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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM Recursos lúdicos em psicopedagogia, brincando e aprendendo. Por: Patricia Micheli dos S. Brito Orientador Prof. ª Simone Ferreira Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

Recursos lúdicos em psicopedagogia, brincando e

aprendendo.

Por: Patricia Micheli dos S. Brito

Orientador

Prof. ª Simone Ferreira

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

RECURSOS LÚDICOS EM PSICOPEDAGOGIA, BRINCANDO E

APRENDENDO

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes, como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicopedagogia Institucional.

Por: Patricia M. S. Brito

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AGRADECIMENTOS

Aos que sempre me incentivaram e

possibilitaram o acontecimento deste artigo,

meu marido Luiz Antonio e meus clientes,

crianças que me possibilitaram e

possibilitam a oportunidade de aprender

com elas...

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos que acreditam ser

possível aprender com prazer, porque “Todas

as pessoas grandes já foram crianças um dia...”

O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-

Exupéry).

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RESUMO

Considerando a importância do recurso lúdico na aprendizagem, este trabalho tem como

objetivo, favorecer o olhar de quem se interessa por investigar qual a eficácia do lúdico

no pleno desenvolvimento das potencialidades criativas das crianças para seu

desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e motor. Serão abordados Vygotsky, Paulo

Freire e Piaget, em suas vidas e obras respectivas como forma de contextualização e

embasamento, com o objetivo situar o leitor no tema. Uma pesquisa respalda o

argumento de que é possível brincar e aprender.

Cabe ao educador a tarefa de intervir de forma adequada, sem tolher a criatividade da

criança. Para demonstrar esse possível, a psicopedagogia será situada em sua história e

contexto revelando-se como área interdisciplinar e pluricausal.

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METODOLOGIA

Com o intuito de enriquecer e fundamentar este trabalho, foram feitas pesquisas

bibliográficas, pesquisas em sites especializados e trabalhos acadêmicos relativos tema,

bem como observação livre de crianças da faixa etária entre 4 a 12 anos de idade, em

um projeto Social e em consultório, tendo como referencial teórico e forma de

embasamento as obras dos autores Lev S. Vygotsky, Paulo Reglus Neves Freire e Jean

William Fritz Piaget.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

Capitulo I 12

- Brincando e aprendendo.

Capitulo II 22

- Indo até onde o outro está aprendendo a ensinar .

Capitulo III 32

- Traçando planejamento de ensinagem de acordo com cada fase.

-Conclusão 38

Bibliografia Consultada 40

Webgrafia 42

Índice 44

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INTRODUÇÃO

Como através da brincadeira a criança pode conseguir adquirir conhecimento, superar

limitações e desenvolver-se como indivíduo?

Este trabalho tem o desejo de esclarecer sobre a importância do lúdico para o

desenvolvimento cognitivo, motor, psicológico e social da criança dentro do olhar da

psicopedagogia. Tem como objetivo principal demonstrar o quanto as atividades lúdicas

como jogos , brincadeiras com simulações de situações imaginárias da realidade, as

dinâmicas, e contos e estórias, podem ser usados no planejamento de ensinagem como

estratégia didática.

Contudo antes, se faz necessária uma breve contextualização da história da infância,

pois ela nem sempre na cultura ocidental, foi assim, nos moldes que a conhecemos na

atualidade.

Para que se possa entender a aprendizagem infantil, os autores Lev S. Vygotsky, Paulo

Reglus Neves Freire e Jean William Fritz Piaget, e suas respectivas obras, serão citados

como forma de embasamento, bem como uma breve contextualização de suas vidas para

que haja o entendimento do motivo da escolha de suas obras. Sustenta-se desta forma a

principal idéia do artigo de que “Aprender brincando” é parte de um processo natural da

infância e, portanto essencial.

No capitulo I, “Brincando e aprendendo”, a infância, e a teoria de Vygotsky bem como

seu histórico estarão em pauta.

Segundo Vygotsky, a visão de que o brinquedo é algo que somente dá prazer à criança

é uma definição muito restrita, pois para ele o brinquedo preenche necessidades. O

brincar é entendido pelas crianças como aquilo que é motivo para a ação e neste

processo ocorre maturação. O Educador ainda exemplifica essa situação com o início da

fase pré-escolar, fase em que a criança tendo desejos que não podem ser imediatamente

satisfeitos e ainda com as características e tendências para a satisfação imediata,

consegue resolver suas tensões no lúdico. Ao imitar aprende a interagir com a realidade

contextual.

Usando os signos icônicos, a criança realiza o jogo simbólico. Usando os signos

simbólicos e lingüísticos dos textos e da matemática nas histórias, ditados, contos e

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jogos, a criança aprende com prazer e desenvolve criatividade, trabalha a cognição, a

emoção, a lógica e a socialização. (VYGOTSKY 2000)

O educador e pesquisador Lev S. Vygotsky, em sua Teoria da Interação, fala sobre o

método de aprendizagem em crianças que se encontram na “zona de desenvolvimento

proximal”. 1

A psicopedagogia em suas várias nuances, ensina que o caminho lúdico de ensinagem

engloba todas as esferas, ou seja, a emocional, cognitiva, motor e social.

E ao seguir por este viés pretende-se neste trabalho esclarecer o quanto é importante ir

onde o outro está, para que assim se possa alcançar este outro, alcançando objetivos

pedagógicos com as crianças.

No capitulo II, fala um pouco sobre como ir onde se encontra o aprendiz, “indo até onde

o outro está aprendendo a ensinar”. Faz uma breve contextualização do educador Paulo

Reglus Neves Freire e embasa alguns argumentos em sua teoria.

A ensinagem tendo o método lúdico de apoio, como por exemplo: Jogos, brincadeiras,

dinâmicas e contos, equivalem ao ato de ir aonde a criança se encontra. 2Paulo Freire coloca que os educadores devem conhecer seus alunos, e, portanto não

podem desconsiderar os seus saberes.

No seu livro Pedagogia da autonomia, ao abordar os saberes de grupos populares e a

realidade histórico-político-social vivida por estes, entende que o processo de

ensinagem deve estender-se para até realidade dos mesmos, entendendo como estes

entendem. Para Freire tudo e todos estão inseridos num ciclo de aprendizagem.

Ao partir da premissa que diz que se deve aprender a ensinar, Freire entende que a

maneira como o outro aprende é algo a ser aprendido e respeitado por quem se propõe a

ensinar.

Desta forma, ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. Os recursos lúdicos

parecem respeitar esses saberes no que se refere à infância, porque se propõem a

auxiliar a criança em cada fase de seu desenvolvimento.

A ensinagem tendo o método lúdico de apoio, como por exemplo: Jogos, brincadeiras,

dinâmicas e contos, equivalem ao ato de ir aonde a criança se encontra.

1 http://stoa.usp.br/podo/files/672/3522/Aula+7+-+A+Teoria+S%C3%B3cio-Cultural+da+Aprendizagem+e+do+ensino.pdf 2 FREIRE, PAULO - Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 31º Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005

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Os recursos lúdicos em psicopedagogia vão trabalhar a intuição, as emoções, a

capacidade de conjecturar, de comparar, a expressividade, a socialização, afetividade e

aprendizagem, como dialógica a linguagem lúdica então se revela aberta, promovendo a

curiosidade por ser indagadora. Ao educador, cabe a tarefa de intervir de forma

adequada, cuidando para não tolher a criatividade.

Capitulo III- “Traçando planejamento de ensinagem de acordo com cada fase”, será

Jean William Fritz Piaget, estará em pauta, tendo necessariamente também seu contexto

histórico e sua teoria como fundo de cena, embasando o objetivo do artigo.

O exercício da curiosidade na criança convoca a imaginação, a esfera de articulação

desta com o meio. Mas para isso é necessário traçar planos e planejamento de

ensinagem.

A escolha do lúdico abre uma pluralidade de possíveis na aprendizagem, pois se utiliza

do empírico para ajudar a criança através de ensaios, (esta em seu próprio modo de ser,

por conta de sua característica de descobrir o mundo), a se desenvolver dentro de sua

capacidade e estágio. Lançando mão tanto dos esquemas prévios quanto da articulação

com o meio.

Na 3Teoria Cognitiva de Jean Piaget, se pode ver de maneira diversificada a importância

e uso da criatividade a partir do empírico, e isso, “independente do material”, pois a

natureza imaginativa, criativa da criança permite essa exploração. A criança então vai

fazendo pontes entre a realidade objetiva e sua realidade subjetiva.

Piaget através da observação dos seus próprios filhos e de outras crianças, durante as

suas brincadeiras e atividades, pode verificar através de aplicação de testes, que o

desenvolvimento do pensamento e da linguagem na criança se realiza por períodos ou

fases, bem definidas. Sendo as seguintes fases: 1º Período – Sensório Motor, 2º Período

– Pré-Operatório, 3º Período – Operatório Concreto, 4º Período e última fase –

Operatório Formal. O que torna os jogos e as brincadeiras importantes ferramentas para

reconhecer em que estágio se encontra a criança.

