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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Geociências BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Geociências

BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI

UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS

UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO

CAMPINAS

2019

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BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI

UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS

UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE

GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA

EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

ORIENTADOR: PROF. DR. SÉRGIO ROBLES REIS DE QUEIROZ

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL

DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA

BEATRIZ ANDRADE FLORENCE MARTELLI E

ORIENTADA PELO PROF. DR. SERGIO ROBLES REIS DE

QUEIROZ.

CAMPINAS

2019

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Ficha catalográficaUniversidade Estadual de CampinasBiblioteca do Instituto de Geociências

Marta dos Santos - CRB 8/5892

Martelli, Beatriz Andrade Florence, 1984- M361u MarUnicamp e Cambridge : fatores internos e externos às universidades que

influenciam o empreendedorismo acadêmico / Beatriz Andrade FlorenceMartelli. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

MarOrientador: Sérgio Robles Reis de Queiroz. MarDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Geociências.

Mar1. Empreendedorismo. 2. Universidades e faculdades. 3. Transferência de

tecnologia. 4. Spin-outs acadêmico. 5. Empresas - Inovações tecnológicas. I.Queiroz, Sérgio Robles Reis de, 1956-. II. Universidade Estadual de Campinas.Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Unicamp and Cambridge : internal and external factors to theuniversity that influence academic entrepreneurshipPalavras-chave em inglês:EntrepreneurshipUniversities and collegesTechnology transferAcademic spin-outsBusiness enterprises - Technological innovationsÁrea de concentração: Política Científica e TecnológicaTitulação: Mestra em Política Científica e TecnológicaBanca examinadora:Sérgio Robles Reis de Queiroz [Orientador]Bruno Brandão FischerMariana Nunciaroni Zanatta InglezData de defesa: 24-05-2019Programa de Pós-Graduação: Política Científica e Tecnológica

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0003-4517-0372- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/5710817778053610

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

AUTORA: Beatriz Andrade Florence Martelli

UNICAMP E CAMBRIDGE: FATORES INTERNOS E EXTERNOS ÀS

UNIVERSIDADES QUE INFLUENCIAM O EMPREENDEDORISMO ACADÊMICO

ORIENTADOR: Prof. Dr. Sérgio Robles Reis De Queiroz

Aprovado em: 24 / 05 / 2019

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Sérgio Robles Reis De Queiroz - Presidente

Prof. Dr. Bruno Brandão Fischer

Dra. Mariana Nunciaroni Zanatta Inglez

A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros, encontra-se disponível no

SIGA - Sistema de Fluxo de Dissertação e na Secretaria de Pós-graduação do IG.

Campinas, 24 de maio de 2019.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais Marcos e Helena, pela presença constante e apoio

incondicional aos meus estudos. Ao meu marido André, pelo carinho e compreensão, e à

pequena Sara, por trazer leveza aos nossos dias.

Também agradeço meu orientador, Sergio Queiroz, pela atenção e paciência ao longo

do processo de elaboração dessa dissertação.

À amiga Daniela Pinheiro, pela fé inabalável na minha capacidade de escrever essa

dissertação.

Agradeço aos professores e colegas do DPCT pelas discussões e trocas de

conhecimento; aos funcionários do departamento pelo apoio e ao professor Roberto Lotufo,

pelo estímulo para fazer o mestrado.

Agradeço também o professor Bruno Fischer e a Mariana Zanatta, cujas contribuições

tanto no exame de qualificação quanto na defesa foram essenciais para o resultado final dessa

dissertação.

Por fim, agradeço ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001, pela bolsa concedida.

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RESUMO

Este trabalho visa investigar através de dois estudos de caso os fatores internos e externos às

universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico. Os casos estudados são: Universidade

de Cambridge, no Reino Unido, e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Brasil. A região

no entorno da cidade de Cambridge é um ecossistema empreendedor bastante ativo e é tida como um

dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. Já a região de Campinas é considerada um polo de

alta tecnologia e é associada ao desenvolvimento econômico baseado em ciência, tecnologia, inovação

e empreendedorismo. A partir do referencial teórico, foram selecionados dois itens para orientar o

estudo dos fatores que influenciam o empreendedorismo acadêmico no entorno das universidades em

questão: seus contextos interno e externo. Analisaram-se para ambas as universidades tanto a atividade

empreendedora em si quanto o contexto em que ela ocorre. A isso juntaram-se os resultados de um

levantamento quantitativo não exaustivo de empresas oriundas de ambas instituições para buscar-se

entender seu perfil e traçar semelhanças e diferenças entre os fatores e resultados estudados. O

trabalho conclui que nem todas as diferenças entre os dois ecossistemas apresentados são desmedidas.

Há sim resultados em que há grandes diferenças entre Cambridge e Unicamp, mas há também aqueles

em que há diferenças menores, e ainda vários em que se observa semelhanças, e uma análise detalhada

dos contextos interno e externo às universidades nos ajuda a fundamentar a explicação para a

existência de tais convergências. Destacam-se os paralelos importantes no surgimento e

desenvolvimento do marco legal de inovação de ambas as regiões e também um adensamento a partir

da década de 1990, em ambos os casos, de iniciativas internas e externas às universidades para

estimular e viabilizar a exploração comercial de sua propriedade intelectual e o empreendedorismo

acadêmico.

Palavras-chave: empreendedorismo acadêmico, spin-off universitária, empreendedorismo intensivo

em conhecimento, transferência de tecnologia.

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ABSTRACT

This work analyses, through two case studies, factors internal and external to the university that

influence academic entrepreneurship. The case studies concern the University of Cambridge (United

Kingdom) and Campinas State University (Brazil). The Cambridge area is a very active

entrepreneurship ecosystem and is one of the world’s most important high technology clusters.

Campinas in turn is a high technology hub linked to economic development based on science,

technology, innovation and entrepreneurship. Based on the theoretical framework, two factors were

selected to guide the study of the elements that influence academic entrepreneurship around

universities: internal and external context. For the two universities analysis covered both

entrepreneurial activity itself and the context in which it takes place. In order to better understand the

outcomes and outline similarities and differences in the case studies, the results of a qualitative non-

comprehensive mapping of companies emerging from both universities were also part of the analysis.

The research concluded that not all differences between the two studied ecosystems are excessive. In

some results, there are considerable disparities between Cambridge and Unicamp, however there are

some for which the contrast is much smaller, and also several for which there are similarities. A

detailed assessment of the universities’ internal and external contexts is crucial to substantiate the

explanation for such similarities. Highlights include important parallels in the emergence and

development of innovation law in both regions and the increase after the 1990s, in both cases, of

initiatives inside and outside the universities to foster and enable intellectual property licencing and

academic entrepreneurship.

Keywords: academic entrepreneurship, university spin-off, knowledge intensive entrepreneursip,

technology transfer.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 - Mapa da cidade de Cambridge e localização dos principais parques ................... 58

Gráfico 2.1 Empresas criadas por ano na região de Cambridge .............................................. 51

Gráfico 2.2 Universidade de Cambridge: Empresas criadas por ano e eventos importantes no

marco legal de inovação, na universidade e em seu entorno (1963-2016) ............................... 53

Gráfico 2.3 Quantidade de empresas criadas por ano e de alunos matriculados em graduação

e em pós-graduação na Universidade de Cambridge (1994-2016) ........................................... 54

Gráfico 2.4 quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região de Cambridge

.................................................................................................................................................. 55

Gráfico 2.5 Criação de escritórios de transferência de tecnologia em universidades no Reino

Unido (~1984-2002) ................................................................................................................. 64

Gráfico 2.6 Receita da universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa, pesquisa

contratada, consultoria e comercialização de propriedade intelectual (2003-2016) ................ 67

Gráfico 2.7 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa por

fonte dos recursos (2003-2016) ................................................................................................ 67

Gráfico 2.8 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa contratada por

fonte de recursos (2003 - 2016) ................................................................................................ 68

Gráfico 2.9 Quantidade de licenças assinadas por ano em Cambridge (2007-2016) ............... 74

Gráfico 2.10 Contratos de consultoria assinados por ano e sua respectiva receita (2007-2016)

.................................................................................................................................................. 75

Gráfico 2.11 Quantidade de empresas criadas por ano na região da Unicamp ........................ 82

Gráfico 2.12 Unicamp: Empresas criadas por ano e eventos importantes no marco legal de

inovação, na universidade e em seu entorno (1960-2016) ....................................................... 83

Gráfico 2.13 Número de empresas criadas por ano, de alunos matriculados em graduação e

em pós-graduação na Unicamp (1994-2016)............................................................................ 84

Gráfico 2.14 Quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região da Unicamp 84

Gráfico 2.15 Criação anual de núcleos de inovação tecnológica em Instituições Científicas e

Tecnológicas no Brasil (2007-2016) ........................................................................................ 93

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Gráfico 2.16 Relacionamento de grupos de pesquisa da Unicamp com empresas (2002-2016)

.................................................................................................................................................. 96

Gráfico 2.17 Quantidade e valor dos convênios de pesquisa colaborativa da Unicamp (2003-

2016) ......................................................................................................................................... 97

Gráfico 2.18 Contratos de transferência da Unicamp de tecnologia assinados e vigentes (2003-

2016) ....................................................................................................................................... 103

Gráfico 2.19 Grandes áreas dos grupos de pesquisa da Unicamp ......................................... 105

Gráfico 3.1 Setores de atividade das empresas oriundas da Universidade de Cambridge ..... 111

Gráfico 3.2 Setores de atividade das empresas oriundas da Unicamp ................................... 112

Gráfico 3.3 Quantidade de empresas oriundas de Cambridge e da Unicamp criadas por ano

(1963-2016) ............................................................................................................................ 115

Gráfico 3.4 Quantidade de empresas criadas por ano, de alunos matriculados na pós-

graduação na Unicamp e em Cambridge (1994-2016, tendência) .......................................... 119

Gráfico 3.5 Quantidade de licenças de transferência de tecnologia assinadas por ano na

Universidade de Cambridge e na Unicamp ............................................................................ 123

Gráfico 3.6 Porcentagem de alunos estrangeiros de graduação e pós-graduação na

universidade de Cambridge e na Unicamp (2007-2016) ........................................................ 125

Gráfico 3.7 Patentes depositadas por ano pela Unicamp e pela Universidade de Cambridge 126

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1.1 Consolidação dos fatores que influenciam a criação de spin-offs ......................... 47

Quadro 2.1 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Reino Unido .............. 61

Quadro 2.2 Iniciativas da Universidade de Cambridge para fomentar o engajamento entre a

comunidade acadêmica e parceiros potenciais ......................................................................... 69

Quadro 2.3 Redes e eventos da região de Cambridge para fomentar o engajamento entre

universidade e parceiros potenciais .......................................................................................... 69

Quadro 2.4 Fontes de investimento anjo da região de Cambridge externas à universidade .... 71

Quadro 2.5 Fontes de venture capital da região de Cambridge externas à universidade ......... 71

Quadro 2.6 Iniciativas de estímulo ao empreendedorismo acadêmico na Universidade de

Cambridge ................................................................................................................................ 76

Quadro 2.7 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Brasil ......................... 91

Quadro 2.8 Iniciativas no entorno da Unicamp para fomentar o engajamento entre a

comunidade acadêmica e parceiros potenciais ......................................................................... 98

Quadro 2.9 Fonte de investimento da região da Unicamp externa à universidade .................. 98

Quadro 2.10 Iniciativas da universidade para fomentar o empreendedorismo acadêmico .... 103

Quadro 2.11 Principais semelhanças e diferenças entre resultados de empreendedorismo

acadêmico e entre fatores internos e externos às duas universidades estudadas .................... 107

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BLN - Business Leaders’ Network

BNDE - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BTG - British Technology Group

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CHASE - Cambridge High-tech Association of Small Enterprises

Ciatec - Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas

CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – Campinas

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Codetec - Companhia de Desenvolvimento Tecnológico

CPqD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações

CT - Centro de Tecnologia

CTAE - Centro Técnico-Econômico de Assessoria Empresarial

CUEN - Cambridge University Enterprise Network

CT&I – Ciência, Tecnologia e Inovação

DIUS - Department for innovation, universities and skills

EDISTEC - Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos

ENACTI - Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação

ETT – Escritório de Transferência de Tecnologia

EUA – Estados Unidos da América

FAP – Fundação de Amparo à Pesquisa

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

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FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

GCP - Greater Cambridge Partnership

HEFCE - Higher Education Funding Council for England

HEIF - Higher Education Innovation Fund

ICT - Instituição de Ciência e Tecnologia

IGC - Índice Geral de Cursos

Incamp - Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp

IPO - Intellectual Property Office

LNBio - Laboratório Nacional de Biociências

LNLS - Laboratório nacional de Luz Síncrotron

MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia

MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MIT - Massachusetts Institute of Technology

MPS - Max Planck Society

NIT – Núcleo de Inovação Tecnológica

NRDC - National Research Development Corporation

ONG – Organização não-governamental

OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PACTI - Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação

PADCT - Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

PAPPE - Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas

PI – Propriedade Intelectual

PIPE - Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas

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P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PPDI - Plano Preliminar de Desenvolvimento Integrado

SCI - Science Citation Index

Softex - Associação para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro

SPTec - Sistema Paulista de Parques Tecnológicos

STEM – Science, Tecnhnology Engineering and Mathematics

Telebras - Telecomunicações Brasileiras S.A.

TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação

TSB - Technology Strategy Board

TT – Transferência de Tecnologia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 17

CAPITULO 1

Construção de um marco de referência a partir da literatura dos fatores que influenciam o

empreendedorismo acadêmico ...................................................................................................... 25

1.1. Introdução .................................................................................................................. 25

1.2. Empreendedorismo acadêmico: origens, escopo atual e evolução do debate ............ 26

1.3. Os fatores determinantes da criação de spin-offs ....................................................... 29

1.3.1. Fatores relacionados ao contexto externo à universidade .................................. 31

1.3.2. Os fatores internos às universidades que influenciam na criação de spin-offs .. 35

1.3.3. Os fatores relacionados ao contexto sociocultural da universidade ................... 39

1.3.4. Indivíduos nas atividades de empreendedorismo ............................................... 42

1.4. Consolidação dos principais fatores apontados pela literatura que influenciam a

criação de spin-offs ............................................................................................................... 46

CAPITULO 2

Universidade de Cambridge e Unicamp: perfil da atividade empreendedora, contextos interno

e externo às universidades e seu impacto no empreendedorismo acadêmico ............................... 48

2.1. Introdução .................................................................................................................. 48

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2.2. Estudos de caso das regiões de Cambridge e Campinas: resultados de

empreendedorismo acadêmico e fatores internos e externos às universidades que

impulsionam a criação de empresas ...................................................................................... 49

2.2.1. Reino Unido e Cambridge .................................................................................. 49

2.2.1.1. Empreendedorismo acadêmico na região de Cambridge ................................ 49

2.2.1.2. Contexto externo à universidade de Cambridge ............................................. 56

2.2.1.2.1. Localização.................................................................................................. 56

2.2.1.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Reino Unido.................. 59

2.2.1.2.3. Transferência de tecnologia: iniciativas e posicionamento do governo e das

universidades no Reino Unido .......................................................................................... 62

2.2.1.2.4. Parcerias e redes .......................................................................................... 65

2.2.1.3. Contexto interno ............................................................................................. 71

2.2.1.3.1. Política de propriedade intelectual da universidade de Cambridge ............ 73

2.2.1.3.2. Escritório de transferência de tecnologia .................................................... 73

2.2.1.3.3. Transferência de tecnologia e consultoria na universidade de Cambridge . 74

2.2.1.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o

empreendedorismo acadêmico .......................................................................................... 75

2.2.2. Brasil e Campinas ............................................................................................... 80

2.2.2.1. Empreendedorismo acadêmico na região da Unicamp ................................... 80

2.2.2.2. Contexto externo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ............. 85

2.2.2.2.1. Localização.................................................................................................. 85

2.2.2.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Brasil............................. 88

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2.2.2.2.3. Transferência de tecnologia no Brasil ......................................................... 92

2.2.2.2.4. Parcerias e redes .......................................................................................... 94

2.2.2.3. Contexto interno ............................................................................................. 99

2.2.2.3.1. Política de propriedade intelectual da Unicamp ........................................ 100

2.2.2.3.1. Escritório de transferência de tecnologia .................................................. 100

2.2.2.3.2. Transferência de tecnologia e consultoria na Unicamp ............................ 102

2.2.2.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o

empreendedorismo acadêmico ........................................................................................ 103

2.3. Apresentação dos resultados: semelhanças e diferenças entre os casos estudados . 106

CAPITULO 3

Discussão dos resultados: semelhanças e diferenças entre o empreendedorismo acadêmico na

região da universidade de Cambridge e na da Unicamp ............................................................. 109

3.1. Introdução ................................................................................................................ 109

3.2. Semelhanças entre os casos estudados ..................................................................... 110

3.2.1. Semelhanças de resultado ................................................................................. 110

3.2.2. Semelhanças de contexto .................................................................................. 118

3.3. Diferenças entre os casos estudados ........................................................................ 121

3.3.1. Diferenças de resultado .................................................................................... 121

3.3.2. Diferenças de contexto ..................................................................................... 125

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 131

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 138

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INTRODUÇÃO

Há importantes diferenças entre as universidades de Cambridge e Unicamp:

enquanto a primeira tem mais de 800 anos, 107 prêmios Nobel e 8 medalhas Fields, a segunda

foi fundada há pouco mais de cinco décadas e nenhum membro de sua comunidade acadêmica

foi agraciado com tais prêmios. A Unicamp ocupa a posição 401 no World University

Rankings 2019 e a posição 182 no QS World University Rankings® 2018. Por sua vez,

Cambridge figura em segundo lugar no World University Rankings 2019, em terceiro no

Academic Ranking of World Universities 2018 e em quinto lugar no QS World University

Rankings® 2018, além de ter entre seus ex-alunos nomes como Isaac Newton, Charles

Darwin, Francis Bacon, Stephen Hawking e John Milton.

Todavia, apesar das evidentes diferenças, a análise dessa dissertação revela mais

semelhanças entre as duas universidades em questão do que se poderia esperar a priori.

Estudamos os contextos interno e externo de ambas com o intuito de identificar os fatores que

estimulam ou incentivam o empreendedorismo acadêmico – ou seja, o processo de criação de

empresas oriundas das universidade. Nesse percurso, encontramos não só semelhanças mais

superficiais, como também paralelos importantes no surgimento e desenvolvimento do marco

legal de inovação de ambas as regiões – isto é, na configuração do arcabouço institucional

para estimular o empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das

universidades. Além disso, no que diz respeito ao empreendedorismo acadêmico, ou seja, as

empresas oriundas de ambas universidades, notamos também uma série de semelhanças.

O tema empreendedorismo acadêmico vem ganhando fôlego nas últimas duas

décadas. O crescimento no volume de estudos publicados sobre o assunto coincide com o

crescimento da atividade de empreendedorismo nas universidades ao redor do mundo,

especialmente a partir dos anos 20001. As iniciativas de promoção do empreendedorismo

acadêmico vêm se disseminando rapidamente por universidades de todo o mundo e

incorporando novos atores, novas formas de comercialização de tecnologia e transferência de

1 A primeira edição especial focada em empreendedorismo acadêmico foi publicada pelo Journal of Technology

Transfer em 2001, o que indica que se trata de um campo de pesquisa bastante novo e aberto, além de sujeito a

questionamentos (Rothaermel et. al., 2007), haja vista que um número considerável de estudos ainda questiona a

incorporação da terceira missão pelas universidades.

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conhecimento, para além daquela que envolve somente o pesquisador universitário e a

transferência formal de tecnologia2 (Siegel & Wright, 2015a).

A institucionalização da ideia de universidade empreendedora, porém ocorre duas

décadas antes – mais precisamente em 1980 com a implementação do Bayh-Dole Act3 nos

Estados Unidos. A partir desse marco se consolida ao redor do mundo a ideia de uma

universidade que acumula, além das atividades de ensino e pesquisa, iniciativas relacionadas à

comercialização da sua propriedade intelectual e de apoio à atividade empreendedora. As

universidades norte-americanas responderam ao Bayh-Dole Act mudando suas políticas

internas de patenteamento, estabelecendo procedimentos administrativos e escritórios de

transferência de tecnologia para patentear e comercializar os resultados de suas pesquisas

(Etzkowitz, 2002). Vários países europeus e asiáticos adotaram arcabouços legais similares,

fazendo com que o movimento de formalização da gestão da propriedade intelectual se

propagasse entre as universidades ao redor do mundo (Grimaldi, 2011), mudando

consideravelmente o status do empreendedorismo acadêmico tanto no contexto interno quanto

no contexto externo às universidades.

Com a institucionalização da universidade empreendedora ao longo dos anos 1980

e 1990, e a consequente propagação das iniciativas de apoio ao empreendedorismo nas

universidades, emergiu, em um primeiro momento, o debate sobre a influência dos novos

papéis a serem desempenhados pela universidade sobre seus papéis tradicionais de ensino e

pesquisa. Por um lado, defendia-se que o empreendedorismo acadêmico poderia gerar

benefício para as universidades, tais como um maior acesso às estruturas de pesquisa e know-

how da indústria, além do financiamento de pesquisa pelas empresas e do intercâmbio de

profissionais, por exemplo (Grimaldi et al., 2011). Por outro lado, havia a preocupação de que

o desenvolvimento de pesquisa para fins comerciais poderia descaracterizar a função essencial

2 Por transferência formal de tecnologia, nesse caso, entende-se o licenciamento para terceiros de uma tecnologia

patenteada pela universidade.

3 Legislação federal dos EUA que uniformizou a política de propriedade intelectual no país e possibilitou que

pequenas empresas e instituições sem fins lucrativos, incluindo universidades, detivessem a titularidade de

invenções realizadas através de programas federais de financiamento à pesquisa. Foi muito importante para

encorajar as universidades a engajar-se em transferência de tecnologia. As principais críticas ao Bayh-Dole Act

dizem respeito ao possível desvio das funções das universidades (ensino e pesquisa) e ao fato de que levariam os

contribuintes a um pagamento em duplicidade (financiando a pesquisa e depois pagando direitos de propriedade

intelectual).

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da pesquisa feita pela universidade - que engloba também o ensino e a interação entre

professor e aluno decorrente dessas atividades (Clark, 1995).

Quando as universidades estabeleceram seus primeiros escritórios de transferência

de tecnologia nas décadas de 1980 e 1990, os esforços estavam essencialmente voltados para

as atividades diretamente relacionadas à transferência formal de tecnologia: patenteamento e

licenciamento. Iniciativas relacionadas à criação de novas empresas eram raras, já que se

acreditava que poderiam desviar os esforços dos acordos de licenciamento de patentes

potencialmente mais lucrativos. Também havia poucos cursos e programas sobre

empreendedorismo. A facilitação à criação de start-ups se tornou parte efetiva do

empreendedorismo acadêmico quando percebeu-se que se tratava de outro caminho possível

para a transferência de tecnologia e a geração de receita para as universidades, de forma que,

em um primeiro momento, as iniciativas nesse sentido estavam quase que integralmente

vinculadas à transferência das invenções dos cientistas dos laboratórios para as start-ups, por

meio do licenciamento formal de patentes universitárias (Siegel e Wright, 2015a).

Todavia, desde a implementação do Bayh-Dole Act nos Estados Unidos nos anos

1980, e da consequente consolidação da ideia de universidade empreendedora, o escopo do

empreendedorismo acadêmico, assim como as iniciativas e atividades a ele relacionadas, vem

se ampliando de forma bastante significativa. Atualmente, o empreendedorismo acadêmico

abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, parceria universidade-empresa,

desenvolvimento econômico e regional e a criação direta e indireta de novas empresas –

muitas empresas que se originam nas universidades resultam de relações informais de

transferência de conhecimento e tecnologia e outras formas de interação que envolvem uma

gama muito mais ampla de atores do que apenas o pesquisador e o investidor (Rothaermel,

2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015).

Nesse novo contexto, de propagação das iniciativas de empreendedorismo nas

universidades ao redor do mundo, os estudos sobre a universidade empreendedora passaram a

abordar tanto os elementos internos que podem impactar na comercialização da propriedade

intelectual – tais como o modelo organizacional adotado pelas universidades, as

características e papéis do corpo acadêmico e a natureza da tecnologia a ser comercializada,

por exemplo – como os elemento externos, tais como o arcabouço institucional, a indústria no

entorno e as condições sociais regionais, na tentativa de explicar porque algumas

universidades são mais empreendedoras do que outras ou ainda quais são as principais

barreiras ao empreendedorismo universitário. Os escritórios de transferência de tecnologia

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também passaram a ganhar destaque nos estudos sobre empreendedorismo acadêmico, uma

vez que são vistos como o canal de interação entre a universidade e a indústria.

No atual cenário de crescimento no volume de estudos publicados sobre

empreendedorismo acadêmico, vários deles têm voltado seus esforços para identificar o que

leva algumas universidades a serem mais empreendedoras do que outras. Esses estudos

apontam tanto para os aspectos internos às universidades, quanto para as questões

institucionais externas à universidade e a estrutura industrial da região, por exemplo. Todavia,

ainda há questões que precisam ser melhor exploradas por essa literatura. Uma delas é a

ampliação do conceito de empreendedorismo acadêmico, isto é, a incorporação das atividades

de transferência de tecnologia e criação de novas empresas que ocorrem a partir de relações

informais com a universidade e não por meio da comercialização de propriedade intelectual

(Siegel & Wright, 2015a). Nesse sentido, é recomendável que sejam incluídos na análise, por

exemplo, o empreendedorismo estudantil e todas as empresas que são criadas a partir de

algum relacionamento com a universidade, que não seja necessariamente via exploração

comercial de propriedade intelectual.

Ou seja, apesar da ampliação considerável do número de estudos relacionados ao

empreendedorismo acadêmico nos anos recentes, e também do escopo de sua análise, a

literatura ainda não evoluiu a ponto de incluir todas essas novas dimensões e iniciativas

relacionadas ao empreendedorismo acadêmico. A literatura recente ainda está

predominantemente focada nas transferências formais de tecnologia, que envolvem patentes e

licenciamentos via escritório de transferência de tecnologia e a participação de inventores. E,

apesar da proliferação recente de iniciativas que vão além dos cursos de empreendedorismo e

das competições de planos de negócio, tais como os diversos programas de aprendizado

experimental para que os estudantes empreendam e do número crescente de spin-offs4 criadas

por estudantes, não há, por exemplo, um framework que ajude a entender os fatores que

apoiam o empreendedorismo estudantil. Isto é, há que se entender melhor a heterogeneidade

do empreendedorismo acadêmico, assim como o contexto em que ele ocorre.

Isto posto, o objetivo dessa dissertação é identificar quais são os fatores internos e

externos às universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico nos dois casos

4 Seguindo a linha proposta por O’Shea et al (2007), essa dissertação considera que para obter uma compreensão

sistêmica da atividade de criação de spin-offs é preciso integrar quatro dimensões do empreendedorismo

acadêmico: características dos indivíduos, política e estrutural organizacional, cultura organizacional e ambiente

externo. A literatura frequentemente usa apenas um desses fatores por vez para definir a atividade de criação de

spin-offs, mas aqui consideramos o conjunto das quatro. Nesse contexto, utilizamos spin-off e empreendedorismo

acadêmico como sinônimos.

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estudados (Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Universidade Estadual de

Campinas, no Brasil). Analisamos (i) os fatores internos e externos de cada universidade que

podem influenciar na criação de spin-offs, (ii) os resultados quantitativos de

empreendedorismo acadêmico de ambas universidades, e (iii) as semelhanças e diferenças

entre os fatores e resultados estudados.

A região no entorno da cidade de Cambridge é um ecossistema empreendedor

bastante ativo e é tida como um dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. Todavia,

até a década de 1970 havia, de ambas as partes, muita resistência

contra o relacionamento entre universidade e empresa e, consequentemente,

pouquíssimos casos de interação. Atualmente, além de uma miríade de empresas intensivas

em tecnologia, a região abriga três universidades, 19 parques científicos e comerciais, 6

incubadoras, 10 fundos de venture capital, 4 grupos de investidores anjo, um de investimento

semente, um fundo de prova de conceito e diversos centros de pesquisa e desenvolvimento

(das universidades, de empresas de vários portes e do governo), dentre outros. No início,

havia na região essencialmente empresas de engenharia e computação, porém hoje há maior

concentração nas áreas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) e biotecnologia.

Já a região de Campinas é considerada um polo de alta tecnologia e é associada ao

desenvolvimento econômico baseado em ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo

(Lemos, 2011). A Universidade Estadual de Campinas foi fundada em 1966 e desde o início

manteve laços estreitos com o setor produtivo. Dentre os principais elementos desse cluster de

tecnologia estão a Unicamp, cinco parques científicos e tecnológicos, duas aceleradoras de

empresas e duas incubadoras, além de uma rede de relacionamento de empreendedores

oriundos da Unicamp. Há também na região vinte e dois centros de pesquisa, públicos e

privados, atuando nas áreas de tecnologia da informação e comunicação, desenvolvimento

agrícola e agronegócio, biomedicina, física, química, engenharia de materiais, e biologia

molecular, dentre outras.

Os estudos de caso dividem-se em duas partes: analisamos tanto a atividade

empreendedora em si quanto o contexto em que ocorre. Partimos da divisão proposta por

O’Shea et al. (2007b) de quatro grupos de fatores que podem influenciar conjuntamente na

quantidade de spin-offs criadas em uma universidade e selecionamos dois para nossa análise:

os fatores internos e os externos à universidade. O levantamento de dados para os outros dois

fatores (contexto sociocultural e características pessoais) trazia consigo dois desafios

metodológicos: não só requer acesso a fontes primárias, como também se trata de um

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conjunto de informações de caráter eminentemente subjetivo. Diante disso, optamos por

delimitar nossa análise no campo dos dados secundários e objetivos.

Assim, realizamos o levantamento de dados em fontes secundárias dos fatores

internos e externos às duas universidades estudadas que influenciam a criação de spin-offs e a

atividade empreendedora no âmbito acadêmico. Para fatores externos estudamos: localização

da universidade, marco legal de inovação e transferência de tecnologia no país e parcerias e

redes, e para fatores internos: política de propriedade intelectual da universidade, escritório de

transferência de tecnologia ou núcleo de inovação tecnológica5, transferência de tecnologia na

universidade e iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico.

Uma vez estabelecido um esboço do cenário dentro e no entorno de ambas as

universidades e registrados os respectivos fatores que podem influenciar a criação de spin-

offs, partimos para a segunda etapa dos estudos de caso que foi uma busca não-exaustiva de

empresas oriundas de ambas universidades com o objetivo de traçar seu perfil. Para tanto,

analisamos variáveis como ano de fundação, quantidade de funcionários, setor de atuação,

internacionalização e quantidade de empresas vendidas, por exemplo – no total listamos 16

variáveis sobre quase 1500 empresas (foram 961 para Cambridge, fundadas entre 1965 e 2017

e 488 para a Unicamp, fundadas entre 1963 e 2017).

A análise dos dados levantados revela semelhanças e diferenças entre os contextos

e atividade de empreendedorismo acadêmico no entorno de cada universidade. As

convergências iniciam-se em pontos mais simples e persistem nas questões mais complexas,

como por exemplo a configuração do arcabouço institucional para estimular o

empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das universidades.

No que diz respeito às empresas há também semelhanças importantes.

Em ambos os casos, se observa um adensamento a partir da década de 1990 de

iniciativas internas e externas às universidades para estimular e viabilizar a exploração

comercial de propriedade intelectual da universidade e o empreendedorismo acadêmico, bem

como de uma série de ações governamentais em âmbito estadual ou federal implementadas no

mesmo período. Esse movimento de adensamento coincide com a transição vivida em maior

ou menor grau pelas universidades de todo o mundo a partir da década de 1980 e que as levou

5 Nessa dissertação consideraremos Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) e Núcleo de Inovação

tecnológica (NIT) como sinônimos.

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a rever suas missões e atividades de modo a melhor atender as demandas da sociedade e

contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, sobretudo através da transferência direta

ou indireta de tecnologia e conhecimento (através de licenciamentos ou spin-offs) (Zanatta et

al, 2016). Além disso, destaca-se também o fenômeno global que ocorre a partir do final dos

anos 1990 quando se observa um aumento no interesse em empresas de tecnologia em função

dos altos retornos de investimentos norte-americanos na área.

A dissertação está estruturada em três capítulos, além dessa Introdução e as

Considerações Finais. O Capítulo 1 se propõe a construir, a partir da revisão da literatura, um

marco de referência dos fatores que influenciam o empreendedorismo acadêmico e

contribuem para explicar porque algumas universidades são mais bem-sucedidas do que

outras na criação de spin-offs. Iniciamos com uma apresentação das origens, escopo atual e

evolução do debate sobre o empreendedorismo acadêmico, e a seguir identificamos e

apresentamos quatro fatores que influenciam a criação de spin-offs e a atividade

empreendedora no âmbito acadêmico de acordo com O’Shea et al (2007b): (i) contexto

interno à universidade, (ii) contexto externo à universidade, (iii) contexto sociocultural da

universidade e (iv) características pessoais dos indivíduos. O Capítulo 1 encerra-se com a

apresentação de um quadro analítico que busca consolidar esses fatores.

