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UNIVERSIDADE DE BRASLIA INSTITUTO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LINGUSTICA, PORTUGUS E LNGUAS CLSSICAS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA

GRUPO DE ESTUDOS CRTICOS E AVANADOS EM LINGUAGEM

Anais da I Jornada Internacional de

Lingustica Aplicada Crtica

Nmero 1, 2018, v. nico.

Kleber Aparecido da Silva

Juscelino Francisco do Nascimento

Gabriel Estrela da Silva

Organizadores

Braslia

2018

Comisso Organizadora

Ana Karolina de Azevdo Gomes

Edinei Carvalho dos Santos

Eduardo Dias da Silva

Elda Alves Oliveira Ivo

Elisa Neves Martini Vieira

Elkerlane Martins de Arajo Moraes

Joseane Severo dos Santos

Juscelino Francisco do Nascimento

Kleber Aparecido da Silva

Lanisson Arajo Gonalves

Lucimar Pinheiro da Silva Sampaio

Rita de Cssia Augusto

Rodriana Dias Coelho Costa

Rubens Lacerda de S

Snia Margarida Ribeiro Guedes

Zenaide Dias Teixeira

Comisso Cientfica

Profa. Dra. Carine Schenekenberg Guedes

Profa. Dra. Carmem Jen Machado Caetano

Profa. Dra. Catia Regina Braga Martins

Profa. Dra. Cibele Brando de Oliveira Borges

Profa. Dra. Clarissa Menezes Jordo

Prof. Dr. Digenes Cndido de Lima

Prof. Dr. Domingos Svio Pimentel Siqueira

Profa. Dra. Elaine Fernandes Mateus

Profa. Dra. Francisca Cordlia Oliveira da Silva

Prof. Dr. Francisco Carlos Fogaa

Prof. Dr. Hlvio Frank de Oliveira

Profa. Dra. Reinildes Dias

Profa. Dra. Rosinda de Castro Guerra Ramos

Prof. Dr. Vilson Jose Leffa

Copyright 2018 Kleber Aparecido da Silva, Juscelino Francisco do Nascimento e Gabriel

Estrela da Silva (Orgs.). proibida a reproduo total ou parcial desta obra sem autorizao

expressa dos autores e organizadores.

Todos os textos so de inteira responsabilidade dos respectivos autores

Capa

Gabriel Estrela da Silva

[email protected]

FICHA CATALOGRFICA

Servio de Processamento Tcnico da Universidade Federal do Piau

Biblioteca Jos Albano de Macdo

J828a Jornada Internacional de Lingustica Aplicada Crtica. ( 1. : 2018 :

Braslia, DF)

Anais da 1 Jornada Internacional de Lingustica Aplica Crtica

[Recurso Eletrnico] / 1 Jornada Internacional de Lingustica Aplicada

Crtica, 24 a 25 de abril de 2017, Braslia, DF ; Organizado por Kleber

Aparecido da Silva, Juscelino Francisco do Nascimento, Gabriel Estrela

da Silva. Braslia: UnB, 2017.

628 p

Disponvel online

ISBN: 978-85-509-0307-1

1. Lingustica Aplicada Crtica. 2. Educao. 3. Pesquisa e Ensino. I.

Silva, Kleber Aparecido de, org. II. Nascimento, Juscelino Francisco do,

org. III. Silva, Gabriel Estrela, org. IV. Ttulo.

APRESENTAO

Na conjuntura fluida da modernidade, necessrio buscar um aporte metodolgico

que transcenda muros, fronteiras e concepes, sempre que se fizer necessrio para promover

o direito educao a todos os cidados, indistintamente. Nessa perspectiva, a Jornada

Internacional de Lingustica Aplicada Crtica (JILAC) foi uma iniciativa acadmico-cientfico

do Grupo de Estudos Crticos e Avanados em Linguagem (GECAL/CNPq/UnB), em sua

primeira edio, nos dias 24 e 25 de abril de 2017, na Universidade de Braslia.

Com a Jornada, visamos reiterar a natureza da Lingustica Aplicada Crtica pelo

compromisso que assume com os sujeitos e suas reais necessidades, em vez de altear ou

perpetuar vertentes metodolgicas que no traduzem os anseios humanos. Tal proposta foi

efetivada, durante o evento, por meio de debates para disseminao de pesquisas recentes no

campo da Linguagem, pelas comunidades acadmicas de Letras, Lingustica e Educao,

atuantes em Instituies de Ensino Superior do Brasil e do exterior; profissionais das redes

pblica e particular de ensino; estudantes de ps-graduao e graduao e outros profissionais

interessados em refletir criticamente acerca de sua prtica pedaggica.

Como um dos resultados da JILAC, apresentamos estes Anais Eletrnicos, os quais

contm 43 artigos completos apresentados nas sesses coordenadas e/ou psteres, alm de um

relato de experincia acerca de prticas indgenas de letramento.

Nesta edio inaugural, as discusses e reflexes ensejadas por esta Jornada

Internacional cumprem com plano de publicaes para disseminao de resultados a um

pblico certamente ainda maior do que o que esteve na Jornada, a partir do binmio que foi a

agenda do evento: A Lingustica Aplicada Crtica e seu compromisso com a sociedade.

Comisso Organizadora

SUMRIO

ANLISE DE SEQUNCIAS ARGUMENTATIVAS DO GNERO TEXTUAL

ARTIGO DE OPINIO NA UNIVERSIDADE

Erica Reviglio Iliovitz

9

GNEROS DIGITAIS E MULTILETRAMENTOS: PRTICAS PEDAGGICAS NA

SALA DE AULA

Fbia Magali Santos Vieira e Florncia Vieira Pacheco Andrade

22

LETRAMENTO CONTBIL: DESCREVENDO O GNERO NOTA DE EMPENHO

DO SISTEMA INTEGRADO DA ADMINISTRAO FINANCEIRA (SIAFI) DO

TESOURO NACIONAL

Rosineide Tertulino de Medeiros Guilherme e Carlos Henrique Silva

37

GNEROS RETRICOS NO ENSINO: UMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA

Audiney Jos Pereira e Luzia Rodrigues da Silva

51

O ATO DE NOMEAR PELA MDIA: UMA POLTICA DE PODER NA

CONSTRUO DA IDENTIDADE DA MULHER BRASILEIRA

Fabiene de Oliveira Santos

68

AS FUNES SOCIAIS E DISCURSIVAS DA HASHTAG EM GNEROS DIGITAIS:

UMA REFLEXO

Christiane Tegethoff Motta de Araujo e Francisca Cordlia Oliveira da Silva

85

REPRESENTACOES DISCURSIVAS MULTIMODAIS DA GLOBALIZACAO E DA

DEMOCRACIA E A VIOLNCIA NA ESCOLA DO DF

Thais Lbo Junqueira e Francisca Cordlia Oliveira da Silva

99

O QUE CABE NA PANELA? REPRESENTAES LINGUSTICO-DISCURSIVAS

NO CONTEXTO SOCIOPOLTICO BRASILEIRO

Juliana Ferreira Vassolr e Francisca Cordlia Oliveira da Silva

111

IDENTIDADES EM CONSTRUO: O IDEAL DE ALUNO

Barbara Venturoso e Francisca Cordlia Oliveira da Silva

127

CARETADA: IDENTIDADES E SUBJETIVIDADE NA COMUNIDADE

QUILOMBOLA SO DOMINGOS

Luiz Henrique Gomes Silva

143

A CONSTRUO DE IDENTIDADES DE PROFESSORES EM MDIA IMPRESSA

Fernanda da Silva Oliveira e Sstenes Cezar de Lima

157

A REFLEXIVIDADE DO PROFESSOR DE LNGUAS E SUA RESSIGNIFICAO

IDENTITRIA

Camila Mara Andrade Silva

167

DISCURSOS E IDENTIDADES NACIONAIS NA WEB

Monique de Mesquita Lessa

182

PUBLICIDADE E RACISMO NA SIA: O CLAREAMENTO DERMATOLGICO

Larissa de Pinho Cavalcanti

198

O "EU" E O "OUTRO" NO ENSINO DE LNGUA INGLESA SEGUNDO A

PERSPECTIVA INTERCULTURAL

Pollyanna Morais Espndola Gomides e Ariovaldo Lopes Pereira

212

E MENINAS NO PODEM IR ESCOLA?: DA INQUIETAO AO

Maura Dourado

226

OUVINDO O SILNCIO EM SALA DE AULA

Daniel Bruno Silva Rodrigues

244

LXICO E ENSINO: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE LNGUA PORTUGUESA

Dayanny Marins Coelho e Knia Mara de Freitas Siqueira

256

O PROCESSO DA ESCRITA NA APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA:

ESTRATGIAS E PROBLEMAS

Kleiton Borges

272

O ENSINO DE INGLS NO CONTEXTO DE GLOBALIZAO: REFLEXES

SOBRE AS PERCEPES DE PROFESSORES DE LE

Sigrid Rochele Gusmo Paranhos Magalhes

289

CULTURA EM ENSINO-APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA (LE):

DESENVOLVIMENTO DE COMPETNCIA INTERCULTURAL

Tatianne Gomes de Sousa

305

O ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA DE FORMA INTERDISCIPLINAR,

INTERCULTURAL E LDICA: ESPANGLISH, UM EXEMPLO DE INOVAO

Graziani Frana Claudino de Aniczio, Mrcia Seplvida do Vale e Roberto Lima Sales

319

A CONTRIBUIO DO CONTO POPULAR PARA A FORMAO CRTICA DE

ALUNOS DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Antnio Carlos Soares Martins e Cleunice da Silva Lemos

331

PIBID - INGLS E A FORMAO DOCENTE

Ana Emilia Fajardo Turbin

342

POLTICAS LINGUSTICAS E DIVERSIDADE SOCIOLINGUSTICA E

CULTURAL EM CONTEXTO DE FRONTEIRA: PROBLEMTICAS E

PERSPECTIVAS

Ildio Macaringue e Tatiane Lima de Paiva

358

POLTICAS LINGUSTICAS DE ENSINO NAS ESCOLAS: UM ESTUDO DE CASO

COM TRS PROFESSORAS ATUANTES NA REDE PBLICA

Flvia Marina Moreira Ferreira

375

SOU SURDO/A, BRASILEIRO/A E ESTUDO ESPANHOL: LETRAMENTO

CRTICO E ENSINO DE ESPANHOL PARA SURDOS/AS

Rayssa Oliveira Sousa

391

ENSINO E APRENDIZAGEM DE LIBRAS COMO L2 NAS LICENCIATURAS:

DISCUSSES ATUAIS NA PERSSPECTIVA DOS ACADMICOS

Milene Galvo Bueno e Andra dos Guimares de Carvalho

405

A ESTILSTICA BAKHTINIANA E A LINGUSTICA APLICADA CRTICA:

RUPTURAS TORICO-EPISTMICAS E CRIAO LXICAL

Cristiane Dominiqui Vieira Burlamaqui

417

FORMAO DOCENTE: PARMETROS E DESAFIOS NO CONTEXTO DA

SOCIEDADE ATUAL

Heliud Luis Maia Moura

431

NOES DE ARGUMENTAO: O QUE OS PROFESSORES DE LNGUA

PORTUGUESA ARGUMENTAM NOS RELATRIOS DE ESTGIOS?