Ao considerar a importância do recurso lúdico na aprendizagem psicopedagógica, este

trabalho, portanto tem intenção de favorecer o olhar de quem se interessa por investigar

qual a eficácia do lúdico no pleno desenvolvimento das potencialidades criativas das

crianças.

3 PIAJET, JEAN - A Linguagem e o Pensamento na Criança

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Terminando com as considerações finais sobre todo assunto abordado, e com uma breve

contextualização da história da psicopedagogia e suas contribuições ao ensino lúdico.

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CAPITULO I - Brincando e aprendendo.

1.1- Um breve histórico sobre o conceito de infância.

Segundo Philippe Áries, no texto “História Social da Infância e da Família na Idade

Média, a criança era vista como um adulto em miniatura e após os seis a sete anos a

infância terminava, período em que a criança era desmamada. Por tanto a infância era

uma fase curta e não existia no sentido que a concebemos atualmente, com todas as suas

peculiaridades, como carente de cuidados, imatura a dependente dos adultos. A

adolescência não existia. Após o desmame a criança passava a conviver definitivamente

com os adultos, acompanhando-os e imitando estes em todas as suas atividades como:

trabalho, ambientes noturnos, bares etc. Por conta dessa indefinição do que vinha a ser a

criança não se pensava e nem se fazia um trabalho pedagógico diferenciado de acordo

com cada faixa etária. A estrutura institucional educativa tal qual conhecemos hoje não

cabia no modelo social da época. Portanto o conceito de escolas como conhecemos

atualmente não existia. O que existia eram apenas salas de estudo livres, que eram

freqüentadas por qualquer pessoa do gênero masculino que necessitasse aprender a ler e

escrever, fato que trazia como conseqüência, a lotação das classes. Nestas classes

estudavam pessoas de qualquer nível social, pois nessa época não se fazia distinção

entre o nível social, desta forma as classes chegavam a ter até 200 alunos. O convívio

entre as classes sociais era normal em qualquer lugar da sociedade.

As meninas geralmente eram educadas nas casas em que moravam, sendo instruídas

por seus pais ou responsáveis quando não eram trocadas entre as famílias para

aprenderem a ser donas de casa até que casassem, por volta dos 13 a 14 anos, não indo

para essas salas de estudo. Era cultural mandar os filhos para casa de amigos como

estratégia educacional, fossem esses amigos nobres ou com a função de mestres, tendo

como finalidade que os filhos aprendessem a serem adultos. Esse costume se justificava

pela crença de que os filhos precisavam aprender a prática das funções desses adultos,

sendo comum o envio de filhos para outra família cuidar e era sendo normal que eles

morassem em outras casas até os 18 anos.

Como prática educacional desse modelo de sociedade, alguns afazeres eram sempre

delegados e executados por aprendizes crianças, de modo que nem mesmo os

empregados da casa os desempenhavam, como, por exemplo, servir à mesa.

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Conforme Áries foi só no final do século XV e início do XVI, que começou a haver

efetivamente uma cobrança na sociedade com relação aos cuidados com a criança e com

a necessidade dos pais em desenvolver a afetividade pelos filhos. Assim através de

processo social lento os conceitos começam a mudar, e as crianças adquiriram o direito

de estarem mais próximas de seus pais. Em conseqüência dessas mudanças

paradigmáticas as escolas populares tornaram-se mais comum, abrindo espaço para que

muitos meninos as freqüentassem. Nesta fase passou-se a se fazer um trabalho

pedagógico diferenciado do processo anterior, com classes separadas por idades.

Áries nos mostra que estas escolas por ainda estarem num processo evolutivo e não

possuírem uma estrutura com objetivos bem definidos, eram muito rígidas e não havia

preocupação com a formação integral das crianças, tendo seu foco apenas na educação

para a moral e bons costumes, a fim de que pudessem ser bons trabalhadores. De inicio

criou-se os internatos, ou os alunos moravam em pensionatos e freqüentavam as

escolas, mas, com o decorrer do tempo, as famílias passaram a sentir a necessidade de

estarem mais próximas de seus filhos, dando origem, por conseguinte, aos externatos.

Teresinha Costa em seu livro “Psicanálise com crianças” (2007), vem mostrar que foi

com a ascensão do capitalismo e seus ideais que os valores individuais ganharam mais

importância. A partir desta noção da individualidade é que criança passa a ser vista

como uma forma de investimento, pois é tida como potencial de mão de obra para

produção à longo prazo, o que é muito lucrativo para o Estado. Assim são inseridos na

sociedade valores e leis que dizem que se deve preparar a criança para que a sociedade

tenha homens bons e produtivos. Como conseqüência dessa nova fase, a

responsabilidade também passa para as famílias e estas começam a se ocupar de tudo

que tivesse alguma relação com seus filhos, desde a brincadeira até a educação, higiene

e saúde física.

A partir do século XIX e mesmo o XX, conforme Teresinha coloca, tem início uma

visão mais sistemática e abrangente voltada para a criança em vários aspectos, como:

pedagógico, pediátrico, especializações no seu desenvolvimento psicológico entre

outros. Entra em campo, a partir daí, o discurso científico, produzindo, cada vez mais,

informações a respeito das práticas educativas.

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1.2- Vygotsky, uma breve contextualização.

Vale citar Lev Semyonovitch Vigotski, que demonstra em seus trabalhos a importância

vital do aprender através das relações, tendo o lúdico como primordial no que tange a

infância.

Para que se possa entender melhor a obra deste autor e toda fundamentação encontrada

em sua teoria que sustenta parte dos argumentos deste artigo sobre “A importância do

lúdico na aprendizagem infantil”, será feito aqui um breve passeio dentro de seu cenário

histórico, bem como breve uma contextualização de sua vida e vasta obra.

No seu livro traduzido por Org. Fontes como “A Formação Social da Mente Social,

(VYGOTSKY, 2000). Vygotsky é reconhecido como o pioneiro da psicologia do

desenvolvimento, mas é bom lembrar que ele era um teórico do desenvolvimento e

nunca formulou nenhuma teoria de aprendizagem. Contudo este fato não se resume em

uma relíquia histórica, por conta da evolução de teorias das psicologias, mas sim em

uma fonte de inesgotáveis discussões para a educação e psicologia contemporânea.

(VYGOTSKY, 2000).

A obra de Vygotsky como já foi colocada mais acima no texto, é vasta, mesmo tendo

em vista seu falecimento relativamente ainda jovem. Sua base finca-se no

desenvolvimento do individuo como resultado dos processos sócio-históricos.

Ao enfatizar o papel da linguagem e da aprendizagem no processo histórico-social, ele

vem demonstrar a sua absoluta necessidade de atenção no que diz respeito à criança,

que faz parte de um núcleo social e aprende conceitos dos quais irá se orientar,

adquirindo experiências através deles. Segundo ele a brincadeira é um importante

recurso no processo da aprendizagem, pois é através dela que a criança aprende a agir

numa esfera cognitiva, o imaginar-se como mãe e a boneca como a criança, por

exemplo, no jogo simbólico, nos demonstra regras tanto do comportamento materno

quanto do comportamento de criança (VYGOTSKY, 2000).

Vygotsky em sua teoria sócio interacionista, com bastante clareza, aponta para o fato de

que não se pode falar de um conceito único de desenvolvimento humano enfatizando a

diferença entre o desenvolvimento biológico e o e o desenvolvimento mental. Em sua

concepção o desenvolvimento biológico está sujeito, mediante as leis de maturação, a

ciclos, que neste desenvolvimento completa-se. Formulando assim a Lei da Dupla

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Formação, ao dizer que em um primeiro nível a função aparece interpessoal, e depois

em nível invidual intrapessoal

Mas apesar de o cérebro ser o lugar em que se dá o desenvolvimento mental e, portanto

também fazer parte do organismo, o cérebro tem como base do seu desenvolvimento e

evolução exatamente a aprendizagem.

Para Vygotsky um sócio interacionista, os signos, a linguagem simbólica desenvolvida

pela espécie humana, têm um papel similar ao dos instrumentos, ou seja, tanto os

“instrumentos de trabalho” quanto os signos são construções da mente humana, sendo

eles que fazem o homem estabelecer relação uns com os outros, através de um código

social incomum. Assim olha com especial atenção para linguagem, que para ele

configurava-se em um sistema simbólico fundamental em todos os grupos humanos no

curso da história social.

As relações sociais neste sentido são as fontes e o meio capazes de alterar o

funcionamento cognitivo, o que possibilita gerar novos valores, novas aprendizagens

reduzindo assim as possibilidades dos conflitos menos produtivos de natureza interna, e

suas reações externas. (VYGOTSKY, 2000).

