UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O Transtorno do Déficit de Atenção ......
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM DE ALUNOS PORTADORES DE TDAH
Por: Andréia Guimarães Moutella
Orientador
Profª Maria Esther de Araújo Oliveira
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM DE ALUNOS PORTADORES DE TDAH
Apresentação de monografia à Universidade
Cândido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Supervisão e
Administração Escolar
Por: Andréia Guimarães Moutella
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AGRADECIMENTOS
Aos meus filhos, que souberam
respeitar os meus momentos de
crescimento profissional e minhas
eternas ausências. Ao meu marido,
eterno incentivador e companheiro de
todas as horas. A todos os professores
e pessoas que, direta ou indiretamente,
contribuíram para a confecção desse
trabalho acadêmico.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha mãe que,
apesar de ausente, está sempre presente
em minha vida.
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RESUMO
A presente monografia tem como objetivos fornecer alguns subsídios teóricos
acerca do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) para
melhor entender suas influências sobre a aprendizagem e apresentar a
importância do supervisor escolar no processo ensino-aprendizagem dos
portadores desse transtorno, por ser uma de suas funções orientar os
professores sobre como lidar com alunos portadores de TDAH em sala de aula,
uma vez que o fazer pedagógico docente tem grande impacto sobre o
desenvolvimento desses estudantes. Como resultado do trabalho realizado,
pode-se afirmar que é essencial instrumentalizar melhor os professores e a
comunidade escolar para reconhecer e lidar de forma adequada com essa
disfunção, pois os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade por
eles apresentados podem levar a um baixo desempenho acadêmico.. O olhar
individualizado para cada aluno, reconhecendo suas potencialidades e
dificuldades e respeitando seus limites é que fará toda a diferença no processo
ensino-aprendizagem dos portadores de TDAH. Alunos que apresentam esse
transtorno exigem uma atenção especial por parte do professor, por isso esse
profissional deve estar bem preparado para saber contornar as situações que
surgirem em sala de aula. Uma escola comprometida com a aprendizagem tem
que aprender a lidar com esses estudantes, conhecer suas limitações, respeitá-
los e oferecer as devidas condições para que eles possam se desenvolver
plenamente.
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METODOLOGIA
Este trabalho foi elaborado a partir de uma pesquisa bibliográfica em relação
ao tema, constituída principalmente da leitura de livros de autores que
trabalham diretamente com portadores de TDAH, além de muitas consultas a
sites confiáveis da internet.
A experiência profissional da autora como professora e coordenadora
pedagógica, suas observações, contatos e análises sobre o universo do aluno
portador de TDAH possibilitaram que exemplos concretos e reais fossem
abordados neste trabalho.
Foram consultados e entrevistados, também, pais de alunos portadores de
TDAH e profissionais que lidam com essa disfunção em seus consultórios:
psicopedagogos, fonoaudiólogos e psicólogos.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................8
CAPÍTULO I – O que é TDAH?...........................................................................11
CAPÍTULO II – PROFESSOR: DA FORMAÇÃO INICIAL À SALA DE AULA ...25
CAPÍTULO III - O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR .................................35
CONCLUSÃO .....................................................................................................47
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................49
ÍNDICE ................................................................................................................53
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INTRODUÇÃO
O Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH) é uma disfunção neurobiológica
que se caracteriza por sinais claros e repetitivos de desatenção, inquietude e
impulsividade. Os alunos portadores de TDAH, em geral, possuem dificuldade
escolar, uma vez que os sintomas que apresentam interferem em seu
processo de aprendizagem.
O desconhecimento sobre TDAH ainda é muito grande entre os profissionais
de educação. Muitos educadores, por formação deficiente, pouco tempo para
estudo ou falta de comprometimento com o fazer pedagógico, reconhecem
alguns sintomas apresentados, mas não estão preparados para trabalhar com
as diferenças nem sabem como lidar com alunos portadores desse transtorno
em sala de aula. Por esse motivo, rotulam os portadores desse transtorno
como desobedientes e desinteressados, insistindo em concentrar os objetivos
do ensino no âmbito cognitivo, padronizando o processo ensino-
aprendizagem.
As escolas precisam desenvolver, com o corpo docente, uma reflexão
constante do fazer pedagógico e um processo contínuo de formação
continuada para que esses profissionais estejam a par das discussões teóricas
atuais sobre TDAH e possam atuar com mais eficácia no processo de ensino-
aprendizagem desses estudantes.
A criação de espaços dialógicos na escola para que dúvidas, medos e
ressignificações da prática pedagógica possam ser (re)examinados e
discutidos em equipe é papel do supervisor, que deve ter como eixo de seu
trabalho a construção de uma escola de qualidade para todos, incluindo
aqueles que possuem necessidades educacionais especiais.
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O objetivo central desse trabalho é, portanto, apresentar a importância do
supervisor escolar no processo ensino-aprendizagem dos portadores de
TDAH, uma vez que é sua função proporcionar o aprofundamento do
conhecimento em relação ao TDAH e promover necessárias articulações com
o corpo docente para construir alternativas que ponham a escola a serviço de
todos.
Qual deverá ser a atuação do supervisor escolar diante desse quadro? Como
gerir uma equipe de professores que não está preparada para lidar com alunos
portadores de TDAH? Qual o papel da família nesse processo?
Para facilitar esse entendimento, a presente pesquisa foi dividida em três
partes: apresentação teórica sobre TDAH; processo de formação do professor;
atuação do supervisor escolar.
No primeiro capítulo, apresentaremos a definição de TDAH, os subtipos desse
transtorno, as comorbidades mais comuns e os sintomas apresentados por
seus portadores..
No segundo capítulo, analisaremos o processo de formação inicial dos
professores e a necessidade da continuidade desse processo durante sua
atuação profissional para que possam atuar com mais eficácia no processo de
ensino-aprendizagem dos estudantes..
No terceiro capítulo, mostraremos qual é o papel do supervisor escolar nesse
processo e sua atuação perante professores, alunos, famílias e profissionais
externos, com o objetivo de minimizar possíveis dificuldades de aprendizagem
de alunos portadores de TDAH durante sua vida escolar.
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Esperamos que esse trabalho possa contribuir de forma positiva na inclusão de
estudantes portadores de TDAH no processo ensino-aprendizagem. Nossa
intenção é mostrar que a escola pode e deve ser um espaço onde todos os
alunos tenham suas necessidades individuais atendidas e possam
desenvolver-se em um ambiente enriquecedor e estimulante ao seu
desenvolvimento cognitivo, emocional e social.
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CAPÍTULO I
O que é TDAH?
“O ser humano, mais que as flores, precisa na vida de muito afeto e toda compreensão.” (Natureza distraída – Toquinho e Elifas Andreato)
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um
transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e
frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida.
Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região
frontal e nas suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é
uma das mais desenvolvidas no ser humano e é responsável pela inibição do
comportamento (controla ou inibe comportamentos inadequados), pela
capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e
planejamento. Nos portadores de TDAH o que parece estar alterado nessa
região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas
chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que
passam informação entre as células nervosas (neurônios).
Segundo Marianne de Aguiar Possa1 (2005), o TDAH tem prevalência estimada
em torno de 3,5% a 8% em diferentes áreas geográficas, incluindo o Brasil. A
prevalência é mais alta no meio urbano em relação ao meio rural e aumenta
em função de condições sócio-econômicas mais precárias.
1 Médica residente do Serviço de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Arq. Neuro-Psiquiatria, vol.63, nº.2b, São Paulo, Junho 2005: Comorbidades do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em crianças escolares.
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O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade pode aparecer nos primeiros
dias de vida. É comum que a criança seja ativa no berço, durma pouco e chore
muito, quando já passados os meses iniciais. O bebê frequentemente sai do
berço cedo e tenta agir, geralmente, apalpando, quebrando ou destruindo
objetos.
