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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O CAMINHO DA LIBERTAÇÃO NA EDUCAÇÃO:
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
Por: Soeli Ferreira
Orientador
Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas
Rio de Janeiro
2003
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O CAMINHO DA LIBERTAÇÃO NA EDUCAÇÃO:
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Docência do Ensino Superior.
Por: Soeli Ferreira
EPÍGRAFE
“A capacidade de Amar do ser humano nos
habilita para o mundo dos possíveis. Mobiliza-
nos a prosseguir em nossa viagem
existencial, pois não sabemos onde iremos
chegar, mas sabemos ou sentimos onde não
queremos desembarcar”.
(Nilson Guedes de Freitas - Pedagogia do Amor)
AGRADECIMENTOS
Ao prof. Nilson, pela paciência e pelo carinho na orientação
deste trabalho.
À Gisela, pelo apoio, bondade e incentivo em todos os
momentos.
À Léa, pela confiança, estímulo e sobretudo pelo exemplo de
força, determinação e coragem.
À Maria Luiza, pela amizade e sabedoria inestimáveis.
A todos os colegas de turma, pela oportunidade que me deram
de um convívio enriquecedor, gratificante e feliz.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às minhas filhas Andréa e Danielle que amorosa e generosamente compartilhando do meu sonho, cuidaram para que ele se concretizasse. Sou-lhes grata por tanto amor.
RESUMO
Educar é construir, é libertar o homem do determinismo, por isso, ensinar exige risco, exige do professor bom senso e comprometimento. A educação formal limita as possibilidades de liberdade criativa, ignorando as diferenças individuais e o histórico de vida de cada aluno, portanto, o professor tem papel fundamental no desenvolvimento do aluno devendo leva-lo a construir e coordenar suas opiniões. O ambiente escolar deverá estar centrado na aprendizagem e a prática docente conduzir a uma visão humanizada, justa e solidária da vida. É fundamental que o perfil do educador seja definido além dos conteúdos escolares, mas por seu comportamento ético e compromissado política e socialmente com o aluno, a escola e sociedade, superando as dicotomias teoria e prática, autoridade e liberdade, ignorância e saber, ensinar e aprender. A educação que propomos é a do respeito a autonomia e a identidade do educando através de uma relação professor-aluno produtiva e interativa.
Palavras Chave: aprendizagem, ética, liberdade, comprometimento,
autonomia.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................... 08
1. EDUCAÇÃO .......................................................................................... 10
2. EDUCAÇÃO ATUAL E SOCIEDADE .....................................................14
3. PROBLEMATIZAR PARA CONSCIENTIZAR ........................................18
4. PARADIGMAS E A RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO ............... ......... 22
5. TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO .............................................................. 26
6. LIBERTAÇÃO NA EDUCAÇÃO: RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO ..... 30
CONCLUSÃO ........................................................................................... 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 37
ANEXOS .................................................................................................... 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO .......................................................................... 40
INTRODUÇÃO
A relação professor/ensina-aluno/aprende vem
sofrendo modificações ao longo dos tempos, ainda que
de forma bastante lenta. Atualmente, porém, cresce mais
significativamente o interesse do professor em reavaliar e
interferir de modo mais consistente nesse processo,
nessa troca entre ensinar/aprender onde a Educação
pode e deve ser um processo afetivo e efetivo de
valorização e integração do homem em relação a si
mesmo, aos outros e ao mundo.
Nesse sentido, adotamos como método de
pesquisa a leitura de livros e artigos que pudessem
preencher nossos questionamentos e provar a relevância
dos novos paradigmas que vêem se estabelecendo na
educação, em particular, na relação entre professor e
aluno, ensino e aprendizagem.
O presente trabalho é apresentado em seis
capítulos e tem por objetivo trazer a reflexão sobre a
necessidade de transformar o que está posto e imposto
nas relações do ambiente escolar e, com isso,
desenvolver ações que levem a construção de uma
escola que conduz os alunos a autonomia e liberdade.
O primeiro capítulo conceitua etimologicamente
a educação, fazendo um paralelo como o pensamento de
Paulo Freire sobre a intenção dialética professor/aluno e
aluno/professor enquanto prática pedagógica.
Já o capítulo dois destaca o papel da escola
como instrumento a serviço de ideologias que servem
aos sistemas dominantes e a possibilidade de, o
professor, vir a mudar esse paradigma.
O terceiro capítulo coloca a importância da
reflexão sobre a realidade. As práticas pedagógicas
devem ser atreladas ao cotidiano para que, através da
resolução dos problemas apresentados, o educando
possa descobrir-se o construtor de seu próprio mundo.
No capítulo quatro a abordagem é sobre o
paradigma da relação formal entre professor/aluno e as
mudanças que uma nova filosofia de ensino pode gerar
dentro da escola cuja pedagogia preconize uma grande
transformação de pensamentos, onde o professor de
detentor do saber passa a facilitador do conhecimento.
O quinto capítulo apresenta as tecnologias
educacionais como mecanismos que, quando bem
utilizados, criam excelentes ambientes de aprendizagem
mas que, em momento algum, prescindem do papel do
professor.
Finalmente, o capítulo seis trata da nova ordem
que vem se estabelecendo nos ambientes escolares,
composta por professores que, preocupados com seu
crescimento pessoal, buscam ensinar pelo exemplo,
agregando valores humanos a pratica docente e, com
isso, estabelecendo vínculos afetivos com seus alunos,
que se transformarão em verdadeiros cidadãos,
solidários, críticos e atuantes, capazes de construir um
sociedade mais justa e próspera.
CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO
Segundo FREIRE, educar é construir, é libertar o homem do
determinismo, passando a reconhecer o papel da História e onde a questão
da identidade cultural, tanto em sua dimensão individual, como em relação à
classe dos educandos(FREIRE, 1983).
1.1. Conceito e Finalidades
Educação em Latim é Educare e significa: extrair as sementes
de dentro, desenvolver a capacidade, ter uma meta dentro de si.
Educação, portanto, é caminho, é processo, é a busca do bem
querer-se e do querer bem. Sócrates praticava a maiêutica com os jovens de
sua época. Desse “parto das idéias” extraía reflexões que influenciavam, não
só a vida pessoal (psicológica), mas também, o bem comum (sócio-política).
Extrair, para quem provoca, é permitir que o outro lance para fora suas
“sementes”, ou, por que não? sua “seiva”.
Essa “semente” ou “seiva” podemos chamar de Logos. Logos é
pensar, raciocinar, refletir. Pensar no que vê, observa, ouve, sente,
experimenta. Por conseguinte, é preciso sair de si e “estar com” o mundo, o
outro, consigo, com o Ser Superior... e, assim, descobrir-se. Ao descobrir-se,
o pensar vai educando o sujeito.
Educar é como viver, exige a consciência do inacabado porque
a "História em que me faço com os outros (...) é um tempo de possibilidades
e não de determinismo"(FREIRE, 1997,p.58). No entanto, tempo de
possibilidades condicionadas pela herança do genético, social, cultural e
histórico que faz dos homens e das mulheres seres responsáveis, sobretudo
quando "a decência pode ser negada e a liberdade ofendida e
recusada"(FREIRE, 1997, p.62). Segundo Freire, "o educador que 'castra' a
curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica
do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade
de aventurar-se. Não forma, domestica"(FREIRE, 1997, p.63). A autonomia,
a dignidade e a identidade do educando tem de ser respeitada, caso
contrário, o ensino tornar-se-á "inautêntico, palavreado vazio e
inoperante"(FREIRE, 1997, p.69).
Educar é construir, é libertar o homem do determinismo,
passando a reconhecer o papel da História e onde a questão da identidade
cultural, tanto em sua dimensão individual, como em relação à classe dos
educandos, é essencial à prática pedagógica proposta. Sem respeitar essa
identidade, sem autonomia, sem levar em conta as experiências vividas
pelos educandos antes de chegar à escola, o processo será inoperante,
somente meras palavras despidas de significação real.
Segundo LIBANEO, a escola deve possibilitar a assimilação de
conhecimentos científicos e o desenvolvimento das capacidades intelectuais
do aluno, do modo que os mesmos possam estar preparados para
participarem ativamente como cidadãos(CORTEZ, 1994).
A escola é o espaço social que tem como função específica
possibilitar aos educandos a apropriação de conhecimentos científicos,
filosóficos, matemáticos etc., sistematizados ao longo da história da
humanidade, bem como estimular a produção de um novo saber, que possa
ajudar na luta por mudanças nas injustas relações sociais presentes em
nossa sociedade.
Entende-se que o conhecimento de um modo geral acontece
na interação constante entre o aluno e o objeto a ser conhecido, tendo o
professor como mediador neste processo. O docente precisa, entretanto,
contextualizar a sua prática de ensino, considerando o discente um sujeito
concreto historicamente situado, com uma identidade que, além de
individual, é também coletiva e que o liga a sua origem de classe.
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer
forma de discriminação; ensinar exige que caia por terra qualquer resquício
do velho e desgraçado ditado — “faça o que eu digo mas não faça o que eu
faço” —, pois aquilo que o professor ensina na sala de aula ele seja o
primeiro a dar o exemplo; ensinar exige criticidade e ética; ensinar exige
pesquisa; ensinar exige humildade e tolerância; ensinar exige segurança do
que se fala, competência profissional e generosidade; ensinar exige
compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo;
ensinar exige liberdade e autoridade; ensinar exige querer bem aos
educandos, e disponibilidade para o diálogo. Ensinar exige saber escutar.
Ensinar exige do professor, acima de tudo, bom senso e
comprometimento. Bom senso é saber que o educador deve respeito à
autonomia, à dignidade, à identidade do educando, e ser coerente com este
saber na prática. Isto exige do professor uma reflexão crítica permanente
sobre a sua prática, a fim de avaliar o seu próprio fazer com os alunos.
Além disso, a prática docente é profundamente formadora,
logo, ética; portanto espera-se de seus agentes seriedade e retidão.
Comprometimento é reconhecer que é impossível exercer a atividade do
magistério como se nada estivesse acontecendo conosco; estamos
engajados no processo.
É necessário um envolvimento maior com a prática
pedagógica, que vá muito mais além do que ensinar o que me mandaram
dizer, mas também ensinar o que eles precisam saber, enquanto sujeitos
situados em um determinado estágio histórico, para que assim despertem
consciência política e cidadã. Ser professor é mais do que ensinar fórmulas
e técnicas, é também educar, formar. Formar gente pensante, com senso
crítico aguçado, capaz de perceber e combater injustiças, que não aceite
passivamente os desparates de uma elite social, antes argumenta
criticamente e luta por seus direitos.
