. XX)

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a comUnicação

O ser humano tem a capacidade extraordinária de comunicar as suas experiências individuais aos outros, através da linguagem.

Na comunicação, utilizamos a linguagem verbal — recorrendo a palavras e sons — e a não verbal — gestos, posturas do corpo. A linguagem não verbal pode reforçar ou prejudicar a mensagem que pretendemos transmitir.

Para saberes mais

Indo-Europeu

Céltico

Germânico

Grego

Itálico Balto-eslávico

Indo-Irânico

Sânscrito

Persa

Servo-croata

Checo

Polaco

Russo

Ucraniano

Romeno

Italiano

FrancêsCastelhano

Português

Sueco

Norueguês

Inglês

Holandês

Alemão

Irlandês

Dinamarquês

Latim

Árvore genealógica de algumas línguas Indo-Europeias

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Kanimanbo Calunga!

Certo dia, ouvi contar, em língua ronga, uma história, junto às águas do grande mar Índico, e de imediato percebi que era desconhecida de todos os que a escutavam. Um velho e respeitado sábio contava que há muito, muito tempo, antes da chegada do mulungo, o Criador, viajando numa nuvem, lançou as sementes das línguas que haveriam de crescer com a humanidade. O Pai proferia a palavra, pronunciava o nome e a língua surgia. Recordo ainda as suas palavras finais: «E Ele disse: “Faça-se a língua swahili”. E fez-se a swahili. E depois Ele disse: “Faça-se a língua maconde”. E fez-se a maconde. E depois Ele disse: “Faça-se a língua macua”. E fez-se a macua. E por último Ele disse: “Faça-se a língua ronga”. E fez-se a ronga.»

Depois de percorrer o mundo e terminada a distribuição das línguas, dizem que se retirou algures para os lados do Alto Molócue e por lá se deixou ficar, de onde observa a Criação. Outros, porém, afirmam que descansa, mais a Norte, na região de Niassa. Não houve uma só semente que não tivesse germinado, o que parecia ser maningue bom para que os povos comunicassem. Mas as pessoas deixaram de se compreender. Deixaram de escutar o que os outros diziam. A obra de Calunga não foi compreendida pelos homens.

Então, os chefes das tribos reuniram-se próximo da baía das acácias, para tentar resolver o problema. Todos reconheciam o problema, mas parecia difícil a solução. Eis que um mwalimu do norte disse ter a solução. O problema do conflito não era do céu, mas da terra! As línguas jamais desapareceriam e o problema continuaria, enquanto um só homem não reconhecesse a grandeza da Criação. Então, todos teriam de pronunciar «Eh Oena Calunga! kanimanbo, kanimanbo, kanimanbo!» três vezes kanimanbo.

As tribos tinham-se reunido pela primeira vez e, trabalhando todos com o mesmo objectivo, atingiram o coração de Calunga. Dizia o sábio madala que cada um tinha alcançado não o coração de Calunga, mas o seu próprio coração. Desde então, os povos não deixaram de comunicar, mesmo sem uma língua comum, mas unidos pelo coração. Como forma de agradecimento, todos os anos, no mesmo dia, as tribos juntam-se e partem em peregrinação, em direcção ao Norte. Há quem procure todo o ano o lugar onde Calunga descansa, lugar onde, dizem, a luz brilha com mais intensidade. O velho madala, porém, recusa-se a fazer a peregrinação. Diz ter encontrado o Criador em casa, no seu próprio coração.

Era a primeira vez que o madala contava a história, tal como já a ouvira contar, uma só vez, ainda em criança. Certo é que, ainda hoje, as pessoas agradecem do coração, em ronga, pronunciando a palavra mágica kanimanbo.

Texto inédito de Carlos Guardado da Silva

Vocabulário

Vocabulário Ronga:

Calunga: Deus

Eh oena: Oh tu!

Kanimanbo: Obrigado

Madala: Pessoa idosa e respeitada

Maningue: Muito

Mwalimu: Sacerdote, professor (língua maconde)

Mulungo: Homem branco

Niassa: Província moçambicana

Ronga: Dialecto mais meridional do grupo linguístico banto tsonga.

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A comunicação entre os seres humanos não se faz apenas através da linguagem verbal e corporal. Faz-se também através das produções artísticas, fruto da criatividade humana e da capacidade de o ser humano construir mundos que não existem. As artes são múltiplas: a música, a dança, a pintura, a escultura, a literatura, o teatro, o cinema… Aprender a captar as mensagens transmitidas pelas obras de arte faz parte do enriquecimento cultural de todas as pessoas.

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dimensão esPiritUaL

A pessoa realiza-se nas dimensões biológica e social. Contudo, só se completa na dimensão espiritual. É esta característica que distingue o ser humano dos outros animais e consiste na capacidade de pensar, de amar, de tomar decisões livres e de agir sobre o mundo, participando na obra do Criador. Embora outras espécies animais tenham comportamentos que se aproximam dos comportamentos humanos, a maneira como o ser humano usa a sua dimensão espiritual é qualitativamente diferente da maneira como as outras espécies se comportam.

A inteligência, impelida pela sabedoria, conduz a pessoa a uma permanente procura do bem, no relacionamento com os outros e consigo próprio. A consciência moral é um dos aspectos que tornam o ser humano qualitativamente diferente de todos os outros seres.