As principais sintomatologias têm início antes dos sete anos de idade:
desatenção, impulsividade e hiperatividade. Os sintomas de desatenção são
demonstrados por dificuldade em sustentar a atenção pelo tempo necessário,
dificuldade em alternar o foco entre duas ou mais tarefas, perdas e
esquecimentos de objetos, dificuldade em memorizar e em recordar informação
já aprendida, desorganização, elevada distratibilidade. Os sintomas de
hiperatividade/impulsividade incluem dificuldade em esperar sua vez,
dificuldade em permanecer sentado quieto quando isso é necessário, balançar
as mãos ou os pés quando tem de permanecer sentado, interromper ou se
intrometer nos assuntos dos outros, falar demais, dentre outros.
As meninas, normalmente, apresentam menos sintomas de hiperatividade-
impulsividade que os meninos (embora sejam igualmente desatentas). A razão
para essa proporção menor de meninas pode estar no fato de elas possuírem
menos comorbidades (outras patologias psicológicas associadas ao TDAH),
chamarem menos atenção em casa e na escola e, portanto, dificilmente serem
encaminhadas para tratamento. Os meninos, como externalizam mais seus
problemas, tornam-se mais evidentes.
Crianças e adolescentes portadores de TDAH, devido a sua sintomatologia,
costumam apresentar dificuldades na escola, uma vez que cometem erros
constantes por distração. Como a atenção e a concentração são
imprescindíveis para o bom funcionamento da memória e para o
desenvolvimento escolar, em geral são tidos como "esquecidos" e “distraídos”:
esquecem recados ou material escolar, aquilo que estudaram na véspera da
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prova, trabalhos que deveriam ser entregues no prazo, avaliações que foram
marcadas, além de outras tarefas e/ou obrigações.
Portadores de TDAH também tendem a ser impulsivos (não esperam a vez,
não lêem a pergunta até o final e já respondem, interrompem os outros, agem
antes de pensar). Frequentemente também apresentam dificuldades em se
organizar e planejar aquilo que querem ou precisam fazer.
Seu desempenho escolar sempre parece inferior ao esperado para a sua
capacidade intelectual.
Em contraposição aos sintomas apresentados, portadores de TDAH, quando
se dedicam a fazer algo estimulante ou do seu interesse, conseguem
permanecer mais concentradas e tranquilos. Isto ocorre porque os centros de
prazer no cérebro são ativados e conseguem dar um "reforço" no centro da
atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em níveis normais.
Por esse motivo, Ana Beatriz Barbosa Silva considera que o termo “transtorno
do déficit de atenção” não traduz com justiça o que ocorre com a função da
desatenção no portador de TDAH.
Se por um lado o adulto e a criança TDAs têm profunda
dificuldade em se concentrar em determinado assunto ou
enfrentar situações que sejam obrigatórias, por outro lado
podem se apresentar hiperconcentrados em outros
temas e atividades que lhes despertem interesse
espontâneo ou paixão impulsiva. (SILVA, Ana
Beatriz B., 2009, p. 22)
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Para a autora, o termo déficit de atenção pode levar a um entendimento
incorreto da capacidade atentiva de um TDA, por isso considera mais correto o
termo “instabilidade de atenção.
1.1 SUBTIPOS do TDAH
Critérios Diagnósticos do DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico da
Associação Norte Americana de Psiquiatria - IV Edição) classificam o TDAH
em 3 subtipos: predominantemente desatento, predominantemente
hiperativo/impulsivo e tipo combinado.
Abaixo, listamos os sintomas que compõem o questionário SNAP-IV 2(utilizado
para avaliar crianças e adolescentes), construído a partir dos sintomas do
Manual e Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação
Americana de Psiquiatria. Sua tradução foi feita pelo Grupo de Estudos do
Déficit de Atenção (Geda) da UFRJ e pelo Serviço de Psiquiatria da Infância e
Adolescência da UFRGS.
O critério A para o diagnóstico exige a presença de pelo menos 6 entre nove
sintomas de desatenção (assinalados como “bastante” ou “demais”) para
caracterizar o tipo predominantemente desatento, e pelo menos seis entre nove
sintomas de hiperatividade/impulsividade (assinalados como “bastante” ou
“demais”) para caracterizar o tipo predominantemente hiperativo/impulsivo).
Aqueles que apresentam pelo menos seis sintomas nos dois grupos recebem o
diagnóstico de TDAH tipo combinado.
2 O questionário SNAP-IV está disponibilizado no anexo.
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1.2 Sintomas que compõem o questionário SNAP-IV
1.2.1 Sintomas de desatenção
• Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por
descuido nos trabalhos da escola ou tarefas
Faz atividade na página diferente da solicitada pelo professor; ao fazer
cálculos, não percebe o sinal indicativo das operações; pula questões de testes
e provas.
• Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer
Durante o recreio ou nas aulas não consegue jogar com os colegas ou
quando desiste do jogo antes que ele termine.
• Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele
Está mais preocupado com a hora do recreio do que com a aula em si;
desenha no caderno e não percebe que estão falando com ele.
• Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou
obrigações
Não percebe que a consigna indica um determinado comando e executa de
outra forma; em perguntas seqüenciadas, em geral, respondem apenas uma.
• Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades
Guarda os materiais fotocopiados em pastas trocadas; na véspera de uma
prova resolve fazer uma pesquisa de outra matéria.
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• Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem
esforço mental prolongado
Inicia uma resposta, parágrafo ou frase deixando-a incompleta; desiste da
leitura de um texto ou tarefa só pelo seu tamanho.
• Perde coisas necessárias para atividades (brinquedos, deveres da escola,
lápis ou livros)
Leva uma gravura para a pesquisa em sala e deixa-a no transporte escolar;
perde frequentemente seu material.
• Distrai-se com estímulos externos
Procura saber quem é o aniversariante da outra sala quando escuta o
“parabéns”; envolve-se na conversa paralela de outros colegas.
• É esquecido em atividades do dia-a-dia
Esquece a mochila na escola com todo seu material; não traz as tarefas e
trabalhos a serem entregues no dia.
1.2.2 Sintomas de hiperatividade
• Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira
Pega todos os objetos próximos a si (inclusive os dos colegas); batuca na
mesa durante a aula; escorrega e deita na carteira inúmeras vezes.
• Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que
fique sentado.
Solicita ir ao banheiro ou beber água inúmeras vezes; tem sempre algo a
buscar na mesa dos colegas.
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• Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em
que isto é inapropriado
Diz para o professor que não consegue ficar parado; pula por cima das
carteiras da sala de aula.
• Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma
calma
Não fala, grita; em momentos de jogo, fala o tempo todo; arruma brigas
com os colegas.
• Não para ou frequentemente está a “mil por hora”
Não anda, corre; esbarra frequentemente nos objetos expostos na sala;
derruba os objetos dos colegas.
• Fala em excesso
Emenda uma informação na outra, sem conseguir finalizar, e não deixa que
os outros falem.
• Responde às perguntas de forma precipitada antes delas terem sido
terminadas
Ao ser perguntado sobre o que fez no final de semana, responde o que fez
no recreio; quando o professor faz uma pergunta à turma, interrompe antes que
ele conclua, dando uma resposta.
• Tem dificuldade de esperar sua vez
Não obedece filas; responde perguntas direcionadas a um colega.
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• Interrompe os outros ou se intromete
Interrompe o professor no meio de uma explicação; interrompe a resposta
de um colega com suas próprias colocações.
O questionário SNAP-IV é útil para avaliar apenas o primeiro dos critérios para
se fazer o diagnóstico. Existem outros critérios que também são necessários. O
critério B exige que alguns dos sintomas estejam presentes antes dos 7 anos
de idade. O critério C exige que os prejuízos causados pelos sintomas afetem
pelo menos duas áreas da vida do individuo (na escola, na vida social e em
casa). O critério D exige clara evidência de prejuízo significativo no
funcionamento social, acadêmico ou vocacional .O critério E determina que os
sintomas não possam ser melhor enquadrados por outros distúrbios (de humor,
de ansiedade, de desassociação, de personalidade, dentre outros).
1.3 COMORBIDADES
Comorbidades são outra ou outras patologias que incidem sobre o mesmo
indivíduo, simultaneamente. Pode ser desenvolvida a partir do transtorno
básico, o TDAH, ou desenvolvida paralelamente a este, podendo o indivíduo
ter uma, duas ou mais comorbidades, com graus variados de intensidade.
