UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA RENATO ANDRÉ AZEVEDO PELEGRINI PEREZ SUSTENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE POR MEIO DA LOGÍSTICA REVERSA Lorena 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

RENATO ANDRÉ AZEVEDO PELEGRINI PEREZ

SUSTENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE POR MEIO DA

LOGÍSTICA REVERSA

Lorena

2014

RENATO ANDRÉ AZEVEDO PELEGRINI PEREZ

SUSTENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE POR MEIO DA

LOGÍSTICA REVERSA

Monografia apresentada como requisito parcial

para a conclusão de Graduação do Curso de

Engenharia Química.

Orientador: Prof. Dr. Pedro Carlos de Oliveira

Lorena

2014

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA AFONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Perez, Renato André Azevedo Pelegrini SUSTENTABILIDADE E LUCRATIVIDADE POR MEIO DALOGÍSTICA REVERSA / Renato André Azevedo PelegriniPerez; orientador Pedro Carlos Oliveira. - Lorena,2014. 75 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaQuímica - Escola de Engenharia de Lorena daUniversidade de São Paulo. 2014Orientador: Pedro Carlos Oliveira

1. Logística reversa. 2. Sustentabilidade. 3.Lucratividade. I. Título. II. Oliveira, Pedro Carlos,orient.

Dedicatória

Aos meus pais, Wanderley e Mariza.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Wanderley Perez e Mariza Aparecida Azevedo Perez, por

todo apoio, amor e carinho que me deram durante toda a minha vida.

Aos meus irmãos, Rodrigo A. A. P. Perez e Thiago T. A. P. Perez pela

companhia e amizade.

Ao meu amigo Guilherme Alves Ferreira que sempre confiou em mim e me

incentivou a seguir adiante.

À minha namorada Débora Viana Costa por todo apoio, paciência,

confiança, amor e carinho.

Ao Prof. Dr. Pedro Carlos de Oliveira pela sua paciência, orientação e

ajuda nessa fase final.

Aos amigos, colegas e familiares aqui não mencionados, mas que me

ajudaram a trilhar esse caminho.

A todos os funcionários da Escola de Engenharia de Lorena, pela

oportunidade, atenção, aprendizado e concretização do curso de Engenharia

Química.

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”

Antoine Lavoisier

RESUMO

PEREZ, R. A. A. P. Sustentabilidade e lucratividade por meio da Logística Reversa. 2014, 71 f. Trabalho de conclusão de curso – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

Este trabalho teve como objetivo explorar os princípios da Logística Reversa e, com base na literatura, indicar como esse processo pode ser sustentável e lucrativo. Adicionalmente, foram apresentados os possíveis benefícios advindos da aplicação desse novo método para uma companhia que venha a utilizá-lo e para a sociedade em geral. A Logística Reversa tem se tornado cada vez mais importante no contexto nacional e internacional à medida que se faz necessário reduzir os problemas causados pelo descarte incorreto e obter uma balança ambiental positiva. A gestão pública gradualmente tem incentivado a implementação da Logística Reversa nas empresas, visando o controle de resíduos para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e redução do impacto ambiental. A conscientização ecológica da sociedade e a busca natural de corporações por maior lucratividade vêm pressionando as empresas a adotarem novos procedimentos para atender as expectativas de seus clientes e acionistas. Espera-se que ao longo deste trabalho, fique claro como a Logística Reversa se propõe a auxiliar no alcance dessas metas.

Palavras chave: Logística Reversa. Sustentabilidade. Lucratividade.

ABSTRACT

PEREZ, R. A. A. P. Sustainability and profitability by Reverse Logistics. 2014, 71 p. Monograph – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

The objective of this study is to explore the elements of Reverse Logistics and based on literature, to demonstrate how it can be a sustainable and profitable process. In addition, it presents the possible benefits of this new method’s application that may provide to a company and to the society. The Reverse Logistics has become increasingly more important along the time both in the national and in the international context as it is necessary to reduce the problems caused by the improper disposal and achieve an environmental positive balance. The Government has gradually incentivized the application of Reverse Logistics at companies, with the target of waste control quality improvement for the citizens and the reduction of environmental impact. The environment awareness of society and the search for profitability by corporations have been pushing enterprises into adopting new procedures to meet the expectations of their clients and shareholders. It is expected that throughout this work, it will be clear how Reverse Logistics may be a useful tool to the achievement of these goals.

Keywords: Reverse Logistics. Sustainability. Profitability.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Escopo da logística empresarial ............................................................................... 22

Figura 2 – Um modelo de gerenciamento da cadeia de suprimento .................................... 23

Figura 3 – A evolução da logística para cadeia de suprimentos. .......................................... 24

Figura 4 - Atividades típicas do processo logístico reverso. .................................................. 27

Figura 5 - Fluxos reversos: agregando valor ............................................................................ 31

Figura 6 - Canais de distribuição diretos e reversos ............................................................... 32

Figura 7- Índice de abrangência da coleta de RSU. ................................................................ 43

Figura 8 - Destinação final de RSU (t/dia) ................................................................................. 44

Figura 9 - Destinação final dos RSU coletados no Brasil ....................................................... 44

Figura 10 - Iniciativas de coleta seletiva nos municípios em 2013 ....................................... 45

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Histórico da legislação ambiental brasileira e suas implicações para as

empresas ........................................................................................................................................ 39

Tabela 2 - Áreas de lixões reabilitados ...................................................................................... 46

Tabela 3 - Redução dos resíduos secos dispostos em aterro. .............................................. 47

Tabela 4 - Redução do percentual de resíduos úmidos disposto em aterros. .................... 47

Tabela 5 - Valores de referência para as matérias-primas. ................................................... 56

Tabela 6 - Consumo de plástico – Ano 1, fase anterior à Logística Reversa. ..................... 57

Tabela 7 - Mão de obra – Ano 1, fase anterior à Logística Reversa..................................... 58

Tabela 8 - DRE da empresa Plasquedo – Ano 1, fase anterior à Logística Reversa. ....... 59

Tabela 9 - Consumo de plástico – Ano 2, fase de implementação da Logística Reversa. 60

Tabela 10 - Mão de obra – Ano 2, fase de implementação da Logística Reversa em

comparação com Ano 1. .............................................................................................................. 61

Tabela 11 - DRE da empresa Plasquedo – Ano 2, fase de implementação da Logística

Reversa em comparação com Ano 1. ........................................................................................ 62

Tabela 12 - Consumo de plástico – Ano 3, fase plena Logística Reversa. ......................... 63

Tabela 13 - Mão de obra – Ano 3, fase de implementação da Logística Reversa em

comparação com Anos 1 e 2. ...................................................................................................... 64

Tabela 14 - DRE da empresa Plasquedo – Ano 3, fase plena da Logística Reversa em

comparação com o Ano 2. ........................................................................................................... 64

Tabela 15 - DRE da empresa Plasquedo – Ano 3, fase plena da Logística Reversa em

comparação com o Ano 1. ........................................................................................................... 65

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 12

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 14

2.1 Sustentabilidade ........................................................................................................ 14

2.2 Desenvolvimento sustentável .................................................................................... 15

2.2.1 Economia verde ..................................................................................................... 16

2.3 Lucratividade ............................................................................................................. 17

2.4 Logística .................................................................................................................... 19

2.4.1 Evolução ................................................................................................................ 19

2.4.2 Definição ................................................................................................................ 20

2.4.3 Cadeia de Suprimentos .......................................................................................... 22

2.5 Logística Reversa ...................................................................................................... 24

2.5.1 Definição ................................................................................................................ 26

2.5.2 Logística Reversa de pós-venda e pós-consumo ................................................... 27

2.5.3 Canais de distribuição reversos .............................................................................. 31

2.5.4 A Logística Reversa no mundo ............................................................................... 34

2.5.5 A Logística Reversa no Brasil ................................................................................. 35

2.6 A legislação ambiental brasileira ............................................................................... 37

2.7 Vantagens ambientais da Logística Reversa ............................................................. 41

2.7.1. Cenário atual do descarte de resíduos no Brasil ................................................... 42

2.7.2 Cenário previsto de pós-aplicação da Logística Reversa........................................ 46

2.8 Vantagens econômicas da Logística Reversa ........................................................... 48

3. OBJETIVOS ................................................................................................................ 53

4. METODOLOGIA .......................................................................................................... 55

4.1 Introdução ................................................................................................................. 55

4.2 Aplicação da Logística Reversa em uma empresa fictícia ......................................... 55

5. RESULTADOS ............................................................................................................ 57

5.1 Plasquedo: Fase anterior à Logística Reversa .......................................................... 57

5.2 Plasquedo: Fase de implementação da Logística Reversa ....................................... 59

5.3 Plasquedo: Fase plena da Logística Reversa ............................................................ 62

6. CONCLUSÃO ............................................................................................................. 67

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 68

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1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento constante de novos produtos, a facilidade de acesso e

o estímulo ao consumo desenfreado têm causado grandes impactos ambientais,

econômicos e sociais. A responsabilidade principal pelos danos gerados pertence

à gestão pública, à sociedade e as empresas produtoras.

Dados da Abrelpe (2014) demonstram que no ano de 2013, 7,3 milhões de

toneladas de resíduos sólidos urbanos deixaram de ser coletados e dos 69,1

milhões de resíduos coletados, 41,7% foram inadequadamente descartados em

lixões ou aterros controlados. O descarte incorreto compromete a qualidade de

vida da sociedade e prejudica o meio ambiente.

A fim de modificar esse cenário, contribuindo com o bem estar da

população e com a preservação ambiental, entrou em vigor, em agosto de 2010, a

Lei 12.305/10 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), cujo

texto define metas para redução do descarte inadequado e cria o conceito de

responsabilidade compartilhada sobre os resíduos, estruturando a obrigatoriedade

da implementação da Logística Reversa pelos fabricantes, distribuidores e

comerciantes (Senado Federal, 2012).

A implantação desse processo pode ser vantajosa para as empresas, pela

possibilidade de aumento da produtividade e lucratividade. Segundo Guarnieri

(2011), “todas as decisões que forem tomadas na implementação de programas

de logística reversa terão impacto direto no volume de vendas, no volume de

gastos, no preço e, principalmente, na lucratividade da empresa”. Portanto, a

logística reversa, se aplicada de modo planejado e consciente, pode tornar-se

uma estratégia de crescimento e geração de lucros para a empresa.

Levando esta premissa em consideração, e também o papel da gestão

pública na redução do impacto ambiental, e considerando os pressupostos de

Zheng (2011) é possível dizer que o governo deve surgir como o principal agente

instigador da adoção dos procedimentos de logística reversa pelas empresas. Em

resumo, segundo Zheng (2011), o governo deve incentivar todas as empresas

(desde a microempresa até a de grande porte) a adotar procedimentos de

logística reversa, pois assim, ao mesmo tempo em que garantem maior lucro,

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estabelecem melhor imagem a seu público por ser uma empresa que não lança

seus produtos ao meio ambiente.

O presente trabalho pretende definir, por meio de revisão bibliográfica, os

conceitos de logística, logística reversa, sustentabilidade, desenvolvimento

sustentável e lucratividade e demonstrar a importância da logística reversa em

proporcionar maior controle de resíduos sólidos enquanto simultaneamente

melhora os resultados financeiros da empresa e a imagem da mesma perante a

sociedade.

Para melhor ilustrar e exemplificar os benefícios econômicos

proporcionados pela logística reversa quando aplicada em uma empresa será

apresentado um exemplo de uma empresa fictícia, que inicialmente não utilizava

o processo e passou a utilizá-lo, e consequentemente teve impactos em seu

resultado.

A justificativa deste trabalho pode ser verificada por intermédio da

observância de três perspectivas: social, científica e pessoal. A importância social

deste trabalho pode ser descrita pelo fato de que, com sua concretização,

maiores conhecimentos sobre os benefícios da adoção da logística reversa serão

elucidados para todas as empresas, incitando-as à possibilidade de adoção deste

método.

A importância científica refere-se aos subsídios primordiais para

embasamento teórico que este trabalho poderá oferecer a outras pesquisas cujo

tema seja condizente com logística reversa e sua acepção de auxílio à

lucratividade no âmbito empresarial e à preservação ambiental. E, por último, a

importância pessoal é notada pelos conhecimentos adquiridos pelo autor da

pesquisa, por intermédio do entendimento da dinâmica, funções e características

da logística reversa, o que permitiu a abertura de oportunidades para ingresso

profissional em uma empresa ou, ainda, na abertura do próprio negócio.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Sustentabilidade

A preocupação com o meio ambiente e a percepção de que ele não

representava uma fonte inesgotável de recursos começou a ganhar credibilidade

na década de 1970, após uma série de desastres e desequilíbrios ambientais,

acarretando na convocação da primeira conferência global voltada a este tema.

Realizada em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente Humano lançou as bases para uma nova agenda ambiental que

relacionava preservação, direitos humanos, desenvolvimento e gestão de

recursos naturais (Senado Federal, 2012).

Segundo Passos (2009), esta conferência foi a responsável por propiciar a

consolidação das mais indispensáveis bases à moderna política ambiental

adotada pela imensa maioria dos países nos seus respectivos ordenamentos

jurídicos. É, portanto, caracterizada pelo despertar da consciência das nações

sobre essa realidade, fazendo com que surgissem, também, novos movimentos

ecologistas e preservacionistas.

Em meio à discussão, a conscientização ambiental e a emergente

necessidade de preservação, Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute,

introduziu, na década de 1980, o conceito de sustentabilidade, em que uma

comunidade sustentável é definida como aquela capaz de satisfazer as próprias

necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras (Trigueiro e

Capra, 2008 apud Brown).

O ideal da sustentabilidade apresenta-se como as condições que garantem

a continuidade da sociedade humana e suas circunstâncias sociais e econômicas,

de tal maneira que seus membros possam exercer suas necessidades com

qualidade, mas sem prejudicar o ecossistema, a fim de permitir a manutenção da

biodiversidade e evitar a escassez de recursos, para que as sociedades futuras

possam usufruir da mesma capacidade produtiva.

