Unipautas nº 01 (2013/1)

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JORNAL DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIRITTER PORTO ALEGRE/RS SEMESTRE 2013/1 ANO I • NÚMERO 1 Personagens de Porto Alegre ESPECIAL Moradores da Capital, como Eva Shopher (abaixo) falam de sua relação com a cidade pág. 03 Tribo kaigang mantém as tradições na aldeia Tüpe Pën, no Morro do Osso. Foto: Victória Kubiaki Cidade em Baixa? Campanha de fiscalização a bares e restaurantes, chamada de Operação Sossego, divide o tradicional bairo boêmio de Porto Alegre. Enquanto moradores saúdam a tomada de uma atitude em relação ao barulho, proprietários de bares e restaurantes relatam prejuízo e lembram da tradição do bairro. Prefeitura afirma que vai continuar fiscalizando regularmente todos os 183 estabelecimentos no bairro para que a lei seja respeitada. pág. 7 Eva Sopher há 40 anos preside a Fundação Theatro São Pedro. Foto: Brayan Martins POLÊMICA “ELES CHEGAM AQUI COM O BIQUINHO NA BOCA E A ROUPA DO CORPO” Cerca de mil menores moram em abrigos em Porto Alegre. p. 13 O MAIOR PRÉDIO DE PORTO ALEGRE Edifício Santa Cruz, maior prédio da Capital, tem 32 andares e 96 metros. p. 09 BEM-VINDO, AEROMÓVEL Depois de mais de trinta anos de espera, aeromóvel do gaúcho Oskar Coester é inaugurado. p. 07 PORTO ALEGRE ESTÁ NO CINEMA Capital já serviu de cenário para diversos filmes que rodaram o Brasil e o mundo. p. 18 DESTAQUE NAS ALTURAS TRANSPORTE CULTURA ESPORTES Exercício a céu aberto • Torcidas organizadas • Categorias de Base • Centenário do São José • Novos estádios • Skate páginas 21 a 24 Nativos da capital pág. 05 Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA. Edição: Marcelo Corrêa APLICATIVO FACILITA DESLOCAMENTO EM POA Com mais de 13 mil downloads, Mobbly é o aplicativo gaúcho mais popular no Google. p. 20 MÍDIA E TECNOLOGIA

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JORNAL DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIRITTER

PORTO ALEGRE/RSSEMESTRE 2013/1ANO I • NÚMERO 1

Personagens de Porto AlegreESPECIAL Moradores da Capital, como Eva Shopher (abaixo) falam de sua relação com a cidade pág. 03

Tribo kaigang mantém as tradições na aldeia Tüpe Pën, no Morro do Osso. Foto: Victória Kubiaki

Cidade em Baixa? Campanha de fi scalização a bares e restaurantes, chamada de Operação Sossego, divide o tradicional bairo boêmio de Porto Alegre. Enquanto moradores saúdam a tomada de uma atitude em relação ao barulho, proprietários de bares e restaurantes relatam prejuízo e lembram da tradição do bairro. Prefeitura afi rma que vai continuar fi scalizando regularmente todos os 183 estabelecimentos no bairro para que a lei seja respeitada. pág. 7

Eva Sopher há 40 anos preside a Fundação Theatro São Pedro. Foto: Brayan Martins

PolÊMica

“ELES CHEGAM AQUI COM O BIQUINHO NA BOCA E A ROUPA DO CORPO”Cerca de mil menores moram em abrigos em Porto Alegre. p. 13

O MAIOR PRÉDIO DE PORTO ALEGREEdifício Santa Cruz, maiorprédio da Capital, tem 32andares e 96 metros. p. 09

BEM-VINDO, AEROMÓVELDepois de mais de trinta anos de espera, aeromóvel do gaúcho Oskar Coester é inaugurado. p. 07

PORTO ALEGRE ESTÁNO CINEMACapital já serviu de cenário para diversos fi lmes que rodaram o Brasil e o mundo. p. 18

destaQue

nas altuRas

tRansPoRte

cultuRa

JORNAL DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA

ESPORTESExercício a céu aberto • Torcidas organizadas • Categorias de Base • Centenário do São José • Novos estádios • Skate

páginas 21 a 24

Nativos da capitalpág. 05

Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA. Edição: Marcelo Corrêa

APLICATIVO FACILITA DESLOCAMENTO EM POACom mais de 13 mil downloads, Mobbly é o aplicativo gaúcho mais popular no Google. p. 20

MÍdia e tecnoloGia

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Fale conosco: [email protected] • www.facebook/unipautas • @jornal_unipautasExpediente

O início de uma trajetória Nasceu o primogênito

O Jornal UniPautas é um projeto da Faculdades de Comunicação Social (FACS) do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter/Laureate International Universities. A iniciativa surgiu da necessidade de criar um espaço de di-vulgação do material produzido nos cursos de jornalismo e publicidade. Seu projeto gráfico foi desenvolvido pelos designers e professores Sandro Fetter e Jaire Passos. A tipografia principal dos textos e títulos é a Directa Serif, produzida pelo designer capixaba, Ricardo Esteves Gomes.

UniRitter / Laureate International Universities

Campus Porto Alegre: Rua Orfanotrófio, 555• Alto Teresópolis • Porto Alegre/RSCEP 90840-440 • Fones: (51) 3230.3333 | (51) 3027.7300Campus Canoas: Rua Santos Dumont, 888 • Niterói • Canoas/RS • CEP 92120-110Fones: (51) 3464.2000 | (51) 3032.6000

Reitor:Telmo Rudi Frantz

Chanceler:Flávio D'Almeida Reis

Pró-Reitora de Graduação: Laura Coradini Frantz

Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão: Márcia Santana Fernandes

Faculdade de Comunicação SocialCoordenação: Laura Glüer

UnipautasConselho Editorial: Laura Glüer, Marcelo Spalding, Rodrigo Rodembusch e Solon Saldanha

Projeto Gráfico: Sandro Fetter e Jaire Passos

Diagramação: Marcelo Spalding

Consultor em diagramação:Rogério Grilho (MT 7465)

Supervisão fotográfica:Rogério Soares

Equide de apoio:Estudantes Brayan Martins, Jean Lazarotto e Shalynski Zechlinski

Professores envolvidos:Solon Saldanha (Projeto de Jorn. Gráfico), Marcelo Spalding e Rodrigo Rodembusch (Red. Jornalística), Rogério Soares (Fotografia) e Cláudia Trindade (Criação Publicitária)

APRESENTAÇÃO EDITORIAIS

Laura Glüer*

Construir um novo veículo de comunicação é sempre um gran-de desafio. É preciso pensar no formato, na linguagem, no perfil editorial, no público, enfim, pla-nejar e executar todos os detalhes que cercam este veículo.

Este foi o desafio que pro-fessores e alunos da Faculdade de Comunicação Social da UniRitter tiveram neste semes-tre, ao produzir, pela primeira vez, o jornal laboratório do cur-so de Jornalismo. Consolidando o nome Unipautas, presente também no blog dos cursos de Comunicação, o jornal ganhou vida nas disciplinas de Redação Jornalística I, sob a responsabi-lidade dos professores Marcelo Spalding e Rodrigo Rodembusch, e Projeto Experimental Jornal, ministrada pelo professor Solon Saldanha, do curso de Jornalismo.

O jornal laboratório conta, ain-da, com anúncios de cunho so-cial, produzidos pelos alunos de Criação Publicitária, do curso de Publicidade e Propaganda, sob orientação da professora Cláudia Trindade.

Para a elaboração do projeto gráfico, contamos com o apoio dos colegas professores Sandro Fetter e Jaire Passos, do curso de Design Gráfico. Para a dia-gramação deste primeiro jornal, a Faculdade recebeu também o apoio super especial do jornalis-ta Rogério Grilho, aluno de pós da UniRitter, com experiência de mais de uma década como diagramador.

As matérias desta primeira edição são resultado de um pro-cesso de aprendizado contínuo dos estudantes, desde a pauta até a reportagem e edição. Os anúncios nasceram de ideias e sua estratégia criativa, constru-ídas a partir dos conceitos vistos

Bier

Solon Saldanha, professor

O primeiro filho sempre traz consigo a graça da esperança, mas também o peso da expecta-tiva. E há gestações e partos que são tranquilos, enquanto outros são bem mais trabalhosos, pelas mais diversas razões. Se isso vale na vida de um casal, imaginem só o que pode acontecer quando a

“criação” resulta de um trabalho de muitas mãos e inúmeras par-ticipações, com todos os envolvi-dos querendo ver o seu DNA em evidente destaque ao final.

Este é o número de estreia de um jornal-laboratório que, justa-mente por ser isso, um campo de experiência para jornalistas em formação, tem que cumprir a mis-são de unir teoria e prática. E isso significa desenvolver habilidades específicas, do ponto de vista técnico, bem como condições de trato interpessoal. O que se ob-tém na discussão de pautas, no contato com fontes, com colegas, no enfretamento de dificuldades

operacionais, na capacidade para suportar frustrações e no direito ao exercício da alegria de ter o produto resultante nas mãos.

Chegou o primeiro Unipautas impresso. Nele procuramos prio-rizar temas que fossem ligados à nossa cidade. Este foi o territó-rio delimitado para que cada um buscasse suas histórias, desen-volvesse a narrativa e também o desejo de mostrar a realidade que nos cerca, a comunidade onde es-tamos inseridos. E o resultado já pode ser conferido.

Ter olhos e ouvidos atentos, exercitando a capacidade de analisar e descrever e que vê e ouve, com postura ética e com-promisso com a cidadania. Este é o maior acréscimo que cada um dos alunos envolvidos pode comemorar. Nesta publicação, ao longo do curso, ao longo da vida profissional. A caminhada é lon-ga, mais um passo foi dado. Agora, é “lamber a cria” e acompanhar o que as turmas seguintes farão, dando continuidade ao processo.

Vida longa ao Unipautas!

em sala de aula. O foco na cidade de Porto Alegre trouxe um olhar local para esta primeira edição, afinal é nesta cidade que os cur-sos de Comunicação da UniRitter realizam suas atividades.

Em maior ou menor grau, to-dos se envolveram e cresceram com este desafio. Não foi fácil. Percalços aconteceram, o prazo estourou, o semestre terminou e nem todas as páginas estavam diagramadas. Mas, em uma força-

-tarefa, conseguimos cumprir a missão proposta para 2013/1.

Certamente, há muito a me-lhorar nas próximas edições, mas este primeiro jornal laboratório fica na história da UniRitter, mar-cando o início de uma trajetória. Parabéns a todos os envolvidos neste processo, essa é a mate-rialização do esforço coletivo de nossa comunidade acadêmica.

* Coordenadora da Faculdade de Comunicação Social da Uniritter

Olhares sobre Porto AlegreMarcelo Spalding, professor

Há dezenas de estudantes nes-te jornal. Tantos quanto possível. E o que une todos eles? Uma pai-xão e uma temática.

A paixão é pelo jornalismo, uma profissão tão vilipendiada nos últimos anos por incomodar demais a pessoas importantes demais. Paixão essa comparti-lhada por nós, professsores, que ao escolhermos o jornalismo es-colhemos também um jeito de ver o mundo, pois ser jornalista, meus amigos, é muito mais que um diploma.

Como apenas essa paixão não seria suficiente para fazermos

juntos um jornal, coeso como deve ser uma edição impressa de jornal, escolhemos um tema norteador: Porto Alegre. E aqui você encontrará dezenas de olha-res sobre nossa capital, do olhar da grande Eva Sopher ao olhar de um anônimo morador de rua, do olhar de quem curte cinema ao olhar dos amantes de skate.

Claro que esse jornal é, acima de tudo, um aprendizado. Mas para nossos queridos alunos que veem pela primeira vez seus no-mes impressos na milenar folha de papel-jornal, sentindo cheiro de papel-jornal, é a reafirmação de uma certeza. Uma única, sin-gela, fugidia mas sempre necessá-ria certeza: vale a pena.

O cartunista Bier, premiado profissional com charges e desenhos editoriais publicados em diferentesveículos nacionais e internacionais, colaborou com esta primeira edição de Unipautas Jornal.

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Personagens de Porto Alegre ESPECIAL

Eva Sopher fala por que aceitou o desafio derestaurar o teatro maisantigo de Porto Alegre e dos planos para o Multipalco

Débora Pires, texto Brayan Martins, foto

Com seus 90 anos, a presi-dente da Fundação Theatro São Pedro, Eva Sopher, co-

nhecida como Dona Eva, exibe interesse e amor pelo que chama de sua segunda casa, o Theatro São Pedro. Juntamente com o

A mulher que reergueu o Theatro São PedroMultipalco, o São Pedro, inau-gurado em 1858, forma um dos maiores complexos culturais da América Latina, ocupando um es-paço considerável no coração da capital gaúcha.

Essa história começou há 40 anos, quando Dona Eva recebeu o convite para assumir a restau-ração do teatro, que estava fecha-do havia 10 anos. Segundo ela, aceitou o desafio pelo seu amor à cultura e por palavras de Wolf, seu marido: “ou aceitas a coor-denação da restauração do São Pedro ou irão derrubá-lo como fizeram com o irmão gêmeo do outro lado da rua”. E conclui: “Se

hoje o Theatro São Pedro está em pé, é graças a ele”.

Após o término da restaura-ção e reconstrução, foi criada a Associação Amigos do Theatro São Pedro (TSP), que em seu iní-cio contava com colaborações sem fins lucrativos: “Naquele tempo as pessoas ajudavam por-que queriam colaborar na sim-ples construção do veludo de uma poltrona, sentiam-se honradas e orgulhosas como cidadãos cola-borativos com a cultura”, afirma Eva. Já hoje, com a criação de leis de incentivo à cultura, segunda ela “a colaboração é feita com se-gundas intenções”.

Não tenho orgulho, tenho satisfação.” Eva Sopher, presidente da Fundação Theatro São Pedro

Dessa forma, a única ajuda espontânea que o Theatro rece-be mensalmente é de pessoas que se associam na TSP, e é através desta iniciativa que o teatro se mantém em pé.

O Theatro São Pedro opera, diariamente, com uma programa-ção variada, sendo que a maioria dos espetáculos apresentados são produções locais. A já tradi-cional apresentação de Tangos & Tragédias é a que tem o maior número de apresentações dentro da casa, sempre retornando para exibir seu show e lotando o teatro.

O mais recente projeto de Dona Eva é o Multipalco, audacioso

projeto com estacionamento fe-chado para 230 veículos, salas para cursos, ensaios, coletivas, palestras e múltiplas atividades para as artes de palco. “Mas ain-da há muito a fazer no Multipalco e não existe previsão de quando a obra será concluía”, confirma Dona Eva.

Ao ser questionada sobre qual projeto, dentre tantos que já reali-zou, orgulha-se mais, Eva Sopher afirma sem pestanejar: “Não te-nho orgulho, tenho satisfação de ver e saber que estas obras, estes dois prédios, este conjunto servi-rá para a capital que me adotou e eu adotei. Mas não orgulho”.

Walter Farfan, o artista de rua que anima os coletivos da capital

Fabiano Chaleira

Atravessar a América Latina em busca de oportunidade,

fugir da miséria extrema de seu país, escapar da violência do terrorismo e expandir sua visão de mundo: essa é a história de Walter Farfan, 40 anos, perua-no nascido em Lima, artista de rua, marinheiro, promotor de shows, técnico em informática e vendedor.

Casado com uma brasileira e

residindo em Porto Alegre há dez anos, ele já se autodenomina um

“perucho” (peruano gaúcho).Farfan conta que deixou Lima

aos 19 anos, em 1991, quando o Peru passava por uma ditadu-ra e era assolado por inúmeros atentados terroristas do grupo Sendero Luminoso. Com uma mo-chila nas costas, saiu a desbravar alguns países da América do Sul em busca de oportunidades.

Sua primeira estada foi em Cochabamba, na Bolívia. Depois seguiu por diversas cidades do Chile, Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil. Em solo brasi-leiro, passou por outras capitais até chegar a Porto Alegre em

2003. ”Uma vez, quando ainda era jovem, escutei no rádio que falavam de Porto Alegre, não lembro bem o que era, mas me pus a pensar: onde ficará esta cidade? Nunca poderia imaginar que passaria uma parte de minha vida por aqui”, conta. Na capital gaúcha, o peruano conheceu sua esposa, Aline Lima da Silva, e aca-bou fincando suas raízes.

Hoje Farfan atua como músi-co dentro de coletivos: “a música que toco geralmente é bem rece-bida por todos, parece que alivia um pouco o dia de trabalho ou estudo”. Henrique Rosa, usuário há 10 anos da linha D43, relata que a música tocada por Farfan

é muito bem vinda dentro do co-letivo. Para Henrique, “este tipo de apresentação valoriza também o passageiro, pois o artista vem até ele”.

Para o peruano, este trabalho é tão digno quanto qualquer outro, apesar das dificuldades, que não são poucas: “De um modo geral tem que se trabalhar de manhã até a noite, pois não conto com salvaguardas trabalhistas, sou autônomo”.

Nessas idas e vindas, o perua-no conheceu Porto Alegre como poucos gaúchos. Para ele, a ca-pital gaúcha se encontra mais avançada na relação a menores centros urbanos, ou seja, lugares

que não são capitais federais ou ainda megalópoles como São Paulo e Rio de Janeiro.

Ele afirma que aqui a arbori-zação se faz presente em maior número que qualquer outra cida-de e que o céu azul do Rio Grande do Sul não tem comparação a ne-nhum outro: “é o mais belo que já vi”, afirma.

Futuramente, Farfan deseja viajar ao Peru com sua esposa, passando de motocicleta por pon-tos onde já esteve e apreciando toda a beleza da América do Sul sem pressa de chegar: “O mais importante é fazer as coisas que gostamos de forma honrada, sem fazer mal a ninguém”.

O peruano que o destino trouxe à Capital

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ESPECIAL Personagens de Porto Alegre

Há 40 anos, Rui Cassapo veio com a família para o RS, apaixonou-se pela cultura e elegeu a capital do estado para viver e educar os filhos

Leonardo Mayer

Foi em 1972 que o português Rui Cassapo, na época com 29 anos, descobriu a capital

gaúcha. E ele não precisou atra-vessar um oceano como Pedro Álvares Cabral e outros portu-gueses, tampouco pegar um avião. Cassapo conheceu Porto Alegre através de um jornal de Lisboa: enquanto folheava suas páginas, viu um anúncio que ofertava vaga para técnico têxtil em Porto Alegre. Como ele já trabalhava em Lisboa como técnico de tecidos, viu na oportunidade a chance de desbravar um novo continente.