Segundo o Professor Dr Fábio Barbirato3, as comorbidades em TDAH são
regras e não exceções, pois 51 % dos pacientes infanto-juvenis, portadores de
TDAH, ao chegarem ao consultório, apresentam pelo menos mais um
diagnóstico psiquiátrico
3 Chefe do serviço de psiquiatra infanto-juvenil da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
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Durante o ciclo de vida, pode haver uma variação de comorbidades, com o
desaparecimento de umas e surgimento de outras. E que algumas
comorbidades só surgem em determinadas etapas da vida, como na
adolescência.
Conforme a Dra. Kátia Beatriz Corrêa e Silva4, o portador de TDAH pode
apresentar as seguintes comorbidades:
1.3.1 Comorbidades mais frequentes
1.3.1.1 TDAH com Transtorno Opositivo-Desafiador
O transtorno opositivo-desafiador pode ser definido como um padrão
persistente de comportamentos negativistas, hostis, desafiadores e
desobedientes observados nas interações sociais da criança com adultos e
figuras de autoridade de uma forma geral, como pais e professores.
Os principais sintomas do transtorno desafiador opositivo são: perda frequente
da paciência, discussões com adultos, desafio e recusa a obedecer solicitações
ou regras, perturbação e implicância com as pessoas, podendo responsabilizá-
las por seus erros ou mau comportamento. Seus portadores, normalmente,
aborrecem-se com facilidade e comumente apresentam-se enraivecidos,
irritados, ressentidos, mostrando-se com rancor e com idéias de vingança.
Com uma prevalência estimada de 35% a 65 %, parece mais comum no sexo
masculino. Sua incidência também varia com o tipo clínico, sendo mais
encontrado no tipo predominantemente hiperativo-impulsivo, depois no tipo
combinado e inexistente no predominantemente desatento.
4 Psiquiatra formada pela Faculdade de Medicina da UFRJ.
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1.3.1.2 TDAH com Transtorno de Conduta
Entende-se por "baixa tolerância a frustrações" uma incapacidade em tolerar as
dificuldades existenciais comuns a todas as pessoas que vivem em sociedade,
uma falta de capacidade em lidar com os problemas do cotidiano ou com as
situações onde as coisas não saem de acordo com o desejado. Essa baixa
tolerância a frustrações favorece as crises de irritabilidade, explosões
temperamentais e agressividade exagerada, parecendo, muitas vezes, uma
espécie de comportamento vingativo e desaforado.
Seu portador pode não ter consideração pelos sentimentos alheios, direitos e
bem estar dos outros, faltando-lhe um sentimento apropriado de culpa e
remorso. Normalmente há em seus portadores uma demonstração de
comportamento insensível, podendo ter o hábito de acusar seus companheiros
e tentar culpar qualquer outra pessoa ou circunstância por suas eventuais más
ações.
Com uma prevalência de 20% a 50 % , também parece mais comum no sexo
masculino. Nessa comorbidade, a idade é um fator importante, já que a
incidência aumenta com a idade. A incidência também tem relação com o tipo
clínico, novamente mais comum no predominantemente hiperativo-impulsivo,
pouco no combinado e não encontrado no predominantemente desatento.
1.3.1.3 TDAH com Transtorno de Ansiedade
Caracteriza-se por preocupações exageradas que podem abranger diversas
áreas da vida de seus portadores e pode vir acompanhado de sintomas como
irritabilidade, tensões musculares, perturbações do sono, entre outros.
Costuma causar um comprometimento significativo no funcionamento social da
pessoa, podendo gerar um acentuado sofrimento.
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A prevalência estimada é de 30% a 40 %. Os medos e as preocupações
excessivas dificultam ainda mais a adaptação escolar, social e familiar. Eventos
cotidianos se transformam em causa de grande ansiedade e sofrimento. A
grande preocupação quanto ao seu desempenho escolar, familiar e social e a
excessiva preocupação com o futuro e com situações hipotéticas podem até
confundir o quadro com uma forma de Transtorno Obsessivo - Compulsivo.
1.3.1.4 TDAH com Transtorno de Humor Bipolar
Caracteriza-se pela ocorrrência de episódios de “mania” (caracterizados por
exaltação do humor, euforia, hiperatividade, diminuição da necessidade de
sono, exacerbação da sexualidade e comprometimento da crítica) comumente
alternados com períodos de depressão e de normalidade. Com certa
frequência, os episódios incluem também irritabilidade, agressividade e
incapacidade de controlar adequadamente os impulsos.
Alguns estudos indicariam uma prevalência em torno de até 10 %.
A mania , na infância e adolescência, apresenta quadro atípico. Os sintomas
são mistos, o curso é crônico em vez de episódico, com aumento de
irritabilidade e agressividade, e com explosões de agressividade.
1.3.1.5 TDAH com Transtorno Depressivo
É um problema psicológico caracterizado por diversos sinais e sintomas, dentre
os quais dois são primordiais: humor persistentemente rebaixado,
apresentando-se como tristeza, angústia ou sensação de vazio e redução na
capacidade de sentir satisfação ou vivenciar prazer.
Tem uma prevalência estimada de 15% a 75 % . Os sintomas depressivos
exacerbam as dificuldades inerentes ao TDAH, diminuindo a atenção e a
memória, diminuindo ainda mais o rendimento escolar. Aumenta a sensação de
fracasso e baixa a autoestima, já comprometida pelo TDAH.
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1.3.2 Comorbidades menos frequentes
1.3.2.1 TDAH com Transtorno do Uso de Substâncias
Estima-se que de 6 a 9% das crianças e adolescentes com TDAH teriam
também esse transtorno. A redução de julgamento, a agressividade e a
impulsividade seriam fatores de alto risco para o envolvimento com álcool e
drogas, que poderiam ser utilizados como uma forma de automedicação.
O fator de risco para essa comorbidade não seria o TDAH em si mas outras
comorbidades como o Transtorno de Conduta e o Transtorno de Humor
Bipolar, fatores predisponentes ao abuso de substâncias.
1.3.2.2 TDAH com Transtornos de Aprendizagem
Os transtornos de aprendizagem referem-se a dificuldades na leitura (dislexia),
na capacidade matemática (discalculia) e na escrita (disgrafia ou disortografia).
Seus índices de prevalência são extremamente variados, dependendo dos
critérios estabelecidos. Parece estar mais presente no tipo predominantemente
desatento e traz um comprometimento no funcionamento geral
significativamente maior do que o TDAH sozinho.
1.3.2.3 TDAH com Transtorno de tiques e Tourette
Os tiques são movimentos ou vocalizações que ocorrem subitamente, de
maneira rápida, recorrente, não-rítmica, estereotipada, são involuntários e
podem ser classicamente classificados como tiques motores e vocais. Os
tiques motores normalmente são representados por contrações repetitivas e
rápidas de grupamentos musculares como piscar os olhos, encolher os
ombros, espasmos de pescoço e “fazer caretas”.
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O transtorno de Tourette é considerado o principal transtorno de tique. Os
sintomas têm início entre os 6 e 10 anos de idade, sendo os tiques motores
faciais como piscar de olhos e movimentos do pescoço as principais
manifestações inicialmente observadas.
Estima-se que 60% ou mais das crianças com transtorno de tiques tenha
também TDAH. Entretanto, a prevalência desse transtorno em crianças com
TDAH é bastante pequena.
1.3.2.4 TDAH com Transtorno do Ciclo do Sono
Os portadores deste transtorno apresentam alterações na qualidade do sono,
principalmente as dificuldades em conciliar o sono (pegar no sono), sono
entrecortado ou fragmentado ou sono muito superficial. Não são raros os casos
de indivíduos com esse transtorno que invertem o dia pela noite (acordado a
noite e sonolento de dia).
Apesar de ainda não haver estudos conclusivos sobre o adormecer, o acordar
e o nível de alerta de pacientes com TDAH, os relatos clínicos frequentes
sugerem que problemas depressivos, ligados à baixa autoestima,
comprometem a qualidade do sono dos portadores de TDAH.