Portanto, vemos agora que o ensino é produto de um
enfrentamento do mundo, realizado pelo ser humano, que só faz plenamente
sentido na medida em que o produzimos e o retemos como um modo de
entender a realidade, que nos facilite e melhore o modo de viver, e não, pura
e simplesmente, como uma forma enfadonha e desinteressante de decorar
fórmulas abstratas e inúteis para a nossa vivência no mundo.
Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender. E essa interação dialética professor-aluno, aluno-professor é que
torna a prática pedagógica um desafio maior — não obstante muito mais
prazeroso —, e criará laços de amizade e respeito mui favoráveis ao
processo ensino-aprendizagem (FREIRE, 1997).
CAPÍTULO II - EDUCAÇÃO ATUAL E A SOCIEDADE
Somos submetidos a uma educação que nos tornar seres
passivos diante dos acontecimentos e submissos a qualquer um que se
imponha e mostre poder sobre nós. Temos idéias e condutas uniformes,
como nos fala Rubem Alves:
Educação é isto: o processo pelo qual os nossos corpos vão
ficando iguais às palavras que nos ensinam. Eu não sou eu: eu sou as
palavras que os outros plantaram em mim. Como disse Fernando Pessoa:
“Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros
fizeram de mim”(ALVES, 1994).
Muitos são os responsáveis pelo que somos, muitos
influenciam em nossas decisões, em nossos pensamentos e na forma de
nos produzir como “homens”. Somos o resultado do desejo de nossos pais,
professores, líderes religiosos e políticos, além de sermos influenciados
pelos meios de comunicação, o mais eficaz modo de se propagar idéias.
Apesar de hoje haver toda uma discussão em torno dos meios
alternativos de educação, em nossa sociedade a escola ainda é vista como
a melhor forma de se obter conhecimento e estágio obrigatório para
ascensão social. Ela está estreitamente ligada à nossa cultura, regida por
uma estrutura semelhante a da própria sociedade. Percebemos esta ligação
ao observarmos a existência de um sistema hierárquico disciplinador, com
organização seriada e com discriminação por séries.
A escola , com toda sua autoridade consegue transformar seus
“subordinados” (alunos) em sujeitos passivos. Ela consegue impor suas
idéias sem contestações, ensinando às crianças desde o principio a
absorver e repetir suas lições, tão bem que se tornam incapazes de pensar
coisas diferentes. Tornam-se ecos das receitas ensinadas e aprendidas.
Tornam-se incapazes de dizer o diferente (ALVES,1994).
As crianças são educadas para servir a sociedade, para mais
tarde exercerem uma profissão que promete preencher suas vidas e realizá-
las como seres humanos. Na realidade, o que acontece é bem diferente,
essas crianças educadas com técnicas para formar técnicos nas mais
diversas áreas, tornam-se frustradas, sofrendo com seus conflitos ou então
sendo tão ocupadas que esquecem delas próprias.
Os homens sabem construir grandes máquinas, avançam na
medicina, descobrem segredos da natureza e do universo, mas são
incapazes de se compreender e compreender o outro. Pois para isso não
existem receitas e tais coisas nunca foram ensinadas na escola.
O que a escola faz, segundo Nitzesche “é um treinamento
brutal, com o propósito de preparar vastos números de jovens, no menor
espaço e tempo possível, para se tornarem usáveis e abusáveis, a serviço
do governo”, mas Rubem Alves modificaria sua última afirmação dizendo
que ao invés de usáveis a serviço do governo, diria “usáveis e abusáveis a
serviço da economia” ( ALVES, 1994, p.21).
A educação formal limita as possibilidades de fantasia e de
liberdade criativa. Dá respostas certas, anulando a experimentação e a
formulação de hipóteses pelas próprias crianças. Ignorando o fato de que as
crianças pensam e que devem ser estimuladas a isso, talvez pela falta de
tempo, pelas exigências curriculares, ou pelo despreparo dos professores.
Não importa o motivo, o que constatamos que a escola segue
padrões, ignora as diferenças individuais, as diferenças regionais e o
histórico de vida de cada aluno, sendo extremamente autoritária. Devido a
esse tipo de educação encontramos jovens e adultos sem iniciativa, meros
reprodutores, pessoas com dificuldade de integração e cooperação.
As crianças são pequenos pesquisadores que experimentam e
buscam respostas para as muitas perguntas que fazem sobre este mundo
ainda tão cheio de mistérios. Constroem e reconstroem teses sobre o
funcionamento dele, da natureza e da vida. Sentem-se livres e
entusiasmadas para questionar, argumentar e experimentar todas as coisas
que estão a sua volta.
Este pesquisador curioso não para, não se contenta com os
objetos que estão próximos dele, vai além e viaja. Ao dominar a palavra,
enriquece seus pensamentos e alça vôo no mundo das idéias. Se antes
brincava com seus brinquedos, agora brinca também com palavras.
Ao ingressar na escola, as crianças e seus pais pensam que
elas irão progredir, do não conhecimento para a aquisição do conhecimento
que é tão valorizado pela sociedade. A criança que é livre para conhecer,
criar, brincar com objetos e que se diverte com suas fantasias, ao adentrar
na escola é convidada a deixar todas estas capacidades do lado de fora das
salas de aula. Inicia-se assim o processo de padronização, todas as crianças
serão educadas para agir, falar, escrever e até pensar igual.