A capacidade de amar, aspecto central da vida espiritual, é a marca, em cada um, da presença de Deus. Quem ama procura a verdade e o bem, em cada situação da vida quotidiana. Está, assim, aberto aos outros, seus irmãos, e eventualmente a Deus. A dimensão espiritual é também a capacidade de cada indivíduo se relacionar com Deus, aspecto que só ocorre entre os humanos.

São manifestações da vida espiritual do ser humano, para além das que já se apontaram, as descobertas científicas, as realizações tecnológicas,

Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim.

Gl 2,20

Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns para com os outros. Quem ama o próximo cumpre a Lei.

Rm 13, 8

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as produções artísticas… Enquanto imagem e semelhança de Deus, cada pessoa é capaz de contribuir para a construção de um mundo mais rico, onde a beleza, a verdade, a justiça e o amor possam orientar o comportamento humano e a vida das sociedades.

A natureza espiritual da pessoa humana encontra a sua perfeição na sabedoria, que suavemente atrai o espírito do homem à busca do amor da verdade e do bem.Mais do que nos séculos passados, o nosso tempo precisa de uma tal sabedoria, para que se humanizem as novas descobertas dos homens. Está ameaçado, com efeito, o destino do mundo, se não surgirem homens cheios de sabedoria. E é de notar que muitas nações, pobres em bens económicos, mas ricas em sabedoria, podem trazer às outras incalculáveis benefícios.

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Ef 4,16

Procura na Biblia

Oração em Taizé

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sexUaLidade HUmana

A sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa, tanto ao nível da dimensão física, como da dimensão social e espiritual. Traduz-se na afectividade, que consiste na capacidade para amar e criar laços de comunhão com o outro. A realização plena da sexualidade humana concretiza-se na vocação da pessoa para amar o próximo. Esta vocação pode realizar-se em qualquer circunstância da vida pessoal, quer a pessoa tenha optado por partilhar a sua vida com alguém, quer tenha optado por permanecer celibatária, dedicando-se, por exemplo, a uma profissão ou a uma actividade que interpreta como um serviço ao próximo.

As três árvores

Um dia, numa bela manhã de sol, um sábio foi procurado pelo seu aprendiz, que lhe perguntou:— Mestre, que significado tem a amizade?O mestre apontou para três árvores e respondeu:— Repara nestas três árvores. São diferentes: numa há flores bonitas e perfumadas; noutra, notamos frutos que chegam a dobrar os seus galhos; e, na última, há somente folhas de muitas cores misturadas.Subiram então a um penhasco de onde podiam ter uma visão panorâmica e o mestre perguntou ao seu aprendiz:— O que vês aqui de cima?— Vejo apenas que essas árvores cresceram próximas e independentes; porém, as suas copas fundem-se, produzindo uma única sombra — respondeu o aprendiz.O mestre concluiu, então:— Esse é o verdadeiro significado da amizade: diferenças que crescem juntas, mas que, quanto maiores, mais próximas ficam, produzindo na força da união uma única sombra, um único abrigo, onde é possível recuperar forças, e um conforto para os olhos, para a alma e para o coração. Os amigos são como árvores diferentes que crescem próximas; quanto mais crescem, mais se unem, formando uma única força e descobrindo coisas novas em cada encontro.

Adaptado de http://tiojuliao.diabetes.org.br/Divino/Mensagem/msg04.php (12/02/2009)

Vocação: A palavra ‘vocação’ deriva do verbo latino ‘uocare’ que significa chamar. Assim, a vocação consiste no facto de alguém se sentir chamado a abraçar um certo estilo de vida ou a dedicar-se a uma tarefa específica.

Celibatário: que não contraiu matrimónio; que vive solteiro.

Vocabulário

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Conto do Amor

Certa vez, um homem, cansado de ver tanta maldade na região onde vivia, decidiu fazer uma peregrinação ao santuário de Deus, para lhe pedir que mudasse aquela situação.

Ao entardecer, já cansado de tanto caminhar, parou debaixo de uma árvore e ali preparou o local para passar a noite.

Quando já estava pronto para dormir, ouviu uma voz, vinda do nada, que lhe dizia:

— Homem, como te chamas?Ele, muito assustado, respondeu:— Chamo-me Amor.— De onde vens?Muito triste, Amor respondeu-lhe:— Venho de uma terra desolada, onde só existe maldade. A paz e a esperança

há muito findaram.— Para onde te estás dirigindo com toda essa tristeza?— Vou para o santuário de Deus, pedir-lhe que intervenha na minha região,

fazendo com que o bem volte a reinar.A voz cessou por um instante e, depois, voltou a dizer:— Não precisas de ir tão longe. Eu sou aquele que tu procuras. Mas só

posso conceder-te o teu desejo se pedires com muita fé.E Amor pensou, entrou em oração e decidiu fazer o pedido:— Quero que me transformes numa pedra e me coloques na boca daquele

vulcão.E Deus, confuso, disse:— Pensei que fosses pedir-me para restabelecer o bem na tua região. Por

que me pedes isso?— Eu fiz como me disseste. Pedi com fé. Por isso, cumpre a sua

promessa.E assim foi feito. Deus transformou-o numa pedra e colocou-o na boca do

vulcão.Logo o vulcão entrou em erupção e, na primeira explosão, estilhaçou Amor

em milhões de pedaços que se espalharam por toda a terra.Assim, em todos os lugares, passou a existir um pedaço de Amor e aquela

terra voltou a ter esperança.