Trigueiro e Capra (2008), partindo da definição de Brown, afirma que não é

preciso inventar as comunidades humanas sustentáveis a partir do zero, mas é

possível moldá-las de acordo com os ecossistemas naturais que possuem a

capacidade intrínseca de manter a vida. Assim, as comunidades devem ser

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planejadas de modo que o estilo de vida, negócios, atividades econômicas,

estruturas físicas e tecnologias não interfiram nessa capacidade dos

ecossistemas.

2.2 Desenvolvimento sustentável

Os padrões de consumo elevado, verificados desde o século XX, aliados

ao consequente aumento da utilização de matéria-prima e produção em alta

escala para suprir as necessidades da sociedade, demonstraram a fragilidade da

capacidade do ambiente em prover os recursos necessários para manter a

qualidade de vida da população.

Na visão de Bellen (2005), a crescente consciência sobre os problemas

ambientais gerados por padrões de vida incompatíveis com o processo de

regeneração do meio ambiente é que levou ao aparecimento, a partir da década

de 1970, do conceito de desenvolvimento sustentável.

Em 1972, mesmo ano da realização da Conferência das Nações Unidas

para o Meio Ambiente Humano (Senado Federal, 2012), ocorre a publicação do

relatório “Os Limites do Crescimento" (Meadows et al. 1972), encomendado pelo

Clube de Roma, na época, um grupo de empresários, políticos e cientistas que

discutiam, sobretudo, temas de importância ambiental.

De acordo com Roncaglio e Janke (2012), esse relatório obteve grande

repercussão, pois previa que, se fosse mantido o ritmo de crescimento, o

esgotamento dos recursos naturais e a poluição industrial seriam inevitáveis. E,

por meio de um modelo de análise sistêmico, assinalava as principais tendências

do ecossistema mundial, baseado em cinco parâmetros: industrialização

acelerada, forte crescimento populacional, insuficiência crescente da produção de

alimentos, esgotamento dos recursos não renováveis e degradação irreversível

do meio ambiente.

Em suma, o relatório demonstrava que com a manutenção de um modelo

de desenvolvimento não vinculado à preservação do ambiente, os sistemas

econômicos e populacionais entrariam em colapso.

Com o debate acirrado desses temas, a Organização das Nações Unidas

(ONU) cria uma comissão para desenvolver uma nova agenda de mudanças em

relação ao desenvolvimento e à conservação, a Comissão Brundtland. O relatório

16

“Nosso futuro comum”, lançado pela comissão em 1987, destacava, segundo Rios

e Lange (2005), a reorientação dos caminhos do desenvolvimento, a adoção de

novas formas de conduta e a consciência de que apenas a ação integrada

poderia levar o mundo ao desenvolvimento sustentável.

Dessa maneira, antes do final do século XX, o desenvolvimento sustentável

já era um conceito compreendido como a melhor maneira de garantir o

crescimento sem comprometer o ambiente. O conceito definido por Lubchenco

(1991) para desenvolvimento sustentável, e abordado por Rios e Lange (2005), é

aquele que atende da melhor forma possível às necessidades atuais e futuras do

homem sem afetar o ambiente e a diversidade ecológica.

Faz-se necessário, portanto, manter o crescimento e a produção sem

esgotar os recursos disponíveis, e, para tanto, os modelos tradicionais de

crescimento econômico, produção desenfreada e encorajamento do consumo não

podem ser mantidos, é preciso implementar o desenvolvimento sustentável por

meio do planejamento e conscientização, com a diminuição do uso de recursos, e

a aplicação de conceitos como reciclagem.

2.2.1 Economia verde

Os temas referentes à sustentabilidade e desenvolvimento sustentável

ganharam grande espaço e atenção no século XXI, e sua importância já é de

conhecimento de grande parte da sociedade. Na visão de Tachizawa e Andrade

(2011), o novo contexto econômico se caracteriza por uma rígida postura dos

clientes voltada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas,

que tenham boa imagem institucional no mercado e que atuem de forma

socioambientalmente responsável.

Cada vez mais, os clientes conscientizados passam a valorizar e

reconhecer as práticas de sustentabilidade nas organizações e empresas das

quais consomem, logo optam pelas que desenvolvem ações ecologicamente

corretas, pois já possuem suas necessidades quantitativas e qualitativas

atendidas.

A gestão socioambiental, ainda segundo Tachizawa e Andrade (2011), é

um importante instrumento gerencial para capacitação e criação de condições de

competitividade para as organizações, qualquer que seja o seu segmento

17

econômico. Assim, tecnologias limpas, projetos de desenvolvimento sustentável,

gestão de resíduos sólidos industriais e a reciclagem de materiais transformaram-

se, na última década no principal foco de negócios de diversas empresas.

O portal da Fundação Dom Cabral (2013), esclarece que o mercado verde

representa uma alteração no comportamento do mercado e do consumidor. O

primeiro, pela mudança no processo produtivo, tornando-o mais sustentável, com

menor impacto ao meio ambiente, custo energético menor e maior

responsabilidade social. O segundo, pela opção por produtos mais sustentáveis e

mais saudáveis.

No mercado verde, na visão de Donaire (2012), os consumidores já estão

satisfeitos em suas necessidades quantitativas, mas passam a preocupar-se com

o conteúdo dos produtos e a forma como são feitos, rejeitando os que lhes

pareçam mais agressivos ao meio ambiente.

A busca por produtos ambientalmente adequados pelos consumidores e a

conscientização das empresas de que é preciso inserir o cuidado e a gestão

ambiental em sua estratégia abre espaço para uma nova economia pautada no

ganho de competitividade por meio de um posicionamento ambientalmente

sustentável.

Dessa maneira, conforme explica Tachizawa e Andrade (2011), a gestão

ambiental não é apenas uma atividade filantrópica ou tema para ecologistas e

ambientalistas, e sim uma atividade que pode propiciar ganhos financeiros para

as empresas. E a sustentabilidade desloca-se uma vez mais, deixando de ser

uma função exclusiva de proteção para tornar-se também uma função de

administração.

2.3 Lucratividade

Segundo o SEBRAE (2014), a lucratividade é um indicador de eficiência

operacional obtido sob a forma de valor percentual e que indica qual é o ganho

que a empresa consegue gerar sobre o trabalho que desenvolve. Na prática,

significa o que a empresa agregou sobre o trabalho de produção e

comercialização do seu produto.

Ferrari (2010) explica que a lucratividade é obtida ao dividirmos o lucro

líquido pela receita bruta de um determinado período, ela indica o percentual de

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receita bruta que "sobra" após serem pagas todas as despesas, ou seja, o

percentual de lucro.

Para melhor compreensão das definições acima, é importante esclarecer

os termos “receita bruta” e “lucro líquido”. Segundo Souza e Borinelli (2012), a

receita bruta contempla o valor de prestação de serviços ou venda de

mercadorias/produtos efetuados pela entidade; já o lucro ocorre quando o valor

de receitas e ganhos supera o valor de despesas e perdas.

Um dos maiores objetivos de qualquer empresa é elevar sua lucratividade,

e, de acordo com o portal da empresa Vince – Soluções e Tecnologias (2014),

especializada na melhoria de produtividade, há duas maneiras principais para

atingir tal objetivo: aumentando os preços ou aumentando a produtividade.

Neste trabalho, o aumento da produtividade será considerado como a

melhor opção de aumento de lucratividade, e será baseado ainda nos

pressupostos da empresa Vince (2014) que explica que se uma empresa possui o

monopólio do mercado, ela tem condições de aumentar o preço para conseguir

aumentar a lucratividade. No entanto, em um mercado onde há concorrência

entre as empresas, o preço deixa de ser definido por elas e passa a ser definido

pelo mercado, e normalmente, a tendência do preço é de queda. Assim, uma

empresa que participa deste mercado não tem a opção de aumentar o preço para

aumentar sua lucratividade, sua única opção é aumentar a produtividade.

Produtividade, nas palavras de Chiavenato (2005) é a relação ótima entre

insumos e resultados, isto é, entre custos e benefícios, entre recursos aplicados e

o volume produzido. Aumentar a produtividade significa aumentar a produção sem

aumentar o volume de recursos, por meio da racionalização e de novas

tecnologias por exemplo.

Para atingir o objetivo de elevar sua lucratividade, a empresa deve investir

na redução de custos, ou seja, aumento de produtividade. Para tanto ela pode

utilizar-se de novas ferramentas que auxiliem na redução de recursos e

otimização da produção. A logística reversa se apresenta como uma dessas

novas possibilidades de redução de custos, conforme será discutido

posteriormente.

19

2.4 Logística

2.4.1 Evolução

A logística existe desde tempos primitivos, quando era utilizada para o

transporte e estocagem de mercadorias para o consumo. No entanto, atualmente,

sua importância é destacada pelo âmbito estratégico e competitivo que ela

confere.

Os povos mais antigos, de acordo com Ballou (2004), consumiam os

produtos em seus lugares de origem ou os levavam para algum local para

armazenamento. Contudo, devido à inexistência de sistemas desenvolvidos de

transporte e armazenagem, o movimento das mercadorias limitava-se àquilo que

a pessoa conseguia fazer por suas próprias forças, e os bens perecíveis só

podiam permanecer guardados por prazos muito curtos, o que normalmente

obrigava as pessoas a viver perto das fontes de produção e as limitava ao

consumo de uma escassa gama de mercadorias.

Todo esse acesso limitado às mercadorias devido à ineficiência ou

inexistência de sistemas adequados, além de limitar a variedade do consumo,

também dificultava as transações comerciais e o intercâmbio de produtos.

A melhoria dos sistemas logísticos propiciou uma elevação nos padrões

socioeconômicos e também facilitou o desenvolvimento do comércio

internacional, ao passo que, inicialmente, nas palavras de Banzato (2005), a

logística focalizou-se no transporte, movimentação e armazenagem de materiais,

com ênfase maior na função do que no processo.

Ballou (2004) ainda esclarece como ocorreu essa melhora, afirmando que

o consumo e a produção experimentaram uma separação geográfica. A produção

excedente de uma região poderia então ser enviada, com vantagem econômica, a

outras áreas produtoras (ou consumidoras), e os artigos necessários, mas de

escassa ou inexistente produção local, seriam importados.

Apesar desse enfoque inicial sobre a movimentação da produção até o

consumidor final, foi na área militar que os estudos sobre Logística foram

aperfeiçoados, afinal os militares precisavam de condições operacionais seguras

e planejadas para suas ações em campo.

20

Buller (2012) explica que há séculos os militares estudam e desenvolvem

sistemas logísticos em virtude das necessidades de planejamento, alojamento e

deslocamento de tropas com seus devidos suprimentos, visando operações

eficientes e eficazes no campo de batalha. Algumas ferramentas logísticas

militares compunham-se de rotas de acesso para abastecimento dos alojamentos

e para incursões no campo inimigo, sistemas de transporte de suprimentos, meios

de acomodação de cargas e sistemas de comunicação, planejamento antecipado

das operações, bem como a elaboração de planos de ação para situações

imprevistas.

Com a evolução dos sistemas logísticos militares veio a percepção de que

a logística, quando utilizada estrategicamente, podia oferecer vantagens em

relação a concorrência também no âmbito empresarial e não apenas militar.

Segundo Buller (2012) estudiosos e organizações levaram os conceitos de

logística militar aos negócios de modo sistêmico, identificando a influência do

gerenciamento logístico nas atividades empresariais tal qual os militares,

expandindo seu papel para além de um apoio operacional. O suporte estratégico

das atividades logísticas nos empreendimentos comerciais deixava de ser visto

como "custo" e passava a Figurar como elemento criador de vantagem

competitiva frente a concorrência.

A logística, portanto, deixou de ser considerada apenas um instrumento de

transporte e estocagem e ganhou nova importância, sendo vista como

participante definitivo da estratégia de uma empresa. Era o início do

desenvolvimento da logística empresarial que existe na atualidade.

2.4.2 Definição

Logística é definida por Gomes e Ribeiro (2004) como o processo de

gerenciar estrategicamente a aquisição, a movimentação e o armazenamento de

materiais, peças e produtos acabados (e os fluxos de informação correlatos) por

meio da organização e dos seus canais de marketing, de modo a poder maximizar

a lucratividade presente e futura com o atendimento de pedido a baixo custo.

Como complementação à definição acima, Moura (2006) explica que a

logística constitui um elo entre o mercado e as várias funções empresariais,

designadamente a produção e o “marketing”: a produção, gerindo os processos

21

de fabrico, de forma a obter produtos competitivos em termos de custo, qualidade

e etc. e o “marketing”, orientado para o consumidor, procurando compreender e

satisfazer as suas necessidades.

O “Council of Supply Chain Management Professionals” (2013) forneceu

uma definição de logística que engloba seu caráter interno e externo,

conceituando Logística como o processo de planejar, implementar e controlar

procedimentos para o transporte eficiente e eficaz dos movimentos de entrada e

saída, internos e externos, e armazenagem de mercadorias, incluindo serviços e

informações relacionadas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com

o propósito de conformidade com os requisitos dos clientes.

A logística, portanto, é um sistema estratégico responsável pela

organização, movimentação de materiais e produtos, armazenamento e controle

de mercadorias em todo o seu processo produtivo, zelando pela eficiência a fim

de reduzir os custos internos e externos e garantindo a entrega ao consumidor

final. Dessa maneira, a logística vincula materiais, produção e clientes e nas

palavras de Vieira (2009), seu papel é fundamentalmente de coordenação e

integração de todos os agentes e atividades, por meio de um fluxo de informação

ágil e eficiente, exercendo um papel fundamental em qualquer estratégia

competitiva empresarial. A Figura 1 demonstra os processos realizados pela

logística para atingir a organização e administração dos materiais e produtos e

também a correta distribuição dos produtos.

22

Figura 1 - Escopo da logística empresarial

Fonte: Carrera, 2008, apud Ballou, 1993.