Foram dois meses de testes até vir a notícia de que ele tinha sido selecionado. Rui já estava casado

com Maria José Cassapo e tinha dois filhos, Carla Maria e Rui Pedro. Como havia sido seleciona-do, veio com a família para Porto Alegre e trabalhou na empresa têx-til por pouco mais de 25 anos.

Quando chegou a aposenta-doria, perguntou-se se havia ne-cessidade de parar de trabalhar. Decidiu, então, que abriria um restaurante típico português na cidade, apresentando aos porto-

-alegrenses sua terra natal atra-vés da culinária.

O nome do restaurante ele buscou na culinária dos seus vizi-nhos espanhóis, Calamares, nome de um típico polvo das águas da península ibérica. “O nome era exótico aqui no Brasil e precisáva-mos de um nome marcante para nosso restaurante”, conta Rui, ainda com um carregado sotaque.

Vivendo na capital dos gaú-chos há mais de 40 anos, Ruy afirma que a cidade foi muito aco-lhedora, fez amigos com facilida-de e a família inteira se adaptou rapidamente: “é uma cidade que lembra muito Portugal”.

O português que descobriu POA num anúncio de jornal

O português Rui Cassapo com sua esposa. Foto: Arquivo Pessoal

A história de Roberto Luiz Veiga Oliveira, que

“enxerga” Porto Alegre pelos seus sons e aromas

Camila Delvaux

“Nasci sem deficiên-cia alguma, era o filho mais saudável

dentre meus outros cinco irmãos, nunca fui de ficar doente, até che-gar aos meus doze anos.” O au-tor da frase, Roberto Luiz Veiga Oliveira, 58 anos, é alguém que descobriu ainda na adolescência que não é preciso enxergar para viver.

Sua cegueira começou após tomar um antibiótico para amig-dalite, que provocou alergia e acarretou na perda total da vi-são. Casado, morador da Vila dos Comerciários, no bairro Santa Tereza, Oliveira é torcedor faná-tico do tricolor, ama ouvir rádio e tem paixão por jogar xadrez.

Após toda superação, Oliveira casou, teve dois filhos, é gradua-do em Fisioterapia e pós-gradua-do em Medicina do Esporte. Foi funcionário público da extinta Caixa Econômica Estadual, de-pois cedido para a Secretaria de Segurança, onde trabalhou por 12 anos, ajudando a criar o serviço de fisioterapia na Policlínica da Policia Civil.

Em março de 2011, foi eleito presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência

O olhar de quem não vê(COEPEDE) e hoje voltou à Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para as Pessoas com Deficiência (FADERS), onde pre-tende dar continuidade a esse trabalho. “Não penso em parar, colocar pijama e ficar em casa de chinelinho, né?”, afirma Oliveira, sorrindo, que no ano que vem po-deria se aposentar.

Família

Como pai, Oliveira sempre par-ticipou de todas as atividades es-colares e extraescolares, como ser obrigado pela filha a ir assistir um ensaio de ballet: “Fui o único pai presente no meio de várias mães. Além de não ter visto nada!”, brin-ca. Com seu filho, jogava até fute-bol: “É claro que eu errava a pró-pria bola, e meu filho dizia: ‘mas

tu é bem cego mesmo, né?’”. Fora isso, seu dia a dia é to-

mado de sensações. “A audição, o olfato, o paladar e o tato passa-ram a ser os meus ‘olhos’, os meus maiores informantes do mundo que me cerca”, diz.

Logo ao sair de casa Oliveira já sabe como vai ser seu dia, ao sen-tir o barulho perturbador de car-ros e ônibus, mas ao mesmo tem-po o tão aconchegante aroma das árvores e o cheiro do chimarrão, seu companheiro diário. “Minha rotina é como de todas as pessoas, porém não enxergo. Só isso. Os meus ouvidos e o meu olfato me dizem tudo do meu dia, minuto a minuto”, afirma.

Para quem se queixa, Oliveira costuma dizer: “a vida é curta e passageira, por este motivo de-vemos valorizar as coisas boas e menosprezar as ruins”.

Roberto (D) em evento na COEPEDE. Foto: Arquivo Pessoal

Minha rotina é como de todas as pessoas, porém não enxergo. Só isso. Os meus ouvidos e o meu olfato me dizem tudo do meu dia, minuto a minuto.” Roberto Luiz Veiga Oliveira, presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência

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Personagens de Porto Alegre ESPECIALA menina que brincava de apresentadora de TV

Porto Alegre tem tudo a ver comigo.”

Apresentadora da TVPampa, Cris Barth conta sobre sua trajetória e sua identificação com a cidade de Porto Alegre

Bárbara Figueiró Scussel

Cristina Barth da Silveira, ou somente Cris Barth, é uma jornalista e apresentadora

que ao longo de 18 anos de car-reira tem conquistado seu espaço e por onde quer que vá atrai os olhares e a admiração do público. O jornalismo e a televisão na vida dela não vieram por acaso.

De acordo com Cris, o desejo de ser jornalista e fazer parte do mundo da televisão a acom-panha desde a infância: “Eu me lembro de estar no berço, cantar as músicas do Silvio e minhas bonecas chegando para serem juradas. Sempre brinquei que era apresentadora e eu fui fazer jornalismo porque eu queria tra-balhar na TV”, recorda.

Vivendo a infância e a juven-tude no bairro Cidade Baixa, pró-ximo ao centro de Porto Alegre, Cris viu grandes evoluções na capital. “Vi a Cidade Baixa evo-luindo, se tornando conhecida, crescendo. Vi a Lima e Silva, o coração da Cidade Baixa, crian-do novos rumos, novos ares e tornando-se hoje um dos points da capital”, diz a menina que, nos anos 80, via seus amigos joga-rem bola em plena Lima e Silva, algo impensável hoje em dia.

A vida na televisão começou cedo. Em 1998, Cris ingressou na TV e, de lá para cá, teve a oportu-nidade de trabalhar como jorna-lista na TVE, RBSTV e atualmen-te na TV Pampa, além de ter tido experiências com assessorias de imprensa e como corresponden-te no Rio Grande do Sul da revis-ta semanal Caras.

Cris, entretanto, afirma que realmente se encontrou nos pro-gramas de entretenimento, como o que apresenta atualmente, o Studio Pampa, que desde 2007 traz noticias, brincadeiras e mú-sicas aos telespectadores. “Eu nasci para fazer isso. Eu não con-sigo me imaginar fazendo outra coisa que não isso e da maneira com que eu faço, com a paixão que eu faço”, afirma.

Paixão esta que é refletida pelo público. Cris admite ser re-conhecida nas ruas e sofrer assé-dio dos telespectadores que dese-jam tirar foto, abraçá-la e beijá-la, além de repetirem os bordões que já se tornaram marca registrada da apresentadora: “As pessoas me olham e me falam ‘meu povo e minha pova’, ‘Cris, tu é linda e loira’, ‘é bafônico’. Eu acho um amor, uma delícia”, conclui.

Tribo kaigang mantém as tradições na aldeia TüpePën, no Morro do Osso

Victória Kubiaki

O dia amanheceu ensolarado e com os primeiros raios al-

cançando o pico do Sétimo Céu, no Morro do Osso, em Porto Alegre. Era mais um Dia do Índio, e a tribo kaingang comemorava a data. No lugar, com estrada de chão, alguns barracos e precária condição de vida, se localiza a al-deia Tüpe Pën (“Pé de Deus” em caingangue), onde os índios ini-ciaram a sua comemoração com danças típicas e muitas cores. O cacique Valdomiro Vergueiro, co-nhecido como “Che”, participou das danças, mas diz que tem sido difícil manter sua cultura:

“dizem que dia 19 é o dia do ín-dio. Dia do índio é todo dia e fico triste nessa data pelo rumo que a nossa história vem tomando”. Ainda assim, segundo ele a co-munidade indígena se mantém firme e segura para que não per-ca seu próprio idioma, danças e crenças.

Durante a comemoração, o Cacique revela que os maiores problemas pelos quais a comu-nidade tem passado são a posse territorial e o que deveria ser es-sencial, como saúde, educação e alimentação. “O Poder Público finge que esqueceu a dívida que os ‘não-índios’ tem com o nosso

povo, conforme foram mudan-do os sistemas políticos. Em 513 anos passamos de escravos para invisíveis. Se os descendentes africanos conquistaram seus di-reitos aqui, por que nós não so-mos respeitados na nossa terra ainda?”, questiona.

Os problemas de direito terri-torial são visíveis, pois os terre-nos ao redor da aldeia têm sido transformados em condomínios de luxo, criando um forte con-traste com os barracos e as casas de madeira dos Tüpe Pën. A área indígena tem sido disputada com a Associação de Moradores do Sétimo Céu (AMSC), que exige a desocupação da área há 9 anos em um processo que tramita na Justiça Federal.

A origem do nome “Morro do Osso” remonta aos cemité-rios indígenas encontrados no local. Esta é a razão pela qual, segundo Iracema, uma das mo-radoras da aldeia, os indígenas escolheram o local para residir.

“Nós prezamos a nossa cultura e a mãe natureza em primeiro lu-gar. A aldeia é um lugar especial considerando que aqui tenha vivido nossos ancestrais. A cul-tura indígena somos nós, terra e carne”.

Cris Barth apresenta programa diário na TV Pampa. Foto: Arquivo Pessoal

Presidente da Associação de Moradores da Comunidade da Orfanotrófio revela sua visão sobre Porto Alegre

Leandro Cougo

Em um pequeno escritório dentro de uma creche com

mais de 200 crianças, Carlos Alberto Fagundes de Oliveira, ou Carlinhos, como é conhecido pela comunidade, trabalha cui-dando das crianças e ajudando na organização da creche. É lá que ele passa a maioria de seus dias: “tenho um agradecimento à comunidade que pago através desse trabalho voluntário, e tam-bém é bom pra caramba ver uma criança de um ano e meio sorrir e te chamar pelo nome”.

A relação de Carlinhos com Porto Alegre começou em 1978, quando ele saiu de Itaqui para fugir da pobreza e da fome do in-terior do estado.

Logo que chegou à Capital, aos oito anos, começou a vender pão para ajudar financeiramen-te sua família. Um pouco mais velho, com 14, recebeu sua pri-meira carteira assinada e seguiu sua jornada de trabalho até se

O homem que faz crianças sorrirem

tornar policial militar. Hoje, aos 43, é o presidente da Associação de Moradores da Comunidade da Orfanotrófio e um dos volun-tários na Creche Boa Esperança.

Carlinhos gosta de ir a todos os lugares caminhando e pensando sobre a Porto Alegre que observa. Por conta disso ele acredita que o único meio de conhecer realmen-te a sua cidade é através do con-vívio diário com ela: “Se eu fosse vereador, eu criaria uma lei que daria para os vereadores um car-tão TRI, para eles conhecerem a sua cidade. Se tu representas as pessoas e a cidade, você deve conhecê-las, se tu tiver dentro de um carro tu vai conhecer aveni-das, mas não vai conhecer a pe-riferia”, diz.

Carlinhos também relata pro-blemas, como o dos banheiros pú-blicos da cidade: “Eu não entendo porque eu tenho que pagar o ba-nheiro público da rodoviária, por exemplo. Se é público é público, não pode cobrar”.

Independente dos problemas, Carlos Alberto acredita que Porto Alegre é maravilhosa e um ótimo lugar para viver. “Acredito que to-dos que moram aqui gostariam de passar o resto de suas vidas nes-sa bela cidade”, conclui.

Os índios que ainda resistem em Porto Alegre

O cacique Che. Foto: Victória Kubiaki

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6  •  UNIPAUTAS • 2013/1

Criatividade e ofertas são ingredientes para o ranchoConsumidores afirmam que promoções ajudam a lidar com as constantes oscilações da cesta básica

Kyane Sutelo

O preço dos alimentos há meses tem sido aponta-do como o vilão da infla-

ção, mas os consumidores mos-tram desenvoltura na hora de lidar com o problema na Capital gaúcha. Com o uso de artifícios na cozinha e as promoções do comércio, os porto-alegrenses comprovam que é possível pre-parar as refeições sem apertos no orçamento familiar. “Como todo brasileiro, a gente precisa ter criatividade e pesquisar. Com a cesta básica não é diferente”, aconselha o presidente interino do Movimento das Donas de Casa e Consumidores do Rio Grande do Sul, Claudio Pires Ferreira.

Quem segue à risca esta dica é a diarista Cláudia Lara. Moradora do bairro Partenon, localizado na zona leste, ela faz faxinas em diversos pontos da Capital e aproveita para fazer suas com-pras: “Eu ando por toda a cidade e comparo preços. O bairro que mais vale a pena comprar é o Rio Branco”, garante a dona de casa.

Porto Alegre, há mais de 24 meses, oscila entre as 5 capi-tais com cesta básica mais cara dentre as 18 pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese). Segundo a economista da instituição, Daniela Sandi, esta variação é natural: “Os pre-ços oscilam muito devido a fa-tores como sazonalidade, clima,

mercado internacional e commo-dities”, explica.

Entretanto, a composição da cesta básica de Porto Alegre, ins-tituída pelo Decreto-lei 399 de 1938, tem gerado cada vez mais questionamentos (confira tabela ao lado). A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) não consi-dera a legitimidade dos produtos, por julgar a lista ultrapassada, conforme assegura o presidente Antonio Cesa Longo.

Longo afirma que os 13 itens analisados na Capital gaúcha diferem das outras cidades em quantidade, tipo ou marca: “A ces-ta básica de Porto Alegre é a que tem mais produtos, pelo poder de compra e exigência do nosso con-sumidor. Por isso, quando não é a mais cara ficamos preocupados”, brinca Longo. Já a economista do Dieese, Daniela Sandi, argu-menta que os estudos mensais da instituição seguem a lei: “Não foi o Dieese quem criou as regras. O nosso objetivo é, apenas, infor-mar o consumidor”, justifica.

Desonerações

A desoneração de impostos proposta ocorrida em março aju-dou um pouco o consumidor a fechar o mês no azul. Ajuda bem vinda, pois segundo estatísticas do próprio Dieese, o brasileiro de-veria hoje receber quatro vezes o valor do salário mínimo atual, que é de R$ 678,00.

O presidente da Agas, Antonio Cesa Longo, garante que a Associação está negociando com o governo do Estado também a isenção do ICMS da cesta básica.

“O impacto será imediato nos pre-ços”, afirma.

ECONOMIA Inflação

Bolsa Família bate recorde de matrículas nos cursos do PRONATEC no RS

Cristielle Valle

O Programa Bolsa Família (PBF) foi criado pelo Governo

Federal em 2003 com o objetivo de erradicar a pobreza no país, repassando um benefício em di-nheiro de até R$ 306,00 por mês para famílias com renda mensal por pessoa até R$140,00. Em Porto Alegre, há mais de 176 mil pessoas que recebem o benefício.

Para a Diretora do Depar-tamento de Assistência Social da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), Viviane Goulart, “o dinheiro que

Educação para combater a pobrezaessas pessoas recebem é tão pou-co que, se no Norte alimenta uma família, aqui no Sul esse dinheiro não dá para nada”.

Por isso em 2011 foi criado o PRONATEC, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, que possibilita às pesso-as do Cadastro Único, incluindo os beneficiários do PBF, se qualifica-rem profissionalmente e ter maior possibilidade de conseguir um em-prego. De acordo com a Diretora do Departamento do Trabalho, Eliane Martins, “os postos de trabalhos que já existiam foram absorvendo a população que já estava formada, e com o cresci-mento da economia é preciso cha-mar aquela população que estava numa situação mais precária de formação profissional e escolar”.

Em Porto Alegre, uma formatu-ra de 2.300 alunos do PRONATEC, dia 12 de abril deste ano, chamou a atenção da mídia pela presen-ça da presidente Dilma Roussef e da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello, para quem “hoje, esta-mos superando o mito de que a população fica acomodada com o Bolsa Família”. Ainda segundo a ministra, o RS é campeão de ma-trículas em todo o Brasil: “das 380 mil matrículas, 60 mil estão aqui”.

Com isso, podemos entender que o Rio Grande do sul, e isto in-clui Porto Alegre, está com um nú-mero de pessoas de baixa renda, como os beneficiários do Bolsa Família, que procura qualificação profissional e um futuro melhor cada vez maior.

entenda o cálculo da cesta básica

ESTRUTURA DAS CESTAS báSICAS PELO DL 399/38

Alimentos Região 1 Região 2 Região 3

Carnes 6kg 4,5kg 6,6kg

Leite 7,5l 6l 7,5l

Feijão 4,5kg 4,5kg 4,5kg

Arroz 3kg 3,6kg 3kg

Farina 1,5kg 3kg 1,5kg

batata 6kg - 6kg

Legumes (tomate) 9kg 12kg 9kg

Pão francês 6kg 6kg 6kg

Café em pó 600gr 300gr 600gr

Frutas 90unid. 90unid. 90unid.

Açucar 3kg 3kg 3kg

Banha/Óleo 750ml 750ml 900ml

Manteiga 750gr 750gr 750gr

RONDÔNIA

ACRE

AMAZONAS

RORAIMA

PARÁ

AMAPÁ

TOCANTINS

MARANHÃO

PIAUÍ

CEARÁ

RIO GRANDE DO NORTE

PARAÍBA

PERNAMBUCO

ALAGOAS

SERGIPE

BAHIA

MINAS GERAIS ESPÍRITO SANTO

RIO DE JANEIRO

SÃO PAULO

PARANÁ

RIO GRANDE DO SUL

MATO GROSSO DO SUL

MATO GROSSO

GOIÁS

DISTRITO FEDERAL

SANTA CATARINA

Fonte: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese

Análise do Dieese divide o país em três regiões

A pesquisa do Dieese é realizada em quatro tipos de estabelecimentos: supermercados, feiras, açougues e padarias.Devem ser analisadas as marcas mais ofertadas nos locais de amostra.O levantamento é feito em, pelo menos, 30 estabelecimentos de cada tipo.As visitas aos estabelecimentos devem ser feitas sempre no mesmo dia da semana, a fim de respeitar as datas de oferta.

