UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA RENATO …
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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
RENATO BORGES DE CARVALHO
GPS/RNAV: A SOLUÇÃO PARA VIABILIZAR A OPERAÇÃO REGULAR NOS
AEROPORTOS REGIONAIS COM DEMANDA QUE SÓ OPERAM VFR: UMA
ANÁLISE DO AEROPORTO DE RONDONÓPOLIS
Palhoça
2017
RENATO BORGES DE CARVALHO
GPS/RNAV: A SOLUÇÃO PARA VIABILIZAR A OPERAÇÃO REGULAR NOS
AEROPORTOS REGIONAIS COM DEMANDA QUE SÓ OPERAM VFR: UMA
ANÁLISE DO AEROPORTO DE RONDONÓPOLIS
Monografia apresentada ao Curso de
graduação em Ciências Aeronáuticas, da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel.
Orientador: Prof. Cleo Marcos Garcia
Palhoça
2017
RENATO BORGES DE CARVALHO
GPS/RNAV: A SOLUÇÃO PARA VIABILIZAR A OPERAÇÃO REGULAR NOS
AEROPORTOS REGIONAIS COM DEMANDA QUE SÓ OPERAM VFR: UMA
ANÁLISE DO AEROPORTO DE RONDONÓPOLIS
Esta monografia foi julgada adequada à
obtenção do título de Bacharel em Ciências
Aeronáuticas e aprovada em sua forma final
pelo Curso de Ciências Aeronáuticas, da
Universidade do Sul de Santa Catarina.
Palhoça, 24 de novembro de 2017
__________________________________________
Orientador: Prof. Cleo Marcos Garcia
__________________________________________
Avaliador: Prof. Joel Irineu Lohn
AGRADECIMENTOS
Agradeço a meu Pai que me motivou insistentemente a fazer uma graduação; a
minha Mãe cuja dedicação sempre foi excepcional; a minha Esposa que me apoiou e ofereceu
suporte; a meu Orientador que soube iluminar e mostrar o caminho e a todos os meus
Instrutores, Professores e amigos que direta ou indiretamente contribuíram e fizeram parte
desta jornada.
RESUMO
Está pesquisa teve como objetivo geral compreender porque muitos aeroportos regionais
ainda não utilizam a tecnologia GPS/RNAV a fim de minimizar os impactos e restrições
relacionados à operação visual. Baseia-se em uma pesquisa exploratória, com procedimento
documental e bibliográfico para coleta dos dados, utilizando reportagens, artigos científicos e
livros, além de leis, regulamentos, documentos internacionais e decretos. A abordagem foi
qualitativa e quantitativa e a análise de dados deu-se por meio da análise de conteúdo, onde os
documentos foram selecionados analisados e interpretados de acordo com a fundamentação
teórica. No final da pesquisa conclui-se que a interação entre uma Instituição militarizada; o
DECEA, uma autarquia civil; a ANAC e a administração municipal; a Prefeitura, constituem
certamente o maior obstáculo e a prestação de serviços de tráfego aéreo remoto como RAFIS
ou RTWR, que já está em uso em Fernando de Noronha, desconstituirá um dos maiores
empecilhos e deverá ajudar muito a viabilizar a operação IFR em aeroportos regionais.
Palavras-chave: GPS. RNAV. Aeroporto Regional. Viabilizar Operação Regular
ABSTRACT
This research has the main goal to understand why many regional airports still do not use
GPS/RNAV technology in order to minimize the impacts and constrains related to visual
operations only. It is based on a exploratory research, with documental and bibliographic
procedure for gathering data, using reports, scientific articles and books, laws, regulations,
international documents and decrees. The approach was qualitative and quantitative and data
analysis was done through content analysis, where the documents were selected analyzed and
interpreted according to the theoretical basis. At the end of the research it has concluded that
the interaction between a militarized institution; DECEA, a civil autarchy; the ANAC and the
municipal administration; the City Hall, are certainly the biggest obstacle and the provision of
remote air traffic services such as RAFIS or RTWR, which is already in use in Fernando de
Noronha, will clear one of the biggest obstacles and should greatly help to make the IFR
operation possible at regional airports.
Key Words: GPS. RNAV. Regional Airport. Enable Regular Operations.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fotografia 1 – Evidência do CFIT da Passaredo em Campo de Soja Proximo a SBRD..........24
Fotografia 2 – Imagem Aérea do CFIT da Passaredo em Campo de Soja Proximo a SBRD..24
Fotografia 3 – Danos Sofridos na Fuselagem....……………………………………………...25
Fotografia 4 – Danos Sofridos no Trem de Pouso....................................................................26
Figura 1 - Carta de Obstáculo de Aeródromo...........................................................................31
LISTA DE ABREVIATURAS
ANAC Agência Nacional da Aviação Civil
CENIPA Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
COMAER Comando da Aeronáutica
DECEA Departamento de Controle do Espaço Aéreo
IATA International Air Transport Association, Associação Internacional de Transportes
Aéreos
METAR Metereological Aerodrome Report, Informe meteorológico regular de aeródromo
NOTAM Notice to Airman, Informação ao Aeronavegante
R-AFIS Remote Aerodrome Flight Information Service, Serviço de Informação de Voo
Remoto de Aeródromo
RNAV Area Navigation, Navegação de Área
SBRD Aeroporto Municipal Maestro Marinho Franco (Rondonópolis)
TROV Transporte de Órgãos Vitais (Para Doação)
LISTA DE SIGLAS
ACC Area Control Center, Centro de Controle de Área
ATC Air Traffic Control, Controle de Tráfego Aéreo
ATM Air Traffic Manangement, Gerenciamento de Tráfego Aéreo
ATR Avions de Trasnporte Régional, (Francês) Aviões de Transporte Regional
ATS Air Traffic Service, Serviço de Tráfego Aéreo
BCFG Banco de Nevoeiro
CFIT Controlled Flight Into Terrain, Colisão com o solo em Voo Controlado
CO2 Formula química do dióxido de carbono
DME Distance Measuring Equipament, Equipamento de Medição de Distância
FIR Flight Information Region, Região de Informação de Voo
FL Flight Level, Nível de Voo
Ft Feet, Pés (Unidade de medida de altitude/altura)
GBAS Ground-Based Augmentation System, Sistema de aumentação baseado em solo
GNSS Global Navigation Satellite System, Sistema Global de Navegação por Satélite
GPS Global Positioning System, Sistema de Posicionamento Global
ICA Instrução do Comando da Aeronáutica
IFR Instrument Flight Rules, Regras de Voo por Instrumentos
ILS Instrument Landing System, Sistema de Pouso por Instrumentos
IMC Instrument Metereological Conditions, Condições de Voo por Instrumentos
INS Inertial Navigation System, Sistema de Navegação Inercial
IRS Inertial Reference System, Sistema de Referência Inercial
MDA Minimun Descend Altitude, Altitude Mínima de Descida
NDB Non-directional Beacon, Radiofaról Não Direcional
NSC No Significative Clouds, Sem nuvens significativas
NSCA Norma do Sistema do Comando da Aeronáutica
OACI Organização da Aviação Civil Internacional
PAPI-Precision Approach Path Indicator, Indicador de Percurso de Aproximação de Precisão
Payload Carga Paga (Passageiros, Bagagens, Carga)
PBN Performance Based Navigation, Navegação Baseada em Performance
PCA Plano do Comando da Aeronáutica
RNP Required Navigation Performance, Performance de Navegação Requerida
SBAS-Satellite-Based Augmentation System, Sistema de aumentação baseado em satélite
TWR Tower, Torre
VFR Visual Flight Rules, Regras de Voo Visuais
VMC Visual Metereological Conditions, Condições de Voo Visual
VOR-Very High Frequency Omnidirectional Range, Sinal de Rádio Muito Alta Freqüência
emitido em todas as direções
ZPA Zona de Proteção de Aeródromo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................12
1.1 PROBLEMA DA PESQUISA..........................................................................................12
1.2 OBJETIVOS.....................................................................................................................12
1.2.1 Objetivo Geral.................................................................................................................12
1.2.2 Objetivos Específicos......................................................................................................13
