FÁTIMA OLIVEIRA CAIADO - 2015 - CURRICULUM VITAE - ACADÉMICO E PROFISSIONAL - EM PORTUGUÊS
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES
FRANSOEL CAIADO DECARLI
O TROMBONE BAIXO: UM ESTUDO SOBRE OS
ASPECTOS HISTÓRICOS E INTERPRETATIVOS DO
REPERTÓRIO SACRO E SINFÔNICO
CAMPINAS-SP
2017
FRANSOEL CAIADO DECARLI
O TROMBONE BAIXO: UM ESTUDO SOBRE OS
ASPECTOS HISTÓRICOS E INTERPRETATIVOS DO
REPERTÓRIO SACRO E SINFÔNICO
ORIENTADOR: PROF. DR. PAULO ADRIANO RONQUI
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL
DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO
FRANSOEL CAIADO DECARLI, E ORIENTADO PELO
PROF. DR. PAULO ADRIANO RONQUI.
CAMPINAS-SP
2017
Dissertação apresentada ao Instituto de Artes da
Universidade Estadual de Campinas como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em
Música, com área de concentração em Música: Teoria,
Criação e Prática.
BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO
FRANSOEL CAIADO DECARLI
ORIENTADOR – PROF. DR. PAULO ADRIANO RONQUI
MEMBROS:
1. PROF. DR. PAULO ADRIANO RONQUI
2. PROF. DR. LEANDRO BARSALINI
3. PROF. DR. ALEXANDRE MAGNO E SILVA FERREIRA
Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da Universidade
Estadual de Campinas.
A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca
examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.
Campinas, 21 de agosto de 2017.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me proporcionar saúde e sabedoria para realizar este trabalho.
A minha esposa Mônica, que além do apoio, me fez acreditar que seria possível alcançar esse
objetivo. Obrigado pela compreensão, paciência, carinho e por estar ao meu lado em todos os
momentos.
A todos os meus familiares, em especial a minha mãe Ana Maria e a minha irmã Monize, que
além de apoiarem, incentivarem e participarem desse trabalho, são responsáveis pelos valores
que carrego comigo. Meus sinceros agradecimentos.
Ao Prof. Dr. Paulo Adriano Ronqui, por confiar no desenvolvimento desse trabalho, por sua
disponibilidade, dedicação, orientação e ensinamentos. Suas contribuições foram de grande
importância para a realização dessa dissertação.
Ao meu grande amigo e professor de trombone Robson de Nadai, pelo estímulo, parceria,
companheirismo, apoio, conselhos profissionais e pessoais, além de compartilhar todo seu
conhecimento musical comigo durante esses anos.
Ao programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes da Unicamp.
Aos professores Carlos Fiorini, Eduardo Ostergren, Rodrigo dos Santos, Alexandre Magno e
Dennis Bubert por compartilharem informações e conhecimentos musicais comigo.
Aos amigos Jefferson Anastácio, Elivelton Leite, Héllio Couto, Felipe Coelho, Alberto Dias e
Wellington Ronqui, que participaram diretamente das gravações de áudios que estão anexadas
no trabalho.
Ao prof. Sérgio pelas aulas de inglês que me auxiliaram no decorrer do trabalho, e ao amigo
Samuel Brizola, que também me ajudou neste campo.
Aos trombonistas baixos Ricardo Santos, Ben van Dijk, James Markey, George Curran,
Douglas Yeo e Martin Schippers pelas entrevistas realizadas.
Aos amigos da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, Grupo Metallumfonia e Sexteto
Carlos Gomes pelo companheirismo por todos esses anos.
RESUMO
A presente dissertação fornece um relato histórico e apresenta elementos interpretativos do
trombone baixo no repertório sacro e sinfônico orquestral. Para isso, realizou-se uma revisão
histórica da literatura com foco nas primeiras aparições dos trombones graves ao longo do
século XVI, suas alterações estruturais no decorrer dos séculos seguintes, até culminar no
trombone baixo conhecido na atualidade. Além disso, desenvolveu-se um estudo com ênfase
em composições sacras e sinfônicas específicas de distintos períodos da história da música
ocidental que utilizaram o trombone baixo em suas instrumentações. Como resultado, foi
possível verificar e apresentar as características musicais atribuídas ao instrumento em certas
obras ao longo dos séculos. O trabalho de performance da dissertação baseou-se em uma
seleção de trechos orquestrais que apresentam tais peculiaridades, às quais foram propostas
sugestões de performance. Para justificar essas escolhas, realizou-se gravações desses excertos,
com o objetivo de criar uma referência auditiva.
Palavras-chave: Trombone Baixo; Naipe de Trombones; Obras Sacras e Sinfônicas; Sugestões
de Performance.
ABSTRACT
The present dissertation introduce a historical account and provides interpretative elements of
the bass trombone on the sacred and symphonic orchestral repertoire. To achieve this, an
historical literature review has been conducted focusing on the first appearances of the low
trombones during the 16th century, its structural alterations throughout the following centuries,
until reaching the bass trombone known nowadays. In addition to this, a study was carried out
focusing on specific sacred and symphonic compositions from distinct periods of the Western
music history that made use of the bass trombone in its instrumentations. As a result, it was
possible to verify and present the musical characteristics assigned to the instrument in certain
works over the centuries. The performance work of the dissertation was based on a selection of
orchestral excerpts that present such peculiarities, to which performing suggestions were
proposed. To justify these choices, a series of recording of these excerpts have been made, with
the objective of creating an auditory reference.
Keywords: Bass Trombone; Trombone Section; Sacred and Symphonic Works; Performing
Suggestions.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Instrumentos de sopros descritos por Michael Praetorius no tratado Syntagma
Musicum (1618). ....................................................................................................................... 26
Figura 2: Original Bass-Sackbut in Eb. Model Isaac Ehe, Nuremberg 1612. Este instrumento
encontra-se em exposição no Germanic National Museum em Nuremberg. ........................... 27
Figura 3: Braço extensor conectado a vara do instrumento que permite o alcance das últimas
posições. ................................................................................................................................... 27
Figura 4: Braço conectado ao tubo superior do instrumento que possibilita a alteração da
afinação em até um tom. ........................................................................................................... 28
Figura 5: Classical Bass-Sackbut in F. ..................................................................................... 28
Figura 6: Bass-Sackbut in Eb and D or in F. Model Ehe. ........................................................ 29
Figura 7: Renaissance Bass-Sackbut in F or Eb. Model Ehe. Este instrumento é uma reprodução
do Bass-Sackbut que se encontra em exposição no Germanic National Museum, apresentado na
Figura 2. .................................................................................................................................... 29
Figura 8: Quart-Posaune construído por Pierre Colbert em 1593. Atualmente o instrumento
encontra-se no Rijksmuseum em Amsterdam. .......................................................................... 30
Figura 9: Tessitura dos trombones baixos afinados em Fá, Mi bemol e Sol. ........................... 32
Figura 10: Octav-Posaune construído por Georg Nicolaus Oller em Estocolmo em 1639. .... 33
Figura 11: Nicholas Eastop (1961-), trombonista da The Chamber Orchestra of Europe
executando o octav-posaune construído por Oller. .................................................................. 34
Figura 12: Trombone contrabaixo de êmbolo duplo. ............................................................... 34
Figura 13: Detalhes do êmbolo duplo na parte final da vara do instrumento. .......................... 35
Figura 14: Detalhes do êmbolo duplo....................................................................................... 35
Figura 15: Trombone de válvulas construído por F. Besson (s/d) em Londres no ano de 1876.
Este instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.38
Figura 16: Trombone baixo de válvulas com afinação em Fá, construído por August Beyde (s/d)
em meados do século XIX. Este instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais
da Edinburgh University. .......................................................................................................... 38
Figura 17: Trombone baixo de válvulas com afinação em Sol, construído por Higham (s/d) em
1911. Este instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh
University. ................................................................................................................................ 39
Figura 18: Bass Cavalry Valve Trombone afinado em Si bemol e Fá, construído em 1919 por
Le Brun. Este instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh
University. ................................................................................................................................ 40
Figura 19: Bass-Armeeposaune. ............................................................................................... 41
Figura 20: Trombone baixo afinado em Sol construído por John Green (s/d) em 1835. Este
instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University. ....... 43
Figura 21: Trombone baixo em Sol com o braço extensor conectado à vara. Este instrumento
se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University. ........................... 44
Figura 22: Trombone baixo em Sol/Ré construído por Antoine Courtois (s/d) por volta de 1870.
Este instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.44
Figura 23: Godfrey Kneller (s/d) tocando o trombone baixo em Sol/Ré com Orquestra
Filarmônica de Londres em 1946. ............................................................................................ 45
Figura 24: Trombone baixo em Si bemol/Fá de calibre 0,555ʺ. Modelo The Imperial 4043
desenvolvido pela fabricante Boosey & Hawkes em meados de 1950. .................................... 46
Figura 25: Trombone contrabaixo da marca Antoine Courtois de vara dupla construído entre
1890 e 1899. O instrumento encontra-se na coleção de instrumentos musicais da Edinburg
University. ................................................................................................................................ 47
Figura 26: Trombone contrabaixo Miraphone de vara dupla e válvula em Fá. ....................... 47
Figura 27: Trombone contrabaixo construído por Ernst Dehmel por volta de 1924. Este
instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University. ....... 49
Figura 28: Trombone construído por Sattler em 1835. Este instrumento se encontra na coleção
da Universidade de Leipzig na Alemanha. ............................................................................... 50
Figura 29: Trombone baixo de uma válvula construído por Penzel (s/d) no século XIX. ....... 51
Figura 30: Válvula estática anexada pelo construtor Lefevre em Paris no início do século XX.
.................................................................................................................................................. 53
Figura 31: Trombone baixo Conn 70H. ................................................................................... 53
Figura 32: Trombone baixo Holton Symphony 6. .................................................................... 54
Figura 33: Trombone baixo Olds S-23 com duas válvulas dependentes (Si bemol/Fá/Mi). .... 55
Figura 34: Kauko Kahila com seu trombone baixo da marca Reynolds, modelo Contempora 78x
em 1960. ................................................................................................................................... 56
Figura 35: Erik van Lier com seu trombone baixo afinado em Si bemol/Fá/Ré/Si.................. 57
Figura 36: Trombone baixo Olds S-24G com duas válvulas independentes. ........................... 58
Figura 37: Em A observa-se a passagem do ar pelo trombone quando a válvula não está
acionada. Em B, a passagem do ar pelos tubos do trombone quando a válvula está acionada.59
Figura 38: Válvula rotativa. ...................................................................................................... 62
Figura 39: Válvula de pisto introduzida por Adolphe Sax. ...................................................... 63
Figura 40: Válvula Stellventil que o construtor alemão Kruspe anexou no trombone baixo. .. 63
Figura 41: Válvulas cônicas no sistema Axial Flow. ................................................................ 64
Figura 42: Válvulas Hagmann no sistema Free-Flow. ............................................................ 64
Figura 43: Varas fabricadas com distintos materiais. ............................................................... 65
Figura 44: Campana produzida pela Edwards Instruments. ..................................................... 66
Figura 45: Campanas de rosca (9ʺ, 9,5ʺ e 10,5ʺ) produzidas pela Thein Brass. ...................... 67
Figura 46: Leadpipes. ............................................................................................................... 67
Figura 47: Tuning slides. .......................................................................................................... 68
Figura 48: Partes de um bocal. ................................................................................................. 68
Figura 49: Bass Trombone Courtois, model AC550. ................................................................ 76
Figura 50: Bass trombone Edwards, model B454. ................................................................... 77
Figura 51: Bass trombone Shires. ............................................................................................ 78
Figura 52: Bass Trombone Thein, model Ben Van Dijk. ......................................................... 79
Figura 53: Bass Trombone Bach, model 50T3. ........................................................................ 80
Figura 54: Trombone Baixo Weril. .......................................................................................... 81
Figura 55: Bass Trombone Yamaha, model YBL-830. ............................................................. 82
Figura 56: Ilustração que apresenta as características e as imagens dos trombones graves
pesquisados. .............................................................................................................................. 83
Figura 57: Ilustração que apresenta as características e as imagens dos trombones graves
pesquisados. .............................................................................................................................. 84
Figura 58: Iconografia italiana do século XVI que representa um grupo instrumental da época.
.................................................................................................................................................. 86
Figura 59: Instrumentação da ópera L´Orfeo de Claudio Monteverdi. .................................... 91
LISTA DE EXEMPLOS
Exemplo 1: Trecho da parte do trombone contrabaixo na II Scene da ópera Das Rheingold de
Richard Wagner. Compassos 339 ao 448. ................................................................................ 48
Exemplo 2: Notas que o trombone baixo passou a executar com o auxílio da válvula em Fá,
com exceção da nota Si, que era necessário a abertura da tubagem acoplada à válvula. ......... 52
Exemplo 3: Notas musicais e suas respectivas posições na afinação fundamental (Si bemol).
.................................................................................................................................................. 60
Exemplo 4: Notas musicais com a válvula em Fá acionada. .................................................... 60
Exemplo 5: Notas musicais com a válvula em Sol bemol acionada. ....................................... 61
Exemplo 6: Notas musicais com as duas válvulas acionadas (Ré) ao mesmo tempo. ............. 61
Exemplo 7: Trecho da partitura de Motet Ingredere de Francesco Corteccia. Compassos 1 ao
11. ............................................................................................................................................. 87
Exemplo 8: Trecho da partitura de Intermedio V de Francesco Corteccia. Compassos 1 ao 8.
.................................................................................................................................................. 88
Exemplo 9: Trecho da partitura da Sonata pian e forte de Giovani Gabrielli. Compassos 65 ao
72. ............................................................................................................................................. 90
Exemplo 10: Trecho da partitura de L´Orfeo de Monteverdi. Compassos 23 ao 25 (Primo Atto).
.................................................................................................................................................. 92
Exemplo 11: Trecho de L´Orfeo para ser executado por cinco trombones. Compassos 141 ao
144 (Atto Terzo). ....................................................................................................................... 93
Exemplo 12: Trecho da partitura da Cantata O Jesu Christ meins Lebens Licht - BWV 118 de
Johann Sebastian Bach. Compassos 1 ao 12. ........................................................................... 96
Exemplo 13: Trecho da partitura da ópera Orfeo ed Euridice de Christoph Willibald Gluck que
demonstra o dobramento de vozes entre trombones e coro. Compassos 1 ao 7 (Chor). .......... 98
Exemplo 14: Trecho da partitura do Offertorium do Requiem in D minor de Mozart que mostra
o dobramento de vozes entre trombones e coro. Compassos 44 ao 51. ................................... 99
Exemplo 15: Trecho do oratório The Creation de Haydn que evidencia a combinação do
trombone baixo, contra-fagote e contrabaixos. Compassos 76 ao 80. ................................... 100
Exemplo 16: Partitura da Symphony n° 5 de Beethoven que demonstra o naipe de trombones
em um tutti orquestral. Compassos 374 ao 380. ..................................................................... 104
Exemplo 17: Parte do trombone baixo do 2° movimento da Symphony n° 9 (1822/1824) de
Beethoven que demonstra uma pequena melodia executada por violas, violoncelos e o trombone
baixo. Compassos 473 ao 688. ............................................................................................... 105
Exemplo 18: Partitura da Symphony n° 8 de Schubert que mostra uma melodia entre trombones
e cordas graves. Compassos 176 ao 189................................................................................. 106
Exemplo 19: Partitura da Symphony n° 8 de Schubert que mostra o final da obra, na qual
clarinetes, fagotes e trombone baixo executam uma passagem solista em ppp. Compassos 280
ao 299 (2° movimento). .......................................................................................................... 107
Exemplo 20: Solo escrito para o naipe de trombones em Guillaume Tell Overture de Rossini.
Compassos 92 ao 140. ............................................................................................................ 108
Exemplo 21: Solo escrito para o trombone na obra La Gazza Ladra de Rossini. Compassos 113
ao 139. .................................................................................................................................... 109
Exemplo 22: Trecho da partitura do 3° trombone da obra La Damnation de Faust de Hector
Berlioz que demonstra notas do extremo grave do instrumento. Compassos 1 ao 128 (XVIII).
................................................................................................................................................ 111
Exemplo 23: Coro da Symphony n° 3 de Schumann. Compassos 1 ao 6 (4° movimento). .... 112
Exemplo 24: Partitura do solo escrito para o trombone baixo na Symphony n° 3 de Schumann.
Compassos 1 ao 22 (4° movimento). ...................................................................................... 113
Exemplo 25: Coro de trombones e fagotes da Symphony n° 1 de Brahms. Compassos 47 ao 51
(4° movimento). ...................................................................................................................... 113
Exemplo 26: Solo escrito para o naipe de trombones em Der Fliegende Hollander de Richard
Wagner. Compassos 234 ao 243............................................................................................. 114
Exemplo 27: Frase musical de Nutcracker que demonstra as combinações de trompetes e
trombones tenores, bem como a de trombone baixo, tuba e cordas graves. Compassos 42 ao 45
(Pas de Deux). ........................................................................................................................ 116
Exemplo 28: Combinação de um trecho cantabile com dinâmica ppp, articulação legato e
intervalos de oitavas justas entre trombone baixo e tuba escrito por Dvorák em Carnaval
Overture. Compassos 271 ao 298. .......................................................................................... 117
Exemplo 29: Trecho em tessitura aguda escrito para o trombone baixo na Symphony in D minor
de César Franck. Compassos 267 ao 278 (3° movimento). .................................................... 118
Exemplo 30: Trecho escrito para o trombone baixo na Symphony n° 5 de Mahler, que utiliza a
articulação stacatto na tessitura grave do instrumento. Compassos 250 ao 254 (1° movimento).
................................................................................................................................................ 118
Exemplo 31: Partitura do trombone baixo de Petrushka que mostra um trecho agudo com
surdina em uníssono com os outros trombones. Compassos 88 ao 111. ................................ 119
Exemplo 32: Glissando escrito para o trombone baixo no Concerto for Orchestra (1943) de
Béla Bartók. Compasso 90 (4° movimento). .......................................................................... 119
Exemplo 33: Frullatos escritos para o trombone baixo em Don Quixote (1897) de Richard
Strauss. Compassos 1 ao 35 (Variação II). ............................................................................. 120
Exemplo 34: Partitura do Offertorium do Requiem in D minor de Mozart que demonstra o
dobramento de vozes entre os trombones e o coro. Compassos 44 ao 55. ............................. 123
Exemplo 35: Partitura dos trombones do Offertorim do Requiem in D minor com sugestões de
articulação. Compassos 44 ao 52. ........................................................................................... 125
Exemplo 36: Partitura do trombone baixo da cantata O Jesu Christ meins Lebens Licht - BWV
118 de Bach. Compassos 1 ao 108. ........................................................................................ 128
Exemplo 37: Frase em uníssono executada pelo trombone baixo e contrabaixos no Duett mit
Chor (n° 28) do oratório The Creation de Haydn. Compassos 290 ao 319. .......................... 130
Exemplo 38: Partitura do 4° movimento da Symphony n° 5 de Beethoven que mostra um tutti
orquestral. Compassos 1 ao 8 (4° movimento). ...................................................................... 132
Exemplo 39: Partitura do naipe de trombones na performance de um tutti orquestral escrito em
Petrushka de Igor Stravinsky. Compassos 41 ao 61. ............................................................. 133
Exemplo 40: Coro escrito para o naipe de trombones na Symphony n° 3 de Schumann.
Compassos 1 ao 6 (4° movimento). ........................................................................................ 135
Exemplo 41: O exemplo mostra a diferença entre o legato natural e o artificial. .................. 136
Exemplo 42: Parte do trombone baixo do coro da Symphony n° 3 de Schumann com marcações
de posições, utilização da válvula e da língua. Compassos 1 ao 6. ........................................ 137
Exemplo 43: Parte do naipe de trombone do Offertorium do Requiem in D minor de Mozart.
Compassos 44 ao 51. .............................................................................................................. 139
Exemplo 44: Partitura dos trombones da introdução da obra Der Fliegende Hollander de
Richard Wagner. Compassos 9 ao 15. .................................................................................... 139
Exemplo 45: Trecho dos trombones nas Pas de Deux de The Nutcracker de Tchaikovsky
(1892). Compassos 46 ao 49. ................................................................................................. 140
Exemplo 46: Trecho da partitura do trombone baixo e da tuba de Pas de Deux da obra The
Nutcracker. Compassos 45 e 46. ............................................................................................ 143
Exemplo 47: Trecho da partitura do trombone baixo e da tuba da obra Carnival Overture de
Dvorák. Compassos 271 ao 298. ............................................................................................ 144
Exemplo 48: Trecho escrito no 3° movimento da Symphony in D minor de César Franck que
mostra um solo em tessitura aguda para o trombone baixo. Compasso 267 ao 278. ............. 146
Exemplo 49: Passagem musical em tessitura grave escrita para o trombone baixo na Symphony
n° 5 de Mahler. Compassos 250 ao 254. ................................................................................ 147
Exemplo 50: Efeito do glissando escrito no Concerto for Orchestra de Béla Bartók. Compasso
90. ........................................................................................................................................... 149
Exemplo 51: Trecho que o naipe de trombones utiliza as surdinas na obra Petrushka (1911) de
Igor Stravinsky. Compassos 39 ao 42. ................................................................................... 151
Exemplo 52: Solo escrito para o trombone baixo no 4° movimento da Symphony n° 3 de
Schumann. Compassos 12 ao 18. ........................................................................................... 153
Exemplo 53: Solo escrito para o trombone baixo em An American in Paris de Gershwin.
Compassos 390 ao 392. .......................................................................................................... 154
Exemplo 54: Solo escrito para o trombone baixo em Don Quixote de Richard Strauss.
Compassos 58 ao 60. .............................................................................................................. 155
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Comparação entre um sacabuxa construído no século XVI com um trombone tenor
fabricado no século XXI. .......................................................................................................... 24
Tabela 2: Especificações de quart-posaune construídos nos séculos XVI e XVII. ................. 31
Tabela 3: Bocais com diâmetro de copo compreendidos entre 26,5 mm e 27,9 mm. .............. 70
Tabela 4: Bocais com diâmetro de copo compreendidos entre 28 mm e 29,5 mm. ................. 71
Tabela 5: Os variados formatos de copos dos bocais da atualidade. ........................................ 72
Tabela 6: Variados tipos de surdinas utilizadas pelo trombone baixo. .................................... 75
Tabela 7: Tabela que demonstra as afinações, dimensões de calibres, de campanas e quantidade
de válvulas dos trombones baixos utilizados na música sacra e sinfônica nos distintos séculos.
................................................................................................................................................ 120
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 20
CAPÍTULO 1: UM RELATO HISTÓRICO DO TROMBONE BAIXO ......................... 23
1.1 - Família dos trombones ............................................................................................... 25
1.1.1 - O Quart-Posaune - Trombone Baixo .................................................................... 27
1.1.2 - O Octav-Posaune - Trombone Contrabaixo .......................................................... 33
1.2 - Século XIX: período de transformações nos instrumentos de metal ..................... 36
1.2.1 - Trombone de válvulas ............................................................................................ 37
1.2.2 - Trombone baixo em Sol ......................................................................................... 42
1.2.3 - Reutilização do trombone contrabaixo na música sinfônica.................................. 47
1.2.4 - Trombone tenor/baixo ............................................................................................ 50
1.3 - Trombone baixo da atualidade .................................................................................. 52
1.4 - Partes estruturais do trombone baixo ...................................................................... 58
1.4.1 - Válvulas rotativas................................................................................................... 58
1.4.2 - Varas ...................................................................................................................... 65
1.4.3 - Campanas ............................................................................................................... 66
1.4.4 - Leadpipes e tuning slides ...................................................................................... 67
1.4.5 - Bocais ..................................................................................................................... 68
1.4.6 - Surdinas.................................................................................................................. 73
1.5 - Fabricantes da atualidade .......................................................................................... 76
CAPÍTULO 2: A UTILIZAÇÃO DO TROMBONE BAIXO NO REPERTÓRIO SACRO
E SINFÔNICO ........................................................................................................................ 85
2.1 - A atuação do trombone baixo no repertório sacro e sinfônico ............................... 85
2.2 - Caraterísticas no emprego do trombone baixo na atualidade: recomendações
interpretativas e instrumentais ........................................................................................ 121
2.2.1 - O naipe de trombones com a função de substituir e/ou dobrar as vozes do coro 121
2.2.2 - O baixo contínuo dobrado pelo trombone baixo.................................................. 126
2.2.3 - A combinação do trombone baixo com instrumentos de cordas e de madeiras
graves .............................................................................................................................. 129
2.2.4 - O naipe de trombones nos tuttis orquestrais ........................................................ 131
2.2.5 - Os coros do naipe de trombones nas obras sinfônicas ......................................... 134
2.2.6 - O naipe de trombones utilizado com potência sonora ......................................... 138
2.2.7 - O trombone baixo atuando em conjunto com a tuba ........................................... 141
2.2.8 - Ampliação da tessitura do trombone baixo .......................................................... 145
2.2.9 - Efeitos de glissando e surdina.............................................................................. 148
2.2.10 - Solos de trombone baixo nas obras orquestrais ................................................. 152
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 157
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 161
APÊNDICE 1 ........................................................................................................................ 168
APÊNDICE 2 ........................................................................................................................ 185
20
INTRODUÇÃO
É fato que a pesquisa acadêmica voltada para os instrumentos de metal cresceu nos
últimos anos no Brasil. Encontrar trabalhos e documentos que tratam especificamente sobre o
trombone baixo não é uma tarefa simples, pois ainda existe uma carência de publicações
nacionais sobre o instrumento. Dentre alguns trabalhos acadêmicos encontrados onde citam o
trombone baixo, nota-se serem apenas menções sobre o instrumento, visto que normalmente o
foco é o trombone de uma forma geral.
Com o intuito de preencher parte dessa lacuna, o propósito central do presente
trabalho foi realizar uma investigação sobre a história e a utilização do trombone baixo no
repertório sacro e sinfônico, uma vez que o emprego do instrumento possui um amplo campo
de atuação musical.
Este estudo teve o objetivo de demonstrar fatos históricos relacionados ao
instrumento, como: o surgimento, a construção, as diferenciadas válvulas e suas afinações, os
bocais, as surdinas e os principais fabricantes da atualidade. Também procurou-se demonstrar
a forma com que o trombone baixo foi empregado nas obras sacras e sinfônicas no decorrer dos
séculos. Para tanto, estudou-se trechos orquestrais de distintos compositores da história da
música que permitiram constatar funções e características musicais exercidas pelo instrumento
e por todo o naipe de trombones. Por meio dos elementos acima mencionados, foi possível
oferecer sugestões interpretativas na performance de alguns excertos orquestrais, e também,
recomendar dimensões de campanas do trombone baixo para a execução de tais trechos, os
quais foram gravados em arquivos de áudio a fim de proporcionar um referencial auditivo.
Justifica-se a realização deste trabalho por tratar-se de uma pesquisa de carácter
inédito, assim, oferecendo a comunidade uma publicação nacional que apresenta a história e a
utilização do trombone baixo em obras sacras e sinfônicas orquestrais. Desse modo, este
trabalho poderá ser utilizado como referencial teórico direcionado aos estudantes e professores
do trombone baixo, além de pesquisadores, regentes e arranjadores. Outro enfoque inédito
apresentado na presente pesquisa, relaciona-se às sugestões interpretativas e recomendações
instrumentais para a execução de trechos orquestrais, pois poderão servir como ferramentas de
auxílio à performance dos excertos selecionados e de outras composições que apresentam as
mesmas peculiaridades musicais.
Quanto à metodologia empregada para o desenvolvimento do trabalho, realizou-se
buscas em diversificadas referências bibliográficas nacionais e estrangeiras com o tema
21
relacionado à família dos trombones e à evolução dos instrumentos de metal de uma forma
geral. Essa investigação apoiou-se nas publicações de: SACHS (1940); KLEINHAMMER
(1963); CARSE (1964); BATE (1966); DEL MAR (1987); GUION (1988); BAINES (1993);
ORTOLAN (1998); HERBERT (2006); HIGH (2006); FONSECA (2008); KROSSCHELL
(2008); SANTOS (2009); WICK (2011); BURROWS (2013); YEO (2015), assim como nos
tratados de PRAETORIUS (1619), BERLIOZ (1858) e PISTON (1969). Além disso, os sites
dos principais fabricantes do instrumento na atualidade, bem como, o contato via e-mail com
alguns de seus representantes, tornaram-se fontes relevantes para a obtenção de informações.
Juntamente com a pesquisa bibliográfica, foram realizadas entrevistas via e-mail
com trombonistas baixos atuantes em orquestras de grande relevância no cenário nacional e
internacional da atualidade, como a Orquestra Sinfônica de Boston, Orquestra Filarmônica de
Rotterdam, Orquestra Filarmônica de Nova York, Orquestra Sinfônica Brasileira e a Royal
Concertgebouw Orchestra. O intuito dessas entrevistas foi investigar as particularidades na
performance de composições dos diferentes períodos, e saber se esses instrumentistas utilizam
mais de um trombone baixo na execução de obras orquestrais. As entrevistas encontram-se no
Apêndice 1 desta dissertação1.
Este trabalho foi elaborado do seguinte modo: no Capítulo 1 encontra-se o relato
histórico do trombone baixo, no qual abordou-se aspectos estruturais do instrumento. Esse
estudo partiu dos primeiros trombones graves encontrados no século XVI, passando pelas
transformações ocorridas devido aos avanços tecnológicos do século XIX, pelas novas
melhorias acontecidas no século XX, até chegar no instrumento fabricado atualmente. Também
optou-se por demonstrar as partes que compõe o instrumento em separado, a fim de especificar
a função de cada uma delas. O Capítulo 2 apresenta o emprego do trombone baixo no repertório
sacro e sinfônico, no qual procurou-se evidenciar através de trechos de obras orquestrais dos
diversos períodos da história, as funções e as caraterísticas musicais específicas que os
compositores atribuíram ao instrumento. Após evidenciar tais elementos nos excertos
orquestrais selecionados, decidiu-se oferecer sugestões interpretativas e recomendações sobre
as dimensões de campanas para performance de cada trecho selecionado. Para exemplificar de
maneira auditiva os conceitos técnicos e interpretativos oferecidos, tais excertos orquestrais
1 Relação dos trombonistas baixos entrevistados: Douglas Yeo (1955-) – Orquestra Sinfônica de Boston
(aposentado atualmente); Ben van Dijk (1955-) – Orquestra Filarmônica de Rotterdam; James Markey (1975-) –
Orquestra Sinfônica de Boston; George Curran (1976-) - Orquestra Filarmônica de Nova York; Ricardo Santos
(1980-) – Orquestra Sinfônica Brasileira e Martin Schippers (1982-) - Royal Concertgebouw Orchestra.
22
foram gravados2 e estão disponíveis nos links que se encontram no Apêndice 2, como também
no decorrer da dissertação.
Como produto, a presente dissertação de mestrado disponibiliza à comunidade um
trabalho de caráter inédito e original que oferece um relato histórico do trombone baixo em
língua portuguesa, além de um detalhado estudo sobre a utilização do instrumento na música
sacra e sinfônica orquestral ao longo dos séculos. Além disso, também são disponibilizadas
sugestões interpretativas e instrumentais relevantes para os trechos orquestrais selecionados.
2 As gravações dos trechos orquestrais que estão disponíveis nos links apresentados no subcapítulo 2.2 e no
Apêndice 2, foram gravados pelos músicos: Fransoel Caiado Decarli (1982-), Robson Alexandre de Nadai (1966
-), Elivelton Leite dos Santos (1993-), Felipe Coelho (1989-) e Alberto Tavares Dias (1982-). Vale ressaltar que
as gravações foram realizadas no mesmo local e com o mesmo tipo de captação sonora.
23
CAPÍTULO 1: UM RELATO HISTÓRICO DO TROMBONE BAIXO
Referências iconográficas apontam que o trombone surgiu no século XV em
decorrência do avanço do trompete de vara do período da renascença (FONSECA, 2008). A
palavra trombone, utilizada nos idiomas inglês, francês e italiano, derivou-se do termo tromba
(LUMPKIN, 1974). Nos países de língua alemã, a nomenclatura utilizada para esse instrumento
é posaune, oriunda de buisine (trompete reto e longo) e basuin (instrumento de metal)
(FONSECA, 2008). Além dessas terminologias, outra palavra usada para referir-se a esse
instrumento foi sacabuxa, que de acordo com GALPIN (1906), derivou-se do francês
saqueboute: união dos termos saquier (puxar) e bouter (empurrar). Entretanto, SANTOS (2009)
esclarece que esse termo apareceu primeiramente na Espanha no século XIV. A palavra
sacabuche, originada da expressão sacar del buche, é explicada pelo movimento de inspirar e
expirar com força realizado pelo instrumentista para tocar.
Com o intuito de obter um melhor entendimento sobre esses termos, realizou-se
uma busca por diferentes fontes bibliográficas que trataram sobre essas nomenclaturas. Nessa
pesquisa, notou-se que esse assunto possui uma certa complexidade, pois envolve distintos
países e idiomas. Sendo assim, esta dissertação optou por não problematizar essa questão,
porque o tema já foi amplamente discutido em trabalhos estrangeiros e nacionais e devido ao
fato de não ser o foco principal desse estudo.
Deste modo, recomenda-se a leitura das publicações nacionais de SANTOS (2009)
e FONSECA (2008) e dos trabalhos estrangeiros de HERBERT (2006), LUMPKIN (1974),
SACHS (1940), GALPIN (1906), que se aprofundaram no estudo sobre a origem das diferentes
terminologias utilizadas para referir-se ao trombone.
Outra questão observada em algumas bibliografias que abordam assuntos referentes
aos instrumentos de metal é quanto ao uso dessas nomenclaturas. No decorrer deste capítulo,
será possível observar que o trombone sofreu algumas alterações ao longo de sua história,
principalmente em suas dimensões de campana e calibre. Esse fato fez com que alguns autores
preferissem utilizar o termo sacabuxa ou sackbutt para referirem-se ao instrumento com
pequenas dimensões de calibre e campana. Já a palavra trombone é empregada ao instrumento
com maiores dimensões, ou seja, o sacabuxa é visto como o antecessor do trombone.
Em contrapartida, outras publicações apenas relatam a existência dessas distintas
nomenclaturas, assim, referem-se ao instrumento com o termo trombone desde seu surgimento,
demonstrando a ideia de que o instrumento apenas passou por algumas adequações estruturais
ao longo de sua história.
24
O fato é, por se tratar de um assunto complexo que novamente envolve diferentes
países e idiomas, além de visões diferenciadas entre as publicações existentes na atualidade,
pode-se dizer que são apenas distintas maneiras para referirem-se ao instrumento. Portanto, este
trabalho optou por apresentar a Tabela 1 com as principais diferenças entre um sacabuxa
construído no século XVI e um trombone tenor fabricado no século XXI.
Tabela 1: Comparação entre um sacabuxa construído no século XVI com um trombone tenor fabricado no
século XXI.
Sacabuxa Tenor Schnitzer
(1594)
Trombone Tenor Edwards
(2009)
Comprimento 108 cm 116 cm
Calibre 1,2 cm 1,4 cm
Diâmetro da campana 10 cm 22 cm
Sistema da afinação
nos tubos superiores Ausente Presente
Chave para retirar
saliva do instrumento Ausente Presente
Fonte: Os dados obtidos foram extraídos de SANTOS (2009, p.44) e FONSECA (2008, p.31).
Destaca-se que, mesmo com essas diferenças, o mecanismo da vara para a obtenção
das notas musicais se manteve por todos esses séculos. Ademais, o sacabuxa era fabricado
basicamente de latão, assim como os trombones são produzidos na atualidade, embora algumas
empresas também utilizem ligas de materiais mais nobres em cobre e em prata. O importante é
o leitor deste trabalho saber que o instrumento de metal cromático com o mecanismo da vara
surgido no século XV, é chamado de trombone, posaune ou sacabuxa.
