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Universidade de Brasília CRISTIANE GODOY TROMBINI PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: objetivos do programa X objetivos dos participantes São Paulo 2007

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Universidade de Brasília

CRISTIANE GODOY TROMBINI

PROGRAMA SEGUNDO TEMPO:

objetivos do programa X objetivos dos participantes

São Paulo

2007

CRISTIANE GODOY TROMBINI

PROGRAMA SEGUNDO TEMPO:

objetivos do programa X objetivos dos participantes

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profª. Dr. Marcos Garcia Neira

São Paulo 2007

TROMBINI, Cristiane Godoy Programa Segundo Tempo: objetivos do Programa X objetivos dos participantes. São Paulo, 2007. 25p. Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007. 1. Programa Segundo Tempo 2. Esporte Educacional 3. Objetivos.

CRISTIANE GODOY TROMBINI

PROGRAMA SEGUNDO TEMPO:

objetivos do programa X objetivos dos participantes

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Presidente: Professor Doutor MARCOS GARCIA NEIRA

Universidade de São Paulo Membro: Professor Mestre FÁBIO JOSÉ CARDIAS GOMES

Universidade de São Paulo

São Paulo, 18 de agosto de 2007

Dedico este trabalho aos meus pais (Suely e Antonio) e minha irmã (Gisele)

pelo apoio e força no dia-a-dia...

AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que me apoiaram direta ou indiretamente em todos os

meus anos de estudo (Colégio, Universidade e Especialização) e ao Professor Doutor Marcos

Neira por me ajudar, pela paciência, pelo tempo dedicado, e por me apoiar a seguir em frente

quando pensei em desistir.

"Procure o que há de bom em tudo e em todos,

não faça dos defeitos uma distância e sim uma

aproximação. Aceite a vida, as pessoas, faça delas

a sua razão de viver".

Charles Chaplin

RESUMO

O Programa Segundo Tempo tem como principal objetivo proporcionar às

crianças e adolescentes atividades esportivas durante o horário do contra-turno escolar, muitas

vezes ocupado pela ociosidade, colaborando para a inclusão social e afastando-os dos

problemas e riscos normalmente existentes em bairros econômica e socialmente

desfavorecidos. Esta pesquisa de campo direta teve o objetivo de verificar se os objetivos dos

participantes ao freqüentar as aulas estão diretamente ligados aos objetivos do Programa.

Assim, utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário fechado composto

de duas perguntas, aplicado a uma amostra de 220 crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos

de ambos os sexos, participantes do Programa Segundo Tempo nos municípios de São Paulo e

Taboão da Serra, questionando qual a atividade que participam e o motivo que levou os

freqüentadores a matricularem-se nesta atividade. Os resultados encontrados foram que as

atividades mais procuradas foram: natação (47%), futsal (38%), voleibol (16%), ginástica

olímpica (9%) e basquetebol (8%). Os motivos que levaram os participantes à realização

destas atividades foram 44% por gostar de praticar a modalidade, 40% tem interesse em

aprender a modalidade, 32% pela importância de realizar uma atividade física em benefício da

saúde, 27% tem interesse em aperfeiçoar a modalidade, 18% para ocupar o tempo livre

(ociosidade) e 14% por indicação médica devido a problemas de saúde. Conclui-se que o

Programa Segundo Tempo oferece atividades de grande interesse as crianças e adolescentes,

aumentando o prazer sobre a prática de atividades esportivas e que os objetivos do Programa

com relação a melhoria da saúde e da ocupação do tempo livre com a finalidade de afastar os

participantes dos riscos sociais foram citados por grande parte dos entrevistados. Cabe aos

professores e profissionais envolvidos conscientizar estas crianças e adolescentes sobre a

importância da valorização da integração, desenvolvimento e inclusão que o Programa

proporciona e diminuir a idéia de “formação de atletas” comumente encontrada.

