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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS RAFAELA MAIA ALMENDRA MATTOS ADESÃO AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO E COMPLICAÇÕES ORAIS RELACIONADAS AO TRATAMENTO ANTINEOPLÁSICO EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM TUMORES SÓLIDOS E LINFOMAS CAMPINAS-SP 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

RAFAELA MAIA ALMENDRA MATTOS

ADESÃO AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO E COMPLICAÇÕES ORAIS

RELACIONADAS AO TRATAMENTO ANTINEOPLÁSICO EM PACIENTES

PEDIÁTRICOS COM TUMORES SÓLIDOS E LINFOMAS

CAMPINAS-SP

2017

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RAFAELA MAIA ALMENDRA MATTOS

ADESÃO AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO E COMPLICAÇÕES ORAIS

RELACIONADAS AO TRATAMENTO ANTINEOPLÁSICO EM PACIENTES

PEDIÁTRICOS COM TUMORES SÓLIDOS E LINFOMAS

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos

para a obtenção do título de Mestra em Ciências na área de

concentração em Saúde da Criança e do Adolescente.

ORIENTADORA: PROFª DRA SIMONE DOS SANTOS AGUIAR

COORIENTADORA: DRA REGINA MARIA HOLANDA DE MENDONÇA

CAMPINAS

2017

Este exemplar corresponde à versão final da

dissertação defendida pela aluna Rafaela Maia

Almendra Mattos e orientada pela Professora

Doutora Simone dos Santos Aguiar.

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BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

RAFAELA MAIA ALMENDRA MATTOS

Orientador (a) PROF(A). DR(A). SIMONE DOS SANTOS AGUIAR

Coorientador (a) PROF(A). DR(A). REGINA MARIA HOLANDA DE MENDONÇA

MEMBROS:

1. PROF(A). DR(A). SIMONE DOS SANTOS AGUIAR

2. PROF(A). DR(A). MARIA JOSÉ MASTELLARO

3. PROF(A). DR(A). CÉLIA BEATRIZ GIANOTTI ANTONELI

Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de

Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora

encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

DATA DA DEFESA: 18/12/2017

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha querida avó Celerina Maia Cardoso (In Memoriam). Sou

eternamente grata por ter tido a oportunidade de tê-la como meu porto seguro ao longo dos

meus 30 anos. Uma mulher forte, solidária, que sempre se doou muito à todos. Agradeço

imensamente pela nossa linda despedida, quando serenamente nos ouvia cantar determinada

música que tanto gostava... nossa ligação espiritual continua presente em meu dia-a-dia...

muito obrigado por sempre cuidar de mim com tanta proteção. Amo você demais, para

sempre.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, por me proporcionar saúde e força para enfrentar os desafios.

À minha querida mãe, pelo apoio incondicional e amor em toda a minha vida. Eu nada seria

sem o seu incentivo e conselhos para vencer.

À meu marido Luiz Gustavo, que tenho imenso orgulho da sua trajetória. Obrigada por toda

dedicação, amor, atenção, incentivo e paciência para a concretização dessa etapa profissional.

À toda família Maia pela base de toda minha vida. Pelo reforço positivo de sempre em relação

à construção do meu saber.

Às amigas do colégio em Salvador: Taís, Ananda, Mikele, Renata e Rafaela Bonfim, que

apesar da distância física, sempre estivemos unidas em uma amizada sincera.

Às amigas da faculdade pela amizade de sempre e incentivo ao crescimento profissional de

cada uma.

Aos amigos da residência do HUPES/UFBA pelas trocas de conhecimentos, dúvidas, artigos,

discussões de casos que ainda persistem até hoje.

À minha orientadora Profª Dra Simone dos Santos Aguiar que se dispôs a me orientar ao

longo dessa jornada acadêmica, contribuindo para a construção do meu conhecimento e

agregando valor à minha profissão.

À minha coorientadora, Dra Regina Maria Holanda de Mendonça, que contribuiu

enormemente para a construção desse trabalho, sempre me fornecendo as ferramentas

necessárias e disposta a contribuir com seu conhecimento.

Às dentistas Kátia Cappellaro e Elisa Rueda pela gentil recepção desde o início do estágio no

Boldrini.

À Dra Karina Ribeiro pelas contribuições quanto às análises Estatísticas deste trabalho.

Ao coordenador da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Dr. José Dirceu Ribeiro por

assumir a sua gestão tão responsavelmente e estar disponível à ouvir os alunos.

Aos professores Doutores da Faculdade de Ciências Médicas que tive a oportunidade de

conhecer e acrescentar mais conhecimentos à minha vida acadêmica. Ao Dr. Antônio de

Azevedo Barros Filho pela aulas de Metodologia e Crescimento e Desenvolvimento, ao Dr.

Sérgio Marba por suas aulas muito didáticas na disciplina de Pedagogia Médica. E ao Dr.

André Morcillo, que nos fez se esforçar ao máximo para compreender as análises estatísticas.

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Aos professores Doutores da banca de qualificação (Prof. Dr. Márcio Ajudarte Lopes e Prof.

Dr. Ricardo Mendes Pereira) pelas sugestões e contribuições.

Às Doutoras da banca da defesa (Dra. Maria José Mastellaro e Dra. Célia Beatriz Gianotti

Antoneli) pelas sugestões e contribuições.

À secretária da Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, Márcia de Britto, pela

paciência e presteza em resolver todas as nossas possíveis demandas da pós graduação.

À secretária do CIPED Rosa Maria Genésio pelo suporte e gentileza principalmente nas

etapas finais de qualificação e defesa.

Aos funcionários exemplares do SAME do Centro Infantil Boldrini pela colaboração no

levantamento dos prontuários. Sempre foram muito solícitos e gentis.

À bibliotecária do Boldrini, Mônia Elisa, por tantas vezes ter colaborado na revisão de

referências bibliográficas e ao Ronaldo pelas inúmeras xerox realizadas. Agradeço pelo

acolhimento na biblioteca, nos divermos momentos de pesquisa e estudos.

À todos os profissionais médicos e multiprofissionais, além dos funcionários do Centro

Infantil Boldrini, os quais tive a oportunidade de conhecer e conviver de alguma forma ao

longo desses dois anos.

Aos profissionais do Setor de Radioterapia do Centro Infantil Boldrini, especialmente à

Aretuza Fernandes que me ajudou em algumas necessidades e dúvidas do setor e ao físico

médico Rodrigo Seraide, o qual disponibilizou seu tempo para me mostrar pacientemente as

imagens da RT conformacional de todos os pacientes que realizaram RT em cabeça e

pescoço.

Às minhas colegas de Mestrado, especialmente Raquel Sakai, Maíra Pascoal, Marcela Liden,

Maíra Assumpção e Irene Santos que compartilharam comigo conhecimentos nas disciplinas,

estudos, trabalhos, dúvidas, angústias, trocas de experiências e incentivos no Mestrado.

Aos pacientes do Centro Infantil Boldrini, muitos dos quais conheci e acompanhei no serviço

de odontologia junto à Dra Regina Mendonça. Agradeço pela receptividade e convivência ao

longo desse meu estágio.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo suporte

financeiro para a realização dessa pesquisa.

À todas as pessoas que de alguma forma contribuíram com a minha formação acadêmica e/ou

pessoal. Meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

Introdução: a adesão do paciente oncológico pediátrico ao tratamento odontológico

possibilita a prevenção, o gerenciamento e redução da duração e severidade das complicações

orais do tratamento antineoplásico. Adicionalmente, diversos estudos relatam que a presença

de doenças orais preexistentes, a negligência com a higiene bucal e a imunossupressão são

fatores de risco para o surgimento de infecções orais. Objetivos: analisar a associação entre:

(1) adesão ao tratamento odontológico e complicações orais (2) adesão ao tratamento

odontológico e aspectos clínicos e sociodemográficos do paciente pediátrico e adolescente

com câncer e (3) complicações orais e variáveis sociodemográficas, de tratamento oncológico

e odontológicas. Métodos: estudo de coorte retrospectivo com uma amostra de 147 crianças e

adolescentes que realizaram tratamento oncológico para tumores sólidos ou linfomas, no

Centro Infantil Boldrini, Campinas, São Paulo, entre Janeiro e Dezembro de 2012. Os

pacientes foram distribuídos em três grupos de acordo com critérios previamente

estabelecidos: adesão integral, parcial e não adesão. Foram analisadas variáveis

sociodemográficas, de tratamento oncológico, odontológicas e complicações orais. Os

pacientes foram acompanhados durante todo o tratamento oncológico e por, pelo menos, um

ano após o término da terapia. Utilizou-se os testes do Qui-quadrado e Exato de Fisher com

um nível de significância de 5%. Resultados: a média de idade dos pacientes foi de 6,7 anos,

destes, 84 (57,1%) eram do sexo masculino e 63 (42,9%) do sexo feminino. Dos 147

pacientes analisados, 55 (37,41%) pacientes aderiram integralmente, 49 (33,3%) parcialmente

e 43 (29,3%) não aderiram ao tratamento odontológico proposto. A maior adesão ao

tratamento odontológico foi associada à menor presença de complicações orais (p=0,006).

Houve associação estatisticamente significativa entre complicações orais e transplante de

células tronco hematopoéticas (p = 0,009), radioterapia (p = 0,008), radioterapia em cabeça e

pescoço (p = 0,044), radioterapia concomitante à quimioterapia (p=0,002), quimioterapia (p <

0,001) e alguns agentes quimioterápicos, como o Etoposide (p=0,037), Ifosfamida (p= 0,006),

Metotrexate (p < 0,001), Busulfan (p=0,020), Citarabina (p=0,012), dentre outros. A presença

de cáries à avaliação odontológica inicial foi associada à menor adesão ao tratamento

odontológico (p=0,004). Conclusões: Esse estudo demonstrou que a menor adesão ao

tratamento odontológico foi associada à maior prevalência de complicações orais. A presença

de cáries à avaliação odontológica inicial foi associada à menor adesão ao tratamento

odontológico. Houve associação estatisticamente significativa entre complicações orais e

transplante de células tronco hematopoéticas, radioterapia, quimioterapia e alguns tipos de

agentes quimioterápicos.

Palavras-chave: Adesão ao tratamento Oncologia Pediatria Manifestações bucais.

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ABSTRACT

Introduction: the adherence of pediatric oncology patient's to dental treatment makes it

possible to prevent, manage and reduce the duration and severity of oral complications of

antineoplastic treatment. In addition, several studies report that the presence of preexisting

oral diseases, negligence with oral hygiene and immunosuppression are risk factors for the

development of oral infections. Objectives: To analyze the association between: (1)

adherence to dental treatment and oral complications (2) adherence to dental treatment and

clinical and sociodemographic aspects of pediatric and adolescent patients with cancer; and

(3) oral complications and sociodemographic variables, oncological and dental treatment.

Methods: A retrospective cohort study with a sample of 147 children and adolescents who

underwent oncologic treatment for solid tumors or lymphomas at the Boldrini Children's

Center, Campinas, São Paulo, between January and December 2012. The patients were

divided in three groups according to previously established criteria: full, partial and non-

adherence. Sociodemographic, oncological, dental and oral complications were analyzed. The

patients were followed up throughout the oncological treatment and for at least one year after

the end of the therapy. Chi-square and Fisher's exact tests were used with a significance level

of 5%. Results: the mean age of the patients was 6.7 years; of these, 84 (57.1%) were male

and 63 (42.9%) were female. Of the 147 patients analyzed, 55 (37.41%) patients adhered

fully, 49 (33.3%) partially and 43 (29.3%) did not adhere to the proposed dental treatment.

The greater adherence to dental treatment was associated with a lower presence of oral

complications (p = 0.006). There was a statistically significant association between oral

complications and hematopoietic stem cell transplantation (p=0.009), radiotherapy (p =

0.008), head and neck radiotherapy (p=0.044), chemotherapy (p<0.001), and some

chemotherapeutic agents, such as Etoposide (p = 0.037), Ifosfamide (p = 0.006), Methotrexate

(p<0.001), Busulfan (p = 0.020), Citarabine (p = 0,012), among others. The presence of dental

caries at the initial dental evaluation was associated with lower adhesion to dental treatment

(p=0.004). Conclusions: This study demonstrated that the lower adherence to dental

treatment was associated with higher prevalence of oral complications. The presence of dental

caries at the initial dental evaluation was associated with lower adhesion to dental treatment.

There was a statistically significant association between oral complications and hematopoietic

stem cell transplantation, radiotherapy, chemotherapy and some types of chemotherapeutic

agents.