Após apresentar questões referentes às distintas nomenclaturas e às divergências
existentes em suas utilizações, este trabalho, que tem como foco principal o trombone baixo,
apresentará um relato histórico sobre o instrumento. Neste capítulo serão demonstrados fatos
sobre seu surgimento, como: os primeiros documentos que comprovam sua aparição, as
características e adaptações estruturais ocorridas ao longo dos séculos, os diferentes tipos, as
distintas válvulas, varas e outras partes que compõe o instrumento, os variados bocais e
surdinas, além das principais fábricas da atualidade.
25
1.1 - Família dos trombones
As primeiras evidências que comprovam a aparição de trombones de diferentes
tamanhos e afinações, caracterizando a formação de sua própria família, datam do século XVI
e XVII (HIGH, 2006). Segundo BAINES (1993), as designações para a família dos trombones
alto, tenor e baixo, foram raramente utilizadas antes do final do século XVI.
Um fato que auxiliou o surgimento dos trombones graves na segunda metade do
século XVI foi a transição da música do período do renascimento para o barroco, pois atentava-
se pela necessidade de empregar instrumentos com maiores tessituras. Nesse período, o cravo,
o órgão e o alaúde estenderam sua tessitura para uma região mais grave. Na mesma linha
surgiram instrumentos de sopro como o quart-posaune e o octav-posaune (HIGH, 2006).
Um dos primeiros documentos que retratam a existência da família dos trombones
é o segundo volume do tratado intitulado Syntagma Musicum (1618) de Michael Praetorius
(1571-1621). Nesse tratado, o autor descreve os distintos tipos de trombones, além de oferecer
uma representação visual de vários instrumentos de sopro (Figura 1). Dos instrumentos
descritos por Praetorius, dois são de grande importância para a história do trombone baixo: o
quart-posaune e o octav-posaune (KROSSCHELL, 2008). Segundo Praetorius, a família dos
trombones poderia ser dividida da seguinte maneira:
Alt-posaune: extensão entre o Si 1 e o Ré 3 ou Mi 3;
Ordinary-posaune: extensão entre o Mi 1 e o Sol 3 ou Lá 3;
Quart-posaune: uma oitava abaixo do alt-posaune, embora também feito em
uma afinação mais grave;
Octav-posaune: uma oitava abaixo do ordinary-posaune.
26
Figura 1: Instrumentos de sopros descritos por Michael Praetorius no tratado Syntagma Musicum (1618).
Fonte: PRAETORIUS (1618).
Nas próximas páginas serão apresentados os aspectos históricos e estruturais do
quart-posaune e do octav-posaune, instrumentos que auxiliaram no processo de
desenvolvimento do trombone baixo atual.
27
1.1.1 - O Quart-Posaune - Trombone Baixo
Assim como o ordinary-posaune (trombone tenor) o quart-posaune (Figura 2)
possui um mecanismo conhecido como telescópico (vara) para a obtenção das notas. Esse
sistema possibilita a execução das distintas séries harmônicas com muita eficiência, deixando
o instrumento capaz de realizar a escala cromática (HERBERT, 2006).
Figura 2: Original Bass-Sackbut in Eb. Model Isaac Ehe, Nuremberg 1612. Este instrumento encontra-se em
exposição no Germanic National Museum em Nuremberg.
Fonte: www.baroquetrumpet.com. Acesso em 23 de setembro de 2015.
O quart-posaune foi construído baseado no ordinary-posaune, porém, com seus
tubos em um comprimento maior. Esse procedimento foi necessário para que houvesse a
mudança na afinação do instrumento, capacitando-o a executar notas mais graves. Por ser
construído com uma tubagem de maior comprimento, o quart-posaune possui um braço
extensor conectado a vara (Figura 3) para auxiliar no alcance das notas que ficam nas últimas
posições do instrumento (FONSECA, 2008).
Figura 3: Braço extensor conectado a vara do instrumento que permite o alcance das últimas posições.
Fonte: www.ewaldmeinl.de. Acesso em 23 de setembro de 2015.
28
Alguns modelos de quart-posaune foram construídos com um braço extensor
conectado também aos tubos de sua parte superior (Figura 4). A função desse braço é alterar a
afinação do instrumento em até um tom (BAINES, 1993).
Figura 4: Braço conectado ao tubo superior do instrumento que possibilita a alteração da afinação em até um tom.
Fonte: www.ewaldmeinl.de. Acesso em 23 de setembro de 2015.
Atualmente, há construtores que fabricam réplicas desses instrumentos para o
trabalho de grupos de música antiga. A construção é realizada por meio da colaboração de
músicos que utilizam esses trombones, bem como, pela análise dos instrumentos originais que
se encontram nos museus ou em coleções particulares. As Figuras 5, 6 e 7, demonstram alguns
modelos de quart-posaune construídos no século XX.
Figura 5: Classical Bass-Sackbut in F.
Fonte: www.ewaldmeinl.de. Acesso em 23 de setembro de 2015.
29
Figura 6: Bass-Sackbut in Eb and D or in F. Model Ehe.
Fonte: www.ewaldmeinl.de. Acesso em 23 de setembro de 2015.
Figura 7: Renaissance Bass-Sackbut in F or Eb. Model Ehe. Este instrumento é uma reprodução do Bass-Sackbut
que se encontra em exposição no Germanic National Museum, apresentado na Figura 2.
Fonte: www.eggerinstruments.ch. Acesso em 23 de setembro de 2015.
O documento mais antigo encontrado que cita a existência do quart-posaune vem
da cidade de Kassel na Alemanha. Um inventário datado de 1573 relata alguns trombones,
dentre eles um quart-posaune com suas curvas e bocais (BAINES, 1951). Além desse
documento, outra evidência do século XVI é um quart-posaune que sobreviveu até os dias
atuais, construído por Pierre Colbert (s/d), datado de 1593 (Figura 8). De acordo com
HERBERT (2006), o instrumento encontra-se no Gemeentemuseum em Haia, nos Países
Baixos, porém, em pesquisa mais atualizada pelo autor do presente trabalho, verificou-se que
esse instrumento encontra-se no Rijksmuseum em Amsterdam desde 20103.
3 HERBERT (2006) afirma que o quart-posaune construído por Pierre Colbert encontra-se no Gemeentemuseum
em Haia, porém, em contato via e-mail com o museu para obter imagens do instrumento, o autor deste trabalho
recebeu a informação de que o quart-posaune encontra-se atualmente no Rijksmuseum em Amsterdam. De fato,
essa informação foi confirmada pelo autor na visita ao museu em viagem para Amsterdam em outubro de 2016.
30
Figura 8: Quart-Posaune construído por Pierre Colbert em 1593. Atualmente o instrumento encontra-se no
Rijksmuseum em Amsterdam.
Fonte:www.rijksmuseum.nl/en/explore-the-collection/works-of-art/musical-instruments/objects#/BK-AM-61,5.
Acesso em 26 de setembro de 2015.
O principal centro de construção do quart-posaune era a cidade de Nuremberg, na
Alemanha. Nessa cidade, houve uma centralização entre duas famílias de fabricantes: as
famílias Neuschel e Schnitzer (SANTOS, 2009). Com o passar do tempo outros construtores se
destacaram, surgindo uma variedade de quart-posaune com dimensões variadas de campanas,
calibres, acabamentos e afinações.
Para demonstrar as diferenças citadas, a Tabela 2 foi elaborada com informações
específicas de alguns quart-posaune da época. Nesta tabela, observa-se as diferentes medidas
de campanas e calibres, o ano de construção, o fabricante dos instrumentos, além das distintas
afinações.
31
Tabela 2: Especificações de quart-posaune construídos nos séculos XVI e XVII.
CONSTRUTOR AFINAÇÃO ANO CALIBRE CAMPANA
Pierre Colbert Sol 1593 13 mm
0,511ʺ
125 mm
4,92ʺ
Simon Reichard Entre Fá e Mi 1607 12 mm
0,472ʺ
139 mm
5,47ʺ
Isaac Ehe Mi bemol 1612 11.8 mm/12.2 mm
0,464ʺ/0,480ʺ
124 mm
4,88ʺ
Sebastian
Hainlein n.d. 1627
13.5 mm/14.1 mm
0,531ʺ/0,555ʺ
116 mm
4,56ʺ
Petrus Goltbeck Fá 1635 11.62 mm
0,457ʺ
122 mm
4,80ʺ
Wolf Birckholz Sol 1650 11.26 mm
0,443ʺ
129,5 mm
5,09ʺ
Hanns Hainlein Mi bemol 1631 11.3 mm
0,444ʺ
122 mm
4,80ʺ
Hanns Hainlein Fá 1668 9.3 mm/10.9 mm
0,366ʺ/0,429ʺ
129 mm
5,07ʺ
Fonte: Tabela adaptada de FISCHER (1984, p.45). Nota: n.d: informação não disponível.
Como pode ser observado, apesar dos trombones baixos dessa época serem
construídos em Mi bemol, Fá e Sol, o mais comum era encontrar esse instrumento afinado em
Fá, pois foi utilizado em grande parte da Europa, principalmente na Europa Central e nas bandas
alemãs até o final do século XIX (PISTON, 1969).
Segundo GREGORY (1973), o instrumento em Fá era conhecido como quart-
posaune, pois possuía sua afinação fundamental uma quarta justa abaixo do trombone tenor. Já
o instrumento em Mi bemol era chamado de quint-posaune, pois era afinado uma quinta justa
abaixo do trombone tenor. A Figura 9 demonstra as tessituras correspondentes a cada afinação.
32
Figura 9: Tessitura dos trombones baixos afinados em Fá, Mi bemol e Sol.
Fonte: GREGORY (1973, p. 84).
Além da afinação, nota-se na Tabela 2 que os trombones baixos apresentavam
medidas distintas de calibres e de campanas, o que demonstra a não existência de uma
padronização nas dimensões estruturais desses instrumentos. Essas campanas eram fabricadas
em torno de 127 mm4 (5ʺ)5 de diâmetro. Sobre o calibre, observa-se que alguns trombones
baixos tinham uma única dimensão, enquanto outros apresentavam duas medidas. Isso significa
que eram produzidos de duas maneiras distintas: single bore e dual bore (FISCHER, 1984).
Essas particularidades serão melhor explicadas no tópico específico sobre as varas.
O quart-posaune foi utilizado até meados do século XIX, embora em algumas
regiões europeias foi empregado até o final desse século. Esse instrumento foi substituído por
um trombone afinado em Si bemol/Fá de grandes dimensões de calibre e de campana que surgiu
em meados do século XIX e ficou conhecido como trombone tenor/baixo. Essa substituição
ocorreu gradativamente pela Europa durante o século XIX, pois em decorrência dos avanços
tecnológicos que possibilitaram o surgimento das válvulas, em conjunto com a necessidade das
orquestras por instrumentos de maior potência sonora, o trombone tenor/baixo passou a ser o
novo responsável pelas linhas graves do naipe de trombones, tornando-se o quart-posaune
restrito às bandas alemãs até cair praticamente em desuso total. Esse novo instrumento será
detalhado no subcapítulo 1.2.5 dessa dissertação.
4 mm: sigla utilizada para milímetros. 5 ʺ: símbolo utilizado para polegadas.
33
1.1.2 - O Octav-Posaune - Trombone Contrabaixo
Michael Praetorius menciona em seu
tratado dois tipos distintos de octav-posaune. O
primeiro foi construído com os tubos mais largos e
com uma tubagem adicional acoplada em sua
campana. Esse instrumento também possuía um
braço extensor conectado à vara, pois era
necessário para auxiliar o alcance das últimas
posições do instrumento. A intenção foi fabricá-lo
com maior calibre, desta forma, não seria preciso
construir o instrumento com o comprimento muito
longo (FONSECA, 2008).
O outro tipo de octav-posaune foi
produzido como um trombone tenor, porém com
maior comprimento para atingir a afinação
desejada (Figura 10). Para obter a afinação de uma
oitava abaixo do ordinary-posaune, o
comprimento dos tubos utilizados para a
construção do instrumento foi duplicado de
tamanho. Isso levou a um aumento proporcional da
campana, da vara e da tubulação superior (HIGH,
2006). Assim como no quart-posaune, esse
instrumento também possuía um braço extensor
conectado à vara para auxiliar a execução das notas
das últimas posições do instrumento. Um exemplo
desse octav-posaune foi construído por Georg
Nicolaus Oller (s/d) em Estocolmo no ano de 1639
e está exposto no Musikmuseet em Estocolmo
(Figuras 10 e 11).
Fonte: www.dannychesnut.com.
Acesso em 26 de setembro de 2015.
Figura 10: Octav-Posaune construído por
Georg Nicolaus Oller em Estocolmo em 1639.
Fonte: www.dannychesnut.com.
Acesso em 26 de setembro de 2015.
34
Figura 11: Nicholas Eastop (1961-), trombonista da The Chamber Orchestra of Europe executando o octav-
posaune construído por Oller.
Fonte: www.dannychesnut.com. Acesso em 26 de setembro de 2015.
Além dos trombones contrabaixos mencionados por Praetorius, um terceiro modelo
foi construído por Jorg Neuschel (s/d) em 1542. Esse instrumento ficou conhecido por possuir
uma vara dupla, pois a intenção foi de reduzir seu comprimento. Para isso o tubo que compõe
a vara foi dobrado, gerando assim o êmbolo duplo (Figuras 12, 13 e 14).
Figura 12: Trombone contrabaixo de êmbolo duplo.
Fonte: www.yeodoug.com. Acesso em 26 de setembro de 2015.
35
Figura 13: Detalhes do êmbolo duplo na parte final da vara do instrumento.
Fonte: www.yeodoug.com. Acesso em 26 de setembro de 2015.
Figura 14: Detalhes do êmbolo duplo.
Fonte: www.yeodoug.com. Acesso em 26 de setembro de 2015.
Uma das primeiras evidências constatadas sobre a existência do octav-posaune foi
uma carta que o duque Albrecht da Prússia (1490-1568) encaminhou para Jorg Neuschel em
1540/42. O Duque fez uma encomenda de alguns instrumentos, incluindo um trombone em
prata com êmbolo duplo. Não está claro se o instrumento é realmente um trombone
contrabaixo, porém, o fato de mencionar a vara dupla implica em um instrumento de maior
porte, além de que, em um trombone menor esse mecanismo não seria necessário (HIGH, 2006).
Outro documento que menciona o octav-posaune é um inventário datado no ano de
1613 da cidade Kassel. Esse documento relata a existência de um “grande posaune” em Mi.
Partindo da informação que esse mesmo inventário já tinha mencionado o trombone alto, o
tenor e o baixo, é muito provável que este “grande posaune” era um trombone contrabaixo
(BAINES, 1951).
Encontrar obras dos séculos XVI e XVII escritas para o trombone contrabaixo é
muito difícil, uma vez que os compositores não especificavam exatamente a instrumentação
desejada até o fim do século XVI (BAINES, 1993). Outro fator é que o instrumento possuía
grandes dimensões e peso elevado, sendo necessário força e equilíbrio para executá-lo.
36
Ademais, era usado somente quando havia necessidade em linhas graves mais lentas, pois
exigiam pouco movimento da vara (HIGH, 2006).
Uma das primeiras evidências que registra o uso de um trombone contrabaixo vem
da celebração do casamento do Duque Wilhelm da Bavária (1548-1626) com a princesa Rene-
e de Lorraine (1544-1602) em 1568. Durante a festa de casamento, uma composição de
Alessandro Striggio (1536/37-1592) foi executada por seis trombones, sendo que a parte mais
grave soava uma oitava abaixo dos outros instrumentos (HIGH, 2006).
Não existem referências que comprovam até quando o trombone contrabaixo
sobreviveu, porém, o instrumento teve o mesmo desuso que todo o naipe de trombones no final
do século XVII e começo do século XVIII. Ao contrário dos trombones alto, tenor e baixo que
ainda sobreviveram em alguns lugares da Europa, o contrabaixo desapareceu completamente
nesse período devido à soma de alguns fatores. Como já relatado, o instrumento era grande e
pesado, tornando-se de difícil execução. Ademais, era pouco utilizado, pois além de ser um
trombone de alto custo, grande parte das composições escritas nessa época poderiam ser tocadas
com o quart-posaune atuando na voz mais grave (HIGH, 2006).
É improvável que apenas um dos fatores acima tenha causado o desaparecimento
do trombone contrabaixo no século XVIII, sendo o mais provável a combinação dos elementos
citados. O fato é que o instrumento deixou de ser utilizado durante aproximadamente cento e
cinquenta anos, sendo reintroduzido na música sinfônica por Richard Wagner (1813-1883) no
século XIX na ópera Der Ring des Nibelungen (1848-1874).
As próximas páginas deste capítulo darão ênfase às transformações ocorridas com
os instrumentos de metais no século XIX. Serão relatadas algumas informações sobre os
instrumentos que de alguma forma auxiliaram no processo de estruturação do trombone baixo
da atualidade.
1.2 - Século XIX: período de transformações nos instrumentos de metal
Avanços tecnológicos ocorridos no início do século XIX possibilitaram
transformações significativas em alguns instrumentos da família dos metais. Segundo RONQUI
(2010), Heinrich Stozel (1780-1844) e Friedrich Bluhmel (s/d) foram os primeiros inventores
do sistema de válvulas no ano de 1814 e esse mecanismo foi introduzido primeiramente nos
trompetes e nas trompas com a finalidade de torná-los cromáticos (HERBERT, 2006).
As válvulas proporcionaram também o surgimento de novos instrumentos. Segundo
CARSE (1964), alguns compositores do século XIX sentiram a necessidade da existência de
37
um instrumento grave com maior poder sonoro que o fagote e mais flexível que o trombone
baixo. Desse modo, surgiram o oficleide, o cimbasso, o bombardão e a tuba. O serpentão,
instrumento já existente, também recebeu o mecanismo das válvulas nesse período.
Vale destacar que o cimbasso ou trombone contrabasso verdi, é um instrumento
comumente executado por tubistas, pois possuem calibres e bocais similares. Desse modo,
optou-se por não investigar sobre o cimbasso, pois a publicação nacional de KHATTAR (2014),
que pesquisou sobre a história da tuba, apresentou detalhes sobre o instrumento. Neste trabalho,
o autor também demonstrou aspectos históricos do oficleide, do serpentão, do bombardão e da
tuba. Portanto, para uma melhor compreensão desses instrumentos graves, recomenda-se a
leitura de KHATTAR (2014).
Dentre os trombones responsáveis por atuar nas vozes mais graves que passaram
por transformações em decorrência do surgimento das válvulas, pode-se mencionar: o trombone
baixo de válvulas ou trombone baixo de pistões; o trombone baixo com afinação em Sol; o
trombone contrabaixo; o trombone tenor/baixo e o trombone baixo utilizado na atualidade.
Além das válvulas, observa-se nessa época que alguns construtores começaram a
fabricar trombones com maiores dimensões. Essas alterações foram realizadas principalmente
nas campanas e nos calibres dos instrumentos, proporcionando um aumento de volume e de
projeção sonora. Esses trombones foram produzidos principalmente na Alemanha e, com o
decorrer do século, passaram a ser construídos em diversos países europeus.
Tanto o surgimento das válvulas quanto o aumento das dimensões estruturais dos
trombones foram acontecimentos importantes que ocorreram nesse período, portanto, merecem
ser melhor explorados. Assim, optou-se por apresentar em subcapítulos específicos os
trombones graves que adquiriram as válvulas, bem como um item (1.4) para demonstrar seu
funcionamento e os tipos diferenciados existentes.
1.2.1 - Trombone de válvulas
O trombone de válvulas é um instrumento originado na primeira metade do século
XIX. A data exata de seu surgimento é imprecisa, porém, uma das primeiras publicações que
comprovam a existência do instrumento foi realizada na segunda edição de Neueste Posaun-
Schule de Andreas Nemetz (1799-1846). Nessa publicação, datada de 1830, o autor relata a
construção de um trombone de válvulas em Viena pelo construtor Josef Riedl (s/d) (HERBERT,
2006).
O trombone de válvulas foi construído basicamente no mesmo formato do trombone
de vara, contudo, ao invés do sistema telescópico (vara) o instrumento possui válvulas, que
38
quando acionadas permitem a alteração da série harmônica do instrumento, oferecendo a
possibilidade de executar uma variedade de notas musicais, consequentemente, a escala
cromática (Figura 15).
Figura 15: Trombone de válvulas construído por F. Besson (s/d) em Londres no ano de 1876. Este instrumento
se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk. Acesso em 22 de novembro de 2015.
Assim como o trombone de vara, o trombone de válvulas também possui sua família
de instrumentos. Embora o mais comum seja o trombone tenor, foram desenvolvidos também
o trombone alto, o baixo e o contrabaixo, sendo raramente utilizados na atualidade (Figura 16).
As afinações mais comuns encontradas são em Si bemol e Fá, embora existam trombones de
válvulas em outras afinações, como em Sol e Dó (Figura 17).
Figura 16: Trombone baixo de válvulas com afinação em Fá, construído por August Beyde (s/d) em meados do
século XIX. Este instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk. Acesso em 22 de novembro de 2015.
39
Figura 17: Trombone baixo de válvulas com afinação em Sol, construído por Higham (s/d) em 1911. Este
instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk. Acesso em 23 de novembro de 2015.
Além das distintas afinações, outras diferenças constatadas na segunda metade do
século XIX foram as quantidades de válvulas e os diferentes tipos. O comum era construir o
trombone tenor com três válvulas e o trombone baixo com três ou quatro válvulas. Entretanto,
em 1852, Adolphe Sax (1814-1894) patenteou um trombone tenor que possuíam seis válvulas
e em um formato diferenciado, que ficou conhecido pelo nome de trombone à six pistons
indepéndants ou cavalry valve trombone (HERBERT, 2006). Posteriormente, esse instrumento
foi projetado para tornar-se um trombone baixo de válvulas, recebendo o nome de bass cavalry
valve trombone. Um modelo desse instrumento foi construído em Bruxelas por Le Brun (s/d)
em 1919 (Figura 18). A diferença do trombone tenor para o trombone baixo estava na
quantidade de válvulas, visto que, enquanto o tenor foi construído com seis, o baixo foi
produzido com sete. Isso foi necessário para que o trombone baixo executasse as notas mais
graves.
40
Figura 18: Bass Cavalry Valve Trombone afinado em Si bemol e Fá, construído em 1919 por Le Brun. Este
instrumento se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk. Acesso em 23 de novembro de 2015.
Outro trombone produzido em um formato diferenciado foi projetado pela fábrica
V. F. Cervený em 1867. Esse instrumento foi desenvolvido em uma forma circular e utilizado
especialmente por bandas militares e bandas de cavalarias, pois essa construção auxiliava na
execução quando os músicos estavam montados a cavalo (HERBERT, 2006). O instrumento
recebeu o nome de Armeeposaune (Figura 19). Em 1868, a fábrica desenvolveu toda sua família
de instrumentos com o armeeposaune alto afinado em Fá até o contrabaixo em Si bemol.
41
Figura 19: Bass-Armeeposaune.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk/mimed/record/18446?highlight=*. Acesso em 05 de outubro de 2015.
Além dos três tipos de trombones baixos de válvulas apresentados, há a
possibilidade da existência de trombones baixos construídos em outros formatos, já que os
avanços tecnológicos ocorridos nesse período proporcionaram diversas ideias aos construtores.
Isso pode ser observado pela variedade de trombones tenores de válvulas, entretanto, como o
foco desta dissertação é o trombone baixo, optou-se por apresentar apenas os trombones baixos
encontrados, ou seja, o trombone baixo de válvulas padrão (Figuras 16 e 17), o bass cavalry
valve trombone (Figura 18) e o bass armeeposaune (Figura 19).
A partir de 1835 alguns países europeus começaram a utilizar os trombones de
válvulas em bandas amadoras, bandas militares e em algumas orquestras de ópera, pois o
instrumento parecia possuir vantagens em relação ao trombone de vara. As válvulas
proporcionaram grande eficiência em passagens musicais rápidas e essa característica fez com
que o instrumento fosse utilizado em países como Áustria, Inglaterra, França, Alemanha, em
alguns países latino-americanos e principalmente na Itália (HERBERT, 2006).
Na Áustria, os trombones de válvulas foram utilizados na orquestra de ópera de
Viena de 1862 até 1883. Na Alemanha, na Inglaterra e na França os trombones de válvulas
foram classificados como instrumentos de bandas militares e amadoras, contudo, algumas
42
orquestras sinfônicas utilizaram o instrumento para executar a parte do trombone baixo
(HERBERT, 2006).
Acredita-se que o país com maior aceitação ao instrumento de válvulas foi a Itália.
A tecnologia da válvula foi adotada com entusiasmo pelo construtor italiano Pelitti (s/d), pois
o fabricante enxergou a popularidade que as bandas amadoras estavam atingindo e observou
que o país seria um bom mercado de venda de instrumentos de metal. O crescimento da
popularidade das bandas amadoras foi um dos fatores que auxiliaram na massiva utilização do
trombone de válvulas em praticamente todas as regiões da Itália (HERBERT, 2006).
Além das bandas amadoras que surgiam em várias cidades da Itália, as orquestras
de óperas italianas também usaram o instrumento. As óperas Otello (1887) e Falstaff (1893) de
Giuseppe Verdi (1813-1901) e La Boheme (1896) e Tosca (1900) de Giacomo Puccini (1858-
1924) são exemplos de obras que fizeram o uso do trombone de válvulas.
O surgimento das válvulas, o entusiasmo de alguns construtores em fabricar esse
instrumento e o interesse de alguns compositores em utilizá-los em suas obras foram os
principais fatores que proporcionaram a perduração do trombone de válvulas por praticamente
meio século na Itália (HERBERT, 2006).
Devido à forte influência exercida pelos países europeus durante o século XIX, o
trombone de válvulas também foi observado em alguns países latino-americanos, como é o caso
do Brasil. A utilização do instrumento ocorreu principalmente nas bandas das cidades
brasileiras estendendo-se até os dias atuais. Essa temática envolve um assunto amplo que
abrange diversas localidades do país, necessitando de uma pesquisa mais aprofundada, ou seja,
apresenta-se como um interessante tema para novos trabalhos.
Na segunda metade do século XIX eram produzidos mais trombones de válvulas do
que trombones de vara na Europa, todavia, as particularidades e a sonoridade característica do
trombone de vara fizeram com que o instrumento não fosse substituído na maioria dos países
europeus. Alguns trombonistas voltaram a utilizá-lo por vontade própria, porém em algumas
orquestras, como a orquestra de ópera de Viena, os trombonistas foram obrigados a retornarem
ao instrumento com o mecanismo da vara (HERBERT, 2006).
1.2.2 - Trombone baixo em Sol
Como o quart-posaune e o quint-posaune que surgiram no século XVI, trombones
baixos com afinação em Sol foram produzidos naquela época, e consequentemente, caíram em
desuso no final do século XVII, retornando posteriormente com dimensões de calibres e
43
campanas maiores. Esse instrumento tornou-se o trombone baixo utilizado na Inglaterra durante
os séculos XIX e XX (PISTON, 1969).
Um dos primeiros trabalhos que relatam o retorno do trombone baixo em Sol é a
publicação Neueste Posaun-Schule de Andreas Nemetz. Esse trabalho foi publicado em Viena
por volta de 1830 e destaca a existência de um trombone baixo afinado em Sol na Inglaterra
(DIXON, s/d).
Além do trabalho de Nemetz, outro fato que comprova o retorno desse instrumento
na primeira metade do século XIX é a coleção da Edinburgh University. Essa coleção possui
um trombone baixo em Sol que foi construído por John Green (s/d) (Figura 20) em Londres por
volta de 1835 (DIXON, s/d).
Figura 20: Trombone baixo afinado em Sol construído por John Green (s/d) em 1835. Este instrumento se
encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk. Acesso em 22 de novembro de 2015.
Apesar desse instrumento ser produzido com o calibre maior que o utilizado no
período do renascimento, o trombone baixo em Sol possuía sua tubagem com dimensões
menores que o trombone tenor/baixo (subcapítulo 1.2.5) produzido na Alemanha na mesma
época. O instrumento em sol foi fabricado com um braço extensor conectado a sua vara, da
mesma maneira que eram produzidos os quart-posaune (Figura 21).
44
Figura 21: Trombone baixo em Sol com o braço extensor conectado à vara. Este instrumento se encontra na
coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk. Acesso em 22 de novembro de 2015.
A utilização desse instrumento foi restrita à Inglaterra e aos locais colonizados por
ingleses, sendo empregado principalmente nas bandas britânicas e, posteriormente, incorporado
nas orquestras sinfônicas (DIXON, s/d).
Por volta 1870, uma válvula rotativa foi anexada ao trombone baixo em Sol. Essa
válvula poderia ser operada pelo polegar esquerdo do instrumentista e quando acionada, a
afinação do instrumento era convertida para Ré (Figura 22).
Figura 22: Trombone baixo em Sol/Ré construído por Antoine Courtois (s/d) por volta de 1870. Este instrumento
se encontra na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk. Acesso em 22 de novembro de 2015.
No século XX, o trombone baixo afinado em Sol/Ré passou a ser o instrumento
responsável pela voz mais grave do naipe de trombones nas orquestras sinfônicas inglesas
(Figura 23). Já o trombone baixo em Sol sem válvula continuou a ser utilizado nas bandas de
música (DIXON, s/d).
45
Figura 23: Godfrey Kneller (s/d) tocando o trombone baixo em Sol/Ré com Orquestra Filarmônica de Londres
em 1946.
Fonte: DIXON (s/d, p. 77).
Em 1932, a fábrica de instrumentos Boosey & Hawkes alterou o calibre do trombone
baixo em Sol/Ré, criando um novo modelo que ficou conhecido como Betty-bore. Esse
instrumento foi construído com o calibre medindo 13,38 mm (0,527ʺ), enquanto o calibre antigo
era de 12,29 mm (0,484ʺ). Assim como a tubagem, houve um aumento proporcional em sua
campana. O nome Betty-bore foi uma homenagem ao trombonista baixo William Betty (s/d)
(YEO, 2015).
Até meados do século XX, o trombone baixo Sol/Ré foi o instrumento utilizado
para executar a voz mais grave do naipe de trombones das orquestras britânicas. Contudo, em
1951, a Orquestra Filarmônica de Nova York apresentou-se no festival de Edinburgh, na
Escócia, com o naipe formado por Gordon Pulis (s/d), Lewis Van Haney (s/d), e Allen
Ostrander (1909-1994), que utilizavam trombones em Si bemol de grandes calibres da
fabricante americana Conn. A variedade de dinâmicas e a qualidade sonora executada pelo
naipe despertou interesse de alguns trombonistas do Reino Unido (DIXON, s/d). Nesse mesmo
ano, a Orquestra Nacional da Escócia incorporou em sua formação o trombone baixo em Si
bemol e, em alguns anos, outras orquestras britânicas, como por exemplo, a Orquestra Sinfônica
de Londres, também já empregavam o trombone baixo em Si bemol em sua formação.
Em meados da década de 1950, os trombones baixos construídos em fábricas
americanas foram os mais procurados pelos ingleses, tornando-se o trombone baixo em Si
46
bemol o instrumento padrão para a voz mais grave do naipe no Reino Unido (DIXON, s/d). As
marcas mais procuradas eram os trombones das fábricas King, Conn e Reynolds, com seus
respectivos modelos King 5B, Conn 70H e Reynolds Contempora.
Na mesma época, a fábrica de instrumentos Boosey & Hawkes começou a
desenvolver sua própria linha de trombone baixo em Si bemol. Observando a tendência dos
instrumentos americanos de grandes calibres, a fábrica inglesa produziu um trombone baixo
com calibre medindo 14,09 mm (0,555ʺ) e com campana igual ao modelo King 5B (Figura 24).
Figura 24: Trombone baixo em Si bemol/Fá de calibre 0,555ʺ. Modelo The Imperial 4043 desenvolvido pela
fabricante Boosey & Hawkes em meados de 1950.
Fonte: DIXON (s/d, p. 83).
O trombone baixo em Si bemol tornou-se também o instrumento preferido pelos
trombonistas baixos ingleses naquele período. Um fato que comprova essa afirmação é que, no
ano de 1963, apenas a BBC Symphony Orchestra, a BBC Northern, a BBC Welsh e a Sadler´s
Wells Orchestra utilizavam o trombone baixo em Sol em seus naipes, enquanto a maioria das
orquestras inglesas já usavam o trombone baixo em Si bemol (DIXON, s/d).
Assim como as orquestras sinfônicas, as bandas de metais também optaram pelo
trombone baixo em Si bemol. Dessa forma, as décadas de 1970 e 1980 é caracterizada como o
período em que a utilização do trombone baixo em Sol chegou ao fim, pois nessa época, os
poucos músicos que ainda usavam o instrumento se aposentaram ou faleceram. No entanto, vale
ressaltar que o trombone baixo em Sol foi um instrumento que perdurou por mais de um século
nas bandas e orquestras britânicas. Seu declínio foi um processo lento, pois alguns
instrumentistas não aceitavam a mudança pelo trombone baixo em Si bemol. Atualmente,
alguns trombonistas, como Edward Solomon (s/d), procuram resgatar a memória do trombone
baixo em Sol, utilizando-o quando o repertório orquestral necessita de uma sonoridade mais
suave (DIXON, s/d).
47
1.2.3 - Reutilização do trombone contrabaixo na música sinfônica
O trombone contrabaixo caiu em desuso no final do século XVII e começo do
século XVIII, permanecendo nessa situação por mais de um século. Um relevante passo para a
reutilização do instrumento aconteceu em 1817, quando Gottfried Weber´s (1779-1839)
publicou a Description and scale of the double trombone (1817). Nesse trabalho, o autor sugere
a construção de um trombone contrabaixo mais leve contendo quatro tubos na seção da vara ao
invés de dois. Em outras palavras, o autor aconselhava a construção do êmbolo duplo (HIGH,
2006). A Figura 25 ilustra um trombone contrabaixo com êmbolo duplo construído por Antoine
Courtois.
Figura 25: Trombone contrabaixo da marca Antoine Courtois de vara dupla construído entre 1890 e 1899. O
instrumento encontra-se na coleção de instrumentos musicais da Edinburg University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk/mimed/record/17959?highlight=contrabass+trombone. Acesso em 22 de
novembro de 2015.
Além da vara dupla, houve também a introdução de uma válvula no trombone
contrabaixo, tornando-o um instrumento com afinação em Si bemol/Fá (Figura 26).
Figura 26: Trombone contrabaixo Miraphone de vara dupla e válvula em Fá.
Fonte: www.amazon.com. Acesso em 21 de novembro de 2015.
48
O responsável pela reintrodução do trombone contrabaixo na música sinfônica do
século XIX foi o compositor Richard Wagner, pois demonstrava descontentamento com o
timbre dos metais graves (HIGH, 2006). Para o compositor, o timbre do bombardão não
combinava com a sonoridade dos trombones, pois faltava um instrumento que proporcionasse
a ligação entre eles. Desta forma, reintroduziu o trombone contrabaixo no naipe de trombones
com a intenção de melhorar essas diferenças de sonoridade. O instrumento utilizado por Wagner
foi construído por C. A. Moritz, de Berlim, com a afinação em Si bemol uma oitava abaixo do
trombone tenor e com a tubagem da vara dupla, do mesmo modo que Weber´s tinha proposto
em seu trabalho. Sua construção foi basicamente uma versão do trombone contrabaixo
construído por Halary (s/d), em Paris, no ano de 1830, porém com calibre maior (YEO, 2015).
A obra que marcou a reutilização do trombone contrabaixo na música sinfônica foi
a ópera Das Rheingold (1854). Essa obra faz parte do ciclo intitulado Der Ring des Nibelungen,
que contém quatro óperas criadas pelo compositor (PISTON, 1969). Um trecho da ópera Das
Rheingold pode ser observado no Exemplo 1.