1.3 JUSTIFICATIVA..............................................................................................................13
1.4 METODOLOGIA...............................................................................................................14
1.4.1 Natureza e Tipo de Pesquisa…………………………………………………………... 14
1.4.2 Materiais e Métodos.........................................................................................................15
1.4.3 Procedimentos de Coleta de Dados..................................................................................16
1.4.4 Procedimento de Análise dos Dados................................................................................16
1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO..................................................................................16
2 FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA.....................................................................................188
2.1 NAVEGAÇÃO BASEADA EM PERFORMANCE - PBN.…………………………......18
2.2 NAVEGAÇÃO DE ÁREA E PERFORMANCE DE NAVEGAÇÃO REQUERIDA -
RNAV/RNP..........................................................................................................................…18
2.3 SISTEMA DE NAVEGAÇÃO BASEADO EM SOLO/SATÉLITE -
GBAS/SBAS.....……………..............................................................................................…..19
2.4 GERENCIAMENTO DE TRÁFEGO AÉREO - ATM………………………...…….......19
2.5 SERVIÇOS DE TRÁFEGO AÉREO REMOTO, RÁDIO E TORRE -
R-AFIS/TWR………...…...................................................................................................…..20
2.6 ZONAS DE PROTEÇÃO AO AERÓDROMO…………………………………….........21
2.7 IMPACTO AMBIENTAL……………………………………………………………......22
2.8 CFIT EM RONDONÓPOLIS………………………………………………………….....22
2.9 VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DO PROCEDIMENTO GPS/
RNAV EM RONDONÓPOLIS................................................................................................27
2.10 A REALIDADE NO BRASIL.............……………………………………………….....30
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................34
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 37
12
1 INTRODUÇÃO
No mundo globalizado a aviação tornou-se vital para a economia de uma nação,
ainda mais se tratando de um país em desenvolvimento com dimensões continentais como o
Brasil, que apesar de possuir cerca de 2.500 aeródromos esparsos nos 8.516.000 Km² de
extensão territorial, apenas 119 estão em condições de realizar operações IFR, restringindo
todos os demais a operação VFR que muitas vezes inviabiliza economicamente o transporte
regular em regiões que possuem demanda. Ainda que boa parte do tráfego aéreo Brasileiro se
apresente de forma concentrada, a aviação regional encontra-se em estado de abandono
(BRASIL, 2016).
A Navegação Baseada em Performance ou PBN não é uma novidade, está em
desenvolvimento pela ICAO desde a década de 80 e em uso no Brasil há cerca de dez anos
(ICAO, 2008), ainda assim os Órgãos e Autoridades competentes (mesmo não faltando
recursos ao contrário do que se pensa) ainda não tiveram “tempo hábil” para desenvolver,
implantar e operacionalizar procedimentos GPS/RNAV em grande parte dos aeroportos
regionais que atendem grandes cidades do interior como: Cascavel, Dourados, Vilhena, Sinop,
Bonito, Três Lagoas, Rio Verde, Barra do Graças, Rondonópolis, Cacoal, Ji-Parana, etc.
dentre tantos outros, sendo esses destinos operados pela Azul Linhas Aéreas rotineiramente
pelo autor dessa pesquisa.
1.1 PROBLEMA DA PESQUISA
Porque, mesmo com a existência de mais de uma década, muitos aeroportos
regionais ainda não tem um procedimento GPS/RNAV em operação?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Compreender porque muitos aeroportos regionais ainda não utilizam a tecnologia
GPS/RNAV a fim de minimizar os impactos e restrições relacionados à operação visual.
13
1.2.2 Objetivos Específicos
a) Identificar, na legislação aeronáutica vigente, a competência e as diretrizes para
implantação de um procedimento GPS/RNAV.
b) Analisar o impacto ambiental da demora na implementação de procedimentos
GPS/RNAV.
c) Verificar se a ocorrência do CFIT da Passaredo em Rondonópolis tem alguma
relação com a falta do procedimento GPS/RNAV que está publicado no local,
mas ainda não está em operação.
d) Analisar a viabilidade econômica de implantação do procedimento GPS/RNAV
em Rondonópolis.
e) Descobrir quais os entraves para operação GPS/RNAV de acordo com a
realidade do Brasil.
1.3 JUSTIFICATIVA
Não é exagero afirmar que para qualquer país no mundo a aviação tornou-se vital,
ainda mais em um país de dimensões continentais como o Brasil que padece com uma
infraestrutura precária para todos os modais de transporte.
O interesse por esta pesquisa surgiu do próprio pesquisador que, em sua rotina
como Primeiro Oficial da Azul Linhas Aéreas, voando o ATR 72-600, aeronave turbo hélice
cuja finalidade é operar em aeroportos regionais com pouca infraestrutura, trazendo
passageiros para fazer conexões em aeroportos maiores, se depara quase que diariamente com
várias localidades que só operam VFR e não compreende porque há mais de um década que já
operamos GPS/RNAV no Brasil, ainda há muitos aeroportos operando apenas VFR, tendo em
vista que quando uma empresa aérea decide operar em uma localidade apenas VFR, além de
se expor a um nível maior de risco, devido a possíveis conflitos no circuito de tráfego aéreo
visual, aeronaves voando sem radio, aviões experimentais sem fiscalização, pilotos operando
em ambas cabeceiras da pista, etc. Para fazer a transição do Voo IFR para VFR, segundo as
normas vigentes na ICA 100-12 (BRASIL, 2016), devemos descer até o nível mínimo da FIR
ou do setor, se o piloto declarar no plano de voo que a rota já foi voada sob VMC e de lá para
prosseguir sob regras VFR encontrar condições VMC, ou seja, avistar mais de 50% do terreno
para poder continuar a descida até o circuito de tráfego.
14
Na FIR Curitiba, por exemplo, o nível mínimo é o FL110, portanto, se estiver
encoberto a 10.000 ft, não podemos prosseguir e devemos seguir para alternativa, este custo
de alternar e indenizar passageiros, além de constituir passivo jurídico é diluído na própria
passagem, muitas vezes inviabilizando economicamente o transporte regular.
Na prática muitas empresas pequenas e especialmente aviação executiva e de taxi
aéreo desconsideram as regras e continuam descendo IMC até o circuito de tráfego e além
disso até aonde o bom senso do Comandante e a complacência do Primeiro Oficial permitir,
não raro levando ao CFIT, como provavelmente foi o caso da Passaredo em Rondonópolis
onde há um procedimento GPS/RNAV publicado, mas que ainda não está em operação.
Se todos os aeroportos regionais tivessem um procedimento GPS/RNAV em
operação sem dúvida os casos de CFIT sofreriam uma diminuição drástica, os custos de
operar em aeroportos regionais diminuiriam significativamente (com menor probabilidade de
alternar) viabilizando a operação regular, disponibilizando esse crucial meio de transporte a
população local por um preço acessível e fomentando a aviação de um modo geral, (mais
rotas, mais aeronaves, mais contratações) fomentando a economia local e viabilizando
transporte aeromédico e de TROV.
Não obstante a segurança operacional seria ampliada disponibilizando várias
alternativas que operam IFR com procedimento GPS/RNAV, especialmente em áreas remotas
como na região norte do país, diminuindo o volume de combustível mínimo regulamentar
(que considera alternativas distantes) e poderá aumentar o payload ou no mínimo diminuir o
consumo, com um menor peso, além da consequente diminuição da emissão de CO2,
causando menor impacto ambiental.
Por tanto, são muitos os benefícios para a aviação e para população, bem como
para a economia do país, se todos os aeroportos regionais operassem GPS/RNAV.
