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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL DANIEL DE CERQUEIRA LIMA E PENALVA SANTOS ECOEMPREENDEDORISMO: Uma análise das ações ecoempreendedoras em restaurantes vegetarianos da cidade do Recife Recife 2014

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

SUSTENTÁVEL

DANIEL DE CERQUEIRA LIMA E PENALVA SANTOS

ECOEMPREENDEDORISMO:

Uma análise das ações ecoempreendedoras em restaurantes vegetarianos da

cidade do Recife

Recife

2014

2

DANIEL DE CERQUEIRA LIMA E PENALVA SANTOS

ECOEMPREENDEDORISMO:

Uma análise das ações ecoempreendedoras em restaurantes vegetarianos da

cidade do Recife

Orientador:

Orientador:

Profº. Dr. Emanuel Ferreira Leite

Co-orientadora:

Profª Dra. Maria Cristina Alves de Almeida

Recife

2014

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco da Universidade de Pernambuco, para obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, sendo objeto de defesa oral, perante banca examinadora, em sessão pública.

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por

qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo ou pesquisa,

desde que citada a fonte.

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DANIEL DE CERQUEIRA LIMA E PENALVA SANTOS

ECOEMPREENDEDORISMO:

Uma análise das ações ecoempreendedoras em restaurantes vegetarianos da

cidade do Recife

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco da Universidade de Pernambuco, para obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, sendo objeto de defesa oral, perante banca examinadora, em sessão pública.

Recife, 17 de março de 2014

_________________________________

BANCA EXAMINADORA ___________________________________ Professor Doutor Thales Cavalcanti Castro Universidade Católica de Pernambuco __________________________________ Professor Doutor Luiz Márcio Assunção Universidade de Pernambuco ___________________________________ Professor Doutor Ericê Bezerra Correia Universidade de Pernambuco

5

Dedico este estudo ao meu pai, grande incentivador do meu

espírito empreendedor

6

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus e a todos os seres de luz que trabalham no

propósito da evolução espiritual, promovendo o amor em suas diversas formas, nos

ensinando a reconhecer a essência divina que há em nós.

Agradeço a minha família pelo apoio e incentivo que sempre recebi para me

aprofundar nos estudos, em especial meu irmão e minha mãe, peças fundamentais

para que este estudo fosse levado a cabo. À minha esposa e meus filhos pela

paciência, compreensão e dedicação - força que motiva meu trabalho.

Meus sinceros agradecimentos aos professores e amigos que me ajudaram a

construir estes conhecimentos, juntamente com os autores que me antecederam,

pois construíram uma estrada na qual estou caminhando. Agradeço também aos

professores que contribuíram com suas correções, Lucas Leite, José Roberto de

Menezes, Fernanda Alencar de Menezes, e, especialmente, meu orientador

Emanuel Leite, por sua dedicação, respeito e consideração. Importantes

contribuições também foram sugeridas pela banca examinadora e incorporadas a

este trabalho. Que estes conhecimentos sejam transformados em sabedoria ao

serem postos em prática, sendo O Bem a baliza das ações praticadas pelos

empreendedores.

Por fim, agradeço as pessoas e instituições que apoiaram esta empreitada, a

Universidade de Pernambuco através do Mestrado em Gestão do Desenvolvimento

Local Sustentável, ao Grupo Recife da Sociedade Vegetariana Brasileira - militantes

de causas justas e nobres e, sobretudo, aos ecoempreendedores que se

disponibilizaram em contribuir com a pesquisa de campo, sujeitos que lutam contra

as adversidades de se empreender em nossa realidade para oferecer produtos e

serviços para um mundo melhor.

Ofereço em agradecimento meu tempo e energia, aliados à experiência,

esforço e boa vontade, esta modesta obra, que mesmo em minha capacidade ainda

limitada, permitiu trazer algumas contribuições aos temas abordados.

7

“O empreendedorismo é visto também

como um campo intensamente

relacionado com o processo de

entendimento e construção da liberdade

humana” (DOLABELA, 1999, p.46).

8

RESUMO

PENALVA SANTOS, Daniel de Cerqueira Lima e. Ecoempreendedorismo: Uma análise das ações ecoempreendedoras em restaurantes vegetarianos da cidade do Recife. 69 f. Dissertação (Mestrado) - Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco da Universidade de Pernambuco, Recife, 2014.

Este estudo teve enquanto objetivo central a análise das ações ecoempreendedoras nos restaurantes vegetarianos da cidade do Recife. Entretanto, como se tratam de temas novos e por não haver um consenso entre os autores, também foi necessário definir conceitos próprios e estabelecer relações teóricas entre temas como empreendedorismo, ecologia, perfil do empreendedor, dentre outros. De acordo com os resultados da pesquisa exploratória, onde houve o levantamento bibliográfico e documental, além de uma entrevista semi-estruturada, foram identificados ao todo 8 (oito) restaurantes sob o conceito adotado por “vegetariano” dentro dos limites da cidade do Recife. Nesse sentido, foi aplicado um questionário censitário para medir e qualificar as ações empreendedoras em 1 (um) empreendedor de cada restaurante vegetariano da cidade do Recife. A partir da análise dos dados, concluiu-se que as ações praticadas nos restaurantes vegetarianos do Recife são extremamente empreendedoras, tendo em vista que todos que responderam o questionário atingiram pontuação elevada no teste. Também ficaram evidentes as características mais presentes nos ecoempreendedores, como iniciativa, revés positivo, tendência para assumir riscos calculados, visão, possibilidade de assumir responsabilidades, dedicação, determinação, capacidade de resolver problemas e a necessidade de realização. Desta forma, conclusões advindas da pesquisa de campo corroboram com as pesquisas teóricas, pois as características dos empreendedores são as mesmas e os dados comprovam os conceitos relacionados com o empreendedorismo, especificamente a partir das ações empreendedoras.

PALAVRAS-CHAVE: EMPREENDEDORISMO. ECOEMPREENDEDORISMO. AÇÕES EMPREENDEDORAS.

9

ABSTRACT

This study had as its central objective the analysis of ecoentrepreneur actions vegetarian restaurants in the city of Recife. However, how to deal with new issues and not the same among authors, it was also necessary to define their own concepts and establish theoretical relationships between topics such as entrepreneurship, ecology, entrepreneurial profile, among others. According to the results of exploratory research, where there was the bibliographic and documentary survey, plus a semi - structured interview, were identified in all eight restaurants under the concept adopted by "vegetarian " within the limits of the city of Recife . In this sense, a census questionnaire to measure and qualify entrepreneurial activities within one each entrepreneur vegetarian restaurant in Recife was applied . From the data analysis, it was concluded that the actions taken in Recife vegetarian restaurants are extremely entrepreneurial, given that all respondents reached high test score. Were also evident features present in more ecoentrepreneur as initiative , positive setback tendency to take calculated risks , vision , ability to take responsibility , dedication, determination , ability to solve problems and need for achievement. Thus, conclusions obtained from field research corroborate the theoretical research, because the characteristics of entrepreneurs are the same and the data show concepts related to entrepreneurship , specifically from entrepreneurial activities .

KEY-WORDS: ENTREPRENEURSHIP. ECOENTREPRENEURSHIP. ENTREPRENEUR ACTION.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relação das ações e competências empreendedoras

Quadro 2 - Fatores que mais influenciam os empreendedores na visão dos autores clássicos

Quadro 3 - Diferenças entre o perfil do empreendedor, gerente e técnico

Quadro 4 - Principais tipologias do empreendedorismo em organizações

Quadro 5 - Principais diferenças entre o crescimento econômico e o

desenvolvimento econômico sob a visão de Schumpeter

Quadro 6 - Tipos de vegetarianismo

Quadro 7 - Motivos que levam ao vegetarianismo

Quadro 8 - Conceitos que envolvem o tema do empreendedorismo

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Classificação das organizações

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Total de pontos por empreendedor

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................13

2 METODOLOGIA.....................................................................................................17

3 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE EMPREENDEDORISMO...................................20

3.1 SURGIMENTO DO TERMO “EMPREENDEDOR” PARA IDENTIFICAR

AQUELES QUE SE ARRISCAM................................................................................20

3.2 A DEFINIÇÃO DE EMPREENDEDORISMO A PARTIR DA

INOVAÇÃO.................................................................................................................21

3.3 O ESPÍRITO EMPREENDEDOR E O ROMPIMENTO DO PARADIGMA DE QUE

EMPREENDER É SINÔNIMO DE ABRIR UMA EMPRESA.................................22

3.4 A AÇÃO EMPREENDEDORA..............................................................................23

3.5 O PERFIL DO EMPREENDEDOR.......................................................................25

3.6 O MITO DO EMPREENDEDOR...........................................................................30

3.7 CRÍTICAS À AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE

EMPREENDEDORISMO............................................................................................31

4 AS DIFERENTES FORMAS DE SE EMPREENDER.............................................33

4.1 DEFININDO CONCEITOS A SEREM ADOTADOS EM SE TRATANDO DAS

ORGANIZAÇÕES.......................................................................................................33

4.2 TIPOS DE EMPREENDEDORISMO....................................................................35

5 ECOEMPREENDEDORISMO.................................................................................39

5.1 ECOEMPREENDEDORISMO E O ECOEMPREENDEDOR...............................39

5.2 ECOEMPREENDIMENTOS.................................................................................41

6 DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E O EMPREENDEDORISMO.............43

6.1 A IMPORTÂNCIA DO EMPREENDEDORISMO PARA O DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO.............................................................................................................43

6.2 UMA VISÃO CRÍTICA AO MODELO DE DESENVOLVIMENTO

PREDOMINANTE......................................................................................................45

12

6.3 ECODESENVOLVIMENTO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A

CULTURA DE SUSTENTABILIDADE........................................................................45

6.4 O ECOEMPREENDEDORISMO COMO ALTERNATIVA PARA CONSTRUÇÃO

DE UMA CULTURA DE SUSTENTABILIDADE: A CONTRIBUIÇÃO DO

ECOEMPREENDEDORISMO....................................................................................47

7 RESTAURANTES VEGETARIANOS NA CIDADE DO RECIFE............................50

8 AS AÇÕES EMPREENDEDORAS NOS RESTAURANTES VEGETARIANOS DA

CIDADE DO RECIFE ................................................................................................53

8.1 ANÁLISES ESPECÍFICAS POR CADA QUESTÃO.............................................53

8.2 ANÁLISE GERAL DAS AÇÕES EMPREENDEDORAS ......................................60

9 CONCLUSÕES..................................................................................................... ..63

9.1 CONCLUSÕES DOS CONCEITOS BÁSICOS SOBRE O

EMPREENDEDORISMO............................................................................................63

9.2 CONCLUSÕES SOBRE AS DIFERENTES FORMAS DE SE

EMPREENDER..........................................................................................................64

9.3 CONCLUSÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE EMPREENDEDORISMO E

SUSTENTABILIDADE................................................................................................64

9.4 CONCLUSÕES SOBRE RESTAURANTES VEGETARIANOS............................63

9.5 CONCLUSÕES SOBRE A AÇÃO EMPREENDEDORA NOS RESTAURANTES

VEGETARIANOS DO RECIFE...................................................................................64

REFERÊNCIAS..........................................................................................................67

APÊNDICE - TESTE DA AÇÃO EMPREENDEDORA..............................................69

13

1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios que o homem se relaciona com o meio a que pertence,

interferindo mais ou menos, negativa ou positivamente na ordem natural do

ecossistema. O domínio do fogo, a manipulação de instrumentos e a agricultura,

permitiram ao homem deixar a condição de nômade e se fixar em vilas,

posteriormente transformadas em cidades e organizações mais complexas.

Atualmente, ou seja, milhares de anos passados dos períodos primordiais do

surgimento de nossa espécie assim como a entendemos, muitas foram as

intervenções humanas na natureza primitiva, e consequentemente também são

diversas as motivações que levaram os homens a se relacionar de uma forma ou de

outra com o ambiente. São visões que predominaram em determinados povos e em

determinados períodos da história da humanidade.

Principalmente a partir da revolução industrial, temos vivido um período de

profundas mudanças sociais, econômicas, culturais e ambientais. Por um lado o

progresso trazido pelos avanços tecnológicos e o aprofundamento da ciência

moderna trouxe bem estar, saúde e qualidade de vida. Por outro, a relação extração-

produção-distribuição-consumo-excedente se mostrou, com o passar do tempo,

ambientalmente insustentável e socialmente desigual, pelo menos da forma como foi

desenvolvida. A extração de matéria-prima de forma excessiva, impulsionada pelo

consumismo frenético, vem exaurindo nossas fontes de recursos naturais,

extinguindo espécies animais e vegetais e na maior parte das vezes explorando a

mão-de-obra trabalhadora.

No processo produtivo cada vez mais químicos são utilizados, poluindo rios e

minando a saúde dos funcionários, dos clientes e da população local. Os grandes

centros de distribuição costumam viver na busca de monopolizar o mercado e

impulsionar o consumo a qualquer custo, aparelhados por toda uma estrutura

midiática e “marketeira”. Os clientes se diferem pelos que podem comprar mais e

pelos que estão alijados deste processo.

No fim, um enorme excedente desse processo produtivo se acumula

diariamente pelo mundo todo na forma de lixo, de tal maneira que o planeta não está

podendo suportar mais. Com os avanços tecnológicos, principalmente no maquinário

e na gestão eficiente, precisa-se cada vez menos trabalhadores para produzir os

14

mesmos produtos, causando desemprego e marginalização. A pressão para o

aumento do consumo com o objetivo de gerar mais produção e para gerar mais

empregos vem fazendo com que os produtos já sejam planejados para uma rápida

obsolescência, de forma que os consumidores precisam em um curto espaço de

tempo, comprar novamente, sobrecarregando a extração e produzindo uma enorme

quantidade de resíduos.

Esses problemas estão ligados ao próprio conceito de cidadania e

solidariedade, e nada mais são do que um reflexo de uma cultura do individualismo,

o que materialmente significa exploração, competição, ganância e egoísmo.