PALAVRAS CHAVES: Programa Segundo Tempo; Esporte Educacional; Objetivos

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELA 1 – Quantidade da amostra, sexo, divisão dos alunos que responderam a pesquisa

por idade (mínima e máxima encontrada) 19

GRÁFICO 1 – Atividades/esportes praticados 19

GRÁFICO 2 – Motivo que levou a prática desta modalidade 20

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 11

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 13

3. MÉTODO 18

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 19

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 23

REFERÊNCIAS 24

ANEXOS 25

1. INTRODUÇÃO

Há muito tempo se afirma que a prática esportiva é importante para o

desenvolvimento da criança e do adolescente tanto como instrumento educacional quanto

instrumento pedagógico para um desenvolvimento integral dos mesmos. GONÇALVES

(1997, p. 161) afirma que (...) "Nas suas origens, o esporte tem um caráter lúdico, estando, em

seu cerne, o prazer do homem em brincar" (...). Hoje, no entanto, compreendemos que o

esporte pode alcançar objetivos muito mais complexos e completos que a simples ludicidade.

Mesmo porque o esporte de rendimento e o esporte como mercadoria de consumo tomaram

conta do espaço deixado pelo lúdico e vêm sendo utilizados para a especialização esportiva

precoce e inadequada e para criar uma esperança do enriquecimento através do esporte.

Com objetivos diferenciados a estes citados, o Programa Segundo Tempo

apresenta uma iniciativa diferenciada. De acordo com a Portaria nº 32, de 17 de março de

2005, o Programa Segundo Tempo “tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à

cultura do esporte, como instrumento educacional, promovendo o desenvolvimento integral

de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da

qualidade de vida; considerando que o Programa Segundo Tempo, além de estimular a

formação integral dos beneficiados, por meio de projetos relacionados à prática esportiva,

contribui para a aptidão física, bem estar mental, interação, inclusão social e exercício da

cidadania”.

A formação de atletas e a “venda” da imagem do esporte como fonte futura

de riquezas não se enquadra ao Programa que pretende atingir a população de locais mais

afastados e de maiores necessidades e problemas econômicos e sociais, matriculados em

locais públicos de ensino fundamental e médio no Brasil e propiciar o acesso à prática e à

cultura do esporte como meio de educação, desenvolver e incluir as crianças e adolescentes

participantes.

Atualmente o Programa Segundo Tempo atende mais de um milhão de

pessoas no Brasil através de diversas modalidades esportivas realizadas no contra-turno

escolar, muitas vezes com a distribuição de uniformes e complementação alimentar. Espera-se

que com essa estrutura, a criança e o adolescente se afastem de todos os riscos e problemas

sociais encontrados em bairros econômica e socialmente desfavorecidos.

É muito comum em artigos, trabalhos e reportagens sobre o Programa

Segundo Tempo a menção aos seus benefícios, desafios e objetivos. Porém, apresentam-se

escassas informações diretas sobre os principais beneficiados com o Programa: os

participantes. As atividades realizadas e com maior procura e principalmente qual o objetivo

dessas crianças (ou seus familiares) e adolescentes em realizar tais atividades são elementos

ausentes nos meios de divulgação.

A partir da apresentação dos objetivos do Programa Segundo Tempo,

questiona-se qual o motivo que leva a criança (ou seus familiares) e os adolescentes a

inscrever-se para participar dessas atividades e se esses motivos estão diretamente ligados aos

objetivos do Programa.

Assim, se faz necessário responder alguns questionamentos como quais as

atividades ou esportes apresentam um índice maior de procura? Qual o motivo que levou os

freqüentadores a matricularem-se nesta atividade?

Por meio das respostas a estes questionamentos, esta pesquisa objetivou

verificar em que medida os propósitos da implementação do Programa Segundo Tempo são

contemplados na opinião dos seus participantes.

A relevância da pesquisa encontra-se em verificar se os objetivos propostos

pelo Ministério do Esporte ao elaborar o Programa Segundo Tempo estão totalmente

correlacionados à realidade de atuação do Programa, servindo, portanto, para uma possível

adequação ou ampliação desses objetivos e das tarefas desenvolvidas em acordo com os

resultados apresentados.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O Programa Segundo Tempo e o esporte educacional

O Segundo Tempo é um programa idealizado pelo Ministério do Esporte em

ação conjunta com o Ministério da Educação e Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome, destinado a democratizar o acesso à prática esportiva nos estabelecimentos

públicos de Educação do Brasil, por meio de atividades esportivas e de lazer realizadas no

contra-turno escolar. Tem a finalidade de colaborar para a inclusão social, bem-estar físico,

promoção da saúde melhorando a qualidade de vida dos seus participantes, o desenvolvimento

intelectual e humano de crianças e adolescentes e assegurar o exercício da cidadania.