Key words: Adherence, Patient. Oncology. Pediatrics. Oral manifestations.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

American Academy of Pediatric Dentistry

Articulação Temporomandibular

Cirurgiã(o) Dentista

Comitê de Ética em Pesquisa

Centro Infantil Boldrini

Classificação Internacional de Doenças

Conselho Nacional de Saúde

Ácido Desoxirribonucleico

5-Fluorouracil

Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva

International Classification of Childhood Cancer

Intensity-Modulated Radiation Therapy

Linfoma Hodgkin

Leucemia Linfoblástica Aguda

Linfoma não-Hodgkin

Ministério da Educação

Mucosite Oral

6-Mercaptopurina

medidas preventivas orais

Metotrexate

National Cancer Institute

Organização Mundial da Saúde

Quimioterapia

Registros de Câncer de Base Populacional

Radioterapia

Transplante de Células Tronco Hematopoéticas

Tumores de Sistema Nervoso Central

Universidade Estadual de Campinas

Vírus Herpes Simples

World Health Organization

AAPD

ATM

CD

CEP

CIB

CID-10

CNS

DNA

5-FU

INCA

ICCC

IMRT

LH

LLA

LNH

MEC

MO

6-MP

MPO

MTX

NCI

OMS

QT

RCBP

RT

TCTH

TSNC

UNICAMP

VHS

WHO

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11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................13

1.2 Complicações Orais Agudas da Terapia Oncológica..........................................................17

1.2.1 Mucosite Oral................................................................................................................17

1.2.2 Infecções Orais..............................................................................................................20

1.1.2.1 Infecção fúngica............................................................................................................20

1.1.2.2 Infecção bacteriana em tecidos moles (incluindo de origem periodontal)....................22

1.2.2.3 Infecção viral.................................................................................................................23

1.2.2.4 Xerostomia....................................................................................................................24

1.2.2.5 Sangramento..................................................................................................................25

1.3 Fatores que Influenciam na Adesão ao Tratamento............................................................27

2. JUSTIFICATIVA..................................................................................................................28

3. OBJETIVOS.........................................................................................................................29

3.1 Objetivo Geral.....................................................................................................................29

3.1 Objetivos Específicos..........................................................................................................29

4. MÉTODO..............................................................................................................................30

4.1 Desenho e População de Estudo.........................................................................................30

4.2 Critérios de Inclusão...........................................................................................................30

4.2 Critérios de Exclusão..........................................................................................................30

4.4 Análise Estatística...............................................................................................................32

4.5 Aspectos Éticos...................................................................................................................33

5. RESULTADOS.....................................................................................................................34

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12

6. DISCUSSÃO........................................................................................................................45

7. CONCLUSÕES....................................................................................................................56

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................57

ANEXOS..................................................................................................................................66

ANEXO I..................................................................................................................................66

ANEXO II.................................................................................................................................69

ANEXO III................................................................................................................................70

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil, assim como em países desenvolvidos, o câncer já representa a primeira

causa de morte (8% do total) por doença na faixa etária infanto-juvenil. De acordo com o

Instituto Nacional do Câncer (INCA), os números estimados para 2016 a 2017 foram de

aproximadamente 12.600 casos novos de câncer em crianças e adolescentes com idade até 19

anos1.

A incidência, principal componente na vigilância epidemiológica do câncer, é

estimada através dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP)2. De Camargo et al.

3

publicaram análise descritiva da incidência de câncer na infância e adolescência no Brasil

abrangendo 15% da população de crianças e adolescentes brasileiros. Esse estudo nacional

que reuniu 14 RCBP mostrou que a taxa de incidência mediana de câncer infantil foi de 154,3

por milhão, e a faixa etária de 1 a 4 anos apresentou a maior incidência. Na cidade de

Campinas, São Paulo (SP) foram registrados os maiores coeficientes de incidência na

população abaixo de 1 ano de idade, totalizando 223,5 crianças por milhão. Entre os

adolescentes de 15 a 19 anos, a maior taxa foi observada em São Paulo (264 crianças por

milhão). Nesse estudo nacional dos RCBP, os linfomas aparecem como a segunda neoplasia

mais incidente na infância e os Tumores de Sistema Nervoso Central (TSNC) vem em seguida

ocupando a terceira posição3.

Nas últimas quatro décadas, o progresso no tratamento do câncer foi extremamente

significativo. Atualmente, em torno de 80% das crianças e adolescentes acometidas pelo

câncer podem ser curadas, se diagnosticados precocemente e tratadas com protocolos

modernos. A maioria delas terá boa qualidade de vida após terapêutica adequada1. Com esses

avanços é imprescindível tentar evitar ou minimizar as complicações decorrentes das

neoplasias e do seu tratamento.

As neoplasias malignas mais frequentes em oncologia pediátrica são as leucemias, que

correspondem entre 25 a 35% de todas as doenças malignas, sendo a leucemia linfoblástica

aguda (LLA) a de maior ocorrência em crianças de 0 a 14 anos. Outro grupo que apresenta

incidência relevante nesta faixa etária é o dos linfomas, que são um grupo de doenças

neoplásicas com origem no sistema linforreticular que podem envolver massas extranodais,

gânglios linfáticos e a medula óssea4. Apresentam-se de forma heterogênea, representando

cerca de 10-15% das neoplasias malignas na infância (0-14 anos), tradicionalmente

classificado como Linfoma Hodgkin (LH) e não-Hodgkin (LNH)5-7

. O LH é o câncer mais

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comumente diagnosticado entre adolescentes de 15 a 19 anos e raro entre crianças com menos

de 5 anos6, enquanto o LNH é diagnosticado principalmente em crianças e adolescentes entre

5 e 19 anos, sendo responsável por cerca de 8-10% das neoplasias malignas infantis7.

Dentre os tumores sólidos, destacam-se os TSNC, que representam a segunda

posição (16-20%) na faixa etária de 0 a 14 anos e o mais comum no grupo dos tumores

sólidos1,5,6

. Alguns tipos de câncer são mais prevalentes em crianças mais novas (TSNC,

neuroblastoma, retinoblastoma, tumor de Wilms, hepatoblastoma) ocorrendo em menores

taxas entre os 15-19 anos de idade1,4

(Figura 1).

As principais modalidades de tratamento do câncer incluem: a cirurgia, a

quimioterapia (QT), a radioterapia (RT) e o transplante de células tronco hematopoéticas

(TCTH), mas a imunoterapia vem sendo cada vez mais incorporada ao tratamento, incluindo

anticorpos monoclonais. Diferentemente do tratamento cirúrgico que consiste na ressecção do

tumor e de outros tecidos envolvidos, como os linfonodos, a QT e a RT não são específicas

para o tecido, atuando, por sua vez, através da inibição do rápido crescimento das células

neoplásicas9. Especificamente a QT e a RT têm papel na destruição das células malignas,

preferencialmente quando estão na fase de mitose no ciclo celular, porém podem causar

efeitos agudos e/ou crônicos não apenas nas células malignas, como também em tecidos

normais. Células da mucosa bucal e gastrointestinal, medula óssea e pele apresentam alto grau

de atividade mitótica e são especialmente propensas a manifestarem os efeitos deletérios dos

agentes antineoplásicos10

. Nesse sentido, o tratamento médico não se destina exclusivamente

Figura 1. Macedo, CDR. Distribuição dos tipos de câncer por

faixa etária8.

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15

ao tratamento da doença maligna, mas também envolve o manejo das possíveis complicações

advindas da terapia antineoplásica11,12

.

As complicações orais são reconhecidas como um efeito adverso comum da terapia do

câncer na infância e as crianças são mais comumente afetadas do que os adultos13-15

. Os

fatores que contribuem com o desenvolvimento e gravidade dessas complicações incluem

idade da criança, tipo de malignidade, condição da cavidade oral antes do tratamento (lesões

cariosas, gengivite e higiene bucal deficiente) e o nível de cuidado oral durante a terapia

antineoplásica14

. Esses efeitos adversos orais aumentam o risco de infecção local e sistêmica,

o tempo de hospitalização e os custos globais, elevam as taxas de morbimortalidade e podem

interromper o tratamento até que as complicações sejam resolvidas16-18

.

Fatores relacionados ao tratamento oncológico, como o tipo, dosagem, frequência e

combinação das drogas quimioterapêuticas, além de aspectos relacionados ao paciente, como

idade, diagnóstico, estado nutricional e saúde bucal antes e durante o tratamento podem

contribuir para a menor ou maior incidência e gravidade de complicações orais18,19

, sendo as

mais frequentes a mucosite oral (MO), a xerostomia, o sangramento e as infecções

oportunistas (fúngicas, virais e bacterianas)11,20

.

A QT é a modalidade terapêutica mais empregada nos tratamentos para os diversos

tumores que ocorrem na infância e adolescência. No entanto, as drogas quimioterápicas

utilizados no tratamento do câncer provocam muitos efeitos colaterais, podendo estar

relacionados com complicações orais ao produzir estomatotoxicidade direta ou

indiretamente13,21

. Os agentes quimioterapêuticos responsáveis por esses efeitos incluem

antimetabólitos que afetam a síntese do DNA (Metotrexate (MTX), 5- Fluorouracil (5-FU),

Mercaptopurina (6-MP), Citarabina (Arac-C)), antraciclinas (Doxorrubicina, Daunorrubicina),

agentes alquilantes (Busulfan, Melfalan, Ciclofosfamida, Ifosfamida), outros agentes

antitumorais (Actinomicina D, Bleomicina), alcalóides de vinca (Vincristina, Vimblastina),

outros alcalóides (Etoposide) e taxanos (Paclitaxel). As drogas que afetam a síntese de DNA

(agentes específicos da fase S do ciclo celular), como 5-FU, MTX e Arac-C apresentam

efeitos estomatóxicos mais pronunciados21

.

Os antimetabólitos apresentam efeito tóxico direto nas células da mucosa oral,

resultando em inflamação e danos epiteliais22

. A excreção dessas drogas na saliva pode

contribuir para o desenvolvimento de tais lesões, tornando esta mais susceptível à infecções

oportunistas21

. Esses efeitos na mucosa oral podem acarretar em MO, infecções orais como as

causadas pela Candida albicans, alterações no fluxo e composição salivar, dentre outras

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16

manifestações. Alguns estudos realizados em populações jovens23,24

relataram maior taxa de

incidência de MO nas terapias baseadas no uso do MTX.

A saúde oral deficiente de crianças e adolescentes tem sido associada à maior

incidência de complicações orais durante a terapia antineoplásica25-27

. Dessa forma, é

essencial orientar os pacientes e responsáveis sobre a importância de uma avaliação bucal

minuciosa antes de iniciar o tratamento oncológico, bem como a manutenção de boa higiene e

adesão a uma dieta não cariogênica, visto que o acúmulo de biofilme aumenta a gravidade das

infecções nas mucosas, além de predispor à inflamação gengival, a qual pode gerar

sangramentos espontâneos em função de uma possível plaquetopenia28,29

. A higiene bucal

adequada pode reduzir o risco, o curso e a gravidade da MO, visto que os microorganismos

podem colonizar as úlceras e prolongar o tempo de cicatrização28,30

.

A adequação do meio bucal é uma medida importante para evitar processos

infecciosos e/ou sangramentos. Para tal, deve-se prezar por uma boa saúde bucal eliminando

biofilme, cálculo dentário, dentes decíduos em processo de esfoliação, bem como fontes

potenciais de trauma, tais como aparelhos ortodônticos e restaurações fraturadas12,29

. Todavia,

nem sempre é possível realizar todo o tratamento odontológico antes do início da terapia

antineoplásica. Quando houver necessidade de manutenção do tratamento odontológico, este

deve ser planejado em conjunto com a equipe médica, com o intuito de evitar as fases de

neutropenia ou plaquetopenia, preferencialmente entre os ciclos da QT, quando normalmente

há uma recuperação do hemograma para níveis mais próximos à normalidade31

. Mesmo que o

tratamento odontológico seja concluído antes do início do tratamento oncológico, é

fundamental que o paciente seja acompanhado pelo cirurgião dentista (CD) para que possíveis

complicações sejam prevenidas, diagnosticadas e tratadas. Para tanto, é imprescindível que o

CD esteja familiarizado com a história médica do paciente, com o tratamento ao qual o

mesmo será submetido, os efeitos do protocolo terapêutico a ser utilizado e a correta

interpretação dos exames hematológicos12

.

Do ponto de vista do atendimento integral, o tratamento oncológico de uma criança ou

adolescente implica em mudanças de hábitos de vida do paciente e sua família e a aquisição

de novos conceitos. O diagnóstico de câncer é um momento muito difícil para a família das

crianças afetadas. Muitos pais, neste momento, dão maior importância aos aspectos médicos,

colocando a saúde bucal em segundo plano. Nesse contexto, a motivação e a adesão do

paciente e de seus responsáveis ao tratamento odontológico são essenciais na prevenção e

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17

controle dos efeitos adversos bucais agudos da QT e da RT, incluindo aqueles submetidos ao

TCTH. Essas medidas podem contribuir positivamente para o sucesso do tratamento

transdisciplinar do paciente oncológico29

.

1.1 Complicações Orais Agudas da Terapia Oncológica

A instituição de ações de prevenção e tratamento dos efeitos adversos orais deve ser

pautada no conhecimento da história médica do paciente, condição física e hematológica,

estado nutricional, bem como exame intraoral minuncioso dos dentes e mucosas12

. Durante a

terapia antineoplásica podem surgir complicações agudas com repercussões em cavidade oral,

as quais são fontes frequentes de desconforto e origem de infecções locais ou sistêmicas32

.

Segundo a Academia Americana de Odontologia Pediátrica (AAPD)12

, a fonte mais frequente

de infecção sistêmica no paciente imunossuprimido durante o tratamento oncológico é a boca,

logo, não deve ser negligenciada no decorrer do tratamento oncológico.

