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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA BEATRIZ ALVES DA SILVA DALMOLIN A TRICOTOMIZAÇÃO ENTRE ARITMÉTICA, ÁLGEBRA E GEOMETRIA NOS ERROS APRESENTADOS POR ESTUDANTES DA DISCIPLINA DE CÁLCULO DIFERENCIAL INTEGRAL I Tubarão 2015

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

BEATRIZ ALVES DA SILVA DALMOLIN

A TRICOTOMIZAÇÃO ENTRE ARITMÉTICA, ÁLGEBRA E GEOMETRIA NOS

ERROS APRESENTADOS POR ESTUDANTES DA DISCIPLINA DE CÁLCULO

DIFERENCIAL INTEGRAL I

Tubarão

2015

BEATRIZ ALVES DA SILVA DALMOLIN

A TRICOTOMIZAÇÃO ENTRE ARITMÉTICA, ÁLGEBRA E GEOMETRIA NOS

ERROS APRESENTADOS POR ESTUDANTES DA DISCIPLINA DE CÁLCULO

DIFERENCIAL INTEGRAL I

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação

em Educação, linha de pesquisa Educação em Ciências

da Universidade do Sul de Santa Catarina, requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profª Drª Josélia Euzébio da Rosa

Tubarão

2015

BEATRIZ ALVES DA SILVA DALMOLIN

A TRICOTOMIZAÇÃO ENTRE ARITMÉTICA, ÁLGEBRA E GEOMETRIA NOS

ERROS APRESENTADOS POR ESTUDANTES DA DISCIPLINA DE CÁLCULO

DIFERENCIAL INTEGRAL I

A todos que participaram direta ou

indiretamente durante a realização deste e,

em especial, ao meu esposo Rudinei e à

minha filha Luiza.

AGRADECIMENTOS

O início desta caminhada foi difícil e diversas vezes cheia de conflitos. A sua

realização até o presente momento só foi possível, pois tivemos a contribuição de muitas

pessoas, as quais agradeço de modo especial:

A Deus, por ter me oportunizado conhecer pessoas tão especiais.

À minha orientadora, professora Dr.ª Josélia Euzébio da Rosa, a quem tenho

profunda admiração e respeito pela pessoa incrível que é: profissional competente e amiga.

Agradeço por compartilhar seus conhecimentos, com muita paciência e dedicação, pois a

realização desta só foi possível com sua presença constante. A ela, meu muito obrigada.

Ao professor Dr. Ademir Damazio, por suas contribuições sempre valiosas,

também responsável pela minha determinação em ingressar em um Programa de Pós-

Graduação.

À professora Dr.ª Vanessa Dias Moretti e ao Prof. Dr. Gilvan Luiz Machado

Costa pelo aceite em participar da banca de qualificação e pelas contribuições que virão.

A todos os professores doutores do Mestrado em Educação da Unisul que, durante

a realização das disciplinas geraram discussões e com muito empenho contribuíram para o

desenvolvimento deste trabalho. Agradeço também, a todos os colegas do mestrado.

À coordenadora do curso (Mestrado em Educação), Doutora Maria da Graça

Nóbrega Bollmann.

À secretária Dani, por sua eficiência no desempenho de sua profissão.

Aos integrantes do GPEMAHC (Grupo de Pesquisa em Educação Matemática na

Abordagem Histórico-Cultural) Dr. Ademir, Dr.ª Josélia, Eloir, Sandra, Lucas Sid, Lucas

Lemos, Willian, Osvaldo, Manoel, Day, Val, Ediséia, Cris, Ana e Josiane pelos momentos de

estudos, perguntas e reflexões, e pelos materiais bibliográficos disponibilizados.

À Sandra, Ana, Cris e Cleber pelas leituras com olhar crítico. Obrigada por todas

as contribuições e principalmente pelos momentos de angústias compartilhados. Muito

obrigada pela amizade.

Aos coordenadores da Faculdade em que a pesquisa foi realizada, em especial à

professora da turma e aos estudantes.

A toda a minha família, em especial: meus pais, Nicolau e Mariléia, por todo o

incentivo e educação concedida. A meus irmãos por todo o apoio psicológico. A meus sogros

por todo o incentivo.

A meu esposo Rudinei, grande amor, pelo companheirismo, carinho, e presença

incansável em momentos de tantas angústias e aflições. Cabe um agradecimento especial a

minha filha Luiza, que por mais que ainda não entenda, sempre se mostrou compreensível,

amiga, um grande amor, razão da minha vida.

A todos que direta ou indiretamente estiveram presentes, meu MUITO

OBRIGADA!

RESUMO

O objetivo deste presente estudo é investigar a natureza dos erros apresentados pelos

estudantes da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, em dois cursos de Engenharia. A

análise dos dados fundamenta-se nos princípios da Teoria Histórico-Cultural, com foco para

obra de Davýdov, cuja matriz epistemológica encontra-se no Materialismo Histórico

Dialético, considerado como método de estudo. Desenvolvemos as seguintes ações: Estudo

dos pressupostos da teoria Histórico-Cultural para o ensino de Matemática; Levantamento dos

erros apresentados pelos estudantes na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I;

Categorização e análise dos erros encontrados com base nos fundamentos da Teoria

Histórico-Cultural; O contexto de coleta de dados foi uma Faculdade da rede particular

localizada no sul do Estado de Santa Catarina. A investigação foi realizada em uma turma de

Cálculo Diferencial e Integral I com sete estudantes de dois cursos de Engenharia. Estes

foram acompanhados individualmente pela pesquisadora. Durante a coleta de dados, foram

realizados registros escritos, fotografias e gravações de áudio das conversas dos estudantes

com a professora ou com a própria pesquisadora e os erros cometidos foram fotografados. A

organização dos dados foi realizada a partir da seguinte unidade de análise: Tricotomia entre

Aritmética, Geometria e Álgebra. Durante a análise de dados, apresentamos as contribuições

da Teoria Histórico-Cultural com vistas à compreensão dos erros detectados. Concluímos que

a natureza dos erros detectados revela essa tricotomia das áreas mencionadas. Vislumbramos,

como possibilidade de superação, a proposição davydoviana que prevê a interconexão dessas

significações matemáticas desde o primeiro ano escolar, a partir do estudo das grandezas.

Palavras-Chave: Tricotomia entre aritmética, geometria e álgebra; erros; Cálculo Diferencial e

Integral I; Teoria Histórico-Cultural.

ABSTRACT

The objective of this present study is to analyze the nature of the errors made by students of

the discipline of Differential and Integral Calculus I, in two engineering courses. Data

analysis is based on the principles of historical-cultural theory, with focus to the work of

Davýdov, whose epistemology is in Dialectical Materialism History, considered as a study

method. We developed the following actions: Study of the assumptions of historical-cultural

theory to the teaching of mathematics; Analysis of errors presented by the students in the

discipline of Differential and Integral Calculus I; Categorization and analysis of the nature of

the errors found on the grounds of the Historic-Cultural Theory; Reflection on content and

teaching methods that make it possible to overcome the errors detected. The methodology

used in this research is a qualitative approach, the study type of case, which had as data

collection context a private college network in southern state of Santa Catarina. The research

was carried out in a class of Differential and Integral Calculus I students in two engineering

courses. The research collaborators are seven students, who were followed individually by the

researcher. During data collection, written records, photographs and audio recordings of

conversations of the students with the teacher or with the researcher were made and the

mistakes were photographed. The organization of data was performed using the following

analysis unit: Trichotomy between arithmetic, geometry and algebra. After data analysis, we

present the contributions of historical-cultural theory with a view to understanding the errors

detected. At this stage of research, we concluded that the nature of the errors made by

students of the discipline of Differential and Integral Calculus I is related to the trichotomy of

the mentioned areas. We see as a possibility for overcoming the Davýdov proposal which

provides for an interconnection of such mathematical meanings, from the first school year,

with the study of quantities.

Keywords: Trichotomy of arithmetic, geometry and algebra; Errors; Differential and Integral

Calculus I; Theory Historical-Cultural.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 01 – Resolução E2 da operação 1.000 x 0,9 =___ ................................................... 54

Ilustração 02 – Resolução de E4 para: D = 2 x π x 385.000 ..................................................... 57

Ilustração 03 – Resolução E2 exercício de divisão 90 ÷ 81 ...................................................... 57

Ilustração 04 – Resolução de E7 referente à divisão de 8.100 por 1.000 ................................. 59

Ilustração 05 – Resolução de E6 referente à multiplicação: 16 x 36 ......................................... 60

Ilustração 06– Resolução E7 referente a uma equação envolvendo fração ............................... 61

Ilustração 07 – Resolução com predomínio das significações aritméticas ............................... 62

Ilustração 08 - Resolução correta fundamentada na aritmética, geometria e álgebra ............. 63

Ilustração 09 – Resolução E1 exercício de função: limites das significações geométricas ...... 67

Ilustração 10 – Resolução de E5 exercício envolvendo função ................................................ 69

Ilustração 11 – Resolução E3 exercício de função .................................................................... 70

Ilustração 12 – Resolução E2 exercício de função .................................................................... 71

Ilustração 13 – Resolução E5 exercício de função .................................................................... 72

Ilustração 14 – Exercício de função ......................................................................................... 74

Ilustração 15 - Exercício de função .......................................................................................... 76

Ilustração 16 - Exercício função ............................................................................................... 81

Ilustração 17 – Resolução apresentada por E1 referente ao exercício de função ...................... 81

Ilustração 18 – Exercício de função ......................................................................................... 83

Ilustração 19 – Resolução E6 exercício de função .................................................................... 83

Ilustração 20 – Resolução E1 exercício de função .................................................................... 85

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Índice de reprovação na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I de quatro

cursos de engenharia nos anos de 2012 e 2013. ....................................................................... 12

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

1 MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO ................................................................................... 18

2 CONTEXTO DE COLETA DOS DADOS ..................................................................... 31

2.1 OS PRIMEIROS CONTATOS ........................................................................................ 32

2.2 OS ESTUDANTES QUE PARTICIPARAM DA PESQUISA ....................................... 33

2.2.1 Estudante E1 – 24 anos de idade ................................................................................ 33

2.2.2 Estudante E2 – 19 anos de idade ................................................................................ 34

2.2.3 Estudante E3 – 24 anos de idade ................................................................................ 35

2.2.4 Estudante E4 – 19 anos de idade ................................................................................ 35

2.2.5 Estudante E5 – 18 anos de idade ................................................................................ 36

2.2.6 Estudante E6 – 25 anos de idade ................................................................................ 37

2.2.7 Estudante E7 – 47 anos de idade ................................................................................ 37

3 O ERRO DE MATEMÁTICA NA LITERATURA BRASILEIRA ............................ 39

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ERRO ........................................................................... 39

3.2 ALGUMAS PESQUISAS BRASILEIRAS SOBRE ANÁLISE DE ERROS ................ 43

4 A NATUREZA DOS ERROS APRESENTADOS PELOS ESTUDANTES ............... 50

4.1.1 Erros de Aritmética ..................................................................................................... 50

4.1.2 Erros de Geometria ..................................................................................................... 64

4.1.3 Erros de Álgebra ......................................................................................................... 78

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 91

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 94

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INTRODUÇÃO

No momento em que iniciei1 a graduação na Licenciatura em Matemática, já

estava há algum tempo fora da sala de aula, enquanto estudante. Nesse período, verifiquei o

quanto meus colegas, que haviam recém-concluído o Ensino Médio, tinham dificuldades com

os conceitos considerados básicos de Matemática. Isso me inquietava, e iniciava aqui um

caminho a ser trilhado. Ao ingressar a docência na Educação Básica, pude constatar como se

encontrava a educação, mais especificamente a educação Matemática escolar.

Durante a graduação, conheci a Teoria Histórico-Cultural e vislumbrava nesta a

possibilidade de refletir sobre a realidade detectada na docência. Mas para isso, precisaria

aprofundar seus fundamentos. Para tanto, resolvi cursar uma especialização, o que não se

mostrou suficiente. Nesse período, iniciei a docência no Ensino Superior e percebi o quanto

havia piorado a compreensão dos estudantes em relação aos conceitos básicos de Matemática,

afinal, eram muitos erros cometidos. Na busca por possibilidades que poderiam me auxiliar,

vislumbrei o mestrado.

Desse modo, foram as experiências por mim vivenciadas na prática docente que

me levaram ao mestrado e, consequentemente, desenvolver a presente pesquisa sobre os erros

apresentados pelos estudantes na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I de dois cursos

de engenharia de uma faculdade localizada no sul do Estado de Santa Catarina.

Enquanto professora de Matemática na Educação Básica e de Cálculo no Ensino

Superior, tenho acompanhado as opiniões negativas de inúmeros professores e estudantes a

respeito dos conteúdos matemáticos, além do número consideravelmente elevado de

reprovação.

Em sua tese de doutorado, Barufi (1999) pesquisou sobre a construção/negociação

de significados no curso universitário inicial de Cálculo Diferencial e Integral. Na época, a

autora em referência já chamava atenção para o alto índice de reprovação nas disciplinas de

Cálculo Diferencial e Integral. Os estudantes da Escola Politécnica da USP podem

exemplificar essa situação. As reprovações, no período de 1990 a 1995 variavam entre 20% e

1 Dada a natureza do texto, neste início utilizaremos a primeira pessoa do singular e na sequência a primeira

pessoa do plural.

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75%. E no universo dos estudantes do Instituto de Matemática e Estatística o menor índice

não é inferior a 45%, isto é, não se aprovava mais que 55% dos matriculados em uma

disciplina de Cálculo. A autora considerou os livros didáticos como sua principal fonte de

dados por se tratar de um instrumento de trabalho do professor. Após análise, constatou que as

dificuldades não estão relacionadas à falta de bons livros. Porém, ressalta a importância de se

repensar o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem e a adoção do

computador como um instrumento facilitador, possibilitando múltiplas relações.

Rezende (2003) pesquisou em sua tese de doutorado as dificuldades de natureza

epistemológica dos estudantes de Cálculo I. Nessa pesquisa, apresentou alguns dados de

reprovação da Universidade Federal Fluminense, mais agravantes do que os revelados por

Barufi (1999) na USP. Segundo Rezende (2003), o índice de reprovação se encontrava na

faixa de 45% a 95%, sendo que, para o Curso de Matemática, este não é inferior a 65%. O

autor ressalta que a falta de conceitos considerados essenciais para o Cálculo advém da

educação básica e da própria evolução histórica da matemática, por tratar-se de obstáculos

epistemológicos.

Atualmente, o problema persiste, como revela a pesquisa de Rocha (2010). Rocha

(2010) desenvolveu, com estudantes de Cálculo I, atividades computacionais. Em sua

pesquisa, os índices de reprovação variaram entre 40% e 50% e alcançam 85% no curso de

Engenharia de Minas. Rocha acompanhou uma turma de Cálculo Diferencial e Integral I.

Durante um semestre, desenvolveu atividades computacionais referente ao conteúdo de

Cálculo I a partir do software GeoGebra. Seu intuito era desenvolver nos estudantes uma

compreensão mais profunda dos conceitos. O autor detectou que o ambiente de informática

contribui para que os estudantes se tornem mais exploradores e participativos nas aulas, o que

auxilia na compreensão de aspectos conceituais.

Essa realidade de reprovações não é diferente na faculdade em que a presente

pesquisa foi desenvolvida. Os índices de reprovação também são altos na disciplina de

Cálculo Diferencial e Integral I, nos cursos em que são oferecidas (Engenharias) conforme o

gráfico2 a seguir (1):

2 Para obtenção de tais dados, foi necessária uma autorização prévia da instituição. O gráfico foi elaborado a

partir do acesso ao sistema de gestão da própria faculdade no qual consta o percentual de aprovação e

reprovação (Gráfico 1).

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Gráfico 1 – Índice de reprovação na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I

de quatro cursos de engenharia nos anos de 2012 e 2013.

Fonte: Faculdade pesquisada, 2014.

O levantamento das informações apresentadas no gráfico 1 foi realizado no ano

de 2014. Os dados são referentes à reprovação em quatro cursos de Engenharia nos quatro

semestres dos anos 2012 e 2013. A fim de preservar a identidade, os cursos foram

denominados, aleatoriamente, por: Engenharia 1, Engenharia 2, Engenharia 3 e Engenharia 4.

Tal conduta se fez necessária em função da política de privacidade da instituição pesquisada.

A análise do gráfico 1 nos possibilita constatar que: na Engenharia I, o maior

índice de reprovação é de 81,08% e o menor é de 24,73%. Nesse mesmo curso, há uma

grande variação entre os índices e a média é de 47,98%. Na Engenharia 2, o percentual fica

entre 77,78% e 45,33%, cuja média para os quatro semestres é 63,13%. No curso de

Engenharia 3, os dados variam entre 69,66% e 46,34%, com média de 61,65%. Por fim, na

Engenharia 4, os indicadores não mudam muito em relação aos demais cursos, pois o índice

de reprovação fica entre 60,42% e 48,89%, com média de 53,88%3.

Assim, nos anos de 2012 e 2013, a média de reprovação, nos quatro cursos de

Engenharia juntos, resultou em 56,66%. Portanto, menos de 50% dos estudantes matriculados

nesses cursos foram aprovados.

3 Não tivemos acesso às razões que geraram tais discrepâncias em semestre letivo e outro ou entre uma

engenharia e outra.

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Os índices de reprovação, anteriormente apresentados, não ocorrem apenas com

os universitários brasileiros, mas também na realidade mundial. Essa situação também é

investigada por pesquisadores internacionais. David Tall (1976) é um dos principais

articuladores da área de pesquisa “pensamento matemático avançado”, cujas questões giram

em torno das dificuldades de aprendizagens dos conceitos básicos de Cálculo, tendo a

psicologia cognitiva como base para as suas análises epistemológicas.

Outro exemplo internacional foi o movimento em prol da reforma do ensino de

Cálculo, iniciado na década de 1980, liderado por Peter Lax. Nascido em Budapeste

(Hungria) em 1926, seus trabalhos foram tanto em Matemática aplicada como em Matemática

pura. Seu principal trabalho ficou conhecido por “Calculus Reform” (Reforma do Cálculo).

Esse movimento teve como principal atributo o uso de tecnologia, visto por meio de software

computacional e de calculadoras gráficas, usadas para o aprendizado de conceitos, teoremas e

também para a resolução de problemas, que devem ser apresentados numérica, geométrica e

analiticamente.

Nasser (2007) cita algumas pesquisas realizadas em âmbito internacional que

possuem como objeto de estudo as dificuldades apresentadas pelos estudantes nas disciplinas

de Cálculo:

As pesquisas relacionadas ao fracasso em Cálculo focam principalmente nas

dificuldades da compreensão das noções de função (Vinner, 1983), limite e derivada

(Giraldo, 2002; Tall, 1991; Leme e Igliori, 2003), no domínio do Teorema

Fundamental do Cálculo (Vianna, 1998), ou na forma como os alunos estudam

(Frota, 2000).

Os fatores que provocam dificuldades de aprendizagem também foram objeto de

pesquisas da escola francesa. Bachelard, por exemplo, apontou os obstáculos

didáticos (Brousseau, 1983; Artigue, 1989), que podem ser de origem ontogênica, de

natureza didática e de ordem epistemológica (Igliori, 2002) (NASSER, 2007, p. 2).

Um dos trabalhos mais recentes foi desenvolvido por David Tall e Mikhail Katz.

Nessa pesquisa, os autores concentram a análise no:

[...] desenvolvimento do pensamento matemático da percepção e da ação humana

em formas mais sofisticadas de raciocínio e prova, oferecendo diferentes percepções

daquelas oferecidas por análises históricas ou matemáticas. Ela revela o poder

conceitual da visão de Cauchy e da mudança fundamental envolvido na passagem da

variabilidade dinâmica do cálculo para a formulação da teoria conjunto moderno de

análise matemática (TALL E KATZ, 2014, p. 1).

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A reflexão dos referidos autores, é que Cauchy “incentiva a refletir sobre os

princípios que usamos para analisar o desenvolvimento do raciocínio matemático dos alunos,

e fazer um esforço para entender a lógica de diferentes pontos de vista teóricos” (TALL E

KATZ, 2014, p. 1).

Diante da realidade anteriormente exposta, delimitei, o objeto de investigação: Os

erros de Matemática apresentados pelos estudantes durante a disciplina de Cálculo Diferencial

e Integral I de dois cursos de Engenharia.

Ao analisar a natureza dos erros cometidos pelos estudantes, apresentamos

algumas reflexões com vistas à superação destes, com base na Teoria Histórico-Cultural, com

foco para obra de V.V. Davýdov.

A finalidade da pesquisa é contribuir com o processo de ensino e aprendizagem da

Matemática com vistas à aprendizagem dos conceitos científicos e o desenvolvimento do

pensamento teórico. Partimos da hipótese de que os erros apresentados pelos estudantes na

disciplina de Cálculo Diferencial Integral I revelam a tricotomia entre aritmética, álgebra e

geometria.

Gomes (2013) diz que, historicamente, essas três eram disciplinas distintas, desde o

descobrimento, quando o primeiro grupo de jesuítas chegou ao Brasil em 1549, pois os:

[...] conhecimentos matemáticos, contemplava-se o ensino da escrita dos números no

sistema de numeração decimal e o estudo das operações de adição, subtração,

multiplicação e divisão de números naturais. [...] Havia pouco espaço para os

conhecimentos matemáticos e grande destaque para o aprendizado do latim. [...] Em

1772, um alvará do marquês de Pombal criou as “aulas régias”, nas quais

isoladamente se ensinaram primeiramente a gramática, o latim, o grego, a filosofia e

a retórica, e, posteriormente, as disciplinas matemáticas: aritmética, álgebra e

geometria. Eram aulas avulsas, e, em relação aos conhecimentos matemáticos, há

indícios de que havia poucos alunos e, também, que era difícil conseguir professores

(GOMES, 2013, pp. 14-15).

No início do século XX, a congregação do Colégio Pedro II, liderada por Euclides

Roxo (1890-1950), então Diretor do Externato (Colégio Pedro II, cargo que ocupou de 1925 a

1930), sugeriu para Conselho Nacional de Ensino uma transformação do ensino secundário,

que foi homologada em 26 de julho de 1928, e legitimada pelo Decreto nº 18.564, de 15 de

janeiro de 1929. Tal sugestão tendia a um movimento maior cuja intenção era uma reforma da

educação Matemática nos cursos secundários. A reforma era a criação de uma única disciplina

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chamada Matemática, que incorporaria a aritmética, geometria e álgebra, que até o momento

eram separadas em três disciplinas (DASSIE E ROCHA, 2003).

Até a promulgação do referido decreto, faziam parte do currículo do ensino

secundário a aritmética, a álgebra e a geometria (onde era incluída a trigonometria),

ou seja, não existia uma disciplina intitulada “matemática”, pois o seu ensino era

realizado de forma fragmentada, por meio de seus diferentes ramos. Sem dúvida, de

todas as mudanças realizadas na seriação do Colégio Pedro II, a que implicou

transformações mais profundas foi essa fusão empreendida nas disciplinas

generalizadas com a denominação “matemáticas” (DASSIE E ROCHA, 2003, pp.

65-66).