O programa caracteriza-se pelo acesso a diversas atividades e modalidades

esportivas (individuais e coletivas) e ações complementares, desenvolvidas em espaços físicos

da escola ou em espaços comunitários, tendo como enfoque principal o esporte educacional

que visa o desenvolvimento dos seus praticantes estimulando a lealdade e a cooperação. De

acordo com a Lei nº 9.615 de 1998, o esporte educacional é o praticado “(...) nos sistemas de

ensino e em outras formas sistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a

hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento

integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer”

(BRASIL, 1998). Sabe-se, no entanto, que esta forma de empregar e objetivar a prática

esportiva (educacional) não é tão utilizada e, mesmo quando se tem a intenção de emprega-la,

muitos obstáculos, preconceitos e dificuldades aparecem. Esta intenção, quando colocada em

prática de forma precoce ou sem fundamentação e estudos, pode gerar um método ou

procedimento de aula confuso e sem metas claramente definidas. O esporte educacional neste

caso, poderá ser um “esporte de rendimento” ou uma “atividade lúdica” encobertos.

O esporte de rendimento/formadores de atletas orienta-se através do

esquecimento da infância e valorização de resultados, competições e treinamentos com

atividades que visam técnicas e gestos específicos, privando a liberdade e a criatividade dos

movimentos e ações das crianças. Kunz (2000, p. 24-25) afirma que o motivo que leva o

homem a sempre buscar o rendimento (resultados) “não estão no desenvolvimento do esporte

em si, mas no próprio desenvolvimento das sociedades atuais, onde o rendimento configura-se

no princípio máximo de todas as ações”.

Rosa (2000, p. 6) afirma que “o tempo lúdico da infância, antes dedicado às

tradicionais brincadeiras de faz-de-conta, que marcavam a diferença entre o universo

simbólico infantil e as preocupações da vida adulta, vem sendo cada vez mais substituído por

obsessivas práticas de culto à estética, à erotização precoce e à fetichização dos objetos que

denotam status econômico e social”.

Muitos professores, ao trabalhar com iniciação esportiva visando o esporte

educacional trabalham com jogos e atividades lúdicas ou cooperativas acreditando no sucesso

de sua ação com relação ao alcance dos objetivos do esporte educacional. O jogo para

Huizinga (1996, p.33) trata-se de “uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de

certos e determinados limites, dotados de um fim em si mesmos, acompanhados de um

sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana”. Se

esta utilização do jogo portanto não for utilizada corretamente, dentro de seus limites e com

determinada consciência, o esporte educacional poderá não passar de um jogo pré-desportivo,

com apenas o objetivo de ser uma preparação para a prática de determinado esporte e não com

os objetivos mais amplos do esporte educacional de preparar as crianças e adolescentes para

as situações diversas e desenvolve-la individual e socialmente.

BARBIERI (apud KORSAKAS, P.; ROSE JUNIOR, D, 2002, p. 90) aborda

o esporte educacional com uma visão contemporâneo-integradora que busca o

desenvolvimento integral do homem e que reconheça “a necessidade premente (...) de ações

que objetivem restaurar o humano do homem, concebe como sendo insubstituíveis o valor e a

importância atribuídos à emancipação do homem, à sua autonomia, à sua participação efetiva

na construção da realidade, ao desenvolvimento da sua auto-estima, de sua criatividade, de

seu auto conhecimento, de sua ludicidade, da sua capacidade de cooperar, bem como da

preservação da sua identidade cultural. Admite a necessidade do desenvolvimento do esporte

intrinsecamente relacionado à educação (significada como um processo do homem se fazer no

mundo) e que se fundamente também numa relação de co-educação entre aqueles que, juntos,

aprendem; se fundamente no respeito e na preservação da individualidade de cada um dos

participantes desse processo em relação às diversas outras individualidades, tendo em vista o

contexto uno e diverso no qual o homem está inserido”.