Julio Ferreira Neto

446

PARTIR E REINVENTAR A LNGUA: ARTICULAES ENTRE MODERNIDADE,

LINGUA E NAO

Diego Goulart Machado Silva

457

A SOCIOLINGUSTICA E A FORMAO DE PROFESSORES NO BAIXO

AMAZONAS

Franklin Roosevelt Martins de Castro

472

AS REPRESENTAES GRFICAS NO CONVENCIONAIS DAS SIBILANTES

ALVEOLARES NAS PRODUES ESCRITAS

Jucinete Dias dos Santos e Liliane Pereira Barbosa

485

A IMPORTNCIA DA ANLISE TEXTUAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA

COMPETNCIA LEITORA

Glaucia Cristina Maia Rga Serra e Paula Cobucci

499

O LEITOR E O PAPEL DA ESCOLA NA SUA FORMAO EM UMA ESCOLA NO

INTERIOR DO PIAU

Wellerson Sousa Leal e Juscelino Francisco do Nascimento

514

LOS PROCEDIMIENTOS DE TRADUCCIN PRESENTES EN UN FRAGMENTO

DE MEMORIA DE MIS PUTAS TRISTES

Las de Sousa Nbrega

529

TRANSLINGUAGENS, TRANSCULTURAO E DESCOLONIALIDADES NA

SALA DE AULA DE LNGUA PORTUGUESA ADICIONAL EM CONTEXTO

TRANSFRONTEIRIO: AS MISSES JESUTICAS E AS GUERRAS

GUARANTICAS

Henrique Rodrigues Leroy e Maria Elena Pires Santos

545

TRANSLINGUAJAMENTO: PENSANDO ENTRE LNGUAS A PARTIR DE

PRTICAS E METADISCURSOS MOBILIZADOS POR DOCENTES INDGENAS

EM FORMAO SUPERIOR

Denise Pimenta de Oliveira

559

OS REFLEXOS DO BLOG NO LETRAMENTO

Rosana Gondim

571

O PAPEL DA EXTENSO PARA A FORMAO DO PESQUISADOR CRTICO:

UM PROJETO INTERDISCIPLINAR DE LETRAMENTO CIENTFICO

Rosana Ferrareto Loureno Rodrigues

588

ESCUELA PEDAGGICA EXPERIMENTAL: EMPODERAMENTO SOCIAL POR

MEIO DO LETRAMENTO CRTICO E A DA TRANSDICIPLINARIDADE

Adda Sofa Barco

601

PRTICAS DE LETRAMENTO NO DOMNIO DO IBGE: A ESCRITA COMO

MTIER

Maria Aparecida da Costa e Ana Maria de Oliveira Paz

611

RELATO DE EXPERINCIA

PRTICAS INDGENAS DE LETRAMENTO PARA ALM DA ESCRITA

Suety Lbia Alves Borges

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ANAIS ELETRNICOS

ANLISE DE SEQUNCIAS ARGUMENTATIVAS

DO GNERO TEXTUAL ARTIGO DE OPINIO NA UNIVERSIDADE

Erica Reviglio Iliovitz1

Resumo: Este trabalho visa apresentar uma anlise de duas sequncias textuais

argumentativas em artigos de opinio produzidos na universidade. Tal anlise visa contribuir

para organizar um critrio de atribuio de notas produo desse gnero. Os artigos de

opinio foram elaborados como avaliao final de uma disciplina a partir de um enunciado

que apresentava uma questo para discusso e um artigo como referncia. A fundamentao

terica envolveu os conceitos de gnero textual/discursivo (Marcuschi, 2002; Dias et al, 2001;

Bakhtin, 2003); artigo de opinio (Brkling, 2000; Goldstein, Louzada e Ivamoto, 2009) e

sequncia textual argumentativa (Bronckart, 1999;

Cavalcante, 2012). Os resultados indicam que a qualidade da produo de um artigo de

opinio envolve no apenas o desenvolvimento do contedo temtico e o estilo (linguagem),

mas sobretudo o desenvolvimento adequado da sequncia textual argumentativa.

Palavras-chave: Gnero textual artigo de opinio. Sequncia textual argumentativa. Ensino

superior.

INTRODUO

O objetivo desse trabalho apresentar uma anlise de duas sequncias textuais

argumentativas em dois artigos de opinio produzidos na universidade.

O trabalho est organizado em quatro partes. Na primeira parte, ser apresentada a

fundamentao terica de nossa anlise, que envolve os conceitos de gnero

textual/discursivo, artigo de opinio e sequncia argumentativa. A segunda parte vai expor a

metodologia para obteno dos dados (no caso, a produo escrita dos artigos de opinio). Na

terceira parte, apresentaremos a anlise dos dados propriamente dita. Para concluir, na quarta

e ltima parte, teceremos algumas consideraes finais. Vejamos primeiramente a

fundamentao terica desse trabalho.

1 FUNDAMENTAO TERICA

1 Doutora em Lingustica pela Universidade Estadual de Campinas. [email protected]

mailto:[email protected]

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Como docente do ensino superior em disciplinas da rea de leitura e produo de

textos, me deparo com algumas produes escritas que podem ser consideradas, no mnimo,

intrigantes. No caso da produo escrita do gnero textual artigo de opinio, algumas questes

que surgiram foram as seguintes: qual a tese defendida no artigo de opinio produzido?

Quantos/quais foram os argumentos que os estudantes selecionaram para sustentar o ponto de

vista defendido? De que forma esses argumentos foram organizados ao longo do texto? Como

atribuir notas para essas produes?

Para responder essas questes, primeiramente ser apresentado o conceito de gnero

textual/discursivo2. Em seguida, abordaremos o conceito do gnero artigo de opinio e o de

sequncia textual argumentativa.

Marcuschi (2002) define gneros textuais como

[...] textos materializados que encontramos em nossa vida diria e que

apresentam caractersticas sociocomunicativas definidas por contedos,

propriedades funcionais, estilo e composio caracterstica. (MARCUSCHI, 2002, p. 22-23, grifo meus)

Assim, um gnero textual ou discursivo definido como um tipo relativamente estvel

de enunciado, sendo caracterizado pelo contedo temtico, pelo estilo e pela estrutura

composicional (DIAS et al 2011, p.145).

O contedo temtico referente ao assunto, s informaes nele contidas e

organizao dessas informaes. O estilo envolve [...] seleo dos recursos lexicais,

fraseolgicos e gramaticais da lngua [...] (BAKHTIN 2003, p.261). Finalmente, a estrutura

composicional pode envolver imagens e o meio de divulgao (suporte) do gnero em questo

(internet, livro didtico, panfleto, etc).

Vejamos agora o conceito de gnero textual artigo de opinio, seguido do conceito de

sequncia textual argumentativa. O gnero textual artigo de opinio pode ser definido da

seguinte forma:

2 Alguns autores consideram que o conceito de gnero textual sinnimo de gnero discursivo. Entretanto,

conforme Dias et al (2011), enquanto o conceito de gnero textual filiado linha terica da Lingustica Textual

e aos aspectos lingusticos mais formais do texto, o conceito de gnero discursivo remete Anlise do Discurso e

aos postulados de Bakhtin (ILIOVITZ, 2016, p. 18). Embora estejamos cientes dessa distino terica, para os

propsitos desse artigo, gnero textual e gnero discursivo sero considerados sinnimos.

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O artigo de opinio um gnero de discurso onde se busca convencer o

outro de uma determinada ideia, influenci-lo, transformar os seus valores

por meio de um processo de argumentao a favor de uma determinada

posio assumida pelo produtor e de refutao de possveis opinies

divergentes. um processo que prev uma operao constante de

sustentao das afirmaes realizadas, por meio da apresentao de dados

consistentes, que possam convencer o interlocutor. (BRKLING, 2000,

p.04)

Nesse sentido, o artigo de opinio visa promover uma mudana de ideia do outro

em relao a determinado assunto atravs da seleo e organizao de argumentos.

Nas palavras de Goldstein, Louzada e Ivamoto (2009):

O artigo de opinio , portanto, um gnero que possibilita ao autor expor

livremente o seu modo de pensar, o seu ponto de vista sobre uma questo

controversa, e que se destina a convencer o leitor por meio de uma

argumentao sustentada sobre essa posio. Em geral, os ttulos desses

textos opinativos j anunciam o ponto de vista do autor em relao ao tema

ou questo polmica em pauta. (GOLDSTEIN, LOUZADA, IVAMOTO

2009, p. 97)

Diante do exposto, constatamos que o principal propsito comunicativo do gnero

textual artigo de opinio convencer o outro atravs da seleo e organizao de argumentos.