O objetivo da reforma é que a Matemática, como disciplina única, não seria mais

focada apenas no desenvolvimento do raciocínio, como era vista até o momento, mas

contemplaria também a aplicação, despertando no estudante a capacidade de entender o

mundo e assim poderia aplicar seus conhecimentos em diversas situações da vida prática,

podendo, obter uma interpretação exata e profunda do mundo objetivo (BICUDO, 1942, p.

156).

A implementação dessa reforma foi efetuada gradualmente, planejada por

Euclides Roxo:

Na cadeira de Matemática fez-se uma completa renovação, de acordo com as atuais

diretivas pedagógicas dominantes, quanto a essa disciplina, em quase todos os países

civilizados. Adotados somente para o 1º ano em 1929, será a nova orientação

estendida, em 1930, ao 2º ano e, assim sucessivamente, a todos os anos do curso.

Em conseqüência dessa reforma, deverão os alunos, ao invés de um exame final de

Aritmética, outro de Álgebra e um terceiro de Geometria, fazer, no 4º ano, um

exame final único de Matemática, sendo os do 1º, 2º e 3º de simples promoção

(ROXO, 1929, p. 2).

As mudanças aqui ocorridas tinham por base a experiência já realizada em outros

países, como, Alemanha, França, Inglaterra e Estados Unidos. Essas transformações eram

uma tentativa de adaptar o ensino de Matemática ao desenvolvimento industrial que vinha

acontecendo em todo o mundo, no final do século XIX. Aqui no Brasil, inicialmente foi

implantada apenas no Colégio Pedro II e após a Reforma Francisco Campos (1931), essas

mudanças foram implementas no âmbito nacional.

Porém, quase um século depois, detectamos nos dados da presente investigação,

resquícios da tricotomização entre aritmética, geometria e álgebra subjacente aos erros

cometidos pelos estudantes. Portanto, uma investigação sobre a natureza destes, por meio da

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análise dos dados obtidos e do diálogo com os estudantes sobre o raciocínio que os levaram a

cometê-los, pode contribuir para repensarmos o ensino da Matemática no Ensino

Fundamental, Médio e Superior.

De acordo com Khidir (2006, p. 15):

[...] os alunos que estão concluindo os anos iniciais do Ensino Fundamental,

possuem dificuldades pontuais e elementares com relação ao desempenho em

Matemática e a consequência disto é que estão ingressando nos anos finais de

mesmo nível de ensino com carências de conceitos fundamentais para o

desenvolvimento cognitivo nesta disciplina.

No decorrer dos anos de escolarização, os estudantes têm acumulado fragilidades

na aprendizagem dos conteúdos, considerados básicos para o desenvolvimento do pensamento

matemático. E as consequências dessas carências se agigantam no ensino superior o que pode

gerar os índices de reprovação anteriormente apresentados. Dentre as dificuldades detectadas

por Khidir (2006), a pior delas, está relacionada à aquisição das habilidades cognitivas e dos

conceitos necessários à passagem de uma fase de ensino à outra. Quando um estudante passa

para fases seguintes de escolarização sem a apropriação dos conceitos básicos, a

aprendizagem fica cada vez mais complexa, uma vez que implica na dificuldade de

compreensão dos outros conteúdos a serem aprendidos.

Perante esse quadro, questionamo-nos: O que há de específico nesse

conhecimento que o torna quase incompreensível aos estudantes? O que acontece no processo

de ensino da Matemática que alguns estudantes chegam à graduação com dificuldades

inclusive sobre as operações básicas? Será que os conceitos matemáticos atualmente

abordados no Ensino Fundamental são suficientes? Ou, o problema reside no método de

ensino adotado no Ensino Superior, que não dá conta da apropriação do conhecimento por

parte dos estudantes? Como se dá o processo de apropriação do conhecimento matemático no

Ensino Fundamental, Médio e Superior? Quais as aproximações e distanciamentos entre esses

níveis de escolarização no que tange aos conhecimentos matemáticos?

Diante desses nossos questionamentos referentes ao ensino de Matemática, surge

a necessidade de delimitação da pergunta diretriz. Para tanto, elaboramos o seguinte problema

de pesquisa: Qual a natureza dos erros apresentados pelos estudantes durante a realização da

disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, em dois cursos de Engenharia?

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Para isso, propomos o seguinte objetivo na pesquisa: Identificar e analisar os erros

apresentados pelos estudantes da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I em dois cursos

de Engenharia. A fim de alcançar o objetivo proposto elencamos as seguintes ações:

Estudo dos pressupostos da teoria Histórico-Cultural para o ensino de

Matemática;

Levantamento dos erros apresentados pelos estudantes na disciplina de

Cálculo Diferencial e Integral I;

Categorização, análise e reflexão da natureza dos erros encontrados com base

nos fundamentos da Teoria Histórico-Cultural;

Após a coleta dos dados, procedemos à análise. Durante esse processo, revelamos

a seguinte unidade: Tricotomização entre aritmética, geometria e álgebra.

A base do referencial teórico para esta análise foi a Teoria Histórico-Cultural. A

referida teoria se fundamenta nos princípios do Materialismo Histórico e Dialético, que

constitui o método de investigação do estudo apresentado no capítulo I.

No capítulo dois, apresentamos o contexto em que se realizou a coleta dados.

Traremos como a disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I é trabalhada em específico

nessa Faculdade, assim como carga horária e estudantes matriculados nessa disciplina.

Mostraremos também como foram os primeiros contatos da pesquisadora com esses

estudantes e professora titular da disciplina. Por fim, como decorreu a coleta de dados e como

cada um dos estudantes pesquisados reagiu diante da pesquisadora, trazendo um pouco do

contexto social, escolar de cada estudante pesquisado.

No terceiro, abordamos algumas considerações sobre o que é o erro para alguns

autores. Quando que deve-se considerar que um erro do estudante pode auxiliar na

aprendizagem ou não. Trazendo também pesquisas sobre erros de estudantes brasileiros

relacionadas com a Educação Básica e Ensino Superior, referentes à Matemática.

No quarto procedemos a análise dos dados, não apenas descrevendo o erro mas

sim explicando e fazendo uma reflexão teórica fundamenta na Teoria Histórico Cultural. Para

finalizar, tecemos algumas considerações.

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1 MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO

No decorrer do presente capítulo, discorremos sobre os princípios provenientes do

método de investigação adotado, o Materialismo Histórico Dialético. Inicialmente trataremos

do movimento investigativo ancorado em Marx, Engels entre outros, assim como a unidade de

análise. Na sequência, anunciamos os pressupostos que sustentam as reflexões teóricas

realizadas no decorrer da análise dos dados, a partir de Lev Semenovich Vigotski e

Vasilievich Davýdov.

Segundo Moraes (2012), o Materialismo Histórico e Dialético é o método mais

adequado para realização de pesquisas comprometidas com a prática social e com a

transformação da realidade. O Materialismo Histórico e Dialético se origina a partir das ideias

de Marx, a partir do princípio de que “não é a consciência que determina a vida, mas a vida

que determina a consciência” (MARX, ENGELS, 1984, p. 37).

Para Martins (2008), o indivíduo se constrói a partir da sociedade, ou seja, não

existe constituição de homem fora das relações sociais. O modo como as pessoas agem,

pensam e se comportam reflete as relações sociais vinculadas à produção de vida material.

Para Triviños (1987), de acordo com a concepção do marxista, há uma realidade fora da

consciência. Portanto, a realidade existe independentemente de como pensamos ou

conhecemos.

A lógica dialética de Marx tem seus princípios na dialética de Hegel. Marx deu

continuidade ao trabalho feito por Hegel. Entretanto, a dialética de Hegel se fundamentava no

pensamento, ou seja, o movimento se dava no pensamento. Já para Marx, a concepção da

dialética se dá na construção do ser em suas relações materiais. Ou seja, o princípio

constituinte da história para Hegel é o pensamento, para Marx são as relações materiais. Nas

palavras de Martins (2008, p. 33) “Marx tem as relações materiais como princípio constitutivo

e organizativo do ser social, [...] o idealismo, por sua vez, inverte essa assertiva”.

Para o Materialismo Histórico o homem é um ser social, que se determina na

história, por meio das relações sociais. Nas palavras de Marx, podemos afirmar que:

19

[...] na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas,

necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que

correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças

produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura

econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura

jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de

consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral

da vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina

seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência (MARX,

1991, p. 29).

Portanto, na concepção de Marx, não é possível aceitar a ciência com uma visão

neutra da realidade. Assim, para os precursores do Materialismo, Marx e Engels, a relação

homem-mundo era vista de modo que o mundo possui a capacidade de restringir o homem,

mas, de modo simultâneo, o aponta diversas possibilidades para a ação humana (MARTINS,

2008).

A realidade, o concreto, torna-se um elemento abstraído pela consciência e esta,

por sua vez, inserida na realidade prática, pensa-o como um concreto situado em um ambiente

de múltiplas relações sócio-históricas. Portanto, deve-se entender a consciência, o pensamento

como um permanente processo de movimento, no surgimento das contradições e sua solução

(MARTINS, 2008).

Nesse sentido, em pesquisa que se pauta no Materialismo Histórico e Dialético, há

que se considerar a concepção marxista da realidade:

O pesquisador que segue uma linha teórica baseada no materialismo dialético deve

ter presente em seu estudo uma concepção dialética da realidade natural e social e do

pensamento, a materialidade dos fenômenos e que estes são possíveis de conhecer.

Estes princípios básicos do marxismo devem ser completados com a idéia de que

existe uma realidade objetiva fora da consciência e que esta consciência é um

produto resultado da evolução do material, o que significa que para o marxismo a

matéria é o princípio primeiro e a consciência é o aspecto secundário, o derivado

(TRIVIÑOS, 1987, p. 73).

Ainda para Triviños (1987), o conhecimento do objeto, na perspectiva materialista

dialética, pode ser esboçado a partir da contemplação viva do fenômeno. Para a análise do

fenômeno, o autor em referência sugere a elaboração e aplicação de diferentes tipos de

instrumentos para reunir informações como questionários, entrevistas, observações, etc.

Assim, pautamo-nos em uma concepção materialista da história, a qual parte do

princípio de que o homem é um ser social determinado pelas relações vividas por ele. E,

20

portanto, só é possível a mudança da realidade por meio da prática sócio-histórica,

fundamentada na teoria.

É característica do marxismo ressaltar as transformações da realidade ao observá-la

ao longo dos tempos. Fixando o olhar em todo esse processo, percebe-se que as

alterações sofridas pelo mundo em cada nova etapa histórica são decorrências da

luta que os agrupamentos humanos travaram pela manutenção da vida (MARTINS,

2008, p. 25).

Na luta pela sua sobrevivência, o homem defronta-se com a natureza, e a

transforma, por meio do trabalho, com o objetivo de garantir as condições necessárias para

isso. Desse modo, o mundo natural e social é produto da atuação do homem e não de um ser

transcendental. A capacidade humana de modificar a natureza pelo trabalho é o que distingue

o homem dos demais seres (MARTINS, 2008). Assim “nessa perspectiva, o trabalho é aquilo

que fundamentalmente humaniza e possibilita o desenvolvimento da cultura” (Moretti,

Asbahr, & Rigon, 2011, p. 478).

Nessa direção, no estudo do objeto, é necessário considerá-lo em seu movimento

de transformação, visto que a realidade está em constante mudança. Inclusive, como nos

ensina Engels (1979, p. 51): “O movimento é o modo de existência da matéria.”

Historicamente, com o desenvolvimento da ciência:

[...] tudo aquilo que se considerava rígido, se havia tornado flexível; tudo quanto era

fixo, foi posto em movimento; tudo quanto era tido por eterno, tornou-se transitório;

ficava comprovado que toda a Natureza se movia num eterno fluxo e permanente

circulação (ENGELS, 1976, p. 23).

Tanto Marx quanto Engels partem dessa constante transformação, das

inumeráveis mudanças que ocorrem a todo o momento na realidade, para explicar a dialética.

Dessa forma, voltava-se às concepções dos grandes fundadores da filosofia grega:

em tôda a Natureza, desde o menor ao maior, do grão de areia aos sóis, dos protistas

ao homem, há um eterno vir a ser e desaparecer, numa corrente incessante, num

incansável movimento e transformação. Tudo isso, apenas com uma diferença

essencial: tudo quanto, entre os gregos, era uma intuição genial, tornou-se agora para

nós o resultado de uma investigação severamente científica, ligada à experiência e,

por conseguinte, o conhecimento se apresenta sob uma forma muito precisa e clara

(ENGELS, 1976, p. 23).

21

Marx e Engels assumem que os princípios do movimento do mundo foram

pesquisados inicialmente por Hegel. A partir da concepção dialética de Hegel é que os autores

do materialismo se fundamentam, mas com ressalvas materialistas ao idealismo.

[...] Hegel que pela primeira vez - e aí está o seu grande mérito - se concebe todo o

mundo da natureza, da história e do espírito como um processo, isto é, em constante

movimento, mudança, transformação e desenvolvimento, tentando, além disso,

ressaltar a íntima conexão que preside a esse processo de movimento e

desenvolvimento. Contemplada deste ponto de vista, a história da humanidade já não

parecia como um caos inóspito de violências absurdas, todas igualmente

condenáveis diante do foro da razão filosófica hoje já madura, e boas para serem

esquecidas quanto antes, mas como o processo de desenvolvimento da própria

humanidade, que cabia agora ao pensamento acompanhar nas etapas graduais e

através de todos os desvios, e demonstrar a existência de leis internas que orientam

tudo aquilo que à primeira vista poderia parecer obra do acaso cego (ENGELS,

1985, p. 49).

Portanto, para Hegel, que é idealista, o conhecimento é formado pelo pensamento,

já para o materialismo dialético, a prática é que propicia o pensamento pelo conhecer. Ao se

discutir a dialética como um processo de conhecimento, não se deve dispensar as

considerações que Kosik nos traz:

A dialética da totalidade concreta não é um método que pretenda ingenuamente

conhecer todos os aspectos da realidade, sem exceções, e oferecer um quadro “total”

da realidade, na infinidade de seus aspectos e propriedades; é uma teoria da

realidade e do conhecimento que dela se tem como realidade. A totalidade concreta

não é um método para captar e exaurir todos os aspectos, caracteres, propriedades,

relações e processos da realidade; é a teoria da realidade como totalidade concreta.

Se a realidade é entendida como concreticidade, como um todo que possui a sua

própria estrutura (e que, portanto, não é caótico), que se desenvolve (e, portanto, não

é imutável nem dado de uma vez por tôdas, que se vai criando (e que, portanto, não

é um todo perfeito e acabado no seu conjunto e não é imutável apenas em suas

partes isoladas, na maneira de ordená-las), de semelhante concepção da realidade

decorrem certas conclusões metodológicas que se convertem em orientação

heurísticas e princípio epistemológico para estudo, descrição, compreensão,

ilustração e avaliação de certas seções tematizadas da realidade (KOSIK, 1976, p.

36).

Por conseguinte, a dialética não é designada apenas pelo movimento do mundo,

mas também as incessantes modificações do pensamento, ou seja, toda a maneira de pensar e

suas constantes transformações. De acordo com Kosik (1976), a dialética também conceitua a

realidade como uma totalidade que possui interconexões entre suas partes, e não apenas como

um acúmulo de partes isoladas. Logo, ao modificar seus aspectos quantitativos, podem

provocar mudanças qualitativas em sua totalidade. Portanto, para obter o conhecimento do

22

constante movimento de transformação da realidade, é necessário fazer a análise de suas

partes em conexão com o todo, pois, por meio das mudanças dessas partes é que ocorrem as

modificações do todo.

Ancorado nessa concepção, Vigotski (2007), afirma que a concepção da história

humana não está fundamentada somente nas decorrências da natureza sobre o ser humano,

mas que o homem também “[...] age sobre a natureza e cria, através das mudanças nela

provocadas, novas condições naturais para sua existência.” (VIGOTSKI, 2007, p. 62).

Para uma análise dessa constante transformação, a qual deve orientar uma

construção de análise para os elementos pesquisados, o autor propõe que o todo seja analisado

a partir de unidades de análise. Estas são, “[...] um produto da análise que, diferente dos

elementos, possui todas as propriedades que são inerentes ao todo e, concomitantemente, são

partes vivas e indecomponíveis dessa unidade” (VIGOTSKI, 2009, p. 8).

Para o processo de análise, adotamos os três princípios apresentados por Vigotski

(2007): 1) Análise de processos e não de objetos; 2) Explicação e não apenas a descrição; 3)

Revelação do problema do comportamento fossilizado.

1) Análise de processos e não de objetos: Vigotski (2007) esclarece que a

análise de processo norteia a investigação de um objeto ou fenômeno que se encontra em

constante movimento. Para tanto, reconstroem-se as etapas do processo desde sua gênese até o

presente a fim de se atingir a totalidade da realidade investigada. Nesse sentido, para a análise

dos erros dos estudantes, não é suficiente apenas obter as avaliações por eles realizadas, mas

acompanhá-los durante a realização dos exercícios, exposição das dúvidas e a respectiva

solicitação de explicações a professora.

2) explicação e não apenas a descrição: O autor em referência nos alerta que “a

mera descrição não revela as relações dinâmico-causais reais subjacentes ao fenômeno”

(VIGOTSKI, 2007, p. 45). A descrição se restringe aos aspectos externos, ou seja, limita-se à

aparência do fenômeno. Já a explicação é caracterizada pela análise da essência e não na sua

aparência externa. Desse modo, em vez de apenas descrever os erros, buscamos revelar sua

natureza, por meio de entrevistas e conversas realizadas durante a resolução dos exercícios.

3) Revelação problema do comportamento fossilizado: Vigotski (2007) nos informa

sobre os processos mecanizados que tornam-se fossilizados ao perderem sua aparência

original. Assim, as características externas já não dão subsídios que possibilitam a revelação

da natureza interna, sua essência. Nesse sentido, a análise dos erros por si só, nada diz sobre

23

sua natureza. Fez-se necessário buscar, durante o processo de resolução dos exercícios e por

meio da explicação dos estudantes sobre o raciocínio por eles utilizado, a natureza desses.

A prática social, contexto no qual emergem os erros analisados, é ponto de partida e de

chegada da investigação. Primeiramente, essa prática mostrou-se pelo seu aspecto inicial,

enquanto concreto caótico. Portanto, fez-se necessário todo um processo investigativo para

que revelássemos as abstrações. Esse movimento culminou na redução de todas as

informações que tínhamos em uma unidade de análise: Tricotomização entre aritmética,

geometria e álgebra. Portanto, foi durante a análise do comportamento fossilizado que

revelamos a unidade de análise. A etapa seguinte consistiu na explicação dos erros detectados

a partir da unidade revelada, no movimento de ascensão do abstrato ao concreto pensado.

Isso porque o concreto, de acordo com Marx (2003, p. 248), estabelece-se como

dessa forma, pois é “a síntese de múltiplas determinações, logo, unidade da diversidade”. O

concreto é, “para o pensamento, um processo de síntese, um resultado, e não um ponto de

partida, apesar de ser o verdadeiro ponto de partida e, portanto, igualmente o ponto de partida

da observação imediata e da representação” (MARX, 2003, p. 248).

No processo de síntese, capta-se o concreto como o produto da análise de

determinado fenômeno ou objeto. Portanto, o modo como o pensamento apreende o objeto de

estudo não ocorre imediatamente, mas mediatizado pelo processo de análise e de abstrações

teóricas.

Embora a abstração represente o objeto não sob a forma em que ele existe na

realidade, ela tem por conteúdo aquilo que realmente existe. As abstrações da

produção em geral, da matéria em geral, do átomo em geral refletem o que existe em

cada forma concreta de produção, em cada tipo de matéria, em cada átomo. Não se

pode apreender nenhuma forma de produção, nenhum tipo de matéria, etc. sem a

abstração sobre a produção em geral, a matéria em geral (KOPNIN, 1978, pp. 158-

159).

Para o referido autor, na lógica dialética, o princípio para a abstração não consiste

em separar os indícios sensoriais que são perceptíveis no objeto, mas a partir deles desvelar

outras características no objeto que possibilitam revelar sua essência.

Marx inicia sua análise mostrando que, no terreno da ciência, no caso, da economia

política, ao estudar-se uma determinada realidade, por exemplo, um país, o

procedimento mais correto aparentemente seria começar pelo real, pelo concreto.

Mas Marx mostra que existe aí um equívoco, pois o pensamento não pode se

apropriar do concreto de forma imediata, não pode reproduzi-lo através do contato

24

direto definido pela experiência empírica. O contato direto produz no pensamento

uma “representação caótica do todo”, que não pode ser considerada como efetiva

apropriação da realidade pelo pensamento (VERNEQUE, 2011, p. 5).

Nesse sentido, o concreto consiste na reprodução, pelo pensamento humano, das

relações internas genéticas, essenciais, de um dado objeto no interior de um todo em

desenvolvimento (DAVÝDOV, 1982). No ponto de chegada, o fenômeno passa a ser

compreendido como síntese de múltiplas determinações. A “compreensão de tais

determinações e mediações possibilitará a elaboração e implementação de ações

transformadoras” (PASQUALINI, 2010, p. 25).

É importante ressaltar que os dados de reflexão são aqueles que o pesquisador

coleta na sua relação direta com o fato, durante as observações, entrevistas e experimentos.

Mas, o que designa o processo de formação do conhecimento são as investigações e

generalizações elaboradas pelo pesquisador (ILYENKOV, 2008). A representação inicial, a

manifestação externa, não é capaz de traduzir o todo, torna-se necessário passar para análise

das partes e revelar a essência que as interconecta (DAVÝDOV, 1982).

Na realidade, a psicologia nos ensina a cada instante que, embora dois tipos de

atividades possam ter a mesma manifestação externa, a sua natureza pode diferir

profundamente, seja quanto à sua origem ou à sua essência. Nesses casos são

necessários meios especiais de análise científica para pôr a nu as diferenças internas

escondidas pelas similaridades externas. A tarefa da análise é revelar essas relações.

Nesse sentido, a análise científica real difere radicalmente da análise introspectiva

subjetiva, que pela sua natureza não pode esperar ir além da pura descrição. O tipo

de análise objetiva que defendemos procura mostrar a essência dos fenômenos

psicológicos ao invés de suas características perceptíveis (VIGOTSKI, 2007, p. 46).

A revelação da essência, obscurecida pelas características externas do objeto ou

fenômeno consiste no concreto pensado, no ponto de chegada da investigação. Trata-se do

conhecimento mais profundo, pois reflete as relações internas do objeto estudado na relação

entre universal, particular e singular. Para atingir a concretude de um objeto de estudo, deve-

se revelar o universal, o essencial na universalidade do objeto em estudo e reproduzi-lo em

termos conceituais (PASQUALINI, 2010).

O ser singular se designa como todo o ser determinado. Portanto, é imprescindível

instituir a conexão dialética entre o singular e universal, para assim se chegar ao conceito. O

elemento mediador entre singular e universal é o particular. Para mergulhar na essência de um

25

objeto ou fenômeno é necessário revelar a vinculação dialética entre o universal, o particular e

o singular.

Quanto mais autêntica e profundamente os nexos da realidade, suas leis e

contradições, vierem concebidos – de um modo aproximativamente adequado – sob

a forma da universalidade, tanto mais concreta, dúctil e exatamente poderá ser

compreendido também o singular. A imensa superioridade do marxismo-leninismo

sobre qualquer teoria burguesa se baseia, entre outras coisas não mais importantes,

sobre esta ininterrupta utilização das leis da unidade dialética e do caráter

contraditório na relação de singularidade, particularidade e universalidade. Quem

estuda as grandes análises históricas dos clássicos do marxismo-leninismo, suas

explicações teóricas de etapas decisivas e de reviravoltas históricas, encontrará

sempre a elaboração e a aplicação desta dialética (LUKÁCS, 1978, p. 104).

