UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA · 2018. 5. 24. · A atitude mental dos pais –...

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA ATITUDE MENTAL E CONCEÇÕES DE DIFICULDADE NA APRENDIZAGEM NUMA AMOSTRA DE PAIS PORTUGUESES Vera Filipa Leal Correia MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia da Educação e da Orientação) 2017

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  • UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE PSICOLOGIA

    ATITUDE MENTAL E CONCEÇÕES DE DIFICULDADE NA

    APRENDIZAGEM NUMA AMOSTRA DE PAIS PORTUGUESES

    Vera Filipa Leal Correia

    MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

    (Secção de Psicologia da Educação e da Orientação)

    2017

  • UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE PSICOLOGIA

    ATITUDE MENTAL E CONCEÇÕES DE DIFICULDADE NA

    APRENDIZAGEM NUMA AMOSTRA DE PAIS PORTUGUESES

    Vera Filipa Leal Correia

    Dissertação Orientada pela Prof.ª Doutora Maria Dulce Gonçalves

    MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

    (Secção de Psicologia da Educação e da Orientação)

    2017

  • i

    As dificuldades não caracterizam alunos, antes são um elemento que pode servir

    à caracterização de situações, contextos e projetos de aprendizagem. E só em função

    desse contexto serão mais ou menos valorizadas, como mais ou menos graves; só em

    função desse contexto se desenvolverão de forma mais ou menos positiva, de forma

    mais ou menos funcional. (Gonçalves, 2002)

  • ii

    Agradecimentos

    À Professora Doutora Maria Dulce Gonçalves por me ter dado a liberdade de

    trabalhar o tema que pretendia com a população que queria. Por me ter alertado para as

    dificuldades que daqui podiam surgir, mas nunca me ter desencorajado. E ainda, por me

    dar a oportunidade de conhecer mais um pouco desta área tão apaixonante que são as

    Dificuldades na Aprendizagem.

    Aos professores que contribuíram para a minha formação durante estes 5 anos,

    procurando sempre mostrar-nos o lado mais apaixonante da Psicologia.

    A todos os pais que dedicaram uma parte do seu tempo a responder ao questionário

    e a todas as escolas e associações de pais que o partilharam.

    À minha família por me permitir seguir os meus sonhos. Por compreenderem a

    minha ausência. Pelos sorrisos verdadeiramente felizes a cada chegada. Pelo coração

    apertadinho a cada ida.

    À minha mãe, por ser o meu maior exemplo. Por sofrer em silêncio com a minha

    ausência. Por cada abraço a cada novo fim de semana. Por acreditar em mim como

    ninguém. Por depositar todos os sonhos do mundo em mim.

    Ao meu irmão, por contribuir para que eu me supere todos os dias. Por confiar nos

    meus conselhos. Por se interessar pelo meu trabalho mesmo "não percebendo muito bem

    o que faço". Por ser o meu companheiro. Por ser a razão pelo qual quero ser melhor a

    cada dia que passa.

    Ao meu pai, por demonstrar à sua maneira o orgulho que tem em mim. Por gritar

    ao universo aquilo que faço mesmo não acreditando neste mundo. Pela falta que sente e

    tenta esconder.

    Aos meus amigos de sempre - Joana, Xana, Sandrina, Diogo, Ruben, Brandon,

    Tânia, Márcio, Luís, Dionísio - por me fazerem sair de casa quando o cansaço é maior do

    que eu. Mas principalmente, por compreenderem a minha ausência. Por me fazerem sentir

    sempre perto nestes 5 anos. À Joana por ser um exemplo de que os sonhos não têm limites.

    À Xana, por ser a minha fiel companheira e ouvinte nesta cidade. À Sandrina, pela

    genuinidade e por me fazer acreditar que o dia tem mais de 24 horas e que querer é poder.

    Ao Diogo por bastar um olhar e pela cumplicidade única. Ao Rúben, por me mostrar que

  • iii

    2000 km não são nada quando o amor é muito. Ao Brandon por estar sempre presente

    mesmo quando as conversas são escassas. À Tânia pelo tempo que dedica mesmo quado

    ninguém tem tempo para respirar. Ao Márcio, pelo apoio moral e pelo interesse no meu

    trabalho. Ao Luís, por me mostrar que existem imensas formas de atenuar as saudades.

    Ao Dionísio, pelos melhores momentos nos primeiros anos nesta cidade. A todos, por

    permanecerem mesmo quando os destinos parecem não se querer cruzar.

    Aos amigos que a faculdade me deu - à Bela, à Pipa, à Inês, à Lopes, à sobrinha

    Pipa, à Cata, à Henriques, à Maria, à Inês, à Rute, à Marta, à Rafa, à Daniela - por todos

    os momentos de partilha. Por serem exemplos de generosidade, de trabalho, de confiança.

    Por todos os jantares, lanches e afins que souberam a pouco mas valeram muito. Por

    tornarem esta aventura muito mais saborosa.

    À Carolina, por estar sempre presente. Por nunca dizer que não. Por ter as palavras

    certas nos momentos mais desesperantes. Por me fazer sentir, em tão pouco tempo, que a

    sua família também é a minha.

    À Maria, por não me deixar dormir sozinha na véspera dos exames. Por me

    socorrer nos momentos mais desesperantes. Por ser tão minha em tão pouco tempo.

    À Mimocas, por ser a minha companheira desde o primeiro dia. Por partilhar

    comigo os momentos de saudades de casa. Pela cumplicidade em cada olhar.

    Ao Borges e à sua Marta, por ouvirem as minhas lamúrias durante todo este

    processo.

    Ao Cruz, por mostrar sempre interesse nas "minhas coisas" e me ouvir. Pelos

    abraços que curam.

    Ao António, por ter a capacidade de suavizar todos os meus dramas, mas de ser,

    no fundo, ainda mais dramático do que eu.

    Ao João, pelas horas que dispensou para que eu não desesperasse com o SPSS.

    Pelas conversas longas a meio da noite sobre estatística. Por me fazer acreditar que tenho

    superpoderes e que, por isso, tenho sempre de manter tudo sob controlo. Por perceber os

    meus "não" aos seus planos. Por me completar de forma tão autêntica.

  • iv

    A todos. A todos os que comigo se cruzaram e me deixaram um pouco de si. A

    todos os que não têm o seu nome nestas páginas, mas que fizeram a diferença nestes 23

    anos. A todos, por estarem sempre presentes. Sempre. A todos, por me fazerem acreditar

    que estou rodeada das melhores pessoas do mundo. Por serem tão bonitos. Por fazerem

    de mim a "miúda" mais sortuda. Obrigada. De coração.

  • v

    Resumo

    A atitude mental dos pais – mindset - e a forma como pensam as dificuldades na

    aprendizagem influenciam as suas práticas parentais (Dweck, 2009). O objetivo geral

    deste estudo passa pela compreensão da atitude mental dos pais bem como das suas

    conceções sobre dificuldades na aprendizagem. Para tal, participaram neste trabalho 109

    pais residentes em Portugal, 20 do sexo masculino e 89 do sexo feminino, com idades

    compreendidas entre os 25 e os 56 anos. Foram utilizados três instrumentos: 3 questões

    abertas, o Questionário sobre Atitude Mental e o Questionário de Crenças sobre

    Dificuldades na Aprendizagem. Os resultados obtidos após a análise fatorial do

    Questionário sobre Atitude Mental revelam a existência de dois fatores, o que coincide

    com estudos anteriores de Dweck (2009) com questões similares. Os resultados obtidos

    após a análise fatorial do Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem

    (Gonçalves, 2002) revelaram uma estrutura fatorial semelhante à encontrada num estudo

    anterior com uma amostra de pais e professores (Gomes, 2014) – quatro fatores, que

    parecem corresponder às quatro perspetivas de dificuldades na aprendizagem sugeridas

    por Gonçalves (2002). A análise das respostas aos dois questionários, bem como à questão

    aberta analisada, parece confirmar a existência de quatro grandes conceções sobre as

    dificuldades na aprendizagem – Funcional, Disfuncional, Interdependente e Processual -

    e de dois tipos de atitude mental – Dinâmica e Estática.

    Palavras-chave: Conceções, Dificuldades na Aprendizagem, Mindset, Atitude Mental,

    Pais

  • vi

    Abstract

    The mindset of the parents and the way that they problematize the learning

    difficulties has influence in their parental habits (Dweck, 2009). The main objective of

    this study is the comprehension of the mindset of the parents as well as their conceptions

    about the learning disabilities. The present study had the participation of 109 parents that

    are living in Portugal, 20 males and 89 females, with ages between 25 years old and 56

    years old. Along the project was utilized three ways of obtaining the answers: 3 open

    questions, the Questionnaire of Mindset and the Questionnaire of Beliefs on Learning

    Disabilities (QCDA). The results obtained after the factorial analysis of the Questionnaire

    of Mindset reveals the existence of two types of factors, that matches with the work of

    Dweck (2009). The results obtained after the factorial analysis of the Questionnaire of

    Mindset, the Questionnaire of Beliefs on Learning Disabilities (Gonçalves, 2002)

    revealed a factorial structure of an earlier study with a sample of parents and teachers

    (Gomes, 2014) - four factors, which seem to correspond to the four perspectives learning

    difficulties suggested by Gonçalves (2002). The analysis of the answers given to the two

    surveys, as well as the analyzed open question, seems to confirm the existence of four big

    conceptions about learning disabilities – Functional, Dysfunctional, Independent and

    Processual -, and of two types of mindset – growth mindset and fixed mindset.