Exemplo 1: Trecho da parte do trombone contrabaixo na II Scene da ópera Das Rheingold de Richard Wagner.
Compassos 339 ao 448.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 16 de março de 2016.
No século XX, outros compositores também escreveram partes específicas para o
trombone contrabaixo, dentre eles destacam-se: Richard Strauss (1864-1949), que compôs a
ópera Elektra (1908) e o poema sinfônico Eine Alpensinfonie (1915); Arnold Schoenberg
49
(1874-1951) que empregou o instrumento em Gurre-Lieder (1911); Vincent D'Indy (1851-
1931) em sua Sinfonia nº 2 (1902/1903), Jour d 'ete a la Montagne (1905) e Souvenirs (1906);
Karol Szymanowski (1882-1937) que utilizou o instrumento em sua Sinfonia n° 3 (1914/1916);
Edgard Varèse (1883-1965) que escreveu para o trombone contrabaixo em Ameriques (1921),
Arcana (1925/1927) e Intègrales (1925); Pierre Boulez (1925-2016) que utilizou-o em Pli Selon
Pli (1957/62); Luciano Berio (1925-2003) em Epiphanie (1959/1961); Gyorgy Ligeti (1923-
2006) em seu Requiem (1963/1965) e Igor Stravinsky, (1882-1971) em Cantium Sacrum (1955)
(HIGH, 2006).
Mesmo com as melhorias realizadas no instrumento no século XIX e início do
século XX, o trombone contrabaixo ainda continuava muito pesado, tornando-se de difícil
execução. Felizmente, alguns construtores trabalharam novamente para minimizar esses
problemas. Uma nova ideia foi colocada em prática em 1921 quando Ernst Dehmel (s/d), de
Berlim, começou a construir um trombone contrabaixo com afinação em Fá. Esse instrumento
possui as características de um trombone baixo em Fá com duas válvulas rotativas que,
combinadas, geraram as afinações Mi bemol, Si bemol e Lá bemol (Figura 27). O projeto de
Dehmel foi inovador, uma vez que cada válvula possui sua tubagem particular, assim,
desempenhando de forma independente cada gatilho (YEO, 2015).
Em 1959, o Dr. Kunitz´s (s/d) utilizou a inovação proposta por Dehmel sobre cada
gatilho atuar de forma independente e projetou um novo trombone contrabaixo. Esse novo
instrumento tornou-se o trombone contrabaixo padrão, sendo construído com afinação em Fá e
duas válvulas rotativas que combinadas geraram as afinações Ré, Dó e Si bemol (HIGH, 2006).
Figura 27: Trombone contrabaixo construído por Ernst Dehmel por volta de 1924. Este instrumento se encontra
na coleção de instrumentos musicais da Edinburgh University.
Fonte: http://collections.ed.ac.uk/mimed/record/18554?highlight=contrabass+trombone. Acesso em 22 de
novembro de 2015.
50
Na segunda metade do século XX, as fábricas Thein Brass e Miraphone
destacaram-se pela qualidade que construíram seus trombones contrabaixos. Atualmente, são
fabricados em diferentes afinações, com vara simples ou dupla, além de possuir uma ou duas
válvulas rotativas.
1.2.4 - Trombone tenor/baixo
Em 1835, o construtor alemão Christian Friedrich Sattler (s/d) construiu um
trombone afinado em Si bemol medindo 14 mm/14,4 mm (0,551 ̋/0,567ʺ) de calibre e 232 mm
(9,13ʺ) de campana (Figura 28). Nesse mesmo período, o construtor alemão Johann Adam
Heckel (1812-1877) alterou o calibre de seus trombones baixos para 13,46 mm (0,530ʺ), assim
como Kruspe (s/d), outro construtor que produziu seu instrumento com o calibre medindo 13,4
mm/13,9 mm (0,528 ̋/0,547ʺ) ou com 13,9 mm/14,4 mm (0,547 ̋/0,567ʺ), além de uma campana
com dimensão de 250 mm (9,84ʺ). Esses dados provam que houve um aumento de dimensões
nos trombones baixos construídos na Alemanha no século XIX. Vale ressaltar que algumas
publicações afirmam que as alterações nas dimensões estruturais do instrumento começaram
logo no início do século XIX.
Figura 28: Trombone construído por Sattler em 1835. Este instrumento se encontra na coleção da Universidade
de Leipzig na Alemanha.
Fonte: http://tromboneforum.org. Acesso em 09 de dezembro de 2015.
Outra inovação ocorrida nesse período aconteceu em 1839 na cidade de Leipzig na
Alemanha. Sattler introduziu uma válvula em um trombone afinado em Si bemol que possuía
grandes dimensões de calibre e campana. Essa válvula foi chamada de quartventil ou F-
attachment (YEO, 2015). Esse fato proporcionou alterar a afinação do instrumento para Fá
51
quando a válvula era acionada (Figura 29). Esse instrumento ficou conhecido como o novo
trombone baixo ou trombone tenor/baixo (PISTON, 1969).
Figura 29: Trombone baixo de uma válvula construído por Penzel (s/d) no século XIX.
Fonte: http://tromboneforum.org/index.php?action=printpage;topic=61123.0. Acesso em 23 de outubro de 2015.
Ao invés do instrumento com calibre estreito, campana pequena e afinação em Fá
ou Mi bemol que perdurou por alguns séculos, essa nova configuração de trombone baixo
possui a afinação em Si bemol, uma válvula que o transformava em Fá, além de calibre e
campana com grandes dimensões (BAINES, 1993).
O novo instrumento rapidamente ganhou popularidade na Alemanha, sendo
utilizado principalmente nas orquestras e posteriormente se espalhando por praticamente toda
Europa e EUA (HERBERT, 2006). Mesmo perdendo espaço para esse trombone, o quart-
posaune continuou a ser produzido na Alemanha no século XIX, mas, sua utilização tornou-se
restrita às bandas alemãs (BAINES, 1993).
O trombone tenor/baixo não foi criado com a intenção de substituir o quart-
posaune. A ideia foi construir um trombone que permitisse aos músicos tocarem de uma forma
mais eficaz em todo o registro do instrumento (HERBERT, 2006). Partindo para uma simples
análise do trombone tenor/baixo, pode-se concluir que o instrumento possui uma extensão
equivalente à tessitura do ordinary-posaune e à do quart-posaune em um único instrumento.
Essa pode ser uma das justificativas para que o trombone baixo de uma válvula do século XIX
seja conhecido também pelo nome de trombone tenor/baixo.
Na prática, a introdução da válvula em Fá gerou novas características ao trombone
tenor/baixo: o instrumento obteve posições alternativas que facilitaram a execução de
52
determinados trechos musicais, adquiriu novos aspectos técnicos de execução para frases em
legato e a tessitura se expandiu em sua região grave.
As próximas páginas desse capítulo darão ênfase ao trombone baixo utilizado na
atualidade. Foram investigadas questões relacionadas aos aspectos históricos, como: o
surgimento da segunda válvula, as especificações estruturais do instrumento, os principais
fabricantes da atualidade e os diferentes tipos de bocais e de surdinas utilizados.
1.3 - Trombone baixo da atualidade
Como já explicado, no ano de 1839, o construtor alemão Sattler introduziu uma
válvula em um trombone em Si bemol. Esse feito capacitou o instrumento a executar as notas
Mi bemol 1, Ré 1, Ré bemol 1 e Dó 1, porém a nota Si 1 (Exemplo 2) poderia ser tocada somente
se o músico abrisse o tubo conectado à válvula até o fim, pois era necessária uma tubagem
maior para atingir essa nota. Assim era possível executar a nota Si 1, entretanto somente em
frases musicais em que o instrumentista tivesse um tempo hábil para fazer essa mudança (YEO,
2015).
Exemplo 2: Notas que o trombone baixo passou a executar com o auxílio da válvula em Fá, com exceção da nota
Si, que era necessário a abertura da tubagem acoplada à válvula.
Fonte: Autor.
Esse era um problema que deveria ser resolvido, uma vez que a nota Si 1 era
encontrada com frequência nas composições daquele período e, devido a isso, o início do século
XX foi o período que alguns construtores começaram a apresentar ideias para resolver essa
limitação.
A primeira ideia que surgiu foi conectar uma segunda válvula ao rotor em Fá. Essa
ligação foi realizada através de tubos extras acoplados à tubagem desse mesmo rotor. Tal
válvula ficou conhecida como “válvula estática” ou Stellventil e foi empregada pelo construtor
Lefevre (s/d) em Paris no ano de 1910. Posteriormente, a construtora alemã Kruspe começou a
53
anexar esse mecanismo em seu instrumento (YEO, 2015). Alguns detalhes como,
funcionamento e características dessa válvula, estarão disponíveis no subcapítulo específico
sobre válvulas.
Figura 30: Válvula estática anexada pelo construtor Lefevre em Paris no início do século XX.
Fonte: www.yeodoug.com. Acesso em 14 de janeiro de 2016.
A primeira fábrica americana a desenvolver um trombone baixo com a válvula
estática foi a empresa Conn no ano de 1926. O trombone baixo foi construído com o calibre
medindo 13,9 mm/14,27 mm (0,547ʺ/0,562ʺ) e campana de 241 mm (9,5ʺ). Esse instrumento
ficou conhecido como o trombone baixo Conn modelo 70H (Figura 31) (YEO, 2015).
Figura 31: Trombone baixo Conn 70H.
Fonte: http://cderksen.home.xs4all.nl/Conn70H1930image.html Acesso em 14 de janeiro de 2016.
Em 1927, a fabricante americana Holton também lançou um trombone baixo com
a válvula estática (Figura 32). O instrumento foi construído com o calibre medindo 13,46 mm
(0,530ʺ). Diferentemente da Conn, a Holton produziu seu instrumento com o calibre menor,
54
pois manteve o padrão de produção que utilizava por alguns anos. Esse instrumento ficou
conhecido como o modelo Symphony 6 (YEO, 2015).
Figura 32: Trombone baixo Holton Symphony 6.
Fonte: http://tromboneforum.org/index.php?topic=78188.0. Acesso em 16 de janeiro de 2016.
O trombone baixo Symphony 6 foi construído com a possibilidade de alterar a
afinação da válvula somente para Mi, entretanto, no ano de 1932, a Holton produziu um
trombone baixo com a válvula estática capaz de alterar a afinação também para Mi bemol. Esse
instrumento ficou conhecido como Holton modelo 69 e fez parte do catálogo da empresa até
1938 (YEO, 2015).
A ideia da válvula estática ou Stellventil era inovadora, mas ainda precisava ser
repensada para fornecer maior praticidade ao instrumentista, pois era necessário que o músico
parasse de tocar para girar a nova válvula acoplada ao rotor principal, o que tornava a execução
deficitária.
Em 1938 surgiu outra ideia para resolver o problema da nota Si 1 com a produção
de um novo trombone baixo pela fábrica Olds. A empresa construiu um instrumento que possuía
duas válvulas dependentes, ou seja, proporcionou três afinações distintas ao trombone baixo.
Esse instrumento foi produzido com o calibre de 13,46 mm/13,97 mm (0,530ʺ/0,550ʺ) e ficou
conhecido como o trombone baixo Si bemol/Fá/Mi, sendo que, anos depois foi chamado por
Olds modelo S-23, mantendo-se no catálogo da fábrica até 1970 (Figura 33) (YEO, 2015). As
características do sistema de válvulas dependentes estão no próximo subcapítulo.
55
Figura 33: Trombone baixo Olds S-23 com duas válvulas dependentes (Si bemol/Fá/Mi).
Fonte: YEO (2015, p. 34).
Em 1950, o trombonista baixo da Orquestra Sinfônica de Chicago, Edward
Kleinhammer (1919-s/d), encontrou-se com o fabricante Vincent Bach (1890-1976) para
desenvolver o mecanismo das duas válvulas em seu trombone, entretanto, o instrumentista não
obteve sucesso em sua empreitada. Foi então que, em 1952, Kleinhammer procurou o reparador
de instrumentos Koeder (s/d), na cidade de Naperville, estado de Illinois, para desenvolverem
a segunda válvula em seu trombone. Nessa mesma época, o trombonista baixo da orquestra
sinfônica de Minneapolis, Gene Isaeff (s/d), também buscou os serviços de Koeder (YEO,
2015). Esses dois fatos demonstram que em meados do século XX haviam trombonistas baixos
que procuravam alternativas para solucionar com praticidade o problema da nota Si 1 em seus
instrumentos.
Em 1956, o trombonista baixo Lawrence Weinman (s/d), assumiu a cadeira de
Isaeff na Orquestra Sinfônica de Minneapolis. Nessa época, apenas Klenhammer e Isaeff
possuíam trombones baixos com duas válvulas em orquestras americanas, pois o trombone
baixo Olds modelo S-23 (Figura 33) não agradou por possuir um calibre menor em relação aos
instrumentos que as fábricas Conn e Bach produziam. Novamente, Weinman procurou Vincent
Bach para anexar a segunda válvula e dessa vez teve sucesso. O Instrumento utilizado por
Weinman era o Bach 50B e, em 1961, a fabricante Bach colocou em seu catálogo de vendas o
trombone baixo de duas válvulas dependentes (Si bemol/Fá/Mi). Esse modelo passou a ser o
Bach 50B2 (YEO, 2015).
Em 1957/58, a fábrica Reynolds começou a trabalhar com os trombonistas baixos
Kauko Kahila (1920-2013), Allen Ostrander e Louis Counihan (s/d) que, respectivamente,
atuavam na Orquestra Sinfônica de Boston, Orquestra Filarmônica de Nova York e Orquestra
de Ópera Metropolitan. Essa parceria foi realizada para desenvolver o trombone baixo de duas
válvulas da marca Reynolds. O instrumento produzido ficou conhecido como modelo
56
Contempora 78X, com o calibre medindo 13,89 mm/14,27 mm (0,547ʺ/0,562ʺ), campana de
241 mm (9,5ʺ) e com afinação em Si bemol e duas válvulas dependentes em Fá e Mi (Figura
34).
Figura 34: Kauko Kahila com seu trombone baixo da marca Reynolds, modelo Contempora 78x em 1960.
Fonte: YEO (2015, p. 39).
Nesse mesmo período, a fabricante Holton desenvolveu dois trombones baixos
(modelos 32 e 169). O modelo 32 é um trombone baixo com duas válvulas dependentes e o
modelo 169 tem a opção de ter um ou dois rotores. Como grande parte do repertório orquestral
poderia ser executado com o instrumento contendo apenas uma válvula rotativa, a Holton criou
um trombone com a possibilidade de possuir uma válvula e, quando necessário, era possível
adicionar a segunda válvula e sua tubulação, assim evitaria de segurar um peso extra sem
necessidade.
Enquanto fabricantes americanos do século XX construíam trombones baixos com
duas válvulas dependentes, alguns reparadores de instrumentos estavam desenvolvendo as
válvulas independentes, assim como Dehmel colocou no trombone contrabaixo em 1921 na
Alemanha. Segundo YEO (2015), George Strusel (s/d), de Los Angeles, provavelmente foi um
dos primeiros reparadores americanos a converter um trombone baixo com válvulas
dependentes em independentes. Em 1967, Strusel converteu um Conn 70H, deixando o
instrumento em Si bemol/Fá/Sol/Mi bemol (YEO, 2015).
57
Ainda nesse período, o trombonista baixo holandês Erik van Lier (1945-),
atualmente professor de trombone baixo no departamento de jazz do conservatório de
Amsterdam, apresentou outras ideias para a combinação das válvulas. Lier possuía um
instrumento com a segunda válvula afinada em Ré, entretanto, quando essa válvula era
acionada, ocorria uma alteração na sonoridade do instrumento, tornando-se o som um pouco
abafado. Segundo Lier, isso acontecia porque havia uma curva acentuada em um dos tubos que
conectam à válvula. Então, o instrumentista procurou o reparador Ruud Pfeiffer (s/d) para
construir a tubulação da válvula com poucas curvas, proporcionando melhorias no som da
válvula em Ré e, consequentemente, uma boa sonoridade na nota Si 16.
O instrumento de Lier possuía a afinação em Si bemol/Fá/Ré/Si, uma novidade para
o sistema de válvulas do trombone baixo. Uma prova disso foi quando Edward Kleinhammer
viu esse instrumento, e dessa forma, pediu permissão ao músico para copiar o novo sistema,
pois essa configuração permitia a aquisição da nota Si 1 na primeira posição com as duas
válvulas acionadas simultaneamente, além de obter uma boa sonoridade causada pela angulação
dos tubos conectados às válvulas.
Figura 35: Erik van Lier com seu trombone baixo afinado em Si bemol/Fá/Ré/Si.
Fonte: http://www.trombone-usa.com/vanlier_erik.htm. Acesso em 11 de abril de 2017.
Observando que alguns reparadores de instrumentos estavam alterando o sistema
de válvulas de dependente para independente, em 1973, a fabricante Olds lançou
comercialmente o primeiro trombone baixo americano de duas válvulas independentes (Figura
6 Essas informações foram extraídas do site (http://www.trombone-usa.com/vanlier_erik.htm). Acesso em 11 de
abril de 2017.
58
36). O modelo S-24G foi afinado em Si bemol/Fá/Sol/Mi bemol. Um ano depois, a Holton
produziu o modelo TR-181 em Si bemol/Fá/Sol bemol/Ré (YEO, 2015).
Figura 36: Trombone baixo Olds S-24G com duas válvulas independentes.
Fonte: http://tromboneforum.org/index.php/topic,55525.msg815651.html. Acesso em 19 de janeiro de 2016.
Assim como a Holton e a Olds, outras fábricas começaram a desenvolver o
trombone baixo com válvulas independentes na década de 1970. Vale esclarecer que a busca
por um sistema ideal de válvulas perdurou por várias décadas, uma vez que não era somente
pela necessidade de se obter a nota Si 1, mas também por conseguir atingir uma sonoridade
agradável quando as válvulas estivessem em uso.
Atualmente, o trombone baixo mantém a concepção estrutural que os construtores
e fabricantes das décadas de 1960 e 1970 estabeleceram. O instrumento é produzido com suas
duas válvulas atuando de formas independentes, embora algumas fábricas ainda produzam
modelos com válvulas dependentes.
1.4 - Partes estruturais do trombone baixo
Este subcapítulo tem como objetivo demonstrar as diferentes partes de um
trombone baixo. Optou-se por criá-lo, considerando que na atualidade existe uma variedade de
tipos de instrumentos, materiais, dimensões, funções, ou seja, diferentes características que
afetam diretamente na performance musical.
1.4.1 - Válvulas rotativas
O princípio do sistema de válvulas funciona da seguinte forma: quando a válvula é
acionada, o ar que percorre o instrumento é deslocado para uma tubulação anexada ao seu tubo
principal, fazendo com que o ar transite também nessa tubulação anexa. Dessa maneira, o ar
59
realiza um percurso maior, o que altera a afinação fundamental do instrumento, possibilitando
assim, a obtenção de outras séries harmônicas (Figura 37).
Figura 37: Em A observa-se a passagem do ar pelo trombone quando a válvula não está acionada. Em B, a
passagem do ar pelos tubos do trombone quando a válvula está acionada.
Fonte: Autor.
Todavia, para utilizar corretamente as válvulas é necessário que o trombonista
realize alguns ajustes. Tanto o trombone baixo quanto o trombone tenor utilizado na atualidade
possuem as afinações fundamentais em Si bemol. Ambos os instrumentos têm sete posições,
sendo que: na primeira posição é possível executar as notas da série harmônica de Si bemol; na
segunda posição, o instrumentista é capaz de tocar as notas da série harmônica de Lá, ou seja,
meio tom abaixo da primeira posição; na terceira posição, é possível executar a série harmônica
de Lá bemol, isto é, meio tom abaixo da segunda posição e assim por diante. Esse mecanismo
proporciona a execução de diversas notas musicais que, quando combinadas, geram o
cromatismo no instrumento. O Exemplo 3 demonstra as notas musicais obtidas no trombone
com afinação em Si bemol.
60
Exemplo 3: Notas musicais e suas respectivas posições na afinação fundamental (Si bemol).
Fonte: Autor.
Quando a válvula em Fá é acionada, o ar descola-se para uma tubulação anexada
ao instrumento, isto é, realiza um percurso maior que altera a afinação do trombone baixo de Si
bemol para Fá. Além disso, a distância entre as posições da vara aumenta devido à necessidade
de alongar o tubo por onde o ar percorrerá para atingir a afinação correta da nota musical. Logo,
o trombone passa a possuir seis posições (Exemplo 4) ao invés de sete.
Exemplo 4: Notas musicais com a válvula em Fá acionada.
Fonte: Autor.
O mesmo acontece com o uso da segunda válvula (Sol bemol), ilustrada no
Exemplo 5.
61
Exemplo 5: Notas musicais com a válvula em Sol bemol acionada.
Fonte: Autor.
Com as duas válvulas acionadas ao mesmo tempo, o instrumento passa para a
afinação em Ré. Nesse caso, as distâncias entre as posições aumentam um pouco mais, deixando
o instrumento com apenas cinco posições (Exemplo 6).
Exemplo 6: Notas musicais com as duas válvulas acionadas (Ré) ao mesmo tempo.
Fonte: Autor.
Destaca-se que houve a preferência por explicar sobre o trombone baixo com
afinação em Si bemol/Fá/Sol bemol/Ré, porque é o instrumento mais utilizado na atualidade,
embora alguns construtores também fabriquem trombones baixos com válvulas em outras
afinações, como por exemplo, em Si bemol/Fá/Sol/Mi e Si bemol/Fá/Ré.
Como foi relatado, a parceria de construtores com alguns trombonistas baixos que
ocorre desde o século XX, permitiu o aparecimento de novas ideias para solucionar o problema
da nota Si 1. Assim, surgiu o trombone baixo com válvulas dependentes e, alguns anos depois,
o instrumento com válvulas independentes.
62
O sistema dependente funciona da seguinte maneira: quando a primeira válvula é
acionada o instrumento fica com a afinação em Fá, porém, quando se aciona o segundo rotor,
o primeiro acompanha o segundo, pois uma válvula depende da outra para atuar, transformando
o instrumento para a afinação em Mi ou em Ré. Contudo, esse instrumento que já possui a
afinação fundamental em Si bemol, torna-se afinado em Fá com a primeira válvula acionada.
Em contrapartida, quando se aciona a segunda válvula, a afinação se dá em Mi ou em Ré.
Já o sistema independente, como o próprio nome sugere, as válvulas funcionam de
forma que uma não dependa da outra. Esse sistema proporcionou quatro distintas afinações em
um único trombone baixo (Si bemol/Fá/Sol bemol/Ré ou Si bemol/Fá/Sol/Mi).
Diferentes tipos de válvulas foram criadas no século XIX, porém, a mais comum
foi a válvula rotativa conhecida como thumb valves. Essa válvula funciona do seguinte modo:
quando o gatilho é acionado pelo polegar esquerdo do instrumentista, a peça interna da válvula
gira, alterando o percurso do ar (Figura 38).
Figura 38: Válvula rotativa.
Fonte: www.getzen.com. Acesso em 25 de outubro de 2015.
Outro modelo de válvula utilizada no século XIX foi a válvula de pisto introduzida
em 1850 por Adolphe Sax (Figura 39).
63
Figura 39: Válvula de pisto introduzida por Adolphe Sax.
Fonte: www.yeodoug.com. Acesso em 25 de outubro de 2015.
Conforme mencionado, no século XX surgiu a válvula estática (Stellventil), uma
das primeiras soluções encontradas nesse período para resolver o problema da nota Si 1. Essa
válvula funcionava de forma simples: bastava o instrumentista girá-la com a mão e a afinação
do rotor em Fá se transformaria em Mi ou Mi bemol (Figura 40).
Figura 40: Válvula Stellventil que o construtor alemão Kruspe anexou no trombone baixo.
Fonte: YEO (2015, p. 35).
Com o decorrer do século XX, outros tipos de válvulas apareceram com a intenção
de obter um melhor funcionamento. O ideal é que as válvulas tenham agilidade tanto no
acionamento como em seu retorno à posição fundamental e estejam bem reguladas para não
haver diferença de sonoridade quando estiverem em uso.
Dessa forma, surgiu a válvula em formato cônico produzida por Orla Ed Thayer
(s/d). Segundo CLOVIS II (2010), Fred Bradley (s/d), professor de Thayer, acreditava que as
64
válvulas rotativas deveriam possuir suas tubagens com o mínimo de curvas e dobras possíveis
para não haver diferença na sonoridade. A solução encontrada por Thayer foi construir o design
chamado atualmente de Axial Flow (Figura 41), referindo-se a passagem do ar por dois tubos
paralelos.
Figura 41: Válvulas cônicas no sistema Axial Flow.
Fonte: http://www.edwards-instruments.com. Acesso em 15 de março de 2017.
Outro tipo de válvula utilizada na atualidade, foi produzida por Rene Hagmann
(s/d). Para CLOVIS II (2010), Hagmann atentou-se em desenvolver um sistema que propiciasse
um livre fluxo de ar por todos os tubos do instrumento, com o intuito de atingir um equilíbrio
sonoro em todos os registros. Esse design é conhecido como Free-Flow (Figura 42).
Figura 42: Válvulas Hagmann no sistema Free-Flow.
Fonte: http://thein-blechblasinstrumente.de. Acesso em 15 de março de 2017.
65
1.4.2 - Varas
A produção das notas musicais é realizada de acordo com a combinação de alguns
fatores, como: a emissão de ar, a vibração labial no bocal e o manejo da vara. Com a somatória
desses elementos ocorre a produção sonora e, consequentemente, a execução das frases
musicais. A vara (slide) é uma das peças do instrumento responsável pela mudança dessas notas,
pois em seu manejo o instrumentista aumenta e diminui o tamanho do tubo, proporcionando a
execução das diferentes séries harmônicas.
As varas podem ser produzidas de duas formas: apenas um calibre (single bore) ou
dois calibres (dual bore). A vara single bore possui o mesmo diâmetro em toda sua tubagem.
Já a dual bore tem a maior parte com apenas uma medida, porém, o tubo se alarga próximo à
sua parte final, que fica no encaixe entre a vara e a campana. Atualmente, a maioria das
fabricantes oferece as dimensões de single bore em torno de 14,27 mm (0,562ʺ) e dual bore em
14,27 mm/14,68 mm (0,562ʺ/0,578ʺ).
Outras especificidades encontradas no mercado são os materiais usados em sua
construção. Diversos fabricantes produzem a parte externa da vara em níquel, latão amarelo ou
latão dourado. Além disso, é possível adicionar a curva final em níquel ou em uma mistura de
níquel com prata (Figura 43). Segundo as fábricas Edwards Instruments e a S.E. Shires C.O., o
emprego desses materiais permite diferenças na sonoridade do instrumento, como um som
aberto, brilhante, escuro, articulado, redondo, dentre outras características sonoras7.
Figura 43: Varas fabricadas com distintos materiais.
Fonte: http://www.edwards-instruments.com. Acesso em 16 de março de 2017.
7 As características sonoras foram extraídas dos sites das fabricantes Edwards Instruments (http://www.edwards-
instruments.com) e S.E. Shires C.O. (http://www.seshires.com). Acesso em 17 de março de 2017.
66
1.4.3 - Campanas
A campana também é uma das peças responsáveis pelas características sonoras do
instrumento. As fábricas produzem campanas com distintas dimensões, espessuras variadas,
diferentes porcentagens de cobre e zinco para formar o latão, com ou sem tratamento térmico,
entre outras características.
Atualmente, as dimensões comumente produzidas são de 241 mm (9,5ʺ), 254 mm
(10ʺ) e 266 mm (10,5ʺ). As espessuras variam de acordo com cada fabricante, o que possibilita
a produção de campanas mais pesadas ou mais leves. As porcentagens de cobre e zinco
determinam o tipo de latão. Segundo a Edwards Instruments e a S.E. Shires C.O, duas fábricas
de grande relevância nesse mercado, o metal amarelo (yellow brass) é composto por 70% de
cobre e 30% de zinco (Figura 44). Já o metal rose (rose brass) é formado por 85% de cobre e
15% de zinco e o metal vermelho (red brass) possui 90% de cobre e 10% de zinco. Todas essas
características afetam diretamente na sonoridade do instrumento, propiciando um som com as
notas mais centradas, de maior ou menor amplitude, com as articulações suaves ou duras,
colorido sonoro brilhante ou escuro, dentre outras características8.
Figura 44: Campana produzida pela Edwards Instruments.
Fonte: http://www.edwards-instruments.com. Acesso em 17 de março de 2017.
Também são produzidas campanas com ou sem rosca, o que permite ao músico
substituir apenas a parte final da peça (Figura 45).
8 A composição dos elementos químicos para a produção do latão e as características sonoras foram extraídas dos
sites das fabricantes Edwards Instruments (http://www.edwards-instruments.com) e S.E. Shires C.O.
(http://www.seshires.com). Acesso em 17 de março de 2017.
67
Figura 45: Campanas de rosca (9ʺ, 9,5ʺ e 10,5ʺ) produzidas pela Thein Brass.
Fonte: Arquivo pessoal.
1.4.4 - Leadpipes e tuning slides
Os leadpipes são tubos que são encaixados dentro da tubagem da vara e são
produzidos em latão ou em prata com diferentes comprimentos (Figura 46). Essa peça também
interfere na sonoridade do instrumento, pois, segundo a Edwards Instruments, os leadpipes
auxiliam os músicos na amplitude, precisão e foco sonoro9.
Figura 46: Leadpipes.
Fonte: http://www.edwards-instruments.co.uk. Acesso em 17 de março de 2017.
9 As características sonoras foram extraídas do site da fabricante Edwards Instruments (http://www.edwards-
instruments.com). Acesso em 17 de março de 2017.
68
Os tuning slides ou bombas de afinação também são construídos em latão (yellow
brass, rose brass, red brass e gold brass), entretanto, diferem-se por seu tamanho, angulação e
afinação (Figura 47). Atualmente, existem os tuning slides com afinação em Fá para a válvula
principal. Já para o segundo rotor, o mercado disponibiliza as bombas de afinação em Ré, Mi
bemol, Sol bemol e em Sol. O uso das distintas afinações é uma opção particular de cada
instrumentista, contudo, os tuning slides mais comumente utilizados para a segunda válvula são
afinados em Sol Bemol e Sol.
Figura 47: Tuning slides.
Fonte: http://www.edwards-instruments.co.uk. Acesso em 17 de março de 2017.
1.4.5 - Bocais
O mercado mundial possui uma grande quantidade de bocais, com diversas marcas
e modelos que se diferenciam em alguns aspectos: tipo de borda (rim); tamanho, profundidade
e formato do copo (cup); diâmetro interno (backbore); garganta (throat) e haste (shank) (Figura
48).
Figura 48: Partes de um bocal.
Fonte: http://www.instrumentalsavings.com. Acesso em 21 de fevereiro de 2016.
69
Segundo Fonseca (2008), o bocal tem um papel fundamental na produção sonora
do instrumento e ao escolhê-lo deve-se levar em consideração algumas características físicas,
como a arcada dentária e a espessura dos lábios do instrumentista. O bocal escolhido de forma
incorreta pode proporcionar problemas no desempenho musical, como dificuldade na execução
de frases em staccato ou legato, falta de resistência, dificuldade em produzir notas agudas ou
graves, além de outros problemas que influenciarão na interpretação musical.
Fonseca (2008) ainda pontua que uma borda (rim) achatada proporciona melhor
apoio aos lábios, porém, a arredondada permite maior flexibilidade. A borda mais larga oferece
maior resistência e conforto, porém, haverá menor flexibilidade. O tamanho e o formato do
copo (cup) influenciam diretamente no volume, assim como sua profundidade controla o brilho
sonoro. A garganta (throat) é outra parte que também é responsável pelo volume sonoro. O
diâmetro interno (backbore) auxilia no timbre e na resistência e a haste (shank) controla a
profundidade no qual o bocal se encaixa no tubo no instrumento.
As diferenças mais evidentes entre os fabricantes são os tamanhos e os formatos de
copos. As Tabelas 3, 4 e 5 demonstram um comparativo das principais marcas de bocais e seus
respectivos modelos. Para ilustrar de uma maneira mais clara, optou-se por montar a Tabela 3
com os bocais que medem entre 26,5 mm e 27,9 mm, a Tabela 4 com bocais que possuem
medidas entre 28 mm e 29,5 mm e a Tabela 5 ilustrando os diferentes tipos de copos existentes
na atualidade.
70
Tabela 3: Bocais com diâmetro de copo compreendidos entre 26,5 mm e 27,9 mm.
Diâmetro do copo (mm)
Marcas 26,5 26,52 26,75 26,8 27,0 27,1 27,25 27,3 27,4 27,5 27,7 27,8 27,9
Griego 2
Greg
Black 2G 1.1/2G 1.3/8G
Schilke 57 58
Bach 2G 1.1/2G
1.1/2GM 1.1/4GM
Denis
Wick
2NAL
2AL 1AL 0AL
JK P3 1.1/2G P2
Thein BB B
Fontes: http://www.griegomouthpieces.com; https://www.gregblackmouthpieces.com;
http://www.schilkemusic.com/products; http://www.bachbrass.com; http://www.deniswick.com; http://josefklier.de
e http://thein-blechblasinstrumente.de. Acesso em 24 de fevereiro de 2016.
71
Tabela 4: Bocais com diâmetro de copo compreendidos entre 28 mm e 29,5 mm.
Diâmetro do copo (mm)
Marcas 28,0 28,3 28,4 28,5 28,52 28,57 28,65 28,75 28,91 29,0 29,02 29,03 29,4 29,5
Griego 1.5 1.25 1 GP .75 .5 GP6 .25
Greg
Black
1.1/4G 1.1/8G 1G 0G
Schilke 59
M 6.0
60
D 6.0
Bach 1G
Denis
Wick
00AL
JK P1
PSC
P01 P02 P03
Thein JE
Fontes: http://www.griegomouthpieces.com; https://www.gregblackmouthpieces.com;
http://www.schilkemusic.com/products; http://www.bachbrass.com; http://www.deniswick.com; http://josefklier.de
e http://thein-blechblasinstrumente.de. Acesso em 24 de fevereiro de 2016.
72
Tabela 5: Os variados formatos de copos dos bocais da atualidade.
Fabricantes Modelos
Griego
Deco New York Nouveau GP
Greg Black
Standart
Schilke
Standart Symphony M 6.0 e D 6.0
Bach
Standart Megatone
Denis Wick
Classic Heavy Top Heritage
Josef Klier
Exclusive USA-Line
Thein
Standart
Fontes: http://www.griegomouthpieces.com; https://www.gregblackmouthpieces.com;
http://www.schilkemusic.com/products; http://www.bachbrass.com; http://www.deniswick.com;
http://josefklier.de e http://thein-blechblasinstrumente.de. Acesso em 24 de fevereiro de 2016.
73
A maioria das fábricas produzem seus bocais em liga metálica10 com o revestimento
de um metal mais nobre como a prata ou ouro. Alguns fabricantes produzem também com um
revestimento de titânio ou aço inoxidável. Atualmente, é comum encontrar também os bocais
confeccionados de material plástico, conhecidos como os bocais de polímero11.
Outro serviço disponibilizado por alguns fabricantes são os bocais de rosca. A
Greg Black e a Josef Klier produzem também a borda e o copo separados. Esses são conectados
um ao outro por uma rosca, possibilitando ao instrumentista utilizar diferentes tipos de bordas
no mesmo copo e vice-versa. Portanto, é possível encontrar copo de prata com borda de ouro,
copo de ouro com borda de prata, além de bordas de polímero e acrílico que a fabricante Josef
Klier disponibiliza para a venda. Outra particularidade dessas duas empresas é a customização
de bocais. Ambas oferecem o serviço de produzir um bocal de acordo com as necessidades do
instrumentista.