A partir da consciência de que o atual modelo predominante de

desenvolvimento é insustentável para manter uma qualidade de vida mínima para

esta e as próximas gerações, novas formas de intervenções vem surgindo nos

últimos anos, principalmente através de organizações que buscam equilibrar o

desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e a equidade social. Em

contraposição às grandes corporações e às monopolizações nos mercados, vemos

recentemente uma explosão de novos empreendimentos de pessoas que enxergam

a crise contemporânea como uma oportunidade de inovar e ousar empreender,

refazendo a dinâmica dos locais em que vivem. Obviamente este é um processo

gradual e envolve toda uma mudança cultural, pois novos valores emergem da

sociedade e penetram nas mais diversas formas de organizações sociais1.

Dentre a enorme diversidade de formas de se organizar, os empreendimentos

que visam a preservação ambiental, ou ecoempreendimentos como são chamados,

atraíram atenção até das organizações que visam lucro, pois essas oportunidades

transformaram o nicho ambiental em uma das áreas mais lucrativas no mercado

atual.

Em meio a esse ambiente tão promissor para o desenvolvimento do

ecoempreendedorismo, pouco se sabe acerca das ações ecoempreendedoras,

tendo em vista que a maioria generalizada das pesquisas relacionadas ao

empreendedorismo é direcionada para as ações que visam apenas os interesses

individuais de quem as promove. Este se constitui enquanto o problema de pesquisa

a ser analisado neste estudo.

1 Por “organizações sociais” refere-se à todas organizações da sociedade e não apenas as vulgarmente

conhecidas como ONG´s. Estes conceitos serão abordados durante o decorrer desse estudo.

15

As problemáticas surgem quando não se encontram definições bem

estabelecidas que abarquem um conceito de empreendedorismo sob a perspectiva

das ações empreendedoras e nem as relacionem com a sociedade em suas

recíprocas influências com o meio em que vive. Outra problemática a ser enfrentada

é a carência de análises das características comuns entre as ações

ecoempreendedoras e seus atores.

Os objetivos gerais deste estudo são analisar as ações empreendedoras em

empreendimentos que buscam a preservação ambiental, especificamente nos

empreendedores de restaurantes vegetarianos da cidade do Recife e buscar

definições para os principais conceitos relacionados com o empreendedorismo e

ecoempreendedorismo. Os objetivos específicos são: buscar características comuns

entre os ecoempreendedores e suas ações; relacionar o empreendedorismo com o

desenvolvimento e a sustentabilidade; e medir a ação empreendedora dos

participantes da pesquisa.

Sendo assim, as questões de partida são: quais são os conceitos que definem

os termos do tema empreendedorismo? Como as ações empreendedoras se

relacionam com as diferentes formas de organização, e em específico, os

restaurantes vegetarianos do Recife? Qual é o nível de empreendedorismo nas

ações praticadas pelos empreendedores? Quais são as características centrais nos

ecoempreendedores?

Inicialmente foi delineada a metodologia que foi utilizada para atingir os

objetivos aos quais este estudo se propôs. Foi necessário realizar uma pesquisa

aplicada com uma abordagem quanti-qualitativa, utilizando-se dos instrumentos de

pesquisa exploratória e descritiva.

Na parte teórica utilizou-se a pesquisa bibliográfica e documental, distribuídas

entre os capítulos 3, 4, 5, 6 e 7 onde foram discutidos os temas centrais que

envolvem este estudo e respondidas às questões que envolveram o objetivo de

buscar as definições conceituais.

Na parte empírica foi realizada uma pesquisa semi-estruturada apresentada

no capítulo 7, e a aplicação de questionários cujo resultado e análise compõem o

capítulo 8. Nessa etapa houve o confronto desses dados com os conceitos obtidos

nas discussões da fundamentação teórica.

Por fim, no capítulo 9, foram ressaltadas as limitações que este estudo

enfrentou e o resumo das conclusões obtidas ao longo do trabalho.

16

É mister registrar ainda que o ramo de restaurantes vegetarianos vem

ganhando espaço no mercado do varejo de serviços alimentares, pois os

consumidores estão cada vez mais exigentes e seletos na escolha do que vão

comer, de como foram produzidos os alimentos e de como é a relação com os

envolvidos no processo produtivo.

A investigação das características das ações ecoempreendedoras poderá

trazer subsídios importantes para o desenvolvimento de estratégias focadas na

formação de pessoas que desejam atuar com empreendimentos ecológicos, ao

mesmo tempo em que fornecerá uma fonte de dados atualizada e direcionada para

que políticas públicas possam ser elaboradas e implementadas com o intuito de

fomentar e facilitar a criação de novos ecoempreendimentos. Tais benefícios

poderão atingir não somente os envolvidos diretamente no processo produtivo de

um restaurante vegetariano – pequenos produtores, distribuidores e comerciantes;

mas também os consumidores, que terão mais opções saudáveis de alimentação, e

ainda a natureza, que sofrerá menos impactos mesmo com o crescimento e

desenvolvimento da sociedade.

17

2 METODOLOGIA

Para atingir os objetivos aos quais este estudo se propõe, as formas de

abordagem das pesquisas foram tanto quantitativas quanto qualitativas, pois para

analisar as ações ecoempreendedoras dos restaurantes vegetarianos em questão

foi necessário utilizar dados estatísticos objetivos de classificação e quantificação,

assim como aspectos psicológicos subjetivos de qualificação, como, por exemplo, os

comportamentais.

A pesquisa foi dividida em duas etapas, sendo a primeira uma pesquisa

exploratória e a segunda um teste objetivando identificar o nível de ação

empreendedora dos sujeitos participantes.

Inicialmente foi necessário realizar uma pesquisa exploratória tendo em vista

o parco acúmulo de informações na literatura vigente acerca do tema e do objeto a

ser investigado – ecoempreendedorismo e restaurantes vegetarianos, além da falta

de um consenso quanto aos significados dos termos envolvidos dentro do espectro

do empreendedorismo e das organizações. Esta etapa envolveu um levantamento

bibliográfico e documental mais aprofundado para a formulação da fundamentação

teórica dos temas empreendedorismo, ecoempreendedorismo, perfil do

empreendedor, ação empreendedora, ecologia e sustentabilidade, assim como uma

entrevista focalizada com a coordenadora do Grupo Recife da Sociedade

Vegetariana Brasileira, na busca de definir os restaurantes a serem identificados

“vegetarianos”.

A técnica utilizada foi a entrevista semi-estruturada, pois proporciona mais

profundidade e possibilita variedade nas repostas e elementos que não havia se

pensado antes, ou que não poderiam ser identificados com aplicação de

questionários. Há ainda a vantagem com relação ao questionário por poder

esclarecer as perguntas, evitando entendimentos equivocados, proporcionando mais

flexibilidade e a percepção de dimensões mais sutis como o tom da voz e a ênfase

nas respostas (GIL, 1989).

A entrevista foi realizada pelo próprio autor, com uma lista fixa de perguntas

preparadas previamente em um formulário de entrevista com perguntas abertas e

fechadas, permitindo a possibilidade de complementação no decorrer da entrevista,

o que de fato ocorreu. Durante todo o período da entrevista foi gravado o áudio e

transcrito posteriormente para o devido registro dos dados.

18

Em tendo essa definição, se estabeleceu um contato inicial com os

empreendedores a serem entrevistados, formalizando uma apresentação pessoal,

explicando a finalidade e relevância da pesquisa e enfatizando a importância da

colaboração do entrevistado.

A segunda etapa complementa a coleta de dados para integralizar o que

chamamos de análise das ações ecoempreendedoras. Utilizou-se um teste que

mede a ação empreendedora (Apêndice) a partir de 10 (dez) perguntas com pesos

diferentes em cada opção de resposta, cujo somatório revela o nível de ação

empreendedora que um indivíduo possui. Este teste foi baseado no modelo

elaborado por Lenzi e Santiago (2010), com o objetivo de identificar como cada

empreendedor reage a situações do dia a dia, gerando uma reflexão acerca de suas

ações empreendedoras.

Durante o processo de investigação todos os participantes tiveram plena

consciência dos procedimentos de pesquisa, e só ocorreu o registro do que foi

devidamente consentido documentalmente, preservando a ética nas pesquisas

sociais.

A seguir apresenta-se um quadro que resume as metodologias utilizadas

neste estudo:

Análise das Ações Ecoempreendedoras nos

Restaurantes Vegetarianos do Recife

Pesquisa Exploratória

Levantamento bibliográfico e documental

Entrevista semi-estruturada

Teste do Nível da Ação

Empreendedora

Aplicação do teste nos sujeitos da

pesquisa

19

O lócus da pesquisa foi a cidade do Recife, Pernambuco, Brasil. Devido ao

seu número reduzido, foi possível realizar uma pesquisa censitária, cujas

informações resultantes possam ser replicadas em outros locais, levando em

consideração as diferenças culturais de cada lócus a ser pesquisado.

20

3 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE EMPREENDEDORISMO

Definir “empreendedorismo” é uma tarefa tendenciosa, pois não há um

consenso quanto ao seu conceito, nem no meio acadêmico e muito menos na

sociedade em geral. Além do mais, o conceito de empreendedorismo vem sendo

alterado ao longo do tempo e, a depender do autor e sua área de conhecimento,

significados diferentes podem ser encontrados na literatura vigente.

Em seguida serão discutidos os principais temas relacionados ao

empreendedorismo, emergindo posicionamentos conceituais que embasarão as

definições que serão utilizadas neste estudo. A ordem dos temas não respeitam

necessariamente a evolução histórica dos conceitos, apesar de a ela fazerem

referências; percorre sim, acerca dos pontos que definem uma concepção geral do

empreendedorismo.

3.1 SURGIMENTO DO TERMO “EMPREENDEDOR” PARA IDENTIFICAR

AQUELES QUE SE ARRISCAM

Em 1755, Richard Cantillon foi o primeiro a trabalhar com o termo

“empreendedorismo” enquanto fenômeno particular. Para este economista, - nesta

época tudo relacionado a empresas estava dentro das ciências econômicas: as

ciências gerenciais ainda não existiam – os empreendedores eram indivíduos que

corriam riscos por investir o próprio dinheiro em seus negócios, comprando matéria-

prima a um preço, agregando valor e vendendo por um preço incerto (FILION, 1999).

Para Cantillon, empreendedor:

[...] é alguém que estabelece um acordo com o proprietário da terra se comprometendo a pagar-lhe um determinado valor pelo uso desse bem, sem, no entanto ter, nenhuma certeza quanto ao resultado econômico dessa exploração. Assume, portanto, o empreendedor, o risco, por conta da incerteza quanto aos resultados, do empreendimento que inicia. O proprietário da terra, por outro lado, não correrá nenhum risco, dado que receberá o valor acordado independentemente do sucesso ou fracasso do empreendimento (SANTOS, 2008, p 46).

Na concepção de Cantillon existem dois tipos de classes econômicas: a dos

independentes, formada pelos proprietários e a dos dependentes, constituída pelos

assalariados e empreendedores. O que diferencia o assalariado do empreendedor é

o fato deste último assumir riscos que dependerão do seu sucesso, ao passo em

21

que os assalariados enquanto estiverem nessa condição terão mais segurança de

garantias dos retornos, como os ganhos salariais e os direitos trabalhistas. Apesar

de fazerem parte da mesma categoria, a distinção entre os assalariados e

empreendedores foi inédita à época, o que torna este autor um dos pioneiros no

estudo do empreendedorismo. (SANTOS, 2008)

3.2 A DEFINIÇÃO DE EMPREENDEDORISMO A PARTIR DA INOVAÇÃO

Para Cantillon o empreendedor era ao mesmo tempo o detentor do capital e o

que praticava alguma inovação no produto. Posteriormente, Jean-Baptiste Say

distinguiu a figura do capitalista e do empreendedor, assim como o fez

posteriormente Max Weber e Schumpeter, sendo o capitalista aquele que detém o

capital e o empreendedor o agente de mudanças. Desta forma, o risco era mais do

capitalista que investia do que no empreendedor que colocava em prática.

A concepção do termo “empreendedorismo” elaborada por Say foi

desenvolvida na modernidade pelos seus sucessores no estudo do

empreendedorismo, sendo ele o primeiro a associar o empreendedor com a

inovação, cuja herança perdura até os dias de hoje (FILION, 1999).

Porém o empreendedorismo tornou-se conhecido amplamente através das

teorias econômicas de Joseph Schumpeter, que reconhecia já em 1911, o

empreendedor enquanto ator principal do desenvolvimento econômico de um País.

Para este autor, o empreendedor é aquele que inova ao realizar novas

combinações, e as inovações ocorrem quando há a introdução de um novo bem ou

de uma nova forma de produção, a abertura de um novo mercado, a conquista de

novas matérias-primas ou uma nova forma de organização de um mercado

(SCHUMPETER, 1968). A esse fenômeno característico do empreendedor

Schumpeter denominou enquanto “destruição criativa”, onde há um rompimento de

velhos hábitos com o intuito de gerar novas respostas à sociedade em

transformação (LEITE, 2000).

A inovação é realmente um ponto em comum dos autores que se

aprofundaram no tema. Para Peter Drucker (1986) - cuja análise do

empreendedorismo brota de concepções das ciências gerenciais modernas - um

empreendimento para ser considerado como tal tem de criar algo diferente, de forma

22

que mude ou transforme valores. É através da inovação que um empreendimento

surge e é a partir da inovação que os empreendedores exploram uma oportunidade.

Desta forma, o fato de um indivíduo abrir uma empresa não significará que ele

é um empreendedor, e sim, o que seu produto ou serviço traz de novo à sociedade.

Segundo o autor supracitado, “a inovação é o instrumento específico do espírito

empreendedor” (DRUCKER, 1986, p. 39).

3.3 O ESPÍRITO EMPREENDEDOR E O ROMPIMENTO DO PARADIGMA DE QUE

EMPREENDER É SINÔNIMO DE ABRIR UMA EMPRESA

Geralmente há no senso comum a ideia de que empreendedorismo se refere

exclusivamente ao campo comercial lucrativo privado. Há mais de cem anos atrás,

Schumpeter já afirmava que o que constitui um empreendedor é a realização de

novas combinações, não sendo necessário que ele esteja “vinculado a uma empresa

individual” (SCHUMPETER, 1997, p. 83). Essa afirmação não o fez reconhecer a

área de abrangência do empreendedorismo além dos muros das ciências

econômicas, entretanto abriu portas para que outros autores conceituassem o

empreendedorismo sob uma definição bem mais ampla, levando em consideração o

espírito empreendedor, como é o caso de Peter Drucker.