O Capítulo 2 apresenta as semelhanças e diferenças nos dados relativos aos dois

casos de empreendedorismo acadêmico estudados nessa dissertação: a região da Universidade

de Cambridge, no Reino Unido, e a da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no

Brasil. O estudo está dividido em duas partes: (i) apresentação dos resultados do levantamento

quantitativo sobre empreendedorismo acadêmico no entorno de ambas universidades; e (ii)

apresentação dos fatores que influenciam a atividade empreendedora da região. Dos quatro

fatores que, de acordo com a literatura, influenciam a criação de spin-offs e a atividade

empreendedora no âmbito acadêmico, selecionamos dois para os estudos de caso: contexto

interno à universidade (política de propriedade intelectual da universidade, escritório de

transferência de tecnologia ou núcleo de inovação tecnológica6, transferência de tecnologia na

universidade e iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico) e contexto externo

(localização, marco legal de inovação e transferência de tecnologia no país e parcerias e

redes). O Capítulo 2 encerra-se com a apresentação de um quadro analítico que busca

6 Nessa dissertação consideraremos como sinônimos Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) e Núcleo

de Inovação tecnológica (NIT).

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consolidar as semelhanças e diferenças de contexto e de resultado empreendedor entre os

casos estudados.

Por sua vez o Capítulo 3 apresenta a discussão dos resultados dos dois estudos de

caso apresentados no capítulo anterior – perfil da atividade empreendedora em cada uma das

regiões e contextos interno e externo às universidades – e seu impacto no empreendedorismo

acadêmico. A análise dos dados levantados revela semelhanças e diferenças tanto entre os

contextos interno e externo quanto entre os resultados de empreendedorismo acadêmico no

entorno de cada umas das universidades. A discussão desse capítulo busca destacar aonde as

semelhanças e as diferenças são mais acentuadas e aonde são mais moderadas, bem como

quais fatores parecem ser os principais responsáveis pelas convergências e divergências

encontradas entre os dois casos estudados. Destacamos o papel do contexto na explicação das

semelhanças e diferenças de resultados, ainda que, naturalmente, não tenhamos elementos

para afirmar que essas especificidades de contexto são as únicas determinantes dos resultados

encontrados. Reconhecemos a existência de outros fatores também pertinentes para a

explicação das semelhanças e diferenças encontradas, que todavia estão fora do escopo do

presente trabalho, como por exemplo o contexto sociocultural da universidade e

características pessoais dos indivíduos (apresentados em âmbito teórico no Capítulo 1).

Por fim, as Considerações Finais mostram que as diferenças entre os dois

ecossistemas apresentados não são tão grandes. Há sim resultados em que as diferenças entre

Cambridge e Unicamp são consideráveis, mas há também aqueles em que as diferenças são

menores, e ainda vários em que se observa semelhanças, e uma análise detalhada dos

contextos interno e externo às universidades nos ajuda a fundamentar a explicação para a

existência de tais similitudes.

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CAPÍTULO 1.

1. Construção de um marco de referência a partir da literatura dos fatores que

influenciam o empreendedorismo acadêmico

1.1. Introdução

Este capítulo visa apresentar, a partir da revisão da literatura sobre

empreendedorismo acadêmico, os fatores que influenciam este tipo de atividade e contribuem

para explicar porque algumas universidades são mais bem-sucedidas do que outras na criação

de spin-offs. A revisão da literatura sobre empreendedorismo acadêmico revela um conjunto

de estudos com focos específicos. Parte dos estudos concentra-se em abordar a influência da

configuração organizacional sobre o surgimento de spin-offs. Uma outra parte busca

identificar os recursos da universidade que se relacionam com as atividades de

empreendedorismo, tais como recursos humanos, volume e origem do orçamento para

financiamento das atividades de pesquisa e presença de incubadoras tecnológicas e escritórios

de transferência de tecnologia. Outro conjunto de estudos foca no indivíduo, considerando,

dentre outros, fatores como personalidade e motivações. Outros ainda buscam explicar o

surgimento de spin-offs em termos do contexto sócio cultural da universidade, tendo em vista

que a criação de spin-offs é um reflexo do comportamento institucional, sendo, portanto,

influenciada pela cultura da universidade e pelas recompensas por ela oferecidas. E há ainda

os estudos que explicam a criação de spin-offs em termos da influência do ambiente externo,

enfatizando, nesse caso, o impacto dos fatores econômicos mais amplos sobre as

universidades, tais como a infraestrutura de conhecimento da região, a estrutura industrial ou

ainda a legislação de propriedade intelectual.

Nesse sentido, O’Shea et al. (2007b) sugerem quatro grupo de fatores que podem

influenciar conjuntamente na quantidade de spin-offs criadas em uma universidade: (i) as

características do entorno da universidade, tais como a infraestrutura regional que impacta na

atividade de spin-off, como ressaltam os estudos que abordam o contexto externo à

universidade; (ii) o contexto social mais amplo no qual a universidade está inserida, incluindo

barreiras, como destacado pelos estudos focados no contexto cultural e institucional; (iii) os

recursos e as capacidades das universidades, que compreendem tanto o capital humano,

quanto os recursos comerciais e financeiros e as atividades institucionais, como destacam os

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estudos que focam nas questões organizacionais e, por fim, (iv) as características e percepções

dos indivíduos que se engajam em atividades empreendedoras dentro das universidade.

O presente capítulo dedica-se a detalhar cada um desses grupos de fatores, mas

não sem antes apresentar as origens e a evolução do debate sobre o empreendedorismo

acadêmico. Sendo assim, o capítulo está organizado em três seções, além desta introdução.

Uma primeira que contextualiza o debate, a segunda que detalha os fatores que influenciam a

criação de spin-offs e uma terceira que busca consolidar esses fatores com o auxílio de um

quadro analítico.

1.2. Empreendedorismo acadêmico: origens, escopo atual e evolução do debate

As origens do empreendedorismo acadêmico remontam às iniciativas internas e

externas à universidade com o objetivo de fortalecer a relação universidade-empresa, como

demonstra a história do MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA). A trajetória

do instituto é marcada, desde o início, pela proximidade com a indústria, tanto com firmas já

existentes como com novas empresas criadas a partir das atividades de pesquisa e consultoria

dos seus professores. Na tentativa de balancear as atividades acadêmicas tradicionais de

ensino e pesquisa e o relacionamento com a indústria, o MIT abre ao longo da sua trajetória

uma série de precedentes no que diz respeito à criação e à gestão da propriedade intelectual da

universidade, bem como à cooperação universidade-empresa, ainda na primeira metade do

século XX, que posteriormente inspiram o conteúdo do Bayh-Dole Act nos anos 1980

(Etzkowitz, 2002).

É com a implementação do Bayh-Dole Act que se institucionaliza, tanto nos

Estados Unidos quanto ao redor do mundo, a ideia de universidade empreendedora, que

acumula, além das atividades de ensino e pesquisa, iniciativas relacionadas à comercialização

da sua propriedade intelectual e de apoio à atividade empreendedora. As universidades norte-

americanas responderam ao Bayh-Dole Act mudando suas políticas internas de patenteamento,

estabelecendo procedimentos administrativos e escritórios de transferência de tecnologia para

patentear e comercializar os resultados das suas pesquisas (Etzkowitz, 2002). Vários países

europeus e asiáticos adotaram arcabouços legais similares, fazendo com que o movimento de

formalização da gestão da propriedade intelectual se propagasse por universidades ao redor do

mundo (Grimaldi, 2011), mudando consideravelmente o status do empreendedorismo

acadêmico tanto no contexto interno quanto no contexto externo às universidades.

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Com a institucionalização da universidade empreendedora ao longo dos anos 1980

e 1990, e a consequente propagação das iniciativas de apoio ao empreendedorismo nas

universidades, emergiu, em um primeiro momento, o debate sobre a influência dos novos

papéis a serem desempenhados pela universidade sobre seus papéis tradicionais de ensino e

pesquisa. Por um lado, defendia-se que o empreendedorismo acadêmico poderia gerar

benefício para as universidades, tais como maior acesso às estruturas de pesquisa e know-how

da indústria, como ocorreu no MIT, além de financiamento de pesquisa por empresas e

intercâmbio de profissionais, por exemplo (Grimaldi et al., 2011). Por outro lado, havia a

preocupação de que o desenvolvimento de pesquisa para fins comerciais poderia

descaracterizar a função essencial da pesquisa feita pela universidade - que engloba também o

ensino e a interação entre professor e aluno decorrente dessas atividades (Clark, 1995).

Todavia, desde a implementação do Bayh-Dole Act nos Estados Unidos nos anos

1980, e a consolidação da ideia da universidade empreendedora, o escopo do

empreendedorismo acadêmico, assim como as iniciativas e atividades a ele relacionadas, se

ampliaram de forma bastante significativa. Atualmente, o empreendedorismo acadêmico

abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, criação direta e indireta de novas

empresas, parceria universidade-empresa e também o desenvolvimento econômico e regional

(Rothaermel et al, 2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015). Essa ampliação de

escopo reflete a necessidade colocada pelas políticas de desenvolvimento de que as

universidades tenham uma contribuição mais ampla para a sociedade. Quando as

universidades estabeleceram seus primeiros escritórios de transferência de tecnologia nas

décadas de 1980 e 1990, os esforços estavam essencialmente voltados para as atividades

diretamente relacionadas à transferência de tecnologia: patenteamento e licenciamento.

Iniciativas relacionadas à criação de novas empresas eram raras, já que se pensava que

poderiam desviar os esforços dos acordos de licenciamento de patentes potencialmente mais

lucrativos (os ‘blockblusters’). Também havia poucos cursos e programas sobre

empreendedorismo. A facilitação à criação de start-ups se tornou parte efetiva do

empreendedorismo acadêmico quando se percebeu que era outro caminho possível para a

transferência de tecnologia e a geração de receita para as universidades, de forma que, em um

primeiro momento, as iniciativas nesse sentido estavam quase que integralmente vinculadas à

transferência das invenções dos cientistas dos laboratórios para as start-ups, por meio do

licenciamento formal de patentes universitárias (Siegel e Wright, 2015a).

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Nesse novo contexto, de propagação das iniciativas de empreendedorismo nas

universidades ao redor do mundo, os estudos sobre universidade empreendedora passaram a

abordar tanto os elementos internos que podem impactar na comercialização da propriedade

intelectual, tais como o modelo organizacional adotado pelas universidades, as características

e papéis do corpo acadêmico e a natureza da tecnologia a ser comercializada, por exemplo,

como fatores externos, tais como o arcabouço institucional, a indústria no entorno e as

condições sociais regionais, na tentativa de explicar porque algumas universidades são mais

empreendedoras do que outras ou quais são as principais barreiras ao empreendedorismo

universitário. Os escritórios de transferência de tecnologia também passaram a ganhar

destaque nos estudos de empreendedorismo acadêmico, porque são vistos como o canal de

interação entre a universidade e a indústria. E, para um corpo específico de literatura, a

universidade empreendedora é vista como uma função da produtividade do seu escritório de

transferência de tecnologia. A organização e o gerenciamento desses escritórios, assim como

elementos externos tais como os recursos da universidade e da região onde ela está localizada,

o nível de apoio formal à P&D, entre outros, são apontados por este corpo de literatura como

impactantes da produtividade desses escritórios. Um outro tema bastante explorado são as

interações (“networking activities”) entre os diversos atores do ecossistema empreendedor e a

universidade.

Porém, sabe-se que atualmente o empreendedorismo acadêmico vai muito além

do licenciamento formal de propriedade intelectual da universidade, e que muitas empresas

que se originam nas universidades resultam de relações informais de transferência de

conhecimento e tecnologia e outras formas de interação que envolvem uma gama muito mais

ampla de atores do que apenas o pesquisador e o investidor. Siegel e Wright (2015a, p. 54)

destacam os principais fatores que levaram à ampliação do escopo do empreendedorismo

acadêmico, especialmente na última década: a criação de espaços específicos para a apoiar a

transferência de tecnologia e o empreendedorismo; o crescimento significativo de cursos e

programas de empreendedorismo oferecidos pelas universidades; a implementação de centros

de empreendedorismo; o crescimento do número de empreendedores externos presentes nas

universidades para estimular a criação de start-ups; o rápido crescimento do apoio aos alunos

e ex-alunos englobando vários aspectos do ecossistema empreendedor e incluindo fundos de

comercialização e competições de planos e modelos de negócio. Dessa forma, as

universidades também incorporaram os aspectos mais indiretos do empreendedorismo

acadêmico, tais como empreendimentos sociais e start-ups comerciais criadas por alunos e ex-

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alunos, bem como a transferência de conhecimento da universidade para empresas locais já

existentes. E, consequentemente, também foram desenvolvidas novas formas de apoio às

atividades de empreendedorismo acadêmico que abrangem não somente a transferência

formal de tecnologia, mas também mecanismos não tradicionais de incentivo, tais como os

programas de aceleração, espaços flexíveis para prototipagem e criação de novos negócios,

redes colaborativas com a indústria e ex-alunos, mobilidade do corpo docente e novas formas

de incubadoras público-privadas (Zucker e Darby, 2002; Grimaldi et. al, 2011; Siegel e

Wrigth, 2015; Wright et al., 2017). As competições de plano e modelo de negócio, por

exemplo, proliferaram-se de tal maneira nos últimos quinze anos, que agora há até mesmo

competições internacionais envolvendo várias instituições acadêmicas. Também aumentaram

consideravelmente os esforços de busca por novas oportunidades de comercialização de

resultados de pesquisa feitos pelos escritórios de transferência de tecnologia, principalmente

por meio do monitoramento constante das atividades de pesquisa realizadas nos laboratórios

das universidades (Siegel et al., 2007; Grimaldi et al., 2011).

Todavia, apesar da ampliação considerável do número de estudos relacionados ao

empreendedorismo acadêmico, e também do escopo de análise, a literatura ainda não evoluiu

a ponto de incluir todas essas novas dimensões e iniciativas relacionadas ao

empreendedorismo acadêmico. Pelo contrário, a literatura recente ainda está

predominantemente focada nas transferências formais de tecnologia, que envolvem patentes e

licenciamentos via escritório de transferência de tecnologia e com a participação de

inventores. E, apesar da proliferação recente de iniciativas que vão além dos cursos de

empreendedorismo e das competições de planos de negócio, tais como os diversos programas

de aprendizado experimental para que os estudantes empreendam e do número crescente de

spin-offs criadas por estudantes, não há, por exemplo, um framework que ajude a entender o

ecossistema que apoia o empreendedorismo estudantil (Wrigth et al., 2017).

1.3. Os fatores determinantes da criação de spin-offs

Apesar de o foco do presente trabalho ser na quantidade de spin-offs criadas, não

desconhecemos a relevância da análise da qualidade de tais empresas. Nesse sentido, Guzman

& Stern (2016) destacam a importância da análise qualitativa do empreendedorismo e do

desempenho dos ecossistemas para se compreender de maneira pormenorizada o impacto do

empreendedorismo no progresso econômico e social. Nessa dissertação não temos a pretensão

de esgotar essa discussão, mas apenas de propor uma análise dos resultados de

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empreendedorismo acadêmico usando como proxy a quantidade de spin-offs criadas no

entorno das duas universidades estudadas.

Em se tratando especificamente da criação de spin-offs – o corpo da literatura no

qual se insere essa dissertação – os estudos visam, sobretudo, identificar os fatores de sucesso

por trás do processo de criação dessas empresas, seja pela perspectiva da universidade seja

pela de seus fundadores – além das principais barreiras à formação e crescimento de novas

empresas, (Rothaermel et al., 2007). A revisão dessa literatura revela um conjunto de estudos

com focos específicos. Parte deles concentra-se em abordar a influência da configuração

organizacional sobre o surgimento de spin-offs. Por recursos da universidade, entende-se a

quantidade e origem do orçamento para financiamento das atividades de pesquisa, presença de

incubadoras tecnológicas e escritórios de transferência de tecnologia (Radosevich (1995),

Blumenthal et al. (1996), Roberts & Malone (1996), Zucker et al. (1998b), Debackere (2000),

Hague & Oakley (2000), Meseri & Maital (2001), Carlsson and Fridh (2002), Davenport et al.

(2002), DiGregorio & Shane (2003), Siegel et al. (2003), Degroof & Roberts (2004),

Clarysse et al. (2005), Lockett & Wright (2005), Markman et al. (2005), O’Shea et al. (2005),

Powers & McDougall (2005), Lenoir & Gianella (2006), Stuart & Ding (2006)). Outra parte

dos estudos focam no indivíduo, considerando personalidade, motivações para empreender etc

(Roberts (1991), Zucker et al. (1998a), Audretsch (2000)). Outros ainda buscam explicar o

surgimento de spin-offs em termos de desenvolvimento sociocultural, tendo em vista que a

criação de spin-offs é um reflexo do comportamento institucional, sendo, portanto,

influenciada pela cultura da universidade e pelas recompensas por ela proporcionadas (Louis

et al. (1989), Ndonzuau et al. (2002), Thursby & Kemp (2002), DiGregorio and Shane (2003),

Kenney & Goe (2004), Link and Siegel (2005), Stuart and Ding (2006), George et al. (2006),

Kirby (2006), Djokovic & Souitaris (2007), O’Shea at al. (2007)). Há ainda os estudos que

explicam a criação de spin-offs em termos da influência do ambiente externo, enfatizando,

nesse caso, o impacto dos fatores econômicos mais amplos sobre as universidades, tais como

acesso a capital de risco, infraestrutura de conhecimento da região, estrutura industrial e

legislação de patentes (Florida & Kenney (1988), Saxenian (1994), Wallmark (1997), Kenney

(2000), Sorenson & Stuart (2001), Colyvas et al. (2002), DiGregorio and Shane (2003),

Feldman & Francis (2003), Goldfarb & Henrekson (2003), Feldman & Desrocher (2004),

Shane (2004b), Wright et al. (2004), Sampat (2006), Wright et al. (2006), O’Shea et al.

(2007). Por fim, há os estudos que buscam medir o impacto econômico da atividade de spin-

offs (Shane, 2004a, b). e aqueles que focam no desenvolvimento e desempenho das spin-offs

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universitárias (Dahlstrand (1997), Mustar (1997), Shane & Stuart (2002), Nerkar & Shane

(2003), Degroof & Roberts (2004), Druilhe & Garnsey (2004), Vohora et al. (2004), Shane

(2004a), Ensley & Hmieleski (2005), Mustar et al. (2006), Vanaelst et al. (2006)). Já na

última década, essas abordagens permanecem em destaque, mas há uma clara preocupação

nos estudos mais recentes em integrá-las, isto é, tratar os vários determinantes de forma

relacionada, considerando que os determinantes da criação de spin-offs são múltiplos e atuam

de forma concomitante.

Nesse sentido, o estudo de O’Shea et al. (2007b) é pioneiro em sugerir que

quatro grupo de fatores podem influenciar conjuntamente na quantidade de spin-offs criadas

em uma universidade. São eles: (i) as características e percepções dos indivíduos que se

engajam em atividades empreendedoras dentro das universidades; (ii) os recursos e as

capacidades das universidades, que compreendem tanto o capital humano, quanto os recursos

comerciais e financeiros e as atividades institucionais, como destacam os estudos que focam

na questão organizacional; (iii) o contexto social mais amplo no qual a universidade está

inserida, incluindo barreiras, como destacado pelos estudos focados no contexto cultural e

institucional; e, por fim, (iv) as características do entorno da universidade, como a

infraestrutura regional que impacta a atividade de spin-off, como ressaltam os estudos que

abordam o contexto externo à universidade. As quatro subseções a seguir visam detalhar, a

partir da revisão da literatura, cada um desses grupos de fatores. A última seção consolida

esses fatores com o intuito de orientar as análises posteriores.

Para aprofundar a descrição dos quatro fatores que influenciam a criação de

spin-offs nas universidades segundo O’Shea et al. (2007b), nos apoiaremos sobretudo nos

trabalhos de: Shane (2004a), Lockett et. al (2005), Siegel et al. (2004 e 2007), O'Shea et. al

(2005 e 2007a), Clarysse et al. (2005, 2009 e 2011), Bercovitz e Feldman (2008), Grimaldi et.

al (2011), Siegel e Wrigth (2015 e 2015a) e Wright et al. (2017).

1.3.1. Fatores relacionados ao contexto externo à universidade

O processo empreendedor não pode ser estudado sem que se dê atenção ao

contexto em que ocorre, tanto em nível regional quanto nacional, e a natureza multinível do

empreendedorismo acadêmico torna ainda mais necessário esse entendimento.

Um dos mais destacados fatores externos à universidade de estímulo à criação de

spin-offs é a existência de um marco legal de inovação adequado. Os Estados Unidos são o

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exemplo por excelência da importância da existência de um marco legal de inovação para o

sucesso do empreendedorismo acadêmico. A entrada em vigor do Bayh-Dole Act, em 1980,

que determinava que os direitos de propriedade intelectual passavam a pertencer às

universidades ou centros de pesquisa, teve efeitos positivos sobre a geração de spin-offs

universitárias (Shane, 2004a). Na sequência da aprovação do Bayh-Dole Act, o governo

federal passou mais outras quatro leis7, que juntas contribuíram para criar um ambiente

favorável às colaborações entre universidade e indústria e à transferência de tecnologia. Ao

atribuir as invenções às universidades - ao invés de aos inventores individuais - o Bayh-Dole

Act causou um aumento exponencial nas atividades de patenteamento e licenciamento,

geralmente acompanhadas da criação de escritórios de transferência de tecnologia.

Inversamente, uma série de estudos, sobretudo na Europa, indicam que políticas que atribuem

invenções aos inventores inibem a criação de spin-offs ou mesmo chegam a criar uma postura

anti-empreendedora no corpo docente e na administração da universidade, que nesse cenário

não se beneficiam da atividade empreendedora dos acadêmicos (Hsu et al, 2015, O'Shea et. al,

2007b).

Universidades fazem parcerias, participam de redes, desenvolvem estratégias e

configurações institucionais para viabilizar o relacionamento com entidades externas

(governo, indústria etc) de modo a potencializar a exploração do conhecimento nelas

produzido. Em sua análise qualitativa baseada em entrevistas, Guerrero e Urbano (2010)

indicam a presença de uma correlação positiva significativa entre fatores internos à

universidade e fatores ambientais e seus papeis de ensino e pesquisa. Dentre os fatores

ambientais que influenciam os empreendimentos acadêmicos, além do já mencionado papel

da universidade no contexto tecnológico e empresarial, destacam-se a disponibilidade de

capital de risco, que não só financia como também orienta a operação de novos negócios; a

localização em um cluster de alta tecnologia, que facilita o acesso a redes de contatos e a

conhecimento especializado; e a criação de legislação específica ou outros mecanismos

governamentais que favoreçam a criação de spin-offs (Guerrero e Urbano, 2010; Dodgson e

Staggs, 2012; Hsu et al, 2015).

7 Stevenson–Wydler Technology Innovation Act, National Cooperative Research Act, Federal Technology

Transfer Act, e Technology Transfer Improvement and Advancement Act.

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Um aprofundamento no tema aponta que pode haver mais fatores que viabilizam

e estimulam a criação de spin-offs oriundas da universidade. O estudo de caso do

Massachusetts Institute of Technology (MIT) de O'Shea et. al (2007a) elenca uma série de

fatores, que são potencializados por sinergias entre si, o que resulta em um processo path-

dependent e de difícil replicação. Destaca-se nesse caso o papel crucial do contexto regional

em que a universidade está inserida, que deve ser favorável à atividade empreendedora.

Alguns desses fatores podem ser replicados, mas outros, não. A história, por

exemplo, não pode ser criada – a missão da universidade, seus principais parceiros e fontes de

recursos ao longo do tempo etc. A influência da geografia também é fixa, ao menos no curto

prazo. Nesse aspecto, nota-se que o entorno do MIT funciona como uma "incubadora virtual"

para empresas nascentes: há venture capital para financiar e orientar novos empreendedores,

um conjunto de hospitais em que se pode conduzir testes clínicos de novas tecnologias, além

de uma série de prestadores de serviços habituados a trabalhar com start-ups, tais como

contadores e agentes imobiliários (O'Shea et. al, 2007a).

A proximidade, física e em termos de relacionamento, da universidade com fontes

externas de recursos (sobretudo a indústria) alavanca o financiamento à pesquisa e aumenta

significativamente sua propensão à atividade de empreendedorismo acadêmico, além de

viabilizar o acesso a informações de mercado, que podem ajudar a direcionar a atividade

empreendedora. No caso do MIT, nota-se que a proximidade com empresas de capital de risco

também é importante não só pela razão mais evidente de financiar novos negócios, como

também pelo fato de que membros do escritório de transferência de tecnologia da

universidade discutem com esses investidores sobre novas tecnologias e pesquisas em

andamento que apresentam potencial para se tornar novas empresas (O'Shea et. al 2007a).

A localização da universidade cria um círculo virtuoso: a maioria dos estudos

empíricos aponta que as contribuições das universidades para o desenvolvimento econômico

regional são geograficamente concentradas. Assim, se a universidade se encontra em uma

localidade com concentração relativamente alta de empresas de base tecnológica, institutos de

pesquisa e ambiente favorável à atividade empreendedora, o conhecimento e inovação nela

gerados transbordam e beneficiam seu entorno, que por sua vez aumenta a demanda por

tecnologia da universidade. Da mesma maneira, a localização impacta na capacidade da

universidade de explorar comercialmente sua tecnologia, uma vez que para tanto depende de

uma série de serviços especializados, tais como advogados, investidores e consultores, que se

adensam no seu entorno conforme aumenta o volume de transferência de tecnologia. Ou seja,

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o fato de uma universidade estar inserida em um ambiente com relativa concentração de

empresas intensivas em conhecimento, centros de pesquisa e indústria, tem impacto positivo

em seus resultados de empreendedorismo acadêmico (Hsu et al, 2015).

Características do ambiente econômico e social no entorno da universidade

também podem estimular a criação de spin-offs. Dentre eles destacam-se as oportunidades

oferecidas pelo setor industrial local e a infraestrutura, bem como o contexto empreendedor e

de negócios. Se essa infraestrutura empreendedora de uma região é fraca, a criação de spin-

offs é prejudicada. O estudo de caso conduzido por Algieri et al (2013) na Itália, aponta que o

fator de maior relevância são as atividades em cooperação com a indústria.

Ainda no que diz respeito ao impacto das características socioeconômicas de cada

localidade, o estudo de caso conduzido por Davey et al (2016) em quatro países europeus

(Reino Unido, Alemanha, Espanha e Polônia), reitera como essa faceta do contexto regional

desempenha um papel relevante na extensão do empreendedorismo acadêmico. Destaca-se

como as regiões europeias têm diferentes níveis de desenvolvimento econômico e histórias e

culturas únicas, o que necessita ser levado em consideração durante a elaboração de políticas.

Isso se reflete na importância relativa dos fatores impulsionadores e barreiras estudados pelos

autores, que revela-se maior nos países mais desenvolvidos (Alemanha e Reino Unido) e

menor nos menos desenvolvidos (Espanha e Polônia), sugerindo que esses últimos têm

desafios próprios – que não são capturados pelos fatores impulsionadores e barreiras

selecionados – e precisam adaptar estratégias e mecanismos aos seus contextos específicos e

não somente imitar estratégias, mecanismos, estruturas e atividades implementadas nos países

desenvolvidos.

Um fator externo à universidade que tem destaque especial no estímulo ao

empreendedorismo acadêmico é a colaboração em pesquisa e desenvolvimento tecnológico

com a indústria (Algieri et al, 2011). A universidade pode facilitar isso agindo ativamente

para remover barreiras internas a essa colaboração. Essa atividade tem diversos

desdobramentos positivos dentre os quais destacam-se aumentar o financiamento e melhorar a

infraestrutura de pesquisa da universidade (Davey et al, 2016), e colaboram para aumentar o

capital social de empreendedores potenciais.

No que diz respeito ao capital social, de acordo com o levantamento de

Aldridge e Audretsch (2011), dos fatores que caracterizam pesquisadores empreendedores, ele

é o de maior impacto na decisão de empreender. O capital social consiste em canais de troca

de conhecimento que permitem aos acadêmicos conhecer o mercado, e, portanto, os ajudam

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no processo de identificar oportunidades para empreender. Além disso, colaboram para

preencher a lacuna que frequentemente existe nos pesquisadores de falta de competências

empreendedoras (Hsu et al, 2015; Davey et al, 2016).

1.3.2. Os fatores internos às universidades que influenciam na criação de spin-offs

Há uma linha de estudos que se centra na análise dos fatores internos à

universidade empreendedora e busca relacionar a quantidade de atividades de spin-offs com

os recursos das universidades, tais como nível e natureza dos fundos utilizados para financiar

a pesquisa; a estratégia, infraestrutura e sistemas de incentivo à transferência de tecnologia e à

geração de spin-offs acadêmicas. Trata-se, portanto, do que Guerrero & Urbano (2010)

categorizam como fatores formais: os recursos (humanos, físicos e financeiros), como o

capital humano, a estrutura organizacional relacionada ao empreendedorismo e as medidas de

apoio ao empreendedorismo, incluindo educação em empreendedorismo. Nesse corpo de

literatura, são analisados, por exemplo, os papéis dos escritórios de transferência de

tecnologia e estruturas de apoio no processo de criação de novas empresas; o impacto dos

programas educacionais na orientação e desenvolvimento de habilidades e comportamentos

dos estudantes em relação ao empreendedorismo, assim como os sistemas de recompensa.

A forma como os recursos são usados e organizados pode influenciar no

desenvolvimento de spin-offs e no tipo e quantidade de empresas que poderão ser criadas. A

opção por criar poucas empresas que tenham o potencial de se tornar empresas globais e gerar

ganhos significativos de capital ou muitas empresas pequenas voltadas para a criação de

empregos locais demanda um perfil totalmente diferente de alocação e gerenciamento de

recursos por parte da universidade. Essa constatação leva a inferir que o tipo de spin-off que

pode ser criada em uma universidade deve estar alinhada às capacidades e recursos

disponíveis na instituição (Clarysse et al., 2005).

Neste caso, os acadêmicos são os recursos humanos mais importante tanto para a

educação quanto para a geração de inovação por meio da pesquisa (Guerrero & Urbano,

2010). Vários fatores têm sido associados pela literatura ao pesquisador acadêmico que se

envolve em atividades de empreendedorismo. Entre os principais estão: a quantidade de

financiamento governamental para pesquisa recebida pelo pesquisador; a qualidade do

acadêmico (mensurada pelo número de citações); participação em projetos de pesquisa

financiados pela indústria, e o tamanho e a qualificação da equipe de pesquisadores liderada

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pelo acadêmico (O’Shea et al., 2005; Powers e MacDougall, 2005). Há que se mencionar

ainda os fatores subjetivos, tais como a motivação do acadêmico para empreender, sua

inclinação para formar redes, experiências prévias em empreendedorismo, foco nas atividades

de comercialização e planejamento e o nível de experiência do pesquisador na indústria (o que

também gera um efeito positivo sobre a produção de patentes). Considera-se que os

acadêmicos com experiência prévia em empreendedorismo já acumularam conhecimento

tácito sobre o processo de comercialização de tecnologia e que a experiência no setor privado

pode ter proporcionado o desenvolvimento de habilidades únicas relacionadas à tecnologia ou

invenção que eles pretendem comercializar. A parceria com atores externos à universidade,

por sua vez, pode colaborar para aumentar a produtividade tanto acadêmica quanto comercial

dos pesquisadores (Marion et. al, 2015). Outro aspecto que pode contribuir para aumentar a

produtividade comercial da universidade, e também está diretamente relacionada à

disponibilidade de recursos humanos, é a educação empreendedora, já que se parte do

princípio de que o pesquisador precisa de pessoas qualificadas para criar uma nova empresa e

que esses recursos podem estar disponíveis na universidade se forem preparados para tal.

Atividades educacionais focadas, por exemplo, em design de produto e desenvolvimento,

prototipagem, tendências tecnológicas e criatividade podem capacitar pessoas para fazerem

avançar a ideia original. Outro tópico essencial da educação empreendedora seria a análise de

mercado, por exemplo (Nelson e Byers, 2015).

Em se tratando de recursos financeiros, a literatura destaca que a origem e a

quantidade de recursos direcionados para a pesquisa são determinantes para a geração de spin-

offs, já que a pesquisa financiada com recursos privados tem maior probabilidade de ser

comercializada, enquanto que a pesquisa financiada com recursos oriundos da indústria é mais

suscetível à transferência de tecnologia (O’Shea et. al. 2005; Powers e MacDougall, 2005).