Para Oliveira (2005), o universal nos expõe o complexo, as ligações internas, as

leis de todo o processo e evolução que compreendem a totalidade histórico-social. A

expressão singular de um objeto, nos mostra somente o que é imediato, considerando este

como o ponto de partida do conhecimento (MARTINS, 2006). Já o particular, por estar entre

o singular e o universal, tem sua função mediadora. “Ou seja, o particular assume qualidades

constitutivas e características pelas quais a singularidade se constitui” (ALVES, 2013, p. 24).

Ocorre, porém, que nenhum fenômeno se expressa apenas em sua singularidade ou

universalidade. Como opostos, se identificam, e a contínua tensão entre eles

(singular - universal) se manifesta na configuração particular do fenômeno. Em sua

particularidade ele assume as especificidades pelas quais a singularidade se constitui

em dada realidade de modo determinado, porém não completo, não universal. Ainda

segundo Luckács, o particular representa para Marx a expressão lógica da categoria

de mediação entre o específico (singular) e o geral (universal), que não podem ser

compreendidos de modo isolado e por si mesmos (MARTINS, 2006, p. 11-12).

Desse modo, na especificidade do nosso objeto de estudo, o universal é algo que

ocorre em todas as universidades, como verificamos nas pesquisas sobre a temática (CURY,

1988; ZANARDI, LIMA, 2008; ROCHA, 2010; PEREIRA FILHO, 2012; GARZELLA,

2013). Os erros por nós detectados não são apresentados apenas pelos estudantes da faculdade

pesquisada, não ocorre apenas no Brasil, mas mundialmente. Porém, como nos alerta Sousa

(2014), o universal não pode ser considerado como um coroamento definitivo de

singularidade, o que justifica a realização da presente pesquisa. Para tanto, a singularidade

investigada, os erros apresentados pelos estudantes não podem ser considerados como a

realidade do sujeito em si e por ela mesma. Portanto, faz-se necessário considerar a existência

de elemento mediador entre o universal e singular.

26

A fim de capturar a essência da realidade investigada em concernência com os

princípios teóricos apresentados, a coleta dos dados foi realizada por meio de gravações de

áudio, fotos, registros escritos e entrevistas.

Durante a análise dos dados, elegemos uma unidade de análise, a tricotomização

entre aritmética, geometria e álgebra. Amparados no modo de organização do ensino proposto

por Davýdov e colaboradores, a partir dos fundamentos da Teoria Histórico-Cultural,

apontamos alguns elementos que indicam possibilidades de superação dos limites detectados

na investigação.

Um dos precursores da Teoria Histórico-Cultural foi L. S. Vigotski (1896-1934).

Esse renomado cientista iniciou seus estudos no início do século XX, mais precisamente em

1917, coincidindo com a revolução russa. Existia, na realidade da revolução, a necessidade de

redefinição de uma nova concepção de educação para uma nova sociedade, a socialista. Para

tanto, Vigotski seguiu as ideias iniciais de Marx e Engels sobre o Materialismo Histórico e

Dialético. Posteriormente, Luria, Leontiev, Rubinstein, Galperin, Elkonin, Davýdov, entre

muitos outros, deram continuidade a seus estudos.

Vigotski centrou suas reflexões sobre a origem e desenvolvimento do psiquismo

humano. Buscou em Marx e Engels a explicação para constituição de homem a partir do

Materialismo Histórico e Dialético, em que a essência humana não é uma abstração, mas é

constituída por um conjunto das relações sociais (VIGOTSKI, 2007).

A Psicologia histórico-cultural toma como seu objeto a atividade humana no

desenvolvimento do psiquismo, cujo conceito foi introduzido por Vigotski e,

posteriormente, analisado e desenvolvido por outros psicólogos soviéticos, entre os

quais, Rubinstein e Leontiev (DAVÍDOV, 1988). A atividade, entretanto, não se

refere, como em geral é entendida, a uma mera ação de um sujeito que responde às

influências de seu meio de forma imediata (SOUSA, 2014, p. 69).

Para Vigotski, o convívio em sociedade e a comunicação entre as pessoas é o que

impulsiona o desenvolvimento humano. É pelo trabalho que o homem modifica não apenas a

natureza, mas também a sua consciência e seu comportamento, distinguindo-se, assim, de

outros seres e se instituindo como humano.

Nesse contexto, o que origina a consciência e o pensamento abstrato é a vivência

do ser a partir de suas condições da vida em sociedade. A comunicação entre as pessoas é

27

classificada por Vigotski (2007) de atividade externa, ocorre no plano interpessoal e mais

adiante se internaliza no processo de internalização a linguagem que é o elemento mediador.

Mas o processo que determina a história e a cultura de um ser humano, não deve

ser entendido de maneira que o ser humano apenas toma para si determinados

comportamentos para em seguida reproduzi-los, pois pode modificar-se e transformar também

todos os sujeitos que participam da vida social desse ser humano.

Na perspectiva histórico-cultural a aprendizagem é um fenômeno social, acontece e

se desenvolve nas relações estabelecidas entre os sujeitos mediados pelas trocas

simbólicas. Desta forma, o meio social constitui o manancial no qual se baseia o

desenvolvimento conceitual da criança. Segundo Vygotsky, o homem, ao buscar

relacionar-se com os objetos, utiliza-se dos sistemas simbólicos de que dispõe,

fornecidos pela cultura, pelo meio social. Esse tipo de operação permite o

desenvolvimento da abstração e da generalização que, nessa perspectiva, vai do

social para o individual (MOURA, MORETTI, 2003, p. 68).

Assim, a gênese das transformações que ocorrem no homem decorre da vivência

em sociedade e de sua constituição histórica. Segundo Vigotski (2009), o que subsidia a

evolução das funções mentais é a aprendizagem. O desenvolvimento mental é resultado de

uma aprendizagem bem articulada e organizada que vai ao encontro de diversos processos de

desenvolvimento.

Tal aprendizagem inicia em casa, desde o nascimento, quando a criança entra em

contato com sujeitos e situações distintas. Apesar da relevância atribuída por Vigotski (2009)

para a aprendizagem extra escolar, o autor considera essencial a aprendizagem vinda da

escola. Pois é quando deve surgir o novo para o desenvolvimento da criança.

Assim, funções psicológicas superiores têm primeiro sua correspondente social e são

internalizadas no processo de interação com outros indivíduos. Esse é um processo

dinâmico em que a internalização de determinada função leva à reestruturação de

outras e acaba transformando o próprio processo (Vygotsky, 1984), implicando uma

reestruturação mental. Para o autor, existe uma diferença substancial entre o que

uma criança é capaz de produzir isoladamente e o nível de desenvolvimento que

atinge numa situação de interação, seja com o professor ou com a colaboração de um

colega (MOURA, MORETTI, 2003, p. 68).

Vigotski denomina de nível de desenvolvimento real o estágio em que a criança se

encontra e potencial quando precisa ser orientada por um adulto ou um companheiro para

desenvolver uma determinada tarefa. A distância entre o nível de desenvolvimento real e o

nível de desenvolvimento potencial é denominado por Vigotski (2007) de Zona de

28

Desenvolvimento Proximal (ZDP): “O nível de desenvolvimento real caracteriza o

desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal

caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente” (VIGOYSKI, 2007, p. 98). O

conceito de ZDP

[...] se constitui como um importante indicador do progresso intelectual da criança,

também evidencia a importância da aprendizagem no desenvolvimento psicológico

humano e a importância das acumulações histórico-culturais no desempenho escolar

da criança (KHIDIR, 2006, p. 52).

Assim, para se avaliar o nível de desenvolvimento de um estudante, é necessário

reconhecer o que este consegue atingir, não apenas independentemente, mas também com o

auxílio de outros colegas ou até mesmo do professor.

A execução correta em determinada tarefa nem sempre revela a compreensão por

parte dele. Uma resposta correta pode apenas resultar de uma resolução mecânica, do tipo

“siga os passos”. Portanto, é importante que o professor investigue a origem do raciocínio

adotado e, de alguma forma, contribua para compreensão conceitual. Além disso, faz-se

necessário repensar não apenas o modo de organização do ensino, mas também seu conteúdo.

Um dos pesquisadores que objetivou os princípios de Vigotski e seus

continuadores em uma proposição de ensino foi Davýdov, por ele denominada de Ensino

Desenvolvimental.

Para Davýdov, a questão mais central da psicologia pedagógica é a relação entre

educação e desenvolvimento, explicada pela lei geral da gênese das funções

psíquicas da criança no convívio com os adultos e os colegas no processo de ensino

e de aprendizagem na escola (LONGAREZI & PUENTES, 2013, p. 324).

Trata-se do processo de ensino e aprendizagem do conhecimento teórico. Na

proposição davydoviana, o professor tem um papel fundamental na orientação do estudante

durante o desenvolvimento das tarefas. Porém, tal orientação é organizada de modo que

desenvolva a autonomia intelectual da criança.

Na base do pensamento de Davídov está a idéia-mestra de Vygotsky de que a

aprendizagem e o ensino são formas universais de desenvolvimento mental. O

ensino propicia a apropriação da cultura e o desenvolvimento do pensamento, dois

processos articulados entre si, formando uma unidade (LIBÂNEO, 2004, p. 14).

29

Para tanto, Davídov (1987) propõe o princípio da educação que desenvolve. O

ensino deve dirigir os ritmos e o conteúdo do desenvolvimento e criar nos estudantes as

condições psíquicas que podem ainda faltar do ponto de vista dos próximos anos escolares

com base em generalizações teóricas. Para tanto, Davídov (1987) sugere os seguintes

princípios:

1) todos os conceitos que constituem a disciplina escolar dada ou seus principais

capítulos devem ser assimilados pelas crianças por via do exame das condições de origem,

graças às quais, tais conceitos tornam-se indispensáveis (em outras palavras, os conceitos não

se dão como “conhecimentos já prontos”);

2) a assimilação dos conhecimentos de caráter geral e abstrato precede a

familiarização com conhecimentos mais particulares e concretos; este princípio se desprende

da orientação de revelar a origem dos conceitos e se corresponde com as exigências da

ascensão do abstrato ao concreto;

3) no estudo das fontes objetal-materiais, de uns ou outros conceitos, os

estudantes devem, diante de tudo, descobrir a conexão geneticamente inicial, geral, que

determina o conteúdo e a estrutura do campo dos conceitos dados (por exemplo, para todos os

conceitos da matemática escolar, essa conexão geral é a das grandezas; para os conceitos da

gramática escolar, é a relação da forma e o significado na palavra);

4) é necessário reproduzir esta conexão em modelos objetais, gráficos ou símbolos

especiais que permitam estudar suas propriedades de “forma pura” (por exemplo, as crianças

podem representar as conexões gerais das magnitudes em fórmulas com letras, cômodas para

o estudo ulterior das propriedades dessas conexões; a estrutura interna da palavra pode ser

representada com ajuda de esquemas gráficos especiais);

5) em especial, é preciso formar nos estudantes ações objetais de tal índole que

permitam às crianças revelar no material de estudo e reproduzir nos modelos a conexão

essencial do objeto e, logo, estudar suas propriedades (por exemplo, para revelar a conexão

que está na base dos conceitos de números inteiros, fracionais e reais é necessário formar nas

crianças uma ação especial para determinar a característica de divisibilidade e multiplicidade

das grandezas);

6) os estudantes devem passar paulatinamente e ao seu devido tempo das ações

objetais à sua realização no plano mental.

30

Davýdov, juntamente com um grupo de colaboradores, objetivou esses princípios

em uma proposição para o ensino de Matemática. Esta é objeto de investigação de vários

pesquisadores brasileiros. A opção pelo estudo da proposição davydoviana ocorre pelo

entendimento de que ela pode contribuir para a reflexão sobre o atual modo de organização do

ensino de Matemática no Brasil (ROSA, 2012; MADEIRA, 2012; ALVES, 2013;

CRESTANI, 2013; DORIGON, 2013; MATOS, 2013; SILVEIRA, 2012; SOUZA, 2013;

ROSA, DAMAZIO e ALVES, 2013; ROSA, DAMAZIO e CRESTANI, 2014; ROSA,

DAMAZIO e SILVEIRA, 2014; SILVEIRA, 2014; HOBOLD, 2014; SOUSA, 2014;

SILVEIRA, 2015.

A proposição de Davýdov e colaboradores para o ensino de Matemática foi

desenvolvida na Rússia por 25 anos a partir dos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural. O

ponto de partida para o ensino de Matemática são as grandezas discretas e contínuas. A partir

das relações entre elas é que são introduzidos os conceitos matemáticos. O conceito de

número, ponto de partida, por exemplo, é o real. Diferentemente do que ocorre no Brasil,

cujo início se dá pelos números naturais (ROSA, 2006 e 2012).

As representações gráficas (significações geométricas) se constituem em

elementos mediadores no movimento que se inicia a partir das grandezas, no plano objetal, até

atingir a modelação algébrica (ROSA, 2012). Desse modo, na proposição davydoviana as

significações aritméticas, algébricas e geométricas são indissolúveis, forma um todo único.

A reflexão dos erros apresentados pelos estudantes, ancorada na proposição

davydoviana, vai ao encontro de uma das nossas finalidades: apresentar possibilidades

didáticas que permitam o desenvolvimento do pensamento teórico dos estudantes. Pois

concebemos a pesquisa desenvolvida em um Programa de Pós-Graduação em Educação como

um dos instrumentos que fomenta a busca por soluções para a superação dos limites inerentes

ao processo de ensino e aprendizagem e o consequente desenvolvimento do pensamento

teórico. Para tanto, entendemos a importância da explicitação do contexto em que a presente

pesquisa foi realizada, que será tratado no próximo capítulo.

31

2 CONTEXTO DE COLETA DOS DADOS

Consideramos que os erros cometidos estão relacionados à aprendizagem, que por

sua vez, está diretamente ligada ao ensino. Por isso, foi preciso analisar os erros dos

estudantes no contexto de sua manifestação, a fim de investigar sua natureza. Desse modo:

• as aulas de Cálculo Diferencial e Integral I, do curso de engenharia, formam o

contexto no qual a coleta de dados foi realizada;

• a sala de aula que é o ambiente dos sujeitos pesquisados (estudantes), no qual

pesquisadora se fez presente;

• a pesquisadora esteve em contato direto com o processo de explicitação do

objeto investigado (os erros cometidos pelos estudantes);

• os meios de coleta de dados foram utilizados pela pesquisadora.

A coleta de dados ocorreu em uma Faculdade da rede particular localizada no Sul

do estado de Santa Catarina. O nome da instituição deverá ser mantido em sigilo, por isso,

atribuímos o nome fictício de Faculdade Pesquisada. A disciplina contexto de pesquisa é

composta por quarenta estudantes, todos do sexo masculino, com idade entre 18 e 47 anos.

Destes, apenas sete aceitaram participar da pesquisa. A fim de preservar a identidade dos

estudantes, elencamos nomes fictícios, conforme segue: E1, E2, E3, E4, E5, E6 e E7, todos do

sexo masculino, como já mencionado. Estes, não são apenas de um curso, pois como a

disciplina de Cálculo é comum para todos os cursos de engenharia, essa turma é mista - são

estudantes de várias engenharias. A escolha pela turma de Cálculo I se deu pelo fato de que

essa disciplina constitui todo o início da Matemática para as fases e disciplinas seguintes.

Os estudantes da pesquisa, fonte de dados, são da disciplina de Cálculo

Diferencial e Integral I de dois cursos de Engenharia, com carga horária de cento e oito

horas/aula, equivalentes a seis créditos, dos quais, quatro são integralizados nas quintas-feiras,

no período noturno, e dois aos sábados pela manhã. Nas aulas realizadas nas quintas-feiras,

ocorre a explicação do conteúdo pela professora e a realização das avaliações. Aos sábados,

os estudantes resolvem os exercícios sob orientação da professora da disciplina. Os encontros

realizados aos sábados, num total de nove, são distribuídos ao longo do semestre sem

regularidade temporal.

32

A coleta de dados foi realizada durante todos os encontros de sábado, do segundo

semestre do ano de 2014. Os sete estudantes que aceitaram colaborar com a pesquisa foram

acompanhados durante a resolução dos exercícios. Desse modo, os dados consistem nas

produções desenvolvidas pelos estudantes (exercícios e avaliações). A coleta ocorreu por

meio de gravações de áudio, registros escritos e fotográficos. Os registros foram realizados

durante as conversas dos estudantes com a professora da disciplina ou com a própria

pesquisadora. Nesses momentos, solicitávamos que explicassem suas resoluções. As

gravações em áudio foram transcritas.

2.1 OS PRIMEIROS CONTATOS

No primeiro momento, solicitamos autorização para realizar a pesquisa na

faculdade. Fomos muito bem recebidos pela coordenação e direção. Após a autorização

concedida para a realização da pesquisa na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I,

conversamos com a professora da turma que também não se opôs à pesquisa, e sempre apoiou

e ajudou no que fosse necessário. No primeiro dia de coleta de dados, a professora nos

apresentou como estudante de um curso de Pós-Graduação (Mestrado) que iria desenvolver

uma pesquisa com aqueles que aceitassem participar.

Inicialmente, os estudantes resistiram, não aceitaram. Então, explicamos o objeto

de investigação, finalidade da pesquisa e perguntamos quem aceitaria participar. Apenas dois

concordaram. Reforçamos, com ajuda da professora, a relevância da pesquisa para a educação

matemática escolar e, finalmente, sete estudantes aceitaram colaborar.

O início da coleta de dados foi difícil devido à resistência dos estudantes. Eles

tentavam ocultar suas produções, quando percebiam que haviam errado, apagavam

rapidamente. Além disso, ao conversar conosco sobre o raciocínio utilizado, falavam com tom

de voz muito baixo, o que prejudicava a captação do áudio. O processo de conquista foi se

dando conforme os dias passavam. Reforçamos, por várias vezes, em conversas individuais, o

processo de pesquisa. Até que chegou o momento em que eles não se incomodavam mais com

nossa presença. Inclusive, em alguns momentos da resolução dos exercícios, em vez de pedir

33

explicação para a professora titular, dirigiam-se a nós. A partir desse estágio é que os dados

foram considerados para análise.

2.2 OS ESTUDANTES QUE PARTICIPARAM DA PESQUISA

Na sequência, apresentamos os estudantes4 da pesquisa (E1, E2, E3, E4, E5, E6 e

E7). O foco incide na relação com a Matemática, na ótica dos estudantes, desde o Ensino

Médio até o Curso Superior.

2.2.1 Estudante E1 – 24 anos de idade

Cursou o Ensino Médio e Fundamental em uma escola da rede Municipal da

região sul de Santa Catarina, reside no mesmo município da Faculdade. Desloca-se de moto,

leva em média quinze minutos no percurso até sua residência. É solteiro, mora sozinho, não

tem filhos e trabalha oito horas por dia em uma empresa da indústria química localizada

próximo à região onde reside. Leva em média meia hora de deslocamento para o trabalho. Já

reprovou uma vez disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I.

Faz cinco anos em que concluiu o Ensino Médio. Nesse nível de ensino, suas

notas em média eram cinco. Para E1, sua professora de Matemática “[...] era uma professora

boa, ela era mais velha, considerava que tinha bastante experiência e conhecimento [...]”

(sic).Porém, faz uma autocrítica (E1):

[...] eu não era dedicado [...] mas pelo fato de eu ser complicado não aproveitei o

que a professora tinha pra passar, e acabei sendo empurrado [...] eu era um aluno

ruim comparado a outros alunos do Ensino Médio, era sempre aquele que era

4 Para manter os nomes dos estudantes em sigilo, utilizamos a letra E (inicial da palavra estudante),

acompanhada de um número, aleatoriamente, de 1 a 7.

34

passado empurrado, em Matemática e diversas matérias, era um dos piores da turma,

fui um aluno complicado, rebelde [...] (sic).

Atualmente, no curso superior, cursa apenas três disciplinas, ou seja, estuda três

dias na semana e no sábado pela manhã. Sua dedicação aos estudos, além do período de aula,

é de aproximadamente três horas semanais. Não estuda para as avaliações, pois afirma ficar

nervoso quando assim o faz. Prefere ir estudando conforme a professora avança no conteúdo

da disciplina.

Quando questionamos se sua prioridade é os estudos ou o trabalho, ele para, pensa

e depois responde que se não trabalhar não estuda e nem come. Precisa trabalhar para

satisfazer suas necessidades básicas de sobrevivência. Gosta muito do curso que faz, não

pensa em desistir, mesmo que reprove várias vezes.

2.2.2 Estudante E2 – 19 anos de idade

E2 frequentou o Ensino Fundamental e Médio em duas escolas particulares da

região sul do Estado de Santa Catarina. Reside em um município vizinho da faculdade onde

faz a Graduação. Desloca-se de ônibus escolar por aproximadamente uma hora e trinta

minutos. É solteiro, não tem filhos e mora com os pais.

Já reprovou uma vez em Cálculo e uma vez em Álgebra. Reprovou também no

primeiro ano do Ensino Médio. Neste nível de ensino E2 relata que foi “[...] sempre

arriscando, arrisquei tanto que reprovei um ano [...] bem empurrado com a barriga, eu deixei a

desejar, nunca estudei pra nenhuma prova, que eu lembro só estudei uma vez pra química pra

passar” (sic).

O estudante trabalha em período integral, em um supermercado da família e o

período que não está na Faculdade está trabalhando. Só folga aos domingos. Portanto, não tem

tempo para dedicação semanal aos estudos em casa, estuda somente em sala de aula, durante

as aulas.

35

2.2.3 Estudante E3 – 24 anos de idade

E3 cursou o Ensino Médio em uma escola estadual localizada na região sul do

estado de Santa Catarina. É casado, mora com a esposa e seu irmão. A esposa está grávida do

seu primeiro filho. Trabalha nove horas diárias de segunda a sexta-feira. Seu local de trabalho

é na mesma localidade onde reside. Vai de carro da casa para o trabalho e Faculdade. Leva em

média quarenta minutos para se locomover da casa para a faculdade. Em relação à última

etapa da educação básica, comenta (E3):

Os professores do Ensino Médio eram bons, mas os alunos não queriam nada com

nada, a turma era muito bagunceira, o professor mal conseguia dar aula. Eu era

dedicado, [...] mas, hoje vejo que faltou muito (sic).

Diferentemente de E1 e E2, E3 se julga um estudante dedicado e com desempenho

satisfatório.

E3 já reprovou duas vezes em Cálculo Diferencial e Integral I e uma vez em

Álgebra. Ele lamenta que não sobre tempo para estudar durante a semana, pois tem aula todos

os dias. Resta somente o final de semana e ainda tem aula no sábado pela manhã. O único

momento dedicado aos estudos, fora da sala de aula, é aos sábados à tarde, quando tem prova

durante a semana.