    Keywords: Conceptions, Learning Disabilities, Mindset, Mental Attitude, Parents

  • Índice

    Introdução ……………………………………………………………….………….….. 1

    Capítulo I – Enquadramento Teórico ……………………………………….………….. 2

    1.1. As Conceções Científicas sobre Dificuldades na Aprendizagem ……..……….… 2

    1.2. As Conceções pessoais ………………………………………………………..…….… 4

    1.3. As Conceções pessoais sobre dificuldades na aprendizagem ………………..….. 5

    1.4. As Conceções pessoais de Inteligência e o Sucesso ………………………………. 6

    1.5. A Atitude Mental e o Sucesso ……………………………………………………...…. 7

    1.6. A influência das conceções dos pais na educação dos filhos ……………………. 8

    1.7.Objetivos e Importância do estudo ……………………………………………..…… 10

    Capítulo II – Método ………………………………………………….……………….. 12

    2.1.Caraterização da amostra …………………………………………….……………... 12

    2.2. Instrumentos ………………………………………………………………………….. 13

    2.3. Procedimento de recolha de dados ……………………………………….………... 15

    2.4. Procedimento de análise de dados …………………………………………..……... 16

    Capítulo III – Apresentação e Análise dos Resultados …………………………….…. 18

    3.1. Exemplos de respostas à questão aberta 1…………………………………….. 18

    3.1.1. Classificação preliminar de perspetivas concetuais sobre dificuldades na

    aprendizagem ………………………………………………………….……………… 18

    3.2. Análise do Questionário sobre Atitude Mental ………...…………………….… 19

    3.3. Análise do Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem…....21

    3.4.Análise da Correlação entre os fatores identificados em ambos os

    questionários………………………………………………………………………. 25

    Capítulo IV – Conclusão ……………………………………………………………… 27

    4.1. Discussão dos resultados ……………………………………………………... 27

    4.2. Limitações do estudo …………………………………………………………. 29

    4.3. Estudos Futuros ………………………………………………………………..…….. 30

    4.4. Implicações para a Prática …………………………………………………..……... 30

    4.5. Conclusões gerais ……………………………………………………….......... 31

    Referências Bibliográficas …………………………………………………...…… 33

  • Anexos ……………………………………………………………………..……… 37

    Anexo I. Quadros de caraterização da amostra …………….....……………..… 38

    Anexo II. Consentimento Informado ……………………….……….............… 41

    Anexo III. Questões abertas …..…….………………………………….........… 42

    Anexo IV. Questionário sobre Atitude Mental ….………………………........... 43

    Anexo V. Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem

    ……………………………………………………………………………………….... 44

    Anexo VI. Recolha de Dados Demográficos ………………………………...… 48

    Anexo VII. Classificação Preliminar de Perspetivas concetuais de Dificuldades

    na Aprendizagem ……………………………………………………………………… 50

    Anexo VIII. Estatística Descritiva das respostas a cada pergunta do Questionário

    sobre Atitude Mental ………………………………………………………………..… 54

    Anexo IX. Análise de Componentes Principais do Questionário sobre Atitude

    Mental ……………..………………………………………………………………..… 55

    Anexo X. Estatística Descritiva das respostas a cada pergunta do Questionário de

    Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem ………………………………….…..… 56

    Anexo XI. Análise de Componentes Principais do Questionário de Conceções

    sobre Dificuldades na Aprendizagem ……………………….……………..………..… 57

  • Índice de Tabelas

    Tabela 1. Resultados da análise descritiva da caraterização sociodemográfica da amostra

    ………………………………………………………………………………………….13

    Tabela 2. Conceções Pessoais sobre Dificuldades na Aprendizagem: exemplos de

    resposta ……..……………………………..……………………………………….….. 19

    Tabela 3. Estrutura Fatorial do Questionário sobre Atitude Mental ……..………….... 21

    Tabela 4. Estrutura Fatorial do Questionário de Crenças sobre Dificuldades na

    Aprendizagem ………………………………………………………………………... 23

    Tabela 5. Correlação entre os fatores identificados em ambos os questionários …..…. 25

  • Índice de Quadros em Anexo

    Quadro 1. Distribuição da amostra em função do sexo ………………………….…… 38

    Quadro 2. Distribuição da amostra em função da idade ……………………………… 38

    Quadro 3. Distribuição da amostra em função do número de filhos ……………..…… 38

    Quadro 4. Distribuição da amostra em função das habilitações literárias ……….…… 38

    Quadro 5. Distribuição da amostra em função do concelho de residência …………… 39

    Quadro 6. Distribuição da amostra em função do ano de escolaridade do filho mais novo

    a frequentar a escola …………………………………………………………………… 39

    Quadro 7. Distribuição da amostra em função do número de retenções do aluno .…… 39

    Quadro 8. Distribuição da amostra em função do número de negativas do aluno no

    período/semestre anterior ……………………………………...……………………… 40

    Quadro 9. Distribuição da amostra em função da existência de um diagnóstico de

    dificuldades na aprendizagem do aluno …………………………………………..…… 40

    Quadro 10. Distribuição da amostra em função da existência de casos de dificuldades na

    aprendizagem na família do aluno ……………………………….……………….…… 40

    Quadro 11. Proposta de classificação preliminar das respostas obtidas à questão: “O que

    é para si uma dificuldade na aprendizagem?” …………………………………….....… 50

    Quadro 12. Estatística Descritiva das respostas a cada pergunta do Questionário sobre

    Atitude Mental ……………………………………………………………………....… 54

    Quadro 13. Análise de Componentes Principais do Questionário sobre Atitude Mental

    ……………………………………………………………………………………....… 55

    Quadro 14. Estatística Descritiva das respostas a cada pergunta do Questionário de

    Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem ……………………………………...… 56

    Quadro 15. Análise de Componentes Principais do Questionário de Crenças sobre

    Dificuldades na Aprendizagem ……………………………………………………..… 57

  • 1

    Introdução

    Definir Dificuldades na Aprendizagem (DA) tem sido uma questão polémica e

    não consensual. Apesar das várias investigações dos vários estudos nesta área, as

    dificuldades na aprendizagem continuam a ser uma área particularmente problemática,

    alvo de discussão e conflito (Kavale & Forness, 2000).

    A heterogeneidade de caraterísticas dos alunos com dificuldades na

    aprendizagem, a limitada formação nesta área da maioria dos professores, a

    incompreensão do conceito por parte de professores e de pais são alguns dos fatores que

    provocam uma grande disparidade de opiniões e práticas que contribuem para o insucesso

    de muitos alunos (Correia, 1999). Isto é, as dificuldades têm uma origem multifatorial e

    podem ser agravadas mediante a combinação de fatores individuais, parentais, escolares

    e sociais. Também as crenças e conceções das próprias dificuldades na aprendizagem

    dependem do contexto de aprendizagem, do sujeito e dos conteúdos a serem aprendidos

    (Gonçalves, 2002).

    Para que possamos intervir, é imprescindível o estudo das conceções. Se

    conseguirmos perceber aquilo que os indivíduos pensam acerca de determinado assunto,

    é possível compreender algumas das suas práticas e atitudes (Monteiro e Manzini, 2008)

    e, ainda, investigar de que modo podemos atuar.

    Tendo em conta o aumento significativo do número de alunos com dificuldades

    na aprendizagem verificado nas últimas décadas (Correia e Martins, 1999), é urgente que

    se estudem as definições de dificuldades na aprendizagem, de forma a criar um consenso

    no que diz respeito aos conceitos e a medidas eficazes, no sentido de contribuir para a

    redução do insucesso escolar (Miranda, 2005).

    A relevância do estudo das conceções de vários grupos humanos, prende-se com

    a ideia de que existe uma base concetual que tem um papel determinante no pensamento

    e na ação (Bruner, 1996; Ponte, 1992). São vários os autores que reforçam a influência

    que as conceções têm nas atitudes e pensamentos dos próprios e dos que os rodeiam –

    Bronfenbrenner (1979), Tisdell (1993), Santos (2002), Faria (1998, 2002), Dweck (2007,

    2009), Teather (2010), Johnson & Stapel (2010), Pawlina & Stanford (2011), Halleröd

    (2011) e Paulina (2015). Torna-se, então, pertinente perceber e esclarecer certos

    conceitos, e perceber quais são as conceções que os diferentes agentes educativos têm

    sobre esses mesmos conceitos.

  • 2

    A literatura foca-se, essencialmente, nas conceções de dificuldades na

    aprendizagem dos professores e dos próprios alunos. Por isso, considera-se extremamente

    relevante reforçar o estudo das conceções parentais, tendo em conta que as atitudes dos

    pais influenciam fortemente os filhos e a forma como os filhos se veem, o que causa um

    grande impacto nos mesmos. Também na sequência deste pensamento, considerou-se

    pertinente estudar a própria atitude mental dos pais.

    Partindo dos estudos realizados por Gonçalves, (2002, 2011), Gil (2011), Gomes

    (2014), Santos (2014), Faria (1990, 1995, 2004), Faria e Fontaine (1989) e Dweck (2007,

    2009), neste estudo aplicou-se um questionário online a uma nova amostra incluindo as

    duas vertentes: conceções de dificuldades na aprendizagem e atitude mental. O principal

    objetivo deste estudo passa então por compreender e descrever a atitude mental dos pais,

    bem como as suas conceções sobre dificuldades na aprendizagem.

    Para uma melhor estruturação do trabalho, este foi organizado em cinco grandes

    capítulos: o Capítulo I, que consiste num enquadramento teórico onde se pretende

    esclarecer os conceitos mais relevantes para este estudo; o Capítulo II, onde serão

    caraterizadas as opções metodológicas, tais como a caraterização dos participantes, o

    procedimento utilizado e a caraterização dos instrumentos; o Capítulo III, que diz respeito

    à apresentação e análise dos resultados obtidos; e, por fim, o Capítulo IV onde serão

    apresentadas as conclusões do estudo e as implicações para estudos futuros.

