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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO INTENCIONALIDADES, TERRITORIALIDADES E TEMPORALIDADES DA AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA EM ITAPEJARA D´OESTE, SALTO DO LONTRA E VERÊ (SO/PR) SUZANA GOTARDO DE MEIRA Francisco Beltrão, PR 2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE

CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO

INTENCIONALIDADES, TERRITORIALIDADES E TEMPORALIDADES

DA AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA EM ITAPEJARA

D´OESTE, SALTO DO LONTRA E VERÊ (SO/PR)

SUZANA GOTARDO DE MEIRA

Francisco Beltrão, PR

2013

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SUZANA GOTARDO DE MEIRA

INTENCIONALIDADES, TERRITORIALIDADES E TEMPORALIDADES DA

AGROECOLOGIA E DA AGRICULTURA ORGÂNICA EM ITAPEJARA

D´OESTE, SALTO DO LONTRA E VERÊ (SO/PR)

Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de

Pós-Graduação em Geografia – área de concentração:

“Produção do Espaço e Meio Ambiente”, na linha de

pesquisa, “Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas

Territoriais”, para obtenção do título de Mestre em

Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Luciano Zanetti Pessôa Candiotto.

Francisco Beltrão, PR

2013

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Catalogação na Publicação (CIP)

Sistema de Bibliotecas - UNIOESTE – Campus Francisco Beltrão Meira, Suzana Gotardo de

M514 Intencionalidades, territorialidades e temporalidades da

agroecologia e da agricultura orgânica em Itapejara d´Oeste, Salto do

Lontra e Verê: Sudoeste do Paraná. / Suzana Gotardo de Meira. –

Francisco Beltrão, 2013.

212 f.

Orientador: Prof. Dr. Luciano Zanetti Pessôa Candiotto.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – Campus de Francisco Beltrão.

1. Agricultura Orgânica - Sudoeste do Paraná. 2. Territorialidade.

3. Agriculturas alternativas. 4. Agroecologia. I. Candiotto, Luciano

Zanetti Pessôa. II. Título.

CDD – 631.584

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos aqueles que acreditam na Agroecologia,

e de forma especial aos agricultores que a praticam.

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual do Oeste do Paraná, especialmente ao Programa de Pós-

Graduação em Geografia, pelo apoio, pela oportunidade de ter realizado aqui todo o

caminho e a possibilidade de ter vivenciado neste Campus de Francisco Beltrão, todas as

experiências que fizeram parte da minha formação, e que as tornaram tão especial.

Agradeço ao meu orientador, professor Luciano Zanetti Pêssoa Candiotto, que me

acompanhou nesta trajetória, durante a graduação e o mestrado, com palavras de incentivo,

ensinamentos, auxílio e apoio na realização deste estudo.

Ao CNPQ pelo auxílio monetário para o desenvolvimento da pesquisa.

Aos companheiros do GETERR (Grupo de Estudos Territoriais) da UNIOESTE, que

contribuíram para a realização deste trabalho, a partir de debates e conversas informais, pelo

suporte material, por todo conhecimento compartilhado e todas as experiências vividas. Em

especial aos professores Marcos Aurélio Saquet, Roseli Alves dos Santos, Beatriz Rodrigues

Carrijo, Luiz Carlos Flávio e Adilson Francelino Alves.

Dedico um agradecimento especial aos meus amigos geterrianos, Raquel, Michele,

Aline, Talita, Elaine, Felipe, Rafael, Maristela, Luiz, e outros, obrigada pelo

companheirismo! Por tudo que vivemos juntos, pelo carinho, pela amizade, em momentos

bons ou não tão bons, que se fazem eternos...

Ao Gustavo, pelo apoio técnico, incentivo nesta caminhada, e por acreditar e confiar

em mim como profissional.

As famílias entrevistadas, pela atenção, e disponibilidade em nos atender,

conversando e respondendo a questionamentos, foram de fundamental importância.

Aos meus pais, Neusa e Cacimiro, que foram e são sempre conforto, apoio,

inspiração e motivo. À minha irmã Daiana e ao cunhado Cleverson, com quem sempre pude

contar em qualquer momento.

A todos os outros que de maneira direta ou indireta contribuíram para a realização e

conclusão desta pesquisa, os meus sinceros agradecimentos.

Enfim, ao povo Brasileiro, que no difícil momento de fechamento desta dissertação

através das manifestações ocorridas em junho de 2013, me encorajou, me engrandeceu de

orgulho, fortalecendo ainda mais meus ideais!

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Gravata Colorida

Quando eu tiver bastante pão

para meus filhos

para minha amada

pros meus amigos

e pros meus vizinhos

quando eu tiver

livros para ler

então eu comprarei

uma gravata colorida

larga

bonita

e darei um laço perfeito

e ficarei mostrando

a minha gravata colorida

a todos os que gostam

de gente engravatada…

Solano Trindade

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RESUMO

Os impactos ambientais ocasionados pela industrialização da agricultura colocam em

questão o pacote modernizador, baseado na dominação de todas as formas de vida por meio

da racionalidade econômica e instrumental. A Agroecologia e a agricultura orgânica, entre

várias outras formas de alternativas ao modelo convencional de agricultura, surgem do

cenário de crise da modernidade. Ao realizarmos estudos sobre estas formas de produção em

alguns municípios do Sudoeste do Paraná, percebemos que as discussões em torno desta

temática carecem ainda de um maior aprofundamento. Os municípios selecionados para esta

pesquisa foram Itapejara d´Oeste, Salto do Lontra e Verê (PR), pois já possuem uma

trajetória com a Agroecologia e a agricultura orgânica. Assim, tivemos condições de avançar

nas discussões sobre a temática, propondo uma tipologia para diferenciar estabelecimentos

rurais que praticam a agricultura orgânica, daqueles mais próximos aos ideários da

Agroecologia e assim, aplicar essa tipologia com os agricultores dos três municípios.

Também realizamos uma abordagem geográfica do assunto, buscando apreender ritmos,

temporalidades, territorialidades e intencionalidades que caracterizam a Agroecologia e a

agricultura orgânica desenvolvida nos municípios pesquisados. Para atingirmos estes

objetivos, a metodologia consistiu em levantamentos bibliográficos de autores que abordam

o conceito de agricultura orgânica e de Agroecologia, temporalidades, territorialidades e

intencionalidades, e em sua aplicação em uma realidade empírica específica. Para tanto,

realizamos entrevistas com um roteiro pré-estabelecido, com agricultores e representantes de

instituições parceiras da produção orgânica e agroecológica de Itapejara d´Oeste, Salto do

Lontra e Verê (PR). Os agricultores que praticam a agricultura orgânica e a Agroecologia

estão inseridos em múltiplos territórios, decorrentes da sobreposição e coexistência de suas

territorialidades materiais e imateriais e de diferentes temporalidades, que por sua vez, são

condicionadas pelas intencionalidades desses agricultores, bem como de outros sujeitos

sociais. Dessa forma, esses agricultores imprimem suas ações através do tempo e

territorializam o espaço onde vivem, criando e transformando suas territorialidades e

temporalidades.

Palavras-Chave: Intencionalidade; Territorialidade; Temporalidade; Agroecologia;

Agricultura Orgânica.

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ABSTRACT

The environmental impacts caused by the industrialization of Agriculture is an argument to

question the package, based on the domination of all life through economic and instrumental

rationality. The Agroecology and organic agriculture, among other forms of alternatives to

conventional agriculture, arises from the crisis of modernity. To carry out studies on these

forms of production in some municipalities in the Southwest of Paraná, we realize

discussions around this issue. The cities selected for this research were Itapejara d´Oeste,

Salto do Lontra e Verê (PR), because they have some history with Agroecology and organic

agriculture. So, we were able to make progress in discussions on the subject, proposing a

typology to differentiate rural establishments who practice organic agriculture, those based

on principles of Agroecology and apply this typology with farmers in the three

municipalities. We also perform a geographical approach to the subject, seeking to seize

rhythms, temporalities, territorialities and intentionality that characterize the Agroecology

and organic agriculture developed in the cities surveyed. To achieve these objectives, the

methodology consisted of bibliographic surveys of authors that discuss the concept of

organic agriculture and Agroecology, and try to identificate internationalities and

territorialities in a specific empirical reality. We conducted interviews starting from a pre-

established screenplay, with farmers and representatives of partner institutions of the organic

and agro-ecological production in Itapejara d´Oeste, Salto do Lontra and Verê (PR). Farmers

who practice organic agriculture and Agroecology are entered into multiple territories,

resulting from the coexistence of overlapping and their material and immaterial

territorialities of different temporalities, which in turn are conditioned by the intentionality

of these farmers and other social subjects. In this way, these farmers print their actions

through time and territorialize the space where they live, creating and transforming their

territorialities and temporalities.

Key-words: Intentionality; Territoriality; Temporality; Agroecology; Organic Agriculture.

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LISTA DE MAPAS

MAPA 01 - Localização do município de Itapejara d’Oeste, Paraná, Brasil. ..................... 71

MAPA 02 - Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Itapejara d’Oeste/PR

............................................................................................................................................. 101

MAPA 03 - Localização do município de Salto do Lontra, Paraná, Brasil ......................... 106

MAPA 04 - Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Salto do Lontra/PR.

............................................................................................................................................. 135

MAPA 05 - Localização do município de Verê, Paraná, Brasil .......................................... 139

MAPA 06 - Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Verê/PR .................. 180

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 - Principais produtos agrícolas do município de Itapejara d’Oeste/PR, safra

2009 ..................................................................................................................................... 72

GRÁFICO 02 - Utilização das terras – Área dos estabelecimentos (ha), Itapejara d’Oeste/PR

............................................................................................................................................. 73

GRÁFICO 03 - Evolução histórica da produção leiteira no município de Itapejara

d’Oeste/PR. Quantidade de leite produzido (litros/ano) ...................................................... 73

GRÁFICO 04 - Principais produtos agrícolas do município de Salto do Lontra/PR, safra

2009 ..................................................................................................................................... 107

GRÁFICO 05 - Utilização das terras – Área dos estabelecimentos (ha), Salto do Lontra/PR

............................................................................................................................................. 107

GRÁFICO 06 - Evolução histórica da produção leiteira no município de Salto do Lontra/PR.

Quantidade de leite produzido (litros/ano) .......................................................................... 108

GRÁFICO 07 - Principais produtos agrícolas do município de Verê/PR, safra 2009 ........ 140

GRÁFICO 08 - Utilização das terras – Área dos estabelecimentos (ha), Verê/PR ............. 140

GRÁFICO 09 - Evolução histórica da produção leiteira no município de Verê/PR.

Quantidade de leite produzido (litros/ano) .......................................................................... 141

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 - Classificação de agricultores familiares de Itapejara d’Oeste/PR .............. 102

QUADRO 02 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Itapejara

d’Oeste/PR ........................................................................................................................... 103

QUADRO 03 - Classificação de agricultores familiares de Salto do Lontra/PR ................ 135

QUADRO 04 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Salto do

Lontra/PR ............................................................................................................................ 137

QUADRO 05 - Classificação de agricultores de Verê/PR .................................................. 181

QUADRO 06 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Verê/PR ...... 182

LISTA DE FOTOS

FOTO 01 - Parte do parreiral de A.P. .................................................................................. 82

FOTO 02 - Parreiral e plantação de eucaliptos de A.C.C. .................................................. 86

FOTO 03 - Produção de hortaliças e ao fundo parreiral na propriedade de M.M. .............. 88

FOTO 04 - Pulverizador manual da UPVF de N.A. ............................................................ 91

FOTO 05 - Horta e estrebaria da família de N.S. ................................................................ 94

FOTO 06 - Carroça com tração animal na UPVF de O.F. .................................................. 96

FOTO 07 - Estufa de hortaliças na UPVF de F.C.S. ........................................................... 98

FOTO 08 - Terraplanagem para a construção de uma nova casa na UPVF de E. F. .......... 118

FOTO 09 - Canteiros de hortaliças na UPVF de F. P. ........................................................ 121

FOTO 10 - Grade para tração animal na UPVF de T. S. e Z.S. .......................................... 124

FOTO 11 - Lavoura Mecanizada na UPVF de J.F. ............................................................. 127

FOTO 12 - Paisagem presente na propriedade de P. F. ....................................................... 130

FOTO 13 - Horta da família de M. L. S. ............................................................................. 133

FOTO 14 - Pequeno trator para trabalhos diversos ............................................................. 150

FOTO 15 - V.J. com os bois e a carroça ............................................................................. 155

FOTO 16 - Trilhadeira ........................................................................................................ 157

FOTO 17 - Galpão de fumo desativado............................................................................... 161

FOTO 18 - Bovino leiteiro e pastagem. ............................................................................. 164

FOTO 19 - Produção de hortaliças e plantas medicinais..................................................... 166

FOTO 20 - Estufas de hortaliças na propriedade de D.C. ................................................... 170

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FOTO 21 - Produção transformada de frutas ...................................................................... 172

FOTO 22 - Pulverizador com tração manual....................................................................... 174

FOTO 23 - Parreiral de M. T. ............................................................................................. 176

FOTO 24 - Vacas sendo preparadas para ordenha .............................................................. 178