Vygotsky em síntese, fala em processos psicológicos e explicita que esses são de

natureza social, por conseguinte também devem ser analisados e trabalhados através dos

fatores sociais. (VYGOTSKY, 2000).

Cenário histórico de Lev Semyonovitc. Vygotsky. Nasce em 5 de novembro de 1896

em Orsha e se radicou em Gomel, ambas cidades da Bielo-Rússia. Graduando-se em

Direito pela Universidade de Moscou, iniciando sua carreira como psicólogo logo

depois da Revolução Russa que aconteceu em 1917, neste ínterim já havia contribuído

para a psicologia do desenvolvimento através dos vários ensaios que escrevia como

critica literária. Vivendo em plena efervescência da Revolução Comunista teve como

cenário o contexto político pelo qual a Rússia atravessava na época, como influencia

decisiva na maneira que conduziu os seus estudos. Partidário da Revolução Russa focou

suas preocupações no desenvolvimento do indivíduo e da espécie humana, pois sempre

acreditou em uma sociedade mais justa sem exploração e conflito social. Vigotski foi

contemporâneo de vários representantes que fundaram a psicologia, como por exemplo,

Wilhelm Wundt o fundador da psicologia experimental, John B. Watson adepto da teria

comportamental, Koffka e Lewin fundadores do movimento da Gestalt.

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A contextualização do período cultural em que Lev Semyonovitch. Vygotsky viveu tem

grande valor porque vem nos situar na perspectiva histórica intelectual da época, onde o

cenário europeu serviu de fonte de inspiração inicial para suas teorias. A obra de

Vygotsky foi marcada por um período em que a União Soviética por conseqüências

políticas vivia um isolamento dos principais Centros Europeus e Americano, causa que

só lhe permitiu ganhar destaque na psicologia do desenvolvimento na America, por

exemplo, só em 1962 com publicação de Pensamento e Linguagem. (VYGOTSKY,

2000). 4Entre os anos de 1917 a 1923 atuou como professor e pesquisador no campo da

psicologia, da literatura e das artes. Sua atividade acadêmica foi extremamente

diversificada atuando nas áreas citadas acima e também na Filosofia.

Em 1917 iniciou sua carreira as 21 anos e em 1919 descobriu ser portador do vírus da

tuberculose, o que em nenhum momento diminui sua perseverança. É partir de 1924

ano que representou um marco em sua carreira aos 28 anos, após realizar uma

Palestra no 2º Congresso Psiconeurológico. Está Palestra causou espanto dado seu

caráter inovador por contraporem-se as visões teóricas da época e admiração nos

pesquisadores acadêmicos e renomados de em Moscou. A partir de então vem

aprofundar suas investigações no campo da psicologia, voltando-se primeiro e a priori

para os problemas de crianças que não se enquadravam nos padrões de normalidade,

questionando os pressupostos culturais e suas tradições que variam segundo as

diferentes comunidades, por estes advirem de padrões, e estes padrões influenciarem o

objeto de estudo. E entre os anos 1925 a 1934 desenvolveu pesquisas com outros

cientistas sobre no âmbito da psicologia que abordava as anormalidades mentais e

físicas. Em 1934 após concluir a graduação de medicina é convidado a dirigir o

Departamento de Psicologia do Instituto Soviético de Medicina Experimental. Vindo a

falecer de tuberculose em 11 de junho de 1934 aos 38 anos.

4 http://pt.scribd.com/doc/53354508/19/VYGOTSKY-VIDA-E-OBRA-A-HISTORIA-DE-UM-GENIO

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1.3 – As possibilidades do Lúdico como mediação na aprendizagem

infantil.

“Em um sentido, no brinquedo a criança é livre para determinar suas próprias ações. No

entanto em outro sentido, é uma liberdade ilusória, pois suas ações são subordinadas aos

significados dos objetos e a criança age de acordo com eles” (Apud Martins Fontes, 2000

pg. 136)

Mediadores

Por fazerem referencia a aprendizagem infantil são os conceitos Vygotyanos que se

interpelam e se complementam como Mediação (VYGOTSKY, 2000) e Zona Proximal

de desenvolvimento (TUDGE. J, 1996) que serão abordados neste trabalho. Cabe

ressaltar aqui que o conceito de ZPD (zona proximal de desenvolvimento), foi criado

por Vygotsky como a própria metodologia de trabalho da Mediação (VYGOTSKY,

1996: 109-119). Desta forma para demonstrar qual é o papel e a importância da

pedagogia aplicada através do lúdico, e como é que se pode ensinar e aprender com ela,

e que a principio serão abordados os elementos que tornam possível os conceitos de

Mediação e ZPD, são eles: o 5instrumento e signo.

A mediação acontece através destes dois elementos básicos, signo e o instrumento tendo

como método a ZPD.

Contudo antes de se chegar a esses elementos de signo e instrumento, cabe descrever

brevemente a maneira que estes são absorvidos pelo individuo. Portanto é preciso

abordar o conceito de processos mentais.

Vygotsky separa os processos mentais em dois níveis, são eles: 6Processos psicológicos,

elementares e superiores. Os processos psicológicos elementares são as sensações,

percepções imediatas, emoções primitivas, memória indireta, estes estão presentes na

5 http://stoa.usp.br/podo/files/672/3522/Aula+7+-+A+Teoria+S%C3%B3cio-Cultural+da+Aprendizagem+e+do+ensino.pdf 6 http://stoa.usp.br/podo/files/672/3522/Aula+7+-+A+Teoria+S%C3%B3cio-Cultural+da+Aprendizagem+e+do+ensino.pdf

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criança desde o nascimento e também nos animais, são reações automáticas tais como

ações reflexas e associações simples, já os processos psicológicos superiores como a

atenção, percepção, memória, imaginação, que se convertem em comportamento

volitivo, atenção consciente e memória volitiva, ocorrem através das relações sociais.

Assim a criança ao entrar em contato com os elementos mediadores e fazer uso deles,

desenvolve os processos mentais superiores. E são os signos e instrumentos aprendidos

no contexto cotidiano, os responsáveis por esta mediação.

Um signo é algo que significa outra coisa que se difere da referencia concreta, mas que

pode indicar por semelhança, representar e fazer alusão através de sinais, sendo um

instrumento mediador. O signo é o que desvela as ações psíquicas tornando possível a

socialização, já o instrumento tem a função de regulamentar essas ações psíquicas sobre

os objetos. Os signos existem em três tipos de classificação: Indicadores, icônicos e

simbólicos, especificamente aqui neste âmbito abordado, trabalhares com os signos

icônicos e simbólicos, estes dizem respeito respectivamente a objetos e a formação

lingüística e matemática.7

Por tanto mediadores podem aparecer por meio de objetos sociais, lingüística,

matemática, por meio da interação pessoas adultas com as crianças, do ambiente da

cultura e até mesmo de companheiros da mesma idade da criança em síntese, todo

contexto em que o individuo esta inserido e interage em seu cotidiano e permeado de

mediadores.

Os brinquedos, por exemplo, são objetos icônicos, elaborados historicamente e por

fazerem parte da essência da infância, são elementos fundamentais como mediadores

para a criança, possibilitando a produção de conhecimento de maneira alegre, alegria

essa que se faz através do prazer e do desafiar. Além disso, os brinquedos ao serem

usados como representação e expressão do real pela criança, encontram-se em

consonância com o seu modo de ser; Uma representação de uma realidade social com

possibilidade de criação.

Segundo Vygotsky, a importância do brincar para o desenvolvimento da criança reside

no fato de que esse tipo de atividade contribui para a mudança na relação da criança

7 http://stoa.usp.br/podo/files/672/3522/Aula+7+-+A+Teoria+S%C3%B3cio-Cultural+da+Aprendizagem+e+do+ensino.pdf

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com os objetos, pois estes perdem sua força determinadora na brincadeira

(VYGOTSKY, 1998) e é através desses signos que a criança articula-se no brincar de

faz de conta com a realidade, o que Vygotsky denomina jogo simbólico. De acordo com

o autor e a partir do jogo simbólico, que criança ao representar corporalmente nas suas

atividades lúdicas o que seu imaginário produz, a partir das relações sociais, adquirindo

as regras e os comportamentos dessas ações, pois só as ações que se ajustam ao

comportamento imitado são aceitas definitivamente, pelas crianças. (VYGOTSKY,

2000)

O jogo simbólico nas brincadeiras de faz de conta, como o brincar de escolinha, mãe e

filha, casinha etc, e o que permite o fluir da imaginação na criança, nestas situações ela

pode imaginar situações diversas, o que envolve a capacidade de criar e planejar, e é por

sua função criativa que a imaginação ganha ênfase na teoria Vygotyana.

Segundo o autor o papel criativo da imaginação na brincadeira vai sempre além do que

a criança aprendeu, criam-se novas situações o que é sempre uma produção nova.