Um acessório que faz parte do cotidiano dos músicos de instrumentos de metal são
as surdinas. Com a busca por diferentes timbres e efeitos sonoros pelos compositores,
atualmente existem diversos tipos desse acessório. O próximo subitem apresenta as principais
surdinas utilizadas pelo trombone baixo.
1.4.6 - Surdinas
A surdina é um acessório que permite alterar a sonoridade ou o timbre do
instrumento, possibilitando a produção de um efeito sonoro característico (PISTON, 1969).
Esse dispositivo é encaixado na campana e permanece anexado por cortiças que vedam a
passagem do ar ou por garras presas à própria campana.
Atualmente, existem alguns tipos de surdinas:
Surdina straight: produzida mais comumente em fibra ou alumínio, pode ser
encontrada também em materiais como plástico, madeira, latão e cobre (FONSECA, 2008). Sua
sonoridade pode variar de acordo com o material que foi utilizado para construí-la, sendo a mais
comum a surdina de alumínio, que proporciona um timbre brilhante e metálico.
10 Em consulta ao químico Eduardo Sanchez Fazzari (1981-), a liga metálica é obtida a partir da mistura de
materiais que contém dois ou mais elementos químicos, sendo que pelo menos um deles é metal. Exemplo de
algumas ligas metálicas do cotidiano: aço (ferro/carbono), aço inoxidável (ferro/carbono/cromo/níquel), bronze
(cobre/estanho) e latão (cobre/zinco). 11 Polímeros são macromoléculas formadas a partir de estruturas menores (monômeros). Muitos deles são
compostos orgânicos que são baseados em carbono, hidrogênio e outros elementos não metálicos. Incluem os
conhecidos materiais plásticos e de borracha. Os polímeros mais comuns são os polietilenos, o nylon, o
policarbonato e a borracha de silicone (CALLISTER e RETHWISCH, 2010, p. 37).
74
Surdina cup: similar a straight, possui uma peça em formato de concha para
produzir um timbre suave. Essa surdina pode ser construída também em fibra ou em alumínio.
Surdina harmon e wah-wah: construída em fibra ou alumínio, esse acessório
produz uma sonoridade metálica. Com a possibilidade de colocar um cilindro ajustável em seu
interior, que permite a obtenção de diferenciados timbres e efeitos, recebe a denominação de
“wah-wah”.
Surdina velvet: confeccionada em fibra, possui três garras que se fixam à
campana para conectar-se ao instrumento. Essa surdina possui um timbre muito suave,
resultando em uma sonoridade “aveludada” e de baixa intensidade sonora.
Surdina plunger: produz um efeito próximo à surdina wah-wah. Pode ser
construída com fibra, alumínio ou borracha. Também são encontrados modelos que
esteticamente lembram um desentupidor de pia.
Surdina de estudo: fabricada em fibra ou metal, gera a sonoridade mais suave
de todas, pois serve para a prática do instrumento quando não se pode atingir elevados níveis
de volume sonoro.
A Tabela 6 demonstra imagens dos modelos de surdinas utilizados pelo trombone
baixo no cotidiano musical.
75
Tabela 6: Variados tipos de surdinas utilizadas pelo trombone baixo.
Modelos Surdinas
Straight
Cup
Harmon -
Wah-Wah
Velvet
Plunger
Estudo
Fontes: www.mbcases.com.br; www.thomann.de/pt; www.deniswick.com; www.sinfomusicata.pt;
www.sinfomusicata.pt; www.palaciodatuba.com; www.p10music.com.br;www.teclacenter.com.br;
www.spmusical.com.br; www.thomann.de/pt. Acesso em 25 de fevereiro de 2016.
Após demonstrar as partes estruturais de um trombone baixo, os bocais e as
surdinas, o subcapítulo a seguir apresenta as principais fabricantes do instrumento na
atualidade.
76
1.5 - Fabricantes da atualidade
Existem diversas fábricas que produzem a família dos trombones. A maioria delas
concentram-se nos Estados Unidos e na Europa, embora também existam fábricas japonesas,
chinesas, além de uma brasileira. A seguir, serão apresentadas algumas fabricantes da
atualidade.
Antoine Courtois
Criada no ano de 1789, em Paris, a fábrica mais antiga que perdura até os dias atuais
é a Antoine Courtois. Atualmente, a empresa produz três modelos de trombones baixos:
AC502B, AC550 (Figura 49) e AC551. Esses modelos se diferem por seus tipos de válvulas
(rotores tradicionais ou válvulas hagmann), pelo calibre single bore com dimensão de 14,28
mm (0,562ʺ) ou dual bore de 14,27 mm/14,68 mm (0,562ʺ/0,578ʺ) e pelas dimensões de
campanas de 242 mm (9,53ʺ) ou 267 mm (10,51ʺ)12.
Tim Ornato (s/d-), representante da área de instrumentos de metal da fábrica
Courtois, esclarece em contato via e-mail com o autor desta dissertação, que a Courtois foi a
primeira fábrica a constituir uma parceria com Rene Hagmann (s/d), o criador da válvula
hagmann.
Figura 49: Bass Trombone Courtois, model AC550.
Fonte: http://www.lemca.com. Acesso em 17 de março de 2016.
12 Os dados obtidos sobre o fabricante foram retirados em entrevista via e-mail com Tim Ornato, representante dos
instrumentos de metal da empresa.
77
A empresa Courtois é representada por alguns músicos da atualidade, dentre eles,
destacam-se Stefan Schulz (1971-) (Berlin Philharmonic Orchestra) e Vincent Debès (s/d-)
(Orchestre National de I´ Opéra de Lyon).
Edwards Instrument Company
A companhia Edwards surgiu em 1989 nos Estados Unidos da América. O primeiro
trombone baixo foi construído com as válvulas independentes (Si bemol/Fá/Sol bemol/Ré) no
ano de 1990. Atualmente, a companhia produz entre cem e duzentos trombones baixos
anualmente, que são divididos entre seis modelos: B454-E; B454-DE; B454-V; B454-CR-E;
B502-I e B502-D (Figura 50). Esses modelos se diferem por suas válvulas (válvulas cônicas ou
rotax), pelos sistemas dependente e independente, por seu calibre single bore com dimensão de
14,27 mm (0,562ʺ) ou dual bore com 14,27 mm/14,68 mm (0,562ʺ/0,578ʺ), além dos variados
tipos (yellow brass, rose brass e red brass), espessuras e tamanhos de campanas que medem
241 mm (9,5ʺ), 254 mm (10ʺ) e 266 mm (10,5ʺ)13.
Além dos modelos padronizados, a companhia oferece um serviço de
customização que parte do princípio de montar o instrumento em função da necessidade do
instrumentista.
Figura 50: Bass trombone Edwards, model B454.
Fonte: http://www.edwards-instruments.nl. Acesso em 17 de março de 2016.
13 Os dados obtidos foram retirados em entrevista via e-mail com Christian Griego (s/d), fabricante dos trombones
Edwards, além de pesquisa realizada no site da fábrica (http://www.edwards-instruments.com).
78
Atualmente, a Edwards Instruments Company é representada por alguns músicos,
dentre eles: Darrin Coleman Milling (1968-) (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e
James Markey (Boston Symphony Orchestra).
S.E. Shires Co.
A companhia Shires surgiu nos Estados Unidos da América no ano de 1995.
Fundada por Steve Shires (1959-), no primeiro ano produziu apenas três instrumentos. Em
1997, foram construídos os dois primeiros trombones baixos, sendo que um possuía apenas uma
válvula tradicional e o outro já com as duas válvulas cônicas no sistema independente.
Atualmente, a fábrica disponibiliza para a venda três modelos de trombones baixos: TBBO;
TBGC e TBBSCA (Figura 51). Todos os modelos possuem duas válvulas cônicas (axial flow),
sistema independente, com o calibre single bore de dimensão de 14,27 mm (0,562ʺ) ou dual
bore com 14,27 mm/14,68 mm (0,562ʺ/0,578ʺ), além da campana com a medida de 241 mm
(9,5ʺ)14.
Além dos modelos apresentados, a companhia também produz o instrumento de
acordo com as necessidades do cliente, pois fabrica uma variedade de campanas que se diferem
pela espessura, pela liga metálica, e pelo tamanho, que podem variar entre 241 mm (9,5ʺ), 254
mm (10ʺ) e 266 mm (10,5ʺ). Outra característica da empresa é a utilização de diferentes tipos
de válvulas. Além das válvulas cônicas, são disponibilizados os rotores tradicionais e a válvula
Tru-bore, criada pela própria companhia.
Figura 51: Bass trombone Shires.
Fonte: http://www.thomann.de. Acesso em 17 de março de 2016.
14 Os dados obtidos foram retirados em entrevista via e-mail com a própria fabricante, além de pesquisa realizada
no site da fábrica (http://seshires.com/trombones).
79
Os músicos que representam e difundem a empresa na atualidade são: Blair
Bollinger (Philadelphia Orchestra); Justin Clark (1981-) (Berne Symphony Orchestra) e
George Curran (New York Philharmonic Orchestra).
Thein Brass
A Companhia Thein Brass iniciou sua história em 1973, na Alemanha. O primeiro
instrumento construído pela fabricante foi um trombone baixo com válvulas dependentes (Fá e
Mi bemol). Posteriormente, o construtor Heinrich Thein (s/d-) desenvolveu o trombone alto, o
tenor e o contrabaixo. Em 1976, foram construídos os primeiros trombones baixos com válvulas
independentes. Atualmente, são produzidos em torno de quarenta trombones baixos por ano,
divididos em cinco modelos: Ben Van Dijk (Figura 52); Universal Zack Bond; Classic; Star
Valves e Universal Abhangige Ventile. Esses modelos se diferem pela dimensão de suas
campanas variando entre 240 mm (9,44ʺ), 245 mm (9,64ʺ) e 250 mm (9,84ʺ), pelo calibre single
bore de 14,4 mm (0,566ʺ) ou dual bore de 13,9 mm/14,4 mm (0,547ʺ/0,566ʺ) e pelo tipo de
válvulas (rotores tradicionais, hagmann e star valves)15.
Além dos modelos padrões que a empresa produz, a Thein Brass proporciona ao
trombonista baixo um serviço de customização de instrumentos.
Figura 52: Bass Trombone Thein, model Ben Van Dijk.
Fonte: http://thein-blechblasinstrumente.de. Acesso em 17 de março de 2016.
Atualmente, a fábrica Thein é representada e difundida por alguns trombonistas,
dentre os quais destacam-se: Ben Van Dijk (Rotterdam Philharmonic Orchestra); Brandt
15 Os dados obtidos foram retirados em entrevista via e-mail com a própria fabricante, além de pesquisa realizada
no site da fábrica (http://thein-blechblasinstrumente.de).
80
Attema (1978-) (Netherlands Radio Philharmonic Orchestra); Zachary Bond (1980-)
(Malaysia Philharmonic Orchestra) e Ricardo Santos (Orquestra Sinfônica Brasileira).
Vincent Bach
A empresa americana Vincent Bach surgiu no ano de 1918, em Nova York. Em seu
início, a produção ficou restrita somente a fabricação de bocais. Em 1928, a fábrica começou a
produzir os primeiros trombones baixos. Em 1961, Vincent Bach decidiu vender sua fábrica
para a companhia Selmer convencido de que a produção de um instrumental de alta qualidade
continuaria. Atualmente, existem dezenove tipos distintos de trombones baixos, dentre eles:
50A; 50A3; 50A3L; 50AF3; 50AF3G; 50AF3L; 50B; 50BO; 50B2; 50B2O; 50B2L; 50B2LO;
50B3; 50B3O; 50B3L; 50B3LO; 50T; 50T3 (Figura 53) e 50T3L. Todos os modelos da
empresa são construídos com o calibre single bore na dimensão de 14,27 mm (0,562ʺ), com
campanas que medem 241 mm (9,5ʺ) ou 266 mm (10,5ʺ) e com válvulas cônicas, hagmann e
rotores tradicionais. Vale salientar que a fabricante é uma das poucas do mercado que produz o
trombone baixo de uma válvula16.
Figura 53: Bass Trombone Bach, model 50T3.
Fonte: http://www.bachbrass.com. Acesso em 17 de março de 2016.
Como representantes da marca Bach, pode-se citar os trombonistas Charles Vernon
(1948-) (Chicago Symphony Orchestra), Martin Schippers (Royal Concertgebouw Orchestra)
e Tomer Maschkowski (1982-) (Deutsche Symphonie Orchestra).
16 Os dados obtidos foram retirados do site da própria fabricante (http://www.bachbrass.com).
81
Weril
A Weril é uma empresa com origens austríacas e foi fundada em 1909 na cidade de
São Paulo. Pedro Weingrill (s/d) migrou para o Brasil no final do século XIX e no início do
século XX deu início a produção de instrumentos de metal. Os primeiros trombones baixos
foram fabricados no início da década de 1990 com válvulas rotativas tradicionais de fabricação
alemã. Desde o início, o sistema de válvulas utilizado foi o independente, proporcionando ao
instrumento a afinação de Si bemol/Fá/Sol bemol/Ré (Figura 54). Atualmente, a Weril produz
apenas o trombone baixo modelo Weingrill&Nirschl com duas válvulas tradicionais, calibre de
14,3 mm (0,563ʺ) e campana de 241 mm (9,5ʺ)17.
Figura 54: Trombone Baixo Weril.
Fonte: http://www.instrumentalsavings.com. Acesso em 17 de março de 2016.
Yamaha
Diferentemente das fábricas citadas anteriormente, as quais são vinculadas com a
construção exclusiva de instrumentos musicais, a empresa japonesa Yamaha, trabalha com
diversos tipos de produtos, entre eles: instrumentos musicais, aparelhos eletrônicos,
motocicletas e equipamentos de esportes. A companhia surgiu em 1887 quando Torakusu
Yamaha (1851-1916) construiu seu primeiro órgão e, em 1965, iniciou a produção de
instrumentos de sopro. Atualmente, existem quatro modelos de trombone baixo: YBL-421G;
YBL-620G; YBL-822G (Xeno) e YBL-830 (Xeno) (Figura 55). Todos os modelos da fábrica
são construídos com calibre single bore na medida de 14,30 mm (0,563ʺ), campana com
dimensão de 241 mm (9,5ʺ) e rotores tradicionais com sistemas dependente e independente18.
17 Os dados obtidos foram retirados em entrevista via e-mail com a própria fabricante, além de pesquisa realizada
no site da fábrica (http://www.weril.com.br). 18 Os dados obtidos foram retirados do site da própria fabricante (http://usa.yamaha.com).
82
Figura 55: Bass Trombone Yamaha, model YBL-830.
Fonte: http://usa.yamaha.com. Acesso em 17 de março de 2016.
O principal representante dos trombones baixos Yamaha na atualidade é o
instrumentista Douglas Yeo (Ex-Boston Symphony Orchestra e Boston Pops Orchestra).
O mercado mundial é disputado também por outras marcas de trombones baixos,
como as americanas Blessing, Getzen e Conn, a inglesa Michael Rath, as alemãs Kuhnl & Hoyer
e Latzsch Custon Brass, a chinesa Jupiter, entre outras.
Vale ressaltar que nesse subcapítulo apresentou-se as principais especificidades de
cada empresa, embora haja outras diferenças entre elas, como a espessura da campana, o tipo
de latão utilizado, os tuning slides, os leadpipes, entre outras.
Como relatado até o momento, há diversas empresas que fabricam o trombone
baixo. Com o intuito de produzir um instrumento de qualidade, alguns trombonistas baixos são
convidados a filiarem-se a esses fabricantes, tendo como função, experimentar e sugerir
possíveis adequações aos produtos por elas produzidos.
Por haver grande quantidade de informações sobre os diferentes trombones baixos
que existiram, o presente trabalho optou por encerrar esse capítulo com ilustrações que
demonstram esses instrumentos e suas principais características (Figuras 56 e 57).
83
Figura 56: Ilustração que apresenta as características e as imagens dos trombones graves pesquisados.
Fonte: Autor.
84
Figura 57: Ilustração que apresenta as características e as imagens dos trombones graves pesquisados.
Fonte: Autor.
85
CAPÍTULO 2: A UTILIZAÇÃO DO TROMBONE BAIXO NO REPERTÓRIO SACRO
E SINFÔNICO
Este capítulo apresenta um estudo sobre a utilização do trombone baixo no
repertório sacro e sinfônico. Para isso, fez-se necessário uma investigação a respeito do
emprego dos trombones desde os primeiros consorts19 instrumentais do século XVI (Figura 58),
passando por distintas formações orquestrais existentes nos séculos subsequentes, até chegar a
orquestra sinfônica atual. No decorrer da pesquisa, observou-se que o instrumento foi
empregado com distintas características musicais ao longo dos séculos, as quais poderão ser
observadas em trechos orquestrais selecionados20 para esta dissertação.
Vale lembrar que o foco da pesquisa é o trombone baixo, um instrumento que faz
parte do naipe de trombones. Deste modo, é comum observar no decorrer do trabalho que serão
realizadas alusões ao naipe de trombones de uma forma geral.
2.1 - A atuação do trombone baixo no repertório sacro e sinfônico
Encontrar obras escritas especificamente para o trombone baixo no século XVI não
é uma tarefa simples, pois é justamente no final desse século que a música escrita se consolidava
por toda a Europa. Entretanto, a bibliografia existente expõe que nesse período os trombones
estavam diretamente relacionados a três tipos de trabalhos: eventos que ocorriam nas cortes;
festividades para autoridades civis e grupos musicais que atuavam em igrejas (HERBERT,
2006).
19 Consorts eram pequenos grupos de instrumentos mesclados. A formação do consort de sopros incluía o hautbois
(ancestral do oboé), corneto e o sacabuxa (trombone). No século XVII, consorts de sopros eram apreciados ao ar
livre, em reuniões de pessoas ilustres, com os consorts de cordas, mais suaves, sendo reservados para os interiores
(BURROWS, 2013, p.27). 20 Os trechos de obras sacras e sinfônicas que serão exibidos no decorrer do trabalho foram selecionados por
apresentarem as principais características e funções musicais que o trombone baixo e todo o naipe de trombones
exerceram ao longo dos séculos.
86
Figura 58: Iconografia italiana do século XVI que representa um grupo instrumental da época.
Fonte: www.kimballtrombone.com. Acesso em 02/12/2016.
Uma das obras mais antigas que possivelmente houve a utilização de um trombone
baixo, pois a tessitura exigia um trombone mais grave que o trombone tenor, foi a obra Motet
Ingredere (1539) do compositor Francesco Corteccia (1502-1571). Esse trabalho foi escrito
para o casamento do Duque de Florença no ano de 1539, tendo sido executado por vinte e quatro
cantores, quatro cornetos e quatro trombones (HERBERT, 2006). Um trecho da obra é
apresentado no Exemplo 7.
87
Exemplo 7: Trecho da partitura de Motet Ingredere de Francesco Corteccia. Compassos 1 ao 11.
Fonte: HIGH (2006, p. 18).
Outra obra de Francesco Corteccia que utilizou o naipe de trombones foi Intermedio
V (1539). Nessa composição, seria praticamente impossível o uso do trombone tenor na voz
mais grave, já que atinge notas como o Mi bemol 1. Portanto, supõe-se que também foi usado
um trombone baixo em sua execução (HIGH, 2006). Um trecho da obra pode ser observado no
Exemplo 8.
88
Exemplo 8: Trecho da partitura de Intermedio V de Francesco Corteccia. Compassos 1 ao 8.
Fonte: HIGH (2006, p. 19).
Outro registro que possivelmente teve o emprego do instrumento foi na coroação
da Rainha Elizabeth (1559) da Inglaterra. Essa celebração recorreu ao uso de vários
instrumentos, dentre eles, seis trombones. Provavelmente, o trombone baixo foi utilizado para
executar as partes graves da composição (HIGH, 2006).
Durante o século XVII, nota-se uma atividade mais intensa dos trombones tanto na
música sacra quanto na música secular. Um dos principais centros musicais que empregou os
trombones nas obras musicais nesse período foi a cidade italiana de Veneza. A Basílica de San
Marco, localizada em Veneza, destacou-se por sua produção musical com um estilo inovador,
sendo liderada por Andrea Gabrielli (1510-1586) e, posteriormente, por Giovanni Gabrielli
(1557-1612) (SANTOS, 2009).
As obras de Giovanni Gabrielli eram normalmente escritas para coros que poderiam
ser constituídos de três maneiras distintas: vocal, instrumental ou pela combinação de vozes e
89
instrumentos. Nas obras em que as vozes e os instrumentos atuavam no mesmo coro, as partes
eram dobradas, ou seja, os trombones foram frequentemente utilizados para dobrar as vozes do
coro. No entanto, nesse período os compositores ainda não tinham a prática de especificar o
instrumental que atuariam em suas composições. Outra característica empregada por Gabrielli
foi a disposição espacial que esses coros eram alocados na basílica, uma vez que o compositor
utilizava a arquitetura de San Marco para colocá-los em diferentes lugares, gerando um efeito
sonoro singular para o período.
Para exemplificar a utilização dos trombones nos trabalhos de Gabrielli, optou-se
por apresentar a Sonata pian e forte (1597). Essa é uma obra com formação inteiramente
instrumental e foi um dos poucos trabalhos que apresentaram designações específicas para os
trombones, pois segundo a instrumentação indicada, Gabrielli solicitou um coro formado por
um corneto e três trombones e outro coro constituído por um violino e também três trombones
(KROSSCHELL, 2008).
Na partitura da obra é possível observar os quatro instrumentos que compõem cada
coro atuando sempre em conjunto e explorando as diferenças de dinâmicas escritas pelo
compositor, uma novidade para a época. Em relação à parte designada ao trombone 6, nota-se
a atuação do instrumento em uma tessitura grave, diferentemente das outras vozes dos
trombones que trabalham no registro médio e agudo. Isto permite inferir que esta parte é tocada
por um instrumento que execute confortavelmente notas graves, ou seja, por um trombone
baixo, já que a escrita musical favorece o seu uso, como pode ser observado no Exemplo 9.
90
Exemplo 9: Trecho da partitura da Sonata pian e forte de Giovani Gabrielli. Compassos 65 ao 72.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 17 de março de 2017.
91
Ao mesmo tempo que Veneza se destacava por sua produção musical, um novo
gênero intitulado Intermedi21 surgiu em Florença. Segundo BURROWS (2013), esse novo
modelo musical tinha o intuito de recriar o estilo cantado das tragédias gregas antigas e era
caracterizado por ser interpretado entre os atos de peças teatrais. Esse estilo musical pode ser
considerado como o precursor das óperas (ORTOLAN, 1998).
A primeira ópera que ganhou notoriedade foi L´Orfeo (1607), de Claudio
Monteverdi (1567-1643), na qual necessita de diversos instrumentos, dentre eles, quatro
trombones (Figura 59).
Figura 59: Instrumentação da ópera L´Orfeo de Claudio Monteverdi.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 05 de maio de 2017.
No entanto, como já relatado, nesse período ainda não existia a prática comum de
nomear o instrumento para executar uma voz específica, como pode ser observado na própria
partitura de L´Orfeo (Exemplo 10).
21 Intermedio é uma forma de espetáculo dramático executado entre os atos de peças teatrais no Renascimento.
Inseriam-se intermedi com ação cênica nas comédias clássicas em Ferrara, no final do século XV, com uma
moresca (dança em mímica), entremeada com canções ou trechos declamados explicando a ação. Em Florença,
apresentavam-se intermedi espetaculares, em ocasiões de gala. O L´Orfeo, de Monteverdi, e outras das primeiras
óperas, devem muito à tradição do intermedio (SADIE, 1994 - p.459).
92
Exemplo 10: Trecho da partitura de L´Orfeo de Monteverdi. Compassos 23 ao 25 (Primo Atto).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 05 de maio de 2017.
Ao longo de toda a ópera, nota-se que os trombones foram requeridos apenas em
três momentos por Monteverdi, sendo dois trechos que o compositor designa um tutti stromenti
e outro solicitando por cinco trombones, e não apenas quatro, como aparece na instrumentação
inicial (Exemplo 11).
93
Exemplo 11: Trecho de L´Orfeo para ser executado por cinco trombones. Compassos 141 ao 144 (Atto Terzo).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 05 de maio de 2017.
Das três intervenções musicais que os trombones foram empregados, observa-se
que em duas estão dobrando as vozes do coro e na outra executam, juntamente com os
trompetes, uma fanfarra para sinalizar o início da ópera. Nesses trechos, nota-se que a voz mais
grave dos trombones, provavelmente executada por um quart-posaune, atua em uma tessitura
confortável para o instrumento, pois explora notas do registro médio/grave.
94
Mesmo com a indicação de quatro trombones no início da partitura e cinco
trombones no Atto Terzo, é comum as formações orquestrais atuais utilizarem ou não o naipe
na realização da ópera, pois, como relatado, Monteverdi escreveu a maior parte da obra para
cinco vozes, na qual os instrumentos atuam dobrando uns aos outros. Desse modo, fica a critério
do maestro a inclusão ou não do naipe de trombones. Contudo, quando usados, normalmente
são empregados os trombones alto, tenor e baixo.
Assim como Gabrielli e Monteverdi, outros compositores escreveram para os
trombones durante o século XVII, dentre eles: Tiburtio Massaino (1550-1608) com sua
Canzona (1608) para oito trombones; Giovanni Martino Cesare (1590-1667) com La Bavara
(1621) para quatro trombones; Samuel Scheidt (1587-1664) com dezesseis peças incompletas
para quatro trombones (1622/1627); Biagio Marini (1594-1663) que compôs uma Canzon
(1626) para quatro trombones; Johann Hentzschel (s/d) com a Canzon (1649) para oito
trombones e Johann Georg Braun (1656-1687) com seu Canzonato (s/d) também para quatro
trombones (HERBERT, 2006).
Durante esse período, as formações orquestrais eram normalmente constituídas por
cordas, cravo, oboé, fagote e trompa, acrescentando outros instrumentos quando necessário
(ORTOLAN, 1998). Não existia uma formação orquestral padrão, pois conforme as
composições necessitassem de mais músicos, eram solicitados às bandas militares e à igreja.
No final do século XVII, houve um certo declínio no uso do naipe de trombones
em diversas regiões da Europa. Na Inglaterra os trombones não foram mais utilizados em peças
executadas nas catedrais, na corte e na banda real inglesa (HERBERT, 2006). Na Escócia e na
França, as instituições que utilizavam os trombones seguiram a mesma tendência da Inglaterra
(KROSSCHELL, 2008).
Existiram alguns países que apresentaram um desuso parcial do naipe de
trombones. Na Itália, o naipe continuou sendo usado em algumas regiões, como Nápoles e
Roma. Em Veneza, especificamente na Basílica de San Marco, foram substituídos por
instrumentos de cordas (HERBERT, 2006). Na Alemanha, os trombones sobreviveram em
algumas cidades graças a uma profissão regularizada e com salário fixo, denominada
Stadtpfeifer22. Dentre as obrigações dessa profissão estavam apresentações oficiais, festivais,
casamentos e eventos da igreja (GUION, 1988).
22 Stadtpfeifer é um músico profissional empregado pelas autoridades municipais. O termo é usado nos países de
língua alemã desde o final do século XIV, quando se aplicava a menestréis empregados para uma ocasião
específica ou pagos por evento. Os contratos escritos começaram no século XV junto com salários mais regulares.
Entre os deveres incluíam-se os de tocar em comemorações oficiais, paradas festivas, visitas reais, bodas e
batismos da cidade e outras ocasiões eclesiásticas (SADIE, 1994 - p.897).
95
O declínio na utilização dos trombones nesse período pode ser atribuído a alguns
fatores, dentre os quais destaca-se a ascensão da música secular. O uso do naipe de trombones
possuía uma ligação forte com a música sacra, fato que colaborou para os compositores
escreverem menos para o instrumento na música secular no final do século XVII e parte do
século XVIII (HIGH, 2006). Outro fator é um relato que pode ser encontrado no manuscrito
criado por James Talbot (s/d) no final do século XVII. Nesse documento, Talbot descreveu que
os trombones foram trocados pelo French Basson, visto que o timbre desse instrumento
utilizado em conjunto com instrumentos de cordas atingia um equilíbrio sonoro mais
homogêneo (HERBERT, 2006).
Mesmo passando por um período de pouca utilização durante a primeira metade do
século XVIII, Johann Sebastian Bach (1685-1750) empregou os trombones em variadas obras
nesta época. Segundo BRAATZ (2010), o compositor escreveu diversas cantatas23 que
utilizaram um trombone alto, um tenor e um baixo para constituir o naipe. Normalmente, o
naipe era empregado com a função de dobrar as vozes do coro, entretanto, na cantata O Jesu
Christ meins Lebens Licht - BWV 118 (s/d) (Exemplo 12) o compositor utilizou o trombone
baixo dobrando a parte do baixo contínuo, o corneto com o violino 1, o trombone alto com o
violino 2 e o trombone tenor com as violas.
23 Cantata é o gênero mais importante de música de câmara vocal do período barroco; o principal elemento musical
do serviço luterano. Desde o final do século XVIII, o termo foi aplicado a uma ampla variedade de obras sacras e
seculares, na maioria para coro e orquestra, desde as cantatas de Beethoven por ocasião da morte e sucessão de
imperadores até as cantatas soviéticas patrióticas de Shostakovich. Algumas cantatas de Bach são retrospectivas
em sua utilização de um texto coral uniforme, mas a maioria mostra efeitos das reformas de Neumeister em c.1700,
com recitativo e ária da capo como elementos dominantes (SADIE, 1994 - p.164).
96
Exemplo 12: Trecho da partitura da Cantata O Jesu Christ meins Lebens Licht - BWV 118 de Johann Sebastian
Bach. Compassos 1 ao 12.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 05 de maio de 2017.
Na segunda metade do século XVIII teve início uma nova fase para a formação
orquestral. Obras dos compositores Joseph Haydn (1732-1809) e Wolfgang Amadeus Mozart
(1756-1791) ganharam popularidade por toda a Europa e, como consequência, passaram a ser
executadas em diversas regiões (ORTOLAN, 1998). Esse fato demonstrou a necessidade de
uma organização do corpo orquestral e, como resultado, a orquestra do período clássico
padronizou-se com uma seção de cordas formada por violinos, violas, violoncelos e
contrabaixos, além de serem acrescidos pares de oboés, flautas, fagotes, trompas, trompetes e
tímpanos. O clarinete foi empregado somente no final desse século (BURROWS, 2013).
97
Mesmo com essa organização orquestral, os trombones ainda não faziam parte da orquestra
padrão daquele período, porém, os compositores Christoph Willibald Gluck (1714-1787),
Wolfgang Amadeus Mozart e Joseph Haydn empregaram o naipe de trombones em algumas
obras, dentre elas as óperas Orfeo ed Euridice (1762), Alceste (1767), Don Giovanni (1787) e
Die Zauberflote (1791), além dos trabalhos sacros Mass in C minor (1783), Requiem in D minor
(1791) e The Creation (1797).
Nesse período, o naipe de trombones foi formado por um trombone alto, um tenor
e um baixo que atuavam respectivamente na primeira, na segunda e na terceira voz, tornando-
se a formação padrão durante todo período clássico e parte do período romântico (SANTOS,
2009). Na verdade, observa-se que desde o século XVI o naipe foi constituído dessa maneira,
embora existissem outras formações, as quais podem ser notadas em obras de Gabrielli e
Monteverdi. O fato é que, a partir do período clássico, o naipe de trombones padronizou-se
dessa forma, diferentemente dos séculos anteriores, onde utilizavam essa e outras constituições
diferenciadas.
Uma das obras que marcou a utilização do naipe de trombones no período clássico
é a ópera Orfeo ed Euridice. Nessa obra, percebe-se que o compositor empregou os trombones
em apenas dois momentos e com a função de substituir e dobrar as vozes do coro. O Exemplo
13 ilustra o dobramento entre os trombones e as vozes utilizado por Gluck.
98
Exemplo 13: Trecho da partitura da ópera Orfeo ed Euridice de Christoph Willibald Gluck que demonstra o
dobramento de vozes entre trombones e coro. Compassos 1 ao 7 (Chor).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 05 de maio de 2017.
Assim como em Orfeo ed Euridice, os trombones também foram empregados nas
óperas Don Giovanni e Die Zauberflote de Mozart. Segundo CARSE (1964), o uso do naipe
nas óperas desse período era normalmente atribuído aos momentos solenes ou às cenas trágicas.
Já nos trabalhos sacros dessa época, nota-se que o naipe de trombones esteve
diretamente ligado com a função de dobrar as vozes do coro, como pode ser visto na Mass in C
minor e no Requiem in D minor de Mozart, e no oratório The Creation de Haydn. Essas
composições apresentam elementos musicais sofisticados, que demandam leveza e agilidade na
execução, portanto, exigem técnica instrumental apurada por parte dos trombonistas. Para
CARSE (1964), essas obras representaram um alto nível de orquestração e a ampla combinação
99
de orquestra e vozes do período clássico. O Exemplo 14 demonstra o dobramento de vozes
entre trombones e coro escrito no Offertorium da obra Requiem in D minor.
Exemplo 14: Trecho da partitura do Offertorium do Requiem in D minor de Mozart que mostra o dobramento de
vozes entre trombones e coro. Compassos 44 ao 51.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 05 de maio de 2017.
Além de atuar no dobramento de vozes com o coro, o trombone baixo também age
em conjunto com outros instrumentos graves da orquestra. Utilizando o oratório The Creation
de Haydn como exemplo, observa-se fraseados melódicos entre o trombone baixo, os fagotes,
os violoncelos e os contrabaixos. Vale considerar que esses instrumentos não atuam em todos
os momentos em conjunto. Há trechos que aparecem somente o trombone baixo, os violoncelos
100
e os contrabaixos, outros apenas os fagotes e o trombone baixo, enfim, combinações
instrumentais que geram um maior volume sonoro no registro grave orquestral (Exemplo 15).
Exemplo 15: Trecho do oratório The Creation de Haydn que evidencia a combinação do trombone baixo, contra-
fagote e contrabaixos. Compassos 76 ao 80.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 05 de maio de 2017.
Como foi dito, tanto nos trabalhos sacros como nas óperas escritas até o final do
século XVIII, a função musical que predominou para o naipe de trombones foi o dobramento
101
com as vozes do coro, isto é, na maior parte das obras os trombones funcionavam como um
suporte para auxiliar a sonoridade e a afinação dos cantores. Além disso, constatou-se que na
escrita operística desse período o naipe de trombones foi empregado também para musicar
trechos solenes e cenas trágicas.
Especificamente em relação ao trombone baixo, além do apoio oferecido para as
vozes dos baixos e atuação como baixo contínuo, observa-se sua utilização em frases melódicas
em conjunto com fagotes, violoncelos e contrabaixos. Tal característica tornou-se frequente ao
longo do século XIX, sendo usada em diversas obras que poderão ser observadas no decorrer
da presente dissertação.
Nos trabalhos de Monteverdi, Bach, Gluck, Mozart e Haydn o trombone baixo foi
empregado em uma tessitura relativamente confortável, visto que esses compositores raramente
exploraram os registros graves e agudos do instrumento, embora na Mass in C minor e na ópera
Don Giovanni de Mozart apareçam as notas graves Dó 1 e Ré 1.
É importante salientar que as composições escritas até o final do período clássico
foram executadas por trombones de pequenas dimensões de campana e calibre, isto é, o
trombone baixo utilizado até esse período foi o quart-posaune ou o quint-posaune, já que,
segundo as bibliografias existentes, foi no século XIX que os construtores começaram a
aumentar as medidas de seus trombones.
No século XIX foram observadas algumas novidades relacionadas a orquestra
sinfônica, consequentemente, inovações em relação ao naipe de trombones. Nessa época, a
ocorrência de alguns avanços tecnológicos proporcionou melhorias em diversos instrumentos
e, como resultado, algumas adequações à formação orquestral foram realizadas.