2.2.4 Estudante E4 – 19 anos de idade

E4 sempre frequentou escola pública, onde nunca reprovou. Suas notas eram

sempre maiores que oito, por isso, considerado um dos melhores da classe. A escola que

frequentou fica no mesmo município onde mora e onde se localiza a faculdade. Desloca-se de

ônibus. Leva aproximadamente quinze minutos de sua residência para a faculdade. É solteiro,

mora somente com sua mãe e não tem filhos. Trabalha oito horas diárias, em uma indústria do

ramo de metais, na mesma região onde reside. Quanto ao seu Ensino Médio, E4 afirma:

36

Eu acho que foi fraco estudei [...] eu acho que comparando o Ensino médio com o

que os professores cobram aqui na faculdade, existe um espaço muito grande. Eles

cobram coisas que eu nunca vi, pois eu nunca fiquei nem em recuperação no Ensino

Médio, sempre passei direto, era um dos melhores da turma. Quando cheguei aqui

na faculdade já até reprovei! Do Ensino Médio pra Faculdade foi um salto muito

grande, comparando os conteúdos passados lá e o conteúdo cobrado aqui (sic).

E4 é satisfeito com seus professores do Ensino Médio, mas reclama a falta de

livros didáticos e o pouco tempo disponível para o conteúdo ser registrado no quadro e

posteriormente no caderno. Sem tempo para pensar e interpretar.

Atualmente cursa apenas três disciplinas, suas aulas se concentram em três noites

e no sábado pela manhã. O estudante é repetente da disciplina de Calculo Diferencial e

Integral I. Sua dedicação semanal aos estudos se concentra em duas noites por semana.

Salienta que precisa trabalhar para pagar a faculdade e, portanto, não consegue ter dedicação

exclusiva aos estudos.

2.2.5 Estudante E5 – 18 anos de idade

E5 é solteiro, não tem filhos, mora com seus pais e um irmão. Teve sua formação

de Ensino Fundamental e Ensino Médio em uma escola da rede particular, localizada no

mesmo município onde reside. Quanto ao Ensino Médio, o estudante afirma ter sido mediano,

seus professores eram bons, mas nunca teve rotina de estudos, suas notas eram entre seis e

sete.

O meio de transporte para faculdade é o ônibus escolar, a locomoção é de

aproximadamente vinte minutos. Trabalha na empresa de seu pai, que é na mesma área de seu

curso superior:

É, tem que gostar, tenho que continuar, levar adiante a empresa do meu pai, que já

era do meu avô, é empresa de família há três gerações. A minha será a quarta, não

posso falhar com a minha família. Essa empresa é um sonho antigo do meu bisavô

(sic).

37

Embora nunca tenha reprovado na Educação Básica, já reprovou uma vez na

disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I. Afirma que não estuda em casa, nem nos dias

que tem prova, sua dedicação é apenas nos momentos da sala de aula.

2.2.6 Estudante E6 – 25 anos de idade

E6 fez o Ensino Médio em uma escola pública na mesma localidade onde reside.

Seu deslocamento para a faculdade é feito de carro por aproximadamente vinte minutos.

Trabalha oito horas diárias em uma empresa próxima a sua residência. Mora com a esposa e

não tem filhos.

Considera que o Ensino Médio foi proveitoso, e se avalia como um aluno

dedicado e estudioso, pois sempre passou direto no Ensino Fundamental e Médio. E6 pondera

que seus professores até eram bons, mas lamenta que “não tinha muita cobrança, os

professores não cobravam muito” (sic).

Já reprovou uma vez na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I. Lastima não

ter tempo para se dedicar aos estudos em casa. Só estuda aos finais de semana quando tem

prova. Sua maior dedicação é em sala de aula, onde aproveita todo o tempo necessário. Gosta

do curso, mas sua prioridade é o trabalho, pois se não trabalhar não come e também não

consegue estudar.

2.2.7 Estudante E7 – 47 anos de idade

Por fim, E7, é um dos estudantes com maior idade da sala de aula. É casado, tem

dois filhos, inclusive sua filha mais velha também já é casada. Mora com sua esposa e seu

filho caçula. Tem uma empresa do ramo elétrico e também trabalha em outra empresa, ou

seja, possui duas frentes de trabalho.

38

Quanto ao Ensino Médio, E7 afirma não lembrar mais, “[...] faz muito tempo que

terminei” (sic). Concluiu a Educação Básica, graduação e especialização, na área

administrativa, no Estado do Paraná. Após concluir a especialização, migrou para o Estado de

Santa Catarina em busca de emprego, construiu uma família e permaneceu.

Decidiu fazer outro curso superior por conta da empresa da qual é proprietário.

Sua prioridade não é os estudos, pois é um pai de família que precisa sustentar um lar. Afirma

que se precisar estudar todos os dias, ele estudará, mas não tem rotina de estudo e trabalho,

pois este depende da demanda. O estudante já reprovou uma vez na disciplina de Cálculo

Diferencial e Integral I.

Em síntese, todos os estudantes já reprovaram ao menos uma vez na disciplina de

Cálculo Diferencial e Integral I. Alguns são oriundos de escolas da rede pública, outros da

rede particular. Enquanto uns acabaram de concluir o Ensino Médio, outros concluíram faz

um tempo. Há aqueles que afirmam ter levado a sério o Ensino Médio e outros nem tanto.

Mas todos têm algo em comum: fragilidades que geraram reprovação. Essas fragilidades não

são exclusividade dos estudantes que participaram da presente investigação e nem da

disciplina de Cálculo Diferencial e Integral, conforme apresentaremos no próximo capítulo.

39

3 O ERRO DE MATEMÁTICA NA LITERATURA BRASILEIRA

Abordaremos, no presente capítulo, algumas pesquisas que tratam dos erros em

matemática apresentados por estudantes brasileiros. No primeiro momento, faz-se necessário

refletir sobre o que podemos considerar como um erro. Trataremos do erro no processo de

aprendizagem na ótica de alguns pesquisadores sobre o assunto. E, posteriormente,

apresentamos algumas pesquisas sobre a análise de erros. Essas reflexões se fazem

necessárias com a contextualização e explicação da natureza e estado da arte do objeto de

pesquisa da presente investigação.

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ERRO

Relatamos anteriormente nossas angústias com relação aos erros cometidos por

nossos estudantes, porém, necessitamos refletir sobre o que é erro a partir da literatura. Para

tanto, inicialmente recorremos a Bueno (1992, p. 254) que atribui a palavra erro, a um

desacerto, algo incorreto, um engano, a diferença entre o valor absoluto e o valor exato de

uma grandeza. Para Barichello (2008), um erro é parte de um produto final que não esteja de

acordo com o que se deseja ensinar. O autor salienta que também pode ser caracterizado pela

falta de conhecimento em relação à Matemática, que o professor espera ser desenvolvida por

seu aluno.

Seguindo as palavras de Barrichello (2008), podemos também dizer que o erro

pode ser considerado como uma falha, cuja causa pode ser provocada por falta de

conhecimento, ou ainda, um conhecimento adquirido de forma incorreta, que obteve ao longo

de sua vida estudantil.

De acordo com Pinto (2000) e Cravasotto (2010), os erros podem ter um papel

importante na formação do sujeito. Para tanto, faz-se necessário concebê-lo como uma

contribuição para aprendizagem e não como uma condenação. O estudante não é o único

responsável por seus erros, faz-se necessário uma postura de modo a preveni-los. Quando um

40

estudante comete um erro, expressa sua incompreensão. É nesse momento que o professor

deve agir, oportunizando ao estudante reflexão sobre o que lhe falta e de seus limites

conceituais.

Por esse viés, Cury (2007, p. 80) chama atenção sobre a importância da

intervenção do professor no processo de desconstrução das aprendizagens equivocadas. Uma

das possibilidades é fazer com que os estudantes questionem suas próprias respostas.

Conforme Cury (1988), geralmente aliamos o acerto ou o erro ao sucesso ou

insucesso, em que temos de um lado a gratificação, de outro a penalidade. Ainda segundo a

autora, professor pode aproveitar do erro de um estudante e não apenas penalizá-lo, mas

também, aproveitar a oportunidade para explorar o conhecimento, mesmo que equivocado, de

seu estudante, pois,

[...] o aluno que corrige um erro e o entende pode mudar sua aprendizagem.

Comparar erros desencadeia caminhos para a construção de novos saberes. Um erro

corrigido pelo aluno pode ser mais proveitoso para ele, para o professor e para todo

o grupo de estudantes, do que um acerto imediato (FELTES, 2007, p. 29).

Conforme a autora citada acima, o erro faz parte do processo de ensino, pois ao

errar, o estudante constrói novos conhecimentos. O erro não pode ser explorado apenas como

penalidade, o professor precisa conhecer os erros que seus estudantes cometem, e criar

condições para que eles adquiram conhecimento a partir de seus erros. Pinto (2000) esclarece

que o professor precisa utilizar-se de um erro cometido por seu estudante para que ele interaja

e muitas vezes consiga superar. Assim, pode-se utilizar o erro para auxiliar os estudantes. Ou

seja, pode ser benéfico tanto para o estudante quanto para o professor.

[...] o erro surge não mais como declaração de incompetência ou ignorância,

assumindo um papel de Protagonista na construção do conhecimento. Desta forma,

também é possivel afirmar que não irão desaparecer e sempre que forem detectados

há possibilidade de novos saberes serem constituidos (PEREIRA FILHO, 2012, p.

32).

Portanto, como sugere Pereira Filho, podemos aproveitar o erro para interferir

prospectivamente o aprendizado do estudante. Uma atitude que pode ser tomada pelo

professor é juntar-se ao estudante para então discutir sua resolução, a fim de suscitar um

diálogo entre ambos. Cury (2007) trata dessa interação do seguinte modo:

41

[...] a análise qualitativa das respostas dos alunos, com uma discussão aprofundada

sobre as dificuldades por eles apresentadas, apoiada em investigações já realizadas é,

talvez, a melhor maneira de aproveitar os erros para questionar os estudantes e

auxiliá-los a (re)construir seu conhecimento (CURY, 2007, p. 27).

Para tanto, não se pode apenas penalizar o estudante por conta de seu erro, pois

ele pode e deve contribuir para a construção do conhecimento. Não é tarefa fácil verificar um

erro, pois ao informar o que está certo ou errado apenas na solução escrita do estudante,

acaba-se por desprezar todo o pensamento por ele desenvolvido. Na verificação de um erro,

faz-se necessário uma análise cuidadosa, pois, precisa estar de acordo com os objetivos

pretendidos, em relação ao conhecimento que se espera deste estudante.

Ainda que a questão do erro não tenha sido tratada de maneira clara pela teoria

Histórico-Cultural, Oliveira (1997) tece algumas considerações:

Nessa abordagem postula-se a geração da singularidade humana, com base na

plasticidade de nosso sistema nervoso e na interação entre diferentes planos

genéticos no processo de constituição do psiquismo. Não haveria, portanto, um

único caminho de desenvolvimento ou uma única forma de “bom funcionamento”

psicológico para o ser humano (OLIVEIRA, 1997, p. 60).

Ainda, para a autora em referência, o desenvolvimento psicológico não está

totalmente aberto, pois existem limites e possibilidades que são definidos no plano genético.

Todos esses diferentes indivíduos, com suas singularidades culturais, vão para escola. Para

tanto, a intervenção da educação tem que ser sobre o indivíduo, no sentido de lhes dar acesso,

na relação entre sujeito e objeto, ao conhecimento. Esse é o papel fundamental da escola, a

fim de promover transformações em seu desenvolvimento (OLIVEIRA, 1997).

A partir do pressuposto de que aprendizagem gera desenvolvimento, Vigotski (2001,

p. 318) afirma que “[...] o próprio conceito de erro da criança deve significar sempre uma

falha da educação. O crime do aluno escolar é antes de tudo um crime da escola e a ele só se

pode responder com a eliminação dessa falha na organização social da própria escola”.

Para Souza (2006), no contexto da Teoria Histórico-Cultural, os conceitos de zona de

desenvolvimento proximal, mediação pedagógica, conceitos cotidianos e científicos,

evidenciam o papel da escola e do professor nos processos educativos e oferecem elementos

para a superação/compreensão do erro.

42

A escola, como espaço privilegiado, deve organizar-se para que todos que nela estão

inseridos trabalhem no sentido de compreender que a aprendizagem não é

desenvolvimento, mas que a partir dela o desenvolvimento é constituído. Um dos

objetivos da escola é oferecer ao aluno situações de experiências que o oportunizem

realizar aprendizagens. Para tanto, os pressupostos teóricos de Vigotski, aqui

apresentados, reafirmam a importância das inter-relações entre professor-aluno-

aluno para a abertura de novos caminhos de aprendizagem e a

superação/compreensão de eventuais erros (SOUZA, 2006, p. 83)

De acordo com Souza (2006), para entender o significado de erro, na Teoria

Histórico-Cultural, é preciso primeiro compreender a zona de desenvolvimento proximal

como algo a ser explorado pelo professor, pois ele deve conhecer seu aluno a fim de planejar

suas ações promovendo o desenvolvimento dos estudantes com vistas ao conhecimento

potencial. Assim, trabalhar/explorar o erro, em sala de aula, requer um planejamento das

medidas tomadas pelo professor.

O erro, então, não é considerado algo que deve ser banido da sala de aula, mas

entendido como uma hipótese elaborada pela criança no decorrer da apropriação dos

conceitos científicos, que oferece caminhos para a criança explorar suas

possibilidades cognitivas, que podem ser mediatizadas pelo professor ou um colega

mais experiente, ocasionando novas aprendizagem (SOUZA, 2006, p. 85).

À vista disso, faz-se necessário organizar o ensino prospectivamente em relação

ao desenvolvimento do estudante. Um dos diversos aspectos que precisam ser repensados, na

especificidade da disciplina de Matemática, é a interconexão entre as significações

aritméticas, algébricas e geométricas a partir do estudo com as grandezas discretas e

contínuas, tal como ocorre na proposição davydoviana, pois, como apresentaremos no

capítulo de análise dos dados, parte dos erros apresentados pelos estudantes revelam a

tricotomia dessas significações sustentadas na grandeza discreta.

Com a finalidade de contribuir com maior clareza para tais critérios analisados,

faremos a seguir uma revisão de algumas pesquisas brasileiras realizadas na Educação

Matemática com relação à análise de erros cometidos pelos estudantes.

43

3.2 ALGUMAS PESQUISAS BRASILEIRAS SOBRE ANÁLISE DE ERROS

As pesquisas sobre análise de erros na realidade nacional tiveram início no final

da década de 1980. Pinto (2000) traz por meio de um dos trabalhos levantados por Fiorentini

que até o ano 1990 foram realizadas somente nove pesquisas. Dentre eles, encontra-se o

trabalho de Helena Cury que vem desde 1988 com sua dissertação de Mestrado, na qual

pesquisou análise de erros. A pesquisa de Cury (1988) foi desenvolvida com estudantes do

Ensino Superior, apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seu tema foi

relacionado à análise de erros em demonstrações de Geometria plana. Participaram de sua

pesquisa onze estudantes de um curso de Licenciatura Plena em Matemática, os quais

realizaram demonstrações de proposições em Geometria Plana. A análise teve o objetivo de

classificar os erros e descobrir suas causas. Para a realização de sua pesquisa, a autora aplicou

três questões individualmente aos onze estudantes, dispondo quinze minutos por questão para

a resolução.

No momento da análise, Cury (1988) separou os erros cometidos pelos estudantes

e categorizou como: Erros tipo I, erros ligados à linguagem dos símbolos matemáticos; Erros

tipo II, relacionam-se aos erros produzidos pelas figuras, afirmativas retiradas do desenho por

simples visualizações; Erros tipo III, são erros relacionados a conceitos matemáticos, quando

se tem um conceito errado de Matemática; Erros tipo IV, quando o estudante tira certas

conclusões a partir de outras; Erros tipo V, ocorrem quando o estudante não faz a utilização

ou não reconhece um teorema já existente na teoria; Erros tipo VI, esse tipo de erro ocorre

quando o estudante se utiliza da tese como um dos elementos da hipótese; Erros tipo VII,

relacionados com a escrita e a leitura; Erros tipo VIII, erros da língua portuguesa.

Os erros tipo I são os que mais aparecem em sua análise, representando 43,4% de

todos os erros encontrados. Cury (1988) completa que cada tipo de erro tem sua causa, assim

como os que estão ligados com a linguagem Matemática, que são problemas vindos da

reforma da Matemática Moderna com uma precipitação de novos termos e símbolos. A autora

associa também o fato de que o estudante quase sempre recebe o conteúdo acabado, sem a

devida demonstração de fórmulas e teoremas.

44

Para os erros tipo II e III, Cury (1988) considera que a causa desse erro é

pertinente ao abandono dessa disciplina com relação aos anos que antecedem o 3º grau, o que

acaba impedindo o estudante de fazer a passagem pelo concreto, não lhes dando a

possibilidade de adquirir uma base de conhecimentos que sirva para sua formação

subsequente. Ainda assim, apresentados, de acordo com a autora, esses conteúdos não

contemplam a abstração e a generalização.

Como decorrência dos erros tipo IV, V e VI, Cury destaca que a educação deve se

fundamentar nas necessidades de certo momento e nas suas soluções, pois todos esses erros

estão relacionados ao processo de dedução.

Os erros tipo VII são os lapsos orais de escrita ou de leitura. Cury destaca que é

importante considerar esses erros ao se avaliar uma prova, pois a causa do erro não está

vinculada ao conhecimento que ele tem de determinado contexto.

Para o erro tipo VIII, Cury enfatiza tratar-se da língua portuguesa, portanto foge

da pesquisa. Com ele, a autora apenas detectou esses erros, pois considera que um professor

de Matemática deve-se expressar corretamente.

Os pesquisadores Zanardi e Lima (2008) focaram seus estudos na disciplina

Cálculo Diferencial e Integral II. A análise foi realizada sobre os erros cometidos pelos

estudantes na referida disciplina, no Curso de Engenharia Mecânica da UNESP. O objetivo

dos autores consistia em fazer um levantamento das dificuldades enfrentadas pelos estudantes

do referido curso, na Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá – FEG/UNESP, na disciplina

de Cálculo II.

Os autores fizeram o levantamento dos dados por meio das provas que foram

aplicadas pelo professor titular e resolvidas pelos estudantes. O pressuposto era que as causas

dos erros cometidos estavam relacionadas aos conceitos básicos.

Após análise, os pesquisadores confirmaram o pressuposto, pois os conceitos de

Cálculo I, Álgebra Linear e Cálculo Vetorial, não foram assimilados adequadamente.

Detectou-se também, durante a análise de erros, que as maiores dificuldades estão

relacionadas aos conteúdos do Ensino Médio. As estratégias apontadas foram relacionadas

com a metodologia de ensino a ser adotada, priorizando o envolvimento dos estudantes em

visualizações de gráficos e em resoluções de exercícios. No entanto, alguns obstáculos

também estão relacionados, como a carga horária das disciplinas e com a grande quantidade

45

de estudantes em cada turma. O problema se agrava quanto ao número reduzido de docentes

com dedicação exclusiva à docência na Universidade.

Na busca por pesquisas, citamos o trabalho realizado por Rocha (2010), sua

dissertação de Mestrado, que foi o desenvolvimento de atividades computacionais na

disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, uma proposta de ensino pautada na articulação

entre a visualização e a experimentação. Sua pesquisa foi realizada na Universidade Federal

de Ouro Preto, onde os índices de reprovações encontram-se em um nível elevado.

Para a efetivação de sua investigação, Rocha (2010) acompanhou uma turma de

Cálculo I em atividades nas quais os conceitos de limite, derivada e integral, abordados em

sala de aula, eram explorados por meio do software GeoGebra. As atividades desenvolvidas

buscavam uma compreensão mais profunda dos conceitos. A coleta de dados foi desenvolvida

por meio de registros produzidos pelos estudantes, questionário e avaliações.

A análise realizada por Rocha (2010) em sua pesquisa indicou que em um

ambiente informatizado, a contribuição é de modo que os estudantes se tornem mais

participativos e exploradores, o que facilita na compreensão dos aspectos conceituais do

Cálculo. O referido autor ainda conclui que esse ambiente permite maior autonomia ao

estudante e que a visualização e a experimentação propiciadas pelo software têm um papel

importante nesse processo.

Outra pesquisa brasileira é de Albano Dias Pereira Filho (2012), que tinha como

objetivo, em sua dissertação de Mestrado, investigar e analisar os erros cometidos na

resolução de problemas da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I. Os sujeitos de sua

pesquisa são estudantes de um curso de Engenharia Civil da Faculdade Presidente Antônio

Carlos - FAPAC, Campus de Porto Nacional – TO.

Na realização de sua pesquisa, Pereira Filho (2012) utilizou-se de um questionário

sociocultural, um Teste Inicial e das provas institucionais realizadas durante um semestre

(três). Nesse questionário, ele identificava o perfil do acadêmico. No segundo instrumento de

coleta, o Teste Inicial, ele abordou oito questões referente a conteúdos do Ensino Médio,

principalmente ao conteúdo de função. Para o terceiro instrumento, que são as avaliações

institucionais aplicadas pelo professor regente da turma e que são divididas em três, abordam

os conteúdos de função, limite, derivada e integral.

Para a análise dos dados, o autor adotou as categorias consideradas por

Movshovitz-Hadar et al. (1987), tais como: Uso errado dos dados; Linguagem mal

46

interpretada; Inferência lógica inválida; Definição do teorema distorcido; Solução não

verificada; Erros técnicos. Pereira Filho (2012) constatou que os erros mais presentes são os

erros de linguagem mal interpretada, inferência lógica inválida e definição do teorema

distorcido.

Considera-se que as dificuldades dos estudantes estão relacionadas principalmente à

interpretação dos dados de um problema, à leitura e interpretação de gráficos e

tabelas e ao desenvolvimento de atividades algébricas baseadas em regras e

propriedades. Acredita-se, portanto, que a análise e classificação dos erros

cometidos pelos estudantes confirmam a necessidade de engajá-los em atividades

que propiciem o desenvolvimento de habilidades e competências, de acordo com as

deficiências detectadas, possibilitando assim uma adequação recíproca dos alunos,

que podem melhorar o seu desempenho em sala de aula, e dos professores, na

efetivação de sua própria missão como educador e na busca da prática de um ensino

eficiente (PEREIRA FILHO, 2012, p. 87).

Outro trabalho recente é o de Garzella (2013), que em sua tese de doutorado na

Unicamp pesquisou a disciplina de Cálculo I. A autora analisou as relações entre as práticas

pedagógicas do professor e seus impactos nos estudantes. Após algumas aproximações com

os estudantes e professores da universidade pesquisada, Garzella (2013) concluiu que existem

alguns aspectos que levam aos altos índices de reprovação, como:

O grande número de alunos por turma, impedindo que necessidades particulares de

determinados grupos de alunos sejam atendidas; a presença da disciplina de Cálculo

I, no primeiro semestre dos cursos, dividindo espaço com outras disciplinas que já

demandam o conhecimento acerca da área – como Física I, por exemplo; a grande

quantidade de conteúdos previstos por semestre que, segundo os alunos, dificulta a

aprendizagem; além de aspectos pertencentes à dinâmica do ingresso na

universidade, como a mudança de ambiente, a busca por uma nova moradia, a

convivência com novas pessoas, a diferença da natureza dos assuntos estudados, etc.

(GARZELLA, 2013, p. 2-3).