Por outro lado, vale notar que a natureza e área da pesquisa também influenciam na propensão

a comercializar os resultados de pesquisa, já que, como destacam Nelson e Byers (2015), as

áreas de ciências biológicas, ciências da computação e química são mais propensas à criação

de spin-offs. A natureza e a área de pesquisa também determinam a quantidade de recursos

físicos e financeiros e tipos de pessoas, de forma que a infraestrutura da universidade (ou

mesmo a infraestrutura regional) pode não conseguir prover os recursos necessários para uma

ampla gama de setores (Nelson e Byers, 2015).

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No que diz respeito aos recursos físicos, a literatura observa a presença de

incubadoras de empresas, fundamentais nos primeiros anos de existência das spin-offs,

quando as relações entre pesquisadores e universidades são mais intensas, e também de

research parks (termo mais utilizado nos Estados Unidos) e science parks (termo mais

frequente na Europa) – sendo ambos associados às universidades8. Tanto a incubadora quanto

os parques tecnológicos funcionam como "instituições ponte", tendo por função facilitar a

difusão da pesquisa acadêmica para o setor privado. Nesse sentido, as conexões formais e

informais dos atores do setor privado com os pesquisadores universitários, que são facilitadas

pela proximidade física, são fatores que facilitam essa difusão, especialmente quando a

inovação requer a aplicação de conhecimento e técnicas de fronteira, como observam Link e

Scott (2015).

Já em se tratando de estrutura organizacional, é o escritório de transferência de

tecnologia que serve como um intermediário entre os ofertantes de inovações (os acadêmicos)

e aqueles que podem comercializar essas inovações (firmas, empreendedores e capitalistas de

risco). O escritório de transferência de tecnologia facilita a transferência da propriedade

intelectual produzida na universidade, seja por meio do licenciamento de tecnologia para

firmas existentes ou pela criação de novas empresas, atividade que mais recentemente tem se

estendido também aos estudantes, como visto anteriormente. Ao analisar a contribuição dos

escritórios de transferência de tecnologia das universidades italianas para a criação de spin-

offs, Algieri et al. (2013), observaram que quanto mais anos de experiência tiver o escritório,

maior será a acumulação de conhecimento heterogêneo e melhores serão os resultados em

termos de criação de spin-offs.

A criação de spin-offs sempre apareceu na literatura de empreendedorismo

acadêmico como um dos indicadores de produtividade dos escritórios de transferência de

tecnologia ou como parte do processo de transferência formal de propriedade intelectual da

universidade (Rothaermel et al., 2007). Especialmente na última década, a contribuição dos

escritórios de transferência de tecnologia na criação de spin-offs tem sido analisada de forma

mais específica. Uma das questões apontadas pela literatura diz respeito ao desafio do

escritório de transferência de tecnologia em intermediar conflitos entre os detentores da

8 De acordo com Link e Scott (2015), um research park é um aglomerado de organizações localizadas no

campus universitário (ou perto dele) com o objetivo de beneficiar a base de conhecimento da universidade e das

pesquisas em andamento.

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invenção (cientistas universitários) e aqueles que podem potencialmente comercializá-la

(firmas, capitalistas de risco e empreendedores). O escritório de transferência de tecnologia

pode ser o elemento central na realização de contratos que equilibrem os ganhos entre

pesquisadores, empreendedores, investidores e universidades, tendo em vista que a criação de

uma spin-off pode gerar retornos financeiros muito mais elevados para a universidade do que

o licenciamento de tecnologia (Siegel e Wright, 2015). Além da questão do balanceamento

dos contratos, os escritórios de transferência de tecnologia devem, em tese, ter mais expertise

que o cientista acadêmico na identificação de oportunidades e desenvolvimento de spin-offs,

além de dispor de uma rede de contatos comerciais (Lockett et. al, 2005).

Por outro lado, há quem afirme, como Clarysse et. al. (2011), por exemplo, que o

papel do escritório de transferência de tecnologia de incrementar as atividades

empreendedoras dos acadêmicos é mais limitado do que se imagina, já que os resultados são

apresentados em termos de transferência formal de tecnologia. Segundo o autor, há que se

incluir aquelas empresas que não foram criadas a partir da transferência formal de tecnologia,

tais como as resultantes do empreendedorismo estudantil. Nessas circunstâncias, cabe

observar que as iniciativas de apoio e conscientização também se estenderam ao corpo

discente, e vão desde a introdução de disciplinas relacionadas ao empreendedorismo até a

organização de eventos para estimular novas iniciativas e proporcionar mentoria (Clarysse et

al., 2009). Nesse sentido, alguns estudos recentes (Siegel e Wright, 2015a; Wrigth et al.,

2017) apontam para a necessidade de se elucidar os fatores por trás da criação spin-offs por

estudantes. Eles mencionam as iniciativas de promoção adotadas pelas universidades, mas

afirmam que ainda não estão claros os motivadores deste tipo de empreendedorismo. A

dificuldade em entender e mapear as redes de atores aos quais os estudantes podem ter se

vinculado é uma das principais razões mencionadas por esta literatura mais recente.

Por fim, vale mencionar entre os fatores internos à universidade, os sistemas de

recompensa, que podem ser monetários (bônus, uso de recursos corporativos e partilha de

lucros) e não monetários (promoções e sistemas de reconhecimento). Os membros da

universidade buscam informações sobre quais atividades são recompensadas pela instituição e

direcionam seu comportamento para essas atividades, de forma que se as universidades

querem fomentar atividades de empreendedorismo, elas devem implementar sistemas de

recompensa também para realizações empreendedoras (além de pesquisa e ensino). Ou seja,

quanto melhor o sistema de recompensa, maior a intenção dos pesquisadores de criar spin-

offs, patentear ou licenciar (Huyghe e Knockaert, 2015).

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1.3.3. Os fatores relacionados ao contexto sociocultural da universidade

Todavia, não há como ignorar o ambiente institucional, considerando que o

contexto pode estimular ou restringir o engajamento dos pesquisadores nas atividades de

empreendedorismo (Bercovitz e Feldman, 2008; Huyghe e Knockaert, 2015). Partindo da

abordagem institucionalista – para a qual as instituições podem moldar os objetivos e crenças

dos atores –, Huyghe e Knockaert (2015), destacam que as características das universidades

influenciam no quanto os pesquisadores podem desejar ou não se engajar em atividades

empreendedoras. A partir de uma pesquisa da qual participaram 437 pesquisadores de seis

universidades suecas e alemãs, e que teve como foco investigar o papel do clima e da cultura

organizacional, os autores apresentam evidências de que o contexto das universidades pode

sim moldar as intenções dos pesquisadores em se engajarem na criação de spin-offs e

patenteamento dos resultados das suas pesquisas. Quanto mais as universidades enfatizam o

empreendedorismo acadêmico em suas missões, em comparação às atividades de pesquisa e

ensino, maiores serão as intenções dos cientistas de se engajar na criação de spin-offs e na

proteção de propriedade intelectual. Por outro lado, as mudanças de contexto dependem do

desejo dos indivíduos de adotar novas regas, rotinas e comportamentos. Sendo assim, se os

indivíduos não estiverem dispostos a aceitar mudanças e aumentar o engajamento nas

iniciativas de criação de spin-offs, não basta que a universidade mude sua estrutura

organizacional de forma a promover o empreendedorismo (Bercovitz e Feldeman, 2008).

Nesse sentido, conforme explicam Monge et al (2011) os principais determinantes

institucionais da criação de spin-offs acadêmicas são: a missão da universidade, sua cultura,

história e tradição. Quanto mais esses fatores estão direcionados à criação de empresas ou à

colaboração com a indústria, maior a propensão de a criação de spin-offs ser escolhida como

mecanismo de comercialização dos resultados de pesquisa. Em contrapartida, a estratégia de

publish or perish, a relação ambígua dos pesquisadores com o dinheiro e a natureza

desinteressada da pesquisa acadêmica frequentemente são forças contrárias que dificultam

qualquer tipo de criação de spin-offs ou até mesmo a transferência de tecnologia por outras

vias (O'Shea et al, 2007b, Monge et al, 2011).

Guerrero e Urbano (2011) sugerem que o modelo conceitual de uma universidade

empreendedora é composto por fatores ambientais e internos. Ainda de acordo com a

abordagem institucionalista, os autores propõem uma divisão dos fatores ambientais em

formais (estrutura de governança e organização empreendedora, medidas de apoio ao

empreendedorismo, e educação empreendedora) e informais (atitudes da comunidade

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universitária em relação ao empreendedorismo, metodologias de ensino de

empreendedorismo, sistema de incentivos e empreendedores modelo). Os fatores internos, por

sua vez, são divididos em recursos (humanos, financeiros, físicos e comercia) e competências

(status, prestígio, redes e alianças, e localização), de acordo com a visão baseada em

recursos9.

Uma análise estatística de dados de 50 universidades espanholas revelou que os

fatores ambientais são condicionados de forma mais significativa por fatores informais, ou

seja, os fatores mais críticos para determinar o nível de atividade empreendedora das

universidades estão relacionados a uma atitude positiva dos pesquisadores e estudantes acerca

do tema empreendedorismo. Dito de outra forma, os fatores ambientais, se comparados aos

fatores internos, geram uma contribuição maior para as missões das universidades

empreendedoras (Guerrero e Urbano, 2011).

Em seu estudo de caso do MIT, O'Shea et al (2007a) explicam que a literatura que

se dedica a explicar a criação de spin-offs divide-se em quatro principais vertentes:

características pessoais do indivíduo empreendedor, características estruturais e recursos das

universidades, normas sociais e comportamento institucional, e finalmente, o impacto nos

acadêmicos de forças sociais, econômicas e organizacionais. No que diz respeito à terceira

vertente, que argumenta que universidades cuja cultura apoia atividades de comercialização

terão maiores níveis de criação de spin-offs e transferência de tecnologia, os dados do estudo

de caso sugerem que a presença dos seguintes fatores podem ser significativos para explicar o

sucesso do MIT: a excelência em pesquisa (sobretudo interdisciplinar); redes formais e

informais entre governo, indústria e academia; estrutura organizacional (sobretudo escritório

de transferência de tecnologia e programas de empreendedorismo); firme compromisso com a

exploração da pesquisa (políticas claras e aplicadas de maneira consistente no apoio à

formação de start-ups10

por acadêmicos); escritório de transferência de tecnologia dotado de

funcionários com treinamento técnico e experiência na indústria; tradição e histórico de

comercialização de tecnologias radicais via start-ups; atitude positiva dos acadêmicos em

9 Do inglês: Resource Based View (RBV).

10 Ainda que haja diferenças conceituais entre start-up e spin-off, nessa dissertação consideramos que ambas são

sinônimos para empresas resultantes da atividade de empreendedorismo acadêmico. Atualmente, o

empreendedorismo acadêmico abrange as atividades de patenteamento, licenciamento, criação direta e indireta

de novas empresas, parceria universidade-empresa e também o desenvolvimento econômico e regional

(Rothaermel et al, 2007; Grimaldi et. al., 2011; Siegel e Wright, 2015).

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relação à comercialização de tecnologias e a criação de empresas e tradição de financiamento

industrial e militar da pesquisa.

Além desses fatores, observa-se um processo sistêmico, a partir do qual os efeitos

de aprendizado de sucessos prévios determinam parcialmente as atividades atuais de spin-off.

O estudo de caso do MIT aponta que a missão original da universidade, o comprometimento

de indivíduos-chave com a atividade de comercialização e o sucesso na criação de spin-offs e

transferência de tecnologia juntos contribuíram para construir uma cultura que hoje

impulsiona a atividade empreendedora (O'Shea et al, 2007a).

Huyghe e Knockaert (2015) abordam a organização como instituição e situam

a pesquisa em uma corrente específica da teoria institucional, chamada de “novo

institucionalismo”. Nessa abordagem teórica, as instituições são instrumentais em moldar os

objetivos e crenças dos atores, que por sua vez, afetam forças motivacionais e

comportamentos. Sendo assim, os autores argumentam que o contexto institucional no qual os

pesquisadores estão inseridos pode estimular ou restringir o engajamento em atividades de

empreendedorismo. Os autores sugerem que as características das universidades, em termos

de cultura organizacional e clima organizacional, influenciam a extensão das atividades

empreendedoras pretendidas pelos pesquisadores. O estudo traz evidências de que as

universidades podem moldar as intenções dos pesquisadores de se engajarem na criação de

spin-offs, patenteamento e interação com a indústria, ao oferecerem um ambiente institucional

que promova o empreendedorismo acadêmico. Quanto mais as universidades enfatizam o

empreendedorismo acadêmico em suas missões em comparação às missões tradicionais de

pesquisa e ensino, maiores serão as intenções dos cientistas de se engajarem na criação de

spin-offs e propriedade intelectual. Outros aspectos que se destacam são a presença de

modelos de empreendedores11

que levam ao fortalecimento das intenções por parte dos

pesquisadores em imitar o mesmo mecanismo de comercialização, e melhores sistemas de

recompensa, que impactam significativamente a intenção dos pesquisadores de criar spin-offs,

patentear ou licenciar.

Instituições que ainda não têm uma base cultural favorável à atividade

empreendedora devem tomar iniciativas práticas e criar mecanismo abrangentes, que tornem

claro que existe apoio institucional ao empreendedorismo. Por exemplo, normas

departamentais, receptividade do escritório de transferência de tecnologia, participação

11 Do original em inglês: role-model.

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adequada dos pesquisadores nas receitas de transferência de tecnologia (sejam elas royalties

ou equity) ou políticas de licença favoráveis, para que os acadêmicos possam se afastar da

universidade por um período de tempo para empreender (Siegel et al, 2004, O'Shea et al,

2007b, Hsu et. al, 2015).

1.3.4. Indivíduos nas atividades de empreendedorismo

O foco nos indivíduos – cientistas alocados em uma instituição de pesquisa que

tem, entre suas missões, as atividades de empreendedorismo – é uma tendência crescente

entre os estudos sobre empreendedorismo acadêmico. As diferenças entre os indivíduos estão

no centro das discussões da literatura sobre empreendedorismo em geral. As características

pessoais dos indivíduos, tais como personalidade, idade e histórico acadêmico e até mesmo o

papel da genética (ver Nicolaou et al, 2008) são aspectos que, acompanhados pelo contexto

social, são utilizados pela literatura sobre empreendedorismo para explicar a tendência a se

tornar empreendedor. Todavia, até o final dos anos 2000, a falta de pesquisas focadas nas

motivações que levavam os indivíduos à decisão de iniciar um negócio era considerada como

uma lacuna significativa na literatura sobre empreendedorismo acadêmico

(Rohthaermel et al., 2007; Krabel e Mueller, 2009). Desde então, as intenções, percepções e a

possível influência do contexto no qual os indivíduos estão inseridos são temas de pesquisa

cada vez mais recorrentes neste corpo de literatura. Além de se tornaram mais frequentes na

última década, os estudos que têm como objeto de pesquisa o indivíduo ampliaram o escopo

da análise ao buscar entender quais fatores influenciam a intenção de empreender dos

indivíduos.

Começando por investigar a disposição do indivíduo para empreender, não há

como fazer uma separação binária entre cientistas que estão dispostos a empreender e os que

não estão dispostos a empreender em nenhuma circunstância, seja por ideologia ou qualquer

outro fator. Em pesquisa recente, Holley e Watson (2017) demonstram que há quatro

categorias de cientistas: os não-empreendedores, que consideram que as atividades de

empreendedorismo ou não estão relacionadas às suas áreas de pesquisa ou prejudicariam a

qualidade da pesquisa; os semi-emprendedores, que veem essas atividades como

complementares e também uma forma de trazer recursos adicionais para a universidade, mas

não como a função primária da instituição; os pre-empreendedores, que estão dispostos a criar

uma empresa e licenciar parte da sua propriedade intelectual, mas afirmam que os escritórios

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de transferência de tecnologia não reconhecem o valor da suas ideias; e, por fim, os

empreendedores, que são aqueles cientistas que já criaram ou estão ativamente envolvidos na

criação de uma empresa. Estes últimos indivíduos destacam que as características dos projetos

nos quais eles estavam envolvidos, os mecanismos de apoio disponíveis (especialmente no

que diz respeito a financiamento) tiveram grande impacto nas intenções de comercializar seus

resultados de pesquisa. Ou seja, o comportamento empreendedor não deriva somente da

disposição do cientista, mas também é influenciado pelo projeto em que está envolvido e os

mecanismos de suporte disponíveis (Holley e Watson, 2017).

O estudo de Krabel e Muller (2009) busca contribuir para esse tema ao analisar os

empreendedores nascentes da Max Planck Society (MPS). O conceito de empreendedorismo

nascente não aborda o resultado da atividade empreendedora, o novo negócio, mas concentra-

se na análise de como esses novos negócios emergiram. Ao tomar como objeto de pesquisa os

empreendedores nascentes, os autores visam obter um quadro detalhado do potencial do

empreendedorismo acadêmico, independentemente se as ações irão resultar na formação de

uma nova empresa ou não. Com isso, eles demonstram que os empreendedores acadêmicos

sempre começam com uma ideia inovadora antes de se engajarem nas atividades de

empreendedorismo. As atividades de patenteamento e empreendedorismo seguem

uma sequência linear no processo de comercialização. Os cientistas que têm um

relacionamento consistente de cooperação com a indústria são mais propensos a iniciar um

novo negócio; e a experiência na criação de empresas ou de ser proprietário de uma empresa é

um indicativo consistente de que os cientistas poderão se envolver em atividades de

empreendedorismo. A questão da influência da experiência prévia do cientista no setor

privado deve-se ao fato de que a capacidade empreendedora está diretamente relacionada com

a capacidade empresarial, que por sua vez, é definida como a capacidade de identificar,

reconhecer e absorver as oportunidades, e com a experiência empresarial (envolvimento

prévio com atividades empreendedoras).

Há quem questione quais fatores tem mais ou menos impacto nas intenções do

indivíduo de empreender e também na concretização dessas intenções. Para Bart et al. (2011),

a capacidade de reconhecimento de oportunidade é a variável mais importante para prever se

um acadêmico se envolverá em atividades empreendedoras ou não. Ainda segundo o autor,

embora a literatura enfatize o papel das normas sociais de determinado departamento para

estimular ou não o engajamento do indivíduo em atividades empreendedoras, as normas

sociais são muito mais difíceis de prever se comparadaxs com a capacidade

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empreendedora. Vale observar que o reconhecimento de oportunidades é visto como um dos

aspectos mais destacados na literatura sobre empreendedorismo em geral, de forma que

quando se trata das análises relacionadas às intenções do indivíduo de empreender, ocorre

uma sobreposição entre os dois corpos de literatura (empreendedorismo e empreendedorismo

acadêmico).

Para entender como o reconhecimento de oportunidades ocorre, os estudos

geralmente focam no processo cognitivo que relaciona as percepções de oportunidade,

habilidade e controle com as intenções de empreender. As intenções de empreender podem

ser vistas, de acordo com a teoria do comportamento planejado – um modelo psicológico de

intenções que inclui atitudes, normas sociais e comportamentos percebidos como meios de

previsão das intenções dos acadêmicos de empreender –, como um meio de previsão do

comportamento planejado relacionado à abertura de um novo negócio. Partindo dessa

teoria, Prodan e Drnovsek (2010) desenvolvem várias hipóteses para testar os fatores que

podem influenciar positivamente as intenções de empreendedorismo acadêmico e as

percepções de chances de sucesso de empreendedorismo acadêmico12

, tomando como base os

casos da Universidade de Cambridge, do Reino Unido, e da Universidade de Ljubliana, da

Eslovênia. Para ambos os casos, os resultados apontam que o número de patentes, a

prevalência da pesquisa aplicada (tipo de pesquisa), o papel dos empreendedores modelo e o

número de patentes estão positivamente relacionados com as intenções dos acadêmicos de

empreender. Por outro lado, a cooperação com a indústria não está positivamente relacionada

e o número de anos passados na instituição acadêmica está negativamente relacionado às

intenções de empreender dos acadêmicos.

Partindo da mesma abordagem teórica, Goethener et al. (2012) combinam a teoria

do comportamento planejado, com variáveis econômicas (capital social e humano dos

cientistas assim como os benefícios esperados resultantes do engajamento em atividades

empreendedoras) para observar o efeito indireto das variáveis econômicas e o efeito direto das

variáveis comportamentais. A partir da aplicação deste modelo, os autores observam que as

intenções de empreender são muito mais influenciadas por fatores pessoais (atitudes e

controle percebido) do que pelos fatores associados ao contexto. O contexto somente tem um

papel relevante, segundo os autores, quando os cientistas se identificam muito com seus

pares. Nesse sentido, presença de empreendedores modelo na universidade é um aspecto

12 Do inglês: academic-entrepreneurial self-efficacy.

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bastante destacado neste corpo de literatura, pois acredita-se que ele pode levar ao

fortalecimento das intenções por parte dos pesquisadores de replicar o mesmo mecanismo de

comercialização. Segundo Bercovitz e Feldeman (2008), a exposição do indivíduo ao

comportamento de seus colegas de trabalho da instituição atual pode influenciar sua decisão

de participar de iniciativas do gênero. Ademais, quando o chefe de departamento é atuante em

transferência de tecnologia, a propensão de os outros membros do departamento se engajarem

em atividades de empreendedorismo é maior.

Todavia, embora Gothener et.al (2012) não tenham encontrado evidências sobre o

efeito do texto, outros autores destacam que ele pode sim estimular ou refrear o engajamento

dos pesquisadores nas atividades de empreendedorismo (Bercovitz e Feldman,

2008; Huyghe e Knockaert, 2015). Partindo da abordagem institucionalista – para a qual as

instituições podem moldar os objetivos e crença dos atores –, Huyghe e Knockaert (2015),

destacam que as características das universidades influenciam o quanto os pesquisadores

podem desejar ou não se engajar em atividades empreendedoras. A partir de uma pesquisa na

qual participaram 437 pesquisadores de seis universidades suecas e alemãs, e que teve como

foco investigar o papel do clima e da cultura organizacional, os autores apresentam evidências

de que o contexto das universidades pode sim moldar as intenções dos pesquisadores de se

engajarem na criação de spin-offs e patenteamento dos resultados de suas pesquisas. Quanto

mais as universidades enfatizam o empreendedorismo acadêmico em suas missões,

comparadas às outras duas missões (pesquisa e ensino), maiores são as intenções dos

cientistas de se engajarem na criação de spin-offs e proteção de propriedade intelectual. Por

outro lado, as mudanças de contexto dependem do desejo dos indivíduos de adotar novas

regas, rotinas e comportamentos. Sendo assim, se os indivíduos não estiverem dispostos a

aceitar mudanças e aumentar o engajamento nas iniciativas de criação de spin-offs, não basta

que a universidade mude sua estrutura organizacional de forma a promover o

empreendedorismo (Bercovitz e Feldeman, 2008).

Ademais, vale observar que as intenções de se engajar em atividades

empreendedoras não fazem parte do escopo de análise desta dissertação, todavia há que se

mencionar, ainda que brevemente, esta linha de estudos como parte da revisão da literatura, e

também atentar para o fato de que ao buscar identificar os aspectos que influenciam as

intenções de empreender, os estudos apresentam uma série de fatores (papel dos

empreendedores modelo, tempo do pesquisador na universidade, tipo de pesquisa, experiência

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prévia em empresa etc.) que ajudam a entender porque algumas universidades empreendem

mais do que outras.

1.4. Consolidação dos principais fatores apontados pela literatura que influenciam a

criação de spin-offs

Como visto nas seções anteriores, os fatores que influenciam a criação de spin-

offs são abordados por óticas diversas (do indivíduo, da universidade, do contexto etc.) e cada

uma dessas óticas delimita um conjunto específico de fatores. Todavia, ainda que essa

pesquisa seja realizada pela ótica da universidade, todos os fatores apontados pela literatura

ajudam a explicar o empreendedorismo acadêmico. Prova disto é que os fatores se sobrepõem

nos diferentes vieses de literatura acima mencionados. Sendo assim, Quadro 1.1 apresenta

uma consolidação desses fatores, que irá orientar as análises posteriores desta dissertação.

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Quadro 1.1 Consolidação dos fatores que influenciam a criação de spin-offs

Fator

Principais componentes

Contexto externo à

universidade

a. Marco legal de inovação

b. Parcerias e redes

c. Capital de risco

d. Interação e colaboração com indústria e governo

e. Financiamento da indústria

f. Localização

Contexto interno à

universidade

a. Capacitação de recursos humanos para empreendedorismo

b. Qualidade dos pesquisadores

c. Origem e volume do financiamento à pesquisa

d. Área de pesquisa

e. Incubadora

f. Parque científico/tecnológico

g. Escritório de transferência de tecnologia

h. Sistema de recompensa

Contexto

sociocultural da

universidade

a. Ênfase do empreendedorismo acadêmico na missão da universidade

b. Cultura

c. História

d. Tradição

e. Atitude positiva de pesquisadores e estudantes

sobre empreendedorismo acadêmico

f. Compromisso com a exploração da pesquisa

Características e

percepções dos

indivíduos

a. Personalidade

b. Idade

c. Histórico acadêmico

d. Grau de disposição a empreender

e. Capacidade de reconhecimento de oportunidade

Fonte: elaboração própria

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CAPÍTULO 2.

2. Universidade de Cambridge e Unicamp: perfil da atividade empreendedora, contextos

interno e externo às universidades e seu impacto no empreendedorismo acadêmico

2.1. Introdução

O presente capítulo apresenta e discute os dados relativos aos dois casos de

empreendedorismo acadêmico estudados nesta dissertação: a região no entorno da

Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e no entorno da Universidade Estadual de

Campinas (Unicamp), no Brasil. O capítulo é composto por 3 itens, incluindo essa introdução.

No capítulo anterior, que apresenta a revisão da literatura, identificamos quatro

fatores que influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no âmbito

acadêmico: (i) contexto interno à universidade, (ii) contexto externo à universidade, (iii)

contexto sociocultural da universidade e (iv) características pessoais dos indivíduos. O

presente estudo de caso irá se concentrar em um levantamento de dados de fontes secundárias

acerca dos dois primeiros fatores (contextos interno e externo à universidade), uma vez que a

análise dos outros dois (contexto sociocultural e características pessoais) requer um

levantamento de dados de fontes primárias cujo escopo não é compatível com o horizonte

temporal nem tampouco com a extensão de uma dissertação de mestrado.

Para uma análise adequada do contexto sociocultural seria necessário levantar,

para as regiões de Cambridge e da Unicamp, informações sobre clima e cultura

organizacional das universidades, atitude de pesquisadores sobre o tema empreendedorismo,

normas sociais e comportamento institucional, dentre outros. Já no que diz respeito às

características pessoais dos indivíduos, seria preciso levantar dados sobre características

pessoais dos pesquisadores (personalidade, idade, histórico empreendedor na família etc)

disposição a empreender, percepção de oportunidade e de chances de sucesso. Tal

levantamento traz consigo dois desafios metodológicos: não só requer acesso a fontes

primárias, como também se trata de um conjunto de informações de caráter eminentemente

subjetivo. Diante disso, optamos por delimitar nossa análise no campo dos dados secundários

e objetivos.

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Assim, o item 2 deste capítulo inicia-se com os resultados de nosso levantamento

sobre empreendedorismo acadêmico no entorno de ambas universidades - no total listamos 16

variáveis13

sobre quase 1500 empresas. Em seguida, apresentamos os fatores externos

(localização, marco legal de inovação e transferência de tecnologia no país e parcerias e

redes), e internos (política de propriedade intelectual da universidade, escritório de

transferência de tecnologia ou núcleo de inovação tecnológica14

, transferência de tecnologia

na universidade e iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico) às universidades

que influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no âmbito acadêmico. E

finalmente no item 3, apresentaremos as semelhanças e diferenças entre os dois casos

estudados.

2.2. Estudos de caso das regiões de Cambridge e Campinas: resultados de

empreendedorismo acadêmico e fatores internos e externos às universidades que

impulsionam a criação de empresas

2.2.1. Reino Unido e Cambridge

2.2.1.1. Empreendedorismo acadêmico na região de Cambridge

Realizamos um levantamento não exaustivo das empresas oriundas de Cambridge

e localizamos 961, fundadas entre 1965 e 201715

. O levantamento foi realizado em quatro

fontes distintas, uma vez que constatamos que não há uma listagem centralizada feita pela

universidade ou qualquer outra instituição. Nossas fontes são: (i) listagem do Laboratório de

Computação da universidade, (ii) listagem da Faculdade de Química da universidade, (iii)

listagem do website www.spionoutsuk.co.uk e (iv) busca na base de dados Crunchbase16

13 As variáveis levantadas sobre cada empresa foram: nome, ano de fundação, nome dos fundadores, setor de

atividade principal e secundário, categoria, se exporta, número de funcionários, cidade e país da sede, demais

endereços, se tem filial no mesmo país ou no exterior, se foi vendida, se fechou e website.

14 Nessa dissertação consideraremos como sinônimos Escritório de Transferência de Tecnologia (ETT) e Núcleo

de Inovação tecnológica (NIT).

15 Para fins de estatísticas, optamos por não considerar as empresas fundadas em 2017, uma vez que o

levantamento foi realizado antes do encerramento do ano.

16 https://www.crunchbase.com/

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(nesse caso, aplicou-se a opção “University of Cambridge” no filtro "universidade em que

estudaram os fundadores").

Após extensiva busca por uma lista centralizada, consultamos em abril de 2017 o

escritório de transferência de tecnologia da universidade de Cambridge e fomos informados

pela Diretora de Marketing e Comunicação, Shirley Jamieson, de que de fato não há nenhum

tipo de diretório geral, uma vez que "a quantidade de empresas oriundas da universidade é

muito grande e seria impossível rastrear todas". Recebemos três sugestões de fontes de

listagens parciais, todas as quais já havíamos consultado – e que compõem as fontes deste

trabalho.

Conforme explicam Garnsey e Heffernan (2005), nunca houve um levantamento

oficial de todas as empresas fundadas por membros da Universidade de Cambridge - há

listagem apenas daquelas em que a universidade investiu, que, todavia, representam uma

porcentagem muito pequena do total. Além disso, em uma visita nossa a Cambridge em 2013,

o diretor do Saint John’s Innovation Centre17

, David Gill, explicou que não há nenhum tipo

de levantamento abrangente, periódico e estatisticamente confiável de empresas oriundas da

universidade. Isso, porém, não é visto como uma lacuna. De acordo com o Cambridge

Technopole Report (2008), esse “caos construtivo” em que não há um grupo único que

centraliza atividades e organiza Cambridge, resulta em um ambiente altamente empreendedor,

ou seja, é um fator importante para o surgimento contínuo de novas iniciativas de todos os

tipos.

Para estimar qual a participação de nossa amostra no total de empresas oriundas

da universidade de Cambridge, recorremos ao estudo de Druilhe & Garnsey (2004), que

afirma que aproximadamente 20% das empresas da região tem um fundador ligado à

universidade. Usamos também informações do Cambridge Cluster Map, uma iniciativa

conjunta da Universidade de Cambridge, o banco britânico Barclays e o grupo Cambridge

Ahead, de acordo com a qual em 2016/17 havia na região um total de 24.649 empresas ativas.

Daí concluímos que 4.930 empresas ativas na região tem um fundador ligado à universidade,

portanto, nossa amostra de 961 empresas corresponde a 19,5 % do total.

17

Fundado em 1987 em terreno de propriedade do St John's College, o Saint John’s Innovation Centre é uma das

primeiras incubadoras de base tecnológica do Reino Unido. Foi inspirada em grande medida pelo sucesso do

Cambridge Science Park e pelo impacto do primeiro relatório Cambridge Phenomenon (1985). Construída em

várias etapas, hoje é o centro de um pequeno parque científico de mesmo nome (St John's Innovation Park).

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Ressalte-se que tanto no caso de Cambridge quanto no de Campinas se optou por

trabalhar com amostras não probabilísticas, ou seja, não houve aleatoriedade para a escolha

dos elementos. Os indivíduos empregados nessa pesquisa foram selecionados de acordo com

as fontes de informação que logramos encontrar e acessar, e não por meio de um critério

estatístico. Assim, sabemos que não podemos fazer afirmações gerais com rigor estatístico

sobre a população (não é possível estabelecer uma margem de erro e níveis de confiança, por

exemplo). Todavia, acreditamos que essa seleção por conveniência não introduziu nenhum

viés significativo em relação à população total, de forma que os resultados obtidos são uma

boa imagem do universo estudado - dadas, naturalmente, as limitações dessa forma de

amostragem.

A partir dos resultados desse levantamento a primeira característica que nos

chama a atenção diz respeito à a cronologia da criação anual de empresas. Embora a primeira

tenha sido criada na década de 1960, a atividade empreendedora na região só começa a

apresentar crescimento significativo três décadas depois, e em alguns anos chega a ocorrer a

criação de quase 80 empresas, conforme ilustra o Gráfico 2.1.

Gráfico 2.1 Empresas criadas por ano na região de Cambridge

Fonte: elaboração própria.