2.4.3 Cadeia de Suprimentos

Segundo Vieira (2009), à integração das atividades dá-se o nome de

cadeia de suprimentos definida como uma rede de organizações integradas

desde os fornecedores de matérias-primas até os consumidores finais.

De uma maneira mais elaborada, o “Council of Supply Chain Management”

(2013) explica que a cadeia de suprimentos envolve o planejamento e a gestão de

todas as atividades envolvidas no fornecimento e aquisição, produção, e logística.

Inclui a coordenação e colaboração com parceiros de distribuição, que podem ser

fornecedores, intermediários, prestadores de serviços terceirizados e clientes. Em

essência, integra a oferta e a gestão da demanda dentro e por meio de empresas,

pois é uma função de integração com a responsabilidade primária na efetuação

de negócios principais, dentro e entre empresas, de modo coeso e de alto

desempenho. Além de todas as atividades de gestão logística referidas

anteriormente, também inclui as operações de fabricação, e que impulsiona a

coordenação de processos e atividades com marketing, vendas, formato de

23

produto, finanças e tecnologia da informação. A Figura 2 mostra as áreas

envolvidas em uma cadeia de suprimentos, seus objetivos finais e principais e as

inter-relações dos parceiros de distribuição.

Figura 2 – Um modelo de gerenciamento da cadeia de suprimento

Fonte: Mentzer et al., 2001, p. 19.

Segundo Moura (2006), enquanto a Logística, tradicionalmente, centra sua

atenção na coordenação e nos movimentos de produtos e informação no âmbito

da organização individual, a cadeia de suprimentos preocupa-se com todo canal

logístico.

A cadeia de suprimentos é, portanto, um conceito que ultrapassa a

logística, ela integra as áreas de uma organização, seus parceiros e clientes,

englobando os principais processos e as atividades relacionadas, desde a origem

dos insumos até o consumo do produto final, serviços e informações que agregam

valor, como “marketing” e serviços de atendimento ao cliente.

A Figura 3 apresenta a evolução dos processos produtivos internos de uma

empresa, que antes eram fragmentados em diversos departamentos não

integrados, depois foram integrados pela Logística, aumentando a

interdependência entre eles, e por fim foram abrangidos pela cadeia de

suprimentos que também engloba outros processos como finanças e serviços de

24

informação e facilita o gerenciamento de toda a produção e seus parceiros de

distribuição.

Figura 3 – A evolução da logística para cadeia de suprimentos.

Fonte: Ballou, 2004, apud Yuva, 2002, p.50.

2.5 Logística Reversa

Embora seja fácil pensar em logística como sendo simplesmente o

gerenciamento do fluxo dos produtos dos pontos de aquisição das matérias-

primas até o consumidor final, a vida de um produto, do ponto de vista logístico,

conforme Ballou (2004), não se encerra com a entrega ao consumidor. Produtos

tornam-se obsoletos, danificados ou inoperantes e são devolvidos aos seus

pontos de origem. A cadeia de suprimentos se encerra somente com o descarte

final de um produto, e esse processo também precisa ser considerado como parte

do escopo de planejamento e controle logístico.

Os produtos, após sua utilização, quando deixam de ter os mesmos valores

iniciais aos seus consumidores, passam a ser considerados resíduos e são

descartados. De acordo com Souza e Fonseca (2009), a melhor destinação

desses resíduos é aquela em que o binômio meio ambiente e lucro estejam

25

combinados de tal forma que tanto as diretrizes do meio ambiente quanto o

resultado financeiro sejam satisfatórios.

A Logística Reversa é a área da cadeia de suprimentos responsável pela

destinação dos produtos após seu descarte, reintegrando-os ao ciclo produtivo.

Guarnieri (2011) explicita essa função, afirmando que a Logística Reversa visa a

eficiente execução da recuperação de produtos e tem como propósitos a redução,

a disposição e o gerenciamento de resíduos tóxicos e não tóxicos, cumprindo o

papel de operacionalizar o retorno dos resíduos de pós-venda e pós-consumo ao

ambiente de negócios/e ou produtivo, considerando que somente dispor resíduos

em aterros sanitários, controlados ou lixões não basta no atual contexto

empresarial.

Esse contexto é marcado pela crescente conscientização ambiental e

postura dos consumidores frente a questões ecológicas que entram em conflito

com a utilização irrefreável de insumos e com o descarte intenso de resíduos no

meio ambiente. As preocupações da sociedade, que passa a prezar e a exigir

atitudes ecologicamente corretas e sustentáveis, exerce pressão sobre governos

e empresas, trazendo a necessidade de delimitar novas estratégias que englobem

a geração de lucros e riquezas aliados à adoção de práticas sustentáveis.

Essa visão é explicada por Leite (2009), segundo o qual, o crescimento da

sensibilidade ecológica coletiva tem sido acompanhado por ações de empresas e

governos, visando amenizar os efeitos mais visíveis dos diversos tipos de impacto

ao meio ambiente, protegendo a sociedade e a seus próprios interesses, pois

além das possíveis oportunidades econômicas, a questão da sustentabilidade

empresarial também defende a imagem corporativa da empresa.

A Logística Reversa, a partir da revalorização e reaproveitamento de

resíduos, possibilita tanto retorno econômico como ambiental. Conforme Guarnieri

(2011) ampara-se na sustentabilidade ecológica e econômica, comprovando que

existem possibilidades do desenvolvimento econômico caminhar ao lado do

desenvolvimento ambiental.

26

2.5.1 Definição

Segundo Ferreira (2012), nos anos 80, a Logística Reversa era

considerada apenas um movimento contrário ao fluxo direto de produtos na

Cadeia de Suprimentos, mas já na década de 90, devido a crescente

preocupação ambiental, o conceito evoluiu e novas abordagens surgiram. Foi

neste período, que as empresas passaram a ver na Logística Reversa uma

importante fonte de redução de perdas (Chaves e Batalha, 2006).

Para Rogers e Tibben-Lembke (1999), Logística Reversa é o processo de

planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e de baixo custo de

matérias primas, estoque em processo, produto acabado e informações

relacionadas, desde o ponto de consumo até o ponto de origem, com o propósito

de recuperação de valor ou descarte apropriado para coleta e tratamento de lixo.

Nas palavras de Novaes (2004), a Logística Reversa cuida dos fluxos de

materiais que se iniciam nos pontos de consumo dos produtos e terminam nos

pontos de origem, com o objetivo de recapturar valor ou oferecer disposição final.

E de acordo com Leite (2003), seu objetivo é possibilitar o retorno dos bens ou de

seus materiais constituintes ao ciclo produtivo ou de negócios, agregando valor

econômico, ecológico e legal.

O conceito atual mais bem aceito é fornecido pelo “Council of Supply Chain

Management” (2013) que define Logística Reversa como o processo de planejar,

implementar e controlar procedimentos para o transporte eficiente e eficaz, e

armazenagem de mercadorias, incluindo serviços e informações relacionadas, de

um segmento especializado com foco na movimentação e gestão de produtos e

de recursos após a venda e a entrega ao cliente, incluindo devoluções de

produtos para reparação ou ainda compensação financeira.

A Logística Reversa, portanto, é uma área integrante da Cadeia de

Suprimentos, que relaciona a indústria produtora com outros parceiros de

distribuição, e em especial, o consumidor final, sendo responsável pelo fluxo de

redirecionamento dos produtos descartados pelos clientes às indústrias,

agregando valor e reintegrando-os ao processo produtivo, ou descartando-os

adequadamente, ou seja, que gere e destina os resíduos dos produtos após a

venda ou consumo. Conforme Vaz (2012), a Logística Reversa representa um

fluxo oposto a logística, ou seja, se a logística tradicional tem como missão

27

distribuir produtos novos para seus clientes, a Logística Reversa coletará os

produtos considerados velhos, obsoletos, danificados, ou inúteis e os

movimentará de modo a fornecer disposição final ou tratamento adequado, que

pode ser a reciclagem, a reutilização, a remanufatura etc.

A Figura 4 apresenta, resumidamente, o funcionamento da Logística

Reversa, desde a coleta do produto retornado até sua destinação adequada.

Figura 4 - Atividades típicas do processo logístico reverso.

Fonte: Chaves e Batalha, 2006, apud Lacerda, 2003, p. 478. Adaptado.

2.5.2 Logística Reversa de pós-venda e pós-consumo

Há duas áreas distintas de atuação na Logística Reversa, a de pós-

consumo e a de pós-venda. Leite (2002) explica que ambas se diferem pelo

estágio ou pela fase do ciclo de vida útil do produto retornado, assim, o produto

logístico e os canais de distribuição reversos pelos quais fluem, bem como os

objetivos estratégicos e técnicas operacionais utilizadas em cada área de atuação

são, normalmente, distintos.

Dessa maneira, cada área é responsável pelo tratamento e destinação de

diferentes tipos de produtos no que tange a seu ciclo de vida e contribuem de

maneiras diversas com a empresa que a prática. A Logística Reversa de pós-

venda cuida da destinação dos produtos sem uso ou com pouco uso que

sofreram devolução por diversas razões, já a Logística Reversa de pós-consumo

28

trata dos produtos e materiais já utilizados e descartados pelos consumidores

finais, mas que ainda podem ser reciclados, desmanchados ou reutilizados.

Segundo Hernández (2010), o retorno de produtos de pós-venda proporciona

ganhos que se evidenciam na fidelização de clientes, na competitividade por

custos de serviço e na imagem empresarial; já no retorno de produtos pós-

consumo, os ganhos manifestam-se na competitividade de custos pelas

economias na confecção do produto e também na imagem empresarial.

A Logística Reversa de pós-venda, segundo Leite (2002), se ocupa da

operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes de

bens de pós-venda, sem uso ou com pouco uso, que retornam aos diferentes elos

da cadeia de distribuição direta. Seu objetivo é o de agregar valor a um produto

logístico que é devolvido por razões comerciais, por erros no processamento de

pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento no

produto, avarias no transporte, entre outros motivos. A Logística Reversa deve,

portanto, planejar, operar e controlar o fluxo de retorno dos produtos de pós-

venda pelos motivos de “Garantia / Qualidade”, “Comerciais” e “Substituição de

Componentes”.

Devoluções por “Garantia / Qualidade”, são motivadas por defeitos de

fabricação ou de funcionamento, avarias no produto ou na embalagem etc. Esses

produtos poderão ser submetidos a consertos ou reformas que os permitam

retornar ao mercado primário ou a mercados secundários, agregando-lhes valor

comercial novamente (Leite, 2002).

Os motivos “Comerciais” são retornos devidos a erros de expedição,

excesso de estoques no canal de distribuição, mercadorias em consignação,

liquidação de estação de vendas, pontas de estoques etc., que serão retornados

ao ciclo de negócios pela redistribuição em outros canais de vendas (Leite, 2002).

“Substituição de Componentes” referem-se aos bens duráveis e

semiduráveis retornados para substituição de componentes em manutenções e

consertos ao longo de sua vida útil e que são remanufaturados, quando

tecnicamente possível, e retornam ao mercado primário ou secundário, ou são

enviados à reciclagem ou para um destino final, na impossibilidade de

reaproveitamento (Leite, 2002).

Carrera (2008) apud Figueiredo (2002) expõe a existência de diversos

fatores sociais, econômicos e concorrenciais que, ora combinados, contribuem

29

para o crescente interesse das organizações pelas questões relacionadas à

Logística Reversa de pós-venda, contribuindo para que haja uma diferenciação

perante seus concorrentes na busca da satisfação e ao mesmo tempo a fidelidade

de seus clientes.

Oferecer serviços de qualidade, diferenciação e assistência técnica de pós-

venda aos clientes tornam-se determinantes àquelas empresas que buscam

diferenciar-se em um mercado cada vez mais competitivo (Carrera, 2008).

Os serviços de reparação, constantes das políticas de pós-venda,

oferecidos ao cliente quando seus produtos apresentam defeitos ou componentes

que precisam ser substituídos, propiciam maior satisfação e confiança ao

consumidor, assim como os acordos de devolução por motivos comerciais,

estimulam o cliente à fidelização com a empresa. Além disso, o retorno de

materiais avariados ao mercado após reparo garante a redução das perdas da

empresa. Dessa maneira, a empresa fortalece sua marca e ganha mais confiança

dos clientes, obtendo maior fidelização deles.

A Logística Reversa de pós-consumo se caracteriza por produtos oriundos

de descarte após a utilização e que podem ser reaproveitados de alguma maneira

e, somente em último caso, descartados (Chaves e Batalha, 2006; Rogers e

Tibben-Lembke, 1999). Trata dos bens no final de sua vida útil, assim como dos

bens usados com possibilidade de reutilização e dos resíduos industriais

(Guarnieri, 2011). Dessa maneira, esse fluxo logístico cuida do planejamento,

operacionalização e controle do fluxo de retorno dos produtos de pós-consumo ou

de seus materiais constituintes classificados em função de seu estado de vida e

origem: “Em condições de uso”, “Fim de vida útil”, e “Resíduos Industriais” (Leite,

2002).

A classificação “Em condições de uso” refere-se às atividades em que o

bem durável e semidurável apresenta interesse de reutilização sendo sua vida útil

estendida em mercado de 2ª mão, por meio do canal reverso de reuso (Leite,

2002).

“Fim de vida útil”, na área de atuação de duráveis ou semiduráveis, entrará

no canal reverso de Desmontagem e Reciclagem Industrial, sendo desmontados

na etapa de “desmanche”, seus componentes poderão ser aproveitados ou

remanufaturados, retornando ao mercado secundário ou à própria indústria,

sendo uma parcela destinada ao canal reverso de “Reciclagem”. Já, no caso de

30

bens de pós-consumo descartáveis, havendo condições logísticas, tecnológicas e

econômicas, os produtos de pós-consumo são retornados por meio do canal

reverso de “Reciclagem Industrial”, onde os materiais constituintes são

reaproveitados e se constituirão em matérias-primas secundárias, que retornam

ao ciclo produtivo, ou no caso de não haver as condições necessárias, serão

destinadas ao “Destino Final” (Leite, 2002).