Pode-se concluir que o empreendimento de maneira alguma está limitado à esfera econômica, embora o termo dela se originasse. [...] existe pouca diferença no espírito empreendedor, qualquer que seja a esfera em que atue (DRUCKER, 1986, p. 36).

Drucker foi um autor que dedicou a última década de sua vida a estudar o

empreendedorismo e a gestão do que ele chamou de “organizações que não visam

lucro” (DRUCKER, 1995), produzindo bases sólidas para estes temas, chegando a

criar uma instituição com este propósito.

Desta forma, não se pode definir um empreendedor apenas pelo fato de ele

abrir um negócio ou iniciar um projeto. Um exemplo simples que ilustra essa questão

é a comparação entre duas situações:

Um indivíduo que recentemente se aposentou e, com o dinheiro recebido,

resolveu abrir uma loja com um sócio para vender pipocas, balas e confeitos no

centro da Cidade do Recife. Essa atitude pode não ser considerada uma ação

empreendedora, pois apesar de ser comercial, não traz nada de novo, não há

inovação. Em outro caso, uma mulher implementou um projeto social onde possíveis

23

financiadores acessam o perfil de famílias carentes e podem doar recursos

diretamente para a escola, médicos e compra de alimentos sem atravessadores ou

organizações, acompanhando on line o progresso de cada membro. Essa mulher

criou algo novo, se arriscou em um campo ainda pouco conhecido e desta forma,

poderia ser considerada como uma empreendedora na área social.

Mais uma vez, Drucker (1986) nos traz uma definição que corrobora com esta

visão, quando afirma que:

Não faz diferença alguma se o empreendedor é uma empresa ou uma organização de serviço público sem fins lucrativos, nem sequer se o empreendedor é uma instituição governamental ou não-governamental. As regras são quase as mesmas, as coisas que funcionam e as que não funcionam são quase as mesmas, como o são os tipos de inovação e onde procurá-los (DRUCKER, 1986, p. 199).

Partindo dessa premissa, o espírito empreendedor pode ser aplicado em

diversas organizações, com ou sem fins lucrativos, novas ou não, desde que em seu

bojo estejam sendo praticadas ações empreendedoras. Corroborando com essa

concepção, mesmo que seu conceito se restrinja apenas ao campo comercial,

Biagio (2012) sugere que a ação empreendedora pode se dar pelas seguintes

formas:

a) Iniciando uma nova empresa a partir de uma ideia inovadora;

b) Adquirindo uma empresa já existente, assumindo riscos e agregando novos

valores;

c) Visualizando oportunidades de melhoria, otimização e inovação em uma

empresa na qual se trabalha.

No entendimento do autor deste estudo, apesar de correta, esta visão

apresenta apenas uma pequena parte do largo campo de possibilidades das ações

empreendedoras como explanado a seguir.

3.4 A AÇÃO EMPREENDEDORA

Empreender é um verbo, e como tal, representa uma ação. Segundo o

Dicionário Michaelis (2013), empreender é “resolver-se a praticar, [...] pôr em

execução, [...] realizar, fazer”. Para o autor deste estudo, isso não quer dizer que

toda ação seja empreendedora, pois outros fatores determinam o

24

empreendedorismo, como a inovação e o risco, mas afirma que todo

empreendimento é fruto de uma ação.

Não há empreendimento que fique só no campo das ideias. Para se constituir

um empreendimento alguma inovação tem de ser posta em prática, pois ideias

brilhantes que não saem da mente não podem ser consideradas empreendimentos.

A inovação só é inovação quando se torna realidade, caso contrário se assemelha

mais às invenções, o que não se caracteriza enquanto empreendimento.

Schumpeter (1997) estabeleceu claramente a diferença entre invenção e

inovação quando afirmou que:

A liderança econômica em particular deve pois ser distinguida da “invenção”. Enquanto não forem levadas à prática, as invenções são economicamente irrelevantes. E levar a efeito qualquer melhoramento é uma tarefa inteiramente diferente da sua invenção, e uma tarefa, ademais, que requer tipos de aptidão inteiramente diferentes. Embora os empresários possam naturalmente ser inventores exatamente como podem ser capitalistas, não são inventores pela natureza de sua função, mas por coincidência e vice-versa. Além disso, as inovações, cuja realização é a função dos empresários, não precisam necessariamente ser invenções (SCHUMPETER, 1997, p. 95)

Outra questão que ocupa posição central na concepção de

empreendedorismo para o autor deste estudo é a consciência de que o

empreendedorismo é mais um “estado” do que uma “condição permanente”; é mais

um “estar” e do que um “ser”; um “verbo” antes de ser um “substantivo”. Os

indivíduos realizam ações a todo momento, e quando em grande parte são ações

empreendedoras, esse indivíduo é chamado de empreendedor, ou seja, aquele que

empreende, que costuma a realizar ações empreendedoras. Esta é a chave para a

superação do paradigma que se criou quanto ao termo empreendedorismo. Tanto

um empresário conservador pode realizar em dado momento um ato empreendedor,

quanto um empreendedor ousado pode deixar de o ser após deixar de inovar.

Segundo o próprio Schumpeter (1997) afirmou:

[...] alguém só é um empresário2 quando efetivamente “levar a cabo novas combinações”, e perde esse caráter assim que tiver montado o

2 Vale a pena registrar que há uma diferença entre as traduções quanto ao termo “empresário” e “empreendedor”

na referida obra de Schumpeter. Na tradução de Maria Sílvia Possas (1997) o termo designado é empresário. Na

tradução de Schlaepfer (1961), o indivíduo é o empreendedor. Entretanto eles estão tratando do mesmo agente,

que na concepção adotada nesse estudo, se denomina empreendedor, pois empresário teria outro sentido. Para

um aprofundamento sobre as diferenças entre empresário e empreendedor, ver Leite (2012).

25

seu negócio, quando dedicar-se a dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negócios. Essa é a regra, certamente, e assim é tão raro alguém permanecer sempre como empresário através das décadas de sua vida ativa quanto é raro um homem de negócios nunca passar por um momento em que seja empresário, mesmo que seja em menor grau (SCHUMPETER, 1997, p.86).

Assim, uma ação empreendedora polariza em certos aspectos com ações

conservadoras, que antagonicamente buscam manter e conservar em vez de mudar.

Uma ação para ser empreendedora tem que ter em seu bojo a mudança, algo novo,

a maneira nova de fazer algo.

3.5 O PERFIL DO EMPREENDEDOR

Analisar o perfil de empreendedores é uma tarefa difícil, tendo em vista a

vasta e diversa produção científica a respeito. Para demonstrar a diversidade de

conclusões reveladas por autores ao longo do tempo, utilizamos um quadro

elaborado por Lenzi e Santiago (2010) onde ações e competências dos

empreendedores são colocadas de acordo com os autores:

Quadro 1 - Relação das ações e competências empreendedoras

Autor Principais ações e competências.

Mill (1848) Tolerância ao risco.

Weber (1917) Origem da autoridade formal.

Schumpeter (1928, 1934, 1942, 1949, 1967, 1982)

Inovação, iniciativa, sonho, criatividade, energia, realização pessoal, poder, mudança.

Sutton (1954) Busca de responsabilidade.

Hartman (1959) Busca de autoridade formal.

McClelland (1961, 1971, 1973)

Tomada de risco, necessidade de realização, necessidade de afiliação

Davids (1963) Ambição, desejo de independência, responsabilidade e autoconfiança.

Pickie (1964) Relacionamento humano, habilidade de comunicação, conhecimento técnico.

Palmer (1971) Avaliação de riscos.

Hornaday & Aboud (1971)

Necessidade de realização, autonomia, agressão, poder, reconhecimento, inovação, independência.

Winter (1973) Necessidade de poder.

Borland (1974) Controle interno.

Liles (1974) Necessidade de realização.

Bruce (1976) Tomada de decisões e de riscos.

Shapero (1977, 1980) Inovação, tomada de riscos, iniciativa, independência.

Gasse (1977) Orientação por valores pessoais.

Timmons (1978) Autoconfiança, orientação por metas, tomada de riscos moderados, centralização de controle, criatividade, inovação.

26

Cantillon (1978) Inovação.

Sexton (1980) Energia, ambição, revés positivo.

Welsh & White (1981) Necessidade de controle, responsabilidade, autoconfiança, riscos moderados.

Dunkelberg & Cooper (1982)

Orientação ao crescimento, profissionalização e independência.

Pinchot (1985, 1989, 2004)

Visão, execução, planejamento.

Drucker (1986, 2002) Inovação, iniciativa.

Filion (1988, 1991, 1993, 1999)

Visão, imaginação, oportunidade, objetivos.

Cooley (1990) Dedicação pessoal, planejamento e metas, persuasão, independência, comprometimento, iniciativa.

Zahra (1991) Renovação estratégica, novos negócios.

Cunningham e Lischeron (1991)

Liderança, ação, tomada de riscos, inovação.

Farrel (1993) Visão, valores pessoais.

Spencer & Spencer (1993)

Realização, planejamento, persuasão, autoconfiança, persistência, oportunidades, tomada de riscos, qualidade, comprometimento, informações, metas.

Cossete (1994) Visão, formulação de estratégias.

Miner (1998) Realização, rede de relacionamento, novas ideias, administração.

Sharma & Chrisman (1999)

Criação, inovação.

Dolabela (1999) Inovação, criatividade, visão, planejamento, iniciativa, oportunidade.

Fleury (2000, 2002) Ação, mobilização de recursos, entrega, engajamento, responsabilidade, visão estratégica.

Leite (2002) Geração de riquezas, inovação.

Klerk & Kruger (2003) Condição de assumir tomada de riscos, determinação, valores, adaptabilidade, prontidão, firmeza, ambição, suficiência de capital.

Dornelas (2003) Oportunidade, criação, iniciativa, inovação, gerenciamento de riscos, planejamento, persistência, relacionamentos.

Santos (2004) Criatividade, inovação, novos negócios.

Seifert (2004, 2005) Criatividade, inovação, novos negócios, renovação estratégica.

Dutra (2004) Capacidade de inovação, comunicação, liderança, resolução de problemas, direcionamento estratégico, negociação, planejamento, relacionamentos, visão sistêmica, orientação para qualidade.

Fonte: Lenzi e Santiago (2010); Leite (2002)

Ao se tratar de perfil do empreendedor, surgem questões primordiais, como:

os indivíduos nascem com um “dom” de empreender ou desenvolvem esse talento

no decorrer da vida? Existem características de personalidade inerentes a todos

empreendedores? O empreendedor é movido pela intuição ou racionalização?

As referências mais antigas sobre o perfil do empreendedor vem do

economista Joseph Schumpeter (1997), quando em 1911 publicou “A Teoria do

Desenvolvimento Econômico”. Para Schumpeter “[...] os empresários são um tipo

27

especial, e o seu comportamento um problema especial, a força motriz de um

grande número de fenômenos significativos” (SCHUMPETER, 1997, p.88).

Em nota de rodapé, Schumpeter explica essa singularidade, ou “super-

poderes” dos empreendedores, cuja definição lhe rendeu a maior parte das críticas.

Explica então que o que caracteriza o empreendedor é uma espécie distinta de

conduta, uma característica destacada de outras pessoas.

O tipo de conduta em questão não apenas difere do outro em seu objetivo, sendo-lhe peculiar a ‘inovação’, mas também por pressupor aptidões que diferem em tipo, e não apenas em grau, daquelas do mero comportamento econômico racional (SCHUMPETER, 1997, p.89).

Schumpeter faz uma comparação com o canto. Todos podem cantar,

entretanto, uns tem mais habilidade que outros. “Embora praticamente todos os

homens possam cantar, a habilidade para cantar não deixa de ser uma

característica diferenciadora e um atributo de uma minoria” (SCHUMPETER, 1997,

p.89).

Entretanto, Schumpeter afirma que há uma variedade contínua de graus de

intensidade de iniciativa e que esses dons não podem ser herdados e devem ser

estimulados e ensinados. “Enquanto nos canais habituais é suficiente a própria

aptidão e experiência do indivíduo normal, quando se defronta com inovações,

precisa de orientação” (SCHUMPETER, 1997, p.87). Além de colocar o

empreendedor como a peça principal para que haja o desenvolvimento econômico,

Schumpeter nos legou uma rica percepção psicológica das motivações e aptidões

dos empreendedores.

Antes de Schumpeter, o sociólogo Max Weber (1930) em sua obra intitulada

“A ética protestante e o espírito do capitalismo”, já reconhecia estas características

empreendedoras:

“O impulso para o ganho, a persecução do lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível de dinheiro, não tem, em si mesma, nada que ver com o capitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu entre garçons, médicos, cocheiros, artistas, prostitutas, funcionários desonestos, soldados, nobres, cruzados, apostadores, mendigos etc...” (WEBER, 1930, p.5)

Para Weber, o fenômeno do empreendedorismo ocorre em intensidade

quando fatores sociais e culturais incidem em determinada cultura, como foi o caso

dos Calvinistas nos Estados Unidos, que após a reforma protestante promoveram o

28

espírito empreendedor nos campos privados estadunidenses levando ao capitalismo

industrial moderno (LEITE, 2012).

Dentre os variados aspectos referentes a um empreendedor, Dornelas

destaca três características básicas, quais sejam:

A iniciativa de criar um novo negócio e paixão pelo que faz; a utilização dos recursos disponíveis de forma criativa transformando o ambiente social e econômico onde vive; a aceitação dos riscos e a possibilidade de fracassar (DORNELAS, 2012, p.38).

Essa “paixão pelo que faz” enfatizada acima nos leva a questionar mais a

fundo o que realmente motiva um indivíduo a mudar de trabalho, de ramo, de

hábitos e costumes, assumindo os riscos inerentes à inovação. Apesar da

concepção de David McClelland de empreendedorismo apenas em sua

característica comercial, suas contribuições para o entendimento comportamental do

empreendedor são riquíssimas (LEITE, 2012).