1.1.1 Mucosite oral

A MO é um efeito colateral muito frequente da QT, RT de cabeça e pescoço e QT

mieloablativa de altas doses utilizada no regime de condicionamento prévio ao TCTH13,33

.

A MO é uma inflação da mucosa da cavidade oral de etiologias diversas e com fatores

de risco relacionados à terapia e ao paciente34

. Fatores extrínsecos, como o tipo de agente

quimioterápico, a dose de radiação e o esquema terapêutico, aumentam o risco para seu

desenvolvimento. Do mesmo modo, variáveis intrínsecas relacionadas ao paciente, incluindo

sexo, idade, estado nutricional, ambiente microbiano oral, função salivar e hábitos de higiene

oral podem aumentar tanto a prevalência quanto a intensidade desse efeito secundário da

terapia antineoplásica34-36

.

Normalmente a MO aparece cerca de 7 a 10 dias após a infusão das drogas

citotóxicas30

. Estas, por sua vez, agem intensamente nas células da mucosa bucal e trato

gastrointestinal, que são sítios de elevada citotoxicidade37,38

. A ação desses agentes

quimioterápicos tende a levar à ruptura das barreiras mucosas e exposição do tecido

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18

conjuntivo, funcionando assim como uma porta de entrada às infecções oportunistas32,39

.

Alguns agentes que afetam a síntese de DNA, como a Bleomicina, Cisplatina, Arac-C,

Ciclofosfamida, Busulfam, 5-FU, Doxorrubicina e MTX exibem os mais pronunciados efeitos

estomatotóxicos24,30,40

. Ademais, os metabólitos do MTX e do Etoposide ainda podem ser

secretados pelas glândulas salivares, levando ao aumento da estomatotoxicidade direta21

. A

etiopatogenia e o grau de mucosite variam de acordo com o regime de tratamento recebido

(combinação de QT e RT, dosagem, duração e sequência)19

. Adicionalmente, o risco de

desenvolver a MO eleva-se com o aumento do número de ciclos de QT e ciclos múltiplos

podem ter um efeito cumulativo em pacientes com antecedentes de MO13,21,22

. Ademais,

segundo Epstein et al.13

, pacientes submetidos a QT de dose padrão ou alta dose que são

mielossuprimidos ou imunossuprimidos apresentam maior risco. A mucosa não queratinizada

é mais vulnerável à estomatotoxidade, particularmente a mucosa jugal, palato mole,

superfícies ventral e borda lateral da língua, assoalho de boca e lábios9,25,38,41,42

.

Como um dos pilares do tratamento do câncer, a terapia de radiação desempenha um

papel indispensável no manejo de muitos tipos de câncer de cabeça e pescoço e linfomas. Os

tecidos orofaciais que podem ser comprometidos pela RT de cabeça e pescoço incluem as

glândulas salivares, papilas gustativas, mucosas, ossos e dentes, articulação

temporomandibular (ATM) e musculatura relacionada43

. Ao contrário da QT, o dano da

radiação é sítio-específica; a toxicidade é contabilizada em volumes de tecido irradiado. O

grau do dano depende dos fatores relacionados ao regime de tratamento, incluindo o tipo de

radiação utilizada, a dose total administrada e o tamanho/fracionamento do campo e,

diferentemente da QT, tende a ser permanente9,43

.

Como efeitos da radiação nessas estruturas pode-se observar com frequência a

presença de úlceras orais difusas que persistem ao longo da duração da RT até que elas se

resolvam espontaneamente 2-4 semanas após a conclusão do tratamento. Além disso, alguns

quimioterápicos administrados concomitante à RT aumentam significativamente o risco de

desenvolver MO30

.

Clinicamente, a MO em pacientes sob terapia antineoplásica se apresenta inicialmente

como uma superfície eritematosa e atrófica, que pode evoluir para quadros ulcerativos41

,

frequentemente associados à dor, dificuldade de fonação e nutrição, aumento do risco de

infecções orais e sistêmicas, com consequente aumento do período de hospitalização e

elevação dos custos do tratamento e, a depender da gravidade pode levar à interrupções até

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19

que as complicações sejam resolvidas30,33

. Essas situações podem impactar diretamente na

qualidade de vida do paciente33

e contribuir para dificuldades na adesão ao tratamento.

Alguns autores atribuem às crianças e adolescentes uma maior incidência de MO, por

estas possuírem maior índice mitótico das células epiteliais da camada basal. Todavia as

lesões apresentam maior capacidade de reparação tecidual do que em adultos, potencialmente

favorecendo menor tempo de duração37,38

.

Várias escalas de avaliação têm sido usadas para descrever a intensidade da MO, com

o intuito de padronizar a notificação dos achados clínicos. Até a presente data, as duas escalas

mais utilizadas incluem as desenvolvidas pelo National Cancer Institute (NCI) e pela

Organização Mundial de Saúde (OMS). Estas são escalas de toxicidade oral que descrevem a

progressão de sinais/sintomas de leve à grave (Figura 2).

Em oncologia pediátrica, dados sobre as taxas de incidência e prevalência da MO não

são bem estabelecidos, provavelmente porque ainda não há um instrumento universalmente

utilizado para avaliação desta em crianças, além das diferenças nos protocolos de

tratamento37,44,45

. Todavia, alguns estudos apontam que a MO é mais prevalente em crianças e

adolescentes do que em adultos, com uma incidência de cerca de 40-50% de pacientes

pediátricos e adolescentes que recebem QT de dose padrão e mais de 60% dos pacientes que

receberam QT mieloablativa de condicionamento antes do TCTH19,32,33,46,47

.

Fatores como o tipo de tratamento antineoplásico, dose, duração e sequência,

combinação das drogas, tipo de neoplasia maligna, idade, contagem de neutrófilos e nível de

cuidados bucais influenciam a incidência de mucosite11,19,30

. Adicionalmente, a microbiota

oral tem papel importante na exacerbação das lesões ulceradas e a perda da integridade do

Figura 2. Apresentação clínica dos graus de mucosite oral, de acordo com o NCI, em paciente

pediátrico com câncer.

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20

epitélio oral predispõe o hospedeiro imunocomprometido ao risco de infecções locais e

sistêmicas por bactérias, fungos e vírus32,47

. Logo, a higiene oral e outras medidas de cuidados

locais são fundamentais para minimizar a gravidade das lesões.

1.1.2 Infecções Orais

Durante o tratamento antineoplásico, os pacientes estão mais suscetíveis à ocorrência

de infecções por agentes oportunistas. Os efeitos dos agentes citotóxicos diretos e/ou indiretos

da RT de cabeça e pescoço e QT podem levar à mielossupressão e, por conseguinte, ao

rompimento das barreiras mucosas, comprometendo a capacidade do sistema imune em

combater infecções18,36

. Ademais, com uma possível disfunção da glândula salivar e as

alterações na composição da saliva, frequentemente observados em pacientes realizando RT

em cabeça e pescoço e/ou QT, torna-se um fator de risco potencial para a ocorrência dessas

infecções em cavidade bucal17,48

.

Adicionalmente, é importante destacar que os sinais e sintomas da inflamação e

infecção na cavidade oral podem ser diminuídos e apresentar-se de forma atípica, devido ao

sistema imunológico debilitado. Logo, os profissionais da Odontologia devem, portanto, estar

mais alertas ao realizar o exame oral para detectar quaisquer sinais atípicos de infecções

fúngicas, virais e bacterianas31

.

1.1.2.1 Infecção fúngica

Os fungos são frequentemente relacionados a infecções em pacientes com doenças

oncológicas, sendo a espécie Candida albicans a responsável pela maioria das infecções

oportunistas por fungos orais em pacientes neutropênicos49

.

Os pacientes na faixa etária pediátrica apresentam maior risco para o desenvolvimento

de infecções fúngicas orais, devido à imunossupressão, lesão da mucosa, xerostomia, má

higiene bucal e má nutrição. O uso de antibióticos de largo espectro, esteroides, ou qualquer

infecção fúngica prévia contribui para o aumento do risco14,17

. Os sintomas incluem dor,

sensação de queimação ou ardência, alterações no paladar e intolerância a certos tipos de

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21

alimentos, especialmente os condimentados e ácidos. Em crianças, a candidíase ocorre com

maior frequência na mucosa bucal, língua, gengiva e faringe42

.

Albert et al.49

avaliaram o desenvolvimento de infecções orais causadas por fungos em

crianças com câncer e identificaram leveduras orais em associação com episódios de

neutropenia moderada a grave. As infecções fúngicas ocorreram em 100% destes pacientes,

sendo a Candida albicans a espécie oral mais prevalente. Anirudhan et al.46

, avaliando

pacientes pediátricos com MO, também observaram maior prevalência de fungos associados

às lesões em mucosa oral.

Assim como em processos bacterianos, a disseminação sistêmica dos fungos também

pode ocorrer em presença da MO ulcerativa, durante episódios neutropênicos. No estudo

conduzido por Anihudhan et al.46

com 70 crianças com LLA, em dois dos seis casos de

fungemia observados, os microorganismos identificados (Candida tropicalis e Rhodotorula)

estavam presentes tanto em hemocultura quanto em lesões na mucosa oral, sugerindo que a

colonização oral desses microorganismos resultou em disseminação fúngica. Embora o gênero

Candida seja o mais prevalente, foi possível identificar 4 casos (10,6%) de Aspergillus, 1 caso

(2.6%) de Trichosporon, 1 (2,6%) de Rhodotorula. Mesmo sendo mais incomuns, essas

espécies tem um alto valor preditivo para infecção fúngica invasiva em pacientes

neutropênicos, segundo o autor supracitado46

.

Figura 3. Apresentação clínica de candidíase oral, em paciente pediátrico com

câncer.

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22

1.1.2.2 Infecção bacteriana em tecidos moles (incluindo de origem periodontal)

A microbiota oral normal apresenta grande variedade de bactérias, muitas das quais

podem se tornar patogênicas com a mielossupressão32,50

. Embora as infecções bacterianas

possam envolver qualquer superfície da mucosa oral, a gengiva é o local mais comumente

afetado31

.

As bactérias estão frequentemente relacionadas a infecções que se manifestam quando

há o desequilíbrio entre hospedeiro e microrganismo, sendo a dor e a febre os sinais e

sintomas mais frequentes39

. Se a infecção localizada não é diagnosticada e tratada em tempo

hábil, pode resultar em bacteremia sistêmica em pacientes imunossuprimidos graves31

.

No estudo realizado por Alberth et al.49

, em que foram avaliadas 45 amostras orais de

30 crianças em tratamento oncológico durante episódios de neutropenia, verificou-se que 38

destas 45 culturas foram positivas para fungos e/ou bactérias. 33 (86,8%) foram positivas para

fungos e apenas 6 (15,8%) para bactérias, indicando assim que os fungos são cerca de cinco

vezes mais comuns que as bactérias na cavidade oral das crianças sob tratamento

antineoplásico. As bactérias encontradas na cavidade oral dos doentes foram Staphylococcus

aureus e Klebsiella pneumoniae.

Na cavidade oral, em especial na língua, é elevada a frequência do Streptococcus

viridans39

, com produção de enzimas que facilitam a disseminação sistêmica da infecção.

Anirudhan et al.46

avaliaram infeções orais em crianças com LLA e observaram que as

bactérias mais frequentemente isoladas foram Streptococcus viridans (14.2%) e a

Staphylococcus aureus (14.2%), seguida pelos Staphylococcus Coagulase Negative (10,7%),

Figura 4. Apresentação clínica de infecção bacteriana em

cavidade oral, em pacientes pediátricos com câncer.

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23

Escherichia coli (10,7%), Klebsiella (10,7%) e Pseudomonas aeruginosa (10,7%). No estudo

de Mendonça et al.39

, as bactérias mais frequentes na cavidade oral foram os Streptococcus

viridans (100%) e Neisseria spp. (95%), independentemente do período do tratamento

analisado no estudo.

Essa colonização bacteriana oral predispõe à infecções no período relativo à erupção

dentária. Molares parcialmente irrompidos podem tornar-se uma fonte de infecção por causa

do acúmulo de restos alimentares, e a remoção deficiente do biofilme bacteriano sob o

opérculo torna-se um risco iminente ao desenvolvimento de uma pericoronarite. Neste caso,

além das orientações para realização de higiene mais cuidadosa do local, o tecido gengival

sobrejacente pode ser excisado, caso se constitua em uma potencial fonte de infecção e se o

estado hematológico do paciente permitir12,31

.

1.1.2.3 Infecção viral

As infecções virais na cavidade oral e perioral são complicações frequentes do

tratamento do câncer. O tipo viral mais comum em crianças submetidas à terapia oncológica é

o Vírus Herpes Simples 1(VHS-1)18,39

.

Dados sobre a prevalência do VHS na MO em crianças sob tratamento oncológico

ainda são limitados. Dentre os tipos virais, o VHS-1 relaciona-se à infecções orais recorrentes,

enquanto o VHS-2 pode causar infecções genitais recorrentes e com menor frequência, em

cavidade oral51

.