A aplicação da Logística Reversa proporciona ganhos à empresa, tanto

econômicos quanto ambientais e relativos à sua imagem. Os ganhos econômicos

na logística reversa de pós-consumo ficam evidentes pela redução de custos que

a reutilização de matérias-primas e componentes advindos da reciclagem e do

desmanche acarreta e pela revenda de produtos ainda em condições de

utilização, além da revalorização de materiais que seriam descartados. Ademais,

a empresa ganha em imagem e competitividade, pois seus clientes estão

inseridos em uma sociedade que cada vez mais demonstra preocupação com

questões ambientais e valoriza ações de preservação e de sustentabilidade,

reconhecendo a atuação da empresa em favor do meio ambiente ao reaproveitar

ou descartar adequadamente os materiais e resíduos que produz.

Conforme Leite (2003), o objetivo econômico da implantação da Logística

Reversa de pós-consumo se refere às economias relacionadas com o

aproveitamento das matérias-primas secundárias ou provenientes de reciclagem,

bem como da revalorização dos bens pela reutilização e reprocesso.

A Figura 5 resume os benefícios individuais e comuns das duas áreas da

Logística Reversa apresentados acima.

31

Figura 5 - Fluxos reversos: agregando valor

Fonte: Chaves e Batalha, 2006, apud Leite 2003, p. 207.

2.5.3 Canais de distribuição reversos

Canais de distribuição reversos são as etapas, as formas e os meios em

que os produtos, com pouco uso após a venda, com ciclo de vida útil ampliado ou

após extinta a sua vida útil, retornam ao ciclo produtivo ou de negócios (Leite,

2003).

A Figura 6 apresenta os principais canais de distribuição reversos, a saber:

a reciclagem, desmanche, reuso e retorno.

32

Figura 6 - Canais de distribuição diretos e reversos

Fonte: Leite, 2009. Adaptado.

De acordo com Cavallazzi e Valente (2010), a reciclagem se configura

como a transformação de componentes e materiais usados para serem

reincorporados na fabricação de novos produtos. Alguns exemplos que podem ser

citados são o aço, em que a sucata de produtos descartados é misturada ao

mínimo de ferro em indústrias siderúrgicas; as latas de alumínio, cujo grande

aproveitamento de matéria prima reciclada é notável, com meios inovadores na

coleta de latas descartadas; os pneus, cartuchos de tintas de impressora e

garrafas pet, cujos materiais reciclados não voltam para a empresa de origem,

mas são fontes de matéria prima para indústrias completamente diferentes.

Um exemplo real da aplicação bem sucedida da reciclagem é o caso da

empresa Panasonic, instalada no Japão, onde a Logística Reversa está em

destaque. O grupo proprietário da marca Panasonic construiu um centro de

reciclagem de eletrodomésticos. Os equipamentos descartados pelos

consumidores são coletados pela empresa por meio de uma rede para coleta de

máquinas de lavar, TVs, aparelhos de ar condicionado ou refrigeradores em 47

pontos de coleta no Japão e periodicamente as cargas recebidas são enviadas ao

centro para serem recicladas. Em 2005, foram reciclados mais de 700 mil

33

eletrodomésticos. Os materiais são vendidos nos mercados de metais ou outros

tipos de matéria prima (Cavallazzi e Valente, 2010).

O canal reverso de reuso é definido como aquele que possibilita a extensão

do uso de um produto de pós-consumo ou de seu componente, com a mesma

função pela qual foi originalmente concebido, ou seja, sem nenhum tipo de

remanufatura (Dias, 1993).

Exemplos práticos do canal reverso de reuso podem ser encontrados nas

embalagens retornáveis, cujo valor sobrevive ao consumo do produto, e são

passíveis de serem reutilizadas por várias vezes estabelecendo um fluxo de ida,

na entrega dos produtos, e um fluxo de retorno, normalmente vazias para serem

reutilizadas, tais como as garrafas de vidro, contêineres, caixas de papelão,

tambores, paletes e recipientes plásticos retornáveis (Muraro et al., 2006).

O desmanche, por sua vez, se dá pela revalorização de um produto que

sofre um processo industrial de desmontagem no qual seus componentes em

condições de uso são enviados para remanufatura ou para o mercado de peças

usadas (Acosta et al., 2010).

A desmontagem e revenda de peças de veículos e aviões são os exemplos

mais conhecidos de desmanche. No Brasil, a frota de carros tem idade média

superior a 10 anos e a de caminhões, superior a 20 anos. Esses carros antigos,

quando já não estão mais em condições de uso, são simplesmente abandonados

nas ruas das cidades ou apreendidos por órgãos de trânsito e entulhados em

depósitos a céu aberto. Na cidade de São Paulo são abandonados em média 1,5

mil carros por ano. Expostos ao tempo dessa maneira, não têm o adequado

recolhimento dos fluidos contaminantes e nem podem ter seus materiais

reaproveitados (Barcellos, 2013).

Na Logística Reversa de pós-venda, são diversos os canais reversos de

retorno desenvolvidos pelas empresas. No e-commerce (comércio eletrônico), por

exemplo, o nível de devoluções pelos clientes é de 10% das vendas no Brasil.

Devido ao elevado volume de retorno, as empresas buscam desenvolver redes de

retorno com tecnologia e desempenho para não terem comprometidos seus

resultados ou relações com os diversos elos da cadeia (Leite, 2009).

Outro caso de Logística Reversa é o da redistribuição de produtos

provenientes de excesso de estoque em outros canais, que serão

comercializados em promoções de vendas no varejo ou pontas de estoques. A

34

redistribuição propicia excelentes resultados econômicos quando direcionados às

regiões de melhor giro, aproveitando a diferença de estações climáticas entre

hemisférios (Carmo et al, 2008).

2.5.4 A Logística Reversa no mundo

A legislação ambiental encontra-se em diferentes estágios nos diversos

países, envolvendo diferentes aspectos do ciclo de vida útil de um produto, desde

a fabricação e o uso de matérias-primas até sua disposição final e a dos produtos

que o constituem. Novos princípios de proteção ambiental estão sendo formados

em diversos países desenvolvidos, tal como, o de EPR (“Extended Product

Responsability” ou Responsabilidade Estendida do Produto) que preconiza a ideia

de que o produtor ou a cadeia industrial deve ter a responsabilidade pelo seu

produto até a decisão correta do seu destino após o seu uso original. (Cavallazzi

e Valente, 2010).

Nos países desenvolvidos, cujas legislações evidenciam a Logística

Reversa e a responsabilidade do produtor sobre toda extensão do ciclo de vida do

produto, há grandes avanços e também muitos casos de sucesso.

Países como Portugal, Espanha, Inglaterra, Alemanha e mais

recentemente, o Brasil, desenvolvem modelos de Logística Reversa baseados na

responsabilidade compartilhada, em que o consumidor, a indústria, o varejo e o

governo possuem funções distintas e complementares na gestão dos resíduos

sólidos urbanos (Niehues, 2013).

A importância que a Logística Reversa recebe nos Estados Unidos,

evidencia-se pelos custos direcionados a essa área nas grandes empresas norte

americanas, que contabilizam cerca de 4% dos custos logísticos totais, um valor

estimado de 35 a 42 bilhões de dólares ao ano e que representa a importância

dada ao melhoramento dos processos envolvidos com os produtos e materiais

retornados (Chaves e Batalha, 2006, apud Norek, 2003; Rogers e Tibben-

Lembke, 1999; Meyer, 1999). Neste mesmo país, algumas leis específicas

estaduais incentivam o uso de produtos fabricados com materiais reciclados;

adotam sistemas tributários diferenciados para canais reversos; ou exigem

equilíbrio de produção e reciclagem. (Bouzon e Rodriguez, 2011).

35

A Europa tem liderado iniciativas para reduzir despejos automotivos,

eletrônicos e de embalagens, com leis sobre diretiva de fim de vida de veículos,

lixo eletrônico, certas substâncias nocivas e de embalagens (Bouzon e Rodriguez,

2011 apud Kumar e Putnam, 2008).

A França, Holanda e Alemanha estabeleceram, em 1996, a

responsabilidade de coleta, reciclagem e reaproveitamento dos automóveis para

os fabricantes (Bouzon e Rodriguez, 2011 apud Leite, 2003). Nessa área

automotiva, em 2006, a Europa obteve o reuso e recuperação de 85% do peso

dos automóveis em final de vida, o que significa o despejo de apenas 15%. E a

previsão para 2015 é um aumento para 95% de reutilização (Bouzon e Rodriguez,

2011 apud Kumar e Putnam, 2008).

Exemplos de sucesso de grandes empresas com a aplicação da Logística

Reversa incluem a Sony Eletronics, Wall-Mart, McDonald’s, Dell Computer e Levi

Strauss. (Bouzon e Rodriguez, apud Leite, 2003).

2.5.5 A Logística Reversa no Brasil

Nos últimos anos, a Logística Reversa adquiriu força e reconhecimento no

Brasil, por meio da instituição e regulamentação da Política Nacional de Resíduos

Sólidos, que institui a responsabilidade compartilhada de toda a sociedade na

gestão dos resíduos sólidos urbanos, em que cada setor possui papéis a fim de

solucionar ou mitigar os problemas relacionados aos resíduos sólidos no país, e

torna obrigatória a implementação a Logística Reversa pelos fabricantes,

importadores, distribuidores e comerciantes de diversos produtos, conforme será

discutido posteriormente (Ministério do Meio Ambiente, 2014a).

Pesquisa realizada por Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de

Logística Reversa do Brasil, apresentou informações sobre 71 empresas

brasileiras de diferentes setores. Os dados revelaram que os principais motivos

para os empresários procederem com o retorno dos produtos são a diferenciação

no mercado (35% das respostas), seguido por motivos econômicos (31%) e

legislação (15%) (Bouzon e Rodriguez, 2011 apud Leite, 2011).

As organizações brasileiras estão cientes da necessidade da implantação

da Logística Reversa em sua gestão da cadeia de suprimentos, tanto pelo ganho

econômico quanto pelo ganho em atratividade. Pesquisa realizada em 2012 pelo

36

Instituto Ilos – Instituto de Logística e “Supply Chain”, com 101 empresas dentre

as 1000 maiores empresas no Brasil em faturamento, demonstra que 69% delas

possuem alguma atividade relacionada a práticas de Logística Reversa de pós-

venda e 61% possuem práticas de gerenciamento de resíduos de pós-consumo,

sendo que apenas 37% delas tem uma área responsável específica para a

Logística Reversa.

A análise da pesquisa revelou os maiores obstáculos para aplicação da

Logística Reversa na opinião dos empresários. Para 60% deles, o alto custo

operacional é um empecilho, considerando-se que o valor agregado do resíduo é

baixo, assim é difícil reaver os gastos pelo processo de recuperação e venda do

material coletado (Sousa e Oliveira, 2012); e 53% consideram a alta dispersão

geográfica dos consumidores um problema, afinal os resíduos de pós-consumo

podem ter uma dispersão geográfica muito maior que a existente na cadeia de

abastecimento, pois podem ser resíduos domiciliares (Instituto Ilos, 2012; Sousa e

Oliveira, 2012).

Foram apontados, também, como obstáculos: o baixo apoio

governamental para coleta seletiva (45%), o baixo valor dos resíduos (42%), a

baixa escala de volumes de resíduos (38%), dificuldade para interpretação da

legislação (33%), pouca estruturação das cooperativas (33%), dificuldades para

desenvolver ações conjuntas (33%), mercado secundário de baixo desempenho

(28%), pauta não prioritária para a empresa (25%) e baixa cooperação da

população para coleta seletiva (24%) (Instituto Ilos, 2012).

Esses dados demonstram que as ações de Logística Reversa estão

impulsionadas no Brasil, principalmente pelo desenvolvimento e integração do

tema à legislação brasileira e, também, em parte pela postura dos consumidores

frente às questões ambientais.

No Brasil, a reciclagem é um dos canais reversos que mais se fortalece.

Conforme dados do Ministério do Meio Ambiente, havia no país em 2011, 1175

cooperativas ou associações de catadores, distribuídas em 684 municípios

brasileiros e totalizando 30390 trabalhadores (Ministério do Meio Ambiente, 2014b

apud Ipea, 2011). O Brasil é destaque mundial no que compete a reciclagem de

embalagens de alumínio e está à frente da Europa na reciclagem de garrafas PET

(Chaves e Batalha, 2006).

37

2.6 A legislação ambiental brasileira

No Brasil, assim como nos demais países do mundo, a preocupação com o

meio ambiente e com os recursos naturais apenas adquiriu maior importância e

representatividade para a sociedade gradualmente a partir da década de 60, com

a divulgação de dados relativos ao aquecimento global e ao crescimento do

buraco na camada de ozônio, e com a ocorrência de catástrofes ambientais

(Farias, 2007).

Após a Declaração Universal do Meio Ambiente, aprovada pela ONU em

1972, que alertava que os recursos naturais deviam ser conservados em

benefício das gerações futuras, cabendo a cada país a regulamentação desse

princípio; a legislação brasileira, e as demais legislações ao redor do planeta,

passaram a promulgar normas ambientais mais amplas e efetivas (Farias, 2007).

As leis brasileiras englobaram, em sua evolução, a defesa do meio

ambiente (Política Nacional do Meio Ambiente, PNMA), sua proteção

constitucional (Constituição Federal de 1988) e a criminalização e penalização

das condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Lei de Crimes ambientais)

(Farias, 2007).

Em 2010, uma lei ambiental importante foi promulgada e regulamentada, a

Lei 12.305/10 ou Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), que contém

instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao país no

enfrentamento de problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do

manejo inadequado dos resíduos sólidos (Ministério do Meio Ambiente, 2014a).

De acordo com Sousa e Oliveira (2012), antes da PNRS, já havia

legislações sobre gestão de resíduos, porém com maior impacto sobre os

resíduos industriais e comerciais e, atualmente, resíduos pós-consumo.