1.4 METODOLOGIA
1.4.1 Natureza e Tipo de Pesquisa
A pesquisa é caracterizada como exploratória e baseada em procedimento
bibliográfico e documental com abordagem qualitativa e qualitativa. No estudo exploratório
buscamos aprofundar conhecimentos do assunto escolhido, criando novas possibilidades,
outros pontos de vista, aprimorando ideias (GIL, 2002). Assim, de acordo com Lakatos e
15
Marconi (2003, p. 188), a pesquisa exploratória busca “desenvolver hipóteses, aumentar a
familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma
pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos”.
O procedimento bibliográfico é definido pelos autores como “fonte de coleta de
dados [...] restrita a documentos, escritos ou não [...]” (LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 174)
ou ainda “desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos” (GIL, 2002, p. 44).
O procedimento documental utiliza “desde publicações avulsas, boletins, jornais,
revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de
comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão”
(LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 183), utilizando assim os mais diversos tipos de arquivos
públicos e particulares (GIL, 2002).
A principal abordagem utilizada para essa pesquisa será a abordagem qualitativa,
envolvendo “a redução dos dados, a categorização desses dados, sua interpretação e a redação
do relatório” (GIL, 2002, p. 133).
1.4.2 Materiais e Métodos
Essa pesquisa foi embasada em material documental e bibliográfico. Tomando
como base a Legislação Aeronáutica e Documentos da ICAO, Instruções e Regulamentos da
ANAC e também livros sobre o assunto.
O material documental utilizado é o que segue:
o ICA 100-12 - Regras do Ar
o DOC 9613 - Performed-based Navigation (PBN) Manual
o PCA 351-3 - Plano de Implementação ATM Nacional
o ICA 100-23 - Certificado de Habilitação Técnica para Elaborador de
Procedimentos de Navegação Aérea
o ICA 53-1 - NOTAM
o AIC 19/16 - ORGÃO ATS REMOTO DE AERÓDROMO
o AIC 25/16 - OPERAÇÃO DO R-AFIS DE NORONHA
o NSCA 3-3 Gestão da Segurança de Voo na Aviação Brasileira
o IATA Carbon Offset Program Frequently Asked Queations.
o ANAC - Base Histórica
o ANAC - PORTARIA Nº 3457/SIA/SRE
16
o Carta de Rota (ENRC) L5
o API Consulta Mensagens Meteorológica Versão 1.0.0.
o INFRAERO – TARIFÁRIO
o Portaria Nº 957/GC3 de 2015
o ICA 63-19 - Critérios de Análise Técnica da Área de Aeródromo (AGA)
o ICA 100-37 - Serviços de Tráfego Aéreo
1.4.3 Procedimento de Coleta de Dados
O procedimento de coleta de dados foi basicamente documental e bibliográfico,
adquirido de forma on-line e física e referenciado ao fim da pesquisa.
1.4.4 Procedimento de análise de Dados
Para o procedimento de análise de dados, baseamo-nos na análise de conteúdo, sobre a
qual Gil (Bardin s. d. apud 2002, p. 89) escreve:
A análise de conteúdo desenvolve-se em três fases. A primeira é a pré-análise, onde
se procede à escolha dos documentos, à formulação de hipóteses e à preparação do
material para análise. A segunda é a exploração do material, que envolve a escolha
das unidades, a enumeração e a classificação. A terceira etapa, por fim, é constituída
pelo tratamento, inferência e interpretação dos dados.
Seguindo esse exposto, os dados coletados para esse trabalho foram estudados e
analisados por meio do método da análise de conteúdo.
1.5 ORGANIZAÇÃ DO TRABALHO
A fim de atingir os objetivos da presente pesquisa, o trabalho foi estruturado da
seguinte maneira:
No capítulo 1, temos a introdução, onde encontramos a contextualização do
problema estudado, os objetivos gerais e específicos, a justificativa da escolha do tema e sua
relevância social, a metodologia utilizada e por fim, a organização do trabalho.
Seguindo o capítulo 2, apresentamos a fundamentação teórica, conceituando o
PBN, RNAV e RNP, GBAS e SBAS, ATM-Gerenciamento de Trafégo Aéreo, RAFIS/TWR e
Zonas de Proteção de Aeródromo. Na sequência desenvolvemos a análise do Impacto
17
Ambiental, levantamos hipóteses sobre o CFIT em Rondonópolis e a viabilidade econômica
da implantação do procedimento GPS/RNAV em Rondonópolis finalizando com A Realidade
no Brasil.
Por fim, o trabalho apresenta as considerações conclusivas sobre o exposto na
fundamentação teórica e a análise dos resultados encontrados, seguido das referências
utilizadas para elaboração da pesquisa.
18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 NAVEGAÇÃO BASEADA EM PERFORMANCE - PBN
O crescimento da aviação civil internacional e o surgimento de novas tecnologias
levaram a OACI na década de 80, não apenas a reavaliar, mas também reconhecer que os
serviços de tráfego aéreo e a estrutura do sistema de navegação aérea estavam limitando o
crescimento e inibindo melhorias na segurança, eficiência e regularidade das operações
aéreas. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, notavelmente o uso de satélites,
buscou-se um conceito de navegação aérea que permitisse a evolução do sistema ATC
mundial, baseado em requisitos operacionais, independente de tecnologias específicas
(BRASIL, 2012).
O Plano do Comando da Aeronáutica, PCA-351-3, (BRASIL, 2012, p.55) destaca
em seu item 3.4.2 que:
A introdução da navegação baseada em performance (PBN) deve estar apoiada por
uma infraestrutura de navegação resultante da combinação adequada das
informações de navegação oriundas de satélites, dos sistemas de navegação
autônomos (INS/IRS) e dos auxílios à navegação de base terrestre (GBAS,
VOR/DME e DME/DME).
2.2 NAVEGAÇÃO DE ÁREA E PERFORMANCE DE NAVEGAÇÃO REQUERIDA -
RNAV/RNP
De acordo com DOC 9613 (ICAO, 2008) RNAV e RNP são fundamentalmente
similares, sendo que o RNP tem uma especificação de navegação que inclui o requerimento
de um sistema a bordo de monitoramento e alerta da performance de navegação e o RNAV
não possui tal especificação. Muitos sistemas RNAV oferecem alta precisão e várias das
funções disponíveis de sistemas RNP, mas não são capazes de prover o monitoramento e
alerta de sua performance, sendo assim quando não é um requisito que o espaço aéreo seja
RNP, é preferível designá-lo como RNAV para evitar os custos de adequação aos operadores,
deste modo, operações RNAV e RNP devem coexistir por muitos anos, havendo uma gradual
transição para o RNP que oferece maior segurança operacional, precisão e eficiência,
conforme o número de aeronaves que operam RNP aumentarem e os custos de transição
diminuírem.
19
2.3 SISTEMA DE AUMENTAÇÃO BASEADO EM SOLO/SATÉLITE – GBAS/SBAS
O GBAS ou Sistema de Aumentação Baseado em Solo tem a finalidade de reduzir
as limitações encontradas no sistema de satélites para navegação ou posicionamento (como o
GPS, por exemplo), melhorando a capacidade de navegação para os usuários, com uma
cobertura média de 20 a 30 km, provendo a capacidade para aproximação de precisão para
todas as pistas de um aeroporto; o sistema de aumentação oferece maior precisão, integridade,
disponibilidade e continuidade do serviço ao sistema de coberturas de satélite. (SIEWERDT,
2010)
Já o SBAS funciona de maneira semelhante, porém trata-se de um sistema de
aumentação no qual o usuário recebe informação de aumentação proveniente de um sistema
satelital (BRASIL, 2016).
2.4 O GERENCIAMENTO DE TRÁFEGO AÉREO - ATM
Um gerenciamento de tráfego aéreo eficiente proporciona o uso racional do
espaço aéreo, reduzindo a carga de trabalho para controladores de voo e pilotos, bem como os
custos na provisão de serviços de navegação aérea, além da redução da emissão de gases e de
ruídos às comunidades próximas a aeroportos, consequentemente prestando melhores serviços
para os usuários desse meio de transporte (BRASIL, 2012).