McClelland pesquisou porque umas culturas se desenvolviam

economicamente mais que outras e criou um valor chamado de “necessidade de

realização” para diferenciá-las. O autor constatou que algumas culturas creditavam

ao destino formulado pelos deuses a causa de seus sucessos e fracassos, enquanto

outras acreditavam que seus esforços é que influenciavam seus destinos. Para

esses últimos, McClelland identificou que desde pequenas as crianças dessas

sociedades foram estimuladas a desenvolverem essa necessidade de realização

através de histórias infantis, contos folclóricos e veículos de comunicação social

para a transmissão inconsciente de valores (LEITE, 2012).

Com isso o empreendedor assume características do seu meio social e

cultural, sendo seu potencial desenvolvido, e não apenas herdado como muitas

vezes é relacionado como um “dom”. Como dito anteriormente, assim também

analisou o comportamento dos empreendedores Max Weber, ao sugerir que o

empreendedorismo se desenvolveu nos Estados Unidos da América por causa da

influência Calvinista que incentivava a busca por realizações. Lança-se assim as

bases para o conceito de cultura empreendedora, tão em evidência nos dias de hoje.

Assim, as características dos empreendedores seriam natas, o que não quer

dizer que também não possam ser adquiridas e desenvolvidas durante suas vidas,

seja por motivação própria ou por influência do ambiente externo, do meio cultural.

Para Peter Drucker (1986), ninguém nasce empreendedor, e sim, aprende a ser

empreendedor em um processo racional e científico.

29

Diferentemente de Peter Drucker (1986), Schumpeter (1968, 1984, 1997) nos

apresenta um empreendedor intuitivo, que age quase que por adivinhação.

Também, assim como McClelland (1979), o desejo de conquistar, lutar, de fazer as

coisas e de se realizar são os grande impulsionadores dos empreendedores.

Podemos resumir então as diferentes visões que os autores discutidos

colocam a respeito dos fatores que mais influenciam os indivíduos empreendedores:

Quadro 2 - Fatores que mais influenciam os empreendedores na visão dos autores

clássicos

AUTORES INFLUÊNCIAS

Weber Sociais e culturais

Schumpeter Dons próprios

McClelland Psicológicas

Drucker Educação empreendedora

Fonte: O Autor, 2014

Como o empreendedorismo é abordado por pesquisadores de variados

campos do saber, contribuições distintas e complementares podem ser compiladas

em diferentes pontos de vista. Dolabela (1999) resume bem o posicionamento de

pesquisadores do empreendedorismo quando afirma que os economistas associam

os empreendedores à inovação e ao seu papel fundamental no desenvolvimento

econômico; os comportamentalistas atribuem características de criatividade,

persistência e internalidade; os engenheiros veem nos empreendedores bons

coordenadores de recursos; os financistas definem os empreendedores como

capazes de calcular riscos; e para os administradores os empreendedores são

competentes e identificam oportunidades de negócios.

Para o autor deste estudo, existem sim certas aptidões inerentes às

personalidades dos indivíduos, mas durante o decorrer de uma vida essas podem

ser incentivadas e desenvolvidas ou reprimidas e regredidas. Esta concepção nos

aproxima mais de Schumpeter do que de Drucker que nega veementemente as

aptidões natas, mas não descarta os fatores sociais e culturais de Weber,

psicológicos de McClelland e educativos apregoados pelo próprio Drucker.

30

3.6 O MITO DO EMPREENDEDOR

Gerber (1996 apud SARKAR, 2008) aborda a questão do “mito do

empreendedor”, no qual estabelece as razões as quais uma pessoa decide abrir seu

próprio negócio e o motivo pelo qual elas fracassam. Seguindo a linha de

pensamento do autor, normalmente uma pessoa que abre um novo negócio domina

certos processos técnicos de um produto ou serviço e acredita que por isso

entenderá como funcionam os negócios que envolvem esse serviço técnico. Esse é

o “pressuposto fatal”, como diz o autor, e a origem da falência da maioria das

empresas. Segundo ao autor “os trabalhos técnicos de um negócio específico e a

empresa que faz trabalhos técnicos são duas coisas completamente diferentes”

(GERBER, 1996 apud SARKAR, 2008, p. 52).

Nesse sentido, mecânicos que antes trabalhavam em oficinas como técnicos

creem que como entendem de concertar carros também saberão gerir a sua própria

oficina, cozinheiros bem sucedidos no ramo anseiam em abrir seu próprio

restaurante e um médico que atende consultas pensa em abrir um hospital de sua

especialidade. Segundo o autor, estes são apenas alguns exemplos de pessoas que

foram acometidas pelo “surto empreendedor”. Geralmente, antes de sair do

emprego, essas pessoas questionam as razões pelas quais estão trabalhando para

alguém, que na maioria das vezes, sabe até menos sobre o trabalho técnico do que

os próprios técnicos.

Tão pouco o empreendedor que decide abrir um negócio mas não entende da

parte técnica também terá poucas chances de sobreviver no mercado competitivo

atual. Grande probabilidade haverá de ser enganado pelos colaboradores, e terá

dificuldades até de identificar o real desejo dos clientes ou como fazer para adequar

seu produto/serviço de acordo com a demanda.

Ou ainda, por vezes, um sujeito entende da parte técnica, possui uma grande

capacidade empreendedora, mas não domina as ferramentas da gestão eficiente e

por isso, se perde em meio a tantos compromissos, contas, problemas com

trabalhadores, estratégias equivocadas, empréstimos mal sucedidos e com a própria

dinâmica com os fornecedores e os estoques.

O cerne da questão está no fato de que “cada indivíduo que abre um negócio

é, na verdade, três pessoas em uma: o empreendedor, o administrador e o técnico”

(GERBER, 1996 apud SARKAR, 2008, p. 56). Enquanto o empreendedor é um

31

visionário que cria oportunidades e transforma sonhos em realidade, o administrador

é pragmático e planeja os passos com segurança, organização e prudência. Já o

técnico é o que executa na ponta, o que domina todas as ferramentas da atividade

em si. Em suma, um depende do outro para que o negócio como um todo possa

prosperar.

O sujeito que deseja abrir um negócio e não possui essas 3 qualidades pode

tornar um sonho em um terrível pesadelo, trabalhando 10 a 20 horas por dia, se

enchendo de dívidas e no fim, infeliz por as coisas não estarem andando como

imaginou. Entretanto, ao unir as características de um empreendedor, um

administrador e um técnico, um sujeito terá um bom produto/serviço, a organização

necessária para gerir seu empreendimento com sustentabilidade e inovações

permanentes para se destacar no mercado. Esses ingredientes de sucesso, se bem

equilibrados poderão trazer prosperidade ao negócio, qualidade de vida aos que

fazem parte dele e grandes benefícios à sociedade.

Quadro 3 - Diferenças entre o perfil do empreendedor, gerente e técnico

CARACTERÍSTICAS DESCRIÇÃO

Empreendedor Este perfil gosta de estar no futuro, é a personalidade

criativa. O seu desejo é a mudança, concentra-se e

mantém o controle nos assuntos relativos às suas

visões.

Gerente Ordena, planeja e prevê. Tenta minimizar os efeitos das

variáveis externas não-controláveis. Este perfil identifica

nas mudanças a raiz dos problemas.

Técnico Tem confiança no que pode fazer, não delega, confia

que o seu pessoal possa fazer o trabalho. Vive o

presente, o dia-a-dia. É quem “põe a mão na massa”.

Fonte: (GERBER, 1996 apud SARKAR, 2008, p. 57)

3.7 CRÍTICAS À AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE EMPREENDEDORISMO

Para Martes (2010), o conceito de empreendedorismo está se tornando tão

elástico que “corre o risco de perder a consistência”. Para a autora, o termo deveria

32

ser restrito à iniciativa privada, pois foi apenas relacionada a ela que autores como

Weber e Schumpeter se relacionaram quando definiam o empreendedorismo.

Para o autor deste estudo este argumento é, apesar de coerente, falho, tendo

em vista que o contexto atual é completamente distinto do tempo em que Weber e

Schumpeter desenvolveram suas pesquisas. Os atores mudaram, as relações são

diferentes, e com isso os termos antigos ganham novas concepções. A base para

este argumento é fornecida pelo próprio Schumpeter, que na publicação de “A

Teoria do Desenvolvimento Econômico” apresenta um novo conceito de

empreendedorismo com relação aos que vieram antes dele, quando afirma que:

[...] falsa é a convicção de que as formas “primitivas” de um tipo também são ipso facto as “mais simples” ou as “mais originais” no

sentido de que mostram sua natureza de modo mais puro e com menos complicações do que as posteriores. Muito frequentemente ocorre o contrário, entre outras razões porque a especialização crescente pode permitir que sobressaiam nitidamente funções e qualidades que são mais difíceis de reconhecer em condições mais primitivas, quando estão misturadas com outras (SCHUMPETER, 1997, p.85).

33

4 AS DIFERENTES FORMAS DE SE EMPREENDER

A discussão acerca dos termos e conceitos básicos das organizações

precedem o entendimento das diferentes formas pelas quais as atitudes

empreendedoras podem se dar nas organizações.

4.1 DEFININDO CONCEITOS A SEREM ADOTADOS EM SE TRATANDO DAS

ORGANIZAÇÕES

As organizações, no sentido que adota-se neste estudo, podem ser naturais

ou sociais. As organizações naturais são aquelas que seu agrupamento e

organização não dependem da ação do homem, o que ocorre com frequência

incomensurável, a cada instante, na natureza e nas infinidades do universo.

Obviamente estes fenômenos não fazem parte do estreito espectro deste estudo, ao

passo que só serão abordadas as organizações sociais, aquelas cuja criação é

realizada propositalmente pela ação humana para atender a determinadas

necessidades.

Há uma tendência entre os seres humanos, o que não envolve a totalidade,

de certa necessidade de agrupamento e natural organização dos indivíduos

agrupados. Isso comprova-se com as organizações familiares, empresas, igrejas,

órgãos públicos e inúmeras outras organizações formais e informais.

Sob o ponto de vista do autor deste estudo, as organizações sociais são

agrupamentos que surgem a partir da atitude de um ou mais indivíduos, e visam

atender alguma ou algumas necessidades, sejam individuais e/ou coletivas, através

da utilização de recursos para atingir os objetivos para os quais foram criadas.

A partir do momento em que a humanidade cresce e se agrupa, surge a

necessidade da criação de organizações que coordenassem as atividades humanas,

que determinassem leis e normas sociais de bom convívio, enfim, que cuidassem do

bem comum e dos interesses coletivos. Tem-se então a criação de organizações

públicas em suas esferas e poderes constituindo-se enquanto organizações sociais

de interesse coletivo, além de um sem número de organizações que emergem da

sociedade até os dias de hoje, que nem sempre representam o todo, mas que

atendem aos interesses coletivos de um ou mais grupos e por isso serão

qualificados também nesta mesma categoria.

34

Existem organizações sociais de interesse coletivo que lutam pela

preservação da natureza, outras que buscam melhores condições de vida para a

população, outras que tentam orientar espiritualmente a humanidade, e

determinadas organizações que objetivam atender a vários interesses coletivos.

Antagonicamente, as organizações que surgem para atender a interesses

individuais serão denominadas organizações sociais de interesse individual, que

podem ser lucrativas ou não. Nem sempre os interesses individuais são

representados pelos lucros; este é apenas o contexto das organizações que visam

lucro. Muitas organizações sociais são criadas para resolver problemas de uma

pessoa e não necessariamente o dinheiro é um de seus problemas. Em suma, o que

irá definir a categoria de uma organização serão os objetivos aos quais ela busca

alcançar.

A figura a seguir demonstra uma sintetização:

Figura 1 – Classificação das organizações

Fonte: O autor, 2014

Entretanto, neste mundo globalizado, pós-moderno, caracterizado por

relações sociais complexas, exige que se empregue uma visão mais holística,

trazendo mais fatores para definir as organizações do que os tradicionais ora

expostos. Deve-se levar em consideração o fato de que, com frequência, ocorre de

uma organização propagar que seus objetivos são coletivos quando na verdade

atendem apenas aos interesses pessoais de um ou mais indivíduos. Encontra-se

ORGANIZAÇÕES

SOCIAIS

DE INTERESSE COLETIVO

DE INTERESSE INDIVIDUAL

NATURAIS

35

nas organizações públicas, em sua maioria, um aglomerado de interesses

individuais que maculam sua caracterização enquanto organização de interesse

coletivo. Da mesma forma, existem empresas privadas com fins lucrativos que tem

como objetivo principal a conscientização ambiental, tipicamente um interesse

coletivo.

Fica evidente que essas questões envolvem o âmbito cultural, arraigado em

uma ideologia predominante do individualismo, cujo sistema capitalista foi o principal

responsável pela sua propagação.

Esta categorização é fundamental para que se possa analisar as diferentes

formas de se empreender, visto que em cada organização as ações

empreendedoras assumem diferentes terminologias. Trata-se assim de uma

tentativa de elencar alguns tipos de empreendedorismo conforme o fenômeno se

desenvolve.

4.2 TIPOS DE EMPREENDEDORISMO

Atualmente são utilizados diversos adjetivos para especificar o tipo de

empreendedorismo em questão. Termos como intraempreendedorismo,

empreendedorismo social e ecoempreendedorismo são frequentemente utilizados

na literatura para designar uma forma específica de se empreender.

Primordialmente, há de se definir a finalidade do empreendimento, se seu

objetivo principal é coletivo ou individual. Todos empreendimentos tem um propósito,

e, mesmo que busquem atender várias demandas, geralmente há uma tendência

central que predomina. Sendo assim, no conceito adotado neste estudo, o

empreendedorismo está relacionado com o ato de empreender, inovar e correr

riscos, independentemente onde se realizar o empreendimento.

Normalmente um empreendimento é levado a cabo para suprir uma demanda

do mercado, ofertando produtos e serviços que, mesmo que atendam a uma

necessidade social, se caracterizam enquanto um empreendimento tipicamente

comercial. Geralmente predomina-se os interesses individuais representados pelo

retorno financeiro. Este é o tipo de empreendedorismo mais conhecido, o qual por

vezes é tido como o único. A maior parte dos professores e escritores quando se

referem ao empreendedorismo apenas fazem referência a este tipo de

36

empreendedorismo, entretanto suas lições podem ser levadas, com as devidas

adaptações, a outras formas de empreender.