(VYGOTSKY, 1998). O mundo lúdico revela-se de uma riqueza incontestável

possibilitando o trabalho em várias etapas do desenvolvimento da criança, pois aparece

em todas as matérias didáticas, na matemática, nas ciências, no ato da leitura nas letras,

palavras e textos, números, animais, história, tudo forma os signos lingüísticos e tudo

pode ser trabalhado através do lúdico e fazer entender a partir do próprio universo.

As crianças ao apropriar-se da literatura como mais um possível natural de

descobrimento e compreensão do mundo, entram em contato com mediadores como, os

ditados que revelam plantas, bichos, rio, comidas, parentescos. Os contos e as

historinhas, que lhes instiga a mente, as emoções, lhes trazem identificações com as

alegrias e tristezas dos personagens e remetem a criança ao seu cotidiano; Quando

muitas, ao ouvirem uma historinha interferem e revelam algum caso semelhante ao de

suas vidas.

E os signos matemáticos que, trabalhados ludicamente através de montagens dedutivas,

e jogos podem desenvolver o raciocínio lógico, estimular o pensamento independente,

capacidade de resolver problemas e a criatividade.

Nos jogos, o jogo simbólico vai aparecer de maneira mais específica, mais não é todo

tipo de jogo que apresenta esse o caráter simbólico, para que isso aconteça é preciso que

o jogo tenha características como às de sujeição a regras de conduta e a situação

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imaginária. Mas ao jogar, de toda maneira, as crianças sentem-se motivadas para usar a

sua inteligência, pois se lançam ao desafio de vencer sempre, numa atividade prazerosa

e sem definições de tempo na maioria das vezes, remetendo sempre a novos caminhos,

desenvolvendo a noção de causalidade, de tomada de decisão, interpretação,

organização de dados, levantamento de hipóteses. (VYGOTSKY, 2000)

A partir dessas atividades as crianças começam há estruturar melhor seu tempo e seu

espaço, desenvolvendo lógica e adquirindo a habilidade de aplicar a outros fatos sua

aprendizagem adquirindo também capacidade psicomotora, ou seja, o controle do

próprio corpo, podendo extrair deste corpo todas as possíveis ações e expressões,

relativos a cada um.

Dentro deste processo também ocorre o desenvolvimento da motricidade fina e ampla,

que são respectivamente adquirir capacidade de executar tarefas com destreza das mãos

e da ponta dos dedos, bem como a capacidade de brincar com o corpo todo, como por

exemplo, correr, nadar, jogar bola etc. (MACHADO & NUNES, 2011) .

“As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no

futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade (Vygotsky, 1998).

1.4- Através da Zona Proximal de Desenvolvimento, aprendendo de

forma prazerosa.

Nessa perspectiva a segunda teoria que mais importa para este trabalho, que se propõe a

explorar o campo da ensinagem lúdica, é a de Zona de Proximal de Desenvolvimento.

Baseando-se na interação do indivíduo com o meio social, trata-se de um conceito que

explica que é com a ajuda de outro que o indivíduo, no caso a criança, pode ultrapassar

o estágio em que se encontra e avançar, esse estágio é precedente ao de Zona de

Desenvolvimento real (ZDR).

O estágio ZDR, compreende as funções psíquicas e, portanto as habilidades que já estão

dominadas pelo sujeito. (TUDGE, J. 1996)

De acordo com Vygotsky, são, portanto as interações que possibilitam a ZPD, e é a

escola que abre o caminho de determinados objetos até a criança, pois de acordo com o

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autor a maior parte do conhecimento da escola não pode ser aprendida pelo sujeito sem

a ajuda de um docente que lhe ofereça a oportunidade de lidar com signos. Contudo a

escola clássica preocupa-se geralmente em trabalhar mais no ZDR, via de regra

repassando um conteúdo pedagógico sem a preocupação com os significados para as

crianças, sem a preocupação subseqüente se está alavancando o processo de

desenvolvimento das funções cognitivas das crianças.

O autor de Pensamento e Linguagem a obra mais explorada neste artigo por ser

reconhecidamente significativa para o tema abordado, enfatiza que o individuo não é

somente um produto de seu contexto, mas também um agente ativo de criação do

mesmo e no centro de suas formulações teóricas o individuo aparece como uma unidade

básica de mudança e, portanto a cultura se faz subjetiva no aprendente. O trabalho de

Vygotsky é significantemente abrangente por tratar do ser biológico, integrando-o as

características sociais em que este está inserido, traça neste sentido uma síntese do

corpo biológico, da mente social. (VYGOTSKY, 2000)

Ao entrarmos nesse mérito, abre-se a indagação: Se a criança ao participar de atividades

lúdicas esta expressando seu modo de ser mais próprio e ao mesmo tempo esta

incorporando novas realidades, este fato por si só já justificaria que o trabalho lúdico

pedagógico fosse revisto, principalmente nas instituições do ensino fundamental. Além

desse fato, são inúmeras as pesquisas e estudos sobre o papel primordial do lúdico na

socialização, e no desenvolvimento mental e afetivo da criança, e quais são os

conseqüentes benefícios para o alcance dos objetivos pedagógicos. Algumas

comprovações da eficácia do ensino lúdico através de números de uma pesquisa serão

descritas e comentadas mais a frente.

Ao contrário da visão clássica que a escolar faz sobre o assunto, como sendo lazer

somente, aprender brincando é aprender com prazer. Então o que justificaria tal

resistência? Além da perspectiva Política Econômica e suas implicações como, por

exemplo, turmas menores, material e capacitação de docentes neste sentido, que por sua

extensão e direcionamento próprio não cabe ser colocada em pauta neste artigo; Temos

ainda a falta de visão da maioria das escolas enquanto um todo como instituições,

direção, coordenação e docentes que ainda ignora tão rica ferramenta seguindo um

modelo tradicional que acredita que para ser bom professor entre outros, só é preciso

dar uma aula em total acordo com o conteúdo programado, ou seja, explicando a

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matéria a seu enxergar de maneira inteligível. Os educadores que seguem essa lógica

desconhecem que é necessário reconhecer o que a criança já pode realizar sozinha ZDR,

e o que ainda não pode ZPD. Somente após esse reconhecimento o professor tem

informações suficientes para que possa intervir na reorganização do atual conhecimento,

e ajudar na elevação do patamar encontrado.

Se existe pretensão que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o pensamento,

deve-se atentar-se para o fato de fazer com que essas atividades sejam emocionalmente

estimuladas. A experiência e a pesquisa têm mostrado que um fato impregnado de

emoção e bem mais eficiente para a aprendizagem do que os que são comunicados ao

aluno sem tentar afetar seu sentimento. A emoção não é uma ferramenta menos

importante que o pensamento. (VYGOTSKY, 2003)

Diante de toda essa problemática e os desencontros entre discentes e corpo docente que

assistimos na atualidade, toda trajetória levando-nos a pensar e tentar imaginar, qual é o

lugar que o educador deve ocupar no imaginário dos seus alunos? Antes de tudo o mais

simples e funcional a se ponderar é que este lugar precisa estar sempre imbuído de

reconhecimento e respeito, ao tempo e fase de aprendizagem de cada aprendente. E para

que haja uma relação, e essa se dê de forma harmônica não há formulas gerais, mas

especificamente para as crianças, que haja uma relação sedutora na aprendizagem, em

que o convite de aprender seja nos moldes do convite de brincar. Para tanto é preciso

lançar mão de estratégias desde a primeira infância momento em que se pode aplicar

uma pedagogia que culmina com o modo que o aluno aprendiz encontra-se, na

ludicidade.

Esses argumentos convidam a falar de outro autor que muito contribui para desenvolver

vários prismas sobre o olhar na direção da educação, sobre como o aprender com o

aprendiz. Para ele educar trata-se de um trabalho no qual uma pessoa atua para ampliar

os conhecimentos do aprendiz, em sentido a promover a autonomia deste (FREIRE,

2008). Estamos nos referindo ao educador Paulo Freire, do qual falaremos a seguir.

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CAPITULO II - Indo até onde o outro está aprendendo a

ensinar.

2.1 - Paulo Freire. Uma breve contextualização.

Mais uma vez, recorre-se como forma de embasamento para fundamentar a essência

deste artigo, a um pensamento e teoria que explora o campo das interações. Sendo assim

a obra de Paulo Reglus Neves Freire aparece como uma obra em que a educação será

colocada em voga, questionando padrões atuais e apresentando uma metodologia

“nova” que revela o valor da linguagem dialógica, indagadora e imaginativa.

A sua pedagogia é "fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do

educando” (FREIRE, 1996, p.11)

Mas para isso existe a pergunta, quais os pontos de aproximação entre as teorias

vygotskyana citada no capitulo anterior e a freireana? E qual sua relação ao nos

referirmos ao processo pedagógico infantil?