Mas preciso lembrar que a composio dos gneros textuais tambm envolve (alm do

contedo, do estilo e da estrutura composicional) um outro aspecto especfico: um tipo textual

(ou sequncia textual), conforme explicam Koch e Elias (2006):

os gneros so formados por sequncias diferenciadas denominadas tipos

textuais. [...] Marcuschi (2002:23) afirma que os tipos textuais constituem

sequncias lingusticas ou sequncias de enunciados e no so textos

empricos. Teoricamente, os tipos so designados como narrativos,

descritivos, argumentativos, expositivos ou injuntivos. (KOCH E ELIAS

2006, p. 119, grifo das autoras)

Um artigo de opinio um gnero textual que apresenta o tipo textual (ou sequncia

textual) argumentativo(a). Nas palavras de Cavalcante (2012, p. 67), essa sequncia textual

[...] visa defender um ponto de vista, uma tese, e os argumentos para sustent-la vo sendo

gradativamente apresentados.

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Bronckart (1999) explica e esclarece ainda mais a sequncia argumentativa, que parte

de um raciocnio argumentativo composto de tese, argumentos, contra-argumentos e

concluso:

[...] o raciocnio argumentativo implica, em primeiro lugar, a existncia de

uma tese [...] a respeito de um dado tema [...]. Sobre o pano de fundo dessa

tese [...] so [...] propostos dados [...] que so objeto de um processo de

inferncia [...] que orienta para uma concluso [...]. O prottipo da sequncia

argumentativa apresenta-se como uma sucesso de quatro fases:

_ a fase de premissas (ou dados) em que se prope uma constatao de

partida;

_ a fase de apresentao de argumentos, isto , de elementos que orientam

para uma concluso provvel, podendo ser esses elementos apoiados por [...]

exemplos, etc;

_ a fase de apresentao de contra-argumentos [...]

_ a fase de concluso [...] que integra os efeitos dos argumentos e contra-

argumentos (BRONCKART 1999, p. 226-227)

Depois de termos apresentado brevemente os conceitos de gnero

textual/discursivo, o conceito de gnero textual artigo de opinio e a sequncia textual

argumentativa, apresentaremos a seguir a metodologia e anlise de dados.

2 METODOLOGIA

As duas sequncias argumentativas analisadas neste trabalho esto inseridas em dois

artigos de opinio. Esses artigos foram elaborados em dezembro de 2016 como avaliao final

de uma disciplina que aborda gneros argumentativos no curso superior de Publicidade e

Propaganda na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, campus de Natal-RN. A

avaliao era composta de um enunciado que apresentava uma questo para discusso e um

artigo como referncia (cf. anexo), conforme exposto a seguir:

Leia o artigo de opinio em anexo.

Em seguida, escreva seu prprio artigo de opinio respondendo a seguinte pergunta:

o modismo digital reduz o desempenho dos jovens nas modalidades cultas da lngua?

Leve em considerao os seguintes aspectos:

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a) a estrutura composicional desse gnero argumentativo (ttulo,

contextualizao do fato comentado, desenvolvimento argumentativo, concluso);

b) a linguagem (uso da 1 pessoa do singular e de expresses modalizadoras);

c) o contedo, que deve ser claro, breve e especfico.

O critrio de seleo dos artigos foi o desenvolvimento da sequncia argumentativa.

Na seo seguinte, apresentaremos nossa anlise dessas duas sequncias argumentativas

presentes nos artigos.

3 ANLISE DOS DADOS3

3.1 SEQUNCIA ARGUMENTATIVA DO PRIMEIRO ARTIGO DE OPINIO

O primeiro artigo de opinio selecionado para anlise transcrito a seguir:

Educao e Cybercultura como afeta (sic) os jovens?

Recentemente em nosso pas houve a proposta para reforma na grade curricular de

ensino nas escolas, como a no obrigatoriedade de algumas disciplinas, deixando a cargo

dos alunos a escolha.

A preocupao com a qualidade tanto do ensino quanto do tipo de aluno encontrado

atualmente j vem sendo discutida h algum tempo. Que tipos de pessoas esto sendo

lanadas no mercado e ensino profissionalizante (superior)?

Esta (sic) pergunta acima acaba se expandindo, se levarmos em considerao a atual

conjuntura da sociedade, os desafios encontrados e um ponto onde todos convergem, a

tecnologia; aliada ou vil?

O mundo est envolto pela tecnologia, por maior que seja a resistncia de algumas

pessoas ainda. A cultura, comportamento, lazer, informaes e comunicao dentre outros,

so diretamente afetados e constantemente alterados pelos novos moldes da tecnologia.

3 Os artigos de opinio foram transcritos conforme os originais. Eventuais erros gramaticais foram mantidos e o

advrbio latino sic (que significa exatamente assim) foi acrescentado aps alguns deles.

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Mas como isto (sic) afeta o ensino/aprendizado? A cybercultura, a cultura criada no

mundo virtual, tendo suas caractersticas prprias, inclusive modificaes na lngua para se

adequar a (sic) quantidade de informaes trocadas em um curto espao de tempo,

principalmente entre os jovens.

Alguns criticam esta forma de escrita/linguagem por achar que ocorrem prejuzos,

onde os jovens vo perdendo capacidade de aplicar o uso correto da lngua fora do ambiente

digital. Mas acabam esquecendo que os jovens atualmente so mais cobrados por encontrar

uma maior concorrncia ao acesso do ensino superior, e ao conseguir sua vaga, ainda tem

que executar constantes atividades avaliativas, independente do curso ou rea, a escrita

sempre cobrada.

Podemos concluir que o jovem de hoje tem a obrigao de estar mais preparado, que

por mais que o constante uso da cybercultura seja presente no cotidiano, no h perdas

quanto aos requisitos necessrios para uma boa comunicao e escrita, devido a (sic)

necessidade e importncia cada vez maior.

Esse artigo de opinio composto de sete pargrafos. Os trs primeiros

contextualizam o tema; o primeiro e o terceiro so compostos de apenas uma frase. O quinto

pargrafo apresenta uma pergunta retrica (Mas como isto (sic) afeta o

ensino/aprendizado?) e o ltimo pargrafo, tambm composto de uma nica frase, conclui a

discusso apresentando uma conjuno concessiva e reforando a tese defendida: por mais

que (concesso) o constante uso da cybercultura seja presente no cotidiano, no h perdas

quanto aos requisitos necessrios para uma boa comunicao e escrita, devido a (sic)

necessidade e importncia cada vez maior.

A tese (o modismo digital no reduz o desempenho dos jovens nas modalidades cultas

da lngua) est relativamente bem explicitada no quarto pargrafo, que afirma que o mundo

est envolto pela tecnologia, e no sexto pargrafo, juntamente com a apresentao de um

nico argumento atravs da conjuno adversativa mas: alguns criticam esta forma de

escrita/linguagem por achar que [...] os jovens vo perdendo capacidade de aplicar o uso

correto da lngua fora do ambiente digital. Mas [...] a escrita sempre cobrada.

Entretanto, como se no bastasse haver apenas um argumento que sustenta a tese, esse

argumento ainda pouco desenvolvido. Talvez alguns exemplos pudessem ser elencados para

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enriquecer a reflexo. De modo esquemtico, a sequncia argumentativa nesse artigo de

opinio pode ser sistematizada da seguinte forma:

Artigo de opinio 1

TESE o modismo digital no reduz o desempenho dos jovens nas modalidades

cultas da lngua

ARGUMENTO a escrita sempre cobrada (sexto pargrafo)

CONCLUSO no h perdas quanto aos requisitos necessrios para uma boa

comunicao e escrita (stimo pargrafo)

AVALIAO Ruim/razovel; sequncia pouco desenvolvida; nota sugerida: 5,0 (cinco)

Tabela 1- sequncia argumentativa do primeiro artigo de opinio

Vejamos agora a anlise do segundo artigo de opinio.

3.2 SEQUNCIA ARGUMENTATIVA DO SEGUNDO ARTIGO DE OPINIO

Eis o segundo artigo de opinio para anlise:

Escrita e linguagem, um reflexo da vida

Nestor Grcia Canclini autor do livro Expectadores, leitores e internautas, discorre

sobre um assunto muito importante na atualidade a comunicao na era da conectividade.

Este o principal assunto de minha discusso. Ao mesmo tempo que a internet e o mobile

facilitam o acesso ao universo da leitura, afasta principalmente da escrita analgica: Lpis

na mo e papel na mesa.

Pensar digitalmente significa tambm reduo. Reduzir os caracteres ao mximo para

uma sntese clara e objetiva, se couber em uma frase melhor ainda. Textos extensos so

sintetizados em memes, frases sustentam dissertaes e assim o abismo na comunicao

inrrompe (sic).

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Mas afinal, com quantos paus se faz uma canoa? Talvez uma sntese facilite tudo mas

trs (sic) consigo problemas estruturais significativos. Como entusiasta de Canclini fao dele

as minhas palavras Tudo benfico, depende apenas como utilizamos os meios. Se voc

no depende apenas de si mesmo para redigir um texto e conta com as utilidades dos

corretores, o que esperar de sua capacidade de raciocnio prprio? Embora, de

contrapartida, estudar e aprender gramtica tenham sido facilitados com a internet, pouco

interesse h nos usurios.

O que voc no sabe que a maneira como a humanidade desenvolve sua escrita um

reflexo de como funciona estruturalmente sua cultura e sociedade, reflete mais precisamente

sua organizao e sua forma de pensar. Se a minha relao com a escrita e o universo das

palavras segue um raciocnio til, eficaz, semitico, de qualidade com formao de um

potencial para desenvolvimento crtico da realidade, como ele se relaciona eficasmente (sic)

com os millenius (sic)? Como nos comunicamos?

Sim, eu digo, o modismo digital seguido de grias, aglutinaes, abreviaes,

hibridismo e improviso normativo uma expresso cultural importante e portadora de

significados importantes para a mudana que estamos passando em nossa comunicao

nesse mundo digital. claro que tem a sua relevncia, e a linguagem utilizada justificada

pelo ambiente informal e coloquial. Entretanto, no h como se defender ou ao menos no

deixar de notar que essa linguagem empobrecedora.