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LISTA DE SIGLAS

APAV Associação dos Produtores Agroecológicos de Verê

APP Área de Preservação Permanente

APROVIVE Associação dos Vitivinicultores de Verê

ASSESOAR Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural

ATER Assistência Técnica e Extensão Rural

CAPA Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor

CLAF Cooperativa de Leite da Agricultura Familiar

CNPJ Conselho Nacional de Pessoa Jurídica

CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

COAFA Cooperativa de Alimentos da Agricultura Familiar

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

COOPAFI Cooperativa de Comercialização da Agricultura Familiar Integrada

COPEL Companhia Paranaense de Energia

COPERIGUAÇU Cooperativa Iguaçu de Prestação de Serviços

CRESOL Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária

EM Microrganismos Eficazes

EMATER Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

GETERR Grupo de Estudos Territoriais

IBD Instituto Biodinâmico

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

NCR National Research Council

ONG Organização Não Governamental

PAA Programa de Aquisição de Alimentos

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RL Reserva Legal

SDT Secretária de Desenvolvimento Territorial

SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

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SETI Secretária de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

SINTRAF Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar

SISLEG

Sistema de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Florestal

Legal e Áreas de Preservação Permanente

SLOT Sistema Local Territorial

STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais

TDR Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

UPVF Unidade de Produção e Vida Familiar

UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 158

CAPÍTULO I. OS CONCEITOS DE INTENCIONALIDADES, TEMPORALIDADES

E TERRITORIALIDADES COMO FERRAMENTAS PARA ANÁLISES

GEOGRÁFICAS ............................................................................................................... 22

1.1. Intencionalidades ............................................................................................ 22

1.2. Tempo e Temporalidades ............................................................................... 24

1.3. Território e Territorialidades ........................................................................ 36

CAPÍTULO II. ELEMENTOS PARA O DEBATE DO CONCEITO DE

AGROECOLOGIA ........................................................................................................... 44

2.1. Agroecologia como ciência ............................................................................. 44

2.2. Agroecologia como prática e estratégia de reprodução .............................. 47

2.3. Contribuições de diferentes agriculturas alternativas para a Agroecologia

............................................................................................................................................. 51

2.3.1. Agricultura Alternativa ........................................................................ 52

2.3.2. Agricultura Ecológica .......................................................................... 52

2.3.3. Agricultura Sustentável ........................................................................ 53

2.3.4. Agricultura Biodinâmica ...................................................................... 55

2.3.5. Agricultura natural ............................................................................... 56

2.3.6. Agricultura Biológica ........................................................................... 57

2.3.7. Permacultura ......................................................................................... 59

2.3.8. Agricultura Regenerativa ..................................................................... 60

2.3.9. Agricultura Orgânica ............................................................................ 61

2.4. Similitudes e diferenças da agricultura orgânica e da Agroecologia ......... 62

2.4.1. Proposta de tipologia para a agricultura orgânica.........................................63

CAPÍTULO III. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA

AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE ITAPEJARA D’OESTE - PR ................... 71

3.1. Caracterização geral do município ............................................................... 71

3.2. Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia ................................ 74

3.3. Intencionalidades dos técnicos e gestores ..................................................... 79

3.4. Agricultores orgânicos e agroecológicos de Itapejara d’Oeste ................... 81

3.4.1. A.P. e família ........................................................................................ 81

3.4.2. A.C.C. e família .................................................................................... 84

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3.4.3. M.M. e família ...................................................................................... 87

3.4.4. N.A. e família ....................................................................................... 90

3.4.5. N.S. e família ........................................................................................ 93

3.4.6. O.F. e família ........................................................................................ 95

3.4.7. F.C.S. e família ..................................................................................... 97

3.5. Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no

município de Itapejara d’Oeste – PR ................................................................... 101

CAPÍTULO IV. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA

AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE SALTO DO LONTRA - PR ...................... 106

4.1. Caracterização geral do município ............................................................... 106

4.2. Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia ................................ 108

4.3. Intencionalidades dos técnicos e gestores ..................................................... 113

4.4. Agricultores orgânicos e agroecológicos de Salto do Lontra ...................... 115

4.4.1. E. F. e família ....................................................................................... 115

4.4.2. F. P. e família ....................................................................................... 119

4.4.3. T. S. e Z.S. ............................................................................................ 122

4.4.4. J. F. e família ........................................................................................ 125

4.4.5. P.F. e família ........................................................................................ 129

4.4.6. M. L. S. e família .................................................................................. 134

4.5. Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no

município de Salto do Lontra – PR ...................................................................... 135

CAPÍTULO V. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA

AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE VERÊ – PR................................................. 139

5.1. Caracterização geral do município ............................................................... 139

5.2. Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia ................................ 142

5.3. Intencionalidades dos técnicos e gestores ..................................................... 147

5.4. Agricultores orgânicos e agroecológicos de Verê ......................................... 148

5.4.1. V.B. e V.L.C.B ..................................................................................... 149

5.4.2. V.J. e família ........................................................................................ 152

5.4.3. D.C. e F.C. ............................................................................................ 156

5.4.4. Família C. ............................................................................................ 160

5.4.5. D.M. e família ...................................................................................... 163

5.4.6. A.M. e família ...................................................................................... 165

5.4.7. B.B. e família ....................................................................................... 167

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5.4.8. D.C. e família ....................................................................................... 169

5.4.9. I.Z. e família ......................................................................................... 171

5.4.10. I. C. e família ...................................................................................... 173

5.4.11. M.T. e família ..................................................................................... 175

5.4.12. N.M. e família .................................................................................... 177

5.4.13. R.C. ..................................................................................................... 179

5.5. Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no

município de Verê – PR ......................................................................................... 180

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 185

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 188

APÊNDICE 1. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA AGRICULTORES

AGROECOLÓGICOS E/OU ORGÂNICOS ................................................................. 195

APÊNDICE 2. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA GESTORES ......................... 209

APÊNDICE 3. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA TÉCNICOS210 .................... 210

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INTRODUÇÃO

Essa pesquisa demonstra o processo de territorialização da agricultura orgânica e da

Agroecologia em três municípios do Sudoeste do Paraná, considerando sua gênese e seu

desenvolvimento nos últimos anos, e dialogando com os conceitos de intencionalidades,

com base em Santos (1996), temporalidades e territorialidades, com base na abordagem de

Saquet (2003, 2007), principalmente.

Os municípios selecionados foram Itapejara d´Oeste, Salto do Lontra e Verê (PR),

localizados no Sudoeste do Paraná. Eles possuem Unidades de Produção e Vida Familiares

(UPVFs) que praticam a agricultura orgânica e/ou a Agroecologia, que se constituem em

formas distintas de cultivo e de relação com os recursos naturais presentes em suas UPVFs,

e que são análogas à agricultura familiar praticada na região, que é majoritária.

A definição desses municípios para pesquisa se deu devido a nossa participação no

projeto intitulado “Agricultura familiar agroecológica nos municípios de Itapejara d’Oeste,

Salto do Lontra e Verê (Sudoeste do Paraná), como estratégia de inclusão social e

desenvolvimento territorial”, financiado pela Secretaria Estadual de Ciência Tecnologia e

Ensino Superior (SETI), através do Programa Universidade Sem Fronteiras (USF),

desenvolvido entre abril de 2009 e dezembro de 2010. Este projeto teve como objetivo

geral, compreender as características da produção agroecológica familiar de alimentos e

participar sistematicamente através das atividades de extensão e cooperação na qualificação

dessa produção.

Foram gerados importantes textos no âmbito deste projeto, um Trabalho de

conclusão de curso intitulado “Agroecologia no município de Itapejara d Oeste PR: gênese,

desenvolvimento e perspectivas” de autoria de Poliane Nardi de Souza, 2010 e uma

dissertação intitulada: “Território e Poder: a produção agroecológica como estratégia de

desenvolvimento territorial” de autoria Elaine Fabiane Gaiovicz, 2011. Esses textos e

trabalhos concluídos foram base para essa pesquisa, portanto a apontamos muito mais como

um trabalho de equipe, do que uma pesquisa individual.

Essa participação no mencionado projeto nos proporcionou uma base de estudos

teóricos e empíricos sobre as questões relacionadas à Agroecologia e à agricultura orgânica.

Assim, tivemos condições de avançar nas discussões sobre a temática, principalmente as

relacionadas à diferenciação entre a agricultura orgânica e a Agroecologia. Para tanto,

propusemos uma tipologia para diferenciar estabelecimentos rurais que praticam a

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agricultura orgânica, daqueles mais próximos aos ideários da Agroecologia, e aplicamos

essa tipologia com os agricultores dos três municípios.

Também procuramos realizar uma abordagem geográfica do assunto, buscando

apreender ritmos, temporalidades, territorialidades e intencionalidades que caracterizam a

Agroecologia e a agricultura orgânica desenvolvida em Itapejara d’Oeste, Salto do Lontra e

Verê.

Portanto, nesta pesquisa trabalhamos com os agricultores que fizeram parte do

mencionado projeto, e que ainda atuam na Agroecologia e na agricultura orgânica, pois já

temos uma trajetória de estudos com os mesmos e, por isso, foi possível avançar nas

reflexões acerca deste modo de produção alternativo. Também foi importante para o

desenvolvimento dessa pesquisa de mestrado, a participação no projeto de pesquisa

“Conhecendo a configuração da agricultura orgânica e da Agroecologia em nove municípios

do Sudoeste do Paraná”, onde os municípios de Itapejara d’Oeste, Salto do Lontra e Verê

estão inseridos.

Essa pesquisa, assim como os demais projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos

no GETERR, está baseada em uma abordagem ampla do conceito de Agroecologia e

território, que considera aspectos ambientais, sociais, econômicos e políticos.

Desta forma, tal pesquisa justifica-se porque se faz necessário realizar uma análise

das unidades de produção que desenvolvem este tipo de produção, considerando seu campo

relacional, para compreendermos como e quais são as intencionalidades, temporalidades e

territorialidades que se inserem, quais os objetivos dos agricultores em produzir de forma

agroecológica, as estratégias territoriais, as relações com as entidades parceiras e com o

mercado.

A heterogeneidade de temporalidades existente nos permite apontar que a

Agroecologia nos municípios em questão, não pode ser entendida como uma atividade do

agronegócio, onde o agricultor não tem ações próprias, não participa na tomada de decisões

e não utiliza formas de produção tradicionais. Porém, não se pode ignorar a infiltração do

capitalismo no campo, e dizer que o agricultor não está inserido no mercado, ou que nega o

mercado. O que acontece é uma junção de diferentes temporalidades e territorialidades que

influenciam no desenvolvimento da agricultura orgânica e da Agroecologia.

Diante do exposto, ressaltamos a importância de identificar algumas

intencionalidades, temporalidades e territorialidades dos agricultores e de instituições que

direta ou indiretamente participam de alguma etapa (produção, comercialização, divulgação,

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capacitação) do desenvolvimento da agricultura orgânica e da Agroecologia nos municípios

de Itapejara d’Oeste, Salto do Lontra e Verê.

O objetivo principal da pesquisa consistiu em compreender as intencionalidades,

temporalidades/ritmos e territorialidades, considerando similitudes e diferenças entre a

dinâmica das UPVFs envolvidas e dos municípios analisados.

Os objetivos específicos foram os seguintes:

- Desenvolver uma proposta de tipologia para diferenciar as UPVFs que praticam a

agricultura orgânica, daquelas mais próximas da Agroecologia e aplicar essa proposta nas

UPVFs dos municípios pesquisados;

- Apreender a configuração da agricultura orgânica e da Agroecologia em cada um

dos municípios pesquisados, considerando sua gênese, desenvolvimento e situação atual;

- Demonstrar a diversidade de temporalidades e territorialidades existentes na

agricultura orgânica e na Agroecologia praticada em Itapejara d´Oeste, Salto do Lontra e

Verê, considerando aspectos produtivos, de comercialização, certificação e organização; e

- Identificar a existência de distintas temporalidades e territorialidades no interior de

cada UPVF estudada.

Desta forma, as questões norteadoras da pesquisa foram as seguintes: como surge a

agricultura orgânica e/ou a Agroecologia nesses municípios? Como esse tipo de agricultura

vai se territorializando? Quais os atores que participam e quais suas intencionalidades,

temporalidades e territorialidades nesse processo de territorialização da agricultura orgânica

e da Agroecologia nos municípios?

Para respondermos a tais questões, a metodologia consistiu em levantamentos

bibliográficos de autores que abordam os conceitos de intencionalidade, tempo,

temporalidade, territorialidade, agricultura orgânica e Agroecologia, fundamentais para o

desenvolvimento dessa pesquisa.

Para a coleta de dados empíricos, realizamos entrevistas semi-estruturadas com

agricultores e técnicos. Para tanto, foi elaborado um roteiro específico direcionado aos

agricultores orgânicos e agroecológicos dos municípios pesquisados, e outro roteiro de

entrevistas com representantes das instituições consideradas pelos agricultores, parceiras da

agricultura orgânica e da Agroecologia. Todos os agricultores envolvidos nesta pesquisa,

assim como as entidades pesquisadas, foram em algum momento visitados por nós,

elemento este que facilita a apreensão das intencionalidades dos mesmos com a

Agroecologia e a agricultura orgânica, porém optamos por utilizar as entrevistas realizadas

mais recentemente, por nós e demis membros do GETERR, para a atualização dos dados.

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As entrevistas foram realizadas diretamente nas UPVFs e nas sedes das instituições.

Elas foram gravadas, transcritas e analisadas. Nos trabalhos de campo nas UPVFs, foram

coletadas fotos, dados de localização com GPS, realizadas as entrevistas, além de

observações gerais da paisagem, das áreas de cultivo, criação de animais, benfeitorias e

equipamentos de cada UPVF.