A responsabilidade pela segurança da navegação aérea e o controle do espaço
aéreo brasileiro cabe ao Estado Brasileiro, delegadas ao Comando da Aeronáutica
(COMAER) por meio da Lei Complementar nº 97, alterada pela Lei Complementar nº 136, de
25 de agosto de 2010, e das Leis nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 e nº 11.182, de 27 de
setembro de 2005, dentre outras legislações. O DECEA é subordinado ao Comando da
Aeronáutica e tem por finalidade; planejar, gerenciar e controlar as atividades relacionadas
com o controle do espaço aéreo. Desse modo as orientações do comando da aeronáutica
conforme o PCA 351-3 (BRASIL, 2012, p.10):
2.2.1 Além de legislação própria, o Brasil, como membro da OACI, tem a
responsabilidade de cumprir as normas e recomendações que orientam e regulam as
atividades relacionadas à navegação aérea internacional, sem com isso comprometer
a sua soberania. Esse cumprimento, dentro das possibilidades e interesses nacionais,
é, antes de tudo, um dever do Estado Brasileiro.
2.2.2 O Brasil, sendo parte do sistema global de navegação aérea, necessita fazer-se
representar nos foros internacionais que tratam de assuntos referentes a esse tema,
não apenas para aquilatar interesses políticos, técnicos e operacionais que possam
20
interferir no gerenciamento do tráfego aéreo nacional, mas, também, para contribuir
em prol de uma maior eficiência e evolução da navegação aérea, tanto no contexto
nacional como regional.
2.2.3 De igual modo, a situação interna, na qual se inserem os interesses dos
usuários dos serviços de navegação aérea, deve ser avaliada e amplamente discutida
entre todos os interessados, com o objetivo de possibilitar uma correta análise das
necessidades, visando a adequada tomada de decisão relativa aos projetos a serem
implantados.
2.2.4 Cabe lembrar que, nessas análises, devem ser igualmente considerados os
compromissos assumidos pelo País e o estabelecimento de regulamentação que
aprimore a prestação dos serviços de navegação aérea e otimizem o gerenciamento e
o controle do espaço aéreo.
Segundo o PCA 351-3 de 2012, em seu item 2.4.2, o DECEA deve apresentar um
plano de implementação que defina a evolução estratégica do sistema ATM baseado em
performance, para atender a necessidades nacionais e assegurar uma evolução harmônica e
integrada aos planejamentos regionais e globais, deixando um ressalta em seu subitem e),
sobre a limitação do atual sistema; (BRASIL, 2012. p. 13)
e) Garantir que a estratégia de implementação, relacionada à evolução do ATM
Nacional, seja consolidada pelos Subdepartamentos e Organizações subordinadas,
por meio de programas, projetos e atividades, tendo por premissa que tais
planejamentos são resultados da análise da infraestrutura existente e do processo de
decisão colaborativa, limitados pela capacidade de execução aplicada à manutenção
e à operacionalização do atual sistema;
2.5 SERVIÇOS DE TRÁFEGO AÉREO REMOTO, RÁDIO E TORRE – R-AFIS/TWR
O Brasil é um país com grande número de aeródromos em seu território.
Conforme dados oficiais, o número total é da ordem de 2500 aeródromos, deste total de
aeródromos, 119 estão em condições de realizar operações IFR e em apenas 60 aeródromos
com operação IFR prestado o serviço de controle de aeródromo por uma torre de controle
(TWR), nos demais aeródromos é prestado o serviço de informação de voo de aeródromo por
um órgão AFIS (BRASIL, 2016).
Segundo a AIC 19/16 (BRASIL, 2016 p. 2):
O fluxo de tráfego aéreo nos aeródromos brasileiros apresenta-se de forma
concentrada, assim, o percentual expressivo dos aeródromos possui baixo volume de
tráfego.
O custo de manter a prestação do ATS local (TWR ou AFIS) como apoio à
realização de operações IFR nos aeródromos de baixo volume de tráfego tem
restringido a implementação dessas operações IFR em outros aeródromos
brasileiros. Nesse contexto, o novo conceito de operação remota de TWR ou órgãos
AFIS poderá ser aplicado, notadamente, em aeródromos com baixo movimento de
tráfego aéreo, resultando em significativos benefícios aos usuários.
21
Dessa forma, a AIC 25/16 (BRASIL, 2016) destaca o pioneirismo do aeroporto de
Fernando de Noronha ao ser o primeiro no Brasil a receber o serviço de informação de voo de
aeródromo remotamente (R-AFIS), este órgão AFIS ficará localizado nas dependências do
ACC Recife e cumpre os mesmos requisitos de comunicação e informação previstos para um
órgão ATS local, tanto em relação à interação com as aeronaves atendidas como com os
demais órgãos, serviços e elementos envolvidos com as operações aéreas nesse aeródromo.
2.6 AS ZONAS DE PROTEÇÃO DO AERÓDROMO
A ICA 63-19 que trata sobre os “Critérios de Análise técnica da Área de
Aeródromos” destaca em seu prefácio que:
O espaço aéreo, especialmente nas grandes cidades, é um recurso extremamente
limitado, administrado de acordo com os interesses da sociedade, de maneira a
garantir o seu uso eficiente e seguro. Para essa utilização são empregados
aeródromos que trazem benefícios para a população ao mesmo tempo que impõem
uma série de restrições ao aproveitamento das propriedades urbanas localizadas no
seu entorno, objetivando a segurança da atividade aérea.
Essa segurança depende das condições operacionais de cada aeródromo, que são
diretamente influenciadas pela utilização do solo urbano nas suas proximidades. A
existência de obstáculos no entorno pode impor limitações à plena utilização do sítio
aeroportuário e restringir o desenvolvimento das atividades aéreas em uma
determinada região. (BRASIL, 2015, p. 6).
Compete ao DECEA estabelecer os critérios a serem utilizados nas análises
técnicas da área de aeródromos e compete a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), de
acordo com a Lei nº 11.182, de 27 de setembro de 2005, Art. 8º, inciso XXI, regular e
fiscalizar a infraestrutura aeronáutica e aeroportuária, com exceção das atividades e
procedimentos relacionados ao sistema de controle do espaço aéreo, bem como, de acordo
com os incisos XXII e XXVI, aprovar os planos diretores dos aeroportos e homologar,
registrar e cadastrar os aeródromos. Por fim compete a Prefeitura a fiscalização e controle do
uso e ocupação do solo urbano.
Na Portaria Nº 957/GC3 do Comando da Aeronáutica que “dispõe sobre as
restrições aos objetos projetados no espaço aéreo que possam afetar adversamente a segurança
ou a regularidade das operações aéreas, e dá outras providências”. O Comandante da
Aeronáutica destaca (BRASIL, 2015 p. 1):
A importância da aviação para as atividades sociais e econômicas, requerendo o
constante aprimoramento dos mecanismos que estimulem a coordenação entre os
órgãos de âmbito federal, estadual e municipal, visando ao cumprimento das normas
22
e à adoção de medidas para regular e controlar as atividades urbanas que se
constituem, ou venham a constituir, potenciais riscos à segurança operacional ou que
afetem adversamente a regularidade das operações aéreas.
2.7 IMPACTO AMBIENTAL
Observa-se uma constante crescente nos NOTAMs1, a sistemática desativação de
NDBs que breve farão parte da “paleontologia da navegação aérea” juntamente com a
navegação ômega, navegação por sextantes, etc. De fato, diante de tantas novas tecnologias,
como satélites e sistemas de navegação autônomos (INS/IRS), a navegação radiogoniométrica
está com seus dias contados. Um procedimento convencional de navegação à rádio com um
ajuste em órbita leva cerca de 10 min. para ser realizado enquanto um procedimento
GPS/RNAV leva apenas 5 minutos para ser realizado.