1.3.2.5 TDAH com Transtorno Obsessivo–Compulsivo
Manifesta-se sob a forma de alterações do comportamento (rituais ou
compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (obsessões como
dúvidas, preocupações excessivas) e das emoções (medo, desconforto,
aflição, culpa, depressão). Sua característica principal é a presença de
obsessões: pensamentos, imagens ou impulsos que invadem a mente e que
são acompanhados de ansiedade ou desconforto, e das compulsões ou rituais:
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comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, realizados para
reduzir a aflição que acompanha as obsessões.
Alguns autores acreditam que este transtorno faça parte do espectro da
ansiedade, enquanto outros o veem ainda como um transtorno independente e
passível de formar uma comorbidade como TDAH. Outros ainda acreditam que
os sintomas e sinais que surgem sejam apenas reativos (mecanismos de
defesa ou comportamentos compensatórios) ao TDAH e não configurem
propriamente uma comorbidade.
O diagnóstico do TDAH não é dos mais complexos em medicina, pois um
profissional competente, conhecedor dos sintomas desse transtorno.e que
disponibilize um bom tempo para fazer uma boa anamnese, não terá
dificuldades em diagnosticá-lo; contudo, o grande problema encontra-se no
diagnóstico diferencial e no diagnóstico das comorbidades. São os subtipos
combinados às comorbidades que diferenciam cada portador, muitas vezes
dificultando o diagnóstico.
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CAPÍTULO II
PROFESSOR: DA FORMAÇÃO INICIAL À SALA DE AULA
"A maneira como cada um de nós
ensina está diretamente dependente
daquilo que somos como pessoa
quando exercemos o ensino."
(Nóvoa,1992, p.16)
Impossível falar em processo ensino-aprendizagem sem falar da formação do
professor, questões que estão intimamente ligadas.
O que é necessário um professor saber para ensinar? Que saberes devem ser
aprendidos pelos professores em seu processo de formação? Que saberes são
necessários para os professores construírem práticas que possibilitem a
aprendizagem de seus alunos?
Normalmente, pessoas que desejam exercer o magistério a partir do 6º ano do
Ensino Fundamental ingressam no ensino superior com a expectativa de se
formarem professores de Matemática, Língua Portuguesa, Física, Química,
Geografia ou de outros componentes curriculares. Em sua formação, aprendem
de forma mais aprofundada o conteúdo da disciplina que pretendem lecionar,
além de algumas noções básicas de pedagogia e metodologia de ensino. Em
momento algum da formação inicial desse futuro profissional são estudados e
analisados, com a profundidade necessária, o processo ensino-aprendizagem
e a importância do professor para que esse processo seja desenvolvido com
eficácia.
Os futuros docentes devem ser preparados para a arte do ensinar. Podemos
encontrar em diferentes escolas profissionais extremamente habilitados para
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militar em suas respectivas áreas e ainda munidos de profundo conhecimento,
entretanto limitados quando o assunto é a relação professor-aluno e o
desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.
A distância entre os cursos de graduação e de licenciatura, responsáveis pela
formação dos futuros professores, e a realidade da sala de aula imprimiu uma
identidade pedagógica esvaziada de conhecimentos necessários à prática
docente.
Evidencia-se, nesse contexto, a necessidade de se dedicar atenção especial à
orientação dos professores, por meio de cursos de formação que priorizem a
relação teoria-prática, num espaço de construção coletiva de conhecimento,
possibilitando o desenvolvimento de competências necessárias a sua atuação
profissional, com vistas a favorecer o desenvolvimento integral do educando e
o sucesso do processo ensino-aprendizagem.
Se aceitamos a premissa de que o sentido da profissão docente não é ensinar
mas fazer o aluno aprender, supomos que, para que o professor seja
competente nessa tarefa, é importante dominar um conjunto básico de
conhecimentos sobre desenvolvimento e aprendizagem. Esse domínio deve
estar no nível de aplicação dos princípios de aprendizagem no contexto da sala
de aula: compreender as dificuldades dos alunos e trabalhar a partir delas;
contextualizar o ensino de acordo com as representações e conhecimentos
espontâneos dos alunos; perceber as individualidades e lidar com as
diferenças.
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2.1 O aluno padrão
De forma bem simplista, tentaremos explicar o que seria um aluno “padrão” (ou
ideal). Para isso, utilizaremos as palavras de Goffman5: “é o convertido, que
parece aceitar a interpretação oficial da equipe dirigente e procura representar
o papel do internado perfeito (o convertido aceita uma tática disciplinada,
moralista e monocromática, apresentando-se como alguém cujo entusiasmo
pela instituição está sempre à disposição da equipe dirigente)“.
Nas escolas tradicionais, quanto mais o aluno se aproximar desse padrão,
presumivelmente mais colherá privilégios. Isso significa melhor classificação,
melhores conceitos e notas, mais elogios e mais atenção. Quanto mais se
afastar do padrão de “aluno ideal”, maior a possibilidade de ser “castigado”.
Isso significa menores conceitos e notas, repreensões constantes e/ou
medidas restritivas de liberdade, tais como advertências e suspensões.
O aluno padrão é aquele que todo professor gostaria de ter. Se pudéssemos
defini-lo, ele estaria próximo da seguinte descrição: tem a idade compatível
com a série frequentada, tem pais presentes e atenciosos que o orientam na
solução de seus problemas e acompanham as tarefas de casa, é responsável,
fala baixo, ouve os colegas, acata as orientações dos professores, assiste
todas as aulas, tem sempre uma pergunta pertinente sobre o assunto
abordado, faz todas as tarefas, estuda em casa, participa dos trabalhos em
grupo e está sempre disponível para ajudar os que precisam.
No entanto, na maioria das escolas e das salas de aula, o que encontramos
são alunos reais; alunos que nem sempre têm os pais presentes; a mãe, se
5 GOFFMAN, Erving (1987). Manicômios, prisões e conventos (2ªed., D. M. Leite, trad.). São Paulo: Perspectiva, 1990, p.59. ———————————–
28
está empregada, nunca está presente para orientá-lo em suas dúvidas; vai à
escola, na maioria das vezes, porque é obrigado; não presta atenção às aulas;
está sempre com sono; não faz as tarefas de casa; não estuda para as
avaliações; apresenta um quadro de desatenção e/ou hiperatividade. O aluno
real não se importa em "construir um conhecimento acadêmico". Ele nem
sempre sabe para que serve isso. Ele simplesmente vai à escola. Às vezes se
afeiçoa a algum professor, mas sempre gosta muito mais dos amigos. Ele
presta atenção a algumas aulas que despertam seu interesse, mas não se
interessa por assuntos que não dialogam com seu cotidiano.
É claro que toda escola (e todo professor) ficaria imensamente feliz se
contasse com 90% de alunos ideais. Dessa forma, ela poderia continuar se
preocupando somente com o "conteúdo que precisa ser ensinado", com suas
exigências pouco articuladas com a realidade socioafetiva de seus alunos.
Entretanto, a realidade é outra, e as escolas brasileiras e seus professores não
estão preparados para lidar com esses alunos reais.
2.2 O professor e a heterogeneidade em sala de aula
A sala de aula é um espaço coletivo que reúne pessoas diferentes; portanto,
tem como marca a heterogeneidade. Cada aluno é único no que se refere à
estrutura biológica, psicológica e social, história de vida, interesses e
comportamentos, ritmo de evolução e desenvolvimento cognitivo. Em um
mesmo espaço escolar, encontramos alunos e alunas com os mais diferentes
perfis e históricos convivendo diariamente. E essa convivência é que produzirá
a “química” da sala de aula.
Na universidade, são oferecidos diversos saberes aos futuros professores para
que sua formação possa acontecer no melhor nível de qualidade. No entanto,
essa formação inicial não prepara esse futuro professor para lidar com as
29
diferenças; não prepara esse futuro professor para que ele possa conhecer o
desenvolvimento de cada um dos seus alunos em seus múltiplos aspectos:
afetivo, cognitivo, e social nem o prepara para lidar com uma profissão que terá
que ser construída à medida que for articulando seu conhecimento teórico-
acadêmico à cultura escolar em uma constante reflexão sobre a sua prática
docente.