Elaboramos mapas para representações mais relevantes, mapas temáticos, e de

localização. Os softwares utilizados para mapeamento foram o AutoCAD 2011 e

CorelDRAW X5. As escalas foram definidas de forma que as representações ficassem

visíveis em tamanho A4, com espacialização adequada do objeto de estudo.

Os agricultores que praticam a agricultura orgânica estão inseridos em múltiplos

territórios, decorrentes da sobreposição e coexistência de suas territorialidades materiais e

imateriais e de diferentes temporalidades, que por sua vez, são condicionadas pelas

intencionalidades desses agricultores, bem como de outros sujeitos sociais.

A partir das leituras e de nossa experiência empírica de contato com agricultores que

produzem alimentos orgânicos através de projetos de pesquisa e extensão, desenvolvemos

uma proposta de tipologia para os estabelecimentos rurais envolvidos com a agricultura de

base ecológica, entendendo-a como um exercício de análise para contribuir com o debate

sobre o tema, e não como algo fechado e concluído.

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CAPÍTULO I. OS CONCEITOS DE INTENCIONALIDADES,

TEMPORALIDADES E TERRITORIALIDADES COMO FERRAMENTAS PARA

ANÁLISES GEOGRÁFICAS

A análise da Agroecologia através das intencionalidades, das temporalidades e das

territorialidades nos permitiu apreender elementos e indicadores que a caracterizam em cada

município da pesquisa, considerando o início da agricultura orgânica e da Agroecologia até a

situação atual.

Os agricultores e a Agroecologia estão inseridos em tramas territoriais, devido à

sobreposição dos territórios, onde as diversas intencionalidades, territorialidades e

temporalidades fundem-se. Para entender este processo, faz-se necessário a compreensão

dos conceitos de intencionalidade, território e territorialidade, considerando o tempo e a

temporalidade como fundamentais para compreender essas concepções, pois, o território é

modificado com o passar do tempo, por meio das diferentes relações que o homem efetua

em seu cotidiano, ou seja, através da territorialidade, que por sua vez, é carregada de

intencionalidades. Portanto, utilizaremos o conceito de intencionalidade, a fim de entender

quais os atores e porque estão envolvidos em tal processo.

1.1. Intencionalidades

Entendendo que o espaço é o objeto de estudo da Geografia, e que este é constituído

por um sistema de objetos e de ações através de relações sociais (SANTOS, 1996), devemos

considerar que as mudanças ocorridas através do tempo no espaço são fruto das relações

cotidianas dos homens e dos objetivos explícitos e implícitos dos diversos sujeitos,

manifestados no conceito de intencionalidades. As intencionalidades influenciam no

processo de territorialização e estão vinculadas às territorialidades e às temporalidades, que

são conceitos importantes nessa pesquisa. Assim, buscamos compreender: 1) Quais as

intencionalidades dos agricultores em desenvolver a agricultura orgânica e/ou

agroecológica? Quais as intencionalidades dos outros sujeitos envolvidos (técnicos,

políticos, pesquisadores) quando se fala em agricultura orgânica e em Agroecologia?

Por esta razão, achamos pertinente abordar nessa primeira parte, os conceitos de

intencionalidades, temporalidades e territorialidades, que serão aplicados na pesquisa

empírica.

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A definição do Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa, nos mostra que

intencionalidade é relativo a intenção: “1. Ato de tender, intento, tenção; 2. Vontade, desejo,

pensamento; 3. Propósito, plano, deliberação” (FERREIRA, 1988, p. 365).

Segundo Coelho Junior (2002), a consciência não pode ser concebida como algo

independente do mundo, de objetos, de outras pessoas. Sendo assim, a concepção de uma

consciência intencional, é sempre consciência “de” “de algo”. Baseado nos estudos de

Edmund Husserl1, Coelho Junior diz ser a intencionalidade algo intrínseco ao ato de

conhecimento, uma vez que é característica do mesmo sempre se referir a alguma coisa, a

algum objeto. “Assim, o conhecimento para Husserl implica em uma consciência

intencional, que não é consciência em si, mas sempre consciência de alguma coisa” (p.98).

Na Geografia brasileira, o conceito de intencionalidade faz parte do arcabouço

conceitual proposto por Milton Santos (1996) para se apreender os processos de

transformação do espaço geográfico. Conforme Santos (1996, p.90):

[...] a noção de intencionalidade não é apenas válida para rever a produção

do conhecimento. Essa noção é igualmente eficaz na contemplação do

processo de produção e de produção de coisas, considerados como um

resultado da relação entre o homem e o mundo, entre o homem e o seu

entorno.

Portanto, além de estar presente no ato do conhecimento, pois quando buscamos

apreender alguma coisa, consequentemente há uma intenção para tal, a intencionalidade

também reflete diretamente na construção de algo, algo que o indivíduo ou determinado

grupo social irá produzir sobre o território em que vive, através de múltiplas relações. As

intencionalidades são fundamentais na configuração de objetos e ações, e consequentemente,

no uso do território e na transformação do espaço. Elas influenciam a materialidade dos

lugares, assim como as verticalidades e horizontalidades presentes nos lugares.

Para Santos (1996, p.94), o

[...] tema central da geografia não é separadamente os objetos, nem as

ações, mas objetos e ações tomadas em conjunto. A ação é tanto mais

eficaz quanto os objetos são mais adequados. Então, à intencionalidade da

ação se conjuga a intencionalidade dos objetos, e ambas são, hoje,

dependentes da respectiva carga de ciência e de técnica presente no

território.

1 O ideal da filosofia “husserliana” se expressa através da determinação em atribuir peso científico à

filosofia com o intuito de atingir outras ciências, partindo de uma base sólida de pensamento e uma

fundamentação rigorosa. (Disponível em: <http://www.infoescola.com/biografias/edmund-husserl/>).

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De acordo com Candiotto (2007), com base nas considerações de Milton Santos, a

compreensão do significado, ou pelo menos a “noção de intencionalidade permite avançar

nas relações entre objeto e ação” (p.52), portanto, para compreender como se dá a produção

dos lugares e dos territórios, é preciso considerar as intencionalidades.

Os objetos que conformam os sistemas técnicos atuais são criados a partir

da intenção explícita de realizar uma função precisa, específica. Essa

intencionalidade se dá desde o momento de sua concepção, até o momento

de sua criação e produção. A construção e a localização — a incepção —

dos objetos estão subordinados a uma intencionalidade que tanto pode ser

puramente mercantil quanto simbólica, senão uma combinação das duas

intencionalidades (SANTOS, 1994, p.50).

Observando as colocações dos autores citados sobre o conceito de intencionalidade,

percebemos que o mesmo é fundamental para a apreensão das dinâmicas territoriais, pois o

poder é exercido a partir de intencionalidades, e vice-versa, seja por um cidadão comum, ou

não, mas principalmente por sujeitos que centralizam o poder, seja político, econômico ou

ideológico. Porém, é preciso considerar o fato de que nem sempre ações intencionadas,

levarão aos resultados esperados, podendo conduzir a resultados não intencionados. “Uma

razão pela qual não se pode prever completamente o resultado da ação vem do fato de que a

ação sempre se dá sobre o meio, que tem o poder de deformar o impacto da ação.”

(SANTOS, 1996, p. 76). Conforme aponta Candiotto (2007), este meio é o lugar, onde as

ações se materializam através dos objetos. De forma geral, predominam as ações daqueles

sujeitos ou grupos com maior poder, de modo que estes acabam influenciando na aceitação e

na materialização de suas intencionalidades, que podem ser explícitas ou implícitas.

A intencionalidade é compreendida por nós como uma vontade, um desejo, que por

algum motivo se quer realizar, através de ações e se materializar através de objetos na

paisagem. Depende de vários fatores, mas pode revelar os verdadeiros objetivos de

determinadas ações e objetos. Desta forma, a intencionalidade está diretamente relacionada à

produção do território e, por consequência, das territorialidades e temporalidades dos atores

presentes no lugar, da territorialidade, assunto que abordaremos nos próximos itens.

1.2. Tempo e temporalidades

Ao refletir sobre o conceito de tempo e temporalidade percebemos que uma série de

termos e símbolos são constantemente citados, e dialeticamente utilizados por diferentes

áreas do conhecimento. Contudo, em meio aos discursos formados, percebemos que há na

Geografia, pensamentos semelhantes que resultam em análises e apreensões complementares

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e, ao mesmo tempo, excludentes umas das outras, porém necessárias na maioria das

pesquisas que envolvem a ciência geográfica.

As mudanças ocorrem no espaço com certa duração, e as pesquisas na Geografia

precisam ser situadas espaço-temporalmente, desta forma achamos pertinente a discussão

acerca das temporalidades da Agroecologia nos municípios de Itapejara d’Oeste, Salto do

Lontra e Verê-PR. Porém para compreendermos a temporalidade, faz-se necessário

diferenciá-la do tempo.

O tempo não se deixa ver, ouvir, tocar, respirar ou saborear, então “[...] como medir

uma coisa que não se pode perceber pelos sentidos?” a resposta parece clara: com a ajuda de

um relógio. Mas, o quê são relógios? “(...) Os relógios são processos físicos que a sociedade

padronizou, decompondo-os em seqüências-modelo de recorrência regular, como as horas

ou os minutos.” (ELIAS, 1998, p.7). Desta forma, o relógio permite medir algo que pode ser

captado, como a duração de um dia de trabalho, a velocidade de um corredor, ou o pôr-do-

sol, por exemplo, mas não o tempo, invisível e destituído de sentido. Relógios exercem na

sociedade a mesma função que os fenômenos naturais, ou seja, é um meio de orientação para

pessoas inseridas em uma sucessão de processos físicos e sociais.

A sucessão irreversível dos anos representa, à maneira simbólica, a seqüência

irreversível dos acontecimentos, tanto naturais quanto sociais, e serve de meio de orientação

dentro da grande continuidade móvel, natural e social. Numerados, os meses e dias do

calendário passam então a representar estruturas recorrentes, no interior de um devir que não

se repete. (ELIAS, 1998, p.10).

Não é possível comparamos a duração de um período de vida com a de outro, sem o

que chamamos de calendário. Natureza e sociedade se transformam em uma dada sucessão

de mudanças irreversíveis. Essas mudanças são referências para outras sucessões de

acontecimentos, desde que seja medida sua duração. Para isso, os homens inventaram os

calendários, compostos por meses dias e anos. Desta forma, Elias (1998) mostra que o

tempo tem caráter simbólico, pois a forma dominante da comunicação humana se efetua por

meio de símbolos sociais, assim como a língua, saber transmissível de geração para geração,

presente no grupo humano, antes que um indivíduo se integre nele. A coerção do tempo é de

natureza social, pois é exercida pela multidão sobre o indivíduo, mas, além disso, repousa

sobre dados naturais, como o envelhecimento.

De acordo com Elias (1998), independente da vontade ou consciência dos homens, a

vida segue sempre o mesmo curso, do nascimento até a morte. Porém a ordenação desse

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processo, sob a forma do passar dos anos, foi possível a partir do momento que os homens

desenvolveram para suas necessidades, o símbolo regulador do ano, ou seja, o calendário.

Segundo Marques (2008) a racionalização do conceito de tempo nos leva a dicotomia

deste, entre o tempo físico, absoluto, ausente de consciência, e o tempo psicológico, que se

refere ao conhecimento e à percepção do ser humano.

Se o tempo físico independe de nós, pois é o tempo da natureza, ele na

verdade sequer precisaria ou mesmo poderia ser por nós percebido. É o

presente absoluto da ação, já que não é passado nem futuro. O passado não

existe, pois já se foi; o futuro também não existe, pois ainda não acontece.

Assim, estes dois conceitos apenas fazem sentido dentro da experiência

vivida, dentro da racionalização e consciência do seu decorrer –

constituem, portanto, o valor da memória e da projeção, causa e

consequência do momento presente, medido pelo ser humano –, ou seja, o

tempo psicológico. (MARQUES, 2008, p.45)

Para a autora, só o presente é real, o tempo vivido pelos seres humanos só tem

sentido se comparado com o passado e o futuro, e isso se constitui no processo fundamental

da consciência humana e da apreensão da história. Portanto, esse tempo é a temporalidade,

ou seja, na consciência do ser humano se não existir a unidade do presente, passado e futuro,

não há temporalidade, apenas o tempo em si. O tempo é destituído de sentido, mas a

temporalidade só tem sentindo na experiência vivida, medida pelo ser humano a partir da

realidade cotidiana.

Concordamos com Elias (1998) quando aponta que muitos indivíduos têm a

impressão de que é o próprio tempo que passa, mas na verdade o sentimento de passagem

refere-se ao curso de sua própria vida e, às mudanças da natureza e da sociedade, é a

percepção humana do tempo. O tempo parece uma cobrança da qual ninguém consegue

escapar, relógios, agendas, horários, calendários. Nossa consciência de tempo é tão

interiorizada que é difícil imaginarmos como grupos humanos conseguiram viver sem ter

calendários.

O tempo não existe em si, Elias (1998) o aponta como um símbolo social, resultado

de um longo processo de aprendizagem. Os calendários e mostradores de relógios atestam o

caráter simbólico do tempo.