A maioria dos voos regionais tem duração aproximada de 60 minutos, 5 minutos
representam praticamente 10% do tempo de voo, se imaginarmos cerca de 200 voos diários
para diferentes localidades nessa situação, seriam economizados 1000 minutos por dia ou
360.000 minutos por ano totalizando 6000hs de voo, o ATR, por exemplo, consome cerca de
700 kg de combustível por hora, gerando neste caso uma economia anual de 4.200.000kg de
combustível, segundo o “IATA Carbon Offset Program” (IATA, 2015) cada 1 kg de
combustível de aeronave a jato emite cerca de 3,15 kg de CO2, logo haveriam menos
13.230.000 kg/ano de CO2 na atmosfera, diminuindo o impacto ambiental.
Não obstante, procedimentos GPS/RNAV permitem uma descida constante, que
será calculada de modo a ser executada com baixa potência, diminuindo também o consumo e
a poluição sonora (oriunda do ruído dos motores em alta potência) aumentando a qualidade de
vida para as comunidades que vivem próximas de aeroportos.
2.8 CFIT EM RONDONÓPOLIS
O evento da Passaredo em Rondonópolis ocorrido em 09/01/2016 ainda não tem
um relatório final publicado pelo CENIPA, embora muitos o classifiquem como incidente,
segundo a NSCA 3-3 (BRASIL, 2013) o mesmo deverá ser classificado como acidente, pois
serão necessários grandes reparos na aeronave que sofreu sérios danos estruturais.
1 “Aviso distribuído por meio de telecomunicações que contém informação relativa a estabelecimento,
condição ou modificação de qualquer instalação aeronáutica, serviço, procedimento ou perigo, cujo
conhecimento oportuno seja indispensável para o pessoal encarregado das operações de voo. ” (BRASIL,
2014, p. 12)
23
Na realidade desde que o fato ocorreu à aeronave encontra-se abandonada no
pátio do aeroporto de Rondonópolis, de onde provavelmente não sairá mais. No mínimo este
evento deverá ser classificado como um incidente grave cuja diferença para o acidente está
apenas nas consequências (BRASIL, 2013) e em Rondonópolis por sorte a situação não
evoluiu para um acidente catastrófico.
Considerando as condições meteorológicas do METAR no momento da
aproximação, cuja visibilidade era 100m devido a bancos de nevoeiro, mesmo que o
procedimento GPS/RNAV estivesse em operação, o mesmo não poderia ser realizado e a
aeronave deveria aguardar por melhoras e prosseguir para a alternativa quando não houvesse
mais combustível disponível para realizar espera, mas infelizmente por uma questão cultural
em nosso país, em pequenas empresas, taxi aéreos e na aviação executiva, pilotos sofrem
fortes pressões para concluir a operação no destino pretendido e desenvolvem ao longo do
tempo uma filosofia de: “missão dada é missão cumprida” se expondo a riscos para
resguardar seus empregos.
É evidente que eles violaram as regras de voo, ainda mais prosseguindo sob regras
de voo visual para essa localidade com aquelas condições de tempo presentes supracitadas, o
problema é; a partir do momento que você viola uma regra e logra êxito, você se torna mais
confiante e na próxima ocasião que violar as regras novamente, qual será o seu limite? Esse,
do meu ponto de vista é o maior risco do voo “Visumento” onde o piloto tenta voar visual, em
condições de voo por instrumento.
Ainda que o procedimento RNAV de Rondonópolis estivesse em operação, com
aquelas condições ele não poderia ser realizado, mas considerando que os pilotos violassem as
regras e mesmo assim realizassem o procedimento, ao atingir a MDA, sem avistar a pista,
acredito que este poderia ser o gatilho para eles iniciarem a aproximação perdida, pois teriam
uma maior consciência situacional, por estarem realizando um procedimento IFR (Baixa
consciência situacional é um dos maiores fatores contribuintes para ocorrência de CFIT).
Na fotografia a seguir fica evidente o CFIT, com o rastro do toque do trem
principal antes da pista:
24
Fotografia 1 – Evidência do CFIT da Passaredo em Campo de Soja Proximo a SBRD
Fonte: Messias Filho (2016)
Na fotografia 2, uma imagem aérea no dia seguinte ao fato cujo autor é
desconhecido, é possível observar no canto superior esquerdo o toque do trem principal e os
danos causados a cerca.
Fotografia 2 – Imagem Aérea do CFIT da Passaredo em Campo de Soja Proximo a SBRD
Fonte: Desconhecida (2016)
Segundo matéria divulgada no site “Newsavia” (FERNADES, Catanho 2016), o
evento da Passaredo em Rondonópolis estava mal esclarecido, a administração aeroportuária
25
recusava-se a prestar declarações a respeito. Já a Passaredo em nota afirmava que: “reconhece
o incidente e refere que o avião pousou em segurança na segunda tentativa”. O secretário de
Transporte e Trânsito de Rondonópolis, Argemiro Ferreira, disse que “o incidente não teve
gravidade e que o avião, depois de ter arremetido, pousou na pista do aeroporto de maneira
habitual”. A seguir um trecho da matéria (FERNADES, 2016, p. 1):
Um avião ATR 72-200 da companhia brasileira Passaredo Linhas Aéreas sofreu um
incidente ao princípio da madrugada deste sábado, dia 9 de janeiro, quando se
preparava para pousar no Aeroporto Maestro Marinho Franco, na cidade de
Rondonópolis, no Estado de Mato Grosso, no centro-oeste do país. [...]
Segundo as informações disponíveis, o ATR 72-200, matrícula PR-PDD, que fazia o
voo P3-2330 entre Brasília e Rondonópolis, com cerca de 60 passageiros a bordo,
teve uma má abordagem à pista tendo descido numa zona a cerca de 300 metros da
cabeceira sul da pista, entrando num terreno cultivado de soja e derrubando no seu
percurso uma cerca formada por postes de cimento (concreto) e arame farpado.
Fotografia 3 – Danos Sofridos na Fuselagem
Fonte: Messias Filho (2016)
Na fotografia acima podemos observar os dados sofridos na fuselagem
próximo ao nariz da aeronave, decorrentes do impacto com uma cerca durante a arremetida
após o CFIT.
26
Fotografia 4 – Danos Sofridos no Trem de Pouso
Fonte: Messias Filho (2016)
Na fotografia 4 podemos observar os danos sofridos no trem de pouso da
aeronave.
O evento ocorreu por volta das 22h55min, horário de Brasília correspondendo as
01h55min no horário Zulu que é adotado na confecção dos reportes meteorológicos de
aeródromo ou METAR.
Como podemos observar a seguir, as condições meteorológicas em SBRD
estavam muito distantes dos mínimos visuais que requerem 5000 metros de visibilidade e na
ocasião devido a bancos de nevoeiro havia apenas 1000 metros de visibilidade às 22h30min
no horário de Brasília, deteriorando para apenas 100 metros a partir da 00h30min do dia
seguinte (FERNADES, 2016, p. 3):
SBRD 090530Z 11005KT 0100 BCFG NSC 23/23 Q1010=
SBRD 090330Z 10005KT 0100 BCFG NSC 23/23 Q1010=
SBRD 090220Z 10005KT 1000 BCFG NSC 22/22 Q1011=
SBRD 090130Z /////KT 1000 FG VV010 ///// Q1010=
Em outra matéria (SODRÉ, 2016), destaca a cobrança da sociedade local com
relação à operacionalização do RNAV e PAPI, a fim de minimizar os cancelamentos e atrasos
devido a condições meteorológicas desfavoráveis. A prefeitura teria investido cerca de R$
880.000 através de licitação para a implantação de ambos os sistemas, entretanto o processo
de homologação ainda não estaria concluído e a pressão estaria aumentando desde o
“incidente” com a Passaredo, o Secretário municipal de Transporte e Trânsito, Argemiro
27
Ferreira, “disse não ser possível dar um prazo para colocar em operação o PAPI e o RNAV no
Aeroporto Municipal, pois atesta que os procedimentos atuais são alheios à competência da
municipalidade” (SODRÉ, 2016) e a matéria conclui: “Com o começo da operação do PAPI e
do RNAV, a esperança é que os constantes cancelamentos de voos ou falta de condições de
aterrissagem possam diminuir grandemente em Rondonópolis, bem como evitar prováveis
acidentes aéreos” (SODRÉ, 2016).