Emerson Danda (adaptado de http://recantodasletras.uol.com.br/contos/35064 - 12/02/2009)E

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Na Bíblia, Deus não é uma força impessoal, uma espécie de energia que se propaga pelo universo. A mensagem bíblica afirma a convicção de que Deus é pessoa. Como já vimos, ser pessoa significa ser capaz de estabelecer relação com os outros. Nos vários relatos bíblicos, Deus manifesta-se ao ser humano, fala com ele, propõe-lhe um estilo de vida, declara que o ama e que deseja a sua felicidade. Deus é o amigo da humanidade. Indigna-se, quando o ser humano é vítima da injustiça e do ódio alheio, e reafirma a promessa da sua presença constante, no meio das adversidades. Deus é, portanto, um ser pessoal, inteligente e livre, que ama e quer estabelecer com cada ser humano uma relação especial, única.

O Salmo 139 é uma confissão de fé no Deus infinito, criador, omnisciente e pessoal: um verdadeiro louvor à relação pessoal, íntima e única, entre cada crente e Deus.

Trata-se de uma oração poética que foi redigida para ser cantada e acompanhada por um instrumento musical de cordas: o saltério, a cítara, a lira ou a harpa. Os Salmos são utilizados no culto religioso, tanto por judeus como por cristãos. Jesus, durante a sua vida pública, também citou vários trechos de salmos e, durante a oração nas sinagogas e no Templo de Jerusalém, cantou Salmos em louvor a Deus.

Vocabulário

Infinito: Que não tem princípio nem fim.

Omnisciente: Que tudo sabe.

Deus é PessoaE

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Tu conheces, ó Deus, a minha intimidade!

1Senhor, tu examinaste-me e conheces-me.2Conheces todos os meus movimentos;à distância, sabes os meus pensamentos.3Vês-me quando trabalho e quando descanso;conheces todas as minhas acções.4Mesmo antes de eu falar,já tu sabes o que vou dizer.5Tu estás em meu redor, por todo o lado;proteges-me com o teu poder.6O teu conhecimento a meu respeito é muito profundo;está para além da minha compreensão.

7Onde poderia eu ir para me esconder de ti?Para onde poderia eu fugir da tua presença?8Se subisse aos céus, lá estarias;se descesse ao mundo dos mortos, lá estarias também.9Se eu voasse para além do orienteou fosse habitar nos lugares mais distantes do ocidente,10também lá a tua mão desceria sobre mim,lá estarias para me segurar!11Se eu pedisse à escuridão para me esconderou à luz para se transformar em noite à minha volta,12a escuridão não me havia de esconder de tie a noite seria para ti tão brilhante como o dia.Para ti a escuridão e a luz são a mesma coisa!

13Foste tu que moldaste todo o meu ser;formaste-me no ventre de minha mãe.14Louvo-te, ó Altíssimo, por tão espantosas maravilhas;fico admirado com as tuas obras.Conheces intimamente o meu ser.15Quando o meu corpo estava a ser formado,sem que ninguém o pudesse ver;quando eu me desenvolvia em segredo,nada disso te escapava.

Vocabulário

Examinar: Analisar; investigar; observar.

Moldar: Dar forma a; formar; criar.

Perscrutar: Tratar de conhecer; investigar; explorar.

Sondar: Tratar de conhecer; avaliar; investigar; explorar.

Vereda: Caminho estreito e de terra batida.

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16Antes de eu estar formado, já tu me havias visto.Tudo isso estava escrito no teu livro;tinhas assinalado todos os dias da minha vida,antes de qualquer deles existir.17Mas para mim, que profundos são os teus pensamentos, ó Deus!Que misterioso é o seu conteúdo.

23Examina-me, ó Deus, e sonda o meu coração;põe-me à prova e perscruta os meus pensamentos.24Vê se eu sigo pelo caminho do male guia-me pela tua vereda, ó Deus eterno.

Salmo 139(138),1-17.23-24

Neste Salmo, o autor dirige-se a Deus, interpelando-o. O crente vive na certeza de que Deus o conhece ainda melhor do que ele próprio se conhece.

O autor refere-se a Deus atribuindo-lhe acções que são próprias da atitude relacional da pessoa: Deus examina, conhece, sabe, vê, está presente, protege, faz descer a mão, molda, forma, assinala, pensa, sonda, perscruta, guia. Qualquer destes verbos exprime a ideia de que Deus está de tal forma presente na vida humana que nenhuma pessoa pode alguma vez estar inteiramente sozinha.

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direitos e deveres

Pelo facto de se ser pessoa, todos somos portadores de direitos e de deveres. Tanto uns como outros são necessários à vida das sociedades humanas. O que seria uma comunidade em que aos membros não fossem reconhecidos direitos, nem eles assumissem deveres para com os outros? Na verdade, a defesa dos direitos individuais exige o respeito pelos direitos dos outros (deveres). As leis e os regulamentos servem para garantir esses direitos e clarificar os deveres.

O estabelecimento e reconhecimento dos direitos humanos, tal como os conhecemos hoje, levou muito tempo a ser alcançado e ainda é um processo longe de estar concluído. Na verdade, os direitos humanos não são cumpridos em todo o lado. Exige-se, pois, uma cultura de cidadania, de liberdade e de respeito pela dignidade de cada pessoa, para que cada uma possa realizar-se plenamente.