Região 2

Região 1

Região 3

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2013/1 • UNIPAUTAS  •  7

Mobilidade ECONOMIAApós três décadas, Aeromóvel é inauguradoPrimeira linha comercial aeromóvel inicia asoperações em Porto Alegre

Maureci Junior

Após mais de três décadas parado, o projeto aeromó-vel finalmente deixa de ser

um sonho e entra para a realidade dos porto-alegrenses. A chegada do primeiro veículo, em abril, e a inauguração oficial, em agosto, sinaliza a consolidação de uma era de grande crescimento urba-no para a capital dos gaúchos nes-te início de século. Este sistema já operou na década de 80, entre as Avenidas Loureiro da Silva e Presidente João Goulart, mas, na época, não passou da fase experi-mental. Agora, o aeromóvel irá re-alizar o trajeto entre o Trensurb e o Aeroporto em 90 segundos.

Idealizador do projeto, o gaú-cho de Pelotas Oskar Coester afir-ma que o transporte elevado pode significar um grande avanço para a capital gaúcha: “o problema de mobilidade, hoje, é uma realida-de do mundo inteiro. O aeromóvel deve ser uma mudança de para-digma”. Aos 74 anos, o inventor ratifica a convicção em sua tec-nologia: “não vejo possibilidade de não dar certo. Um veículo que transporta centenas de pessoas e se desloca sem sofrer interferên-cia do trânsito será um upgrade para Porto Alegre, não só na mo-bilidade, mas também no cresci-mento tecnológico. O tempo vai dizer isso”. Coester só lamenta a ideia não ter se concretizado antes, pois em 1982 o Ministério dos Transportes cortou a verba

do governo federal ao projeto. O gaúcho Cloraldino Severo, minis-tro naquela ocasião, é lembrado até hoje pelo interrompimento da obra.

Exatamente pelo longo tempo de espera, o veículo despertou curiosidade nos porto-alegrenses. Rodrigo Pompeu, que trabalha no Aeroporto Salgado Filho, presti-giou o momento: “nosso trânsito está mesmo carecendo de alter-nativas, o aeromóvel pode ser uma grande solução. Como porto-

-alegrense, estou orgulhoso”.Segundo a assessoria da

Trensurb, o primeiro veículo comercial deste tipo, conheci-do como A-100, foi fabricado no Rio de Janeiro e tem capacidade

para 150 passageiros. O A-100, que tem 14,5 metros de compri-mento, mede 3 metros de altura, 3,5 metros de largura e pesa 9,9 toneladas. Ele integra a Estação Aeroporto do Trensurb e o Aeroporto Salgado Filho em um trajeto de 998 metros. Também já está em construção o segundo equipamento desta linha, que tem previsão para chegar a Porto Alegre no mês de setembro. Ele terá o dobro da capacidade do primeiro e se chamará A-200. O custo total do projeto é calculado em R$ 33,8 milhões.

Está sendo estudada a cria-ção de outra linha de aeromóvel em Porto Alegre, que faria a liga-ção do centro com a zona sul da

cidade. Além disso, a cidade de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, também já estuda a possibilidade de implantar o sistema.

Segurança

Para Oskar Coester, o sistema oferece total segurança aos usu-ários: “o aeromóvel da Indonésia foi feito todo no galpão da nossa empresa, do primeiro ao último rebite, e ele está funcionando há 25 anos sem ter apresentado ne-nhum tipo de problema”.

Segundo ele, o projeto teve ori-gem em conceitos fundamentais da aviação, como falha segura e redundância. Logo, é considerado um sistema de alta confiabilidade,

com recursos de compressibilida-de do ar que tornam praticamen-te impossível a colisão entre os veículos que trafegam em dire-ções opostas.

O Aeromóvel possui propulsão pneumática e movimenta-se sob rodas de aço em trilhos tradicio-nais. Os turbo-ventiladores cen-trífugos comerciais, que insuflam o ar, são acionados eletricamente e localizam-se em casas de máqui-nas distribuídas em diferentes pontos do solo.

História

Embora a Indonésia ainda seja o único país a ter uma linha do aeromóvel operando comer-cialmente sob a administração pública, outros países também já aderiram ao projeto. Começou em 1977, com a Inglaterra, depois foi a vez dos alemães, japone-ses, americanos e franceses. A tecnologia do aeromóvel é 100% brasileira e, em qualquer lugar do mundo onde seja utilizada, a patente deve ser concedida ao pelotense Oskar Coester. No entanto, todos esses países pas-saram a utilizar esta tecnologia antes do Brasil.

Vale ressaltar, ainda, o quan-to alguns países valorizam o ae-romóvel. Na Alemanha, Japão e EUA, por exemplo, os maiores veículos de comunicação pro-duzem longas matérias sobre este sistema. No início dos anos 2000, a NHK, do Japão, chegou a enviar uma equipe de repórte-res a Porto Alegre para mostrar, com detalhes, o aeromóvel expe-rimental da Avenida Loureiro da Silva.

O trem, conhecido como A-100, tem capacidade para 150 passageiros. Foto: Divulgação

De olho na Copa do Mundo, novos píers para o Catama-rã serão inaugurados

Everton Cordeiro

Depois de 50 anos, a traves-sia fluvial entre a capital e

o município de Guaíba voltou a ser realidade desde outubro de 2011. É o Catamarã, serviço de transporte hidroviário com embarcações modernas e con-fortáveis. No primeiro semestre de 2013, foi inaugurado um píer próximo ao Barra Shopping Sul, e outro será construído na Ilha da Pintada. O diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Luis Cappellari,

afirma que “foram analisados 12 pontos ao longo do Guaíba até se decidir pelos atuais”.

A expectativa do diretor da CatSul, Carlos Bernaud, é de que a parada do shopping receba uma boa demanda, assim como a atual travessia: “Começamos transpor-tando entre Porto Alegre e Guaíba cerca de 1.700 pessoas e atual-mente já ultrapassamos a conta-gem um milhão de passageiros”. O diretor acredita também que a proximidade do novo píer não so-mente com o shopping, mas tam-bém do estádio Beira-Rio, vai dar um aspecto mais turístico para o transporte.

Segundo Bernaud, a pon-tualidade e a rapidez são os

diferenciais do Catamarã, uma vez que as viagens são feitas em apenas 20 minutos: “O transporte fluvial metropolitano deu certo e acreditamos que o urbano tam-bém dará”, conclui.

As novas rotas são demandas antigas da população e também uma ação de marketing visando alavancar o turismo e a econo-mia, uma vez que resta menos de um ano para o início da Copa do Mundo. “Aos finais de semana vêm turistas de várias localida-des do Estado, do País e até mes-mo do exterior”, afirma Bernaud.

Segundo a CatSul, o próximo píer incluso nesse segundo pro-jeto de ampliação deverá ser na Ilha da Pintada. Para esse novo

destino, inicialmente está sendo construído mais um barco, com capacidade para 140 pessoas (os dois existentes levam até 120 pes-soas) e vai atracar em dois pontos, na Colônia dos Pescadores Z5 e no antigo estaleiro Mabilde. A Secretaria Estadual de Obras da capital estima que a rota para a Ilha deva entrar em operação na primeira quinzena de outubro. Entretanto, Bernaud faz a ressal-va de que quanto mais distante o destino, mais elevado o custo.

Hoje as tarifas variam entre R$ 3,00 e R$ 7,25. Para Capellari, o valor se justifica porque “esse é um transporte seletivo, não cole-tivo.” Além de custear metade do custo do píer no Cristal, estimado em R$ 150 mil, a empresa investe cerca de R$ 2 milhões no terceiro barco. A EPTC programa adaptar o sistema de cobrança para que usuários da capital possam utili-zar o cartão TRI (municipal), uma vez que o TEU (metropolitano) já faz parte do serviço.

O balanço do Catamarã Começamos transportando cerca de 1.700 pessoas e já ultrapassamos um milhão de passageiros.”Carlos Bernaud, diretor da CatSul

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8  •  UNIPAUTAS • 2013/1

Campanha de fiscalização a bares opõe comércio emoradores da Cidade Baixa

Jean Lazarotto Santos

O bairro Cidade Baixa sempre foi um ponto de encontro

para grande parte da população que frequenta a noite de Porto Alegre. Este movimento cons-tante de pessoas acabou gerando tensão entre os moradores, donos de estabelecimentos e frequenta-dores, culminando em uma ope-ração da prefeitura para a regu-lamentação do funcionamento destes locais: a Operação Sossego.

Rogério Teixeira Stockey, che-fe de fiscalização da SMIC, afir-ma que a operação foi realizada principalmente devido ao grande número de reclamações dos mo-radores a respeito do barulho no bairro, “Muitos frequentadores destes bares e casas noturnas ficavam na frente dos estabele-cimentos consumindo bebidas alcoólicas e fazendo barulho em horários inapropriados”, afirma.

A dona de casa Leoni Scheffer,

de 39 anos, moradora da Rua da República, um dos pontos mais movimentados da Cidade Baixa, relata que após a fiscalização e regulamentação dos bares o bair-ro melhorou muito: “finalmente a prefeitura fez algo a respeito, não aguentava mais a bagunça e o barulho até o amanhecer, ago-ra conseguimos dormir em paz”, comemora.

Já o sócio gerente do Eclipse Studio Bar, Conrado Barreto, ale-ga que houve queda de aproxi-madamente 55% no faturamento mensal do seu estabelecimento, localizado na Cidade Baixa desde

Operação na Cidade Baixa divide o bairro2008: “tivemos que reduzir todos os preços em grande escala para manter os clientes, fizemos corte de até 50% no valor das bebidas”, lamenta. Barreto relata que nun-ca teve problema com vizinhos do bar e sempre respeitou os moradores da redondeza, e acre-dita que houve uma grande perda cultural para a cidade devido às novas regras.

O empresário acredita ainda que a atual operação é uma cam-panha de fiscalizações e rigidez desnecessárias por parte dos or-gãos públicos, que já apresenta-vam uma lentidão na liberação de

documentos e alvarás antes mes-mo das novas diretrizes: “onde es-tava essa vontade imensa de tra-balhar quando eu estava batendo na porta deles para pedir que me vistoriassem e aprovassem do-cumentos para que eu pudesse, finalmente, ter um alvará e tra-balhar dentro da lei?”, desabafa.

A Prefeitura afirma que vai continuar fiscalizando

re gu larmente todos os 183 esta-belecimentos no bairro para que a lei seja respeitada.

Enquanto isso, os do-nos de bares cobram ações mais enérgicas por parte da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) para que a lei seja flexibilizada e não cause tantos danos ao movimen-to noturno da região.

A Operação Sossego

De acordo com as normas da “Operação Sossego”, nome

dado pela própria prefeitura, os bares podem ficar abertos nas sextas-feiras, sábados e vés-peras de feriados até às 2h da manhã e dos domingos a quin-tas-feiras até à 1h. Após a 0h, não são permitidas mesas em recuos e em passeios públicos

fronteiros aos estabelecimen-tos, bem como o funcionamen-to de decks externos e áreas abertas. Os estabelecimentos que fizerem uso de música am-plificada (mecânica ou ao vivo) após a 0h deverão ter Projeto Acústico aprovado e licenciado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam).

Marcus Meneghetti, 24 anos, jornalista, que mora na Cidade Baixa há 5 anos: “Não concordo com a Operação Sossego da forma como ela foi conduzida, poderiam ter solucionado os problemas com mais poli-ciamento e educação ao público, mas resolveram fazer do jeito fácil e fecharam o bairro. A Cidade Baixa ficou muito mais insegura sem mo-vimento nas ruas, sair à noite ficou mais caro e com certeza houve uma grande perda cultural.”Gabriel Canabarro, 24 anos, músico: “A cultura foi prejudicada, as pes-soas que pensam em fazer programas após o horário de aula não tem muita opção e nossa banda acaba fazendo muito mais shows fora da capital pois aqui não tem condições. Uma cidade como Porto Alegre necessita de vida 24 horas por dia.”Ana Paula Genesini, 22 anos, estudante e moradora do bairro: “Moro em cima de um bar movimentado e nunca tive problemas com o barulho. A Cidade Baixa ficou em estado de coma após essa operação e me sinto até mais insegura de andar a noite no bairro pois fecharam tudo, mas a segurança não foi reforçada.”

o Que diZeM os MoRadoRes contRáRios À oPeRaÇÃo

Mistura de grandesempreendimentos com maior arborização chama aatenção para o Humaitá

Lucas Dias de Castro Furtado

O bairro Humaitá, localiza-do na zona norte de Porto Alegre, sempre conheci-

do por ser um bairro humilde e pouco valorizado, está passan-do por uma grande valorização. Este crescimento se deve à cons-trução da Arena do Grêmio, que valorizou as casas e os terrenos. Outro grande destaque é a loca-lização do bairro, de fácil aces-so para quem vem do litoral ou da serra e próximo ao centro de capital. Todas essas característi-cas fizeram com que as grandes construtoras e imobiliárias pas-sassem a chamá-lo de “Bairro do Futuro” e investir em novos empreendimentos.

Para Felipe Delfino, gerente de empreendimentos da Imobiliária Foxter, “antes mesmo da Arena ou do viaduto Leonel Brizola já existia um interesse no bair-ro, oriundo dos valores dos ter-renos”. E o interesse, segundo

Humaitá, o bairro do futuroDelfino, não se esgota com a inauguração do estádio: “em vir-tude das áreas disponíveis para construção civil, podemos espe-rar lançamentos pelos próximos cinco anos ainda”.

Tal interesse tem reflexo dire-to no valor dos imóveis. Marcelo Magalhães de Sousa, coorde-nador de empreendimentos da Foxter, lembra que “em 2007 o m² da região custava em torno de R$ 700,00 e, hoje, pode chegar a R$ 3.100,00, um dos maiores retor-nos do mercado”.

Segundo Sousa, com todo o investimento e melhorias na re-gião, o bairro Humaitá perdeu a imagem de um local distante e precário, tornando-se alvo de muitas famílias de classes sociais mais elevadas, que vão em busca de locais mais arborizados e me-nos populosos: “Em 2007 a infra-estrutura do bairro era horrível, hoje possui tudo o que é neces-sário para ter uma boa qualida-de de vida, e com um alto cres-cimento demográfico existe uma tendência de melhorias e desen-volvimento urbano, crescimento que agrega interesse político na região”.

Já os moradores, acostumados

com um bairro com pouca infra-estrutura, investimentos e menor fluxo de pessoas e automóveis, estranham a mudança.

Para a moradora Andréia Froz “houve épocas em que as obras dificultaram o acesso e até mes-mo criaram engarrafamentos e

ruídos. Não vejo nisto uma boa alteração, mas o lado bom foi a preocupação e o crescimento do Humaitá”. Sobre o assédio às residências dos antigos morado-res, Andréia afirma que “para os imóveis usados o assédio é baixo, talvez mude para estes

GERAL Cidade

Arena do Grêmio deu novo impulso ao Bairro Humaitá. Foto: Magda Perez

moradores a insistência de cor-retores em saber se seus imóveis estão à venda”. E há quem pen-se em vender suas residências devido à grande valorização de seus terrenos: “penso em vender o imóvel, mas não pretendo sair do bairro”.

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2013/1 • UNIPAUTAS  •  9

Cidade GERAL

A busca por novos espaços para artes visuais na Capital

Amanda Hendz

Espaços culturais servem para gerar um encontro en-tre o artista e seu público,

mas também com os colecionado-res e com as pessoas interessadas em adquirir trabalhos.

Em Porto Alegre, há diversas galerias. A maioria com exposi-ções variadas, como a Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ), localizada no Centro. A casa con-centra três galerias de arte e três espaços expositivos. No 7° andar, tem ainda a Fotogaleria Virgílio Calegari, destinada a projetos com fotos e vídeos. Só em 2012, a CCMQ realizou 49 exposições, sendo 8 especificamente de fotografia.

Já a La Photo Galeria e Espaço Cultural, localizada próximo ao Brique da Redenção, começou como estúdio fotográfico e virou um centro cultural. Para a coorde-nadora e produtora da La Photo, Regina Peduzzi Protskof, o local tem como principal identida-de ser um espaço multicultural, onde todas as artes se encontram, incluindo teatro, pintura, música,

Procurando espaço para as artes

literatura e fotografia: “Galeria e espaço cultural, como a gente faz, eu tenho certeza que é só a nossa em Porto Alegre”, afirma Regina.

Em se tratando de comercia-lização, a Bolsa de Arte de Porto Alegre, galeria de arte contem-porânea localizada no bairro Floresta, é uma das mais tradicio-nais da Capital. “A nossa galeria tem 33 anos de mercado e isso é muito legal, até porque são pou-cas galerias, no Brasil, em ativida-de constante. O Brasil é um país de investimento, mas as pessoas abrem as empresas sem terem o conhecimento adequado”, descre-ve a galerista e empresária Marga Pasquali.

A primeira galeria especiali-zada apenas em fotografia no Rio Grande do Sul é a Argentum Foto Arte Galeria. Segundo o artista visual Rogério Amaral Ribeiro, um dos proprietários da Argentum, “outras galerias expõem fotografias, mas tam-bém obras de arte”.

Para os profissionais da área, como a artista visual Rochele Zandavalli, porém, nossa cidade ainda é muito fraca para o mer-cado de arte: “Poucos investem, e quem investe dá preferência a artistas consagrados. Fica difícil para o jovem artista”, desabafa.

Edifício Santa Cruz, maior prédio da Capital, tem 32 andares e 96 metros

Lucas Lautert

Um gigante chama a aten-ção às margens do Guaíba. E não é o estádio Beira-Rio

ou a Arena do Grêmio, que estão ao lado do lago. O gigante é o Edifício Santa Cruz, o maior pré-dio de Porto Alegre.

Situado entre a Rua dos Andradas e a Rua Sete de Setembro, no Centro, o edifício possui 32 andares e uma altura de 96 metros, 12 a mais que o segun-do colocado na lista dos “arranha-

-céus” da capital gaúcha. A história do edifício começou

em 1955, quando o Banco Agrícola Mercantil promoveu um concur-so fechado com três escritórios de arquitetura, e o vencedor foi Carlos Alberto de Holanda Mendonça. Um ano depois, no dia 27 de junho de 1956, o pro-jeto do prédio foi aprovado pela Prefeitura. Sua construção durou até o ano de 1965.

A hegemonia do Santa Cruz como prédio mais alto da capital já dura 48 anos. Esse fato faz do

edifício um dos pontos turísticos de Porto Alegre.