Ela no possibilita o debate e discusso eficazes, os argumentos tornam-se falcias, o

processo de comunicao mais profundo que requer um pensamento de qualidade necessita

de uma linguagem complexa, que a escrita formal possibilita. As pesquisas revelam que em

meio sculo h mais percas (sic) que ganho (sic) na escrita.

por isso que preciso acordar os jovens da inrcia e facilidade da escrita digital,

pois afinal de contas a linguagem que nos determina enquanto sujeitos, e ela precisa ser

dominada em toda sua complexitude (sic)4 para no sermos peas de um jogo daqueles que a

domina (sic).

4 A palavra complexitude no foi encontrada em dicionrios. Talvez ela corresponda a uma amlgama do

adjetivo complexo com o substantivo completude, gerando um neologismo.

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Esse segundo artigo de opinio tambm composto de sete pargrafos e, assim como

o artigo anterior, apresenta uma pergunta retrica, embora essa seja figurada (com quantos

paus se faz uma canoa?, no terceiro pargrafo), e um pargrafo atomizado (o ltimo

pargrafo), composto de apenas uma frase.

Entretanto, as semelhanas acabam a. Ao contrrio do artigo anterior, esse artigo

apresenta maior quantidade e maior qualidade nos argumentos que defendem a tese contrria

ao primeiro artigo: o modismo digital reduz sim o desempenho dos jovens nas modalidades

cultas da lngua.

So apresentados trs argumentos. O primeiro pode ser encontrado no segundo

pargrafo (pensar digitalmente significa tambm reduo) e no terceiro (talvez uma sntese

facilite tudo mas trs (sic) consigo problemas estruturais significativos) e enfatizado no

quinto pargrafo, antecedido por uma conjuno adversativa: entretanto, no h como

deixar de notar que essa linguagem [digital] empobrecedora.

Localizamos o segundo argumento no sexto pargrafo: o processo de comunicao

mais profundo que requer um pensamento de qualidade necessita de uma linguagem

complexa, que a escrita formal possibilita. Finalmente, o terceiro e ltimo argumento,

seguido da concluso, est no stimo e ltimo pargrafo: a linguagem que nos determina

enquanto sujeitos, e ela precisa ser dominada [...] para no sermos peas de um jogo [...].

Em sntese, constatamos que a sequncia argumentativa desse artigo de opinio bem

mais desenvolvida do que a sequncia do artigo anterior, no s em termos quantitativos (trs

argumentos versus um argumento), mas tambm em termos qualitativos: o poder persuasivo

dos argumentos apresentados maior (mais convincente) por apresentar mais elementos com

elevado grau de complexidade: a anlise da linguagem digital como redutora e

empobrecedora; os problemas estruturais decorrentes dessa reduo; a profundidade

comunicativa alcanada ao utilizar a linguagem formal; e a concluso de que a linguagem nos

determina enquanto sujeitos. A sequncia argumentativa desse artigo de opinio pode ser

esquematizada assim:

Artigo de opinio 2

TESE o modismo digital reduz sim o desempenho dos jovens nas modalidades

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cultas da lngua

ARGUMENTOS

1. pensar digitalmente significa reduo (segundo pargrafo); talvez

uma sntese facilite tudo mas trs (sic) consigo problemas estruturais

significativos (terceiro pargrafo); linguagem [digital]

empobrecedora (quinto pargrafo)

2.[...] o processo de comunicao mais profundo necessita de uma

linguagem complexa, que a escrita formal possibilita (sexto pargrafo)

3. a linguagem que nos determina enquanto sujeitos (stimo e ltimo

pargrafo)

CONCLUSO [modalidade culta da] linguagem precisa ser dominada para no sermos

peas de um jogo (stimo e ltimo pargrafo)

AVALIAO Sequncia bem desenvolvida; nota sugerida: 8,0 (oito)

Tabela 2- sequncia argumentativa do segundo artigo de opinio

Para concluir, teceremos algumas consideraes finais.

4 CONSIDERACOES FINAIS

O presente trabalho abordou a anlise de duas sequncias argumentativas em dois

artigos de opinio produzidos na universidade. Para embasar a anlise, apresentamos os

conceitos de gnero textual/discursivo em geral e de gnero textual artigo de opinio em

particular, seguido pelo conceito de sequncia textual argumentativa, que estruturada a partir

de uma determinada tese, de argumentos que sustentem essa tese e de concluso.

O primeiro artigo de opinio apresentou uma sequncia argumentativa precria,

ancorando a tese em apenas um argumento pouco desenvolvido. J o segundo artigo de

opinio apresentou uma sequncia argumentativa mais slida e robusta, sustentando a tese

defendida em trs argumentos bem desenvolvidos que contriburam para um aumento

expressivo do poder persuasivo da argumentao.

Os resultados dessa anlise indicam que a qualidade da produo do gnero textual

artigo de opinio envolve no apenas o desenvolvimento do contedo temtico e o estilo

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(linguagem), mas sobretudo o desenvolvimento adequado da sequncia textual argumentativa.

Nossa expectativa que essa anlise possa contribuir minimamente com os processos de

avaliao do gnero textual artigo de opinio no somente no ensino superior mas tambm em

outros nveis de ensino.

REFERNCIAS

BAKHTIN, M. Os gneros do discurso. In: Esttica da criao verbal. So Paulo: Martins

Fontes, 2003, p.261-306.

BRKLING, K.L. Trabalhando com artigo de opinio: revisitando o eu no exerccio da (re)

significao da palavra do outro. Disponvel em:

http://www.academia.edu/18092648/TRABALHANDO_COM_ARTIGO_DE_OPINIO_RE

VISITANDO_O_EU_NO_EXERCCIO_DA_RE_SIGNIFICAO_DA_PALAVRA_DO_

OUTRO Acesso em 16 dez 2016

BRONCKART, J-P. Atividades de linguagem, textos e discursos. So Paulo: EDUC, 1999.

CAVALCANTE, M.M. Os sentidos do texto. So Paulo: Contexto, 2012.

DIAS, E. ; MESQUITA, E. M. C.; FINOTTI, L.; LIMA, M. C.; ROCHA, M. A. F.; OTTONI,

M. A. Gneros textuais e (ou) gneros discursivos: uma questo de nomenclatura?.

Interaces (Portugal), v. n. 19, p. 142-155, 2011. Disponvel em:

http://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/viewFile/475/429 Acesso em 19 fev 2015.

GOLDSTEIN, N.; LOUZADA, M. S.; IVAMOTO, R. O texto sem mistrio: leitura e escrita

na universidade. So Paulo: tica, 2009.

ILIOVITZ, E.R. Como ensinar a ler e compreender? Uma proposta de sequncia didtica de

leitura no Pibid. IN: ILIOVITZ, E.R. (org) Sequncias didticas de gneros discursivos no

processo de ensino e de aprendizagem da Lngua Portuguesa: relatos do Pibid. Natal, RN:

EDUFRN, 2016. Disponvel em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/21457

Acesso em 16 dez 2016.

KOCH, I.V. & ELIAS, V.M. Ler e compreender os sentidos do texto. So Paulo: Contexto,

2006.

MARCUSCHI, L. A. Gneros textuais: definio e funcionalidade. IN: DIONSIO, A. P. et al.

Gneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

http://www.academia.edu/18092648/TRABALHANDO_COM_ARTIGO_DE_OPINIO_REVISITANDO_O_EU_NO_EXERCCIO_DA_RE_SIGNIFICAO_DA_PALAVRA_DO_%20OUTROhttp://www.academia.edu/18092648/TRABALHANDO_COM_ARTIGO_DE_OPINIO_REVISITANDO_O_EU_NO_EXERCCIO_DA_RE_SIGNIFICAO_DA_PALAVRA_DO_%20OUTROhttp://www.academia.edu/18092648/TRABALHANDO_COM_ARTIGO_DE_OPINIO_REVISITANDO_O_EU_NO_EXERCCIO_DA_RE_SIGNIFICAO_DA_PALAVRA_DO_%20OUTROhttp://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/viewFile/475/429https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/21457

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MOTA, V. Garrancho digital no condena texto dos jovens. 2016. Disponvel em:

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-

condena-texto-dos-jovens.shtml Acesso em 24 out 2016

ANEXO - artigo de opinio utilizado como referncia para a produo escrita solicitada

Garrancho digital no condena texto dos jovens por Vinicius Mota

Receber um punhado de mensagens dirias de filhos adolescentes no celular pode ser

assustador. Exprimindo-se com tantos cdigos e atalhos aleatrios, a juventude ser capaz de

redigir textos eficientes em ambientes formais?

Pesquisas sobre o tema nos EUA ajudam a aplacar a aflio dos pais.

Composies escritas por calouros de universidades americanas em meados da dcada

passada tinham a mesma mdia relativa de erros formais captada por estudos semelhantes ao

longo de um sculo: a cada cem palavras grafadas, dois erros.

O impacto da difuso das tecnologias auxiliares escrita parece ter sido outro. O tamanho

mdio do texto multiplicou-se por 2,5 em relao ao estudo anterior, de meados dos anos

1980, e ultrapassou mil palavras (mais que o triplo desta coluna).

Os erros de ortografia, na era dos corretores instantneos, ficaram menos frequentes, embora

tenham crescido as colocaes equivocadas de palavras. Aceite sem refletir o que o software

sugere e voc s vezes liberar um monstrengo no meio da frase. Deixe de consultar o

dicionrio e perder as variantes semnticas.

Os professores hoje cobram mais sustentao ftica e referenciais nos argumentos dos jovens

alunos.

O ensaio subjetivo perdeu terreno. Erros por ausncia ou incompletude de documentao

passaram a figurar entre os apontamentos mais comuns.

O teste feito nos Estados Unidos sugere, em suma, que os debutantes na universidade de hoje

escrevem mais do que os calouros do passado escreviam - sem incorrer em mais erros. So

tambm expostos a desafios intelectuais de maior complexidade.

difcil replicar esse estudo no Brasil, pois no temos tradio universitria to longa e

densa. A preocupao com as formas de expresso tampouco a mesma na nossa sociedade.