A história da humanidade é também uma história de libertação. Nela, o ser humano fez um longo percurso na procura da liberdade.

a DigniDaDe Humana

A opressão nunca conseguiu suprimir nas pessoas o desejo de viver em liberdade.

Dalai Lama

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Moisés fechando o Mar Vermelho (Edward Gover, 1870’s (litho), Bendixen, Siegfried Detler (1786-1864))

Virgem com criança, Ìcon Ortodoxo

Nesta conquista pela liberdade, a Revolução Francesa, com o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, foi um acontecimento marcante da história recente da luta pela liberdade e igualdade entre as pessoas. Os valores da liberdade, igualdade e fraternidade têm a sua raiz na cultura grega e no cristianismo. Mas foi a partir da Revolução Francesa que começaram a ganhar contornos políticos e sociais mais vastos.

A mais famosa representação da liberdade encontra-se na célebre Estátua da Liberdade, em Nova Iorque: uma mulher — a liberdade — vestida com uma toga, ergue, numa mão, uma tocha de luz (símbolo do fogo eterno da liberdade), na outra segura uma placa com a data da independência dos EUA (4 de Julho de 1776, em algarismos romanos). Sob os seus pés, estão cadeias quebradas, símbolo da libertação da tirania. Na cabeça tem um diadema de sete espigões, que representam os setes oceanos (Atlântico Norte, Atlântico Sul, Pacífico Norte, Pacífico

Tirania: Governo opressor e cruel; opressão; violência.

Diadema: Coroa.

Proclamação da Emancipação, A.A. Lamb

Vocabulário

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Revolução Francesa, (Escola Inglesa,

(século XX))

Rei João a assinar a Magna carta, Ilustração sem data após uma pintura de Chappel

Escravatura, (McBride, Angus (1931-2007))

Criança subrevivente do Holocausto

Soldados Portugueses nas ruas após o 25 de Abril

Nelson Mandela a sair da prisão

Uma cavalgada pela liberdade - Os escravos fugitivos, Eastman Johnson

Sul, Árctico, Antárctico, Índico) e os sete continentes (América do Norte, América do Sul, Europa, África, Ásia, Oceânia, e Antárctica), sugerindo que a liberdade é para todos os povos da Terra.

No século XIX começou a batalha para a abolição da escravatura. Ao mesmo tempo, lutava-se pela defesa do sufrágio universal, ou seja, o direito de todo o povo votar e eleger os seus representantes. Estes direitos políticos foram essenciais para a afirmação da dignidade de todas as pessoas, independentemente da sua classe social, povo, etnia, género, religião, etc.

Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura. Os primeiros escravos, a serem libertados em 1854, pertenciam ao Estado português.

Para saberes mais

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A Estátua da Liberdade encontra-se na Ilha da Liberdade, em Nova Iorque, desde 28 de Outubro de 1886. Comemora o centenário da assinatura da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América e foi oferecida pelo povo francês ao povo americano, em sinal de amizade. É um dos mais universais símbolos da liberdade política e da democracia. O seu nome oficial é Liberty Enlightening the World (‘A Liberdade Iluminando o Mundo’).

Foi projectada e construída pelo escultor alsaciano Frédéric Auguste Bartholdi (1834-1904). Para a construção da estrutura metálica interna, Bartholdi contou com a assistência do engenheiro francês Gustave Eiffel. A estátua mede 46,50 metros (92,99 metros contando o pedestal). Só o nariz mede 1,37 metros. Pesa 158 toneladas repartidas pelo esqueleto de aço (127 toneladas) e pela estátua de cobre (31 toneladas). É a escultura mais pesada do mundo.

No seu pedestal, há uma placa de bronze, onde está gravado o final do poema da americana Emma Lazarus, intitulado “The new Colossus”:

Give me your tired, your poor,

Your huddled masses yearning to breathe free,

The wretched refuse of your teeming shore.

Send these, the homeless, tempest-tost, to me,

I lift my lamp beside the golden door!

Dêem-me as vossas multidões exaustas, pobres

E confusas, ansiando por respirar liberdade,

Os indigentes que recusam a vossa costa abundante.

Conduzam a mim os sem-abrigo, os fustigados pela tempestade,

Porque, junto à porta dourada, ergo a minha tocha!

Esta grandiosa obra de arte foi classificada como monumento nacional e, mais tarde, como património mundial da humanidade, pela Unesco.

Estátua da Liberdade

Para saberes mais

Ser pessoa é ser livre. Mas liberdade não significa cada um fazer o que quer, sem atender às consequências das suas acções sobre os outros. Por este motivo, é necessário que o comportamento humano seja, em certa medida, objecto de legislação. As leis, se forem justas, limitam os actos que podem prejudicar os outros e salvaguardam o direito de intervenção na sociedade. Cumprir a lei é, em princípio, respeitar os direitos e os deveres individuais e colectivos. A vivência da nossa liberdade exige o respeito pelo bem comum.

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Pedacinhos de Deus

Se sentes dentro de ti a vontade de amarem gestos que criem fontes, a audácia de sonharmais longínquos horizontes e o apelo a escalarcada vez mais altos montes,cada vez mais altos montes,então…

Tens em ti um pedacinho de Deus,tens rumos certos no coração.Desperta o sonho: tens em ti os céus,liberta a vida da palma da mão.Faz desses rumos os caminhos teus:de B.P. recebeste esta missão.