Não há mais tempo para exploração, brincadeiras, o aprender
com prazer. Os alunos devem passar pela tortura de repetir, copiar e
decorar. Agora o aluno não segue mais seus interesses, pelo contrario, só
faz aquilo que o professor mandar.
A criança perde toda sua autonomia criadora, fala frases feitas,
decora conceitos que para ela nada significam e tem medo de ousar, pois o
taxativo “certo e errado” a amedronta.
Na escola a criança “aprenderá” varias coisas, mas o mais
importante não lhe será ensinado, o mais importante foi esquecido, a escola
não ajuda o aluno desenvolver sua competência cognitiva, a de pensar. Ao
invés disso são ensinadas respostas certas, para as quais não é necessário
pensar, basta o exercício de memória. Quando consideramos a autonomia
como objetivo educativo, lembramos que:
é preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossível aprender a pensar num regime autoritário. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e é demonstrar de forma autônoma. O pensamento supõe então o jogo livre das funções intelectuais e não o trabalho sob pressão e a repetição verbal” (PIAGET, 1998, p. 118).
Não podemos permitir que o professor detenha controle da
conduta, das atitudes e do saber das crianças. Quando as crianças sofrem
coerção dos adultos, numa relação de respeito unilateral, acabam
acreditando que somente eles têm razão e suas afirmações são
consideradas verdades. Segundo PIAGET(1998), a autoridade adulta sobre
o pensamento da criança não apenas prescinde de verificação racional, mas
também retarda freqüentemente o esforço pessoal e o controle mútuo dos
pesquisadores.
CAPÍTULO III - PROBLEMATIZAR PARA
CONSCIENTIZAR
A preocupação com a realidade mundial e, em especial a
brasileira, diante de um quadro de exclusão e violência, onde o mercado se
colocou acima das questões sociais, ambientais, éticas e morais, traz à tona
a reflexão sobre o papel fundamental da Educação para rever e reverter
esse processo predatório.
A educação que propomos como alternativa para isto é a que
tem como prioridade o desenvolvimento pleno das crianças, respeitando os
interesses dos alunos, estimulando a pesquisa e a criatividade.
Não há desenvolvimento da autonomia num ambiente onde
prevalece o autoritarismo do professor, em que os alunos vêem o professor
como dono exclusivo do saber. Se esta afirmativa se faz verdade, a simples
transmissão do saber será a prática na sala de aula.
O professor que desrespeita a curiosidade do educando , o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor se exime do cumprimento do seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentais e éticos de nossa existência (FREIRE, 2001, p. 66).
Acreditamos que através de uma relação de respeito mútuo
entre professor-aluno, a cooperação entre iguais e respeitando o aluno como
sujeito construtor do seu conhecimento, poderemos contribuir para a
formação de indivíduos autônomos.
A educação problematizadora responde à essência do ser e da
sua consciência, que é a intencionalidade.A intencionalidade está na
capacidade de admirar o mundo, ao mesmo tempo desprendendo-se dele,
nele estando, que desmistifica, problematiza e critica a realidade admirada,
gerando a percepção daquilo que é inédito e viável.
Resulta em uma percepção que elimina posturas fatalistas que
apresentam a realidade dotada de uma determinação imutável.Por acreditar
que o mundo é passível de transformação a consciência crítica liga-se ao
mundo da cultura e não da natureza.
O educando deve primeiro descobrir-se como um construtor
desse mundo da cultura. Essa concepção distingue natureza de cultura,
entendendo a cultura como o acrescentamento que o homem faz ao mundo,
ou como o resultado do seu trabalho, do seu esforço criador.
Essa descoberta é a responsável pelo resgate da sua auto-
estima, pois, tanto é cultura a obra de um grande escultor, quanto o tijolo
feito pelo oleiro.
Procura-se superar a dicotomia entre teoria e prática, pois
durante o processo, quando o homem descobre que sua prática supõe um
saber, conclui que conhecer é interferir na realidade, percebe-se como um
sujeito da história.
Segundo Freire(2001), não se pode separar a prática da teoria,
autoridade de liberdade, ignorância de saber, respeito ao professor de
respeito aos alunos, muito menos ensinar de aprender.
As atividades devem ser feitas de forma cooperativa, os alunos
trabalhando em grupo com a interferência provocativa do professor, assim
tanto professor como aluno assumem a postura de pesquisador.
Portanto, o professor tem papel fundamental no
desenvolvimento do aluno, pois ele deve acompanhar todas as etapas do
projeto de cada criança, levantando questionamentos, mas nunca dando
respostas certas. Dando sugestões, mas nunca assumindo postura
autoritária, como se ele fosse o “detentor do saber”.
Quando alguma das regras são infringidas, deve-se julgar
coerentemente, estabelecendo “sanções por reciprocidade”, pois o aluno
deve ser levado a compreender suas faltas e perceber que deve corrigir sua
conduta, deve ser ajudado a construir interiormente sua moral, para que não
seja apenas coagido a seguir esta ou aquela forma de agir que outros
determinam como certas. É necessário que ele possa se desenvolver,
interagindo com o mundo e coordenando opiniões entre iguais.
Vivendo nesta esfera de amor, reciprocidade, respeito mútuo e
estimulo ao desenvolvimento intelectual os alunos atingirão o auto governo.
Assim, “o self-government é um procedimento de educação social que
atende, como todos os outros, a ensinar os indivíduos a sair de seu
egocentrismo para colaborarem entre si e a se submeter a regras comuns”
(PIAGET, 1998, p.119).