Foi possível notar progressos no sistema de chaves dos instrumentos que compõem
a família das madeiras, o aumento nas dimensões estruturais dos trombones e o surgimento das
válvulas, que foram empregadas nos instrumentos de metal. Esses avanços propiciaram melhor
sonoridade, maior facilidade de execução, aumento de tessitura, melhor afinação, capacidade
do cromatismo nas trompas e nos trompetes, fornecendo assim, novos adjetivos a essas famílias
(CARSE, 1964).
Tais avanços possibilitaram também maior independência musical dessas famílias
na orquestra do século XIX, permitindo aos compositores, novos meios de explorar esses
instrumentos em um contexto orquestral sinfônico, gerando maior prestígio dessas famílias, já
que se tornaram capazes de desenvolver novas habilidades técnicas.
Novos instrumentos passaram a ser incorporados com regularidade na formação
orquestral. Isso trouxe uma expansão no tamanho do grupo, ocasionando um aumento de
102
volume sonoro em conjunto com uma variedade de novos timbres musicais. Dentre os
instrumentos incluídos, destacam-se o flautim, o corne-inglês, a requinta, o clarone, o contra-
fagote, o trombone, o bombardão, o oficleide e alguns instrumentos de percussão (CARSE,
1964). Para que não houvesse um desequilíbrio sonoro com a introdução desses instrumentos,
foi necessário aumentar a quantidade de músicos da família das cordas. É importante destacar
que essa expansão ocorreu de maneira gradativa ao longo do século XIX.
Nessa época, foi possível observar que os trombones passaram a ser usados com
maior frequência na orquestra sinfônica. Além de oratórios, missas e óperas, nas quais o naipe
de trombones já era empregado, as sinfonias e os concertos tornaram-se obras que passaram a
utilizar o naipe constantemente, proporcionando assim, uma posição estável aos trombones na
orquestra (DEL MAR, 1987).
A primeira referência encontrada sobre o uso dos trombones em uma sinfonia foi
ainda no século XVIII, com a Symphony in Eb (1760) do compositor Franz Beck (1734-1809).
Já no século XIX, os trombones apareceram na Symphony n° 3 (1807) do compositor Joachim
Nikolas Eggert (1779-1813) e no ano seguinte na Symphony n° 5 (1808) de Ludwig van
Beethoven (1770-1827) (JIMENEZ, 2011).
Com o surgimento de novos trombones (subcapítulo 1.2), os avanços tecnológicos
e a inserção do naipe nas sinfonias e concertos, o século XIX destacou-se pela massiva
utilização do naipe de trombones. Como consequência, diferentes compositores de variados
países europeus passaram a compor o naipe com uma maior liberdade, propiciando uma difusão
do instrumento de forma mais intensa do que havia sido vista nos séculos anteriores.
Na Áustria e na Alemanha, o naipe de trombones passou a ser frequentemente
formado por três trombones afinados em Si bemol que se diferenciavam por dimensões de
calibre, campana e bocal. O primeiro trombonista usava um instrumento sem válvulas, o
segundo um trombone com válvula em Fá de dimensões de tamanho médio e o terceiro utilizava
um trombone baixo de grandes medidas que os construtores alemães Sattler, Kruspe, Heckel
fabricavam na época. Ressalta-se que esses instrumentos possuíam maiores dimensões que os
instrumentos produzidos até o início do século XIX (BAINES, 1993).
Na França, o trombone baixo foi raramente visto nessa época e o trombone alto
utilizado por pouco tempo, portanto, o naipe que se tornou padrão das orquestras francesas era
formado por três trombones tenores afinados em Si bemol (BERLIOZ, 1858). Esses
instrumentos eram produzidos no país e possuíam calibres e campanas com pequenas e médias
dimensões quando comparados com os instrumentos alemães produzidos na mesma época
(BAINES, 1993).
103
Na Itália, assim como na França, o naipe era comumente formado por três
trombones tenores em Si bemol de dimensões pequenas e médias (HERBERT, 2006). Além
dos trombones tenores, observou-se também o uso do trombone de válvulas e do cimbasso, o
qual tornou-se o novo representante da voz mais grave dos sopros. Esse instrumento foi
empregado em obras de Giuseppe Verdi, Antônio Carlos Gomes (1836-1896), Giacomo
Puccini, entre outros compositores operísticos do século XIX (KERR, 2016).
Na Inglaterra, o naipe de trombones optou por utilizar trombones de pequenas
dimensões de calibre e campana, tendo como trombone baixo o instrumento afinado em Sol,
que posteriormente adquiriu uma válvula em Ré. Esse naipe perdurou até meados do século XX
quando foram substituídos por instrumentos americanos de grandes dimensões (DIXON, s/d).
Com essas alterações, percebe-se que os compositores passaram a explorar os
trombones de diversas formas no contexto orquestral. Segundo CARSE (1964), na primeira
metade do século XIX, os compositores franceses e italianos normalmente utilizaram o naipe
para preenchimento harmônico da família dos metais, além de empregá-los em tuttis orquestrais
com grande potência sonora. Já os alemães, empregaram o naipe em tuttis orquestrais e também
em coros24 com leves dinâmicas que exploravam nuances do instrumento. Na segunda metade
do século XIX, os compositores russos demonstraram a potência sonora do naipe de trombones,
assim como pode ser visto também em diversas obras operísticas de Richard Wagner.
Enfim, a música sinfônica do século XIX se espalhou por vários países europeus,
com diversos compositores que empregaram os trombones em seus trabalhos, aliado ao
surgimento de novos instrumentos que foram incorporados gradativamente na orquestra
sinfônica. Dessa forma, é difícil estabelecer um padrão para a formação do naipe de trombones
do século XIX. No entanto, as páginas a seguir apresentam as características que o naipe de
trombones, com foco no trombone baixo, foi empregado por compositores do século XIX.
No início do século XIX, os compositores alemães frequentemente utilizavam o
naipe de trombones como preenchimento harmônico e em tuttis orquestrais. Nesses trechos, é
comum observar o trombone baixo com as notas da fundamental dos acordes, fortalecendo a
base harmônica da obra. Essas peculiaridades podem ser notadas na Symphony n° 5 de
Beethoven, uma das primeiras obras em que os trombones atuam em um contexto orquestral
sinfônico, pois não trabalham com funções de dobramento ou reforço para as vozes de um coral.
Nessa obra, o naipe toca somente no 4° movimento e age preenchendo a harmonia da
composição, além de ser utilizado nos tuttis com ampla sonoridade. O Exemplo 16 apresenta o
24 Coros são grupos de cantores que se apresentam juntos, na distribuição de vozes tradicional. O termo designa,
ainda, vários tipos de instrumentos (SADIE, 1994 - p. 227).
104
início do 4° movimento, evidenciando o naipe de trombones na execução de um tutti orquestral
com a função de compor a harmonia da obra.
Exemplo 16: Partitura da Symphony n° 5 de Beethoven que demonstra o naipe de trombones em um tutti
orquestral. Compassos 374 ao 380.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 10 de maio de 2017.
Observa-se na Symphony n° 9 de Beethoven outra particularidade. Embora no 4°
movimento o naipe de trombones seja usado para dobrar as vozes do coro, no 2° movimento é
possível notar a combinação do trombone baixo com violas e violoncelos em uma melodia entre
os compassos 492 e 502. Vale destacar que esse tipo de fusão instrumental já tinha aparecido
nos trabalhos sacros Mass in C minor de Mozart e The Creation de Haydn. O Exemplo 17
refere-se à melodia citada.
105
Exemplo 17: Parte do trombone baixo do 2° movimento da Symphony n° 9 (1822/1824) de Beethoven que
demonstra uma pequena melodia executada por violas, violoncelos e o trombone baixo. Compassos 473 ao 688.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 10 de maio de 2017.
Da mesma maneira que os compositores do período clássico, Beethoven manteve o
naipe de trombones constituído por um trombone alto, um tenor e um baixo na maior parte de
suas obras. Entretanto, na ópera Fidelio (1804/1805) e na Symphony n° 6 (1808), o compositor
optou por utilizar apenas dois trombones.
A atuação do naipe de trombones em tuttis orquestrais, a função de preenchimento
harmônico e a combinação do trombone baixo com outros instrumentos graves podem ser
também observadas em trabalhos do compositor austríaco Franz Schubert (1797-1828).
Utilizando a Symphony n° 8 – Unfinished (1822) como exemplo, os trombones são usados no
primeiro movimento basicamente com funções de preenchimento harmônico com efeitos de
sforzando ou forte-piano acompanhados de crescendo ou decrescendo. Nota-se também o
emprego do naipe com as cordas graves em uma longa melodia em intervalos de oitavas justas,
o que proporciona uma ampla sonoridade no registro grave orquestral (Exemplo 18).
106
Exemplo 18: Partitura da Symphony n° 8 de Schubert que mostra uma melodia entre trombones e cordas graves.
Compassos 176 ao 189.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 10 de maio de 2017.
Outra intervenção constatada é no final da obra, na qual os fagotes, os clarinetes e
o trombone baixo executam em conjunto um solo legato em dinâmica ppp, o que exige um
eficiente controle técnico de execução por parte do trombonista baixo (Exemplo 19).
107
Exemplo 19: Partitura da Symphony n° 8 de Schubert que mostra o final da obra, na qual clarinetes, fagotes e
trombone baixo executam uma passagem solista em ppp. Compassos 280 ao 299 (2° movimento).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 10 de maio de 2017.
Como já relatado, no século XIX, o trombone baixo e toda sua família começaram
a ser construídos com dimensões maiores, todavia, não é possível afirmar que esses
instrumentos foram utilizados nas obras de Beethoven e Schubert, visto que a primeira metade
desse século foi um momento de transição entre esses instrumentos. Existe a possibilidade de
algumas regiões europeias terem usado trombones com grandes dimensões, em contrapartida,
outros países ainda utilizavam os instrumentos com pequenas dimensões. De fato, as
publicações de HERBERT (2006) e CARSE (1964) relatam que o quart-posaune foi trocado
pelo trombone tenor/baixo no decorrer do século XIX.
Assim como nos trabalhos sinfônicos do início do século XIX, o naipe de
trombones foi frequentemente empregado com as mesmas funções musicais nas orquestras de
óperas desse período. Essas características podem ser notadas em diversas óperas do compositor
108
Gioachino Rossini (1792-1868), que frequentemente escreveu para o naipe em uníssonos ou
em oitavas justas, proporcionando um maior volume sonoro orquestral.
Da mesma forma que Schubert, que empregou o naipe de trombones em longas
melodias, favorecendo um momento de protagonismo para o naipe, o compositor Rossini
também usou os trombones da mesma maneira. Contudo, Rossini usou elementos musicais que
requerem uma técnica mais apurada do instrumentista, pois exigem agilidade e precisão na
execução. Essa característica pode ser observada nas óperas La Gazza Ladra (1817) e
Guillaume Tell (1824/1829) (Exemplo 20).
Exemplo 20: Solo escrito para o naipe de trombones em Guillaume Tell Overture de Rossini.
Compassos 92 ao 140.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 10 de maio de 2017.
Há uma questão sobre o uso dos trombones na ópera La Gazza Ladra (Exemplo
21). Segundo YEO (s/d), ex-trombonista baixo da Boston Symphony Orchestra, Rossini
escreveu a obra para uma orquestra pequena com apenas um trombone, e não especificou se era
109
para um trombone tenor ou para um trombone baixo25. Assim, a obra normalmente é executada
por um trombonista baixo, pois não explora as regiões extremo agudas do instrumento. Por
outro lado, Ebenezer Prout apud HERBERT (2006), pontua que nesse período os compositores
italianos utilizavam somente trombones tenores em suas instrumentações. O fato é, que
atualmente essa obra é normalmente executada por um trombonista baixo, embora algumas
edições tenham aumentado o tamanho da orquestra, indicando três trombones para interpretar
essa composição.
Exemplo 21: Solo escrito para o trombone na obra La Gazza Ladra de Rossini. Compassos 113 ao 139.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 10 de maio de 2017.
Assim como nas óperas italianas, que exploravam um maior volume sonoro do
naipe de trombones, Hector Berlioz (1803-1869) foi outro compositor que aplicou esse recurso
na escrita para o naipe. Para CARSE (1964), Berlioz foi um dos mais originais orquestradores
desse período e um dos responsáveis pela ampliação da orquestra sinfônica, já que a maior parte
de suas composições contava com muitos instrumentos de cordas, três flautas, flautins, oboés,
corne-inglês, clarinetes, clarone, três ou quatro fagotes, trompas, três ou quatro trompetes,
cornetes, três trombones, oficleide, tuba, harpas e diversos instrumentos de percussão.
Do mesmo modo como ocorreu com a orquestra sinfônica, Berlioz também fez
alterações no naipe de trombones. A tradição clássica de formar o naipe por um trombone alto,
um tenor e um baixo não era mais um padrão na Europa. Desse modo, a maioria das orquestras
25 Essas informações foram extraídas do site do trombonista baixo Douglas Yeo (http://www.yeodoug.com).
Acesso em 11/01/2017.
110
francesas optou por empregar três trombones tenores em Si bemol que se distinguiam por suas
dimensões de calibre e campana.
Em seu tratado, A Treatise upon Modern Instrumentation and Orchestration
(1858), Berlioz demonstra o apreço que possuía pelo naipe de trombones. Isso pode ser
observado na seguinte citação, pois para o compositor:
O trombone é, em minha opinião, o verdadeiro chefe dos instrumentos de sopros que
eu tenho nomeado como instrumentos épicos. Ele possui um grau eminente, tanto em
nobreza como em grandeza; tem todos os tons profundos e poderosos da alta poesia
musical, do tom religioso, calmo e imponente, para o clamor selvagem da orgia26
(BERLIOZ, 1858 - p.156).
Além de sua admiração pelo naipe, Berlioz deixa claro sua preferência pelo
trombone tenor, como consta na seguinte citação, que diz:
Este é, sem dúvida, o melhor de todos. Ele tem uma sonoridade cheia e poderosa; pode
executar passagens cuja rapidez as torna impraticáveis no trombone baixo; e a
qualidade de som é boa ao longo de toda a extensão de sua escala27 (BERLIOZ, 1858
- p.152).
Berlioz expõe que o trombone baixo afinado em Fá ou em Mi bemol era
praticamente desconhecido na França, bem como o trombone alto, que foi utilizado por pouco
tempo nas orquestras francesas. Portanto, é possível inferir que após o Classicismo, o
compositor foi um dos pioneiros na especificação de obras sinfônicas para primeiro, segundo e
terceiro trombone (BERLIOZ, 1858).
Nesse período, era comum composições de outros países serem executadas na
França e vice-versa, com isso, existiam trabalhos que necessitavam da execução de um
trombone baixo, pois o trombone tenor não era capacitado para executar algumas notas graves.
Berlioz simplesmente optava por transportar essas notas em uma oitava justa acima, assim,
mantinha o naipe formado somente por trombones tenores em Si bemol (HERBERT, 2006).
É possível notar na escrita de Berlioz para o naipe de trombones algumas
influências das orquestras de óperas, das bandas amadoras e militares europeias, pois
exploravam os extremos de dinâmica característico dessas formações musicais, apresentavam
26 The trombone is, in my opinion, the true chief of that race of wind instruments which I have designated as epic
instruments. Its possesses, in na eminet degree, both nobleness and grandeur; It has all the deep and powerful
accents of high musical poetry, from the religious accents, calm and imposing, to the wild clamours of the orgy.
(BERLIOZ, 1858 - p.156). 27 This is, without doubt, the best of them all. It has a full and powerful sonorousness; it can execute passages
whose rapidity renders them impracticable on the bass trombone; and its quality of tonei s good throughout the
whole extent of its scale (BERLIOZ, 1858 - p.152).
111
semelhanças em aspectos técnicos de articulações e fraseados, além de utilizarem frases em
uníssonos que possibilitavam grande volume sonoro (HERBERT, 2006).
Em relação à voz mais grave do naipe de trombones, observa-se que o compositor
explorou toda a tessitura do instrumento. Embora apareçam algumas notas no registro agudo, é
comum notar o uso de notas na região pedal, como pode ser visto nas obras Symphonie
Fantastique (1830), Te Deum (1848/1849), La Damnation de Faust (1845/1846) (Exemplo 22)
e Grande Messe des Morts (1837).
Exemplo 22: Trecho da partitura do 3° trombone da obra La Damnation de Faust de Hector Berlioz que
demonstra notas do extremo grave do instrumento. Compassos 1 ao 128 (XVIII).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 12 de maio de 2017.
Outra peculiaridade encontrada no emprego dos trombones no decorrer do século
XIX são os coros escritos para o naipe. Os compositores Robert Schumann (1810-1856) e
Johannes Brahms (1833-1897) exploraram com frequência essa característica. A maior parte de
seus trabalhos apresentam estruturas harmônicas com leves dinâmicas que possibilitam
momentos de protagonismo ao naipe e demonstram a capacidade dos trombones atuarem não
apenas com poderosa sonoridade, mas também com sutileza e menor volume. Segundo
BERLIOZ (1858), a sonoridade produzida pelos trombones alto, tenor e baixo são semelhantes
ao som das vozes humanas e esse tipo de escrita pode comprovar essa similaridade, sendo
112
facilmente encontrada nas sinfonias desses compositores. Esse pode ser um dos motivos que
Schumann e Brahms frequentemente escreveram para o naipe formado por um trombone alto,
um tenor e um baixo.
Um exemplo da escrita para coro de trombones pode ser visto no quarto movimento
da Symphony n° 3 (1850) de Schumann (Exemplo 23). Esse movimento inicia-se com um coro
em cantabile com dinâmica pp para trombones, trompas e fagotes e, requer por parte do
primeiro trombonista uma boa técnica de execução, uma vez que explora notas muito agudas,
como o Mi bemol 4. Na sequência, Schumann coloca novamente os trombones como solista,
escrevendo um solo lento e cantabile realizado primeiramente pelo trombone baixo (Exemplo
24) e posteriormente pelo primeiro trombone.
Exemplo 23: Coro da Symphony n° 3 de Schumann. Compassos 1 ao 6 (4° movimento).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 12 de maio de 2017.
113
Exemplo 24: Partitura do solo escrito para o trombone baixo na Symphony n° 3 de Schumann.
Compassos 1 ao 22 (4° movimento).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 12 de maio de 2017.
Outro exemplo de coro escrito para o naipe de trombones pode ser visto na
Symphony n° 1 (1862/1876) de Brahms. Nessa obra, os trombones e os fagotes executam um
pequeno coro em dinâmica p e essa combinação musical produz uma sonoridade semelhante a
um órgão de tubos, gerando um efeito singular para 4° movimento da obra do compositor
(Exemplo 25).
Exemplo 25: Coro de trombones e fagotes da Symphony n° 1 de Brahms. Compassos 47 ao 51 (4° movimento).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 12 de maio de 2017.
114
Tal como Berlioz, os trabalhos de Richard Wagner também tiveram importância
para a ampliação numérica da orquestra sinfônica. O compositor escreveu para grandes
instrumentações, como pode ser observado obras com oito trompas, quatro trompetes, um
trompete baixo, o trombone contrabaixo, a tuba, diversos instrumentos de percussão, duas
harpas, enfim, um aumento considerável de músicos e, consequentemente, uma ampliação no
volume sonoro orquestral (CARSE, 1964).
No emprego dos trombones, nota-se que Wagner utilizou com frequência uma
maior conexão entre os instrumentos da família dos metais, que passaram a atuar de forma mais
integrada, diferentemente das décadas anteriores, na qual as trompas associavam-se às
madeiras, os trompetes com os tímpanos e os trombones com as cordas graves. Além disso,
observa-se o uso da ampla sonoridade em uníssonos e em intervalos de oitavas justas nos
trombones, como pode ser visto nos solos escritos para o naipe nas obras Der Fliegende
Hollander (1840/1841) (Exemplo 26), Tannhauser (1845/1860) e Lohengrin (1846/1848), onde
demonstram que o compositor apreciava o peso e o poder sonoro do naipe de trombones.
Exemplo 26: Solo escrito para o naipe de trombones em Der Fliegende Hollander de Richard Wagner.
Compassos 234 ao 243.
Fonte: Arquivo pessoal.
115
Uma prática comum entre alguns compositores alemães dessa época, foi escrever
suas obras para o naipe formado por um trombone alto, um tenor e um baixo, como pode ser
notado em composições de Beethoven, Schumann e Brahms, os quais ainda seguiam alguns
padrões do período clássico. Contudo, Wagner fugiu dessa tradição e especificou a formação
instrumental do naipe de duas maneiras: trombone I; trombone II e trombone III, assim como
Berlioz estava procedendo na França, ou para três trombones tenores/baixos. Essa especificação
pode ser vista em Der Ring des Nibelungen, na qual Wagner empregou quatro trombones,
evidenciando em sua partitura a utilização específica de três trombones tenores/baixos e um
trombone contrabaixo.
Assim como Berlioz e Wagner, compositores como Piotr Ilich Tchaikovsky (1840-
1893), Alexander Borodin (1833-1887), Modest Mussorgsky (1839-1881) e Nikolai Rimsky
Korsakov (1844-1908), também empregaram o naipe de trombones com grande potência sonora
na música sinfônica do século XIX.
Utilizando Tchaikovsky como exemplo, CARSE (1964) afirma que uma das
principais características do compositor é a forma com que as vozes eram distribuídas em suas
obras, pois nota-se o comum emprego de duas partes melódicas, uma harmônica e uma linha
de instrumentos graves atuando simultaneamente. Esses aspectos foram normalmente
combinados com grandes intensidades sonoras e podem ser visualizados em suas últimas três
sinfonias.
Tchaikovsky soube explorar a poderosa sonoridade do naipe de trombones, onde
frequentemente atuava em conjunto com a tuba, formando um quarteto de metais graves que
proporcionou grande potência sonora ao corpo orquestral. Algumas vezes atuando em separado,
tendo os trombones tenores com os outros metais e o trombone baixo e a tuba em conjunto com
os contrabaixos, os violoncelos e os fagotes, o compositor criava uma linha melódica de
instrumentos graves que, por sua potência sonora, normalmente era liderado pelo trombone
baixo. Isso pode ser observado em 1812 Overture (1880), Symphony n° 4 (1877/1878),
Symphony n° 5 (1888), Symphony n° 6 (1893), The Nutcracker (1892) (Exemplo 27), The
Tempest (1873), entre outras obras do compositor.
116
Exemplo 27: Frase musical de Nutcracker que demonstra as combinações de trompetes e trombones tenores,
bem como a de trombone baixo, tuba e cordas graves. Compassos 42 ao 45 (Pas de Deux).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 14 de maio de 2017.
Sobre a constituição do naipe, Tchaikovsky utilizou as especificações trombone
tenor I, trombone tenor II e trombone baixo, embora, algumas vezes optou por usar as
nomenclaturas de trombone I, II e III. Vale lembrar que nessa época o naipe de trombones já
era frequentemente formado por dois trombones tenores e um trombone tenor/baixo (DEL
MAR, 1987). Para que não haja nenhuma dúvida, o trombone tenor possuía dimensões
medianas e era afinado em Si bemol com a possibilidade de ter ou não a válvula em Fá. Por
outro lado, o trombone tenor/baixo tinha dimensões maiores e também era afinado em Si
Bemol, porém, obrigatoriamente com a válvula em Fá.
Comumente empregado com maior amplitude sonora, ou seja, em dinâmicas f e ff
e com frases em marcatto ou stacatto, a combinação do trombone baixo com a tuba apareceu
também de outras formas, como em frases leves e cantabiles. Tal característica pode ser
117
observada na obra Carnival Overture (1891) (Exemplo 28) do compositor Antonín Dvorák
(1841-1904).
Exemplo 28: Combinação de um trecho cantabile com dinâmica ppp, articulação legato e intervalos de oitavas
justas entre trombone baixo e tuba escrito por Dvorák em Carnaval Overture. Compassos 271 ao 298.
Fonte: Arquivo pessoal.
Assim como nas obras de Berlioz, composições do final do século XIX e XX também
apresentaram uma expansão na tessitura da terceira voz do naipe de trombones. Um dos fatores
que auxiliou esse processo foi a troca do quart-posaune em Fá pelo trombone tenor/baixo em
Si bemol/Fá ocorrida durante o século XIX.
Dentre algumas obras onde a tessitura aguda do trombone baixo foi explorada,
destacam-se: a Symphony in D minor (1888) (Exemplo 29) de César Auguste Franck (1822-
1890); a Symphony n° 1 (1884/1888) e a Symphony n° 2 (1888/1894) de Gustav Mahler (1860-
1911); Also sprach Zarathustra (1896) e Till Eulenspiegels lustige Streiche (1894/1895) de
Richard Strauss; Petrushka (1911) de Igor Stravinsky; Háry János (1926) de Zoltán Kodály
(1882-1967), entre outras.
118
Exemplo 29: Trecho em tessitura aguda escrito para o trombone baixo na Symphony in D minor de César Franck.
Compassos 267 ao 278 (3° movimento).
Fonte: Arquivo pessoal.
No século XX, os compositores também empregaram elementos musicais que
exigiam uma técnica de execução mais apurada, pois, além de notas longas, observou-se o
emprego de frases melódicas que exploraram o registro grave do instrumento. Essa
característica pode ser vista nas Symphony n° 5 (Exemplo 30) e Symphony n° 6 (1903) de
Mahler, em Also sprach Zarathustra e Till Eulenspiegels lustige Streiche de Strauss, The
Miraculous Mandarin (1918/1824) de Béla Bartók (1881-1945), Fontane di Roma (1916) de
Ottorino Respighi (1879-1936), Gurre-Lieder de Arnold Schoenberg, entre outras obras.
Exemplo 30: Trecho escrito para o trombone baixo na Symphony n° 5 de Mahler, que utiliza a articulação
stacatto na tessitura grave do instrumento. Compassos 250 ao 254 (1° movimento).
Fonte: Arquivo pessoal.
Vale salientar que os compositores desse período normalmente especificavam o
naipe em trombones I, II, III e, quando necessário, trombone IV. No entanto, quando a partitura
119
da quarta voz do naipe apresentava notas do extremo grave do instrumento, isto é, a região das
notas pedais, a obra era frequentemente executada por um trombone contrabaixo.
Também no século XX, nota-se o emprego do trombone baixo e de todo naipe em
alguns efeitos sonoros, como uso de surdinas (Exemplo 31), glissandos (Exemplo 32), frullatos
(Exemplo 33), enfim, particularidades utilizadas em diversas ocasiões pelos compositores desse
período. Esses elementos produzem distintos efeitos sonoros, podendo ser visualizados em
obras de Igor Stravinsky, Richard Strauss, Heitor Villa-Lobos (1887-1959), Béla Bartók, entre
outros.
Exemplo 31: Partitura do trombone baixo de Petrushka que mostra um trecho agudo com surdina em uníssono
com os outros trombones. Compassos 88 ao 111.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 17 de maio de 2017.
Exemplo 32: Glissando escrito para o trombone baixo no Concerto for Orchestra (1943) de Béla Bartók.
Compasso 90 (4° movimento).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 15 de maio de 2017.
120
Exemplo 33: Frullatos escritos para o trombone baixo em Don Quixote (1897) de Richard Strauss.
Compassos 1 ao 35 (Variação II).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 15 de maio de 2017.
Após apresentar aspectos específicos do trombone baixo no repertório sacro e
sinfônico orquestral, a Tabela 7 demonstra as afinações, a quantidades de válvulas e as
dimensões de calibres e de campanas dos trombones baixos pesquisados, os quais foram
utilizados no decorrer da história da música.
Tabela 7: Tabela que demonstra as afinações, dimensões de calibres, de campanas e quantidade de válvulas dos
trombones baixos utilizados na música sacra e sinfônica nos distintos séculos.
Séculos Trombone baixo utilizado
XVI
XVII
XVIII
quart-posaune (Fá) ou quint-posaune (Mi bemol) de pequenas dimensões
- Calibre: entre 9,3 mm (0,366ʺ) e 13,5 mm (0,531ʺ)
- Campana: entre 116 mm (4,56ʺ) e 129,5 mm (5,09ʺ)
XIX
França: trombones em Si bemol de pequenas/médias dimensões
Itália: trombones em Si bemol de pequenas/médias dimensões e
trombones de válvulas
Inglaterra: trombone baixo em Sol/Ré de médias dimensões -
calibre:12,29 mm (0,484ʺ)
Alemanha e outros países: trombone tenor/baixo em Si bemol/Fá de
grandes dimensões - calibre aproximado de 14 mm (0,551ʺ) e campana
entre 232 mm (9,13ʺ) e 250 mm (9,84ʺ)
XX
XXI
Trombone baixo de grandes dimensões com uma ou duas válvulas
- Afinações: Si bemol/Fá, Si bemol/Fá/Mi, Si bemol/Fá/Ré, Si
bemol/Fá/Sol/Mi bemol, Si bemol/Fá/Sol bemol/Ré, Si bemol/Fá/Ré/Si
- Calibre: entre 13,46 mm (0,530ʺ) e 14,27 mm (0,562ʺ) ou 14,27
mm/14,68 mm (0,562ʺ/0,578ʺ)
- Campana: entre 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ)
Fonte: Autor.
121
Como constatado até o presente momento da dissertação, as particularidades
apresentadas no emprego do trombone baixo podem ser classificadas do seguinte modo: a
substituição e o dobramento das vozes do coro; a execução da voz do baixo contínuo; a
combinação com instrumentos graves da família das cordas e das madeiras; o emprego nos
tuttis orquestrais; a sonoridade leve nos coros de Schumann e Brahms; a potência sonora em
conjunto com o naipe; a fusão musical com a tuba; a ampliação da tessitura; os efeitos de
glissando e surdinas, além de alguns solos. Dessa forma, no próximo subcapítulo, tais aspectos
serão apresentados e relacionados com questões e sugestões de performance musical.
2.2 - Caraterísticas no emprego do trombone baixo na atualidade: recomendações
interpretativas e instrumentais
Após demonstrar as funções e as características musicais designadas ao trombone
baixo no decorrer dos séculos, este subcapítulo apresenta aspectos relacionados à performance
de trechos orquestrais selecionados contendo as peculiaridades exibidas no subitem 2.1. As
sugestões e as recomendações oferecidas foram embasadas nas publicações de WICK (2011) e
KLEINHAMMER (1963), nas entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em
orquestras sinfônicas28 de extrema relevância na atualidade, assim como na experiência do
próprio autor como trombonista baixo atuante em orquestra sinfônica profissional desde 2005.
Além desses, os ensaios realizados para as gravações dos arquivos de áudios dos excertos
orquestrais selecionados, que servirão como referencial auditivo dos elementos musicais
empregados, foram de grande valia, pois propiciaram reflexões relevantes acerca de aspectos
performáticos que serão apresentados a seguir.
Como relatado no decorrer do trabalho, o trombone baixo compõe o naipe de
trombones, desse modo, nota-se que em diversas obras orquestrais o instrumento apresenta as
mesmas características musicais que todo o naipe. Sendo assim, em quatro dos dez subcapítulos
a seguir discorreu-se sobre o naipe de trombones. Entretanto, vale ressaltar que o foco deste
trabalho é o trombone baixo, portanto, as sugestões interpretativas e de dimensões de campanas
têm o enfoque estritamente relacionado a esse instrumento.
2.2.1 - O naipe de trombones com a função de substituir e/ou dobrar as vozes do coro
Como já relatado no subcapítulo 2.1, até o final do século XVIII o naipe de
trombones foi frequentemente empregado com o papel de substituir e/ou dobrar as vozes do
28 A relação e o conteúdo das entrevistas encontram-se no decorrer do texto e no Apêndice 1 desta dissertação.
122
coro. Tal função musical pode ser observada nas óperas L´Orfeo de Claudio Monteverdi, Orfeo
ed Euridice de Christoph Willibald Gluck, Die Zauberflote (1791) de Mozart, além de aparecer
também em trabalhos sacros, como na Mass in C minor (1727) e em algumas cantatas de Bach,
Mass in C Minor e Requiem in D minor de Mozart e The Creation de Haydn.
Essa característica foi normalmente designada para o naipe formado por um
trombone alto, um tenor e um baixo, que dobravam ou substituíam respectivamente as vozes
dos contraltos, dos tenores e dos baixos, com o objetivo de oferecer um reforço para sonoridade
e para a afinação dos cantores.
A eficiência em poder atuar com diferentes níveis de dinâmicas, o cromatismo,
visto que nesse período era o único instrumento da família dos metais com essa capacidade, o
timbre semelhante à voz humana, como afirma BERLIOZ (1858) em seu tratado, são alguns
dos fatores que favoreceram para que os compositores empregassem o naipe dessa forma.
Para exemplificar a combinação entre trombones e vozes, selecionou-se um trecho
do Offertorium do Requiem in D minor de Mozart (Exemplo 34).
123
Exemplo 34: Partitura do Offertorium do Requiem in D minor de Mozart que demonstra o dobramento de vozes
entre os trombones e o coro. Compassos 44 ao 55.
Fonte: http://imslp.org. Acesso em 21 de maio de 2017.
124
Nessa passagem é possível destacar alguns aspectos relevantes para uma execução
musical satisfatória. Primeiramente, percebe-se que o compositor não escreveu sinais de
articulação, portanto, cabe aos trombonistas entenderem as articulações realizadas pelas vozes
do coro para reproduzi-las no instrumento, já que executam a mesma frase que os cantores.
Outro detalhe observado é em relação à dinâmica f especificada pelo compositor. No período
clássico, as orquestras eram menores, os trombones possuíam pequenas dimensões de calibres
e campanas e atuavam apenas para reforçar as vozes. Assim, sugere-se que os trombonistas
procedam com uma dinâmica f relativa ao contexto orquestral inserido, pois devem lembrar que
atuam apenas como um suporte para o protagonismo dos cantores (o subcapítulo 2.2.6 apresenta
elementos que proporcionam um melhor entendimento sobre questões relacionadas à
dinâmica).
Outro fator de relevância é o direcionamento ou a condução do fraseado musical
que possibilita uma sensação de movimento na frase, gerando assim, uma pulsação uniforme.
Nesse trecho, os trombones tocam com vozes independentes, mas com a mesma figura rítmica
em lugares diferenciados, portanto, se o instrumentista reproduzir distintos crescendos e
decrescendos na frase, esse efeito poderá causar uma sensação de direcionamento fraseológico,
a qual proporciona maior movimento do trecho. É oportuno destacar que esses efeitos devem
ser executados de maneira suave, pois o objetivo é apenas uma condução melódica. O Exemplo
35 demonstra alguns crescendos e decrescendos, além de apresentar sinais de articulações que
correspondem às vozes do coro.
125
Exemplo 35: Partitura dos trombones do Offertorim do Requiem in D minor com sugestões de articulação.
Compassos 44 ao 52.
Fonte: Arquivo pessoal.
Para exemplificar de maneira auditiva um trecho do Offertorium, o link 129 fornece
um arquivo de áudio que contém a execução dessa passagem musical.
Considerando alguns aspectos, tais como: a função de proporcionar um suporte para
as vozes dos baixos do coro; as pequenas dimensões dos trombones baixos usados no período
em que a obra foi composta; o tamanho da orquestra e a intensidade sonora orquestral que não
atingiam amplos volumes, recomenda-se utilizar para a performance musical do Requiem in D
minor de Mozart um trombone baixo com uma campana de 228 mm (9ʺ).