Após a infecção primária, o VHS-1 estabelece latência vitalícia nos gânglios neurais

sensoriais com reativações periódicas, principalmente nos períodos de imunossupressão51

. A

reativação do HSV-1 em pacientes com câncer pode se manifestar com apresentação clínica

atípica, que pode acarretar em erros de diagnóstico. Frequentemente a distinção clínica entre

mucosite e infecção por VHS oral é difícil em pacientes imunossuprimidos, podendo ocorrer a

presença simultânea dessas duas condições51,52

. A infecção por este vírus geralmente se inicia

com edema e eritema local que precedem a formação vesículas na cavidade oral ou perioral,

as quais se rompem formando úlceras dolorosas18

.

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24

1.1.2.4 Xerostomia

A xerostomia, ou sensação subjetiva de boca seca, é uma condição causada pela QT

e/ou RT na região de cabeça e pescoço17,48,53

e, portanto, não deve ser confundida com

hipossalivação, que é a medida objetiva da diminuição da secreção salivar48

. Os sintomas

mais comuns da xerostomia são o desconforto oral, alteração do paladar e dificuldades na

nutrição e fonação48

.

A saliva é um importante protetor dos dentes e mucosa oral e também fornece

atividade antimicrobiana que previne infecções orais. Portanto, o dano causado aos ácinos da

glândula salivar pelas terapias antineoplásicas pode resultar em alteração da quantidade e

qualidade da saliva, tornando-a mais viscosa e ácida. Como consequência, haverá um maior

risco de infecções orais e cáries17,48

. Embora existam muitos estudos sobre xerostomia em

oncologia de adultos, existem poucas publicações desse tipo na população pediátrica17

.

Figura 6. Apresentação clínica de xerostomia, em

pacientes pediátricos com câncer.

Figura 5. Apresentação clínica de infecção viral em cavidade oral, em pacientes pediátricos

com câncer.

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25

Crianças e adolescentes diagnosticadas com tumores de cabeça e pescoço, muitas

vezes recebem radiação localizada nesta região, o que pode afetar glândulas salivares e causar

mudanças em suas propriedades. Comparadas aos adultos, as crianças têm maior número de

células em divisão e são muito radiossensíveis53

.

A QT exerce pouco efeito em longo prazo sobre as glândulas salivares. Em geral, as

alterações são temporárias na quantidade e qualidade da saliva secretada. Já os efeitos

causados pela RT, quando as glândulas salivares estão dentro do campo irradiado, podem ser

permanentes e provocar perda parcial ou total da capacidade de secreção salivar17

.

A RT em cabeça e pescoço tende a causar xerostomia devido ao dano indireto aos

elementos do tecido epitelial e conjuntivo da glândula, incluindo vasos sanguíneos e nervos,

ou danos diretos aos ácinos e ductos salivares, os quais afetam a produção e secreção de

saliva12

, estando relacionado à dose cumulativa de radiação48

.

Embora o objetivo principal da RT seja dispensar uma dose concentrada e letal de

radiação no campo do tumor sólido, evitando a exposição dos tecidos circundantes; as

glândulas salivares, a mucosa oral e os maxilares são inevitavelmente afetados pelo

espalhamento da radiação, resultando em possíveis complicações dentro da área afetada20

.

Equipamentos antigos como a bomba de Cobalto ainda estão disponíveis em grande parte dos

centros de Oncologia, no Brasil. Estes, por sua vez, são mais lesivos ao deixar um campo

chamado “penumbra”, o qual provoca lesões mais extensas nos tecidos circunvizinhos. Em

contrapartida, os equipamentos modernos com tecnologia informatizada, como a Radioterapia

por Intensidade Modulada (Intensity-Modulated Radiation Therapy - IMRT), concentram uma

dose elevada de irradiação no tumor alvo, porém uma dose mínima nos tecidos normais,

minimizando os efeitos deletérios em tecidos sadios54

.

1.1.2.5 Sangramento

O sangramento é uma complicação oral comum da terapia antineoplásica, resultante,

na maioria das vezes, da plaquetopenia31

. Essa situação pode implicar em tendência para o

surgimento de sangramento gengival espontâneo ou hemorragia pós-operatória42

. Vale

ressaltar que o sangramento gengival é um achado mais frequente em pacientes com

Leucemias e, nesse caso, é causado pela própria doença hematológica42

. Em todas essas

situações, o sangramento gengival pode ser agravado pelo acúmulo de biofilme bacteriano.

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Mesmo frente ao risco de sangramento, a higiene bucal deve ser realizada, visto que o

acúmulo de biofilme pode causar gengivite e, consequentemente aumentar o sangramento

gengival, infecção oral e bacteremia. Nos casos em que as contagens de neutrófilos e

plaquetas são baixas (neutrófilos < 500/mm3 e a contagem de plaquetas < 20 000/mm3), o

método de higiene oral pode ser alterado pela equipe de odontologia41

.

Nesse sentido, é importante que o CD faça orientações ao paciente quanto à higiene

bucal, recomendando para tal o uso de escovas com cerdas macias para prevenção do acúmulo

de biofilme. E, nas crianças, a higiene bucal deve ser supervisionada pelos pais ou

responsáveis para que seja efetiva e atraumática29

.

A fase de esfoliação dentária dos decíduos também é um potencial fator de risco para

a ocorrência de sangramento gengival. Segundo Hong e da Fonseca31

indica-se, se possível,

que dentes nessa fase sejam extraídos antes do início do tratamento, e, aproximadamente,

duas semanas antes do início da neutropenia, de forma a prevenir possíveis sangramentos ou

infecções durante a fase de aplasia medular. Ademais, aparelhos ortodônticos devem ser

removidos, já que facilitam o acúmulo de biofilme, podem comprometer a higiene oral e

atuam como fontes de traumatismos, elevando o risco de sangramento gengival e infecções12

.

Figura 7. Apresentação clínica de sangramento em cavidade oral, em

pacientes pediátricos com câncer.

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1.2 Fatores que Influenciam na Adesão ao Tratamento

A adesão ao tratamento é fundamental para o sucesso da terapia instituída. Vários

fatores podem influenciar na adesão ao tratamento e podem estar relacionados ao paciente e

sua família (sexo, idade, etnia, estado civil, escolaridade, nível socioeconômico e hábitos

prévios de higiene oral); à doença (cronicidade, ausência de sintomas e consequências

tardias); às crenças de saúde, hábitos de vida e culturais (percepção da seriedade do problema,

desconhecimento, experiência com a doença no contexto familiar e autoestima); ao tipo de

tratamento (custo, efeitos indesejáveis, esquemas terapêuticos complexos), aos fatores sociais

e institucionais (política de saúde, acesso ao serviço de saúde, tempo de espera versus tempo

de atendimento); e, finalmente, ao relacionamento com a equipe de saúde55

.

A AAPD12

reconhece que a manutenção de uma cavidade oral saudável durante a

terapia antineoplásica está relacionada à adesão do paciente. A criança e os pais devem ser

informados sobre as possíveis complicações odontológicas do tratamento do câncer e as

formas de prevenção e controle, com o intuito de reduzir a incidência, duração e gravidade. A

prevenção das complicações orais perpassa pela completa avaliação prévia ao início da terapia

oncológica, pela manutenção de uma boa higiene bucal no decorrer do tratamento, a aderência

a uma dieta não cariogênica e nos cuidados orais preventivos a fim de evitar problemas orais

durante e após a terapia do câncer. Nesse sentido, para que ocorra uma boa aderência ao

tratamento é necessário a compreensão da necessidade desse seguimento odontológico, já que

algumas famílias naturalmente se concentram nos aspectos médicos do tratamento, ignorando

a importância da saúde oral31

.

Elad et al.29

afirmam que o cumprimento de uma higiene oral satisfatória muitas vezes

é comprometido devido à dor oral, náuseas e outras complicações associadas ao tratamento do

câncer. Contudo, é importante encorajar o paciente a aderir ao tratamento odontológico e

reconhecer o papel dos familiares como corresponsáveis pelo cuidado com a saúde da criança,

no entanto, desenvolvendo a autonomia e participação do doente em seu processo de adesão

ao tratamento.

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2. JUSTIFICATIVA

Em 2011 foi publicado estudo por Mendonça e colaboradores39

desenvolvido com

pacientes portadores de LLA em tratamento no Centro Infantil Boldrini (CIB). Estes autores

não identificaram relação entre a quantidade de bactérias na cavidade oral e a intensidade da

MO. Uma possível explicação para a ausência desta associação foi que os pacientes

receberam tratamento odontológico desde sua admissão, adequando a cavidade oral e,

possivelmente, diminuindo a população bacteriana, contribuindo assim para uma menor

incidência de infecções oportunistas associadas à MO. Cabe informar que o CIB tem registro

dos atendimentos odontológicos feitos de rotina no atendimento ambulatorial e durante

internações, com equipe de Odontologia que presta tratamento preventivo e curativo segundo

as normas de atendimento específicas para crianças e adolescentes com câncer. Os resultados

advindos deste estudo motivaram o desejo de se verificar o perfil não só em relação à

mucosite, bem como de outras complicações orais comuns ao tratamento oncológico, em uma

população de pacientes com tumores sólidos e linfomas na mesma Instituição. Além da

mucosite, outras complicações orais podem interferir no tratamento oncológico, causando

atrasos ou eventualmente, interrupções. Assim, consideramos oportuno ampliarmos o espectro

de investigação, de forma a avaliar as demais complicações orais observadas nesta população,

assim como os possíveis fatores envolvidos no desenvolvimento dessas complicações.

Ademais, a escassez de trabalhos na literatura sobre o tema adesão ao tratamento

odontológico na população pediátrica e de adolescentes sob tratamento oncológico para

tumores sólidos e linfomas motivou o estudo sobre assunto, buscando compreender se a

adesão pode interferir no desenvolvimento de complicações orais. Além disso, estudos sobre

adesão são essenciais para a prevenção e controle das complicações orais e propiciam amplos

benefícios ao paciente, suas famílias, ao sistema de saúde e à economia do país.

A identificação da condição bucal destes pacientes prévia ao tratamento oncológico,

bem como os fatores que interferem na adesão ao tratamento odontológico, é fundamental

para aprimorar práticas que previnam ou minimizem complicações bucais, contribuindo para

uma melhor qualidade de vida dos pacientes.

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3. OBJETIVO

3.1 Objetivo Geral

Verificar a adesão ao tratamento odontológico dos pacientes pediátricos e adolescentes

com câncer;

Descrever as complicações orais da terapia antineoplásica.

3.2 Objetivos Específicos

Analisar a associação entre:

1. adesão ao tratamento odontológico e complicações orais;

2. adesão ao tratamento odontológico e aspectos clínicos e sociodemográficos do

paciente pediátrico e adolescente com câncer.

3. complicações orais e variáveis sociodemográficas, de tratamento oncológico e

odontológicas.

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4. MÉTODO

4.1 Desenho e População do Estudo

Foi realizado estudo de coorte retrospectivo baseado no levantamento de dados de

prontuários e registros odontológicos de crianças e adolescentes com idade entre 0 e 20 anos,

à data de admissão, e que realizaram tratamento oncológico para tumores sólidos, LH e LNH

no CIB, no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012.

4.2 Critérios de Inclusão

Pacientes que tenham realizado tratamento oncológico para tumores sólidos, LH e

LNH segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) para oncologia, no CIB.

4.3 Critérios de Exclusão

Pacientes com diagnóstico de doenças não oncológicas (CID-10 para oncologia);

Pacientes portadores de leucemias agudas ou neoplasias hematológicas em geral, por

terem sido tratados por outra equipe odontológica e já terem sido objeto de estudo

prévio;

Pacientes que foram a óbito no decorrer do tratamento;

Pacientes que realizaram parte do tratamento oncológico em outra Instituição (QT, RT

ou TCTH);

Pacientes que foram admitidos no hospital, diagnosticados com neoplasia maligna,

porém foram tratar em outra Instituição;

Pacientes que foram admitidos no hospital com recidiva da doença inicial, bem como

as complicações orais ocorridas após a recidiva da doença;

Pacientes que vieram apenas para uma segunda opinião médica;

Pacientes com tumor de comportamento incerto (CID-10 para oncologia).

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As variáveis analisadas foram sexo, idade (em anos) à data de admissão hospitalar,

diagnóstico, condição oral à consulta odontológica inicial, escolaridade da mãe, procedência

(Estado de origem), permanência em Campinas (SP) durante o tratamento, modalidade de

tratamento realizada (Cirurgia, QT, RT e/ou TCTH), realização de RT de cabeça e pescoço,

QT simultânea à RT e quimioterápicos utilizados. Também foram descritas as complicações

orais do tratamento oncológico (mucosite, infecções por cárie ou erupção

dentária/pericoronarite e infecções bacterianas, virais ou fúngicas. O diagnóstico de cada

complicação oral foi essencialmente clínico.