Ao iniciar sua vida profissional, o professor depara-se com uma sala de aula
repleta de alunas e alunos idealizados e seu principal objetivo é ensinar a
esses estudantes os conteúdos estabelecidos por uma grade curricular. Aos
poucos, vai descobrindo que cada aluno tem uma maneira de acomodar as
idéias e assimilar mentalmente os conteúdos, ou seja, descobre que cada
indivíduo constrói significados diferentes para um mesmo conhecimento
compartilhado, e aplica tal conhecimento de forma diferente em novas
situações e contextos.
É na prática da sala de aula que o professor irá descobrir que, para ensinar,
não basta definir objetivos e escolher determinados conteúdos e atividades,
pois os alunos não são todos iguais; são pessoas diferentes e singulares, logo,
reagirão de maneira diferente a cada professor, aos objetivos das aulas, aos
conteúdos, aos métodos de ensino e às formas de avaliação. O professor
descobrirá, portanto, que as características pessoais de cada aluno devem
merecer a sua atenção.
A questão crucial da maioria das escolas é: diante de uma turma com um
grande número de alunos, com um conteúdo programático extenso e com um
calendário letivo a cumprir, o professor consegue dar a cada aluno a atenção
individualizada que ele merece? Não, não consegue. O que acaba sendo
definido é o cumprimento dos conteúdos curriculares a partir de um pretenso
“aluno-padrão”. Desse modo, os conteúdos são desenvolvidos em etapas
30
sucessivas pré-definidas, num tempo predeterminado e idêntico para toda a
turma, desconsiderando as diferenças e ritmos individuais de aprendizagem.
A tendência da maioria das escolas (e de seus professores) é apoiar-se no
discurso do cumprimento dos conteúdos, apenas transmitindo os
conhecimentos curricularmente considerados importantes. Para que ele possa
cumprir tal intento, é mais fácil manter os alunos reprimidos, domesticados, na
vã tentativa de homogeneizá-los. E, com esse fazer pedagógico automático, o
professor perde a grande chance de estabelecer uma relação autêntica com
seus alunos, de conhecer e respeitar as suas individualidades.
2.3 O professor e o aluno desatento
Uma das queixas mais comuns apresentadas pelos educadores quando um
aluno não aprende é a desatenção. Reclamam que se dispersam com
facilidade e sua atenção, geralmente, é atraída por estímulos externos às
explicações de sala de aula.
Por terem a tendência a padronizar a sala de aula, muitos professores
consideram que todos os alunos devem estar o tempo todo atentos às suas
explicações. Aqueles que, por algum motivo, não estão focados no que ele fala
ou ensina em sala de aula, são rotulados como desinteressados.
Certamente, em uma sala de aula, há alunos que não têm interesse pelo
estudo e que só estão ali por obrigação. Mas não podemos confundir
desatenção com desinteresse. Um aluno desatento pode estar muito
interessado na aula, mas não consegue manter-se concentrado por muito
tempo, principalmente em atividades muito longas e repetitivas ou que não
lhes sejam interessantes. O fato de considerar um assunto da aula
desinteressante não significa que o aluno seja desinteressado.
31
Um professor com uma formação tradicional, que desconhece os sintomas de
desatenção e não está atento às individualidades de seus alunos, certamente
achará que a falta de atenção do aluno não é de sua responsabilidade. O
aluno é que desatento. Ele está em sala de aula para prestar atenção. Se,
realmente, o problema existe, é, de fato, o aluno que não estuda, que está
desinteressado e esse não é um problema seu.
Felizmente, há aqueles que reconhecem que esses alunos apresentam uma
dificuldade de aprendizagem originada por uma disfunção e tentam aprender a
lidar com suas diferenças; procuram dar a esses alunos uma atenção
diferenciada, conhecer suas limitações, descobrir como aprendem melhor,
revendo a sua prática de sala de aula.
2.4 O professor e o aluno hiperativo
Com a deturpada ilusão de que pode homogeneizar uma turma de alunos, o
professor terá que conviver com aqueles que não conseguirão se enquadrar
nos moldes por ele desejados ou impostos. Alunos excessivamente inquietos,
agitados, com tendência à agressividade, com dificuldade de aceitar e cumprir
as normas serão um eterno desafio.
O professor chama e ele não ouve e, quando ouve, parece ter muita dificuldade
para se organizar e fazer o que lhe é pedido; frequentemente tem dificuldade
de aceitar em aguardar sua vez nas atividades; interrompe os outros; muda de
assunto de forma recorrente; age impulsivamente. Em geral, a tendência dos
professores é pensar que são crianças mal educadas, com pais ausentes e
sem limites. É possível que essa primeira impressão esteja correta, entretanto
também é possível que elas apresentem alguma disfunção, entre elas o TDAH.
32
Devido ao despreparo dos profissionais para lidar com as diferenças, é mais
fácil rotulá-lo como mal educado e indisciplinado, uma vez que ele não se
adequa ao padrão pedagógico convencional. Dessa forma, esse aluno é
considerado “diferente”, discriminado perante seus colegas, colocado para fora
da sala de aula ou castigado para aprender a ter limites, a comportar-se, sendo
escanteado do processo ensino-aprendizagem.
Embora os docentes sejam capazes de perceber os problemas apresentados
por esses alunos, à maioria faltam os conhecimentos que lhes permitam
identificá-los e compreendê-los para que possam ajudá-los e inseri-los no
processo, dando o encaminhamento adequado a cada caso.
Alguns professores, conscientes dessa falha em sua formação, procuram
buscar informações visando superar os obstáculos que impedem o
desenvolvimento pleno de seus alunos, conseguindo construir um novo olhar
para suas dificuldades.
2.5 Formação do professor pela prática
Alguns teóricos, entre eles Helena Freitas (2002), enfatizam que, em seu
processo profissional, os educadores possuem dois constantes desafios:
reinventar a escola como local de trabalho e reinventar a si mesmo como
pessoas e profissionais da educação. Isso é um indicativo de que os
educadores precisam não apenas colocar em questão o reinventar de suas
práticas educativas, no sentido de repensar suas atitudes, concepções,
métodos e conhecimentos sobre o processo de aprendizagem do discente,
como também reinventar suas relações profissionais que começa com a
observação de sua postura em relação ao outro.
33
Nesse sentido, o educador precisa contextualizar a sua prática docente,
considerando o aluno como um sujeito integral e concreto, historicamente
situado, isto é, um indivíduo que possui a partir da sua história de vida, um
capital cultural (sua bagagem cultural) construído na interação com o meio em
que está inserido, tendo uma identidade que além de individual, é também
coletiva e que o liga a sua classe social de origem.
O professor é um agente ativo e seus conhecimentos contribuem para a
prática pedagógica, porém, para ser um bom professor, ele deve ser produto
da construção e reconstrução de seu conhecimento. Seus saberes devem ser
construídos e reconstruídos a partir de uma reflexão na e sobre a prática. São
os chamados saberes da experiência que, transformados, passam a integrar a
identidade do professor, constituindo-se em elemento fundamental nas práticas
e decisões pedagógicas, sendo, assim, caracterizados como um saber original.
Essa pluralidade de saberes que envolve os saberes da experiência é tida
como central na competência profissional e é oriunda do cotidiano e do meio
vivenciado pelo professor.
Paulo Freire6 assinala que “não há docência sem discência...”, pois “...quem
ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. É essa
interação dialética professor-aluno, aluno-professor que torna a prática
pedagógica um desafio maior e muito mais prazeroso, na qual se passa a
estabelecer vínculos de amizade e respeito muito favoráveis ao processo
ensino-aprendizagem.
O ato de ensinar requer o exercício constante da reflexão crítica sobre as
práticas cotidianas docentes, de forma que também é preciso que se esteja
inserido no processo de formação, a fim de aprimorar os conhecimentos,
6 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Docente. 19º ed., Paz e Terra, São Paulo 1996, p.25.