Mas d para concluir que o modismo digital no reduz necessariamente o desempenho dos

jovens nas modalidades cultas da lngua.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtml

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(Disponvel em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-

garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtml Acesso em 24 out 2016)

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2016/10/1825587-garrancho-digital-nao-condena-texto-dos-jovens.shtml

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GNEROS DIGITAIS E MULTILETRAMENTOS: PRTICAS

PEDAGGICAS NA SALA DE AULA

Fbia Magali Santos Vieira5

Florncia Vieira Pacheco Andrade6

Resumo: O ensino de Lngua Portuguesa o ensino da linguagem em suas mltiplas

realizaes, sendo fundamental o desenvolvimento de atividades com diversos gneros e tipos

de texto. Ao adotar os gneros digitais como objeto de ensino, considera-se que os gneros

discursivos possibilitam a interao pela linguagem, por realizarem-se em condies e fins

especficos, nas mais diversas situaes de interao social. Para atender s reais necessidades

da educao no sculo XXI, ferramentas pedaggicas tradicionais devem coexistir com as

ferramentas da tecnologia. Desse modo, a proposta de trabalho, desenvolvida no mbito do

PROFLETRAS / UNIMONTES, utilizar a perspectiva do multiletramento e da

multimodalidade, por articular diferentes modalidades de linguagem. O objetivo promover o

multiletramento atravs de atividades que visem desenvolver as habilidades de escrita,

utilizando os gneros digitais. A pesquisa interveno ter abordagem metodolgica de

natureza aplicada, classificada como explicativa e com procedimento tcnico pesquisa ao e

participante. Como proposta de interveno: Produo de atividades de escrita, considerando

os multiletramentos; Planejar, executar e avaliar um Projeto Educacional de Interveno -

PEI, contribuindo para a superao das dificuldades de alfabetizao e letramento; utilizao

de blog como ambiente de ensino-aprendizagem, favorecendo o letramento digital. Fazem

parte do quadro terico Soares (2004, 2014), Kleiman (2005), Bortoni-Ricardo (2013) e

Cagliari (1995), alfabetizao e letramento; Rojo (2009, 2012), multiletramentos; Marcuschi

(2010), Marcuschi e Xavier(2008), linguagem, gneros textuais e digitais e Coscarelli (2016),

gneros digitais. A pesquisa est em andamento, mas a anlise dos resultados da execuo da

proposta educacional proporcionar o ensino da LP interativa e poder elevar os nveis de

alfabetizao e letramento utilizando os gneros digitais.

Palavras-chave: Gneros digitais. (Multi) letramentos. Produo textual.

INTRODUO

5 Doutora em Educao FE/UnB. Professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Montes Claros

(UNIMONTES). Coordenadora de subprojeto do curso de Pedagogia PIBID/UNIMONTES. Docente do

Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) UNIMONTES. [email protected] 6 Mestranda do curso de Mestrado Profissional em Letras UNIMONTES. Professora da rede pblica

municipal e estadual de Minas Gerais. [email protected]

mailto:[email protected]:[email protected]

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H muito tempo, a forma de ensinar e aprender mudou. Uma nova concepo de

ensino surgiu da necessidade de romper com velhas estruturas e modelos de ensino baseadas

na transmisso de conhecimento.

Hoje, trabalhamos na perspectiva da interao, da participao, de um aluno ativo,

aprendiz e integrante da situao comunicativa. Por isso, os aspectos do ensino/aprendizagem

devem contribuir para o desenvolvimento de habilidades e competncias voltadas para a

complexidade de uma sociedade moderna e tecnolgica.

As crianas e jovens passaram a ter contato com a tecnologia (celulares,

computadores, jogos, videogame ...), talvez, com a mesma ou maior frequncia que o papel e

o lpis para escrever. Assim, inmeras formas de comunicao esto sendo usadas e

compartilhadas a todo instante, e, por isso, a prtica pedaggica deve atender a necessidade de

socializao do conhecimento. Nesta proposta, o trabalho pedaggico deve agregar novas

possibilidades de aprendizagem, facilitado pelo uso adequado das tecnologias digitais da

informao e comunicao TDIC.

nesse contexto que insere-se a perspectiva do multiletramento, da multimodalidade e

dos gneros textuais e digitais, por articular diferentes modalidades de linguagem e por inserir

o nosso aluno em um ambiente de aprendizagem mais atrativo, dinmico e atual,

principalmente, pelo nmero elevado de crianas que ingressam no 6 ano do Ensino

Fundamental sem ter adquirido as competncias e as habilidades em leitura e escrita com

eficincia.

Observamos que o analfabetismo tem sido motivo de muitas discusses em nossas

escolas, sobretudo, por professores que no so alfabetizadores e que no tem formao

pedaggica para tal. A presente situao necessita de interveno e requer ao, conhecimento

e mudana na prtica docente, para que esses alunos saiam dessa situao de excluso escolar

e social. por isso, que muitos professores de reas especficas tm dedicado ateno especial

e estudo cientfico para tentar minimizar problemas de alfabetizao e letramento.

Nesse sentido, por meio da experincia em sala de aula, buscamos estratgias de

ensino que possam motivar a participao ativa e produtiva em escrita, nos estudantes do 6

ano, que apresentam deficincias em alfabetizao e letramento. O objetivo promover o

multiletramento atravs de atividades que visem desenvolver as habilidades de escrita,

utilizando o gnero digital blog como recurso.

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Assim, esta pesquisa, que est em andamento, busca realizar interveno em sala de

aula, para compreender as dificuldades de ensino e aprendizagem de Lngua Portuguesa,

atravs do Programa de Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras). Este programa est

constitudo de uma nica rea de concentrao: Linguagens e letramentos, na linha de

pesquisa Leitura e produo textual: Diversidade Social e Prticas Docentes, sublinha

Prticas de letramento e multimodalidade. Para fundamentar este trabalho, tomamos por

base os estudos de Soares (2004, 2014), Kleiman (2005), Bortoni-Ricardo (2013), Cagliari

(1995), Rojo (2009, 2012), Marcuschi e Xavier(2008, 2010), Marcuschi (2010) e Coscarelli

(2016).

1 O MUNDO E A TECNOLOGIA: CONSIDERAES SOBRE AS MDIAS E

SUAS INFLUNCIAS NA SOCIEDADE

Na corrente de revolues que tomou de assalto o mundo ocidental, como as

revolues burguesas, que aconteceram, a partir do sculo XVII (SCHMIDT, 2002, p.19),

surge tambm a revoluo tecnolgica informacional. Impactante, dinmica e inovadora. Tais

revolues significam transformaes nas formas como as pessoas enxergam o mundo, bem

como nas maneiras como elas buscam conhecimento para tornar esse mundo inteligvel.

Desse modo, surgem a todo o momento novos instrumentos que possibilitam aos indivduos

terem acesso informao nos mais variados campos. Segundo Castells (1999, p.417) a

tecnologia da informao e a capacidade cultural de utiliz-la so fundamentais no

desempenho da nova funo de produo.

Nesse contexto, as tecnologias digitais da informao e comunicao TDIC

ganharam destaque em todos os aspectos, principalmente, como instrumentos de novas

propostas pedaggicas. Assim sendo, entendemos cada vez mais a escola como uma

instituio inserida em uma sociedade que apresenta transformaes, especialmente nas

formas de acesso ao conhecimento. Dessa maneira, para no descolar suas prticas e

processos da realidade social, ela deve, tambm, acompanhar essas transformaes

apropriando-se desses novos meios de mediao de conhecimentos, transformando-os em

instrumentos pedaggicos. A partir dessa concepo, pretendemos abordar abaixo, de maneira

sucinta, as interfaces das atuais tecnologias com a educao.

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A Internet, a mdia mais nova, ganhou abrangncia mundial, pois responsvel por

uma parte expressiva das informaes que circulam no mundo em um processo de

compartilhamento de ideias. Esse processo foi estimulado especialmente a partir da dcada de

1980, sculo XX, quando o uso da Internet tornou-se pblico e popular, deixando de ser

exclusividade de especialistas e instituies governamentais. Desde ento, a Internet

popularizou-se com a implantao de laboratrios de informtica nas diversas instituies de

ensino, sobretudo aps a utilizao das ondas de rdio para essa finalidade, uma vez que,

atravs de uma linha telefnica, seu uso era dispendioso e, por isso, restrito.

Assim, compreendemos que o potencial e as possibilidades de uso da internet na

educao so evidentes, porque ela constitui a maior e a mais abrangente forma de

comunicao, interao, troca de saberes, na qual a aprendizagem acontece de forma

dinmica.

A televiso, um pouco mais velha, j da dcada de 50 do sculo XX, a mdia de

maior acesso entre todos os brasileiros. Sua utilizao pedaggica est associada ao fato de

lidarmos com a realidade social na qual esto inseridos os nossos alunos. Ela um importante

meio de comunicao porque apresenta a realidade vivida. Mostra os acontecimentos reais e

ficcionais, e na maioria das vezes sob diferentes pontos de vista. H sempre por trs de uma

informao veiculada na TV a concepo ideolgica, poltica e religiosa dos donos das

emissoras de televiso. Por isso, a escola deve construir em seus alunos a percepo para a

leitura crtica e reflexiva do que apresentado. Sua utilizao na escola deve consistir na

fomentao da criticidade, formao de opinio e concepo de ideias que revelem o respeito

diversidade, a integridade, a tica, a clareza e a veracidade das informaes veiculadas e da

programao apresentada por cada emissora de televiso em respeito aos telespectadores, que

precisam assistir, mas no ficar passivos diante do que lhes apresentado.

O rdio, da dcada de 20 do sculo XX, o mais barato e popular meio de

comunicao de massa. Apresenta-se como ferramenta de socializao de experincias,

interao e produo artstica, uma vez que possibilita aos seus integrantes o protagonismo. O

rdio alm de entreter atravs da msica privilegia a comunicao oral, o pensar, o aprender a

fazer, o sentir e o agir.