  • 3

    Capítulo I – Enquadramento Teórico

    1.1.Conceções Científicas sobre Dificuldades na Aprendizagem

    As definições de dificuldades na aprendizagem enunciadas ao longo dos anos

    podem ser divididas segundo três categorias principais: lesão cerebral, disfunção cerebral

    mínima e dificuldades na aprendizagem (Mercer, 1994; Correia, 1991). Em 1962 surge

    uma definição que aponta para “uma desordem” no domínio da linguagem e no

    rendimento académico, provocada por uma disfunção cerebral mínima ou por uma

    alteração emocional ou comportamental (Kirk, 1962, p. 263 cit. in Hammill, 1990). Até

    esta data as denominadas learning disabilities constituíam uma problemática clínica. A

    tradução para o termo “dificuldades na aprendizagem” surge em 1962 com o objetivo de

    introduzir este tema num contexto educacional (Miranda, 2005). Mais tarde, em 1965,

    Bateman define dificuldade na aprendizagem como uma “discrepância educativa entre o

    seu potencial intelectual estimado e o nível atual de realização” (Bateman, 1965, p.220,

    cit. in Hammill, 1990).

    Estas duas definições constituíram a base para as definições atuais de dificuldades

    na aprendizagem que reúnem maior consenso a nível internacional. A primeira,

    considerada por Correia (1991, 1997) como a mais aceite atualmente a nível

    internacional, é a definição da Public Law, denominada Individuals with Disabilities

    Education Act (IDEA) que inclui um conjunto de critérios operacionais que pretendem

    identificar os estudantes com dificuldades na aprendizagem. É através destes critérios que

    as escolas americanas se regem quando estão perante crianças com dificuldades na

    aprendizagem, assumindo que as mesmas podem não ter um caráter permanente. Uma

    outra definição considerada também bastante relevante, foi elaborada pelo National Joint

    Committee on Learning Disabilities (NJCLD, cit. por Correia e Martins, 1999) que define

    dificuldade na aprendizagem como um conjunto de desordens intrínsecas ao indivíduo e

    que se manifestam na aquisição e no uso da escuta, da fala, da leitura, da escrita do

    raciocínio ou da matemática.

    Como é possível constatar pelos exemplos referidos, o termo dificuldades na

    aprendizagem tem sido utilizado para referir um fenómeno complexo, não sendo ainda

    possível reunir consenso no domínio do sistema educativo.

    Correia (1999) integra as dificuldades na aprendizagem numa perspetiva

    educacional, definindo-as como uma incapacidade ou impedimento para a aprendizagem

  • 4

    da leitura, da escrita, ou do cálculo, ou para a aquisição de aptidões sociais. Desta forma,

    os alunos com dificuldades na aprendizagem podem apresentar dificuldades na resolução

    de algumas tarefas escolares e facilidades na resolução de outras.

    Por outro lado, autores como Poplin (1988) encaram as dificuldades na

    aprendizagem como uma etapa num processo de mudança, sendo uma oportunidade para

    evoluir, alterar e modificar a situação do aluno, ao invés de o caraterizar de forma fixa

    (Poplin, 1988; Gonçalves, 2002). Desta forma, as dificuldades na aprendizagem deixam

    de ser vistas como uma caraterística intrínseca e passam a ser a consequência da interação

    do aluno com o contexto de aprendizagem (Gonçalves, 2002, 2011; Lyon, 2005).

    Segundo estes autores, aquilo que distingue os bons dos maus alunos passa pela forma

    como pensam e pelo resultado dos seus pensamentos ao nível dos comportamentos, afetos

    e atitudes. Assim, torna-se fundamental perceber as atitudes, os valores, as crenças, as

    conceções pessoais e os habits of mind (Bernard, 1997) dos alunos. O trunfo passa então

    por aprender a pensar e a conceber de forma mais racional e adaptativa (Gonçalves, 2002).

    Tal como acontece a nível internacional, também em Portugal o conceito de

    dificuldades na aprendizagem não atingiu um consenso (Correia, 2004, 2007; Cruz, 1999;

    Gonçalves, 2002, 2011). No entanto, é possível verificar que as políticas educacionais são

    mais tradicionais, percebendo as dificuldades na aprendizagem como perturbações ou

    distúrbios, sendo caraterísticas intrínsecas aos alunos e persistentes ao longo do seu

    percurso escolar (Fletcher, Coulter, Reschly & Vaughn, 2004; Kavale, 2005; Kavale,

    Spaulding, Beam, 2009; Poplin, 1988).

    Correia (2007) e Gonçalves (2002) chamam a atenção para o uso inadequado do

    termo dificuldades na aprendizagem, que pode significar um termo específico, como

    dislexia ou disortografia, ou um termo mais genérico, como necessidades educativas

    especiais ou insucesso escolar.

    1.2. As Conceções Pessoais

    As conceções e crenças individuais são frequentemente partilhadas, organizando-se

    em verdadeiras teorias do senso comum que facilitam a adaptação e o funcionamento

    individual em muitas situações interpessoais (Bruner, 1997). Segundo o autor (1996), a

    psicologia cultural – folk psychology, está relacionada com as crenças que cada um tem

    do que é suposto fazer mesmo que não seja capaz de verbalizar os seus princípios

    pedagógicos. Trata-se, assim, da forma como as pessoas que não têm qualquer

  • 5

    conhecimento das ciências cognitivas representam o mundo psicológico (Olson &

    Bruner, 1996)

    As conceções são tanto indispensáveis, pois compõem o sentido que damos às

    coisas, como bloqueadoras, pois limitam as hipóteses de atuação e compreensão face a

    novas realidades ou a certos problemas (Ponte, 1992). Formam-se a partir do conceito

    individual – tendo em conta as experiências pessoais -, e social – resultantes do confronto

    das experiências pessoais com as experiências dos outros.

    Assim, os comportamentos e opções dos alunos são o resultado das suas

    conceções e crenças pessoais sobre o que é aprender, sobre os processos de conhecimento,

    sobre a influência e o papel das dificuldades na aprendizagem (Bruner, 1996; Gonçalves,

    2002; Paakkari, Tynjälä, Kannas, 2011; Schommer, 1994).

    Quando o assunto passa por ensino e aprendizagem, investigadores, professores e

    pais podem estar a mencionar ideias muito diferentes, baseando-se em diferentes

    conceções pessoais e em diferentes princípios epistemológicos. Um mesmo assunto

    escolar pode ser entendido e concretizado de formas muito variadas (Gonçalves, 2002).

    Estudar a psicologia do senso comum, as crenças e conceções pessoais passa por

    estudar fatores mediadores, com um papel fulcral para a compreensão de muitos

    comportamentos e fenómenos humanos (Gonçalves, 2002).

    1.3. As Conceções Pessoais sobre Dificuldades na Aprendizagem

    Num estudo realizado em 2002 por Gonçalves, com o objetivo de perceber as

    conceções pessoais de estudantes universitários em relação ao conhecimento e às

    dificuldades na aprendizagem, a autora identifica quatro perspetivas diferentes, sendo que

    cada uma se subdivide em conceções mais específicas e se diferencia das outras, em

    relação à origem que as distingue: a perspetiva disfuncional, a perspetiva processual, a

    perspetiva interdependente e a perspetiva funcional.

    Na perspetiva disfuncional, as dificuldades são interpretadas como uma

    caraterística fixa do aluno de caráter permanente ou relativamente inalterável, sendo

    vistas como uma deficiência ou patologia.

    Na perspetiva processual, o aluno continua a ser o principal foco, mas a

    dificuldade é percecionada como algo que interfere no processo de aprendizagem e que

    impede o aluno de alcançar os objetivos que de outro modo conseguiria alcançar, sendo

    assim vista como um impedimento ou obstáculo, uma insuficiência ou uma interferência.

  • 6

    Já na perspetiva interdependente a aprendizagem é concebida como algo que

    depende da interação do aluno com o contexto de aprendizagem, ou seja, é dependente

    de duas ordens de variáveis – pessoais e situacionais. A dificuldade não carateriza o aluno,

    mas sim a forma como ele se adapta ou não à situação de aprendizagem, sendo assim

    interpretada como uma desadaptação, uma discrepância ou diferença.

    Por fim, na perspetiva funcional a dificuldade é encarada como uma caraterística

    natural do processo de aprendizagem que pode ocorrer em qualquer situação e a qualquer

    pessoa. A dificuldade pode contribuir para a descoberta, para o crescimento pessoal e para

    a aquisição de novas aprendizagens, sendo vista como inerente à aprendizagem e/ou à

    vida e como um desafio ou oportunidade.

    Parece existir uma analogia entre estas conceções definidas por Gonçalves e

    quatro grandes modelos científicos que analisaram as dificuldades na aprendizagem e que

    emergiram nos anos 60 e 90: modelo médico, modelo do processamento psicológico,

    modelo comportamental e modelo das estratégias cognitivas (Poplin, 1988).

    Mais recentemente, no seu estudo sobre conceções de dificuldades na

    aprendizagem de pais e professores, Gomes (2014) encontra as mesmas quatro conceções

    na análise realizada ao Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem.

    De um modo geral, estes e outros estudos sugerem que é possível identificar

    diferentes formas de concetualizar a aprendizagem e o conhecimento, de um ponto de

    vista pessoal e intuitivo. E, apesar de parecer que as definições pessoais sobre os

    processos de aprendizagem evoluem com o tempo e com a instrução, é fundamental

    repensar os processos pedagógicos de ensino e de formação de forma a facilitar a

    autorreflexão (Lonka & Ahola, 1995).

    É, assim, importante estudar estas conceções pois, segundo Gonçalves (2002), se

    se mantiverem ocultas diferentes conceções pessoais sobre o que é aprender, o que é

    avaliar, o que é um bom aluno, ou sobre o que significa, por exemplo, sentir dificuldades

    na aprendizagem, tudo pode mudar sem que nada realmente mude.

    1.4. As Conceções Pessoais de Inteligência e o Sucesso

    As conceções pessoais ou implícitas acerca da capacidade intelectual podem

    ajudar a prever o comportamento dos sujeitos e os objetivos de realização. Neste

    sentido, surge um modelo teórico centrado em duas conceções pessoais de

    inteligência: estática e dinâmica (Bandura e Dweck, 1985). Este modelo é

  • 7

    especialmente importante porque influencia o pensamento e a ação dos indivíduos,

    afetando a escolha de objetivos de realização, as atribuições causais para os

    resultados, a eficácia da realização, a forma como é interpretada e o impacto nas

    expetativas de realização futuras (Little & Lopes, 1997).