A Tabela 1 evidencia a evolução das leis brasileiras no que tange a

proteção do meio ambiente e destinação de resíduos. Observa-se que com a Lei

de Saneamento Básico 11.445/07, promulgada em 2007, as empresas se

tornaram responsáveis pela destinação de seus resíduos industriais, ou seja,

aqueles provenientes do processo produtivo; e comerciais, que são os resíduos

oriundos de ambientes comerciais. E que em 2010, a implantação da Logística

Reversa de pós-consumo passou a ser obrigatória para empresas fabricantes,

importadores, distribuidores e comerciantes de agrotóxicos, pilhas, baterias,

38

pneus, óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens, lâmpadas diversas, e

eletroeletrônicos e seus componentes.

Devido à obrigatoriedade da Logística Reversa em relação a resíduos

industriais e comerciais ser anterior à relativa aos resíduos de pós-consumo, as

empresas atuantes no Brasil, ainda conforme Sousa e Oliveira (2012), possuem

diferentes graus de desenvolvimento de ações para gerenciamento de resíduos.

As ações relacionadas ao tratamento de resíduos industriais já estão melhor

direcionadas que as demais, e em menor estágio de desenvolvimento está o

direcionamento dos resíduos pós-consumo, cuja legislação foi promulgada

recentemente.

De acordo com Leite (2014), dos produtos relacionados na PNRS para

obrigação de Logística Reversa de pós-consumo, somente os eletroeletrônicos e

seus componentes e as lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e

de luz mista não apresentavam legislação própria à época da promulgação da lei.

39

Tabela 1 - Histórico da legislação ambiental brasileira e suas implicações para as empresas

Fonte: Sousa e Oliveira, 2012. Adaptado.

Lei Implicação Disposição

Conceito de Poluidor-PagadorDiretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, e dá outras

providências

A instalação de uma indústria deve

seguir regra de zoneamento

" Art. 1º (...) as zonas destinadas à instalação de indústrias serão definidas em esquema de

zoneamento urbano, aprovado por lei, que compatibilize as atividades industriais com a

proteção ambiental"

Atividades industriais poluidoras

devem ter licença para serem

implantadas, operarem e/ou serem

ampliadas

"Art. 9º (...) O licenciamento para a implantação, operação e ampliação de estabelecimentos

industriais, nas áreas críticas de poluição, dependerá da observância do disposto nesta lei,

bem como do atendimento das normas e padrões ambientais, definidos pela SEMA, pelos

organismos estaduais e municipais competentes, notadamente quando às seguintes

características dos processos de produção (...)"

Definição da responsabilidade do

poluidor

"poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou

indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental"

Obrigatoriedade de recuperar e/ou

indenizar danos gerados

"(...) à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os

danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins

econômicos"

Estabelece as formas de indenização

passíveis

"(...) danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: à

multa simples ou diária; à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos,

pelo Poder Público; à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em

estabelecimentos oficiais de crédito; à suspensão de sua atividade"

Lei 7.347/85

Ação civil pública por

danos ao meio ambiente

Detalhamento do processo de ações

civis para cobrança da recuperação

e/ou indenização ao poluidor

Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente

Responsabilização de

representantes civis por crimes

ambientais realizados no contexto

de sua administração da empresa

"As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o

disposto nesta lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão do seu

representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da

sua entidade (...) A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,

autoras, coautoras ou participes do mesmo fato"

Responsabilização de pessoas

jurídicas e físicas por crimes

ambientais

Penalizações; multa; restritivas de direitos (suspensão parcial ou total de atividades

interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade, proibição de contratar com o

Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações); prestação de

serviços à comunidade; reclusão

Lei 11.445/07

Saneamento Básico

Responsabilização dos geradores

privados pelo direcionamento de

seus resíduos (coleta de resíduos

comerciais/industriais é de

responsabilidade de cada empresa)

"Não constitui serviço público a ação de saneamento executada por meio de soluções

individuais, desde que o usurário não dependa de terceiros para operar serviços, bem como

as ações e serviços de saneamento básico de responsabilidade privada (...)"

Lei 8.078/90

Código de Defesa do

Consumidor

Obrigatoriedade das empresa em

ressarcirem os consumidores

Os fabricantes devem responder pela: "(...) reparação dos danos causados aos consumidores

por defeitos (...) Podendo ser o comerciante igualmente responsável"

Obrigatoriedade de logística reversa

de resíduos pós-consumo

"São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, (...) os fabricantes,

importadores, distribuidores e comerciantes de: I - agrotóxicos (...) II - pilhas e baterias; III -

pneus; IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; V - lâmpadas fluorescentes, de

vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; VI - produtos eletroeletrônicos e seus

componentes"

Definição do conceito de

responsabilidade compartilhada

Responsabilidade compartilhada é o conjunto de atribuições, individualizadas e encadeadas

dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos

titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos (...)

Conama 257/99 e 401/08Obrigatoriedade da logística reversa

de pilhas e baterias

"As pilhas e baterias, usadas ou inservíveis, recebidas pelos estabelecimentos comerciais ou

em rede se assistência técnica autorizada, deverão ser, em sua totalidade, encaminhadas

para destinação ambientalmente adequada, de responsabilidade do fabricante ou

importador"

Conama 258/99Obrigatoriedade da logística reversa

de pneus

"Determina que as empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos ficam obrigadas a

coletar e dar destinação final ambientalmente adequada aos pneus inservíveis"

Conama 2011Obrigatoriedade da logística reversa

de óleos lubrificantes

"As embalagens plásticas de óleos lubrificantes, pós-consumo usadas disponibilizadas pelos

geradores e revenda deverão ser gerenciadas armazenadas, coletadas e destinadas à

reciclagem, de modo que não afetem negativamente o meio ambiente (...)"

Decreto 4.074/02Obrigatoriedade da logística reversa

de embalagens de agrotóxicos

Responsabilidade por "inspeção - acompanhamento, por técnicos especializados, das fases

de produção, transporte, armazenamento, manipulação, comercialização, utilização,

importação, exportação e destino final dos agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como

de seus resíduos e embalagens"

Lei 6.803/80

Zonemaneto Industrial

Lei 6.938/81

Política Nacional do Meio

Ambiente

Lei 9.605/98

Lei de Crimes Ambientais

Lei 12.305/10

Política Nacional de

Resíduos Sólidos

40

A PNRS propõe um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da

reciclagem e da reutilização de resíduos sólidos e a destinação ambientalmente

adequada dos rejeitos, e também institui a responsabilidade compartilhada dos

geradores de resíduos, sendo eles, os fabricantes, importadores, distribuidores,

comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos

urbanos na Logística Reversa (Ministério do Meio Ambiente, 2014a). Dessa

maneira, todos participam da destinação adequada dos resíduos de pós-

consumo, ou seja, compartilham a responsabilidade pelo correto direcionamento

dos resíduos e aplicação da Logística Reversa.

Aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, cabem o

investimento no desenvolvimento de produtos que utilizem menor quantidade

possível de resíduos sólidos na sua fabricação e, que depois de usados pelo

consumidor, possam ser reutilizados, reciclados ou destinados adequadamente;

além da divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e

eliminar os resíduos sólidos gerados pelos seus produtos; e do recolhimento dos

produtos e resíduos remanescentes após o uso e sua destinação correta

(FECOMÉRCIO-RS, 2011).

Os consumidores serão responsáveis pelo acondicionamento adequado

dos resíduos sólidos gerados; e pela sua disponibilização adequada, quando

reutilizáveis ou recicláveis, para coleta ou devolução (FECOMÉRCIO-RS, 2011).

O Serviço Público de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos

definirão os procedimentos para o acondicionamento adequado e disponibilização

dos resíduos sólidos para a coleta seletiva em sua respectiva área de

abrangência e implementarão a separação de resíduos secos e úmidos

(FECOMÉRCIO-RS, 2011).

Na prática e nas palavras de Leite (2014), a PNRS coloca o ônus do

equacionamento da Logística Reversa dos produtos usados sobre as empresas

das cadeias de suprimentos que levam os produtos ao mercado, enfatizando um

dos aspectos acima mencionados, o compartilhamento de responsabilidades.

O financiamento da Logística Reversa ficará a cargo dos fabricantes,

importadores, comerciantes e distribuidores. Os sistemas já praticados no Brasil,

com pneus, embalagens de óleos e de agrotóxicos, além de baterias automotivas,

já têm o setor privado organizando e pagando os custos da coleta e da reciclagem

dos produtos, desde antes mesmo da nova lei (Planeta Sustentável, 2013).

41

De acordo com a PNRS, os lixões e os aterros controlados no Brasil

deviam ter sidos desativados em agosto de 2014 e, partir desta data, os rejeitos

deviam ter uma disposição final ambientalmente adequada. Contudo, após o

encerramento desse prazo, muitos lixões ainda continuaram em funcionamento. A

lei de crimes ambientais determina que os responsáveis por dispor resíduos

sólidos em lixões poderão ser responsabilizados (Calderoni e Santiago, 2014).

2.7 Vantagens ambientais da Logística Reversa

A utilização desenfreada de recursos aliada ao consumismo exacerbado

observado nas últimas décadas, resultantes da inovação de tecnologias, aumento

da facilidade ao acesso e da obsolescência programada, tem gerado danos ao

ambiente e escassez que são de conhecimento e preocupação da sociedade

contemporânea, a qual se posiciona, cada vez mais, de maneira a proteger o

meio ambiente e reconhecer as ações e atividades a favor do mesmo.

Dessa maneira, conforme já exposto, as empresas precisam incorporar a

gestão ambiental em sua grade de prioridades e implantar ferramentas e ações

em seu processo produtivo que permitam o desenvolvimento sustentável.

Leite (2009) explica que o aumento da velocidade de descarte de utilidades

após seu primeiro uso, motivado pelo nítido aumento da descartabilidade dos

produtos em geral, ao não encontrar canais de distribuição reversos de pós-

consumo devidamente estruturados e organizados, provoca desequilíbrio entre as

quantidades descartadas e as reaproveitadas, gerando um enorme crescimento

de produtos de pós-consumo.

Nesse sentido, a Logística Reversa, representa uma possibilidade de

minimizar os impactos negativos ao ambiente, a partir da reciclagem, reuso,

retorno, desmanche ou destinação adequada de produtos e resíduos, impedindo

que materiais que ainda possuem potencial de utilização sejam descartados e

reduzindo o descarte incorreto e prejudicial de resíduos.

42

2.7.1. Cenário atual do descarte de resíduos no Brasil

A situação atual da destinação dos resíduos sólidos no Brasil ficou

esclarecida pelos dados resultantes de uma pesquisa realizada pela ABRELPE,

relativa a 2013, em que foram investigados 404 municípios distribuídos por todas

as regiões brasileiras, abrangendo-se 45,3% da população total apontada pelo

IBGE nesse mesmo ano. Dessa pesquisa, apresentam-se as informações

indicadas a seguir, todas relativas ao ano de realização da pesquisa. (ABRELPE,

2014).

Resíduos sólidos urbanos (RSU) englobam os resíduos domiciliares, isto é,

aqueles originários de atividades domésticas em residências urbanas e também

os resíduos de limpeza urbana, que são oriundos da varrição, limpeza de

logradouros e vias públicas, bem como de outros serviços de limpeza urbana

(ABRELPE, 2014).

A geração total de RSU no Brasil, em 2013, foi de aproximadamente 76,4

milhões de toneladas ou 209,28 toneladas por dia, o que representa um aumento

de 4,1% em relação ao ano anterior, índice que é superior à taxa de crescimento

populacional no país no mesmo período, que foi de 3,7%.

Conforme já indicado anteriormente, 69,1 milhões de toneladas foram

coletadas, o que equivale a 90,4% dos 76,4 milhões de toneladasl, e a um

aumento de 4,4% na cobertura da coleta em relação ao ano anterior. Os

percentuais de coleta de resíduos por região estão indicados na Figura 7. A

comparação entre a quantidade de RSU gerada e a coletada em 2013, demonstra

que diariamente mais de 20000 toneladas deixaram de ser coletadas no país e

consequentemente tiveram destino impróprio.

43

Figura 7- Índice de abrangência da coleta de RSU.

Fonte: ABRELPE, 2014.

Dos resíduos coletados, 28,8 milhões de toneladas ou 41,7% do total,

tiveram um destino inadequado, ou seja, seguiram para lixões ou aterros

controlados, ambos prejudiciais ao ambiente. Lixões são depósitos de lixo a céu

aberto em que a disposição final de resíduos sólidos é feita sem nenhuma

preparação anterior do solo. Nestes depósitos, não há sistemas de tratamento de

efluentes líquidos – o chorume, fruto da decomposição da matéria orgânica, que

em consequência, penetra pela terra, contaminando o solo e o lençol freático. Os

aterros controlados representam uma categoria intermediária entre lixões e

aterros sanitários, neles há uma contenção do lixo que, depois de lançado no

depósito, é coberto por uma camada de terra, o que minimiza o mau cheiro e o

impacto visual, e evita a proliferação de insetos e animais. Porém, não há

impermeabilização do solo, isto é, o material continua contaminando o solo e o

lençol d’água, nem há sistemas de tratamento do chorume ou do biogás. No

aterro sanitário, o solo é preparado e impermeabilizado para que o chorume não

contamine o solo e os lençóis freáticos e de tempos em tempos, o lixo é coberto

com uma camada de terra para minimizar os impactos visuais e de mau cheiro

(Instituto Brookfield, 2012).

A Figura 8 apresenta a composição da destinação dos resíduos coletados

em 2013 e em 2012 para comparação da evolução, em que se verifica o aumento

44

da utilização de aterros controlados e a diminuição percentual, embora pequena,

na utilização de lixões.

Figura 8 - Destinação final de RSU (t/dia)

Fonte: ABRELPE, 2014.

Na Figura 9, observa-se que a quantidade de resíduos cujo direcionamento

foi adequado, aumentou no período de um ano, embora não em grande

proporção.