Paulo Freire é um dialético. Vygotsky é um dialético. ( GADOTTI, 2002).

Um princípio básico de ambas as obras é o olhar que trazem com relação ao aprendiz,

sendo este “um reflexo das relações sociais”, sim! Mas reflexo que está pautado na

trama das relações, e das correlações de forças que formam a totalidade social. Isso

significa que uma criança é também uma síntese singular e é preciso, portanto, perceber

suas particularidades na totalidade. Nenhum fato ou fenômeno se justifica e se

desenvolve por si mesmo isolado do contexto social onde é gerado, mas também

nenhum fato gerado no contexto acontece sem subjetividade.( GADOTTI, 2002).

Paulo Reglus Neves Freire

O professor que desrespeita a curiosidade do educando,

o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem,

mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o

professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que

manda que "ele se ponha em seu lugar" ao mais tênue

sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor

que se exime do cumprimento de seu dever de propor

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limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de

ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência

formadora do educando, transgride os princípios

fundamentalmente éticos de nossa existência (Freire,

1996. p. 66).

Tendo a vida imersa de forma empírica em toda sua obra, Paulo Reglus Neves Freire

não só teorizou como também aplicou seus métodos em indo a campo, onde os

“objetos” de sua pesquisa se encontravam (trabalhadores rurais e pobres excluídos pelo

ensino oficial).

O educador brasileiro nasceu no dia 19 de setembro de 1921 em Recife Pernambuco.

Entrou para a universidade em 1943 cursando Direito e neste mesmo período começou a

se interessar por filosofia da linguagem.

E conforme Ana Maria Freire, escritora e viúva de Paulo Freire, este nunca veio a

exercer a profissão de advogado, interessando-se e voltando-se logo para a pedagogia.

Assim veio a lecionar língua Portuguesa em um colégio de 2º grau, logo após formar-se.

Já em 1946 exercendo o oficio de professor, Freire era indicado para o cargo de diretor

do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no Estado de Pernambuco,

lugar em que iniciou seu trabalho com os analfabetos e pobres da área rural.

Em 1963 no Rio Grande do Norte, Freire empreendeu a sua primeira experiência

inovadora na pedagogia, realizando junto com sua equipe as primeiras experiências de

alfabetização popular. Desenvolveu um método inovador de alfabetização que se

baseava no diálogo, na escuta e no respeito ao aprendiz, tendo-o como pessoa capaz de

produzir significado, e não apenas de receber lições passivamente. Conseguiu então

através deste método o feito de ensinar 300 adultos a ler e a escrever em apenas 45 dias.

Porém como seu projeto estava vinculado ao desenvolvimento nacionalista do então

governo de João Goulart, utilizando o diálogo como recurso para ensinar e para

desenvolver a capacidade critica de cada aprendiz, o que Freire chamava de

"consciência crítica", com o golpe militar em 1964, seu método logo o levou a um exílio

de 16 anos.

Sobre a acusação de ser subversivo foi preso por 72 dias seguindo logo após para o

exílio no Chile, país em que deu continuidade a sua obra trabalhando no (ICIRA)

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Instituto Chileno para a Reforma Agrária, e escrevendo Pedagogia do Oprimido sua

principal obra, lançado em 1968. Ainda em exílio, em 1969 foi para os Estados Unidos

passando a lecionar na Universidade de Harvard e posteriormente, em 1970 torna-se

consultor do Conselho Mundial das Igrejas (CMI) em Genebra (Suíça). Neste período

também passa a dar consultoria educacional a alguns governos de países pobres, em sua

grande maioria do continente Africano. No Final do ano de 1971 vai aos países da

Zâmbia e Tanzânia, levando seu método pedagógico. Seu método passa a ter aplicação

significativa para a educação de Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe,

sendo este ultimo pais influência para as experiências educativas de Angola e

Moçambique.

Após quase 16 anos de exílio retorna ao Brasil, e em 1980 começa a lecionar na

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e na Universidade Estadual de

Campinas (Unicamp). Torna-se secretário de Educação de Município de São Paulo em

1989 e Escreve Pedagogia da Esperança (1992) e À Sombra desta Mangueira (1995).

Veio a falecer em maio de 1997 após um infarto.

De acordo com FREIRE Ana Maria, Paulo Freire é atualmente o pedagogo de maior

renome no panorama Mundial, sendo considerado o pensador pedagógico mais influente

do final do século XX. Fato curioso é que isso acontece mais especificamente nos

Estados Unidos, em que a preocupação de se respeitar as diversidades culturais esta

sempre em voga e motivo pelo qual Freire é citado em inúmeros trabalhos científicos

pedagógicos. No Brasil acredita-se que devida à realidade política e econômica ainda

não se descobriu o verdadeiro valor de suas idéias.

Vale ressaltar que Paulo Reglus Neves Freire foi Doutor Honoris Causa por 27

universidades recebendo vários prêmios e entre eles estão o de Educação para a Paz das

Nações Unidas recebido 1986 o de Educador dos Continentes, da Organização dos

Estados Americanos recebido 1992 (FREIRE, ANA MARIA, 2006).

Toda vida e obra de Paulo Freire se volta para a educação, mas, todavia sua teoria nada

nos fala especificamente sobre a infância. Fala-nos de ensinar valores e atitudes que os

farão cidadãos críticos e conscientes de usar a imaginação para ensinar e de aprender a

ensinar com o aprendiz. Fala-nos sobre a importância do ouvir e do dialogar, e como

podemos observar no capitulo anterior, é no lúdico que o dialógico através do simbólico

ganha força para abrir-se plenamente na aprendizagem da infância. Sendo assim mais

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uma vez neste ponto encontra-se a interseção entre a aprendizagem lúdica e o método

dialético-dialógica de Freire. E é através destas idéias que se continua a justificar a

importância da linguagem lúdica na aprendizagem, simplesmente, por esta ser dialógica,

indagadora, imaginativa e servir como a articulação mais autêntica da criança com o

meio.

“A autonomia, a dignidade e a identidade do educando tem de ser respeitada, caso contrário, o

ensino tornar-se-á "inautêntico, palavreado vazio e inoperante” (Freire, 1996 p.69).

2.2 – A linguagem Lúdica é dialógica, indagadora e imaginativa, é a

articulação da criança com o meio.

Para que se comece a entender qual a relação entre a linguagem dialógica, indagadora e

imaginativa com a educação através de recursos lúdicos, a principio recorre-se ao

significado formal de cada uma dessas palavras, e posteriormente ao sentido que Paulo

Freire encontrou nelas, bem como seus pontos de convergência entre sua obra e a

educação infantil.

Dialógico: Que se pretende ao diálogo; debate; provocar discussão.

Fonte: dicionário informal8

Indagar: 1- Procurar saber; pesquisar; investigar; inquirir. 2- Perguntar; interrogar

(FERREIRA, Aurélio, 1989)

Imaginar: 1- Construir ou conceber na imaginação; 2- Fantasiar, idear, inventar.

Representar na imaginação. (FERREIRA, Aurélio, 1989).

De acordo com Freire a “educação dialógica” ou “educação libertadora” é a educação

que usa a mesma linguagem do aprendiz para poder alcançá-lo, ou seja, observa-se

ouve-se e contextualiza-se assim o “lugar” e “estágio” subjetivos em que o aprendiz se

encontra na atualidade.

8 http://www.dicionarioinformal.com.br

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Como será exposto mais a frente existe estágios de desenvolvimento, mas atentemos ao

fato de que o processo de desenvolvimento ocorre de forma singular em cada criança e

muitas vezes também em momentos diferentes.

Levando em consideração a realidade deste subjetivo, para que haja afinação os meios

pedagógicos devem ser capazes de alcançar as necessidades de cada aluno, uma

educação em que o dialógico se faz presente, aparece-nos, portanto como o meio mais

abrangente para alcançar este fim.

Para tanto de acordo Freire, ao produzir um objeto de aprendizagem (texto ou fala), o

educador deverá focar o destinatário da mensagem, e (re) construir o texto/fala no

mesmo eixo paradigmático em que o aprendente está inserido. (FREIRE, 1996).

A dialogicidade que será abordada é a da linguagem lúdica, esta para as crianças e os

adolescentes é um meio em que a prática faz adquirir habilidades e cria atitudes no

recrear-se em grupo, e na fase adulta, funciona como orientadora pré - vocacional das

escolas (MARCELINO, 1987). Pode-se observar então, que linguagem lúdica esta

sempre em direção à troca.

Mas antes se pensar na dialógica da criança entre 4 e 12, que é a delimitação específica

do objeto de estudo neste artigo, e pensar em suas respectivas fases, é preciso pensar

mesmo que sucintamente sobre que vem a ser a linguagem, pois só assim se pode

entender o lúdico inteiramente como uma linguagem, como dialogicidade.