Foram analisadas variáveis sociodemográficas, de tratamento oncológico e

odontológicas bem como as complicações orais. A faixa etária para crianças e adolescentes

foi estabelecida de acordo com os limites cronológicos definidos pela OMS56

e o Ministério

da Saúde57

em que a adolescência é delimitada como o período entre os 10 e 20 anos

incompletos, limite este adotado no CIB. A depender do diagnóstico do paciente a idade da

admissão hospitalar pode chegar aos 24 anos. Os diagnósticos foram agrupados de acordo

com a classificação da International Classification of Childhood Cancer58

(Anexo I). A

mucosite oral foi classificada de acordo com a escala do National Cancer Institute59

e

segundo seu grau máximo de intensidade (Anexo II). A escolaridade materna foi calculada

em anos de estudo, de acordo com a divisão estabelecida pelo Ministério da Educação

(MEC)60

. Para análise das complicações orais, foram consideradas somente aquelas ocorridas

durante o primeiro tratamento oncológico, excluindo-se as recidivas da doença.

Após confirmação do diagnóstico oncológico, o paciente é encaminhado pela equipe

médica para a primeira avaliação e seguimento odontológico. Na primeira consulta é realizada

a anamnese e o exame intrabucal inicial para planejamento do tratamento. Os cuidados bucais

consistem na adequação do meio bucal com eliminação de focos infecciosos, remoção do

aparelho ortodôntico, orientações de higiene e controle do biofilme. Incluem também o

atendimento odontológico preventivo, restaurador ou cirúrgico, além de orientações quanto à

possível ocorrência de complicações orais decorrentes do tratamento antineoplásico. Mesmo

nos casos em que é realizada toda adequação bucal prévia ao início do tratamento oncológico,

o paciente continua sendo acompanhado durante todo o tratamento e por, pelo menos, um ano

após o término da terapia. Foi estabelecida uma metodologia para classificação da adesão,

visto que não foram encontrados estudos com critérios para avaliar a adesão ao tratamento

odontológico em pacientes oncológicos pediátricos (Quadro 1).

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32

Categoria Critérios

Adesão integral

Pacientes que compareceram à avaliação odontológica

inicial e finalizaram os procedimentos odontológicos ao

longo do tratamento oncológico, de acordo com a

proposta de tratamento. As faltas/ausências dos pacientes

deste grupo foram justificadas por intercorrências médicas

e/ou internações.

Neste grupo, o reagendamento das consultas

odontológicas foi realizado por iniciativa do familiar ou

responsável.

Adesão parcial

Pacientes que compareceram à avaliação inicial

odontológica e finalizaram os procedimentos

odontológicos ao longo do tratamento oncológico, mas

apresentaram faltas/ausências não justificadas.

Neste grupo, o reagendamento das consultas odontológicas

necessitou ser realizado pelo cirurgião dentista.

Não adesão

Pacientes que não compareceram a nenhuma consulta

odontológica OU que compareceram a avaliação

odontológica inicial, mas não concluíram o tratamento

odontológico proposto.

4.4 Análise Estatística

O banco de dados foi construído com o editor de planilhas Microsoft Office Excel® e

os dados foram analisados com o software STATA versão 13.0. Para verificar a associação

entre variáveis categóricas foi utilizado o teste do Qui-quadrado ou teste Exato de Fisher.

Foi realizada estatística descritiva dos dados, com apresentação da distribuição de

frequências, medidas de tendência central e medidas de dispersão. Para todos os testes

estatísticos foi adotado um nível de significância de 5% (p<0.05).

Quadro 1. Categorias de adesão ao tratamento odontológico em pacientes pediátricos

submetidos ao tratamento antineoplásico para tumores sólidos e linfomas.

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33

4.5 Aspectos Éticos

Foram rigorosamente cumpridos todos os aspectos éticos, especificamente

determinados pelas diretrizes e normas da Resolução 466/12, do Conselho Nacional de

Saúde. Como o presente estudo é retrospectivo e as informações foram obtidas a partir de

registros de prontuários, sem expor o paciente a riscos, solicitamos ao Comitê de Ética em

Pesquisa do CIB a dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi

aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do CIB sob protocolo (CAAE:

51995415.5.0000.5376) (Anexo III)

Para preservar a identidade do paciente, o formulário de coleta de dados não continha

o nome completo, apenas as iniciais. Os dados foram armazenados em arquivo no Microsoft

Office Excel®.

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34

5. RESULTADOS

No período do estudo foram admitidas 356 crianças e adolescentes para investigação e

tratamento oncológico no CIB. Após avaliação dos critérios de exclusão, foram considerados

elegíveis 147 pacientes (Figura 8).

A idade dos pacientes variou de 0 a 20 anos, com média de 6,7 anos e mediana de 5

anos. A maioria dos indivíduos pertencia ao grupo de idade entre 0 e 4 anos (49%), eram do

sexo masculino (57,1%), residiam no Estado de São Paulo (79,6%) e não permaneceram em

Campinas durante o tratamento (64%). Os dados de escolaridade mostraram que 38% das

mães estudaram por 12 anos. Em relação à condição oral, 70% dos indivíduos não

apresentavam cáries ao exame odontológico inicial e 21,8% apresentaram até 25% de dentes

cariados. As características sociodemográficas da população são apresentadas na Tabela 1.

Figura 8 – Processo de seleção dos pacientes para a população estudada.

Figura 8 – Processo de seleção dos pacientes para a amostra estudada.

Admitidos para investigação

e tratamento oncológico:

356 crianças e adolescentes

103 com diagnósticos não oncológicos;

79 Leucemias ou outras neoplasias hematológicas;

12 realizaram parte do tratamento fora do Boldrini;

02 recidivas de tratamentos realizados fora do

Boldrini;

05 vieram para 2° opinião;

01 foi tratar em outro hospital;

01 foi a óbito no dia seguinte à internação;

06 tiveram como tratamento único a cirurgia, e esta foi

realizada em outra instituição.

Não oncológicos = 95

(n) = 147 crianças e

adolescentes com

tumores sólidos e

linfomas, tratadas no

Centro Infantil Boldrini

Excluídos

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35

Variável Categoria Total

n %

Grupo etário (anos) 0- 4 72 49,0

5-9 30 20,4

10-14 19 12,9

15-20 26 17,7

Sexo Masculino 84 57,1

Feminino 63 42,9

Estado de procedência São Paulo 117 79,6

Minas Gerais 16 10,9

Rio de Janeiro 04 2,7

Acre 04 2,7

Bahia 02 1,3

Amazonas 01 0,7

Rondônia 01 0,7

Espírito Santo 01 0,7

Santa Catarina 01 0,7

Grau de escolaridade da mãe* (n=145) Até 8 anos de estudo 40 27,5

Nove anos de estudo 13 9,0

Entre 10 e 11 anos de estudo 08 5,5

Doze anos de estudo 55 38,0

Entre 13 e 15 anos de estudo 03 2,0

Acima de 15 anos de estudo 26 18,0

Permanência em Campinas durante o

tratamento oncológico

Sim 53 36,0

Não 94 64,0

Cáries ao exame odontológico inicial Sem cáries

Até 25% de dentes com cáries

26 a 50% de dentes com cáries

Bebês (sem dentes erupcionados)

Faltaram à consulta inicial

82

32

03

21

09

55,8

21,8

2,0

14,3

6,1

* Não foi possível identificar o grau de escolaridade de duas mães.

O grupo com maior prevalência foi o de TSNC (24,5%), seguido pelos linfomas (LH e

LNH) (17,7%), tumores ósseos malignos (12,3%) e neuroblastomas (11,6%). A distribuição

dos grupos diagnósticos é apresentada na Tabela 2.

Tabela 1 - Distribuição das características sociodemográficas e odontológicas dos pacientes

com tumores sólidos e linfomas (01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012, CIB).

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36

Grupo ao diagnóstico segundo ICCC* Total

n %

II. Linfomas 26 17,7

III. SNC e miscelânia de neoplasias intracranianas e intraespinhais 36 24,5

IV. Neuroblastoma e outros tumores de células nervosas periféricas 17 11,6

V. Retinoblastoma 09 6,1

VI. Tumores renais 12 8,2

VII. Tumores hepáticos 03 2

VIII. Tumores ósseos malignos 18 12,3

IX. Tecidos moles e outros sarcomas extra-ósseos 10 6,8

X. Tumores de células germinativas, tumores trofoblásticos, e neoplasias

gonadais 08 5,4

XI. Outros neoplasmas epiteliais malignos, melanomas malignos e

carcinomas de cortéx-adrenal 08 5,4

*International Classification of Childhood Cancer (ICCC), third edition. O Grupo I: Leucemias, doenças

mieloproliferativas e doenças mielodisplásicas foi excluído do estudo.

Tabela 2 - Distribuição das neoplasias na infância e adolescência, de acordo com o

grupo diagnóstico (ICCC*), dos pacientes com tumores sólidos e linfomas (01 de

janeiro a 31 de dezembro de 2012, CIB).

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37

Cento e vinte pacientes (81,6%) foram submetidos à QT e 39 (26,5%) receberam RT

em cabeça e pescoço. A distribuição das modalidades terapêuticas é apresentada na Tabela 3.

Variável Total

n %

Cirurgia

Sim

Não

102

45

69,4

30,6

Quimioterapia

Sim

Não

120

27

81,6

18,4

Radioterapia

Sim

Não

65

82

44,2

55,8

TCTH

Sim

Não

06

141

4,1

95,9

Quimioterapia concomitante à radioterapia em CP

Sim

Não

17

130

11,6

88,4

Esquema quimioterápico concomitante à radioterapia em CP

Não fez

Carbo + VCR

VBL

VCR + Ifo + VP16+ ACT-D + CTX

VCR + Ifo + VP16

Ifo + Carbo + VP16

22

11

01

02

02

01

56,4

28,2

2,6

5,1

5,1

2,6

TCTH = Transplante de Células Tronco Hematopoéticas; CP = cabeça e pescoço; Carbo = carboplatina; VCR =

vincristina; VBL = vimblastina; Ifo = ifosfamida; VP16 = etoposide; ACT-D = Actinomicina ou Dactinomicina;

CTX = ciclofosfamida

Dentre os agentes quimioterápicos utilizados, as drogas com maior prevalência foram

Carboplatina, Ciclofosfamida, Cisplatina, Doxorrubicina, Etoposide, Ifosfamida e Vincristina,

conforme demonstrado na Tabela 4.

Tabela 3 - Distribuição das modalidades terapêuticas utilizadas em pacientes com tumores

sólidos e linfomas (01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012, CIB).

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38

Variável Categoria Total

n %

Actinomicina

Sim

Não

17

130

11,6

88,4

Citarabina

Sim

Não

09

138

6,1

93,9

Asparaginase

Sim

Não

02

145

1,4

98,6

Bleomicina Sim

Não

05

142

3,4

96,6

Busulfan Sim

Não

05

142

3,4

96,6

Carboplatina

Sim

Não

39

108

26,5

73,5

Ciclofosfamida

Sim

Não

43

104

29,2

70,8

Cisplatina

Sim

Não

32

115

21,8

78,2

Dacarbazina Sim

Não

05

142

3,4

96,6

Daunorrubicina

Sim

Não

02

145

1,4

98,6

Doxorrubicina Sim

Não

62

85

42,2

57,8

Etoposide Sim

Não

75

72

51

49

5- Fluorouracil

Sim

Não

01

146

0,7

99,3

Ifosfamida

Sim

Não

46

101

31,3

68,7

Irinotecan

Sim

Não

01

146

0,7

99,3

Melfalan

Sim

Não

05

142

3,4

96,6

6-Mecaptopurina

Sim

Não

02

145

1,4

98,6

Metotrexate Sim

Não

17

130

11,6

88,4

Mitotane

Sim

Não

03

144

02

98

Procarbazina

Sim

Não

09

138

6,1

93,9

Vimblastina

Sim

Não

06

141

4,1

95,9

Vincristina Sim

Não

78

69

53,1

46,9

Tabela 4 - Distribuição da frequência dos tipos de quimioterápicos

utilizados em pacientes com tumores sólidos e linfomas (01 de janeiro a 31

de dezembro de 2012, CIB).

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39

De acordo com os critérios para análise da adesão ao tratamento odontológico

apresentados no Quadro 1, 55 pacientes (37,41%) aderiram integralmente, 49 (33,3%)

parcialmente e 43 (29,3%) não aderiram ao tratamento odontológico proposto pelo CIB.

68 pacientes (46,3%) apresentaram complicações orais e a mais frequente foi a MO

(28,6%). Dentre os pacientes que desenvolveram MO, 47,6% apresentaram o grau I e 9,5%

apresentaram o grau IV. As demais complicações orais estão descritas na Tabela 5. Nenhum

dos pacientes apresentou infecção decorrente de erupção dentária/pericoronarite durante o

período do estudo.

Complicações orais Total

n %

Complicação oral geral

Sim

Não

68

79

46,3

53,7

Complicações simultâneas*

Sim

Não

7

137

4,9

95,1

Complicações de diferentes tipos**

Sim

Não

32

114

21,9

78,1

Mucosite oral

Sim

Não

42

105

28,6

71,4

Grau máximo de mucosite oral*** (n=42)

I

II

III

IV

20

17

01

04

47,6

40,5

2,4

9,5

Infecção viral

Sim

Não

19

128

12,9

87,1

Infecção fúngica

Sim

Não

13

134

8,8

91,2

Infecção por cárie

Sim

Não

01

146

0,7

99,3

Tabela 5 - Prevalência das complicações orais em pacientes com

tumores sólidos e linfomas (01 de janeiro a 31 de dezembro de

2012, CIB).