Figura 9 - Destinação final dos RSU coletados no Brasil

Fonte: ABRELPE, 2014.

45

Em relação às atividades de coleta seletiva, pouco mais de 62% dos

municípios brasileiros registraram alguma iniciativa, conforme se verifica na

Figura 10. No entanto, é importante salientar que muitas vezes estas atividades

resumem-se à disponibilização de pontos de entrega voluntária ou convênios com

cooperativas de catadores, que não abrangem a totalidade do território ou da

população do município. Observa-se que, entre as regiões brasileiras, o Sudeste,

é o que mais possui atividades desse quesito e o Centro-Oeste, o que menos

realiza iniciativas.

Figura 10 - Iniciativas de coleta seletiva nos municípios em 2013

Fonte: ABRELPE, 2014.

Na mesma pesquisa realizada pela ABRELPE, em 2013, investigou-se,

também, a situação da destinação de resíduos sólidos de saúde (RSS), cujas

normas estabelecem que determinadas classes desses resíduos necessitam de

tratamento prévio à sua disposição final. Contudo, alguns municípios encaminham

tais resíduos para os locais de destinação sem mencionar a existência desse

tratamento prévio dado aos mesmos. Tal fato apresenta risco diretamente aos

trabalhadores da área, à saúde pública e ao meio ambiente. Os dados resultantes

da pesquisa demonstram que 78,6% dos munícipios brasileiros praticaram total

46

ou parcialmente, em 2013, ações pertinentes ao manejo de RSS. E o total

coletado ultrapassou 252 mil toneladas.

2.7.2 Cenário previsto de pós-aplicação da Logística Reversa

As vantagens advindas da Logística Reversa para o meio ambiente

concentram-se na disposição final adequada dos resíduos e na diminuição da

utilização de materiais pelo reaproveitamento de produtos.

As metas publicadas pelo Ministério do Meio Ambiente e apontadas a

seguir, descritas no Plano Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), demonstram a

dimensão em que o descarte correto de resíduos, possibilitado pela

implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, pode influir na

preservação do meio ambiente. Contudo, essas metas estão atreladas ao

envolvimento e atuação dos três níveis de governo, da sociedade e da iniciativa

privada (Plano Nacional de Resíduos Sólidos, 2012).

Com a obrigatoriedade da Logística Reversa, em que os resíduos sólidos

deverão receber um direcionamento correto, espera-se atingir a implementação

de tratamento adequado para todos os resíduos de saúde, a destinação correta

dos resíduos industriais e a eliminação dos lixões no Brasil, e assim também

recuperar as áreas em que esses lixões eram depositados, através da queima

pontual, captação de gases para geração de energia, coleta do chorume,

drenagem pluvial, compactação da massa, cobertura com solo e cobertura

vegetal. A evolução do percentual de reabilitação dos lixões está indicada na

Tabela 2 (Plano Nacional de Resíduos Sólidos, 2012).

Tabela 2 - Áreas de lixões reabilitados

Fonte: Plano Nacional de Resíduos Sólidos, 2012. Adaptado.

47

Além da eliminação dos lixões, também objetiva-se reduzir a disposição de

resíduos secos e úmidos em aterros, conforme demonstram as Tabelas 3 e 4.

Tabela 3 - Redução dos resíduos secos dispostos em aterro.

Fonte: ABRELPE, 2014. Adaptado.

Tabela 4 - Redução do percentual de resíduos úmidos disposto em aterros.

Fonte: ABRELPE, 2014. Adaptado.

É importante salientar que as ações nas áreas de agrotóxicos e pneus, cuja

obrigatoriedade da Logística Reversa já era determinada por lei há alguns anos,

apresentam avanços interessantes e demonstram que a Logística Reversa pode

realmente trazer benefícios ambientais. Dessa maneira, as expectativas em

relação à sua aplicação em outas áreas são otimistas.

Em 2002, foi estabelecida a responsabilidade compartilhada sobre o

descarte ambientalmente correto das embalagens de agrotóxicos entre agricultor,

produtor e outros elos da cadeia. Segundo Braz (2012), antes da criação do

projeto piloto da lei, em 1992, 70% das embalagens eram queimadas e o restante

era disposto sem cuidado ambiental nas propriedades agrícolas. Atualmente, os

agricultores devolvem as embalagens nas unidades de recebimento, indicadas

pelos distribuidores nas notas fiscais. Então, o produtor faz a logística de

48

transporte e dá a destinação final ambientalmente adequada (reciclagem e

incineração).

Do total de embalagens de agrotóxicos recolhidas, correspondente a 94%

de todo o mercado nacional, 95% é reciclado e 5% serve de combustível a

incineradoras com licença ambiental, que possuem filtros e não emitem poluentes

no processo de queima. Do material reciclado, são feitas novas embalagens que

são utilizadas para defensivo agrícola. No mundo, há 60 países com programas e

iniciativas do gênero, mas o Brasil lidera o setor com retorno de 94% das

embalagens. Na Alemanha, a porcentagem é de 76%, no Canadá é de 73%, e na

França é de 66%, segundo dados de 2009 (Braz, 2012).

No caso dos pneus, cuja legislação de aplicação da Logística Reversa

existe desde 1999, praticamente 100% da produção é recolhida por meio de

parcerias feitas com prefeituras que cedem terrenos, onde borracharias,

revendedores ou a população local podem deixar os pneus usados. Há 726

postos de coleta no Brasil que recebem diariamente 400 toneladas de pneus,

correspondentes a 85000 unidades.

Desde o início da legislação, mais de 364,3 milhões de pneus de passeio

foram recolhidos e tiveram destinação ambientalmente responsável. Do total

coletado, 36% têm seus componentes separados e reutilizados como matéria-

prima para tapetes de automóveis e borracha regenerada, por exemplo. Outros

35% são triturados e transformados em asfalto ecológico, piso antiderrapante ou

servem de combustível a cimenteiras, e 29% deles vão inteiros para as

cimenteiras. Não há sobras, até mesmo o aço retirado é reaproveitado, pela

indústria siderúrgica (Braz, 2012).

O descarte incorreto de resíduos ainda é uma constante no Brasil, mas a

Logística Reversa tem a capacidade de reverter esta situação, como se observa

nos dados apresentados acima e nos exemplos de sucesso citados. Portanto, as

vantagens proporcionadas ao ambiente são evidentes.

2.8 Vantagens econômicas da Logística Reversa

O aumento da sensibilidade da sociedade em relação ao meio ambiente,

aliado à obrigatoriedade legislatória da destinação adequada de resíduos e da

responsabilidade compartilhada, acarreta a necessidade da incorporação de

49

questões ambientais na gestão estratégica e grade de prioridades das empresas,

que precisam implantar ferramentas e ações em seu processo produtivo que

permitam o desenvolvimento sustentável. As empresas, portanto, buscam

amenizar os impactos ambientais, protegendo a sociedade e seus próprios

interesses.

O compromisso ambiental proporciona ganhos advindos da melhora da

imagem corporativa da empresa, que se define como a percepção que os

consumidores, fornecedores, empregados, investidores e a comunidade em geral

têm sobre uma empresa, sobre sua credibilidade, objetivos, qualidade de

produtos ou serviços e responsabilidade social. Pesquisas de universidades

norte-americanas revelaram que o nível de reputação das empresas impacta seu

valor de mercado (Kim e Júnior, 2011).

Segundo Donaire (2012) apud Novaes (1991), as portas do mercado e do

lucro se abrem cada vez mais para empresas que não poluem ou poluem menos -

e não para empresas que desprezam as questões ambientais na tentativa de

maximizar seus lucros e socializar o prejuízo.

Donaire (2012) explica que tradicionalmente, as exigências referentes à

proteção ambiental eram consideradas um freio ao crescimento da produção e

demandante de grandes investimentos de difícil recuperação e, portanto, fator de

aumento dos custos de produção. No entanto, começa a ficar claro que a

despreocupação com os aspectos ambientais pode traduzir-se no oposto: em

aumento de custos, em redução de lucros, perda de posição no mercado e, até,

em privação da liberdade ou cessação de atividade. Dessa maneira, o meio

ambiente e sua proteção estão se tornando oportunidades para abrir mercados e

prevenir-se contra restrições futuras quanto ao acesso a mercados internacionais.

O descarte incorreto de resíduos torna-se, nesse sentido, um aspecto

negativo para as empresas, pois os consumidores estão cientes da

despreocupação dos produtores à medida que podem literalmente visualizar os

resíduos em lixões, locais abandonados, rios ou córregos e verificar o tratamento

incorreto dado a eles (Leite, 2009).

A Logística Reversa, portanto, como uma ferramenta que reduz o impacto

dos resíduos ao meio ambiente, proporciona, além dos benefícios ambientais,

vantagens econômicas. No retorno de produtos de pós-consumo, os ganhos

manifestam-se em competitividade de custos pelas economias na confecção do

50

produto, recuperação do valor empregado no processo produtivo, e também de

imagem empresarial; já na logística de pós-venda, os ganhos evidenciam-se na

fidelização de clientes e imagem empresarial (Hernández, 2010).

A garantia de políticas liberais de retorno de produtos fideliza os clientes e

gera vantagem competitiva frente aos concorrentes, afinal os consumidores estão

exigindo um nível de serviço mais elevado das empresas e estas, como forma de

diferenciação, estão investindo na administração do fluxo reverso. Dessa maneira,

as empresas que possuem um processo de Logística Reversa bem administrado

tendem a se sobressaírem no mercado, pela melhora e diferenciação no

atendimento aos seus clientes em comparação aos seus concorrentes. O retorno

rápido e eficaz dos produtos defeituosos para creditar o usuário é uma dentre as

diversas formas de fidelizá-lo (Araújo e Cavalcante, 2007 apud Barbosa et al,

2007; Chaves e Martins, 2005).

O reaproveitamento de materiais e a economia obtida com o seu retorno

fornecem ganhos que estimulam novas iniciativas e esforços para aprimorar os

processos de Logística Reversa (Araújo e Cavalcante, 2007). Um exemplo é o

ganho de 40% a 60% nos custos apontados por empresas que utilizam

remanufatura de componentes utilizando somente 20% do esforço de fabricação

de um novo produto (Dowlatshahi, 2000).

A aplicação da Logística Reversa cria uma imagem de “empresa cidadã”

frente à comunidade, com isso, as empresas conseguem um aumento do valor da

sua marca e muitas vezes de seus produtos. O retorno de produtos demanda

tempo e dinheiro, porém, eleva o prestígio da imagem da empresa perante a

sociedade, o que se reflete em ganhos para ela, afinal uma marca corporativa

forte permite à empresa, por meio de ações que não estão diretamente vinculadas

aos seus produtos, reforçar seu significado ao permitir associações positivas a

eles (Araújo e Cavalcante, 2007 e Hernández, 2010).

As vantagens da Logística Reversa, no entanto, vão além dos ganhos em

competitividade, custos e imagem corporativa. Segundo Jasinski e Almeida

(2014), a Logística Reversa pode incentivar diversas operações capazes de trazer

resultados econômicos positivos a curto e longo prazo às empresas, como o

incentivo à pesquisa; o desenvolvimento de novas tecnologias; a agregação de

valor aos resíduos; a diminuição de extração de matéria-prima da natureza; o

reaproveitamento de produtos que seriam descartados; a diminuição do volume

51

de resíduos; o estabelecimento de parcerias entre empresas geradoras de

resíduos semelhantes; e a conscientização da sociedade pela diminuição de

impactos ambientais.

Outros benefícios econômicos, citados por Cruz et al (2013), são a

criação de novos negócios na cadeia produtiva; a economia do custo de energia

na fabricação; o aumento de fluxo de caixa por meio da comercialização dos

produtos secundários e dos resíduos; o aproveitamento do canal de distribuição

para escoar os produtos nos mercados secundários; e a melhoria da imagem

corporativa por operar com práticas ecologicamente corretas.

Os benefícios econômicos advindos da Logística Reversa demonstram as

vantagens de sua implantação. Empresas poluidoras e que desrespeitam o

ambiente ficam atreladas a uma imagem negativa, o que se traduz em diminuição

de sua competitividade perante outras empresas, pois a imagem da empresa ou,

ainda, a percepção que o consumidor tem sobre ela, suas atitudes e objetivos,

revela-se um componente de grande influência na decisão por um produto em

detrimento de outros concorrentes. Além disso, o aproveitamento de

componentes na manufatura ou para a venda, a reciclagem de resíduos e a

utilização desses materiais reciclados reduzem consideravelmente os custos de

produção.

Os serviços de pós-venda como as devoluções por excesso de estoque ou

por problemas nas mercadorias geram maior confiança e satisfação para os

clientes e fidelização em relação à empresa que se diferencia das demais.

Dessa maneira, a empresa que constrói relações duradouras com os

clientes e que foca sua organização para garantir qualidade, confiabilidade,

segurança e serviços diferenciados, deve esperar a obtenção de lucros mais

elevados (Hernández, 2010).

A Logística Reversa é, portanto, um processo que, se implantado e

gerenciado corretamente, pode torna-se muito lucrativo para a empresa, à medida

que permite ao empresário satisfazer os anseios advindos da consciência

ecológica de seus consumidores, ao mesmo tempo em que é reconhecido

positivamente pela sociedade, obtém ganhos e reduções de custos, cumpre a

legislação, melhora sua imagem, obtém maior competitividade em seus produtos

e desenvolve novas tecnologias.

52

À medida que a Logística Reversa agrega valor aos produtos de diversas

maneiras seja pelo relacionamento e serviços de pós-venda ou pela preservação

ambiental, ela estimula as vendas de uma empresa, e reduz os seus custos de

produção, o que impacta diretamente em seu lucro.

É preciso, no entanto, considerar os custos de implantação da Logística

Reversa, que são os custos de transporte, armazenagem, consolidação, de

sistemas de informações, de seleção e destinação dos produtos retornados e

redistribuição dos produtos ou materiais reaproveitados. Esses somados resultam

em média em 6% do faturamento de uma empresa (Leite, 2009). Ainda assim, a

redução de custos de produção e elevação das vendas geralmente compensam

esses custos e aumentam a lucratividade da empresa, conforme será

demonstrado posteriormente.