Segundo Álpia Couto, (1985), a linguagem advém de fatores biopsicobiológicos, isto é,

depende da maturação neurológica, dos órgãos fonoarticulatórios, do nível intelectual,

da audição, da predisposição emocional, e principalmente do instrumento de interação

interpessoal e social; Neste momento ultimo, se pode concluir que o fator ambiental se

encarrega de ser o principal desencadeante da linguagem. Pode-se pensar sobre

linguagem dialógica da criança através dessa realidade, porque esta precisa transitar por

todos esses caminhos para entrar no simbolismo da cultura.

Ao falar sobre desenvolvimento da linguagem existem autores que também abordam

esse desenvolvimento de acordo com etapas, Jean Piaget é um desses autores. Mais às

fases serão abordadas com maiores detalhes, de acordo com a delimitação do objeto de

estudo do artigo. As fases segundo Piaget, permitem determinado desenvolvimento.

Sendo assim a partir desses referenciais, qual seria então a linguagem dialógica de uma

criança que está entrando na cultura ou mudando de fase em decorrência da idade?

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Como por exemplo, as de (2 a 7 anos) Período pré-operatório ou (7 a 11, 12 anos)

Período das operações concretas . (PIAJET, 1999)

As duas fases infantis aqui abordadas de acordo com Jean Piaget são obviamente

diferentes e, portanto tem desenvolvimentos e dinâmicas estruturais de linguagem

dialógicas, também diferentes. Passeando por elas sucintamente, podemos observar que

a primeira tem estrutura de pensamento na emergência da linguagem, simbólica,

semiótica, ou seja, na relação entre as coisas e seu significado, e a segunda tem estrutura

em forma concreta assim os objetos ou situações são passíveis de serem manipuladas ou

imaginadas a partir do concreto. Contudo o que mais interessa para esse artigo é tentar

entender qual a linguagem mais acessível às crianças nestas fases? Levando em

consideração as características que integram e estruturam essas fases, como a

imaginação e indagação, a ensinagem embasada no lúdico encaixa-se como linguagem

que preenche todos os requisitos, pois além de fazer parte do universo infantil pela

própria natureza de seu desenvolvimento simbólico e concreto, também é parte de uma

lógica que possibilita a aceleração destas fases da aprendizagem, a lógica da articulação

da criança com o meio.

Esta lógica se dá pela troca dialógica, que propicia o entrelaçamento entre mundos

distintos, ou seja, a criança funcionando em sua natureza imaginativa e indagadora no

transitar por seu mundo segue indagando através de brinquedos, jogos, histórias,

dinâmicas entre outros, e ao se relacionar com o outro aprende a conviver.

Aprende a ganhar perder, esperar a vez, lidar com possíveis frustrações, aprende o que é

espírito de união e de colaboração desenvolvendo valores, tornando-se capaz de ordenar

melhor o mundo a sua volta, aprendendo assim sobre responsabilidade assimilando

informações e experiências.

A dialógica da ludicidade na escola facilita também a convivência dos alunos com os

professores, pois sendo uma atividade espontânea, é um momento em que os

educadores encontram excelentes ocasiões para observar as reações de seus alunos e

conhecê-los mais intimamente, em uma oportunidade de depara-se com singularidades

múltiplas em interação, onde o espaço comum é permeado por uma linguagem única.

Para o educador, o lúdico é uma grande oportunidade de trabalhar de forma significativa

a aprendizagem, auxiliando na formação de seres pensantes, participativos e ativos

dentro da sociedade. (FREIRE, 1996), sendo também oportunidade de remeter-se ao

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lugar já distante, que por vezes é esquecido, da infância. Este se reencontra na

ensinagem lúdica, com um lugar em que a criatividade impera, abrindo possibilidade de

autotransformação.

Neste seguimento, contudo é relevante que o professor descubra e trabalhe a dimensão

do lúdico que existe em seu eu interior, em sua essência, e percebendo sua cultura para

que através dessa percepção, venha aperfeiçoar a sua prática pedagógica. (CAMPOS,

1986)

Desta forma o lúdico como diálogo educacional apresenta-se estruturante e peculiar,

por sua importância no desenvolvimento dentro da natureza infantil, e por sua

característica transformadora tanto para crianças quanto para adultos, discentes e

docentes.

2.3 – Comprovações da importância do ensino lúdico, pesquisa e

números.

Até a Idade Média, nas sociedades ocidentais havia uma indefinição sobre o que vinha a

ser a infância. Portanto o brincar era natural e presente nessas culturas. O filosofo

Platão, por exemplo, foi o primeiro a demonstrar interesse pelo ensino lúdico, quando

apontou para sua importância principalmente no que se referia às ciências exatas,

usando o jogo como ferramenta para a aprendizagem. Só a parir do crescimento do

Cristianismo na Idade média que esse tipo de ensino retrocedeu, pois a Igreja o

considerava profano.9

Ao se pesquisar sobre as manifestações da vida humana através dos tempos, pode-se

encontrar danças e jogos e brincadeiras como parte integrante de cerimônias guerreiras,

religiosas, cívicas e afetivas e como foi colocado no inicio deste artigo, a vida das

crianças era um laboratório em que suas atividades eram compartilhadas por jovens e

adultos.

A parceria entre o lúdico e a educação formal já faz parte da didática da educação

infantil há muito tempo e as poucos esta sendo inserida também no ensino fundamental,

9 http://proavirtualg42.pbworks.com/w/page/18673040/A-Hist%C3%B3ria-do-Brincar

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essa inserção denota comprovações e a aceitação da ludicidade como fator eficaz e

rápido para aprendizagem.

Nos artigos e teses feitas para os sistemas educacionais, verifica-se o crescente interesse

não só pela recreação de crianças e jovens, mas também pela orientação de atividades

recreativas para adultos.

Diante dessa realidade buscou-se uma pesquisa que pode nos respaldar o argumento do

artigo, sobre a eficácia do lúdico na educação.

Foi verificada uma pesquisa do tipo quantitativa-descritiva que, consiste em

investigação empírica, e tem como finalidade delinear ou analisar fatos ou fenômenos, e

para confrontar os levantamentos anteriores utilizou-se a pesquisa de documentação

direta, ou seja, uma pesquisa de campo, que tem como objetivo conhecer o problema

através das informações colhidas para obtenção de respostas, ou ainda descobrir novos

fenômenos ou as relações entre eles. (LAKATOS & MARCONI 1985).

Essa pesquisa foi realizada por alunos de graduação em pedagogia, da Universidade

Estadual de Montes Claros (UNIMONTES em MG), tendo como finalidade responder a

duas perguntas “O lúdico é um fator motivador para o aluno no processo ensino-

aprendizagem?”, “Através dos jogos e brincadeiras é possível aprender melhor e mais, os

conteúdos ensinados pela professora?”.10

Participaram da pesquisa 15 professoras atuantes com faixa etária entre 30 a 38 anos e 42 a 52

anos de idade. Onde, 100% das professoras com idade entre 30 e 38 anos, são formadas em

Normal Superior; e 22% delas de 42 a 52 anos têm formação em Normal Superior também.

Porém, na faixa de 42 a 52 anos, 78%, têm formação em Pedagogia.11

O lúdico é um fator motivador para o aluno no processo ensino-aprendizagem?

10 http://www.semanaacademica.org.br/sites/semanaacademica.org.br/files/investigacaodotrabalholudiconoprocessoensino-aprendizagem.doc 11

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GRÁFICO 1: O lúdico é um fator motivador para o aluno no processo ensino-aprendizagem?

Conforme podemos observar através da figura gráfica, as respostas foram unânimes em

nos informar que sim. Demonstrando que profissionais da educação vêem constatando

através de sua pratica no ensino, como a ludicidade é um fator motivante nas aulas e

uma ponte que facilita a aprendizagem do aluno.

A segunda pergunta tem como objetivo saber de que forma os alunos avaliam sua

aprendizagem através do ensino que contém a ludicidade.

Através dos jogos e brincadeiras é possível aprender melhor e mais, os conteúdos ensinados

pela professora?

“Assim participaram da pesquisa, 15 alunos do sexo masculino, e 15 alunas do sexo feminino.

Todos os alunos tinham a idade de 10 anos.”12

12 http://www.semanaacademica.org.br/sites/semanaacademica.org.br/files/investigacaodotrabalholudiconoprocessoensino-aprendizagem.doc

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GRÁFICO 2: Através dos jogos e brincadeiras é possível aprender melhor e mais, os conteúdos ensinados

pela professora?

Já neste segundo gráfico podemos notar que 80% das alunas acreditam que é possível ,

enquanto 20% não acreditam que seja possível . Entre os meninos a proporção é de 60%

entre os que acham possível para 40% entre os que não acham possível.