É premente a reflexão sobre o caminho dessa construção
pedagógica e o papel do professor na prática das escolas. Grande parte dos
professores foram formados pelo método “conteudista” e não há uma
fórmula mágica que os transforme em educadores.
Assim, necessário é que toda a escola, ou seja, diretores,
funcionários, pais, os próprios professores, etc. estejam engajados nessa
proposta onde a educação é um processo de construção da autonomia de
maneira crítica e consciente.
Portanto, árdua é a tarefa de se aplicar e tornar prático o
resultado dessas reflexões, pois que a Aprendizagem significativa necessita
do rompimento de diversos paradigmas e de uma relação professor-aluno
produtiva, interativa, cuja vertente pode constituir-se em subsídio aos seus
procedimentos em sala de aula, numa resposta à prática pedagógica que
realiza, bem como favorece uma análise autocrítica dos seus procedimentos
para que se possa fazer cada vez melhor o aprender com os alunos a cada
dia.
“Saber que devo respeito à autonomia e a identidade do
educando exige de mim uma prática em tudo coerente com este
saber”(FREIRE, 2001, p. 67), pois o ensino é muito mais que uma profissão,
é uma missão que exige comprovados saberes no seu processo dinâmico de
promoção da autonomia do ser de todos os educandos.
CAPÍTULO IV - PARADIGMAS E A RELAÇÃO
PROFESSOR-ALUNO
O abalo das certezas que
pretendiam tornar perenes as grandes
teorias, fez com que docentes e discentes,
já há alguns anos, se detenham em focar os
desdobramentos e as tensões nas
mudanças da construção de conhecimentos
e também na forma de pensar das várias
tradições disciplinares que possibilitem
elementos para a reflexão das questões da
Educação.
As dificuldades postas pelos sistemas de ensino ao processo
de individualização, o constante alienamento da identidade e os obstáculos
postos à intrínseca necessidade do reencontro do indivíduo, estão na
gênese da crise do homem atual, na crise da sociedade e dos seus valores,
estes muitas vezes rejeitados por uma juventude que pretende ser lúcida e
transparente.
Impõe-se como nova filosofia de ensino o reencontro com a
identidade individual, mesmo que com isso se abalem estruturas e sistemas
do mecanismo convencional, desafiando a tradição escolar e os modelos
educacionais tradicionais que tentem prevalecer, visando promover todo o
potencial humano e a satisfação de necessidades humanas que
transcendem toda a dimensão biológica, é o tempo da autenticidade, da
cooperação em clima de confiança, da abertura.
Neste contexto, a criança deve ser induzida a assumir-se não
como roda dentada do aparelho tecnológico, mas sim a instruir-se com
sensibilidades diversas, tendo como objetivo a realização pessoal e a futura
realização profissional.
Essa busca de um novo caminho e de respostas, são um
campo muito fértil pois descortina novas e ricas possibilidades ao
pensamento, na medida em que não mais existe um paradigma dominante
para as referências básicas aos diversos projetos científicos, pedagógicos,
políticos e sociais, permitindo assim o surgimento de alternativas aos
modelos anteriores.
Estamos vivenciando na educação , uma grande transformação
de pensamentos, onde o professor antes visto somente como transmissor de
conhecimentos, passa a fonte de inspiração e criatividade.
A escola que hoje queremos, dentro da pedagogia preocupada com a
transformação, e não mais com a conservação, repensa o processo da sala de aula. A sala de aula
existe em função de seus alunos, e cabe a nós, educadores, refletir se realmente respeitamos os
alunos em relação ao acesso ao conhecimento e se consideramos quem são eles, de onde vieram,
em que contexto vivem, etc...
Diante disso, a sala de aula ganha um novo sentido para a aprendizagem e para a
avaliação, onde o aluno tenha acesso aos bens culturais, ao conhecimento produzido historicamente,
e possa adquirir habilidades para transformar esses conteúdos no contexto social.
Assim, a prática pedagógica e a prática de avaliação deverão superar o
autoritarismo, o conteudismo, a punição, estabelecendo uma nova perspectiva para o processo de
aprendizagem e de avaliação educacional, marcado pela autonomia do educando e pela participação
do aluno na sociedade de forma democrática.
Partindo desses pressupostos, para que o aluno construa o seu conhecimento, a
sua autonomia, é necessário que ele esteja inserido em um ambiente em que haja intervenções
pedagógicas, em que o autoritarismo do adulto seja minimizado e onde os indivíduos que se
relacionam considerem-se iguais, respeitando-se reciprocamente.
Importante ainda dizer que o aluno deve ter oportunidade de participar da
elaboração das regras, dos limites, dos critérios de avaliação, das tomadas de decisão, além de
assumir pequenas responsabilidades.
Na perspectiva dessa escola cidadã, teremos, na sala de aula, um professor
mediador entre o sujeito e o objeto do conhecimento, trabalhando de forma que, a partir dos
conteúdos, dos conhecimentos apropriados pelos alunos, eles possam compreender a realidade, atuar
na sociedade em que vivem e transformá-la.
Deve apoiar-se na preparação do futuro desses alunos, a
esperança do homem e da humanidade de amanhã, sendo bálsamo do
processo a angústia que pode existir no homem atual em relação a um
ensino clássico desprovido de valores primordiais, que muito poderiam ter
contribuído para a formação da sua integridade aliada à valorização
conceitual curricular.