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20

30

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1965 1975 1985 1995 2005 2015

Qu

an

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Ano de fundação

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Gráfico 2.2 a seguir é uma tentativa de estabelecer uma correlação entre a criação

anual de empresas e eventos internos à universidade de Cambridge (tais como criação do

escritório de transferência de tecnologia e da nova política de propriedade intelectual) e

externos (como por exemplo o arcabouço legal de inovação no âmbito nacional). Observa-se

uma intensificação da atividade empreendedora a partir da década de 1990, que coincide com

o aumento de iniciativas para estimular e viabilizar a exploração comercial de propriedade

intelectual da universidade e o empreendedorismo acadêmico, sugerindo que talvez haja uma

relação causal entre esses eventos. Todavia, a última dessas iniciativas data de 2008, e a

quantidade de empresas criadas continua a crescer nos anos subsequentes, sugerindo que,

além desses, há também outros fatores a influenciar o empreendedorismo acadêmico na região

de Cambridge.

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Gráfico 2.2 Universidade de Cambridge: Empresas criadas por ano e eventos

importantes no marco legal de inovação, na universidade e em seu entorno (1963-2016)

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Um aprofundamento na questão da tendência de crescimento da quantidade de

empresas criadas anualmente revela que ela é muito semelhante à tendência de aumento na

quantidade de alunos matriculados em mestrado e doutorado na universidade de Cambridge,

conforme ilustra o Gráfico 2.3. Uma vez que o empreendedorismo acadêmico está

eminentemente ligado à atividade de pesquisa e frequentemente é desempenhado por

estudantes de pós-graduação, é de se esperar que aumente em taxa semelhante à de

crescimento de alunos matriculados nesse nível. A quantidade de alunos de graduação, por

sua vez, permanece praticamente inalterada ao longo dos 22 anos analisados, enquanto que a

quantidade de empresas praticamente quintuplica, de tal modo que não parece haver nenhuma

correlação direta entre essas duas variáveis.

Gráfico 2.3 Quantidade de empresas criadas por ano e de alunos matriculados em

graduação e em pós-graduação na Universidade de Cambridge (1994-2016)18

Fonte: elaboração própria a partir de dados do relatório anual do escritório de transferência de tecnologia e

anuário estatístico da universidade.

18

Escolhemos o intervalo de 1994 a 2016 porque a universidade de Cambridge não disponibiliza dados

anteriores de quantidade de alunos matriculados.

0

10

20

30

40

50

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2000

4000

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10000

12000

14000

16000

1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016

Em

pre

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Alu

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Ano

Linear (Alunos matriculados Graduação) Linear (Alunos matriculados mestrado + doutorado) Linear (Empresas criadas)

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Outro ponto interessante que se depreende da análise dos dados das empresas é a

quantidade de funcionários, conforme ilustra o Gráfico 2.4. A quantidade de empresas de

grande porte19

é muito pequena: são 7 com 501 a 1.000 funcionários, 2 com 1.001 a 5.000, e

apenas 1 com 5.001 a 10.000 e 1 com mais de 10.000 funcionários. O que há em maior

número são pequenas e médias: mais de 80% da amostra tem entre 1 e 50 colaboradores.

Gráfico 2.4 quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região de

Cambridge

Fonte: elaboração própria.

Finalmente, observa-se a presença de concentração setorial, uma vez que mais

da metade das empresas oriundas da universidade de Cambridge estão em três setores de

atuação: 32% em tecnologia da informação e telecomunicações, 12% em software e 8% em

biotecnologia.

19

De acordo com o IBGE, configura-se como empresa de grande porte aquela com mais de 500 funcionários.

43%

39%

17%

1 a 10

11 a 50

51 a 200

501 a 1000

1001 a 5000

5001 a 10000

>10000

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2.2.1.2. Contexto externo à universidade de Cambridge

2.2.1.2.1. Localização

A região no entorno da cidade de Cambridge é um ecossistema empreendedor20

bastante ativo e é tida como um dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. A cidade

está localizada em uma área de 115,6 km² e sua população é de 113.600 pessoas, por sua vez

a região metropolitana em seu entorno, que engloba outras 19 cidades, ocupa uma área de 184

km² e tem 360.000 habitantes.

O entorno de Cambridge abriga 4.733 empresas intensivas em tecnologia, que

juntas empregam mais de 60 mil pessoas e tem faturamento de £12,3 bilhões21

. Além disso,

há três universidades, 19 parques científicos e comerciais, 6 incubadoras, 10 fundos de

venture capital, 4 grupos de investidores anjo, um de investimento semente, um fundo de

prova de conceito e diversos centros de pesquisa e desenvolvimento (das universidades, de

empresas de vários portes e do governo), dentre outros. No início, havia na região

essencialmente empresas de engenharia e computação, porém hoje há maior concentração nas

áreas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) e biotecnologia (Kirk & Cotton,

2012).

Todavia, a região nem sempre foi marcada pela atividade empreendedora. Até a

década de 1970 havia, de ambas as partes, muita resistência contra o relacionamento entre

universidade e empresa e, consequentemente, pouquíssimos casos de interação. Do mesmo

modo, tanto a universidade quanto os governos municipal e do condado eram contra

atividades comerciais e a expansão industrial na cidade e em seu entorno (Kirk & Cotton,

2012). Assim, até esse período Cambridge era uma cidade marcada pela forte presença da

universidade, mas praticamente desprovida de empresas de base tecnológica.

20

De acordo com Mason & Brown (2014), ecossistema empreendedor é "um conjunto de atores empreendedores

(existentes ou potenciais) inter-relacionados, organizações empreendedoras (ex. empresas, capitalistas de risco,

investidores anjo, bancos etc.), instituições (universidades, agências públicas e de financiamento) e processos

empreendedores (ex. taxa de surgimento de empresas, quantidade de empresas de alto crescimento e de

empreendedores seriais e de grande sucesso etc.) que unem-se para, formal e informalmente, conectar, mediar e

governar o desempenho dentro do ambiente empreendedor local" ou ainda, segundo Neck et al (2004),

“ecossistemas empreendedores são definidos como os componentes de sistemas empreendedores que promovem

a criação de novas empresas em um contexto regional específico”.

21 Fonte: www.camclustermap.com, acessado em 21/03/2018.

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57

Em 1969 o relatório Mott Report recomendou a construção de um parque

científico em Cambridge. Por consequência, em 1973 ocorreu a fundação

do Cambridge Science Park por um college da universidade e também alterações no

zoneamento da cidade, que até então havia sido extremamente restritivo em relação a

atividades empresariais e industriais - além de antiquado em suas definições de

tais atividades (Kirk & Cotton, 2012).

Mais do que isso, porém, o Mott Report recomendava para a cidade de Cambridge

e seu entorno uma expansão da indústria baseada em ciência, de modo a usufruir ao máximo

de sua concentração de conhecimento científico, laboratórios e bibliotecas, bem como para

aumentar a retroalimentação da indústria para a comunidade científica local.

Em 1985 já havia 360 empresas de alta tecnologia na região, que hoje é tida como

um dos principais clusters de alta tecnologia do mundo. As principais áreas tecnológicas com

representação na região são: tecnologia da informação e comunicação, biotecnologia,

eletrônica, instrumentação e nanotecnologia (Minshall & Gill, 2013).

A proximidade com Londres - localizada a 90 km ao sul de Cambridge - também

é um fator importante para o dinamismo empreendedor da região. Ao norte de Cambridge há

uma área agrícola e exígua presença de parques, empresas, laboratórios ou centros de

inovação. Já ao sul da cidade, conforme se pode ver na Figura 2.1, há uma considerável

concentração de parques e empresas, sobretudo da área farmacêutica, e a proximidade com a

capital faz dessa área uma espécie de extensão da cidade de Cambridge. Além disso, Londres

concentra serviços financeiros, contábeis, imobiliários e de advocacia, que também são

oferecidos em Cambridge, porém em menor escala. A curta distância e a boa infraestrutura de

transporte público facilitam a circulação entre as duas cidades e contribuem para o

fortalecimento da atividade empreendedora no entorno de Cambridge.

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Figura 2.1 - Mapa da cidade de Cambridge e localização dos principais parques

Fonte: The Cambridge Phenomenon: 50 Years of Innovation and Enterprise (2012).

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2.2.1.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Reino Unido

Ao contrário do Brasil com a Lei de inovação (lei nº 10.973/2004) ou dos Estados

Unidos com o Bayh Dole Act (1980), o Reino Unido não dispõe de uma legislação única de

estímulo à inovação. Isso, porém, não significa que o tema não seja de importância para o

governo. Pelo contrário, a inovação é considerada peça central na estratégia de

desenvolvimento econômico do país, e é apoiada por um conjunto de planos, relatórios,

recomendações e revisões periódicas. Ou seja, o governo é responsável pela articulação entre

os atores do sistema de inovação do país, bem como pela definição, implementação e

financiamento de políticas e programas de incentivo à inovação (López-Ruiz, 2010; Toledo,

2015).

No início da década de 1990 dois eventos importantes marcam o início da

preocupação sistemática do governo federal com o fomento à inovação tecnológica: em 1992

foi criado, junto ao parlamento britânico, o Escritório de Ciência e Tecnologia, e em 1993 o

relatório Realising our potential apresenta a nova visão do governo sobre a importância da

ciência e da pesquisa para o progresso econômico e a melhoria da qualidade de vida da

população. O relatório destacou a importância de melhorar a alocação de recursos

governamentais para ciência e tecnologia, com vistas a reduzir a discrepância entre a

excelência nacional em ciência e tecnologia e a - comparativamente diminuta - capacidade de

explorá-las comercialmente.

Desde que chegou ao poder em 1997, o governo trabalhista enfatizou

sistematicamente a política de inovação do Reino Unido, com o objetivo de reduzir a

defasagem de produtividade com relação a outros países desenvolvidos como França,

Alemanha e Estados Unidos. Tal defasagem, segundo o relatório Productivity in the UK: the

evidence and the Government’s approach, de 2000, devia-se ao déficit nacional de capital

humano e físico, bem como às taxas de inovação baixas quando comparadas com outras

economias de porte similar.

A publicação pelo governo federal da revisão Lambert Review22

, em 2003, é um

marco nas relações entre academia e indústria no Reino Unido. Ao analisar as relações entre

universidade e empresa, o documento apresenta uma série de recomendações para melhorar a

distribuição de direitos de propriedade intelectual entre esses dois atores, além de indicar que

22

Lambert Review of Business-University Collaboration: Final Report, 2003.

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a maioria das empresas prefere alocar suas atividades de P&D perto de centros de pesquisa de

excelência. A revisão apontou ainda para a necessidades de maior apoio do governo para as

colaborações entre universidade e empresa, bem como a importância de as universidades

aprenderem a identificar áreas de pesquisa com vantagens competitivas. Além disso, destaca

que as empresas devem aprender a explorar comercialmente as ideias inovadoras

desenvolvidas na universidade (Straw, 2009; Wilson, 2012, Dodgson & Staggs, 2012).

No ano seguinte, em 2004, o governo publica sua resposta à Lambert Review:

um plano de 10 anos de investimento em ciência e tecnologia23

. Esse documento tinha os

objetivos de (i) viabilizar a redução da defasagem entre a excelência nacional em ciência e

tecnologia e a capacidade de explorá-las comercialmente, e (ii) aumentar a porcentagem do

produto interno bruto24

investida em pesquisa e desenvolvimento25

.

Em 2008 é lançado um documento importante no âmbito da formulação da

política de inovação do Reino Unido: o relatório Innovation Nation26

. Trata-se de um

documento que explicita o intuito do governo de fazer da inovação peça central do progresso

nacional (Straw, 2009; Lópes-Ruiz, 2010).

Concomitantemente à criação dos planos, relatórios, recomendações e revisões

periódicas apresentados, o governo investiu na fundação de um conjunto de órgãos que

orientam, financiam e estimulam a estratégia de inovação no Reino Unido. O Quadro 2.1 lista

os principais órgãos, seu ano de fundação e escopo de atuação.

23

Science and Innovation Investment Framework 2004-2014.

24 Segundo o relatório Productivity in the UK: the evidence and the Government’s approach (2000), em 1990 os

investimentos em P&D correspondiam a 2,2% do PIB, enquanto que em 1999 passaram a representar apenas

1,9%.

25 Para tanto, propunha: (i) aumentar a participação da pesquisa e desenvolvimento no produto interno bruto de

1,9% para 2,5%, (ii) aumentar em 50% os gastos com ciência, (iii) disponibilizar mais de £1 bilhão para apoiar a

atividade inovativa através de conselhos de pesquisa e agências regionais de desenvolvimento, (iv) introduzir

uma linha de crédito para estimular a inovação em pequenas e médias empresas.

26 Esse relatório foi completado por outro documento que definiu a estratégia a ser seguida pelo Technology

Strategy Board na implantação das políticas de inovação nos anos seguintes chamado Connect and Catalyse: a

Strategy for Business Innovation 2008-2011.

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61

Quadro 2.1 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Reino Unido

Ano de fundação Nome Escopo de atuação

1992

Higher Education

Funding Council for

England (HEFCE)

Distribui recursos públicos para universidades

investirem em ensino, pesquisa e atividades de

terceira missão.

2001

Higher Education

Innovation Fund

(HEIF)

Responsável por todo o financiamento direto

recebido pelas universidades, parte do qual é

usado para promover a interação universidade-

empresa. As universidades têm liberdade para

escolher como investirão esses recursos, de

acordo com sua missão e as especificidades do

local em que estão instaladas.

2007

Department for

innovation, universities

and skills (DIUS)

Principal agente da política de inovação do

Reino Unido, e responsável pela coordenação

de diversos outros órgãos. Serve para

aprimorar a base de pesquisa do Reino Unido

e, simultaneamente, potencializar o papel dessa

base no apoio à inovação.

2007 Technology Strategy

Board (TSB)

Elemento central da estratégia de inovação do

governo britânico. Tem atuação transversal

dentro do governo, incentiva a relação

universidade-empresa e estipula áreas

prioritárias de inovação. Um dos principais

focos é investir em novos negócios que

exploram comercialmente resultados de

pesquisa.

2009 Intellectual Property

Office (IPO)

Disponibiliza estrutura de propriedade

intelectual, possibilitando que inventores e

usuários se beneficiem de novas ideias e

conhecimentos. Fonte: elaboração própria a partir de Straw (2009), Lópes-Ruiz (2010), Wilson (2012) e Witty (2013).

Nota-se, portanto, que no Reino Unido as três últimas décadas foram marcadas

pelo surgimento e fortalecimento de um abrangente arcabouço organizacional que busca

envolver os diferentes atores que participam do processo inovativo. Nesse sentido, destacam-

se os relatórios Realising our Potential (1993), Lambert Review (2003) e Innovation Nation

(2008) bem como os órgãos listados no Quadro 2.1.

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2.2.1.2.3. Transferência de tecnologia: iniciativas e posicionamento do governo e das

universidades no Reino Unido

Há três estágios no processo de estímulo à exploração comercial da pesquisa no

Reino Unido: primeiramente, até aproximadamente a década de 1980 as universidades

publicavam os resultados de sua pesquisa e a indústria cuidava de assuntos relativos à

propriedade intelectual e se ocupava de transformar tais resultados em inovação. Em um

segundo momento, as universidades passaram a ser incentivadas a desenvolver seu próprio

portfólio de propriedade intelectual, envolvendo-se em atividades de patenteamento,

licenciamento e criação de spin-offs. Finalmente, a partir de meados da década de 1990, esse

modelo linear de exploração da pesquisa é abandonado e substituído por um que reconhece a

existência de relações mais variadas e complexas entre universidade e empresa (Wilson,

2012).

Em 1948 o governo federal criou o National Research Development Corporation

(NRDC) - que mais tarde transformou-se em British Technology Group (BTG) - com o

direito exclusivo de comercializar toda a propriedade intelectual britânica financiada pelo

governo. Como a maior parte da pesquisa realizada em universidades no país é financiada

pelo governo, a partir de sua criação o NRDC passa a ter direito exclusivo sobre a maioria da

propriedade intelectual universitária do Reino Unido (Lockett et al, 2013).

Até as décadas de 1960-1970 a interação universidade-empresa era muito reduzida no

Reino Unido, e o pouco que havia era de natureza fragmentada. Via de regra, os acadêmicos

se opunham a parcerias e colaborações com a indústria, e consideravam que suas atividades

deveriam se restringir à pesquisa e ao ensino (Clark, 1998; Lockett et al, 2013). Esse cenário

começa a mudar quando o governo Conservador, que assume o poder em 1979, compele as

universidades, através de reduções em suas fontes de receita, a abrir escritórios de

transferência de tecnologia para comercializar sua propriedade intelectual27

. Contudo, não

havia políticas públicas sistemáticas para apoiar as atividades de comercialização, nem

tampouco financiamento governamental ou o conhecimento necessário dentro das

universidades e suas comunidades acadêmicas para realizar tais atividades (Lockett et al,

2013). Após algum tempo, a universidade de Cambridge por exemplo percebe essa lacuna em

sua comunidade acadêmica e toma medidas específicas para conscientizar seus pesquisadores

27

Em 1981 conclui-se a primeira rodada de cortes, que reduziu em 17% o orçamento do sistema de

universidades. O comitê responsável pelos recursos (University Grants Committee) tinha liberdade para

distribuir as reduções, que em alguns casos chegaram a 20 ou 30% (Clark, 1998).

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sobre a importância e os benefícios das atividades de transferência de tecnologia, tais como

seu programa Enterprise Champions, que conta com um ou mais pesquisadores em cada

departamento da universidade estimulando seus pares e fornecendo informações básicas sobre

comercialização de pesquisa.

Nesse primeiro momento, o principal objetivo dos escritórios de transferência

de tecnologia era a atração de verba privada de pesquisa para compensar a redução de verbas

governamentais. Em segundo lugar estavam as atividades de licenciamento, enquanto que o

interesse na criação de spin-offs era ainda embrionário (Lockett et al, 2013).

A ascensão do partido trabalhista ao poder em 1997 traz uma grande mudança

de postura do governo: ao invés de pressionar as universidades para envolverem-se em

atividades de transferência de tecnologia, optou-se por apoiá-las financeiramente nessa tarefa.

Nesse sentido, observaram-se no período modificações importantes tanto no nível

governamental quanto no das universidades. Dentre as mudanças em nível governamental

destaca-se a criação do Higher Education Innovation Fund (HEIF) em 2001, que pela

primeira vez designava fundos para as universidades investirem em atividades da terceira

missão28

. O HEIF é usado para fornecer financiamento para atividades de intercâmbio de

conhecimento com recursos do Higher Education Funding Council for England (HEFCE),

viabilizando a interação de universidades entre si, bem como de universidades com empresas,

institutos de pesquisa e afins (Witty, 2013). Já no nível das universidades destaca-se o

incentivo financeiro do governo para se envolverem em transferência de tecnologia - por

consequência do qual houve um aumento dramático na quantidade de escritórios de

transferência de tecnologia no país (Lockett et al, 2013).

Como se pode observar no Gráfico 2.5, há uma onda de criação de escritórios de

transferência de tecnologia em universidades no Reino Unido em 1994-1996, em função do

relatório Realising our potential de 1993 (que enfatizava a importância que as universidades

deveriam atribuir às atividades de transferência de tecnologia) e outra em 1997-2002

refletindo a mudança de postura do governo que assume em 1997, que ao invés de apenas

28

Outras iniciativas governamentais relevantes do período foram: criação do Science Enterprise Challenge, para

incentivar o empreendedorismo dentro das instituições de ensino superior; criação do Higher Education Reach

Out to Business and the Community em 1998, que assim como o HEIF dispunha de fundos dedicados para a

universidade investir em atividades de terceira missão; criação do SMART Awards em 1997, que fornecia

financiamento para pequenas empresas investirem no desenvolvimento de novos produtos ou processos; criação

do University Challenge Funds em 1999, que criou fundos governamentais de capital de risco para investimento

em spin-offs (Lockett et al, 2013).

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pressionar as univeqrsidades para obter receita através de licenciamentos, passou a apoiar

financeiramente tais atividades (Lockett et al, 2013).

Gráfico 2.5 Criação de escritórios de transferência de tecnologia em universidades no

Reino Unido (~1984-2002)

Fonte: elaboração própria baseada em (LOCKETT et al, 2013).

Acompanhando a tendência apresentada no Gráfico 2.5, no período de 1997 a

2003 houve também o surgimento de associações profissionais de transferência de tecnologia,

o que contribuiu para sistematizar as pressões no governo em favor da área e também para

viabilizar a coleta de dados sobre comercialização de tecnologia, o que é crucial para

aprofundar o entendimento sobre a área e também para que consiga obter mais recursos

(Lockett et al, 2013).

Nesse novo momento político, em que o governo passou a disponibilizar

recursos para as atividades de transferência de tecnologia, houve uma mudança notória na

postura de muitos acadêmicos com relação à comercialização de resultados pesquisa: eles se

tornaram mais abertos e interessados nessa possibilidade (Lockett et al, 2013). É também

nesse período que se multiplicam as diretrizes governamentais recomendando que as

universidades ofereçam reconhecimento para acadêmicos que se dedicam a atividades além

do ensino e pesquisa, mais especificamente, aquelas ligadas à transferência de tecnologia e ao

empreendedorismo acadêmico (Witty, 2013).

0

10

20

30

40

50

60

antes 1984 1984-85 1987-93 1994-96 1997-2002

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11

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51

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Acompanhando o aumento na quantidade de escritórios de transferência de

tecnologia, a partir do início dos anos 2000, observa-se também um aumento significativo nas

quantidades de parques científicos localizados dentro ou muito próximos de universidades.

Além da transferência formal de tecnologia, os parques viabilizam acesso a uma ampla gama

de possibilidades ligadas à universidade, desde expertise e instalações adequadas para

atividades de pesquisa e desenvolvimento, até a "marca" da universidade, que pode ter

renome nacional ou internacional (Wilson, 2012).

No período de 2004 a 2008 houve uma ampliação tanto no escopo das

universidades que recebiam financiamento para transferência de tecnologia, quanto das

atribuições dos escritórios de transferência de tecnologia, uma vez que o governo percebeu

que licenciamentos e spin-offs não eram capazes de gerar grandes somas que contribuíssem

significativamente para o orçamento das universidades. Como consequência dessa percepção

de que as receitas de comercialização de tecnologia eram insuficientes para financiar as

universidades, o governo passou a fornecer financiamento contínuo para atividades da terceira

missão, com grande ênfase atribuída à transferência de tecnologia (Lockett et al, 2013).

Observe-se, todavia, que houve no período uma ampliação do escopo das atividades de

transferência de conhecimento, que passaram a incluir não só as atividades de transferência de

tecnologia como também outras atividades de terceira missão. Tal ampliação, todavia, trouxe

controvérsias sobretudo no que diz respeito às métricas de transferência de conhecimento, que

são recursos cruciais usados pelo governo na determinação de alocação de recursos (Wilson,

2012).

2.2.1.2.4. Parcerias e redes

Um marco no desenvolvimento das parcerias e redes em Cambridge foi a

fundação, em 1960, da empresa de consultoria Cambridge Consultants. Tratou-se de uma

iniciativa pioneira que tinha por objetivo viabilizar parcerias de pesquisa ou consultoria entre

a indústria e a universidade. Fundada por ex-alunos da Engenharia Química, a empresa foi a

primeira a propor a formalização e sistematização dos relacionamentos externos que muitos

pesquisadores da universidade já possuíam. Além de sua importância pelo pioneirismo, a

Cambridge Consultants também colaborou, com seu sucesso, para a internacionalização de

Cambridge através do estabelecimento de um robusto setor de consultoria internacional na

região (Garnsey & Heffernan, 2005; Minshall & Gill, 2011; Kirk & Cotton, 2012).

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Há na região de Cambridge uma série de laboratórios com fortes vínculos com

as universidades locais através de atividades de ensino e pesquisa. Suas fontes de

financiamento são variadas: governo, ONGs, empresas ou o Medical Research Council do

Reino Unido, dentre outros. Localizados em ambiente fértil para a inovação tecnológica,

realizam pesquisa de ponta em parceria com as universidades e frequentemente geram spin-

outs.

Dentre as parcerias mais frequentes da universidade, destacam-se aquelas com

a indústria e o governo. O Gráfico 2.6 apresenta, para o período de 2003 a 2016, as receitas da

universidade de Cambridge com: (i) pesquisa colaborativa, (ii) prestação der serviços de

pesquisa (pesquisa contratada), (iii) consultoria e (iv) comercialização de propriedade

intelectual. Apesar das variações, observa-se que os ganhos obtidos através de pesquisa com

indústria (colaborativa ou contratada) são sistematicamente maiores do que aqueles advindos

da comercialização de propriedade intelectual e consultoria.

Além disso, observa-se que mesmo mais de dez anos após as mudanças

governamentais que aumentaram o financiamento para transferência de tecnologia, sua receita

continua sistematicamente inferior àquela obtida pela execução de pesquisa junto com, ou

para, a indústria. Ou seja, se o objetivo do governo é que as universidades se tornem

financeiramente mais autônomas e menos dependentes de recursos públicos, a

comercialização de propriedade intelectual de fato não parece ser o caminho mais indicado.

Para uma análise mais aprofundada podemos observar também o Gráfico 2.7 e o

Gráfico 2.8 que apresentam informações mais detalhadas sobre cada fonte de receita. No caso

da pesquisa colaborativa, vê-se no Gráfico 2.7 que se trata de fontes eminentemente

governamentais. Nos anos de 2003 e 2004 ainda havia aproximadamente um terço de aporte

de outras instituições, categoria na qual encontram-se, dentre outros, empresas. Todavia, a

partir de 2005 há uma queda brusca nessa categoria, acompanhada de um grande aumento no

investimento feito pelo governo do Reino Unido (que quase quadruplica) e do governo da

União Europeia (que duplica).

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Gráfico 2.6 Receita da universidade de Cambridge com pesquisa colaborativa, pesquisa

contratada, consultoria e comercialização de propriedade intelectual (2003-2016)

Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03

a 2015-16)29

Gráfico 2.7 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa

colaborativa por fonte dos recursos (2003-2016)

Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03

a 2015-16).

29 http://www.hefce.ac.uk/ke/hebci/archive/

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2015 2016

Com

posi

ção d

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Comercialização de PI

Consultoria

Pesquisa contratada

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£0 £20 £40 £60 £80 £100

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2015

2016

Faturamento anual (milhões)

An

o

Conselhos de pesquisa

Outros deptos governo Reino Unido

Governo União Europeia

Outro

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Já o Gráfico 2.8 mostra o faturamento anual das diferentes fontes de pesquisa

contratada (contract research) da Universidade de Cambridge no período de 2003 a 2016.

Nota-se que a vasta maioria dos recursos advém da interação com grandes empresas e há

poucos casos de outros (governo, ONGs etc), além de uma queda brusca na quantidade de

pesquisa contratada por pequenas empresas, que só apresenta sinais de recuperação em

2015.

Gráfico 2.8 Faturamento anual da Universidade de Cambridge com pesquisa contratada

por fonte de recursos (2003 - 2016)

Fonte: Elaboração própria a partir da Higher education - business and community interaction survey (2002-03

a 2015-16).

Sabe-se ainda que, na vasta maioria dos casos, para que se concretizem os

contratos de pesquisa contratada ou colaborativa, ou ainda de consultoria, bem como outras

formas de interação e troca de conhecimento entre universidade e parceiros (indústria,

governo, etc) é necessário que antes haja contato direto entre essas instituições. Ou seja, os

mecanismos de engajamento entre universidade e parceiros potenciais são de grande

importância e devem ser mais estimulados (Wilson, 2012). Nesse sentido, há na região uma

série de iniciativas para fomentar tais interações. O Quadro 2.2 apresenta três que foram

criadas pela própria universidade.

£0.0

£0.5

£1.0

£1.5

£2.0

£2.5

£3.0

£0

£5

£10

£15

£20

£25

£30

£35

£40

2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018

Peq

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-M

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Grandes empresas Outro Valor Total Pequenas e médias empresas

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Quadro 2.2 Iniciativas da Universidade de Cambridge para fomentar o engajamento

entre a comunidade acadêmica e parceiros potenciais

Nome Descrição

Enterprise Tuesday Curso aberto à comunidade acadêmica e da região. Visa apresentar

questões básicas dos temas de inovação e empreendedorismo.

Palestrantes oriundos de indústria, governo, academia, spin-offs etc.

Cambridge University

Enterprise Network

(CUEN)

Portal da universidade para membros da comunidade acadêmica

interessados em empreendedorismo e inovação. Reúne informações

sobre as diversas iniciativas da universidade nessas áreas, tais como

cursos, eventos de networking, apoio para abrir um negócio ou

comercializar tecnologia.

Industry Engagement

Forums

Eventos de um dia de duração em que acadêmicos (docentes,

pesquisadores ou estudantes de pós-graduação) reúnem-se com

representantes da indústria para identificar áreas de interesse comum.

Promovidos pelo escritório de transferência de tecnologia da

universidade (Cambridge Enterprise). Fonte: Elaboração própria.

Adicionalmente, a região conta com uma vasta gama de redes e eventos com o

mesmo objetivo. Trata-se de iniciativas que não foram criadas pela universidade, mas contam

com sua ativa participação. Sua listagem e breve descrição encontram-se no Quadro 2.3.

Quadro 2.3 Redes e eventos da região de Cambridge para fomentar o engajamento entre

universidade e parceiros potenciais

Nome Descrição

Cambridge Network Associação que promove a interação entre academia e

indústria para compartilhar ideias, estimular parcerias e

projetos colaborativos. É o mais notório grupo de networking

da região.

Business Leaders’ Network

(BLN)

Rede que faz eventos para promover a interação,

investimento e discussão entre indivíduos de diversos clusters

de inovação do Reino Unido.

Cambridge High-tech

Association of Small

Enterprises (CHASE)

Associação de start-ups e pequenas empresas de base

tecnológica da região de Cambridge.

Cambridgeshire Chamber of

Commerce

Organização que promove oportunidades de networking para

empresas locais e simultaneamente representa seus interesses

junto ao governo.

Connected Cambridge Parte de uma rede de comunidades empreendedoras pelo

mundo que ter por objetivo compartilhar experiências.

Envirotech Rede de negócios específica para a área de energia e

mercados ambientais.

One Nucleus (antigo ERBI) Organização para empresas das áreas de saúde e ciências da

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70

vida, tem uma unidade em Cambridge e uma em Londres,

que formam o maior cluster de ciências da vida e saúde da

Europa.

Cambridge Tech Meetup Grupo de networking para quem trabalha com tecnologia na

região de Cambridge.

CamCreative Grupo de networking para as áreas de design gráfico e de

web, mídia, literatura, artes visuais e performáticas,

multimídia e cultura em geral.

CamTechNet Grupo para reunir informação para profissionais trabalhando

na área de tecnologia em Cambridge.

MakeSpace Laboratório de prototipagem aberto para empreendedores,

indústria e demais pessoas e instituições que trabalham com

inovação.

Cambridge Corporate

Gateway

Encontro bianual que proporciona a empresa de todo o

mundo a oportunidade de acessar o cluster de tecnologia da

região e pesquisa da universidade.

Cambridge Technology

Management Symposium

Simpósio anual que parte de práticas e pesquisa de ponta para

abordar desafios nas áreas de tecnologia e gestão da

inovação.

OneNucleus Annual

Conference

Conferência anual de ciências da vida de saúde. Maior evento

do gênero da Europa.

Greater Cambridge

Partnership (GCP)

Conference

Evento anual que reúne a academia e os setores público e

privado para discutir questões de política da região.

High Value Manufacture

Conferences

Fóruns para discutir tópicos relacionados a manufatura de

alto valor.

Silicon Valley Comes to

Cambridge

Evento anual que reúne investidores e empreendedores do

Vale do Silício e de Cambridge.

Technology Ventures

Conference

Conferência anual que permite a interação de

empreendedores, investidores e pesquisadores. Fonte: Elaboração própria.

Finalmente, no que diz respeito à disponibilidade de capital, o histórico da região

de Cambridge inicia-se em 1978, quando o banco britânico Barclays começa a realizar

investimento em novas empresas. Todavia, em função das divergências entre o investimento

bancário e as necessidades das empresas eminentemente tecnológicas da região, a partir do

final da década de 1990, e sobretudo nos anos 2000, passam a ser criados e a se instalar na

região, investidores especializados.

Atualmente Cambridge conta com oito fontes de venture capital e quatro de

investimento anjo externas à universidade – além das várias iniciativas de financiamento da

própria universidade, que serão abordadas no item 2.2.1.3.4 a seguir. Conforme se pode

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observar no Quadro 2.4 e no Quadro 2.5, há grande variedade de fundos e também em suas

áreas de atuação.

Quadro 2.4 Fontes de investimento anjo da região de Cambridge externas à

universidade

Nome Área de atuação

Cambridge Angels Grupo de investidores anjo criado para investir e acelerar start-ups

da região.

Cambridge Capital

Group

Grupo de investidores anjo que investe em empresas de base

tecnológica de todas as áreas.