2.1.1 Ações do Programa Segundo Tempo

De acordo com Ministério dos Esportes (BRASIL, 2005), são as seguintes

as ações do Programa Segundo Tempo:

- Capacitação de professores e estagiários de educação física;

- Distribuição de materiais esportivos às escolas;

- Implantação de núcleos de esporte nas escolas selecionadas;

- Garantia de merenda escolar no turno extra;

- Pagamento de benefício para estagiário e monitor;

- Promoção de jogos escolares nacionais e regionais;

- Implantação de infra-estrutura esportiva nas escolas públicas;

- Elaboração e distribuição de material técnico e didático;

- Acompanhamento e avaliação do programa.

Sabemos, portanto, que todas essas ações dificilmente são realizadas por

completo. Os problemas burocráticos, organizacionais e de ordem prática dificultam muito o

cumprimento das mesmas atrapalhando na implementação ou renovação do Programa nos

municípios.

2.1.2 Objetivos e resultados esperados do Programa Segundo Tempo

No artigo 2º, da Portaria 32, de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2005),

apresentam-se os objetivos do Programa Segundo Tempo como:

“I- Propiciar contato com a prática esportiva;

II- Desenvolver capacidades e habilidades motoras;

III- Qualificar os recursos humanos profissionais envolvidos;

IV- Contribuir para a diminuição da exposição a situações risco social;

V- Implementar indicadores de acompanhamento e avaliação esporte

educacional no País”.

De acordo com Ministério dos Esportes (BRASIL, 2007) o programa que

tem como público-alvo crianças e adolescentes expostos aos riscos sociais apresenta como

Objetivo Geral:

- Democratizar o acesso ao esporte educacional de qualidade, como forma

de inclusão social, ocupando o tempo ocioso de crianças e adolescentes em situação de risco

social.

Objetivos Específicos:

- Oferecer práticas esportivas educacionais, estimulando crianças e

adolescentes a manter uma interação efetiva que contribua para o seu desenvolvimento

integral;

- Oferecer condições adequadas para a prática esportiva educacional de

qualidade.

O Programa Segundo Tempo tem como resultados esperados:

Impactos diretos:

- Interação entre os participantes e destes com a sua realidade local;

- Melhoria da auto-estima dos participantes;

- Melhoria das capacidades e habilidades motoras dos participantes;

- Melhoria das condições de saúde dos participantes;

- Aumento do número de praticantes de atividades esportivas educacionais;

- Melhoria da qualificação de professores e estagiários de educação física

pedagogia ou esporte envolvidos.

Impactos indiretos:

- Diminuição no enfrentamento de riscos sociais pelos participantes;

- Melhoria no rendimento escolar dos alunos envolvidos;

- Diminuição da evasão escolar nas escolas atendidas;

- Geração de novos empregos no setor de educação física e esporte nos

locais de abrangência do Programa;

- Melhoria da infra-estrutura esportiva no sistema de ensino público do país

e nas comunidades em geral. (BRASIL, 2007)

Estes objetivos e impactos esperados com a realização do Programa

Segundo Tempo nas comunidades se apóiam completamente no Manifesto Mundial de

Educação Física (FIEP, 2000), Capítulo XVI (A Educação Física e seu compromisso contra a

discriminação e a exclusão social) que recomenda a promoção de atividades físicas e esportes

como uma possibilidade de combate a pobreza, a desigualdade social e os problemas

relacionados a saúde e onde conclui-se que:

“Art. 18 - A Educação Física deve ser utilizada na luta contra a

discriminação e a exclusão social de qualquer tipo, democratizando as oportunidades de

participação das pessoas, com infra-estruturas e condições favoráveis e acessíveis”.

2.2 A importância da prática esportiva de crianças e adolescentes

A prática esportiva pode beneficiar de inúmeras formas as crianças e os

adolescentes, dependendo da forma e do contexto que é aplicada. Se for utilizada como

instrumento pedagógico visando o desenvolvimento individual e social da criança, poderá

capacitá-la, orientá-la e fornecer condições para desenvolver a competência de lidar com

todos os problemas, necessidades, expectativas e obrigações da forma mais adequada. Para

isso ocorrer, o esporte deverá se ligar e estar diretamente relacionado a educação

principalmente com relação a formação da criança para a vida, para a cidadania.