Assim, o conhecimento para o professor deixa de ter um caráter estático e passa a
ter um caráter significativo para o aluno.
Por conta de uma série de reformas e mudanças que ocorreram na educação nos
últimos anos, os sistemas de ensino têm produzido maior flexibilização e autonomia nas escolas, até
mesmo em relação ao desempenho dos alunos.
Cabe à escola definir o seu projeto educativo, considerando todos os aspectos, sem
criar um descompasso entre o que se pensa e diz e o que se tem feito, ou seja, o seu projeto deve ser
coerente, claro, participativo, e estar em sintonia com os grupos envolvidos com a escola, ou seja,
com a comunidade, alunos, professores.
É preciso também pensar sobre os professores, pois, para superar os limites dessa
escola que não queremos mais, será necessário investir continuamente na sua formação, retomando
e repensando o seu papel diante dessa escola cidadã.
Nela, não caberá um professor conteudista, tecnicista, preocupado somente com
provas e notas, mas, sim, um professor mais humano, ético, estético, justo, solidário, que se preocupe
com a aprendizagem.
É preciso um profissional com competência, tanto política quanto técnica, que
conheça e domine os conteúdos escolares e os atitudinais, saiba trabalhar em sala de aula utilizando
uma metodologia dialética, tenha um compromisso político, social, seja pesquisador, um eterno
aprendiz e estudioso, tenha uma prática coerente com a teoria, seja consciente do seu papel como
cidadão, etc...
CAPÍTULO V - TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO
Vivemos em uma sociedade hoje chamada de tecnológica. Nos
últimos quinze anos o avanço tecnológico tem afetado vários aspectos da
vida, gerando novos instrumentos que aceleram a comunicação,
transformam a produção, as relações dos homens entre si e com suas
atividades, e, dessa forma, a própria organização da sociedade. Tais
acontecimentos produzem efeitos sociais que merecem a atenção da escola
e de seus profissionais.
Diante destas mudanças no cotidiano, a educação pode, e
deve, interferir e interagir no processo de integração e difusão das
tecnologias, visando à transformação das relações sociais, no sentido de
que elas sejam mais justas e mais democráticas.
Para isso precisamos pensar em uma escola que forme
cidadãos capazes de lidar com o avanço tecnológico, participando dele e de
suas conseqüências, influenciando e contribuindo na construção do mundo
que desejarem.
A escola, porém, na maior parte das vezes, não considera
estes importantes aspectos da vida atual e, no que diz respeito a seus
objetivos e métodos, não trabalha com as diferentes fontes de aquisição de
conhecimento.
Para cumprir seu papel social, a escola não pode ignorar as
tecnologias ou entrar em guerra contra elas e continuar utilizando uma
linguagem distante da realidade.
Sabemos que o sistema educacional vigente é ritualizado,
cheio de divisões, conteúdos preestabelecidos, carga horária, calendários
etc., onde permanece quase sempre inalterável.
O tempo destinado a criação, a interpretação, a reflexão, a
descoberta de novas tecnologias é escasso e nem sempre é aproveitado de
maneira racional.
Fora da escola, professores e alunos, estão permanentemente
em contato com tecnologias cada vez mais avançadas, onde a máquina
transforma, modifica e até substitui as tarefas humanas.
Eles vivem e atuam nesta realidade como cidadãos
participativos, mas não conseguem introduzir estas "novidades" dentro da
escola, pois necessitam cumprir conteúdos programáticos exigidos.
A escola é um local de tradição cultural e de ampliação de
conhecimento, onde o aluno é o centro do processo de aprendizagem,
analisando e interpretando as imagens e sons existentes na TV , rádio,
computador, através da imagem do professor na sala de aula.
É importante que os professores aprendam a ler os meios de
comunicação sob a ótica dos jovens, para ajudá-los a compreender os
problemas da sociedade de forma mais organizada, construindo uma visão
ampla do mundo.
A tecnologia além de renovar o processo ensino-aprendizagem,
vai propiciar o desenvolvimento integral do aluno, valorizando o seu lado
social , emocional, crítico, imaginário, deixando margens para exploração de
novas possibilidades de criação.
A linguagem utilizada pela mídia, a publicidade, os jogos
eletrônicos, os clipes musicais etc. é diferente na lógica (não linear) e na
forma (baseada na imagem e nos ícones). Ela possui grande poder de
sedução, de informação, de formação de opinião e de padrões de
comportamento, sendo muitas vezes superficial e mistificadora, veiculando a
ideologia dominante e contribuindo não só para sua aceitação, mas também
para o desenvolvimento de valores que podem não ser os melhores para a
formação de cidadãos críticos.
A interferência da educação é necessária, pois a escola tem o
papel de garantir que a cultura, a ciência e a técnica não sejam propriedade
exclusiva das classes dominantes.
Ela deve intervir no sentido de desmistificar a linguagem
tecnológica e iniciar seus alunos no domínio do manuseio, interpretação,
criação e recriação desta linguagem, pois sabemos que os seres humanos
aprendem a interpretar o mundo a partir da lógica que possuem, construída
através de suas experiências, do que aprendem a perceber, observar,
conviver, captar e compreendendo o que são educados a ver e analisar.
Portanto, devem ser ensinados a interpretar as informações e valores
transmitidos via tecnologia.