Se sentes dentro de ti sempre a sede de gritaro nome da liberdade, a coragem de falara palavra da verdade e a servir participarna construção da cidade,na construção da cidade,então…

Se sentes dentro de ti o silêncio inspirara paz ao teu coração chamando-te a enfrentara vida com decisão e teimas acreditarna esperança de um mundo bom,na esperança de um mundo bom,então…

Música e letra: Alexandre Reis, Pe. José NunoIntérprete: Junta Regional do Porto

Álbum: Rumos

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QUando os direitos não estão garantidos...

A humanidade já viveu períodos sombrios, mesmo na história recente, nos quais morreram milhões de homens, mulheres e crianças. A primeira guerra mundial (1914-1918), por exemplo, provocou milhares de mortos e, feriu de tal modo o coração das pessoas que o ódio, o medo e a desconfiança tomaram conta das relações entre alguns povos e pessoas. Quando a guerra terminou, ficaram muitas discórdias por resolver. Não demorou muito até à eclosão da segunda guerra mundial (1939-1945).

Neste conflito bélico, como em todos, foi notório o desrespeito pelo ser humano, enquanto pessoa dotada de dignidade.

No final da segunda guerra mundial, com o objectivo de evitar novos conflitos, algumas nações uniram-se e criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), que é ainda hoje uma organização muito prestigiada. Os seus objectivos são: promover a paz no mundo, proteger os direitos humanos; fomentar o desenvolvimento económico e social das nações; estimular a autonomia dos povos; reforçar laços entre todas as nações. Actualmente, a ONU reúne mais de 190 países.

Um dos marcos mais importantes da vida desta instituição foi a publicação, a 20 de Junho de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Edifício das Nações Unidas

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Humanos (DUDH). Todos os membros têm a obrigação de respeitar e fazer respeitar os direitos que essa declaração proclama.

Muitos países membros da ONU continuam a desrespeitar os preceitos inscritos nesta declaração. A muitos povos, bem como a grupos específicos, ainda hoje é vedado o exercício dos seus direitos fundamentais. As crianças constituem, indiscutivelmente, um dos grupos mais vulnerável.

direitos da criança

Os direitos das crianças são o resultado de uma conquista recente da história da humanidade. Outrora, não se reconheciam direitos específicos às crianças, por isso não havia qualquer legislação sobre o assunto. A criança dependia totalmente da vontade dos adultos com quem vivia.

Se observarmos factos da vida privada das pessoas, ao longo dos diferentes períodos da história, podemos verificar que as crianças estavam inteiramente submetidas à deliberação dos adultos, não lhes sendo garantidos quaisquer direitos pessoais.

Entretanto, a consciência dos povos foi evoluindo e hoje reconhece-se à criança direitos próprios que não dependem da vontade dos adultos.

Assim, os adultos que cuidam das crianças não têm sobre elas direitos de propriedade, como se se tratasse de objectos e não de pessoas. Bem pelo contrário, estão obrigados a zelar pelo interesse das crianças, pelo seu bem-estar, pela sua felicidade, pelo seu crescimento harmonioso, bem como a ouvi-las e a permitir que tomem algumas decisões. Quando os direitos básicos delas não são respeitados pelos adultos, outras entidades podem e devem intervir para garantir a sua saúde e bem-estar.

Esta evolução positiva tem a sua origem nos valores cristãos. De facto, ao observarmos a maneira como Jesus se relacionava com as crianças, verificamos que era muito diferente da maneira como era esperado que o fizesse. Alguns traziam as suas crianças até Jesus para ele as abençoar,

Mt 18, 1-5

Procura na Biblia

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mas os discípulos zangavam-se com eles, provavelmente por acharem que Jesus devia dedicar-se a gente mais importante do que crianças. No entanto, Jesus ficava indignado com os discípulos (Mc 10,14) e repreendia-os, dizendo-lhes que deixassem passar as crianças porque elas eram o modelo de todo aquele que quisesse aceitar a sua mensagem de salvação.

Esta maneira realmente inovadora de se relacionar com as crianças abriu as portas para o reconhecimento da sua dignidade pessoal e, portanto, dos seus direitos.

Na Idade Média, o nascimento era olhado com algum desprendimento social, dada a incerteza da sobrevivência de cada bebé, nos primeiros tempos de vida. De facto, até muito recentemente, eram elevadíssimas as taxas de mortalidade infantil.

Ainda hoje, apesar de se reconhecerem direitos às crianças, nem todas os vêem respeitados. Muitas crianças sofrem a indiferença ou até a violência dos adultos.

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Balada da Neve

Batem leve, levemente,Como quem chama por mim…Será chuva? Será gente?Gente não é certamenteE a chuva não bate assim…

É talvez a ventania;Mas há pouco, há poucochinho,Nem uma agulha buliaNa quieta melancoliaDos pinheiros do caminho…

Quem bate assim levemente,Com tão estranha levezaQue mal se ouve, mal se sente?Não é chuva, nem é gente,Nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caíaDo azul cinzento do céu,Branca e leve, branca e fria…— Há quanto tempo a não via!E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.Pôs tudo da cor do linho.Passa gente e, quando passa,Os passos imprime e traçaNa brancura do caminho…

Fico olhando esses sinaisDa pobre gente que avançaE noto, por entre os mais,Os traços miniaturaisDuns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…A neve deixa inda vê-los,Primeiro bem definidos,— Depois em sulcos compridos,Porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecadorSofra tormentos, enfim!Mas as crianças, Senhor,Porque lhes dais tanta dor?!…Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,Uma funda turbaçãoEntra em mim, fica em mim presa.Cai neve na natureza…— E cai no meu coração.