Quando um empreendimento surge com finalidade de solucionar problemas

sociais como a fome, a violência e o desemprego, por exemplo, dá-se o nome de

empreendedorismo social. Da mesma forma, um empreendimento cujo objetivo é

trabalhar em favor do meio ambiente é chamado de empreendedorismo ambiental,

ou apenas ecoempreendedorismo. Sob essa mesma linha de pensamento hoje já se

fala em empreendedorismo cultural, sustentável, e até mesmo espiritual.

Entretanto há ainda outras formas de se tipificar o empreendedorismo. De

acordo com sua área de atuação, um empreendimento pode ter fins lucrativos ou

não, pode ser privado ou público. Apesar de questionada, essa definição de

empreendedorismo é admitida por autores renomados do campo da administração,

como Peter Drucker (1986), que em vários momentos coaduna com esta mesma

visão, a exemplo da citação a seguir:

Não faz diferença alguma se o empreendedor é uma empresa ou uma organização de serviço público sem fins lucrativos, nem sequer se o empreendedor é uma instituição governamental ou não-governamental. As regras são quase as mesmas, as coisas que funcionam e as que não funcionam são quase as mesmas, como o são os tipos de inovação e onde procurá-los (DRUCKER, 1986, p. 199).

Recentemente, diversos autores têm até citado casos de empreendedorismo

se referindo a funcionários que possuem atitudes empreendedoras em organizações

nas quais eles nem iniciaram e nem são os proprietários. Desconstroem, desta

maneira, a noção de que um empreendedor é somente aquele sujeito que abre um

negócio. Para este tipo de empreendedorismo é creditado o nome de intra-

empreendedorismo, empreendedorismo corporativo, ou ainda, endo-

empreendedorismo. Para Rogério Chér (2008),

O empreendedor corporativo – ou intra-empreendedor – é aquele que, apesar de não ser dono do negócio, mantém atitudes empreendedoras e empreende por meio de seu trabalho. As empresas, para prosperarem, dependem de velocidade, inovação permanente, vantagens únicas e exclusivas (CHÉR, 2008, p.121).

O espírito empreendedor pulsa constantemente, e por muitas vezes, uma

organização só se mantém se seus colaboradores estiverem em constante ebulição

criativa e empreendedora, inovando e gerando soluções alternativas aos novos

problemas que surgem.

37

Segundo SARKAR (2008), Norman Macrae foi um dos pioneiros ao lançar o

conceito de intra-empreendedorismo quando publicou artigos para a revista The

Economist, a partir de 1976. Segundo Macrae, para acompanhar o dinamismo do

mercado é necessário encontrar formas alternativas de realizar suas atividades.

Seguindo os passos de Macrae, Gilfford e Elizabeth Pinchot desenvolveram esse

conceito e construíram um modelo de intra-empreendedorismo. Mas o conceito de

intra-empreendedoismo veio a se consolidar com Kanter, que afirmava ser o intra-

empreendedorismo essencial para a sobrevivência de uma empresa. “Aproveitar o

conhecimento e a experiência de funcionários e colaboradores para inovar e estar a

frente da competição é um dos recursos ainda pouco aproveitados pelas empresas”

(SARKAR, 2008, p. 31).

O empreendedorismo pode ainda se dar de forma individualizada - a mais

frequente, ou coletivamente, como é o caso das cooperativas, associações, grupos

empresariais, sindicatos, entre outras formas de organização.

Por fim, quando se admite o conceito de que empreender é realizar ações

empreendedoras, as possibilidades se tornam infinitas, e com isso os tipos de

empreendedorismo podem assumir as formas mais variadas. Este estudo expõe

apenas os grandes campos do empreendedorismo e não busca preencher a

totalidade do vasto campo do empreendedorismo, o que seria de demasiada

pretensão.

Como resultado dessa parte do estudo teórico, foi elaborada uma proposta de

apresentação dos principais tipos de empreendedorismo segundo quatro grandes

grupos:

Quadro 4 - Principais tipologias do empreendedorismo em organizações

Critérios Tipo

Finalidade do empreendimento

Comercial

Social

Ambiental

Sustentável

Outros (cultural, espiritual, etc)

Setor do empreendimento

Privado com fins lucrativos

Privado sem fins lucrativos

Público estatal

38

Posição do empreendedor na

organização

Proprietário

Funcionário

Tempo do empreendimento Organização nova

Organização já existente

Quantidade de empreendedores Individual

Coletivo

Fonte: O Autor, 2014

Este quadro pode e deve ser aprofundado e consequentemente ampliado,

entretanto esta pesquisa é focada em um tipo específico de empreendedorismo: o

ecoempreendedorismo, motivo pelo qual o detalharemos em capítulo exclusivo.

39

5 ECOEMPREENDEDORISMO

Neste capítulo serão detalhados os principais elementos do

ecoempreendedorismo, seus atores e empreendimentos.

5.1 ECOEMPREENDEDORISMO E O ECOEMPREENDEDOR

Ecoempreendedorismo é um termo que sugere a fusão de ecologia e

empreendedorismo. Também chamado de empreendedorismo verde ou

empreendedorismo ambiental, o ecoempreendedorismo é uma categoria de

empreendedorismo que vem crescendo vertiginosamente nos últimos anos. A

definição de empreendedor por Joseph Schumpeter (1949) poderia plenamente ser

a definição econômica de ecoempreendedor, conforme afirma o autor: “O

empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de

novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela

exploração de novos recursos e materiais” (SCHUMPETER, 1949 apud DORNELAS,

2012. p. 46).

Realmente o ecoempreendedor altera a ordem econômica com suas

inovações, e se destaca por utilizar novos insumos, como recursos de energias

renováveis e materiais ecologicamente corretos. Mais que isso, o ecoempreendedor

trabalha com valores, consciência e cultura ambiental. Essa atividade pode ser

realizada tanto por uma empresa privada quanto por uma organização não-

governamental sem fins lucrativos, ou até pelo governo, desde que inove com

soluções que visem a melhoria do planeta sob os preceitos da ecologia.

Segundo Odum e Barrett (2011), a palavra ecologia tem origem muito

recente, apesar das questões ambientais serem estudada há muito tempo com

outras denominações pelos filósofos gregos Hipócrates e Aristóteles. O primeiro

autor a trabalhar com o termo ecologia foi Ernest Haeckel, em 1869, definindo-a

como “o estudo do ambiente natural, inclusive das relações dos organismos entre si

e com seus arredores” (HAECKEL, 1869, apud ODUM; BARRETT, 2011, p. 3).

Entretanto, o termo só passou a ser utilizado popularmente a partir da década de 60,

quando estudiosos e ativistas iniciaram um movimento ambientalista cujos efeitos

podem ser sentidos ainda nos dias de hoje.

40

Há, portanto, que se haja a compreensão de que um ecoempreendimento

possui características de gestão semelhantes a um empreendimento comercial, pois

os mesmos princípios gerais da boa administração lhes são aplicáveis. Em geral,

segundo Bennett (1992), os ecoempreendimentos fracassam pelos mesmos motivos

que os empreendimentos tradicionais. Nas palavras do autor supracitado: “O seu

coração pode estar certo, mas se sua mente não estiver ligada aos conceitos

básicos dos negócios, nunca conseguirá atingir suas metas” (BENNETT, 1992, p.8).

Por outro lado, existem questões específicas ligadas estritamente aos

ecoempreendimentos, como os acontecimentos na ciência da ecologia, a legislação

ambiental e a consciência pública. Além disto, certos valores e ética utilizados

geralmente em empreendimentos tradicionais não são os mesmo de um

ecoempreendimento. A disputa acirrada no mercado comercial faz com que

empreendedores tradicionais “passem por cima” das questões ambientais, optando

sempre pelo “mais barato” em vez do “mais correto”.

Em se tratando de empreendimentos com fins lucrativos, também chamados

de econegócios, o ecoempreendedor deve ficar atento a tudo o que acontece, se

atualizando constantemente para perceber as necessidades ambientais imediatas,

definindo assim novos e mais lucrativos nichos de mercado. Também os clientes em

geral são mais exigentes e bem informados, e só utilizam o seu “ecodinheiro” em

produtos de qualidade. Cada vez mais esses clientes estão identificando um

verdadeiro ecoempreendedor de um “ecovigarista”, que sempre busca pintar de

verde um produto ou serviço que na verdade é cinza (BENNETT, 1992).

Ainda segundo Bennett (1992), para um econegócio, não há que se ter culpa

pelos lucros, ou segundo o autor, uma “ecoculpa”, crendo este que por ser um

negócio que vise a cura ambiental do planeta, deve-se ter receio de lucrar. Se for

assim, seria melhor criar uma organização sem fins lucrativos e buscar por outras

fontes de recursos. Nas palavras do autor: “Uma ecoempresa vende produtos e

serviço, mas principalmente vende uma alternativa” (BENNETT, 1992, p.64).

[...] finalmente, os verdadeiros ecoempresários estão motivados por

uma paixão: a cura do planeta. Esse compromisso geralmente

proporciona-lhes forças extras quando precisam superar as

inevitáveis tormentas psicológicas e fiscais como que inevitavelmente

encontrarão com o desenvolvimento das suas empresas pioneiras

(BENNETT, 1992, p.7)

41

5.2 ECOEMPREENDIMENTOS

Existem inúmeras possibilidades de ecoempreendimentos, como restaurantes

vegetarianos, lojas de produtos naturais, consultorias ambientais, organizações em

defesa da natureza, dentre tantas outras. Segundo Bennett (1992), “as

possibilidades de criar uma ecoempresa só podem ser limitadas por sua imaginação;

o meio ambiente é uma área tão vasta quanto os problemas que flagelam”

(BENNETT, 1992, p.6).

Para uma melhor visualização dos tipos de ecoempreendimentos,

apresentamos a seguir alguns exemplos citados por Bennett (1992) de produtos

vendidos e serviços prestados por empreendimentos ambientais:

a) Alimentos sem pesticidas, isentos de ingredientes químicos ou sintéticos e

embalados com materiais recicláveis e biodegradáveis;

b) Produtos de higiene pessoal sem derivados de petróleo, sem aditivos

potencialmente prejudiciais à saúde e corantes desnecessários e também

embalados de forma responsável;

c) Tintas, vernizes, colas, adesivos e outros itens produzidos sem componentes

prejudiciais ao meio ambiente ou à saúde, tais como mercúrio e benzeno;

d) Sacolas de compras de material de lona reutilizável, em substituição a

sacolas de papel os plástico;

e) Lâmpadas que economizam energia elétrica, instalações sanitárias que

economizam água e outros produtos domésticos simples;

f) Pacotes turísticos para locais ambientalmente sensíveis transmitindo aos

turistas a importância da ecologia;

g) Consultoria para empresas no intuito de avaliar seus locais de trabalho do

ponto de vista da adequação ambiental e propor melhorias;

h) Criação jogos, livros e programas de software tanto para educar quanto para

divertir.

Um exemplo clássico de ecoempreendedorismo que vem tomando força

recentemente são as feiras agroecológicas. Em uma feira agroecológica, os

produtos comercializados são orgânicos, ou seja, em seu processo produtivo não

são utilizados adubos químicos nem pesticidas. O processo da monocultura, tão

prejudicial aos solos, dá lugar à diversidade de culturas, e a queimada é

veementemente combatida. Em geral são os próprios pequenos produtores que

42

comercializam com os excedentes oriundos de uma agricultura familiar, cuja

organização é baseada no cooperativismo/associativismo.

Em contrapartida, o fenômeno das feiras agroecológicas, apesar de ainda se

situar em uma escala ínfima com relação às grandes produções industriais, se

apresenta como uma alternativa viável para a construção de uma economia

solidária, e não solitária; cooperativa, e não competitiva; inclusiva, e não excludente.

Entretanto, como afirma Leite (2013), “É necessário que haja um esforço

conjunto de legisladores, de autoridades para propiciar as condições necessárias e

suficientes que permitam ao ecoempreendedor gerir com eficiência e eficácia [...]”

(LEITE, 2013, p 01).

43

6 DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E O EMPREENDEDORISMO

Neste capítulo os temas desenvolvimento e meio ambiente serão discutidos e

analisados, fazendo uma interface com o empreendedorismo e sua influência.

6.1 A IMPORTÂNCIA DO EMPREENDEDORISMO PARA O DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO

Atualmente o termo “desenvolvimento” tem sido largamente utilizado por

governos de diversos países, sobretudo sendo relacionado ao setor econômico, em

geral se referindo ao crescimento econômico. Há, entretanto, que se fazer uma

distinção básica entre “desenvolvimento” e “crescimento”.

O “desenvolvimento” é um termo utilizado por diversas ciências, como a

biologia, física, história, sociologia, entre outras. Na economia, seu conceito foi

descrito por diversos autores, gerando uma série de teorias que buscam explicar o

fenômeno do desenvolvimento econômico.

Dentre os economistas mais influentes do século passado trazemos mais uma

vez Schumpeter, pelas suas ricas contribuições ao lançar a “Teoria do

Desenvolvimento Econômico” no início do século XX, influenciando o pensamento

econômico até os dias de hoje. Para este autor, desenvolvimento é uma mudança

na vida econômica que rompe com o fluxo circular fechado onde prevalece o

equilíbrio. No fluxo circular pode até haver crescimento econômico, incremento de

mão de obra, mas o desenvolvimento econômico só ocorre a partir de inovações que

destroem a ordem dos fatores que envolvem a produção, criando um novo ciclo

econômico, em um processo que Schumpeter chamou de “destruição criativa”

(SCHUMPETER, 1968, 1997).

Segundo afirmou Schumpeter, em 1911:

O desenvolvimento, no sentido em que o tomamos, é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente (SCHUMPETER, 1997, p.75).

Tão pouco fatores externos podem gerar um desenvolvimento econômico,

pois este tem que surgir de dentro para fora, constituindo-se um movimento

endógeno. “Entenderemos por ´desenvolvimento`, portanto, apenas as mudanças

44

da vida econômica que não lhe forem impostas de fora, mas que surjam de dentro,

por sua própria iniciativa” (SCHUMPETER, 1997, p 74).