E para finalizar, o material impresso, a mais antiga de todas as mdias e que hoje vive

a sua democratizao. Concordamos com isso, visto que, o material impresso uma das

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mdias com maior presena em todos os contextos de aprendizagem. Engloba todos os textos

escritos presentes em materiais fsicos, como caderno, livros, at a transposio para os

contextos digitais e virtuais, passando a compor um hipertexto e hipermdias, quando estas

incorporam, alm do texto, outras mdias, como vdeo, imagens e sons.

Assim, a insero dos gneros textuais e digitais estimulam o desenvolvimento das

competncias sociocomunicativas e lingusticas dos alunos, por meio de diferentes suportes.

Alm disso, a leitura de imagens se torna importante, pois sabemos que, antes de conhecer a

escrita na escola, a criana j convive com ela e, antes mesmo de atentar palavra escrita,

sente-se atrada pela imagem, pelo colorido, pelas propagandas visuais, por diversas semioses,

que lhe dizem muito mais do que a escrita. No que se refere semioses, Rojo (2012) tece as

seguintes consideraes:

o que tem sido chamado de multimodalidade ou multissemiose dos

textos contemporneos, que exigem multiletramentos. Ou seja, textos

compostos de muitas linguagens (ou modos, ou semioses) e que

exigem capacidades e prticas de compreenso e produo de cada

uma delas (multiletramentos) para fazer significar. (ROJO, 2012, p.

19)

Assim sendo, a imagem fica na memria e, atravs dela, muitas concepes e opinies

nos so repassadas. Como educadores, devemos desenvolver o multiletramento na escola, e

com isso ajudar nossos alunos a despertar o senso crtico, avaliando sua aprendizagem. Desse

modo, estaremos formando indivduos crticos, capazes de ler, interpretar, avaliar os textos e o

mundo em que vivem.

De fato a tecnologia est presente na vida das pessoas e deve estar presente na escola

para que o nosso aluno esteja inserido nesse contexto. De acordo com Rojo (2012):

[...] as prticas de letramento contemporneas envolvem, por um lado,

a multiplicidade de linguagens, semioses e mdias envolvidas na

criao e significao para os textos multimodais contemporneos e,

por outro, a pluralidade e diversidade cultural trazida pelos

autores/leitores contemporneos a essa criao de significao.

(ROJO, 2012, p. 56)

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Portanto, a comunicao pode ser traduzida como a interao entre indivduos e entre

o indivduo e o meio onde vive. Ensinar um aluno a comunicar-se e a produzir comunicao

auxili-lo a perceber, a manifestar-se, a construir uma viso crtica e eficiente de todas as

formas de expresso, ampliando sua percepo no entendimento de qualquer linguagem

promover o multiletramento e trabalhar com prticas de letramento contemporneas.

2 GNEROS TEXTUAIS E DIGITAIS

O ensino de Lngua Portuguesa est intimamente ligado ao estudo de pesquisas e

teorias sobre a linguagem. Sobre como se processa e como exerce um papel fundamental na

forma de comunicao humana. entendendo como a linguagem oral e escrita acontece que o

professor, nas mais diversas modalidades de ensino, ter uma prtica pedaggica exitosa e

significativa, podendo intervir e promover o ensino-aprendizagem, sobretudo nas questes de

dificuldades de aprendizagem. Haja vista, a quantidade de alunos que apresentam uma

enorme deficincia lingustica ao ingressar no 6 ano do Ensino Fundamental.

Nesse sentido, o trabalho com os gneros textuais e digitais vem corroborar com os

preceitos da pragmtica que buscam estudar a linguagem sob os aspectos do uso e da prtica

social. Dessa forma, o uso e funo dos gneros textuais devem estar vinculados ao

desenvolvimento de competncias comunicativas dos alunos em relao escola e a vida

social de cada um. Nesse sentido, preciso desvincular a prtica de produo de textos

escritos como um processo meramente escolar. Como se os alunos s escrevessem com fins

escolares, avaliativos e mecnicos. Sabemos que na maioria das vezes, essa prtica inicia-se

na escola, mas sabemos tambm, que ela extrapola os muros da escola. Por isso os gneros

textuais assumem essa caracterstica peculiar da funo social.

Assim, os gneros textuais, so definidos por Marcuschi (2008) nos seguintes termos:

[...] textos que ns encontramos em nossa vida diria e que apresentam padres

sociocomunicativos caractersticos definidos por composies funcionais, objetivos

enunciativos e estilos concretamente realizados na integrao de foras histricas,

sociais, institucionais e tcnicas. (MARCUSCHI, 2008, p. 155).

J os gneros digitais apresentam os mesmos padres sociocomunicativos, esto

presentes mais do que nunca na vida diria das pessoas, porm se utilizam do suporte virtual,

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ou seja, da internet, para se materializarem. Observamos que a rede mundial de computadores

trouxe grandes mudanas na forma de comunicao e acesso informao, e a escola pouco

tem utilizado essa profcua ferramenta como inovao na prtica pedaggica. Marcuschi

(2008, p. 175) define como suporte de um gnero um lcus fsico ou virtual com formato

especfico que serve de base ou ambiente de fixao do gnero materializado como texto.

Assim, os gneros digitais so textos presentes no nosso cotidiano e que esto materializados

no ambiente digital. Cabe, ento, compreendermos que o ambiente digital apresenta

peculiaridades e variveis, mas que, de acordo com Marcuschi (2010, p. 22) fato inconteste

[...] que a internet e todos os gneros ligados a ela so eventos textuais fundamentalmente

baseados na escrita. Na internet a escrita continua essencial apesar da integrao de imagens e

som.

Deste modo, a forma de ler e escrever mudou nas ltimas dcadas e no muito a forma

de ensinar a ler e a escrever. Os suportes ampliaram, os gneros tambm. As imagens, cores,

formatos de letras e recursos audiovisuais esto inseridos na forma como os textos so

veiculados na mdia digital e impressa. Todos esses recursos esto presentes no cotidiano de

crianas, jovens e adultos que leem, escrevem mensagens, produzem textos, vdeos, entre

outras produes, carregadas de multimodalidade.

Assim, os gneros textuais e, tambm, os gneros digitais promovem a interao e o

desenvolvimento da comunicao, fazendo acontecer o que h de mais interessante no ser

humano, a capacidade de comunicar-se. O que falta na escola apresentar gneros textuais

que atendam s necessidades dos alunos, que eles possam agregar significado e funo

naquilo que produzem. Alm disso, por conta do nmero elevado de recursos visuais e

auditivos presentes nos gneros textuais e digitais, cabe escola, a tarefa de ensinar a ler esses

recursos to presentes nos textos. E assim, desenvolver o letramento crtico e o letramento

digital, pois atravs dos recursos, que compem esses textos, esto presentes muitos

significados.

Portanto, sob a perspectiva do letramento como prtica social, que atenda s necessidades

da aprendizagem do sculo XXI, a exigncia de utilizar os gneros digitais como recurso

didtico de ensino, configura em um novo comportamento diante da leitura e da escrita.

Assim sendo, a prtica docente restrita ao letramento das mdias impressas no seria

satisfatrio e suficiente, tendo em vista, a real necessidade de inserir tecnologias digitais no

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contexto escolar, que j esto to presentes na vida das pessoas e, de certa forma, fora da

escola.

A esse respeito, Coscarelli (2016) afirma que:

As escolas precisam preparar os alunos tambm para o letramento digital, com

competncias e formas de pensar adicionais ao que antes era previsto para o

impresso. Sendo assim, o desafio que precisamos enfrentar o de incorporar ao

ensino da leitura tanto os textos de diferentes mdias (jornais impressos e digitais,

formulrios online, vdeos, msicas, sites, blogs e tantos outros) quanto formas de

lidar com eles. Coscarelli (2016, p.17)

Dessa maneira, o blog como ferramenta de ensino atende proposta desta pesquisa,

que busca inserir no contexto escolar os gneros digitais. O seu uso abre espao para a prtica

de leitura e escrita e, com isso, o aluno assume o papel de leitor e produtor textual, sujeito

social, que constri por meio da linguagem, uma sociedade mais produtiva e autnoma.

3 ALFABETIZAO E LETRAMENTO

Os processos de aprendizagem e apropriao da leitura e da escrita so complexos e

para compreend-los preciso ressaltar as contribuies de Magda Soares (2014), Kleiman

(2005) e Rojo (2012) sobre alfabetizao e letramento.

Soares (2014) define o conceito de alfabetizao como a ao de alfabetizar, de

tornar alfabeto (SOARES, 2014, p.31). Assim, o primeiro passo do professor e da escola

mobilizar esforos para que esse aluno saia da condio de analfabeto e se integre ao mundo

das letras, da leitura, dos seus significados e contextos. Associar os saberes da vida aos da

escola.

Kleiman (2005) apresenta o conceito de alfabetizao como um conjunto de saberes

sobre o cdigo escrito da lngua, que mobilizado pelo indivduo para participar das prticas

letradas em outras esferas de atividades, no necessariamente escolares (KLEIMAN, 2005,

p. 13). Dessa forma, entende-se que o conhecimento e a aprendizagem do sistema de escrita,

do domnio da leitura e escrita, ou seja, da alfabetizao uma prtica escolar. A escola

precisa criar situaes nas quais essa prtica acontea na sala de aula de forma efetiva e

sistematizada.

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Nesse sentido, vlido analisar as competncias e habilidades de leitura,

especificamente, pois o ato de ler envolve capacidades e caractersticas prprias, as quais a

autora apresenta, ancorada no Caderno 2 do Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita -

CEALE (UFMG, 2003). Assim, so capacidades de decodificao:

Compreender diferenas entre escrita e outras formas grficas (outros sistemas de

representao);

Dominar as convenes grficas;

Conhecer o alfabeto;

Compreender a natureza alfabtica do nosso sistema de escrita;

Dominar as relaes entre grafemas e fonemas;

Saber decodificar palavras e textos escritos;

Saber ler reconhecendo globalmente as palavras;

Ampliar a sacada do olhar para pores maiores de texto que meras palavras,

desenvolvendo assim fluncia e rapidez na leitura (UFMG, 2003, p.22).