Ao iniciar a coleta de dados, Garzella (2013) identificou que o processo de ensino

e aprendizagem da disciplina de Cálculo I é caracterizado por várias questões. A autora trata

tais questões como as que envolvem a vida acadêmica e pessoal do estudante, que está

iniciando na universidade, muitas vezes sem os pré-requisitos necessários, além de citar

também a dinâmica do professor de sala de aula.

Garzella (2013) concluiu que a disciplina de Cálculo I na universidade por ela

pesquisada possui um planejamento muito rígido, que é seguido por todos professores e

estudantes. Tal situação é prejudicial, pois não considera o tempo que cada estudante leva

47

para se apropriar de determinado conteúdo, nem os conceitos que são pré-requisitos. “Os

dados sugerem que as formas de organização da disciplina são fortes determinantes do

aproveitamento insatisfatório de parcela significativa de aluno, sendo que os impactos

afetivos dessa experiência são marcadamente negativos em suas vidas.” (GARZELLA, 2013,

p. 110).

Mas esses problemas referentes à aprendizagem da Matemática não surgem na

Educação superior. Kaled Sulaiman Khidir em sua dissertação de mestrado investigou a

aprendizagem em Álgebra, com base na Teoria de Davýdov. Seu objetivo consistiu em

pesquisar e compreender as causas pelas quais alguns estudantes aprendem Álgebra e outros

enfrentam muitas dificuldades (KHIDIR, 2006).

Os sujeitos da pesquisa desenvolvida por Khidir (2006) foram os estudantes e o

professor de uma turma de 7ª série de uma escola pública de Goiânia. A coleta de dados foi

realizada nas cinco aulas semanais de matemática durante todo um semestre. Como

instrumento de pesquisa, o autor se dispôs de observação, entrevista e dois testes

desenvolvidos pelos estudantes sobre os conceitos algébricos. Em sua análise, o autor ressalta:

Percebemos que alguns alunos têm dificuldades e facilidades com relação aos

conteúdos da Álgebra. Da mesma forma que entendemos que alguns alunos estão no

pensamento empírico e outros no pensamento teórico. Com base em nosso material

coletado e em nossas observações, podemos apontar que há uma relação entre ter

facilidade com a Álgebra e ter o pensamento teórico desenvolvido (KHIDIR, 2006,

p. 75).

Para o referido autor, apesar de existirem pesquisas que demonstram a ineficiência

dos métodos de ensino mecanizados e descontextualizados, ainda são os mais presentes nas

aulas de Matemática. De acordo com Khidir (2006, p. 76), os professores tentam se esforçar

para contextualizar com os recursos existentes, mas “acabam reduzindo a matemática escolar

a um ensino que conduz somente ao pensamento empírico. Muitas vezes nem isso.”

As dificuldades encontradas pelos sujeitos pesquisados por Khidir (2006) estão

principalmente voltada para a definição da linguagem matemática, em especial a linguagem

algébrica que conduz as dificuldades de resolução algébrica.

Os alunos mostraram insuficiências na apropriação e reprodução dos conceitos

algébricos como, por exemplo, a identificação e aplicação de operações, a não

decodificação de enunciados para a linguagem algébrica e a ausência da

reversibilidade nas atividades propostas (KHIDIR, 2006, p. 76).

48

O autor completa que, embora seja conhecida a realidade sociocultural dos

estudantes, esta não está sendo considerada, a fim de melhorar a aprendizagem deles.

Segundo Khidir (2006), o professor não tem a preocupação do modo como os estudantes

assimilam e interiorizam os conceitos algébricos, sem aplicações teóricas e práticas. E conclui

que a Álgebra é apresentada sem nenhuma relação com a continuidade da vida escolar do

estudante.

Outra pesquisa desenvolvida na educação básica, nessa direção, foi a de Maria

Lucia Panossian, sobre Álgebra, com enfoque nas manifestações do pensamento e da

linguagem algébrica dos estudantes. A intenção da autora era de proporcionar aos estudantes

maiores condições de assimilação do simbolismo algébrico (PANOSSIAN, 2008). Seu

objetivo consistiu em “investigar as manifestações e as peculiaridades do movimento do

pensamento e da linguagem algébrica, por meio de situações-problema com estudantes de 6ª

série do Ensino Fundamental.” (PANOSSIAN, 2008, p. 11) a partir das seguintes categorias

de análise: qualidade do pensamento, qualidade da linguagem e o conceito de variável.

Inicialmente, a autora aplicou uma situação problema a alguns estudantes da 6º

série do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio. Os problemas encontrados foram

semelhantes, nos dois grupos. “As dificuldades dos estudantes avançam pelos anos de estudo

e se acumulam com a apresentação constante, realizada pelo professor, de técnicas e conceitos

algébricos que não são devidamente apropriados.” (PANOSSIAN, 2008, pp. 13-14).

Após aplicar o teste, a autora chegou ao seu problema de pesquisa: quais são as

dificuldades dos estudantes e qual a natureza dessas dificuldades, referente aos conceitos

algébricos. Na tentativa de encontrar respostas às suas inquietações, Panossian (2008) dividiu

a turma em grupos de quatro estudantes para resolverem cinco situações problemas. A autora

propôs a resolução de um problema por aula, durante cinco aulas, gravou e filmou as

conversas e resoluções. Em outro momento, fez a análise do material coletado, por meio das

categorias selecionadas e citadas anteriormente.

Para a referida autora:

O pensamento dos estudantes manifesta-se para nós a partir da explicitação por meio

da linguagem, entretanto, muitas vezes tal pensamento não está suficientemente

elaborado para que seja expresso. A insistência para que tal pensamento se expresse,

ainda mais por meio de uma linguagem formal e simbólica, não pode limitar a

formação do conceito principalmente (PANOSSIAN, 2008, p. 134).

49

Panossian sintetiza afirmando que os atos cometidos pelos estudantes no momento

da resolução das situações-problema desvendam motivos os quais gerem as suas atividades.

Para tanto, essas situações permitem que os estudantes cheguem a algumas deduções, mas não

obtêm a formação de conceito. A generalização alcançada pelos estudantes foi a empírica,

portanto, não há garantias de que os estudantes conseguirão resolver outros problemas,

mesmo que semelhantes.

Os estudantes resolveram os problemas aritmeticamente, o que não pode-se dizer

que conseguirão resolver algebricamente. Além disso, também possuem dificuldades em

expressar de maneira oral e escrita o seu registro simbólico (PANOSSIAN, 2008). A autora

ressalta que “os estudantes não terão condições de compreender a essência de um conceito, no

seu movimento lógico-histórico, se esta não estiver contemplada em várias e diferentes

situações de estudo propostas a eles” (PANOSSIAN, 2008, p. 163).

Khidir (2006) e Panossian (2008) pesquisaram a Álgebra no Ensino Fundamental

com 7ª série e 6ª série, respectivamente. As respostas encontradas às suas perguntas foram

semelhantes: os dois autores verificaram dificuldades na linguagem algébrica e também no

modo de lidar com os conceitos, pois os estudantes não se apropriam da essência do conceito,

mas apenas do procedimento de resolução. A pesquisa de Cury (1988) considerada

anteriormente, também detectou problemas com a linguagem Matemática.

Todas as pesquisas que apresentamos, voltadas ao Ensino Superior, tais como

Cury (1988), Zanardi e Lima (2008), Albano Filho (2012) e Garzella (2013) constataram que

as dificuldades dos estudantes, em grande parte, são oriundas do Ensino Médio e Ensino

Fundamental, uma vez que durante os anos de estudo, as fragilidades dos estudantes vão se

acumulando e essas deficiências os acompanham, porém, também permanecem no Ensino

Superior. No capítulo seguinte apresentaremos e analisaremos os dados coletados para a

presente pesquisa.

50

4 A NATUREZA DOS ERROS APRESENTADOS PELOS ESTUDANTES

No presente capítulo, abordaremos a análise dos erros apresentados pelos

estudantes, na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, de dois cursos de Engenharia,

durante resolução de exercícios e realização de provas. Mostraremos, quando necessário,

partes das resoluções e falas dos estudantes, da professora e da pesquisadora que revelam a

tricotomia entre aritmética, geometria e álgebra.

Apresentamos inicialmente os erros advindos do conhecimento aritmético, depois

da geometria e finalmente da álgebra. Ressaltamos que essa divisão foi em função da

organização do texto, mas em vários momentos um mesmo erro era expressão dos três.

4.1.1 Erros de Aritmética

A aritmética, de acordo com Dantzig (1970, p. 44) “é a base de tôda a

Matemática, pura ou aplicada. É a mais útil das ciências e provavelmente não existe nenhum

outro ramo do conhecimento humano tão espalhado entre as massas”. No contexto da

aritmética, surgiu, historicamente o conceito de número. Uma das grandes invenções da

humanidade que, segundo Ifrah (1985, p. 09), é decorrente da obrigatoriedade de

levantamento das propriedades. Surge a partir da necessidade de quantificar grandezas

discretas e contínuas. A aritmética, por sua vez, é considerada, como a ciência dos números

por ser o ramo da Matemática que lida com os números e com as operações entre eles

(LORENSATTI, 2012, p. 02).

Para Dantzig (1970, p. 59), a evolução da Teoria dos Números, pode ter surgido

de uma “espécie de numerologia” e ter atravessado por um “período errático de solução de

charadas antes de adquirir o status de ciência”. Para o referido autor, todo e qualquer processo

que envolve Matemática se sustenta no conceito de número.

Segundo Newman (apud TELES, 2004, p. 02), a aritmética é definida como uma

parte da Matemática que lida com cálculos e é dividida em Aritmética Comum (cálculos de

51

números já definidos) e Aritmética Literal (cálculo de números representados por letras -

cálculo algébrico).

Para Cambi (1999), alguns dos filósofos da antiguidade que iniciaram com o

conhecimento referente à aritmética. Pitágoras (570-497 a.C.), foi quem iniciou a escrita da

disciplina dos números, depois Nicômaco (60-120 d.C.) deu continuidade, expandindo e

ampliando ao que já existia. Essa produção, posteriormente, foi traduzida para os latinos,

inicialmente por Apuleio (125-180 d.C.) e, após, por Boécio (475-524 d.C.).

Foi Santo Isidoro (560-636 d.C.), quem, de maneira geral, transmitiu a cultura

clássica, daquela época para a Idade Média. Nascido em Sevilha, bispo por quase quatro

décadas (600 a 636 d.C.) deixou uma obra, que é uma espécie de enciclopédia, dividida em

vinte livros, o qual escreve sobre artes e ciências (LAUAND, 2002). Em um dos livros

intitulado: Quadrivium: las matemáticas: arithmética, geometría, música, y astronomía

Isidoro nomeia a Matemática como ciência do conhecimento abstrato, a qual foi expressa a

partir de necessidades humanas (SAN ISIDORO, 1951).

A aritmética foi considerada a primeira disciplina da Matemática, servindo

também à religião. “A Aritmética é a disciplina da quantidade numerável em si mesma

considerada” [...] “a música, a geometria e a astronomia, para existir, necessitam de seu

auxílio” (SAN ISIDORO, 1951, p. 75).

Foram muitos os sinais encontrados em ossos, pedras, peças de argila entre outros,

sobre a história da contagem. Conforme Ifrah (1985, p. 150), “A invenção dos algarismos

aconteceu muito antes da descoberta da escrita [...]”, nesta fase favorecia a memorização de

quantidades.

A aritmética se tornou indispensável desde que as primeiras civilizações chegaram

ao Oriente Médio, nas regiões férteis, propicias para a agricultura e cultivo de animais,

surgindo então o comércio. Atualmente, essa região “vai desde a Turquia até a Arábia,

também ao Norte da África, numa coexistência que ‘no seu pluralismo’ se influencia e se

contrapõe, encontrando no Mediterrâneo o centro de intercâmbio e o meio de comunicação”

(CAMBI, 1999, p. 68).

No que se refere ao sistema de numeração, de acordo com Boyer (1974), alguns

documentos foram encontrados há cerca de quatro mil anos. Refere-se à um sistema de

numeração de base sessenta. O autor apresenta também alguns escritos egípcios, considerados

52

ainda mais antigos, descobertos quais foram descobertos por volta de 1799, que trata de um

sistema de numeração de base dez.

A Matemática teve um progresso após a concepção dos algarismos indo-arábicos,

o qual consistia em métodos de resolução mais simplificados do que os que já existiam, o que

possibilitou a criação dos números inteiros.

Fibonacci (1170-1250) divulgou em 1202, pela Europa, um livro (Liber Abaci) no

qual trazia a representação numérica hindu, os seus fundamentos e algoritmos, para as

operações aritméticas.

A Aritmética tomou poder no uso do comércio e um dos motivadores foi Lutero,

que popularizou e defendeu “os quatros evangelhos comerciais da adição, subtração,

multiplicação e divisão”, disseminando como a “estranha doutrina de que todos os meninos

deviam aprender a calcular” (HOGBEN 1970, p. 28).

E, atualmente, a aritmética tornou-se indispensável no uso diário, é componente

necessário à vida de qualquer ser humano contemporâneo. Essa aritmética de origem

primitiva, mas, que atingiu elevado grau de abstração e generalização em nível teórico se faz

presente no currículo de todas as escolas nos dias atuais.

Em relação à aritmética, um dos conceitos que faz parte do currículo escolar,

desde os anos iniciais da Educação Básica, é o sistema de numeração e suas operações. No

atual contexto educacional brasileiro, inicia-se com os números naturais no 1º ano do Ensino

Fundamental e este acompanha o estudante em boa parte de sua trajetória. De acordo com os

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), alguns conteúdos aritméticos que são abordados no

6º ano do Ensino Fundamental, também são ensinados em anos anteriores. Portanto, gera o

desinteresse do estudante quando se depara com a mesma circunstância de aprendizagem, a

qual por diversas vezes, acaba por apenas repetir exercícios (BRASIL/SEF, 1998).

De acordo com os PCN, as escolas devem visar ao desenvolvimento do

pensamento numérico, para a aplicação em situações que delas se fizerem necessário. Há

também uma preocupação com relação ao sistema posicional numérico:

Associar a quantidade de grupos aos algarismos não é o suficiente para a aquisição

pela criança, em alfabetização, das estruturas fundantes do Sistema de Numeração

Decimal, pois, além de decimal, o sistema é posicional. O posicionamento, assim

como o agrupamento, devem figurar na proposta pedagógica como uma forma de

regra de jogo. Assim, [...] vamos propor que, a partir de uma estrutura lúdica seja

possível fazer emergir conceitos matemáticos. Nessa interlocução entre o lúdico e os

53

conceitos, o aluno pode conceber a ideia da posição como elemento fundamental na

representação das quantidades numéricas do Sistema de Numeração Decimal

posicional (BRASIL, 2014a, p. 28)

Portanto, de acordo com o documento em referência, não basta apenas a criança

saber quantificar o algarismo, mas, também saber qual é a posição que ele ocupa nesse

sistema, para isso, a sugestão dos PCN é que se trabalhe com recursos lúdicos.

Para as operações do sistema de numeração decimal, a sugestão é que faça a

utilização do próprio corpo e dos jogos e que se evidenciem os seus significados e suas

relações com o cotidiano (BRASIL, 2014a). Embora se fale de cotidiano no saber escolar,

Giardinetto (1997) nos alerta, ao dizer “é preciso ter claro o que é limitante no conhecimento

cotidiano” (GIARDINETTO, 1997, p. 146). O conteúdo matemático escolar não se limita

“aos parâmetros daquilo que pode ser apropriado fora da escola pelo cotidiano”

(GIARDINETTO, 1997, p. 20). Faz-se necessário considerar os conhecimentos científicos,

teóricos (DAVÍDOV, 1982). O que significa, na especificidade do conceito de número, ir

além dos limites dos números naturais, tal como ocorre atualmente no sistema educacional

brasileiro (ROSA, 2006 e 2012), para se contemplar, desde os primeiros anos de

escolarização, o conceito de número real (DAVÝDOV, 1982).

A origem do número natural, historicamente, está relacionada com a necessidade

de contagem. Caraça ainda acrescenta:

Para o primitivo, e mesmo para o filósofo antigo, os números estavam impregnados

de Natureza – a Natureza em cuja labuta o homem adquiriu todos os seus

conhecimentos – os números estavam ligados às coisas de que eles se serviam para

contar.

Para o homem civilizado de hoje o número natural é um ser puramente aritmético,

desligado das coisas reais e independente delas – é uma pura conquista do seu

pensamento. Com essa atitude, o homem de hoje, esquecido da origem humilde

histórica do número, e elevando-se (ou julgando elevar-se) acima da realidade

imediata, concentra-se nas suas possibilidades de pensamento e procura tirar delas o

maior rendimento (CARAÇA, 1951, p. 10)

Os números racionais, entretanto, emergiram da utilidade prática da medida.

“Medir consiste em comparar duas grandezas da mesma espécie – dois comprimentos, dois

pesos, dois volumes, etc.” (CARAÇA, 1951 p. 29). Os números racionais são desenvolvidos

devido à impossibilidade de se fazer uma divisão, que não seja exata.

54

Segundo Caraça (1951, p. 29, grifos do autor), “medir e contar, são as operações

cuja realização a vida de todos os dias exige com maior frequência.”

Portanto, só os números naturais não dão conta nem da vida de todos os dias, que

envolve situações de medições. Essa fragilidade é ainda maior no contexto mais abstrato das

grandezas incomensuráveis, nas quais os números racionais não possibilitam o registro da

medição. Além disso, os números, ao longo do desenvolvimento histórico, adquiriam

significações geométricas e algébricas. Mas a ênfase no processo de ensino e aprendizagem,

recaem sobre as significações aritméticas. Na sequência, apresentamos alguns erros cometidos

pelos estudantes da pesquisa em relação à aritmética. Iniciamos a análise da resolução

apresentada por E2 para operação 1.000 x 0,9 =___ (Ilustração 01):

Ilustração 01 – Resolução E2 da operação 1.000 x 0,9 =___

Fonte: Acervo da autora, 2014.

E2 precisava multiplicar 1.000 por 0,9. As multiplicações parciais estão corretas: 9

x 1.000 e 0 x 1.000. Porém, a vírgula foi colocada no lugar errado, trata-se de um equívoco

sobre valor posicional numérico. A resposta correta é 900 e não 0,9000 tal como E2 procedeu.

Ao ser questionado, E2 responde que não sabe onde vai a vírgula (registros escritos), e

acrescenta, “[...] quando se multiplica por 10, 100, 1.000, ..., devemos apenas acrescentar

zeros’’(Sic). E2 continua dizendo, “[...] cometo muitos erros de multiplicação e divisão, coisas

simples que não consigo entender, sempre me esqueço se vai vírgula, zero. Quando eu vejo

um número com vírgula eu penso, que já vou errar, pois não consigo fazer essas coisas com

vírgula [...]” (Sic). E2 sabe que vai uma vírgula no registro do resultado, que deve-se

acrescentar zeros, mas não sabe quantos devem ser acrescentados, pois desconhece a lógica

interna do sistema de numeração. Para ele, o número é uma abstração verbal vazia de

conteúdo.

55

Isso porque, de acordo com Silveira (2015), no ensino tradicional, a lógica interna

do sistema de numeração não é contemplada, diferentemente do que ocorre na proposição

davydoviana. Nesta, a relação universal subjacente ao sistema de numeração é revelada a

partir do estudo das grandezas na interconexão entre as diferentes bases numéricas, tais como

a ternária, quinária, entre outras. Este trabalho culmina com a sistematização da base decimal

sustentada na relação interna das demais bases, ou seja, em interconexão com elas. A

generalização do sistema de numeração ocorre por meio da relação universal existente nas

diferentes bases numéricas particulares, ou seja, partindo da constituição de ordens de

medidas distintas, mediante os agrupamentos (SILVEIRA, 2015).

A lógica do sistema de numeração, para Ifrah (1997), ocorreu historicamente,

seguindo conforme:

[...] uma‘escala’ a partir da qual é possível repartir os números e seus diversos

símbolos segundo estágios sucessivos, aos quais se pode dar os respectivos nomes:

unidades de primeira ordem, unidades de segunda ordem, unidades de terceira

ordem, e assim sucessivamente. E é dessa maneira que se chegou a uma

simbolização estruturada dos números, evitando-se esforços de memória ou de

representação considerável (IFRAH, 1997, p. 48, grifos do autor).

Ifrah (1997) chama essa lógica de princípio da base, “sua descoberta marcou o

nascimento dos sistemas de numeração – sistemas cuja ‘base’ nada mais é do que o número

de unidades que é necessário agrupar no interior de uma ordem dada para formar uma unidade

de ordem imediatamente superior” (IFRAH, 1997, p. 48, grifos do autor), seja no contexto dos

números inteiros ou não.

Davýdov propõe que no estudo de qualquer conceito matemático, inclusive do

sistema de numeração, com a ajuda de um professor, os estudantes iniciem com as relações

entre várias grandezas, identifiquem a relação essencial correspondente ao conceito em estudo

e a modelem (SILVEIRA, 2015). Nesse processo, constatem que a relação anteriormente

identificada se manifesta em outras situações independentemente da base numérica

considerada ou do conjunto numérico (naturais, inteiros, racionais, irracionais e reais).

Por outro lado, uma das mais atuais orientações brasileiras para o ensino do

sistema de numeração, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - PNAIC

(BRASIL, 2014) no que diz respeito a Matemática, mais especificamente, ao sistema de

numeração, o mesmo limita-se à base decimal e sugere a utilização dos dedos para

56

operacionalização com os números. Além disso, também propõe a utilização de recursos

lúdicos, jogos e objetos variados, como, tampinhas de garrafas, palitos entre outros. Para a

operacionalização do sistema de numeração decimal, a proposta do PNAIC é que também se

trabalhe com jogos e materiais manipuláveis (BRASIL, 2014a), mas sempre nos limites da

grandeza discreta. Estas por sua vez, do modo como proposto nas orientações em referência,

constituem a gênese, apenas, dos números inteiros.

Em sua pesquisa, Silveira 2015 constatou que:

[...] a proposição do PNAIC, para a assimilação dos conceitos pelos estudantes,

ocorre a partir da separação das características comuns, por meio da comparação dos

diversos materiais manipuláveis ou visuais utilizados para a contagem. Por exemplo,

agrupamentos compostos por dez dedos das mãos, de dez palitos, dez tampinhas...

têm em comum a quantidade, uma dezena. Esse procedimento de abstração

corresponde, de acordo com Davýdov (1982), ao ensino tradicional [...] (SILVEIRA,

2015, pp. 160-161).

Essas orientações não se constituem em novidade para o ensino brasileiro, tal

como apontam os estudos de DAMAZIO, ROSA E EUZÉBIO (2012). Consequentemente

desenvolve-se a significação empírica do sistema de numeração, válida para um conjunto

numérico em particular, os números inteiros. Porém ela não dá conta da lógica interna

geradora de qualquer conjunto numérico. Isso pode se constatar nas falas de E2, apresentadas

anteriormente, quando ele nos afirma que não sabe quantos zeros acrescentar, que não sabe

resolver uma multiplicação de decimais. Durante os exercícios em sala de aula recorre ao uso

da calculadora e, por isso, atinge o resultado correto, mas na avaliação, nas quais o uso da

calculadora não é permitido, é que os problemas referentes à aritmética básica são

explicitados (registros escritos). A fim de superar tais limitações, Davýdov (1982) propõe que

desde o primeiro ano de escolarização se inicie com os números reais, a partir do estudo das

grandezas não só discretas, mas também contínuas. Nesse movimento, de acordo com

Davýdov (1982), diminuem-se consideravelmente os problemas recorrentes no ensino

tradicional, tal como o erro apresentado por E4 (Ilustração 02), semelhante ao anteriormente

analisado:

57

Ilustração 02 – Resolução de E4 para: D = 2 x π x 385.000

Fonte: Acervo da autora, 2014.