    As pessoas que acreditam que a inteligência é um traço global e estável – conceção

    de inteligência estável, focam-se nos resultados como forma de avaliar as suas

    capacidades. Esta conceção leva as pessoas a interpretarem o esforço como um risco

    que pode significar baixa inteligência e os erros como falta de competência (Faria,

    1998).

    Já quando acreditam que a inteligência corresponde a um conjunto de

    conhecimentos e competências em desenvolvimento – conceção de inteligência

    dinâmica, evidenciam a promoção do desenvolvimento ao invés da sua demonstração.

    Assim, as pessoas percebem o esforço como um investimento que permite o

    desenvolvimento da inteligência e os erros como algo útil para o desenvolvimento da

    competência (Faria, 1998).

    Também o sucesso é interpretado pelos dois tipos de pessoas de forma diferente:

    as pessoas que interpretam a inteligência como estática, acreditam que o sucesso se

    revê nos elevados resultados ou no baixo esforço quando comparados com os outros;

    já as pessoas que percebem a inteligência como dinâmica, defendem que o sucesso

    acontece quando há uma evolução, ou seja, quando se aumenta a competência em

    relação a uma realização anterior.

    1.5. A Atitude Mental e o Sucesso

    As crenças que as pessoas têm sobre as suas caraterísticas mais básicas como a

    inteligência, o talento ou a personalidade, podem condicionar de forma intensa o caminho

    de cada pessoa e, consecutivamente, definir o seu sucesso. É neste sentido que surgem os

    estudos de Carol Dweck sobre mindset (Dweck, 2014/2006). Neste estudo, optou-se por

    utilizar a tradução já existente em português do livro em referência - atitude mental.

    Carol Dweck (2006) define mindset como “o poder que acreditar tem nas pessoas”. A

    autora defende que uma pequena crença sobre nós próprios influencia uma grande parte

    da nossa vida. Assim, independentemente de termos ou não consciência dessa crença,

    esta afeta de forma intensa o que queremos e como conseguimos, ou não, alcançá-lo.

  • 8

    Dweck diz ainda que independentemente das caraterísticas genéticas com que nascemos,

    a experiência, a formação e o esforço individual podem mudar o rumo de cada um.

    Existem, segundo a autora (2009), dois tipos de mindset muito diferentes: fixed

    mindset (atitude mental estável) e growth mindset (atitude mental dinâmica). O primeiro

    diz respeito à crença de que as nossas qualidades são fixas, o que nos leva a colocarmo-

    nos constantemente à prova, de forma a provarmos que temos determinadas caraterísticas.

    Já as pessoas com growth mindset acreditam que as qualidades básicas são possíveis de

    alterar com esforço. Ou seja, acreditam que o potencial do indivíduo é desconhecido e

    que, assim, não se consegue prever aquilo que se consegue alcançar com paixão, trabalho

    e formação. Quando acreditamos que as nossas qualidades podem ser desenvolvidas,

    produzimos uma paixão pela aprendizagem, ambicionamos ir mais longe mesmo quando

    algo não corre bem. Desta forma, é possível evoluir ao longo da vida.

    Os dois grupos de pessoas sentem-se igualmente otimistas e valorizadas quando

    não estão a lidar com o fracasso. Mas tudo muda, quando lidam com o fracasso: as pessoas

    com uma atitude mental estável atribuem o fracasso à sua competência e ao seu valor,

    sentindo-se fracassadas; já as pessoas com uma atitude mental dinâmica mostram-se

    prontas a correr risco, a enfrentar desafios e a continuar a investir em si próprias (Dweck,

    2009).

    As pessoas que acreditam que as aptidões são fixas, consideram-se bem-sucedidas

    quando provam que são inteligentes ou talentosas e, assim, se validam a si próprias. Já as

    pessoas que acreditam que as aptidões são mutáveis, pretendem ultrapassar-se, aprender

    algo novo, desenvolver-se. As primeiras vêm o fracasso como uma contrariedade e o

    esforço como algo negativo. As segundas vêm o fracasso como a não realização do nosso

    potencial, e o esforço como aquilo que nos faz inteligentes ou talentosos (Dweck, 2009).

    1.6.A influência das conceções dos pais na educação dos filhos

    Já é sabido que as atitudes dos pais influenciam em larga medida os filhos e, até,

    a forma como os filhos se vêm. Quando os pais elogiam a inteligência da criança,

    prejudicam a sua motivação e o seu desempenho. O elogio provoca-lhes um impulso, mas

    apenas momentâneo. Quando encontrarem um obstáculo, a confiança e a motivação

    reduzem porque, acreditam que se o sucesso significa que são inteligentes, então o

    fracasso significa que não o são, o que corresponde a uma atitude mental estável. Segundo

    Dweck (2009), devemos então elogiar as crianças pelo seu esforço, estudo, persistência e

  • 9

    boas estratégias. Isto é especialmente importante para as crianças que têm dificuldades na

    aprendizagem pois, muitas vezes, não é o esforço que é relevante, mas sim, encontrar a

    estratégias certa.

    Tendo em conta que envolvem não só habilidades cognitivas, sociais e

    comportamentais, como o que se pode fazer com as habilidades que se possui, as

    perceções das pessoas influenciam os padrões de pensamento, comportamento e reações

    emocionais em diferentes situações (Santos, 2002).

    Dweck (2007) reforça a importância dos ambientes educativos que favorecem

    crenças positivas, focando as realizações durante o processo e não apenas no final.

    Na escola, a forma como as crianças respondem a momentos desafiantes tem

    impacto nas suas perceções sobre a capacidade de moldar a sua aprendizagem e sobre

    como lidar com situações futuras (Pawlina & Stanford, 2011; Halleröd, 2011; Johnson &

    Stapel, 2010). Estas interpretações que as crianças fazem das situações são influenciadas

    por elementos pessoais, sociais e culturais. Assim, é importante perceber de que forma as

    crianças recebem e interpretam informações de outras pessoas sobre a escola e a

    educação, e como é que usam essas mesmas interpretações (Paulina, 2015).

    Há ainda outros autores que abordam a influência das crenças dos pais na

    educação dos filhos. Bronfenbrenner (1979), na sua teoria, assume cinco sistemas

    interligados. O primeiro, o microssistema, refere-se às atividades, papéis e relações

    interpessoais experimentados pela pessoa num determinado ambiente. O segundo, o

    mesossistema, diz respeito às ligações entre dois ou mais ambientes que englobam o

    sujeito. Em terceiro, o exossistema contém as ligações estabelecidas entre dois ou mais

    ambientes, em que pelo menos um deles não envolve o sujeito como participante ativo,

    mas no qual acontecem situações que afetam ou são afetadas pelo que acontece nos

    microssistemas. Depois, o macrossistema que engloba valores, costumes e leis de uma

    determinada cultura. Por fim, o cronossistema que contém mudanças e consistências ao

    longo do tempo no sujeito e no ambiente. No microssistema da escola estão incluídos

    alunos, pais, membros da família, administração, professores e comunidade envolvente.

    Já o mesossistema envolve as expetativas dos pais que podem criar uma dinâmica que

    direta e indiretamente afeta a atmosfera e o clima da escola.

    Já Bruner em 1996, no seu livro “Cultura da Educação”, fez referência à

    necessidade de envolver toda a comunidade na educação e de integrar a própria

    comunidade dentro da escola. Na perspetiva do autor, as nossas interações com os outros

    são profundamente afetadas pela forma como funcionam as outras mentes.

  • 10

    Teather (2010), defensor do construtivismo social, assume que a cultura e o

    contexto influenciam as perceções, a interpretação e a construção da realidade do

    indivíduo. A escola, sistema dentro de um contexto específico, molda a interpretação das

    crianças e a construção da realidade. Assim, as crenças que as crianças têm sobre como a

    educação deve ser realizada e o que se espera das mesmas como estudantes, podem ser

    influenciadas pela interação com outros influentes e a interpretação dessas experiências

    por parte das crianças.

    Também, no estudo realizado por Paulina (2015), conclui-se que há uma diferença

    na forma como os modelos educacionais podem promover atitudes resilientes entre

    crianças. O ambiente e intervenientes, em conjunto com os fatores pessoais têm um papel

    relevante nas crenças do aluno. Os modelos não tradicionais de educação promovem uma

    atitude mental dinâmica e atitudes resistentes entre os alunos. Pelo contrário, os modelos

    tradicionais podem desenvolver mais facilmente uma atitude mental estável.

    É, então, extremamente importante encontrar estratégias que promovam a

    participação dos pais, criando uma relação mais próxima entre a escola e a família (Faria,

    1998, 2002). Isto, tendo em conta o papel relevante dos pais na transmissão de crenças e

    expetativas, no reforço dos comportamentos e no desenvolvimento das suas perceções

    pessoais de competências (Faria, Pepi & Alesi, 2004).

    Ainda que a questão de melhorar a educação para a transformação individual e

    social seja um grande desafio, várias investigações demonstram a importância de

    desenvolver ambientes de aprendizagem que promovam a possibilidade de pensar de

    forma independente e crítica e de chegar às suas próprias conclusões (Tisdell, 1993).

    1.7. Objetivos e importância do estudo

    Tal como abordado anteriormente, são vários os estudos que analisaram a

    importância das conceções pessoais em várias populações e que revelaram ser um grande

    contributo para a área das dificuldades na aprendizagem e para a Psicologia da Educação

    no geral. O estudo de Gonçalves (2002) que incidiu nos estudantes universitários, o estudo

    de Gil (2011) que se focou em professores do primeiro ciclo, o estudo de Gomes (2014)

    que recaiu sobre pais e professores e o estudo de Santos (2014) que abordou os atletas de

    alto rendimento. Também em relação à atitude mental e às conceções pessoais de

    inteligência, é importante referir os estudos de Dweck (2009), de Fontaine e Faria (1989),

    de Faria (1990), de Faria (1995) que abordou as conceções durante a adolescência e de

  • 11

    Faria (2004) que incidiu em estudantes portugueses e italianos. Tendo em reflexão esses

    mesmos estudos, esta investigação teve como objetivo global contribuir para o

    conhecimento da atitude mental dos pais e das suas conceções sobre dificuldades na

    aprendizagem, na população portuguesa. Para tal, serão utilizadas três questões abertas,

    o Questionário sobre Atitude Mental e a versão online do Questionário de Crenças de

    Dificuldades na Aprendizagem (QCDA) proposta por Gomes (2014). Este estudo

    apresenta como principais contributos o facto de ser o primeiro estudo a incluir estes dois

    questionários e, ainda, o foco apenas nos pais. Pretende-se, assim, de um modo mais

    específico:

    1. Estudar as propriedades psicométricas do Questionário sobre Atitude Mental

    numa amostra de pais portugueses.