O desenvolvimento no sentido em que tomamos só ocorre quando há

inovação, e o agente da inovação é o empreendedor. Sendo assim, Schumpeter

coloca o empreendedor enquanto ator principal do desenvolvimento econômico, pois

é ele que inova ao realizar novas combinações. Tais inovações ocorrem quando há

a introdução de um novo bem ou de uma nova forma de produção, a abertura de um

novo mercado, a conquista de novas matérias-primas ou uma nova forma de

organização de um mercado (SCHUMPETER, 1968).

A seguir apresentamos um quadro com as principais diferenças entre

crescimento e desenvolvimento econômico sob a visão de Schumpeter:

Quadro 5 - Principais diferenças entre o crescimento econômico e o desenvolvimento econômico sob a visão de Schumpeter

CRESCIMENTO

ECONÔMICO

DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO

Há uma tendência para o equilíbrio do

fluxo circular com pequenos

incrementos

Ocorrem mudanças radicais nos

canais da rotina econômica

O fluxo é estático e fechado O fluxo é dinâmico e aberto

O responsável é o administrador O agente principal é o empreendedor

É a necessidade dos clientes que

orienta a produção

A produção influencia as

necessidades

Fonte: O autor

Mesmo esta visão tendo sido elaborada em 1908, quando Schumpeter tinha

apenas 26 anos, está bastante atualizada e as pesquisas contemporâneas sobre o

empreendedorismo demonstram isto. Segundo o Relatório GEM – Global

Entrepreneurship Monitor, publicado em 1999, o empreendedorismo é o principal

fator de desenvolvimento econômico de um país. Uma nação com baixas taxas de

criação de novas empresas caminha para a estagnação econômica. Este fato leva

governos que desejem a prosperidade econômica a colocar o empreendedorismo no

topo das prioridades das políticas públicas, incluindo a formação de um conjunto de

valores sociais e culturais que possam encorajar a criação de novas empresas

45

(DOLABELA, 1999). Mesmo sob o conceito de que empreender é mais do que

simplesmente abrir um negócio, a criação de novas empresas é um forte indicador

para mensurar o empreendedorismo.

6.2 UMA VISÃO CRÍTICA AO MODELO DE DESENVOLVIMENTO

PREDOMINANTE

Nos últimos anos o conceito de desenvolvimento tem passado por

significativas mudanças. Com a revolução industrial, as novas tecnologias e

descobertas científicas têm revolucionado nosso modo de viver e trazido grandes

benefícios para parte da população. Por outro lado, esse mesmo “desenvolvimento”

não foi capaz de resolver problemas que afligem a maior parte desta população

como as injustiças sociais e a eliminação dos recursos finitos (antes tratados como

infinitos) que a natureza nos provê. Talvez esse “desenvolvimento” não tenha

equacionado estas questões pela contradição que há em ser ele mesmo o causador

desses males.

Até pouco tempo, predominantemente o único fator que mobilizava recursos

para esse “desenvolvimento” era o econômico, o que claramente falando, queria

dizer lucro a qualquer custo. E isso é vivido culturalmente, em todos os envolvidos

no processo. O dono da fábrica de brinquedos luta para reduzir ao máximo os custos

e os consumidores procuram comprar o que é mais barato.

Essa é a cultura do individualismo, da escassez e da ignorância, pois como já

foi constatado, a demanda não pode crescer infinitamente e os recursos para essa

produção estão se exaurindo. Ou seja, nem recursos para produzir e nem demanda

para consumir. Esse é o resultado de uma economia baseada no consumo e na

exploração das relações sociais e ambientais.

6.3 ECODESENVOLVIMENTO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A

CULTURA DE SUSTENTABILIDADE

As questões ambientais têm sido discutidas mais profundamente a partir da

década de 70, em um processo de diálogo entre os governos, as empresas privadas

e a sociedade civil que vem se organizando e qualificando suas intervenções.

Atualmente, conceitos como desenvolvimento sustentável, gestão ambiental,

46

ecologia, alimentos naturais, consumo consciente e reciclagem são pautas

permanentes de discussão entre as maiores lideranças mundiais, e entre a

população, o cuidado com o planeta parece ter virado moda.

O debate sobre sustentabilidade tem seu início com o conceito de eco-

desenvolvimento, criado em 1973 pelo canadense Maurice Strong, cujos princípios

foram formulados posteriormente por Ignacy Sachs (SACHS, 1993). Mesmo levando

em consideração o movimento ambientalista surgido na década de 60, foi o eco-

desenvolvimento que uniu esferas antes vistas como antagônicas, como a economia

e o meio ambiente, trazendo a possibilidade de um desenvolvimento econômico

socialmente justo, ambientalmente equilibrado, respeitando-se a cultura dos povos.

Para Sachs (1993), os pontos principais para se atingir o eco-

desenvolvimento são a satisfação das necessidades básicas, a solidariedade com

as gerações futuras, participação das populações envolvidas, a preservação dos

recursos naturais e o meio ambiente, programas de educação e a elaboração de um

sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas .

Entretanto o conceito que se adequou ao discurso político-econômico

internacional e vingou na mídia foi o do desenvolvimento sustentável, lançado em

1987 no Relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum) da ONU –

Organização das Nações Unidas. Foi na Conferência para o Desenvolvimento e

Meio Ambiente de 1992, no Rio de Janeiro, conhecida como ECO-92, que

definitivamente o conceito de desenvolvimento sustentável ganhou força e tomou o

rumo que se segue predominantemente nos dias de hoje (ENLAZADOR, 2010).

Apoiando-se principalmente no segundo ponto do eco-desenvolvimento, “a

solidariedade com as gerações futuras”, o significado para desenvolvimento

sustentável foi se adequando a medida dos interesses dos que o utilizam, o que o

tornou tão elástico que por vezes perde até seu sentido original. De acordo com a

conveniência, os mantenedores do sistema atual de desenvolvimento não-

sustentável se apropriam de um discurso “verde” para perpetuarem o ciclo de

exploração do planeta e dos seres que nele habitam.

Com isso, muitos estudiosos e praticantes vem discutindo conceitos e

modelos que realmente possam trazer um outro olhar sobre o desenvolvimento, que

não apenas o do desenvolvimento econômico que amenize as mazelas sociais e

ambientais, apoiados no consumo frenético e na supressão das culturas locais. É

necessário uma mudança nos meios de produção, nas relações entre humanos e o

47

meio ambiente que ele pertence, enfim, urge uma mudança cultural para que a

continuidade da vida seja possível.

A cultura da sustentabilidade propõe uma mudança na forma de ver as coisas

e rompe com muitos paradigmas estigmatizados que se perpetuam ainda nos dias

de hoje. Para Sachs (1993) há cinco princípios básicos que fundamentam a prática

da sustentabilidade: social, ecológico, econômico, cultural e espacial. Desta forma, a

cultura da sustentabilidade apoia na diminuição das desigualdades sociais, na

preservação do meio ambiente, no desenvolvimento econômico, na autonomia

cultural de cada povo e em uma melhor distribuição dos assentamentos humanos.

6.4 O ECOEMPREENDEDORISMO COMO ALTERNATIVA PARA CONSTRUÇÃO

DE UMA CULTURA DE SUSTENTABILIDADE: A CONTRIBUIÇÃO DO

ECOEMPREENDEDORISMO

Com a acelerada tomada de consciência ecológica mundial, alternativas estão

sendo postas em prática para dar um novo rumo ao desenvolvimento das

sociedades, não mais apenas sob o viés econômico, mas de forma integrada e

harmonizada com o meio em que vivemos. A compreensão de que os seres

humanos fazem parte da natureza e que há uma relação de interdependência entre

os humanos e o ambiente que nos envolve fez com que novas tecnologias fossem

desenvolvidas e novas formas de se empreender fossem criadas.

É nesse contexto que o ecoempreendedorismo se apresenta como

ferramenta de transformação econômica, social, cultural, territorial e ambiental. Um

novo mercado surge, novos produtos e serviços são desenvolvidos para atender a

demanda de consumidores conscientes, e consequentemente um novo

empreendedor deve emergir para atender às mudanças que são exigidas

atualmente.

Atualmente, tendo em vista os danos causados por este modelo de

desenvolvimento, muitos governos estão questionando suas políticas públicas e

tentando repensar a maneira de intervir no meio ambiente. A sociedade civil vem se

organizando para reverter o quadro de degradação ambiental e injustiças sociais, e,

mesmo que por vezes de forma exagerada, promovendo uma mudança nessa

concepção de desenvolvimento. Para boa parte da sociedade, esse modelo de

desenvolvimento além de não ter obtido êxito em trazer bem estar à humanidade,

48

ainda definhou ambientalmente o planeta em que vivemos. Esse contexto

conturbado é que deu origem ao que hoje chamamos de desenvolvimento local

sustentável.

Dentro das múltiplas visões acerca da concepção desses termos, temos os

que creem em uma amenização dos efeitos colaterais do capitalismo e opostamente

os que propõem uma mudança em todo sistema de produção e consumo. A própria

definição de desenvolvimento é controversa, pois o que para alguns pode

representar conforto e padrão de vida elevado, para outros pode ser um mito onde

tenta-se impor um modelo de dominação que vem se perpetuando ao longo de muito

tempo pelas elites que se perpetuam no poder.

Já o conceito de localidade, traz em seu bojo a participação da população de

determinado grupo no processo de desenvolvimento, e não propostas prontas

advindas de mentes que não convivem no mesmo local dos beneficiados do

desenvolvimento. Com isso, desde o planejamento à execução final de uma ação

desenvolvimentista tem de ser orientada a partir das necessidades locais e tendo em

vista os saberes que tal comunidade já construiu a partir de suas vivências. Desta

forma, para que o desenvolvimento seja local, há de se utilizar os recursos e valores

culturais locais, ser desenvolvido por pessoas e instituições locais e beneficiar

sobretudo a população local.

No tocante ao tema da sustentabilidade, apesar das diversas interpretações

que pairam sobre esse jargão, podemos elencar três princípios básicos estão

relacionados a essa forma de desenvolvimento: equidade social, preservação

ambiental, viabilidade econômica. É certo que para alguns a sustentabilidade seria

continuar com a mesma visão de desenvolvimento com um pequeno incremento

“verde”, e, diga-se de passagem: provisório.

De qualquer forma, a sociedade em geral está passando por um processo de

mudança de consciência, e, paulatinamente, novas formas de se relacionar com o

meio ambiente físico estão surgindo. Diariamente novas tecnologias revolucionam

nosso modo de se comunicar, transportar, consumir. Inovações promovem impactos

sociais e econômicos nunca vistos antes. O empreendedorismo voltado para a

promoção de uma cultura de sustentabilidade surge como uma alternativa eficaz

para harmonizar as esferas econômica, ambiental e social (PENALVA SANTOS ET

AL, 2013).

49

Por fim, nossos valores, ideais e práticas estão sempre sendo postos à prova

por essa nova consciência, o que remete irremediavelmente a uma mudança cultural

na sociedade e na forma como nos relacionamos com o meio em que vivemos.

50

7 RESTAURANTES VEGETARIANOS NA CIDADE DO RECIFE

De acordo com os dados do Target Group Index, do IBOPE Media, Recife tem

em sua população 10% que se declaram vegetarianos, acima da média nacional de

capitais entrevistadas que é de 8%, tanto para homens quanto para mulheres

(SOUZA, 2013). Esse resultado indica um mercado a ser atendido por produtos e

serviços e os restaurantes vegetarianos estão no centro deste fenômeno.

Para caracterizar esta pesquisa foi necessário definir o que considerar

“vegetariano”, para assim, selecionar os restaurantes vegetarianos. Existem

inúmeras formas de interpretação do que seria uma pessoa “vegetariana”, assim

como as motivações para quem opta por esta dieta.

O conceito que será utilizado nesta pesquisa é o adotado pela Sociedade

Vegetariana Brasileira onde é considerado vegetariano “todo aquele que exclui de

sua alimentação todos os tipo de carne, aves e peixes e seus derivados, podendo ou

não utilizar laticínios ou ovos” (SVB, 2013). A Coordenadora do Grupo Recife da

Sociedade Vegetariana Brasileira, Bárbara Bastos, alerta ainda para o fato de que o

consumo de derivados de animais quando implica na morte deles também não pode

ser considerado vegetariano. Um exemplo é o caviar, que é a ova do peixe, mas que

para tirá-la é necessário matar o peixe.

As principais diferenças entre os especialistas do tema se encontram na

inclusão dos laticínios e dos ovos no conceito de vegetariano. Nestes casos podem

ser denominados ovo-vegetariano, lacto-vegetariano os mesmo ovo-lacto-

vegetariano. O vegetariano que não se alimenta de ovos e laticínios é comumente

chamado vegetariano estrito. Há ainda os que consideram o semi-vegetariano, ou

seja, aquele que consome carne de animais algumas vezes na semana, entretanto

estes não foram considerados vegetarianos nesta pesquisa, muito menos os

restaurantes que se dizem vegetarianos mas servem algumas opções onívoras.

O quadro a seguir esclarece o que comem os adeptos de cada dieta:

51

Quadro 6 - Tipos de vegetarianismo

T

Tipos

de

dietas

C

Car

nes

O

Ovo

Leites

e

deriva

dos

C

Cerea

is

Legumi

nosas

Oleagi

nosas

Tubér

culos

Frutas

Legu

mes

Verdu

ras

j

OLV

Não

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

LV

Não

Não

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

OV

Não

Sim

Não

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

V

V

Não

Não

Não

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

SV

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

O

O

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Legenda: OVL – Ovo-lacto-vegetariano; LV – Lacto-vegetariano; OV – Ovo-vegetariano; V –

Vegano; SV – Semivegetariano; O – Onívoro

Fonte: Adaptado de Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB, 2012 apud SOUZA et al, 2013)

Outro termo que muitas vezes é confundido com vegetarianismo é o

veganismo. Enquanto o vegetariano estrito não utiliza em sua dieta nenhum animal

nem seus derivados, o vegano exclui do seu consumo os produtos não só

alimentícios, mas todos os que utilizaram a exploração de animais em seu processo

produtivo, como vestuário, higiene e entretenimento, por exemplo. Sendo assim, o

vegano além de ser um vegetariano estrito em sua dieta, não usa roupas de seda, lã

ou couro, não vai a circos que tenham animais ou zoológicos e não utiliza

cosméticos testados em animais.