No Manifesto Mundial de Educação Física, se reconhece “a importância da

atividade física para a saúde das pessoas, estabelece como prioridade que o mesmo atinja

principalmente crianças e jovens”. (FIEP, 2000)

A interação social que o esporte proporciona é de grande valia para o social

da mesma, ainda mais se tratando de uma época onde o brincar e o “se relacionar” com o

outro foi ultrapassado por ações solitárias como a televisão, o videogame e o computador.

3. MÉTODO

Dentro de uma amostra de 220 crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos de

ambos os sexos, participantes do Programa Segundo Tempo nos municípios de São Paulo e

Taboão da Serra, foi realizada uma pesquisa de campo direta através de um questionário

fechado de 2 perguntas que foi aplicado pessoalmente ou por professores que foram

previamente instruídos na técnica de utilização do instrumento.

A apresentação dos resultados será feita através de porcentagem com a

utilização de gráficos e submetida à interpretação e análise crítica através da comparação as

respostas assinaladas com os objetivos do Programa Segundo Tempo e com a literatura

pertinente.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na apresentação dos resultados observa-se que em alguns gráficos a soma

das porcentagens ultrapassa 100%. Isto ocorre devido a um mesmo aluno poder citar mais de

um item das categorias da análise.

TABELA 1 – Quantidade da amostra, sexo, divisão dos alunos que responderam a

pesquisa por idade (mínima e máxima encontrada).

Feminino 87 Masculino 133 Total 220

6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19Idade anos/quantidade 8 20 17 30 26 27 19 16 13 14 13 10 7 -

4.1 Modalidades realizadas

Nesta subseção, os dados apresentados referem-se a questão 1 da pesquisa:

Qual a atividade/esporte que você pratica fora do horário escolar?

GRÁFICO 1 – Atividades/esportes praticados

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Natação Futsal Voleibol G. Olímpica Basquetebol Outros

Observa-se inicialmente a prática de natação por 47% dos alunos.

(GRÁFICO 1) Isto deve-se ao fato de um dos locais onde as crianças foram entrevistadas ter

uma estrutura com 3 piscinas (uma delas semi-olímpica), sendo que na região (Campo Limpo)

é o único local público com piscina com aulas gratuitas para a utilização e participação da

comunidade. Portanto, explica-se a maior procura pelas aulas de natação.

Posteriormente, observa-se um dado comum relacionado a prática esportiva

de crianças e adolescentes: a procura pelas aulas de futsal por 38% (GRÁFICO 1) dos

entrevistados e todos do sexo masculino devido ao não oferecimento desta modalidade para o

sexo feminino em nenhum dos locais.

4.2 Motivos da realização das atividades

Nesta subseção, os dados apresentados referem-se a questão 2 da pesquisa:

Por que se matriculou nesta atividade?

GRÁFICO 2 – Motivo que levou a prática desta modalidade

0102030405060708090

100

Gosta de praticar a modalidade

Interesse em aprender a modalidade

Pela importância da atividade física (saúde)

Interesse em aperfeiçoar a modalidade

Ocupar tempo livre

Problemas de saúde

Na Carta dos Direitos da Criança no Esporte, aprovada no 10º Congresso

Internacional do Panathlon, realizado em Avignone no ano de 1995, foi estabelecido para as

crianças o direito de “o direito de divertir e jogar” (FIEP, 2000) e para esta situação ocorrer

integralmente, devemos respeitar os interesses e vontades das crianças e proporcionar

atividades que as motivem a pratica esportiva. A partir desta afirmação, torna-se necessário

deixar a criança optar sobre a atividade que deseja realizar e conseqüentemente seja prazerosa

sua realização.

Um resultado interessante de verificar, é a maior porcentagem encontrada

(44%) com relação ao motivo que levou a criança ou adolescente a praticar o esporte foi a do

“gostar de praticar a modalidade” (GRÁFICO 2), mostrando que as crianças estão

freqüentando aulas que tem interesse e não apenas por ser uma modalidade oferecida pelo

Programa, trazendo portanto uma prática prazerosa e conseqüentemente mais benéfica ao

participante.