    2. Estudar as propriedades psicométricas do Questionário de Crenças sobre

    Dificuldades na Aprendizagem numa amostra de pais portugueses.

    3. Identificar e descrever conceções parentais sobre dificuldades na

    aprendizagem.

    4. Identificar e descrever diferenças na atitude mental dos pais.

    5. Relacionar atitudes mentais e conceções de dificuldade na aprendizagem.

    Por outro lado, este estudo pretende dar resposta a algumas questões de

    investigação:

    1. Será o Questionário sobre Atitude Mental útil para estudar a atitude mental

    dos pais portugueses?

    2. Será o Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem útil para

    estudar as conceções de dificuldades na aprendizagem dos pais portugueses?

    3. Será possível identificar nesta amostra as quatro conceções de dificuldades na

    aprendizagem identificadas em estudos anteriores (Gonçalves, 2002)?

    4. Será possível identificar nesta amostra os dois tipos de atitude mental

    identificados em estudos anteriores (Dweck, 2009)?

    5. Haverá correlação entre o tipo de atitude mental e a conceção de dificuldade

    na aprendizagem?

  • 12

    Capítulo II – Metodologia

    Este estudo, para além de envolver as vertentes qualitativa e quantitativa propostas

    por Gomes (2014), abrange uma população diferente daquela que compreendeu o estudo

    desta autora e, ainda, diferente da original (Gonçalves, 2002). Foi ainda acrescentado um

    conjunto questões sobre a atitude mental dos pais que se designou por “Questionário sobre

    Atitude Mental”. Assim, foi desenvolvido como um trabalho exploratório e descritivo

    com o objetivo de compreender a atitude mental dos pais e as suas conceções de

    dificuldades na aprendizagem.

    2.1. Caraterização da amostra

    Neste estudo participaram 109 pais portugueses (n = 109), residentes em Portugal.

    Nos Quadros 1 a 10 (Anexo I) apresentam-se os resultados mais detalhados das

    frequências de resposta em função do género, da idade, do número de filhos, das

    habilitações literárias, do concelho de residência, do ano de escolaridade do filho mais

    novo, do número de retenções do aluno, do número de negativas no semestre/período

    anterior do aluno, do diagnóstico de dificuldades na aprendizagem realizado ao aluno e

    da presença de outros casos de dificuldades na aprendizagem na família do aluno.

    Na Tabela 1 apresenta-se uma síntese da caraterização da amostra. Da população

    de pais participante neste estudo, a maioria pertence ao sexo feminino (81,7%) (Quadro

    1). Possuem idades compreendidas entre os 25 e os 56, pertencendo a maioria ao grupo

    etário dos 36 aos 45 anos (Quadro 2). 52,3% dos participantes tem 2 filhos e apenas 1,8%

    tem 4 filhos (Quadro 3). 45,9% dos participantes possui uma licenciatura e apenas 7,3%

    não possui a escolaridade obrigatória (Quadro 4). Quanto aos concelhos com maior

    número de participantes destacam-se Coimbra (36,7%), Leiria (15,6%) e Lisboa (14,7%)

    (Quadro 5). A maioria dos participantes tem o seu filho mais novo a frequentar o 1º

    (11,0%) e o 5º ano (11,0%) (Quadro 6). 93,6% dos participantes afirmam que o aluno não

    teve nenhuma retenção (Quadro 7) e 86,2% afirmam que o aluno não teve negativas no

    período/semestre anterior (Quadro 8). Apenas 11 participantes (10,1%) referem ter sido

    realizado um diagnóstico de dificuldades na aprendizagem ao filho (Quadro 9) e 23

    (21,1%) dizem haver casos de dificuldades na aprendizagem na família (Quadro 10).

  • 13

    Tabela 1

    Resultados da análise descritiva da caracterização sociodemográfica da amostra

    (N=109)

    Variáveis n (%)

    Sexo

    Masculino 20 (18,3%)

    Feminino 89 (81,7%)

    Idade

    25-35 anos 11 (9,9%)

    36-45 anos 69 (63.3%)

    46-56 anos 29 (26,8%)

    Habilitações Literárias

    Com escolaridade

    obrigatória 11 (10,1%)

    Ensino Superior 72 (66%)

    Outro 26 (23,8%)

    Concelho de residência

    Leiria 17 (15,6%)

    Coimbra 40 (36,7%)

    Lisboa 16 (14,7%)

    Outro 36 (33%)

    Diagnóstico de dificuldade na aprendizagem ao aluno

    Sim 11 (10,1%)

    Não 98 (89,9%)

    Casos de dificuldade na aprendizagem na família do

    aluno

    Sim 23 (21,1%)

    Não 86 (78,9%)

    2.2. Instrumentos

    A recolha de dados foi feita através de um questionário que incluía : (i) o

    consentimento informado (Anexo II); (ii) três questões abertas (Anexo III) elaboradas

    com base no estudo de Gomes (2014); (iii) um conjunto de questões elaboradas com base

    no questionário online Test Your Mindset de Carol Dweck (2006) – Questionário sobre

    Atitude Mental (Anexo IV); (iv) uma adaptação com base no estudo de Gomes (2014) do

  • 14

    “Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem” (QCDA), - inicialmente

    trabalhado no estudo de Gonçalves (2002) sobre “Conceções Científicas e Conceções

    Pessoais sobre o Conhecimento e Dificuldades na Aprendizagem” (Anexo V); e (iv) um

    conjunto de questões de recolha de dados demográficos (Anexo VI).

    O questionário de formato digital e de preenchimento online na plataforma

    Qualtrics estava organizado em quatro grandes grupos.

    2.2.1. Conjunto de questões abertas

    O primeiro grupo focava-se nas três questões abertas elaboradas com base no

    estudo de Gomes (2014), cujo objetivo passava por identificar: quais as conceções que os

    participantes tinham de dificuldades na aprendizagem, qual a origem das mesmas e, ainda,

    quais as estratégias que poderiam ser úteis para ultrapassar uma dificuldade na

    aprendizagem.

    2.2.2. Questionário sobre Atitude Mental

    O segundo grupo - Questionário sobre Atitude Mental - era constituído por 8 itens

    contruídos e formulados com base em estudos anteriores (Dweck, 2006). O questionário

    original de Carol Dweck, Test Your Mindset, é constituído por 16 itens que pretendem

    compreender qual a atitude mental das pessoas relativamente à inteligência (por exemplo,

    7. No matter how much intelligence you have, you can always change it quite a bit.) e ao

    talento (por exemplo, 11. No matter who you are, you can significantly change your level

    of talent.). Este conjunto de oito itens, formulados e adaptados neste estudo, surgem como

    uma primeira proposta para o estudo da atitude mental em amostras de pais portugueses.

    Assim, realizou-se uma versão preliminar e, posteriormente, um estudo piloto com 7 pais

    para averiguar a compreensão dos itens, tendo sido necessário fazer pequenas alterações

    na linguagem de algumas questões. A resposta a estes 8 itens é realizada numa escala do

    tipo Likert de 6 níveis, que variam entre 1 (“discordo totalmente”) e 6 (“concordo

    totalmente”).

    2.2.3. Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem

    O terceiro grupo – Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem

    - era composto pelos 36 itens retirados do QCDA consoante a proposta apresentada por

    Gomes (2014) no seu estudo e respondidos também numa escala do tipo Likert de 6

    níveis, que variam entre 1 (“discordo totalmente”) e 6 (“concordo totalmente”). Estes 36

  • 15

    itens resultaram da revisão anteriormente proposta por Gomes (2014), eliminando os itens

    9, 11, 12, 19, 21, 25, 26, 37, 39, 43, 44, 47 e 50, de acordo com o critério de eliminação

    por cross-loadings e o item 3 segundo o critério dos valores de Alpha de Cronbach “if

    item deleted” de cada fator. O Questionário de Crenças sobre Dificuldades na

    Aprendizagem foi inicialmente trabalhado no estudo de Gonçalves (2002) e

    posteriormente revisto por Gonçalves e Agostinho (2013, citado por Gomes, 2014).

    2.2.4. Recolha de Dados Demográficos

    Por fim, o quarto grupo – Recolha de Dados Demográficos - era constituído por

    10 questões de resposta obrigatória (Sexo, Idade, Número de Filhos, Habilitações

    Literárias, Concelho em que reside, Ano de escolaridade do filho mais novo a frequentar

    a escola, Número de retenções deste filho em anos anteriores, Número de negativas deste

    filho no período/semestre anterior, Filho com Diagnóstico de Dificuldades na

    Aprendizagem, Casos de Dificuldades na Aprendizagem na família do aluno) mais dois

    itens de respostas obrigatória caso a resposta seja positiva aos itens referentes: ao

    diagnóstico de Dificuldades na Aprendizagem – qual a Dificuldade na Aprendizagem

    diagnosticada; e aos casos de Dificuldades na Aprendizagem na família do aluno – qual

    a dificuldade na aprendizagem diagnosticada e qual o grau de parentesco em relação ao

    aluno.

    A escolha de um formato digital para este questionário teve duas razões: a

    primeira, relacionada com a comodidade dos pais, pois assim, poderiam responder de

    forma autónoma e tranquila ao questionário; e a segunda por permitir uma análise de

    dados mais célere.