2.9 VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DO PROCEDIMENTO
GPS/RNAV EM RONDONÓPOLIS
Foi realizada uma análise no histórico de METAR de SBRD no período de
01/01/2017 até 30/06/2017 através do aplicativo API disponível no site “redemet” (BRASIL,
2017).
Mas antes de analisarmos os dados e as conclusões é preciso considerar que:
Em primeiro lugar; SBRD não disponibiliza METAR 24hs por dia, sendo que sua
estação de telecomunicações que realiza as observações meteorológicas funciona apenas em
horários pré-determinados entre a Administração Aeroportuária e as Companhias Aéreas que
lá operam.
Por razões obvias e a própria restrição das regras e mínimos necessários para o
voo visual, as Companhias preferem operar nestas localidades em horários próximos das 12hs
até as 15hs, onde a temperatura mais elevada do dia diminui a probabilidade de fenômenos
que restringem muito a visibilidade como o nevoeiro, bem como o “teto” nestes horários
também geralmente é o mais alto do dia, pois a temperatura também afeta o nível da base das
nuvens.
Não obstante, os operadores da estação de telecomunicações aeronáuticas que
geralmente também realizam as observações para confeccionar os METAR sofrem pressão da
comunidade aeroportuária local (gerentes de companhias, pilotos de taxi aéreo, malote,
aviação executiva...) para manter o aeroporto “acima dos mínimos”, infelizmente essa é uma
realidade presenciada pelo autor e observada no histórico dos METARs do semestre analisado
que de fato, muitas vezes as condições meteorológicas eram marginais, mas ainda dentro dos
mínimos, permitindo que o voo pudesse ser despachado e que os pilotos tivessem respaldo
documental para tentar a aproximação na localidade.
Essa pressão é cultural no nosso país e muitas vezes têm sua origem na
preocupação de funcionários de companhias e administradores do aeródromo com a
28
possibilidade da interrupção dos voos para a localidade devido a frequentes grandes prejuízos
gerados por atrasos e cancelamentos e consequentemente o encerramento das atividades no
local e o desligamento dos funcionários. Não é raro em um dia de condições meteorológicas
desfavoráveis alguém ir até a sala do responsável pela confecção dos METAR e esbravejar
“Assim você vai parar a aviação!”.
Se, por exemplo, de fato a base mais baixa de nuvens estiver a 900ft e cobrir mais
da metade do céu, o aeroporto estará fechado nublado a 900ft, mas se o meteorologista julgar
que é “menos” da metade, estará aberto com nuvens esparsas a 900ft. Esta análise identifica a
interferência da observação humana na definição das condições meteorológicas e a qual pode
ter o Fator Humano, através da violação, como fator contribuinte a um acidente / incidente
aeronáutico em consequência da pressão sofrida.
De todos os METARs do Aeroporto de Rondonópolis analisados no período de
01/01/2017 até 30/06/2017, 58 estavam abaixo dos mínimos para voo visual (5000 metros de
visibilidade e 1500ft de teto), destes apenas 20 estariam abaixo dos mínimos IFR dos
procedimentos RNAV que foram publicados para SBRD, mas que ainda não estão em
operação (considerando a visibilidade mais restritiva de 1700 metros), geralmente devido a
nevoeiro. Tendo em vista que, como anteriormente mencionado, a localidade não
disponibiliza METAR para todos os horários e as companhias operam apenas nos melhores
horários, esses números são expressivos.
Isso sem levar em conta que não basta o aeroporto estar VMC, pois para descer do
nível de cruzeiro até o circuito de tráfego é preciso ter referências com mais da metade do
terreno a partir do nível mínimo da FIR (ou declarar que a rota já foi voada VMC no plano de
voo, para poder descer até a altitude mínima do setor, que não é uma prática atual da Azul),
SBRD está situado na FIR Brasília cujo mínimo fora de aerovia é o FL110, em outras
palavras, seguindo essa regra qualquer camada que cubra mais de 50% do terreno, do FL110
até o circuito de tráfego, inviabiliza a operação VFR e essa situação é muito mais restritiva
que a operação e os mínimos VFR no aeródromo. Segundo a carta de rota disponível no site
“aisweb” (BRASIL, 2016), o nível mínimo no setor de Rondonópolis é de 3700ft,
arredondando para o próximo nível IFR seria o FL 040, ou seja, o campo de SBRD está a
cerca de 1500ft de altitude e até o nível FL040 são 2500ft, qualquer “teto” (nublado ou
encoberto) até 2500ft também inviabilizaria a operação mesmo descendo até a altitude
mínima do setor e neste caso, considerando o mesmo período analisado anteriormente são 152
METARs que apresentaram teto abaixo do mínimo do setor.
29
Em outras palavras ainda que o aeroporto de SBRD estivesse VMC, em 152 casos
no período de seis meses analisado (BRASIL, 2017), não seria possível descer da altitude
mínima do setor para o circuito de tráfego mantendo referencias com pelo menos 50% do
terreno e esse na realidade é o maior impacto. Em alguns casos como este onde o aeroporto
está VMC, mas não é possível descer mantendo VMC até o circuito de tráfego, é possível
antecipar a descida mantendo VMC e prosseguir “abaixo das camadas”, mas esta prática não é
comum e tem a penalidade de um maior consumo de combustível que não foi calculado bem
como uma maior exposição ao risco, por estar voando a baixa altitude por um período
prolongado onde qualquer pane e/ou anormalidade é mais grave, visto que não haverá muito
tempo hábil para lidar com uma “falha de motor”, por exemplo.
A ANAC disponibiliza planilhas com a relação dos voos executados e cancelados
da aviação regular, ao analisar os meses de abril, maio e junho de 2017, foi verificado que
houveram 118, 119 e 114 voos respectivamente, com origem ou destino em SBRD, destes 17
(abril), 14 (maio) e 14 (junho) foram cancelados em 2017. (BRASIL, 2017).
Com estes dados podemos estabelecer que a média de voos com origem ou
destino em SBRD é de 117 por mês e a média de cancelamentos é de 15, Considerando os
152 METARs que no primeiro semestre de 2017 haveria problemas para prosseguir a descida
VMC e destes somente 20 estariam a baixo dos mínimos do procedimento RNAV/GPS
publicado, mas que ainda não está em operação, ao estabelecer uma relação percentual entre
esses valores é possível afirmar que recuperaríamos cerca de 86,84% ou seja, recuperaríamos
13 dos 15 voos cancelados mensalmente (BRASIL, 2017).
Segundo o site da Azul Linhas Aéreas (AZUL, 2017) atualmente a taxa de
embarque em SBRD é de R$ 19,46 e considerando hipoteticamente para fins de cálculo que
os vôos com origem ou destino SBRD tem geralmente uma média de 90% de ocupação, sendo
que o ATR 72-600 possui 70 assentos disponíveis, teríamos 63 assentos vezes R$ 19,46 (taxa
de embarque) vezes 13 voos recuperados ou R$ 15.937,74.
Os aeroportos são classificados em 4 categorias para fins de arrecadação tarifária
(taxa de embarque, tarifa de pouso, etc...). Os aeroportos de categoria 1 são aqueles que
apresentam maior pontuação em relação a infra-estrutura disponibilizada e portanto maior teto
tarifário, Rondonópolis atualmente é classificado como aeroporto de categoria 3 (ANAC,
2013), considerando as recentes melhorias, ampliação da pista, instalação do PAPI e
implementação do procedimento GPS/RNAV (que ainda não estão em uso) é provável que em
uma próxima avaliação ele suba de categoria tão logo essas facilidades estejam disponíveis, o
30
que aumentaria a taxa de embarque e a taxa de pouso, mas para fins de cálculo, vamos
considerar que Rondonópolis permanecerá na categoria 3. (INFRAERO, 2017)
A tarifa de pouso para aeroportos de categoria 3 é de R$ 5,82 por tonelada
(INFRAERO, 2017), calculada multiplicando-se pelo peso máximo de decolagem (que são 23
toneladas no ATR) totalizando R$ 133,86 por pouso, multiplicando este valor pelas 13
operações recuperadas por mês (Com o procedimento GPS/RNAV em uso) temos R$2.305,29
recuperados, acrescentando os R$ 15.937,74 referente as taxas de embarque recuperadas,
temos um total de R$ 18.243,03 recuperados mensalmente.