Augusto Gil. Luar de Janeiro

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garantir direitos às crianças

Dada a vulnerabilidade das crianças e o facto de tantas sofrerem atentados contra a sua dignidade, a sociedade foi desenvolvendo mecanismos — legais e outros — para a sua protecção e para o cumprimento efectivo dos seus direitos.

Com este fim, a ONU criou, em 11 de Dezembro de 1946, um organismo dedicado exclusivamente a atender as necessidades básicas das crianças no mundo e garantir o seu pleno desenvolvimento — a UNICEF.

A UNICEF — United Nations International Children’s Emergency Fund — dedica-se à defesa e salvaguarda dos direitos das crianças em todo o mundo. O seu lema é “Para todas as crianças saúde, educação, igualdade e protecção”.

Como indicado na Declaração dos Direitos da Criança, a criança, por motivo de falta de maturidade física e intelectual, tem necessidade de protecção e cuidados especiais, nomeadamente de protecção jurídica adequada, tanto antes como depois do nascimento.

Preâmbulo da Convenção sobre os Direitos da Criança.

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Jogos de Crianças, Pieter Bruegel the Elder

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Mas não bastava ter um organismo que se dedicasse às crianças, era preciso que todos os Estados e todas as pessoas do mundo soubessem quais são efectivamente os direitos das crianças. Por isso, a ONU promulgou, por unanimidade, a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 20 de Novembro de 1989.

Este documento procura clarificar quais são os direitos fundamentais das crianças e obriga os Estados que o adoptam a garantir a sua aplicação.

Quase todos os países do mundo aceitaram esta Convenção, que assenta em quatro grandes pilares.

1.º: A não discriminação que determina que todas as crianças dos mundo e em qualquer momento têm o direito de desenvolver todo o seu potencial.

2.º: O interesse superior da criança deve ser prioritário em todas as acções e decisões que envolvam a própria criança.

3.º: A sobrevivência e desenvolvimento que sublinha a importância vital da garantia de acesso a serviços básicos e à igualdade de oportunidades para que as crianças possam desenvolver-se plenamente.

4.º: A opinião da criança que significa que a voz das crianças deve ser ouvida e tida em conta em todos os assuntos que se relacionem com os seus direitos.

Adaptado de UNICEF. A Convenção sobre os Direitos da Criança.

Datas importantes para a defesa dos direitos da criança:

1924: Declaração de Genebra sobre os direitos da criança (Sociedade das •Nações).

1946: Fundação da UNICEF (ONU).•

1848: Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU).•

1959: Declaração dos Direitos da Criança (ONU).•

1976: A ONU proclama o ano de 1979 como Ano Internacional da Criança.•

1989: Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU). Portugal ratificou esta •convenção em 21 de Setembro de 1990.

Para saberes mais

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Os seus 54 artigos podem ser divididos em quatro subcategorias de direitos: direito à sobrevivência (ex.: cuidados médicos adequados); direito ao desenvolvimento (ex.: educação); direitos à protecção (ex.: protecção de formas de exploração e trabalho infantil); direito de participação (ex.: participação da criança na sociedade e expressão das suas opiniões).

atentados aos direitos da criança

Infelizmente, há ainda muito por fazer para que todas as crianças vejam respeitados os seus direitos. Os atentados aos direitos das crianças assumem as mais variadas formas. O abandono é uma delas.

O seu abandono, sob a forma de venda, já acontecia na antiga Babilónia (século XVIII-XVII a.C.), como o atesta o Código de Hamurabi.

Na Idade Moderna, a criança indesejada e rejeitada era deixada na Roda. Seguidamente, lavrava-se um registo individual em que constavam normalmente a data, hora e local do enjeite, a idade aparente, o relato do vestuário, a cópia na íntegra dos bilhetes que, por vezes, acompanhavam o exposto, a referência ao baptismo (se foi administrado por alguém antes do abandono) e o nome, já indicado ou escolhido no momento. Mais

117.º: Se alguém tem uma dívida e, para a pagar, vende a mulher, o filho e a filha, estes deverão trabalhar três anos na casa do comprador ou do senhor; no quarto ano este deverá libertá-los.

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tarde, acrescentava-se a ama a que o enjeitado fora entregue, apontando o respectivo nome, estado civil, nome do cônjuge e residência. Em caso de óbito, mencionava-se igualmente a data no mesmo registo.

O enjeitamento acontecia sobretudo à noite, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até à uma hora da manhã, porque a noite encobria o segredo. Raramente se abandonavam crianças que já se exprimissem correctamente, uma vez que poderiam denunciar os familiares que as haviam desamparado.

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Apesar de, actualmente, existir legislação que protege as crianças, existem locais no mundo onde elas continuam a não ser respeitadas e a ser exploradas das mais diferentes formas. Tal ocorre quer nos países desenvolvidos quer nos países em desenvolvimento.

A muitas crianças é negado o acesso aos cuidados básicos de saúde e higiene, apesar de haver tratamento adequado para algumas das doenças de que padecem. Por vezes, não existe solidariedade dos países economicamente mais poderosos em relação a outros países onde há carência de medicamentos.