Segundo a ascensorista Sandra Maria Rosa, a procura de visitantes de outros lugares do Brasil e do mundo é muito fre-quente, quase diária: “É normal tirarem fotos aqui do prédio, on-tem mesmo apareceu um pesso-al da Austrália atrás de autoriza-ção para subir até o último andar. Quase todo dia aparece alguém com uma câmera.”

Dia a dia do prédio

Além da procura dos turistas, o movimento é intenso durante a maior parte do dia, pois o pré-dio serve principalmente como ponto comercial.Dos 32 andares, 24 são destinados para todo tipo de negócio, como consultório de odontologia, fisioterapia, psicolo-gia e terapia, sindicatos, estúdios fotográficos, escritórios de conta-bilidade, empresas de elevadores, central de partido político, etc.

A partir do vigésimo quinto, os apartamentos são apenas para moradores fixos. Pelo grande nú-mero de pessoas que passam dia-riamente no prédio, os elevadores funcionam com uma mecânica di-ferente da normalidade: dois são

totalmente voltados para os últi-mos sete andares, sendo usados apenas por residentes fixos.

O empresário Cristiano Paim, morador há seis anos, fala das vantagens de morar em um apar-tamento situado no 25º andar:

“Quando você pega o elevador e entra no seu apartamento, parece que está em um bairro bem tran-quilo. O barulho não chega aqui em cima, não tem aquele tumulto tradicional do Centro. Quando tu acordas e desce, acaba levando um susto até acostumar. Outro di-ferencial é, sem dúvidas, a vista. Tem vezes que acabo me perden-do no horário por ficar na sacada olhando para a cidade, principal-mente no horário do pôr do sol.”

O edifício Santa Cruz, mesmo com 48 anos de história, parece um jovem imponente no coração da cidade, amado por seus traba-lhadores, por seus moradores e também por todos que trabalham no local. “Estou aposentada há quatro anos e mesmo assim não pretendo sair deste emprego que amo. É um orgulho muito grande trabalhar no maior e melhor pré-dio de Porto Alegre. Só saio da-qui de bengalas quando não con-seguir mais dar conta dos meus deveres”, revela Sandra.

O prédio mais alto da cidade

Vista do alto do edifício atrai turistas de todo o mundo. Foto: Lucas Lautert

O artista Rogério Amaral Ribeiro é um dos proprietários da Argentum. Foto: Amanda Hendz

Poucos investem em arte, e quem investe ainda dá preferência a artistas consagrados. Fica difícil para o jovem artista.”Rochele Zandavalli, artista visual

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10  •  UNIPAUTAS • 2013/1

Associação Anjos do Asfalto atua ajudando vítimas de acidentes de trânsito no RS

Alice Fortes

AAssociação de Resgate Metropolitano Anjos do

Asfalto é uma equipe de volun-tários que conta com profissio-nais de diferentes ramos, como bombeiros, militares, técnicos de enfermagem, advogados e instru-tores de trânsit, que estrutura o

Blitzes e maior fiscalização diminuem acidentes de trân-sito na Capital

Priscila Valério

Os dados são do próprio Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN): desde

que passou a vigorar a Lei Seca, diminuiu em até 28% os acidentes causados por embriaguez no trân-sito no RS.

O número se deve ao aumento na fiscalização. Na primeira fase da Operação Balada Segura, as blitzes eram realizadas apenas nos finais de semana e o bafôme-tro era feito somente em quem apresentasse sinais de embria-guez. Agora, as ações são reali-zadas de quarta-feira a sábado (eventualmente em véspera de feriados) e todos motoristas pas-saram a ser convidados a soprar o bafômetro.

O chefe da Equipe de Operações Especiais da EPTC, Marcelo Cunha da Silva, explica que o tempo de o álcool reagir no organismo varia de pessoa e da alimentação antes

GERAL Trânsito

Mais fiscalização, menos mortesde ingerir a bebida: “Caso não te-nha se alimentado corretamente, o álcool se manifesta de forma acelerada”, diz.

Conforme a Equipe Balada Segura, o índice tolerado é de 0,04 mg/l de ar (medição realizada no teste), sendo, neste caso, o con-dutor liberado. A partir de 0,05 mg/l até 0,33 mg/l, o condutor é autuado de forma administrativa, com multa de R$ 1.915,40 e reco-lhimento da CNH por no mínimo 24h, além da suspensão da habili-tação. O condutor ainda precisará apresentar outro motorista habili-tado que faça o teste e seja libera-do para retirar o veículo, sob pena de este ser guinchado. O mesmo procedimento é aplicado quando na recusa do teste.

Caso o índice seja 0,34mg/l ou mais, o condutor sofre as penali-dades citadas acima e é encami-nhado ao Palácio da Polícia, onde responderá criminalmente e terá de pagar fiança. ‘’Já somos capa-zes de perceber mudanças no co-tidiano da população quando nos deparamos com a redução do nú-mero de vítimas nos acidentes de trânsito”, salienta Stela Farias,

Secretária da Administração e dos Recursos Humanos do DETRAN.

Para Marcelo Cunha da Silva, além da educação e da fiscaliza-ção, outros motivos estão contri-buindo para a redução da aciden-talidade em Porto Alegre, como repintura constante de faixas de segurança, instalação de mais pla-cas de orientação e indicativas, semáforos com lâmpadas econô-micas de led e a implantação de projetos viários com bases em pe-didos de comunidade.

O bancário, Denilson Carneiro, 44 anos, diz que depois da experi-ência de ter sido parado em uma blitz dispensa pegar a direção e prefere um meio de transporte mais seguro, como táxi ou até mesmo a nova linha da Balada Segura.

A linha é uma iniciativa da Carris em parceria com a EPTC. Inaugurada no dia 16 de dezem-bro de 2011, a linha noturna C4 - Balada Segura atende aos pedidos dos frequentadores de bares e ca-sas noturnas dos bairros Moinhos de Vento, Cidade Baixa, Bom Fim e Centro Histórico. A linha circula diariamente, das 22h às 4h30min.

Voluntariado que salva vidas nas estradasatendimento de resgate e busca ajudar a comunidade do RS atra-vés de atendimento pré-hospitalar em rodovias gaúchas.

Morador de Porto Alegre, a 30 km da base em que os Anjos atuam, Fabiano Ferreira, 30 anos, auxilia no atendimento de emergência, limpeza da base, das viaturas, do pátio e de toda manutenção necessária antes e depois das ocorrências. Uma vez por semana ela cumpre o horário de 12h seguidas sendo voluntário nos Anjos do Asfalto. “Cada víti-ma precisa de uma ambulância,

em um município com relativa-mente poucas ambulâncias, um auxilio adicional é sempre bem vindo”, conta.

O trabalho realizado por ele e por diversas pessoas que decidem fazer parte da equipe dos Anjos do Asfalto não possui remunera-ção, portanto todas as atividades de risco que eles enfrentam são por vontade de ajudar o próxi-mo. Segundo Fabiano, diversos casos que ele presenciou foram difíceis, mas a colisão de um po-licial militar que acabou perden-do os movimentos inferiores do

corpo durante uma perseguição foi o mais marcante. “Apesar de momentos difíceis acho que todos deveriam fazer algum trabalho voluntário, se doar um pouco, às vezes o nosso 10% pode significar 100% para outra pessoa”, acredita Fabiano.

A Associação atua juntamente com órgãos Federias e privados auxiliando nas áreas da região metropolitana e nas Rodovias RS 118, 020 e 030. Fora do asfalto, os Anjos buscam conscientizar a população através de palestras e cursos que chamam atenção para

dados biMestRais do detRan-Rs

300

200

100

0

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Acidentes com mortes Mortes

Operações conhecidas como Balada Segura diminuem acidentes. Foto: Priscila Valério

um dos principais causadores de mortes no Rio Grande do Sul, o trânsito. Na Capital gaúcha, só nos três primeiros meses de 2013 mais de 4.900 acidentes de trânsi-to já foram registrados, 26 geran-do vítimas fatais.

A equipe de resgate trabalha durante as quartas e quintas no período da noite e nas madru-gadas dos finais de semana. São momentos em que profissionais deixam de lado suas tarefas di-árias para enfrentar uma verda-deira corrida contra o tempo para ajudar a vida de desconhecidos.

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Trânsito GERAL

Nova lei agradou mães e pedagogas. SMED diz que até 2016 demanda seráatendida na totalidade

Renata Dorneles

Agora é lei: crianças a partir de 4 anos devem obrigato-

riamente frequentar a escola. A lei de número 12.792 publicada no Diário Oficial da União obriga os pais a matricularem seus filhos aos quatro anos de idade na es-cola de educação infantil.

Para que a lei seja cumprida, entretanto, os municípios terão de oferecer vagas para os pais que dependem de escolas públi-cas. Para tanto, na maioria das ci-dades brasileiras, entre as quais Porto Alegre, será necessária a construção de novas instituições e a realização de mais concursos públicos que ampliem a oferta na rede pública.

Patrícia Speloto, pedagoga da creche municipal Nosso Sonho e

quatro anos estará atendida na totalidade”.

Maria Inês lembra, ainda, que o municipio atende a Educação Infantil em Escolas Infantis Municipais conveniadas e nos jardins das Escolas Municipais de Ensino Fundamental.

Educação Lei obriga ensino a partir dos quatro anosentusiasta da nova lei, ressalta que muitos pais têm receio de matricular seus filhos na creche por entenderem que o ingres-so na educação infantil é uma substituição à vida em família em geral e à mãe em particular:

“Nunca será o objetivo da educa-ção infantil oferecer aquilo que as crianças já vivenciaram em seus lares e círculos de paren-tesco e vizinhança, e sim uma ampliação da dimensão fami-liar, inseri-la em um ambiente em desenvolvimento orientado convivendo com outras crian-ças e adultos, experimentando novas situações de interação”. Segundo a pedagoga, projetos pedagógicos que estimulam a criatividade devem complemen-tar a ação da família.

Mães como Camila Torres, 24 anos, que tem um filho de três anos e não trabalha por não ter onde deixar o pequeno, estão ani-madas com essa nova lei, porém encontraram dificuldades para matricular seus filhos: “Meu fi-lho nunca frequentou a creche,

ontem mesmo fui a uma escola municipal que é ótima e me dis-seram que essa lei é para crian-ças que fizeram quatro anos até março, sendo que ele faz em ju-lho. A diretora disse que só no ano que vem. Vou aguardar e matricular ele lá mesmo assim”, afirma.

Sandra Cristina, mãe de uma menina de cinco anos matricu-lada na creche desde os dois, diz nunca ter tido problemas com as escolas municipais: “Nunca tive nada a reclamar da escola municipal, minha filha é só elo-gios e frequentemente estou lá conversando com professoras e orientadoras”.

Ela também diz respeitar pais que acham importante a criança ficar com a família mais tempo:

“respeito quem ache importante deixar a criança com a família por mais tempo, principalmente pelo fator saúde, mas isso até os três anos”.

De acordo com a coordenado-ra do nível de educação infantil da SMED, Maria Inês Spolidoro,

a Secretaria Municipal da Educação (SMED) se mostra pron-ta para receber a criançada que ingressará nas creches nos próxi-mos anos: “O município de Porto Alegre está abrindo até o final de 2013, 21 novas instituições conve-niadas e até 2016 a demanda de

Transporte coletivo poderá ser licitado ainda em 2013

Prefeitura estuda licitação inédita para a modalidade, e EPTC estima que o primeiro edital possa sair até final de dezembro

Luiz Soares

Após 140 anos, a prefeitu-ra de Porto Alegre admite a possibilidade de abrir

portas para a concorrência no transporte público. A consequ-ência imediata de uma licitação seria alterar o atual quadro do transporte, visando qualificar o serviço e reduzir o valor da tarifa.

Em entrevista concedida à Zero Hora no início de 2012, o Diretor-Presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, já havia fa-lado a respeito da possibilidade de licitar o transporte coletivo na capital gaúcha: “Estamos na metade do estudo. Até o final do ano (de 2012), já devemos ter

bem definidas as exigências para as empresas que devem assumir o transporte público de Porto Alegre”. No entanto, a partir da recente onda de manifestações populares, a prefeitura porto-

-alegrense trouxe o assunto à tona novamente e declarou estar analisando formas para lançar o edital até final deste ano.

Segundo dados oficiais da EPTC, o transporte público na Capital data de 04 de janeiro de 1873, com a fundação da empre-sa Cia. Carris. Desde então, Porto Alegre nunca teve o transporte coletivo licitado.

Atualmente, além da Carris (empresa municipal de trans-porte), os ônibus na capital são operados por quatorze empresas privadas, que estão divididas em três consórcios: STS, Conorte e Unibus, que atendem, respecti-vamente, as regiões sul, norte e leste da cidade.

Vanderlei Cappellari diz que o sul da capital deverá ser a pri-meira zona do transporte coleti-vo a ser licitada: “A expectativa é começar a lançar os editais

até dezembro deste ano. Serão três editais, para as respectivas bacias – sul, norte e leste – do transporte em Porto Alegre”. Segundo o Diretor-Presidente da EPTC, a prefeitura irá contratar uma empresa de consultoria para analisar as cláusulas do certame. Cappellari ainda esclarece que a relativa demora em iniciar a con-corrência se deve à complexidade do documento.

O Engenheiro Civil Francisco Schreinert explica que nunca houve um claro alinhamento nos deveres a ser cumpridos pelos empresários do transporte, e que agora os poderes concedentes po-dem qualificar o serviço, dando mais deveres para as empresas e criando novos parâmetros para calcular a tarifa e novos índices de qualidade. “O empresário tem que acatar as determinações do órgão público, gestor do serviço. É necessário regrar as ações das empresas”, afirma o engenheiro.

As empresas de transporte público preferiram não se mani-festar ainda sobre o projeto de licitação. Atualmente, três consórcios reúnem 14 empresas privadas que, ao lado da Carris, operam os ônibus de POA. Foto: Rogério Soares

Acesso à educação infantil a partir dos quatro anos torna-se obrigação. Foto: Victória Kubiaki

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GERAL Assistência Social

Moradores de rua se cadastram e entregam seus documentos na entrada do Dias da Cruz. Foto: Vanessa Magnani

Uma antiga chance para um novo começo

Fora da caridade não há salvação.”

frase pintada na fachada do Instituto Dias da Cruz

Há 82 anos, albergue Dias da Cruz atende moradores de rua em Porto Alegre

Vanessa Magnani

Afrase pintada em um dos muros da sede do Instituto Espírita Dias da Cruz, fun-

dado em 1907, deixa evidente o foco do trabalho realizado: “fora da caridade não há salvação”. Segundo Éder Geraldo Cardoso, presidente do Dias da Cruz há três anos, o Instituto “começou com um grupo espírita, com estu-dos do espiritismo, e, com o tem-po, foi se vendo a necessidade de fazer caridade, o que se prega muito”. Assim surgiu, em 1931, o albergue.

Mari Teresinha, moradora de rua de 68 anos, é uma das pes-soas que recebe acolhimento no Instituto. Desde os 60 anos sem um endereço fixo, ela conta que perdeu a casa onde residia, pois o imóvel estava no nome do rapaz com quem dividia espaço e ele fa-leceu. Mari era ambulante e afir-ma que atualmente passa por ne-cessidades: “no verão, tudo bem, o problema é no inverno”.

O albergue, situado na esqui-na da Avenida Azenha com a Ipiranga, abriga até 62 homens e 38 mulheres que recebem, além de um local para repousar, comi-da, roupas e produtos de higiene pessoal. Eles são recepcionados às 18h30min e devem obrigatoria-mente apresentar documento de identificação ou boletim de ocor-rência de perda dos documentos. É feito um cadastro e cada indiví-duo possui o direito de frequen-tar o lugar por 15 dias seguidos. Após esse período, eles devem ficar afastados por mais 15 dias, podendo voltar ao Dias da Cruz depois desse tempo.

Além de contar com assisten-tes sociais e psicólogos, o alber-gue possui advogado, médico e dentista: “aqueles que precisam são encaminhados para o atendi-mento”, comenta Cardoso. Para ele, as regras utilizadas são im-portantes para os frequentado-res: “as nossas regras são muito rígidas no quesito comportamen-tal, até porque, no momento em que eles passam a respeitar re-gras, é o primeiro passo para eles retomarem a uma vida social”. No albergue eles devem arrumar suas próprias camas ao saírem e

tomar banho, que é indispensável. O frio faz aumentar a procu-

ra nos albergues, mas isso não é mais regra no Dias da Cruz: “até uns dois anos atrás, a busca era maior no inverno. Só que neste verão, por exemplo, nós tivemos casa cheia todos os dias”, afirma o presidente.

Além do Albergue, o Instituto conta com oficinas de música e teatro para o público que parti-cipa das evangelizações duran-te a semana. Possui também a

Você pode fazer uma doação mensal através do carnê so-licitado no site ou fazer do-ações via depósito em conta do Banrisul, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Você pode solicitar o carnê ou conferir o número das contas pelo site:

ie-diasdacruz.org.br/site/

coMo doaR creche Casa do Pequenino, que desde 1981 funciona diariamen-te e atende 150 crianças de baixa renda. Elas entram com quatro meses e saem com seis anos in-completos. Para as pessoas que frequentam o albergue, existem oficinas de artesanato e será re-aberto a de informática. Há dis-tribuição de enxovais, roupas e medicamentos. “Esse trabalho não tem preço, não tem palavras. A gente está aqui por amor ao tra-balho”, declara Cardoso.

Ala feminina com camas e berçários que são destinados às crianças pequenas que chegam com as mães. Foto: Vanessa Magnani

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Os abrigos, conhecidos como família extensa,atendem cerca de milmenores em Porto Alegre

Shállon Teobaldo

Todos os dias na capital gaúcha pelo menos mil crianças e adolescentes

vão dormir sem receber um boa noite dos pais. Esse é o núme-ro de menores abandonados que estão sob acolhimento ins-titucional em Porto Alegre, de acordo com a Coordenadora de Proteção Social Especial de Alta Complexidade (PSEAC) da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), Landia Maria Araújo Cunha.