34
buscar novos saberes, apreender novas estratégias de ensino e os
mecanismos de reflexão. Assim sendo, uma prática docente crítica,
desempenha um movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre
o fazer. Silva (1997), em suas reflexões, questiona e afirma:
agora pergunto: quantos são os professores brasileiros que, ao iniciarem no magistério, efetivamente sabem o que e como ensinar? Quantos são corretamente preparados para analisar as consequências de suas opções e do seu trabalho em uma escola? Quantos têm uma vivência com crianças reais, historicamente situadas? Eu diria que poucos, muito poucos... devido ao caráter excessivamente teórico e livresco dos nossos cursos de preparação e formação de professores. (SILVA, Ezequiel Theodoro da,1997, p.54)
A profissão docente é excessivamente complexa e nenhuma formação
acadêmica esgota a formação necessária à atuação pedagógica. É relevante a
necessidade da formação continuada na prática pedagógica cotidiana, mediada
pela constante reflexão do professor.
A competência docente é, portanto, uma elaboração histórica continuada. Um
eterno processo de desenvolvimento, no qual o educador, no cotidiano do seu
trabalho, no exercício consciente de sua prática social pedagógica, vai
revendo, criticamente, analisando e reorientando sua competência de acordo
com as exigências do trabalho pedagógico e dos seus compromissos sociais,
enquanto cidadão -profissional - educador.
35
CAPÍTULO III
O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR
“É pensando criticamente a prática de
hoje ou de ontem é que se pode
melhorar a próxima prática.”
(FREIRE, Paulo.1996, p.43)
O trabalho do Supervisor escolar influencia diretamente no dia-a-dia de
educadores e alunos. Saber mediar as práticas do professor não é tarefa fácil,
exige do supervisor uma avaliação sistematizada e constante da atuação do
docente, dentre outras questões. Ao supervisor escolar compete fazer a leitura
dos percursos de vida institucionais, provocar a discussão e a negociação de
ideias, promover a reflexão e a aprendizagem em equipe, organizar o
pensamento e a ação do coletivo das pessoas como indivíduos.
Para isso, o supervisor precisa ser um constante pesquisador. É necessário
que ele antecipe conhecimentos para o grupo de professores, lendo muito, não
só sobre conteúdos específicos, mas também livros e diferentes jornais e
revistas. Entre as tarefas do supervisor estão ajudar a elaborar e aplicar o
projeto da escola, dar orientação em questões pedagógicas e, principalmente,
atuar na formação contínua dos professores.
Franco7 (2003) diz que o supervisor escolar é aquela pessoa que sabe ver
além das evidências do cotidiano, colocando-se em diferentes ângulos para ver
várias e muitas faces da realidade da educação, procurando estudá-las,
confrontá-las e aprofundá-las pelo estudo, pelo diálogo, num processo de ação-
7 FRANCO, Francisco Carlos. O Coordenador Pedagógico e o Professor Iniciante. In.: BRUNO, E. B.G; ALMEIDA, L. R.; CHRISTOV, L. H. S. O Coordenador Pedagogico e a Formação Docente. 4a. Ed. São Paulo: Loyola, 2003.
36
reflexão que alimenta continuamente a caminhada de toda a comunidade
educativa, em vista da construção de pessoas-sujeitos da própria história.
O supervisor é aquele que faz a transposição da teoria para a prática escolar,
reflete sobre o trabalho em sala de aula, estuda e usa as teorias para
fundamentar o fazer e o pensar dos docentes. É imperioso que esse
profissional da educação contribua decisiva e decididamente para melhor fluir
os projetos propostos para a resolução de problemas e enfrentamentos de
desafios na escola.
3.1 O supervisor escolar e a formação continuada dos professores
Como foi citado no capítulo anterior, o pouco preparo didático-pedagógico e o
pouco e tardio contato com a dinâmica escolar que as licenciaturas, em geral,
vem oferecendo, não proporciona aos professores o conhecimento necessário
para lidar com as questões do cotidiano de sala de aula.
Outrossim, existem professores com muita experiência em sala de aula que
possuem pensamentos cristalizados sobre a aprendizagem o comportamento
dos alunos. Acreditam que sua única função é ensinar, e a única função do
aluno é aprender. Se essa premissa não é alcançada (ensinar/aprender),
presumem que a culpa é do aluno e de sua família, não admitindo que também
possuem responsabilidade sobre o processo ensino-aprendizagem.
Em qualquer profissão, o desenvolvimento profissional corresponde ao curso
superior somado ao conhecimento acumulado ao longo da vida. Uma boa
formação inicial é necessária, mas não basta. É essencial atualizar-se sempre,
e isso remete à necessidade da formação continuada no processo da atuação
profissional, ou seja, há a necessidade da construção constante do saber.
37
Nóvoa (2002, p. 23) diz que: “O aprender contínuo é essencial se concentra em
dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de
crescimento profissional permanente.” Para esse estudioso português, a
formação continuada se dá de maneira coletiva e depende da experiência e da
reflexão como instrumentos contínuos de análise.
Donald Schön8, idealizador do conceito de Professor Prático-Reflexivo,
percebeu que em várias profissões, não apenas na prática docente, existem
situações conflitantes, desafiantes, em que a aplicação de técnicas
convencionais simplesmente não resolvem problemas. Schön (1997, p. 87) diz
que “ (...) os responsáveis escolares que queiram encorajar os professores a
tornarem-se profissionais reflexivos devem criar espaços de liberdade tranquila
onde a reflexão seja possível.”
É papel do supervisor escolar proporcionar esses espaços aos professores
(novos e antigos) num processo constante de formação continuada, criando
momentos de estudo e compartilhamento de ideias, buscando uma reflexão
sobre a prática a fim de direcioná-la segundo a realidade dos alunos, voltada
aos seus interesses e necessidades.
3.2 A formação dos professores para lidar com o TDAH
Há alguns anos, muito se tem ouvido falar em TDAH, mas poucos profissionais
da área da educação conhecem verdadeiramente as dificuldades relacionadas
à desatenção, hiperatividade e impulsividade vivenciadas por alguns alunos.
Abordar esse assunto com professores tem sido uma atividade desafiadora,
8 Donald Schön (Boston, 1930/1997) foi um pedagogo estadunidense que estudou sobre a reflexão na educação.
38
seja por desconhecimento do problema ou pela descrença de que ele
realmente exista.
Quando o assunto TDAH é abordado em reuniões e conselhos de classe, as
colocações da maioria dos professores variam desde a rotulação de alunos
como mal educados ao fato de a escola não oferecer condições positivas para
lidar com esses alunos em sala de aula. Afirmam que, quando os alunos
desejam, fazem; que não param quietos, no entanto ficam horas e horas na
frente do computador ou tocando um instrumento; não decoram a tabuada,
mas sabem cantar uma música inteira. Alguns reclamam que esses alunos não
respeitam regras e contratos disciplinares, porém sabem todas as regras do
futebol. Alegam que a criança é inteligente para algumas coisas e muito ágeis
mentalmente para tudo que lhes interessa, menos para os estudos.
O despreparo dos docentes para lidar com alunos TDAH e com os conflitos que
surgem nas salas de aula é assustador pois, como esses estudantes têm
dificuldade para se adequar ao padrão pedagógico convencional, apresentam
muitas dificuldades de aprendizagem, e, como os professores têm muita
dificuldade para lidar com alunos que não são considerados“ padrão”, os
portadores de TDAH não recebem a atenção diferenciada que merecem e são,
muitas vezes, reprovados.
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - 9394/96 dedica um
capítulo específico à educação especial, deixando bem claro o papel e as
obrigações das instituições sobre a adequação do ensino aos alunos com
necessidades especiais, entre as quais poderíamos incluir o TDAH, embora
esse transtorno não seja citado.
No artigo 59, é exposto:
39
Os sistemas de ensino asseguram aos alunos com necessidades especiais:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos,
para atender suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não poderão alcançar o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas
deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar
para superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior,
para atenção especializada, e professores do ensino regular capacitados para a
integração desses alunos nas salas comuns.