Nunca existiu tão elevada produção de alimentos, no entanto continuam a morrer de fome milhares de crianças em todo o mundo, vítimas da escassez de alimentos ou da má nutrição. Este facto é uma mancha no coração da humanidade!

D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, foi uma das fundadoras do primeiro hospital para recolher crianças no reino de Portugal, com o nome de Ecclesiae Innocentum Hospitalis Puerorum (Hospital das Crianças Inocentes da Igreja), situado no Bairro da Mouraria, em Lisboa, nas imediações da capela da Senhora da Saúde.

Para saberes mais

A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes.

Albert Einstein

A subnutrição é uma das causas que contribui para mais de um terço dos 9,2 milhões de mortes de crianças com menos de cinco anos no mundo. Embora se tenham registado desde 1990 algumas melhorias relativamente à percentagem de crianças desta faixa etária com baixo peso, estima-se que 148 milhões de crianças continuem a sofrer de subnutrição nos países em desenvolvimento. Para que estas crianças tenham hipóteses de sobreviver, é preciso intensificar esforços a fim de satisfazer as necessidades nutricionais das mulheres dos bebés e das crianças.

Nova Iorque / Genebra, 12 de Setembro de 2008In http://www.unicef.pt (16/02/2009)

Para saberes mais

Mais de 600 detidos em operação contra prostituição infantil

O FBI deteve 642 pessoas em vários estados dos EUA numa operação que resultou no desmantelamento de uma rede que explorava pelo menos 47 menores, obrigados a prostituir-se.

Notícia do Semanário “SOL” em 28 de Outubro de 2008

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Há crianças que estão ainda sujeitas a gravíssimos abusos psicológicos e físicos, que passam por maus-tratos ou mesmo pela prostituição. São situações de sofrimento extremo às quais, na maioria dos casos, as crianças não têm hipótese de fugir. Os maus-tratos podem ser de vária ordem: a simples ausência de afecto, a violência constante através de palavras, o espancamento, os abusos sexuais. Algumas crianças são vendidas pela própria família ou por aqueles que as têm a seu cargo, normalmente para prostituição. Há redes de delinquência que raptam crianças para, depois, serem vendidas para adopção noutros países ou para prostituição.

12 de Junho de 2008, Nova Iorque

A UNICEF estima que existem 158 milhões de crianças menores de 15 anos que estão presas nas malhas do trabalho infantil em todo o mundo. A vasta maioria dessas crianças tem pouca ou nenhuma esperança de conseguir acesso à instrução que quebraria o ciclo de pobreza e analfabetismo que lhes mina o futuro.

Mais de 100 milhões de crianças, quase 70% da população laboral infantil, trabalham na agricultura em áreas rurais onde o acesso à escola, a disponibilidade de professores preparados e o material educativo é muito limitado. Mesmo nas áreas urbanas, as crianças pobres e marginalizadas não podem beneficiar de um acesso mais alargado às instalações escolares devido ao custo, à classe social e a questões culturais.

Contudo, dados recentes vieram trazer esperança à batalha contra o trabalho infantil. A Educação é a melhor arma neste combate à escala global, e o número de crianças fora da escola desceu de 115 milhões em 2002 para 93 milhões em 2005-2006.

Mas com mais de 150 milhões de crianças a trabalhar em vez de aprender, os governos e a comunidade internacional podem fazer mais para ajudar essas crianças a regressarem à escola. Nomeadamente, assegurando a Educação gratuita para todas as crianças pelo menos até à idade mínima para trabalhar; proporcionar programas educativos flexíveis e com recursos adequados para crianças trabalhadoras e outros grupos marginalizados a fim de que as crianças possam aprender bem apesar de trabalharem; e proporcionar educação de qualidade e acções de formação que sejam amigas-das-crianças facultadas por professores com formação e recursos adequados.

In http://www.unicef.pt (16/02/2009)

Ninguém deve deixar de denunciar casos semelhantes a estes, se os conhecer. A criança não é propriedade das famílias ou das pessoas que as têm a seu cargo. Todos somos responsáveis pelo seu bem-estar e pela sua integração na sociedade em que vivemos, quer sejam da nossa família, quer não.

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O ser humano é naturalmente aberto, acolhedor e receptivo. A sua dimensão espiritual, de abertura ao outro e eventualmente a Deus, faz com que sinta uma natural inclinação para o acolhimento do próximo. Este acolhimento torna-se efectivo quando a pessoa, individual ou colectivamente, cria condições para que todos se realizem enquanto pessoas.

O direito de realização da vocação humana depende da protecção do direito à liberdade de consciência, à livre manifestação de opinião e à liberdade religiosa. Impõe-se também a aceitação das diferenças, nomeadamente culturais, religiosas, sociais e físicas.

Por diferentes razões, em qualquer momento da nossa vida, podemos tornar-nos portadores de deficiência.

A Constituição da República Portuguesa prevê que os cidadãos portadores de deficiência gozem dos mesmos direitos dos demais cidadãos.

garantir o Direito a ser Pessoa

Ludwig van Beethoven nasceu em 1770 e faleceu em 1827. Foi um dos maiores compositores de música clássica de todos os tempos e compôs a sua única ópera já parcialmente surdo.

Para saberes mais

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Artigo 71.º·(Cidadãos portadores de deficiência)

1. Os cidadãos portadores de deficiência física ou mental gozam plenamente dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição, com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontrem incapacitados.