Segundo Landia, existem hoje 40 casas lares e 22 abrigos em Porto Alegre, sendo 12 deles in-teiramente do Governo, os quais atendem as crianças em situações mais críticas. A FASC é dividida em três níveis de proteção, a pro-teção especial básica e média, que faz a prevenção e tenta reinserir as crianças em suas famílias de origem, sem necessitar de abrigo,

e a proteção especial alta.Muitos dos abrigos existen-

tes em Porto Alegre são ONGs (Organizações não Go ver-namentais), como a ASA, Ação Social Aliança, que conta com oito casas lares espalhadas pela ca-pital e atende 68 crianças. “Eles chegam aqui com o biquinho na boca e a roupa do corpo”, desabafa Rosália Fernandes, mãe social em uma das casas lares da ASA. Essas ONGs atuam em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, através do setor de abrigos da FASC.

A coordenadora da Ação Social Aliança, Vera Morales, explica que a maior parte das crianças que es-tão nas casas lares vem parar no abrigo por conta das mães serem usuárias de drogas: “muitas des-sas crianças não têm pai, a mãe-zinha tem problemas com droga-dição, negligenciam os filhos ou não têm condições de cuidá-los”, diz Vera. O responsável pela área administrativa da ASA, João Morales, afirma que lá as crianças

“têm casa boa, comida, estudo de qualidade, fazem atividades ex-tracurriculares, vão à praia, coi-sas que não teriam fora do abrigo”.

A maior luta da FASC é tirar os menores das ruas: “cada ano

aumenta o número de crianças abandonadas em Porto Alegre, os abrigos oferecem a esses me-nores o que chamamos de famí-lia extensa”, afirma a represen-tante do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) com ên-fase na Criança e no Adolescente, Fernanda Oliveira de Moraes.

As crianças podem ficar no abrigo até completarem a maior idade, depois desse período os lares, juntamente com a FASC, tentam reintegrá-los à família de origem. Caso não seja possível, são incentivados a iniciar suas vidas sozinhos. “Eu gosto daqui, mas queria morar na minha casa, com a minha mãe”, conclui um menino de oito anos, abrigado há quatro.

Eles chegam aqui com o biquinho na boca e a roupa do corpo.”Rosália Fernandes, mãe social

Quando a família é a cidade

As mães sociais

Mães sociais são pessoas contratadas para assu-

mir o papel de mãe dentro da casa lar ou abrigo. A con-tratação é feita diretamen-te pelo lar e supervisionada pela equipe da FASC, de acor-do com a Coordenadora da PSEAC, Landia Cunha.

Esse trabalho é regido pela lei 7.644/87, que dispõe a re-gulamentação da atividade de Mãe Social. É definido pela lei que a mãe social pode cui-dar de até dez crianças, deve

se dedicar integralmente à educação e aos cuidados dos menores e tem todos os seus direitos como trabalhadora garantidos.

Rosália Fernandes é mãe social em uma das casas la-res da Ação Social Aliança: “meu sonho sempre foi ensi-nar e cuidar de crianças, não consegui me tornar professo-ra, um dia fiz voluntariado na ASA e me encantei, aí resolver ser mãe social e essa agora é a minha casa.”

Segundo a FASC, há 1300 moradores de rua em POA

Carine Martins Bordin

Uma pesquisa realizada em 2012 pela Fundação de

Assistência Social e Cidadania (FASC), da Prefeitura de Porto Alegre, aponta que atualmente existe cerca de 1.300 moradores de rua na capital. Diariamente passamos por dezenas deles e, na maioria das vezes, nem nos damos conta. Andando pelas ruas, praças e parques, não é difícil vi-sualizar essas pessoas que, por algum motivo, decidiram largar tudo e viver de forma alternativa.

Foi isso o que aconteceu com Paulo (que não quis ser

identificado). Há 10 anos, quan-do se separou da mulher, perdeu o emprego e sua mãe, Paulo re-solveu que iria para a rua morrer.

“Foi surpreendente. Em todos os lugares que eu ia, as pessoas queriam me ajudar. Eu fui para as ruas porque não tinha coragem de me matar e, ao invés de mor-rer, só conheci gente boa”, conta.

“Eu gosto dessa cidade! Nasci e me criei aqui”.

Paulo vive em uma barraca que ganhou de alguns moradores, no bairro Petrópolis. Entre algu-mas caixas de papelão, uma mesa com copos e comida, Paulo conta com a ajuda de quem passa pelo local. “Eu nunca pedi nada para ninguém. Acho que é por isso que as pessoas que passeiam por aqui conversam e me deixam alguma

coisa. Tem sempre alguém me ajudando”, diz o morador. E ain-da ressalta que no inverno rece-be tantos agasalhos que distribui para outros moradores.

Hoje o homem de aproximada-mente 58 anos (não soube preci-sar a idade), com uma longa barba branca e os dentes desalinhados, perdeu a vontade de morrer. Ele chegou a frequentar albergues, mas por pouco tempo: “Quem não conhece esses lugares, acha que é seguro, o que não é verdade. Tem gente perigosa e o medo não nos deixa dormir tranquilos”.

Mas se por um lado Paulo não gosta de albergues, por outro se sente muito bem acolhido pela FASC. Participante dos projetos e programas que a Fundação re-aliza, ele comemora: “Na FASC

nós conseguimos tudo. Já retirei identidade e todas as documen-tações que havia perdido”.

De fato, a Fundação de Assistência Social e Cidadania tra-balha na busca de dignidade para as pessoas em situação de rua. A assessora de comunicação da FASC, Cynthia Flach, afirma que

“Porto Alegre é uma das capitais brasileiras com a história mais consistente no estudo da situação dos moradores de rua.” Em 2011, em parceria com a UFRGS, foi re-alizado um cadastro censitário da população de rua. A pesquisa deu origem ao Plano Municipal de Enfrentamento à Situação de rua, atualmente ativo na capital.

O plano é desenvolvido por fa-cilitadores sociais que convidam os moradores de rua a conhecer

os projetos que a Fundação de-senvolve, como o Circo da Cultura, que conta com uma unidade mó-vel que permite aos moradores de rua participar de oficinas de dança, circo e música, segundo Cynthia.

Além disso, existem os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e os Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro POP). Espalhados por diversas regiões da cidade, eles são responsáveis pela oferta de orientação e apoio especializado e oferecem di-versas atividades aos usuários, funcionando como um pequeno albergue, onde o morador pode tomar banho, se alimentar e so-cializar com outras pessoas.

Assistência Social GERAL

Quando a cidade é o lar

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14  •  UNIPAUTAS • 2013/1

GERAL Animais

ONG Bicho de Rua chega a intermediar mais de mil doações em um mês

Bruno Klein

Não é raro vermos animais morando nas ruas de Porto Alegre, principal-

mente cachorros. Alguns tiveram tutores humanos racionais, mas foram - como lixo - descartados. Outros já nasceram sem um lar, filhotes de outros veteranos sem-

-teto da capital gaúcha. Na con-trapartida dessa sitação, atua nacidde a ONG Bicho de Rua.

A organização foi criada em maio de 2004 por um grupo de amigos, que já executava ações voluntárias em bnefício de ani-mais, e então decidiu juntar for-ças a fim de potencializar essa ideia. Os objetivos do projeto são adoção sem preconceito de raça, idade ou eventual deficiência, esterilização como forma de con-trole de natalidade, estímulo à guarda responsável e programas assistenciais e educacionais para a promoção do bem-estar dos bi-chos. A organização também de-seja sensibilizar as pessoas em relação à importância desse tra-balho, seu compartilhamento e contágio das ações.

O projeto tem uma demanda expressiva. Conforme Márcia Simch, 50 anos, diretora de ma-rketing da Bicho de Rua, só em abril foram mais de mil doações. Os cadastros mensais superam três mil, e as visitas ao site orbi-tam em torno de cinquenta mil no mesmo período, além de milhares

de seguidores, “curtidas” e com-partilhamentos nas redes sociais.

Mesmo com o grande número de animais cadastrados e acolhidos, o projeto não conta com um local físico por falta de recursos finan-ceros e humanos: “Somos, entre membros de diretoria e conselho e voluntários, apenas 25 pessoas plenamente ativas no trabalho e na logística. Fazemos brechó e te-mos a nossa loja virtual. Padrinhos também ajudam financeiramente”, conta Márcia sobre a realidade e o modus operandi da ONG.

Hoje, apenas treze animais estão sob a guarda da Bicho de Rua - hospedados em locais pró-prios para isso. Outros ficam com padrinhos e pessoas que coloca-ram anúncios no site almejando adoção. “Com mais voluntários, ajudaríamos mais animais. Há uma sobrecarga de tarefas sobre

o grupo atual”, revela.Além de intermediar a ado-

ção, a ONG também dispõe de atenção para com o animal após o ato. “A pós-adoção tem um acompanhamento maior quando o acolhimento ainda é recente. E continuamos tendo notícias deles posteriormente. Nosso objetivo não é nos livrarmos dos bichos, e sim dar o lar e as pessoas que eles precisam para viver.”

De atletas a puxadores de carroça, cavalos recebem tratamento diferenciado

Renata Scheidt

Porto Alegre possui cerca de cinco mil cavalos. Uns são vistos nas ruas carregan-

do lixo, papel, materiais pesados junto com seus donos. Já outros são dignos de um tratamento de esportista.

Os cavalos que saltam, por exemplo, vivem em uma das sete hípicas que existem em Porto Alegre. São alimentados de acor-do com seu nível de trabalho, se-gundo a professora de equitação Gilséia Quadros: “É uma alimen-tação energética. Fora isso, eles têm seus suplementos alimen-tares, que são alfafa, aveia e al-gumas medicações caso tenham um número excessivo de trabalho, salto ou competição”, conta. Ao realizarem viagens para alguma competição, os cavalos recebem medicações uma semana antes para que rendam o que precisam render e aliviar o estresse causa-do. “Quando damos férias aos nos-sos cavalos, só não são montados, pois são atletas e não podem fi-car confinados dentro de uma co-cheira, senão ficam estressados, assim como nós”, afirma Gilséia.

Já cavalos de corrida têm um treinamento completamente di-ferente, o que gera uma mudança enorme de temperamento. “Aqui só ensinam a correr, quanto mais correr, melhor. Os cavalos de cor-rida são inquietos, pois são trei-nados pra isso”, explica o tratador e treinador de cavalos do Jockey Clube de Porto Alegre, Odinei

Serrão. Por esse motivo, ao sofre-rem alguma lesão, dependendo da gravidade estes animais chegam até a ser sacrificados.

Os cavalos que puxam carro-ças, diferentemente do que mui-tos pensam, também recebem cuidados de seus donos. Vilson dos Santos, que trabalha com sua carroça levando pasto aos cavalos do Jockey Clube de Porto Alegre, diz tratar bem seu cavalo:

“Eu mantenho o melhor possível pra ele, porque ele me ajuda, é ele que me sustenta”.

O mesmo acontece com a égua de José Alberto Capella, que há 25 anos exerce a função de carrocei-ro: “Ela tem sua própria cocheira, serragem bem alta, pasto e ração sem nenhum cheiro. Também compro os remédios adequados, caso tenha alguma anemia ou problemas com vermes”. Capella também demonstra preocupação com o dia de descanso do animal:

“A minha égua trabalha de segun-da a sábado. Domingo é dia dela descansar. Se existe algo que me deixa bravo, é me pedirem ela emprestada. Não empresto e não gosto que maltratem”, comenta.

Muito desses cuidados se de-vem às instituições que zelam pelos animais. Uma dessas ins-tituições é a ONG Chicote Nunca Mais, que atua na capital desde 2008 com o objetivo de acolher animais maltratados e recuperá-

-los clínica, nutricional e afetiva-mente: “Nossos cavalos recebem atendimento veterinário de roti-na três vezes na semana, além da recuperação clínica e nutricional, todos têm casqueamento regular e os machos são castrados na che-gada ou assim que clinicamente possível”, diz Fair Soares, presi-dente da entidade.

Os cavalos da capital gaúcha

Os endereços para visitas e doações ao projeto e ado-ções, apenas virtuais, são o site www.bichoderua.org.br, Projeto Bicho de Rua no Facebook, @bichoderua no Twitter e o e-mail [email protected].

coMo PaRticiPaR

Seres vivos em prol de seres vivos

ONG trabalha pela adoção sem preconceito de raça. Foto: Priscila Valério

Os cuidados básicos que devem ser tomados emhotéis e hospedaria para cães e gatos

Camila Arosi

Para muitos, férias é sinôni-mo de descanso, mas quando

se tem um animalzinho de esti-mação é preciso tomar alguns cuidados especiais, e um deles é onde deixá-lo antes de sair de casa. Com esse objetivo, surgiram

Hotel bom pra cachorroos hotéis para cães e gatos. Em Porto Alegre, há cerca de 36 ho-téis e 40 hospedarias. Mas como funcionam esses locais?

Vanessa Smaniotto, proprie-tária da hospedaria Cantinho do Cão, diz que “durante o dia todos vão para o pátio e aproveitam para brincar ou então para tirar uma soneca à sombra”. O local, se-gundo a proprietária, conta com canis individuais e adequados ao porte de cada animal, veteriná-rios 24h, esteticistas para banho e tosa se necessário e uma lojinha

com medicamentos, rações e brin-quedos para serem vendidos.

Antônio Carlos Lopes, dono de uma hospedaria e clínica veteri-nária, conta que seu hotel para cães e gatos possui “um amplo espaço com brinquedos, camas confortáveis, solarium e acompa-nhamento de ótima índole para entretê-los, além da ótima higie-nização que é feita regularmente duas vezes por dia por nossa equi-pe de limpeza”. Segundo ele, o ani-malzinho terá, ainda, companhia permanente e acompanhamento

veterinário integral.A veterinária Patrícia Pinheiro

ressalta a importância de que os donos fiquem atentos ao local onde seu animal ficará hospeda-do, e um dos principais requisitos para seu bem estar é ficar em um local onde tenha segurança, boa higiene e bons tratos.

Os valores para quem deseja deixar seu pet em um local como este varia de 20 reais a 35 reais a diária para animais de pequeno porte e pode chegar até a 75 reais para animais de porte maior. Foto: Brayan Martins

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Turismo GERAL

Linha Turismo completa dez anos e impulsiona turismoProjeto Linha Turismotransporta mais de 77 mil passageiros em 2012 e já é referência no país

Daniela Fragomeni

A Linha Turismo de Porto Alegre, criada em 2003, é a primeira inciativa no país a

oferecer um city tour em ônibus de dois andares, com o superior aber-to. E o público aumenta a cada ano.

Em 2012, a Linha Turismo trans-portou 77.039 passageiros, 56% a mais que em 2011, de acordo com o Boletim Estatístico Municipal de Turismo de Porto Alegre. O grande crescimento se deu pela aquisição de mais dois veículos no ano pas-sado, ampliando a frota para três veículos.

De acordo com Luiz Fernando Moraes, Secretário de Turismo de

Porto Alegre, a Linha é considerada referência no país: “Recentemente fomos procurados por uma empre-sa privada de Niterói-RJ e também pela Prefeitura de Canoas para ob-ter informações sobre o serviço”, afirma.

Hoje Salvador, Brasília, Florianópolis, Manaus e Curitiba oferecem city tours regulares. Curitiba, que tem o serviço há mais de 15 anos, também adotou o ônibus de dois andares, substi-tuindo as “jardineiras”, ônibus com grandes janelas. Entretanto, são poucas as cidades em que a pró-pria prefeitura oferece este tipo

de serviço. No Brasil, apenas Porto Alegre e Curitiba o fazem.

Para o Ministério do Turismo, o que importa é que o serviço seja prestado com qualidade e preços acessíveis. Rodrigo Vasconcellos, assessor do Ministério, afirma que “iniciativas como essa são fundamentais para fortalecermos o turismo receptivo nas cidades brasileiras. A solução apresenta ao turista, em um breve período, os principais atrativos, economi-zando tempo nos deslocamentos. Posteriormente, o turista pode retornar àqueles atrativos de seu maior interesse”.

Em Porto Alegre, anualmente são recebidos turistas nacionais e internacionais, muitos apenas de passagem. Itana Gama, 48 anos, funcionária pública de Brasília, es-teve em Porto Alegre com o marido por apenas um dia para, a seguir, visitarem Gramado. Eles foram in-formados sobre o ônibus de turis-mo no hotel assim que chegaram à cidade, e ficaram encantados: “fica muito fácil visitar a cidade dessa forma, se soubesse teria ficado

mais um dia”, diz. A linha teve início em 2003, ins-

pirada em serviços semelhantes oferecidos em importantes cida-des turísticas, como Nova York e Barcelona. Dez anos depois, reali-za dois roteiros, o Centro Histórico e o Zona Sul.

O roteiro Centro Histórico fun-ciona de terça a domingo. A par-tir do terminal, na Travessa do Carmo, com paradas no Parque da Redenção, Parque Moinhos de Vento, Mercado Público e Fundação Iberê Camargo. Os in-gressos de terças a sextas-feiras custam 18 reais. Sábados, domin-gos e feriados, 20 reais.

Já o roteiro Zona Sul é realizado de quarta a domingo, às 15h. Aos sábados, domingos e feriados, ás 10h30 e às 15h. Não há paradas e os principais atrativos são Caminho dos Antiquários, Orla do Guaíba, Parque da Harmonia, Estádio Gigante da Beira-Rio, Fundação Iberê Camargo, Hipódromo do Cristal, Praia de Ipanema, Estádio Olímpico Monumental e Museu de Porto Alegre.

Fomos procurados por empresas e prefeituras para obter informações sobre o serviço.”Luiz Fernando Moraes, Secretário de Turismo de Porto Alegre

Cartões postaisde Porto Alegre

Brayan Martins

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CULTURA Gastronomia

Bares como Natalício e Dona Neusa movimentam a tradicional noite porto-alegrense

Anderson Borges

Quem conhece o Rio de Janeiro com certeza já aproveitou um bom cho-

pe gelado acompanhado de um samba e comidinhas tipicamen-te brasileiras, conhecidas como

“comida de boteco”, mas servidas num ambiente estilizado ao gosto da classe média.

Em Porto Alegre, esses “bote-cos” começaram a surgir em 2006 por iniciativa do empresário Eduardo Natalício, que montou seu primeiro bar decorado com o jeito carioca da Lapa. O suces-so é tão grande que Natalício já montou mais duas filiais, uma no bairro Moinhos e o outra na Zona Sul da capital: “O gaúcho gosta desse tipo de bar porque ele acaba relaxando e esquecendo um pouco o seu dia a dia”, conta Marcos Pinheiro, gerente geral do Boteco Natalício.