    2.3. Procedimento de recolha de dados

    De forma a concretizar este estudo, foi necessário submeter um Requerimento de

    Aprovação do Projeto de Investigação à Comissão Especializada de Deontologia da

    Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Depois de obtida a aprovação,

    iniciaram-se todos os procedimentos necessários para a sua realização.

    Inicialmente, foram contactadas apenas duas escolas dos distritos de Leiria e

    Coimbra, sendo enviado o link do questionário aos responsáveis de cada escola que, por

    sua vez, o encaminhariam para os pais. No entanto, devido à reduzida afluência ao

  • 16

    questionário, posteriormente o link foi enviado a outras escolas do país e partilhado

    através das redes sociais.

    O questionário online começava por apresentar o consentimento informado, onde

    no fim era dada a todos os participantes, a hipótese de concordar, continuando para o

    questionário, ou de discordar e interromper o preenchimento.

    2.4. Procedimento de análise de dados

    Apesar de terem sido recolhidas respostas de todos os participantes às três

    questões abertas, não foi possível nesta fase fazer a análise de conteúdo total das mesmas.

    Optou-se então por se realizar uma seleção de exemplos das respostas à questão 1, bem

    como uma classificação preliminar de perspetivas concetuais de dificuldades na

    aprendizagem com base no programa NVivo, versão 11 para Windows.

    Quanto à análise dos questionários, os testes estatísticos utilizados foram

    selecionados tendo em conta as características das variáveis deste estudo e analisados

    através do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 23 para

    Windows.

    Começou por se realizar a estatística descritiva das variáveis da Recolha de Dados

    Demográficos de forma a caraterizar a amostra. De seguida, realizou-se a estatística

    descritiva ao Questionário sobre Atitude Mental e ao Questionário de Crenças sobre

    Dificuldades na Aprendizagem, de forma a perceber como é que as respostas dos

    participantes se distribuem em cada item.

    Seguiu-se a realização da análise da estrutura fatorial do Questionário sobre

    Atitude Mental cujos itens foram construídos e adaptados neste estudo. Assim,

    considerou-se necessário realizar toda a análise psicométrica, tendo sido avaliada a

    estrutura relacional dos itens do questionário pela Análise Fatorial Exploratória (AFE).

    Esta técnica de análise exploratória de dados permite descobrir e analisar a estrutura de

    um conjunto de variáveis que se relacionam entre si, de forma a contruir uma escala de

    medida para fatores que controlam as variáveis originais (Maroco, 2011). A AFE é

    normalmente conduzida quando não existe uma teoria prévia ou evidências empíricas

    suficientes que expliquem como os itens do questionário devem ser agrupados e

    avaliados. Foram utilizados o critério da medida de adequação da amostra de Kaiser-

    Meyer-Olkin (teste KMO), bem como o teste de esfericidade de Bartlett (nível de

    significância inferior a .001). Seguiu-se a AFE, utilizando o método de extração de

    componentes principais (principal components), seguido da rotação dos fatores pelo

  • 17

    método Varimax, de modo a encontrar uma estrutura fatorial (Maroco, 2011). Analisou-

    se, ainda, a consistência interna da escala através do cálculo do alfa de Cronbach para

    avaliar a fiabilidade da dimensão em estudo.

    O mesmo procedimento foi realizado para o “Questionário de Crenças sobre

    Dificuldades na Aprendizagem”. Apesar de se ter seguido a estrutura fatorial proposta

    por Gomes (2014) após a realização de uma AFE no seu estudo, considerou-se necessário

    realizar esta análise por se tratar de uma população diferente.

    Por fim, para compreender o grau de relação entre os vários fatores em estudo,

    procedeu-se à análise das correlações entre as variáveis.

  • 18

    Capítulo III – Apresentação e Análise dos Resultados

    Nesta secção serão apresentados e analisados os resultados que decorrem da

    análise estatística efetuada, considerando os objetivos anteriormente referidos, a

    verificação dos pressupostos necessários e as características de cada variável.

    3.1. Exemplos de respostas à questão aberta 1

    Foram recolhidas 109 respostas às três questões abertas presentes no questionário

    em estudo. No entanto, tendo em conta a extensão das mesmas, optou-se por incluir neste

    primeiro estudo apenas um conjunto de alguns exemplos de resposta à questão 1 com uma

    sugestão de uma classificação preliminar de perspetivas concetuais de dificuldades na

    aprendizagem, realizada através do programa NVivo.

    3.1.1. Classificação Preliminar de Perspetivas Concetuais

    Tal como no estudo de Gonçalves (2002), nas respostas à questão 1 “O que é para

    si uma dificuldade na aprendizagem?” é possível encontrar uma grande diversidade de

    respostas que podem ser ilustrativas das quatros perspetivas encontradas pela autora.

    Alguns exemplos de resposta foram enquadrados mesmo que ainda de forma

    preliminar nas quatro perspetivas identificadas em estudos anteriores: Perspetiva

    Disfuncional, Perspetiva Processual, Perspetiva Interdependente e Perspetiva Funcional,

    recorrendo para tal à revisão de literatura de estudos anteriores. Pretende-se com estes

    exemplos realizar apenas uma caracterização da diversidade de respostas. Esta seleção de

    excertos exemplificativos poderá, num futuro, ser a base de uma análise mais aprofundada

    e sistemática.

    Na tabela 2 são apresentados alguns exemplos das respostas mais relevantes

    enquadradas em cada uma das perspetivas. O conjunto de todas as respostas encontra-se

    no quadro 11 (Anexo VII).

  • 19

    Tabela 2

    Conceções Pessoais sobre Dificuldades na Aprendizagem: exemplos de resposta

    Conceções de

    Dificuldades na

    Aprendizagem

    Exemplos de Resposta

    Perspetiva Disfuncional

    (centrada no aluno)

    “Um défice cognitivo que se manifesta no momento de

    absorver o conhecimento.”

    “Problemas do foro cognitivo.”

    “Quando a pessoa não consegue aprender por causas físicas,

    mentais ou emocionais particulares.”

    Perspetiva Processual

    (centrada no processo de

    aprendizagem)

    “Dificuldade do aluno em entender os conteúdos que lhe foram

    explicados.”

    “Acontece quando explicam várias vezes e o aluno não

    aprende.”

    “Dificuldade em aprender e aplicar os conteúdos lecionados.”

    “Falta de interesse, motivação, concentração ou até

    instabilidade emocional.”

    Perspetiva

    Interdependente (centrada

    na interação entre o

    processo de aprendizagem

    do aluno e o contexto de

    aprendizagem)

    “O mesmo conjunto de conhecimentos básicos requer mais

    tempo, mais recursos e maior exigência do que o esperado.”

    “Dificuldade em adquirir uma capacidade que era expetável

    adquirir em determinada fase do desenvolvimento.”

    “Dificuldade em aprender tão rápido ou através de métodos

    comuns.”

    “Não acompanhar a aprendizagem ao ritmo normal.”

    Quando se esgotam todas as estratégias e o aluno não aprende

    com a velocidade e no tempo considerados como a média.”

    Perspetiva Funcional

    (centrada no resultado a

    que a dificuldade pode dar

    origem, no contexto do

    processo de aprendizagem

    ou no contexto da própria

    vida)

    “Um obstáculo a ser ultrapassado.”

    “Algo que faz parte do processo de aprendizagem.”

    “Um obstáculo pelo qual a maioria das pessoas passa e

    consegue ultrapassar.”

    3.2. Análise do Questionário sobre Atitude Mental

    O processo inicia-se com a estatística descritiva (Anexo VIII). Verificou-se que a

    maioria dos itens apresenta valores que ronda os 4 pontos (DP=.39) numa escala de 6

    pontos. Salienta-se ainda que os itens 1 “Temos um determinado nível de inteligência e

    pouco se pode fazer para mudar isso.” e 6 “Podemos sempre aprender coisas novas, mas

    não podemos aumentar o nosso talento.” são aqueles que apresentam os valores médios

    mais baixos na escala de 1 a 6 considerada. Por outro lado, os itens 4 “Todos podemos

    melhorar as nossas capacidades de forma significativa.” e 8 “Mesmo a pessoa com muito

    talento, pode sempre tornar-se mais talentosa.” são aqueles que revelam valores médios

  • 20

    mais altos na escala de 1 a 6 considerada. Tendo em conta que os valores mais baixos se

    verificam nos itens correspondentes a uma atitude mental estável e que os valores mais

    altos se verificam nos itens que correspondem a uma atitude mental dinâmica, podemos

    concluir que os participantes desta amostra apresentam, maioritariamente, uma atitude

    mental dinâmica.

    De seguida, para decidir se a AFE tem utilidade na estimação de fatores comuns,

    foram utilizados o critério da medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin

    (teste KMO) e o teste de esfericidade de Bartlett (Maroco, 2011). É recomendado que o

    valor do teste de KMO seja superior a .6 e que o valor do teste de Barlett seja significativo.

    Como KMO = 0.853 e p

  • 21

    Tabela 3

    Estrutura Fatorial do Questionário sobre Atitude Mental

    1 2

    Fator 1 – Atitude Mental Dinâmica

    4. Todos podemos melhorar as nossas capacidades de forma significativa. ,846

    3. É sempre possível aumentar significativamente o nosso nível de inteligência. ,765

    8. Mesmo a pessoa com muito talento, pode sempre tornar-se ainda mais talentosa. ,730

    7. Podemos aumentar consideravelmente a inteligência com que nascemos. ,728

    Fator 2 – Atitude Mental Estática

    2. O talento numa determinada área é algo que pouco se pode mudar. ,818

    1. Temos um determinado nível de inteligência e pouco se pode fazer para mudar

    isso. ,814

    6. Podemos sempre aprender coisas novas, mas não podemos aumentar o nosso

    talento. ,708

    5. Podemos sempre aprender coisas novas, mas nunca se pode realmente alterar a

    inteligência com que nascemos. ,672

    De forma a analisar a fiabilidade do construto medido, procedeu-se à análise da

    consistência interna através do alfa de Cronbach. Para um total de 8 itens, obteve-se um

    valor considerado como moderado para a escala (α=0.712).