Choir of angels Grupo informal de anjos que investe em áreas em que seus membros

têm expertise para também aportar conhecimento.

Great Eastern

Investment Forum

Rede de anjos. Às vezes trabalha em parceria com GEIF Ventures.

Fonte: Elaboração própria.

Quadro 2.5 Fontes de venture capital da região de Cambridge externas à universidade

Nome Área de atuação

Amadeus Capital Partners Comunicação, computação (hardware e software), mídia, e-

commerce, medicina e energias limpas.

Avlar BioVentures Biotecnologia, ciências da vida, medicina e saúde.

Create Partners Todas.

DFJ Esprit Mídia, telecomunicações e saúde.

ET Capital Empresas de alto crescimento em todas as áreas.

GEIF Ventures Investe em estágios iniciais.

IQ Capital Semente, early stage e expansão para empresas de base

tecnológica.

TTP Venture Managers Semente e early stage para empresas de base tecnológica. Fonte: Elaboração própria.

2.2.1.3. Contexto interno

Fundada em 1209, a Universidade de Cambridge é a quarta mais antiga em

funcionamento de todo o mundo (Sager, 2005) e é internacionalmente reconhecida: ocupa o

quinto lugar no QS World University Rankings, 2018 e também o terceiro lugar no Academic

Ranking of World Universities, 2017. Além disso, em 2017 contava com 1.666

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docentes, 12.044 alunos de graduação e 9.612 de pós-graduação30

. Em 2015-16 seu

orçamento foi de £1,64 bilhões (CAMBRIDGE, 2016).

Muito se debate, sobretudo no caso de instituições tão antigas como Cambridge

ou Oxford, sobre o papel das universidades na sociedade. Durante seus primeiros séculos de

história a Universidade de Cambridge, esteve focada internamente, no “estudo pelo estudo”31

sem interesse pelo setor produtivo.

A partir da década de 1960, porém, mudanças significativas tanto na política

interna da universidade, quanto na da região, permitiram uma aproximação das empresas, de

modo a viabilizar um aumento exponencial da exploração comercial de propriedade

intelectual produzida na universidade. Houve no período aumento dos contratos de

transferência de tecnologia, de contratos de consultoria e de iniciativas de empreendedorismo

acadêmico.

Marcos importantes nesse processo de abertura da universidade para a interação

com o setor produtivo e para o empreendedorismo acadêmico são: (i) a formalização da atual

política de propriedade intelectual da universidade, que data de

2005 (2005 Ordinance in Intellectual Property Rights); e (ii) a criação do escritório de

transferência de tecnologia da universidade (Cambridge Enterprise), em 2006. O escritório

atua na comercialização de propriedade intelectual gerada na universidade, facilitação de

prestação de consultoria e investimento semente em start-ups e spin-offs.

A seguir, aprofundaremos a análise do contexto interno da Universidade de

Cambridge com ênfase em quatro tópicos: política de propriedade intelectual, escritório de

transferência de tecnologia, resultados de transferência de tecnologia e consultoria e

iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico.

30

Fonte: https://www.prao.admin.cam.ac.uk/data-analysis-planning/student-numbers/time-series

31 Conforme explica Newman em: The Idea of a University; Newman, On the Scope and Nature of a University

Education.

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2.2.1.3.1. Política de propriedade intelectual da universidade de Cambridge

A formalização da atual política de propriedade intelectual da universidade data

de 2005 (2005 Ordinance in Intellectual Property Rights). De acordo com essa política, em

princípio as tecnologias pertencem à universidade e essa se responsabiliza por todos os

aspectos de sua proteção e eventual licenciamento, todavia, aqueles pesquisadores que

quiserem ser proprietários de suas tecnologias têm liberdade para tanto, bastando apenas fazer

um requerimento e, naturalmente, responsabilizar-se por todos os aspectos de sua proteção e

exploração comercial. Exceções se aplicam no caso de pesquisa contratada ou colaborativa –

nesse caso, parte da propriedade intelectual pode caber aos terceiros que financiam ou co-

financiam a pesquisa. Em todos os casos, as regras se aplicam da mesma maneira para

pesquisadores, funcionários e alunos da universidade – tanto deveres quanto direitos (autoria,

retorno financeiro etc) (CAMBRIDGE, 2010).

Antes da política de propriedade intelectual de 2005 Cambridge tinha uma postura

pouco usual entre as universidades do Reino Unido, uma vez que concedia automaticamente a

titularidade da propriedade intelectual aos seus inventores. Ainda que a administração central

não apoiasse ativamente a transferência de tecnologia, sua abordagem era laissez-faire, uma

vez que tampouco impedia seus pesquisadores de desenvolver aplicações comerciais ou

empreender, desde que continuassem cumprindo suas atividades de ensino e pesquisa

(Garnsey & Heffernan, 2005).

2.2.1.3.2. Escritório de transferência de tecnologia

Cambridge Enterprise, o escritório da transferência de tecnologia da Universidade

de Cambridge é uma subsidiária da universidade criada em 2006 para ajudar a

comunidade acadêmica a proteger e comercializar tecnologias e expertise.

Suas áreas de atuação são: serviços de transferência de

tecnologia (patenteamento, licenciamento, fundo de prova de conceito etc) serviços de

consultoria (prestada por professores e funcionários da universidade) e financiamento

semente.

Em 2017 a Cambridge Enterprise depositou 276 patentes, foi responsável pela

assinatura de 126 contratos de licenciamentos, investiu £979.000 em patentes e provas de

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conceito, teve receita de £16,9 milhões referente a licenciamentos e consultoria e investiu

um total de £5,2 milhões em spin-outs (CAMBRIDGE, 2017).

2.2.1.3.3. Transferência de tecnologia e consultoria na universidade de Cambridge

As iniciativas de transferência de tecnologia da universidade de Cambridge

ganharam fôlego a partir da criação do escritório de transferência de tecnologia em 2006,

conforme é possível observar no Gráfico 2.9, que apresenta as quantidades de licenças

assinadas por ano no período de 2007 a 2016. Em um período de dez anos a quantidade de

tecnologias licenciadas pela universidade mais que dobrou, saltando de 60 para 127. Nesse

processo, o papel do escritório de transferência de tecnologia foi muito importante uma vez

que não só assumiu e sistematizou a tarefa de licenciar tecnologias, como também disseminou

o conceito pela universidade, divulgando casos de sucesso e estimulando mais pesquisadores

a buscarem a proteção e transferência de suas tecnologias.

Gráfico 2.9 Quantidade de licenças assinadas por ano em Cambridge (2007-2016)

Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios anuais do escritório de transferência de tecnologia.

0

20

40

60

80

100

120

140

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Quanti

dade d

e lic

enças

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Já no que diz respeito aos contratos de consultoria assinados, observa-se no

Gráfico 2.10 que quase triplicaram em quantidade entre 2007 e 2016. A receita total deles

obtida32

tem participação considerável na receita total do escritório de transferência de

tecnologia: em 2013, quando a receita de consultoria foi de £5.3 milhões, foi o equivalente a

28% da receita total, e no ano menos expressivo, que foi 2006, representou 17%. Ressalte-se

que não parece haver correlação positiva entre a quantidade de contratos de consultoria e sua

receita total.

Gráfico 2.10 Contratos de consultoria assinados por ano e sua respectiva receita (2007-

2016)

Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios anuais do escritório de transferência de tecnologia.

2.2.1.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o

empreendedorismo acadêmico

Dentre as iniciativas existentes em Cambridge de estímulo ao

empreendedorismo acadêmico destacam-se as relacionadas no Quadro 2.6. Elas encontram-se

divididas em quatro categorias: infraestrutura, investimento, ensino de empreendedorismo e

outros.

32

A universidade não disponibiliza esses valores todos os anos, por isso das lacunas nos dados.

£2

£3.2

£2.7

£2.5

£5.3

0

50

100

150

200

250

300

350

400

£0

£1

£2

£3

£4

£5

£6

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Qu

an

tid

ad

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s ass

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mil

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Receitas dos contatros de consultoria nº de contratos de consultoria assinados

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Quadro 2.6 Iniciativas de estímulo ao empreendedorismo acadêmico na Universidade de

Cambridge

Ano de

criação Nome Descrição

Infraestrutura

1987 St John's Innovation

Centre

Uma das primeiras incubadoras do Reino Unido.

Atende empresas nascentes de base tecnológica com

vários programas diferentes, de incubação

física e virtual, próprios ou em parceria com outras

instituições. Oferece instalações físicas a baixo custo,

aconselhamento e orientação profissional. Hoje é o

centro de um pequeno parque científico (St John’s

Innovation Park).

2003 Entrepreneurship

Centre

Surgiu da incorporação do Centre for Entrepreneurial

Learning à escola de negócio da Universidade.

Estimula e apoia a atividade empreendedora na

universidade através de uma série de cursos, eventos e

palestras.

2009 IdeaSpace Enterprise

Accelerator

Oferece modelo flexível de aluguel de mesas por

pessoa ou por empresa, além de infraestrutura de uso

coletivo e salas de reunião. É focada na construção de

comunidade.

2010 Hauser Forum

Abriga o escritório de transferência de tecnologia da

universidade, a aceleradora IdeaSpace Enterprise e faz

locação de salas comerciais para empresas interessadas

em trabalhar em parceria com pesquisadores da

universidade ou comercialização de tecnologia.

2012 Accelerate Cambridge

Aceleradora. Oferece programas de 3 a 18 meses de

duração compostos por treinamento em

empreendedorismo, mentoria, acesso a espaço de

trabalho compartilhado e a financiamento.

Investimento

1995 Seed Funds

Criado para investir em novas empresas fundadas por

colaboradores ou alunos da universidade para viabilizar

o desenvolvimento comercial de pesquisa da

universidade. Oferece três faixas de investimento: até

£20.000, até £50.000 e até £500.000.

Cambridge Enterprise

Venture Partners

Fórum de investimento do escritório de transferência de

tecnologia da universidade (Cambridge Enterprise) que

reúne capitalistas de risco e investidores anjo. Promove

eventos nos quais companhias oriundas da universidade

se apresentam para potenciais investidores.

Cambridge Innovation

Capital

Fundo de investimento ligado à universidade que

investe em empresas "ricas em propriedade intelectual"

oriundas da universidade ou da região de Cambridge.

Investe preferencialmente nas áreas de saúde e

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tecnologia, sobretudo na segunda rodada, mas

eventualmente pratica investimento semente também.

Fundo de prova de

conceito

Investimento de até £25.000 em prova de conceito

realizado através do escritório de transferência de

tecnologia da universidade.

Ensino de empreendedorismo

1999 Enterprise Tuesday

Curso aberto à comunidade acadêmica e da região.

Visa apresentar aos participantes questões básicas

acerca do empreendedorismo.

1999 Ignite

Curso de uma semana de duração voltado para

aspirantes a empreendedores. Ensina a preparar ideias

de negócio para comercialização. É composto por aulas

teóricas e práticas.

2002 Enterprisers

Programa de quatro dias de duração com foco em

desenvolvimento de autoconfiança, trabalho em equipe,

criatividade, geração e validação de ideias e

apresentação para investidores.

ETECH Projects

Curso oferecido em vários departamentos da

universidade para graduação e pós-graduação. Alunos

usam tecnologias da universidade para aprender sobre

reconhecimento de oportunidades e realização de

estudos de viabilidade.

Postgraduate Diploma

in Entrepreneurship

Curso de 12 meses de duração para estudantes de pós-

graduação ou pessoas interessadas em empreender ou

aprofundar seus conhecimentos em empreendedorismo.

Venture Creation

Weekends

Competição de dois dias de duração para permitir a

aspirantes a empreendedores verificar a viabilidade de

suas ideias de negócio.

EnterpriseWISE

Programa para doutoras e mulheres em início de

carreira nas áreas de ciências, engenharia e tecnologia.

É voltado para o desenvolvimento de habilidades e

competências, e criação de uma rede de contato de

mulheres empreendedoras.

Tier 1 Graduate

Entrepreneur

Programa para ex-alunos da universidade. Viabiliza

visto de 1 ano de duração (renovável) para desenvolver

ideia de negócio no Reino Unido.

Outros

1998 Cambridge Network

Associação que promove a interação entre academia e

indústria para compartilhar ideias, estimular parcerias e

projetos colaborativos. É o mais notório grupo de

networking da região.

1999 Cambridge University

Entrepreneurs

Fundada por estudantes, promove competições de

modelos de negócio. Oferece prêmios em dinheiro.

2003

Cambridge University

Technology and

Enterprise Club

Organização de alunos que visa fomentar o

empreendedorismo entre alunos e professores da

universidade de Cambridge. Promove uma conferência

anual sobre empreendedorismo.

2006 i-Teams Projeto em que turmas multidisciplinares (sobretudo de

doutorandos) trabalham durante um período letivo para

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fazer a análise de viabilidade comercial de tecnologias

da universidade.

2015 Entrepreneurial

Postdocs of Cambridge

Grupo que visa estimular pós-doutorandos a optar pela

carreira empreendedora.

Enterprise Champions

Programa do escritório de transferência de tecnologia.

Cada departamento tem um ou mais pesquisadores que

atuam como champions, estimulando e fornecendo

orientações básicas sobre pesquisa colaborativa,

consultoria e exploração comercial dos resultados de

pesquisa.

Cambridge University

Enterprise Network

Portal da universidade para membros da comunidade

acadêmica interessados em empreendedorismo e

inovação. Reúne informações sobre as diversas

iniciativas da universidade nessas áreas.

Start-up Careers

Lecture Series

Programa especial sobre start-ups oferecido pelo

serviço de orientação de carreira da universidade.

Industry Engagement

Forums

Eventos de um dia de duração em que acadêmicos

(docentes, pesquisadores ou estudantes de pós-

graduação) reúnem-se com representantes da indústria

para identificar áreas de interesse comum. Promovidos

pelo escritório de transferência de tecnologia da

universidade (Cambridge Enterprise). Fonte: Elaboração própria.

Nota-se a partir da observação do quadro que há em Cambridge uma grande

quantidade de iniciativas de estímulo ao empreendedorismo acadêmico, de modo a atender

uma ampla gama de públicos e demandas de complexidade variada.

Há uma série de grupos, palestras e atividades para difundir os conceitos básicos

do empreendedorismo tecnológico, há cursos, programas e competições para aprofundar os

conhecimentos na área e, além disso, há espaço físico para que as novas empresas se

estabeleçam (incubadoras, aceleradoras33

, espaços de co-working e parques) e redes de

contato para apoiá-las em seu desenvolvimento. Dentre essas iniciativas, há aquelas voltadas

para grupos específicos (docentes ou pós-doutores) e também outras abertas ao público em

geral. Dessa maneira, a universidade consegue cobrir, de maneira bastante completa, as

demandas dos mais variados estágios de maturação do empreendedorismo acadêmico e dos

mais variados grupos.

33

Apesar das variações nas definições, de maneira geral as aceleradoras são entidades privadas que tomam uma

pequena participação acionária nas empresas aceleradas, e em troca oferecem programas de treinamento e

mentoria por curtos períodos (geralmente três a seis meses). Diferentemente das incubadoras, as aceleradoras

raramente oferecem espaço físico para as empresas se instalarem (Dalle et al, 2017).

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Conforme discutido pela literatura, podemos atribuir especial ênfase a alguns

aspectos da infraestrutura interna à universidade para estímulo ao empreendedorismo

acadêmico. Em primeiro lugar, destaque-se a qualidade da pesquisa. Contando com apenas

4% dos pesquisadores do mundo, as publicações do Reino Unido representam 6% das

publicações mundiais, 12% das citações e 16% dos artigos mais citados do mundo, o que

significa que são a segunda nação em quantidade de citações de artigos científicos, ficando

atrás apenas dos Estados Unidos (Dochterty et al, 2012; DBIS, 2014b).

Nesse cenário nacional já positivo, Cambridge se destaca ainda mais: de acordo

com a última versão do Research Excellence Framework34

(2014), 47% de sua pesquisa tinha

"qualidade de líder mundial em termos de originalidade, relevância e rigor", enquanto que

40% apresentava "qualidade de excelência internacional em termos de originalidade,

relevância e rigor"35

. Na classificação geral de universidades do Reino Unido, Cambridge

ficou em 3º no levantamento de 2014, e em 2º lugar no levantamento anterior, que data de

2008. A partir de 2015, os resultados desse levantamento passaram a ser usados para

determinar a distribuição de financiamento governamental para pesquisa em universidades,

beneficiando Cambridge. Em termos quantitativos, nos últimos dez anos a universidade

publicou mais de 12 mil artigos por ano em periódicos especializados36

.

Em segundo lugar, a capacitação de recursos humanos para exercer atividade

empreendedora: a universidade de Cambridge oferece uma gama muita ampla de alternativas

de capacitação. Desde palestras avulsas que apresentam conceitos básicos e tem por objetivo

despertar curiosidade sobre empreendedorismo até iniciativas com duração de um ano; desde

cursos teóricos que apresentam conceitos como reconhecimento de oportunidade e validação

de ideias até atividades mais práticas, como competições e preparação para se apresentar a

investidores, a universidade fornece à sua comunidade uma grande quantidade de

possibilidades para instigar a curiosidade e preparar futuros empreendedores.

No quesito de investimento a universidade de Cambridge também se destaca.

Além dos oito fundos de capital de risco (venture capital) e seis de investidores anjo externos

apresentados no item 2.1.3.4, a universidade conta também com quatro iniciativas de

34

Levantamento do governo, realizado por pares, que avalia a qualidade da pesquisa em as universidades do

Reino Unido.

35 Fonte http://results.ref.ac.uk/Results/ByHei/112

36 Fonte: http://www.cam.ac.uk/system/files/research_in_numbers.pdf

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investimento geridas pelo escritório de transferência de tecnologia. Juntas, elas cobrem

diversas etapas de desenvolvimento de novos empreendimentos: desde a primeira, que é a

prova de conceito, passando pelo investimento semente até alcançar a segunda rodada de

investimento. Observe-se ainda que, apesar de serem fundos da universidade, não estão

restritos à sua comunidade, e podem investir também em empresas da região sem relação com

a universidade.

Já no que diz respeito a incubação e aceleração, a universidade dispõe de

quatro opções: uma incubadora com mais de 30 anos de experiência aberta a

empreendimentos de todas as áreas, uma incubadora exclusiva para pesquisa biomédica, e

duas aceleradoras com modelos mais flexíveis de uso do espaço e oferta de serviços.

Finalmente no quesito parques, Cambridge conta com um total de 19 parques

científicos e comerciais em um raio de 16km ao redor da cidade. Trata-se de estruturas

voltadas para empresas estabelecidas e com diversos modelos de funcionamento: alguns

permitem que as empresas construam seus prédios, outros alugam espaço próprio para elas, e

outros ainda oferecem um modelo misto. A maioria dos parques opta por não estabelecer

restrições quanto ao setor de atuação das empresas neles estabelecidas, mas há exceções. Os

primeiros parques da região foram criados pela universidade (ou por seus colleges), mas

posteriormente o setor privado entrou no ramo. Destaca-se o Cambridge Science Park: maior

e mais antigo do Reino Unido, fundado em 1971; já dentre os fundados pela universidade

estão: St John's Innovation Park, West Cambridge Site e Cambridge Biomedical Campus.

2.2.2. Brasil e Campinas

2.2.2.1. Empreendedorismo acadêmico na região da Unicamp

Também realizamos um levantamento não exaustivo de empresas oriundas da

Unicamp. Localizamos 488, fundadas entre 1963 e 201737

que constam na lista centralizada

pela Agência de Inovação da universidade denominada “empresas filhas da Unicamp”38

. A

37

Para fins de estatísticas, optamos por não considerar as empresas fundadas em 2017, uma vez que o

levantamento foi feito antes do encerramento do ano.

38 Os dados foram fornecidos pela Agência de Inovação Inova Unicamp mediante assinatura de um termo de

sigilo. As empresas entram na lista ou espontaneamente (isso é, por iniciativa de seus fundadores) ou através de

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Unicamp é pioneira no Brasil nesse esforço de identificação de empreendedores entre seu

corpo de egressos, e como parte desse esforço promoveu em 2016, através de uma parceria

entre sua Agência de Inovação e a Diretoria Acadêmica (DAC), um survey para analisar a

atuação profissional dos egressos da universidade. Constatou-se que a taxa média de egressos

empreendedores é de 7,7%39

, e de acordo com o método de extrapolação aplicado para os

egressos empreendedores, conclui-se que aproximadamente 6.000 montaram um negócio

próprio (Zanatta et al, 2016).

Para estimar qual a participação de nossa amostra no total de empresas oriundas

da Unicamp, recorremos a dados da pesquisa Demografia das Empresas, do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a última pesquisa, divulgada em

outubro de 2017, aproximadamente 60% das empresas fecham cinco anos após entrarem em

operação. Naturalmente que as taxas de sobrevivência variam de acordo com o porte e o setor

de atuação das empresas, mas uma vez que nossa amostra é composta por empresas de

diversos setores de atuação e portes, optamos por usar a média. Assim, aproximadamente

2.400 das empresas criadas por egressos da Unicamp ainda estariam ativas, o que significa

que nossa amostra de 488 corresponde a 20% do total40

.

Dentre os dados obtidos alguns resultados chamam a atenção: primeiramente há

um forte aumento na criação de empresas a partir da década de 1990, conforme ilustra o

Gráfico 2.11. Ainda que a primeira empresa da amostra tenha sido criada na década de 1960,

foi apenas três décadas mais tarde que a região passou a apresentar intensificação da atividade

empreendedora, com picos de crescimento que chegaram a ultrapassar 40 empresas criadas

em alguns anos.

convites realizados por outras empresas ou pela própria Agência de Inovação, em operações para aumentar a

quantidade de empresas cadastradas.

39 Sendo 11,1% dentre os alunos de graduação e 5,2% dentre os alunos de pós-graduação (Zanatta et al, 2016, p.

15).

40 Usamos como universo a estimativa de empresas criadas por egressos da Universidade, o que não inclui

aquelas criadas por professores e funcionários. Todavia, a vasta maioria das empresas oriundas da Unicamp foi

criada por alunos ou ex-alunos, como atesta a lista da Agência de Inovação, que usamos nesse trabalho e que tem

em sua composição 94% de empresas criadas por alunos ou ex-alunos da universidade.

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Gráfico 2.11 Quantidade de empresas criadas por ano na região da Unicamp

Fonte: elaboração própria.

O Gráfico 2.12 foi elaborado com o objetivo de investigar a existência de uma

correlação entre esse aumento na criação anual de empresas e os eventos internos (como a

criação do escritório de transferência de tecnologia e da nova política de propriedade

intelectual) e externos à universidade (como o marco legal de inovação no Brasil). Observa-se

que a intensificação na criação anual de empresas coincide com o aumento de iniciativas para

estimular e viabilizar a exploração comercial de propriedade intelectual da universidade e o

empreendedorismo acadêmico, além de uma série de ações governamentais em âmbito

estadual ou federal de fomento à inovação e ao empreendedorismo. Assim, é possível

especular que talvez haja uma relação de causalidade entre o aumento da criação de empresas

e um amplo conjunto de iniciativas internas e externas à universidade; porém a partir de 2010

as iniciativas escasseiam e o número de empresas continua crescendo a altas taxas, o que nos

leva a concluir que há outros fatores que também influenciam essa atividade empreendedora.

Já a comparação das quantidades de empresas criadas anualmente e de alunos

matriculados na Unicamp sugere que esses dois fatores talvez estejam correlacionados.

Conforme indica o Gráfico 2.13, nota-se que o crescimento na criação de empresas foi um

pouco mais acentuado do que o aumento da quantidade de alunos de graduação e também de

pós-graduação no período de 1994 a 2016. Enquanto a quantidade de alunos de ambos os

níveis dobra, a de empresas mais que triplica, o que sugere que, embora possa haver outros

fatores que também contribuem para o empreendedorismo acadêmico no entorno da Unicamp,

a formação de capital humano proporcionada pela universidade parece ter papel importante no

impulsionamento da atividade empreendedora da região.

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Gráfico 2.12 Unicamp: Empresas criadas por ano e eventos importantes no marco legal

de inovação, na universidade e em seu entorno (1960-2016)

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Gráfico 2.13 Número de empresas criadas por ano, de alunos matriculados em

graduação e em pós-graduação na Unicamp (1994-2016)

Fonte: elaboração própria a partir de dados do relatório anual do escritório de transferência de tecnologia e do

anuário estatístico da universidade.

Gráfico 2.14 Quantidade de colaboradores empregados nas empresas da região da

Unicamp

Fonte: elaboração própria.

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Outro ponto interessante que se depreende da análise dos dados das empresas é

a quantidade de funcionários, conforme ilustra o Gráfico 2.14. Oriundas da Unicamp são,

majoritariamente, pequenas e médias empresas: mais de 85% da amostra tem entre 1 e 50

colaboradores. Já a quantidade de empresas de grande porte41

é irrisória: 4 com 501 a 1.000

colaboradores e apenas 3 com 1.001 a 5.000. Note-se que, apesar de a participação de

empresas de grande porte na amostra ser muito pequena, sua presença no ecossistema é muito

importante em função de seu faturamento e geração de empregos.

Finalmente um último resultado que chama a atenção diz respeito à concentração

setorial: 18% das empresas oriundas da Unicamp atuam no setor de Tecnologia da

Informação, 12% em consultoria e 8,5% em engenharia.

2.2.2.2. Contexto externo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

2.2.2.2.1. Localização

O cluster de tecnologia da região de Campinas é relevante dentro do contexto

brasileiro: a região abriga mais de 580 empresas intensivas em conhecimento, que juntas

empregam quase 29 mil pessoas e em 2017 faturaram mais de R$ 3 bilhões (UNICAMP,

2017). A cidade de Campinas encontra-se em uma área de 795 km², povoada por 1,2 milhão

de habitantes e sua região metropolitana, composta por 20 cidades, ocupa uma área de

aproximadamente 3.800 km² e tem aproximadamente 3,1 milhões de habitantes.

Dentre os principais elementos desse cluster de tecnologia estão a Universidade

Estadual de Campinas, cinco parques científicos e tecnológicos, duas aceleradoras de

empresas e duas incubadoras, além de uma rede de relacionamento de empreendedores

oriundos da Unicamp. Há também na região vinte e dois centros de pesquisa, públicos e

privados, atuando nas áreas de tecnologia da informação e comunicação, desenvolvimento

agrícola e agronegócio, biomedicina, física, química, engenharia de materiais, e biologia

molecular, dentre outras (Feliciello e Amaral, 2010).

Campinas é considerada um polo de alta tecnologia e já é associada ao

desenvolvimento econômico baseado em ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo

41

De acordo com o IBGE, configura-se como empresa de grande porte aquela com mais de 500 funcionários.

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(Lemos, 2011). A fundação do Instituto Agronômico de Campinas em 1887 marca o início da

trajetória de Campinas como centro de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

Em 1966 é fundada a Universidade Estadual de Campinas, que desde o início

manteve laços estreitos com o setor produtivo42

. Diversos institutos e faculdades da Unicamp

foram criados com a participação de parcerias com a indústria e entidades representativas

(como CIESP e FIESP). Destacam-se nesse sentido os avanços na área de telecomunicações

da Faculdade de Engenharia Elétrica e nas áreas de fibras ópticas, lasers e semicondutores no

Instituto de Física (Lemos, 2008).

Juntamente com a Unicamp, duas outras organizações contribuíram

significativamente para tornar Campinas um centro de excelência em tecnologia da

informação e comunicação: o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações

(CPqD) e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI Renato Archer).

O CPqD foi criado em 1976 como Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás,

empresa estatal que detinha o monopólio dos serviços públicos de telecomunicações no

Brasil. Em 1998, com a privatização do sistema Telebrás, o CPqD tornou-se uma fundação de

direito privado e continuou atuando na área de telecomunicações. Já o CTI Renato Archer é

uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) fundada

em 1982 e que trabalha em estreita interação tanto com o setor acadêmico quanto com o

empresarial (Feliciello e Amaral, 2010).

Além do CPqD e do CTI Renato Archer, há também na região outros vinte

centros de pesquisa, públicos e privados, atuando nas áreas de desenvolvimento agrícola

(como por exemplo Instituto Agronômico de Campinas, Instituto de Zootecnia, Instituto

Biológico, Instituto de Tecnologia de Alimentos e Coordenadoria de Assistência Técnica

Integral) e agronegócio (como por exemplo Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Informática e

Agropecuária, Embrapa Monitoramento por Satélite e Laboratório Nacional Agropecuário),

biomedicina (como por exemplo o Hospital das Clínicas, Gastrocentro e Hemocentro da

Unicamp, Hospital Celso Pierro da PUC-Campinas e Hospital Sobrapar), física, química,

engenharia de materiais (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, LNLS), e biologia

molecular (Laboratório Nacional de Biociências, LNBio), dentre outras.

42

Historicamente, a Unicamp enfatizou a investigação científica, mantendo uma estreita relação entre ensino e

pesquisa e consolidando uma forte capacidade e experiência na produção de conhecimento novo, capaz de

contribuir para o desenvolvimento econômico e social do país (Lemos, 2008).

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O governo também contribuiu para transformar Campinas em um centro de

excelência em tecnologia: da esfera federal houve a partir do final da década de 1970

substanciais investimentos em P&D, que resultaram na criação de muitos dos laboratórios e

centros acima citados. Já no âmbito municipal, destaca-se o Plano Preliminar de

Desenvolvimento Integrado (PPDI), iniciado na década de 1960 para formalizar um parque

industrial de alta tecnologia na cidade43

. Foi também iniciativa da prefeitura a criação da

Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec) em 1983,

aonde já se localizava o CPqD, e que hoje abriga também uma série de outras empresas em

seu parque e sua incubadora (Nascimento, 2016).

Trata-se do terceiro maior parque industrial do Brasil - atrás apenas das regiões

metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Campinas concentra expressiva quantidade

de empresas e institutos de pesquisa vinculados à produção de alta tecnologia, muitos dos

quais mantém intercâmbios constantes com a Unicamp. Suas principais áreas de atuação

são informática, microeletrônica, telecomunicações, eletrônica e química fina. Finalmente, a

presença de escolas técnicas e instituições de ensino e pesquisa garante a oferta de mão de

obra qualificada - fundamental para as empresas de alta tecnologia.

Campinas é o único município do Brasil a contar com a presença de cinco parques

tecnológicos, quatro dos quais foram credenciados definitivamente no Sistema Paulista de

Parques Tecnológicos44

(SPTec) em janeiro de 2016. São eles: Parque Científico e

Tecnológico da Unicamp, Ciatec (ligado ao governo municipal), Parque Tecnológico CPqD,

Parque Tecnológico CTI-Tec e parque Empresarial Techno Park. Duas incubadoras de base

tecnológica: Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp),

da Unicamp, fundada em 2001, e Ciatec (Companhia de desenvolvimento do polo de alta

tecnologia de Campinas), da prefeitura municipal de Campinas. E, finalmente, duas

aceleradoras: Aceleradora Campinas, uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Campinas

e o Núcleo Softex Campinas, e a Baita Aceleradora, que é privada.

43

O PPDI previa a criação de um eixo industrial e de um eixo científico-tecnológico, além de áreas de

preservação ambiental, suporte habitacional, atividades de hotelaria, lazer e entretenimento (Nascimento, 2016).

44 O credenciamento definitivo permite o recebimento de incentivos fiscais, bem como a realização de convênios

com o Estado para repasse de recursos e a conversão de impostos em créditos para desenvolver pesquisas e

outros investimentos por meio do programa Pró-Parques, do Governo do Estado de São Paulo.

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2.2.2.2.2. Contextualização do marco legal de inovação no Brasil

Entre as décadas de 1950 e 1990, a política de ciência e tecnologia brasileira

embasava-se em uma visão linear da inovação. Só a partir de meados da década de 1990 é que

as políticas assumem concepções sistêmicas do processo de inovação (Balbachevsky, 2011).

A criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq) em 1950 marca a institucionalização da política científica brasileira. No mesmo

período, o governo buscava a expansão industrial do Brasil e nesse contexto, tanto ciência

quanto recursos humanos qualificados são considerados fundamentais para o

desenvolvimento nacional - e, portanto, prioritários (Morel, 1979).

As duas décadas seguintes viram a criação de outros atores importantes desse

cenário: fundação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) em 1952, com o objetivo de expandir e consolidar a pós-graduação strictu sensu no

país; do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) em 1952, para atuar em

financiamento e investimento de longo prazo; da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado

de São Paulo (FAPESP) em 1960, para apoiar a pesquisa científica e tecnológica no Estado de

São Paulo, com orçamento anual maior do que todas as fundações similares de outros

estados45

; da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em 1967, para oferecer

financiamento reembolsável e não reembolsável a empresas e instituições de pesquisa; e

do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em 1969, para

financiar e integrar a ciência e tecnologia com a política de desenvolvimento nacional; dentre

outros.