Almeida (2007) afirma que a criança “ao ver-se cerceada em sua ação

(prazerosa, na busca ou posse do objeto cobiçado), tende a desinteressar-se pela atividade que

não lhe traz prazer”.

Observa-se que 40% dos entrevistados têm o interesse de aprender a

modalidade (GRÁFICO 2). Esta porcentagem refere-se principalmente as modalidades

natação e ginástica olímpica que necessitam de uma estrutura específica para a sua

aprendizagem e esta estrutura encontra-se em um dos locais participantes do Programa

Segundo Tempo que foi utilizado nesta pesquisa.

Dos entrevistados, 32% (GRÁFICO 2) afirmaram praticar a atividade ou

esporte pela importância que esta atitude tem com relação a própria saúde, mostrando que as

crianças, adolescentes ou pais estão conscientes sobre o grande papel que a realização de uma

atividade física/prática esportiva regular tem em promover o desenvolvimento motor, o auto-

conhecimento, auto-estima, a integração e a expressão corporal dos praticantes. Um estilo de

vida ativo é um dos melhores métodos para a promoção da saúde, qualidade de vida e

prevenção de doenças. Este desenvolvimento da criança, a melhoria da saúde, o aumento da

auto-estima e são alguns dos objetivos específicos e resultados esperados com a

implementação do Programa Segundo Tempo. Estas afirmações só se confirmam com o

Artigo 7 do Capítulo VII (A Educação Física como Educação para a saúde) do Manifesto

Mundial de Educação Física (2000):

“A Educação Física, para que exerça sua função de Educação para a Saúde e

possa atuar preventivamente na redução de enfermidades relacionadas com a obesidade, as

enfermidades cardíacas, a hipertensão, algumas formas de câncer e depressões, contribuindo

para a qualidade de vida de seus beneficiários, deve desenvolver nas pessoas hábitos de

prática regular de atividades físicas”.

Tem o interesse de aperfeiçoar a modalidade 27% dos entrevistados

(GRÁFICO 2). Trata-se de uma situação onde os alunos consideram que já sabem o básico

da atividade ou do esporte que praticam e que pretendem com as aulas do Programa

aperfeiçoar aquilo que já consideram saber realizar. Esta alternativa foi assinalada em maior

quantidade por praticantes de futsal e adolescentes (de todas as modalidades) entrevistados.

O Objetivo Geral do Programa Segundo Tempo de ocupar o tempo ocioso

de crianças e adolescentes foi citado por 18% dos entrevistados (GRÁFICO 2), podendo o

Programa Segundo Tempo portanto afastar de certa forma as crianças e jovens dos riscos

sociais encontrados atualmente e é uma excelente forma de integração social das categorias da

sociedade consideradas excluídas. É importante fazer referência neste momento que o

Programa Segundo Tempo (e seu objetivo geral) e o resultado apresentado nesta pesquisa

estão de acordo com o Artigo 18 do Manifesto Mundial de Educação Física (FIEP, 2000), do

Capítulo XVI (A Educação Física e seu compromisso contra a discriminação e a exclusão

social) que afirma:

“A Educação Física deve ser utilizada na luta contra a discriminação e a

exclusão social de qualquer tipo, democratizando as oportunidades de participação das

pessoas, com infra-estruturas e condições favoráveis e acessíveis”.

No GRÁFICO 2, encontra-se o resultado de 14% dos entrevistados como

motivo da participação nas aulas “problemas de saúde”. Esta alternativa foi apontada por uma

grande maioria participante de aulas de natação devido a indicações médicas aos inúmeros

problemas respiratórios encontrados atualmente. Esta recomendação a este esporte é muito

comum em casos relacionados a doenças, alergias e problemas de saúde de uma forma geral.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise dos resultados das pesquisas, podemos chegar as seguintes

conclusões:

- Um número considerável de alunos do Programa Segundo Tempo

procuraram pela prática de natação devido à oportunidade de realizar as aulas dentro de uma

estrutura pouco encontrada em periferias (piscinas públicas);

- A procura pela aula de futsal é a segunda maior devido à popularidade e

super-valorização dessa modalidade esportiva no país e devido a prática da mesma ser muito

comum tanto em ambientes escolares e escola de esportes, quanto a sua prática pelo lazer (em

casa, rua, parques, etc.), aumentando portanto as oportunidades e vivências, gerando um

conhecimento prévio deste esporte que facilita a participação e conseqüentemente o “sucesso”

das crianças e adolescentes nas aulas.