Alguns alunos mais atentos conseguem perceber brincando e se divertindo, aprendem,

outros não consideram os jogos, as dinâmicas as construções de histórias, entre outros

recursos lúdicos, um fator de aprendizagem. Essa realidade se deve muito a idéia que

alguns alunos conservam de aprendizagem, sendo sempre oposta a diversão ou a

brincadeiras, contudo isso não anula o fato de que existam resultados positivos.

Outro fato também relevante e o de que sistema educacional tradicional, pouco

incentiva as instituições de ensino, para que se trabalhe com recursos lúdicos, e essas

atividades geralmente são aplicadas como compensadoras de bom comportamento, sem

que haja planejamento no ensino através das mesmas, ou quando o conteúdo

programado não esta a contento com o calendário, ou seja entram como um paliativo

para as falhas que são possíveis de acontecer no exercício da função.

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Capitulo III

Traçando planejamento de ensinagem de acordo com cada

fase.

3.1 – Piaget, uma breve contextualização.

Ao falar de Piaget, faz-se importante citar a aproximação entre sua corrente teórica e a

de Vygotsky e Paulo Freire, pois apesar da desafinação entre teorias, por conta das

“estruturas como esquema prévio” da teoria Piagetiana, existe ai um o ponto de

convergência entre o interacionismo de Vygotsky e Freire e o construtivismo de Piaget

que está na importância da mediação, na idéia comum da importância do social para que

esse processo da aprendizagem ocorra efetivamente.

Retornando a perspectiva de cada um, pode-se observar que o construtivismo entende

que o sujeito assimila os objetos, (estrutura social, conceitos, idéias e definições) a

partir de sua estrutura interna prévia, mas é a dinâmica da interação que propicia e

transforma o objeto. O interacionismo entende que tais objetos são construções sociais

(signos) e que para internalizá-los o ser humano precisa captar os significados já aceitos

socialmente. Assim a aquisição de significados está intimamente ligada com a interação

social. A partir deste ponto a educação tanto para Piaget quanto para Freire, foi sempre

defendida a partir de uma boa formação para os professores, para que esses possibilitem

uma educação crítica e dialógica aos alunos, e a maior semelhança entre ambos os

autores é que os dois rejeitavam o modelo de educação tradicional.13

Contudo, neste sentido, pode-se observar objeções e criticas a teoria de Piaget no que

diz respeito à questão social, porém, o próprio Piaget destacou em muitos momentos

que o sujeito sem o social não teria a mínima condição de se constituir. Piaget coloca

que “a inteligência humana somente se desenvolve no individuo em função de

interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas.”, (Apud La

Taille , 1992)

13 http://www.cobra.pages.nom.br/ecp-piaget.html

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Jean William Fritz Piaget, nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 09 de agosto de 1886.

Desde criança interessou-se por mecânica, fósseis e zoologia, tendo sido um menino

prodígio, que aos 11 anos de idade, publicou seu primeiro trabalho, onde relatava uma

observação sobre um pardal albino. Enquanto terminava seus estudos, aos sábados

trabalhava como assistente voluntário, no Museu de História Natural de Neuchâtel.

Graduou-se na universidade de Neuchâtel. Estudando Biologia e Filosofia recebeu em

1918, com 22 anos de idade, seu diploma de doutorado em Biologia. Embora Piaget

tenha lecionado em varias universidades européias, vale lembrar que sua formação era

em biologia e não em psicologia ou pedagogia.

Logo após se formar foi para Zurique, onde foi aluno de Jung, tendo trabalhado como

psicólogo experimental e psiquiatra. Em 1919, muda-se para França, onde é convidado

a trabalhar no laboratório de Alfred Binet. Neste trabalho seus estudos iniciaram-se na

apreciação dos bebês, onde ele pode constatar que os bebes, passavam dos estágios mais

simples aos mais complexos, evoluindo progressivamente no decorrer do

desenvolvimento físico, tendo esse desenvolvimento raízes orgânicas e genéticas.

Começa a perceber que as crianças, da mesma faixa etária cometiam erros semelhantes,

concluindo que para se chegar ao pensamento lógico a criança passa por graduações, e

foi a partir dessas suas observações e dos estudos até mesmo de seus próprios filhos,

que pode estabelecer as bases de sua proporia teoria, a qual chamou de Epistemologia

Genética. Em 1921, volta a Suíça, sua terra natal, tornando-se diretor de estudos no

Instituto J.J Rousseu da Universidade de Genebra, lugar em que realizou o maior

trabalho de sua obra - a construção da Teoria da Epistemologia Genética.14 A

Epistemologia Genética postula que a aprendizagem acontece a partir da interação do

sujeito com seu meio, mas também a partir de estruturas previamente existentes no

sujeito, não priorizando ou prescindindo de nenhuma das duas. Piaget sistematizou suas

informações e denominou a metodologia de sua teoria de Método Clinico.

Jean Piaget foi um dos primeiros estudiosos a pesquisar cientificamente como o

conhecimento era formado na mente de um pesquisador, fazendo com que a palavra

pesquisador ganhasse um sentido mais amplo, do que tinha até então. Sua teoria fundiu

dois paradigmas, sobre teorias da aprendizagem que eram reinantes há muito tempo na 14 http://www.oei.es/divulgacioncientifica/noticias_428.htm

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filosofia e em sua época. Eram esses o empirismo, onde acreditava-se que o sujeito era

uma tabula rasa não havendo nada que não tenha entrado por meio do intelecto, e o

apriorismo, onde se acredita que todo o conhecimento fosse, a priori, inerente ao próprio

sujeito. 15

Desenvolvendo campos de estudos científicos, como o da psicologia do

desenvolvimento e da teoria cognitiva. Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de

trabalhos, e vindo a falecer em Genebra no dia 16 de setembro de 1980.

3.2 – Planejando ensinar de acordo com cada fase.

[...] o principio fundamental dos métodos ativos só se

pode beneficiar com a História das Ciências e assim

pode ser expresso: compreender é inventar, ou

reconstruir através da reinvenção, e será preciso curvar-

se ante tais necessidades se o que se pretende, para o

futuro, é moldar indivíduos capazes de produzir ou de

criar, e não apenas de repetir. (PIAGET, 1988, p. 17)

Piaget pode perceber que as crianças estão sempre criando e testando suas criações no

mundo, sendo dessa forma ativa na construção do seu conhecimento. Ele entende a

partir de então que a lógica e forma de pensar das crianças é diferente da lógica dos

adultos, no que conclui que as atividades lúdicas são o berço obrigatório das atividades

intelectuais para as crianças. Essas atividades de acordo com o autor não são apenas

uma forma de entretenimento ou passatempo como é percebido popularmente, mas sim

uma forma de aprender e ter prazer. (PIAGET, 1976).

Piaget observou fases no desenvolvimento cognitivo, e assim as classificou

biologicamente como: fase sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e

operatório formal. De acordo com ele, é então a partir da maturação de cada uma

15 http://penta.ufrgs.br/~luis/Ativ1/Construt.html

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dessas fases que se pode pensar em como as crianças aprendem. Abrem-se então em

conseqüência dessa idéia, possibilidades de se pensar em um caminho de ensino focado

no lúdico.

Contudo atenta para o fato, de que a forma de assimilar de cada um, tem seus esquemas

próprios. Chamando atenção para a subjetividade. A criança, portanto, apreende os

sentidos que sua mente alcança, e lê o mundo ao seu modo, mas ao mesmo tempo a

aprendizagem se dá com acomodação interna das realidades paralelas, em síntese como

já havia sido exposto, através da interação. (LA TAILLE, 1992) A partir de então há a

importância de um olhar aos educadores, esses como agentes sociais mediadores, que

podem ajudar aos alunos aprendizes a desenvolver suas habilidades.

Traçar um planejamento de ensinagem de acordo com cada fase diz respeito a um olhar

para qual fase o aluno encontra-se traçando desta forma um planejamento de ensinagem

em acordo com sua “estrutura” e “universo simbólico”, neste sentido o material lúdico

apresenta-se extenso atendendo em toda sua dimensão está necessidade. Contudo este

trabalho foca as fases pré-operatório, operatório concreto, por ser sua delimitação de

objeto de pesquisa. Essas fases em acordo com o autor serão apresentadas e alguns

conteúdos de ensino lúdico exposto sucintamente, tendo em vista sua extensibilidade.

Estágio pré-operatório16: O estágio pré-operatório, vai do 18º mês aos 8 anos de vida,

nesta fase a criança busca adquirir a habilidade verbal da linguagem, e desenvolve a

habilidade de nomear objetos e raciocinar intuitivamente, mas ainda não consegue

coordenar operações fundamentais como operações concretas.

Estágio operatório concreto:17 O estágio operatório concreto, vai dos 8 aos 12 anos de

vida, neste estágio a criança já começa a lidar com conceitos abstratos, como relações

entre elementos associações e números, caracterizando-se por uma lógica interna mais

consistente e pelo desenvolvimento da habilidade de solucionar problemas concretos.