Com as entrevistas realizadas foi possível constatar que para a execução de obras
do compositor Mozart, o trombonista baixo Martin Schippers, integrante da Royal
29 Link 1: áudio de um trecho do Offertorium do Requiem in D minor de Mozart, na qual o naipe de trombones
atua dobrando as vozes do coro. Para essa obra, utilizou-se um trombone baixo com campana de 228 mm (9ʺ).
https://www.dropbox.com/s/7yfpgujzytcenxs/Offertorium%20%20Requiem%20de%20Mozart.wav?dl=0
126
Concertgebouw Orchestra, utiliza um trombone tenor. Ben van Dijk, trombonista baixo da
Orquestra Filarmônica de Rotterdam, relata que para executar o Requiem in D minor de Mozart,
opta por alterar apenas a campana de seu instrumento, empregando uma de menor dimensão30.
2.2.2 - O baixo contínuo dobrado pelo trombone baixo
A primeira referência ao termo baixo contínuo foi encontrada na publicação Cento
Concerti Ecclesiastici (1602) de Ludovico da Viadana (1560-1627), na qual foi relatada que tal
expressão perdurou por mais de duzentos anos na Europa (STEIN, 2014). A palavra contínuo
descreve algo que segue do começo ao fim, portanto, a expressão baixo contínuo é definida
como a linha mais grave da música executada de maneira ininterrupta (ROSA, 2008). Esse
termo é aplicado a uma forma particular de performance musical, todavia, também pode referir-
se ao instrumento capacitado para executar a linha contínua escrita (STEIN, 2014).
AGAZZARI (1607) apud ROSA (2008), expõe algumas questões sobre a
performance da parte do baixo contínuo, como a utilização dos ornamentos, a leitura através de
partituras ou tablaturas que permitem ou não maior liberdade de execução por parte do
instrumentista, bem como as particularidades na execução de cadências, o volume de som e a
textura do acompanhamento. Porém, tais informações relacionam-se diretamente ao órgão,
instrumento frequentemente designado para tocar essa parte. No entanto, outros instrumentos
também executaram voz do baixo contínuo, como é o caso do trombone baixo na cantata O
Jesu Christ meins Lebens Licht - BWV 118 de Bach.
A parte do baixo contínuo dessa obra apresenta uma escrita relativamente simples,
pois é uma composição em um andamento lento e não se utiliza de ornamentos nem de
cadências. Essa parte foi construída por uma linha melódica em tessitura médio/grave formada
basicamente por semínimas que exploram frases em legato por praticamente toda a obra.
Mesmo com uma escrita simples, o trombonista baixo deve estar atento a alguns
fatores para executar corretamente a obra, dentre eles, destacam-se: o andamento, a qualidade
do som, o volume sonoro, a resistência do instrumentista e articulação legato. O fraseado
atribuído ao baixo contínuo proporciona o movimento para a obra, portanto, é necessária uma
uniformidade na pulsação para que a composição mantenha um andamento regular. Uma
sonoridade rica em harmônicos também é essencial, já que o trombone baixo é responsável pela
base fundamental que auxilia na afinação para a formação orquestral. Isso pode ser obtido
30 Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas.
127
através da combinação de uma maior abertura labial em conjunto com a emissão de um fluxo
de ar quente31 e contínuo no instrumento.
Sobre o volume sonoro, AGAZZARI (1998) apud ROSA (2008), afirma que deve
ser definido de acordo com a quantidade de vozes que compõe o coro. Todavia, como essa e a
maioria dos trabalhos do período barroco foram escritos para pequenos grupos, não produziam
altos níveis de dinâmicas. A execução das frases em legato deve ser precisa, pois segundo
WICK (2011), o fundamento básico para tocar um correto legato no trombone necessita de um
fluxo de ar contínuo aliado à agilidade, suavidade e precisão no movimento da vara. Por fim, é
possível observar na partitura da obra (Exemplo 36), que o trombonista baixo não tira o
instrumento da boca em nenhum momento, ou seja, necessita de uma boa resistência muscular
para obter uma satisfatória performance.
31 Segundo RONQUI (2010), o conceito de uma respiração adequada para tocar um instrumento de sopro é manter
os músculos do abdômen e os ombros relaxados no momento da inspiração, inalando a maior quantidade de ar
possível. Na expiração, o fluxo de ar introduzido no instrumento deve ser quente e ter uma velocidade controlada
(RONQUI, 2010 - pg. 108).
128
Exemplo 36: Partitura do trombone baixo da cantata O Jesu Christ meins Lebens Licht - BWV 118 de Bach.
Compassos 1 ao 108.
Fonte: Arquivo pessoal.
129
O link 232 oferece um arquivo de áudio para evidenciar a execução de um pequeno
trecho da obra de Bach.
Para a performance de composições do período barroco, sugere-se utilizar um
trombone baixo com pequenas dimensões, com medidas próximas ao trombone tenor usado na
atualidade, pois são obras escritas para pequenas orquestras em que o naipe normalmente atua
dobrando as vozes do coro. No entanto, como mencionado, na cantata O Jesu Christ meins
Lebens Licht - BWV 118 de Bach, na qual o trombone baixo executa a voz do baixo contínuo,
uma linha melódica que gera a base fundamental para a formação orquestral, recomenda-se um
instrumento com medida de 228 mm (9ʺ) de campana.
É possível notar nas entrevistas realizadas, que os trombonistas baixos Ben van Dijk
e Martin Schippers utilizam trombones de pequenas dimensões de campana para o repertório
clássico. Como não houve menção desses músicos às obras do período barroco, acredita-se que
também usam pequenas campanas para as composições dessa época, já que esses trabalhos
apresentam menores instrumentações e, consequentemente, menor volume sonoro que os
trabalhos de Mozart e Haydn33.
2.2.3 - A combinação do trombone baixo com instrumentos de cordas e de madeiras graves
Empregada para gerar maior volume sonoro nas partes graves da formação
orquestral, a combinação musical entre o trombone baixo e outros instrumentos graves pode ser
observada em obras sacras, concertos, sinfonias, óperas e ballets. Essa peculiaridade foi
frequentemente empregada por vários compositores no decorrer dos séculos.
Dentre os instrumentos da família das cordas e das madeiras que constituíram essa
fusão, destacam-se os contrabaixos, os violoncelos, as violas, os fagotes, o contra-fagote e o
clarone. Destaca-se que a atuação conjunta do trombone baixo, contrabaixos, violoncelos e
segundo fagote é a mais comum de ser observada.
As obras Mass in C minor e Requiem em D minor de Mozart, The Creation de
Haydn, La Gazza Ladra de Rossini, Symphony n° 9 de Beethoven, Symphony n° 8 de Schubert,
Symphony n° 5 (1830) de Mendelssohn (1809-1847), Symphony n° 3 de Schumann, Die
Meistersinger von Nurnberg (1862/1867) de Wagner, Symphony n° 1 de Brahms, 1812
32Link 2: áudio de um trecho da obra O Jesu Christ meins Lebens Licht - BWV 118 de Bach que mostra o trombone
baixo dobrando a voz do baixo contínuo. Para esse trecho, utilizou um trombone baixo com 228 mm (9ʺ).
https://www.dropbox.com/s/fs3u9z4h7i5gerr/Jesu%20Christ%20meins%20Lebens%20Licht%2C%20BWV%20
118%20-%20Bach.wav?dl=0 33 Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas.
130
Overture e Symphony n° 5 de Tchaikovsky, Polovtsian Dances (1869/1887) de Alexander
Borodin, Russian Easter Festival (1888) de Korsakov, Petrushka de Stravinsky, Piano
Concerto in F (1925) de Gershwin (1898-1937) e Festive Overture (1947) de Shostakovich
(1906-1975), são algumas composições que utilizaram a união desses instrumentos graves.
Para evidenciar um trecho orquestral que demonstra essa combinação, selecionou-
se a passagem Duett mit Chor (n° 28), do oratório The Creation de Haydn (Exemplo 37), na
qual o trombone baixo e os contrabaixos executam uma longa frase em uníssono.
Exemplo 37: Frase em uníssono executada pelo trombone baixo e contrabaixos no Duett mit Chor (n° 28) do
oratório The Creation de Haydn. Compassos 290 ao 319.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 21 de maio de 2017.
Esse excerto apresenta um considerável nível de dificuldade em sua execução, pois
o compositor explorou agilidade no manejo da vara, grandes saltos intervalares, além de não
haver locais indicados para a respiração do instrumentista. Para uma melhor compreensão dessa
passagem musical, aconselha-se aos trombonistas baixos estudarem o trecho lentamente para
assimilar a afinação correta dos intervalos escritos na partitura. Aliado a isso, exercícios
técnicos que exploram relações intervalares de oitavas justas podem auxiliar na performance
desse excerto. Em relação à articulação, observa-se que o compositor utiliza no primeiro
compasso o staccato, o que dá a entender que toda a passagem deve ser executada com notas
curtas. Segundo SADIE (1994), uma nota com a articulação staccato necessita ser separada de
suas vizinhas por um perceptível silêncio, recebendo uma certa ênfase. Além de agilidade e
precisão, o instrumentista deve exercitar uma rápida e eficiente respiração, visto ser um trecho
de aproximadamente quarenta compassos, onde não há nenhuma pausa.
131
Independente da articulação e da dinâmica escrita, o principal aspecto para uma
execução satisfatória da combinação entre os instrumentos graves é existir uma uniformidade
sonora. Mesmo que a produção do som seja realizada de maneiras diferentes, como é o caso
dos arcos nos instrumentos de cordas, as palhetas nas madeiras e os bocais na família dos
metais, a atuação conjunta necessita de uma similaridade sonora entre os instrumentos.
Para a performance da obra The Creation de Haydn, recomenda-se um trombone
baixo com 228 mm (9ʺ) de campana, pois na maior parte da composição o instrumento age com
a função de reforçar as vozes do coro, visto que, o protagonismo está na parte dos cantores. Da
mesma forma que no Requiem in D minor de Mozart, o trombonista baixo Ben van Dijk
recomenda utilizar uma campana pequena para a The Creation de Haydn.
2.2.4 - O naipe de trombones nos tuttis orquestrais
A palavra italiana tutti refere-se a uma passagem musical executada por toda a
orquestra simultaneamente. SADIE (1994), define que o termo é utilizado para indicar um
trecho para a orquestra inteira, ou até mesmo, o som da orquestra plena.
Como relatado por CARSE (1964) no subcapítulo 2.1, compositores franceses,
italianos e alemães utilizaram frequentemente o naipe de trombones em tuttis orquestrais no
início do século XIX. O emprego dessa característica pode também ser observada ao longo de
todo o século XIX e XX, tanto por compositores dessas, como de outras nacionalidades. Tal
particularidade produz uma ampla sonoridade da formação orquestral, uma vez que diversos
instrumentos atuam ao mesmo momento.
Para demonstrar o naipe de trombones nos tuttis orquestrais, selecionou-se o início
do 4° movimento da Symphony n° 5 de Beethoven (Exemplo 38) e um trecho da obra Petrushka
de Igor Stravinsky (Exemplo 39), já que ambas as passagens apresentam um amplo volume
sonoro. No entanto, a dinâmica escrita na Symphony n° 5 é ff, enquanto em Petrushka é fff.
Além disso, vale lembrar que a obra de Beethoven foi escrita no início do século XIX, isto é,
as orquestras sinfônicas ainda não atingiam o volume sonoro encontrado nas composições do
século XX, como é o caso do trabalho de Stravinsky (detalhes sobre o amplo volume sonoro
estão no subcapítulo 2.2.6).
132
Exemplo 38: Partitura do 4° movimento da Symphony n° 5 de Beethoven que mostra um tutti orquestral.
Compassos 1 ao 8 (4° movimento).
Fonte: Arquivo pessoal.
133
Exemplo 39: Partitura do naipe de trombones na performance de um tutti orquestral escrito em Petrushka de Igor
Stravinsky. Compassos 41 ao 61.
Fonte: Arquivo pessoal.
Na performance desses exemplos, o trombonista baixo e todo o naipe devem
executar a dinâmica marcada na partitura. No entanto, é necessário observar o tamanho da
formação orquestral e o período em que a composição foi realizada, pois sua função é apenas
proporcionar uma ampliação sonora ao trecho musical, e não sobressair ao volume da orquestra.
Sugere-se que a sonoridade seja produzida com a emissão de ar quente no instrumento, obtendo-
se, desse modo, um som repleto de harmônicos, resultando em uma boa qualidade sonora. Em
relação as articulações musicais, ambas as obras não apresentam sinais de articulação
especificados pelos compositores, assim, as notas devem ser executadas sem acentuação. Além
disso, observar e reproduzir a articulação executada por toda a orquestra é a maneira correta de
proceder nesses casos.
134
Para exemplificar as considerações relatadas de ambos os trechos, os links 334
(Symphony n° 5 de Beethoven) e 435 (Petrushka) apresentam os áudios gravados.
Por se tratar de uma obra do início do século XIX, na qual os trombones ainda não
possuíam grandes dimensões e, consequentemente, não atuavam com amplo volume sonoro,
sugere-se um trombone baixo com campana de 228 mm (9ʺ) para executar a Symphony n° 5 de
Beethoven. James Markey, trombonista baixo da Orquestra Sinfônica de Boston, afirma em sua
entrevista que, para as obras de Beethoven o naipe costuma utilizar instrumentos produzidos na
Alemanha, pois segundo o músico, são trombones que permitem tocar de uma forma mais
suave. Essa é uma característica que perdura por algumas décadas na Orquestra Sinfônica de
Boston, pois na entrevista respondida por Douglas Yeo, trombonista baixo que atuou por vinte
e sete anos nessa orquestra, era comum o naipe de trombones usar instrumentos alemães da
fabricante Kruspe em obras de Mozart, Beethoven, Schubert e Schumann36.
Para a obra Petrushka, recomenda-se um instrumento de medidas maiores, uma vez
que Stravinsky a escreveu para um conjunto sinfônico com grande instrumentação e explorou
amplas dinâmicas em diversos trechos da composição. Portanto, a sugestão é utilizar um
trombone baixo com campana entre 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ). É relevante salientar que
quase todos os entrevistados utilizam a campana de 241 mm (9,5ʺ) para um repertório com
ampla instrumentação, como é o caso de Petrushka37.
2.2.5 - Os coros do naipe de trombones nas obras sinfônicas
Os coros escritos para trombones são caracterizados pela execução simultânea das
três vozes, na qual produz um efeito harmônico singular. É uma escrita que proporciona um
protagonismo ao naipe, frequentemente utilizado em dinâmicas pp e p, demonstrando a
capacidade dos trombonistas atuarem com os menores níveis de dinâmicas. Observada em
diversos trabalhos sinfônicos de Robert Schumann e Johannes Brahms, essa característica foi
atribuída em alguns momentos somente para o naipe de trombones, no entanto, nota-se também
que foram empregados em conjunto com os fagotes e as trompas.
34 Link 3: áudio de um trecho do 4° movimento da Symphony n° 5 de Beethoven que evidencia um tutti orquestral.
Para essa passagem musical, utilizou um trombone baixo com 228 mm (9ʺ).
https://www.dropbox.com/s/hv3ya2zas9io7uv/Symphony%20n%C2%B0%205%2C%20Mov.%204%C2%B0%
20-%20Beethoven.wav?dl=0 35 Link 4: áudio que demonstra um tutti orquestral escrito na obra Petrushka de Stravinsky. Nesse trecho, foi
utilizado um trombone baixo com dimensões de 266 mm (10,5ʺ) de campana.
https://www.dropbox.com/s/samh26uso64mas0/Petrushka%20-%20Stravinsky.wav?dl=0 36Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas. 37 Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas.
135
Com o intuito de exemplificar um coro escrito para o naipe de trombones,
selecionou-se o início do 4° movimento da Symphony n° 3 de Schumann (Exemplo 40).
Exemplo 40: Coro escrito para o naipe de trombones na Symphony n° 3 de Schumann.
Compassos 1 ao 6 (4° movimento).
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 21 de maio de 2017.
Uma das dificuldades na performance desse trecho é o tempo de espera, uma vez
que Schumann não empregou o naipe de trombones nos três primeiros movimentos da obra, ou
seja, os músicos ficam aproximadamente trinta minutos sem tocar, com isso, o instrumento
esfria, os lábios desaquecem e a ansiedade aumenta, exigindo maior concentração e técnica
instrumental para executar essa passagem musical. O tempo de espera também pode
proporcionar variações na afinação, contudo, fechar um pouco a bomba de afinação ou apenas
emitir ar quente dentro do trombone no decorrer dos três movimentos para que ele não esfrie,
pode auxiliar a manter uma boa afinação na execução desse trecho.
Segundo KLEINHAMMER (1963), manter os lábios relaxados, com uma pequena
abertura da embocadura e um fluxo de ar lento e delicado permitem uma execução satisfatória
de frases p e pp. Vale ressaltar que a produção das notas musicais com a emissão de ar quente
no instrumento possibilita uma boa qualidade sonora.
Além dos aspectos já mencionados, é relevante ter um bom entendimento de como
proceder com a articulação do legato. O fluxo de ar contínuo, a precisão no manejo da vara, o
uso correto das válvulas e ter o conhecimento sobre o momento de utilizar ou não a língua,
propiciam uma satisfatória execução dessa articulação, consequentemente, do trecho escrito por
Schumann.
136
No trombone existem dois tipos de legato: o natural e o artificial. O legato natural
ocorre na execução de duas ou mais notas distintas que possuem harmônicos diferentes, desse
modo, não há a necessidade de utilizar a língua. Já o legato artificial acontece entre duas ou
mais notas iguais ou diferentes que possuem o mesmo harmônico, assim, deve-se empregar a
língua com a pronúncia TA-RA para evitar o efeito do glissando (GAGLIARDI, s/d). O
Exemplo 41 ilustra essa distinção.
Exemplo 41: O exemplo mostra a diferença entre o legato natural e o artificial.
Fonte: Autor.
Ao observar o exemplo anterior, percebe-se que no compasso 1, a nota Sol 2 é o 4°
harmônico da série harmônica de Sol e a nota Si bemol 2, tocada na 1° posição, é o 4° harmônico
da série de Si bemol, isto é, possuem os mesmos harmônicos, portanto, é necessário articular
com a língua para evitar o efeito do glissando. No compasso 2, a nota Sol 2 continua sendo o
4° harmônico da série de Sol, no entanto, o Si bemol 2, tocado na 5° posição da vara, passa a
ser o 5° harmônico da série de Sol bemol, ou seja, em harmônicos diferentes não há necessidade
de utilizar a língua.
Esse fato ocorre também na região grave do instrumento, pois o terceiro compasso
apresenta a nota Sol 1 como o 2° harmônico da série de Sol, e o Si bemol 1 executado na 1°
posição, como o 2° harmônico da série de Si bemol. Portanto, nesse caso, os harmônicos são
iguais, tornando-se necessário a utilização da língua. Já no último compasso, a nota Sol 1
continua sendo o 2° harmônico da série de Sol, entretanto, a nota Si bemol 1, tocada na 3°
posição com o acionamento da válvula em Fá, passa a ser o 3° harmônico da série de Mi bemol,
ou seja, não há a necessidade de empregar a língua.
Para um melhor entendimento de como proceder com o legato no coro de
Schumann, elaborou-se o Exemplo 42 com especificações do legato natural com e sem o uso
137
da válvula, o legato artificial, além das respectivas posições. Aliado a esse exemplo, o link 538
disponibiliza o áudio do trecho gravado pelas três vozes dos trombones como referencial
auditivo.
Exemplo 42: Parte do trombone baixo do coro da Symphony n° 3 de Schumann com marcações de posições,
utilização da válvula e da língua. Compassos 1 ao 6.
Fonte: Autor.
Além das considerações apresentadas, salienta-se que a rítmica escrita para o
trombone baixo é responsável por conduzir a pulsação da passagem musical, isto é, manter um
correto andamento direcionando a frase até o seu ápice, que se encontra no terceiro tempo do
sexto compasso. Essa ação proporcionará uma base de ritmo, afinação e intensidade sonora para
os outros dois trombones do naipe.
Para a Symphony n° 3 de Schumann, recomenda-se um trombone baixo com 241
mm (9,5ʺ) de campana, pois esse tamanho possibilita uma boa ressonância para o coro escrito
pelo compositor. Segundo George Curran, trombonista baixo da Orquestra Filarmônica de
Nova York, quando o primeiro trombonista do naipe utiliza o trombone alto, como na Symphony
n° 3 de Schumann, o instrumentista altera apenas a seção de válvulas de seu instrumento,
passando a atuar com um trombone baixo de uma válvula rotativa com campana de 241 mm
(9,5ʺ)39.
38 Link 5: Este link disponibiliza o coro escrito para o naipe de trombones no início do 4° movimento da Symphony
n° 3 de Schumann. Neste excerto, utilizou-se um trombone baixo com 241 mm (9,5ʺ) de campana.
https://www.dropbox.com/s/ml0ijgd51ucn7c0/Symphony%20n%C2%B0%203%2C%20Mov.%204%20-
%20Schumann%2C%20R..wav?dl=0 39 Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas.
138
2.2.6 - O naipe de trombones utilizado com potência sonora
Quando se observa o volume sonoro produzido pelo naipe de trombones na
performance de obras dos diferentes séculos, nota-se que as dinâmicas pp, p e mp não tiveram
grandes variações na interpretação musical, no entanto, as dinâmicas f e ff apresentaram
diferenças significativas de execução. Isso pode ser constatado no decorrer do século XIX,
período no qual os trombones passaram a atuar com maior potência sonora que nos séculos
anteriores.
Alguns fatores auxiliaram os trombones a atuarem com maior volume sonoro,
dentre eles: o aumento em suas dimensões de calibres e campanas; a ampliação da formação
orquestral; a construção de maiores salas de concertos; as novas funções musicais atribuídas ao
naipe, além das bandas e das orquestras de óperas, cuja a potência sonora, influenciou no
desempenho dos metais com maior volume.
Saber em qual período da história da música a composição foi escrita é a primeira
etapa para que os trombonistas compreendam a maneira de proceder com trechos musicais que
exigem amplo volume. Com essa informação é possível identificar o tamanho da formação
orquestral utilizada, consequentemente, preparar-se para uma performance com maior ou
menor volume sonoro. Além disso, ter esse conhecimento também possibilita correlacionar a
época em que foi composta a obra com o período em que ocorreram as alterações estruturais
nos trombones, capacitando o instrumentista a escolher um trombone com pequenas, médias ou
grandes medidas de campanas, visto ser uma peça estrutural relacionada diretamente ao volume
e projeção sonora.
Outro fator relevante é a contextualização sobre os gêneros musicais, as origens e
as influências dos compositores. Como apresentado no subcapitulo 2.1, o século XIX mostrou
uma diversidade de elementos que afetaram diretamente na execução musical do naipe de
trombones. Por exemplo, é possível observar uma ampla sonoridade do naipe nas óperas de
Rossini e Verdi, assim como nos trabalhos de Berlioz, que eram influenciados pela potência
sonora das bandas militares. Na mesma linha, porém com trombones de maiores dimensões de
campanas e calibres, nota-se o amplo volume dos trombones em obras de compositores russos,
como Tchaikovsky e Korsakov, assim como nas óperas de Wagner. Por outro lado, também se
destacam compositores com influências do período clássico, ou seja, apesar de utilizarem as
dinâmicas f e ff, exploravam uma sonoridade condizente com uma instrumentação orquestral
menor, como é o caso de Meldelssohn, Schumann e Brahms.
Além das questões citadas, aconselha-se aos trombonistas a observação do contexto
musical que o naipe está inserido, isto é, compreender as peculiaridades atribuídas ao
139
instrumento nas distintas obras. Para melhor exemplificar essa questão, optou-se por apresentar
três passagens musicais que utilizam a dinâmica f, a fim de demonstrar as diferenças na
execução de trechos que exigem elevado volume sonoro. Os trechos selecionados foram o
Offertorium do Requiem in D minor de Mozart (Exemplo 43), a obra Der Fliegende Hollander
de Richard Wagner (Exemplo 44) e a Pas de Deux de The Nutcracker de Tchaikovsky
(Exemplo 45).
Exemplo 43: Parte do naipe de trombone do Offertorium do Requiem in D minor de Mozart.
Compassos 44 ao 51.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 22 de maio de 2017.
Exemplo 44: Partitura dos trombones da introdução da obra Der Fliegende Hollander de Richard Wagner.
Compassos 9 ao 15.
Fonte: Arquivo pessoal.
140
Exemplo 45: Trecho dos trombones nas Pas de Deux de The Nutcracker de Tchaikovsky (1892).
Compassos 46 ao 49.
Fonte: Arquivo pessoal.
No trecho do Offertorium do Requiem in D minor, o naipe tem a função de
acompanhar as vozes do coro. Em Der Fliegende Hollander, a passagem musical selecionada
proporciona um momento solista para o naipe de trombones e na Pas de Deux de The
Nutcracker, o naipe produz uma harmonia em notas longas para o solo dos violinos. Como
mencionado, as três passagens musicais estão escritas com a dinâmica f, entretanto, devem ser
executadas de forma adequada, pois cabe ao músico entender a função que está desempenhando
no momento.
Para evidenciar a ampla sonoridade do naipe de trombones, disponibiliza-se os links
640 e 741 com duas passagens musicais de Der Fliegende Hollander, onde mostram uma
combinação de uníssonos e intervalos de oitavas justas em dinâmica f executados
simultaneamente pelos três trombones (Exemplos 26 e 44).
Para as obras Der Fliegende Hollander e Pas de Deux de The Nutcracker,
recomenda-se o uso de trombones com grandes dimensões, pois ambas as composições foram
escritas para amplas formações orquestrais que exploraram altos níveis de dinâmica. Portanto,
sugere-se utilizar um trombone baixo com medida de campana entre 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm
(10,5ʺ). Ressalta-se que praticamente todos os entrevistados utilizam a campana de 241 mm
40 Link 6: áudio do Exemplo 26 que demonstra o naipe de trombones atuando com grande sonoridade. Para este
trecho, empregou-se um trombone baixo com 241 mm (9,5ʺ) de campana.
https://www.dropbox.com/s/yv4hjoego1mgrjr/Der%20Fliegende%20Hollander%20-
%20Wagner%2C%20R.%20%28Trecho%202%29.wav?dl=0 41 Link 7: áudio do Exemplo 44 que mostra o naipe de trombones com ampla potência sonora. Nesta passagem,
utilizou um trombone baixo com 241 mm (9,5ʺ) de campana.
https://www.dropbox.com/s/1cyb4scya25g7zn/Der%20Fliegende%20Hollander%20-
%20Wagner%2C%20R.%20%28Trecho%201%29.wav?dl=0
141
(9,5ʺ) para um repertório com ampla instrumentação, como é o caso das composições Der
Fliegende Hollander e Pas de Deux de The Nutcracker. Apenas Ben van Dijk usa uma campana
maior, com a medida de 250 mm (9,84ʺ)42.
Em relação ao Offertorium do Requiem in D minor de Mozart, como pode ser
observado, a obra foi utilizada para evidenciar também o dobramento de vozes entre trombones
e coro, logo, sugere-se um trombone baixo com medidas de 228 mm (9ʺ) de campana para sua
performance, conforme especificado no subcapítulo 2.2.1.
2.2.7 - O trombone baixo atuando em conjunto com a tuba
Como relatado no subcapítulo 2.1, a combinação musical entre o naipe de
trombones e a tuba foi frequentemente utilizada por compositores no decorrer dos séculos XIX
e XX. Segundo PISTON (1969), esse quarteto de metais graves foi empregado de duas
maneiras: à quatro vozes, com a tuba executando a linha do baixo, como em Nabucco Overture
(1841) de Giuseppe Verdi e a três vozes, com a tuba dobrando a parte do trombone baixo em
uníssono ou em intervalos de oitavas justas, como pode ser visto em diversos trechos da
Symphony n° 8 (1889) de Antonín Dvorák.
Além da fusão do naipe de trombones com a tuba, é comum observar passagens
musicais em que compositores exploraram a combinação somente entre o trombone baixo e a
tuba, como em: Symphony in D minor de César Franck; Symphony n° 5, 1812 Overture e em
The Nutcracker de Tchaikovsky; Promenade de Pictures at na Exhibition (1874) de Modest
Mussorgsky; Russian Easter Overture de Korsakov; Jupiter de The Planets (1914/1916) de
Gustav Holst (1874-1934); Petrushka de Stravinsky; Carnival Overture de Dvorák, entre outras
composições.
Nesses trabalhos sinfônicos a combinação entre os dois instrumentos apareceu de
diversas maneiras, como em trechos cantabiles em uníssono, solos articulados em intervalos de
oitavas justas, intervenções de notas curtas em sforzando, frases que exploram ampla potência
sonora, como também trechos em leves dinâmicas.
Para evidenciar essa combinação, selecionou-se um trecho de The Nutcracker e
outro de Carnival Overture, visto apresentar caraterísticas diferentes em sua escrita,
consequentemente, maneiras distintas de execução.
42 Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas.
142
No trecho selecionado de The Nutcracker (Exemplo 46), o trombone baixo e a tuba
executam uma escala cromática com intervalos de oitava justa, na qual utiliza-se da articulação
marcato em dinâmica ff. É um trecho de ampla sonoridade de toda a orquestra, finalizado pela
frase executada por cordas graves, trombone baixo e tuba, proporcionando o início de um novo
tema musical.
Para a execução desse trecho, o trombonista baixo deve estar atento principalmente
a três fatores: qualidade sonora, articulação e pulsação. É relevante ter uma boa sonoridade em
todos os níveis de dinâmica, pois é comum o instrumentista se preocupar em obter a dinâmica
descrita na partitura e não dar devida atenção à qualidade sonora. Isso ocorre principalmente
em frases que especificam amplos volumes, como é o caso da passagem musical escrita por
Tchaikovsky. Desse modo, o músico deve ter a consciência de que o trombone baixo é um
instrumento de grande projeção sonora, que tocar demasiadamente forte poderá comprometer a
qualidade do som.
Em relação à articulação marcato, GREEN (1990) apud BELTRAMI (2008) afirma
que essa acentuação consiste em um ataque mais forte seguido imediatamente de uma
diminuição da sonoridade. Esse tipo de intepretação pode ser utilizado no trecho selecionado.
Sobre a pulsação, embora não esteja especificado na partitura da obra, é comum os maestros
produzirem um rallentanto nesse trecho, pois trata-se do desfecho de um tema. Assim, sugere-
se ao trombonista decorar a frase e manter a visão no regente para que siga o andamento
estabelecido por ele.
Os links 843 e 944 oferecem gravações de áudio desse trecho musical, os quais foram
gravados com dimensões distintas de campanas45.
43 O Link 8 disponibiliza o áudio da passagem de The Nutcracker, na qual evidencia a combinação entre trombone
baixo e tuba. Para esse trecho utilizou a campana de 241 mm (9,5ʺ) de diâmetro.
https://www.dropbox.com/s/p406o71sud28s31/Pas%20de%20Deux%20de%20The%20Nutcracker%20%E2%80
%93%20Tchaikovsky%2C%20%28campana%209%2C5%29.wav?dl=0 44O Link 9 também oferece o áudio do trecho de The Nutcracker, no entanto, com o trombone baixo utilizando a
campana com dimensões de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/tix4enu0cffk7kw/Pas%20de%20Deux%20de%20The%20Nutcracker%20%E2%80
%93%20Tchaikovsky%2C%20%28campana%2010%2C5%29.wav?dl=0 45 Optou-se por gravar a passagem de The Nutcracker com as campanas de 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ), pois
é uma composição escrita no final do século XIX que explora ampla sonoridade orquestral. Vale destacar que isso
ocorreu também para os áudios das obras Carnaval Overture de Dvorák, Concerto for Orchestra de Bartók, An
American in Paris de Gershwin, Symphony n° 5 de Mahler e Don Quixote de Strauss, já que são obras escritas no
final do século XIX e XX que também apresentam grandes níveis de dinâmicas.
143
Exemplo 46: Trecho da partitura do trombone baixo e da tuba de Pas de Deux da obra The Nutcracker.
Compassos 45 e 46.
Fonte: Arquivo pessoal.
Em Carnival Overture (Exemplo 47), Dvorák explora frases cantabiles em
intervalos de oitavas justas entre os dois instrumentos, com a dinâmica ppp e articulação legato.
Esse trecho exige controle técnico na execução de leves dinâmicas (informações sobre a
performance de passagens musicais com menor volume sonoro foram apresentadas no
subcapítulo 2.2.5) e na articulação legato, pois pode facilmente ocorrer um glissando se não
houver a combinação correta de manejo de vara com o uso da língua, já que as quatro frases
apresentam relações intervalares que são tocadas da 4° para a 1° posição, ou seja, uma distância
razoável (dados sobre a articulação legato estão nos subcapítulos 2.2.2 e 2.2.5).
Os links 1046 e 1147 disponibilizam os áudios da passagem musical da obra de
Dvorák.
46 O Link 10 disponibiliza o trecho de Carnaval Overture, que demonstra a combinação entre trombone baixo e
tuba. Neste link, encontra-se o áudio com o trombone baixo utilizando a campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/2pw2cxzzrn05wrb/Carnival%20Overture%20%E2%80%93%20Dvor%C3%A1k%2
C%20A.%20%28campana%209%2C5%29.wav?dl=0 47 Link 11: Passagem musical de Carnaval Overture, na qual o trombone baixo utiliza a campana de 266 mm
(10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/vpq0hbtf7igkcu7/Carnival%20Overture%20%E2%80%93%20Dvor%C3%A1k%2C
%20A.%20%28campana%2010%2C5%29.wav?dl=0
144
Exemplo 47: Trecho da partitura do trombone baixo e da tuba da obra Carnival Overture de Dvorák.
Compassos 271 ao 298.
Fonte: Arquivo pessoal.
Embora sejam trechos que exploram os extremos de dinâmica, sugere-se um
trombone baixo com campana entre 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ) para ambos os trechos,
pois são obras do século XIX escritas para grandes formações orquestrais, e mesmo que a
passagem musical de Carnival Overture apresente a dinâmica ppp, na maior parte da
composição o trombone baixo atua com amplo volume sonoro. Como relatado em tópicos
anteriores, quase todos os entrevistados utilizam a campana de 241 mm (9,5ʺ) para um
repertório com ampla instrumentação, como nas composições The Nutcracker e Carnival
Overture48.
48 Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas.
145
2.2.8 - Ampliação da tessitura49 do trombone baixo
Até o final do período clássico, compositores empregaram o trombone baixo em
uma tessitura relativamente mediana, visto que na maior parte do repertório atuavam entre as
notas Fá 1 e Ré 3, no entanto, a nota Sol 3, escrita no oratório The Creation de Haydn e as notas
Ré 1, utilizado em Don Giovanni e Dó 1, na Mass in C minor de Mozart, também apareceram,
mas com pouca frequência e sendo empregadas como notas de passagens e notas longas.
No século XIX, houve uma ampliação na tessitura do trombone baixo tanto para a
região grave como para a aguda, como pode ser observado a utilização da nota Sol 0 na Grande
Messe des Morts e no Te Deum de Berlioz, a nota Lá 3 que aparece em Die Meistersinger von
Nurnberg de Richard Wagner, Symphony in D minor de César Franck e também na Grande
Messe des Morts de Berlioz, a nota Si bemol 3 escrita na Symphony n° 2 de Gustav Mahler,
além da nota Si 3 utilizada por Zoltán Kodály na ópera Háry János.
Vale destacar que nessa época o trombone baixo continuou atuando na maior parte
das obras no registro médio/grave (Fá 1 - Ré 3), contudo, tornou-se frequente o emprego do
instrumento em frases melódicas que exploram as notas graves Si bemol 0, Dó 1, Ré bemol 1,
Ré 1, Mi bemol 1 e Mi 1, bem como as notas agudas Mi bemol 3, Mi 3, Fá 3, Fá sustenido 3,
Sol 3, diferentemente dos trabalhos escritos até o fim do período clássico.
Para evidenciar os contrastes de tessitura, selecionou-se um trecho do 3°
movimento da Symphony in D minor de César Franck, no qual o primeiro trompete, o trombone
baixo e a tuba executam uma melodia no registro agudo. Além dessa passagem, para demonstrar
a tessitura grave do instrumento optou-se por uma frase do 1° movimento da Symphony n° 5 de
Mahler.