    Analisando de forma mais detalhada o conteúdo e significado dos itens que

    compõe estes dois fatores, sugerem-se as seguintes designações:

    Fator 1: Atitude Mental Dinâmica (com 4 itens, α = .824)

    Fator 2: Atitude Mental Estática (com 4 itens, α = .834)

    O fator 1, com a designação “Atitude Mental Dinâmica”, inclui 4 itens (α = .824),

    que em conjunto, pretendem referir as caraterísticas como um conjunto de traços passíveis

    de desenvolvimento.

    O fator 2, com a designação “Atitude Mental Estática”, inclui 4 itens (α = .834)

    que parecem refletir sobre as caraterísticas como um conjunto de competências que o

    individuo dificilmente consegue alterar.

    3.3. Estudo das propriedades psicométricas do Questionário de Crenças sobre

    Dificuldades na Aprendizagem

    Mais uma vez, iniciou-se o processo com a estatística descritiva (Anexo X).

    Verificou-se que a maioria dos itens apresenta valores que ronda os 4 pontos (DP=.42)

  • 22

    numa escala de 6 pontos. Salienta-se ainda que os itens 4 “Alunos com dificuldades

    precisam de ser devidamente medicados.” e 30 “Quem nasce com dificuldades de

    aprendizagem, tarde ou nunca as ultrapassa.” são aqueles que apresentam os valores

    médios mais baixos na escala de 1 a 6 considerada. Por outro lado, os itens 2 “A

    aprendizagem é feita de problemas que é preciso ultrapassar.”, 9 “Aprender a vencer

    dificuldades é a chave para o sucesso” e 36 “Os alunos com dificuldades desafiam-nos a

    construir uma escola melhor.” são aqueles que revelam valores médios mais altos, na

    escala de 1 a 6 considerada. Analisando o conteúdo dos itens com valores médios mais

    baixos, podemos concluir que dizem respeito às dificuldades na aprendizagem como algo

    nocivo. Já o conteúdo dos itens com valores médios mais elevados, corresponde a uma

    conceção de dificuldades na aprendizagem funcional, ou seja, à ideia de que uma

    dificuldade na aprendizagem pode ser benéfica e ultrapassada.

    Durante a análise psicométrica desta escala, desenvolveram-se quatro análises

    fatoriais exploratórias sobre as respostas aos itens da medida em estudo. Para tal, foram

    utilizados o critério da medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (teste

    KMO) e o teste de esfericidade de Bartlett (Maroco, 2011). A última análise fatorial

    permitiu constatar que o valor do KMO é considerado moderado (KMO=.751). Quanto

    ao teste da esfericidade de Bartlett, este apresenta um valor 1293,686; p

  • 23

    dois componentes e por apresentarem pesos fatoriais muito próximos entre si. Desta

    forma, resulta um questionário constituído por 28 itens divididos em quatro fatores

    (Tabela 4).

    Tabela 4

    Estrutura Fatorial do Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem

    1 2 3 4

    19. As dificuldades servem para nos fazer crescer. ,822

    15. As dificuldades são oportunidades de crescimento pessoal. ,818

    23. Aprender a lidar com dificuldades torna o aluno mais forte. ,722

    18. As dificuldades fazem parte do processo de aprendizagem. ,698

    9. Aprender a vencer dificuldades é a chave para o sucesso. ,668

    8.As dificuldades são desafios para fazer as coisas de maneira

    diferente. ,667

    5. As coisas que nos dão luta também são as que nos dão mais

    prazer. ,610

    36. Os alunos com dificuldades desafiam-nos a construir uma escola

    melhor. ,584

    29. As dificuldades estão na origem de muitas descobertas pessoais

    e científicas. ,560

    32. Não há aprendizagem sem dificuldades. ,534

    2. A aprendizagem é feita de problemas que é preciso ultrapassar. -,508

    13.Os alunos com dificuldades devem ter problemas inatos de

    aprendizagem. ,776

    14. As dificuldades de aprendizagem resultam de atrasos no

    desenvolvimento. ,751

    31. As dificuldades de aprendizagem são perturbações de origem

    biológica. ,746

    22. Dificuldade de aprendizagem é um problema mental que impede

    o aluno de ter sucesso. ,746

    11. As dificuldades já nascem connosco. ,641

    4. Alunos com dificuldades precisam de ser devidamente medicados ,574

    26. Quando um aluno está bem medicado, as dificuldades diminuem

    muito. ,568

    6. As dificuldades de aprendizagem são incapacidades específicas. ,511

    35. As dificuldades de aprendizagem surgem por falta de métodos de

    estudo. ,774

    25. As dificuldades de aprendizagem ocorrem por falta de

    conhecimentos básicos. ,725

    33. Os alunos com dificuldades prejudicam os resultados dos colegas

    de turma. ,721

    28. Se houvesse mais disciplina, havia muito menos dificuldades. ,679

    21. Quem estuda tem bons resultados. ,560

    17. Quando há motivação para aprender, não há dificuldades. ,440

    27. Há dificuldades quando alguma coisa interfere com o processo de

    aprendizagem. ,700

    16. Dificuldade de aprendizagem é quando algo impede o aluno de

    aprender. ,663

    1. As dificuldades na aprendizagem impedem-nos de ter sucesso. ,563

  • 24

    De forma a analisar a fiabilidade do construto medido, procedeu-se à análise da

    consistência interna através do alfa de Cronbach. Para um total de 28 itens, obteve-se um

    valor considerado como moderado para o questionário (α=0.781).

    Apesar das alterações anteriormente mencionadas (eliminação dos 8 itens),

    considera-se que o plano fatorial obtido é plausível e evidencia um significado

    psicológico.

    Analisando de forma mais detalhada o conteúdo e significado dos itens que

    compõe os quatro fatores, revela uma estrutura fatorial semelhante à observada no estudo

    de Gomes (2014), optando-se por seguir as designações propostas pela mesma autora.

    Fator 1: Dificuldades Funcionais (com 11 itens, α = .869)

    Fator 2: Dificuldades Disfuncionais (com 8 itens, α = .840)

    Fator 3: Dificuldades Interdependentes (com 6 itens, α = .776)

    Fator 4: Dificuldades Processuais (com 3 itens, α = .485)

    O fator 1, com a designação “Dificuldades Funcionais” inclui 11 itens (α = .869)

    que em conjunto, pretendem explicar as dificuldades de aprendizagem como uma

    caraterística natural do processo de aprendizagem. Foram eliminados deste fator os itens

    7 - por apresentar cargas fatoriais reduzidas - e 12 – por saturar em dois componentes e

    por apresentar cargas fatoriais muito próximas entre si.

    O fator 2, com a designação “Dificuldades Disfuncionais” engloba 8 itens (α =

    .840) que parecem refletir sobre as dificuldades de aprendizagem como uma limitação de

    caráter permanente. Deste fator foi eliminado o item 30 - por saturar em dois componentes

    e por apresentar cargas fatoriais muito próximas entre si.

    O fator 3, com a designação “Dificuldades Interdependentes” inclui 6 itens (α =

    .776) que pretendem explicar as dificuldades de aprendizagem como algo que depende

    da interação do aluno com a situação de aprendizagem. Deste fator foram eliminados os

    itens 3 e 34 - por apresentarem cargas fatoriais reduzidas – e o item 24 - por saturar em

    dois componentes e por apresentar cargas fatoriais muito próximas entre si.

    O fator 4, com a designação “Dificuldades Processuais” engloba 3 itens (α = .485)

    que pretendem refletir sobre as dificuldades de aprendizagem como algo que impede o

    aluno de alcançar os resultados. Foram eliminados deste fator os itens 10 e 20 - por

    apresentarem cargas fatoriais reduzidas.

  • 25

    3.4. Análise da correlação entre os fatores identificados em ambos os questionários

    Realizou-se ainda uma análise da correlação entre os dois fatores encontradas após

    a análise fatorial realizada ao Questionário sobre Atitude Mental – atitude mental

    dinâmica e atitude mental estática - e os quatro fatores encontradas no Questionário de

    Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem – dificuldades funcionais, dificuldades

    processuais, dificuldades interdependentes e dificuldades disfuncionais (Tabela 5).

    Tabela 5

    Correlação entre os fatores identificados em ambos os questionários

    Fatores Atitude Mental Dinâmica Atitude Mental Estática

    Dificuldades Funcionais ,463** -,212*

    Dificuldades Disfuncionais -,303** ,399**

    Dificuldades Interdependente -,069 ,245*

    Dificuldades Processuais -,090 ,087 **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).

    *. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

    O valor da correlação obtido entre a Atitude Mental Dinâmica e a Conceção de

    Dificuldades Funcionais é moderado e significativo (r =0.463; p

  • 26

    O valor da correlação obtido entre Atitude Mental Estática e a Conceção de

    Dificuldades Interdependentes é baixo, mas significativo (r = 0.245; p =0.01). Assim, a

    valores mais elevados de Atitude Mental estão associados valores mais elevados

    Conceção de Dificuldades Interdependentes.

  • 27

    Capítulo IV – Conclusão

    4.1. Discussão dos Resultados

    Aprimorar os conhecimentos sobre as crenças dos pais tem implicações

    educacionais importantes, na medida em que estas se revelam como um dos determinantes

    na atitude dos filhos. Desta forma, era objetivo primordial desta investigação contribuir

    para o conhecimento da atitude mental dos pais bem como das suas conceções sobre

    dificuldades na aprendizagem na população portuguesa.

    Através da análise preliminar feita às respostas à questão aberta “O que é para si

    uma dificuldade de aprendizagem?”, foi possível identificar os quatro tipos de conceções

    propostas por Gonçalves (2002) – dificuldades funcionais, dificuldades disfuncionais,

    dificuldades interdependentes e dificuldades processuais.