Diversas razões podem levar uma pessoa a adotar a dieta vegetariana.

Segundo o Guia Alimentar de Dietas Vegetarianas (SVB, 2013) existem 8 motivos

que levam ao vegetarianismo:

52

Quadro 7 - Motivos que levam ao vegetarianismo

Motivos Explicação

Ética

A noção de que os animais são seres sencientes (capazes de sofrer ou sentir prazer e

felicidade) leva o indivíduo a não querer ser co-responsável com o abate e, muitas

vezes, com qualquer outra forma de utilização e exploração de animais para fins

alimentícios, cosméticos, como vestuário etc.

Saúde

Diversos estudos associam efeitos positivos à saúde com a maior utilização de

produtos de origem vegetal e restrição de produtos oriundos do reino animal. A adoção

da dieta vegetariana por esse motivo também inclui a sensação de bem-estar que

alguns indivíduos relatam por não utilizar alimentos cárneos ou derivados de animais.

Meio

ambiente

Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization), de todas as atividades humanas,

a pecuária é a maior responsável por erosão de solos e contaminação de mananciais

aqüíferos. A produção global de carne bovina era de 229 milhões de toneladas entre

1999 e 2001. Estima-se que esse número atinja 465 milhões de toneladas em 2050. A

emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa também é marcante nessa

atividade, especialmente pela produção digestiva dos ruminantes (gases e eructação).

No âmbito das atividades humanas, a pecuária é responsável por 9% do CO2 emitido,

65% do óxido nitroso (296 vezes mais agressivo do que o CO2), 37% do metano (23%

mais nocivo do que o CO2) e 64% da amônia (que contribui de forma marcante com a

chuva ácida). Esse montante corresponde a 18% de todos os gases responsáveis pelo

efeito estufa produzidos pela humanidade. Atualmente, a pecuária utiliza 30% das

terras produtivas do planeta, sendo que outros 33% são destinados à produção de

grãos usados para alimentar esses animais. Além disso, a pecuária é a principal

responsável pelo desmatamento dos principais biomas da natureza e a maior

responsável pela contaminação de mananciais aquíferos. A atual manutenção, em

“estoques vivos”, de 30 bilhões de aves, peixes e mamíferos de dezenas de espécies

exerce uma enorme e inédita pressão sobre todos os ecossistemas. Cada um desses

animais – assim como cada um dos cerca de sete bilhões de animais humanos –

demanda sua porção de terra, água, comida e energia (preponderantemente fóssil),

despeja seus dejetos sobre a terra e gera, direta e indiretamente, emissão de

poluentes no solo, no ar e na água.

Familiares

Com a adoção desse tipo de dieta por pais, cônjuges e familiares, algumas pessoas

são influenciadas e também a adotam.

Espirituais

e religiosos

Religiões como o adventismo, espiritismo, hinduísmo, jainismo, zoroastrismo e

budismo preconizam, em muitos casos, a adoção da dieta vegetariana.

Ioga

Muitos praticantes de ioga adotam a dieta vegetariana com base em princípios

energéticos, éticos ou de saúde. No código de ética iogue, há o preceito ahimsa, a não

violência, que se aplica também aos animais.

Filosofia Alguns indivíduos, por motivos filosóficos diversos, optam por não consumir carne e,

muitas vezes, também seus subprodutos (ovos, leite e queijos).

53

Não

aceitação

do paladar

Não é incomum a recusa do consumo de carne por não aceitação do paladar

Fonte: adaptado de Sociedade Vegetariana Brasileira, 2013

Os motivos acima descritos relacionados com o meio ambiente são

comprovações de que um restaurante vegetariano, em se tratando de um

empreendimento, está repleto de ações ecoempreendedoras, posição corroborada

na entrevista com Bárbara Bastos. Obviamente existem diferentes níveis ecológicos,

e nos restaurantes partícipes desta pesquisa pôde-se observar práticas bem

diferenciadas. Mesmo assim, pelo fato dos empreendedores de restaurantes

vegetarianos estarem realizando ações ecoempreendedoras com grande frequência,

a análise das ações ecoempreendedoras com esse público é justificada.

Sobre o fato dos restaurantes serem considerados empreendimentos, levou-

se em consideração a inovação em relação ao restaurante tradicional, o onívoro.

Inclusive esse movimento ecológico tem relação com o recentemente aumento de

restaurantes que não são vegetarianos oferecendo opções vegetarianas. Estes

restaurantes estão trazendo algo novo para a cidade e contribuindo com o meio

ambiente, o que os faz serem considerados típicos ecoempreendimentos.

Para definir os restaurantes que puderam ser considerados vegetarianos no

Recife utilizou-se da entrevista com Bárbara Bastos, que nos disponibilizou o

Formulário de Cadastramento de Restaurantes para o Projeto “Reciveg”, documento

organizado pelo Grupo Recife da Sociedade Vegetariana Brasileira com o intuito de

listar os restaurantes com opções vegetarianas. Desta lista foram selecionados

apenas os restaurantes que servem exclusivamente alimentação vegetariana, dentro

do espectro ovo-lacto-vegetariano. Foram identificados 8 restaurantes vegetarianos

na cidade do Recife. Segundo a coordenadora, não há registro de restaurante que

sirva apenas opções vegetarianas estritas. Também não foi considerado restaurante

vegetariano as lanchonetes e casas de sucos, atentando para o fato de que

restaurantes servem refeições completas.

54

8 AS AÇÕES EMPREENDEDORAS NOS RESTAURANTES VEGETARIANOS DA

CIDADE DO RECIFE

O Teste da Ação Empreendedora proposto por Lenzi e Santiago (2010) foi

aplicado em um empreendedor de cada restaurante vegetariano do Recife

encontrado nesta pesquisa, totalizando 8 (oito) sujeitos. Este teste consiste em 10

(dez) perguntas diretas e fixas, cujas opções de resposta oferecem sempre 3 (três)

alternativas. Para cada uma delas é atribuído uma pontuação diferente, podendo ser

1 (um) ponto para as ações pouco empreendedoras; 3 (três) pontos para moderadas

e 5 (cinco) pontos para ações empreendedoras efetivas.

Cada questão requer uma análise específica, levando-se em consideração as

tendências médias centrais. Ao final das 10 questões os pontos são somados e as

análises de cada empreendedor são feitas em três blocos: de 10 a 24 pontos; de 25

a 39 pontos e de 40 a 50 pontos, com ordem crescente em relação ao nível de

empreendedorismo.

Por fim, pode-se obter a pontuação total dos empreendedores e a média do

nível de empreendedorismo por cada empreendedor, trazendo dados que

demonstrem um perfil de como está o nível de ações empreendedoras nos

restaurantes vegetarianos do Recife.

8.1 ANÁLISES ESPECÍFICAS POR QUESTÃO

A seguir apresentaremos as análises específicas que foram realizadas para

cada questão, buscando identificar padrões gerais nas respostas obtidas e

relacioná-las com a teoria discutida ao longo deste estudo:

Questão 1:

Letra Pontuação Escolhas

A 5 7

B 3 1

C 1 0

55

Ao serem perguntados o que fazem ao pensar em iniciar uma ação

empreendedora, 7 dos 8 empreendedores afirmaram que “vão atrás de informações

seguras e organiza-as de forma objetiva”, apenas 1 “elabora planos e guarda-os

para o futuro” e nenhum “fica sonhando com os resultados que pode obter”.

Este resultado corrobora com o conceito adotado neste estudo e consagrado

por muitos autores: o empreendedor deve colocar em prática suas ideias, deve

realizar ações empreendedoras e não ficar só sonhando com bons planos mentais.

Bem ressaltou Schumpeter (1961) a supracitada diferença entre invenção e

inovação, colocando a ação prática enquanto ponto determinante. Também foram

fundamentais as contribuições neste tema de Drucker (1986) e Leite (2012),

apresentando sempre o empreendedorismo enquanto prática de vida baseada pelo

espírito empreendedor.

Questão 2:

Letra Pontuação Escolhas

A 1 0

B 5 7

C 3 1

Quando se deparam com algum problema, 7 dos 8 participantes buscam

alternativas eficazes para resolvê-lo, enquanto apenas 1 espera as consequências

para buscar uma solução. Atribuições empreendedoras citadas no quadro 1 revelam

algumas características presentes nestas respostas como:

a) Iniciativa (Schumpeter, 1928, 1934, 1942, 1949, 1967, 1982; Shapero, 1977,

1980; Drucker, 1986, 2002; Cooley, 1990; Dolabela, 1999; Dornelas, 2003

apud Lenzi e Santiago 2010);

b) Resolução de problemas (Dutra, 2004 apud Lenzi e Santiago, 2010);

c) Revés positivo (Sexton, 1980 apud Lenzi e Santiago, 2010), o que significa

uma resposta proativa aos problemas que surgem no dia a dia de um

empreendedor.

Questão 3:

Letra Pontuação Escolhas

56

A 3 3

B 5 5

C 1 0

Diante de duas alternativas que possam gerar resultados, 5 de 8

empreendedores responderam que buscam entender sozinho os aspectos

envolvidos e colocar em prática a alternativa mais conveniente. 3 responderam que

esperam discutir com outras pessoas para decidir o melhor caminho e uma

respondeu que evita decidir e espera que outros resolvem por ele.

A tomada de decisão foi apontada por Bruce (1976) enquanto competência do

empreendedor, assim como a autonomia e independência por Hornaday & Aboud

(1971), Shapero (1977, 1980) e Dunkelberg & Cooper (1982). Timmons (1978)

ressaltou a centralização de controle e Weber (1917) e Hartman (1959) a autoridade

formal (Lenzi & Santiago, 2010).

Todas essas competências estão relacionadas com a ação empreendedora

em questão e o fato de mais da metade dos entrevistados terem respondido que

tomam essas decisões sozinhos reforçam a tese de que os empreendedores

centralizam o poder movidos por seus traços de autonomia e independência.

Entretanto, a alternativa “a” representa os empreendedores que esperam para

discutir com algumas pessoas e escolher o melhor caminho, tipicamente opção de

um perfil mais participativo. Ocorre que essa alternativa equivale a 3 pontos,

significando uma ação menos empreendedora, o que na opinião do autor deste

estudo, não ocorre necessariamente. Este fato terá de ser levado em consideração

ao somar a pontuação total de cada entrevistado, pois o potencial empreendedor

pode estar subdimensionado.

Questão 4

Letra Pontuação Escolhas

A 3 0

B 1 0

C 5 8

57

Todos participantes responderam que quando têm uma boa ideia de ação

empreendedora buscam imediatamente informações para se organizar e viabilizar

pragmaticamente. Nos outros extremos haviam as opções de guardar a ideia e

esperar ou agir imediatamente. A opção prudente dos empreendedores em tela

demonstra que há uma tendência em calcular os riscos, assumindo, entretanto,

minimizando sua ocorrência, afinal, a busca é pelo sucesso.

O risco como vimos está vinculado aos primórdios da utilização do termo

“empreendedor”, por Richard Cantillon (FILION, 1999), mas refutado por Weber

(1930) e Schumpeter (1961) ao ser distinguido da função do empreendedor, sendo

para estes últimos atribuições do capitalista. Uma tendência mais contemporânea

aborda esse comportamento enquanto uma possibilidade de tomar decisões

moderadamente arriscadas (FILION, 1999), o que talvez tenha sido fruto de

pesquisas como essas que revelam esta tendência.

Entretanto o aspecto mais relevante nessa questão talvez habite na

capacidade que o empreendedor tem de detectar oportunidades de negócios

(FILION, 1999) e pô-las em prática. Para Leite (2012), um empreendedor precisa ter

visão para criar oportunidades e dedicação para obter sucesso e gerar riquezas

(LEITE, 2012). Esta questão também confirma a atualidade do pensamento de

Drucker (1986), que identificava os empreendedores de forma mais racional e

prudente, em detrimento do emotivo e impulsivo (DRUCKER, 1986) representado

pela alternativa “b”: agir imediatamente para realizar a ideia.

Questão 5

Letra Pontuação Escolhas

A 5 8

B 3 0

C 1 0

Nessa questão os empreendedores revelam como solucionam problemas

graves, tendo sido escolhida por todos a resposta “pede rapidamente a opinião de

pessoas de confiança e decide por juntar as melhores alternativas”. As outras

opções de respostas representavam uma delegação parcial ou integral da

58

responsabilidade do problema e nenhum empreendedor do setor de restaurantes

vegetarianos do Recife escolheu-as.

Diversos autores trabalham com a hipótese de que uma das características

centrais dos empreendedores é sua propensão a assumir responsabilidades (Sutton,

1954; Davids, 1963; Welsh & White, 1981; Fleury, 2000, 2002 apud Lenzi e

Santiago, 2010). O resultado desta questão corrobora com a visão destes autores e

demonstra mais uma vez uma tendência centralizadora da parte do empreendedor.

Neste caso aparentemente se pode associar o fato de que 7 dos 8 os restaurantes

vegetarianos participantes desta pesquisa são empresas privadas com fins

lucrativos, o que favorece esta forma de gestão.

Questão 6

Letra Pontuação Escolhas

A 1 0

B 3 1

C 5 7

Esta questão é relacionada diretamente com “como as ações são postas em

prática”. Ao serem perguntados sobre como reagem quando tem algo muito

importante a fazer, 7 responderam que agem rapidamente, 1 respondeu que não

tem pressa e nenhum afirmou que espera se animar para começar a agir.

Como foi discutido ao longo deste estudo, só há empreendedorismo quando

há ação empreendedora. Os empreendedores então tomam uma postura ativa,

saindo do campo das ideias e agindo no dia a dia.