O trecho da Symphony in D minor de César Franck (Exemplo 48) apresenta aspectos
musicais de relevância, pois é uma frase formada por doze compassos que em sua maior parte
o trombonista baixo atua no registro agudo, isto é, exige boa técnica nessa tessitura. Segundo
KLEINHAMMER (1963), as notas agudas necessitam que a musculatura da embocadura esteja
mais firme e a abertura labial seja menor, se comparada com o formato da boca para produzir
as notas médias e graves. Aliado a embocadura, é necessário utilizar um fluxo de ar contínuo e
veloz para tocar esse trecho, uma vez que explora uma tessitura relativamente aguda para o
instrumento.
49 Durante a pesquisa, observou-se através da análise de diversas partituras que a tessitura do trombone baixo está
compreendida entre as notas Mi 0 e Ré 4. Segundo o trombonista baixo Ben van Dijk, em contato via e-mail,
atualmente é possível encontrar obras que exploram uma tessitura compreendida entre as notas Dó 0 e Fá 4.
146
Um bom entendimento sobre o legato também se faz necessário, já que o trecho
apresenta essa articulação do começo ao fim (detalhes sobre o legato no subcapítulo 2.2.5). Em
relação à dinâmica, Franck escreveu a frase em ff, entretanto, a função do trombone baixo nesse
trecho é proporcionar um apoio para os trompetes, pois é o instrumento que lidera musicalmente
a passagem musical. Desse modo, executar a frase em f é suficiente para amparar o som do
trompetista, pois atuar nos extremos agudos com muito volume pode facilmente prejudicar a
qualidade sonora e a afinação. O link 1250 disponibiliza o áudio da passagem musical da obra
de César Franck.
Exemplo 48: Trecho escrito no 3° movimento da Symphony in D minor de César Franck que mostra um solo em
tessitura aguda para o trombone baixo. Compasso 267 ao 278.
Fonte: Arquivo pessoal.
50 O Link 12 apresenta o trecho do 3° movimento da obra Symphony in D minor de César Franck, que explora a
tessitura aguda do trombone baixo. Para esse áudio, optou-se por gravar com a campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/adjdd8jfdkmvvco/Symphony%20in%20D%20minor%20%E2%80%93%20Franck
%2C%20C..wav?dl=0
147
O trecho selecionado da Symphony n° 5 de Mahler (Exemplo 49) explora um
fraseado melódico com notas graves que exige boa sonoridade, precisão na articulação e amplo
volume sonoro. Nesse registro, o trombonista baixo deve atentar-se em manter uma maior
abertura da embocadura e um fluxo de ar quente e uniforme, pois dessa maneira essas notas
graves podem ser produzidas com boa qualidade sonora.
Segundo KLEINHAMMER (1963), em uma frase que apresenta staccatos em
sequência, como a passagem da Symphony n° 5 de Mahler, o trombonista baixo precisa estar
atento em manter uma uniformidade em volume sonoro, ritmo, ataque e duração das notas.
Aliado a isso, a emissão do ar no interior do instrumento deve ser contínua, sendo a língua a
responsável por produzir a articulação. Outro fator relevante é a dinâmica f empregada pelo
compositor, pois para executar trechos que exploram os registros graves com amplo volume
sonoro é necessária uma boa utilização do sistema respiratório. O instrumentista precisa emitir
grande quantidade de ar em uma rápida velocidade, além de ter uma maior abertura da
embocadura, ou seja, o ar acaba rapidamente, desse modo, necessitando de uma inspiração
ampla e ligeira para continuar o fraseado.
Os links 1351 e 1452 oferecem os áudios do trecho escrito por Mahler, os quais foram
gravados com diferenciadas campanas.
Exemplo 49: Passagem musical em tessitura grave escrita para o trombone baixo na Symphony n° 5 de Mahler.
Compassos 250 ao 254.
Fonte: Arquivo pessoal.
Ambas as obras foram compostas para uma orquestra com grande instrumentação
e exploram um amplo volume sonoro dos instrumentos, principalmente da família dos metais,
51 Link 13: áudio do trecho (Exemplo 49) do 1° movimento da Symphony n° 5 de Mahler, no qual explora a tessitura
grave do trombone baixo. Esse áudio foi gravado com um trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/96gjs0t4qyunsg1/Symphony%20n%C2%B0%205%2C%20mov.%201%20%E2%8
0%93%20Mahler%2C%20G.%20%28campana%209%2C5%29.wav?dl=0 52 Link 14: Exemplo 49 gravado com o trombone baixo utilizando a campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/ovdlgpdhmf6cfmn/Symphony%20n%C2%B0%205%2C%20mov.%201%20%E2%
80%93%20Mahler%2C%20G.%20%28campana%2010%2C5%29.wav?dl=0
148
portanto, recomenda-se utilizar um trombone baixo com campana entre 241 mm (9,5ʺ) e 266
mm (10,5ʺ). É relevante destacar que para esses repertórios, os músicos Douglas Yeo, James
Markey, Martin Schippers, George Curran e Ricardo Santos usam campanas de 241 mm
(9,5ʺ)53.
2.2.9 - Efeitos de glissando e surdina
Efeitos sonoros foram empregados com frequência nas obras sinfônicas dos séculos
XX e XXI, pois a opção em explorar diferentes sonoridades, a influência do jazz e de outros
elementos musicais provenientes da música popular, motivaram compositores a empregar
acessórios e artifícios técnicos que geraram características sonoras diferenciadas (DEL MAR,
1987). Dentre alguns efeitos atribuídos ao trombone baixo na música sinfônica desse período,
destacam-se o glissando e a utilização de surdinas.
O trombone é o único instrumento da família dos metais capacitado para executar
o glissando de forma natural. Isso só é possível por causa do mecanismo da vara
KLEINHAMMER (1963). No entanto, essa peculiaridade necessita ser melhor compreendida
pelos compositores, visto que, em algumas vezes aparece de forma errônea. Segundo WICK
(2011), um glissando é realizado por um simples movimento da vara sem utilizar qualquer tipo
de articulação e com a continuidade do som entre as notas. Em outras palavras, o efeito é
produzido pelo movimento de puxar ou deslizar a vara do instrumento sem a interrupção do ar
e dentro da mesma série harmônica.
Normalmente, um glissando está compreendido no máximo entre um intervalo de
quarta aumentada, entretanto, existem exceções como no Concerto for Orchestra de Béla
Bartók, que utiliza um glissando entre as notas Si 0 e Fá 1 (Exemplo 50) para o trombone baixo.
Esse intervalo, se fosse escrito uma oitava acima, poderia ser executado normalmente, porém,
nesse registro do instrumento, o glissando perfeito está compreendido entre as notas Dó 1 e Fá
1, já que com uma válvula acionada o trombone baixo passa a possuir apenas seis posições.
53 Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas.
149
Exemplo 50: Efeito do glissando escrito no Concerto for Orchestra de Béla Bartók. Compasso 90.
Fonte: http://imslp.org/. Acesso em 23 de maio de 2017.
Desse modo, sugere-se duas opções para o trombonista baixo executar essa
passagem musical. A primeira é estender todo o comprimento da vara e tentar produzir a nota
Si 0 como uma nota falsa, ou seja, tocar a nota Dó 1 baixando a afinação na boca e trazer a vara
até a 1° posição para obter a nota Fá 1. Entretanto, com esse procedimento é comum perder a
qualidade sonora, porém, é dessa forma que se realiza o verdadeiro glissando como está escrito
na partitura de Bartók. A segunda opção é tocar esse trecho com dois glissandos consecutivos,
atingindo a nota Si 0 na 4° posição do instrumento com as duas válvulas acionadas e movendo
a vara até a 1° posição, na qual obtém-se a nota Ré 1. Sem interromper o fluxo de ar, voltar a
vara novamente para a 4° posição apenas com a válvula em Fá acionada, onde a nota Ré 1
também é obtida, e dessa forma, mover a vara até a 1° posição, gerando a nota Fá 1. Contudo,
nesse caso o glissando não é perfeito, já que o desacionamento da segunda válvula corta o fluxo
contínuo do ar. Vale ressaltar que a sugestão apresentada é referente ao trombone baixo Si
bemol/Fá/Sol bemol/Ré, pois é a afinação mais utilizada pelos trombonistas baixos da
atualidade.
Para evidenciar essas sugestões de execução, optou-se por gravar a passagem da
obra de Bartók em ambas as formas e com distintas campanas, com o objetivo de mostrar as
diferenças entre as duas maneiras de execução. Os links 1554, 1655, 1756 e 1857 oferecem esses
áudios.
54 Link 15: glissando perfeito com um trombone baixo de campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/am40nuvjdrtqd4f/Concerto%20for%20Orchestra%20%E2%80%93%20Bart%C3%
B3k%2C%20B.%20%28glissando%20perfeito%2C%20campana%209%2C5%29.wav?dl=0 55 Link 16: glissando perfeito com um trombone baixo de campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/4sy9b2clo20n4qp/Concerto%20for%20Orchestra%20%E2%80%93%20Bart%C3%
B3k%2C%20B.%20%28glissando%20perfeito%2C%20campana%2010%2C5%29.wav?dl=0 56 Link 17: glissando imperfeito com um trombone baixo de campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/t0c3qh2n91rabvj/Concerto%20for%20Orchestra%20%E2%80%93%20Bart%C3%
B3k%2C%20B.%20%28glissando%20imperfeito%2C%20campana%209%2C5%29.wav?dl=0 57 Link 18: glissando imperfeito com um trombone baixo de campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/2u6d7wt4wmhfc9i/Concerto%20for%20Orchestra%20%E2%80%93%20Bart%C3
%B3k%2C%20B.%20%28glissando%20imperfeito%2C%20campana%2010%2C5%29.wav?dl=0
150
WICK (2011) esclarece que esse trecho pode ser executado perfeitamente pelo
trombone baixo em Fá (quart-posaune), visto ser possível produzir a nota Si 0 na última posição
do instrumento e mover a vara até a 1° posição, na qual obtém-se a nota Fá 1. Outra alternativa
oferecida pelo mesmo autor é utilizar um trombone baixo afinado em Si bemol/Fá/Mi (válvulas
dependentes), pois ao acionar as duas válvulas com a tubagem da vara totalmente estendida é
possível executar a nota Si 0 e com o movimento do tubo até a 1° posição obtém-se a nota Mi
1. Ao chegar nessa nota, aconselha-se soltar a segunda válvula para que o instrumento passe a
ser afinado em Fá, assim obtém-se a nota Fá 1. Destaca-se que as opções oferecidas por WICK
(2011) são válidas, no entanto, o quart-posaune é raramente utilizado na atualidade e o
trombone baixo de válvulas dependentes, mesmo que ainda seja utilizado, perdeu espaço para
o instrumento com válvulas independentes.
Além dos efeitos de glissando, as surdinas são constantemente utilizadas. Como
relatado no Capítulo 1, esses acessórios tem a função de alterar a sonoridade do instrumento,
produzindo um som brilhante, abafado, aveludado, entre outros adjetivos sonoros. Dentre as
especificações utilizadas por compositores para o uso das surdinas, destacam-se os termos mute,
con sordino, mit dampfer, avec sourdine, surdina, entre outras nomenclaturas (DEL MAR,
1987).
Segundo WICK (2011), as surdinas do tipo straight construídas de metal
(sonoridade clara e brilhante) e fibra (produz efeitos mais discretos que as de metal) são as mais
utilizadas pelo trombone baixo e por todo naipe de trombones em uma orquestra sinfônica,
embora também existam outros tipos de surdinas, como pode ser observado no subcapítulo
1.4.6.
KLEINHAMMER (1963) relata que as surdinas podem alterar a afinação do
instrumento quando estão em uso, portanto, sugere testá-las antes da performance, assim é
possível abrir ou fechar a bomba de afinação para regular a afinação geral do instrumento.
Ademais, recomenda-se observar o estado de conservação e o tamanho das cortiças que
prendem o acessório na campana do trombone baixo, pois elas podem proporcionar sonoridades
indesejadas, possivelmente abafada devido à pressão exercida no instrumento.
Para demonstrar o uso da surdina selecionou-se por gravar uma passagem musical
da obra Petrushka (1911) de Igor Stravinsky (Exemplo 51) cujo o naipe de trombones executa
uma frase em uníssono que explora o registro agudo do instrumento com a utilização do
acessório.
151
O link 1958 oferece o arquivo de áudio.
Exemplo 51: Trecho que o naipe de trombones utiliza as surdinas na obra Petrushka (1911) de Igor Stravinsky.
Compassos 39 ao 42.
Fonte: Arquivo pessoal.
No preparo para a gravação foi possível comprovar a afirmação de
KLEINHAMMER (1963), pois a surdina proporcionou uma afinação relativamente baixa,
sendo ajustada ao fechar a bomba de afinação. Além disso, esse trecho apresenta uma tessitura
extremamente aguda para o trombone baixo e requer técnica específica para ser executado, pois
exige precisão, ampla extensão no registro agudo e apurada percepção auditiva, já que as
relações intervalares não são uniformes. Outro fator relevante é, quando acoplado o acessório,
o trombone baixo torna-se ainda mais pesado, logo, uma postura correta auxilia na execução de
frases que usam surdinas, porque é comum o trombonista baixo alterar a postura por causa do
excesso de peso, assim, comprometendo sua respiração e, consequentemente a execução. Vale
destacar que mesmo sem a surdina, o trombone baixo é um instrumento pesado, ou seja, a
postura pode interferir na qualidade de qualquer performance musical.
As obras de Stravinsky e de Bartók foram escritas no século XX, portanto, para um
instrumental de grandes dimensões. Desse modo, sugere-se utilizar um trombone baixo com
campana entre 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ), pois campanas nessas medidas produzem
ampla sonoridade, cabendo ao instrumentista optar por qual mais lhe agrada.
58 Link 19 com o trecho escrito por Stravinsky em Petrushka (Exemplo 51) que evidencia a utilização da surdina.
Para esta passagem, empregou-se um trombone baixo com 266 mm (10,5ʺ) de campana.
https://www.dropbox.com/s/z4d2i1q19h6ykw5/Petrushka%20%E2%80%93%20Stravinsky%2C%20I.%20%28e
feito%20de%20surdina%2C%20campana%209%2C5%29.wav?dl=0
152
2.2.10 - Solos de trombone baixo nas obras orquestrais
Observa-se que o trombone baixo também foi empregado em frases melódicas que
lhe proporcionaram momentos de destaque como solista. Todavia, são trechos que normalmente
estão dobrando as vozes em uníssono ou em oitavas justas com outros instrumentos, como é o
caso do Chor und Terzett (n° 26) de The Creation de Haydn (trombone baixo, fagotes,
contrabaixo e violoncelos), 2° movimento da Symphony n° 9 de Beethoven (trombone baixo,
violas e violoncelos), Die Meistersinger von Nurnberg de Richard Wagner (trombone baixo e
primeiro trombone), 3° movimento da Symphony in D minor de César Franck (trombone baixo,
primeiro trompete e tuba), Promenade de Pictures at na Exhibition de Modest Mussorgsky,
Jupiter de The Planets de Gustav Holst (1874-1934) (trombone baixo e tuba), além de outras
composições.
Apesar de serem trechos que proporcionam evidência ao trombone baixo, segundo
SADIE (1994), a palavra solo é definida como uma passagem musical que deve ser executada
por um só intérprete. Assim, esse subcapítulo selecionou três passagens musicais do repertório
orquestral onde o instrumento atua de forma solista, como no 4° movimento da Symphony n° 3
de Schumann (Exemplo 52), na obra An American in Paris (1928) de Gershwin (Exemplo 53)
e em Don Quixote (1897) de Richard Strauss (Exemplo 54).
Na Symphony n° 3, nota-se que Schumann explorou um trecho cantabile com a
articulação do legato, no qual escreve um crescendo gradual por toda a frase. É um trecho que
exige do trombonista baixo um conhecimento sobre o momento adequado de utilizar ou não a
língua e o recurso das válvulas na mudança das notas (detalhes sobre a execução de frases em
legato encontram-se no subcapítulo 2.2.5). Por ser uma passagem cantabile com um crescendo
gradativo até o final da frase, sugere-se que o instrumentista imagine como um cantor executaria
esse trecho. Para isso, o músico deve estar relaxado, sem tensão corporal, com um bom controle
do sistema respiratório, lembrando que o fluxo de ar deve ser quente e contínuo e, com o
desenvolvimento da frase, a velocidade de emissão do ar aumente gradualmente para realizar o
crescendo escrito pelo compositor.
153
Exemplo 52: Solo escrito para o trombone baixo no 4° movimento da Symphony n° 3 de Schumann.
Compassos 12 ao 18.
Fonte: Arquivo pessoal.
Para a execução da Symphony n° 3 de Schumann, recomenda-se utilizar um
trombone baixo com de 241 mm (9,5ʺ) de campana, pois apesar da obra não exigir um amplo
volume, é uma campana que gera boa ressonância para reproduzir a escrita que o compositor
empregou em sua obra. Vale ressaltar que os entrevistados James Markey, George Curran e
Ricardo Santos também utilizam uma campana com essa medida para a obra de Schumann.
Para exemplificar auditivamente, o link 2059 oferece um arquivo de áudio do solo
escrito por Schumann.
Na execução do trecho de An American in Paris de Gershwin, o trombonista baixo
deve atentar-se especialmente para a articulação, a dinâmica e o andamento. A articulação
empregada pelo compositor é o staccato e o marcato, ou seja, é relevante mostrar a diferença
entre essas articulações (informações sobre como proceder com a execução do marcato estão
no subcapítulo 2.2.7 e sobre o staccato encontram-se no 2.2.8). Em relação à dinâmica, percebe-
se que Gershwin escreveu o trecho em p, no entanto, considerando o tamanho das grandes salas
de concerto da atualidade e a ampla instrumentação da obra, é possível executar a frase com
mais volume, como em mp, já que se trata de um trecho solo. Sobre o andamento, por ser o
desfecho de um dos temas da composição, no qual o compositor escreveu um rubato, a sugestão
é realizar a frase com um pequeno rallentando.
59 Link 20: Solo do 4° movimento da Symphony n° 3 de Schumann executado por um trombone baixo com medida
de 241 mm (9,5ʺ) de campana.
https://www.dropbox.com/s/q708p15btzolx1r/Symphony%20n%C2%B0%203%20%E2%80%93%20Schumann
%20%28solo%20tb%29.wav?dl=0
154
A seguir está disponível a partitura do trecho, bem como os links 2160 e 2261 com o
áudio do trecho escrito por Gershwin, no qual foram executados com distintas dimensões de
campanas.
Exemplo 53: Solo escrito para o trombone baixo em An American in Paris de Gershwin. Compassos 390 ao 392.
Fonte: Arquivo pessoal.
Em Don Quixote, Richard Strauss escreveu um solo para o trombone baixo no início
da obra, no qual optou pela dinâmica mf com a utilização da surdina, que por sua característica,
abafa e proporciona um diferente timbre ao instrumento. Executar essa passagem em mf com
surdina irá produzir uma dinâmica mp, sendo suficiente para o trecho, já que poucos
instrumentos estão tocando no mesmo momento. Vale ressaltar ser relevante testar a surdina
antes da performance para observar se houve alterações na afinação do instrumento. Também
deve-se ter maior atenção à articulação escrita na parte, pois pelas especificações do
compositor, a correta execução seria com três notas curtas (staccato), seguida de uma longa
(tenuto) e novamente o mesmo procedimento. Os links 2362 e 2463 disponibilizam o áudio do
solo de Don Quixote (1897).
60 Link 21: áudio do solo escrito em An American in Paris, sendo executado por um trombone baixo com 241 mm
(9,5ʺ) de campana.
https://www.dropbox.com/s/ik50b0a2nvo2g6x/An%20American%20in%20Paris%20%E2%80%93%20Gershwi
n%2C%20G.%20%28solo%20tb%2C%20campana%209%2C5%29.wav?dl=0 61 Link 22: solo escrito em An American in Paris, sendo executado por um trombone baixo com 266 mm (10,5ʺ)
de campana. https://www.dropbox.com/s/xzr1ci2pwf4hl5p/An%20American%20in%20Paris%20-
%20Gershwin%2C%20G.%20%28solo%20tb%2C%20campana%2010%2C5%29.wav?dl=0
62 Link 23: áudio do solo escrito em Don Quixote, sendo executado por um trombone baixo com 241 mm (9,5ʺ)
de campana.
https://www.dropbox.com/s/cbcs69fwi38rwrc/Don%20Quixote%20%E2%80%93%20Strauss%2C%20R.%20%
28solo%20tb%2C%20campana%209%2C5%29.wav?dl=0 63 Link 24: áudio do solo escrito em Don Quixote, sendo executado por um trombone baixo com 266 mm (10,5ʺ)
de campana.
https://www.dropbox.com/s/yyyujoguevwhttw/Don%20Quixote%20%E2%80%93%20Strauss%2C%20R.%20%
28solo%20tb%2C%20campana%2010%2C5%29.wav?dl=0
155
Exemplo 54: Solo escrito para o trombone baixo em Don Quixote de Richard Strauss. Compassos 58 ao 60.
Fonte: Arquivo pessoal.
Don Quixote e An American in Paris foram composições realizadas para grandes
instrumentações orquestrais, que exigem em alguns momentos um amplo volume sonoro da
família dos metais. Dessa forma, sugere-se para a execução dessas obras usar um trombone
baixo com campana entre 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ).
Nas entrevistas foi possível constatar que para obras desse período, os trombonistas
baixos Douglas Yeo, George Curran, James Markey, Martin Schippers e Ricardo Santos
utilizam a campana com 241 mm (9,5ʺ) de diâmetro64.
Embora sejam sugeridas diferenciadas medidas de instrumento, vale salientar que
não há a necessidade de o instrumentista possuir três instrumentos para a execução do repertório
orquestral, pois como apresentado no Capítulo 1, é possível remover somente a campana e
manter as válvulas e a vara. Além disso, alguns fabricantes produzem a campana de rosca que
permite trocar apenas a parte final da peça. Porém, isso só é possível para as dimensões entre
241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ), pois tem o mesmo encaixe, já para a campana de 228 mm
(9ʺ) no instrumento da marca Thein, o encaixe é diferente, sendo necessário a mudança de toda
a peça.
A alteração entre as campanas que medem 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ) é
rapidamente adaptável, pois trocar somente a parte final da peça não muda o diâmetro interno
do tubo, mas mesmo assim, proporciona diferença na ressonância do instrumento. Para a
campana de 228 mm (9ʺ), a mudança é mais acentuada, uma vez que necessita trocar toda a
peça. Com isso, o diâmetro interno do tubo é menor e demanda uma menor emissão de volume
de ar.
64 Essas informações foram retiradas das entrevistas realizadas com os trombonistas baixos atuantes em orquestras
sinfônicas.
156
Assim, para que o instrumentista realize uma boa execução musical com distintas
campanas, são necessários estudos técnicos e melódicos que possam preparar o trombonista
baixo para essas mudanças, pois no preparo para as gravações foi possível constatar que a troca
exige um tempo de adaptação que influi diretamente na qualidade sonora. Portanto, ao ter
conhecimento do repertório orquestral que será executado, recomenda-se ao trombonista baixo
escolher a dimensão de campana e iniciar estudos preparativos para essa performance com
tempo suficiente de antecedência dos primeiros ensaios com o grupo.
Dentre alguns estudos técnicos que podem auxiliar o trombonista baixo na mudança
instrumental, destacam-se estudos de escalas, flexibilidade, relações intervalares, distintas
articulações, enfim, elementos que devem ser estudados em diferentes andamentos, pois
atingem propósitos diferenciados. Por exemplo, em um estudo de escalas lentas, o
instrumentista trabalha a sonoridade, o controle no fluxo do ar, a conexão entre as notas, a
afinação e a resistência muscular. Já em exercícios de escalas rápidas, o trombonista lida com
a agilidade, coordenação entre a língua, o manejo da vara e o uso das válvulas, com o fluxo do
ar e com as distintas articulações. Desse modo, a alteração instrumental exige variados tipos de
estudos técnicos.
157
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concretizar a presente pesquisa, inicialmente, observou-se que as referências
bibliográficas apontaram que o trombone baixo surgiu no século XVI, pois o documento mais
antigo encontrado cita o instrumento em um inventário alemão datado de 1573. Outro fato que
comprova a existência de um trombone baixo nesse século é um instrumento construído por
Pierre Colbert em 1593, que se encontra em exposição no Rijksmuseum em Amsterdam.
Em relação à parte estrutural, notou-se que o instrumento passou por alterações ao
longo dos séculos, dentre elas, distintas afinações, a incorporação das válvulas, além de um
aumento em suas dimensões de calibre e de campana, o que proporcionou uma ampliação de
volume e projeção sonora.
Nos séculos XVI e XVII, o trombone baixo ou quart-posaune, como era conhecido,
possuía sua afinação fundamental em Fá ou Mi bemol, embora também foram encontrados
alguns instrumentos em Mi e em Sol. Suas dimensões aproximadas eram entre 9,3 mm (0,366ʺ)
e 13,5 mm (0,531ʺ) de calibre e entre 116 mm (4,56ʺ) e 129,5 mm (5,09ʺ) de campana.
No século XIX, surgiram o trombone tenor/baixo em Si bemol com uma válvula
em Fá, com um calibre aproximado de 14 mm (0,551ʺ) e campana entre 232 mm (9,13ʺ) e 250
mm (9,84ʺ), o trombone baixo em Sol com válvula em Ré, com o calibre de 12,29 mm (0,484ʺ),
além do trombone baixo de válvulas.
No século XX, o trombone baixo em Si bemol adquiriu uma segunda válvula,
tornando-se um instrumento com duas válvulas dependentes que produziram as afinações Si
bemol/Fá/Mi. Ainda nesse século, surgiu o trombone baixo em Si bemol com duas válvulas
independentes, isto é, um instrumento com quatro afinações distintas (Si bemol/Fá/Sol/Mi
bemol; Si bemol/Fá/Sol bemol/Ré; Si bemol/Fá/Ré/Si). Esse instrumento foi fabricado com
medidas de calibre entre 13,46 mm (0,530ʺ) e 14,27 mm (0,562ʺ) e campanas entre 241 mm
(9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ).
Atualmente, o trombone baixo em Si bemol é produzido com uma válvula (Si
bemol/Fá), com duas válvulas dependentes (Si bemol/Fá/Mi ou Si bemol/Fá/Ré) ou com duas
válvulas independentes (Si bemol/Fá/Sol bemol/Ré ou Si bemol/Fá/Sol/Mi bemol). Suas
medidas de calibre são em torno de 14,27 mm (0,562ʺ) e 14,27 mm/14,68 mm (0,562ʺ/0,578ʺ),
além de campanas que variam entre 241 mm (9,5ʺ) e 266 mm (10,5ʺ).
Sobre a utilização do trombone baixo no naipe de trombones, constatou-se que até
o início do século XIX, o naipe foi frequentemente formado por um trombone alto, um tenor e
um baixo de pequenas dimensões que atuavam basicamente em trabalhos sacros e óperas. Até
158
esse período, é possível afirmar que a terceira voz do naipe de trombones foi executada por um
quart-posaune ou quint-posaune. Portanto, em obras de Monteverdi, Bach, Gluck, Haydn,
Mozart e Beethoven utilizou-se um trombone baixo com pequenas medidas de calibre e de
campana em suas performances.
No século XIX, os compositores passaram a empregar o naipe de trombones
também em sinfonias e em concertos, além de óperas e obras sacras. No entanto, com o
surgimento de novos instrumentos nesse período, como o trombone em Si bemol/Fá de grandes
medidas, o trombone baixo em Sol/Ré de dimensões medianas, o trombone de válvulas e a
reutilização do trombone contrabaixo, houve uma alteração na constituição do naipe que
perdurava por alguns séculos, pois como observado, os países europeus passaram a formar o
naipe com certas diferenciações. Na Alemanha e na Áustria, foram adotados trombones de
amplas dimensões, com o trombone tenor/baixo em Si bemol/Fá tornando-se o novo
responsável por executar a terceira voz do naipe. Na França, o naipe foi formado por três
trombones em Si bemol de dimensões médias. Na Itália, a opção foi utilizar trombones de
válvulas e trombones tenores em Si bemol. Na Inglaterra, a escolha foi pelo trombone baixo em
Sol/Ré para a terceira voz do naipe. Vale ressaltar que algumas regiões europeias utilizaram o
quart-posaune até o final do século XIX.
Além da diferença no uso do instrumento nesses países, notou-se também que
compositores desse período passaram a compor obras para variadas formações do naipe.
Schumann e Brahms escreveram praticamente todas as suas sinfonias para um naipe constituído
por um trombone alto, um tenor e um baixo. Berlioz e Rossini optaram por empregar em suas
obras três trombones em Si bemol. Verdi incluiu os trombones de válvulas e o cimbasso em
suas composições. Wagner formou um naipe com trombones em Si bemol/Fá de amplas
dimensões, além de utilizar o trombone contrabaixo para executar a quarta voz em algumas de
suas composições.
Enfim, são variados os tipos de trombone baixo utilizados para executar a voz mais
grave do naipe de trombones nesse período, pois como relatado, as regiões europeias e os
compositores possuíam predileções distintas. No entanto, com o decorrer do século XIX, os
trombones em Si bemol/Fá de grandes medidas ganharam um maior espaço. Na segunda metade
do século XIX, o naipe de trombones era frequentemente formado por dois trombones tenores
e um trombone baixo em Si bemol/Fá de grandes dimensões de calibre e de campana.
Atualmente, o naipe de trombones segue a constituição configurada na segunda
metade do século XIX, formado por dois trombones tenores em Si bemol/Fá na execução da
159
primeira e segunda voz e um trombone baixo com duas válvulas na terceira voz, embora seja
comum a utilização de instrumentos específicos para diferenciados repertórios orquestrais.
Para compreender as características e as funções musicais específicas designadas
ao trombone baixo, foi necessário um estudo aprofundado em diversas obras orquestrais de
distintos compositores da história da música ocidental. Tais peculiaridades foram apresentadas
por estarem presentes em várias composições. No entanto, esse trabalho atentou-se em
demonstrar com alguns exemplos de trechos orquestrais para que a dissertação não adquirisse
um amplo volume.
Como constatado, as principais características designadas ao trombone baixo
podem ser classificadas como: a atuação como baixo contínuo; a combinação com outros
instrumentos graves da família das cordas e das madeiras; a fusão musical com a tuba, a
ampliação em sua tessitura, além do emprego em alguns trechos solistas. Já em relação a todo
o naipe de trombones, constatou-se: a substituição e dobramento das vozes do coro; o emprego
em tuttis orquestrais; a leve sonoridade nos coros de Schumann e Brahms; a potência sonora e
os efeitos de glissando e surdina.
As recomendações interpretativas e instrumentais servem de ferramentas para
serem utilizadas por trombonistas baixos atuantes em grupos sinfônicos na execução de
variados repertórios orquestrais. Essas sugestões servem como recursos escritos e auditivos,
pois mostram caminhos para se obter uma satisfatória performance musical.
Como resultado, essa pesquisa oferece um relato sobre a história do trombone
baixo, apresenta um estudo sobre a utilização do instrumento e de todo o naipe de trombones
nas obras sacras e sinfônicas de distintos períodos, exibe as principais características e funções
musicais designadas ao trombone baixo e a seu naipe através de trechos orquestrais, oferece
sugestões interpretativas para a execução de obras sacras e sinfônicas, recomenda dimensões
de campanas para a performance das composições selecionadas, além de disponibilizar links
com arquivos de áudios dos excertos orquestrais selecionados que servirão como exemplo
auditivo.
A realização dessa dissertação também tem como propósito preencher parte da
lacuna existente na pesquisa acadêmica voltada para o trombone baixo, já que apresenta um
conteúdo inédito em língua portuguesa sobre o instrumento. O intuito foi compartilhar
informações que possam proporcionar aos estudantes, instrumentistas e professores do
trombone baixo, um conhecimento sobre a história do instrumento, bem como, auxiliar na
performance de distintas obras sacras e sinfônicas. Desse modo, o presente trabalho também
pretende contribuir para futuras pesquisas relacionadas aos instrumentos de metal, podendo ser
160
usado como uma referência para novos estudos que envolvam o naipe de trombones, o
trombone baixo, os compositores e as obras que utilizaram o instrumento.
161
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Tchaikovsky, P. The Nutcracker. Disponível em
http://imslp.org/wiki/The_Nutcracker_(ballet)%2C_Op.71_(Tchaikovsky%2C_Pyotr). Acesso em 14 de
maio de 2017.
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http://imslp.org/wiki/Das_Rheingold%2C_WWV_86A_(Wagner%2C_Richard). Acesso em 16 de março
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Wagner, R. Der Fliegende Hollander. Disponível em
http://imslp.org/wiki/Der_fliegende_Holl%C3%A4nder%2C_WWV_63_(Wagner%2C_Richard). Acesso em
12 maio de 2017.
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2014. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=pFbTZ9T7ogc. Acesso em 05 de maio de
2017.
Bartók, B. Concerto for Orchestra. Rotterdam Philharmonic, Maestro Michel Plasson.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=VqjLZPJ4gKQ. Acesso em 15 de maio de 2017.
167
Beethoven, L. V. Symphony n° 5. Wiener Phillarmoniker, Maestro Leonard Lerstein.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=kHYBoG7hiZk. Acesso em 10 de maio de 2017.
Gabrielli, G. Sonata pian e forte. Festival des Cathedrales in Picardie, Maestro Bernard Fabre-
Garrus. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Jx2xgbBkjbg. Acesso em 17 de março de
2017.
Gabrielli, G. Sonata pian e forte. The Brass Section of the Bayerische Staatsoper, Maestro Zubin
Metha. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=rQeikHMQGOM. Acesso em 17 de março
de 2017.
Gershwin, G. An American in Paris. Los Angeles Philharmonic, Maestro Gustavo Dudamel.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=EGt000iascg. Acesso em 24 de maio de 2017.
Gluck, C. W. Orfeo ed Euridice. Orquestra Filarmônica de Londres no Glyndebourne Festival
de Ópera, Maestro Raymond Leppard. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=EENw_ptgGcg. Acesso em 05 de maio de 2017.
Haydn, J. The Creation. Bavarian Radio Chorus and Symphony Orchestra, Maestro Leonard
Lerstein. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=32Xq7Tcj428. Acesso em 05 de maio de
2017.
Monteverdi, C. L´Orfeo. Le Concert des Nations, Maestro Jordi Savall. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=dBsXbn0clbU&t=68s. Acesso em 05 de maio de 2017.
Monteverdi, C. L´Orfeo. Orchestra del Teatro alla Scala, Maestro Alessandrini. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=JnYaVGI3mA4. Acesso em 05 de maio de 2017.
Mozart, W. A. Requiem in D Minor. Wiener Phillarmoniker, Maestro Herbert von Karajan.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=aHCuGgt1D-k. Acesso em 05 de maio de 2017.
Schumann, R. Symphony n° 3. New York Philharmonic, Maestro Kurt Masur. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=YpwSIi6E0VA. Acesso em 12 de maio de 2017.
Stravinsky, I. Petroushka. Concertgebouw Orchestra, Maestro Andris Nelsons. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=esD90diWZds. Acesso em 22 de maio de 2017.
Entrevistas
Curran, G. Entrevista concedida via e-mail em 18 de novembro de 2016.
Dijk, B. V. Entrevista concedida via e-mail em 1 de março de 2017.
Markey, J. Entrevista concedida via e-mail em 10 de novembro de 2016.
Santos, R. F. Entrevista concedida via e-mail em 18 de novembro de 2016.
Schippers, M. Entrevista concedida via e-mail em 20 de março de 2017.
Yeo, D. Entrevista concedida via e-mail em 1 de março de 2017.