Na multiplicação de 6,28 x 385.000, E4 obteve como resultado 2.410.800 em vez

de 2.417.800. De acordo com a ilustração 2, o estudante errou a multiplicação. Ao explicar o

raciocínio utilizado, por meio de nova realização do cálculo, pergunta à pesquisadora: “onde

vai a vírgula?” (E4). Ou seja, o estudante não se dá conta de que errou na multiplicação, que a

vírgula automaticamente não aparece mais, pois após ela só há zeros. Portanto, no momento

em que propusemos a repetição do cálculo, almejávamos a realização correta da multiplicação

dos números 6,28 x 385.000, mas, nesse momento, ele não sabia o que fazer com a vírgula.

Isso evidencia que o estudante não se apropriou da essência do conceito, de sua lógica interna

de funcionamento e operacionalização, mas apenas decorou algumas “regras” que foram

esquecidas. E4 afirma que, atualmente, seus principais erros em relação à Matemática, na

disciplina de Cálculo I, são (E4): “[...] regras de Matemática Básica, interpretação, fração e

sinal” (sic).

Nos erros em análise, não há evidências de compreensão tanto da lógica interna

do sistema de numeração quanto do algoritmo da multiplicação. Trata-se de uma realização a

partir de passos a serem seguidos, mas sem relação conceitual interna que os sustenta. O

mesmo ocorre na operação inversa da multiplicação: a divisão, conforme a ilustração 03.

Ilustração 03 – Resolução E2 exercício de divisão 90 ÷ 81

Fonte: Acervo da autora, 2014.

58

O resultado correto é uma dízima periódica: 90 ÷ 81 = 1,1111.... E2 não consegue

concluir a divisão, de qualquer forma iniciou incorretamente: “[...] eu não sei terminar, só sei

que dá dez vírgula alguma coisa” (Sic). Explica que seguiu o algoritmo, primeiro dividiu o 90

por 81, deu 1 e sobrou 9 de resto, como o nove não dá pra dividir por 81, acrescentou zero no

quociente. Após acrescentar o zero, colocou uma vírgula também no quociente e um zero no

resto. Mas ficou novamente 90 dividido por 81 e não conseguiu terminar. Afirmou que

sobraria 9 e teria que acrescentar zeros e vírgulas e não saberia como concluir (registros

escritos).

Segundo Bézout (1849, p. 45), “Repartir ou dividir um número por outro, não é

outra coisa mais do que buscar quantas vezes o primeiro deles contém o segundo; e a

operação com que se busca chama-se [...] divisão”. Para a proposição davydoviana:

A essência do conceito da divisão é revelada [...] nas tarefas que envolvem

agrupamentos (unidade de medida intermediária), ou seja, quantas unidades de

medida intermediária cabem no total de unidades de medida básicas. A tarefa é

objetivada a partir das significações geométricas (esquema e reta numérica),

algébricas (representação da medida da grandeza por meio de letras) e aritméticas

(representação dos valores por meio de algarismos) (ROSA, et al, 2014, p. 10).

E2 não tem essa compreensão correspondente à relação interna no conceito de

divisão válida para qualquer campo numérico. Ao ser questionado sobre quantas vezes o

divisor 81 cabe no dividendo 90, ele respondeu rapidamente, “[...] uma é claro, sobrando

nove” (Sic). Sobre o resultado que obteve no algoritmo (10) explicou que nunca compreendeu

a divisão com vírgula (registros escritos), em entrevista E2 relata que suas principais

dificuldades estão relacionadas a:

[...] erros de fatoração, mínimo múltiplo comum, aquelas divisões, essas coisas que

parecem ser mais simples. Que para mim, são muito complicadas não entra na minha

cabeça, não entendo [...] (sic).

E2 comete erros de multiplicação, divisão, o que confirmamos em sua fala, mas

isso não é exclusividade deste estudante, seus colegas repetem os mesmos erros, conforme a

ilustração 04:

59

Ilustração 04 – Resolução de E7 referente à divisão de 8.100 por 1.000

Fonte: Acervo da autora, 2014.

A resposta correta seria: 8.100 ÷ 1.000 = 8,1. E2 e E7 cometem erros semelhantes.

E7 afirma que tentou fazer a divisão, mas como não lembrava mais como prosseguir, então,

resolveu ir pela “regrinha” dos zeros para dividir por mil (registros escritos), ou seja, “[...]

apenas pular as casas decimais conforme a quantidade de números que tenho na chave, assim

como tenho quatro números na chave vou pular quatro casas decimais” (Sic).

Subjacente às respostas dos estudantes, explicita-se o movimento de formação

conceitual percorrido por eles. O foco incidiu na aparência externa do fenômeno (algoritmo)

em detrimento de sua essência, das relações internas que norteiam a resolução do algoritmo.

Por isso, operam empiricamente em detrimento da resolução teórica. Os procedimentos

adotados refletem a formação empírica dos conceitos de multiplicação e divisão, na qual,

“apoiando-se nas observações, refletem nas representações as propriedades externas dos

objetos.” (DAVÍDOV, 1988, p. 154).

Por outro lado, com base nos fundamentos da lógica dialética, Davýdov sugere

que se contemple no ensino a relação universal dos conceitos. Essa relação rege a lógica

interna que fundamenta e explica a aparência externa. Ou, na especificidade das reflexões

aqui empreendidas, trata-se da lógica que norteia o procedimento de elaboração e resolução

dos algoritmos das operações e do sistema em operação, o sistema de numeração, a partir do

campo dos números reais. De acordo com Davýdov (1982), os números reais devem ser o

ponto de partida desde o primeiro ano escolar, diferentemente do que ocorre na educação

escolar brasileira, em que a ênfase recai sobre os naturais. Porém, Davýdov (1982) fala da

existência de limitações ao iniciar e permanecer por um prolongado período de estudo nos

naturais, pois os próprios números naturais não são desenvolvidos adequadamente, conforme

a ilustração 5:

60

Ilustração 05 – Resolução de E6 referente à multiplicação: 16 x 36

Fonte: Acervo da autora, 2014.

Ao multiplicar os números 16 x 36, E6 obtém 476 que somado a 36 chega em 512.

O valor correto da multiplicação de 16 x 36 seria 576 somados a 36, resultaria em 612. E6

afirma que gosta muito de Matemática, mas acha muito difícil, em função das muitas regras e

fórmulas para memorizar e às vezes se confunde, não sabe qual adotar. “[...] essa coisa de

deixar uma casa, coloca um em cima, pede um emprestado, passa somando, passa

diminuindo, multiplicando, dividindo. Muita coisa pra minha cabeça ter que se lembrar de

tudo isso, já tanta coisa pra pensar e se preocupar” (sic). Subjacente à fala de E6 está a falta de

compreensão da essência do conceito, da sua lógica interna, que possibilita, inclusive a

reprodução das fórmulas em caso de esquecimento das mesmas. Ainda no contexto dos

racionais, há problemas na operacionalização destes na forma fracionária, conforme a

ilustração 06.

61

Ilustração 06– Resolução E7 referente a uma equação envolvendo fração

Fonte: Acervo da autora, 2014.

E7 resolve uma equação em que precisa determinar o valor da incógnita x, para

tanto, operou com números racionais. Multiplica corretamente o número inteiro (-5) pelos

fracionários por meio da propriedade distributiva. Entretanto, ignora o denominador

(3), ficando apenas . A partir desse estágio, segue com a resolução correta:

, e obtém como resultado , o que não se pode ser considerado como

correto, pois no processo, o estudante desconsiderou o denominador (3). E explica: “cortei”

(sic). O estudante concebe o três como se o denominador fosse de toda a equação e, portanto,

poderia eliminar. A todo momento falava em cortar o mínimo, tirar o mínimo, mas não sabia

para que tirar o mínimo e cortar depois (registros escritos). Isso corre, pois segundo

orientação dos PCN:

Embora as representações fracionárias e decimais dos números racionais sejam

conteúdos desenvolvidos nos ciclos iniciais, o que se constata é que os alunos

chegam ao terceiro ciclo sem compreender os diferentes significados associados a

esse tipo de número e tampouco os procedimentos de cálculo, em especial os que

envolvem os racionais na forma decimal.

Uma explicação para as dificuldades encontradas possivelmente deve-se ao fato de

que a aprendizagem dos números racionais supõe rupturas com idéias construídas

para os números naturais (BRASIL, 1998, p. 101).

62

Para superar tais limites, Davýdov (1982) propõe que no ensino se contemple os

números reais, desde o primeiro ano escolar, a partir das relações entre grandezas discretas e

contínuas no contexto da reta numérica.

O conteúdo que é ensinado nas escolas é realizado por meio de abstrações vazias

que contribuem para consolidar o pensamento empírico, formando obstáculos para a

compreensão posterior do conteúdo teórico (DUSAVITSKII, 2014; DAVYDOV,

SLOBODCHIKOV, 1991). Tal como se explicita no erro de E2 apresentado na ilustração 07,

referente a um exercício de avaliação. A proposta era desenvolvê-lo por meio do modelo

algébrico da função: y = ax + b. Entretanto, E2 utiliza outro procedimento de resolução.

Ilustração 07 – Resolução com predomínio das significações aritméticas

Fonte: Acervo da autora, 2014.

A ilustração 07 refere-se a uma das questões da primeira avaliação proposta pela

professora da disciplina. Um dos estudantes pesquisados (E2) extraiu corretamente as

informações do enunciado: a 100m de profundidade em relação à superfície da terra a

temperatura é de 25ºC, em seguida, a cada 100m a temperatura aumenta em 3ºC. A resolução

aritmética está correta até o penúltimo cálculo (Ilustração 07). Porém, no último, ele se perde

e erra, pois calculou 64 + 3 = 65 em vez de 67. E2 afirma que não sabia como resolver a partir

do modelo algébrico de função, então, foi acrescentando sempre 3ºC, assim, seria mais fácil

para ele (registros escritos). Ainda acrescenta “[...] não podia ter errado essa soma, era

simples, mas não consigo explicar, acho que fico muito nervoso, porque já sou repetente e não

63

posso mais reprovar” (sic). De acordo com o conteúdo da disciplina, o estudante deveria

desenvolver por meio do modelo da função: , ou seja, algebricamente. Além disso,

para subsidiar a interpretação do problema, poderia representar a relação de variação entre as

grandezas (comprimento e temperatura) geometricamente, na forma gráfica, conforme segue

(Ilustração 08):

Ilustração 08 - Resolução correta fundamentada na aritmética, geometria e álgebra

Fonte: Acervo da autora, 2014.

No entanto, a resolução apresentada por E2 ocorre apenas nos limites da

aritmética. Os erros dessa natureza não são exclusividade de E2. Todos os pesquisados

cometeram erros semelhantes. Faz-se necessário ressaltar que dos onze anos que eles

estiveram na Educação Básica, pelo menos seis deles foram dedicados ao estudo da

aritmética, ou seja, mais de 50%. E ainda assim, erros desse tipo são cometidos.

Com relação ao conteúdo de função, os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais)

trazem a compreensão do conceito de variável de uma função, a representação algébrica e

gráfica assim como sua formulação e resolução de problemas por meio das equações, fala da

importância do conhecimento da “sintaxe” que são as regras para resolução de uma equação

por meio de memorização (PCN de Matemática, 1998, p. 84).

64

Ao analisar os livros didáticos brasileiros Dorigon (2013, p. 82) constatou que

estes “conduzem o ensino dos conceitos por meio de associações a exemplos, memorizações

de regras e macetes, e, comparação com situações particulares que não desenvolvem [...] a

gênese do conceito”.

A fim de superar tais limites, na proposição davydoviana, a introdução do

conceito de equação já ocorre a partir das relações entre grandezas no contexto das

significações aritméticas, geométricas e algébricas (ROSA, et al, 2014) em detrimento de sua

tricotomização em sequência linear: aritmética → geometria → álgebra. Tal como ocorre

atualmente no modo de organização do ensino em nosso país (ROSA, 2012). E que produz

resultados insatisfatórios em cada uma delas, tal como veremos na sequência em relação à

geometria.

4.1.2 Erros de Geometria

A geometria surgiu da própria evolução da história humana desde o início da

civilização. A palavra geometria é derivada do grego, geometrein, a qual geo significa terra e

metrein quer dizer medida. Portanto, a geometria em seu estágio atual de desenvolvimento

derivou de uma ciência que originalmente se tratava da medição da terra. Herodotus (Século 5

a.C.), credita aos egípcios por todo início de estudo da geometria, mas, algumas antigas

civilizações, como, os babilônios, hindus e os chineses também possuíam muito

conhecimento geométrico (SANTOS e VIGLIONI, 2011).

Assim, o aparecimento da geometria ocorreu em função do desenvolvimento da

agricultura, por meio da necessidade de demarcação de terras e do cálculo de áreas.

Precisavam, também, armazenar suas produções, iniciando, neste momento, o cálculo de

volume. Para tanto, a arquitetura não fica de fora, a construção de templos, pirâmides,

também exigiam certo conhecimento geométrico (SANTOS e VIGLIONI, 2011).

Um dos primeiros nomes da história da geometria foi Thales de Mileto. Mesmo

sem se saber muito sobre a vida desse matemático grego, a história traz alguns registros

importantes sobre suas demonstrações. Porém, a geometria só assumiu seu estágio mais

65

desenvolvido por meio da obra de Euclides de Alexandria (360 a.C. - 295 a.C.). Este foi um

professor, matemático platônico, que criou a geometria euclidiana (PINHO et all, 2005).

Os Elementos de Euclides é um tratado matemático e geométrico consistindo de 13

livros escrito pelo matemático grego Euclides em Alexandria por volta de 300 a.C.

Os 4 primeiros livros, que hoje pode ser pensando como capítulos, tratam da

Geometria Plana conhecida da época, enquanto os demais tratam da teoria dos

números, dos incomensuráveis e da geometria espacial (SANTOS e VIGLIONI,

2011, p. 14).

Nesses livros, Euclides sistematiza a geometria que mais era importante na sua

época, “com um rigor nas demonstrações que se tornou padrão para toda a matemática por

mais de dois milênios” (PINHO et all, 2005).

O ensino de geometria no Brasil, no início do século XX ainda não era visto com

muita relevância, tendo em vista que a maioria da população era analfabeta. Somente os filhos

e parentes de latifundiários conseguiam chegar a um nível mais elevado de educação. Estes

tinham preferência pelo jurídico, que facilitava o acesso a cargos políticos. Havia, portanto,

pouco interesse em estudos geométricos de nível teórico. Por outro lado, o ensino de

matemática nas escolas primárias era essencialmente utilitário: aprendia-se apenas algumas

técnicas operatórias necessárias à vida prática das atividades comerciais existentes naquela

época, e se trabalhavam apenas algumas noções de geometria (PAVANELLO, 1993).

Por sua vez, o ensino secundário é, em geral, pago e destina-se, pois, às elites e à

preparação para os cursos superiores. Os conteúdos de matemática (aritmética,

álgebra, geometria, etc) são ensinados separadamente e por professores diferentes. O

tratamento dado a eles e puramente abstrato, sem qualquer preocupação com as

aplicações práticas (PAVANELLO, 1993, p. 8).

Atualmente, o que encontramos em algumas escolas brasileiras, é que o ensino de

geometria é desenvolvido somente no final do ano letivo e seu estudo ocorre superficialmente,

enfatiza-se a memorização de fórmulas e as correspondentes aplicações, sob alegação da falta

de tempo (ALMOULOUD et al, 2004).

Para Pavanello (1993), foi a partir da divulgação da Lei 5692/71, que as escolas

brasileiras conseguiram definir seus currículos e, muitas delas retiraram a geometria ou

deixaram para o final do ano letivo. Esse abandono causou preocupação, por ser tão

importante quanto à aritmética e a álgebra. Nessa direção, os Parâmetros Curriculares

Nacionais do Ensino Fundamental defendem que a Geometria “desempenha um papel

66

fundamental no currículo, na medida em que possibilita ao aluno desenvolver um tipo de

pensamento particular para compreender, descrever e representar, de forma organizada”

(BRASIL, 1998, p. 122), o mundo em que vive.

Ainda conforme os PCN, a geometria é uma área pela qual os estudantes têm

interesse em aprender. Também destaca que auxilia na aprendizagem de números e medidas,

estimulando a observação, percepção, identificação de algumas regularidades, entre outras.

De acordo com o referido documento, o professor que trabalha com espaço e

forma, em sala de aula, pode explorar situações com construções geométricas. Não apenas nos

limites do estudo das formas, “mas também as noções relativas à posição, localização de

figuras e deslocamentos no plano e sistemas de coordenadas”. O estudo do espaço e forma

precisam ser “explorados a partir de objetos do mundo físico, de obras de arte, pinturas,

desenhos, esculturas e artesanato, de modo que permita ao aluno estabelecer conexões entre a

Matemática e outras áreas do conhecimento” (BRASIL, 1998, p. 51).

Para, Del Grande (1994, p. 126) a sugestão é que algumas atividades geométricas

poderiam desenvolver e destacar habilidades espaciais em criança dos anos iniciais. Para o

referido autor, a percepção espacial é “a habilidade de reconhecer e discriminar estímulos no e

do espaço e para interpretar esses estímulos associando-os a experiências anteriores”. Para

ele, os exercícios matemáticos desenvolvidos geometricamente contribuem para a apropriação

dos conceitos, oportunizando aos professores detectarem como o pensamento geométrico é

construído nas crianças. Del Grande (1994) ainda ressalta que essa percepção geométrica é

fundamental para a elaboração de exercícios e para a organização do ensino de Matemática.

Para Davýdov as significações geométricas desempenham um papel fundamental

na mediação entre a realidade, o plano objetal e o plano mental. Os esquemas e modelos que

representam a relação geneticamente inicial, formados a partir de elementos geométricos tais

como segmentos, retas, arcos, entre outros, constituem o elo entre a ação objetal e a mental.

Trata-se de uma etapa importante no processo de abstração, até atingir as representações

algébricas (DAVÝDOV, 1982). Porém, os estudantes não se apóiam nas significações

geométricas durante o desenvolvimento dos exercícios e atividades propostos pela professora

da disciplina, conforme segue a ilustração 09:

67

Ilustração 09 – Resolução E1 exercício de função: limites das significações geométricas

Fonte: Acervo da autora, 2014.

A proposta do exercício consiste em desenvolver uma função com base no raio do

cilindro, que represente o custo de uma lata. De acordo com o enunciado, a lata possui

formato de um cilindro circular reto, com capacidade para 500cm³. O custo para a tampa e a

base é de 0,02 centavos/cm² e o custo da lateral de 0,01 centavo/cm².

E1 iniciou corretamente a resolução, considerou 500cm³ (volume) relacionado

com a fórmula Volume = base x altura. A fórmula da área da base é dada por está

correta, pois a base é circular, mas como temos duas áreas da base (tampa), portanto a área,

considerando a base e a tampa, seria . Ao expressar a altura em termos do raio,

o estudante adotou a fórmula do comprimento da circunferência ( ), que não possui

relação alguma com a altura, e sim com área da lateral, pois a lateral da lata forma um

retângulo, onde ficaria . O correto seria representar primeiramente a altura em

termos do raio, ou seja, iniciando do volume , como e o ,

logo, , para posteriormente representar a função,

ou ainda .

Vale salientar que a geometria é uma parte da Matemática que estuda as formas

em sua dimensão abstrata. E não como representação direta de objetos, tal como antecede no

ensino tradicional. “Desde o nascimento, o ser humano encontra-se em contato com a

realidade, com objetos e com o mundo ao seu redor, e é a partir dessa relação que vai se

68

constituindo seus conhecimentos” empíricos (VAZ, 2013, p. 70). Cabe ao ensino desvelar as

relações teóricas, abstratas que respaldam aquela aparência externamente dada (DAVÝDOV,

1982). “No entanto, quando se fala em ensino de geometria, os professores associam o ensino

a nomeação de figuras simples e usuais (quadrado, triângulo, círculo), para, posteriormente,

ensinarmos o cálculo da área dessas figuras” (VAZ, 2013, p. 70), nos limites da segunda

dimensão, sem muitas relações com a terceira. De acordo com Del Grande (1994), a

geometria possibilita o desenvolvimento da compreensão referente à dimensão espacial dos

estudantes, no entanto, E1 não consegue raciocinar espacialmente e relata “[...] sempre me

confundo nesses exercícios em que envolve área e volume, pois não consigo pensar, se tivesse

o desenho já pronto acho que seria mais fácil” (sic). Consequentemente, os estudantes não dão

conta dessas relações no plano abstrato, tal como o erro apresentado por E1 (Ilustração09), que

se apoiou apenas nas fórmulas prontas, sem refletir sobre a situação apresentada, uma vez que

não consegue representar geometricamente a situação dada, o que poderia se constituir em

elemento mediador para que pudesse atingir a interpretação algébrica correta. Cury (1988), na

pesquisa apresentada no capítulo anterior, afirma que os erros relacionados à geometria estão

ligados ao fato de que os estudantes quase sempre recebem o conteúdo acabado, sem a devida

demonstração de fórmulas e teoremas, não possuindo a compreensão teórica. A autora é

enfática: trata-se do abandono da geometria na Educação Básica, o que impede a formação de

conceitos que servirão de base para a aprendizagem de novos conhecimentos. O mesmo

ocorre com o E5, conforme ilustração 10.

69

Ilustração 10 – Resolução de E5 exercício envolvendo função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

E5 comete um erro semelhante a E2. Ambos consideram o comprimento da

circunferência como a altura do cilindro. E5, além de não representar a base e a tampa, não

contempla o custo do material envolvido e explica que é “[...] difícil esses exercícios em que

tem que interpretar” (Sic). Tanto E5 quanto E2 têm dificuldades em interpretar o problema.

A interpretação de problemas, de acordo com Davýdov, requer a capacidade de

representar a relação interna inerente à situação dada por meio de esquemas abstratos,

compostos por elementos geométricos. Esses esquemas não representam a situação

diretamente dada, mas a relação essencial do conceito, ou do sistema conceitual que

possibilita a sua resolução. Trata-se da interpretação teórica do problema (DAVÝDOV,

1982). Porém, nem a representação empírica da situação dada os estudantes apresentaram.

As limitações na interpretação de problemas em níveis mais abstratos também

decorrem, de acordo com Davídov (1987), do predomínio do “princípio do caráter visual” no

ensino. Como no exercício em análise não se apresenta nenhuma imagem, o estudante não

consegue interpretar e assim resolver. Para Davídov (1987) esse princípio contempla o reflexo

sensorial das propriedades externas do objeto. O “princípio do caráter visual” “é externamente

simples, até banal, se, de fato, a prática de sua aplicação não fosse tão séria (e, para o

desenvolvimento mental, tão trágica), como é na realidade”. Isso ocorre, pois esse princípio

desenvolve nos estudantes unicamente o pensamento empírico (DAVÍDOV, 1987, p. 148).