* foram consideradas complicações simultâneas àquelas cujos episódios

ocorreram no mesmo momento do tratamento oncológico;

** foram consideradas complicações de diferentes tipos quando ocorreu

mais de uma complicação oral diferente durante o tratamento oncológico;

*** somente 42 pacientes apresentaram mucosite oral.

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40

Tabela 6 - Associação entre complicações orais e variáveis sociodemográficas, de tratamento

oncológico e odontológicas em pacientes com tumores sólidos e linfomas (01 de

janeiro a 31 de dezembro de 2012, CIB).

Continua.

Variável Complicação oral (%) Valor p

Não Sim

Adesão ao tratamento odontológico*

Não aderiu

Parcial

Integral

16 (37,2)

25 (51)

38 (69,1)

27 (62,8)

24 (49)

17 (30,9)

0,006

Cáries ao exame odontológico inicial*1

(n=117)

Não

Sim

45 (54,9)

13 (37,1)

37 (45,1)

22 (62,9)

0,079

Sexo*

Masculino

Feminino

47 (56)

32 (50,8)

37 (44,1)

31 (49,2)

0,535

Faixa etária (anos)*

0-4

5-9

10-14

15-20

45 (62,5)

15 (50)

08 (42,1)

11 (42,3)

27 (37,5)

15 (50)

11 (57,9)

15 (57,7)

0,188

Permanência em Campinas durante o

tratamento*

Não

Sim

53 (56,4)

26 (49,1)

41 (43,6)

27 (50,9)

0,392

TCTH**

Não

Sim

79 (56)

0 (0)

62 (44)

06 (100)

0,009

Radioterapia concomitante à

quimioterapia**

Não

Sim

76 (58,5)

3 (17,7)

54 (41,5)

14 (82,4)

0,002

Radioterapia*

Sem radioterapia

Radioterapia não CP

Radioterapia CP

51 (63)

12 (44,4)

16 (41)

30 (37)

15 (55,6)

23 (59)

0,044

Quimioterapia**

Não

Sim

27 (100)

52 (43,3)

0 (0)

68 (56,7)

< 0,001

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41

Tabela 6 - Associação entre complicações orais e variáveis sociodemográficas, de tratamento

oncológico e odontológicas em pacientes com tumores sólidos e linfomas (01 de

janeiro a 31 de dezembro de 2012, CIB).

Continua.

Variável Complicação oral (%) Valor p

Não Sim

Vincristina*

Não

Sim

45 (65,2)

34 (43,6)

24 (34,8)

44 (56,4)

0,009

Carboplatina*

Não

Sim

60 (55,6)

19 (48,7)

48 (44,4)

20 (51,3)

0,463

Actinomicina*

Não

Sim

69 (53,1)

10 (58,8)

61 (46,9)

07 (41,2)

0,655

Etoposide*

Não

Sim

45 (62,5)

34 (45,3)

27 (37,5)

41 (54,7)

0,037

Ifosfamida*

Não

Sim

62 (61,4)

17 (37)

39 (38,6)

29 (63)

0,006

Cisplatina*

Não

Sim

66 (57,4)

13 (40,6)

49 (42,6)

19 (59,4)

0,092

Doxorrubicina*

Não

Sim

51 (60)

28 (45,2)

34 (40)

34 (54,8)

0,075

Ciclofosfamida*

Não

Sim

61 (58,7)

18 (41,9)

43 (41,4)

25(58,1)

0,063

Procarbazina**

Não

Sim

75 (54,4)

4 (44,4)

63 (45,7)

5 (55,6)

0,733

Mitotane**

Não

Sim

77 (53,5)

02 (66,7)

67 (46,5)

01 (33,3)

1,000

Bleomicina**

Não

Sim

75 (52,8)

04 (80)

67 (47,2)

01 (20)

0,374

Vimblastina**

Não

Sim

75 (53,2)

04 (66,7)

66 (46,8)

02 (33,3)

0,686

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42

Tabela 6 - Associação entre complicações orais e variáveis sociodemográficas, de tratamento

oncológico e odontológicas em pacientes com tumores sólidos e linfomas (01 de

janeiro a 31 de dezembro de 2012, CIB).

Conclusão.

Variável Complicação oral (%)

Valor p Não Sim

Dacarbazina**

Não

Sim

75 (52,8)

04 (80)

67 (47,2)

01 (20)

0,374

Daunorrubicina**

Não

Sim

79 (54,5)

0 (0)

66 (45,5)

02 (100)

0,212

Asparaginase**

Não

Sim

79 (54,5)

0 (0)

66 (45,5)

02 (100)

0,212

Metotrexate**

Não

Sim

78 (60)

01 (5,9)

52 (40)

16 (94,1)

< 0,001

Citarabina**

Não

Sim

78 (56,5)

1 (11,1)

60 (43,5)

08 (88,9)

0,012

6-Mercaptopurina**

Não

Sim

79 (54,5)

0 (0)

66 (45,5)

02 (100)

0,212

Busulfan**

Não

Sim

79 (55,6)

0 (0)

63 (44,4)

05 (100)

0,020

Melfalam**

Não

Sim

79 (55,6)

0 (0)

63 (44,4)

05 (100)

0,020

Irinotecan**

Não

Sim

79 (54,1)

0 (0)

67 (45,9)

01 (100)

0,463

5-Fluorouracil **

Não

Sim

78 (53,4)

01 (100)

68 (46,6)

0 (0)

1,000

* Teste do Qui-Quadrado;

** Teste Exato de Fisher; 1Foram incluídos na análise apenas 117 pacientes que apresentaram cáries ao exame

odontológico inicial (09 pacientes não compareceram à consulta inicial e 21 eram bebês que

ainda não possuíam dentes erupcionados).

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43

Variável

Adesão ao tratamento odontológico (%) Valor p

Não aderiu Parcial Integral

Sexo*

Masculino

Feminino

31 (36,9)

12 (19,1)

25 (29,8)

24 (38,1)

28 (33,3)

27 (42,9)

0,062

Faixa etária (anos)*

0-4

5-9

10-14

15-20

20 (27,9)

06 (20)

05 (26,3)

12 (46,2)

25 (34,7)

11 (36,7)

06 (31,6)

07 (26,9)

27 (37,5)

13 (43,3)

08 (42,1)

07 (26,9)

0,523

Estado de procedência*

São Paulo

Outros Estados

33 (28,2)

10 (33,3)

41 (35)

08 (26,7)

43 (36,8)

12 (40)

0,676

Grau de escolaridade da mãe * (n=145) 1

Ensino Fundamental

Ensino Médio

Ensino Superior

18 (34)

18 (28,6)

06 (20,7)

17 (32,1)

20 (31,8)

12 (41,4)

18 (34)

25 (39,7)

11 (37,9)

0,732

Permanência em Campinas durante o

tratamento*

Não

Sim

29 (30,9)

14 (26,4)

28 (29,8)

21 (39,6)

7 (39,4)

18 (34)

0,478

Cáries ao exame odontológico inicial*

Não

Sim

9 (11)

13 (37,1)

35 (42,7)

11 (31,4)

38 (46,3)

11 (31,4)

0,004

Radioterapia*

Não

Sim

24 (29,6)

19 (28,8)

26 (32,1)

23 (34,9)

31 (38,3)

24 (36,4)

0,939

Radioterapia*

Sem radioterapia

Radioterapia não CP

Radioterapia CP

24 (29,6)

10 (37)

09 (23,1)

26 (32,1)

11 (40,7)

12 (30,8)

31 (38,3)

06 (22,2)

18 (46,2)

0,392

Quimioterapia*

Não

Sim

06 (22,2)

37 (30,8)

08 (29,6)

41 (34,2)

13 (48,2)

42 (35)

0,425

Radioterapia concomitante à quimioterapia*

Não

Sim

35 (26,9)

08 (47,1)

44 (33,9)

05 (29,4)

51 (39,2)

04 (23,5)

0,206

Tabela 07 - Associação entre adesão ao tratamento odontológico e variáveis

sociodemográficas e clínicas em pacientes com tumores sólidos e linfomas (01 de janeiro a 31

de dezembro de 2012, CIB).

* Teste do Qui-Quadrado; CP= cabeça e pescoço;

1 Não foi possível identificar o grau de escolaridade de 02 mães.

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44

Os autores observaram que a maior adesão ao tratamento odontológico foi associada à

menor presença de complicações orais (p=0,006), além de associação estatisticamente

significativa entre complicações orais e TCTH (p=0,009), radioterapia (p=0,008),

quimioterapia (p<0,001) e alguns agentes quimioterápicos. Os resultados estão demonstrados

na Tabela 6.

A análise das variáveis sociodemográficas e clínicas que influenciam na adesão ao

tratamento odontológico identificou que a presença de cáries à avaliação odontológica inicial

foi associada à menor adesão ao tratamento odontológico (p=0,004). Para as demais variáveis

analisadas, não houve associação estatisticamente significativa, conforme demonstrado na

Tabela 7.

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45

6. DISCUSSÃO

A relevância do presente estudo se faz em face da escassez de estudos sobre o tema

adesão a tratamento odontológico. Até onde pudemos pesquisar na literatura, este é o primeiro

trabalho a avaliar a adesão ao tratamento odontológico em uma coorte retrospectiva de

pacientes oncológicos pediátricos e adolescentes com tumores sólidos e linfomas,

evidenciando assim o ineditismo desta temática.

Por definição, segundo a OMS, adesão é o conjunto de ações que levam a uma melhor

qualidade de vida, através da adoção de hábitos saudáveis associado a tratamentos preventivos

e curativos. Desse modo, a equipe de saúde é corresponsável em estabelecer vínculos com o

paciente para melhor adesão ao tratamento61

.

O atendimento odontológico regular tem um impacto positivo na saúde bucal29,62

e a

adesão não é uma questão estritamente individual, mas que apresenta-se em múltiplas

dimensões. Na infância, por exemplo, a adesão das crianças às consultas odontológicas é

influenciada diretamente pela percepção e motivação dos seus pais em cumprir o tratamento

indicado e seu potencial em transpor as barreiras identificadas63

.

Sob esse ponto de vista, Ardenghi et al.64

e Goettems et al.65

observaram que o uso

dos serviços odontológicos é menor em crianças cujas mães apresentam baixa escolaridade e

piores condições econômicas. Sob outra perspectiva, vale ressaltar também que hábitos

familiares inadequados podem influenciar negativamente na contrução dos comportamentos e

atitudes das crianças, independente do poder aquisitivo da família às quais estão inseridas. É

na infância que os hábitos são criados e, portanto, os familiares exercem papel fundamental

nesse processo63

.

A adolescência é a fase da construção da autonomia do indivíduo, da adoção de

práticas que antes eram determinadas principalmente pelos pais ou responsáveis66

. É nessa

fase que os hábitos de saúde geral e bucal devem ser reforçados. Nesse cenário de

transformações, os adolescentes podem se tornar mais vulneráveis a comportamentos que

prejudicam a saúde. Em se tratando da saúde bucal, os hábitos alimentares e a negligência

com a higiene oral são fatores preponderantes para o estabelecimento das doenças bucais67,68

.

O comportamento dos adolescentes frente às mudanças próprias à sua nova inserção

etária depende da sua vulnerabilidade individual, que é um dos fatores que pode influenciar na

adesão ao tratamento odontológico. Nesse novo contexto de vida, as vulnerabilidades se

fragmentam em três dimensões que estão inter-relacionadas: a social, em que o sistema

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46

produtivo exige maturidade do adolescente; a individual, que se refere às características

próprias do indivíduo e a programática ou institucional, relacionada à escassez ou inexistência

de políticas e ações voltadas especificamente para essa população66,69

.

Algumas barreiras autoidentificadas pelos adolescentes do estudo de Aguirre-Zero et

al.67

foram: financeiras (alto custo, falta de seguro saúde), estruturais (horários restritos em

consultórios dentários, horários de trabalho e escola que limitam oportunidades para buscar os

cuidados bucais, localização dos consultórios dentários) e pessoais (ansiedade, incoerência

entre necessidades percebidas versus recomendações, apatia).

A não adesão ao tratamento está relacionada com o manifestação e agravamento das

doenças bucais, impactando negativamente na qualidade de vida70

. A escolha de aderir ao

tratamento odontológico é uma decisão do indivíduo e os motivos para essa escolha são

subjetivos.

A compreensão dos fatores que interferem na adesão ao tratamento odontológico é

essencial para direcionar as práticas de atenção ao cuidado e, consequentemente, melhorar a

qualidade de vida e sobrevida dos pacientes. A partir dessa perspectiva, torna-se fundamental

compreender os motivos pelos quais crianças e adolescentes, previamente encaminhados para

tratamento odontológico, aderiram ou não ao cuidado odontológico. Segundo Badri et al.63

os

profissionais de odontologia devem identificar as barreiras e facilitadores da adesão dos pais

às visitas odontológicas regulares de seus filhos. Em relação ao grupo de adolescentes, ao

conhecer essas características e os fatores que interferem na adesão ao tratamento, é possível

melhorar as ações preventivas nessa população, trazendo mudanças no comportamento que

podem levar à atitudes positivas71

. Não nos adentramos nos fatores que podem contribuir ou

dificultar a adesão, apesar de considerar seu entendimento fundamental para melhor

compreensão do processo envolvido. Sugere-se, portanto, estudos prospectivos nesse âmbito,

com o objetivo de melhorar a percepção dessas condições que estão inter-relacionadas ao

processo de adesão.