Estas so apenas algumas capacidades bsicas de decodificao da leitura e, ainda

assim, a escola tem falhado muito no desenvolvimento delas. Para muitos, decodificar

palavras torna-se uma atividade muito complexa, sabendo-se que a leitura envolve muito mais

capacidades. Ler envolve compreenso, pois a leitura a atividade intelectual de

compreender. Segundo Rojo (2009), a leitura passa a ser compreendida

[...] no apenas como um ato de decodificao, de transposio de um cdigo

(escrito) a outro oral, mas como um ato de cognio, de compreenso, que envolve

conhecimento de mundo, conhecimento de prticas sociais e conhecimentos

lingusticos muito alm dos fonemas e grafemas. (ROJO, 2009, p. 77)

Com base no exposto, sobre o conhecimento de prticas sociais, convm ressaltar que

no final do sculo XX, sob a influncia do mundo globalizado, visando atender s

necessidades de uma sociedade moderna, surge o termo letramento (portugus) / literacy

(ingls) - the condition of being literat (a condio de ser letrado) - para atender, tambm, a

necessidade de se definir o leitor. Letrado (literate- ingls), conforme Soares (2014), aquele

que tem a habilidade de ler e escrever. Letramento, ento, passa a ser definido como a

capacidade de saber ler e escrever com proficincia, sabendo utilizar a leitura e a escrita na

vida moderna como prtica social. Soares (2014) estabelece uma diferena entre alfabetizao

e letramento, que muito importante para esse entendimento:

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H, assim, uma diferena entre saber ler e escrever, ser alfabetizado, e viver na

condio ou estado de quem sabe ler e escrever, ser letrado (atribuindo a essa

palavra o sentido que tem literate em ingls). Ou seja: a pessoa que aprende a ler e a

escrever que se torna alfabetizada e que passa a fazer uso da leitura e da escrita,

a envolver-se nas prticas sociais de leitura e escrita que se torna letrada

diferente de uma pessoa que no sabe ler e escrever analfabeta ou, sabendo ler

e escrever, no faz uso da leitura e da escrita alfabetizada, mas no letrada, no

vive no estado ou condio de quem sabe ler e escrever e pratica a leitura e a escrita

(SOARES, 2014, p. 36).

Nesse sentido, Kleiman (2005) diz que o letramento complexo, envolvendo muito

mais do que uma habilidade ou conjunto de habilidades, ou uma competncia de quem l.

Envolve mltiplas capacidades e conhecimentos para mobilizar essas capacidades, muitos dos

quais no tm necessariamente relao com a leitura. Ou seja, envolve o conhecimento e a

cultura fora do contexto escolar, pois o letramento ultrapassa os muros da escola. Porm, o

foco dessa discusso a aprendizagem dentro da escola. Assim, buscamos investigar como

favorecer e fomentar o conhecimento sistematizado da leitura e da escrita, sobretudo para

aqueles que esto na escola h anos e no conseguem aprender.

Por isso, a importncia de se alfabetizar letrando desde o incio da escolarizao, j na

Educao Infantil. O professor necessita conhecer vrias teorias e mtodos de alfabetizao,

sem privilegiar nenhum, pois a realidade da sala envolve a diversidade de conhecimentos e

dificuldades e apenas um mtodo de ensino no dar conta de atender a todos sem distino.

Segundo Soares (2004), devem-se articular conhecimentos e teorias metodolgicas

fundamentadas na cincia, a fim de favorecer a aprendizagem e o processo de alfabetizao,

com o desenvolvimento de habilidades e competncias de leitura e de escrita, envolvendo o

letramento como prtica social.

Sabemos que h situaes que precisam ser faladas e h outras que precisam ser

escritas. E sob essas duas diferenas, encontram-se diversos problemas de ensino na escola.

Nesse sentido, Bortoni-Ricardo (2013) ressalta que preciso conhecer melhor a competncia

lingustica oral dos alunos, para que se possa intervir nas questes de formao e aquisio da

competncia escrita.

O estudo sobre Fontica e Fonologia possibilita ao professor o conhecimento sobre

como os seres humanos produzem ou ouvem os sons da fala. Segundo, Seara (2015, p. 29),

as letras so unidades formais mnimas da escrita e no da fala.

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Nesse sentido, necessrio entender e desvincular da nossa prtica que a escrita

representa a fala. Tanto a escrita quanto a fala so distintas e ter conhecimento dos processos

fonolgicos, que so a codificao (desvios) que os morfemas sofrem quando se combinam

para formar palavras, propicia buscar estratgias de ensino para a superao dos mesmos.

Alm disso, ao professor que lida com a alfabetizao imprescindvel o

conhecimento das reas da Fontica e da Fonologia. Sobre esse aspecto, Seara (2015, p. 33),

ressalta que os conhecimentos da Fontica e de noes sobre o sistema fonolgico da lngua

materna so fundamentais, para que os professores atendam melhor os alunos que apresentam

dificuldades no processo de alfabetizao. preciso levar o aluno a compreender a variao

fontico-fonolgica e relacion-las aos elementos grficos da escrita.

Cagliari (1995) apresenta categorias de anlise de erros ortogrficos que foram

objeto de estudo e anlise dos textos espontneos dos alunos do 6 ano X do Ensino

Fundamental II da Escola Estadual Pio XII, localizada no Municpio de Januria, MG.

Dessa forma, utilizamos as categorias de anlise dos erros ortogrficos de acordo

com Cagliari (1995), como referencial. As categorias so: transcrio fontica (a

representao da fala); uso indevido de letras (escolha possvel para representar um som de

uma palavra quando a ortografia usa outra); hipercorreo (quando o aluno j conhece a

forma ortogrfica de determinadas palavras, sabe que a pronncia diferente e passa a

generalizar a forma de escrever); modificao da estrutura segmental das palavras (erros de

troca, supresso, acrscimo e inverso de letras, representando maneiras de escrever porque o

aluno ainda no domina bem o uso de certas letras); juntura intervocabular e segmentao

(ambas refletem critrios de fala que a criana usa para juntar ou separar palavras); forma

morfolgica diferente (variedade dialetal); forma estranha de traar as letras (dificuldades

com a escrita cursiva); uso indevido de letras maisculas e minsculas (o uso adequado no

ensinado); acentos grficos (sinais diacrticos ausentes nos textos espontneos); sinais de

pontuao (tambm no ensinado) e problemas sintticos (denotam modos de falar

diferentes do dialeto privilegiado pela ortografia e apresentam uma topicalizao da fala e no

da escrita).

Todas essas categorias relacionadas por Cagliari (1995), serviram de base para a

investigao dos problemas surgidos nos textos dos alunos, e para que pudssemos, a partir

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da, realizar as intervenes necessrias ao desenvolvimento das competncias comunicativas

dos alunos.

4 PERCURSO METODOLGICO

Quanto aos procedimentos tcnicos adotados, utilizamos em primeiro momento, a

pesquisa bibliogrfica como procedimento para construo do conhecimento sobre conceitos

e teorias estudadas e o levantamento de dados, a fim de coletar informaes para anlise

quantitativa dos envolvidos no universo de pesquisa.

Assim, esta pesquisa delineada pela pesquisa-ao e pela pesquisa participante, que

parte para a prtica, aproximando cada vez mais a pesquisa cientfica da realidade educacional

vivenciada pelo professor-pesquisador.

Na primeira etapa da pesquisa, tomamos como ponto de partida o problema enfrentado

em sala de aula com os estudantes das turmas de 6 ano, que iniciam uma nova etapa de

escolarizao sem ter adquirido ou consolidado os nveis de alfabetizao e letramento

necessrios ao ano em que ingressam. A etapa seguinte consistiu na realizao da pesquisa

bibliogrfica para construo de um referencial terico, que esclarecesse os conceitos que

subsidiaram a construo argumentativa. Para tanto, foi necessrio recorrer ao conhecimento

acadmico e cientfico produzido atualmente.

A tcnica de coleta de dados foi realizada por meio de observao, questionrio e

realizao de atividade inicial de escrita. Assim, a pesquisa cientfica permitiu uma anlise e

posicionamento da realidade lingustica dos estudantes do 6 ano, nos mais diferentes nveis

de leitura e escrita. Diante dessa realidade educacional, diagnosticamos a necessidade de

elevar os nveis de escrita dos alunos de uma turma de 6 ano do ensino Fundamental, 6 ano

X do Ensino Fundamental II da Escola Estadual Pio XII, localizada no Municpio de Januria

- MG .

Por fim, foi elaborado e est sendo aplicado um Projeto Educacional de Interveno

PEI, que tem como objetivo geral, desenvolver atividades que contribuam com a elevao dos

nveis de escrita desses alunos, utilizando o gnero digital blog como recurso didtico.

5 RESULTADOS E DISCUSSO

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Ainda que a pesquisa esteja em andamento j trouxe grandes benefcios ao estudo

realizado, pois a apropriao do conhecimento terico e a construo do Projeto Educacional

de Interveno PEI proporcionam uma viso de ensino interativo e significativo sobre os

nveis de alfabetizao e letramento, utilizando os gneros digitais. Assim, estamos

desenvolvendo atividades de forma mais intensiva, relacionadas produo escrita,

utilizao dos gneros digitais, mais especificamente ao uso do blog como recurso didtico de

ensino e de incluso digital.

6 CONCLUSO

Acredita-se que com o desenvolvimento desta pesquisa, ainda em andamento, os

evolvidos atuaro de forma reflexiva e reveladora de possibilidades de aprendizagem. No de

forma ocasional, mas de forma intencional, planejada e orientada, a partir dos estudos terico-

metodolgicos desenvolvidos pelo pesquisador, aplicados para busca de resultados que

possam ser utilizados na resoluo de problemas reais da sala de aula. Portanto, esta pesquisa

possibilitar a melhoria da prtica docente, objetivo do ProfLetras, e, contribuir com a

elevao dos nveis de escrita, atravs de atividades que visem desenvolver essa habilidade,

utilizando os gneros digitais, objetivo dessa pesquisa.