Questão 7

Letra Pontuação Escolhas

A 1 0

B 5 4

C 3 4

Quando perguntados acerca das prioridades ao tomar uma ação

empreendedora, metade respondeu “b” - que independente da ação e sua

intensidade, sempre o empreendimento será prioridade – e a outra metade

59

respondeu “c” – que precisa se preparar adequadamente mesmo levando mais

tempo. Nenhum respondeu no sentido da comodidade em busca de estabilidade e

pouco trabalho como sugeria a alternativa “a”.

Neste caso, diversas características comportamentais foram descritas por

renomados autores enquanto fundamentais para empreendedores, quais sejam:

a) energia e dedicação (SCHUMPETER, 1997);

b) persuasão (Spencer & Spencer , 1993 apud Lenzi e Santiago, 2010);

c) entrega e engajamento (Fleury, 2000, 2002 apud Lenzi e Santiago, 2010);

d) determinação, firmeza e prontidão (Klerk & Kruger, 2003 apud Lenzi e

Santiago, 2010).

Questão 8

Letra Pontuação Escolhas

A 5 3

B 3 5

C 1 0

Esta questão requer um cuidado especial. Foi perguntado aos

empreendedores de que depende seu empreendimento para ter sucesso. A

alternativa “a” representava os que acreditam que só depende dele próprio, “b” dele

e outras pessoas e “c” de fatores externos como financiamento e impostos. Ocorre

que pela lógica do teste, a ação mais empreendedora é aquela que acredita que o

sucesso só depende de quem a realiza, e pelo fato de o empreendedor saber que

precisa de outras pessoas, mais empreendedores marcaram a opção “b”.

Isoladamente este fato é interessante pois traz a noção de autoconfiança

(Davids, 1963; Welsh & White, 1981 apud Lenzi e Santiago, 2010) relativizada entre

os empreendedores pesquisados. Entretanto ao se somar os pontos dos

empreendedores que creem que seu sucesso depende dele e de outras pessoas,

será concluído que as ações destes são menos empreendedoras, correndo um risco

de equívoco em alguns casos.

60

Questão 9

Letra Pontuação Escolhas

A 3 1

B 5 7

C 1 0

A questão 9 pergunta ao empreendedor o que faria primeiramente se

estivesse muito bem empregado e tivesse o sonho de ter um empreendimento

próprio. A maioria absoluta (7) respondeu que buscaria alternativas fora do emprego

para não depender dele e investir seu tempo e recursos.

De acordo com o que foi discutido durante este estudo, o empreendedor age

movido principalmente por necessidade de realizar algo e pelo desejo de mudança

em si, os desafios e a conquista inerentes a quem se arrisca, e não apenas por

ganhar melhor remuneração em um emprego estável. Ainda se admite a

possibilidade de o empreendedor que respondeu a alternativa ”a” sugerindo que se

capacitaria e buscaria estar entre os melhores da empresa em que trabalha, pode

ser um caso de intraempreendedorismo, também detalhado neste estudo.

No caso de ecoempreendimentos esse fato se potencializa, tendo em vista

que os empreendedores estão envolvidos com uma ideologia: a melhoria das

condições ambientais em nosso planeta. Para o empreendedor de restaurantes

vegetarianos será muito mais provável se realizar neste empreendimento do que

trabalhando em uma empresa que não contemple seus ideais, mesmo que ofereça

melhores condições de trabalho e remuneração.

Questão 10

Letra Pontuação Escolhas

A 3 1

B 1 0

C 5 7

Por último, essa questão defronta o empreendedor com uma crise financeira.

7 entrevistados afirmaram que procurariam informações, renegociariam suas dívidas

e buscariam soluções. Apenas um disse que iria aguardar os acontecimentos para

61

tomar decisões e nenhum afirmou que venderia o empreendimento e procuraria um

bom emprego.

Essa é a saga dos trabalhadores por conta própria. Da mesma forma que

funcionam os mercados, assim também ocorre com os empreendedores. Se

arriscam mais que os conservadores, como é o caso de uma crise, mas as

possibilidades de retorno, seja ele qual for, são indefinidas.

8.2 ANÁLISE GERAL DAS AÇÕES EMPREENDEDORAS

Segundo Lenzi e Santiago (2010), os empreendedores que somaram de 10 a

24 pontos precisam evoluir em suas ações empreendedoras. São indivíduos que

fogem de problemas ou se afobam para fazer as coisas desordenadamente. Os que

somaram de 25 a 39 pontos estão no meio do caminho, podendo evoluir para um

quadro de ações inovadoras ou regredir para comportamentos de acomodação. Já

os que marcaram mais de 40 pontos são considerados indivíduos com ações

efetivamente empreendedoras.

A seguir a quantidade de pontos que cada empreendedor somou:

Empreendedor Pontuação

A 44

B 44

C 46

D 42

E 48

F 44

G 48

H 50

Como demonstrado, todos os empreendedores de restaurantes vegetarianos

do Recife que foram entrevistados atingiram mais de 40 pontos, confirmando que

realizam ações efetivamente empreendedoras e por isso podem ser chamados de

empreendedores.

A faixa que atingiram é bem estreita, pois poderiam se situar de 8 a 50

pontos, mas se mantiveram de 42 a 50. Este fato facilita generalizações e padrões

para esse tipo de empreendedor – o ecoempreendedor de restaurantes vegetarianos

do Recife – pois a média central de pontos foi 45,75, demonstrando

homogeneização dos participantes da pesquisa.

62

Gráfico 1 – Total de pontos por empreendedor

Fonte: O autor

Analisando estes tipos de atores enquanto grupo, somou-se 366 pontos,

montante bem superior aos 320 pontos que marcam o limite para as ações

efetivamente empreendedoras. Isso significa que os ecoempreendedores de

restaurantes vegetarianos do Recife executam ações realmente empreendedoras.

Deve-se ainda levar em consideração que nas questões 3 e 8 foram

levantados argumentos que puderam subdimensionar o potencial de

empreendedorismo nas ações. Sendo assim, esses números apresentados acima

podem ser de fato ainda maiores.

38

40

42

44

46

48

50

A B C D E F G H

PONTUAÇÃO

63

9 CONCLUSÕES

Neste último capítulo será apresentado um resumo das conclusões obtidas ao

longo deste estudo. Há de se levar em consideração as limitações às quais foram

enfrentadas, como o parco material acerca do ecoempreendedorismo e a própria

metodologia utilizada, que não atinge, mesmo sem se ter essa pretensão, a

totalidade dos elementos que abrangem as ações empreendedoras.

9.1 CONCLUSÕES DOS CONCEITOS BÁSICOS SOBRE O

EMPREENDEDORISMO

A partir dos posicionamentos tomados com relação aos temas apresentados e

discutidos, este estudo propõe as seguintes definições conceituais:

Quadro 8 – Conceitos que envolvem o tema do empreendedorismo

Termo Conceito

Empreender Agir de forma inovadora, envolvendo algum grau de risco,

gerando algo novo ou uma nova maneira de fazer algo.

Empreendedor Indivíduo que empreende, que age de forma empreendedora

com frequência, que já possui um comportamento

empreendedor baseado em atitudes empreendedoras.

Empreendedorismo Fenômeno do ato de empreender, das ações empreendedoras.

Empreendimento Resultado do ato de empreender, o fruto das ações

empreendedoras.

Perfil do

empreendedor

Age movido por necessidade de realizar algo, pelo desejo de

mudança, sendo esses altruísticos ou egoístas. Esse espírito

empreendedor pode ser nato e/ou desenvolvido enquanto

comportamento do indivíduo.

Fonte: O autor, 2014

64

9.2 CONCLUSÕES SOBRE AS DIFERENTES FORMAS DE SE EMPREENDER

a) As organizações podem ser naturais ou sociais. As sociais se dividem nas

que são de interesse individual e nas de interesse coletivo. Diante da

infinidade de elementos que podem influenciar as organizações, uma

categorização genérica se torna difícil, levando-se em consideração as

relações complexas desse contexto;

b) Existem muitos tipos de empreendedorismo, a depender de qual a sua

finalidade (comercial, social, ambiental, etc), de quem o executa (proprietário

ou funcionário), em que tipo de organização (com o sem fins lucrativos, etc),

se é uma organização nova ou se já existe, se é uma ou várias pessoas que

estão empreendendo, entre tantas outras possibilidades;

c) Desta forma sugerimos também uma definição para o ecoempreendedorismo,

sendo aqueles que têm por finalidade a preservação ambiental.

9.3 CONCLUSÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE EMPREENDEDORISMO E

SUSTENTABILIDADE

Tanto pelos autores clássicos quanto pelas pesquisas recentes, o

empreendedorismo demonstra ser uma ferramenta fundamental para o

desenvolvimento econômico, preservação ambiental, equidade social e respeito

cultural, elementos-chave para a construção de uma cultura de sustentabilidade;

9.4 CONCLUSÕES SOBRE RESTAURANTES VEGETARIANOS

a) Diante do conceito de vegetariano adotado nesta pesquisa, pôde-se identificar

8 restaurantes vegetarianos na cidade do Recife, não sendo nenhum deles

considerado vegetariano estrito;

b) Diante dos impactos devastadores no meio ambiente decorrentes do uso da

carne e frente à inovação que estão promovendo, os restaurantes vegetarianos

estão repletos de ações ecoempreendedoras.

9.5 CONCLUSÕES SOBRE A AÇÃO EMPREENDEDORA NOS RESTAURANTES VEGETARIANOS DO RECIFE

65

a) As ações praticadas nos restaurantes vegetarianos do Recife são

extremamente empreendedoras, tendo em vista que todos os entrevistados

atingiram pontuação elevada no teste. Este dado confirma que os que

praticam essas ações podem ser considerados empreendedores e seus

restaurantes, empreendimentos;

b) Quando os empreendedores de restaurantes vegetarianos do Recife tem uma

ideia, buscam informações seguras, organizam e põe em prática,

característica que confirma a teoria discutida ao longo deste estudo;

c) Não há uma tendência que prevaleça um perfil empreendedor do tipo

participativo ou centralizador;

d) As características mais fortes dos empreendedores de restaurantes

vegetarianos do Recife são:

Figura 2 - Principais características dos empreendedores de restaurantes vegetarianos do

Recife a partir de suas ações

Fonte: O autor

empreendedor

iniciativa

resolve

problemas

determinação

necessidade

de

realização

dedicação

assume

responsa

bilidades

visão

revés positivo

assume riscos calculados

66

Desta forma, conclusões advindas da pesquisa de campo corroboram com as

pesquisas teóricas, pois as características dos empreendedores são as mesmas e

os dados comprovam os conceitos relacionados com o empreendedorismo,

especificamente a partir das ações empreendedoras.

67

REFERÊNCIAS

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68

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SACHS, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI. In: BURSZTYN, M (Org.). Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993.

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WEBER, Max. The protestant ethic and spirit of capitalismo. Trad. De Talcott Parsons. New York: Scribner, 1930.

69

APÊNDICE - TESTE DA AÇÃO EMPREENDEDORA

1 – Quando pensa em iniciar uma ação empreendedora:

a) Vai atrás de informações seguras e organiza-as de forma objetiva;

b) Elabora planos de ação e guarda-os para o futuro;

c) Fica sonhando com os resultados que pode obter.

2 – Quando se depara com algum problema:

a) Fica se lamentando por não ter tomado outra atitude antes de ele

acontecer;

b) Busca alternativas para resolvê-lo da forma mais eficaz;

c) Prefere aguardar para ver as consequências e depois buscar alguma

alternativa para resolvê-lo.

3 – Quando está diante de duas alternativas para gerar um resultado:

a) Espera para discutir com algumas pessoas os melhores caminhos a

seguir;

b) Procura rapidamente entender os aspectos envolvidos em cada

alternativa para poder colocar em prática a que for mais conveniente no

momento;

c) Evita decidir e espera alguém resolver antes de você.

4 – Quando tem uma boa ideia de ação empreendedora:

a) Guarda para si e fica esperando o melhor momento para levantar

informações;

b) Parte para a ação visando não perder tempo;

c) Corre imediatamente atrás de informações para se organizar e analisa

a viabilidade da ideia.

5 – Quando é responsável por solucionar alguma situação grave:

a) Pede rapidamente a opinião de pessoas de confiança e decide por

juntar as melhores alternativas;

b) Assume a decisão, mas envolve mais gente para compartilhar a

responsabilidade;

70

c) Tenta repassar a responsabilidade de decisão, evitando ficar com o

problema nas mãos.

6 – Quando tem algo muito importante a fazer:

a) Antes de qualquer coisa, espera se animar para começar a agir;

b) Vai com calma, mesmo sabendo que é bem importante, afinal, nada

tem tanta pressa;

c) Respira fundo, arregaça as mangas e parte para a ação, afinal, se

esperar muito, o problema pode aumentar.

7 – Quando pensa em uma ação empreendedora particular, as

prioridades são determinadas seguindo o raciocínio:

a) Aquilo que puder fazer para ter mais estabilidade, sem ter muito

trabalho;

b) Não se importa com que tipo ou intensidade de trabalho, quando se

trata do empreendimento é foco principal;

c) Não age em nenhuma situação sem antes se preparar

adequadamente, mesmo que demore um pouco.

8 – O sonho de ver seu empreendimento ter sucesso depende:

a) Apenas de você e de mais ninguém. Não espera que os outros façam a

sua parte;

b) De conseguir viabilizar as condições para realizar o projeto de sucesso,

o que muitas vezes envolve outras pessoas;

c) De ajuda que pode conseguir com financiamento, redução de impostos

e outros fatores.

9 – Se você estivesse muito bem empregado e tivesse o sonho de ter um

empreendimento próprio, em primeiro lugar:

a) Pensaria em se capacitar para garantir uma posição melhor no

emprego, buscando estar sempre entre os melhores;

b) Procuraria alguma alternativa fora do emprego para investir seu tempo

e recursos e não depender exclusivamente do emprego;

71

c) Faria o possível para manter o emprego, trabalhando exaustivamente

no horário determinado para sua jornada.

10 – Ao ter de enfrentar uma crise financeira no seu empreendimento,

você:

a) Aguardaria para ver o que ocorreria nos tempos futuros antes de tomar

alguma decisão;

b) Buscaria uma alternativa de venda do empreendimento e procuraria um

bom emprego;

c) Procuraria saber o que está acontecendo e partiria imediatamente para

negociar as dívidas e encontrar alternativas de solução.