Não foram encontrados, na literatura consultada, estudos que pesquisassem a

associação entre a adesão ao tratamento odontológico e complicações orais em pacientes

oncológicos pediátricos e adolescentes. O presente trabalho demonstrou que a menor adesão

ao tratamento odontológico está associada ao maior desenvolvimento de complicações orais.

Morais et al.72

avaliaram a adesão à protocolos de cuidados orais em pacientes adultos com

câncer em cabeça e pescoço e seu impacto sobre os resultados do tratamento oncológico. O

autores observaram maiores taxas de sobrevida nos pacientes com maior adesão às medidas

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oferecidas. Embora o prognóstico do tumor esteja diretamente relacionado às suas

características clínico patológicas e ao protocolo de tratamento, os resultados sugeriram que

melhores condições orais podem ter impacto favorável nos efeitos do tratamento. No entanto,

a diferença nas populações avaliadas e na metodologia utilizada dificulta a comparação dos

resultados.

A partir da observação de que pacientes com melhor adesão apresentaram menos

complicações, procuramos identificar quais seriam os fatores associados à adesão. No entanto,

não foram encontrados artigos que avaliassem esses fatores em pacientes pediátricos e

adolescentes com câncer. É consenso que o controle odontológico regular gera impacto

positivo na saúde oral, entretanto, o acesso varia entre diferentes populações de acordo com a

disponibilidade de serviços odontológicos, assim como suas crenças, atitudes e percepções73

.

Um estudo qualitativo que avaliou adolescentes saudáveis identificou que as principais

justificativas para a não adesão ao tratamento odontológico proposto estavam associados à

ausência de importância dada ao atendimento, não sendo considerado urgente ou interessante

na vida deles. A maioria dos adolescentes busca o atendimento mais por questões estéticas

(exemplo: aparelhos ortodônticos) ou quando a dor dentária já está instalada74

. Freddo71

observou que a adesão ao tratamento odontológico esteve mais associada a comportamentos

individuais e àqueles que remetem ao comportamento do grupo específico dos amigos do que

fatores socioeconômicos, caracterizando-se por uma questão individual, subjetiva e não, uma

soma de fatores. Também relatou que, como alguns adolescentes já estão inseridos no

mercado de trabalho, tornam-se responsáveis por tomar suas próprias decisões, interferindo

nas suas escolhas e estilo de vida. Além disso, outro motivo que os influenciou na adesão ao

tratamento foi o vínculo formado com o profissional da saúde.

Embora neste estudo o status socioeconômico não tenha sido amplamente avaliado,

outros autores demonstraram que este desempenha um importante papel na utilização dos

serviços de saúde por pacientes saudáveis. Nesse contexto, Machry et al.75

avaliaram a

associação entre o uso de serviços odontológicos e variáveis psicossociais e socioeconômicas

e observaram que as crianças cujas mães tinham menos de oito anos de estudo foram 13%

mais propensas a nunca terem visitado um dentista, em comparação com as crianças cujas

mães tinham oito ou mais anos de estudo. Entretanto, não encontramos associação entre a

escolaridade materna e a adesão ao tratamento odontológico (p=0,732). Em contrapartida, a

revisão sistemática conduzida por Badri et al.63

identificou associação entre a adesão ao

tratamento odontológico e nível socioeconômico, escolaridade e estado civil dos pais. Outros

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fatores como a percepção dos pais em relação à dentição decídua, menor importância da saúde

oral em relação à saúde geral, insatisfação em atendimentos odontológicos prévios, ansiedade,

alto custo do tratamento, exames escolares e horários das aulas, longas distâncias, listas de

espera, falta de profissionais especializados para atender crianças com alguma deficiência e

aversão infantil às visitas odontológicas foram fatores destacados como impeditivos ao

atendimento odontológico regular por parte de seus filhos. Essas situações, por sua vez,

podem ter um efeito negativo em relação à adesão dos pais às consultas odontológicas dos

seus filhos.

Em nossa pesquisa, não observamos associação entre a adesão e sexo (p=0,062) e

faixa etária (p=0,523) dos pacientes com câncer, ao contrário de estudos realizados com

crianças saudáveis63

. Nenhum dos tipos de terapia antineoplásica foi associado à adesão:

radioterapia (p=0,939), radioterapia em cabeça e pescoço (p=0,392), quimioterapia (p=0425)

e radioterapia concomitante à quimioterapia (p=0,206). Conforme mencionado anteriormente,

não encontramos artigos que avaliassem os fatores que interferem na adesão ao tratamento

odontológico de pacientes pediátricos com câncer, inviabilizando a comparação de nossos

resultados com os de outros autores.

Ardenghi e colaboradores64

avaliaram os fatores preditores da utilização dos serviços

de saúde bucal em crianças pré-escolares saudáveis em uma cidade do Rio Grande do Sul e

demonstraram, dentre outros fatores, que a prevalência da visita odontológica foi associada ao

nível de escolaridade da mãe, além da presença de traumas dentários e cáries. Além disso, o

menor conhecimento sobre a saúde bucal leva a comportamentos pouco saudáveis e ao menor

interesse no tratamento preventivo, o que corrobora em menor adesão ao tratamento75

. Sob

essa perspectiva, acreditamos que a falta do conhecimento sobre a importância do cuidado

odontológico durante o tratamento oncológico, leva muitas crianças e adolescentes a não

aderirem ao tratamento. Muitos pais acreditam apenas na importância do tratamento

oncológico, negligenciado os tratamentos de suporte da equipe multiprofissional. E, com o

serviço de odontologia, essa percepção não é diferente, já que muitas famílias não entendem a

necessidade do seguimento odontológico no contexto da complexidade que é o tratamento do

câncer.

A percepção do cuidador sobre a necessidade de saúde bucal do filho pode influenciar

nas decisões quanto aos cuidados de saúde64,76

e o conhecimento sobre a importância do

cuidado oral preventivo e não somente a visita ao dentista após o aparecimento dos sintomas

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49

ou a presença de problemas bucais já instalados65,76

. Como a adesão em crianças depende

fundamentalmente dos pais, consideramos que sua percepção é de extrema importância para o

sucesso do tratamento odontológico e o grau de escolaridade da mãe pode influenciar nessa

percepção, elevando a chance de sucesso na condução do tratamento odontológico, porém,

isso não se confirmou. Uma possível explicação é a pouca heterogeneidade na estratificação

da escolaridade materna, em nossa casuística. Devido ao fato de não haver nessa amostra uma

faixa de escolaridade muito ampla, torna-se mais difícil de se observar as possíveis

associações entre escolaridade materna e a adesão.

No Brasil, o atendimento odontológico está previsto nas políticas públicas de atenção

ao paciente com câncer. O fato de o hospital possuir consultórios odontológicos e trabalhar de

forma transdisciplinar, orientando as famílias sobre a necessidade do cuidado oral como parte

do tratamento oncológico, pode ter contribuído para o entendimento familiar quanto à

importância do seguimento odontológico. Em relação à terapia antineoplásica, também

acreditamos que a presença de dentistas no hospital, trabalhando em consonância com a

equipe médica e identificando os momentos adequados para a intervenção odontológica,

possa ter colaborado para que o tipo de tratamento não influenciasse na adesão, embora este

aspecto não tenha sido investigado.

Apesar de o Brasil ser um país de grandes dimensões territoriais e o CIB atender a

crianças e adolescentes de todo o território nacional, o Estado de procedência do paciente e a

permanência na cidade de Campinas durante o tratamento não foram associados à adesão ao

tratamento odontológico (p=0,676 e p=0,478, respectivamente). A maioria dos pacientes cujo

domicílio é muito distante do hospital, inviabilizando viagens constantes, fica hospedada em

casas de apoio vinculadas e próximas ao CIB, sem custo para a família e com transporte

regular para as consultas médicas e multiprofissionais. Para os pacientes que podem

permanecer em suas residências durante o tratamento, comparecendo ao hospital somente

para consultas e eventuais intercorrências, o sistema de saúde público brasileiro disponibiliza

o transporte até o hospital. Sob nosso ponto de vista, esses são agentes facilitadores para a

adesão ao tratamento antineoplásico, de forma geral, incluindo os tratamentos de suporte.

Na casuística avaliada, foi observado que a maior presença de cáries ao exame

odontológico inicial foi associada à menor adesão ao tratamento odontológico (p=0,004). É

possível que famílias de pacientes que já possuíam hábitos inadequados de cuidados orais

tendem a apresentar maior dificuldade em considerar o tratamento odontológico como algo

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importante e em modificar hábitos deletérios. No entanto, não investigamos essa hipótese e

sua comprovação depende de análise mais abrangente, com investigação de outras variáveis.

Embora estudos investigando o impacto da adesão à terapia odontológica sejam

escassos, diversos autores14,28,29,34,62,77

consideram que a saúde bucal inadequada pode ser

considerada fator de risco para o desenvolvimento de complicações orais. Estes autores

enfatizam a importância da saúde bucal para a prevenção e diminuição dos efeitos secundários

da terapia antineoplásica na cavidade oral. Yavuz e Yilmaz78

demonstraram que um programa

de cuidados orais especialmente desenhado para pacientes pediátricos, associado à avaliações

regulares, pode reduzir a intensidade e a dor associada à mucosite. Sob outra perspectiva,

Cheng et al.25

consideraram que a presença de maior número de doenças orais, como cáries,

por exemplo, leva a condições desfavoráveis que aumentam o risco de manifestações orais

durante a QT. Entretanto, nós não observamos, na população estudada, associação entre a

presença de cáries ao exame odontológico inicial e o desenvolvimento de complicações orais

(p=0,079). Uma possível explicação é que, como os pacientes recebem tratamento

odontológico desde o início do tratamento oncológico e mantiveram os cuidados orais

domiciliares, a maioria dos pacientes, dificilmente, apresentaria cáries em curto espaço de

tempo.

A casuística deste estudo apresentou distribuição de idade e sexo, com prevalência do

sexo masculino, resultado este similar ao de outros autores que avaliaram complicações orais

em oncologia pediátrica14,15,24,25

. Não observamos associação estatisticamente significativa

entre o sexo e complicações orais (p=0,535), em acordo com os resultados encontrados por

Cheng et al.25

(p=0,0819) e Otmani et al.24

(p=0,06). Em relação à idade, também não foi

identificada associação significativa nos pacientes analisados (p=0,188), da mesma forma que

Otmani et al.24

(p=0,38). Ao avaliarmos se a permanência na cidade de Campinas esteve

associada ao desenvolvimento de complicações orais, não observamos associação

estatisticamente significativa (p=0,392), no entanto, não encontramos estudos que avaliassem

a relação entre a permanência, durante o tratamento oncológico, na cidade onde o centro de

tratamento se localiza e o desenvolvimento de complicações orais.

As complicações orais nas populações pediátricas e de adolescentes com câncer são

relativamente pouco estudadas. Aproximadamente 40% dos pacientes adultos com câncer e

mais de 90% das crianças abaixo dos 12 anos de idade submetidas a tratamento oncológico

têm manifestações orais que, direta ou indiretamente, decorrem da estomatotoxicidade15

.

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Complicações orais como mucosite, infecções, sangramento e xerostomia manifestam-se de

diferentes formas e graus de intensidade. Esses efeitos adversos na cavidade oral podem ser

dolorosos, provocando desconforto para se alimentar e ingerir líquidos, promovendo

interrupções e interferindo na adesão ao tratamento14,15,72

. De acordo com a AAPD12

, a cavidade

oral é uma fonte potencial de infecção sistêmica em pacientes imunossuprimidos e, nesse

sentido, estudos como o de Elad et al.29

e Morais et al.72

apontam que a remoção de quaisquer

fontes de infecção oral, antes ou durante a terapia do câncer, associada à manutenção da

higiene oral reduzem significativamente o índice de complicações orais e sistêmicas. Vale

salientar, no entanto, que nem sempre é possível finalizar a adequação do meio bucal

previamente à primeira QT. Para os pacientes que têm planejamento de RT em região de

cabeça e pescoço ou TCTH torna-se mandatório que o CD realize toda a adequação da

cavidade oral prévia ao início do tratamento oncológico e isso faz parte do protocolo de rotina

do CIB. Esse fato é justificado, essencialmente, pelo período prolongado de imunossupressão

e queda importante dos índices hematológicos, aos quais o paciente estará sujeito após ser

submetido ao regime de condicionamento quimioterápico prévio ao TCTH. E, em relação à

importância da adequação bucal prévia à RT, é importante destacar que o dano causado por

esta modalidade terapêutica, diferentemente da QT, tende a ser permanente9. Logo, o paciente

após tratamento radioterápico em cabeça e pescoço apresentará algumas restrições quanto à

realização de procedimentos odontológicos invasivos. Nesse sentido, a dose total recebida

pelas estruturas orais deve ser considerada na programação de intervenções odontológicas

durante e após o término de terapia antineoplásica e isso fundamenta a importância do

seguimento odontológico.