Quanto mais os enclaves humanos foram ganhando extensão e autonomia

relativa em favor de processos como a urbanização, a comercialização e a

mecanização, mais eles se tornaram dependentes, para medir o tempo, de

dispositivos artificiais, e menos passaram a depender de escalas naturais de

medição do tempo, como os movimentos da Lua, a sucessão das estações

ou o ritmo da maré alta e da maré baixa. (ELIAS, 1998, p.36).

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A evolução humana, de modo geral, é vista tendo seu ritmo de crescimento

acelerado. Vivemos diante de um período histórico marcado pelo que Milton Santos (1994)

chama de meio técnico-científico-informacional. Este é altamente dependente da

mensuração do tempo, porém essa evolução não é irreversível e não ocorre em linha reta, é

bastante heterogênea. Nem todos os indivíduos, grupos ou comunidades vivem as mesmas

sequências evolutivas (ELIAS, 1998), pelos mais variados motivos, que podem ser bons ou

ruins para estes, dependendo das condições em que se encontram e que vivem. Dessa forma,

coexistem no mesmo espaço ou em espaços diferentes aqueles que, por exemplo, utilizam de

escalas naturais, como as fases da lua, para plantio e colheita e aqueles que empregam de

alta tecnologia, ordenada por dispositivos artificiais para realizar o mesmo trabalho.

Segundo Santos (1996), com o meio técnico-científico-informacional, o tempo se

torna universal, um tempo único regido pelos atores hegemônicos que comanda a

racionalidade global.

O desenvolvimento e progresso técnico científico e a revolução da Física no século

XX, desencadearam a unificação do tempo quantitativo da população e, principalmente, a

partir da teoria da evolução, em que o conceito da origem humana remete um longo e

processo natural (MARQUES, 2008), novos elementos são cogitados. O tempo se torna

irreversível direcionado ao futuro, tendo, portanto, um fim. Por outro lado, diante das

complexidades em que as expressões sociais se manifestam no tempo, exige-se uma medida

mais ampla, que contemple a oscilações dos preços, das taxas de juros, do salário mínimo, as

novas formas de produção, o aumento da fome, da miséria, das desigualdades sociais, a

expansão industrial, a ampliação e complexidade dos meios de transporte, comunicação.

As relações temporais são de níveis múltiplos e grande complexidade. Em longo

prazo podemos considerar o tempo como símbolo conceitual de uma intervenção complexa

de relacionamento de distintos processos evolutivos.

“Em sua forma mais elementar, portanto, a operação de determinação do tempo

equivale a decidir se tal ou qual transformação, recorrente ou não, produz-se antes, depois

ou simultaneamente a uma outra.” Por exemplo, pode ser medido a distância temporal entre

o começo e o fim de uma corrida ou de uma vida humana. “Para esse fim, utilizamos um

continuum evolutivo socialmente reconhecido e padronizado.” (ELIAS, 1998, p. 41).

Saquet (2003) enfatiza que o tempo da simultaneidade (das coexistências) apresenta

verticalidades que não possibilitam uma homogeneização na sequência dos acontecimentos.

Os fenômenos sociais, iguais ou semelhantes, acontecem no mesmo lugar ou em lugares

diferentes, ao mesmo tempo, entretanto, com ritmos espaço-temporais diferentes, gerando

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assim, particularidades territoriais. Portanto, as implicações temporais são variáveis,

podendo se apresentar na história e no espaço geográfico de maneira simples ou complexa,

qualitativos ou quantitativos, estáticos, dinâmicos e/ou mecânicos, com ritmos mais lentos

ou mais rápidos.

Santos (1994) compreende que a coexistência é simultaneamente o tempo da vida de

todos e, por tanto, o tempo concreto. O espaço é que reúne a todos, com suas múltiplas

possibilidades, ou seja, diferentes usos do espaço e do território resultam em distintas

durações daquilo que se quer materializar.

Para Elias (1998) “enquanto não tivermos presente no espírito essa relação

indissolúvel entre os planos físico e social do universo” (p.39), ou seja, enquanto não

vermos o surgimento e desenvolvimento das sociedades como processo que ocorre no

interior do extenso universo alheio ao homem, não se conseguirá entender o nível altíssimo

de síntese que o conceito de tempo representa, pois na prática das sociedades humanas, se

amortiza a uma máquina de regulação (relógio), cuja força coercitiva percebemos quando

chegamos atrasados em uma reunião, por exemplo. Elias explica que os relógios são

“contínuos evolutivos”, ou seja, “processos físicos dotados de um desenrolar contínuo,

elaborados pelo homem e padronizados em algumas sociedades para servir de quadro de

referência e escala de medida a outros processos de caráter social ou físico.” (ELIAS, 1998,

p. 40).

Segundo Elias (1998) a noção que temos de tempo, remete a aspectos do fluxo

contínuo de acontecimentos em meio aos quais vivemos. Tais aspectos podem ser

designados pela dimensão do “quando” – quando ocorreu tal acontecimento? – pois se tudo

ficasse imóvel, ou se o universo comportasse uma única sequência de mudanças, não

poderíamos falar de tempo. Santos (1986), também afirma que o tempo é o movimento.

A pergunta referente ao “quando”, situa o começo e o fim de um acontecimento,

podendo ser medida sua “duração”, em relação a outra sequência de acontecimentos.

Primeiramente os homens utilizaram as sequências dos fenômenos naturais. Em seguida

recorreram a sequências mecânicas de origem humana, “para determinar sua própria posição

no interior do devir, em sua tríplice qualidade de processos biológicos, sociais e pessoais.”

(ELIAS, 1998, p. 59).

Sendo assim, para Elias (1998), a determinação do tempo repousa na capacidade

humana de relacionar duas ou mais sequências diferentes de transformações, sendo que uma

delas serve de escala de medição do tempo para a outra.

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Portanto, o que chamamos “tempo” significa, antes de mais nada, um

quadro de referência do qual um grupo humano – mais tarde, a humanidade

inteira – se serve para erigir, em meio a uma seqüência contínua de

mudanças, limites reconhecidos pelo grupo, ou então para comparar uma

certa fase, num dado fluxo de acontecimentos, com fases pertencentes a

outros fluxos, ou ainda para muitas outras coisas. É por essa razão que o

conceito de tempo é aplicável a tipos completamente diferentes de

contínuos evolutivos. [...] Aprendemos isso com mais clareza ao voltarmos

à forma verbal da palavra “tempo”, à atividade humana de sincronização

ou “temporação”. [...] Em todos os estágios de universo, físico, biológico,

social ou pessoal, as sucessões de acontecimentos dão margem a

sincronização. (ELIAS, 1998, p.60-61).

De acordo com Elias (1998), é comum dizermos que “o tempo passa”, fazendo

referência às mudanças “contínuas de nossa vida ou das sociedades em cujo interior

vivemos. [...] uma das chaves essências para resolver os problemas suscitados pelo tempo e

por sua determinação é a capacidade, característica da espécie humana, de apreender num

relance e, por isso mesmo, ligar numa mesma seqüência continua de acontecimentos aquilo

que sucede “mais cedo” e o que sucede “mais tarde”, o “antes” e o “depois”” (p.61). A

memória humana tem papel fundamental nesse tipo de representação, pois pode visualizar

em conjunto, acontecimentos que não ocorrem no mesmo momento.

Conforme Elias (1998) os conceitos passado, presente e futuro expressam a

capacidade humana de realizar sínteses, ou seja, experimentar como simultaneidade aquilo

que não se produz simultaneamente, por pensar, ter consciência, da relação entre uma série

de transformações e a experiência que uma ou um grupo de pessoas tem. Os conceitos de

passado, presente e o futuro são diferentes dos conceitos de hora, mês e ano, os quais não

integram essa capacidade de síntese, pois representam seqüências contínuas de

acontecimentos que tem duração variada.

Braudel (2005) procura demonstrar que o tempo avança com diferentes velocidades,

que devem ser consideradas na História. A concepção do tempo histórico é central em suas

reflexões. Compreende que as ciências sociais se impõem umas as outras, e que, cada uma,

deve compreender o social na sua “totalidade”. Afirma ainda que, essa duração social, esses

tempos múltiplos e contraditórios da vida dos homens não são apenas elementos do passado,

mas também preenchimento (o que chama de estofo) da vida social atual. Define a história

como a dialética da duração, sendo importante perceber que os fatos históricos têm duração

variável: vale o tempo de permanência da realidade que eles registram e este é primordial

por que apresenta pontos de rupturas e permanências.

Nada é mais importante, a nosso ver, no centro da realidade social, do que

essa oposição viva, íntima, repetida indefinidamente entre o instante e o

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tempo lento a escoar-se. Que se trate do passado ou da atualidade, uma

consciência clara dessa pluralidade do tempo social é indispensável a uma

metodologia comum das ciências dos homens (BRAUDEL, 2005, p. 43).

O objetivo central do autor era construir uma linguagem comum para todas as

ciências sociais contemporâneas, para compreender as formas de organização social na sua

totalidade. A duração do tempo social é simbólica, descontínua, múltipla e heterogênea. Isto

porque, caçadores, pastores, industriais, agricultores familiares e camponeses têm sistemas

temporais que diferem, mas coexistem e estão complexamente imbricados.

Entendendo como indispensável apreender a multiplicidade do tempo social e

valorizar o tempo longo, Braudel (2005) oferece-nos uma noção das dimensões temporais,

as quais se distinguem entre si, a partir de três ordens de duração: o tempo curto, que é o

tempo do acontecimento; o tempo médio, que diz respeito à conjuntura e o tempo da longa

duração, no qual se encontram os fatos estruturais.

O tempo curto, também denominado pelo autor como microtempo, é o tempo do

evento, de acontecimentos ou fatos pontuais. Seria a história atenta ao tempo breve, mas que

não contempla “toda a realidade, toda a espessura da história”. É o tempo explosivo, que

permeia o cotidiano dos indivíduos, considerado por Braudel (2005, p.46), como a “mais

caprichosa, a mais enganadora das durações”, é o tempo por nós vivido, podendo ser

instante de aspirações e realizações pessoais: é a medida da vida cotidiana, de nossas ilusões,

de nossas rápidas tomadas de consciência de decisões (o instante que se passa), “o mais

visível, mais concreto” dos tempos. Este seria o tempo por excelência do jornalista que

descreve acidentes da vida ordinária: um incêndio, um crime, uma inundação, etc. Há um

tempo curto de todas as formas de vida, política, econômica, social, literária, institucional,

religiosa e natural.

O tempo médio consiste em um recorte temporal que pode variar de 10 a 100 anos, é

um tempo menos breve. Por relacionar-se aos acontecimentos que contemplem durações

mais longas, permite analisar as permanências e transformações econômicas efetivadas por

um dado governo, partido político, modelo econômico, etc. Não rompe totalmente com o

tempo curto, mas privilegia a análise econômica e social em detrimento da análise política. É

desse tempo que surge, “o recitativo da conjuntura, do ciclo e até do inter-ciclo”, tendo em

vista, por exemplo, as subidas e descidas cíclicas de preços, o estudo da produção em uma

determinada época, o estudo das variações das relações de poder, entre outros (BRAUDEL,

2005, p.47).

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A estruturação do tempo no espaço compreende uma organização territorial que

extrapola os limites do tempo médio. Assim, é preciso compreender o fato histórico em toda

a sua conjuntura, não somente de forma superficial, como também, absorvendo sua

dinamicidade, (des) continuidades e (des) regularidades. Percebemos que Braudel (2005)

supera a teoria do tempo histórico tradicional/ocorrencial, ou seja, vai além do pensamento

da compreensão do tempo curto. Define que o ontem, um dia, ou um ano poderiam parecer

boas medidas para um historiador, pois o tempo era compreendido apenas como uma soma

de dias.

Desta forma, passa a tencionar o tempo como longa duração ou tendência secular, na

qual o historiador pode identificar acontecimentos de longuíssimo tempo, tempo profundo,

de um grande recorte temporal, constituído por centenas ou milhares de anos, como por

exemplo: os comportamentos coletivos mais enraizados, os valores, crenças e costumes

manifestados nas instituições políticas e religiosas por gerações, ou ainda as relações de

trabalho que atravessam séculos, relações de poder, de exploração etc. Essa duração

temporal contém em si todas as estruturas capazes de oferecer coerência na explicação dos

fatos históricos. Orienta uma nova forma de tratamento, de compreensão e de utilização do

tempo em que a História ocorre em ritmos diferentes. Assim, conforme Marques (2008), o

tempo da física e a temporalidade dos filósofos, coexistem sob uma estrutura espaço-

temporal, que é ao mesmo tempo, objetiva e subjetiva; natural e social; material e imaterial;

linear e cíclica.

Aproximando-se desta linha de pensamento, Saquet (2003) considera que o tempo

histórico (das sucessões), acontece horizontalmente, ou seja, há uma sequência no acontecer

dos fatos. Subentende o tempo como continuidade. Apreende o processo histórico como

movimento de superação (o velho não é suprimido, mas superado). Todavia no tempo

histórico há coexistência de temporalidades e ritmos. “Os tempos são tempos desiguais,

vividos em cada dialética espaço-tempo, mas dá-se também uma relação singular x

universal, em diferentes velocidades, complexidades e intensidades” (SAQUET, 2003, p.

19).

Braudel (2005), afirma que uma determinada realidade não aparece sem que outra

não a acompanhe. Relações estreitas e constantes se revelam através do tempo e do espaço.

Cada atualidade reúne movimentos de origem, de ritmos diferentes: o tempo de hoje, data,

ao mesmo tempo, de ontem, de anteontem, de outrora. A concepção de tempo histórico do

autor é trabalhada como a interação e conjunto das ações sociais (econômicas, políticas e

culturais), bem como, das instituições e organizações que dependem destas.