Portanto, a informática na educação serve para explorar novas
possibilidades pedagógicas e contribuir para uma melhoria do trabalho
docente em sala de aula, valorizando o aluno como sujeito do processo
educativo e criando neles uma visão crítica do mundo em que vivem, para
que conheçam, interpretem, utilizem, reflitam e dominem a tecnologia para
não serem por ela dominados, formando-se como produtores de cultura e
não meros consumidores.
O computador, o software educativo e a Internet estão no
centro do debate sobre o emprego das novas tecnologias na educação.
Apresentados como símbolos de modernidade e, muitas vezes, usados
como diferencial de qualidade pelo marketing das escolas com o objetivo de
conquistar novos alunos, estas tecnologias nada mais são que instrumentos
didático-pedagógicos. Como tal, podem ser utilizados tendo como base
modernos ou antigos paradigmas educacionais.
A criação de ambientes de aprendizagem é o fundamento
destas tecnologias. Os computadores são processadores de informações:
auxiliam na captação, armazenamento, interligação, transmissão e uso das
informações.
Fazem isto à partir de ordens programadas pelo homem.
Constróem ambientes a serem utilizados em processos educativos seguindo
uma configuração preestabelecida pelo programador. Portanto, é a
estratégia didático-pedagógica que fundamenta a construção destes
ambientes de aprendizagem e que lhes garantem qualidade.
As tecnologias educacionais não criam ambientes que
prescindem do professor, este sempre terá um papel fundamental no
processo e as tecnologias devem oferecer a ele a possibilidade permanente
de reformulação dos cursos e do monitoramento da aprendizagem do aluno.
CAPÍTULO VI - LIBERTAÇÃO NA EDUCAÇÃO
RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO
Muito se espera do professor que trabalha nas escolas da
atualidade, onde convivem simultaneamente demandas de modernidade,
com uso de novas tecnologias e recursos pertencentes ao arsenal científico
e cultural disponível para a humanidade, e demandas de valores éticos e
posturas solidárias, sem as quais o equilíbrio entre as pessoas, os povos,
as nações, fragiliza-se ainda mais, a ponto de colocar em risco o processo
de paz planetária e, em última instância, a sobrevivência na Terra.
Interagir com essa clientela que está conectada aos
acontecimentos mundiais em tempo real, mas não dispõe ainda da
maturidade suficiente para interpretá-los com a devida profundidade,
posicionando- se imparcialmente com vistas ao bem comum, é um desafio
tão intenso que exige do educador o conhecimento de que ele não é um
mero transmissor de conhecimento, mas sim um guia na construção de
possibilidade.
Exige também que ele tenha entusiasmo, paixão; que vibre
com as conquistas de cada um de seus alunos, que não discrimine ninguém,
não crie estereótipos para seus alunos, que não se mostre mais próximo de
alguns, deixando outros à deriva.
Que seja politicamente participativo, com opiniões que possam
ter sentido para seus alunos, sabendo sempre que ele é um líder que tem
nas mãos responsabilidades de conduzir um processo de crescimento
humano, de formação de cidadãos, de formação de novos líderes.
Que tenha também, uma visão de futuro, aliada a uma postura
crítica que pressupõe capacitação constante, estudo continuado,
curiosidade, interesse em estar atualizado não apenas nos conteúdos que
leciona, mas também nos demais conteúdos afins de sua área, como
também no que se refere aos acontecimentos que marcam a nossa
civilização.
Ensinar e aprender com os alunos, agir ao mesmo tempo como
mestre e aprendiz, estar preparado para ouvir o que os jovens têm a dizer,
valorizar sua contribuição, fazer as devidas intervenções, colocar os limites,
definir responsabilidades, manifestar e cobrar coerência, são requisitos
fundamentais aos que se dedicam à Educação.
Devem estar atentos ao local de sua inserção na instituição,
procurando perceber as bases em que a Educação está arraigada, para
transformá-la, não através de mera alteração na metodologia adotada, mas,
principalmente, procurando modificar o vínculo docente-aluno, a fim de
promover a transformação do espaço educativo em espaço de confiança,
aprendizagem e amor.
Há que se considerar a peculiaridade desse espaço educativo
dos dias de hoje, onde o saber que o professor deve transmitir não é mais o
centro de gravidade do ato pedagógico, como já o foi. Quando o professor
detinha a verdade do conhecimento, o aluno ficava quieto, passivo.
Atualmente, o modelo e o princípio da aprendizagem estão no educando, a
tal ponto que o ato de aprender se tornou mais importante que a ação de
ensinar.
Pode-se dizer que o saber docente fica diretamente ligado a
uma relação pedagógica centrada nas necessidades e interesses do aluno.
Ele deve orientar esse aluno na busca de conhecimentos e informações.
Sua função, para os menos atentos, até pode ser confundida
com um saber-estar, saber lidar/negociar com as crianças e os jovens. Esta,
no entanto, é apenas uma mínima parcela do trabalho do professor. Há que
se lembrar, também, que a relação com as famílias exige preparo e
discernimento de todos os que se dedicam à Educação.
Nesse contexto, a especificidade do saber docente ultrapassa
a formação acadêmica, abarcando a prática cotidiana e a experiência vivida.
Podemos dizer que é um saber heterogêneo e plural.
Como a pertinência dos saberes escolares não é mais tida
como óbvia nessa nova realidade globalizada e informatizada, a função
docente passa a dirigir um olhar especial à preparação dos sujeitos,
equipando-os em consonância com a concorrência impiedosa que rege o
mercado de trabalho. Mas, nesse processo, a escola não pode abrir mão da
formação do aluno em termos de valores, ética, cidadania.