A mucosite foi a complicação oral mais frequente (28,1%) em nosso estudo. Este

resultado é similar aos encontrados por alguns autores15,28

, mas discrepante de outros14,24

. A

maior parte desses estudos avaliou também pacientes com Leucemia, em contraste com a

nossa casuística. Ao analisar separadamente os grupos, Gandhi et al.14

identificaram que

pacientes com tumores sólidos apresentaram mucosite em 57% dos casos, quase o dobro da

prevalência observada no presente estudo. Em relação aos graus de severidade da MO,

Aggarwal et al.51

observaram uma elevada porcentagem de mucosite com maior grau de

severidade, com grau III em 65,6 % dos casos e grau IV em 46 % dos casos, diferentemente

do presente estudo, cujas porcentagens de MO de maior severidade (graus III-IV OMS) foram

2,4 % e 9,5 %, respectivamente. No estudo de Otmani et al.24

, dos 540 pacientes com MO,

366 (67,7%) desenvolveram MO leve a moderada (graus I-II OMS) e 174 (32,3%)

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52

desenvolveram MO severa (graus III-IV OMS). Vale destacar que os pacientes com

malignidades hematológicas foram mais propensos a desenvolver graus mais severos do que

aqueles com tumores sólidos.

Foi observada baixa prevalência de infecções fúngicas neste estudo, em acordo com os

resultados observados por Velten et al.15

. Mendonça et al.79

, avaliando 71 pacientes

pediátricos com LLA, identificaram que a prevalência de Candida foi de 25% na fase de

indução e de 15% no D56 do tratamento da Leucemia. As infecções fúngicas em cavidade

oral, particularmente por Candida são observadas principalmente em pacientes neutropênicos

ou em uso prolongado de antibióticos, aumentando o risco de complicações sistêmicas, como

a septicemia14,50

. O estudo de Mendonça et al.79

também foi desenvolvido no CIB e os

pacientes foram atendidos pela mesma equipe de Odontologia. Todos os pacientes receberam

as mesmas orientações de higiene oral e o mesmo tratamento odontológico. Nenhum paciente

recebeu terapia antifúngica profilática. Provavelmente, a diferença na prevalência de Candida

nas duas populações atendidas na mesma Instituição deve-se ao fato de que pacientes com

Leucemia, teoricamente, passam por períodos maiores de imunossupressão.

O VHS é um agente patogênico comum e pode agravar a MO em pacientes pediátricos

com câncer79,80

. Estudos demonstraram a associação entre a presença do VHS com maior

tempo de duração81

e como fator de risco para o MO grave79

. A revisão sistemática realizada

por Elad et al.82

avaliaram os estudos realizados desde 1989 até 2007 que consideraram a

prevalência de infecções virais orais. A prevalência relatada de infecção por VHS oral foi de

49,8 % entre pacientes com câncer e neutropênicos. Também foi observado que a prevalência

de infecção por VHS foi maior quando existiam úlceras orais do que quando elas não estavam

presentes. A dor e o desconforto podem contribuir para a redução da ingesta hídrica e de

nutrientes, agravando em alguns casos a desnutrição e desidratação, requerendo

hospitalização29

. Gandhi et al.14

identificaram que 9,7% dos pacientes apresentaram infecções

herpéticas. Esses dados estão em acordo com a prevalência observada em nosso estudo,

porém mais elevada que os números (2,2%) apresentados por Velten et al.15

. Essas diferenças

podem ser justificadas pelas variabilidades no método diagnóstico e entre os avaliadores.

Infecções bacterianas também são observadas em pacientes com câncer e qualquer

infecção odontogênica pode atuar como foco para a ocorrência de uma septicemia32

. A

resposta inflamatória diminuída em períodos de mielossupressão pode mascarar os sinais e

sintomas, dificultando o diagnóstico e levando a graves infecções, particularmente por

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Streptococcus viridans, que são parte da microbiota oral14,39

. Vários estudos afirmam que

alguns episódios sépticos em pacientes neutropênicos estão relacionados com a microbiota da

cavidade bucal30,32,47

. Em nossos resultados, somente 0,7% dos pacientes apresentaram

infecções bacterianas em cavidade oral, de origem odontogênica ou não. Esses dados são

animadores quando comparamos com os de Gandhi et al.14

, cujos pacientes apresentaram

6,5% de infecções dentárias localizadas sugestivas de processos bacterianos. Os cuidados

orais, desde o início do tratamento, e a manutenção do seguimento odontológico, podem ter

colaborado para a baixa prevalência desse tipo de infecção em nossa população. Além disso,

nenhum dos pacientes avaliados (n=147) apresentou infecção decorrente de erupção

dentária/pericoronarite. Isso reflete, em parte, os cuidados e orientações que a família e

paciente recebem em relação à fase de erupção dentária e como diminuir os riscos de infecção

nesse período, através da intensificação da higiene e atenção à qualquer alteração na mucosa.

Diante da vigência dessas complicações, o trabalho de Kubota et al.83

consistiu em

avaliar os benefícios que os profissionais de saúde bucal podem trazer para os pacientes que

apresentam MO severa no decurso da QT e/ou RT em cabeça e pescoço. Os autores

observaram que os CD podem contribuir com a redução do uso contínuo de opióides e

encurtar o tempo de internação hospitalar, através da contribuição no controle de infecções

orais. Nesse sentido, Albert et al.49

sugeriram que a realização de exames clínicos

odontológicos regulares, a vigilância com a microbiota oral e a aplicação de medidas

profissionais de higiene oral em crianças com câncer podem minimizar a incidência, duração

e severidade das complicações infecciosas.

Por tratar-se de um estudo retrospectivo, a avaliação das infecções fúngicas, virais ou

bacterianas deu-se através do diagnóstico clínico. O desenho de estudo retrospectivo pode

resultar em subnotificação de casos leves de mucosite, sangramento ou xerostomia. Esta

última, por sua vez, é considerada um achado subjetivo, que pode muitas vezes ser pouco

relatado por crianças. Segundo Elad et al.29

, um aspecto particular da disfunção salivar em

crianças é que elas raramente se queixam de secura da boca (xerostomia), mesmo que

objetivamente tenham uma produção salivar muito baixa. Desta forma, considerando que

possa haver subnotificação dessa informação, optamos por não utilizar os dados obtidos a

partir da revisão dos prontuários. O questionamento das crianças e adolescentes pela equipe

envolvida em seu cuidado, e seu adequado registro, quanto aos aspectos que se concentram

em situações cotidianas, pode revelar sinais e sintomas de secura bucal que podem não ser

ditos espontaneamente.

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54

As modalidades de tratamento do câncer na faixa etária pediátrica e adolescência

incluem a cirurgia, QT, RT e TCTH, as quais podem ser administradas isoladamente ou em

combinação20

. Gandhi et al.14

consideram que uma série de fatores significativos relacionados

à terapia antineoplásica, como tipo e dose do quimioterápico, frequência de administração e

uso concomitante com outras modalidades, como a RT, interferem no perfil de toxicidade.

Células que apresentam elevado índice mitótico, como a mucosa bucal, são particularmente

suscetíveis à ação dos agentes antineoplásicos37,38

. A associação entre os agentes

quimioterápicos com o desenvolvimento da MO já está bem estabelecida e, dentre as drogas

associadas à sua maior prevalência encontram-se a Bleomicina, Cisplatina, Ciclofosfamida,

Busulfan, Procarbazina, Arac-C, Doxorrubicina, Etoposide, 5-FU e o MTX24,30,40

,

principalmente quando usadas concomitante aos corticoisteroides.

Neste estudo, foi observada associação entre complicações orais e QT (p<0,001), bem

como com alguns tipos de agentes quimioterápicos, dentre eles o MTX (p<0,001). Essa

observação está de acordo com outros autores23-25

que identificaram taxas de incidência de

MO mais elevadas nos pacientes em uso de MTX. Otmani et al.24

observaram que as terapias

baseadas no uso do MTX estiveram associadas ao risco de desenvolver MO (RR = 1,7; 95%

IC 1.2–2.6). Essa constatação adquire importância quando consideramos que protocolos de

tratamento para diferentes diagnósticos em oncologia pediátrica utilizam o MTX em

diferentes doses e formas de administração. Outros quimioterápicos também apresentaram

associação com o desenvolvimento de complicações orais na população avaliada, como o

Busulfan (p=0,020), Melfalan (p=0,020), Vincristina (p=0,009), Etoposide (p=0,037),

Citarabina (p=0,012) e Ifosfamida (p=0,006) em consonância com os resultados apresentados

por outros autores14,19,40

. Para os demais agentes quimioterápicos analisados, não foi

observada associação estatisticamente significativa.

O TCTH tem sido associado à presença de efeitos citotóxicos diretos e indiretos sobre

os tecidos orais, provocando complicações na cavidade oral29,77,84,85

. Em nossa casuísta essa

associação também foi observada e esse quadro se justifica pela presença da QT

mieloablativa, seguida por período prolongado de queda importante das contagens

hematológicas e imunossupressão.

A cirurgia é outra modalidade terapêutica frequente no tratamento dos tumores

sólidos. Quando realizada isoladamente, geralmente não provoca alterações orais, no entanto,

quando combinada com a QT ou a RT em cabeça e pescoço, pode ocasionar efeitos adversos

orais86

.

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Em relação à RT, foi identificada associação com complicações orais em todos os

aspectos avaliados. É importante ressaltar que a RT provoca alterações bucais apenas quando

atinge a região de cabeça e pescoço43

. Dentre os pacientes que receberam RT em região de

cabeça e pescoço, 59% apresentaram algum afeito adverso oral e essa porcentagem elevou-se

para 82,4% quando a QT e RT foram realizadas concomitantemente. Esses dados corroboram

com a afirmação de que o uso concomitante de duas modalidades terapêuticas relaciona-se

com o desenvolvimento de efeitos adversos, especialmente a MO e infecções fúngicas9,30,87,88

.

Além disso, é importante salientar que alguns quimioterápicos têm seus efeitos

potencializados quando realizados concomitante à RT9

e, dessa forma, para minimizar os

efeitos deletérios, a equipe de Oncologia exclui a referida droga durante o período da RT.

Pacientes pediátricos em tratamento oncológico necessitam serem cuidados de forma

integral, considerando os efeitos secundários à terapia, mas também o impacto psicossocial

sobre a família e a sua capacidade de compreensão do processo. Do ponto de vista biológico,

a prevenção e o tratamento de doenças orais preexistentes ou concomitantes ao tratamento

antineoplásico são necessários para reduzir as complicações orais nessa população. Segundo a

AAPD12

, “a chave para o sucesso na manutenção de uma cavidade oral saudável durante a

terapia do câncer é a adesão do paciente”. Frente à complexidade que é o tratamento do

câncer, o paciente e/ou seus pais podem não considerar os cuidados dentários como uma

prioridade89

, mas também podem se deparar com dificuldades no acesso aos serviços, que

variam de acordo com aspectos sociodemográficos e políticas públicas. Portanto, a presença

do CD na equipe multiprofissional é fundamental para a prevenção, identificação precoce e o

gerenciamento de complicações orais. A partir do estabelecimento de uma rotina institucional

de cuidados orais, é imperativo identificar os fatores que dificultem a adesão ao tratamento

odontológico proposto e, assim, construir estratégias que visem uma maior aderência ao

tratamento, sempre respeitando-se as especificidades da população alvo.

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7. CONCLUSÕES

Este estudo demonstrou que a menor adesão ao tratamento odontológico foi associada

à maior prevalência de complicações orais. Dentre as variáveis clínicas e sociodemográficas

analisadas, a maior presença de cáries ao exame odontológico inicial foi associada à menor

adesão ao tratamento odontológico. Houve associação estatisticamente significativa entre

complicações orais e TCTH, radioterapia, quimioterapia e os seguintes tipos de agentes

quimioterápicos: MTX, Etoposide, Ifosfamida, Citarabina, Vincristina, Busulfan e Melfalan.

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ANEXOS

ANEXO I

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ANEXO II

Graduação Sinais/ Sintomas

Grau 0 (sem mucosite) Sem sintomas

Grau I Eritema de mucosa, ou dor leve. Sintomas respiratórios mínimos,

mas não interferem funcionalmente.

Grau II Eritema doloroso, edema, úlceras ou pseudomembranas, mas o

paciente pode se alimentar. Necessidade de dieta modificada.

Sinais respiratórios interferindo funcionalmente.

Grau III Eritema doloroso, edema, úlceras ou pseudomembranas

confluentes. Sangramento ao menor trauma. O paciente não pode

se alimentar ou ingerir líquidos adequadamente.

Grau IV Úlceras extensas. Necrose tecidual. Sangramento espontâneo

significativo. Necessita de suporte enteral ou parenteral. Risco de

vida.

Grau V Morte

Quadro 1. Classificação do grau de mucosite de acordo com NCI, Common Terminology

Criteria for Adverse Events, versão 3.0.

Cancer Therapy Evaluation Program, Common Terminology Criteria for Adverse Events, Version 3.0,

DCTD, NCI, NIH, DHHS March 31, 2003 Disponível em: http://ctep.cancer.gov. Publish Date:

August 9, 2006. Acesso em: 19 outubro 2015.

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ANEXO III – Parecer Consubstanciado do CEP

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