Considerando o investimento realizado pela Prefeitura de Rondonópolis para
implantação do RNAV/GPS e do PAPI no valor de R$ 880.000 (Conforme supracitado no
item 2.8 desta pesquisa) teríamos um retorno do Investimento em 48 meses (cerca de 4 anos,
considerado médio prazo), isso sem considerar que com o procedimento GPS/RNAV em uso
as companhias poderiam ofertar mais voos e conexões em melhores horários, o acréscimo de
apenas duas frequências diminuiriam o prazo de retorno do investimento de 48 meses para
apenas 42 meses, sem mencionar a possibilidade de começar a operação com aeronaves que
disponibilizam mais assentos e tem maior peso de decolagem pagando uma tarifa de pouso
maior.
Neste cálculo não foi possível levar em consideração os demais custos e despesas
do aeroporto (manutenção, recursos humanos, etc...), por não ter acesso a informação dos
mesmos e não conseguir contato com o Gestor do Aeroporto através dos meios disponíveis.
Ainda assim fica evidente que a implantação de um procedimento GPS/RNAV
aumenta significativamente a operacionalidade de um aeroporto e por conseqüência todas as
suas receitas, viabilizando a oferta de mais frequências de voo para a localidade em diversos
horários (que não eram ofertados devido ao maior risco de condições metereológicas
desfavoráveis) além de atrair outras companhias, com mais oferta e competição, diminuindo o
valor da passagem aérea (que considera os custos de alternar com freqüência), com mais
freqüências e passagens mais acessíveis haverá maior circulação de pessoas no terminal de
passageiros atraindo investimentos de serviços concessionários e receitas “não aeronáuticas”,
podendo transformar um aeroporto que antes era deficitário em superavitário.
2.10 A REALIDADE NO BRASIL
Não é nenhum segredo ou novidade que o Brasil está entre os países que mais
cobram impostos no mundo, pagamos caro e chegamos a pagar mais de uma vez por serviços
31
de qualidade questionável (por exemplo, além de pagar o imposto sobre a propriedade de
veículo automotor, também pagamos o pedágio e ainda assim, a estrada em más condições
causa acidentes ou no mínimo o desgaste prematuro do seu veículo).
Na realidade nossas Instituições, representantes e servidores públicos que
deveriam salvaguardar o interesse público e o bem comum, este mantém o foco em seus
próprios interesses sejam eles quais forem, agindo muitas vezes como se fosse um favor
prestar os serviços de sua competência.
Quando afirmo que as instituições têm seus próprios interesses (geralmente
econômicos), posso evidenciar através dos seguintes fatos:
Se fosse do interesse do DECEA o uso eficiente e seguro do espaço aéreo,
haveriam procedimentos GPS/RNAV publicados e aprovados até o limite de sua competência
para todos os aeroportos regionais, afinal volto a afirmar que estes procedimentos estão em
operação há cerca de 10 anos, ou seja não faltou tempo hábil nem recursos para sua
implementação.
Se para a ANAC as zonas de proteção do aeródromo realmente constituíssem um
empecilho para a operação IFR ou a implantação de um procedimento GPS/RNAV como
poderíamos explicar o aeroporto de Congonhas em São Paulo, que possui procedimentos de
precisão ILS e o DECEA chegou até a publicar uma “carta de obstáculo de aeródromo”.
Figura 1 Carta de Obstáculo de Aeródromo:
Fonte: BRASIL (2017)
Também podemos citar o aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro, cercado de
evidentes obstáculos, com procedimentos GPS/RNAV peculiares para ambas as cabeceiras.
32
É óbvio o grande interesse econômico travestido de “bem comum” de explorar
estes aeroportos no coração das maiores cidades do Brasil.
Por fim as prefeituras que deviam tomar a iniciativa com relação a implantação de
procedimentos GPS/RNAV em seus aeroportos e fiscalizar o controle do uso e ocupação do
solo urbano, são claramente movidas por interesses políticos de curto prazo e sua
administração pode mudar a cada quatro anos modificando o foco e dificultando a
continuidade dos trabalhos.
Se por um lado a privatização de aeroportos desburocratiza os mesmos, por outro
a iniciativa privada busca recuperar seus investimentos da maneira mais breve possível e
ressalvada a tendência mundial de grandes aeroportos focarem em receitas não aeroportuárias,
(oriundas de serviços concessionários no terminal de passageiros, sem relação direta com a
operação das aeronaves), com propósito de garantir sua saúde financeira independentemente
da sazonalidade das operações aéreas e dos impactos causados pela flutuação da economia nas
mesmas.
Os maiores investimentos observados focam na transformação de terminais de
passageiros em aeroshoppings, enquanto o lado ar do aeroporto padece com taxiways
impraticáveis, pátios e pistas degradadas, auxílios de navegação fora de uso, deficiência de
procedimentos de precisão para ambas as cabeceiras em grandes aeroportos que servem
capitais como Porto Alegre, Cuiabá, Belo Horizonte (Confins), Recife, etc... Tudo isso pode
ser facilmente observado lendo os NOTAMs dessas localidades.
Desnecessário comentar que a impraticabilidade de uma taxiway pode impactar
em vários minutos adicionados a cada operação, e cada minuto de atraso ou demora, implica
em maiores custos para companhia aérea (hora de motor e célula causando manutenção
prematura, hora de pagamento para tripulantes, maior consumo de combustível e
consequentemente maior impacto ambiental). Cada minuto perdido multiplicado por X
operações diárias vezes 365 dias em um ano, causam um grande impacto financeiro e
ambiental, que obviamente será repassado ao usuário do serviço, o passageiro. Um bom
exemplo disso é o aeroporto de Cuiabá que alguns meses atrás com a única taxiway que dá
acesso ao ponto de espera da pista 17, impraticável devido a buracos, o taxi devia ser
realizado sobre a pista, ocorre que o sequenciamento para pousos somado a demora de
realizar o taxi sobre a pista causava atrasos de cerca de 30 minutos para cada decolagem.
A verdade é que não há seriedade com a administração e o uso de verbas públicas
e muitos aeroportos ficam impedidos de operar com sua plena capacidade (ressalvadas as
peculiaridades dos terrenos onde localiza-se o sitio aeroportuário). Podemos citar como
33
exemplo, Guarulhos, cuja proximidade de ambas as pistas inviabiliza operações simultâneas
nas mesmas, Dourados cujo prédio da seção contra incêndio situado dentro do perímetro
aeroportuário interfere em sua zona de proteção do aeródromo e tantos outros com taxiways
muito próximas da pista, etc...
No Rio Grande do Norte, por exemplo, temos dois aeroportos, a base aérea de
Natal que foi construída por americanos na década de 40, localizada próxima ao centro da
capital e São Gonçalo do Amarante que passou a servir a capital desde meados de 2014 e sua
pista já está interditada realizando obras para reparos (FOLHA DE S.PAULO, 2017). O ponto
curioso aqui é; o Brasil sendo um país em desenvolvimento que não possui um grande
histórico de conflitos militares e nem faz grandes investimentos em sua Força Aérea, pode se
dar ao luxo de construir um aeroporto só para civis?; e mesmo que houvesse tal necessidade
não seria mais lógico ceder o aeroporto mais próximo da capital para os civis (que a recém
tinha sido reformado) e utilizar o aeroporto de São Gonçalo do Amarante para fins militares?;
visto que o acesso ao mesmo é tão ruim que alguns passageiros preferem voar para João
Pessoa e seguir de lá até Natal via terrestre. Apenas para concluir esse raciocínio os
exploradores do aeroporto envolvidos neste caso já são alvos de investigação pela operação
Lava Jato da Policia Federal.