2. O Estado obriga-se a realizar uma política nacional de prevenção e de tratamento, reabilitação e integração dos cidadãos portadores de deficiência e de apoio às suas famílias, a desenvolver uma pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e deveres dos pais ou tutores.

Constituição da República Portuguesa

Existem diversas organizações que se dedicam à promoção, integração e desenvolvimento da pessoa portadora de deficiência. Estas organizações são muito importantes, permitindo a valorização, o desenvolvimento e a realização pessoal de todos.

A Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental — APPACDM, congrega diferentes associações com esta missão.

Para saberes mais

Jesus, o amigo dos pobres, dos desamparados, dos discriminados, orientou a sua acção para a promoção dos mais desfavorecidos, porque via neles a presença de Deus. Assim, vemo-lo a curar os leprosos, os cegos, os paralíticos e outras pessoas que, de alguma maneira, eram mais vulneráveis do que os outros. Para Jesus, as pessoas com deficiência e os doentes são amados por Deus e dignos de toda a atenção.

Tiago, o discípulo e parente de Jesus, escreveu uma carta a todos os cristãos. Nela deixou claro que o amor deve ser a motivação para a acção dos crentes e que ter fé não significa apenas dizer que se acredita em Deus, mas também agir em favor dos outros.

Mc 12,29-31.

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Santo Agostinho de Hipona nasceu em 354, em Hipona (África do Norte), e faleceu em 430. Filho de pai pagão e de mãe cristã, converteu-se ao Cristianismo, já em idade adulta, por influência de Santo Ambrósio, bispo de Milão. Teólogo e filósofo, escreveu várias obras, destacando-se A Cidade de Deus e Confissões.

Para saberes mais

Cristo curando os doentes, Laura James

Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, o amor.

Santo Agostinho de Hipona

Texto bíblico

A fé e as obras

P rocedem bem se cumprirem o mandamento fundamental: “Amarás o teu semelhante como a ti mesmo.” Mas se fizerem acepção de pessoas,

isso está mal.Que importa, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se a não

põe em prática? Imaginem que algum irmão ou irmã não tem nada que vestir e lhe falta o necessário para comer, cada dia. Vocês podem dizer-lhes: “Vão em paz! Hão-de encontrar com que se aquecer e matar a fome!” Mas se não lhes dão aquilo de que eles precisam, de que valem essas boas palavras? Do mesmo modo a fé, se não é posta em prática, está morta!

Tg 2,8-9.14-17

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Page 44: Unidade Lectiva 1

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Para além do aspecto exterior do outro, dou-me conta da sua expectativa interior de um gesto de amor, de atenção, que eu não lhe faço chegar somente através das organizações que disso se ocupam, aceitando-o talvez por necessidade política. Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor de que ele precisa.

Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est.

Na fé e na esperança o mundo discordará, mas todo o interesse da humanidade está no amor.

Alexandre, O Grande. Século IV a.C.

Queridos avós,

Aproveito o início de mais este ano para mandar notícias. Este vai ser, com certeza, o melhor ano nas nossas vidas. É a mãe quem continua a dizer isso. Como dizia, aliás, em relação ao ano passado. Eu estou certa, no entanto, de que será mesmo este o melhor.Sabem, hoje na estação dos comboios passei por uma rapariga, uma mulher jovem, que tentava a muito custo carregar um carrinho de bebé. Eu fiz o mesmo que fizeram todas as pessoas que corriam para cá e para lá e passei simplesmente ao lado. Reparei que algumas tinham a ousadia de olhar pelo canto do olho, outras nem reparavam. Todas, como eu, passavam e iam às suas vidas.Mas eu não era assim. Eu não era aquela rapariga que passou apenas. Por isso, voltei para trás e informei a mulher e o carrinho de que os ajudaria a subir as escadas. Impressionou-me, nos meus, às vezes cobardolas, 12 anos, a coragem de não ter, sequer, perguntado se precisavam de ajuda. Não, fui logo dizendo “Venha, eu ajudo-a!”A ajuda terá sido preciosa, embora atrapalhada, por causa da mala que eu transportava a tiracolo e dos cadernos novos que trazia nas mãos, o que tornou a viagem pelas escadas acima até um pouco mais divertida.No final da viagem, encontrámos um outro senhor, esse já mesmo idoso. Pelo menos, na dificuldade que aparentava ter em deslocar-se e pelas duas bengalas com que se fazia acompanhar.Senti-me confusa, porque não me dava mesmo jeito nenhum passar esse dia a ajudar pessoas a subir e a descer escadas. Isso foi, no entanto, desnecessário, porque, quando eu me baixei para apanhar o caderno de Inglês que tinha caído no chão, ouvi uma voz que dizia “Venha, eu ajudo-o!”.Aquela, sim, era eu. E nem me importei muito por não ter entregado o trabalho de férias de Inglês, que, entretanto, insistiu em ter fugido pelas escadas abaixo.Esta sou eu, aqui. E senti-me tão cheia de felicidade por ter sido eu nas escadas, que tive esta vontade de partilhar convosco que este ano, tenho a certeza, será o melhor da minha vida. Que, acima de tudo, as escadas dos meus dias me ajudem na descoberta de mim própria.Os maiores beijinhos de saudades, queridos avós; adorei as férias aí na terra.

Ana Catarina

P. S.: Beijinhos também no focinho do Lucas.

Texto original de c

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