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Para identificar o tempo histórico é necessário entender cada realidade (tempo breve)

nas dimensões do passado (tempo médio e longo) numa interação recíproca. “A sincronia e a

diacronia se definindo por si mesmas”. Assim compreendemos que passado e futuro

reenviam-se um ao outro, e essa relação é que dá sentido à ideia de temporalização.

“Presente e passado iluminam-se com luz recíproca” (BRAUDEL, 2005, p. 57).

Nesse sentido, para Vasconcelos (1997), coexistente aos longos períodos em que

predominam as questões cotidianas, há os períodos de curta duração, mais densos, que

absorvem as informações que extrapolam o cotidiano. Porém, esse período não gera rupturas

ou mudanças nas funções, nas estruturas e nas formas espaciais. Esses períodos densos são

analisados a partir de documentações que registram essas ocorrências extraordinárias. A

cartografia, bem como, as fotografias de cada época, são elementos fundamentais, por

fornecerem informações precisas do que estava consolidado em determinado período:

(igrejas, construções, via de acesso, etc.). Demonstram uma continuidade temporal, porém a

dificuldade está quando não se tem esses registros, fato que o autor chama de hiatos

temporais. Assim, esses hiatos temporais deixam alguns intervalos de tempo sem registros,

portanto sem história.

Todo período histórico se afirma como um elenco de técnicas que o caracterizam

como uma família correspondente de objetos/formas. Ao longo do tempo, um novo sistema

de objetos/formas responde ao surgimento de cada novo sistema de técnicas. Em cada

período, há, também, um novo arranjo de objetos, chamado também de refuncionalização.

Na realidade, não há apenas novos objetos, novos padrões, mas, igualmente, novas formas

de ação, isto é, o mesmo objeto, ao longo do tempo, pode variar de significação (SANTOS,

1996). Tomamos como exemplo o cultivo de fumo, mais especificamente o galpão utilizado

para armazenar a produção. A partir do momento que este cultivo deixa de ser viável, o

produtor tende a utilizar este objeto/forma para outra função (técnica), adaptando-o para a

produção de leite, criação de suínos, armazenagem de grãos, entre outros.

A cada novo momento, impõe-se captar o que é mais característico do novo sistema

de objetos/formas de ações. Os conjuntos formados por objetos novos e ações novas, tendem

a ser mais produtivos (ideologicamente). Os novos sistemas de objetos opõem-se à

disposição das forças sociais mais poderosas, quando não são deliberadamente produzidos

para o seu exercício. Novas ações podem dar-se sobre velhos objetos, mas sua eficácia é,

assim, limitada. Lembrando que ao analisarmos Saquet (2003), verificamos uma superação

do velho em detrimento das novas formas de organização territoriais e não, necessariamente,

sua eliminação.

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O espaço considera o conjunto que redefine os objetos que o formam, o local onde os

homens relacionam-se entre si e com objetos. Portanto, o significado do objeto provém da

sua função. O espaço geográfico, como resultado da conjugação entre sistemas de objetos e

sistemas de ações, permite transitar do passado ao futuro, mediante a consideração do

presente. A cada evento a forma se recria, ou então, a cada instante do tempo as formas

adquirem outros valores e funções, condicionados, principalmente, pelo valor de troca e de

uso. (SANTOS, 1996).

Milton Santos (1996) caracteriza o evento como um instante do tempo dando-se em

um ponto do espaço. Eles ocorrem no tempo presente, em uma fração do tempo, e consistem

na matriz do tempo e do espaço. Para o autor, são os eventos que criam o tempo. Quando

nos referimos a eventos passados, tratamos de sua presença em um presente passado, ao

falarmos em eventos futuros, é de uma suposição num presente futuro que mencionamos.

Os eventos passam e não se repetem. São todos novos, e quando emergem estão

propondo uma nova história. Quando um homem adquire esta certeza da unicidade dos

momentos, e que eles não se repetem, passa a agir dentro de seus limites, ou, como se refere

o autor, dentro das “malhas estreitas”. Assim, onde o evento se instala gera mudanças,

entretanto, a cada novo acontecer, as coisas preexistentes mudam o seu conteúdo e sua

significância. Os eventos transformam os objetos, dando-lhes novas características.

Assim, os eventos históricos supõem a ação humana e, evento e ação podem ser

compreendidos como sinônimos. Milton Santos (1996) divide os eventos em finitos e

infinitos. Os primeiros resultam da distribuição de possibilidades ou recursos finitos: o

tempo de cada um; ninguém pode estar em dois lugares no mesmo momento; o dinheiro de

que dispomos; a população de um país, etc. Já os eventos infinitos resultariam da

distribuição de possibilidades e recursos cujo uso não os esgota (liberdade, democracia,

informação, etc.). Os acontecimentos podem ser planejados, ou então, acontecer de modo

que causem surpresa. E a vontade de determinar o futuro se explica segundo diversos

horizontes temporais, desde o curtíssimo até o mais longo prazo.

O evento é sempre o presente, mas este não é necessariamente o instante que se

passa. Daí decorre a ideia de duração, além de que os eventos podem ser consecutivos e

simultâneos à medida que determinadas formas organizacionais podem prolongar sua ação:

como uma lei, uma regra de uma empresa, uma decisão governamental etc. As organizações

dependem da duração e da amplitude do evento. Por exemplo, a fixação do calendário

escolar, o horário dos bancos, o tempo da jornada de trabalho, delimitam e qualificam o

tempo social, modelando os ritmos de atividades em outros ramos da vida econômica.

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Frente a essa análise, o autor questiona: que forças são capazes de produzir eventos

que incidam num mesmo momento sobre áreas extensas? O poder do Estado, o Estado em

si: uma lei que age sobre a totalidade das pessoas, das empresas, das instituições, do

território. Sendo assim, a noção de escala se aplica aos eventos a partir de duas acepções:

escala de origem e escala/área de impacto. Milton Santos trabalha essa concepção como

temporal e não espacial, pois varia com o tempo, por que a área de ocorrência é dada pela

extensão dos eventos.

Nesse enfoque, os eventos podem ocorrer em escalas locais, regionais, nacionais,

internacionais e mundiais. Confere ainda que alinhados cronologicamente, os eventos se

sucedem uns aos outros (tempo histórico), ordenados temporalmente. É através do evento

que podemos rever a constituição atual de cada lugar e a evolução conjunta (sincrônica) dos

diversos lugares, um resultado da mudança paralela da sociedade e do espaço (SANTOS,

1996).

Esses objetos, ou formas que constituem os eventos, se tomados isoladamente, tem

um valor como “coisa”, mas o seu valor como dado social vem de sua existência relacional.

As formas materializadas no espaço asseguram a continuidade do tempo, mas o fazem

através da sucessão dos eventos que mudam o seu sentido. É desse modo que o espaço

testemunha a realização da história sendo um só tempo, passado presente e futuro.

Entretanto, o objeto apresenta uma idéia, que para Santos (1996, p.157),

Na realidade, haveria diversas idades para cada um e para todos os objetos:

o momento dos modos de produção quando, no mundo, aparece a

possibilidade de criar tal ou qual objeto; o momento da formação social

quando esse objeto é inserido num país; e um terceiro momento, em que o

objeto é localizado num lugar preciso.

A ideia de tempo é inseparável da ideia dos objetos e de seu valor. Trata-se de uma

sequência de eventos materializados no espaço que ordenam e determinam os meios.

Santos (1996), explica que os homens não percorrem as mesmas distâncias no

mesmo tempo; dependendo dos meios com que contam e a que temporalidade se insere, esta

variável consistirá em um importante elemento caracterizador das territorialidades vigentes.

O autor salienta que cada ser humano e objeto/forma têm um passado, presente e futuro

denominado diacronia. Cada ser, re-produz o tempo e o espaço de maneira diversa, visto

que, os eventos não são sucessivos, mas coexistem um ao outro, ou seja, existem ao mesmo

tempo (sincronia). Portanto, cada ação se dá em seu tempo (diacronia) e as diversas ações

ocorrem conjuntamente (sincronia). É no espaço que se materializa a ordem das

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coexistências, sendo que, não há nenhum espaço em que o uso do tempo seja idêntico para

todos os homens, empresas e instituições.

Tempo e temporalidade são indissociáveis, ambos coexistem. Diferente do tempo, a

temporalidade só ocorre porque o ser humano está presente como ator condicionante das

transformações territoriais expressas historicamente, materializadas na paisagem através das

relações cotidianas estabelecidas e que são fatores condicionantes para construção do

território. Já o tempo em si, é destituído de sentido, independe do ser humano estará sempre

presente.

Para compreender as organizações sociais é preciso abordar a história na sua

totalidade, envolvendo o tempo curto, o médio, a longa duração, a diacronia e a sincronia.

As diversas tipologias de tempo estão na realidade ligadas umas as outras, pois todos os

tipos de tempo ocorrem simultaneamente. Mesmo que cada objeto e sujeito tenham o seu

tempo (passado, presente e futuro) ao mesmo tempo todos coexistem, e é isto que caracteriza

as temporalidades, que só existem no cotidiano vivido pelo ser humano, na junção de todos

esses tempos.

Para apreendermos as temporalidades da Agroecologia será necessário considerar,

conforme aponta Saquet (2003) as mudanças em diferentes produções e nas atividades

rotineiras, se os agricultores estão “[...] submetidos a uma convivência relativamente longa

com os mesmos objetos e atividades, com as mesmas relações de produção, os mesmos

instrumentos de trabalho [...]” (p. 187), se utilizam de equipamentos e técnicas modernas

para produzir e sobreviver. Buscamos entender como se dá o ritmo das mudanças, em tempo

mais lento ou mais rápido que consequentemente influenciam na dinâmica territorial local.

Considerando Raffestin (1993) e Saquet (2003, 2007), apontamos que as relações

sociais que o homem no seu dia-a-dia tem com a natureza e na sociedade, envolvem

elementos econômicos, políticos, culturais e naturais, que podem variar no tempo e no

espaço. Essas relações são caracterizadas por continuidades e descontinuidades, que ocorrem

em ritmos diferentes. Esse processo resulta na (re) construção do território, sendo que aquilo

que já existe não é necessariamente extinguido, mas superado, readaptado às novas

configurações territoriais. Portanto, tempo e espaço são categorias básicas da história da

existência humana.

Os homens constroem e modificam o território na relação sociedade, espaço e tempo,

pois cada um possui características sociais e naturais específicas. Há no território a inserção

de novas atividades através da construção de malhas, nós e redes, podendo tanto aproximar

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as relações entre os fenômenos e as pessoas como também, propiciar o distanciamento das

mesmas. (RAFFESTIN, 1993).

Deste modo, o conjunto das múltiplas territorialidades que constituem o território

historicamente, o configuram a fim de (re) organizá-lo espaço temporalmente, conforme as

novas relações de poder e as novas formas e objetos materializados. Neste sentido achamos

pertinente a discussão sobre os conceitos de território e territorialidade, que serão abordados

no próximo item.

1.3. Território e Territorialidades

A partir dos anos 1970 e 1980, elaboram-se novas bases epistemológicas para a

Geografia brasileira, centradas em princípios filosóficos do materialismo histórico e

dialético, relacionando teoria e prática. Desse modo, ligada de forma intrínseca ao conceito

de ciência, a Geografia seria uma forma crítica de representação e interpretação espaço-

temporal das relações econômicas, políticas, culturais e naturais, sustentadas a partir de um

eixo epistemológico que articula os conceitos de lugar, região, paisagem, território e espaço

em análises voltadas tanto para a totalidade, quanto às especificidades e/ou singularidades

territoriais.

Desde então, há na Geografia, estudos renovados em abordagens que diferem entre

si, sobre o conceito de território e territorialidade, considerando o tempo e a temporalidade

como fundamentais para compreender essas concepções, pois, o território é modificado com

o passar do tempo, por meio das diferentes relações que o homem estabelece no seu

cotidiano. A partir da década de 1990, os estudos sobre tempo e território recebem

contribuições da Geografia cultural num momento em que há necessidade de compreender

que as realidades sociais são influenciadas por elementos histórico-culturais de grupos

responsáveis pela apropriação e construção de determinado espaço geográfico, aspecto este,

relevante para a compreensão das dinâmicas dos locais em que se destacam os sentimentos,

os ideais, os anseios e as experiências de vida como elementos territorializantes (ABRAÃO

et. al. 2013).

Sendo assim, entendemos que o território se forma a partir de uma relação

espaço/tempo e ao se apropriar de um espaço, em determinado tempo, a sociedade o

territorializa. (RAFFESTIN, 1993). A utilização do território pelo homem cria o espaço,

projetado pelo trabalho. Neste sentido, se faz necessário compreender a história, numa

relação dialética, envolvendo o tempo curto, o médio, a longa duração, a diacronia e a

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sincronia trabalhadas conforme Fernand Braudel (2005), Milton Santos (1997), e outros. O

que muda e/ou permanece, para cada período e/ou momento e lugar, é o arranjo social,

espacial e territorial (SAQUET, 2006). Portanto, cada objeto e sujeito têm um tempo

(passado, presente e futuro) que coexiste no espaço e no território. Esses tempos singulares

podem também ser entendidos como temporalidades.