70

Veremos nas imagens seguintes os erros cometidos por estudantes referentes à

função do 1º grau. Tais estudantes não conseguem relacionar a função com sua representação

gráfica. Uma função, no entendimento do estudante, não passa de uma abstração com

procedimentos algébricos. A incompreensão das significações geométricas é recorrente

inclusive nos exercícios referentes às funções, conforme a ilustração 11.

Ilustração 11 – Resolução E3 exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

E3 entende que precisa iniciar a partir da lei geral de uma função do primeiro grau

, mas não dá continuidade. No entanto, não faz nenhum esboço gráfico, como

também não possui relação com as variáveis. Ele só substitui o “a” por três e o “b” por 25,

pois 25 e 3 constituem as variáveis que se relacionam com a temperatura. Em seguida, faz a

relação das variáveis de profundidade 1.500m e 100m e determina um valor para x (x = 15).

Na sequência, substitui o valor de 15 para x na primeira função . O estudante não

faz relação alguma com os valores de x e y.

E3 explica que chegou à função porque entende que 25 é a

temperatura inicial e 3 é a temperatura que varia, então, é multiplicado por x. Para a segunda

função diz apenas que teria que encontrar o valor de x para 1.500 metros de

profundidade, por isso o faz dessa maneira, encontrando então , após resolver a

71

equação de primeiro grau. E finaliza informando que o valor final que precisava encontrar era

o valor de y, e, portanto, era só substituir o x na primeira equação, , cujo

resultado foi: (registros escritos).

O estudante apresenta argumentos com base na resolução imediata da situação,

sem manifestar compreensão conceitual durante a explicação referente ao processo de

resolução de uma questão. Realizou tais procedimentos para não deixar em branco. Podemos

confirmar na sua fala (E3):

Tenho dificuldade em tudo, pois fiquei quatro anos parado antes de iniciar a

graduação. Agora não lembro mais de nada! Esqueci tudo, até pra tirar da raiz, estou

aprendendo tudo novamente, tenho que relembrar, tem muito sinal, essas troca de

sinal não consigo entender, quando tá somando, quando tá multiplicando. Quando

passa pra lá diminuindo, ou somando, dividindo, é muito complicado. Função,

fração é tudo muito complicado. Agora que eu tô aprendendo o mínimo múltiplo

comum! Tá feio o negócio! (sic).

Tanto na resolução quanto na explicação, E3 não recorre a modelação geométrica

da situação, embora não solicitada no enunciado, o que poderia mediar a interpretação do

modelo algébrico (lei da função), tal como ocorre com E2 na ilustração 12, na resolução de um

exercício avaliativo.

Ilustração 12 – Resolução E2 exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

72

E2 consegue relacionar a informação de que em 100m de profundidade temos

25ºC ao modelo de função ( ). Mas no momento de representar graficamente, ele o

faz incorretamente. Considera, no gráfico, a temperatura como a variável independente e a

profundidade, a variável dependente. Consequentemente, não consegue fazer corretamente o

gráfico. A interpretação correta, neste caso, seria o inverso, pois a profundidade seria o x

(independente) e a temperatura o y (dependente).

Segundo Caraça (1952, p. 134) a curva gerada por um sistema de coordenadas

cartesiana, define-se uma função real de y(x), desde que “sejam a e b dois números reais, um

pertencente ao domínio da variável x, outro ao domínio da variável y”. O par (a,b)

corresponde o ponto M pertencente a curva. Os números (a,b) são denominados de

“coordenadas cartesianas do ponto M, a abscissa e b ordenada; ao eixo Ox, eixo das abscissas;

ao eixo Oy, eixo das ordenadas; ao ponto O, origem das coordenadas” (CARAÇA, 1951, p.

135).

No entanto, durante a análise, não detectamos tal compreensão no plano

geométrico atrelado a sua representação algébrica. Em outras palavras, tratam-se de modelos

algébricos, vazios de significação geométrica. Situação semelhante ocorreu com E5 na

ilustração seguinte (Ilustração 13)

Ilustração 13 – Resolução E5 exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

Assim como outros estudantes, E5 também não vincula a função a uma

representação gráfica. A interpretação do estudante foi que a temperatura de 25º C

correspondia ao momento inicial (na posição zero de profundidade), e não após 100 metros,

73

como consta no enunciado. Na resolução, o estudante traz a função sem

relacionar com a forma geral de função , descartando, assim, a relação entre as

variáveis.

Quando questionado sobre a resolução, E5 não percebe o erro e relata o modo

como chegou à função . Afirma que a temperatura de 25ºC consiste na

temperatura da profundidade inicial, e a partir daí é que a temperatura aumenta 3ºC conforme

a profundidade também aumenta, em razão de 100m, portanto 3/100, ou seja,

temperatura/profundidade. E5 explica sobre o lugar da incógnita x: é temperatura inicial e a

partir desse ponto é que aumenta a razão de 0,03, portanto, a incógnita x vai nessa razão. Para

o estudante, o f(x) representa temperatura e o x a profundidade (registros escritos). Ainda

sobre suas dificuldades acrescenta, (E5):

[...] função do segundo grau e função de primeiro grau. Não sei quando é pra aplicar

Báskara ou não. Função composta eu também não consigo entender. A derivada nem

se fala, eu olho a tabela e fico pensando, pra que todas essas fórmulas? Erro quando

vou aplicar as fórmulas da tabela. Também não consigo interpretar os problemas, os

exercícios no meu Ensino Médio eram sem interpretação (sic).

Os erros cometidos nas avaliações anteriormente relatados são recorrentes,

conforme constatamos no período de realização de exercícios. Os estudantes não concebem

função como uma relação entre duas grandezas que pode ser representada graficamente. Não

compreendem a relação de equivalência, erram na operacionalização, e apresentam

dificuldades na identificação das variáveis dependentes e independentes, na representação e

interpretação geométrica. Para Caraça (1951), o conceito de variável é essencial para a

compreensão do conceito de função. Esse é um instrumento propício para o estudo das leis

quantitativas da realidade. De acordo com o autor em referência, a definição de uma função

consiste em:

Sejam x e y duas variáveis representativas de conjuntos de números; diz-se que y é

função de x e escreve-sey = f(x) se entre as duas variáveis existe uma

correspondência unívoca no sentido x y. A x chama-se variável independente, a y

variável dependente.

Para indicar que y é função de x, usaremos também escrever simplesmente y(x); para

representar aquele valor b de y que corresponde a um valor particular a de x,

escreve-se b = f(a) ou b = y(a), conforme se usou a representação y = f(x) ou y(x)

(CARAÇA, 1951, p. 129).

74

No entanto, os estudantes não manifestam essa compreensão em relação ao

conceito base para o conteúdo da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I. E continuam

sem compreender, mesmo após a revisão proposta no início da disciplina, tal como se verifica

no exercício proposto pela professora para resolução em sala de aula, apresentado na

sequência (Ilustração 14). Ressaltamos que todos os exercícios propostos apresentam o

gabarito com as correspondentes resoluções. Esse exercício refere-se ao conteúdo do conceito

de função (domínio, imagem e valor numérico de uma função).

Ilustração 14 – Exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

A seguir, transcrevemos um diálogo entre E2 e a professora da disciplina durante o

período de realização dos exercícios:

E2: Nessa questão aqui tá pedindo a imagem da função, o que é a imagem?

Professora: O que define uma função pra onde ela existe é o domínio, então a partir

do domínio é que vai existir a imagem, o y. É o domínio que manda na função, então

neste exercício, o domínio começa no -1, e quando o x é -1, substituindo na função -

1 pro x, resolvendo pra y, que encontramos y=2.

E2: o resultado no caso?

Professora: é. O gráfico pra y inicia a partir do 2, logo a tua imagem. Agora você

tem que analisar o gráfico da função pra saber pra onde essa imagem vai, ela inicia

no 2, mas pra onde ela vai? Pode ir pro infinito, parar em algum ponto, você precisa

analisar isso agora. Você pode substituir um valor dentro do domínio pra ver se o

gráfico vai crescendo, se ele é infinito.

E2: Então a imagem é só substituir?

Professora: Não necessariamente, nessas mais simples dá pra fazer desta maneira,

pega-se o valor onde começa o domínio e analisa a imagem (Sic).

75

O diálogo apresentado possibilita a constatação de que E2 não tem conhecimento de

domínio e imagem de uma função e não se apropriou do conhecimento geométrico referente à

função, pois não é capaz de representar uma função em sua forma gráfica.

Após a conversa anteriormente relatada, E2 vai para seu lugar, sem entender muito

sobre o que é imagem, resolve o exercício conforme orientação da professora. Encontra para y

o valor de 2, mas não compreende por que vai para o infinito e nem por que o intervalo é

fechado em 2. Ao formular a resposta final, coloca o intervalo aberto no 2. Quando vê a

resposta do exercício, ele apaga rapidamente e coloca intervalo fechado, conforme resposta

que tem em mãos. A pesquisadora, que até o momento somente observava, intervém e inicia

um diálogo com o estudante.

Pesquisadora: Como chegou à resposta?

E2: A professora falou que era só substituir o domínio aqui na raiz, no lugar do x,

pois o domínio deu que o x tem que ser -1, pois -1+1=0 porque dentro da raiz tem

que ser zero ou maior que zero, não pode ser negativo.

Pesquisadora: Porque não pode ser negativo?

E2: Porque não existe raiz de um número negativo

Pesquisadora: Mas por que não existe?

E2: Sabe que eu não sei, só lembro que a professora sempre falava que não existia.

Pesquisadora: Voltando à imagem, tu partiu do domínio pra encontrar o que mesmo?

E2: Eu parti do domínio pra encontrar imagem eu acho, foi como a professora me

mandou fazer, onde começa o gráfico, sei lá... alguma coisa assim.

Pesquisadora: E por que 2 é infinito?

E2: Não entendi, só coloquei, pois está na resposta que a professora deu (Sic).

Percebemos que o estudante não compreendeu a ideia de função, seus limites de

domínio e imagem. Ou seja, fez sem compreender o que fez. Apenas seguiu as orientações

procedimentais da professora.

O que segue são reflexões apresentadas referentes ao exercício a seguir (Ilustração

15) desenvolvido em sala de aula. E3 não consegue compreender, assim como E2, domínio e

imagem de uma função.

76

Ilustração 15 - Exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

E3 faz alguns questionamentos à professora sobre domínio e imagem de uma

função:

E3: Não entendi esta questão, o que é mesmo a imagem, domínio?

Professora: A imagem é o y onde a função vai existir. A questão quer saber qual é o

x cujo y é o seu dobro. Em termos gerais é isso, então se o x é x o y vai ser o seu

dobro, quem é o dobro de x?

E3: Então eu tenho que achar primeiro o valor de x?

Professora: Se tu tem um número qual é o dobro dele?

E3: É o valor de y

Professora: Um número qualquer, se tu tens três qual é o dobro de três?

E3: Nove, ...seis

Professora: Seis, duas vezes três, quatro o dobro de quatro?

E3: Oito

Professora: Duas vezes quatro que é oito, então o dobro é duas vezes, então se tu

tens um número qualquer, x, qual é o dobro dele?

E3: Vai ser x², não?

Professora: Dobro! É ao quadrado, ou...?

E3: então, ele vezes ele!

Professora: O dobro é duas vezes ele, então?

E3: então, tá certo.

Professora: se tens um número que é x o dobro é 2x, se o domínio é um número x

que tu não conhece o y vai ser duas vezes ele, 2x, então tu vai substituir aqui por 2x

e tu vai resolver essa equação, e vai achar o x, e tu vai ter um número cuja imagem

vai ser o dobro dele.

E3: Então é só resolver que vai dar a imagem? Mas a imagem é o x?

Professora: sim, é só resolver e a imagem não é o x é o y (Sic).

O estudante não interpreta o problema e não sabe relacionar imagem com o

domínio nos planos aritmético, geométrico e algébrico, assim como ocorre com E2 e E3. Para

Caraça (1951, p. 135) a imagem de uma função é definida por meio da correspondência entre

x e y. Em uma função y(x), x corresponde aos valores de a e y corresponde aos valores de b.

Essa correlação possibilita a construção de um conjunto de pontos no plano. Portanto, a

imagem de uma função define-se como os pontos correspondentes aos valores de y(x).

77

Nos exercícios anteriores (Ilustração 11, 12, 13, 14 e 15) relacionados à função,

constatamos que os estudantes pesquisados, não somente E2, E3 e E5, mas todos os

pesquisados (E1, E2, E3, E4, E5, E6 e E7) não concebem função como variação entre grandezas,

conforme sugere Caraça (1951). Portanto, não representada geometricamente, inclusive para

mediar o processo de interpretação da situação dada e de abstração até atingir a lei da função

que possibilita a generalização para as diversas situações singulares.

Ao contrário, a generalização é realizada a partir das características comuns,

substanciais, dadas externamente. Nesse sentido, nos exercícios apresentados anteriormente

sobre função, as características que fundamentam a generalização consistem em que o

domínio da função são os valores de x e a imagem são os valores de y. Isso está exposto

somente na representação algébrica da função. Mas em momento algum se fala de

representação geométrica para essas funções, chegando, então, à generalização empiricamente

abstrata, pois trata-se de uma abstração vazia, sem a compreensão da relação entre as

grandezas que lhe deram origem e sem a mediação das significações geométricas até atingir a

modelação algébrica. Isso porque, para Caraça:

[...] o conceito de função permite estabelecer uma correspondência entre as leis

matemáticas e as leis geométricas, entre as expressões análiticas e os lugares

geométricos (conjuntos de todos os pontos que gozam de uma mesma propriedade).

Para estabelecer essa correspondência não há mais que, a cada expressão analítica,

fazer corresponder aquele lugar que define a mesma função que ela (CARAÇA,

1951, p. 139, grifos do autor).

Ao não se contemplar essa essência teórica, a relação geneticamente inicial que

possibilita a resolução de qualquer situação singular, cada nova situação é uma novidade e

impossível de ser resolvida. Isso ocorre porque o foco das reflexões não incide nas relações

internas que são comuns, mas nas características externas. Como resultado desse processo, as

significações algébricas surgem vazias de significado, conforme apresentamos na sequência.

78

4.1.3 Erros de Álgebra

Para Fiorentini, Miorim e Miguel (1993), a Álgebra divide-se em Álgebra

Clássica ou Elementar e Álgebra Moderna ou Abstrata. A Álgebra Clássica ou Elementar é

considerada como uma Aritmética universal ou generalizada, já a Álgebra Moderna ou

Abstrata a compreende como um “sistema cujos símbolos e regras operatórias sobre eles são

de natureza essencialmente arbitrária” (FIORENTINI, MIORIM, MIGUEL, 1993).

Para Usiskin (1995, p. 13), a concepção de álgebra generalizada “trata-se de

técnicas importantes, não só para a álgebra, mas também para a aritmética”. De acordo

Panossian a

concepção de ensino de álgebra como aritmética generalizada é muito presente em

propostas curriculares e nas ações dos professores. Essa generalização é realizada

sobre as propriedades numéricas. É verdade que, com o uso dos símbolos, é possível

generalizar a aritmética, mas há uma diferença entre identificar a álgebra como

aritmética generalizada e entender que a álgebra pode generalizar a aritmética

(PANOSSIAN, 2014, p. 55).

Segundo Fiorentini, Miorim e Miguel (1993), na evolução histórica da álgebra

destacam-se as seguintes etapas de desenvolvimento da linguagem algébrica: retórica ou

verbal, sincopada e simbólica. A etapa conhecida como retórica ou verbal teve início com os

povos egípcios, babilônios e os gregos pré-diofantinos. Ficou conhecida por esse nome

porque os passos relativos aos esquemas operatórios dos números e equações eram escritos na

linguagem corrente. Já a sincopada e simbólica teve início no século III com o grego Diofanto

de Alexandria, que inseriu um símbolo para a incógnita. E, mais adiante no século XII, o povo

hindu, especialmente Brahmagupta, também teria utilizado. O matemático francês Viète

(1540-1603) teria sido o principal responsável pelo desenvolvimento de ideias algébricas que

passaram a ser expressas somente por símbolos. Na obra “La Géométrie” de Descartes (1596-

1650) o autor teria utilizado as últimas letras do alfabeto (x, y, z,...) para representar as

incógnitas e variáveis, e para as quantidades fixas utilizou das primeiras letras do alfabeto (a,

b, c, d,...) (FIORENTINI et al, 1993a, pp. 79-80).

79

Assim, a definição de variável está diretamente associada à álgebra, que por sua

vez, relaciona-se com a noção de função, pois, de acordo com Eves (2004, p. 661), Lejeune

Dirichlet define:

Uma variável é um símbolo que representa um qualquer dos elementos de um

conjuntos de números; se duas variáveis x e y estão relacionadas de maneira que,

sempre que se atribui um valor a x , corresponde automaticamente, por uma lei

ou regra, um valor a y , então se diz que y é uma função (unívoca) de x .

Segundo Eves (2004), foi Leibniz quem atribuiu pela primeira vez a palavra

função, em 1694, para explicitar uma quantidade qualquer associada a uma curva. Para Boyer

(1974, p. 297) “Leibniz não é responsável pela moderna notação para função, mas é a ele que

se deve a palavra “função”, praticamente no mesmo sentido em que é usada hoje, pois se

referia a quantidades que dependem de uma variável”.

Já em 1718, Johann Bernoulli, relacionou a palavra função a uma expressão

qualquer formada por variáveis e constantes. Mais tarde, foi Euler quem “considerou uma

função como sendo uma equação ou fórmula qualquer envolvendo variáveis e constantes”

(EVES, 2004, p. 660).

Boyer (1974) traz a seguinte definição de função escrita por Euler: “Se x é uma

quantidade variável, então, toda a quantidade que depende de x de qualquer maneira,

ou que seja determinada por aquela, chama – se função da dita variável” (BOYER, 1974, p.

326).

O desenvolvimento histórico do conceito de função, segundo Moura e Moretti

(2003):

[...] foi marcado por alguns estágios facilmente identificados através das estratégias

utilizadas, em diferentes épocas, para a resolução de problemas envolvendo

variações de quantidades. Segundo Youschkevitch (1976, p. 39) são três os

principais estágios. Na Antigüidade há o estudo de casos particulares de

dependência entre duas variáveis não havendo, contudo, a noção geral de quantidade

variável e funções. Já na Idade Média estas noções gerais são expressas pela

primeira vez sob uma forma geométrica e mecânica, mas na qual cada caso concreto

de dependência entre duas quantidades é definido por uma descrição verbal ou por

um gráfico. É só no Período Moderno, final do século XVI e especialmente durante

o século XVII, que expressões analíticas e funções começam a prevalecer. Estes

estágios refletem, na realidade, o caminho percorrido pelo homem através da história

rumo à generalização e à formalização do conceito de funções. O processo de

abstração demonstra uma real e profunda compreensão do conceito ao mesmo tempo

em que é fator de construção desta compreensão (MOURA, MORETTI, 2003, p.

69).

80

Para Caraça (1951), entender o conceito de função nos permite instituir relações

entre a geometria e a álgebra, chamadas também de expressão analítica e lugar geométrico,

que segundo o autor é um passo fundamental para a unificação dessas duas áreas.

Conforme os PCN, o estudo da álgebra contempla também o uso das regras para

resolução à suas diversas funções, no que se relaciona a generalização de padrões, no trabalho

com resolução de problemas, relações entre grandezas e outros. Referente aos 6º e 7º anos, os

PCN afirmam que é necessário nesse ciclo:

[...] que os alunos compreendam a noção de variável e reconheçam a expressão

algébrica como uma forma de traduzir a relação existente entre a variação de duas

grandezas. É provável que ao explorar situações-problema que envolvam variação

de grandezas o aluno depare com equações, o que possibilita interpretar a letra como

incógnita. Nesse caso, o que se recomenda é que os alunos sejam estimulados a

construir procedimentos diversos para resolvê-las, deixando as técnicas

convencionais para um estudo mais detalhado no quarto ciclo (BRASIL, 1998, p.

68).

Com relação ao ensino de resolução das equações, inequações e sistemas de equações,

os PCN sugerem que aconteça no decorrer do 8º e 9º anos. Ainda dizem que apesar de ser

possível desenvolver aspectos algébricos nos anos iniciais, será nos anos finais do ensino

fundamental que o estudo da álgebra será ampliado.

Pela exploração de situações-problema, o aluno reconhecerá diferentes funções da

Álgebra (generalizar padrões aritméticos, estabelecer relação entre grandezas,

modelizar, resolver problemas aritmeticamente difíceis), representará problemas por

meio de equações e inequações (diferenciando parâmetros, variáveis, incógnitas,

tomando contato com fórmulas), compreenderá a sintaxe (regras para resolução) de

uma equação.

Esse encaminhamento dado à Álgebra, a partir da generalização de padrões, bem

como o estudo da variação de grandezas possibilita a exploração de noção de função

[...]. Entretanto, a abordagem formal desse conceito deverá ser objeto de estudo do

ensino médio (BRASIL, 1998, p. 50-51).

Em síntese, de acordo com os PCN, a álgebra deve então ser inserida no 6º ano e

aprofundada no 8º e 9º ano e ainda dar continuidade no Ensino Médio. Tal orientação ocorre

porque a

tendência da Educação Algébrica tem sido acreditar que o pensamento algébrico só

se manifesta e desenvolve através da manipulação sintática da linguagem concisa e

específica da Álgebra. Entretanto, essa relação de subordinação do pensamento

81

algébrico à linguagem desconsidera o fato de que, tanto no plano histórico quanto no

pedagógico, a linguagem é, pelo menos a princípio, a expressão de um pensamento.

Acreditamos subsistir entre pensamento algébrico e linguagem não uma relação de

subordinação, mas uma relação de natureza dialética (FIORENTINI et al, 1993, p.

85).

Durante a coleta de dados, buscamos indícios de expressão de um pensamento

algébrico. No entanto, a análise indica que a ênfase incide na manipulação de símbolos sem a

compreensão do que estes significam. Na sequência, apresentamos um exercício proposto pela

professora em sala (Ilustração 16) e, na sequência, expomos a resolução apresentada por E1

(Ilustração 17):

Ilustração 16 - Exercício função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

Ilustração 17 – Resolução apresentada por E1 referente ao exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

82

E1 resolve conforme a regra: “[...] o que está dividindo passa multiplicando”

(Sic). Portanto o x que estava dividindo o 1.000 passou multiplicando o x que estava

somando. Trata-se de um procedimento com símbolos algébricos, mas sem a compreensão do

que estes representam. O movimento operatório correto seria: ou .

E1 relata que seus erros consistem em “[...] erros de funções, erros de sinal, coisas bem

básicas mesmo, o maior problema é as regrinhas para resolução de função” (Sic). Os erros de

E1 nos levam ao estudo da álgebra. Essas “regras” relatadas pelo estudante nada mais são do

que os procedimentos operatórios realizados para a resolução de uma função. O que o

estudante apresenta é a generalização da álgebra abstrata, mas vazia do significado sobre as

relações que lhe deram origem, sem a compreensão do porquê desses processos operatórios.

Conforme já constatou Panossian (2014), a álgebra como aritmética generalizada é muito

comum e utilizada sem iniciar pelo conceito em si, mas direto pela generalização abstrata. O

que pode gerar falta de compreensão por parte dos estudantes de tantas “regras” na

Matemática.