Em 1983 houve a primeira grande iniciativa de interação entre governo

e mercado na área de ciência e tecnologia: a assinatura de um acordo entre o governo

brasileiro e o Banco Mundial para instituir as bases do Programa de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (PADCT). Na década de 1980 as agências de fomento

foram escolhidas como principal instrumento de política, e nesse contexto, em 1985, foi

criado o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) (Pacheco e Corder, 2009). A partir da

metade da década observa-se um aumento do estímulo ao empreendedorismo inovador no

país, com o aumento da quantidade de parques e incubadoras (Plonski, 2015b).

45

1% do total da receita tributária do Estado.

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Em 1991 destaca-se a criação da Lei de Informática (Lei nº. 8.248/91), que

concedeu incentivos fiscais para empresas do setor de tecnologia que tenham por prática

investir em Pesquisa e Desenvolvimento. Os incentivos fiscais consistem em redução do IPI

em produtos incentivados. Em contrapartida, as empresas devem investir no mínimo 5% do

seu faturamento bruto anual no mercado interno.

A segunda metade da década de 1990 é marcada por uma série de reformas

importantes nas políticas nacionais de ciência, tecnologia e inovação que tinham por objetivo

eliminar a histórica desarticulação entre as políticas nacional, industrial e de desenvolvimento

econômico no Brasil (Pacheco e Corder, 2009).

Os anos 2000, por sua vez, foram significativos para o sistema de ciência e

inovação no Brasil. Houve crescente participação internacional da ciência brasileira,

conforme demonstra a taxa anual média de quase 10% de aumento nas

publicações Science Citation Index (SCI) por habitante. Além disso, a inovação passou a ser

percebida como desafio nacional.

Em 2004 foi promulgada a Lei de Inovação (lei nº. 10.973/04) que trata do

estímulo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. A lei regulamenta as relações entre

universidade e empresas, incentiva estas a investirem em inovação e vislumbra um modo de

desenvolvimento que permite aliar a produção científica à atividade industrial. A Lei de

Inovação tornou obrigatório que toda Instituição de Ciência e Tecnologia no Brasil tenha um

Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) (próprio ou em associação com outra ICT). No início

dos anos 2000, antes de sua promulgação, apenas 5% das ICTs do Brasil

tinham NITs implementados, em 2012 já eram 34% (Torkomian, 2012) e em 2015 essa

quantidade chega a 68% (MCTI, 2015). As funções mínimas de um NIT são "zelar pela

manutenção política institucional de estímulo à proteção das criações, licenciamento,

inovação e transferência de tecnologia, além de negociar e gerir os acordos de TT oriundos

da ICT" (BRASIL, 2016).

No ano seguinte, em 2005, é implementada a Lei do Bem (lei n.º 11.196/05), que

regula incentivos fiscais de estímulo a atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico

nas empresas. Juntamente com os fundos setoriais e o arcabouço legal de propriedade

intelectual, dentre outras iniciativas, essas leis configuram o conjunto de medidas adotadas

pelo governo para viabilizar a inovação em território nacional (Cassiolato e Lastres, 2005).

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Em 2008 é sancionada a Lei de Inovação do Estado de São Paulo (lei

complementar nº. 1.049/08). Tratou-se do quinto estado brasileiro a criar sua própria lei de

inovação. A lei instituiu o Sistema Paulista de Inovação Tecnológica, para promover o

desenvolvimento do estado por meio da inovação tecnológica, além de estabelecer medidas de

incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. Destaca-se, no âmbito do fomento

ao empreendedorismo acadêmico, que essa lei passou a autorizar pesquisadores a “licenciar-

se do cargo efetivo ou emprego público que ocupam para constituir empresa de base

tecnológica ou colaborar com empresa cujos objetivos envolvam a aplicação de inovação

tecnológica que tenha por base criação de sua autoria” (lei complementar nº. 1.049/08,

capítulo IV, artigo 13). Outra possibilidade é que os pesquisadores públicos prestem

“consultoria técnico-científica aos setores da produção (lei complementar nº. 1.049/08,

capítulo IV, artigo 14)”, possibilitando assim que mesmo aqueles que não queiram

empreender diretamente, possam ajudar no desenvolvimento de novos negócios oriundos de

pesquisa da universidade.

Ainda nos anos 2000 destacam-se duas iniciativas que articulam diferentes esferas

de governo para financiar atividades de pesquisa e desenvolvimento: o Plano de Ação em

CT&I (PACTI) 2007-2010, que associava competências dos governos federal, estaduais e

municipais para impulsionar o desenvolvimento e fortalecimento da ciência, tecnologia e

inovação no país; e o Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), iniciativa do

MCTI, lançada em 2006 pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) em parceria com

Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais para financiar pesquisa e desenvolvimento de

produtos ou processos inovadores realizada por pesquisadores em parceria com empresas de

base tecnológica.

Na década corrente observa-se o fortalecimento da institucionalização da inovação

no Brasil, marcada por (i) lançamento da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e

Inovação (ENCTI), em 2011 e implementada em articulação com a política industrial, que

destaca a importância da ciência, tecnologia e inovação como eixo estruturante do

desenvolvimento do país; (ii) acréscimo da Inovação ao nome do Ministério da Ciência e

Tecnologia em 2011 (atual Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e

finalmente (iii) aprovação em 2014 da Emenda Constitucional nº85/15, que inclui o Sistema

Nacional de CT&I na Constituição Federal (Plonski, 2015a).

O Quadro 2.7 a seguir apresenta o ano de criação e objetivo das principais

instituições que marcaram ou apoiaram o avanço do marco legal de inovação no Brasil.

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Quadro 2.7 Principais órgãos governamentais de apoio à inovação no Brasil

Ano de

fundação Nome Objetivo

1950

Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq)

Incentivar a pesquisa e institucionalizar a

política científica no país.

1952

Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES) Expandir e consolidar a pós-graduação no país.

1952

Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico

(BNDE)

Financiar e investimento de longo prazo.

1960

Fundação de Amparo à Pesquisa

do Estado de São Paulo

(FAPESP)

Apoiar a pesquisa no estado de São Paulo.

1967 Financiadora de Estudos e

Projetos (FINEP) Financiar C&T.

1969

Fundo Nacional de

Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (FNDCT)

Financiar e integrar C&T e política de

desenvolvimento nacional.

1983

Programa de Apoio ao

Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (PADCT)

Criado por uma parceria entre governo federal

e Banco Mundial para financiar a C&T no

país.

1985 Ministério da Ciência e

Tecnologia (MCT)

Fundação do Ministério da Ciência e

Tecnologia (atual Ministério da Ciência,

Tecnologia, Inovações e Comunicações).

2004 Lei de Inovação

Regulamentar relação entre universidade e

empresa, institui obrigatoriedade de NITs em

institutos de pesquisa e universidades.

2005 Lei do Bem Regula incentivos fiscais de estímulo à P&D.

2006 Programa de Apoio à pesquisa

em Empresas (PAPPE)

Iniciativa do MCTI lançada pela FINEP em

parceria com FAPs para financiar

desenvolvimentos inovadores

2007-2010 Plano de ação em Ciência,

Tecnologia e Inovação (PACTI)

Impulsionar desenvolvimento e fortalecimento

da CT&I nos âmbitos federal, estadual e

municipal.

2011

Estratégia Nacional de Ciência,

Tecnologia e Inovação

(ENACTI)

Destacar a importância da CT&I como eixo

estruturante do desenvolvimento do país.

2014 Emenda Constitucional 85/15 Incluir o Sistema Nacional de CT&I na

Constituição Federal. Fonte: Elaboração própria.

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2.2.2.2.3. Transferência de tecnologia no Brasil

A criação de Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) no Brasil sistematizou-se

a partir da entrada em vigor da Lei de Inovação (lei nº. 10.973/2004), promulgada em 2004 e

que tornou obrigatório no Brasil que toda Instituição Científica e Tecnológica (ICT) disponha

de um NIT46

para apoiar a gestão de sua política de inovação. Dentre as atribuições dos NITs

destaca-se "zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteção das

criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferência de tecnologia".

Diferentemente do Reino Unido (e outros países) em que havia uma legislação

específica para estimular a interação com a indústria e uniformizar a operacionalização de

procedimentos, no Brasil, antes da promulgação dessa lei, as próprias instituições criavam os

órgãos para mediar tais interações, cada uma de acordo com seus interesses e necessidades

(Santos, 2009). Com efeito, a partir da promulgação da lei em 2004 há uma formalização e

uniformização da interação entre os setores público e privado, com a consequente redução do

hiato entre a produção de conhecimento e sua transformação em riqueza e benefícios para a

sociedade (Toledo, 2015, p. 182).

A Lei de Inovação representa um marco no Brasil, ao regulamentar as relações

entre universidade e empresa, incentivando-as a investir em inovação, vislumbrando um modo

de desenvolvimento que permite aliar produção científica à atividade industrial. A estrutura da

lei está organizada em torno de três eixos: a constituição de ambiente propício a parcerias

estratégicas entre universidades, institutos tecnológicos e empresas; o estímulo à participação

de institutos de ciência e tecnologia no processo de inovação; e o estímulo à inovação na

empresa. Destaca-se também que a promulgação da Lei de Inovação promoveu a

redução das incertezas jurídicas associadas à aplicação da Lei de Propriedade Industrial (lei nº

9.279/1996), crucial para o processo de transferência de tecnologia (Fujino & Stal, 2004).

No que diz respeito à quantidade de NITs criados no Brasil, conforme se pode

observar no Gráfico 2.15, nos últimos dez anos ela praticamente quadruplicou, apresentando

crescimento sistemático em todos os anos47

.

46 Próprio ou em associação com outras (ICTs).

47 O MCTIC compila e divulga anualmente desde 2006 um relatório sobre Propriedade intelectual e transferência

de tecnologia nas ICTs brasileiras, apresentando dados consolidados fornecidos por essas instituições através do

preenchimento anual do Formulário para Informações sobre a Política de Propriedade Intelectual das Instituições

Científicas e Tecnológicas do Brasil (FORMICT) segundo determinação do Art. 17 da Lei de Inovação.

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Gráfico 2.15 Criação anual de núcleos de inovação tecnológica em Instituições

Científicas e Tecnológicas no Brasil (2007-2016)

Fonte: Elaboração própria a partir de FORMICT (MCTIC).

Conforme explica Plonski (2015a) a partir dos anos 2000 observa-se no Brasil

expressivo aumento e diversificação da infraestrutura de apoio à transferência de

conhecimento e tecnologia, ou seja, além dos NITs, houve também aumento na quantidade de

incubadoras, aceleradoras e parques científicos/tecnológicos. Além da já mencionada Lei de

Inovação, outros dois fatores também contribuíram para esse movimento foram: (i) a

articulação nacional em torno da Rede de Propriedade Intelectual e Comercialização de

Tecnologia, criada em 1998 e que organiza eventos anuais para públicos cada vez maiores e

interessados em valorizar a apropriação dos resultados da pesquisa acadêmica; e (ii) a

compreensão cada vez mais difundida da importância de uma competente gestão da

propriedade intelectual, tanto para preservar os direitos referentes a resultados de pesquisa

quanto para viabilizar a cooperação com a indústria, em um contexto em que a percepção da

importância da inovação é cada vez maior na sociedade.

Houve nos anos recentes uma evolução no pensamento vigente nas instituições de

ensino superior no que diz respeito à gestão da propriedade intelectual: "De fato, o mito de

que os proventos decorrentes de licenciamento de tecnologia representariam uma fonte

importante de receita foi substituído por uma percepção mais abrangente do impacto dessa

gestão, que tem o potencial de beneficiar um conjunto de dimensões externas e internas à

universidade. Incluem estas a própria formação dos estudantes para atuarem no ambiente

empresarial inovador" (Plonski, 2015a, p. 179).

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Trata-se de um movimento semelhante ao observado no Reino Unido, conforme

descrito acima: em um primeiro momento a transferência de tecnologia é vista como potencial

fonte de receitas significativas para a universidade, e passa a ser buscada como maneira de

complementar seu orçamento. Posteriormente, percebe-se que, por um lado, no mais das

vezes não é possível auferir com a transferência de tecnologia ganhos expressivos com

relação ao orçamento da universidade ou mesmo do próprio NIT, e por outro, que a gestão da

propriedade intelectual de uma universidade é um processo muito mais amplo e complexo do

que o licenciamento de tecnologias.

Finalmente no âmbito individual, observa-se no Brasil um crescente estímulo

para que pesquisadores se envolvam no desenvolvimento e proteção de propriedade

intelectual. Destacam-se: (i) a valorização de patentes na Plataforma Lattes; (ii) a contagem

de patentes nos processos de seleção, avaliação e promoção; e (iii) a possibilidade de

pesquisadores receberem proventos decorrentes da transferência de tecnologia (geralmente

33% do total, de acordo com a legislação vigente).

2.2.2.2.4. Parcerias e redes

Desde sua fundação em 1966 a Unicamp mantém estreitos laços com o setor

produtivo. Em função do modelo de desenvolvimento tecnológico do país e do progresso

industrial da região de Campinas à época de sua fundação, a universidade passou a contribuir

com mão de obra qualificada e produção científica e tecnológica para atender as necessidades

da indústria de soluções tecnológicas originais ou adaptações. A Unicamp sempre buscou

incorporar em seus quadros profissionais com experiência empresarial, e o estabelecimento do

conteúdo programático dos cursos e dos temas de pesquisa frequentemente envolvia a

participação da sociedade e da indústria, todavia sempre zelando pela excelência nas missões

de ensino e pesquisa (Lemos, 2008).

Em 1968, apenas dois anos após sua fundação, a Unicamp criou o Centro

Técnico-Econômico de Assessoria Empresarial (CTAE), que até 1985 disponibilizou cursos

para pequenas e médias empresas industriais da região, além de promover parcerias com elas

nas áreas de pesquisa (sobretudo nas áreas de economia industrial e regional) e ensino

(extensão e pós-graduação) (Nascimento, 2016).

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95

Em 1972, menos de uma década após sua fundação, a Unicamp formalizava a

criação do Centro de Tecnologia (CT), seu primeiro órgão para realizar prestação de serviços

e assistência tecnológica ao meio industrial, de desenvolvimento de pesquisas aplicadas e de

apoio à formação e capacitação de recursos humanos (Unicamp, 2003). Nos anos

subsequentes foram criados, reestruturados, extintos e incorporados diversos outros órgãos

para apoiar e estimular a interação da Unicamp com a indústria e o meio empresarial -

movimento esse que revela o esforço sistemático da administração central para contribuir e

acompanhar a evolução das necessidades do setor produtivo. Em 2003 foi criado o Escritório

de Transferência de Tecnologia, e desde então a interação da universidade com empresas

passou a fazer parte de seu escopo de atuação48

.

Em 1976, graças à excelência da pesquisa da Unicamp em fibras óticas e por

influência do seu reitor à época, a Telebrás (Telecomunicações Brasileiras S.A.) instalou em

Campinas seu Centro de Pesquisas em Desenvolvimento e Telecomunicações (CPqD).

Estabeleceu-se um programa de cooperação entre a Unicamp e o CPqD para dar continuidade

no desenvolvimento das fibras óticas, uma tecnologia que foi posteriormente transferida para

empresas privadas que a transformaram em produto industrial. O grande sucesso desse caso

foi responsável não só por disseminar na universidade a percepção de que a pesquisa

colaborativa com empresas não acontece em detrimento da atividade científica, como também

pelo processo de instalação, na região de Campinas, de empresas da área de

telecomunicações, iniciando assim um polo de alta tecnologia centrado na Unicamp

(Nascimento, 2016).

Em 1976, exatos dez anos após sua fundação, a Unicamp lança mais uma

iniciativa para estimular o empreendedorismo em sua comunidade acadêmica: a criação da

Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), uma empresa privada que atuava

como espécie de incubadora e que tinha por objetivo apoiar o desenvolvimento de

empreendimentos baseados em tecnologia desenvolvida na universidade.

O governo municipal também participa com algumas iniciativas para estimular o

empreendedorismo em Campinas. Dentre elas destacam-se: (i) Comissão Parlamentar

Permanente de Ciência, Tecnologia e Inovação, instituída em 2004 para promover iniciativas

em defesa do desenvolvimento científico e tecnológico do município; acompanhar as

48

Para uma descrição detalhada da evolução dos órgãos administrativos da Unicamp que atuam na gestão de sua

relação com empresas, recomendamos a leitura de Lemos (2008) pp. 45-77.

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96

discussões, em âmbito estadual, nacional e internacional na área da ciência e tecnologia; e (ii)

Aceleradora Campinas, a primeira aceleradora municipal do país, fundada em 2013, a partir

de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Campinas e o Núcleo Softex Campinas49

.

No que diz respeito à pesquisa colaborativa, é possível notar pela observação

Gráfico 2.16 que a quantidade de grupos de pesquisa da Unicamp com relacionamento com

empresas vem crescendo a taxas muitos superiores às de crescimento da quantidade de grupos

de pesquisa, e um total de 33% dos grupos de pesquisa da Unicamp apresenta algum tipo de

relacionamento com empresas.

Gráfico 2.16 Relacionamento de grupos de pesquisa da Unicamp com empresas (2002-

2016)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq.

Ressalte-se que, no caso da pesquisa colaborativa entre empresas e instituições de

ensino superior ou institutos de pesquisa, uma parcela significativa dessas iniciativas decorre

da obrigatoriedade de entidades de setores regulados realizarem-na. Do mesmo modo, a Lei

de informática determina a necessidade de contrapartida à renúncia fiscal de imposto sobre

49 O SOFTEX Campinas é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que participa

efetivamente do esforço conjunto da comunidade SOFTEX para contribuir para a excelência do software

brasileiro e a consolidação de Campinas e região como polo de alta tecnologia.

31 44 54 59 76

179

245

614657

628

706 734 714743

5%6,7%

8% 8,4%

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2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018G

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Nº de grupos de pesquisa que relataram relacionamentos com empresa

Nº de grupos de pesquisa na universidade

% de grupos de pesquisa com relacionamento com empresa

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97

produtos industrializados que o governo federal oferece, levando assim à contratação de P&D

com instituições científico-tecnológicas.

O Gráfico 2.17 apresenta as quantidades e faturamento da pesquisa colaborativa

realizada pela Unicamp entre 2003 e 2016. Nota-se que entre 2008 e 2011 há uma queda

acentuada na quantidade de convênios de pesquisa colaborativa, e embora posteriormente ela

volte a aumentar, não chega aos níveis da década anterior.

Gráfico 2.17 Quantidade e valor dos convênios de pesquisa colaborativa da Unicamp

(2003-2016)50

Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios de atividade anuais do NIT.

Destacam-se ainda três iniciativas presentes no entorno da Unicamp que tem por

objetivo estimular a atividade empreendedora e a interação de membros da comunidade

acadêmica com parceiros potenciais, conforme descrito no Quadro 2.8.

50

Em 2012 o escritório de transferência de tecnologia parou de divulgar separadamente o valor total dos

convênios e termos aditivos, e passou a divulgá-lo agregado com outras métricas, por isso da interrupção na série

de dados.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

R$ 0

R$ 2

R$ 4

R$ 6

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R$ 14

R$ 16

R$ 18

R$ 20

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016C

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Valor total dos convenios e termos aditivos nº de convênios e termos aditivos assinados

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98

Quadro 2.8 Iniciativas no entorno da Unicamp para fomentar o engajamento entre a

comunidade acadêmica e parceiros potenciais

Ano de

criação Nome Descrição

2006 Unicamp

Ventures

Rede de relacionamento e colaboração de empreendedores

ligados à Unicamp. Promove um evento anual e fornece

mentores e palestrantes para iniciativas de fomento ao

empreendedorismo da universidade.

2010 Campinas Tech

Resultado da fusão da Associação Campinas Start-ups com a

Rede Global de Empreendedorismo. Comunidade de

empreendedores de alto impacto de de start-ups. Promove

eventos, atividades e geração de sinergia para a formação

empreendedora.

2011 Liga

empreendedora

Comunidade de alunos e empreendedores da universidade para

fomentar o empreendedorismo e conectar pessoas interessadas

no tema. Fonte: Elaboração própria.

Finalmente no que diz respeito ao investimento em atividade empreendedora, há

escassez na região de Campinas. Há apenas um grupo de investidores anjo, conforme

apresentado no Quadro 2.9. Além dessa fonte, os empreendedores podem recorrer também ao

PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), programa da Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que apoia a execução de pesquisa científica e/ou

tecnológica em micro, pequenas e médias empresas no Estado.

Na ausência de outras fontes de investimento, muitos empreendimentos da região

recorrem ao expediente de dar consultoria para obter fluxo de caixa enquanto trabalham no

desenvolvimento do produto ou serviço principal da empresa.

Quadro 2.9 Fonte de investimento da região da Unicamp externa à universidade

Ano de

criação Nome Descrição

2011

Inova Ventures

Participações

(IVP)

Sociedade de participações que visa investir em empresas de

base tecnológica e alto potencial de crescimento. A vasta

maioria dos sócios são empreendedores ex-alunos da

Unicamp. Fonte: Elaboração própria.

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99

2.2.2.3.Contexto interno

A Universidade Estadual de Campinas foi fundada em 1966, é responsável por

15% da pesquisa acadêmica realizada no Brasil e está entre as melhores universidades do país.

Em 2014 ocupava o primeiro lugar no Índice Geral de Cursos (IGC) do Ministério da

Educação51

, em 2017 estava em segundo lugar no QS World University Rankings® da

América Latina, 12º dos BRICS e 191º no ranking global. Em 2017 contava com 2.179

docentes e 36.598 alunos divididos entre graduação e pós-graduação. Em 2017 seu orçamento

foi de R$ 2,4 bilhões (UNICAMP, 2017).

Desde sua fundação em 1966 a Unicamp mantém estreitos laços com o setor

produtivo. Seu projeto institucional já incluía a interação universidade-empresa e a

observância das necessidades da indústria e do setor público, de modo a contribuir para a

resolução das questões tecnológicas do país (Brisolla et al, 1997).

Embora a Unicamp sempre tenha prezado pela interação com o setor produtivo, há

alguns marcos em seu contexto interno que se destacam por sua importância para o avanço

dessa interação. Dentre eles podemos citar: (i) caso do desenvolvimento da fibra ótica nas

décadas de 1970-80: a pesquisa iniciou-se na Unicamp, depois foi firmada uma parceria com

o CPqD e por fim foi licenciada para empresas privadas fazerem desenvolvimentos

posteriores e exploração comercial, tratou-se de um caso muito exitoso de transferência de

tecnologia, que incluiu a parceria entre uma universidade e um centro de pesquisa de uma

empresa, e resultou em um produto industrial; (ii) criação do Escritório de Transferência de

Tecnologia em 2003, que centralizou as atividades de proteção à propriedade intelectual,

transferência de tecnologia e fomento ao empreendedorismo.

A seguir, aprofundaremos a análise do contexto interno da Unicamp com ênfase

em quatro tópicos: política de propriedade intelectual, escritório de transferência de

tecnologia, resultados de transferência de tecnologia e iniciativas de fomento ao

empreendedorismo acadêmico.

51

http://portal.inep.gov.br/educacao-superior/indicadores/indice-geral-de-cursos-igc, trata-se do levantamento

mais recente.

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100

2.2.2.3.1. Política de propriedade intelectual da Unicamp

A primeira deliberação sobre proteção aos direitos de propriedade intelectual na

Unicamp data de 1984 (Comissão Permanente de Propriedade Industrial) e as primeiras

patentes da universidade foram depositadas em 1989. Essa deliberação foi substituída em

1990 pelo ETT (Escritório de Transferência de Tecnologia) e posteriormente em 1998 pelo

Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos (EDISTEC), que por sua vez foi substituído

pela Agência de Inovação em 2003.

A política de propriedade intelectual atualmente vigente na Unicamp data de 2010

e alinha a universidade ao marco legal nacional sobre propriedade intelectual e às Leis de

Inovação Federal e Paulista. Segundo ela, a Unicamp detém integralmente a propriedade

intelectual de todos os resultados de pesquisa obtidos pelos membros de sua comunidade

acadêmica, exceto: (i) quando a pesquisa for financiada por terceiros, nesse caso a

propriedade intelectual será atribuída de acordo com o que tiver sido previamente combinado

entre as partes; e (ii) quando a pesquisa for co-financiada pela Unicamp e outras instituições,

nesse caso a titularidade da propriedade intelectual é dividida proporcionalmente ao que cada

parte aportou. Em todos os casos, os pesquisadores envolvidos constam como autores e

recebem remuneração se a tecnologia for licenciada. A divisão da remuneração ocorre de

acordo com o sugerido na Lei de Inovação: um terço para o(s) pesquisador(es), um terço para

seu departamento e um terço para a administração central da universidade.

Em condições excepcionais, a Unicamp pode ceder os direitos de propriedade

intelectual ao respectivo criador, porém para tanto é preciso percorrer um longo caminho

burocrático52

.

2.2.2.3.1. Escritório de transferência de tecnologia

A Lei de Inovação, promulgada em 2004, tornou obrigatório que toda

universidade ou instituto de pesquisa tenha um Núcleo de Inovação Tecnológica. A Unicamp,

porém, se antecipou e fundou em 2003 seu Núcleo de Inovação Tecnológica (Agência de

52

É necessário obter aprovação do Conselho Universitário, desde que previamente justificada e encaminhada

pela administração superior da universidade e ouvida a Agência de Inovação Inova Unicamp (UNICAMP,

2010).

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101

Inovação Inova Unicamp) - todavia, nesse momento a universidade já contava com órgãos

para gerir sua propriedade intelectual e transferência de tecnologia há quase duas décadas53

.

Nesse cenário, destaca-se a criação do Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos

(EDISTEC) em 1984, iniciativa pioneira cuja maior contribuição foi a divulgação para os

pesquisadores da importância do patenteamento, começando a criar uma cultura de proteção

aos direitos de propriedade intelectual na universidade (Lemos, 2008).

O pioneirismo da Unicamp lhe rendeu um contrato com Finep em 2007 para

capacitar outros escritórios de transferência de tecnologia no Brasil54

, que se desdobrou na

oferta de outros cursos nacionais e internacionais, bem como a participação em iniciativas

continuadas de capacitação de escritórios, como por exemplo a Rede Inova São Paulo.

O objetivo da Inova Unicamp é auxiliar no relacionamento entre a universidade e

a sociedade com vistas a incrementar a geração e disseminação de conhecimento. Dentre suas

responsabilidades estão a gestão da propriedade intelectual, transferência de tecnologia e

estímulo ao empreendedorismo tecnológico. Quando foi criada, a Unicamp já tinha

estabelecida uma série de ações de relacionamento com a sociedade voltadas para a inovação

tecnológica, porém com a criação da agência se almejava aumentar o escopo de atuação

dessas ações nas duas vias, de tal maneira que suas atividades de ensino e pesquisa tivessem

maior impacto econômico e social, e também que suas parcerias proporcionassem desafios e

oportunidades que contribuíssem para o aprimoramento de sua produção científica

(Nascimento, 2016).

Em 2018 a agência depositou 72 pedidos de patentes no Brasil e 10 no exterior,

contava com 115 contratos de licenciamento de tecnologia vigentes e assinou 22 novos, e teve

ganhos econômicos (royalties e taxa de acesso a tecnologias, dentre outros) de R$

1.763.560,00 (UNICAMP, 2018).

53

Em 1984 é criada a CPPI (Comissão Permanente de Propriedade Industrial) para atender pesquisadores

inventores da universidade, em 1990 surge o ETT (Escritório de Transferência de Tecnologia), e em 1998 é

transformado em EDISTEC (Escritório de Difusão e Serviços Tecnológicos), que por sua vez viria a se

transformar em Inova em 2003.

54 Passaram por esses cursos quase mil pessoas de mais de 300 institutos de ciência e tecnologia de todo o Brasil.

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102

2.2.2.3.2. Transferência de tecnologia e consultoria na Unicamp

No que diz respeito à transferência de tecnologia na Unicamp, é possível notar

pelo Gráfico 2.18 que tanto a quantidade de contratos assinados quanto a de contratos

vigentes cresce consistentemente desde a criação do escritório de transferência de tecnologia

em 2003. Todavia, praticamente a totalidade desses contratos diz respeito a transferência para

empresas existentes, e não a criação de spin-offs, ou seja, iniciativas de empreendedorismo

acadêmico.

O Gráfico 2.18 deixa evidente a importância do papel do escritório de

transferência de tecnologia para o avanço dessa atividade. Desde sua criação, atuou para

sistematizar os licenciamentos e difundir sua prática por toda a universidade, além de divulgar

casos de sucesso e estimular os pesquisadores a protegerem os resultados de sua pesquisa.

Quanto à consultoria, embora seja praticada por pesquisadores da Unicamp, a

universidade não disponibiliza dados a esse respeito. De acordo com a Deliberação CONSU-

A-002/2001 os docentes da universidade podem exercer atividade de consultoria remunerada

desde que o tempo a ela dedicado não ultrapasse 20% de sua carga horária.

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Gráfico 2.18 Contratos de transferência da Unicamp de tecnologia assinados e

vigentes (2003-2018)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados dos relatórios anuais de atividades do ETT.

2.2.2.3.4. Iniciativas e características da universidade que fomentam o

empreendedorismo acadêmico

Dentre as iniciativas existentes na Unicamp de estímulo ao empreendedorismo

acadêmico destacam-se as relacionadas no Quadro 2.10. Elas encontram-se divididas em três

categorias: infraestrutura, ensino de empreendedorismo e outros.

Quadro 2.10 Iniciativas da universidade para fomentar o empreendedorismo acadêmico

Ano de

criação Nome Descrição

Infraestrutura

2001 Incamp

Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da

Unicamp. Oferece infraestrutura para uso compartilhado

e orientação.

2003 Agência de Inovação

Inova Unicamp

Atua nas áreas de propriedade intelectual, transferência

de tecnologia e empreendedorismo de base tecnológica,

além de ser responsável pela gestão da incubadora e do

parque científico e tecnológico da universidade.

2010

Parque Científico e

Tecnológico da

Unicamp

Abriga projetos de pesquisa e desenvolvimento em

parceria com empresas e outras instituições públicas e

privadas, uma incubadora de empresas de base

tecnológica, ambientes para projetos temporários de

0

20

40

60

80

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

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assinados vigentes

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inovação e para pré-incubação de empresas inovadoras.

2010 Política de propriedade

intelectual

Está alinhada ao marco legal nacional sobre PI e às Leis

de Inovação Federal e Paulista. A Unicamp detém a PI

de tudo o que é desenvolvido por membros de sua

comunidade acadêmica. Se a criação for realizada em

pesquisa financiada ou em parceria com terceiros, será

dividida entre as partes.

Ensino de empreendedorismo

Propriedade intelectual,

inovação e

empreendedorismo

Palestras quinzenais para sensibilizar estudantes de

graduação e pós-graduação sobre o empreendedorismo

como opção de carreira. Abertas à comunidade externa.

Tópicos especiais em

empresas I

Disciplina semestral. Aborda temas relacionados ao

empreendedorismo tecnológico.

Tópicos em

desenvolvimento de

processos químicos

Disciplina semestral. Promove o empreendedorismo

entre pós-graduandos, capacitando-os para fazer

avaliação técnico-econômica de tecnologias resultantes

de suas pesquisas.

Empreendedorismo

para Farmácia

Disciplina semestral. Aborda temas como plano de

negócios, incubadoras e propriedade intelectual.

Estratégias e gestão de

empresas agropecuárias

Disciplina semestral. Apresenta estruturação,

planejamento, processo gerencial e avaliação de

desempenho de empresas agropecuárias.

Desenvolvimento e

aplicação de plano de

negócio

Disciplina semestral. Discute competitividade, cadeia de

valor e elaboração de plano de negócio.

Gestão estratégica da

inovação nas empresas

Disciplina semestral no formato de seminários baseados

em casos reais brasileiros de gestão da inovação como

componente da estratégia competitiva.

Empreendedorismo e

inovação

Disciplina semestral. Apresenta conceitos de inovação e

propriedade intelectual, bem como algumas ferramentas

para empreender (design thinking, business model

canvas, etc).

2011 Desafio Unicamp de

Inovação Tecnológica

Competição de modelos de negócio que tem por

objetivo estimular a criação de negócios de base

tecnológica a partir de tecnologias protegidas da

Unicamp (patentes e programas de computador).

2013 Inova Jovem

Competição anual que tem por objetivo capacitar

estudantes dos dois colégios técnicos da Unicamp nas

áreas de empreendedorismo e inovação.

2013 Especialização em

propriedade intelectual

Curso de especialização que apresenta questões de

propriedade intelectual e empreendedorismo.

Outros

2004 Prêmio Inventores

Unicamp

Cerimônia anual realizada pela reitoria. Homenageia

pesquisadores e docentes envolvidos em atividades de

proteção e transferência de tecnologia e promove o

estímulo à inovação junto à comunidade acadêmica.

2006 Unicamp Ventures

Rede de relacionamento e colaboração entre

empreendedores ligados à Unicamp. Promove um

evento anual e fornece mentores e palestrantes para

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105

iniciativas de fomento ao empreendedorismo da

universidade.