Na maioria das vezes, a prática demonstra que o sistema educacional ainda
está bastante estratificado, e os professores encontram dificuldades, algumas
insuperáveis, para fazer as adaptações que são necessárias para atender ao
aluno com TDAH.
Diante das dificuldades encontradas pelos professores, que não sabem lidar
com os alunos portadores de TDAH, percebe-se a necessidade de desenvolver
maiores estudos para a compreensão do assunto e com isso propor novos
programas de ação buscando uma formação de alta qualidade para que possam
atender aos alunos com TDAH, uma vez que necessitam de atenção especial
por apresentarem um grande déficit de atenção ou não conseguirem concentrar
sua atenção nas aulas para poderem compreender os conteúdos ensinados.
Através de um processo de reflexão, mudanças precisam acontecer para dar
origem a uma nova maneira de pensar e fazer educação, dando respostas à
voz das necessidades de todos os alunos. O professor precisa estar preparado
40
para levar em conta os desejos dos alunos e não os rótulos sobre eles; precisa
estar preparado para enxergar suas potencialidades e capacidades e não
somente suas dificuldades. Não é um processo para negar suas diferenças,
mas respeitá-las e dar a cada uma delas a devida atenção.
Não há mais espaço nas escolas para professores “engessados”, que não
refletem sobre sua prática. O professor deve estar em um constante processo
de reflexão e de formação continuada, trocando experiências e ideias,
discutindo com seus pares assuntos referentes à prática escolar, fazendo
leituras e análises que favoreçam o seu crescimento profissional e a inclusão
de todos os alunos no processo ensino-aprendizagem.
Conhecer os sintomas e aprender a lidar com alunos portadores de TDAH é
uma obrigação de qualquer professor que não queira causar danos a seus
alunos. Alunos com TDAH já se sentem diferentes, inadequados e, geralmente,
apresentam baixa autoestima. Precisam de professores que os respeitem e os
estimulem, não de professores que reforcem seu sentimento de inadequação.
3.3 Como orientar o professor para lidar com alunos TDAH
O professor precisa ser orientado a criar uma abordagem inclusiva na sala de
aula, com um novo olhar sobre as diferenças, rompendo gradualmente com
suas práticas pedagógicas homogêneas. É preciso que constantemente sejam
realizadas reuniões para informação, leituras e discussões sobre a melhor
forma de lidar com alunos TDAH e para que o professor tome ciência de que
alunos portadores de TDAH precisam e têm direito a um atendimento
diferenciado.
41
Listamos abaixo algumas orientações que devem ser dadas pelo supervisor
escolar aos professores, para que possam atuar com mais eficácia no processo
de aprendizagem de alunos portadores de TDAH.
• Conhecer o que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade;
• Estabelecer contato contínuo com a família desses estudantes. Elaborar
relatórios mensais a respeito do comportamento desse aluno, quais
estratégias utilizadas em sala de aula, quais estão dando resultado e
qual comportamento está sendo mais prejudicial a seu desenvolvimento;
• Colocar no quadro o planejamento da aula, para o aluno saber o que vai
acontecer. Falar frequentemente em voz alta o que vai acontecer
durante sua aula, para que ele possa se organizar;
• Ajudar o aluno a se organizar. O aluno desatento e/ou hiperativo não
consegue priorizar as tarefas necessárias para realizar uma atividade
mais complexa;
• Estabelecer regras e limites. Colocar para todos os alunos qual é o
comportamento esperado em sala de aula ou em outras atividades e
cobre de toda turma tal comportamento;
• Procurar oferecer recompensas e incentivos, ao invés de punições. Isso
evitará que o aluno encare a escola como um local no qual sempre é
punido e nunca recompensado;
• Ser tolerante e procurar ignorar maus comportamentos leves,
principalmente quando o aluno faz uso deste comportamento para
chamar a atenção do professor;
• Recorrer somente em último caso a punições mais severas, tais como a
retirada de sala e advertências por escrito;
• Reforçar a autoestima dos alunos TDAH. Alunos desatentos e/ou
hiperativos necessitam de elogios, encorajamento e estímulos para a
realização de atividades que se acham incapazes de realizar;
42
• Quando perceber que o aluno apresenta dificuldade de interpretação:
ü Estimulá-lo a ler o texto em voz alta e resumir cada parágrafo lido
para si mesmo;
ü Incentivá-lo a sublinhar ou usar marca-texto para os tópicos mais
importantes;
ü Orientá-lo a ler o texto em voz alta e gravá-lo, para ouvir depois.
• Reforçar os conteúdos ensinados para esses alunos, através de
repetições e exercícios escritos;
• Simplificar as instruções. Falar de forma fácil de ser compreendido;
• Manter a rotina da sala de aula de forma estruturada. Quando ocorrerem
mudanças, o aluno deverá ser devidamente preparadopara que isso não
lhe cause uma agitação desnecessária;
• Utilizar estímulos visuais: mapas, esquemas, filmes, computador, dentre
outros. Eles causam efeito positivo para muitos alunos;
• Evitar enunciados complexos em exercícios e avaliações. Começar com
questões mais simples, para que o aluno se sinta motivado a responder;
• Avaliar, com o aluno, a qualidade de seu trabalho. Parabenizar os
pequenos acertos e reforçar que de uma próxima vez será ainda melhor;
• Colocar o aluno próximo ao professor. Sentar próximo ao professor ou
ao quadro ajuda o aluno a prestar mais atenção e também permite que o
professor monitore mais de perto os momentos de distração e possa
intervir para que o aluno retorne a atenção à atividade proposta;
• Permitir que o aluno se movimente em sala de aula das seguintes
formas: apagando o quadro, indo ao banheiro, recolhendo trabalhos dos
colegas, dando recados, e assim por diante. Isso irá ajudá-lo a se sentir
menos agitado;
43
• Intercalar tarefas passivas ou pouco interessantes com tarefas ativas ou
de grande interesse, otimizando a atenção e a concentração;
• Permitir e incentivar a participação ativa de alunos TDAH durante as
aulas. Chamá-lo pelo nome, fazer-lhe perguntas diretamente. Quando
chamar a atenção do aluno para si, tente “olhar em seus olhos”;
• Permitir que alunos TDAH realizem as avaliações (testes e provas) em
locais calmos, livres de distrações. O tempo para a realização das
avaliações também deve maior que o dos demais alunos. O aluno TDAH
perde tanto tempo se distraindo que não consegue tempo suficiente para
responder aquilo que sabe e acaba ficando muito ansioso com o tempo
que lhe resta para concluir a avaliação;
• Quando o aluno apresentar dificuldades de escrita (disgrafia ou
disortografia), permitir o uso de teclados e do dicionário, fazer ditados,
aplicar avaliações orais;
• Procurar ser agradável ao aluno, criando um vínculo. Alunos TDAH têm
mais facilidade para aprender quando gostam do professor;
• Evitar os rótulos. Não fazer uso de apelidos nem chamar a atenção do
aluno na frente de seus colegas. Chamá-lo em separado e falar para ele
o que está inadequado em seu comportamento;
• Usar sempre a agenda (ou outro recurso) para comunicar-se com os
pais ou responsáveis e outros profissionais que lidam com o aluno
TDAH;
• Procurar manter os alunos motivados. Quando a motivação é maior, o
nível de concentração também aumenta;
• Evitar o confronto direto. Portadores de TDAH nem sempre atendem
demonstrações de autoridade, portanto é necessário criar um ambiente
acolhedor caso contrário irão tornar-se mais teimosos.
• Lembrar-se sempre que o mais importante é garantir a aprendizagem
dos alunos TDAH.
44
3.4 A parceria com profissionais externos à instituição escolar
Mesmo que a escola (e seus professores) passe a se preocupar com os
problemas de aprendizagem de alunos portadores de TDAH e atue na tentativa
de minimizá-los, nunca conseguirá abarcá-los na sua totalidade. Alguns alunos
com problemas escolares apresentam um padrão de comportamento mais
comprometido e necessitam de um atendimento mais especializado.