    Quando realizada a análise descritiva das respostas ao Questionário sobre Crenças

    de Dificuldades na Aprendizagem, percebeu-se que os itens com respostas mais elevadas

    (mais próximas de 6 numa escala de 1 a 6) correspondiam aos itens que definem

    “Dificuldade na Aprendizagem” como uma dificuldade funcional.

    Já na análise descritiva realizada às respostas ao Questionário sobre Atitude

    Mental, foi possível verificar que os itens com respostas mais elevadas (mais próximas

    de 6 numa escala de 1 a 6) dizem respeito aos itens que defendem que as caraterísticas

    podem ser desenvolvidas com tempo e persistência.

    O presente estudo teve como um dos objetivos, criar e analisar o Questionário

    sobre Atitude Mental de forma a perceber o modo como os pais percecionam as

    caraterísticas. Esta necessidade surge devido à escassez de instrumentos existentes

    adaptados apenas a esta população. As análises realizadas para a validação da escala

    construída permitem concluir que a mesma apresenta propriedades psicométricas

    adequadas. A estrutura dos dois fatores, correspondentes aos dois tipos de atitude mental

    –atitude mental estática e atitude mental dinâmica – foi confirmada pelos resultados da

    análise fatorial exploratória. Nesta análise, os 8 itens da escala total apresentam cargas

    fatoriais em relação aos fatores para os quais foram elaborados. Os índices de consistência

    interna (alfa de Cronbach) estão de acordo com os critérios de aceitabilidade. Os

    resultados encontrados nesta análise acompanham os de Fontaine e Faria (1989) que

    haviam construído uma escala com os mesmos dois fatores e, ainda, os de Dweck (2006)

    que defende a existência de dois tipos de Atitude Mental. Identificam-se, após a análise a

  • 28

    este questionário, a presença de dois tipos de atitude mental, respondendo assim, a um

    dos objetivos do estudo.

    Outro dos objetivos deste estudo passava pela adaptação da versão online do

    Questionário de Crenças sobre Dificuldades na Aprendizagem de Gomes (2014),

    originalmente criado por Gonçalves (2002) e revisto por Gonçalves & Agostinho (2013

    citado por Gomes, 2014), a uma amostra de pais. Após a realização da análise fatorial

    exploratória, foi possível identificar os quatro fatores encontrados por Gomes (2014), que

    correspondem aos 4 tipos de conceções de dificuldades na aprendizagem. Foram

    eliminados 5 itens por apresentarem cargas fatoriais muito reduzidas (

  • 29

    conceções dos pais, possibilitou a ampliação dos conhecimentos prévio sobre esta

    temática para uma população essencial no estudo da mesma. No entanto, por ser um tema

    tão relevante e tão abonado de pareceres científicos e de senso comum, há ainda muito

    por estudar ao nível das conceções.

    Acima de tudo, importa referir que, mais importante do que perceber se um aluno

    tem ou não dificuldades na aprendizagem, é analisar o contexto situacional, social e

    pessoal (Gonçalves, 2002). Assim, o foco deve estar no conhecimento das conceções

    pessoais sobre este tema, incentivando crenças mais adaptativas. É, desta forma, muito

    importante que as dificuldades sejam vistas como uma caraterística em desenvolvimento.

    E são estas dificuldades que podem ser divididas, fundamentalmente, em dois tipos:

    dificuldades disfuncionais, que prejudicam o processo de aprendizagem; e dificuldades

    funcionais que são um desafio à aprendizagem. É extremamente importante que se

    fomentem nos alunos conceções dinâmicas para que, ao invés de se sentirem impotentes

    perante as adversidades, se sintam confiantes. É neste sentido que os pais têm um papel

    crucial. Apesar das conceções dos filhos serem influenciadas por vários fatores, as

    crenças dos pais influenciam em larga medida as dos filhos e, consequentemente, a sua

    postura perante uma dificuldade.

    4.2. Limitações do estudo

    Ao longo do percurso foram encontradas algumas limitações que poderão ser

    contornadas em estudos futuros.

    Uma primeira limitação encontrada está relacionada com o facto de a amostra ser

    reduzida, pois apesar do tempo despendido a partilhar o questionário, foi de facto difícil

    obter respostas de um maior número de pais. Neste sentido, torna-se menos viável

    generalizar os resultados encontrados à população portuguesa. Esta amostra, peca

    também por não ser equilibrada em termos de género dos participantes, visto que apenas

    20 dos 109 participantes pertencem ao sexo masculino, o que inviabiliza a comparação

    dos resultados em função do sexo. O mesmo acontece, por exemplo, em relação ao

    número reduzido de participantes que afirma ter sido diagnosticada uma dificuldade na

    aprendizagem ao filho. Apenas 11 dos 109 participantes responderam de forma afirmativa

    a esta pergunta, o que, mais uma vez, inviabiliza a comparação das conceções em função

    da realização do diagnóstico.

    Outra das limitações encontradas prende-se com a dificuldade em analisar

    aprofundadamente a vertente qualitativa do estudo, principalmente devido à extensão do

  • 30

    número de respostas. Assim, a opção tomada prendeu-se com a realização de uma análise

    preliminar das respostas à questão 1.

    Embora o Questionário sobre Atitude Mental utilizado neste estudo apresente boa

    consistência interna, este foi o primeiro estudo realizado com este conjunto de itens,

    necessitando assim de mais estudos para confirmar a sua validade.

    Sabe-se, ainda, que apesar de todas as vantagens, a metodologia de questionário

    apresenta algumas limitações já conhecidas como a desejabilidade social.

    4.3. Estudos Futuros

    Tendo em conta que estamos perante um estudo exploratório, os resultados

    obtidos são ainda prematuros, não sendo generalizáveis. Assim, considera-se

    extremamente importante a continuação do mesmo.

    Em estudos futuros nesta área, seria interessante alargar e diversificar a amostra,

    de forma a ser obtida uma perspetiva mais generalizável à população.

    Outra possibilidade passa pela análise mais aprofundada de cada uma das questões

    de resposta aberta, tendo em conta que permitem chegar a aspetos desconhecidos,

    recolhendo uma grande variabilidade de respostas.

    Sendo este um estudo preliminar de construção dos itens do Questionário sobre

    Atitude Mental, faz todo o sentido que se invista em estudos no sentido de melhorar o

    instrumento, de modo a torná-lo mais eficaz na recolha de informações sobre a atitude

    mental dos participantes.

    Seria também interessante perceber se existe alguma relação entre a conceção dos

    pais e as caraterísticas dos filhos. Ou seja, se o facto de o aluno ter determinadas

    caraterísticas influencia a atitude mental dos pais e a forma como os mesmos percecionam

    as dificuldades na aprendizagem.

    Por fim, configura-se pertinente perceber se existem diferenças significativas de

    conceções em função das variáveis demográficas – sexo, idade, habilitações literárias –

    e, principalmente, em função do diagnóstico de dificuldades na aprendizagem realizado

    ou não ao filho, sendo necessário, para tal, ter uma amostra com um maior número de

    participantes.

    4.4. Implicações para a prática

    É necessário modificar as conceções, encarando as dificuldades na aprendizagem

    num contexto de desenvolvimento pessoal. Ao transmitir aos alunos uma atitude mental

  • 31

    estática, estamos a focar-nos nas limitações da criança, fazendo-a crer que “Eu não

    consigo” porque “Eu sou assim”, provocando no mesmo sentimentos de impotência e de

    descrença. Ao invés, se lhe mostrarmos que “Eu ainda não consigo” – atitude mental

    dinâmica -, estamos a focar-nos no potencial da criança e na forma como “Eu posso ser”.

    Estes sentimentos positivos também surgem quando os alunos são conduzidos a encarar

    as dificuldades na aprendizagem como um acontecimento normal do processo de

    aprendizagem e, até, como um momento de crescimento pessoal – conceção funcional de

    dificuldade na aprendizagem.

    É fundamental que a escola se preocupe com todo o processo de aprendizagem de

    um aluno e não apenas com os resultados porque, cada vez mais, a sociedade espera

    indivíduos que tenham a capacidade de reagir a novos problemas de forma adaptada e

    flexível.

    A intervenção passa pelo auxilio na construção de conceções mais dinâmicas,

    apresentando aos pais outras possibilidades de interpretar as situações de dificuldade na

    aprendizagem. Esta aprendizagem por parte dos pais pode gerar práticas mais inclusivas

    e, consequentemente, favorecer a construção destas crenças nos alunos.

    4.5. Conclusões gerais

    Finalmente, este estudo pretende contribuir para aprofundar as conceções dos pais

    acerca das dificuldades na aprendizagem e a sua atitude mental. Isto porque, como é

    possível perceber pela literatura, a grande maioria dos estudos realizados nesta área foca-

    se nos próprios alunos, nos professores e, ainda, nos psicólogos e outros profissionais.

    Os pais deverão desafiar as suas crenças, analisando a forma como estas afetam a

    sua ação diariamente (Faria, 2008) e, consequentemente, a ação dos filhos. Portanto, é

    extremamente importante promover nos alunos atitudes mentais mais dinâmicas, que

    permitam conceber o desenvolvimento do esforço paralelamente ao desenvolvimento da

    capacidade e, ainda, conciliar o investimento nos resultados da realização com o

    desenvolvimento da capacidade intelectual através da aprendizagem e do esforço (Faria,

    1998).

    Para conseguir ajudar os pais a mudar as suas conceções, é necessário, num

    primeiro momento percebê-las. E é, neste ponto, que este e outros estudos se tornam

    extremamente relevantes. Estudar as conceções dos pais constituí o primeiro passo para

    as perceber melhor e, posteriormente, saber como atuar na sua mudança.

  • 32

    Para além de contribuir de forma global para o conhecimento das conceções

    parentais sobre dificuldades na aprendizagem e de atitude mental, esta investigação

    contou ainda com o estudo psicométrico de dois instrumentos que pretendem “medir”

    estas mesmas conceções.

    Importa, por fim, reforçar a necessidade de continuar a investir em estudos nesta

    área, de forma a construir escolas melhores e alunos mais realizados.

  • 33

    Referências Bibliográficas

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