Marcelino Leite e Valdomiro de Olinda, os pernambucanos proprietários do Boteco Dona Neusa, outra casa do gênero em Porto Alegre, definem o lugar como um lugar de gente feliz:

“Aqui no Dona Neusa servimos aquele chopp gelado e cremoso, reunindo pessoas de várias clas-ses sociais, várias idades, unifi-cando todas numa instituição bem nacional, o Boteco mesmo”, conta Marcelino.

Para quem frequenta os bote-cos, a decoração do local no estilo carioca e o chopp fazem lembrar um pouco a cidade maravilhosa.

Para o advogado Henrique Noronha, que frequenta os bote-cos pelo menos uma vez por sema-na, “o estilo de boteco, com o sam-ba e o chopp, faz a gente esquecer que estamos no frio gaúcho e por isso relaxamos um pouco”. Já a estudante de Nutrição Graziela Schimit gosta de frequentar um desses “botecos” antes de ir a uma balada: “O bom é que você já vai curtindo um sambinha, se animando para entrar na balada já preparada para curtir com os amigos”, relata.

História do restaurante Gambrinus, inaugurado em 1889, se confunde com a história da própria capital

Bárbara Barros

Entrar no Gambrinus é como desligar-se por um momento

da atualidade e voltar ligeiramen-te no tempo. No restaurante mais antigo da cidade de Porto Alegre, com 124 anos, a tradição está nos detalhes, como em uma pintura do Gambrinus, deus da cerveja, que nomeia o restaurante, e uma cadeira vazia. Não no chão, mas no alto de uma das paredes, uma cadeira suspensa. A cadeira era do Restaurante Treviso, onde o cantor Francisco Alves costuma-va almoçar: “Com o fechamento do restaurante a cadeira foi do-ada, pois imaginaram que ela se perpetuaria aqui”, conta João Alberto Melo, um dos proprietá-rios do restaurante.

Segundo Melo, o objetivo do

Gambrinus sempre foi manter a tradição e a qualidade: “hoje tudo está muito automatizado, então tentamos manter um pouco mais as raízes”.

O Gambrinus, de acordo com o proprietário, tem clientes de lon-ga data, recebe muitos executivos, turistas, personalidades. Uma delas, o DJ, radialista e cineasta Claudinho Pereira, é todo elogios:

“Há uns 40 anos eu venho aqui. Me sinto em casa”.

Há também quem frequente o restaurante pela primeira vez, como Maria Helena Cecera e Glória Rodrigues: “Nós conhece-mos o Gambrinus passeando pelo mercado, não imaginávamos um lugar como esses. É a primeira vez que comemos aqui”, contam.

A culinária é portuguesa, com diferentes pratos de peixes e fru-tos do mar, mas também mescla pratos regionais, como carnes e feijoada. O cardápio é a la carte com pratos fixos, havendo di-ferentes opções nos dias da se-mana. “A tainha recheada com

camarão e siri é muito famosa, o filé de linguado grelhado tam-bém”, relata Melo.

Entretanto, o sabor nem sem-pre foi português. Quando nas-ceu, por volta do ano de 1889, já no Mercado Público, o Gambrinus era uma confraria de imigrantes alemães. Eles ganharam o espa-ço da Prefeitura para ter um local de encontro, confraternização e, como bons germânicos, para be-ber cerveja, por isso o nome faz referência ao Deus da cerveja. O local ficou com os alemães até os anos 30 e depois foi adquirido por dois irmãos italianos. Em 1964, novamente dois irmãos, dessa vez portugueses, João e Antônio Melo, então proprietários de um pequeno café no Mercado, adqui-riram o local e aos poucos inseri-ram pratos. Foi a partir de então que o que era um bar tornou-se um restaurante. E Gambrinus, que era conhecido por ser a di-vindade da cerveja, em Porto Alegre tornou-se também Deus da culinária.

O centenário deus da cerveja e da culinária

Porto Alegre entra no circuito dos botecos “cariocas”

Botecos estilizados pouco lembram os tradicionais botecos que há décadas movimentam as ruas da capital. Foto: Brayan Martins

Arte de Marcelo Spalding

sobre foto de Rogério Soares

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2013/1 • UNIPAUTAS  •  17

Gastronomia CULTURA

Sakura, Al Nur e Outback simbolizam a diversidade gastronômica e cultural de Porto Alegre, com opções para todo o tipo de paladar

Alessandra Pinheiro

Porto Alegre, uma cidade com diversas culturas, tribos, sabores e idiomas,

não poderia deixar de oferecer um vasto leque gastronômico de diferentes cantos do mundo, da tradicional culinária japonesa ao exótico tempero tailandês.

Segundo o especialista Adelino Bilhalva, administrador da página Guia de Sobrevivência Gastronômica de Porto Alegre,

“vivemos numa época cada vez mais global. As pessoas viajam para o exterior e voltam com ideias de negócios e franquias maravilhosas. Cada dia notamos mais coisas novas e a tendência é aumentar. Isso é ótimo porque

Os sabores do mundo na Capitalamplia a concorrência e a quali-dade das refeições”, afirma.

No alto da Avenida Cristóvão Colombo, por exemplo, encon-tramos uma amostra de tradição oriental. Passado de pai para fi-lho, o restaurante Sakura segue à risca os ensinamentos da cultura japonesa: “O nosso cardápio não muda, o cliente que frequentava o restaurante há trinta e dois anos vai chegar no Sakura e encontrar a mesma culinária. Seguimos a tradição”, afirma com orgulho a proprietária Naomi Fujimoto, filha dos fundadores. O restau-rante teve inicio na década de 80, no centro da cidade, com um quiosque pequeno coordenado por Hideo e Hario Fujimoto. Na época o local já chamava aten-ção pelos temperos exóticos que eram utilizados em suas receitas. Hoje o amplo restaurante segue um design totalmente oriental e encanta até os pequenos mem-bros das famílias: “As crianças gostam daqui, pedem aos pais para trazê-las. É maravilhoso

ver uma geração tão nova já se alimentando de forma saudável. Sinto-me bem”, diz Naomi.

Próximo dali, em uma esquina do tradicional bairro Rio Branco, uma cafeomancista lê o futuro dos clientes na borra do café, en-sinando a seu público uma tradi-ção milenar. É apenas mais uma noite de domingo no restaurante Al Nur, onde tradição e enigmas se encontram em um só lugar. “O público do Al Nur é feito de clien-tes antigos, um grupo mais tra-dicional que conhece bem o res-taurante”, afirma Carine Matos, gerente do local. Fundado em 1989 por Therese Ghanem, o Al Nur criou raízes gaúchas nesses quase 25 anos de funcionamento. Atualmente quem comanda o es-paço é o filho de Therese, Cid Said.

Fugindo um pouco dos tem-peros exóticos, o Outback, no Shopping Iguatemi, abre as portas para mostrar a tradição do interior da Austrália. Com um ambiente que procura fazer o cliente se sen-tir em casa, a rede de restaurantes

é indicada para todas as famílias. Para a estudante Julia Guerreiro, frequentadora assídua do local,

“é como ter um pouquinho do cli-ma da Austrália a poucos metros da sua casa”. Diferentemente dos outros dois, que são administra-dos pela família, o Outback é uma rede multinacional com mais de

800 restaurantes espalhados por 22 países.

Claro que encontrar essas em-baixadas gastronômicas em meio a tantos bares e restaurantes de nossa capital requer indicações e algum espírito de aventura. O resultado, porém, poderá ser sa-boroso.

Austrália: Outback, tradicional rede de restaurantes com estilo austra-liano, tem uma filial no Shopping Iguatemi.Francês: O Chez Philippe, na Av. Independência, 1005, é ideal para quem procura um ambiente tranquilo.Indiano: Se você não come nenhum tipo de carne, o restaurante Mantra é uma boa pedida. Fica na Rua Santo Antônio, 372.Italiano: Diferente e inovador, o Al Dente mostra aos seus clientes, atra-vés de uma vitrine, como as pastas estão sendo preparadas. O endereço é R. Mata Bacelar, 210. Japão: Sakura, na Av. Túlio de Rose, 80, segue a tradição em restaurante passado de pai para filho.Líbano: Al Nur, localizado na Av. Protásio Alves, 616, é um dos repre-sentantes da culinária árabe.Português: Para um bom jantar que lembre o sudeste da Europa, há a Casa de Portugal na Av. Bento Gonçalves, 8333.

Volta ao Mundo GastRonÔMico eM Poa

Jóia completa 35 anos no coração da Cidade Baixa

Leonardo Pujol

Na esquina da charmosa Rua da República com a José do

Patrocínio, se encontra um dos lu-gares mais tradicionais de Porto Alegre, a Sorveteria Jóia.

O começo da Jóia remonta ao ano de 1978, quando o em-preendedor Osmar Corrêa resol-veu investir em uma sorveteria. Associou-se ao amigo João Selau. Nos anos 80, o movimento era mediano, inclusive com diversas falências de sorveterias da região.

Na década seguinte as coisas não andavam bem no estabeleci-mento dos dois amigos. Prestes a falir, em 1999 João comprou os outros 70 % da sociedade e resol-veu aplicar o que tinha na Jóia. Tudo aconteceu em menos de um ano. De lá até 2003, a sorveteria abria às 10h e só fechava às 4h da manhã do outro dia.

Todo esse empenho fez com que Fernando Selau, filho de João, hoje com 34 anos, se dedi-casse com afinco ao lado do pai para ajudá-lo. Em 2004, a sorve-teria começou a se restabelecer e o horário foi mudado para o atu-al, de segunda a sábado das 12h à 0h e aos domingos e feriados das 12h às 23h. “O trabalho árduo, somado à vontade de crescer, fez da sorveteria o que é hoje”, afirma Fernando. O segredo para o suces-so, segundo ele, é a “generosida-de” na hora de servir o cliente, dando uma boa quantidade de sorvete a cada pedido.

Para o artista visual Jonathan Peres, 29 anos, “o preço e a locali-zação ajudam a quem vive perto da área central de Porto Alegre”. Segundo ele, “não é o melhor sorvete, mas ainda assim é um lugar de encontro bom e barato”, resume.

Já a empresária Jennyfer Pereira, 25 anos, diz que vai à Jóia porque lá encontra o que não con-seguiu em nenhum outro lugar: “a

sorveteria tem o melhor sorvete de pistache que eu já comi”, afir-ma. Mesmo com essa certeza, ela acredita que o lugar poderia ser um pouco maior.

Para Fernando, entretanto, o tamanho é adequado: “Se aglome-rasse muita gente na sorveteria, eu correria o risco que muitos co-legas comerciantes sofrem aqui perto, ou seja, o risco de confu-sões. Sei que muita gente vê um desconforto nisso, e eu entendo,

A tradicional sorveteria de Porto Alegremas é a nossa política”, conta.

Outra característica da casa é não trabalhar com buffet, como ex-plica o gerente: “O perfil da Cidade Baixa não nos permite fazer um grande investimento. A galera quer comer muito e gastar pouco. Além do mais, se eu fizesse buffet de sorvete, faliria em um ano”.

A ambientação da sorveteria é retrô, com uma máquina antiga de fazer sorvete no meio do es-tabelecimento. “O charme antigo

tornou-se clássico e isso é um dos fatores da sorveteria ser o que é”, diz Fernando.

O certo é que de todas as sorveterias que funcionaram nestes últimos anos na Cidade Baixa, a única que sobreviveu foi a Jóia, o que vale a visita.

Só uma dica: coma rápido o sorvete, pois se não o fizer, ele vai virar uma meleca na sua mão. Ainda bem que tem pia lá para se lavar depois.

Equipe da Jóia, a sorveteria mais antiga da Cidade Baixa. Foto: Daniel Saucedo

Se eu fizesse buffet de sorvete, faliria em um ano.”Fernando Selau, proprietário da Sorveteria Jóia

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Fundada em 1987 por um grupo de cineastas gaúchos que já trabalhavam em con-junto desde o início dos anos 80, a Casa de Cinema de Porto Alegre é responsável por inú-meros filmes e séries feitos em território gaúcho, como Sal de Prata, Houve uma vez dois verões, O Homem que copia-va, Tolerância. Esses projetos são comercializados para todo o Brasil e, muitas vezes, con-quistam também o mercado internacional.

As produções da Casa de Cinema de Porto Alegre já ar-recadaram mais de 250 prê-mios em festivais nacionais e internacionais, transforman-do-a em referência do cinema brasileiro contemporâneo. Em setembro de 2011, houve uma alteração na composição da Casa. Os quatro sócios atuais são Ana Luiza Azevedo, Giba Assis Brasil, Jorge Furtado e Nora Goulart.

a casa de cineMa A capital do Rio Grande do Sul já serviu de cenário para diversos filmes, séries, novelas e propagandas que rodaram o Brasil e o mundo

Carlos Redel

Uma grande metrópole, com um trânsito intenso, cente-

nas de milhares de pessoas cir-culando e se esbarrando pelas ruas, sem nem sequer olhar para o lado, barulhos e vozes dos mais variados tipos e volumes, correria e pressa: essas são algumas das situações cotidianas de Porto Alegre. Tais cenas são comuns para quase todos os gaúchos que frequentam a capital, principal-mente os que andam pelo Centro, mas a cidade também possui ou-tros espaços que servem de cená-rio até mesmo para filmes.

Produções de alcance nacional, sendo que algumas fizeram suces-so também no exterior, foram am-bientadas em Porto Alegre. Quem não se lembra de Lázaro Ramos,

passamos todos os dias e procu-rar um lugar para filmar, um edi-fício que combine com a história que estamos querendo contar”. Para ela, conhecer a cidade onde vai filmar ajuda a escolher uma rua para o personagem atraves-sar enquanto pensa em alguém ou ainda a vista de uma janela que, combinada com a trilha so-nora, vai levar o espectador para onde o diretor deseja.

Em relação ao mercado au-diovisual, Janaina acredita que filmar em Porto Alegre melhora

as condições de trabalho dos téc-nicos deste mercado na cidade, além de contribuir para o cresci-mento econômico para que cada vez mais se profissionalize o se-tor audiovisual.

Dificuldades

Para o crítico de cinema da Rádio Guaíba, Paulo Casa Nova, a qualidade dos filmes feitos em Porto Alegre tem aumentado, mais tecnicamente do que artis-ticamente: “Fazer filmes em Porto Alegre sempre será bom, seja por motivos econômicos ou culturais. Até pela nossa auto-estima e pela atração turística”. Entretanto, em sua opinião um dos empecilhos para que o cinema porto-alegren-se avance ainda mais é a dificul-dade de retenção de pessoal: “à medida que melhoram, os pro-fissionais vão para o eixo RJ-SP”.

Nesse aspecto, Janaina lembra da dificuldade das produções con-tarem com atores renomados, já que muitas vezes a agenda deles é mais complicada para fazer a filmagem fora desse eixo.

Luz, Câmera... Porto Alegre está no cinema!

Leandra Leal, Pedro Cardoso e Luana Piovani andando pelas ruas da capital gaúcha nas cenas de O Homem que Copiava? O fil-me teve mais de 600 mil especta-dores no país e recebeu diversos prêmios, sendo um dos maiores sucessos do cinema nacional dos anos 2000.

Segundo Janaina Fischer, as-sistente de direção da Casa de Cinema de Porto Alegre, respon-sável por longas como O Homem que Copiava, “é muito legal po-der olhar para a cidade em que

Cena à beira do Guaíba em O Homem que Copiava, 2003. Foto: Casa de Cinema de POA

A websérie que aborda o comportamento dos porto-alegrenses já possui três milhões de views

Sara Munhoz

“Paro o arreganho, Bah, avacalhou, hein. É muita mão. Agora caiu

a ficha”. Se você é porto-alegrense ou vive na capital, certamente já conhece essas expressões, e o que já era natural para os gaúchos de Porto Alegre acabou virando uma sátira com a série “Coisas que Porto Alegre fala”, lançada no ano passado, a pedido do Grupo Bandeirantes, em comemoração ao aniversário de 240 anos da cidade.

Desde então, os seriados “vi-rais” da internet são um sucesso. Só o primeiro vídeo, lançado em março do ano passado, em apenas cinco dias teve mais de 250 mil visualizações. Hoje, todos eles já somam mais de 3 milhões.

Os vídeos, do diretor Marco Carvalho, tiveram como referên-cia uma famosa conta do Twitter chamada “Shit my dad Says”, de Justin Halpern. Ele usava este perfil para registrar todas as

”bobagens” que seu pai falava. Os twittes fizeram tanto sucesso que Halpern assinou um contra-to com a Warner Channel e trans-formou isso tudo em um seriado, que levava o mesmo nome. “Na época eu morava em Los Angeles e presenciei tudo isso, inclusive

Situações do cotidiano em forma de humor

Segundo vídeo da série Coisas que Porto Alegre Fala. Crédito: Reprodução

CULTURA Audiovisual

estava no set no dia em que roda-ram o piloto do programa”, lem-bra Carvalho.

Quando a Band chamou o di-retor para fazer a campanha de aniversário, Carvalho levou a ideia para os roteiristas Maurício Oliveira e Eduardo Boldrini. Estes, a partir da referência, de-cidiram escrever os roteiros de Porto Alegre, visto que os vídeos eram uma febre no mundo inteiro.

Segundo Carvalho, a proposta é fazer humor, fazer com que as pes-soas riam dos próprios problemas. Fazer piada com azulzinho, com a prefeitura ou com fatos, de uma maneira boa e fácil de brincar.

Os assuntos são quase infini-tos. “Temos muitas possibilida-des. Damos prioridade a temas do momento. No caso do último, o trânsito, tinha a ver com o caos que está Porto Alegre”, comenta Boldrini. Já a criação é fácil e di-vertida de fazer. “A gente passa mais tempo rindo do que qual-quer outra coisa. O mais legal é que as ideias vão se completan-do, um fala uma coisa e o outro já completa”, revela o porto-alegren-se, que diz entender o bairrismo e o jeito que o gaúcho pensa.

Para Cristiano Godinho, natu-ral da capital e um dos atores da série, a simplicidade do roteiro

ajuda o trabalho: “Gravar os víde-os é a coisa mais natural do mun-do. É muito comum a gente inserir palavras novas ou criar cenas di-ferentes, conforme tudo vai pro-gredindo”, conta Godinho, que revela ser reconhecido nas ruas.