Com certeza, o papel do professor é decisivo na formação
pessoal e profissional das novas gerações. Da sua maneira de conhecer o
aluno vai depender o relacionamento de ambos, que está sempre
fundamentado em valores morais, éticos, em que se baseiam as condutas
individuais, embasando o posicionamento do sujeito no mundo.
Qualquer que seja a disciplina que lecione, o professor
transmite simultaneamente uma filosofia viva que ele é. Ele passa aos
alunos sua visão de mundo, e isso fica entranhado no estudante, muito mais
que os conteúdos.
O professor tem oportunidade de propor discussões, despertar
questionamentos, formatar opiniões. Ele educa mais pelo que ele é, pelos
princípios que norteiam sua conduta, pelo exemplo, do que pelo conteúdo
que ensina.
Assim, na atividade docente, realizada concretamente numa
rede de interações com outros sujeitos, o professor passa a evidenciar
conhecimentos, valores, símbolos, sentimentos e atitudes. Com seu
trabalho, vai contribuir para formar alunos que tenham condições de
desenvolver suas habilidades intelectuais, morais, físicas, sociais.
Alunos estes que se transformarão em verdadeiros cidadãos
não somente inseridos na sociedade, mas conscientes de seus direitos e
deveres, participantes, solidário, critico e atuante, que respeita e se faz
respeitado. Alguém que faz e não espera que façam por ele.
Verdadeiros agentes na busca pela igualdade e por uma
sociedade inclusiva.
CONCLUSÃO
Um dos eixos das mudanças na educação passa pela
transformação da educação em um processo de comunicação autêntica e
aberta entre professores e alunos, principalmente, incluindo também
administradores, funcionários e a comunidade, principalmente os pais. Só
vale a pena ser educador dentro de um contexto comunicacional
participativo, interativo, vivencial.
Só aprendemos profundamente dentro deste contexto. Não
vale a pena ensinar dentro de estruturas autoritárias e ensinar de forma
autoritária. Pode até ser mais eficiente a curto prazo - os alunos aprendem
rapidamente determinados conteúdos programáticos - mas não aprendem a
ser pessoas, a ser cidadãos.
Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar
processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender através
da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de
integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação,
num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada
pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as
dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas
as habilidades disponíveis do professor e do aluno.
Cada um de nós professores/pais colabora com um pequeno
espaço, uma pedra, na construção de cada aluno. Ele vai organizando
continuamente seu quadro referencial de valores, idéias, atitudes, a partir de
alguns eixos fundamentais comuns como a liberdade, a cooperação, a
integração pessoal.
Só podemos educar para a autonomia, para a liberdade com
autonomia e liberdade. Uma das tarefas mais urgentes é educar o
educador/pai para uma nova relação no processo de ensinar e aprender,
mais aberta, participativa, respeitosa do ritmo da cada aluno, das habilidades
específicas de cada um.
É importante termos educadores/pais com um amadurecimento
intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo de
organizar a aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que
valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a
repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas
democráticas de pesquisa e de comunicação.
Só podemos ensinar até onde conseguimos aprender. E se
temos tantas dificuldades em ensinar, entre outras coisas, é porque
aprendemos pouco até agora. Se admitíssemos nossa ignorância quase
total sobre tudo - tanto docentes como alunos - estaríamos mais abertos
para o novo, para aprender. Mas ao pensar que sabemos muito, limitamos
nosso foco, repetimos fórmulas, avançamos devagar.
Sabemos muito, mas não sabemos o principal. Temos
conhecimentos pontuais, mas nos falta o referencial maior, o que dá sentido
ao nosso viver. Por que e para que aprendemos? Quando só temos
objetivos utilitaristas - como conseguir um diploma, um emprego, ganhar
dinheiro - isso concentra nossos esforços, mas estreita nosso raio de visão,
de percepção.
Ensinar não é só falar, mas comunicar-se com credibilidade. É
falar de algo que conhecemos intelectual e vivencialmente e que, pela
interação autêntica, contribua para que os outros e nós mesmos avancemos
no grau de compreensão do que existe.
Ensinaremos melhor se mantivermos uma atitude inquieta,
humilde e confiante com a vida, com os outros e conosco, tentando sempre
aprender, comunicar e praticar o que percebemos até onde nos for possível
em cada momento. Isso nos dará muita credibilidade, uma das condições
fundamentais para que o ensino aconteça. Se inspirarmos credibilidade,
poderemos ensinar de forma mais fácil e abrangente.
A credibilidade depende de continuar mantendo a atitude
honesta e autêntica de investigação e de comunicação, algo não muito fácil
numa sociedade ansiosa por novidades e onde há formas de comunicação
dominadas pelo marketing, mais do que pela autenticidade.
Só pessoas livres - ou em processo de libertação - podem
educar para a liberdade, podem educar livremente. Só pessoas livres
merecem o diploma de educadoras. Necessitamos de muitas pessoas livres
na educação que modifiquem as estruturas arcaicas, autoritárias do ensino.
Só pessoas autônomas, livres podem transformar a sociedade.
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ANEXOS
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM DOCÊNCIA SUPERIOR
Título: O Caminho da Libertação na Educação: Relação Professor-Aluno
Autor: Soeli Ferreira
Data da Entrega:___________________
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Conceito Final: ___________________
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