O território, que em épocas precedentes assumiu outras formas e expressões, na

contemporaneidade, passa a ser compreendido como produto histórico, simultaneamente

reticular e relacional; significa movimento (duração, seqüência, cronologia e periodização)

com interações socialmente definidas, envolvendo e sendo envolvido, ao mesmo tempo, por

processos naturais e sociais. Desta forma, o território apresenta continuidades e

descontinuidades, marcadas por fixos e fluxos conectados por lugares/nós/pontos envolvidas

por relações de poder (SAQUET, 2007).

O conjunto das múltiplas territorialidades que constituem o território historicamente,

os configuram a fim de re-organizá-lo espaço temporalmente, conforme as novas relações de

poder e as novas formas e objetos materializados no tempo (em que predomina o

instantâneo) e no espaço (em que interagem as esferas locais e globais). Deste modo,

entendemos que o debate acadêmico revela conflitos conceituais que, por sua vez, permitem

avançar nas análises teóricas, contribuindo para a compreensão crítica da história da

Geografia espacial e temporal.

A partir da década de 1970, Claude Raffestin apresenta importantes contribuições em

torno dos conceitos de território e da territorialidade. Sua abordagem geográfica é

considerada renovada, histórica, crítica, (i) material e reticular. Teve grande influência na

Geografia brasileira, embora, apenas uma de suas obras foi traduzida para o português, o

livro Por uma geografia do poder, original de 1980, publicado no Brasil somente em 1993

(ABRAÃO et. al. 2013).

Raffestin constrói uma abordagem relacional, onde o território é formado pelas

relações de poder multidimensionais, ou seja, é formado por um conjunto de relações

sociais, econômicas, políticas e culturais, efetivadas pelos indivíduos que pertencem a certo

grupo social, sendo a territorialidade o produto dessas relações. Sendo assim, é

imprescindível compreender o território, pois este é resultado das múltiplas territorialidades.

Neste sentido, território:

[...] não poderia ser nada mais que o produto dos atores sociais. São esses

atores que produzem o território, partindo da realidade inicial dada, que é o

espaço. Há, portanto um processo do território, quando se manifestam

todas as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes e

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centralidades cuja permanência é variável, mas que constituem invariáveis

na qualidade de categorias obrigatórias (RAFFESTIN, 1993, p.7-8).

O autor aborda a territorialidade humana, porque esta surge através das relações

sociais de poder e dominação, exercidas por meio das diferentes atividades realizadas pelos

atores no cotidiano. Portanto a territorialidade:

[...] reflete a multidimensionalidade do “vivido” territorial por membros de

uma coletividade, pelas sociedades em geral. Os homens “vivem”, ao

mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio

de um sistema de relações existenciais e/ou produtivistas. (RAFFESTIN,

1993, p.158).

A territorialidade é entendida pelo autor como multidimensional e inerente à vida em

sociedade. Além de ser o modelo do espaço, diz respeito também as características dos

indivíduos e dos grupos que constituem um determinado território. Assim, o homem vive

relações sociais, constrói territorialidades e influencia a dinâmica de territórios, vive

interações e relações de poder; diferentes atividades cotidianas, que são reveladas na

construção de malhas, nós e redes. Estas podem criar vizinhanças, acessos, convergências,

mas também podem levar a rupturas, a distanciamentos dos indivíduos e de grupos sociais.

[...] Mas a vida é tecida por relações, e daí a territorialidade pode ser

definida como um conjunto de relações que se originam num sistema

tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a maior

autonomia possível, compatível com os recursos do sistema [...]

(RAFFESTIN, 1993, p.160).

A territorialidade, através dos elementos que a compõe pode variar no tempo,

dependendo da maneira com que as sociedades tendem a satisfazerem suas necessidades.

Como exemplo, podemos citar o trânsito, pois, a partir do momento em que há o aumento

dos fluxos de veículos, pessoas, mercadorias, comunicação, entre outros, há uma

necessidade de solucionar essas dificuldades para facilitar os deslocamentos, como a criação

de novas leis, construções de novas vias de acesso entre outros meios. Assim, através dessas

modificações, se constituem novas territorialidades e consequentemente, o território é

transformado.

Raffestin (1993) aponta que pode existir a territorialidade estável, em que nenhum

dos elementos muda com o passar do tempo, e, a instável, que sempre sofre mudanças.

Enfatiza também que há outros casos onde alguns dos elementos podem mudar, enquanto

outros permanecem estáveis. Assim, a territorialidade nada mais é do que as relações sociais

que produzem historicamente o território.

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Claude Raffestin dedicou-se ao processo de Territorialização-Desterritorialização-

Reterritorialização (TDR), que gera um espaço temporalizado em razão das informações que

circulam e comunicam, além dos fatores culturais que também condicionam a TDR. É um

processo de relações sociais, perda e reconstrução de relações. As migrações de famílias

descendentes de italianos provenientes, principalmente, do Rio Grande do Sul e Santa

Catarina que se instalaram no Sudoeste do Paraná, caracterizam um bom exemplo de TDR.

Estas mantinham determinadas relações sociais, apresentavam uma identidade com o

território onde viviam, o qual possuía características específicas. A partir do momento em

que migram do território de origem estão se desterritorializando, perdendo certas relações e

ao se instalarem nos municípios do Sudoeste paranaense se reterritorializam, pois

estabelecem novas relações em um território que possui características diferenciadas.

Conforme Saquet (2007), Raffestin, em sua obra Territorializzazione,

Deterritorializzazione, Riterritorializzazione e Informazione (1984), sinaliza a relação

econômica-cultural para determinar a TDR:

[...] territorialidade implica [...] um conjunto modificado de relações [...], a

desterritorialização é, em primeiro lugar, o abandono do território, mas

também pode ser interpretada como a supressão dos limites, das fronteiras

[...]. A reterritorialização [...], pode ocorrer sobre qualquer coisa, através

do espaço, a propriedade, o dinheiro etc. (RAFFESTIN, 1984, p.78, apud,

SAQUET, 2007, p. 78)

De acordo com Saquet (2007), para Raffestin a territorialização é formada por

indivíduos ou grupos sociais, pelo trabalho, por mediadores materiais, como instrumentos e

conhecimentos, pelas intenções e objetivos dos atores sociais e pelas relações entre estes

com o ambiente. Desse modo, todas essas ações tem como resultado a formação do

território.

Portanto, na visão de Claude Raffestin, a territorialidade é caracterizada por

continuidades e descontinuidades, significa um conjunto de relações efetivadas pelos

homens, tanto simbólicas como materiais, mediadas pela língua, religião e tecnologia, onde

a circulação e a comunicação são processos fundamentais para a construção da

territorialidade. Através das redes e por meio do processo de relações se forma o território.

Nos anos de 1950/60 e posteriormente, o Geógrafo Giussepe Dematteis, na Itália,

também dedicou-se aos estudos do conceito de território e territorialidade. Esse autor tem

uma concepção similar a de Claude Raffestin, porém, apresenta uma abordagem política

vinculada aos processos de desenvolvimento, com caráter relacional, reticular, (i) material,

histórica, crítica e operativa (ABRAÃO et. al. 2013).

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Para o autor, o território é compreendido como produto social, lugar de relações e de

vida, considerando as interações territoriais entre diferentes lugares e pessoas. Também faz

uma discussão sobre a territorialidade humana, tanto pelo fato de abordar as relações entre

familiares, correspondentes à identidade e relações relacionadas às técnicas e à circulação

mercantil.

Em Saquet (2007) fica evidente a abordagem de território de Giuseppe Dematteis,

demonstrando claramente a relação espaço-tempo em sua compreensão. “[...] A realidade

geográfica do território, é entendida como rede de relações entre todos os fenômenos

coexistentes e como resultado de um processo histórico de humanização do ambiente

natural”. (DEMATTEIS, 1967, p. 91, apud, SAQUET, 2007, p.50). É compreendida como

uma construção social, onde há desigualdades, com a combinação das características

naturais específicas de cada espaço.

No texto analisado “Sistema Local Territorial, (SLOT): um instrumento para

representar, ler e transformar o território (2008)”, Giussepe Dematteis está preocupado com

as relações geográficas verticais e horizontais, vinculadas com as articulações territoriais

para o Slot, composto por: redes locais de sujeitos; milieu (ambiente) local; relação de

interação da rede local com o milieu e com os ecossistemas locais; a relação interativa da

rede local com redes globais.

Para Dematteis (2008) através do estudo das relações sociais e naturais, ou seja, da

territorialidade, pode-se compreender quais as potencialidades e dificuldades encontradas no

território, com o objetivo de elaborar projetos de desenvolvimento que visam solucionar os

problemas e potencializar as principais características que há no território.

O Slot (Sistema Local Territorial), dessa forma significa relações dos atores com o

ambiente local; lugares e fluxos; nós e redes; destacando numa certa área com características

sociais, culturais e econômicas. Entende o território como projeção e como natureza, para

além das dimensões sociais comumente enunciadas: são fatores físicos e histórico-culturais

que influenciam no desenvolvimento local (SAQUET, 2007). O território se constitui, em

condição dos processos de desenvolvimento.

Dematteis (2008) define a territorialidade como “relações dinâmicas existentes entre

os componentes sociais (economia, cultura, instituições e poder) e os elementos materiais e

imateriais, vivos e inertes, que são próprios dos territórios onde se habita, se vive e se

produz” (p. 34). O autor distingue duas formas de territorialidades, a passiva “que, com

estratégias de controle e com o sistema normativo associado, objetiva excluir sujeitos e

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recursos”; e a ativa que “deriva das ações coletivas territorializadas e territorializantes dos

sujeitos locais e objetiva a construção de estratégias de inclusão” (p. 35).

A territorialidade ativa são as mediações simbólicas, cognitivas e práticas entre a

materialidade dos lugares e o agir social nos processos de transformação territorial e de

desenvolvimento local. É considerada como uma valorização das condições e recursos

potenciais para o desenvolvimento. Essa territorialidade envolve grupos sociais, que são

mediadores e mediados pelo território, transformando-o ao longo do tempo.

Nesse sentido Dematteis (2001) ressalta:

Na construção das formas passivas da territorialidade, de fato, aos sujeitos

(locais) são transferidos comportamentos pré-definidos pelas estruturas de

controle, de acordo com expectativas externas, sem se prever que possam

agir de maneira própria, com ações autônomas. Já na territorialidade ativa

os sujeitos locais efetivam papéis e ações configurando, desse modo,

estratégias de resposta/resistência com relação às imposições de controle,

contribuindo para realizar mudanças e inovações (p.35).

Para Dematteis (2008), há uma interação entre as interconexões (nos fluxos) e a

territorialização, na relação infra-estrutura/território. Há certa relação entre infra-estruturas,

entendidas por esse autor como redes, e o território. Essa relação aparece como um processo

de interação entre o local e o global. A interconexão e a territorialização estão interligadas à

reterritorialização. Através das conexões efetuadas com as redes, os diversos sujeitos locais

se territorializam em diversas redes.

Por meio da argumentação de Giussepe Dematteis a territorialidade é entendida

como relação social, e através do estudo, do conhecimento desta, há possibilidade de

compreender o território, tendo como objetivo elaborar projetos que visam melhorar a

qualidade de vida das pessoas na sociedade e no meio em que se inserem.

Diferente dos autores citados até então, Robert Sack realizou seus estudos sobre

território e territorialidade na escola anglo-saxônica. É pouco conhecido e divulgado no

Brasil, devido à ausência da publicação de suas obras na língua portuguesa. Apresenta uma

abordagem conservadora, pelo fato de enfatizar a demarcação de uma área para entender o

território, porém, também compreende a territorialidade como relação social (ABRAÃO et.

al. 2013).

Há duas obras nas quais o autor destaca sua principal argumentação sobre o território

e a territorialidade. A primeira é o artigo human territoriality: a theory and history, de 1983,

a segunda, trata-se do livro human territoriality: its theory and history, publicado em 1986.

Em Haesbaert (2004), visualiza-se que Robert Sack possui uma visão relacional do

território e da territorialidade, ou seja, uma perspectiva de que o território é construído a

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partir de relações social-históricas e, portanto, de relações de poder. Assim, o autor, afirma

que o território é, antes de tudo, um conjunto de relações sociais.

Para conhecer a realidade na sua totalidade, compreender a concepção de territorialidade e

território é fundamental, visto que, ocorrem inúmeras situações, tanto na escala global como

local. Desse modo, para que exista um território é necessário que haja a delimitação de área,

controle e poder.

Robert Sack define o território como uma área de influência de uma autoridade ou de

um grupo de atores sociais. A territorialidade, dessa forma, corresponde à tentativa de

influenciar um grupo ou um indivíduo e controlar pessoas e fenômenos. É uma forma de

estabelecer diferentes possibilidades de acesso as pessoas, coisas e relações, ocorrendo numa

determinada área delimitada por cada grupo social dominante. Essa territorialidade

cumpriria, ao mesmo tempo, os papéis de classificação, de comunicação e de controle. Para

o autor, o território pode ser um espaço utilizado para conter, restringir ou excluir pessoas,

objetos ou relacionamentos.

A territorialidade envolve a classificação por área, pois, quando se afirma, por

exemplo, que tal espaço delimitado é seu ou está restrito para você, nesse caso, estamos

classificando, atribuindo certos valores. “Territorialidade, portanto, evita, em graus diversos,

para a enumeração e classificação por tipo e pode ser o único meio de afirmar o controle se

não podemos enumerar todos os fatores significativos e as relações a que terá acesso”

(SACK, 1983, p.58 – tradução nossa).