- Os alunos procuram realizar a atividade que gostam e têm prazer em

praticar;

- O Programa Segundo Tempo oferece atividades e esportes de grande

interesse as crianças e adolescentes, aumentando deste modo a procura e o número de

praticantes;

- Um dos resultados esperados do Programa Segundo Tempo com relação à

melhoria da saúde dos participantes foi citado por um número significante dos entrevistados

tanto com relação a consideração sobre a importância da atividade física para a saúde e

qualidade de vida, quanto aos que procuram as atividades com os objetivos de amenizar ou

até mesmo solucionar alguns problemas de saúde comuns através de indicações médicas;

- O Objetivo Geral do Programa Segundo Tempo foi citado por 18% dos

entrevistados (GRÁFICO 2), considerando, portanto, que o motivo da participação destas

crianças e adolescentes no Programa está ligada aos objetivos do mesmo;

- As respostas que não se enquadram aos objetivos e resultados esperados

do Programa são as relacionadas à “formação esportiva”, já que na visão de algumas crianças

e adolescentes, tratam-se de aulas para tornar-se “jogadores de futebol” ou futuros destaques

esportivos o que não se vincula a idéia do Programa que quer atingir o país e a sociedade e

sua realidade de forma social, integrativa e de inclusão e não especificamente e diretamente

esportivo, de busca e descoberta de futuros talentos e atletas.

6 REFERÊNCIAS ALMEIDA, L. T. P, Iniciação desportiva na escola - A aprendizagem dos esportes coletivos. Disponível em: http://www.uff.br/gef/tadeu_esp.htm. Acesso em 09 de julho de 2007 BRASIL. Presidência da República. Lei nº. 9.615, de 24 de março de 1998. ______. Ministério do Esporte. Portaria N. 32, de 17 de março de 2005. FIEP (2000). Manifesto Mundial da Educação Física, disponível no endereço http://www.cev.org.br/manifesto/. Acesso em 12 de julho de 2007. GONÇALVES, M. A. Sentir, pensar e agir: Corporeidade e educação. 2 ed. Campinas: Papirus, 1997. HUIZINGA, J. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. 4.ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. KORSAKAS, P.; ROSE JUNIOR, D. Os encontros e desencontros entre esporte e educação: uma discussão filosófico-pedagógica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, ano 1, n 1, 2002, p 83-93. Disponível em : http://www.mackenzie.br/editoramackenzie/revistas/edfisica/edfis1n1/art7_edfis1n1.pdf. Acesso em 09 de julho de 2007 KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Editora Unijuí, 2000. MINISTÉRIO DOS ESPORTES (2007). Programa Segundo Tempo, disponível no endereço http://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo. Acesso em 09 de julho de 2007. ROSA, S. S. A globalização da infância. Jornal da Tarde, 2.12.2000. Caderno de Sábado,

7 ANEXOS

Anexo 1: Pesquisa realizada com os alunos do Programa Segundo Tempo

Nas perguntas 1 e 2 pode assinalar mais de uma resposta

Idade: Série: ( )Feminino ( ) Masculino 1-) Qual a atividade/esporte que você pratica fora do horário escolar?

( ) Futsal ( ) Natação ( ) Basquetebol ( ) Voleibol ( ) Judô ( ) Tênis ( ) Handebol ( ) Karatê ( ) Capoeira ( ) Ginástica olímpica ( ) Dança ( ) Outra(s)._______________________ 2-) Por que se matriculou nesta atividade?

( ) Por problemas de saúde / indicação médica ( ) Gosta de praticar a modalidade ( ) Interesse em aprender a modalidade ( ) Interesse em aperfeiçoar a modalidade ( ) Pela importância de praticar alguma atividade física/esporte (saúde) ( ) Foi obrigado por alguém a praticar (pais, responsáveis) ( ) Para ocupar o tempo livre/não ficar “na rua” ou em casa sem fazer nada