2008 Prêmio Inova Unicamp

de Iniciação à Inovação

Premia alunos e docentes da universidade que

desenvolveram pesquisas com maior potencial de

geração de produtos nas áreas de ciências exatas,

tecnológicas e biológicas. Fonte: Elaboração própria.

Conforme discutido pela literatura, podemos atribuir especial ênfase a alguns

aspectos da infraestrutura interna à universidade para estímulo ao empreendedorismo

acadêmico. Em primeiro lugar, destaquem-se a qualidade da pesquisa e suas áreas. Como se

pode ver no

Gráfico 2.19, praticamente 50% da pesquisa da Unicamp está concentrada em:

ciências da saúde, exatas e da terra, e engenharias e computação, que coincide parcialmente

com as áreas com maior índice de empreendimentos acadêmicos (as três primeiras colocadas

são: tecnologia da informação, consultoria e engenharia). Já no que diz respeito à qualidade,

nos últimos dez anos a Unicamp produziu em média mais de quatro mil artigos por ano em

periódicos especializados, sendo que pelo menos 97% foram em periódicos arbitrados

(AEPLAN, 2016).

Gráfico 2.19 Grandes áreas dos grupos de pesquisa da Unicamp

Fonte: Diretório dos grupos de pesquisa no Brasil, CNPq.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

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80%

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100%

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Sociais Aplicadas

Ling, Letras e Artes

Ciências Agrárias

Ciências Humanas

Ciências Biológicas

Engenharias e Computação

Ciências exatas e da terra

Ciências da Saúde

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106

Por sua vez no quesito de capacitação de recursos humanos para o

empreendedorismo acadêmico a Unicamp oferece nove cursos e duas competições de

modelos de negócio. Dos cursos, apenas dois são abertos à comunidade externa (um de

especialização e um ciclo de palestras) e os demais são exclusivos para alunos da

universidade: há alguns como foco específico em uma área do conhecimento, como por

exemplo Farmácia, Química ou Agropecuária, e outros abertos a todas as áreas. Um deles

(Tópicos em desenvolvimento de processos químicos) se destaca por capacitar estudantes de

pós-graduação para avaliar o potencial de mercado dos resultados de suas pesquisas. Há

também duas competições em moldes similares, uma para nível superior e uma para nível

médio, que visam capacitar estudantes nos temas de empreendedorismo e inovação através da

elaboração de modelos de negócio.

Por fim, a Unicamp conta também com uma incubadora e um parque científico

e tecnológico. A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp) foi

criada em 2001, está instalada dentro do campus e conta com mais de 40 empresas graduadas.

Vale lembrar, todavia, que em 1976, exatos dez anos após sua fundação, a Unicamp lança

uma iniciativa pioneira para estimular o empreendedorismo em sua comunidade acadêmica: a

criação da Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), uma empresa privada que

atuava como espécie de incubadora que tinha por objetivo apoiar o desenvolvimento de

empreendimentos baseados em tecnologia desenvolvida na universidade. Já o Parque

Científico e Tecnológico da Unicamp foi criado em 2008 e abriga tanto empresas que têm

convênios de P&D com a Unicamp quanto start-ups que desenvolvem projetos inovadores em

regime de incubação ou não.

2.3. Apresentação dos resultados: semelhanças e diferenças entre os casos estudados

O Quadro 2.11 apresenta uma consolidação das principais semelhanças e

diferenças nos dados de empreendedorismo acadêmico na região de Cambridge e na região da

Unicamp, bem como os fatores internos e externos às respectivas universidades que

influenciam essa atividade empreendedora. Esse quadro irá orientar a análise dos resultados

que será apresentada no próximo capítulo.

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107

Quadro 2.11 Principais semelhanças e diferenças entre resultados de empreendedorismo

acadêmico e entre fatores internos e externos às duas universidades estudadas

Semelhanças de resultados

Concentração setorial das empresas:

principais setores de atuação

(STEM)

Cambridge: tecnologia da informação e

telecomunicações (30%), software (12%),

biotecnologia (8%).

Unicamp: tecnologia da informação (18%),

consultoria (12%), engenharia (8%).

Anos de início e de intensificação da

criação de empresas

Cambridge: 1ª empresa 1965; intensifica a

partir de meados da década de 1990.

Unicamp: 1ª empresa 1963; intensifica a partir

de meados da década de 1990.

Quantidade de empresas vendidas Cambridge: 16%

Unicamp: 6%

Quantidade de funcionários das

empresas

Cambridge:

1-10: 43%;

11-50: 39%;

51-200: 17%

Unicamp:

1-10: 52%;

11-50: 35%;

51-200:11%

Semelhanças de contexto

Quantidade de docentes Cambridge: 1.666 (2017)

Unicamp: 1.867 (2017)

Quantidade de alunos Cambridge: 21.656 (2017)

Unicamp: 35.656 (2017)

Marco legal de inovação: criação do

arcabouço institucional para

estimular empreendedorismo

acadêmico e transferência de

conhecimento

Cambridge: Inicia-se em fins dos anos 1990.

(Tardio se comparado a outros países

desenvolvidos)

Unicamp: Inicia-se com a Lei de Inovação em

2004.

Possível correlação entre aumento

de empresas criadas por ano e de

estudantes de pós-graduação (1994-

2016)

Cambridge: empresas criadas aumentam 4.9x

e alunos de pós-graduação 3.0x

Unicamp: empresas criadas aumentam 3.3x e

alunos de pós-graduação 1.9x

Diferenças de resultados

Quantidade de empresas oriundas da

universidade

Cambridge: aproximadamente 4.900 ativas

Unicamp: aproximadamente 2.400 ativas

Quantidade de tecnologias

licenciadas

Cambridge: 127 (2016)

Unicamp: 23 (2016)

Internacionalização Cambridge: 50% tem sede no Reino Unido (e

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108

25% nos EUA), 54% exportam

Unicamp: 100% tem sede no Brasil, 3% tem

filial no exterior, 13% exportam

Diferenças de contexto

Produção de propriedade intelectual

Cambridge: 245 patentes depositadas em

2017, 1703 depositadas no período 2007-2017

Unicamp: 81 patentes depositadas em 2017,

721 depositadas no período 2007-2017

Disponibilidade de fontes de

investimento

Cambridge: 8 fontes de venture capital; 4 de

investimento anjo externo à universidade e 4

geridas pelo ETT

Unicamp: 1 grupo de investidores anjo externo

à universidade

Parcerias e redes

Cambridge: total de 21 iniciativas, a mais

antiga data de 1987

Unicamp: total de 3 iniciativas, todas criadas

depois do ano 2000

Política de propriedade intelectual

da universidade

Cambridge: pesquisador pode escolher ser

proprietário da patente

Unicamp: patente é sempre da universidade

Escopo de atuação do escritório de

transferência de tecnologia

Cambridge: mais amplo, faz investimento

Unicamp: mais restrito, não faz investimento

Fonte: elaboração própria.

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109

CAPÍTULO 3.

3. Discussão dos resultados: semelhanças e diferenças entre o empreendedorismo

acadêmico na região da universidade de Cambridge e na da Unicamp

3.1. Introdução

O presente capítulo tem por objetivo fazer a discussão dos resultados dos dois

estudos de caso apresentados no capítulo 2 – perfil da atividade empreendedora em cada uma

das regiões e contextos interno e externo às universidades e seu impacto no

empreendedorismo acadêmico. A análise dos dados levantados revela semelhanças e

diferenças tanto entre os contextos quanto entre os resultados de empreendedorismo

acadêmico no entorno de cada umas das universidades.

As semelhanças de contexto iniciam-se em questões mais pontuais, como as

dimensões de corpo docente e discente e o volume de alunos de pós-graduação matriculados

em cursos de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e estendem-se para

questões mais complexas, como por exemplo a configuração do arcabouço institucional para

estimular o empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das

universidades. Já no que diz respeito às spin-offs, destacam-se as semelhanças na

concentração setorial e as curvas de quantidade de empresas criadas por ano.

No âmbito das diferenças de contexto destacam-se a exploração comercial da

propriedade intelectual, o alto grau de internacionalização das empresas oriundas de

Cambridge contrastando com a presença eminentemente local das empresas oriundas da

Unicamp e também a disponibilidade de fontes de investimento. Há diferenças consideráveis

nas parcerias e redes de cada universidade, na política e produção de propriedade intelectual e

no volume e diversidade das iniciativas de fomento ao empreendedorismo acadêmico.

Nossa análise busca destacar aonde as semelhanças e, sobretudo, as diferenças,

são mais acentuadas e aonde são mais moderadas, bem como quais fatores parecem ser os

principais responsáveis pelas convergências e divergências encontradas entre os dois casos

estudados. Destacamos o papel do contexto na explicação das semelhanças e diferenças de

resultados, ainda que, naturalmente, não tenhamos elementos para afirmar que essas

especificidades de contexto são as únicas determinantes dos resultados encontrados.

Reconhecemos a existência de outros fatores também pertinentes para a explicação das

semelhanças e diferenças encontradas, que todavia estão fora do escopo do presente trabalho,

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110

como por exemplo o contexto sociocultural da universidade e características pessoais dos

indivíduos (apresentados em âmbito teórico no capítulo 1).

O presente capítulo é composto por três itens, incluindo essa introdução. O item 2

discute as semelhanças entre os dois casos, divididas em semelhanças de resultados e de

contexto e item 3 discute as diferenças, na mesma estrutura, ou seja, de resultados e de

contexto.

3.2. Semelhanças entre os casos estudados

Apesar das evidentes diferenças de idade – uma tem 52 anos, e a outra, 809 – e

aquelas decorrentes da localização, observamos uma série de semelhanças entre a

Universidade Estadual de Campinas e a Universidade de Cambridge, tanto no que diz respeito

aos resultados de empreendedorismo acadêmico quanto ao contexto em que ele ocorre. A

seguir apresentaremos e discutiremos as semelhanças constatadas, divididas em semelhanças

de resultados e de contexto.

3.2.1. Semelhanças de resultado

Na lista das semelhanças entre os resultados de empreendedorismo acadêmico dos

dois casos estudados, figuram: (i) principais setores de atividade das empresas oriundas das

universidades, (ii) anos de início e de intensificação da criação de empresas, (iii) quantidade

de empresas vendidas e (iv) quantidade de colaboradores das empresas.

Primeiramente no que diz respeito à concentração setorial, conforme ilustram os

Gráficos 3.1 e 3.2, em ambos os casos estudados o setor de atividade com maior quantidade

de empresas é o de tecnologia da informação e comunicação (Cambridge com 30% do total e

Unicamp com 18%). Em segundo lugar em Cambridge está a área de software (12%) e em

terceiro a de biotecnologia (8%). Já no caso da Unicamp a segunda área com maior

concentração de empresas é a de consultoria (12% do total) seguida pela de engenharia (8%).

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111

Gráfico 3.1 Setores de atividade das empresas oriundas da Universidade de Cambridge

Fonte: elaboração própria.

0 5 10 15 20 25 30 35

Tecnologia da informação

Software

Biotecnologia

Mídia

Serviços de internet

Hardware

Financeiro

Outro

Engenharia

Saúde

Não declarado

Marketing

Telecomunicações

Consultoria

Educação

Moda & Decoração

Farmacêutica

Semicondutores

Energia

Alimentos

Equipamentos médicos

Recursos Humanos

Turismo

Educação Física

Eletrônica

Nanotecnologia

Tecnologias verdes

Imobiliário

Química

Agricultura

Quantidade de empresas

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112

Gráfico 3.2 Setores de atividade das empresas oriundas da Unicamp

Fonte: elaboração própria.

0 5 10 15 20

Tecnologia da informação

Consultoria

Engenharia

Outro

Software

Alimentos

Biotecnologia

Energia

Saúde

Não informado

Educação

Telecomunicações

Serviços de internet

Marketing

Financeiro

Mídia

Arquitetura

Agricultura

Moda & Decoração

Educação Física

Tecnologias verdes

Química

Equipamentos médicos

Farmacêutica

Hardware

Nanotenologia

Semicondutores

Quantidade de empresas

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113

Algumas características das universidades e das regiões contribuem para explicar

esse fenômeno de concentração: primeiramente no que diz respeito à área de tecnologia da

informação e telecomunicações, em ambos os casos, são áreas em que a pesquisa das

universidades é forte e as regiões contam com outros institutos e centros de pesquisa públicos

e privados com atuação muito significativa na área - para Campinas podemos citar como

principais exemplos o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD)

e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI Renato Archer), e para

Cambridge o AT&T Laboratories Cambridge e o Microsoft Research Lab.

Em segundo lugar, há que se analisar a pós-graduação, que é uma das principais

fontes de capital humano para o empreendedorismo acadêmico. Nesse caso também há uma

grande semelhança entre as duas universidades estudadas: em ambos os casos,

aproximadamente um terço dos estudantes de pós-graduação dedicam-se a áreas STEM

(Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Na Unicamp são 34%55

dos alunos de pós-

graduação - sendo que 52% das empresas analisadas atuam em STEM. Ou seja, metade das

empresas dedica-se às áreas de conhecimento em que se concentram um terço dos estudantes

de pós-graduação. Já no caso de Cambridge, 35%56

dos alunos de pós-graduação dedicam-se a

áreas STEM, que representam 71% das áreas de atuação das empresas analisadas. Ou seja,

mais de dois terços das empresas concentram-se nas áreas às quais se dedicam um terço dos

alunos de pós-graduação da universidade. Nos aprofundaremos mais adiante, na seção

semelhanças de contexto, na questão da influência da pós-graduação no empreendedorismo

acadêmico que ocorre no entorno das duas universidades.

Do ponto de vista da atividade empreendedora, é necessário ressaltar também

que a área de software, assim como a de tecnologia da informação, tem custos fixos menores

(Garnsey & Heffernan, 2005), menor custo de escala e exige investimento inicial de tempo e

capital relativamente menor, por exemplo, do que biotecnologia ou saúde, e por isso apresenta

uma tendência natural a ocorrer com mais frequência.

Já no que diz respeito à terceira área com maior incidência de empreendedorismo

acadêmico em Cambridge – a biotecnologia, que responde por 8% do total da nossa amostra

de empresas– uma análise do contexto nos mostra que há na região uma infraestrutura

55

Fonte: Anuário Estatístico Unicamp 2016.

56 Fonte: Student Statistics 2015-16 (último ano disponível).

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114

considerável de apoio às atividades na área de biotecnologia: dentre os 19 parques científicos

e tecnológicos da região, há 5 dedicados à área de ciências da vida (e nenhuma outra área do

conhecimento apresenta concentração maior de especialização de parques), além disso, das

três incubadoras da região, uma é dedicada exclusivamente à área de biotecnologia, enquanto

as outras duas são abertas a todas as áreas do conhecimento. Por fim, e provavelmente de

maior relevância, destaca-se o fato de que há na região duas importantes instituições nas áreas

de saúde e biotecnologia: o Babraham Institute, laboratório financiado pelo governo e que

realiza muitos projetos colaborativos com empresas, e o Medical Research Council

Laboratory of Molecular Biology laboratório público de pesquisa em biologia que emprega

mais de 400 pesquisadores e é considerado como elemento essencial para o desenvolvimento

do cluster de biotecnologia da região. Essa potência de Cambridge na área de ciências da

vida, tanto na universidade quanto fora dela, faz com que a região seja um centro de

excelência para aplicações de mercado de biotecnologia. Não é por acaso que o Human

Genome, projeto internacional de sequenciamento do genoma humano lançado em 1990, era

sediado em Cambridge (Garnsey & Heffernan, 2005; Kirk & Cotton, 2012).

Finalmente, no que diz respeito à segunda área de atuação com maior

incidência de empreendedorismo acadêmico na região da Unicamp (consultoria, que

representa 12% do total), é importante ressaltar que se trata de uma área que requer baixo

investimento inicial e poucas habilidades de gestão. Por isso, torna-se uma escolha

interessante para quem decide empreender, além de configurar-se como uma opção atraente

para empresas iniciantes que tem dificuldade de acessar financiamento e optam por prestar

consultoria técnica de modo a conseguir fluxo de caixa até que terminem as etapas de

desenvolvimento e validação no mercado de seu produto ou serviço (Druilhe & Garnsey,

2004). Ou seja, o fato de a consultoria estar em segundo lugar dentre as áreas com maior

incidência de empreendedorismo acadêmico oriundo da Unicamp, pode ser considerado como

indicativo da escassez de fontes de investimento e capacitação na região.

Ainda no tópico das semelhanças entre o empreendedorismo acadêmico oriundo

das universidades estudadas, de acordo com o Gráfico 3.3, observa-se que há paralelos nas

curvas de quantidade de empresas criadas por ano. Nos dois casos, a criação de empresas

inicia-se na década de 1960, mas só ganha fôlego três décadas depois, a partir de meados dos

anos 1990. Além disso, nenhum dos casos apresenta crescimento linear, ou seja, há picos de

criação de empresas em anos específicos, bem como períodos de queda, como é o caso dos

últimos um ou dois anos.

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115

Gráfico 3.3 Quantidade de empresas oriundas de Cambridge e da Unicamp criadas por

ano (1963-2016)

Esse movimento de adensamento da criação de empresas por ano coincide com a

transição vivida em maior ou menor grau pelas universidades de todo o mundo a partir da

década de 1980 e que as levou a rever suas missões e atividades de modo a melhor atender as

demandas da sociedade e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, sobretudo

através da transferência direta ou indireta de tecnologia e conhecimento (através de

licenciamentos ou spin-offs) (Zanatta et al, 2016).

Para compreender esse impulsionamento do crescimento a partir de meados dos

anos 1990 é preciso lembrar que na década de 1980, com a implementação do Bayh-Dole Act.

se institucionaliza – nos Estados Unidos e ao redor do mundo – a ideia de universidade

empreendedora, que acumula, além das atividades de ensino e pesquisa, iniciativas

relacionadas à comercialização da sua propriedade intelectual e de apoio à atividade

empreendedora. Diante desse novo cenário, as universidades norte-americanas foram

pioneiras ao mudar suas políticas internas de patenteamento, estabelecendo procedimentos

administrativos e escritórios de transferência de tecnologia para patentear e comercializar os

resultados das suas pesquisas (Etzkowitz, 2002). Vários países europeus e asiáticos adotaram

arcabouços legais similares, fazendo com que o movimento de formalização da gestão da

propriedade intelectual se propagasse entre as universidades ao redor do mundo (Grimaldi,

2011), mudando consideravelmente o status do empreendedorismo acadêmico tanto no

contexto interno quanto no contexto externo às universidades.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Em

pre

sas

cria

das

Cambridge Unicamp

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116

Quando as universidades estabeleceram seus primeiros escritórios de transferência

de tecnologia nas décadas de 1980 e 1990, os esforços estavam essencialmente voltados para

as atividades diretamente relacionadas à transferência de tecnologia: patenteamento e

licenciamento. Iniciativas relacionadas à criação de novas empresas eram raras, uma vez que

se pensava que estas poderiam desviar os esforços dos acordos de licenciamento de patentes

potencialmente mais lucrativos. Também havia poucos cursos e programas sobre

empreendedorismo. A facilitação à criação de start-ups se tornou parte efetiva do

empreendedorismo acadêmico quando se percebeu que tratava-se de outro caminho possível

para a transferência de tecnologia e a geração de receita para as universidades, de forma que,

em um primeiro momento, as iniciativas nesse sentido estavam quase que integralmente

vinculadas à transferência das invenções dos cientistas dos laboratórios para as start-ups, por

meio do licenciamento formal de patentes universitárias (Siegel e Wright, 2015a).

Ou seja, o aumento na quantidade de empresas criadas a partir dos anos 1990 é

reflexo do adensamento que ocorreu em ambos os países (e em tantos outros ao redor do

mundo) de iniciativas internas e externas às universidades para estimular e viabilizar a

exploração comercial de propriedade intelectual da universidade e o empreendedorismo

acadêmico, bem como de uma série de ações governamentais em âmbito estadual ou federal

implementadas no mesmo período. Além disso, destaca-se também o fenômeno global que

ocorre a partir do final dos anos 1990 quando se observa um aumento no interesse em

empresas de tecnologia em função dos altos retornos de investimentos norte-americanos na

área.

Especificamente para o caso brasileiro é importante notar que é somente a partir

de meados da década de 1990 que as políticas de ciência e tecnologia abandonam a visão

linear e assumem concepções sistêmicas do processo de inovação. Nesse sentido, o período é

marcado por uma série de reformas importantes nas políticas nacionais de ciência, tecnologia

e inovação que tinham por objetivo eliminar a histórica desarticulação entre as políticas

nacional, industrial e de desenvolvimento econômico no Brasil (Pacheco e Corder, 2009,

Balbachevsky, 2011). Finalmente, e também em nível nacional, há a influência do Plano Real,

que foi lançado em 1994 para controlar a inflação e estabilizar a economia. Seu êxito

contribuiu para reduzir a incerteza inerente à atividade empreendedora e influenciou

positivamente a propensão a empreender no país.

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Já para o caso de Cambridge, uma possível explicação, proposta por Druilhe &

Garnsey (2004), seria a mudança de postura da universidade a partir da década de 1990. Antes

desse período, conforme discutido acima, sua abordagem sobre transferência de tecnologia,

propriedade intelectual e empreendedorismo era informal e difusa. Não havia diretrizes

estruturadas e detalhadas para regular o relacionamento dos acadêmicos com a indústria ou

sua atividade empreendedora, de tal maneira que os pesquisadores tinham muita liberdade e

pouco apoio. Na segunda metade dos anos 1990, porém, a abordagem da universidade muda e

torna-se mais proativa e estruturada: os acadêmicos passam a contar com uma gama cada vez

mais ampla de iniciativas para estimular e apoiar sua atividade empreendedora. Assim, essa

mudança de postura da universidade pode responder em parte pelo aumento na criação anual

de empresas na região de Cambridge a partir do final dos anos 1990. Além disso, destaca-se

também o aumento do financiamento público e privado no Reino Unido no período (tópico

que será detalhado mais adiante).

Outra variável em que há semelhança entre os dois casos estudados é a quantidade

de empresas vendidas: ainda que em Cambridge a porcentagem de empresas vendidas seja um

pouco maior do que em Campinas (16% no primeiro caso e 6% no segundo). Nota-se em

ambas que a vasta maioria das empresas continua, ao menos parcialmente, sob o controle de

seus fundadores.

Finalmente, se observa muita semelhança entre os casos no quesito de distribuição

da quantidade de colaboradores das empresas. A vasta maioria das empresas tem de 1 a 10

funcionários (43% em Cambridge e 52% na Unicamp), em seguida, mais de um terço do total

tem de 11 a 50 colaboradores (39% em Cambridge e 35% na Unicamp), e uma minoria tem de

51 a 200 (17% e 11%, respectivamente). Dentre as empresas maiores, há em Cambridge duas

com 1.001 a 5.000 funcionários, uma com 5.001 a 10.000 e também uma com mais de dez mil

funcionários. Já em Campinas há apenas 4 de 501 a 1.000 e 3 na faixa de 1.001 a 5.000

funcionários.

Analisando-se em conjunto os dois últimos dados apresentados (empresas

vendidas e quantidade de colaboradores), é possível notar que, ainda que haja exceções, a

vasta maioria das empresas de ambas as regiões são de porte pequeno ou médio e permanece,

pelo menos parcialmente, propriedade de seus fundadores.

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3.2.2. Semelhanças de contexto

Na lista das semelhanças entre os contextos dos dois casos estudados, figuram: (i)

quantidade de docentes, (ii) quantidade de alunos, (iii) marco legal de inovação (criação do

arcabouço institucional para estimular o empreendedorismo acadêmico e transferência de

conhecimento) e (iv) possível correlação entre o aumento de empresas criadas e da quantidade

de alunos de pós-graduação.

Primeiramente, observa-se que ambos os corpos docente e discente têm tamanhos

comparáveis: a Unicamp tem 1.867 docentes, 16.655 alunos de pós-graduação e um total de

35.656 alunos, enquanto Cambridge tem 1.666 docentes, 9.612 alunos de pós-graduação e um

total de 21.656 alunos.

Seguindo com as características comparáveis de contexto, é importante notar

que a configuração do arcabouço institucional por parte do governo britânico para estimular o

empreendedorismo acadêmico e ampliar a transferência de conhecimento das universidades é

tardia quando comparada a outros países desenvolvidos. Assim, nesse ponto o Reino Unido

assemelha-se ao Brasil, cuja Lei de Inovação data de 2004 – e sabe-se que as iniciativas de

fomento ao empreendedorismo acadêmico vêm no esteio das políticas de inovação, assim

como ocorreu nos Estados Unidos, após a implementação do Bayh Dole Act nos anos 1980.

O Reino Unido não dispõe de uma legislação federal de apoio à inovação (como a

Lei de Inovação brasileira), mas apesar disso tal apoio fica evidente, principalmente a partir

do fortalecimento dos fundos públicos para pesquisa e do aumento do apoio governamental às

iniciativas de inovação e empreendedorismo que ocorrem em fins dos anos 1990 e início dos

anos 2000 (Lawton Smith & Ho., 2006).

Por sua vez no Brasil a inovação só passa a ser percebida como desafio nacional

nos anos 2000, e o incentivo governamental é marcado pela promulgação da Lei de Inovação

em 2004. Além disso, o processo de perceber que a ideia de que os proventos decorrentes de

licenciamento de tecnologia representariam uma fonte importante de receita para a

universidade era na realidade um mito, e que a questão da transferência de tecnologia

necessitava ser tratada de maneira mais ampla - inclusive por ter o potencial de beneficiar

um conjunto de dimensões externas e internas à universidade - acontece no Brasil somente na

década de 2010, enquanto que no Reino Unido ocorre já no final da década de 1990.

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Isso decorreu do fato de que o interesse do governo federal do Reino Unido pelo

incentivo à transferência de tecnologia universitária surgiu já no final da década de 1970,

quando implementou reformas que reduziram a verba das universidades e recomendou que

buscassem complementar suas receitas comercializando tecnologia. Essa iniciativa, todavia,

não continha nenhum componente de estímulo à transferência de tecnologia que não a

redução de verba – não veio acompanhada de nenhum tipo de legislação, fundo de

investimento, apoio ou programa de incentivo.

Outro fator que se destaca nas semelhanças de contexto entre os dois casos

estudados é a aparente correlação entre o aumento na quantidade de empresas criadas por ano

e de estudantes de pós-graduação matriculados (para o período de 1994 a 2016), conforme

ilustra o Gráfico 3.4.

Gráfico 3.4 Quantidade de empresas criadas por ano, de alunos matriculados na pós-

graduação na Unicamp e em Cambridge (1994-2016, tendência)

Fonte: elaboração própria a partir de dados dos anuários estatísticos das universidades.

R² = 0,95

R² = 0,72

R² = 0,73

R² = 0,64

0

10

20

30

40

50

60

70

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90

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

Qua

ntid

ade

de

empre

sas

cria

das

Qua

ntid

ade

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alun

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mat

ricu

lado

s na

pós-

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o

Alunos matriculados pós-graduação Unicamp Alunos matriculados pós-graduação CambridgeEmpresas criadas Unicamp Empresas criadas Unicamp

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120

Ainda que em ambos os casos a quantidade de empresas criadas por ano cresça

60% a mais do que a quantidade de alunos matriculados em mestrado e doutorado, nota-se

que ambos apresentam tendências relativamente parecidas – e mais acentuadas – de

crescimento, enquanto que o aumento anual na quantidade de alunos matriculados na

graduação é menor57

. Para Cambridge, os alunos de pós-graduação triplicam no período, e a

quantidade de empresas aumenta 4,9 vezes, enquanto que para a Unicamp os alunos de pós

quase duplicam (aumenta 1,9 vezes) e as empresas mais que triplicam (3,3 vezes).

No que diz respeito à pós-graduação, a Universidade de Cambridge tem 35% de

seus alunos de pós-graduação matriculados em cursos em STEM (Ciência, Tecnologia,

Engenharia e Matemática), e a Unicamp, 34%. Como a literatura aponta, parte considerável

do empreendedorismo acadêmico é realizado por estudantes. Junte-se a isso o fato também

destacado pela literatura de que, na maioria das vezes, o empreendedorismo acadêmico

realizado por estudantes baseia-se em ideias oriundas de suas pesquisas (independentemente

de gerarem propriedade intelectual ou não), e é possível vislumbrar uma justificativa para a

concentração de empreendimentos nas áreas de STEM (Mayer, 2007).

A análise do conjunto das semelhanças de contexto nos permite ver que, em sua

maioria, não tem um componente ativo de estímulo à atividade empreendedora: os itens

quantidade de docentes, quantidade de alunos, e correlação entre o aumento de empresas

criadas por ano e de estudantes de pós-graduação não são resultado de ações deliberadas

para estimular o empreendedorismo acadêmico. Já o item marco legal de inovação: criação

do arcabouço institucional para estimular o empreendedorismo acadêmico e a transferência

de conhecimento, ainda que seja resultado de uma ação deliberada para estimular a atividade

empreendedora, refere-se ao âmbito nacional, portanto também tem impacto reduzido nessa

análise, uma vez que nosso foco é o entorno das universidades.

57

Enquanto em Cambridge a quantidade permanece praticamente estável (aumenta 1,1 vez), na Unicamp no

mesmo período, duplica.

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121

3.3. Diferenças entre os casos estudados

3.3.1. Diferenças de resultado

Na lista das diferenças entre os resultados de empreendedorismo acadêmico dos

dois casos estudados, figuram: (i) quantidade de empresas oriundas das universidades, (ii)

quantidade de tecnologias licenciadas pelas universidades, (iii) internacionalização das

empresas oriundas das universidades.

A primeira diferença de resultado que notamos diz respeito ao empreendedorismo

acadêmico: enquanto há aproximadamente 4.900 empresas oriundas de Cambridge ativas, isso

é, que tem pelo menos um fundador que tem ou teve vínculo com a universidade, para a

Unicamp esse número gira em torno de 2.400, ou seja, é aproximadamente a metade. Desse

universo, analisamos dados a respeito de 961 empresas para o primeiro caso, e 488 para o

segundo.

Todavia, apesar da evidente disparidade, é preciso fazer um exercício para

relativizá-la a partir do cruzamento com informações referentes às diferenças de contexto.

Primeiramente, é interessante notar que a discrepância no volume de fontes de investimento e

parcerias e redes nos dois casos analisados não é proporcional aos seus respectivos volumes

de empresas. Trata-se de dois campos recorrentemente mencionados como de grande

importância no estímulo ao empreendedorismo, e as diferenças não são desprezíveis:

enquanto Cambridge conta com oito fontes de venture capital; quatro de investimento anjo

externo à universidade e quatro geridas pelo seu Escritório de Transferência de Tecnologia, a

região da Unicamp tem apenas um grupo de investidores anjo, que é externo à universidade.

Ou seja, Cambridge tem 16 diferentes fontes de investimento para apoiar start-ups e spin-offs,

enquanto que Campinas tem apenas duas, e ainda assim, aquela região tem apenas o dobro de

empreendimentos do que essa.

Da mesma maneira, no quesito de parcerias e redes, elementos muito importantes

para empreendedores presentes e potenciais adquirirem e trocarem conhecimentos, além de

formarem suas redes de contatos, Cambridge conta com um total de 21 iniciativas, sendo que

a mais antiga data de 1987, enquanto que no entorno da Unicamp há apenas três, todas criadas

depois do ano 2000. No primeiro caso, observa-se uma grande variedade de iniciativas. Há

aquelas que são internas à universidade (ex. grupo para membros da comunidade acadêmica

interessados em empreendedorismo e inovação), externas (ex. fóruns para discutir tópicos

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122

relacionados a manufatura de alto valor) e mistas (ex. eventos que reúnem acadêmicos e

representantes da indústria para identificar áreas de interesse comum); há iniciativas gerais e

focadas em áreas de atuação específicas (ex. web design ou energia e meio ambiente), há

algumas frequentadas somente por empreendedores, e outras que envolvem também

investidores, indústria e o setor público; há iniciativas locais de Cambridge, outras em

parceria com Londres, com a Europa e com os Estados Unidos. Ou seja, há não só um grande

volume, como também uma grande variedade de iniciativas voltadas para a criação e

fortalecimentos e parcerias e redes de empreendedores.

Já no entorno da Unicamp, observa-se apenas três iniciativas: um grupo de alunos

interessados em empreendedorismo, um grupo de alunos e ex-alunos empreendedores, e uma

associação de start-ups da região. No entanto, a extraordinária diferença entre as quantidades

de parcerias e redes da região de Cambridge e da Unicamp parece não se traduzir em

semelhante desproporção entre o volume de empreendedorismo acadêmico da primeira e da

segunda.

O segundo item na lista de diferenças de resultados é a exploração comercial da

propriedade intelectual, e nesse caso nota-se uma diferença muito mais expressiva do que a

das quantidades de empresas: em 2017 a Unicamp licenciou 23 tecnologias, e entre 2007 e

2017, licenciou um total de 127. Já Cambridge, em 2017 licenciou 126, e no período de 2007

a 2017, licenciou um total de 1.135 tecnologias. Conforme ilustra o Gráfico 3.5, os números

de licenciamentos da universidade de Cambridge são muito maiores do que os da Unicamp

desde a criação de seu escritório de transferência de tecnologia em 2007: em média,

Cambridge assina 11,2 vezes mais licenças por ano do que a Unicamp.