53

3. OBJETIVOS

O ritmo de consumo e de produção em alta escala verificado nas empresas

e na sociedade contemporânea, acompanhado dos consequentes problemas

ambientais ocorridos nos últimos anos nos mais diversos pontos do globo e da

redução de recursos disponíveis, demonstram a incapacidade do ambiente em

prover os insumos necessários para atender à crescente demanda de indústrias

pautadas no aumento da produtividade e lucratividade.

Concomitantemente, as condições atuais de desenvolvimento evidenciam a

urgente necessidade de adequação de todos aos limites do ambiente, por meio

da preservação e implantação de ações, técnicas e processos que beneficiem ou

que pelo menos reduzam o impacto negativo ao meio ambiente. É preciso

compreender que a utilização desenfreada de recursos e a desatenção e

inadequação na destinação de resíduos nunca estiveram aliadas a um modelo

sustentável de desenvolvimento, e os prejuízos resultantes degradam, cada vez

mais, o ambiente.

A busca intensa por lucratividade, presente nas últimas décadas, é o

principal motivo pelo qual empresas dificilmente aceitariam, exceto se obrigadas

por lei, aplicar em seu processo produtivo ações que mesmo apresentando

vantagens ao ambiente não as beneficiasse direta ou indiretamente. Nesse

contexto, a Logística Reversa revela-se como uma opção adequada tanto ao meio

ambiente quanto às corporações.

Infelizmente, a existência da Logística Reversa ainda não é de

conhecimento de toda a população e nem é aplicada em muitas empresas. Esse

processo ainda está em desenvolvimento no Brasil, e tem adquirido mais

notabilidade e importância principalmente após a legislação obrigar sua

implantação em determinadas condições. Apesar das dificuldades de

implementação, os ganhos advindos da Logística Reversa, se corretamente

gerenciada, superam em muito os custos de implantação.

Afinal, por meio dela, é possível obter reconhecimento da sociedade, que

encontra na empresa ações compatíveis com suas preocupações ecológicas e

que a ajudam a satisfazer sua busca por auxiliar na preservação do ambiente. A

melhora na imagem da empresa é refletida no aumento da confiança dos

54

consumidores e das vendas em consequência. E, a utilização de reciclagem,

reuso e desmanche colaboram para reduzir os custos de produção.

Ademais, os clientes se sentem mais seguros em se relacionar com uma

empresa que possui uma Logística Reversa de pós-venda estruturada, em que

devoluções são facilitadas e seus problemas atendidos, aumentando a

credibilidade do fabricante e a satisfação do consumidor.

A Logística Reversa, portanto, pode ser descrita como uma excelente

alternativa para conciliar lucro e preservação do ambiente, ou seja,

desenvolvimento sustentável.

55

4. METODOLOGIA

4.1 Introdução

O presente trabalho utilizou como materiais e métodos, técnicas de

pesquisa bibliográfica, quanto ao embasamento teórico de vários autores da área

de logística, “marketing”, administração de empresas e sustentabilidade. Toda a

pesquisa bibliográfica foi realizada por intermédio de leitura de livros, parcial ou

integralmente, bem como por meio de resumo e análise de resenhas de cada

obra. Não obstante, também, foi utilizada a internet como fonte de busca de

informações relevantes para concretização do trabalho e alguns artigos científicos

cujo assunto seja condizente com o tema principal.

Após apresentada as definições a respeito de Logística Reversa,

sustentabilidade e lucratividade, foi criada uma empresa fictícia para ilustrar os

benefícios da Logística Reversa. Ao fim do trabalho é esperado ser possível

aumentar a lucratividade de uma empresa conciliando interesses econômicos e

cuidados ambientais.

4.2 Aplicação da Logística Reversa em uma empresa fictícia

Com o propósito de ilustrar os benefícios advindos da aplicação da

Logística Reversa, serão apresentados os resultados de uma empresa fictícia, a

“Plasquedo” – fabricante nacional de brinquedos plásticos, em três anos distintos.

Para efeitos de comparação, a base de preços e volumes vendidos, assim como

as despesas e custos descritos serão os mesmos para os três anos, sendo que

as únicas alterações consideradas serão em consequência das mudanças e

implementações realizadas no processo produtivo.

Dessa maneira, a exemplificação será composta pela visualização e

análise de três fases da empresa: fase anterior à Logística Reversa; fase de

implantação da Logística Reversa; e fase plena da Logística Reversa.

A Plasquedo fornece brinquedos para redes de lojas e supermercados

situados principalmente no sudeste, centro-oeste e sul do Brasil, com pouca

56

presença no mercado das outras regiões e os produtos são destinados

principalmente à faixa etária de 6 a 10 anos de idade.

As principais matérias-primas utilizadas na produção de brinquedos são:

polipropileno (PP), politereftalato de etileno (PET) e o acrilonitrila butadieno

estireno (ABS). O PP tem uma excelente resistência química, é resistente a

mudanças de temperatura, brilhante, rígido e inquebrável. O PET é transparente,

inquebrável, impermeável e leve. O ABS é moldável, resistente ao impacto e à

tração e rígido (Plastivida, 2009).

Para referência serão utilizados os seguintes preços desses materiais.

Importante mencionar que o plástico descartado vendável é aquele que já foi

selecionado, limpo e preparado para a utilização (moído, por exemplo).

Tabela 5 - Valores de referência para as matérias-primas.

Fonte: Rede de Plásticos, 2014. Adaptado.

PP PET ABS

Custo do Kg de plástico virgem 6,13 5,30 9,30

Custo do Kg do plástico descartado 1,00 1,70 1,10

57

5. RESULTADOS

5.1 Plasquedo: Fase anterior à Logística Reversa

A Plasquedo produziu, em determinado ano, aqui denominado “ano 1”, um

volume de 2.394.000 brinquedos, cujas vendas totalizaram R$22.024.800,00.

O consumo anual de plástico para a produção foi de 574.560Kg, sendo

todo o volume composto por matéria virgem comprada diretamente do fornecedor.

Com base nos valores e na proporção dos tipos de plásticos utilizados na

produção, o consumo total em valor nesse ano foi de R$3.645.993,60, os detalhes

estão apontados na Tabela 6.

Tabela 6 - Consumo de plástico – Ano 1, fase anterior à Logística Reversa.

O número de funcionários da empresa soma 69 pessoas, incluindo mão de

obra direta, indireta e diretoria, cujos salários e benefícios anuais totalizaram

R$4.231.200,00. Os detalhes estão descritos na Tabela a seguir.

Ano 1 PP PET ABS TOTAL

Custo do plástico virgem (R$/Kg) 6,13 5,30 9,30 -

Consumo total plástico virgem (Kg) 328.320 164.160 82.080 574.560

Consumo total plástico (R$) 2.012.602 870.048 763.344 3.645.994

58

Tabela 7 - Mão de obra – Ano 1, fase anterior à Logística Reversa.

As despesas de transporte de entrega de produtos foram de

R$3.300.000,00. As demais despesas e custos estão demonstradas na Tabela 8

que apresenta o Demonstrativo de Resultado de Exercício (DRE) relativo ao Ano

1 da Plasquedo Ltda. Com base na análise da Tabela, verifica-se que o resultado

líquido foi de 5,75% do faturamento e que os custos de matéria-prima

representaram 16,55% do valor das vendas, valor considerável, porém não o

ideal.

DepartamentoNº de

funcionários

Custo Total

Anual

Limpeza 3 43.200,00

Operação 15 540.000,00

Montagem 15 540.000,00

Recepção 2 96.000,00

Empilhadeirista 2 108.000,00

Logística 10 600.000,00

Compras 3 216.000,00

RH 2 132.000,00

Financeiro 6 396.000,00

Comercial 3 216.000,00

Gerentes de produção 2 360.000,00

Engenharia e desenvolvimento 5 600.000,00

Diretor geral 1 384.000,00

TOTAL 4.231.200,00

Ano 1

59

Tabela 8 - DRE da empresa Plasquedo – Ano 1, fase anterior à Logística Reversa.

5.2 Plasquedo: Fase de implementação da Logística Reversa

No ano seguinte, aqui denominado “Ano 2”, uma filial de uma fabricante de

brinquedos multinacional se instalou na mesma região em que a Plasquedo

possui sua fábrica e passou a disputar o mesmo mercado consumidor. Os preços

oferecidos pela multinacional não se diferenciavam consideravelmente dos

praticados pela Plasquedo. No entanto, o fator novidade exerceu forte influência

nos consumidores.

Com o objetivo de fortalecer e aumentar sua atratividade, a diretoria da

Plasquedo decidiu investir na imagem corporativa da empresa, e dentre as

opções, escolheu desenvolver ações voltadas à sustentabilidade e preservação

do meio ambiente que permitiriam que seu produto fosse percebido pelos clientes

como diferenciado e ecologicamente adequado e que influenciasse no processo

decisório de compra.

Dessa maneira, apesar de brinquedos não estarem entre os produtos cujos

fabricantes e demais responsáveis, de acordo com a PNRS, são obrigados a

Receita líquida de vendas 22.024.800,00

Matéria-prima (3.645.993,60) -16,55%Outros componentes (1.057.190,40) -4,80%Embalagem (936.054,00) -4,25%Custo das mercadorias vendidas (5.639.238,00) -25,60%

Lucro bruto 16.385.562,00 74,40%

Armazenagem (1.380.000,00) -6,27%Transporte (3.300.000,00) -14,98%Publicidade e propaganda (2.852.210,00) -12,95%Despesas de vendas (7.532.210,00) -34,20%

Salários (4.231.200,00) -19,21%Custos operacionais (2.584.780,00) -11,74%Despesas administrativas (6.815.980,00) -30,95%

Investimentos (770.868,00) -3,50%

Resultado líquido 1.266.504,00 5,75%

DRE - Plasquedo - Ano 1

60

implantar a Logística Reversa; a Plasquedo implementou a Logística Reversa

para o plástico e para parte das embalagens utilizadas.

Dessa maneira, os plásticos de brinquedos descartados após o consumo

seriam reciclados e retornariam ao processo produtivo. Para adaptar esse novo

material ao seu processo, a empresa passou a utilizar 40% de PP, 40% de PET e

20% de ABS, enquanto originalmente utilizava 57% de PP, 29% de PET e 14% de

ABS. Inicialmente a empresa implantou cinquenta e dois postos de coleta nas

principais lojas de brinquedos e supermercados para as quais fornecia. Ao

mesmo tempo, a fim de incentivar a devolução, lançou uma campanha de

devolução de brinquedos da Plasquedo usados, na qual a criança receberia

brindes, como guloseimas, a cada brinquedo devolvido.

A própria Plasquedo desenvolveu o fluxo de transporte reverso para coletar

os brinquedos descartados, que depois eram enviados a uma empresa de

reciclagem que então revendia o material reciclado à Plasquedo que o utilizava

em sua produção.

Além disso, parte das caixas e recipientes que embalavam os brinquedos

no transporte até as revendedoras e que antes eram descartados foi substituída

por embalagens retornáveis que podiam ser reutilizadas.

Com as mudanças aplicadas no processo produtivo, o custo de produção

diminuiu consideravelmente, pois os plásticos reciclados representaram, nesse

ano, 35% do consumo total de matéria-prima. Uma pequena parte da redução de

custo foi repassada ao cliente, diminuindo o preço de venda a fim de atrair ainda

mais os clientes.

Como consequência, o volume de vendas aumentou, consumindo um total

de 586.082 Kg, sendo 205.111 Kg reciclados, conforme a Tabela 9.

Tabela 9 - Consumo de plástico – Ano 2, fase de implementação da Logística Reversa.

Ano 2 PP PET ABS TOTAL

Custo do plástico virgem (R$/Kg) 6,13 5,30 9,30 -

Custo do plástico reciclado (R$/Kg) 1,00 1,70 1,10 -

Consumo total plástico virgem (Kg) 152.368 152.368 76.184 380.921

Consumo total plástico reciclado (Kg) 82.044 82.044 41.022 205.111

Consumo total plástico (Kg) 234.413 234.413 117.206 586.032

Consumo total plástico (R$) 1.016.062 947.028 753.637 2.716.727

61

O quadro de funcionários da empresa também sofreu uma leve alteração,

pois foi necessário contratar mais funcionários, principalmente para a logística,

conforme a Tabela 10.

Tabela 10 - Mão de obra – Ano 2, fase de implementação da Logística Reversa em comparação com Ano 1.

Apesar do custo de mão de obra aumentar, as despesas com publicidade e

propaganda diminuíram, pois após alguns meses de incentivo à devolução por

meio de brindes, estes já não eram mais necessários, a população já estava

ciente da campanha de reciclagem e postos de coleta, e a empresa ganhou maior

reconhecimento por meio de suas ações ambientais, o que reduziu a necessidade

de propagandas e divulgações para aumentar sua competitividade.

Além disso, os custos de embalagem também foram reduzidos devido à

reutilização de caixas e recipientes retornáveis e mais resistentes, que de início

possuem um preço de compra mais elevado, mas que é compensado pelo

número de utilizações.

Dessa maneira, o resultado da empresa sofreu um impacto positivo,

elevando 7,18% o resultado líquido da empresa, como mostra a Tabela 11.

Ano 1 Ano 2

DepartamentoNº de

funcionários

Custo Total

Anual

Nº de

funcionários

Custo Total

Anual

Limpeza 3 43.200,00 3 43.200,00

Operação 15 540.000,00 15 540.000,00

Montagem 15 540.000,00 15 540.000,00

Recepção 2 96.000,00 2 96.000,00

Empilhadeirista 2 108.000,00 3 162.000,00

Logística 10 600.000,00 12 720.000,00

Compras 3 216.000,00 3 216.000,00

RH 2 132.000,00 2 132.000,00

Financeiro 6 396.000,00 6 396.000,00

Comercial 3 216.000,00 3 216.000,00

Gerentes de produção 2 360.000,00 2 360.000,00

Engenharia e desenvolvimento 5 600.000,00 5 600.000,00

Diretor geral 1 384.000,00 1 384.000,00

TOTAL 4.231.200,00 4.405.200,00

62

Tabela 11 - DRE da empresa Plasquedo – Ano 2, fase de implementação da Logística Reversa em comparação com Ano 1.