REFERNCIAS

BORTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro (Orgs.). Os doze

trabalhos de Hrcules. So Paulo: Parbola, 2013.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizao e lingustica. 8 Ed. So Paulo. Scipione, 1995.

CASTELLS, Manuel. Fim de milnio. Trad. Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venancio

Majer. So Paulo: Paz e Terra, 1999. (A era da informao: economia, sociedade e cultura;

v.3).

COSCARELLI, Carla Viana. (Org.). Tecnologias para aprender. 1. Ed. So Paulo:

Parbola Editorial, 2016.

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KLEIMAN, ngela. B. Preciso ensinar o letramento: no basta ensinar ler e escrever.

Cefiel/ IEL/ Unicamp, set. 2005. Disponvel em:

. Acesso em: 06 fev.

2016.

MARCUSCHI, Luiz Antnio, 1946 - Produo textual, anlise de gneros e compreenso

So Paulo: Parbola Editorial, 2008.

MARCUSCHI, Luiz Antnio, XAVIER, Antnio Carlos (orgs.). Hipertexto e gneros

digitais: novas formas de construo do sentido - 3.ed. So Paulo: Cortez, 2010.

PROJETO DO MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS PROFLETRAS. Disponvel

em:. Acesso em: 20 mar. 2016.

ROJO, Roxane. Letramentos mltiplos, escola e incluso social. So Paulo: Parbola

editorial, 2009.

ROJO, Roxane. Multiletramentos na escola. Eduardo Moura [org..]. So Paulo: Parbola

Editorial, 2012.

SEARA, Izabel Christine. Fontica e fonologia do portugus brasileiro. So Paulo:

Contexto, 2015.

SCHMIDT, Mrio Furley. Nova histria crtica. 2 ed. So Paulo: Nova Gerao, 2002.

SOARES, Magda. Alfabetizao e Letramento: caminhos e descaminhos. Ptio Revista

Pedaggica. Ed. Artmed, 29 de fevereiro de 2004.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em trs gneros. 3. ed. Belo Horizonte: Autntica

Editora, 2014.

http://www.iel.unicamp.br/cefiel/alfaletras/biblioteca_professor/arquivos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Faculdade de Educao (UFMG).

Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrit (CEALE). Coleo: Orientaes para a

Organizao do Ciclo Inicial de Alfabetizao, Caderno 2. Belo Horizonte: Secretaria de

Estado da Educao de Minas Gerais, 2003, 62p.

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LETRAMENTO CONTBIL: DESCREVENDO O GNERO NOTA DE

EMPENHO DO SISTEMA INTEGRADO DA ADMINISTRAO

FINANCEIRA (SIAFI) DO TESOURO NACIONAL

Rosineide Tertulino de Medeiros Guilherme7

Carlos Henrique Silva8

RESUMO: Entendemos que no existem fronteiras demarcadas que impeam o pleno

exerccio de investigao e anlise dos usos da linguagem em seus mais diferentes contextos e

sob os mais variados olhares, e que no h um letramento encapsulado unicamente no

processo de escolarizao. Por compreendermos que esse fenmeno permeia as mais diversas

prticas sociais, objetivamos, por meio deste trabalho, discutir as prticas de leitura e escrita

no ambiente contbil. Diante dessa premissa, o corpus da nossa investigao focalizar a

anlise do gnero Nota de Empenho, que constitui uma ferramenta utilizada pelo rgo

pblico auferindo poder a este, de contratar com outro rgo, criando uma obrigao de

pagamento e uma garantia de que existe crdito necessrio para a liquidao da despesa.

Nesse sentido, constituem os referidos pressupostos tericos aportes dos Estudos de

Letramento (KLEIMAN, 2001; TFOUNI, 2010; BARTON; HAMILTON, 2004) e do

Letramento no trabalho (PAZ, 2008) e na Teoria dos Gneros (BAKHTIN, 2003;

BRONCKART, 2003; MARCUSCHI, 2002). Metodologicamente, a pesquisa uma

investigao de campo e adota uma abordagem de dados de natureza qualitativa

(CHIZZOTTI, 2005). O corpus da investigao compreende registros de campo, anlise de

Nota de Empenho, dentre outras tcnicas. As anlises parciais evidenciam a existncia de

vrias prticas de letramento desenvolvidas no ambiente contbil, sendo tais, mediadas por

um variado nmero de gneros. O gnero Nota de Empenho um instrumento essencial ao

andamento das fases de uma despesa. A relevncia deste trabalho situa-se no fato de permitir

que o Letramento Laboral, caminhe por novos ambientes, como o caso, o Letramento

Contbil, ao mesmo tempo que oportunizar visibilidade acadmica s prticas de letramento

que se efetivam em atividades da esfera contbil.

Palavras Chaves: Letramento. Atividade contbil. Gneros discursivos.

1 INTRODUO

7 Mestranda em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

[email protected] 8 Doutorando em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

[email protected]

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Em um ambiente laboral muitas prticas de letramento so utilizadas, so prticas

rotineiras e relevantes empregando a leitura e escrita, gerando registros de trabalho,

materializando-se assim, atravs de algum gnero.

Partindo dessa tica, pretendemos atravs do presente artigo analisar acerca do gnero

Nota de Empenho, bastante recorrente em um ambiente contbil das instituies pblicas.

Elegemos o Setor Contbil, de uma Instituio de Ensino Superior,(IES) da Universidade

Federal Rural do Semi-rido, no Campus localizado na cidade de Angicos, semirido

nordestino do Rio Grande do Norte para desenvolver nossa pesquisa. uma universidade que

fez parte do projeto de expanso da educao. O Campus tem um pouco mais de oito anos de

existncia.

A finalidade precpua ser descrever o gnero, Nota de Empenho. Delinearemos os

traos gerais desse gnero, como constitudo, quais suas caractersticas, sua aplicao e sua

finalidade, o ambiente onde se processa, quem so os participantes.

O referido instrumental constitui uma ferramenta utilizada pelo rgo pblico

auferindo poder a este, de contratar com outro rgo, criando uma obrigao de pagamento, e

uma garantia de que existe crdito necessrio para a liquidao da despesa.

A escolha desse evento de letramento para fins de estudo justifica-se por ser o uso da

escrita o fator preponderante envolvido no evento investigado. Alm disso, possibilitar que o

letramento laboral caminhe por novos caminhos, ainda no trilhados, oportunizando ao

mesmo tempo, visibilidade acadmica acerca das prticas de letramento que se efetivam na

esfera da contabilidade pblica.

2 ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE LETRAMENTO

As discusses acerca do letramento tm incio aps o fim da segunda guerra mundial

nos Estados Unidos e em vrios pases da Europa, como Blgica, Frana e Inglaterra,

motivados pelo fato de os indivduos jovens e adultos alfabetizados no corresponderem as

necessidade do cotidiano em termos de leitura e de escrita.

No Brasil, no entanto, essas discusses surgiram a partir da segunda metade do sculo

XX, nos anos 1980 e, durante algum tempo, as questes de letramento estiveram voltadas para

a alfabetizao, muitas vezes ocasionando o emprego do letramento como sinnimo de

alfabetizao. Nesse contexto geogrfico, alguns estudos foram realizados no sentido de

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estabelecer a distino entre ambos. Tomamos como exemplo as publicaes de Soares

(2001), Tfouni (2004), Mortatti (2004), entre outros que empreenderam apresentar as

definies entre alfabetizao e letramento.

Nesse sentido, Soares (2001, p. 145) apresenta letramento como o estado ou condio

de indivduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as

prticas sociais de leitura e de escrita, que participam competentemente de eventos de

letramento.

Por sua vez, tais eventos nos so apresentados por Heath (1982) como situaes em

que a lngua escrita parte integrante da natureza entre os participantes e seus processos

interativos. Barton & Hamilton conceituam assim:

[...] eventos de letramento so atividades em que o letramento

desempenha um papel. Geralmente existe um texto escrito, ou textos,

que central para a atividade e falas em torno do texto. Eventos so

episdios que emergem das prticas e so definidas por elas. (1998, p.

8)

Em conformidade com o exposto, toda atividade social que for mediada por um texto

ser considerada um evento de letramento. Kleiman (1995, p. 40) apoiando-se em Heath

(1982) refora essa ideia ao afirmar que os eventos de letramento so situaes em que a

escrita constitui parte essencial para fazer sentido da situao, tanto em relao a interao

entre os participantes como em relao aos processos e estratgias interpretativa.

Outra terminologia bem recorrente nos estudos do letramento so as chamadas prticas

de letramento, definidas como maneira pela qual um grupo faz uso da lngua escrita e

revelam as suas concepes, valores, idias, crenas a respeito da escrita. Street (1995), diz

que tais prticas referem-se tanto ao comportamento quanto conceituao social e cultural

que confere significado aos usos da leitura e/ou da escrita.

Assim, entende-se que constitui critrios para se classificar como evento de letramento

o fato de serem mediados por textos e o seu uso nomeia-se, prticas de letramento. Diante

dessa viso, pode-se entender que todo evento em que mediado por texto, no importa o

ambiente, seja escolar, jurdico, hospitalar, pode ser considerado um evento de letramento.

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Barton e Hamilton (1998) defendem a ideia de mltiplos domnios do letramento,

afirmando que possvel que as prticas de letramento podem se situar no mbito de inmeras

agncias de letramento.

Cada prtica de letramento encontra-se inserida em um sistema de inter-relaes com

outras prticas que se estabelecem numa dada esfera social. Nesse sentido, o letramento se

efetua em meio a um contingente de outras prticas. A esse respeito, ilustrativo afirmar que

as prticas de leitura e escrita se inserem no domnio institucional, foco da nossa pesquisa, o

contbil, as quais se relacionam s tarefas que integram o cotidiano de trabalho dos

profissionais desse setor.

Assim, dependendo dos domnios, isto , das instncias sociais em que se formalizam

as prticas, o letramento se instaura como fenmeno mltiplo capaz de se estabelecer nos

mais diversos cont