Quando é percebido que um aluno apresenta sintomas de desatenção e/ou
hiperatividade que comprometem a sua aprendizagem, o melhor procedimento
é encaminhá-lo para uma avaliação diagnóstica, que comprovará ou não algum
tipo de transtorno. Uma vez diagnosticado o TDAH, faz-se necessário um
acompanhamento profissional para que esse aluno possa aprender a lidar com
suas dificuldades. Muitas vezes, esse acompanhamento é feito por uma equipe
multidisciplinar devido a uma grande gama de questões envolvidas (TDAH e
suas comorbidades): psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo, psiquiatra,
neurologista, neuropediatra ou pediatra.
É preciso que a escola, através de seus coordenadores pedagógicos,
estabeleça contatos constantes com esses profissionais para que, através de
uma parceria, possam oferecer melhor auxílio aos alunos portadores de TDAH.
Esta parceria contribuirá não só para a melhoria das condições do processo
ensino-aprendizagem bem como para a prevenção de futuros problemas de
aprendizagem de alunos portadores de TDAH.
45
3.5 A parceria com a família
É muito comum a queixa dos pais denunciando estarem exaustos com a rotina
estressante que seu filho TDAH lhes impõem. Discorrem sobre as várias
estratégias já tentadas com o objetivo de atendê-los em suas necessidades e
agitação, na maioria das vezes ineficazes. Aparece o discurso de que seus
filhos são inteligentes, que quando lhes interessa prestam atenção, que eles
aprendem só o que não é para aprender, que eles esquecem as matérias da
escola, mas lembram com detalhes as regras de um game. Enfim, evidencia-se
a dúvida em relação ao TDAH por entenderem que, se tivessem esse
transtorno, teriam de ser menos inteligentes e menos competentes de forma
geral.
Por esse motivo, é muito importante que todos os envolvidos nesse processo
se reúnam para conversar sobre as crianças ou adolescentes TDAH: a família,
os professores e coordenadores pedagógicos da escola e os profissionais que
atendem a criança, para que seja traçadoa, para cada caso, uma linha de ação
em termos de responsabilidades da escola, da família e dos profissionais que
lidam com a criança. O que deve permear essa reunião é a coerência entre as
diferentes propostas e possibilidades concretas de se realizar o que se propõe.
A escola assume o papel pedagógico do processo, no entanto, deve ser
respaldada pelos profissionais que atendem a criança e validado pelos pais. Os
pais montam estratégias domésticas, orientados pelos profissionais e validados
pelos professores da escola. E os profissionais traçam objetivos que atendam
às demandas dos pais e da escola. Todos devem se reunir sistematicamente
para avaliar a evolução e reprogramar estratégias.
Para cada criança ou adolescente deve-se estabelecer uma estratégia
diferente que esteja em consonância com os objetivos e queixas dos pais e
professores. Com isso, queremos dizer que não existe receita e nem uma
46
proposta única, mas uma forma de entender e atender a cada um dos alunos
individualmente.
Se o grande objetivo da escola e da educação é construir sujeitos aprendizes,
autores de sua vida, aptos para novas aprendizagens e para enfrentarem suas
dificuldades, é preciso que sejam construídas posturas de parceria de modo
que todos se voltem ao ajustamento de procedimentos que viabilizem o
desempenho acadêmico e social das crianças e adolescentes que apresentem
dificuldades com sua aprendizagem.
47
CONCLUSÃO
Apesar de afetar um grande número de crianças e adolescentes em idade
escolar, o TDAH continua sendo muito pouco conhecido por profissionais da
área de educação e ignorado por muitos professores. A desinformação é o
principal desafio a ser vencido, uma vez que o portador de TDAH precisa
receber um outro olhar da escola e um acompanhamento especial.
O supervisor escolar, dentre suas funções específicas, precisa proporcionar
aos professores um processo de formação continuada para que se aprofundem
no universo do TDAH. É preciso conhecer para que se possa aplicar uma ação
didático-pedagógica direcionada para esses alunos, visando estimular sua
aprendizagem e levantar sua autoestima.
Os portadores desse transtorno precisam ser incluídos e não apenas inseridos
na sala de aula. Sem informação, não existe inclusão, nem para os portadores
nem para quem por ignorância os rejeita. É necessária a transformação do
espaço escolar para que alunos portadores de TDAH possam ser entendidos e
atendidos com qualidade. É preciso que a escola, como instituição, viabilize
formas de atendimento diferenciado a esses alunos. O grande desafio se
constituiu na formação e capacitação de toda a comunidade escolar,
principalmente dos professores, para atuarem com alunos portadores de TDAH
de forma inclusiva.
Todo aluno merece atenção, mas o portador de TDAH deve merecer uma
atenção especial para que seu mundo, cheio de rótulos e estigmas, repleto de
sentimentos de inadequação, possa ter um colorido especial. Juntos, escola,
professores, família, psicólogos, psicopedagogos e/ou fonoaudiólogos, com
48
uma proposta de parceria, podem contribuir para que a vida desses alunos
possa ter um outro sentido.
49
ANEXO
QUESTIONÁRIO SNAP-IV9
Para cada item, escolha a coluna que melhor descreve o(a) aluno(a) (MARQUE UM X):
Nem um
pouco
Só um pouco Bastante Demais
1. Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas.
2. Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer
3. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele
4. Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações.
5. Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades
6. Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado.
7. Perde coisas necessárias para atividades (p. ex: brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros).
8. Distrai-se com estímulos externos
9. É esquecido em atividades do dia-a-dia
10. Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira
11. Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado
9 Retirado de: http://www.tdah.org.br/diag01.php
50
12. Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado
13. Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma
14. Não para ou frequentemente está a “mil por hora”.
15. Fala em excesso.
16. Responde as perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas
17. Tem dificuldade de esperar sua vez
18. Interrompe os outros ou se intromete (p.ex. mete-se nas conversas / jogos).
51
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1. SILVA, Kátia Beatriz Corrêa.TDAH e suas comorbidades.
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55
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I 11
O que é TDAH? 11
1.1 SUBTIPOS do TDAH 14
1.2 Sintomas que compõem o questionário SNAP-IV 15
1.2.1 Sintomas de desatenção 15
1.2.2 Sintomas de hiperatividade 16
1.3 COMORBIDADES 18
1.3.1 Comorbidades mais frequentes 19
1.3.1.1 TDAH com Transtorno Opositivo-Desafiador 19
1.3.1.2 TDAH com Transtorno de Conduta 19
1.3.1.3 TDAH com Transtorno de Ansiedade 20
1.3.1.4 TDAH com Transtorno de Humor Bipolar 21
1.3.1.5 TDAH com Transtorno Depressivo 21
1.3.2 Comorbidades menos frequentes 22
1.3.2.1 TDAH com Transtorno do Uso de Substâncias 22
1.3.2.2 TDAH com Transtornos de Aprendizagem 22
1.3.2.3 TDAH com Transtorno de tiques e Tourette 22
1.3.2.4 TDAH com Transtorno do Ciclo do Sono 23
1.3.2.5 TDAH com Transtorno Obsessivo–Compulsivo 23
CAPÍTULO II 25
56
PROFESSOR: DA FORMAÇÃO INICIAL À SALA DE AULA 25
2.1 O aluno padrão 27
2.2 O professor e a heterogeneidade em sala de aula 28
2.3 O professor e o aluno desatento 30
2.4 O professor e o aluno hiperativo 31
2.5 Formação do professor pela prática 32
CAPÍTULO III 35
O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR 35
3.1 O supervisor escolar e a formação continuada dos professores 36
3.2 A formação dos professores para lidar com o TDAH 37
3.3 Como orientar o professor para lidar com alunos TDAH 40
3.4 A parceria com profissionais externos à instituição escolar 44
3.5 A parceria com a família 45
CONCLUSÃO 47
ANEXO 49
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 51
WEBGRAFIA CONSULTADA 52
BIBLIOGRAFIA CITADA 53
WEBGRAFIA CITADA 54
ÍNDICE 55