Observa-se que comparado ao Ano 1, no Ano 2 houve um aumento de

5,26% de lucro bruto em relação ao faturamento, resultado da utilização de

embalagens retornáveis e da matéria-prima reciclada em seu processo. Contudo,

devido ao novo fluxo logístico foi preciso aumentar o custo com transporte e

salários, um aumento em relação ao faturamento de 4,43% e 0,72%

respectivamente.

Devido à adoção dessas medidas, a empresa melhorou sua imagem

perante a sociedade e pode reduzir seus custos com publicidade e propaganda

em 1,33%, além de atrair mais consumidores e melhorar suas vendas, resultando

em um aumento de 1,43% do resultado líquido.

5.3 Plasquedo: Fase plena da Logística Reversa

As vantagens advindas da aplicação da Logística Reversa na Plasquedo,

como redução de custos, melhoria da imagem corporativa da empresa e maior

competitividade e reconhecimento da marca, estimularam a diretoria a avançar

Receita líquida de vendas 22.024.800,00 22.099.014,00

Matéria-prima (3.645.993,60) -16,55% 4,26% (2.716.727,15) -12,29%Outros componentes (1.057.190,40) -4,80% 0,00% (1.060.752,67) -4,80%Embalagem (936.054,00) -4,25% 1,00% (718.217,96) -3,25%Custo das mercadorias vendidas (5.639.238,00) -25,60% 5,26% (4.495.697,77) -20,34%

Lucro bruto 16.385.562,00 74,40% 5,26% 17.603.316,23 79,66%

Armazenagem (1.380.000,00) -6,27% 0,00% (1.385.608,18) -6,27%Transporte (3.300.000,00) -14,98% -4,43% (4.290.000,00) -19,41%Publicidade e propaganda (2.852.210,00) -12,95% 1,33% (2.566.989,00) -11,62%Despesas de vendas (7.532.210,00) -34,20% -3,10% (8.242.597,18) -37,30%

Salários (4.231.200,00) -19,21% -0,72% (4.405.200,00) -19,93%Custos operacionais (2.584.780,00) -11,74% 0,00% (2.594.424,24) -11,74%Despesas administrativas (6.815.980,00) -30,95% -0,73% (6.999.624,24) -31,67%

Investimentos (770.868,00) -3,50% 0,00% (773.465,49) -3,50%

Resultado líquido 1.266.504,00 5,75% 1,43% 1.587.629,32 7,18%

Ano 1 Ano 2 DRE - Plasquedo

63

ainda mais na sua implementação. Assim, no Ano 3, a Logística Reversa foi

internalizada na empresa.

Os postos de coleta foram expandidos, elevando o número para oitenta e

oito postos distribuídos pelas três regiões principais de fornecimento, o que

abrangeu cerca de 70% do total estimado de brinquedos descartados. E para

tanto, os custos de transporte também aumentaram devido ao fluxo reverso

elevado.

O reconhecimento pelos clientes, a diferenciação ecológica dos brinquedos

e o menor preço elevaram definitivamente o volume de vendas, o qual elevou o

consumo de matéria-prima, conforme demonstra a Tabela 12. Verifica-se que

houve redução no custo total de plástico, mesmo com o aumento de volume, o

que se deve a reciclagem interna de 35% da matéria-prima utilizada na produção.

No entanto, o custo de internalização desse processo reflete nos custos

operacionais e de mão de obra da empresa.

Tabela 12 - Consumo de plástico – Ano 3, fase plena Logística Reversa.

O fato da reciclagem ser desenvolvida dentro da própria empresa gerou a

necessidade de contratação de mais funcionários, como empilhadeiristas, devido

ao armazenamento dos plásticos reciclados; funcionários da Logística, para

aplicação e coordenação da reciclagem; um engenheiro e um gerente, para

respectivamente desenvolver e adequar os materiais reciclados aos diversos

produtos e gerenciar a distribuição reversa. No entanto, também foram

contratados novos funcionários para atender e administrar a maior demanda de

vendas. A Tabela 13 apresenta os detalhes do novo quadro de mão de obra da

Plasquedo.

Ano 3 PP PET ABS TOTAL

Custo do plástico virgem (R$/Kg) 6,13 5,30 9,30 -

Custo do plástico reciclado (R$/Kg) - - - -

Consumo total plástico virgem (Kg) 164.324 164.324 82.162 410.810

Consumo total plástico reciclado (Kg) 88.482 88.482 44.241 221.206

Consumo total plástico (Kg) 252.806 252.806 126.403 632.016

Consumo total plástico (R$) 1.007.307 870.918 764.107 2.642.332

64

Tabela 13 - Mão de obra – Ano 3, fase de implementação da Logística Reversa em comparação com Anos 1 e 2.

A Tabela 14 apresenta o lucro líquido de 10,66% do faturamento da

empresa no Ano 3, após a internalização da reciclagem e utilização de

embalagens retornáveis.

Tabela 14 - DRE da empresa Plasquedo – Ano 3, fase plena da Logística Reversa em comparação com o Ano 2.

Ano 3 Ano 1 Ano 2 Ano 3

DepartamentoNº de

funcionários

Custo Total

Anual

Nº de

funcionários

Custo Total

Anual

Nº de

funcionários

Custo Total

Anual

Limpeza 3 43.200,00 3 43.200,00 3 43.200,00

Operação 15 540.000,00 15 540.000,00 16 576.000,00

Montagem 15 540.000,00 15 540.000,00 17 612.000,00

Recepção 2 96.000,00 2 96.000,00 2 96.000,00

Empilhadeirista 2 108.000,00 3 162.000,00 4 216.000,00

Logística 10 600.000,00 12 720.000,00 13 780.000,00

Compras 3 216.000,00 3 216.000,00 3 216.000,00

RH 2 132.000,00 2 132.000,00 2 132.000,00

Financeiro 6 396.000,00 6 396.000,00 6 396.000,00

Comercial 3 216.000,00 3 216.000,00 4 288.000,00

Gerentes de produção 2 360.000,00 2 360.000,00 3 540.000,00

Engenharia e desenvolvimento 5 600.000,00 5 600.000,00 6 720.000,00

Diretor geral 1 384.000,00 1 384.000,00 1 384.000,00

TOTAL 4.231.200,00 4.405.200,00 4.999.200,00

Receita líquida de vendas 22.099.014,00 23.832.270,00

Matéria-prima (2.716.727,15) -12,29% 1,21% (2.642.332,49) -11,09%Outros componentes (1.060.752,67) -4,80% 0,00% (1.143.948,96) -4,80%Embalagem (718.217,96) -3,25% 0,00% (774.548,78) -3,25%Custo das mercadorias vendidas (4.495.697,77) -20,34% 1,21% (4.560.830,23) -19,14%

Lucro bruto 17.603.316,23 79,66% 1,21% 19.271.439,77 80,86%

Armazenagem (1.385.608,18) -6,27% -1,29% (1.801.290,63) -7,56%Transporte (4.290.000,00) -19,41% 2,80% (3.960.000,00) -16,62%Publicidade e propaganda (2.566.989,00) -11,62% 5,63% (1.426.105,00) -5,98%Despesas de vendas (8.242.597,18) -37,30% 7,14% (7.187.395,63) -30,16%

Salários (4.405.200,00) -19,93% -1,04% (4.999.200,00) -20,98%Custos operacionais (2.594.424,24) -11,74% -1,32% (3.113.309,09) -13,06%Despesas administrativas (6.999.624,24) -31,67% -2,37% (8.112.509,09) -34,04%

Investimentos (773.465,49) -3,50% -2,50% (1.429.936,20) -6,00%

Resultado líquido 1.587.629,32 7,18% 3,48% 2.541.598,85 10,66%

DRE - PlasquedoAno 2 Ano 3

65

Os custos de transporte reduziram em 2,80% em relação ao faturamento

devido a internação do processo de reciclagem e não mais a utilização de uma

cooperativa para seleção, limpeza e preparação do material reciclado, mas

consequentemente a Plasquedo aumentou seus custos com armazenagem,

salários, custos operacionais e investimentos, em relação ao faturamento em

1,29%, 1,04%, 1,32% e 2,50% respectivamente.

Na Tabela 15 observa-se que com a aplicação da Logística Reversa houve

um aumento de 6,47% do lucro bruto em relação ao faturamento e a empresa

reduziu seu custo com publicidade e propaganda em 6,97% devido ao

reconhecimento da sociedade em relação a sua marca e a conquista de clientes

que buscavam produtos ambientalmente corretos. Todavia, para a implementação

da Logística Reversa, outros custos na empresa aumentaram em relação ao

faturamento, como armazenamento (1,29%), transporte (1,63%), salários (1,77%),

custos operacionais (1,33%) e investimentos (2,50%). O resultado foi de um

aumento de 4,91% do resultado líquido em relação ao faturamento, aumentando a

lucratividade da empresa.

Tabela 155 - DRE da empresa Plasquedo – Ano 3, fase plena da Logística Reversa em comparação com o Ano 1.

Receita líquida de vendas 22.024.800,00 23.832.270,00

Matéria-prima (3.645.993,60) -16,55% 5,47% (2.642.332,49) -11,09%Outros componentes (1.057.190,40) -4,80% 0,00% (1.143.948,96) -4,80%Embalagem (936.054,00) -4,25% 1,00% (774.548,78) -3,25%Custo das mercadorias vendidas (5.639.238,00) -25,60% 6,47% (4.560.830,23) -19,14%

Lucro bruto 16.385.562,00 74,40% 6,47% 19.271.439,77 80,86%

Armazenagem (1.380.000,00) -6,27% -1,29% (1.801.290,63) -7,56%Transporte (3.300.000,00) -14,98% -1,63% (3.960.000,00) -16,62%Publicidade e propaganda (2.852.210,00) -12,95% 6,97% (1.426.105,00) -5,98%Despesas de vendas (7.532.210,00) -34,20% 4,04% (7.187.395,63) -30,16%

Salários (4.231.200,00) -19,21% -1,77% (4.999.200,00) -20,98%Custos operacionais (2.584.780,00) -11,74% -1,33% (3.113.309,09) -13,06%Despesas administrativas (6.815.980,00) -30,95% -3,09% (8.112.509,09) -34,04%

Investimentos (770.868,00) -3,50% -2,50% (1.429.936,20) -6,00%

Resultado líquido 1.266.504,00 5,75% 4,91% 2.541.598,85 10,66%

DRE - PlasquedoAno 1 Ano 3

66

O resultado final da Plasquedo no Ano 3 em comparação com os anos

anteriores e sua evolução, demonstram os benefícios econômicos da Logística

Reversa em uma empresa quando adequadamente aplicada e gerenciada. O

aumento tangencial das vendas e da lucratividade, a melhora na imagem e o

ganho em atratividade e competitividade contribuíram com a empresa e evitaram

que ela perdesse atratividade a partir da utilização de um processo vantajoso

tanto economicamente quanto ambientalmente.

A decisão estratégica de implantar a Logística Reversa na empresa

ocorreu, de início, para recuperar o mercado consumidor dos brinquedos

produzidos, baseado na consciência ecológica dos consumidores, mas a

constatação da lucratividade desse processo é que deu continuidade a ele.

67

6. CONCLUSÃO

O consumo de recursos naturais é inevitável para a manutenção e para o

crescimento populacional, mas ao mesmo tempo, a pressão ambiental se torna

cada vez mais forte. Em consequência, a sociedade, as empresas e os órgãos

governamentais precisam encontrar maneiras para tornarem os seus processos

ecologicamente corretos, visando à preservação do meio ambiente e à

continuidade da biodiversidade.

No entanto, apesar da importância do meio ambiente, dificilmente as

empresas concordariam em aplicar técnicas que beneficiassem o meio ambiente,

sem que tivessem algum retorno financeiro. A Logística Reversa apresenta-se

como uma oportunidade de ganhos nos dois aspectos, de tal forma, como

observado na implementação da Logística Reversa na Plasquedo, a empresa

aumentou sua lucratividade num período de dois anos em 4,91% em relação ao

faturamento, com um aumento de seus custos em 8,52% em relação ao

faturamento (Leite, 2009). Além dos resultados financeiros que melhoraram, a

empresa se tornou mais sustentável com a utilização de matéria prima reciclada e

embalagens retornáveis (Kim e Júnior, 2011). Melhorou a sua imagem perante a

sociedade, aumentando a fidelidade de seus clientes e aumentando a suas

vendas, como consequência a Plasquedo pode reduzir seus custos com

publicidade e propaganda em 6,97% em relação ao faturamento.

Portanto, a Logística Reversa é uma ferramenta que possibilita às

empresas o aumento da lucratividade e também a adequação ao meio ambiente

pela sustentabilidade.

68

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACOSTA, B.; PADULA, A. D.; PÉREZ, P. A Logística Reversa na Indústria de

Produtos Informáticos: Explorando os mecanismos utilizados pelas

empresas no tratamento do lixo-informático. XXXIV EnANPAD - Encontro da

Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração. Rio de

Janeiro, 2010.

ARAÚJO, I. C. F.; CAVALCANTE. C. A. V. Logística reversa como ferramenta

estratégica. XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Foz do

Iguaçu, 2007.

ABRELPE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA

E RESÍDUOS ESPECIAIS, Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2014,

p.30. Disponível em <http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2013.pdf>.

Acesso em 17 Ago. 2014.

BARCELLOS, C. P. Lixo automotivo é responsabilidade da cadeia produtiva.

Consultor Jurídico, 24.ago.2013. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-

ago-24/cid-barcellos-lixo-automotivo-responsabilidade-cadeia-produtiva>. Acesso

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