A segunda característica citada pelo autor é que a territorialidade pode ser facilmente

comunicada, pois, é capaz de envolver uma marca ou sinal, como a fronteira. “O limite

territorial pode ser a única forma simbólica que combina movimento no espaço e

declarações de posse ou exclusão” (p.58). Por último, toda territorialidade deve envolver a

estratégia ou a tentativa de controlar o acesso de pessoas as áreas e as coisas que ela possui.

O autor também destaca em seu artigo human territoriality: a theory and history

(1983) outras tendências de territorialidades como: pode ser um meio de poder reificante;

usada para fazer e deslocar a atenção da relação entre controlador e controlado para o

território; ajuda a tornar as relações impessoais; aparece de um modo geral, neutra;

recipiente ou molde para as propriedades espaciais dos eventos; ajuda a criar a ideia de um

espaço socialmente vazio; e pode ajudar a gerar mais territorialidade.

Igualmente, na formação histórica dos territórios se faz necessário compreender a

concepção de tempo e temporalidade, pois, são fundamentais para compreender as relações

sociais e naturais, ou seja, as múltiplas territorialidades materializadas no tempo e no espaço.

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Conforme Saquet (2007) a territorialização é determinada pela apropriação e

reprodução das relações sociais, portanto, sua definição vai além das relações de poder

político, e simbolismos de grupos sociais, pois envolve também os processos econômicos os

quais são centrados em seus agentes sociais. “A territorialidade significa cotidianidade,

(i)materialidade, no(s) tempo(s), na(s) temporalidade(s) e no(s) território(s), no movimento

relacional-processual” (p.164). Há no território uma multiplicidade de sujeitos que se

relacionam de forma mútua e contraditória entre si, com lugares e pessoas. O território se

entrelaça com o espaço, pois território e espaço se encontram em unidade.

Concordamos com Saquet (2007), que a territorialização envolve relações de poder,

econômicas e sociais. Neste sentido, procuramos trabalhar o processo de territorialização da

agricultura orgânica e da Agroecologia nos municípios de Itapejara d’Oeste, Salto do Lontra

e Verê, abordando os principais atores envolvidos (agricultores e entidades) e as ações

realizadas. O processo de territorialização da agricultura orgânica em cada município

constitui o evento dessa pesquisa, de modo que buscaremos apreender a gênese e a trajetória

da produção de alimentos orgânicos nestes.

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CAPÍTULO II. ELEMENTOS PARA O DEBATE DO CONCEITO DE

AGROECOLOGIA

O crescimento dos impactos sociais e ambientais durante o século XX intensificou o

questionamento ao atual modelo de agricultura convencional, conhecido como Revolução

Verde, propagado após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Baseado na implantação de

um pacote tecnológico padronizado, composto pelo uso intenso de sementes modificadas,

insumos químicos e biológicos, novas tecnologias em todas as fases da produção, desde o

plantio e a colheita, até o processamento. Tal modelo busca aumentar a produtividade

reduzindo os custos e maximizando os lucros.

A percepção da sociedade sobre as consequências maléficas da Revolução Verde se

fortaleceu a partir da própria evolução teórico-conceitual do ambientalismo, que questiona o

modelo produtivista e economicista vigente e, propõe novas técnicas e métodos que

permitam aliar produção alimentar e conservação ambiental. Nesse contexto, surgem formas

alternativas de agricultura, como a agricultura orgânica, a Agroecologia, entre outras que

abordaremos a seguir. Buscamos nesse capítulo fazer uma análise de como vem sendo

trabalhado e aplicado o conceito de Agroecologia.

2.1. Agroecologia como ciência

Gliessman (2001), afirma que nos anos 1930, alguns ecologistas propuseram o termo

“agroecologia” para designar a ecologia aplicada à agricultura. Apesar de se apoiar no

ideário da sustentabilidade e de enfocar a Agroecologia como uma ciência multidisciplinar,

Gliessman (2001) enfoca o aspecto produtivo/agrícola do manejo dos agroecossistemas, não

ampliando o debate para a dimensão social e política presente na concepção de

Agroecologia. Para este autor, a Agroecologia é uma fusão da Agronomia com a Ecologia, e

se constitui em uma ciência. Ela proporciona o conhecimento e os métodos necessários para

desenvolver uma agricultura ambientalmente correta, que pode ser altamente produtiva e

economicamente viável.

Segundo Caporal (2008), foi nos anos 1980 que a Agroecologia passou a ter um

enfoque científico, iniciado com a tentativa de se promover novas formas de integrar a

Agronomia com a Ecologia. Logo em seguida, ela incorporou a importância de unir o saber

popular para realizar o manejo sobre o ambiente e os recursos naturais nos processos

produtivos agrícolas ou extrativistas. Desta forma, o saber acumulado pelas comunidades

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tradicionais ao longo dos anos passou a ser considerado por alguns cientistas, de modo que a

Agroecologia se apresenta hoje como uma ciência que articula diferentes conhecimentos

científicos e saberes populares para a busca de sustentabilidade na agricultura.

No processo de construção da Agroecologia como ciência, foram incorporadas

contribuições de vários campos do conhecimento, que de alguma forma nos ajudam a

apreender a crise socioambiental gerada pelos modelos de desenvolvimento e de agricultura

convencionais e, simultaneamente, contribuem para a reflexão e construção de novos

desenhos de agroecossistemas e de agricultura que almejem a sustentabilidade.

Diversos pesquisadores vêm se dedicando ao estudo e desenvolvimento de práticas

agrícolas alternativas que sejam mais adaptadas às características dos ecossistemas, e que

não dependam dos insumos e dos maquinários controlados pelas grandes empresas

detentoras das tecnologias agropecuárias. Para Caporal e Costabeber (2004), a Agroecologia

não deve ser classificada como uma agricultura alternativa, pois ela é mais ampla e

complexa. Devido a esse fato, esses autores propõem que a Agroecologia seja considerada

como uma agricultura de base ecológica.

(...) se pretende marcar a distinção entre agriculturas de base ecológica,

baseadas nos princípios da Agroecologia, daqueles estilos de agricultura

alternativa que, embora apresentando denominações que dão a conotação

da aplicação de práticas, técnicas e/ou procedimentos que visam atender

certos requisitos sociais ou ambientais, não necessariamente terão que

lançar ou lançarão mão das orientações mais amplas emanadas do enfoque

agroecológico (CAPORAL; COSTABEBER, 2004, p. 8)

Segundo Gliessman (2001), a Agroecologia possui um duplo desafio, pois, além de

ser uma ciência que tem como base a interação entre os elementos bióticos e abióticos dos

ecossistemas, possui fundamentos que a tornam uma forte estratégia política e ideológica,

cada vez mais adotada por agricultores e diversas de suas instituições representativas.

O que se quer, então, é uma nova a abordagem da agricultura e do

desenvolvimento agrícola, que construa sobre aspectos de conservação de

recursos da agricultura tradicional local, enquanto, ao mesmo tempo, se

exploram conhecimento e métodos ecológicos modernos. Esta abordagem

é configurada na ciência da agroecologia, que é definida como a aplicação

de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de

agroecossistemas sustentáveis (GLIESSMAN, 2001, p. 53-54).

Para Assis e Romeiro (2002), a Agroecologia é entendida como ciência que busca

compreender o funcionamento de agroecossistemas (propriedades agrícolas compreendidas

como ecossistemas, onde ocorrem diversas relações de troca entre matéria e energia), com o

princípio de sustentabilidade das atividades, através da conservação dos recursos naturais e

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menor dependência de insumos externos. A Agroecologia procura inter-relacionar

conhecimentos de varias áreas para propor uma orientação para uma agricultura que

considere as condições ambientais impostas pela natureza.

A ciência agroecológica busca aprender com a própria natureza melhores formas de

intervir sobre ela e aplicar conhecimentos técnicos e científicos adquiridos pela humanidade,

resgatando conhecimentos que a agricultura convencional despreza. Ela utiliza inovações

tecnológicas para desenvolver agroecossistemas sustentáveis e de alta produtividade, mas

sempre sem agredir o meio ambiente. (ASSIS; ROMEIRO, 2002).

Contudo, Candiotto, Carrijo e Oliveira (2008), colocam que além da preocupação

ambiental, a Agroecologia considera a dimensão social da agricultura familiar e procura

fortalecê-la frente à expansão de grandes empresas agrícolas. Portanto, na perspectiva da

Agroecologia, o processo de produção agrícola deve estar vinculado ao desenvolvimento

ambiental, social e econômico das propriedades e famílias rurais, com base em práticas

sustentáveis. Assim, é fundamental um conhecimento profundo do funcionamento dos

ecossistemas e agroecossistemas inseridos nas Unidades de Produção e Vida Familiar

(UPVFs), aliado a uma preocupação política e social de manutenção e fortalecimento da

agricultura familiar.

Altieri e Nicholls (2000) fundamentam-se na Agroecologia como ciência, a partir da

junção entre Agronomia e Ecologia, e destacam a importância das relações socioeconômicas

na compreensão e no desenvolvimento da Agroecologia.

La disciplina científica que enfoca el estudio de la agricultura desde una

perspectiva ecológica se denomina «agroecología» y se define como un

marco teórico cuyo fin es analizar los procesos agrícolas de manera más

amplia. El enfoque agroecológico considera a los ecosistemas agrícolas

como las unidades fundamentales de estudio; y en estos sistemas, los ciclos

minerales, las transformaciones de la energía, los procesos biológicos y las

relaciones socioeconómicas son investigados y analizados como un todo.

De este modo, a la investigación agroecológica le interesa no sólo la

maximización de la producción de un componente particular, sino la

optimización del agroecosistema total. Esto tiende a reenfocar el énfasis en

la investigación agrícola más allá de las consideraciones disciplinarias

hacia interacciones complejas entre personas, cultivos, suelo, animales,

etcétera (ALTIERI; NICHOLLS, 2000, p. 14/15).

Acreditamos que os argumentos em torno da Agroecologia são extremamente

plausíveis, pois fortalecem a concepção e as características de autonomia da agricultura

familiar, garantido a sobrevivência das famílias com qualidade de vida. É preciso verificar,

no entanto, as intencionalidades presentes nos discursos e nas práticas que se denominam

agroecológicas, e os resultados econômicos, sociais e ambientais dessas estratégias.

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2.2. Agroecologia como prática e estratégia de reprodução

Pesquisadores de áreas diferentes do conhecimento vêm analisando conceitualmente

a Agroecologia, seja como modelo teórico ou prático interpretativo dos sistemas agrícolas

(agroecossistemas). Contudo, há muito que se avançar em relação aos aspectos conceituais,

teóricos e metodológicos, bem como à aplicação da Agroecologia.

Diante dos problemas ocasionados pelo modelo de agricultura implementado com a

Revolução Verde, predominantemente insustentável, é fundamental a busca por novas

abordagens que tenham uma concepção inclusiva do ser humano no meio ambiente e que

reconheça a importância da diversidade cultural e dos conhecimentos tradicionais dos

agricultores. Assim, a Agroecologia procura trabalhar com estratégias apoiadas em

metodologias participativas, sob um enfoque interdisciplinar e de comunicação horizontal,

para enfrentar os problemas agrícolas e agrários. Desta forma, enquanto ciência integradora

de diferentes disciplinas científicas, a Agroecologia tem potencial para construir a base de

um novo desenvolvimento rural sustentável (MEIRA e CANDIOTTO, 2012).

Segundo Floriani e Floriani (2010), os impactos ambientais ocasionados pela

industrialização da agricultura colocam em questão o pacote modernizador, baseado na

dominação de todas as formas de vida por meio da racionalidade econômica e instrumental.

A própria modernização desgasta a sua estrutura essencial e o princípio de modernidade.

Grandes pensadores no século XIX e inicio do século XX, acreditavam e disseminavam a

ideia de que o industrialismo pudesse superar as restrições naturais, sociais, econômicas e

ecológicas através da ciência moderna. Os sistemas criados a partir desses ideais, aderidos a

uma racionalidade econômico-industrial, foram postos a prova e questionados quando não

puderam responder aos complexos problemas de ordem socioambiental que derivaram da

radicalização dos riscos da sociedade moderna industrial.

Como contraponto, coube as Nações Unidas o debate sobre as questões ambientais

globais, tendo como marco a Conferência de Estocolmo em 1972, a qual representa o inicio

da preocupação do sistema político mundial sobre as questões relacionadas à degradação do

meio ambiente. A Conferência reflete uma nova percepção sobre os recursos naturais,

considerando o crescimento populacional, econômico e a conservação do meio ambiente.

(AMARAL et al., 1999).

De acordo com Leff (2001a), concebida como saber ambiental, a Agroecologia surge

do cenário de crise da modernidade e, enquanto saber ambiental, requer uma abordagem que

seja capaz de colocar em comunicação as ciências da sociedade e da natureza com os demais

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saberes culturalmente produzidos, prezando pela integração interdisciplinar e o diálogo de

saberes para compreender e explicar o comportamento de sistemas socioambientais

complexos.