A série tem previsão para no-vos vídeos, mas os temas ainda são mistério. Os fãs dos vídeos po-dem, agora, assistir ao vivo uma apresentação teatral da série. A peça Coisas que Porto Alegre Fala no Teatro tem como cená-rio o apartamento onde vivem as meninas, além de participações especiais e muita interação com o público.

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Figurinista fala sobre otrabalho para que umaescola chegue na avenida

Francine Silveira

Quando se fala em carnaval, as pessoas logo o asso-ciam ao verão e às festas.

Não têm ideia, porém, que esse trabalho vai muito além dos pri-meiros meses do ano, quando ocorre o evento.

Logo após o término dos fes-tejos carnavalescos, ainda na noite do desfile das campeãs, os olhares já não são mais para o Complexo Cultural do Porto Seco, pois é ali que se inicia mais uma jornada rumo ao ano seguinte. As alegorias, fantasias e adere-ços são repensados e novamente produzidos de acordo com o tema da escola. “Assim que termina o carnaval nós já começamos a montar um novo projeto fazendo pequenas anotações e trabalho de pesquisa”, conta o figurinista Luciano Maia, há 22 anos atuan-do na área e atualmente na SBR Imperadores do Samba.

Para que parte das confecções sejam feitas, uma legião de ho-mens e mulheres trabalha den-tro dos barracões das escolas de samba. Quando chega próximo ao dia do desfile oficial, aumenta a demanda de trabalho, fazendo com que a equipe se reveze até durante a noite.

Esforço que nem sempre esse esforço é reconhecido. Segundo Luciano, há muitos carnavalescos ou diretores de barracão que não dão o merecido valor a suas equi-pes, na maioria das vezes forma-das por pessoas desempregadas e que gostam de carnaval: “Por mais que eu fizesse uma cabeça linda e maravilhosa meu nome nunca apareceria”, diz o figuri-nista, que faz questão que em seu atelier todos sejam chamados pelo nome por qualquer destaque da escola.

Outro local que também res-pira carnaval 24 horas por dia é a quadra da escola. A da SBR Imperadores do Samba, por exemplo, tem projetos e eventos como festas e confraternizações o ano inteiro, além da bateria que começa os ensaios em abril.

Carnaval CULTURA

Nomes do Carnaval que não aparecem para o público

Os bastidores dosurpreendente título da Bambas da Orgia nocarnaval de Porto Alegre

Liliane Pereira

Quando a última escola pas-sa pelo Complexo Cultural do Porto Seco, para o pú-

blico os desfiles se encerraram, mas para as escolas é um novo começo, pois iniciam ali os pre-parativos para o carnaval do ano seguinte. No caso da campeã de 2013, entretanto, não foi isso que aconteceu: a atual diretoria teve menos de seis meses para plane-jar o desfile vencedor.

A escola Bambas da Orgia, fun-dada em 06 de maio de 1940, há 73 anos, passou por uma atípica eleição de presidência em abril de 2011. Eram dois candidatos e a vitória da Chapa 2 foi por ape-nas um voto. A Chapa 1 então re-correu na justiça para rever o re-sultado, e a determinação judicial se deu apenas em junho de 2012, decidindo que deveria haver nova eleição, anulando a anterior. O novo pleito ocorreu em assem-bleia realizada em 28 de julho de 2012, tendo como presidente eleito o candidato Cleomar Rosa, que teve sua vitória impugnada anteriormente. A posse da nova diretoria aconteceu só em agosto, restando apenas seis meses para organizar o trabalho de um ano inteiro.

O passo inicial era definir o tema que a escola contaria na avenida. O presidente do conse-lho deliberativo Nilton Pereira lembra que a primeira tentativa era buscar um enredo que possi-bilitasse patrocínio, já que finan-ceiramente a situação era difícil:

“Como não foi possível, optamos por um enredo que falasse da águia, símbolo da escola”, recorda.

Devido às adversidades, as pre-tensões do presidente Cleomar eram humildes. Segundo ele, voltar entre as seis primeiras e participar do desfile das campe-ãs já seria uma conquista. “Claro que sonhar com o campeonato faz parte, mas nem imaginava que isso poderia ser possível nesse ano”, afirma.

Segundo o temista Sérgio Peixoto, a intenção do tema era mobilizar e unir os componentes, pois todo esse processo eleitoral gerou divergências e afastamen-tos: “A meta de unir os bambis-tas começou a dar certo, visto que inclusive os integrantes da oposição passaram a ajudar nes-se processo, deixando de lado as divergências presidenciais”.

No dia do desfile, a escola foi a última a desfilar no Complexo Cultural do Porto Seco no primei-ro dia. Na ocasião, o último carro alegórico já estava há poucos me-tros de cruzar a linha que marca o final do desfile quando quebrou. Pessoas que estavam apenas as-sistindo saíram de seus lugares para invadir a pista e ajudar a empurrá-lo, e os destaques que adornavam a alegoria desceram

Vitória Altaneiraaos poucos para torná-lo mais leve e facilitar a locomoção. Com o acidente, não havia mais nem a esperança de retornar no desfi-le das campeãs. Contudo, no dia da apuração das notas, conforme cada quesito de avaliação era re-velado a surpresa tomava conta do rosto de quem acompanhava. Assim, com todas as adversida-des, depois de seis anos sem ven-cer, a azul e branco se sagrou cam-peã do grupo especial.

O resultado foi polêmico e cau-sou revolta por parte dos dirigen-tes e torcedores de outras escolas. Entretanto, nenhum dos jurados responsáveis por avaliar o quesi-to evolução (que analisa o anda-mento da escola no todo) julgou necessário descontar pontos, já que o acidente não interferiu de maneira drástica no desfile, uma vez que atrás do carro em ques-tão não havia mais componentes e não ocasionou espaços vazios na pista.

Para o presidente da escola, foi a união dos bambistas que permi-tiu a vitória: “O campeonato era inesperado, mas a emoção de ver a azul e branco campeã é indes-critível”.

Bambas da Orgia é uma das escolas mais tradicionais de POA. Foto: Leandro Osório

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20  •  UNIPAUTAS • 2013/1

Os olhares do jornalismoindependente da Capital

Letícia Bonato

Independente ou alternativo, a definição é o que menos im-

porta. Os movimentos culturais porto-alegrenses, o viés crítico da política atual e outras abor-dagens pouco exploradas pela grande mídia são algumas das características de jornais como Jornalismo B, Tabaré, Opa! e da revista Bastião.

Os periódicos são distribuídos gratuitamente em centros cultu-rais, faculdades, bares, e, aos pou-cos, têm conquistado mais leitores

e estão aceitando assinaturas. Para o jornalista Jimmy

Azevedo, repórter de rádio há doze anos e que foi um dos coe-ditores do jornal mensal Tabaré, o trabalho desenvolvido em uma produção alternativa traz a pos-sibilidade de o repórter exercer aquilo que gosta com mais cria-tividade: “é trabalhar com os aspectos literários da pauta, as nuances humanas, fazendo com que a reportagem ou o texto se tornem parte do espaço e atem-porais”. Para ele, o jornalismo alternativo é marginal: “chamo-

-o de marginalismo. É como abrir outras perspectivas de reflexão no leitor e em si próprio”.

O Jornalismo B, oriundo de

um trabalho acadêmico feito na Fabico (UFRGS) em 2007, é um blog que possui sua edição im-pressa há três anos. Segundo o editor Alexandre Haubrich, a fun-ção que o jornal exerce é a de des-construção do discurso da mídia dominante a favor da democrati-zação da informação: “enquanto o jornalismo dominante depende do capital, das grandes corpora-ções, da desregulação do setor e das verbas estatais, o jornalismo contra-hegemônico depende do leitor, a quem serve”.

Conhecido como um dos pre-cursores do jornalismo alternati-vo gaúcho, Elmar Bones da Costa afirma que o trabalho de todo jornalista depende de quem o

Jornalismo contracorrente

Mobbly já ultrapassou a marca dos 13 mil downloads e é o aplicativo mais avali-ado positivamente no Sul do país na Google Play

Katiuscia Couto

Aplicativos para smartpho-nes cada vez mais fazem parte do nosso dia a dia, e

não poderia deixar ser diferente por aqui. Um desses aplicativos que conquistou a preferência dos gaúchos é o Moobly, inicialmente chamado de Porto Bus.

O principal objetivo do aplica-tivo é oferecer uma solução sim-ples, fácil e rápida para quando se quer ir de um lugar ao outro, seja de ônibus, táxi, trem ou até mesmo de bicicleta.

A ideia surgiu do analista de sistemas Ederson Schmidt, mo-rador de Cachoeira do Sul que encontrava dificuldade para se locomover toda vez que vinha à capital pela falta de informações dos transportes públicos em Porto Alegre.

A partir da criação do Moobly, Ederson compartilhou com os amigos o app e descobriu outras pessoas com o mesmo proble-ma. Decidiu, então, transformar essa ideia em negócio, investin-do em estudos e palestras sobre empreendedorismo.

Seu segundo passo foi procu-rar uma equipe qualificada para agregar ao seu negócio. Entre a equipe, está o sócio e estudan-te de Publicidade e Propaganda Bruno Meira, 23 anos, que cuida

da parte de estratégias de negó-cios e mar-keting da empresa.

É Bruno quem afirma que o aplicativo é grátis e continuará sendo: “Queremos ser um servi-ço para o usuário e para a cidade. Nosso modelo de negócios envol-ve publicidade criativa, sem po-luir o app”, afirma.

Não faz parte dos planos da Moobly uma nova criação, mas sim tornar-se um guia completo de mobilidade urbana: “Nossa ideia não é sermos uma empresa de desenvolvimento, mas sim o Moobly. Ainda temos muito que crescer e melhorar no app, e o usuário é quem diz o que deve-mos fazer”, relata Bruno.

Segundo o sócio, esta experi-ência está sendo de grande cres-cimento pessoal e profissional: “É muito gratificante ter o retorno dos usuários agradecendo pelo aplicativo ter ajudado no dia a dia, sem contar quando pessoas brilhantes do mercado e também investidores dizem que o negócio tem muito potencial e realmente se interessam pelo projeto, que-rendo saber mais e ter reuniões para aplicação em outras cidades, como já aconteceu diversas vezes. É demais”, conclui.

Hoje o Moobly está entre os 10 aplicativos mais baixados no Google Play, ao lado dos aplicati-vos O Bairrista, Bike Poa, EPTC Radares Móveis, Coisas que Porto Alegre fala, Rodoviária Porto Alegre, Reivindique Porto Alegre, Porto Alegre Mobile, Tarifador de Corrida e Frases e ditos gaúchos. Segundo o site da empresa, em breve serão lançadas versões para iOS e Windows Phone.

Segundo uma pesquisa reali-zada pela consultoria IDC, a ven-da de smartphones cresceu 51% só no primeiro trimestre de 2013. Só que se o uso constante das mí-dias digitais ajudam muito no dia a dia, elas também podem viciar.

De acordo com a coordenadora do curso de Psicologia da UniRitter Herica Dias, o tema sobre o uso ex-cessivo da internet faz parte do V Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, utiliza-do por Psicólogos e Psiquiatras de todo o mundo.

Entretanto, não é só a internet que vicia. Muitos adolescentes estão viciados em smartphones

Aplicativo facilita deslocamento na Capital

e redes sociais, alguns deles pre-cisando até mesmo de tratamen-to psiquiátrico. Estudos da Cisco afirmam que 48% dos brasileiros acessam as redes sociais antes mesmo de levantar para o café da manhã.

Gabriela Gama, 25 anos, se diz uma viciada, mas afirma não precisar de tratamento: “Quando acordo já pego o celular pra ver se alguém me deixou recado, mas é mais uma curiosidade ou ansie-dade”, declara.

Outro ponto em questão é o diagnóstico de ansiedade e de-pressão causado pelo uso exces-sivo do smartphone. De acordo

MÍDIA E TECNOLOGIA

lê. “Minha preocupação sempre foi com o público, nós trabalhá-vamos para o leitor”, diz, comen-tando também sobre sua atua-ção na década de 70 através do Coojornal. Para ele, “o jornalista é detentor da fé pública, essa é uma profissão que depende de que as pessoas aceitem que fale-mos de suas vidas”. Bones alerta ainda para a influência dos gran-des grupos de comunicação na formação de opinião: “estamos em uma fase de transição para a democratização da informação.

com a professora Herica Dias, já é possível encontrar registros destas doenças, mas não é possí-vel afirmar, se a ansiedade ou a depressão iniciou primeiro: “Às vezes a própria pessoa se dá con-ta de que se ela fica muito tempo sem olhar o celular ou sem aces-sar a internet, ela já está ansiosa”, acrescenta.

A pergunta que fica é se nós não estaríamos nos tornando re-féns dessa tecnologia. A própria Gabriela afirma que não ficaria nem um dia sem celular: “Meu celular quebrou e eu quase mor-ri. No outro dia fui comprar um novo”, relata.

Nosso mercado é um paradoxo, cada vez mais encolhe e devemos romper com isso”.

A fidelidade com os leitores, segundo Alexandre Haubrich, é construída através da constân-cia e da qualidade do trabalho.

“Temos a vantagem da maior aproximação com a realidade, e para mantermos essa qualidade precisamos estar sempre dispos-tos a ouvir e a sentir as respostas que recebemos. Abrir mão disso é abrir mão de ser um instrumento de transformação”, conclui.

Site do aplicativo na internet. Foto: Reprodução

Uso excessivo de smartphones pode causar dependência, alerta psicóloga

O jornalismo contra-hegemônico depende do leitor, a quem serve.”Alexandre Haubrich, editor do Jornalismo B

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2013/1 • UNIPAUTAS  •  21

ESPORTE

Pessoas de todas as idades frequentam os parques de Porto Alegre buscando prática de exercícios físicos e diversão

Jader Basili

Porto Alegre é uma cidade repleta de parques, nos quais pode-se encontrar

muitas pessoas praticando es-portes e exercícios físicos. Além disso, e diferentemente de mui-tas das cidades do Brasil, a ca-pital dos gaúchos oferece um grande número de quadras es-portivas abertas e ambientes aptos a caminhadas e passeios de bicicleta, o que também au-menta a preocupação com o risco de lesões, já que muitaspessoas não preparadas para esses esfor-ços físicos.

O coordenador do curso de Fisioterapia da Uniritter, Fabricio Duarte, afirma que um dos fatores mais comuns para

as lesões é o despreparo físico: “Um corpo mal preparado para a prática do esporte tem a ten-dência de se lesionar com mais facilidade”. Segundo o especia-lista, as lesões mais comuns são lesão muscular, que é um trauma indireto em indivíduos que estão mal aquecidos, contusões, que são choques, batidas ou quedas mais bruscas, e entorses, que ocorrem em modalidades de con-tato físico ou por fadiga do corpo.

Quem não está acostumado à pratica de esforços físicos com regularidade está mais propen-so a lesões e possível mal estar, pois seu corpo não está prepa-rado para suportar um grande esforço. O risco aumenta entre pessoas de idade, vistas fre-quentemente fazendo caminha-das no Parque da Redenção ou no Marinha do Brasil, como a aposentada Julia do Carmo, de 68 anos: “Estou quase sempre fora da cidade, mas sempre que possível venho dar uma cami-nhada, ver o pôr do sol. Nunca

tive nenhum problema com saú-de por causa dessas caminhadas, até pelo contrário acho que isso me ajuda até a respirar melhor”, afirma.

Já entre os jovens uma ati-vidade comum é o slackline.

Trata-se de uma corda elástica presa entre duas árvores, o que faz com que haja a possibilidade de manobras aéreas sob a corda. A modalidade, porém, traz mui-tos riscos de lesões a quem não tem o preparo adequado: “Já caí

diversas vezes, é um esporte de pura coordenação. E já tive uma torção no pulso e no tornozelo, foi bem punk. Mas é o que a gen-te gosta, voltei assim que fiquei melhor”, conta Fabiano Russo, 23 anos, praticante do slackline.

Prática de atividades físicas requer preparo e cuidados

Notícias sobre violência nas organizadas reacendediscussão sobre aimportância dessas torcidas para a dupla Grenal

Rodrigo Ramos

S egundo dados do IBGE de 2010, o futebol ainda é a pri-

meira alternativa de lazer para o brasileiro, seguido pelo cinema. O próprio conhecimento do Brasil, já alertava o escritor paraibano José Lins do Rego, passa pelo fu-tebol. E conhecer o futebol é co-nhecer também as torcidas, parte fundamental do esporte mais po-pular do país.

Entretanto, com a construção das arenas e a aproximação da Copa do Mundo, uma série de questões surge no horizonte das torcidas. Para o presidente da Frente Nacional dos Torcedores (FNT), João Hermínio Marques,

“atualmente as torcidas são o pou-co que resta na batalha contra a elitização e a higienização social

nos estádios brasileiros”. Conselheiro do Grêmio e fre-

quentador da Geral desde 2002, Carlinhos Caloghero entende que os ingressos aumentaram e o direito de estar nas arquibanca-das diminuiu. A Geral do Grêmio, surgida em 2001, mudou a cul-tura torcedora no Rio Grande do Sul. Caloghero lembra que a influência castelhana já existia nos anos 90 dentro da Torcida Jovem. No entanto, ainda predo-minava o estilo carioca: “A Geral é a antítese desse modelo”, afir-ma. Em 2004, surge a Popular do Inter, trocando músicas baianas por cânticos adaptados do rock n’ roll, além de elementos de tor-cidas latinas.

Em pouco tempo, tanto Geral quanto Popular superaram as de-mais torcidas. O crescimento de ambas ocorreu pela valorização dos ídolos, apoio incondicional ao clube e o poder de associa-ção, aponta Marques. “As bar-ras trouxeram a classe média e média-alta para o mundo das tor-cidas. Nas uniformizadas a ori-gem estava na periferia”, afirma

o presidente da FNT. Na Arena, a atuação da Geral,

com a tradicional avalanche (quando os torcedores no mo-mento do gol correm em direção à mureta de contenção) ficou comprometida. A saudade desse movimento nos tempos do es-tádio Olímpico, que virou mar-ca da torcida gremista, é gran-de entre parte dos gremistas. O comandante do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar, Tenente Coronel Kléber Rodrigues Goulart, é contra a co-memoração daquela forma. “É um movimento perigoso, escadas e degraus não foram feitos para correr”, ressalta.