168
APÊNDICE 1
Entrevistas
Caro professor Ben van Dijk.
Este questionário tem o intuito de obter informações sobre a utilização do trombone
baixo nas obras sacras e sinfônicas do repertório orquestral. Sua contribuição será importante
para o desenvolvimento da minha pesquisa, pois desta maneira, poderei coletar dados
relacionados ao instrumento. Desde já, agradeço a sua atenção e colaboração.
Dear professor Ben van Dijk.
This questionnaire aims to obtain information about the use of the bass trombone in the
sacred and symphonic works of the orchestral repertoire. Your contribution will be important
for the development of my research, because I will be able to collect data related to the
instrument. I would like to thank you for your attention and collaboration.
1) Descreva brevemente suas atividades profissionais: Onde você trabalha? Qual é o seu
cargo? (Briefly, describe your professional activities: Where do you work? What is your
position?)
Eu sou o trombonista baixo da Orquestra Filarmônica de Rotterdam e sou professor do
Conservatório de Amsterdam. Além dessas atividades, eu tenho ministrado aulas e
recitais ao redor do mundo e tenho cinco CDs solo gravados. O sexto está a caminho.
(“I am the bass trombonist of the Rotterdam Philharmonic Orchestra and I am professor
at the Conservatory of Amsterdam. Besides these activities I have been giving
masterclasses and recitals all over the world and have made 5 solo cd’s, no:6 is on it’s
way!”)
2) Você usa o mesmo trombone baixo para todo o repertório sinfônico? Por quê? Quais
são as especificações de calibre, campana e válvulas do instrumento que você usa em
seu trabalho? (Do you use the same bass trombone for all symphonic repertoire? Why?
What are the specifications of bore, bell and valves of the instrument that you use in
your job?)
Geralmente eu utilizo o mesmo instrumento para o meu trabalho orquestral. Algumas
vezes eu troco para uma campana menor para certos repertórios, como Requiem –
169
Mozart ou The Creation – Haydn. Especificações: diâmetro da campana: 250 mm;
material: tipo THEIN Kruspe; calibre: 13,9 mm – 14,4 mm; campana: 0,40 mm;
finalização: laqueado. (“In principal I use the same instrument for my orchestral job. I
sometimes change to a smaller bell for certain repertoire like Mozart – Requiem or
Haydn – Creation. Specifications: bell diameter: 250 mm; Material: THEIN Kruspe-
style; Bore: 13,9 mm - 14,4 mm; Bell: 0,40 mm; Finish: Lacquer”).
3) Se você usa instrumentos diferentes ou apenas muda uma parte específica dele para
determinado repertório orquestral, como é feita essa mudança? Todo o naipe de
trombones também alteram seus instrumentos? (If you use different instruments or just
change a specific part of the instrument for determined orchestral repertoire, how is it
done this change? The whole section of trombones also changes their instruments?)
A menor campana e talvez, um diferente leadpipe podem me ajudar a tornar o meu som
mais próximo ao estilo da música que eu toco e ao tamanho da orquestra que eu terei
que tocar. Eu não troco o bocal. Meus colegas nunca trocam, a não ser utilizando um
trombone alto quando a parte pede isso. (“The smaller bell and perhaps a different lead-
pipe might help me to make my sound more in style of the music I play and the size of
the orchestra I have to play in. I do not change mouthpiece. My colleagues never change
unless using an alto trombone when the part says so”.)
4) Se você usa o mesmo trombone baixo para todo repertório sinfônico, você altera a
maneira de executar os trabalhos dos diferentes períodos? Como é realizada essa
mudança? (If you use the same bass trombone for the whole symphonic repertoire, do
you change the way to play the works of different periods? How is this change made?)
Sim, eu mudo a maneira de tocar. Para repertórios como Mozart e Haydn eu tenho que
pensar pequeno de muitas maneiras. Dinâmica, som, mas também articulação, podem
ser diferentes, mas isso é, claro, também o caso quando eu toco diferentes repertórios
do mesmo período. Se eu penso no repertório russo e o comparo com o repertório francês
do mesmo período, eu também vou tocá-los de formas diferentes. (“Yes, I change the
way I play. For the Mozart – Haydn type of repertoire I have to think smaller in many
ways. Dynamics, sound but also articulation might be different but this is of course also
the case when I play different repertoire from the same period. If I think of Russian
170
repertoire and I compare this with French repertoire from the same period I will play
that also differently”.)
5) Você gostaria de adicionar alguma informação ou consideração nesta pesquisa? (Would
you like to add some information or consideration in this research?)
Pode ser interessante comparar as diferentes maneiras de tocar o trombone baixo (som,
articulação, dinâmica, comprimento de notas, etc) entre os trombonistas baixos dos
diferentes países, ou como a forma de tocar o trombone baixo tem se modificado durante
os anos. Talvez por meio da comparação de diferentes gravações da mesma peça! Esta
pode ser uma boa fonte de pesquisa: http://www.tromboneexcerpts.org. (“It might be
interesting to compare the different way of playing bass trombone (sound, articulation,
dynamic, length of notes etc) between bass trombonists from different countries or how
the way of playing bass trombone has changes in the years. Perhaps by comparing
different recordings of the same piece! This might be a nice resource:
http://www.tromboneexcerpts.org”.)
6) Você autoriza o uso dessas informações em minha dissertação? (Do you authorize the
use of this information in my dissertation?)
Você está completamente livre para usar minhas palavras. (“You are completely free to
use my words”.)
171
Caro professor Douglas Yeo
Este questionário tem o intuito de obter informações sobre a utilização do trombone
baixo nas obras sacras e sinfônicas do repertório orquestral. Sua contribuição será importante
para o desenvolvimento da minha pesquisa, pois desta maneira, poderei coletar dados
relacionados ao instrumento. Desde já, agradeço a sua atenção e colaboração.
Dear professor Douglas Yeo
This questionnaire aims to obtain information about the use of the bass trombone in the
sacred and symphonic works of the orchestral repertoire. Your contribution will be important
for the development of my research, because I will be able to collect data related to the
instrument. I would like to thank you for your attention and collaboration.
1) Descreva brevemente suas atividades profissionais: Onde você trabalha? Qual é o seu
cargo? (Briefly, describe your professional activities: Where do you work? What is your
position?)
Eu sou trombonista baixo aposentado da Orquestra Sinfônica de Boston, uma posição
que ocupei de 1985-2012. De 2012-2016 eu fui professor de trombone da Universidade
do Estado do Arizona. Atualmente eu trabalho escrevendo vários livros sobre o
trombone para várias editoras, incluindo a Editora da Universidade de Oxford e a
Editora da Universidade de Illinois. Eu continuo realizando performance e ensino ao
redor do mundo, fazendo recitais, como solista com orquestras, e ministrando aulas e
residências. (“I am the retired bass trombonist of the Boston Symphony Orchestra, a
position I held from 1985-2012. From 2012-2016 I was Professor of Trombone at
Arizona State University. Currently I am at work writing several books about the
trombone for various publishers including Oxford University Press and University of
Illinois Press. I continue to perform and teach around the world, giving recitals, as
solist with orchestras, and giving masterclasses and residencies.”)
2) Você usa o mesmo trombone baixo para todo o repertório sinfônico? Por quê? Quais são
as especificações de calibre, campana e válvulas do instrumento que você usa em seu
trabalho? (Do you use the same bass trombone for all symphonic repertoire? Why? What
are the specifications of bore, bell and valves of the instrument that you use in your job?)
172
Sim, eu uso o trombone baixo Yamaha YBL-822G para a maioria das coisas que faço.
Quando eu estava na Sinfônica de Boston, nós usávamos trombones Kruspe para
repertórios alemãs do século 18th e 19th (Mozart, Beethoven, Schumann, Schubert)
quando a seção de trompetes utilizava trompetes de rotores. (“Yes, I use the Yamaha YBL-
822G bass trombone for most things that I do. When I was in the Boston Symphony, we
used Kruspe trombones for 18th and 19th century German repertoire (Mozart, Beethoven,
Schumann, Schubert) when the trumpet section used rotary trumpets”.)
3) Se você usa instrumentos diferentes ou apenas muda uma parte específica dele para
determinado repertório orquestral, como é feita essa mudança? Todo o naipe de
trombones também alteram seus instrumentos? (If you use different instruments or just
change a specific part of the instrument for determined orchestral repertoire, how is it
done this change? The whole section of trombones also changes their instruments?)
Eu mudaria o instrumento inteiro. Eu não tenho nenhum instrumento com partes
destacáveis. (“I would change the entire instrument. I do not have any instruments with
detachable parts”).
4) Se você usa o mesmo trombone baixo para todo repertório sinfônico, você altera a
maneira de executar os trabalhos dos diferentes períodos? Como é realizada essa
mudança? (If you use the same bass trombone for the whole symphonic repertoire, do
you change the way to play the works of different periods? How is this change made?)
Não houve resposta.
5) Você gostaria de adicionar alguma informação ou consideração nesta pesquisa? (Would
you like to add some information or consideration in this research?)
Houveram vezes que eu usei o trombone baixo em Sol (Elgar) e o trombone baixo em
Fá (Bartok). (“There have been times when I used a G bass trombone (in Elgar) and
an F bass trombone (Bartok)”).
6) Você autoriza o uso dessas informações em minha dissertação? (Do you authorize the
use of this information in my dissertation?)
Sim. Douglas Yeo. (“Yes. Douglas Yeo”.)
173
Caro professor George Curran.
Este questionário tem o intuito de obter informações sobre a utilização do trombone
baixo nas obras sacras e sinfônicas do repertório orquestral. Sua contribuição será importante
para o desenvolvimento da minha pesquisa, pois desta maneira, poderei coletar dados
relacionados ao instrumento. Desde já, agradeço a sua atenção e colaboração.
Dear professor George Curran.
This questionnaire aims to obtain information about the use of the bass trombone in the
sacred and symphonic works of the orchestral repertoire. Your contribution will be important
for the development of my research, because I will be able to collect data related to the
instrument. I would like to thank you for your attention and collaboration.
1) Descreva brevemente suas atividades profissionais: Onde você trabalha? Qual é o seu
cargo? (Briefly, describe your professional activities: Where do you work? What is your
position?)
Eu tenho sido o trombonista baixo da Filarmônica de Nova York desde 2012. Eu
comecei a lecionar na Universidade de Rutgers em 2014. (“I have been the bass
trombonist of the New York Philharmonic since 2012. I started teaching at Rutgers
University in 2014”).
2) Você usa o mesmo trombone baixo para todo o repertório sinfônico? Por quê? Quais
são as especificações de calibre, campana e válvulas do instrumento que você usa em
seu trabalho? (Do you use the same bass trombone for all symphonic repertoire? Why?
What are the specifications of bore, bell and valves of the instrument that you use in
your job?)
Eu toco em um trombone baixo Shires calibre largo (.562). É o meu modelo pessoal,
campana de metal amarelo 9.5", válvulas light weight axial flow, vara dual bore,
leadpipe B3. Eu sempre uso um bocal Greg Black 1 GL. (“I play a large bore (.562)
Shires bass trombone. It is my own personal model. 9.5" yellow brass bell, light weight
axial flow valves, dual bore slide, B3 lead pipe. I always use a Greg Black 1GL
mouthpiece”).
174
3) Se você usa instrumentos diferentes ou apenas muda uma parte específica dele para
determinado repertório orquestral, como é feita essa mudança? Todo o naipe de
trombones também alteram seus instrumentos? (If you use different instruments or just
change a specific part of the instrument for determined orchestral repertoire, how is it
done this change? The whole section of trombones also changes their instruments?)
No repertório que utiliza trombone alto, eu troco minha seção de válvulas por uma única
válvula TruBore. O peso mais leve da única válvula me permite um som brilhante para
combinar com os outros trombones. Quando o principal utiliza o trombone alto, o
segundo utiliza um trombone sem válvulas com amplo calibre, também para aproximar
ao menor som do trombone alto. (“On repertoire using an alto trombone, I switch my
valve section to a single valve TruBore section. The lighter weight of the single valve
allows me to lighten my sound to match the other trombones. When the principal is using
an alto, the second uses a large bore straight horn, also to match closer to the smaller
alto trombone sound”).
4) Se você usa o mesmo trombone baixo para todo repertório sinfônico, você altera a
maneira de executar os trabalhos dos diferentes períodos? Como é realizada essa
mudança? (If you use the same bass trombone for the whole symphonic repertoire, do
you change the way to play the works of different periods? How is this change made?)
Mesmo quando eu não troco instrumentos, como por exemplo na Quarta Sinfonia de
Brahms's, deixo o som mais brilhante através da minha forma de tocar. Eu uso uma
corrente de ar mais compacta e não uso certos tons e cores ásperas e fortes. (“Even when
I don't change instruments, such as on Brahms's Fourth Symphony, I lighten up the
sound through my playing approach. I use a more compact airstream and don't use
certain harsher or louder tone colors”).
5) Você gostaria de adicionar alguma informação ou consideração nesta pesquisa? (Would
you like to add some information or consideration in this research?)
A seção deve estar em acordo com os principais quando são trocados os instrumentos.
Se o diretor musical pede por isso, nós iremos sempre fazer da forma que ele pede.
Alguns músicos não terão fundos para usar múltiplos instrumentos, e eles devem fazer
o melhor que eles podem. O tamanho e a ressonância da sala são também outros fatores.
175
Eu uso um trombone contrabaixo quando é pedido. (“The section should come to an
agreement on principals of when to switch instruments. If the music director asks for it,
we will always do as he asks. Certain players won't have the finances to use multiple
instruments, and they must do the best that they can. The size and resonance of the hall
is a factor as well. I use a contrabass trombone when asked for”).
6) Você autoriza o uso dessas informações em minha dissertação? (Do you authorize the
use of this information in my dissertation?)
Sim. George. (“Yes. George”).
176
Caro professor James Markey.
Este questionário tem o intuito de obter informações sobre a utilização do trombone
baixo nas obras sacras e sinfônicas do repertório orquestral. Sua contribuição será importante
para o desenvolvimento da minha pesquisa, pois desta maneira, poderei coletar dados
relacionados ao instrumento. Desde já, agradeço a sua atenção e colaboração.
Dear professor James Markey.
This questionnaire aims to obtain information about the use of the bass trombone in the
sacred and symphonic works of the orchestral repertoire. Your contribution will be important
for the development of my research, because I will be able to collect data related to the
instrument. I would like to thank you for your attention and collaboration.
1) Descreva brevemente suas atividades profissionais: Onde você trabalha? Qual é o seu
cargo? (Briefly, describe your professional activities: Where do you work? What is your
position?)
Meu nome é James Markey. Eu trabalho na Orquestra Sinfônica de Boston, e estou no
corpo docente da New England Conservatory of Music. Anteriormente eu era o
trombonista baixo da Filarmônica de Nova York e estava no corpo docente da Julliard
School; e antes destes eu era o trombonista principal associado a Filarmônica de Nova
York. (“My name is James Markey. I work in the Boston Symphony Orchestra, and am
on faculty at the New England Conservatory of Music. I am formerly the Bass
Trombonist of the New York Philharmonic and faculty of the Juilliard School; and prior
to these I was Associate Principal Trombone of the New York Philharmonic”).
2) Você usa o mesmo trombone baixo para todo o repertório sinfônico? Por quê? Quais
são as especificações de calibre, campana e válvulas do instrumento que você usa em
seu trabalho? (Do you use the same bass trombone for all symphonic repertoire? Why?
What are the specifications of bore, bell and valves of the instrument that you use in
your job?)
Eu normalmente uso o mesmo trombone para a maior parte do repertório sinfônico, com
uma importante nota. Para a maior parte dos trabalhos do período romântico tardio ou
anterior -- Brahms, Beethoven, Schubert, Schumann, e alguns outros – minha seção na
177
Sinfônica de Boston muda para trombones fabricados na Alemanha. Embora esses
trombones soam similares com o típico trombone “alemão” (o qual tende a ser uma
construção bem diferente dos trombones americanos), o design é “americanizado”, para
possibilitar tocar o instrumento com menos alteração nas características do sopro. Meu
trombone baixo Americano é o Edwards B-502i. Ele possui dual bore de .562/.578",
dois rotores Royal independentes, e campana de metal amarelo, embora, grande parte
da tubulação do resto do instrumento seja em metal rosado. (“I typically use the same
trombone for most symphonic repertoire, with one important note. For most works of
the late Romantic period or earlier -- Brahms, Beethoven, Schubert, Schumann, and
some others -- my section in the Boston Symphony switches to trombones manufactured
in Germany. Although these trombones sound similar to a typical "German" trombone
(which tends to be very different in construction from American trombones), the design
is somewhat Americanized, so as to be able to play the instrument with less change in
blowing characteristics. My American bass trombone is an Edwards B-502i. It has a
dual bore of .562/.578", two independent Royal rotors, and a yellow brass bell, although
much of the tubing on the rest of the instrument is rose brass”).
3) Se você usa instrumentos diferentes ou apenas muda uma parte específica dele para
determinado repertório orquestral, como é feita essa mudança? Todo o naipe de
trombones também alteram seus instrumentos? (If you use different instruments or just
change a specific part of the instrument for determined orchestral repertoire, how is it
done this change? The whole section of trombones also changes their instruments?)
Sim, como mencionado antes, a nossa seção inteira de trombones troca os instrumentos
para os trombones estilo Alemão. Os instrumentos que nós tocamos com esse propósito
são fabricados pela Thein, e incluem o trombone alto, o trombone tenor e o trombone
baixo. Os diferentes instrumentos oferecem uma qualidade diferente de som, permitindo
um tipo diferente de som – um pouco mais claro e mais compacto – para tocar de forma
mais suave, e uma ampla gama de cores. Adicionalmente, a série harmônica desse
instrumento alinha bem com os trompetes de rotores que a nossa seção de trompetes
utiliza. (“Yes, as mentioned before, our whole trombone section switches instruments to
a German style trombone. The instruments we currently play for these purposes are
manufactured by Thein, and include an alto trombone, a tenor trombone and a bass
trombone. The different instruments provide a different sound quality, allowing for a
178
different kind of sound -- a bit clearer and more compact -- for soft playing, and a broad
range of color. Additionally, the overtone series on this instruments lines up well with
the rotary trumpets our trumpet section uses”).
4) Se você usa o mesmo trombone baixo para todo repertório sinfônico, você altera a
maneira de executar os trabalhos dos diferentes períodos? Como é realizada essa
mudança? (If you use the same bass trombone for the whole symphonic repertoire, do
you change the way to play the works of different periods? How is this change made?)
Eu estou sempre ciente das diferenças na abordagem de diferentes tipos de repertórios,
independentemente do instrumento que eu estou tocando. É importante entender que a
forma de abordar Bruckner é muito diferente da forma que será abordado Strauss. É
aprendido primeiramente ouvindo outras performances dessas partes, mas também
entendendo a partitura, e como a parte do trombone se ajusta nas orquestrações
específicas. (“I am always aware of differences in approach of different kinds of
repertoire regardless which instrument I am playing on. It is important to understand
how one approaches Bruckner is very different from how one would approach
Strauss. It is primarily learned by listening to other performances of these pieces, but
also understanding the score, and how the trombone part fits into the specific
orchestrations”).
5) Você gostaria de adicionar alguma informação ou consideração nesta pesquisa? (Would
you like to add some information or consideration in this research?)
Nada em particular. (“Not in particular”).
6) Você autoriza o uso dessas informações em minha dissertação? (Do you authorize the
use of this information in my dissertation?)
Sim, eu autorizo. (“Yes, I do”).
179
Caro professor Martin Schippers.
Este questionário tem o intuito de obter informações sobre a utilização do trombone
baixo nas obras sacras e sinfônicas do repertório orquestral. Sua contribuição será importante
para o desenvolvimento da minha pesquisa, pois desta maneira, poderei coletar dados
relacionados ao instrumento. Desde já, agradeço a sua atenção e colaboração.
Dear professor Martin Schippers.
This questionnaire aims to obtain information about the use of the bass trombone in the
sacred and symphonic works of the orchestral repertoire. Your contribution will be important
for the development of my research, because I will be able to collect data related to the
instrument. I would like to thank you for your attention and collaboration.
1) Descreva brevemente suas atividades profissionais: Onde você trabalha? Qual é o seu
cargo? (Briefly, describe your professional activities: Where do you work? What is your
position?)
Eu sou atualmente o trombonista tenor/baixo da Royal Concertgebouw Orchestra em
Amsterdam, na Holanda. Anteriormente, durante quatro anos eu fui o principal
trombonista da Netherlands Radio Chamber Philharmonic e por três anos o segundo
trombonista da Netherlands Radio Philharmonic Orchestra. (“I am currently tenor-
/bass trombonist at the Royal Concertgebouw Orchestra in Amsterdam, the
Netherlands. Before I was for 4 years principal trombonist at the Netherlands Radio
Chamber Philharmonic and for 3 years second trombonist at the Netherlands Radio
Philharmonic Orchestra”).
2) Você usa o mesmo trombone baixo para todo o repertório sinfônico? Por quê? Quais
são as especificações de calibre, campana e válvulas do instrumento que você usa em
seu trabalho? (Do you use the same bass trombone for all symphonic repertoire? Why?
What are the specifications of bore, bell and valves of the instrument that you use in
your job?)
Eu uso o Bach 50 (campana 9,5, padrão) com duas válvulas Thayer para o repertório
principal. Para o repertório alemão, especialmente em Bruckner eu uso o trombone
baixo Throja, que é um trombone feito em estilo alemão. No repertório como Mozart,
180
Schubert and Schumann eu prefiro usar um tenor na terceira voz. Frequentemente, eu
uso meu Bach 42, mas também gosto de usar a campana de prata para ter um som com
um pouco mais de brilho, para tocar de forma presente, sem cobrir muito a orquestra.
(“I use a Bach 50 (standard 9,5 inch bell) with two Thayer valves for the main
repertoire. For German repertoire, especially in Bruckner I use a Throja bass
trombone, this is a German style made trombone. In repertoire like Mozart, Schubert
and Schumann I prefer to use a tenor on the 3rd trombone part. Usually I use my Bach
42 but also like to use a sterling silver bell to have a bit a brighter sound to be able to
play present without covering too much the orchestra”).
3) Se você usa instrumentos diferentes ou apenas muda uma parte específica dele para
determinado repertório orquestral, como é feita essa mudança? Todo o naipe de
trombones também alteram seus instrumentos? (If you use different instruments or just
change a specific part of the instrument for determined orchestral repertoire, how is it
done this change? The whole section of trombones also changes their instruments?)
Sim nós frequentemente mudamos a seção inteira, assim, nós tocamos com o mesmo
tipo de material. Isso beneficia a mistura do som da seção. (“Yes we usually do the
change with the whole section so we play on the same kind of material. This benefits the
blending of the sound of the section”).
4) Se você usa o mesmo trombone baixo para todo repertório sinfônico, você altera a
maneira de executar os trabalhos dos diferentes períodos? Como é realizada essa
mudança? (If you use the same bass trombone for the whole symphonic repertoire, do
you change the way to play the works of different periods? How is this change made?)
É claro que cada peça, cada compositor e cada período necessitam uma diferente
abordagem. No final é o objetivo de um músico, uma orquestra e um maestro voltarem
para a mente do compositor e descobrir qual o som que ele tinha em mente. Portanto,
um f ou ff em Bruckner soam totalmente diferentes em Mahler ou em Mozart. Também
fraseados, articulação e equilíbrio mudam todo o tempo. No final, trata-se de ser um
músico inteligente, com os ouvidos abertos para ouvir ao seu redor e reagir aos outros
músicos. Ouça músicas de diferentes períodos e compare as diferentes interpretações,
de especialistas e de não-especialistas. (“Of course every piece, every composer and
181
every period needs a different approach. In the end it is the goal for a musician,
orchestra an conductor to go back into the mind of the composer and find out what
sound he had in mind. Therefore a F or FF in Bruckner sounds totally different then in
Mahler or in Mozart. Also phrasing, articulation and balance changes everytime. In the
end it is about being a smart musician with open ears to listen around you and react on
the other musicians. Listen music from different periods and compare different
interpretations, from specialists and from non-specialists”).
5) Você gostaria de adicionar alguma informação ou consideração nesta pesquisa? (Would
you like to add some information or consideration in this research?)
Na minha opinião, a parte do terceiro trombone deveria ser também abordada como um
terceiro trombone e não como uma parte separada de trombone baixo. É muito
importante ser o fundo para os outros dois (tenor) trombones da seção. A tuba deve
novamente ser uma extensão disso. Eu não gosto do trombone baixo ser considerado
uma voz separada da seção dos trombones. Para o som da seção, é importante sempre
manter a audição ao seu redor e misturar com os seus colegas. Se uma seção de
violoncelo ou seção de clarinetes tocam a melodia em ff ou p, juntamente com os
trombones ou com um trombone sozinho com a mesma dinâmica é, na minha opinião,
necessário ajustar a dinâmica para a seção de violoncelos ou clarinetes, uma vez que
eles estão tocando na mesma dinâmica e têm a mesma importância na música, desde
que eles toquem a mesma melodia. Novamente, é tudo sobre equilíbrio, conhecer o seu
papel e ajustar, ouvindo os outros músicos ao seu redor. (“In my opinion the 3rd
trombone part should be also approached as a 3rd trombone and not as a separate bass
trombone part. It is very important to be the bottom of the other two (tenor) trombones
in the section. The tuba should again be an extension of this. I don’t like the bass
trombone to be considered a separate voice in the trombone section. For the sound of
the section it is important to always keep listening around you and blend with your
colleagues. If a cello section or clarinet section play a melody in FF or P together with
the trombones or a trombone alone with the same dynamic it is in my view necessary to
adjust the dynamics to the cello or clarinet section since they are playing the same
dynamic and have the same importance in the music since they play the same melody.
Again, it is all about balance, knowing your role and adjusting by listening to the other
musicians around you”).
182
6) Você autoriza o uso dessas informações em minha dissertação? (Do you authorize the
use of this information in my dissertation?)
Sim. (“Yes”).
183
Caro professor Ricardo Santos
Este questionário tem o intuito de obter informações sobre a utilização do trombone
baixo nas obras sacras e sinfônicas do repertório orquestral. Sua contribuição será importante
para o desenvolvimento da minha pesquisa, pois desta maneira, poderei coletar dados
relacionados ao instrumento. Desde já, agradeço a sua atenção e colaboração.
1) Descreva brevemente suas atividades profissionais: Onde você trabalha? Qual é o seu
cargo?
“Trombonista Baixo da Orquestra Sinfônica Brasileira, além de desenvolver atividades
como professor, ministrar masterclasses e recitais”.
2) Você usa o mesmo trombone baixo para todo o repertório sinfônico? Por quê? Quais
são as especificações de calibre, campana e válvulas do instrumento que você usa em
seu trabalho?
“Utilizo o mesmo instrumento para todo repertorio sinfônico pois encontrei um
instrumento que me dê versatilidade para desempenhar as funções que me são propostas
tanto na orquestra como fora. Uso atualmente um trombone Thein, com campana Kruspe
metal, vara standard e válvulas hagman”.
3) Se você usa instrumentos diferentes ou apenas muda uma parte específica dele para
determinado repertório orquestral, como é feita essa mudança? Todo o naipe de
trombones também altera seus instrumentos?
“Não altero instrumento”.
4) Se você usa o mesmo trombone baixo para todo repertório sinfônico, você altera a
maneira de executar os trabalhos dos diferentes períodos? Como é realizada essa
mudança?
“Na minha concepção, é mais importante mudar a maneira de execução dependendo do
repertorio do que apenas fazer a troca de instrumento. Essa mudança só pode ser feita
após pesquisa e conhecimento do repertorio a ser tocado”.
184
5) Você gostaria de adicionar alguma informação ou consideração nesta pesquisa?
“Acredito ser bastante pertinente a pesquisa elaborada levando em consideração que o
instrumento usado como pesquisa, tem poucos materiais sobre o assunto”.
6) Você autoriza o uso dessas informações em minha dissertação?
“Está autorizado a utilização de minhas informações".
185
APÊNDICE 2
Links para acessar os arquivos de áudios com os trechos orquestrais selecionados.
Mozart, W. A., Requiem, Offertorium. Compassos 44 ao 52 (Exemplo 34).
Dobramento de vozes - trombone baixo com campana de 228 mm (9ʺ).
https://www.dropbox.com/s/7yfpgujzytcenxs/Offertorium%20%20Requiem%20de%20Mozar
t.wav?dl=0
Bach, J. S., Jesu Christ meins Lebens Licht, BWV 118. Compassos 1 ao 19 (Exemplo
36).
Baixo contínuo - trombone baixo com campana de 228 mm (9ʺ).
https://www.dropbox.com/s/fs3u9z4h7i5gerr/Jesu%20Christ%20meins%20Lebens%20Licht
%2C%20BWV%20118%20-%20Bach.wav?dl=0
Beethoven, L.V., Symphony n° 5, mov. 4. Compassos 1 ao 12 (Exemplo 38).
Tutti orquestral - trombone baixo com campana de 228 mm (9ʺ).
https://www.dropbox.com/s/hv3ya2zas9io7uv/Symphony%20n%C2%B0%205%2C%20Mov.
%204%C2%B0%20-%20Beethoven.wav?dl=0
Stravinsky, I., Petrushka. Compassos 41 ao 61 (Exemplo 39).
Tutti orquestral - trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/samh26uso64mas0/Petrushka%20-%20Stravinsky.wav?dl=0
Schumann, R., Symphony n° 3, mov. 4. Compassos 1 ao 8 (Exemplo 40).
Coro de trombones - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/ml0ijgd51ucn7c0/Symphony%20n%C2%B0%203%2C%20Mov.
%204%20-%20Schumann%2C%20R..wav?dl=0
Wagner, R., Der Fliegende Hollander. Compassos 9 ao 15 (Exemplo 44).
Potência sonora - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/1cyb4scya25g7zn/Der%20Fliegende%20Hollander%20-
%20Wagner%2C%20R.%20%28Trecho%201%29.wav?dl=0
Wagner, R. Der Fliegende Hollander. Compassos 234 ao 243 (Exemplo 26).
186
Potência sonora - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/yv4hjoego1mgrjr/Der%20Fliegende%20Hollander%20-
%20Wagner%2C%20R.%20%28Trecho%202%29.wav?dl=0
Tchaikovsky, P. I., Pas de Deux de The Nutcracker. Compassos 45 e 46 (Exemplo
46).
Trombone baixo e tuba - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/p406o71sud28s31/Pas%20de%20Deux%20de%20The%20Nutcr
acker%20%E2%80%93%20Tchaikovsky%2C%20%28campana%209%2C5%29.wav?dl=0
Tchaikovsky, P. I., Pas de Deux de The Nutcracker. Compassos 45 e 46 (Exemplo
46),
Trombone baixo e tuba - trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/tix4enu0cffk7kw/Pas%20de%20Deux%20de%20The%20Nutcra
cker%20%E2%80%93%20Tchaikovsky%2C%20%28campana%2010%2C5%29.wav?dl=0
Dvorák, A., Carnival Overture. Compassos 271 ao 298 (Exemplo 47).
Trombone baixo e tuba - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/2pw2cxzzrn05wrb/Carnival%20Overture%20%E2%80%93%20
Dvor%C3%A1k%2C%20A.%20%28campana%209%2C5%29.wav?dl=0
Dvorák, A., Carnival Overture. Compassos 271 ao 298 (Exemplo 47).
Trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/vpq0hbtf7igkcu7/Carnival%20Overture%20%E2%80%93%20D
vor%C3%A1k%2C%20A.%20%28campana%2010%2C5%29.wav?dl=0
Franck, C., Symphony in D minor. Compassos 267 ao 278 (Exemplo 48).
Tessitura aguda - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/adjdd8jfdkmvvco/Symphony%20in%20D%20minor%20%E2%8
0%93%20Franck%2C%20C..wav?dl=0
Mahler, G., Symphony n° 5, mov. 1. Compassos 250 ao 254 (Exemplo 49).
Tessitura grave - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
187
https://www.dropbox.com/s/96gjs0t4qyunsg1/Symphony%20n%C2%B0%205%2C%20mov.
%201%20%E2%80%93%20Mahler%2C%20G.%20%28campana%209%2C5%29.wav?dl=0
Mahler, G., Symphony n° 5, mov. 1. Compassos 250 ao 254 (Exemplo 49).
Tessitura grave - trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/ovdlgpdhmf6cfmn/Symphony%20n%C2%B0%205%2C%20mov
.%201%20%E2%80%93%20Mahler%2C%20G.%20%28campana%2010%2C5%29.wav?dl=
0
Bartók, B., Concerto for Orchestra. Compasso 90 (Exemplo 50).
Glissando perfeito - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/am40nuvjdrtqd4f/Concerto%20for%20Orchestra%20%E2%80%
93%20Bart%C3%B3k%2C%20B.%20%28glissando%20perfeito%2C%20campana%209%2
C5%29.wav?dl=0
Bartók, B., Concerto for Orchestra. Compasso 90 (Exemplo 50).
Glissando perfeito - trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/4sy9b2clo20n4qp/Concerto%20for%20Orchestra%20%E2%80%
93%20Bart%C3%B3k%2C%20B.%20%28glissando%20perfeito%2C%20campana%2010%2
C5%29.wav?dl=0
Bartók, B., Concerto for Orchestra. Compasso 90 (Exemplo 50).
Glissando imperfeito - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/t0c3qh2n91rabvj/Concerto%20for%20Orchestra%20%E2%80%
93%20Bart%C3%B3k%2C%20B.%20%28glissando%20imperfeito%2C%20campana%209
%2C5%29.wav?dl=0
Bartók, B., Concerto for Orchestra. Compasso 90 (Exemplo 50).
Glissando imperfeito - trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/2u6d7wt4wmhfc9i/Concerto%20for%20Orchestra%20%E2%80
%93%20Bart%C3%B3k%2C%20B.%20%28glissando%20imperfeito%2C%20campana%20
10%2C5%29.wav?dl=0
Stravinsky, I., Petrushka. Compassos 39 ao 42 (Exemplo 51).
188
Efeito de surdina - trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/z4d2i1q19h6ykw5/Petrushka%20%E2%80%93%20Stravinsky%
2C%20I.%20%28efeito%20de%20surdina%2C%20campana%209%2C5%29.wav?dl=0
Schumann, R., Symphony n° 3. Compassos 12 ao 18 (Exemplo 52).
Solo - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/q708p15btzolx1r/Symphony%20n%C2%B0%203%20%E2%80
%93%20Schumann%20%28solo%20tb%29.wav?dl=0
Gershwin, G., An American in Paris. Compassos 390 ao 392 (Exemplo 53).
Solo - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/ik50b0a2nvo2g6x/An%20American%20in%20Paris%20%E2%8
0%93%20Gershwin%2C%20G.%20%28solo%20tb%2C%20campana%209%2C5%29.wav?d
l=0
Gershwin, G., An American in Paris. Compassos 390 ao 392 (Exemplo 53).
Solo - trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/xzr1ci2pwf4hl5p/An%20American%20in%20Paris%20-
%20Gershwin%2C%20G.%20%28solo%20tb%2C%20campana%2010%2C5%29.wav?dl=0
Strauss, R., Don Quixote. Compassos 58 ao 60 (Exemplo 54).
Solo - trombone baixo com campana de 241 mm (9,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/cbcs69fwi38rwrc/Don%20Quixote%20%E2%80%93%20Strauss
%2C%20R.%20%28solo%20tb%2C%20campana%209%2C5%29.wav?dl=0
Strauss, R., Don Quixote. Compassos 58 ao 60 (Exemplo 54).
Solo - trombone baixo com campana de 266 mm (10,5ʺ).
https://www.dropbox.com/s/yyyujoguevwhttw/Don%20Quixote%20%E2%80%93%20Straus
s%2C%20R.%20%28solo%20tb%2C%20campana%2010%2C5%29.wav?dl=0