Desse modo, como afirmam Lins e Gimenez (1997), de nada adianta prorrogar a

introdução da álgebra na educação escolar. Ao contrário, é necessário sim, iniciar mais cedo o

seu ensino, para que se desenvolva juntamente com a aritmética e a geometria, para que uma

implique no desenvolvimento da outra (DAVÝDOV, 1982).

Conforme mencionamos anteriormente, para os PCN, a álgebra deve ser

introduzida somente no 6º ano, sendo aprofundada, de fato, somente no final do Ensino

Fundamental, ou seja, prorroga-se o estudo da álgebra para os anos finais desse período

escolar. Enquanto que, para Davýdov (1982) esse estudo deve iniciar desde o primeiro ano

escolar juntamente com a relação entre grandezas, introduzindo, assim, a unificação das três

áreas da Matemática.

O que observamos em nossa pesquisa com os estudantes é claramente o oposto do

que propõe Davýdov, no que se refere ao ensino dos conceitos científicos. Apresentamos mais

um erro de álgebra semelhante ao de E1 no exercício (Ilustração 18), que foi proposto pela

professora em sala de aula, seguido da resolução apresentada por E6 (Ilustração 19).

83

Ilustração 18 – Exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

Ilustração 19 – Resolução E6 exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

E6 inicia o exercício questionando a professora:

E6: Tem uma fórmula, tem outra e agora? Já não entendi mais nada! Essa questão é

de primeiro grau ou de segundo grau? Diz aqui que o 5 corta o eixo y, então o 5 é o

b? Você disse que era o b.

Professora: Não, o 5 é o c, porque agora a função é de 2º grau, então o número que

fica sozinho onde corta o y, na do 1º grau é o b e na do 2º grau é o c. Então o c vai

ser o 5.

84

Em uma das entrevistas que realizamos com os estudantes, E6 revela que suas

dificuldades são “referentes ao conteúdo de função”. Diz que não consegue identificar “se é

de segundo grau ou primeiro grau, se é Báskara ou não” (sic). O diálogo entre professor e

estudante, apresentado anteriormente, confirma sua fala referente a tais dificuldades. Fica

evidente que o estudante apenas memorizou as fórmulas sem atribuir significado aos seus

elementos e a relação entre eles.

O estudante comete dois erros (Ilustração 19), um na multiplicação de sinais e

outro ao determinar o valor final da incógnita. Ele faz , onde encontra . Após

verificar, na lista de resolução, que não encontrou a resposta correta, resolve analisar a sua,

mas não detecta o erro. Após algum tempo de silêncio apaga, sem encontrar o erro e resolve

novamente, mas chega ao mesmo resultado. Explica para a pesquisadora que fez 4/2 “[...]

porque está multiplicando e então passa dividindo, não é?” (Sic).

Esse tipo de compreensão também foi detectada na pesquisa de Freitas (2002, p.

98), quando o estudante afirma “aqui está multiplicando e passa dividindo e está menos passa

mais”. E6 relata que comete muitos erros “com as regras de sinais e em como montar e

resolver uma função” (sic), tal como ocorreu na ilustração 19.

Moura e Sousa (2004) falam que é indispensável que se estude a álgebra no seu

sentido lógico-histórico e não apenas seu estágio atual de desenvolvimento. A importância de

se fundamentar o uso de conceitos vinculados ao seu processo generalizador e formativo

incontestável. Pois, a história dos conceitos possui um caráter conceitual entre a “causalidade

dos fatos e a formalização dos conceitos científicos” (MOURA; SOUSA, 2004, p. 11). Mas

aspecto lógico-histórico não é evidenciado nas respostas analisadas na presente investigação.

Todos os estudantes investigados cometem erros semelhantes: a álgebra não passa de

manipulações simbólicas sem sentido, desvinculadas do processo de generalização e formação

dos conceitos teóricos, tal como ocorre com E1 (Ilustração 20):

85

Ilustração 20 – Resolução E1 exercício de função

Fonte: Acervo da autora, 2014.

E1 consegue relacionar os dados com função, ou seja, faz a relação entre as duas

variáveis, esboça o gráfico, mas depois comete um erro algébrico ao resolver as equações do

1º grau. Questionado sobre o erro, o estudante responde: “[...] como manda a regra, tudo que

tá multiplicando passa dividindo” (Sic). É isso que E1 faz, mas esquece de um termo que

estava somando. Afirma que tem dificuldades em resolver equações, o que confirma em sua

resolução. Um dos procedimentos corretos consiste em primeiro dividir o 200 por 100, assim,

, dá propriedade distributiva, temos: para, finalmente,

por meio da propriedade de equivalência, concluir que Após determinar o valor de b,

faz-se necessário determinar o outro valor desconhecido: , portanto,

. E1 afirma que suas “[...] principais dificuldades são erros básicos,

relacionados à Matemática básica, conteúdo de Ensino Médio” (Sic).

As resoluções apresentadas anteriormente refletem o tipo de conceito

desenvolvido pelos estudantes. Tratam-se de conceitos empíricos, constituídos por “[...]

essências fixas, coaguladas. E cada ‘essência’ aparece ao exame como uma coleção de

86

qualidades justapostas, exteriores, numa ordem de generalidade crescente” (LEFEBVRE,

1983, pp. 142-143, grifo do autor). Conforme expressam as falas de E1 “regrinha [...] o que

está dividindo passa multiplicando”, “como manda a regra, tudo que tá multiplicando passa

dividindo” e E6 “Porque está multiplicando e então passa dividindo [...]”. Mas por que passa

dividindo? Qual a relação interna, qual a essência, que possibilita essa síntese? Essa e outras

respostas, os estudantes não sabem responder. Os estudantes não conseguem explicar os

porquês não só algebricamente, mas também geometricamente e aritmeticamente. Não

concebem essas três significações como constituintes dos conceitos matemáticos em unidade.

Para eles, são áreas distintas da Matemática.

Panossian (2008) se utiliza de um exemplo em que estudantes precisavam

encontrar uma fórmula geral para a resolução de uma situação proposta pela pesquisadora. A

partir de casos particulares, com orientação da pesquisadora, os estudantes resolveram o

problema, expressaram uma forma geral. No entanto, essa forma só se fazia geral para uma

situação particular e não para qualquer situação. Isso porque, a generalização se deu por meio

de um caso em particular, denominada por Davýdov de empírica, característica do ensino

tradicional no qual o conhecimento não chega à dimensão universal dos conceitos em nível de

concreto pensado. Ao atingir o concreto pensado, o ser revela o universal aplicável a qualquer

situação particular. Porém, tanto no exemplo apresentado por Panossian (2008) como os

estudantes que participaram da presente investigação, não contemplam a dimensão universal

dos conceitos. Portanto, trata-se, de acordo com Davýdov (1982), de manifestação apenas do

pensamento empírico.

Isso se dá, de acordo com Davýdov (1982), porque o ensino tradicional é

organizado conforme a faixa etária do estudante. Em cada fase do ensino, são apresentados

aos estudantes “aquilo que são capazes de assimilar na idade dada. Porém, quem e quando se

pode definir com precisão a medida desta ‘capacidade’? [...] a medida dessa capacidade se

formou espontaneamente na prática real do ensino tradicional” (DAVÍDOV, 1987, p. 146).

Desse modo, subestima-se a capacidade da criança, entende-se, por exemplo, que a álgebra é

inacessível para elas nos primeiros anos de escolarização e só para os adolescentes, para tanto,

deve ser ensinada nos últimos anos do Ensino Fundamental. Mas Davýdov parte do

pressuposto vigotskiano de que aprendizagem gera desenvolvimento e que, portanto, a álgebra

deve ser incluída desde os primeiros anos de escolarização. De acordo com Vigotski (2007), a

87

álgebra contribui para a compreensão da aritmética com maior clareza. E Davídov (1987)

argumenta que a aprendizagem nos limites da aritmética restringe a compreensão da álgebra.

Ilienkov (2006, p. 53) reforça tais assertivas ao afirmar que o “pensamento lógico

inicia seu desenvolvimento a partir dos 6 anos”. O ideal para uma criança, em idade escolar, é

receber “informação e socialização adequada, depois é mais difícil adquiri-la, apesar da

capacidade e plasticidade do cérebro.” (ILIENKOV, 2006, p. 53)

Em relação aos conhecimentos matemáticos correspondentes ao currículo da

Educação Básica, conforme as falas de E1, E2, e E4, respectivamente: “Minhas principais

dificuldades são erros básicos, relacionados à Matemática básica, [...] coisas bem básicas

mesmo [...]” (sic); “[...] essas coisas que parecem ser mais simples. Que para mim, são muito

complicadas não entra na minha cabeça, não entendo, [...]” (sic); “[...] regras de Matemática

básica, interpretação, fração e sinal [...]”.

Entendemos que, tais fragilidades decorrem dos conteúdos e métodos adotados no

ensino denominado por Davýdov de tradicional. Este possibilita o desenvolvimento do

pensamento empírico, suficiente para resolver situações corriqueiras do dia a dia das pessoas,

mas que não dá conta da atuação no plano teórico, tal como requerem os cursos de engenharia

em foco. E4 explicita as limitações do Ensino tradicional quando diz: “Do Ensino Médio pra

Faculdade, foi um salto muito grande, comparando os conteúdos passados lá e o conteúdo

cobrado aqui” (sic). Nessa direção, E3 lamenta: “[...] hoje vejo que faltou muito” (sic).

O propósito do ensino tradicional incide em inculcar nos estudantes

conhecimentos empíricos. O processo de abstração, generalização e formação do conceito

fundamenta-se na lógica formal tradicional (DAVÝDOV, 1982). Em outras palavras, o

pensamento empírico é desenvolvido nos estudantes a partir dos fundamentos da lógica

formal que fundamenta o ensino tradicional.

Segundo Davídov (1987), a origem da escola tradicional está relacionada aos

modos de produção capitalista, em que para servir ao capital não precisa ir além da empiria.

Para servir esse sistema, o referido autor afirma que a educação precisaria somente incutir

conhecimentos e habilidades das quais garantam a formação mais ou menos qualificada de

mão de obra para a produção industrial.

O ponto de partida para a formação do conceito, na lógica formal tradicional, são

as características externamente dadas nos objetos ou ilustrações que representam, diretamente

aos órgãos dos sentidos, o conteúdo do conceito em estudo. A partir da análise das

88

características externamente dadas, separa-se àquelas que são comuns a várias situações

observadas. Nessa perspectiva, não se adentra nas relações internas que explicam e

determinam a origem da aparência externa (DAVÝDOV, 1982).

Como resultado do processo, forma-se, no plano ideal, uma imagem, uma

representação geral e abstrata do diretamente observável. Nesse movimento entre o plano

externo e o plano interno não há um elemento mediador cujo conteúdo seja a relação essencial

do conceito. Ao contrário, é o sensorial diretamente refletido no plano mental, trata-se de uma

“imagem sensorial-concreta sob forma empírica” (KOPNIN, 1978, p. 158).

Trata-se de uma representação válida para serem aplicadas em situações

específicas, semelhantes àquelas que visualmente lhes deram origem. Qualquer traço distinto,

em uma nova situação, mesmo que no interior de um mesmo conceito, é considerada como

algo novo.

Ou seja, por mais que o ensino tradicional desenvolva generalizações e abstrações

consideradas como gerais, na verdade são particulares. Não se contempla a relação essencial

que possibilita a orientação no desenvolvimento nas várias situações que aparentemente são

distintas, mas que internamente, tem a mesma relação de origem, a mesma fórmula. E7

afirmou que só tinha dificuldade em identificar a fórmula a ser adotada para a resolução dos

exercícios e sugere: “[...]se tivesse a fórmula pra cada exercício não errava nada[...] o

problema maior é que tem muita fórmula”.O depoimento de E5, assim como de outros

estudantes, também vai nessa direção: (E5): “[...] não sei quando é pra aplicar Báskara ou não”

(Sic).

As fórmulas representam uma relação. De acordo com Davýdov (1982), a

compreensão dessa relação, a partir do estudo das grandezas, sejam elas discretas, contínuas

ou escalares e sua posterior modelação nas formas objetal, gráfica e literal constituem o

conteúdo do pensamento teórico-matemático formado a partir da interconexão entre as

significações aritméticas, algébricas e geométricas. No entanto, conforme explicitam os

depoimentos, não há compreensão dessa relação, por isso, a impossibilidade da interpretação

do problema e de identificação da fórmula a ser adotada.

Na entrevista com os estudantes que colaboraram com a presente pesquisa,

constatamos que estes iniciaram o 1º ano escolar somente com aritmética (números naturais),

e apenas no sétimo ano tiveram contato com a álgebra. Quanto à geometria, foram raros os

89

momentos dedicados ao seu estudo. Daí a origem da unidade de análise da presente

investigação: a tricotomia da aritmética, geometria e álgebra.

Durante o processo de realização da presente pesquisa, exploramos alguns

trabalhos já realizados por pesquisadores os quais foram mostradas no capítulo anterior.

Quanto à pesquisa de Khidir (2006) e Panossian (2008), as dificuldades encontradas nos

estudantes foram principalmente em como lidar com os conceitos algébricos, pois para os

pesquisadores, seus estudantes investigados não se apropriaram da essência do conceito, mas,

apenas, de procedimentos de resolução. As outras pesquisas Cury (1988), Zanardi e Lima

(2008), Albano Filho (2012) e Garzella (2013) constataram que as dificuldades dos

estudantes, em grande parte, são procedentes de conteúdos do Ensino Médio e Ensino

Fundamental. Constatamos que de acordo com os dados apresentados na presente pesquisa,

também encontramos dificuldades semelhantes a essas trazidas por esses pesquisadores.

Enfim, os estudantes de nossa pesquisa não desenvolveram o pensamento teórico

dos conceitos, não atingiram a relação universal, por isso, não desenvolvem as situações

particulares solicitadas pela professora nos exercícios e avaliações. Podemos levantar a

hipótese de que esses estudantes talvez conseguissem resolver os problemas propostos e

chegassem às respostas corretas se tivessem realmente apreendido, mesmo a partir dos

fundamentos da lógica formal. Ou seja, mesmo que tivessem memorizado, por meio da

repetição mecânica, quem sabe iriam conseguir desenvolver os procedimentos de cálculo

corretamente. Talvez sim, mas isso não é o que desejamos, pois quando um determinado

conteúdo é desenvolvido por meio dos fundamentos da lógica formal, desenvolve-se apenas o

pensamento empírico (DAVÝDOV, 1982). Os conceitos concernentes a esse pensamento

podem ser facilmente esquecidos, quando, ficam algum tempo fora da escola e sem utilizá-lo.

Isso porque não houve apropriação do procedimento de reprodução dele, mas apenas a

memorização do seu resultado, do ponto de vista do desenvolvimento histórico. Além disso,

ignora-se o sistema conceitual no qual os conceitos estão inseridos, assim, a aprendizagem de

conceitos mais complexos leva ao esquecimento de conceitos mais básicos e não a sua

ampliação e complexificação. Então, ficam no esquecimento. Partimos do pressuposto teórico

davydoviano de que se esses estudantes tivessem atingido o concreto pensado, chegado a

relação universal do conceito, teriam aprendido sua verdadeira essência. E, quando se

reproduz a essência de um conceito, ela não é esquecida, pois todos os conceitos estão

interligados, num movimento que não é linear.

90

Ao comparar os resultados obtidos na presente investigação, detectamos algumas

semelhanças àqueles detectados por Davýdov em seu país (Rússia), quanto ao predomínio do

pensamento empírico. A fim de superar tal limitação, o autor em referência elaborou,

juntamente com alguns colaboradores, uma proposição de ensino com vistas ao

desenvolvimento do pensamento teórico. Acreditamos que esta pode contribuir para

repensarmos o modo de organização de ensino predominantemente adotado no Brasil.

Para Davýdov (1982), a educação escolar tem como finalidade principal

desenvolver integralmente o ser humano em seus aspectos, social, político, cultural, ético.

Nessa perspectiva, Rubinstein (1979, p. 75) preconiza que a educação escolar “consiste,

sobretudo, em conseguir que o aluno opere facilmente com generalizações já dadas ou

firmemente assimiladas”. Para tanto, a aprendizagem “constitui uma atividade mental de

análise, síntese, abstração e generalização” (RUBINSTEIN, 1979, p. 47).

Neste sentido, a educação escolar não pode se restringir à mera transmissão de

conteúdos, mas proporcionar ao estudante a aprendizagem do conhecimento científico, e

desenvolvimento da ação investigativa para que os próprios estudantes busquem caminhos

autônomos de orientação no processo de aprendizagem.

A análise dos erros apresentados pelos estudantes na presente investigação nos

leva a pensar que são decorrentes da simples junção da aritmética, álgebra e geometria em

uma única disciplina, sem a interconexão teórica entre elas, com evidência nas significações

aritméticas.

Davýdov (1982), ao analisar a organização do ensino em seu país, também

detectou semelhante tricotomia e sugeriu que ela fosse superada. Para tanto, propõe que,

desde o primeiro ano escolar as significações aritméticas, algébricas e geométricas sejam

contempladas em inter-relação (ROSA, 2012), uma vez que tal fragmentação obstaculiza o

desenvolvimento do pensamento matemático em nível teórico.

Desse modo, Davýdov propõe que o ponto de partida para o ensino dos conceitos

matemáticos seja a relação entre grandezas discretas e contínuas. Tais relações são modeladas

objetalmente, geometricamente e algebricamente. Esses modelos, gerados a partir da

dimensão geral (relação entre grandezas), são aplicados em situações singulares, nas quais

entram em cena as significações aritméticas, contemplando assim, a interconexão entre

aritmética, geometria e álgebra.

91

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As angústias iniciais acerca do elevado índice de reprovação de estudantes do

ensino superior foi o que nos impulsionou a esta investigação. Nossa hipótese era de que os

erros apresentados pelos estudantes, na disciplina de Cálculo Diferencial Integral I, revelaram

a tricotomia entre aritmética, álgebra e geometria. Nesse sentido, o problema que desencadeou

a investigação foi: Qual a natureza dos erros apresentados pelos estudantes na disciplina de

Cálculo Diferencial e Integral I?

Na busca pela resposta ao problema de pesquisa, a fim de confirmar ou refutar a

hipótese investigativa, realizamos, primeiramente, os estudos dos fundamentos da Teoria

Histórico-Cultural e sua objetivação em uma proposição de ensino de Matemática, a partir da

obra de Davýdov. Para, em um segundo momento, adentrarmos à sala de aula e iniciarmos a

coleta de dados, prosseguindo assim com a pesquisa. Depois de coletados os dados, estes

foram organizados e analisados.

No momento de análise dos dados, revelamos a unidade de análise: a

tricotomização entre as significações aritméticas, algébricas e geométricas. Os dados foram,

então, expostos conforme unidade mencionada.

Assim, identificamos que os erros apresentados pelos estudantes da disciplina de

Cálculo Diferencial e Integral I estão relacionados à tricotomia entre aritmética, geometria e

álgebra. E procedemos à crítica a partir dos fundamentos da Teoria Histórico-Cultural e da

proposição davydoviana, apontando, assim, algumas possibilidades de superação.

Os resultados da análise nos possibilitaram apontar algumas inferências mais

gerais sobre os achados da pesquisa. Assim, mesmo que muitas pesquisas já tenham sido

realizadas na temática dos erros, como algumas apresentadas no decorrer da presente

dissertação, nenhuma delas apontou a tricotomia aritmética, geometria e álgebra. Além disso,

depois de estar comprovando a ineficiência de um ensino que promove apenas cálculos

mecânicos e descontextualizados teoricamente da essência conceitual, este tipo de ensino

ainda é o que mais está presente na sala de aula, caso contrário, os resultados seriam outros.

Portanto, a Matemática ensinada hoje nas escolas está desenvolvendo apenas o pensamento

92

empírico, sem revelar a verdadeira essência dos conceitos, ou seja, sem o desenvolvimento do

pensamento teórico.

Desse modo, os estudantes erram quando operam com números naturais, inteiros,

racionais na forma fracionária e decimal, erram também na resolução das equações, funções e

não a compreendem no plano geométrico.

O que constatamos nos depoimentos dos estudantes é que eles aprenderam

matemática por meio de uma sequência de passos, com ênfase nas memorizações sem

sustentação das significações teóricas, o que justifica o fato de os estudantes considerarem a

Matemática difícil e abstrata, no sentido de vazia de relações internas que a sustenta.

Ao analisar os erros caracterizados como de aritmética, detectamos uma falta de

compreensão dos estudantes sobre o sistema de numeração. Eles desconhecem a lógica

interna desse sistema inclusive nos limites dos naturais. Embora boa parte da vida estudantil o

foco tenha sido somente no conjunto dos números naturais e sua operacionalização, como se

fosse o principal conjunto numérico existente, quando na verdade é o mais limitado deles.

Quanto à geometria, os estudantes não sustentam relação algébrica na significação

geométrica, passível, inclusive, de visualização e modelação. Também não relacionam a

representação gráfica a fim de auxiliar ou subsidiar o entendimento de uma função e da

variação das relações entre grandezas.

No que diz respeito à álgebra, constatamos que esta é concebida pelos estudantes

como procedimentos abstratos com as letras e símbolos, sem significação teórica que os

sustentem. Em vários momentos, os estudantes não compreendem o que fizeram e por que

fizeram. Muitas vezes fazem o que memorizaram, mas sem saber a verdadeira relação que

justifica a realização de tais procedimentos. Ou seja, sem sua compreensão interna.

Durante a análise, constatamos que a união, realizada historicamente, da

aritmética, geometria e álgebra em uma única disciplina do currículo escolar ainda não foi

realmente efetivada no processo de ensino e aprendizagem. De acordo com Rosa (2012), nos

primeiros anos da educação Matemática escolar brasileira, o foco incide no ensino da

aritmética. Embora haja esse predomínio, os dados trazem evidências de que há limitações

inclusive com a aritmética. Isso ocorre, de acordo com os princípios da Teoria Histórico-

Cultural, uma vez que a Matemática só é desenvolvida em sua plenitude na conexão entre as

significações algébricas, aritméticas e geométricas dos conceitos (ROSA, 2006 e 2012). Por

outro lado, o que ocorre nas escolas são períodos exclusivos para o ensino da aritmética, outro

93

para a geometria e outro para álgebra, enfatizando a aritmética nos cinco primeiros anos

(ROSA, 2012).

Portanto, não é por acaso que a ênfase da aritmética em um sistema de ensino de

uma sociedade organizada a partir do modo de produção capitalista, pois é um conhecimento

que deve ser dominado pelas massas para servir o capital.

Vale considerar também que alguns estudantes são trabalhadores, que não se

dedicam exclusivamente aos estudos. Há aqueles que por algum motivo ficaram muito tempo

fora da escola, e que tudo isso pode sim, também, interferir no processo de aprendizagem e

acentuar ainda mais os índices de reprovações. Mas, porém, é inegável, a ausência de

significações teóricas, restringindo-se a memorizações vazias, empiricamente dadas.

Faz-se necessário superar os limites do pensamento empírico na educação escolar.

Almejamos que a presente pesquisa contribua no sentido de que se desenvolvam propostas de

ensino que contemplem a interconexão da aritmética, geometria e álgebra. Tal necessidade faz

da conclusão da presente dissertação não um momento final, mas sim um novo começo na

caminhada rumo à superação das angústias iniciais acerca do elevado índice de reprovação de

estudantes do ensino superior.

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