Integrante da Popular do Inter, Robinson “Cazuza” avalia que o futebol perde sua essência sem a

festa das torcidas: “a Brigada tem de se preocupar em combater a violência, não a festa”. A reforma do Beira-Rio prevê que o estádio terá 56 mil assentos, sendo que cinco mil dessas cadeiras serão retráteis.

Para alguns, a imprensa tam-bém contribui para o sentimen-to de medo nos chamados ‘tor-cedores comuns’. No livro Para Entender a Violência no Futebol (Editora Benvirá), o sociólogo Maurício Murad destaca que “a mídia sensacionaliza ocorrências secundárias”. Para ele, isso ocor-re também quando a mídia ocul-ta o fato de que a violência é no futebol e não do futebol. Guiado por exemplos do exterior, o so-ciólogo aponta como caminhos para ajudar a pacificar o futebol

e a própria sociedade o trinômio repressão, prevenção e educação.

História

A primeira torcida organi-zada do Brasil foi a Torcida Uniformizada do São Paulo, fundada em 1940. Também no início dos anos 40, Vicente Rao, Rei Momo do Carnaval de Porto Alegre, criou o Departamento de Propaganda e Cooperação, que instituiu charangas e festa com papéis e bandeiras nos jogos do Inter.

Salim Nigri, falecido torcedor símbolo do Grêmio, foi o primeiro a organizar excursões no Estado. E foi daí que surgiu a frase “com o Grêmio, onde o Grêmio estiver”, que mais tarde inspirou Lupicínio Rodrigues na composição do hino gremista.

No Rio Grande do Sul, a primei-ra uniformizada foi a Camisa 12, fundada em 12 de outubro de 1969 e até hoje presente nos estádios. Entre as uniformizadas em ativi-dade no Grêmio, a Torcida Jovem é a mais antiga, de 1977.

O novo jeito de torcer dos gaúchos

Parque da Redenção é um dos mais procurados para prática de corridas e caminhadas. Crédito: Brayan Martins

A violência é no futebol e não do futebol.”Maurício Murad,autor do livro Para Entender a Violência no Futebol

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Fundado em 1913, o Es-porte Clube São José com-pleta um século neste ano

Wagner Miranda

Pouca torcida, mas apaixo-nada. Não é reconhecido mundialmente, no entanto

é considerado o clube mais sim-pático do estado. Este é o São José de Porto Alegre, carinho-samente chamado de Zequinha, que em 2013 completa 100 anos de história.

Presidente do clube, Flávio Pinheiro de Abreu, 57, comenta que estar na presidência do São José no ano do centenário era um desejo que sua família mantinha:

“Meu pai está com 86 anos, acho que estou realizando o sonho dele”. Para o presidente, o clube se mantém em atividade durante tanto tempo pelo amor que o São José recebe dos seus adeptos: “O Zequinha não tem grande torci-da, mas tem 200, 300 mil simpa-tizantes, colorados e gremistas, que gostam do São José e vêm aqui assistir aos jogos. Foi isso que manteve o clube até agora”.

Assessor da diretoria, Manoel Mario Machado da Silva destaca a relação que o clube tem com os seus admiradores: “Nossa torcida

é pequena, a verdade é que se di-vide entre torcedores da dupla grenal, por isso o São José é con-siderado o clube mais simpático de Porto Alegre”.

Torcedor fanático e conselhei-ro, Nilo Sérgio, 53, exalta a impor-tância que o Esporte Clube São José tem em sua vida: “Frequento o clube, sou sócio e estou sempre dando força para o Zequinha”.

Uma das características do clube é o investimento nas cate-gorias de base. “O bom de formar um atleta é que não precisamos gastar e depois de um tempo po-demos até vender, arrecadando verba”, destaca Manoel Machado da Silva. Do Zequinha saíram jo-gadores como Foguinho, que sur-giu em 1920, Ênio Andrade, que começou carreira no clube em 1949 e, mais recentemente, Carlos Miguel, que saiu das categorias de base para atuar pelo Grêmio.

Copa Centenário

Um título, pelo menos, já veio: no começo do ano, o clube disputou e venceu a Copa Centenário contra outros três clubes gaúchos que com-pletam 100 anos de história neste ano (Cruzeiro de POA, Santa Cruz e Juventude). Na final, disputada em seu estádio, o Zequinha venceu os caxienses pelo placar de 1 a 0.

ESPORTE  Futebol

Centenário movido pela paixão

O Zequinha tem 200, 300 mil simpatizantes, colorados e gremistas, que gostam do São José e vêm assistir aos jogos. Foi isso que manteve o clube até agora.”Flávio Pinheiro de Abreu, presidente do São José

Os desafios dos jogadores das categorias de baseultrapassam as quatrolinhas do campo

Anderson Mello

Ao ver atletas como os gaú-chos Ronaldinho, Fernando

e Rafael Sóbis, poucos imaginam as dificuldades para chegar até a camiseta titular da dupla Gre-Nal. Longe dos holofotes, os jovens jo-gadores das categorias de base deixam tudo para trás na busca do seleto estrelato do mundo da bola, mas muitos precisam deixar o sonho no meio do caminho.

O coordenador das categorias de base do Grêmio, Diego Cabrera, que já teve passagem por diver-sos clubes, afirma que trabalhar com sonhos envolve muitos fato-res. Conforme Cabrera, é neces-sário ter habilidades suficientes para desempenhar o bom futebol, comprometimento com entrega total e a facilidade de abdicar de

muitas coisas: “esse é um mer-cado muito competitivo, pois há muitos meninos querendo ser jo-gador de futebol”, destaca

Segundo a psicóloga do trico-lor gaúcho, Fernanda Faggiani, são necessários quatro elemen-tos para formação do atleta: téc-nico, tático, físico e psicológico.

“Nós trabalhamos, paralelamente com as comissões técnicas, para que os quatro elementos andem juntos, assim o atleta sente-se preparado para enfrentar os trei-nos e jogos”, ressalta.

Marcelo Dantas, 19 anos, no momento sem clube, mas com passagem pelo Internacional, diz que sua maior dificuldade ao deixar Goiânia, aos 12 anos, foi abrir mão de sua infância e ter de ficar longe da família: “Nos 15 pri-meiros dias eu chorava quando me deitava. Só que eu via como oportunidade única, eu aguen-tava e sabia que muitos queriam ter a coragem que tive, de abrir mão de tudo e tão novo e sozi-nho”, relata.

Os que seguem no caminho do sonho, como a jovem promessa do Grêmio, Arthur Melo, de 16 anos, relatam a importância do acompanhamento psicológico:

“Por mais que eu escutasse os con-selhos de outras pessoas, ouvir de uma profissional desta área é bem diferente. Ela sabia realmen-te o que eu estava sentindo e me ajudava bastante”, afirma Melo.

A psicóloga do Internacional, Evanea Scopel, enfatiza ainda a importância do apoio dado pelo clube após o desligamento de um atleta: “Dentre as atividades está prevista a entrevista de des-ligamento e o acompanhamento por dois meses após a saída dos atletas dispensados pelo Clube. Atualmente, essa atividade se dá de maneira informal, quando o atleta procura espontaneamen-te o serviço”, informa.

Venâncio Vieira, 17 anos, ago-ra no Red Bull de São Paulo, é um dos jovens que teve de lidar com uma que teve de lidar com uma dispensa: “A despedida lá no

Grêmio foi difícil, fiz vários ami-gos e foi a primeira vez que fui dispensado. Já operei o joelho e fiquei bastante tempo sem jogar, passava muita coisa na minha ca-beça, surgiram dúvidas se ia dar certo ou não”, declara.

Para ele, assumir mais respon-sabilidades que os garotos da sua idade é algo que auxilia em sua

formação como jogador, mas ain-da assim sente o peso de ter que renunciar um pouco de sua ado-lescência: “hoje me considero ma-duro, mas nem sempre fui assim. Perdemos muito da adolescência: festas, formaturas, viagens e etc. Achava ruim ver meus amigos se reunirem, sem eu poder estar jun-to”, revela.

Muito além do futebol

Grenal de juniores no Gauchão Sub-20 da categoria. Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Passo D’Areia, estádio próprio do São José, é um dos orgulhos do clube. Foto: Wagner Miranda

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Área reservada a cadeirantes na Arena. Foto: Magda Perez

Baixada, Olímpico e Arena: a transição segundogremistas históricos

Jéssica Maldonado

Em dezembro do ano passa-do foi inaugurada a novís-sima Arena do Grêmio, o

primeiro dos dois estádios com padrão Fifa que Porto Alegre terá até a Copa de 2014.Essa história, porém, começou há mais de cem anos, quando os estádios eram como o futebol: amadores.

Em 1904, menos de um ano após a fundação do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, os então amadores do futebol consegui-ram um campo para realizar seus

“matchs”, a Baixada dos Moinhos de Vento, que sediou jogos do Grêmio por exatos 50 anos. Como frequentador da Baixada desde seus 10 anos, Hélio Dourado, ex-

-presidente do Grêmio, lembra que viveu jogos memoráveis na antiga casa gremista: “atravessa-va toda a avenida Independência para chegar à Baixada, era um prazer imenso pra mim”.

Entre 1948 e 1954, duran-te a presidência de Saturnino Vanzelotti, o Grêmio viveu gran-des transformações com a cons-trução do Olímpico, que foi inau-gurado em 19 de setembro de 1954. Dona Ema Coelho de Souza, diretora do Memorial do Grêmio, guarda muitas lembranças do Olímpico: “no dia da inaugura-ção da nova casa do Grêmio eu estava, foi ali que meu amor pelo clube surgiu. Nunca tinha ido a um estádio”. Para ela, que não co-nheceu a Baixada, era um gran-de momento para o Grêmio. Com

um namorado, assistiu a vitória do seu clube do coração por 2 a 0 diante do Nacional do Uruguai.

Segundo Hélio Dourado, quan-do surgiu o Olímpico o Grêmio passou a viver uma outra reali-dade: “A Baixada era um estádio que não tinha mais condições de receber a torcida, era um campo pequeno e com uma estrutura an-tiga. O Grêmio precisa crescer e cresceu muito a partir dali”.

O Olímpico Monumental

Com o passar do tempo, entre-tanto, o Olímpico já não era mais suficiente para comportar a torci-da. Foi então que, em 1976, Hélio Dourado assumiu a presidência do Grêmio e decidiu colocar o clube num outro patamar: monu-mental. “Quando assumi a presi-dência do Grêmio, peguei um pro-blema sério, o clube tinha muitas dívidas e estava sem dinheiro. Foi então que mobilizamos a torcida em prol de uma campanha de ci-mento para ampliar o Olímpico”, diz o ex-presidente.

Em 21 de junho de 1980, o es-tádio Olímpico renasceu. Ainda maior, foi a partir da inauguração do Olímpico Monumental que o Grêmio alçou voos maiores, con-quistando títulos regionais, na-cionais e internacionais.

Em 2010, o Olímpico passou a viver um momento de despedida, pois tomava forma a construção da Arena. Dona Ema, entretanto, ainda não assimilou que em al-guns meses o Olímpico não vai existir: “sabemos que vamos per-der um ente querido que jamais gostaríamos de perder. As gran-des vitórias do Olímpico jamais serão esquecidas”, afirma sem segurar as lágrimas.

Do amadorismo à modernidade

Jéssica Rodrigues

A Copa do Mundo se aproxi-ma e alguns estádios para a

competição já estão em fase de acabamento. Os últimos detalhes estão sendo feitos e a Fifa está em cima dos que ainda apresentam atrasos. Pouco tem se falado, po-rém, sobre como os portadores de necessidades especiais vão acom-panhar os jogos nas Arenas.

Também nesse aspecto o país se adequou ao nível de exigência da FIFA e implantou um sistema de normas criado pela entidade. A Arena do Grêmio, mesmo não participando da competição, prio-rizou a acessibilidade.

De acordo com Osório Martins, atuante pela causa da acessi-bilidade e presidente da TAAG

– Torcida Acessível Arena do

Grêmio, a Arena é o estádio mais completo que ele conhece em termos de acessibilidade: “Tem rampa para todos os lados e ele-vadores que facilitam o acesso em todos os níveis. Com certeza não nos sentiremos incapazes de ir a qualquer canto da casa tricolor”, ressalta.

Futebol ESPORTE

Inaugurado em 1954, Estádio Olímpico foi palco das grandes conquistas tricolores. Crédito: Brayan Martins

A Arena tem reserva de 60 lu-gares para pessoas com cadeiras de rodas e respectivos acompa-nhantes, sem obstáculos físicos no topo da arquibancada inferior, além dos acessos por rampas e elevadores. Além disso, conta com lugares para obesos e pes-soas com mobilidade reduzida.

As modificações do estádio e o que isso pode gerar de benefícios para o clube

Anderson Furtado

O Estádio José Pinheiro Borda, também conhecido como

Gigante da Beira-Rio, está em obras para a Copa do Mundo de 2014. O projeto do novo Beira-Rio foi idealizado por três colorados, sócios da empresa Hype Studio Arquitetura, Fernando Balvedi, Gabriel Garcia e Maurício Santos. Vermelhos de coração,

começaram a formular o projeto em novembro de 2006.

O plano foi apresentado para o então presidente Vitorio Píffero em abril no ano seguinte, e logo foi aprovado. Entre novembro de 2007 e abril de 2008, houve uma grande reformulação e atu-alização para chegar ao projeto final, que envolve a construtora Andrade Gutierrez.

Diana Raquel de Oliveira, vice--presidente eleita do clube e uma das responsáveis por responder pela obra e fazer o meio-campo com a construtora, afirma que o projeto foi orçado em R$ 330

O Novo Beira-Rio e a estrutura para a Copamilhões, sendo R$ 235 milhões de financiamento federal. “O Clube entrou com uma parte dos recur-sos (R$ 26 milhões) para amorti-zação dos custos”, diz.

O Gigante Para Sempre se adaptará aos mais recentes pa-drões internacionais do futebol, com um complexo esportivo sustentável. Segundo Diana, “o clube espera arrecadar entre R$ 200 e R$ 400 milhões, valor es-tipulado durante os 20 anos de parceria”. Essas receitas seriam geradas através da arquibanca-da, museu, exploração imobi-liária, centro de eventos, lojas,

visitas, suítes, restaurantes, en-tre outros.

A torcida também está empol-gada com o novo estádio. “A refor-ma do Beira-Rio vai com certeza ser muito boa economicamente

para o clube, mas como torcedor e pelo que vi do projeto, o que mais gostei é do conforto da ar-quibancada para o torcedor”, diz Nathanael de Souza, torcedor co-lorado.

Acessibilidade para todos

O clube espera arrecadar entre R$ 200 e R$ 400 milhões, valor estipulado durante os 20 anos de parceria.”Diana Raquel de Oliveira, vice-presidente do Internacional

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ESPORTE Skate

Guilherme Gottardi

Final de tarde de um Domingo ensolarado, o local escolhi-do para o passeio de muitas

pessoas é o Parque Marinha do Brasil. Por lá, junto a um lindo cenário natural, vemos inúmeros adeptos do skate, entre familia-res e amigos que acompanham os amantes desta prática esportiva na pista ali localizada.

Porto Alegre tem uma grande variedade de pistas de skate. A pista construída em meados dos anos 70 é a maior “Snake Run” (pista de velocidade em curvas) da América, e por isso a Capital é considerada por skatistas como um dos melhores lugares do mun-do para a prática do skate “Surf Style”.

A principal modalidade espa-lhada pelo planeta ainda é o stre-et (skate de rua). Com o maior número de adeptos no mundo, ela consiste no uso de obstácu-los encontrados na cidade, como corrimãos, muretas e escadas, ou nos skateparks (pistas de skate).

O ponto de encontro dos “stree-teiros” na capital é a pista do IAPI, localizada no bairro Higienópolis (Zona Norte). Esta é uma das mais importantes pistas do Brasil, por onde já passaram vários skatistas profissionais conhecidos no ce-nário internacional, como o porto alegrense Luan de Oliveira.

Para os praticantes, o skate é mais do que esporte: “conheci grandes amigos através do skate, ele me traz foco e dedicação”, diz Guilherme Medaglia, de 16 anos.

Skate em alta na capital dos gaúchos Skatista fazendo uma manobra

em parque da capital.Foto de Brayan Martins

Ânderson Henrique Ferreira Aires

Não há duvidas que Porto Alegre é uma das capitais do skate, afinal é a cidade

de um dos maiores ídolos do es-porte, Luan Oliveira, medalha de prata na edição dos X Games rea-lizada no mês de abril, em Foz do Iguaçu.

Talvez por esse motivo nos últi-mos anos a capital presenciou um significativo aumento de adeptos à moda skate, alguns atraídos pela vontade de praticar o esporte, ou-tros pelo simples fato de a moda-lidade estar na moda.

O gerente da loja Matriz Skate Shop, Bruno Dal Pozzolo, 35 anos, acredita que a ação desses simpa-tizantes do skate, que procuram a loja apenas para buscar um ves-tuário que está na moda, é valida.

“Esse consumo ajuda o esporte, as grandes marcas do segmento lan-çam mais produtos para variados gostos e isso injeta dinheiro no skate”, afirma Dal Pozzolo.

Já para alguns skatistas mais antigos esse público é percebido

como “modinha”: “da mesma forma que eles acrescentam ao skate de maneira financeira, eles também o atrapalham, pois não precisamos apenas de dinheiro, mas também de atletas de alto nível que vivam o skate”, afirma Giovani Ricardo, 25 anos, skatista e vendedor.

Para Ricardo, que anda de skate desde os 13, o skate preci-sa de pessoas que o representem, mas infelizmente a maior parte dos novos adeptos do skate são pessoas que só vão no embalo do momento, aproveitando o fato de ele estar em alta. “Essas pessoas que veem no esporte apenas uma maneira de se inserir em um gru-po, são pessoas sem identidade”, completa o vendedor.

Outro aspecto apontado como negativo pelo crescimento acima da média de adeptos ao esporte é o uso das pistas: “hoje é pra-ticamente impossível andar de skate de maneira tranquila nas pistas, devido ao aglomeramen-to de praticantes.”, lembra Rafael Albuquerque, 25 anos, praticante de skate desde a infância.Street, o skate de rua, é a modalidade mais popular em todo o mundo. (foto de Brayan Martins)

Confira a íntegra dessas matérias no blog do Unipautas

http://unipautas.uniritter.edu.br