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Gráfico 3.5 Quantidade de licenças de transferência de tecnologia assinadas por ano na

Universidade de Cambridge e na Unicamp

Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios anuais dos respectivos ETTs.

Dentre os fatores que explicam essa diferença, destaca-se o fato de que o

escritório de transferência de tecnologia de Cambridge está mais bem equipado do que o da

Unicamp sobretudo no que diz respeito a: (i) existência de um fundo de prova de conceito,

que investe nas tecnologias mais promissoras da universidade antes de licenciá-las, deixando-

as assim mais preparadas para aplicação no mercado, e consequentemente mais atrativas para

licenciamento; e (ii) qualificação da equipe: enquanto a de Cambridge é altamente

profissionalizada desde a sua fundação, a Unicamp em seus primeiros dez anos de existência

(2003-2013) sofreu com a baixa permanência de pessoal em função da dificuldade de obter

vagas permanentes junto à administração central da universidade, dependendo portanto

excessivamente de bolsistas, cuja rotatividade é inevitável e invariavelmente alta.

Em terceiro lugar, dentre as diferenças de resultados de empreendedorismo

acadêmico, destaca-se também a questão da internacionalização. As empresas oriundas de

Cambridge apresentam alto grau de internacionalização, que se manifesta nos fatos de que: (i)

apenas 50% tem sede no Reino Unido, 25% tem sede nos EUA e as demais sedes estão

espalhadas por quase 40 países58

em todos os continentes; (ii) dentre as empresas que

58

Os países em que há sede de empresas oriundas de Cambridge, além do Reino Unido, são: África do Sul,

Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos,

Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Hong Kong, Índia, Indonésia, Irlanda, Israel,

Itália, Japão, Jordânia, Malta, México, Noruega, Paquistão, Polônia, Portugal, Quênia, Rússia, Singapura,

Suécia, Suíça, Tailândia, Taiwan, Turquia e Vietnã (total de 39).

0

20

40

60

80

100

120

140

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

104 4 7 10 13

8 1115

23 22

60

80 83

97

116

84

109

130123

127 126

Lic

ença

s as

sina

das

Unicamp Cambridge

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124

possuem filial (88% do total), 84% tem pelo menos uma filial no exterior59

; e (iii) 54% do

total, exportam.

Já na região de Campinas, não só todas as empresas sem exceção têm sede no

Brasil, como 60% tem sede na cidade de Campinas e 95% tem sede no estado de São Paulo.

Além disso, apenas 11% delas têm filial, e dessas, 29% são no exterior60

- ou seja, apenas 3%

da amostra total tem presença no exterior. Finalmente no quesito exportação, apenas 13% das

empresas oriundas da Unicamp a praticam.

Adicionalmente, é interessante analisar os países aonde se estabeleceram essas

empresas: no caso de Cambridge, há sedes em 39 países e filiais em 49. Em ambos os casos se

observa variedade de tamanho (desde países pequenos como Chipre Liechtenstein, até

grandes como Rússia e China) e representação de todos os continentes (Alemanha, Argentina,

Quênia, Rússia, Singapura, Emirados Árabes Unidos, Nova Zelândia, Groenlândia etc). Já no

caso da Unicamp, a presença internacional está essencialmente limitada ao continente

americano (Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos e México), com uma única

exceção de uma empresa que tem filiais também na China, no Japão e no Reino Unido.

Assim, pode-se concluir que as empresas oriundas da Unicamp apresentam presença

eminentemente local, enquanto que as de Cambridge tem considerável projeção global.

Uma possível explicação para esse fenômeno é a quantidade de alunos

estrangeiros nas universidades. Uma vez que parte considerável do empreendedorismo

acadêmico é iniciativa de alunos ou ex-alunos, sobretudo de pós-graduação (Meyer, 2007),

acreditamos que o fato de a universidade de Cambridge ter muito mais alunos estrangeiros do

que a Unicamp impacta diretamente nas taxas de internacionalização das empresas dela

oriundas. Conforme ilustra o Gráfico 3.6, a presença de estrangeiros na graduação da

Unicamp é muito reduzida (variando entre 0,5% e 0,7% no período de 2007 a 2016) e na pós-

graduação, embora seja consideravelmente maior (variando entre 4% e 6%), ainda está muito

59

Os países em que há filiais de empresas oriundas de Cambridge são: África do Sul, Alemanha, Argentina,

Áustria, Austrália, Bélgica, Brasil, Bulgária, Canadá, Cazaquistão, Chile, China, Chipre, Coréia do Sul,

Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Filipinas, Finlândia, França, Geórgia,

Groenlândia, Holanda, Hong Kong, Índia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Kuwait, Liechtenstein, Luxemburgo,

Macau, México, Nigéria, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Quênia, Rússia, Sérvia, Singapura, Suécia,

Suíça, Taiwan e Ucrânia (total de 49).

60 Os países em que há filiais de empresas oriundas da Unicamp são: Argentina, Canadá, Chile, China,

Colômbia, Estados Unidos Japão, México e Reino Unido (total de 9).

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inferior aos números de Cambridge, cujos cursos graduação contam com 15% a 21% de

estrangeiros no período analisado, e cuja pós-graduação conta com entre 56% e 62%.

Gráfico 3.6 Porcentagem de alunos estrangeiros de graduação e pós-graduação na

universidade de Cambridge e na Unicamp (2007-2016)

Fonte: elaboração própria a partir dos anuários estatísticos das universidades.

Notamos que a taxa de internacionalização das empresas oriundas da universidade

de Cambridge coincide com a de alunos de pós-graduação estrangeiros nela matriculados.

Esses alunos, se decidem empreender, frequentemente optam por desenvolver um produto ou

serviço voltado para seu país ou região, ou, mesmo que isso não ocorra, têm maior propensão

para alocar a sede ou uma filial fora do Reino Unido. Todavia, nem toda presença

internacional das empresas oriundas de Cambridge pode ser atribuída à existência de alunos

estrangeiros. Ademais, mesmo aquelas que se enquadram nessa categoria, provavelmente

apresentam caráter consideravelmente mais global do que aquelas fundadas na região de

Campinas, por brasileiros que estudaram na Unicamp.

3.3.2. Diferenças de contexto

Na lista das diferenças entre os contextos dos dois casos estudados, figuram: (i)

produção de propriedade intelectual, (ii) disponibilidade de fontes de investimento, (iii)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Alu

nos

estr

ange

iro

s

Unicamp graduação Unicamp pós-graduação Cambridge graduação Cambridge pós-graduação

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quantidade de mecanismos de parcerias e redes, (iv) política de propriedade intelectual das

universidades, (v) escopo de atuação dos escritórios de transferência de tecnologia.

No que diz respeito à produção de propriedade intelectual, conforme ilustra o

Gráfico 3.7, a Unicamp depositou 81 patentes em 2017, e no período de 2007 a 2017

depositou um total de 712; já Cambridge depositou 245 patentes em 2017, e no período de

2007 a 2017 depositou um total de 1703. Apenas no primeiro ano analisado a produção da

Unicamp foi maior do que a de Cambridge, e a produção anual média de Cambridge no

período é 2,3 vezes maior do que a da Unicamp.

Gráfico 3.7 Patentes depositadas por ano pela Unicamp e pela Universidade de

Cambridge

Fonte: elaboração própria a partir dos relatórios anuais dos respectivos ETTs.

Essa diferença no volume de produção de propriedade intelectual ainda é

reforçada pelos critérios adotados por cada universidade para decidir o que patentear. A

Unicamp observa apenas os requisitos de patenteabilidade dispostos na Lei de Propriedade

Industrial61

, que são: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Já a Universidade

de Cambridge, além de novidade, não-obviedade e aplicação industrial, considera também

como parâmetros: análise de mercado, análise de competição e timing. Ou seja, há ali um

processo mais extenso para decidir o que será patenteado, e invenções que atendem apenas os

requisitos legais tem poucas chances de serem protegidas, de tal maneira que provavelmente a

61

Lei n° 9.279/1996.

0

50

100

150

200

250

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

51 51 52 51

6773 71

77

58

80 81

44

83

124 124

168 167

204

239

159146

245

Pat

ente

s d

epo

sita

das

Unicamp Cambridge

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discrepância no volume de criação de propriedade intelectual das duas universidades, na

verdade, é ainda maior do que mostram os números do Gráfico 3.7.

Além disso, nota-se que a diferença entre as quantidades de licenciamentos anuais

das duas universidades é muito mais pronunciada do que a diferença entre as quantidades de

patentes depositadas anualmente. Entretanto, talvez a relação entre licenciamentos e

patenteamentos das universidades, na realidade seja mais parecida. Ou seja, embora à

primeira vista pareça haver discrepância na proporção de patentes depositadas e licenciadas,

talvez isso de deva mais à estratégia de patenteamento de cada universidade do que ao volume

de sua produção de propriedade intelectual.

De acordo com dados dos respectivos Escritórios de Transferência de Tecnologia,

Cambridge licencia anualmente 50 a 100% do volume de patentes protegidas no ano,

enquanto que para a Unicamp esses números variam entre 10 e 30%62

. Todavia, se ambas

usassem os mesmos critérios para patentear, provavelmente a quantidade de patentes por ano

em Cambridge seria muito maior (pelos critérios da Unicamp), ou a quantidade de patentes

por ano na Unicamp seria muito menor (pelos critérios de Cambridge). Em qualquer um dos

dois cenários, as taxas de licenciamentos por ano em relação à quantidade de patentes

depositadas por ano, seriam mais parecidas.

Destaca-se também no âmbito das diferenças a disponibilidade de fontes de

investimento, que é muito mais escassa em Campinas (há apenas um grupo de investidores

anjo, composto essencialmente por ex-alunos empreendedores da universidade, além do

programa PIPE da FAPESP, agência estadual de fomento) do que em Cambridge (dispõe de

oito fontes de venture capital, quatro de investimento anjo externas à universidade, e outras

quatro geridas pelo escritório de transferência de tecnologia, que juntas cobrem diversas

etapas de desenvolvimento de novos empreendimentos, desde as mais embrionárias até as de

crescimento).

Todavia, essa configuração de Cambridge é relativamente recente: até o final da

década de 1990 havia na região apenas três fundos, cada um com investimentos em

aproximadamente cinco empresas de alta tecnologia da região. Esse cenário mudou na virada

do século, com os altos retornos de investimentos norte-americanos em empresas de

62

As patentes licenciadas em um determinado ano não foram necessariamente depositadas naquele mesmo ano.

Fizemos essa simplificação para facilitar a comparação, e como as universidades trabalham com um portfólio de

patentes que tem vida útil de 20 anos, acreditamos que tal simplificação não deturpa a realidade.

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tecnologia. Com isso a partir do início dos anos 2000 observa-se aumento tanto nas fontes

privadas de investimento quanto nas iniciativas governamentais para programas de ciência e

tecnologia e financiamento semente (Garnsey & Heffernan, 2005).

Já no que diz respeito a parcerias e redes, nota-se que, enquanto a região de

Cambridge apresenta 21 iniciativas para estimulá-las, sendo que a mais antiga data de 1987

(Cambridge High-tech Association of Small Enterprises) a da Unicamp só 3, todas criadas a

partir dos anos 2000. Destaque-se ainda que, ao contrário de Campinas, em Cambridge as

redes de negócio se organizam para exercer influência sobre a elaboração de políticas, e

atuam para que essas favoreçam o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação na

região.

Apesar da discrepância na quantidade e esfera de influência das parcerias e

redes das duas regiões estudadas, é interessante notar que há uma convergência no que diz

respeito ao potencial transformador das redes de conhecimento presentes em ambas. É difícil

isolar os efeitos de redes de conhecimento situadas ao redor de fortes bases científicas quando

há co-determinantes em jogo, como por exemplo ser experiência industrial anterior, grande

investimento governamental em infraestrutura, influências de uma grande metrópole ou gastos

governamentais com defesa e aquisições63

. Dada a ausência da vasta maioria desses co-

determinantes tanto ao redor de Cambridge quanto da Unicamp, é possível perceber o

potencial econômico e também as limitações dessas redes de conhecimento (Garnsey &

Heffernan, 2005).

No que diz respeito ao âmbito interno das universidades, a primeira diferença

que se nota é quanto à política de propriedade intelectual: enquanto em Cambridge os

pesquisadores podem escolher se querem ou não ser proprietários de suas tecnologias, na

Unicamp as patentes, programas de computador, cultivares e demais formas de propriedade

intelectual são sempre da universidade (e eventualmente também de parceiros públicos ou

privados que tenham co-financiado a pesquisa) e os pesquisadores figuram como autores da

tecnologia, o que os permite receber royalties em caso de licenciamento. Apenas em

condições excepcionais a Unicamp cede os direitos de propriedade intelectual ao respectivo

criador, porém para tanto é preciso percorrer um longo e demorado caminho burocrático.

63

No original: procurement (Garnsey & Heffernan, 2005; p. 1141).

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Embora tenham sido fundados com apenas 3 anos de diferença - e embora o da

Unicamp seja mais antigo (2003) do que o de Cambridge (2006) - os escritórios de

transferência de tecnologia também apresentam diferenças importantes. Ambos tiveram papel

importante no estímulo e sistematização da transferência de tecnologia dentro das respectivas

universidades, porém seu escopo de atuação e a escala de seus resultados são muito

diferentes. Enquanto na Unicamp o órgão é responsável pela proteção da propriedade

intelectual, transferência de tecnologia e estímulo ao empreendedorismo acadêmico, em

Cambridge além dessas funções o escritório conta também com recursos próprios para

investimento em prova de conceito e empreendimentos nascentes - mesmo que não tenham

vínculo formal com a universidade. Uma diferença interessante na organização interna de

ambos os escritórios é que a Unicamp conta com uma equipe de propriedade intelectual e

outra de transferência de tecnologia, enquanto que a Universidade de Cambridge tem apenas

uma equipe que é responsável tanto pela proteção das tecnologias quanto por seu

licenciamento. Essa estrutura reflete a maneira como cada escritório, e cada universidade,

aborda a questão do patenteamento: enquanto a Unicamp trata de maneira independente o

depósito da patente e seu respectivo licenciamento (e portanto patenteia todas a comunicações

de invenção que atendem os critérios da legislação de propriedade intelectual), em Cambridge

há uma abordagem integrada, que recomenda que só se patenteie o que tem chances de tornar-

se produto ou serviço.

No que diz respeito aos resultados dos escritórios, nota-se também uma grande

discrepância: em 2017 a Unicamp licenciou 22 tecnologias e depositou 81 patentes, enquanto

Cambridge licenciou 126 e depositou 245 patentes. Da mesma forma, em 2017 a receita de

licenciamentos e consultoria da Cambridge Enterprise foi de £16,9 milhões, enquanto que o

da Inova Unicamp foi de R$660 mil (CAMBRIDGE, 2017; UNICAMP, 2017).

Finalmente no que tange as iniciativas e características gerais das universidades

que fomentam o empreendedorismo acadêmico, nota-se que na maioria dos casos no entorno

de Cambridge tanto a oferta quanto a qualidade são melhores. Dentre tais critérios, destacam-

se a qualidade da pesquisa e dos pesquisadores, a capacitação de recursos humanos para

empreender, a disponibilidade de fontes de investimento e de parques científicos e

tecnológicos. Somente no quesito de incubadoras e aceleradoras que as duas regiões

apresentam composição semelhante. Além dessa desvantagem, apesar da existência de

lacunas e gargalos, a região da Unicamp parece estar subutilizando os recursos de que dispõe.

Conforme destacam Feliciello & Amaral (2010), a capacidade instalada de empresas

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inovadoras e pesquisa de ponta na Região Metropolitana de Campinas pode ser potencializada

com o fomento de projetos, parcerias e estratégias conjuntas de crescimento e

desenvolvimento.

A análise do conjunto das diferenças de contexto das duas universidades nos

permite notar que a maioria de seus elementos tem um componente ativo de estímulo à

atividade empreendedora. Os seguintes itens são resultado de ações deliberadas para estimular

o empreendedorismo acadêmico: disponibilidade de fontes de investimento, parcerias e redes,

política de propriedade intelectual da universidade, escopo de atuação do escritório de

transferência de tecnologia. Além disso, o item produção de propriedade intelectual também

tem um componente ativo no que diz respeito ao fomento à atividade empreendedora uma vez

que para decidir se vai proteger ou não uma criação de um membro de sua comunidade, a

universidade de Cambridge analisa não só novidade, não-obviedade e aplicação industrial,

como também mercado, competição e timing. Ou seja, em Cambridge a decisão de patentear

ou não, passa também pela capacidade de uma invenção transformar-se em produto ou

serviço.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação teve como objetivo identificar os fatores internos e externos às

universidades que influenciam o empreendedorismo acadêmico nos dois casos estudados

(Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Universidade Estadual de Campinas, no

Brasil). Para tanto, analisamos: (i) os fatores internos e externos de cada universidade que

podem influenciar na criação de spin-offs, (ii) os resultados quantitativos de

empreendedorismo acadêmico de ambas universidades, e (iii) as semelhanças e diferenças

entre os fatores e resultados estudados.

A partir de revisão da literatura, em especial da tipologia proposta por O’Shea et

al (2007b) selecionamos dois itens para orientar o estudo dos fatores que influenciam o

empreendedorismo acadêmico no entorno das universidades: seus contextos interno e externo.

A isso juntamos os resultados de um levantamento quantitativo não exaustivo de empresas

oriundas de ambas instituições para buscarmos entender seu perfil e traçar semelhanças e

diferenças entre ambos os casos.

A seção de Considerações finais está dividida em três partes, incluindo esta

introdução. O item 2 discute as semelhanças e diferenças tanto de contexto quanto de

resultados de empreendedorismo acadêmico entre os dois casos estudados, e o item 3

apresenta uma breve articulação dos achados deste trabalho com a literatura.

Com base na análise dos dados levantados nessa dissertação, percebemos que,

embora a Universidade de Cambridge esteja à frente em termos de resultados de

empreendedorismo acadêmico, a diferença entre os seus resultados e os da Unicamp não é tão

grande quanto se poderia esperar a priori.

Naturalmente que há diferenças de resultado acentuadas, como por exemplo o

volume de tecnologias licenciadas anualmente (em média, Cambridge assina 11,2 vezes mais

licenças por ano do que a Unicamp) e a internacionalização das empresas (para Cambridge

50% das empresas tem sede no Reino Unido e 54% exportam, enquanto que para a Unicamp

100% tem sede no Brasil e 13% exportam), e isso se deve, ao menos em parte, às diferenças

de contexto interno e externo às universidades estudadas nessa dissertação. Ao observar tais

diferenças, notamos que a maioria de seus elementos tem um componente ativo de estímulo à

atividade empreendedora. Os seguintes itens são resultado de ações deliberadas para estimular

o empreendedorismo acadêmico na Universidade de Cambridge e configuram diferenças de

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contexto importantes: disponibilidade de fontes de investimento, parcerias e redes, política de

propriedade intelectual da universidade, escopo de atuação do escritório de transferência de

tecnologia e critérios para patenteamento.

Enquanto Cambridge conta com 16 fontes de investimento que cobrem desde a

etapa de prova de conceito até venture capital, na região de Campinas são apenas duas;

enquanto Cambridge tem 21 iniciativas de parcerias e redes (e a mais antiga criada há mais de

30 anos), na região da Unicamp são apenas 3, todas criadas depois dos anos 2000. Enquanto o

Escritório de Transferência de Tecnologia da Unicamp atua na proteção da propriedade

intelectual, transferência de tecnologia e estímulo ao empreendedorismo, o da Universidade

de Cambridge, além dessas funções, atua nas áreas de investimento (conta com recursos

próprios para investir em empresas nascentes) e serviços de consultoria (prestada por

professores e funcionários da universidade). E, finalmente, enquanto a Unicamp trata de

maneira independente o depósito da patente e seu respectivo licenciamento (e, portanto,

patenteia todas a comunicações de invenção que atendem os critérios da legislação de

propriedade intelectual), em Cambridge há uma abordagem integrada, que recomenda que só

se patenteie o que tem chances de tornar-se produto ou serviço.

Por outro lado, há resultados em que a diferença, embora presente, não é tão

intensa. Aqui destaca-se a quantidade de empresas. Nossa estimativa aponta que Cambridge

tem aproximadamente o dobro de spin-offs, com relação à Unicamp (seriam em torno de

4.900 na primeira, e 2.400 na segunda). Nesse caso, é preciso fazer um exercício para

relativizar a diferença a partir do cruzamento com informações referentes às diferenças de

contexto. Primeiramente, é interessante notar que a discrepância no volume de fontes de

investimento e parcerias e redes nos dois casos analisados não é proporcional aos seus

respectivos volumes de empresas. Trata-se de dois campos recorrentemente mencionados

como de grande importância no estímulo ao empreendedorismo, e as diferenças não são

desprezíveis: enquanto Cambridge conta com 16 diferentes fontes de investimento para apoiar

start-ups e spin-offs, Campinas tem duas, e ainda assim, aquela região tem apenas o dobro de

empreendimentos do que essa.

Da mesma maneira, no quesito de parcerias e redes, elementos muito importantes

para empreendedores presentes e potenciais adquirirem e trocarem conhecimentos, além de

formarem suas redes de contatos, a região de Cambridge conta com um total de 21 iniciativas,

sendo que a mais antiga data de 1987, enquanto que no entorno da Unicamp há apenas três,

todas criadas depois do ano 2000. No primeiro caso, observa-se uma grande variedade de

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iniciativas. Há aquelas que são internas à universidade, externas e mistas, há iniciativas gerais

e focadas em áreas de atuação, há algumas frequentadas somente por empreendedores, e

outras que envolvem também investidores, indústria e o setor público; há iniciativas locais de

Cambridge, outras em parceria com Londres, com a Europa e com os Estados Unidos. Ou

seja, há não só um grande volume, como também uma grande variedade de iniciativas

voltadas para a criação e fortalecimentos e parcerias e redes de empreendedores. Já no entorno

da Unicamp, observa-se apenas três iniciativas, e no entanto, essa extraordinária diferença em

quantidade e variedade de parcerias e redes das duas regiões parece não se traduzir em

semelhante desproporção entre o volume de empreendedorismo acadêmico oriundo das

respectivas universidades.

O volume e perfil do empreendedorismo acadêmico oriundo de Cambridge, que é

comparável ao da Unicamp, parece corroborar a existência do paradoxo mencionado pelos

estudos que comparam o cluster inglês com o Vale do Silício (EUA) – como por exemplo

Athreye (2001). De acordo com tal paradoxo, Cambridge apresenta resultados em escala

muito menor, apesar de ter semelhanças qualitativas com o mais famoso ecossistema

empreendedor do mundo. Ou seja, Cambridge tem excelência na produção científica e

tecnológica e gera quantidade significativa de empreendedorismo acadêmico, mas isso não se

traduz em grandes empresas nem tampouco em quantidade significativa de empresas

excepcionalmente exitosas (com grande impacto nacional, por exemplo).

No âmbito das semelhanças de resultados também podemos encontrar

explicações para a ausência de uma assimetria maior entre as quantidades de spin-offs criadas

a partir de ambas universidades. Nesse sentido, destacam-se as quantidades de funcionários (a

faixa de 1 a 10 funcionários engloba 43% das empresas de Cambridge e 52% das da Unicamp,

já para a faixa de 11 a 50 funcionários, são 39% no primeiro caso e 35% no segundo) e o

baixo volume de empresas vendidas (16% das oriundas de Cambridge e 6% das da Unicamp).

Juntos, esses dois fatores sugerem que as empresas oriundas das duas universidades

apresentam um perfil semelhante, de menor escala e crescimento mais orgânico – apesar de

ambas contarem com alguns poucos exemplos de grande porte como é o caso da ARM em

Cambridge e da Movile em Campinas. Vale ressaltar, entretanto, que há fortes limitações ao

uso da quantidade de funcionários como proxy do tamanho ou da taxa de crescimento de uma

empresa, inclusive em áreas de atuação importantes dentro de nossa amostra, como por

exemplo tecnologia da informação e telecomunicações e software, que apresentam

crescimento de mercado menor e maior dependência de poucos clientes.

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Dentre as semelhanças de resultado destacam-se ainda as áreas de atuação das

empresas oriundas das universidades (predominantemente Ciência, Tecnologia, Engenharia e

Matemática) e a curva de criação anual de empresas – que em ambos os casos se inicia na

década de 1960 e apresenta padrões análogos de crescimento.

Finalmente no que diz respeito às semelhanças de contexto, destacam-se as

quantidades de docentes e alunos (em 2017 Cambridge tinha respectivamente 1.666 e 21.656

e a Unicamp 1.867 e 35.656) e principalmente o surgimento do marco legal de inovação, que

no Reino Unido é tardia quando comparada a outros países desenvolvidos – ocorre no final

dos anos 1990. Assim, nesse ponto o caso inglês assemelha-se ao brasileiro, cuja Lei de

Inovação data de 2004. O Reino Unido não dispõe de uma legislação federal de apoio

à inovação (como a Lei de Inovação brasileira), mas apesar disso tal apoio fica evidente,

principalmente a partir do fortalecimento dos fundos públicos para pesquisa e do aumento do

apoio governamental às iniciativas de inovação e empreendedorismo que ocorrem em fins dos

anos 1990 e início dos anos 2000. Por sua vez no Brasil a inovação só passa a ser percebida

como desafio nacional nos anos 2000, e o incentivo governamental é marcado pela

promulgação da Lei de Inovação em 2004. Além disso, o processo de perceber que a ideia de

que os proventos decorrentes de licenciamento de tecnologia representariam uma fonte

importante de receita para a universidade era na realidade um mito, e que a questão da

transferência de tecnologia necessitava ser tratada de maneira mais ampla - inclusive por ter

o potencial de beneficiar um conjunto de dimensões externas e internas à universidade -

acontece no Brasil somente na década de 2010, enquanto que no Reino Unido ocorre já no

final da década de 1990.

Assim, constatamos que nem todas as diferenças entre os dois ecossistemas

apresentados são desmedidas. Há sim resultados em que há grandes diferenças entre

Cambridge e Unicamp, mas há também aqueles em que há diferenças menores, e ainda vários

em que se observa semelhanças, e uma análise detalhada dos contextos interno e externo às

universidades nos ajuda a fundamentar a explicação para a existência de tais convergências.

Os achados do presente trabalho apresentam diversas semelhanças com o que

indica a literatura. Dentre elas, destacam-se os fatos de o empreendedorismo acadêmico ir

além do licenciamento formal de propriedade intelectual das universidades e de que muitas

empresas que se originam nas universidades resultam de relações informais de transferência

de conhecimento e tecnologia e outras formas de interação que envolvem uma gama muito

mais ampla de atores.

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Siegel e Wright (2015a) destacam os principais fatores que levaram à ampliação

do escopo do empreendedorismo acadêmico, especialmente na última década: a criação de

espaços específicos para a apoiar a transferência de tecnologia e o empreendedorismo; o

crescimento significativo de cursos e programas de empreendedorismo oferecidos pelas

universidades; a implementação de centros de empreendedorismo; o crescimento do número

de empreendedores externos presentes nas universidades para estimular a criação de start-ups;

o rápido crescimento do apoio aos alunos e ex-alunos englobando vários aspectos do

ecossistema empreendedor e incluindo fundos de comercialização e competições de planos e

modelos de negócio. Os achados da presente dissertação em ambos os estudos de caso

apontam na mesma direção: há por exemplo a oferta de cursos e programas de

empreendedorismo a partir de 1999 em Cambridge e a partir do início dos anos 2000 na

Unicamp, a presença de fundos a partir de 1995 em Cambridge e 2011 na Unicamp e de

competições de planos e modelos de negócio a partir de 2011 na Unicamp.

Conforme apontam os trabalhos de Guerrero e Urbano (2010), Dodgson e Staggs

(2012) e Hsu et al (2015), dentre os fatores externos que influenciam os empreendimentos

acadêmicos destacam-se a disponibilidade de capital de risco, que não só financia como

também orienta a operação de novos negócios; a localização em um cluster de alta tecnologia,

que facilita o acesso a redes de contatos e a conhecimento especializado; e a criação de

legislação específica ou outros mecanismos governamentais que favoreçam a criação de spin-

offs. Nesses critérios observa-se tanto semelhanças com os resultados obtidos, quanto

diferenças. As semelhanças estão na localização em cluster de alta tecnologia, que é o caso

tanto do entorno da universidade de Cambridge quanto do da Unicamp, e na legislação.

Conforme afirma Shane (2004), um dos mais destacados fatores externos à universidade de

estímulo à criação de spin-offs é a existência de um marco legal de inovação adequado. Brasil

e Reino Unido criaram seus arcabouços institucionais para estimular o empreendedorismo

acadêmico e a transferência de conhecimento respectivamente no ano 2004 e no final dos

anos 1990 - tardiamente, em comparação com outros países desenvolvidos. Houve diferenças

na forma de implementação e há diferenças nos tipos de apoio disponíveis, mas ambos

oferecem o suporte legal necessário para empreender. Ademais, é de se esperar que haja

diferenças uma vez que, conforme conclui o estudo de caso conduzido por Davey et al (2016),

países menos desenvolvidos precisam adaptar estratégias e mecanismos aos seus contextos

específicos e não somente imitar estratégias, mecanismos, estruturas e atividades

implementadas nos países desenvolvidos. Por sua vez a diferença está na disponibilidade de

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financiamento: enquanto o entorno de Cambridge tem um total de 16 fontes, entre

investimento anjo, semente e venture capital, no entorno da Unicamp há apenas duas. No

entanto, como já observado, essa discrepância não é proporcional às outras diferenças, nem às

quantidades de empresas oriundas de cada uma das universidades – que são bem mais

próximas.

Já no que diz respeito aos fatores internos também há semelhanças entre os

achados da presente dissertação e o que sugere a literatura. No que diz respeito aos recursos

físicos, Link e Scott (2015) destacam a presença de incubadoras de empresas, sobretudo

quando as relações entre pesquisadores e universidades são mais intensas, e também a

de parques científicos e tecnológicos. Tanto a incubadora quanto os parques funcionam como

"instituições ponte", tendo por função facilitar a difusão da pesquisa acadêmica para o setor

privado. Nos casos estudados observa-se a presença de ambas: as universidades são rodeadas

de parques, incubadoras – e também aceleradoras – que dão suporte respectivamente a

empresas mais estabelecidas e nascentes.

Outro ponto em que há semelhanças entre a literatura e os resultados dos estudos

de caso é com relação à política de propriedade intelectual das universidades. Uma série de

estudos, sobretudo na Europa, indicam que políticas que atribuem as invenções aos inventores

inibem a criação de spin-offs ou mesmo chegam a criar uma postura anti-empreendedora no

corpo docente e na administração da universidade, que nesse cenário não se beneficiam da

atividade empreendedora dos acadêmicos (Hsu et al, 2015, O'Shea et. al, 2007b). A

universidade de Cambridge até 2005 concedia a titularidade da propriedade intelectual aos

seus inventores e, ainda que a administração central não apoiasse ativamente a transferência

de tecnologia, tampouco impedia seus pesquisadores de desenvolver aplicações comerciais ou

empreender, desde que continuassem cumprindo suas atividades de ensino e pesquisa

(Garnsey & Heffernan, 2005). Em 2005 foi implementada a nova política de propriedade

intelectual e as tecnologias passaram a pertencer à universidade, que por sua vez se

responsabiliza por todos os aspectos de sua proteção e eventual licenciamento. Ao analisar a

curva de criação anual de empresas, notamos que em 2004, ou seja imediatamente antes da

implementação da nova política, foram criadas 23 empresas oriundas de Cambridge, e uma

década depois, em 2014, foram criadas 77. Ainda que certamente haja outros fatores a

influenciar esses números, é interessante observar como o número de empresas criadas

anualmente triplicou nos dez primeiros anos após a mudança na política de propriedade

intelectual da universidade.

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Com o objetivo de dar continuidade ao estudo dos determinantes do

empreendedorismo acadêmico sugerem-se como objetos de pesquisa futura (i) uma análise

qualitativa das empresas criadas no âmbito do empreendedorismo acadêmico, e (ii) a análise

dos outros dois fatores que influenciam a criação de spin-offs e a atividade empreendedora no

âmbito acadêmico de acordo com O’Shea et al (2007) e que não foram analisados nessa

dissertação: contexto sociocultural da universidade (ênfase do empreendedorismo acadêmico

na missão da universidade, cultura, história, atitude de pesquisadores e estudantes sobre

empreendedorismo acadêmico, compromisso com a exploração comercial da pesquisa etc) e

características e percepções individuais (personalidade, idade, histórico acadêmico, grau de

disposição a empreender, histórico empreendedor na família, capacidade de reconhecimento

de oportunidade etc).

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