16 http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/psicologia/psicologia_trabalhos/cresccriancapiaget.htm

17 http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/psicologia/psicologia_trabalhos/cresccriancapiaget.htm

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O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil". (Piaget 1976, p.160).

Nas fases pré-operatório e operatório concreto: Na fase de 2 a 6 idade, fase do jogo

simbólico, estágio que coincide com o pré escolar, os brinquedos são um material

simbólico figurativo que abrangem todo o universo da aprendizagem formal, pois

possibilitam a criação, desta forma podem ser usados pelos educadores conforme sua

criatividade. Na fase do ensino fundamental dos 6 aos 14 anos os vários jogos bem

como a enorme gama de material lúdico podem auxiliar o educador no conteúdo para

ensinagem, mas, mais uma vez a criatividade do educador junto com sua equipe

pedagógica em relação aos conteúdos programáticos são de fundamental importância,

pois é preciso reconhecer e introduzir as brincadeiras como oportunidades de mais um

conteúdo, e não somente um lazer. No reconhecimento e introdução do conteúdo lúdico

pode-se trabalhar a matemática nos jogos e brincadeiras, trabalhando assim com os

alunos, cálculo, lógica de classificação, estabelecimento de igualdades e dicotomia,

inserção e interseção de classes, seriações, mudança de critério. No português a

introdução das montagens de histórias e textos coloca os alunos em contato com a

leitura, desenvolvendo as habilidades de expressão da linguagem escrita e oral,

estimulando o gosto pela leitura e pela matéria como um todo. Nas ciências pode-se

trabalhar com os signos icônicos (desenhos e brinquedos) que representem o biológico,

ajudando e estimulando em criações dos próprios alunos para pesquisas e montagens de

maquetes de toda ordem, as ecológicas, por exemplo, ajudam na conscientização do

meio ambiente, transformando a matéria em algo que ganhe sentido vivo. Na educação

física a introdução de dinâmicas e os próprios jogos corporais, auxiliam no

reconhecimento dos educadores sobre quem são os alunos, e na construção dos alunos

da motricidade espacial, da socialização, entre outras inúmeras formas de se introduzir a

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educação lúdica. Alguns materiais como a caixa de lógica-simbólica, jogos como

Mancala e Tangram, são alguns exemplos de uma ensinagem lúdica prazerosa que

promovem inúmeras possibilidades de reconhecimento do aluno e ajuda ao mesmo em

diversas direções, em que as crianças podem interagir tanto com o grupo quanto com o

educador.

Todo trabalho escolar pressupõe um material, é quanto mais ativos são os métodos, maior é a importância do material utilizado. [...] Nos sistemas tradicionais de educação cogita-se apenas manuais para estudo, de cadernos, papel, e algum material indispensável para de trabalhos manuais. (PIAGET 1988, p. 37-38).

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Conclusão A psicopedagogia iniciou-se na Europa em 1946, através de J Boutonier e George

Mauco, a partir de uma direção médica que unia as ciências da psicologia, psicanálise e

da pedagogia. A princípio ela tinha um olhar de readaptação, para dificuldade de

aprendizagem e os comportamentos considerados inadequados socialmente.

A literatura francesa de Janine Mery e George Mauco entre outros trabalhos,

influenciaram significativamente a psicopedagogia na Argentina, que por conseqüência

veio a influenciar a práxis no Brasil. Foi em Buenos Aires, na década de 70 que

aconteceu o primeiro curso de Psicopedagogia. Ao ser introduzida no Brasil, veio nos

moldes médicos, focando os problemas de aprendizagem, contudo através da união com

a psicanálise e a psicologia a psicopedagogia pretendia conhecer o contexto da criança

visando a possibilidade de ações de reeducação.

E assim foi também na década de 70 em Porto Alegre que foram ministrados os

primeiros cursos de formação em especialização de clinica médica pedagógica. O Brasil

recebeu suas principais contribuições para o desenvolvimento da área psicopedagógica

dos profissionais argentinos, como Sara Paín, Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, Jorge

Visca, dentre outros. (BOSSA, 2000)

Psicopedagogia... o termo assinala de forma simples e direta uma das mais profundas e importantes razões da produção de conhecimento cientifico: o de ser meio, o de ser instrumento, para um outro, tanto em uma perspectiva teórica ou aplicada” (Apud A. Bossa, 2000 p.4)

Ensinar a aprender brincando, pode ser um grande desafio para as instituições de

educação, visto que essas empregam em sua metodologia o ensino nos moldes

tradicionais. Toda mudança requer em primeiro plano uma quebra de resistência, para

tanto, as várias instâncias que regem o corpo institucional (social, política e econômica)

devem em um primeiro momento olhar para esta direção para que possam mobilizar-se.

A psicopedagogia neste sentido como ciência intermediária que estuda tanto os

processos psicológicos quanto os meios pedagógicos vem demonstrando através de sua

solidez e êxitos na historia da educação, que é possível outros tipos de intervenção

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diferentes da do conteúdo programático tradicional. Atribuindo então uma visão menos

organicista a educação, não mais focando somente nas dificuldades através de leis e

teorias biológicas, mas passando a entender as dificuldades também como

atravessamentos sociais, trazendo nesse processo a contextualização tanto dos

professores como de todo corpo institucional e familiar. Contribuindo na educação com

um enfoque mais rico, a psicopedagogia passa a abranger os vários eixos da educação,

como o cognitivo, afetivo, motor e relacional e/ou social, reconhecendo desta forma a

aprendizagem como um processo pluricausal.

O professor e o pedagogo como mediadores diretos da instituição que se propõem a

ensinar, passaram a ser olhados pela psicopedagogia sobre a ótica de seu preparo, diante

das inúmeras variáveis que representam á realidade dos alunos, entre elas à

subjetividade desses. A interação entre docentes e discentes entra em pauta, por ser esta

à maior ferramenta de medição. Partindo destes pressupostos pode-se entender a

psicopedagogia como uma área de caráter interdisciplinar, pois seja em seu enfoque de

conteúdo disciplinar, de diagnóstico ou de tratamento o psicopedagogo lança mão de

um olhar para diagnosticar tanto o aluno quanto da instituição. Dentro de suas muitas

ferramentas, o lúdico que explora o brincar, característica universal de toda época e

cultura, é uma ferramenta que permite a experimentação em expressão livre e prazerosa.

Uma ferramenta que entra em acordo com cada estágio do desenvolvimento, e por fazer

parte da natureza do desenvolvimento auxilia nos processos de simbolização, servindo

como mediadora que permite interação entre objetos e meio social. Em síntese o

conteúdo lúdico revela-se como instrumento para que se vá onde o outro está,

expressando respeito ao desenvolvimento dos recursos internos do individuo. Abre-se

então a partir destas observações sobre o lúdico como ferramenta educativa, mais uma

possibilidade na ajuda da ampliação do repertório interno da criança, auxiliador no

processo da aprendizagem cognitiva, afetiva, relacional e motora.

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BIBLIOGRAFIA

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§ PIAET, JEAN. Para onde vai a educação? Tad. José Olympo, 9ª edição, Rio

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§ TUDGE, J. Vygotsky, a zona de desenvolvimento proximal e a colaboração entre pares: implicações para a prática em sala de aula. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

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§ VYGOTSKY, L. S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre, Artmed, 2003

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WEBGRAFIA

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§ Disponível em: A História do Brincar

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Brincar

§ Disponível em: Semana acadêmica http://www.semanaacademica.org.br/sites/semanaacademica.org.br/files/investigacaodotrabalholudiconoprocessoensino-aprendizagem.doc

§ Disponível em: Vida e o obra de um gênio

http://pt.scribd.com/doc/53354508/19/VYGOTSKY-VIDA-E-OBRA-A-HISTORIA-DE-UM-GENIO

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 1

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

Capitulo I 12

Brincando e aprendendo.

1.1- Um breve histórico sobre o conceito de infância. 12

1.2- Vygotsky, uma breve contextualização. 14

1.3- As possibilidades do Lúdico como mediação na aprendizagem. 16

1.4- Através da Zona Proximal de Desenvolvimento, aprendendo 19

de forma prazerosa.

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Capitulo II22

Indo até onde o outro está aprendendo a ensinar.

2.1- Paulo Freire, uma breve contextualização. 22

2.2 – A linguagem Lúdica é dialógica indagadora e imaginativa. 25

é a articulação da criança com o meio.

2.3 – Comprovações da importância do ensino lúdico 28

uma pesquisa e números.

Capitulo III 32

Traçando planejamento de ensinagem de acordo com cada fases.

3.1 – Piaget, uma breve contextualização. 32

3.2 – Planejando ensinar de acordo com cada fase. 36

Conclusão 38

Bibliografia 40

Webgrafia 43

Índice 44