Se os grandes aeroportos do Brasil já sofrem com isso, então o que resta para os
aeroportos regionais?
Nos resta então, atribuir a morosidade para implantação de procedimentos
GPS/RNAV em aeroportos que possuem demanda por transporte regular mas que só operam
VFR ao “Custo Brasil” que é um jargão político-econômico atual usado genericamente para
descrever as dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o
investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento nacional como um conjunto de fatores
que comprometem a competitividade e a eficiência da indústria nacional.
34
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo geral compreender porque muitos aeroportos
regionais ainda não utilizam a tecnologia GPS/RNAV a fim de minimizar os impactos e
restrições relacionados à operação visual. Neste contexto foram apresentados a legislação
aeronáutica vigente, a competência e as diretrizes para implantação de um procedimento
GPS/RNAV
A ICAO incumbe os Estados membros a seguir suas recomendações no que tange
o uso eficiente e seguro do espaço aéreo, no Brasil o Comando da Aeronáutica é o
responsável pela segurança da navegação aérea e o controle do espaço aéreo que por sua vez
delega ao DECEA o controle do espaço aéreo.
Para que um aeroporto possa começar a operar IFR e implantar um procedimento
GPS/RNAV é preciso que haja iniciativa da prefeitura do município cujo aeroporto está
situado. Então surge a necessidade da interação entre o DECEA que desenhará e testará o
novo procedimento (que na prática, com raras exceções é um template padrão), a ANAC que
analisará e aprovará o estudo desenvolvido da zona de proteção do aeródromo e a prefeitura
cuja responsabilidade é fiscalizar o controle do uso e ocupação do solo urbano a fim de
preservar a zona de proteção do aeródromo.
Tendo em vista que na grande maioria das vezes o procedimento GPS/RNAV não
requer a instalação de novos auxílios de navegação em solo como um VOR, NDB ou ILS, por
exemplo, (exceção é feita no caso do GBAS para ampliação do sinal GPS em áreas muito
remotas), o template do procedimento é padrão (com raras exceções devido a peculiaridades
locais tais como obstáculos ou áreas restritas, proibidas e/ou perigosas) e o teste do mesmo
pode ser feito até mesmo pelos maiores interessados; as companhias aéreas (“X”
aproximações em condições VMC, como já ocorreu no passado) logo a implantação de um
procedimento GPS/RNAV deveria ser simples, rápida e barata.
Quanto ao impacto ambiental na implementação de procedimentos GPS/RNAV, é
fato que o aquecimento global é uma crescente preocupação mundial e uma de suas principais
causas é o impacto ambiental das atividades humanas, demandando cada vez mais restrições e
leis de proteção ambiental.
O uso eficiente do espaço aéreo permite reduzir drasticamente a emissão de CO2,
tendo em vista que procedimentos GPS/RNAV podem representar a diminuição de alguns
minutos em vôos para localidades que só operam VFR, além de aumentar a operacionalidade
35
do aeroporto evitando que vôos alternem devido a condições meteorológicas desfavoráveis
economizando horas de emissões de CO2 adicionais.
Considerando a simples economia de 5 min de vôo para 200 localidades diárias
que não possuem procedimento GPS/RNAV, totalizamos 6000hs de vôo por ano, e mesmo o
ATR 72-600 que é considerado um avião econômico, consome em média 700kg por hora,
sabendo que cada 1kg de combustível para aeronave a jato emite cerca de 3,15 kg de CO2
temos 13.230.000 kg/ano de CO2 a menos na atmosfera, isso sem considerar os vôos que
alternam, esperas devido meteorologia e aeronaves maiores cujo consumo horário é muito
maior.
Não obstante os procedimentos GPS/RNAV são realizados em descida constante
com baixa potência e também causam menos poluição sonora, melhorando a qualidade de
vida das comunidades que vivem próximas a aeroportos.
A sociedade está cada dia mais consciente e preocupada com o impacto ambiental.
Foram realizadas buscas on-line sobre artigos que relacionam o impacto sobre a
operacionalidade de aeroportos regionais que estão restritos apenas a operação visual e a
ocorrência de CFIT nestas localidades. Porém, as buscas na internet com base nas ferramentas
do PubMed, SciELO e Portal de Periódicos CAPES não lograram êxito.
Ainda que o procedimento RNAV de Rondonópolis estivesse em operação, com a
visibilidade de 100 metros ele não poderia ser realizado, portanto não há como afirmar que se
o procedimento RNAV estivesse em uso, o acidente teria sido evitado, mas considerando que
os pilotos violassem as regras e mesmo assim realizassem o procedimento, ao atingir a MDA,
sem avistar a pista, este deveria ser o gatilho para que eles iniciassem a aproximação perdida,
pois teriam uma maior consciência situacional, por estarem realizando um procedimento IFR
(Baixa consciência situacional é um dos maiores fatores contribuintes para ocorrência de
CFIT).
Não identificou-se necessidade de realizar cálculo para evidenciar que a
implantação de procedimentos GPS/RNAV viabilizaria a operação regular em muitos
aeroportos regionais que possuem demanda e o investimento necessário seria sem dúvida
recuperado no médio/longo prazo pois a implantação de um procedimento GPS/RNAV
aumenta significativamente a operacionalidade de um aeroporto e por conseqüência todas as
suas receitas, viabilizando a oferta de mais frequências de voo para a localidade em diversos
horários (que não eram ofertados devido ao maior risco de condições meteorológicas
desfavoráveis) além de atrair outras companhias, que com mais oferta e competição,
diminuem o valor da passagem aérea (que considera os custos de alternar com freqüência).
36
Com mais freqüências e passagens mais acessíveis haverá maior circulação de
pessoas no terminal de passageiros atraindo investimentos de serviços concessionários e
receitas “não aeronáuticas”, podendo transformar um aeroporto que antes era deficitário em
superavitário além de disponibilizar esse meio de transporte crucial a população a um preço
acessível, fomentando a aviação e diminuindo o impacto ambiental, aumentando a segurança
operacional ao disponibilizar mais aeroportos que podem ser utilizados como alternativa IFR
e certamente diminuindo os casos de CFIT.
A interação entre uma Instituição militarizada; o DECEA, uma autarquia civil; a
ANAC e a administração municipal; a Prefeitura, constituem certamente o maior obstáculo.
Como grande ponto positivo a possibilidade de prestação de serviços de tráfego
aéreo remoto como RAFIS ou RTWR, que já está em uso em Fernando de Noronha,
desconstituirá um dos maiores empecilhos e deverá ajudar muito a viabilizar a operação IFR
em aeroportos regionais.
Nos resta então, atribuir a morosidade para implantação de procedimentos
GPS/RNAV em aeroportos que possuem demanda por transporte regular mas que só operam
VFR ao “Custo Brasil” usado genericamente para descrever as dificuldades
estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando
o desenvolvimento nacional como um conjunto de fatores que comprometem a
competitividade e a eficiência da indústria nacional.
O tema dessa pesquisa limitou-se a tentar compreender porque muitos aeroportos
regionais ainda não utilizam a tecnologia GPS/RNAV a fim de minimizar os impactos e
restrições relacionados à operação visual e não tem a pretensão de esgotar o assunto, devem
ser realizadas mais pesquisas que correlacionem o índice de ocorrência de CFIT em
localidades que operam apenas sob VFR, a eficácia das RAFIS e RTWR e seus possíveis
problemas, a atuação das prefeituras na fiscalização e controle do uso e ocupação do solo
urbano com vistas a preservar a zona de proteção do aeródromo e o verdadeiro custo de
implantação de um procedimento GPS/RNAV.
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