Conforme Floriani; Floriani (2010) a Agroecologia compreendida como saber

ambiental do campo da complexidade, é fundamentada em um novo paradigma que exige a

abordagem interdisciplinar e o dialogo de saberes. A ressignificação do conhecimento

científico em saber vernacular prático (local, cotidiano, tradicional) configuram a estratégia

cognitiva complexa da Agroecologia. A práxis está integrada à subjetividade e para

compreender os valores ideológicos, os estilos de vida e os sistemas de significação, é

imprescindível considerar o contexto geográfico e o momento histórico em que se insere tal

prática agrícola. Interpretar os fenômenos da realidade do espaço rural a partir do paradigma

da complexidade implica primeiramente na desconstrução do pensamento disciplinar, em

movimentos dialógicos entre a ordem a desordem e a organização, por via de inúmeras inter-

retroações, reintroduzindo o conhecido em todo o conhecimento.

Para Altieri (2004), a partir do momento em que a biodiversidade é restabelecida em

um agroecossitema, o solo, as plantas e os animais interagem de diversas e complexas

formas. Portanto, na Agroecologia, quanto maior for a preservação e o aumento da

biodiversidade, mais fácil será atingir a sustentabilidade dos agroecossistemas. Quanto mais

complexas forem as interações ocorridas, maior flexibilidade manifestarão os sistemas para

se adaptar ao ambiente em que estão inseridos.

De acordo com Caporal, Costabeber e Paulus (2006), a Agroecologia é vista como

ciência que busca contribuir para o manejo e reprodução de agroecossistemas sustentáveis,

em uma análise multidimensional (econômica, política, cultural, natural, social, ambiental e

ética), que constitui uma matriz disciplinar integradora de saberes, apoiada em metodologias

participativas. Como ciência, a Agroecologia é capaz de apreender e gerar conhecimentos

criados em diferentes disciplinas científicas, reconhece e se nutre de saberes, conhecimentos

e experiências dos agricultores (as), povos indígenas, quilombolas, etc; incorpora o potencial

endógeno, ponto de partida de qualquer projeto de transição agroecológica. A Agroecologia

considera o enfoque holístico e a abordagem sistêmica, busca contribuir para que as

sociedades redirecionem o curso alterado da coevolução social e ecológica nas suas

múltiplas relações e mútua influência.

Segundo Caporal, Costabeber e Paulus (2006) a Agroecologia têm como um de seus

princípios a ética seja através da ação ou omissão, que podem afetar de forma positiva ou

negativa outras pessoas, animais ou a natureza. A ética ambiental procura orientar como

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deveria ser a nossa ação quando esta pode vir a comprometer outros seres, tendo ligação

com o princípio da precaução. Como matriz disciplinar a Agroecologia requer um novo

enfoque paradigmático capaz de unir saberes populares com conhecimentos gerados em

diferentes disciplinas de forma a dar conta da totalidade dos problemas e não do tratamento

isolado de suas partes. Portanto, ela ameaça conceitos, ideias, teorias, o estatuto, a carreira e

o prestígio dos que vivem material e psiquicamente da crença estabelecida pela agricultura

convencional.

Para Altieri (2009), a disciplina científica que aborda o estudo da agricultura em uma

perspectiva ecológica é a Agroecologia, a qual tem por finalidade analisar os processos

agrícolas de forma interdisciplinar. O enfoque agroecológico considera os ecossistemas

agrícolas como unidades fundamentais de estudo, nas quais os ciclos minerais, as

transformações de energia, processos biológicos e relações socioeconômicas devem ser

considerados e analisados como um todo. Sendo assim a Agroecologia não se interessa

apenas pela maximização de um determinado componente da produção, mas pela otimização

do agroecossistema como um todo, onde há uma complexa interação entre pessoas, solo,

animais, plantas, etc.

Apesar de se basear em um enfoque agronômico e ecológico, Altieri é um dos

entusiastas da Agroecologia como um elemento de junção entre o conhecimento científico

dessas ciências e de outras, com os saberes tradicionais dos agricultores.

Leff (2002, p. 37), também demonstra um amplo e complexo potencial em relação à

Agroecologia, sobretudo relacionado ao resgate de práticas e conhecimentos tradicionais

ancestrais.

A Agroecologia é terra, instrumento e alma da produção, onde se plantam

novas sementes do saber e do conhecimento, onde enraíza o saber no ser e

na terra; é o caldeirão onde se amalgamam saberes e conhecimentos,

ciências, tecnologias e práticas, artes e ofícios no forjamento de um novo

paradigma produtivo.

Na terra onde se desterrou a natureza e a cultura; neste território colonizado

pelo mercado e pela tecnologia, a Agroecologia rememora os tempos em

que o solo era suporte da vida e dos sentidos da existência, onde a terra era

torrão e o cultivo era cultura; onde cada parcela tinha a singularidade que

não só lhe outorgava uma localização geográfica e suas condições

geofísicas e ecológicas, senão onde se assentavam identidades, onde os

saberes se convertiam em habilidades e práticas para lavrar a terra e colher

seus frutos.

A Agroecologia busca contribuições na Física, na Economia Ecológica e Ecologia

Política, na Ecologia da Agronomia, na Biologia, na Educação e na Comunicação, na

História, Antropologia, Sociologia e na Geografia, sendo assim uma área do conhecimento

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que necessita da interdisciplinaridade. Porém, como aponta Leff (2002), além do diálogo

entre diferentes ciências, a Agroecologia se fundamenta em saberes tradicionais de

comunidades camponesas, em práticas e costumes locais, ao gosto de trabalhar na terra e

dela colher seus frutos, características estas, ignoradas pela agricultura convencional.

A Agroecologia não é algo pronto para ser aplicado. São as condições culturais em

que estão inseridos os agricultores, sua identidade local e as práticas sociais por eles

realizadas, que dão suporte para a consolidação e apropriação social de suas práticas e

métodos.

Como podemos ver, a Agroecologia vai além da aproximação entre Agronomia e

Ecologia, de modo que, além dos conhecimentos e saberes populares, são fundamentais

conhecimentos científicos de diferentes disciplinas para o desenho de agroecossistemas e

agriculturas mais sustentáveis. “A agroecologia pressupõe o uso de tecnologias

heterogêneas, com adequação às características locais e à cultura das populações e

comunidades rurais que vivem numa dada região ou ecossistema e que irão manejá-las”.

(CAPORAL; COSTABEBER; PAULUS, 2006, p.21).

Quando se adota os princípios da Agroecologia, o que deve ser generalizado são os

princípios e não os formatos tecnológicos. Porém, a estratégia tecnológica deve ter como

orientação a construção de agricultores que promovam práticas sustentáveis, contribuindo

para a efetivação de uma nova agricultura que considere as múltiplas dimensões que a

permeiam. Para tanto, são necessárias novas abordagens e novas práticas por parte das

instituições e técnicos ligados à Assistência Técnica e Extensão Rural.

“A Agroecologia convoca a um diálogo de saberes e intercâmbio de experiências; a

uma hibridação de ciências e técnicas, para potencializar as capacidades dos agricultores; a

uma interdisciplinaridade” (LEFF, 2002 p. 42), que articula conhecimentos técnicos,

econômicos, ecológicos e antropológicos que convergem na dinâmica dos agroecossistemas.

Ela “implica a produção interdisciplinar de conhecimentos, mas se concretiza através de um

processo de apropriação e aplicação desses conhecimentos, da hibridação entre

conhecimentos e saberes” (p.44). Sendo assim, a Agroecologia se produz através da

experiência dos saberes práticos e não de acordo com regras de produção científica

convencional. Portanto, deveríamos falar de saberes agroecológicos, deixando evidente o

sujeito do conhecimento, que possui autonomia e não está submisso a mecanismos

tecnológicos e científicos impostos pelo capitalismo.

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Fica evidente que para Leff o “saber agroecológico” coopera para a construção de

um “novo paradigma produtivo”, pois mostra a possibilidade de produzir junto com a

natureza, sem agredí-la, respeitando o potencial cultural, ecológico e tecnológico local.

Guzmán (2006), analisando a Agroecologia como estratégia metodológica de

transformação social, propõe algumas perspectivas de pesquisa para compreendê-la.

Fizemos referência aqui, a “perspectiva de transformação social da Agroecologia”, pois esta

articula a perspectiva ecológico-produtiva (a mudança produtiva é baseada na agricultura

ecológica) e a socioeconômica (agricultura participativa, controle do processo de circulação

e de setores não-agrícolas da economia local), pois supõe a transformação sociocultural e

política através de transformações nas estruturas de poder utilizando o potencial local, os

conhecimentos locais e a “memória histórica popular”, resgatando, mas também construindo

algo novo na contemporaneidade, mas que historicamente já existiu naquele local.

Há diferença da Agroecologia em relação a outros sistemas de produção

denominados agriculturas alternativas. Portanto no próximo item buscamos apresentar,

compreender e refletir, mesmo que de forma sucinta, sobre as distintas agriculturas de base

ecológica e suas contribuições para a Agroecologia.

2.3. Contribuições de diferentes agriculturas alternativas para a Agroecologia

O termo agricultura alternativa exprime a coexistência de várias escolas, estilos ou

correntes que propõem a aplicação de princípios ecológicos à produção agropecuária, a

partir da incorporação de técnicas alternativas ao modelo convencional, que permitem a

redução ou extinção do uso de insumos químicos.

A denominação agricultura alternativa surgiu para traduzir a variedade de

manifestações do que vinha sendo tratado, de forma geral, como contraposição ao modelo de

produção agropecuária convencional. Dentre as principais, podemos citar a agricultura

biodinâmica; a agricultura natural; a agricultura orgânica; a agricultura biológica; a

agricultura ecológica; a permacultura; e a agricultura regenerativa. Cabe ressaltar que

concordamos com Caporal e Costabeber (2004) e Caporal (2008), quando estes diferenciam

a Agroecologia de outros tipos de agricultura alternativa, incorporando-a a algo mais

complexo, denominado agricultura de base ecológica.

Dentre as principais correntes, discorremos sobre a agricultura biodinâmica;

agricultura natural; agricultura orgânica; agricultura biológica; permacultura; agricultura

regenerativa; e Agroecologia.

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Para melhor compreendermos as especificidades de cada um destes estilos de

agricultura, realizamos uma breve descrição das mesmas, enfatizando o período e o local de

surgimento, bem como os fundamentos de cada forma de cultivo, apesar de similitudes entre

elas e a Agroecologia.

2.3.1. Agricultura alternativa

Conforme Khatounian (2001), nos anos 1970, após as crises do petróleo e,

especialmente nos anos 1980, os movimentos relacionados à contraposição da agricultura

convencional se multiplicaram pelo planeta, impulsionados pelo movimento de contracultura

e pela crescente consciência do agravamento dos problemas ambientais. As crises do

petróleo expuseram aos Estados Unidos a fragilidade baseada no uso de agroquímicos. A

partir disso, o governo americano passou a buscar alternativas para a solução da dependência

de insumos químicos na agricultura.

Os estudos realizados nos Estados Unidos aderiram sobretudo às propostas das

escolas da agricultura orgânica e biodinâmica, que constituíram alternativas significantes

para aprimorar o uso dos recursos energéticos. As técnicas estudadas foram nomeadas de

Alternative Agriculture. Este título também foi utilizado na obra do professor John Pesek, da

Universidade de Iowa, em 1989, a pedido e com recursos do Conselho Nacional de Pesquisa

dos Estados Unidos (NCR) (KHATOUNIAN, 2001).

Darolt (2002) ressalta que o termo agricultura alternativa não constitui uma corrente

ou uma filosofia definida de agricultura, mas serve para reunir as escolas, correntes ou, de

modo geral, as agriculturas que se diferenciam da agricultura convencional, agroquímica ou

industrial.

Caporal (2008) enfatiza que a Agroecologia não é um tipo de agricultura alternativa,

pois se trata de algo bem mais complexo, que não está limitado à esfera técnica ou

agronômica. Diferente de uma agricultura alternativa, a Agroecologia inclui outras variáveis

(econômica, social, ambiental, cultural, política e ética), sendo que todas elas estão

fundamentadas na concepção de sustentabilidade.

2.3.2. Agricultura ecológica

De acordo com Assis (2005), o termo agricultura ecológica surge no final dos anos

1970, como uma proposta unificadora das correntes da agricultura não industrial, e também,

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“como uma reação a imprecisão do termo alternativo, na medida que este significa apenas

algo diferente” (p. 19). A agricultura ecológica introduziu a ideia de que a mudança no

modo de produção agrícola deve integrar de forma harmônica as necessidades ecológicas e

as socioeconômicas.

Khatounian (2001) ressalta que até o final da década de 1970, a ecologia era apenas

uma disciplina da biologia restrita aos meios acadêmicos, a qual estudava a interação de

certa espécie com o seu meio. Com a crescente conscientização da magnitude dos problemas

ambientais, o termo foi se tornando notório, sempre aparecendo associado à preservação ou

recuperação do meio ambiente.

Assim como na agricultura alternativa, Darolt (2002) afirma que a nomenclatura

agricultura ecológica ou agricultura de base ecológica, não deve ser considerada como uma

corrente, sendo que sua função é distinguir os estilos de agricultura que seguem princípios

ecológicos e, por isso, se distinguem do modelo de agricultura convencional, industrial ou

agroquímica. Portanto, os termos agricultura alternativa e agricultura ecológica

demonstram a coexistência de várias escolas ou correntes que propõem a aplicação de

princípios ecológicos à produção agropecuária, a partir da utilização de técnicas, redução ou

extinção do uso de agroquímicos.

2.3.3. Agricultura sustentável

De acordo com Khatounian (2001, p. 30) “na seqüência de conferências sobre o

desenvolvimento e o meio ambiente de 1972, 1982 e 1992, foi-se tornando cada vez mais

evidente que tanto o padrão industrial quanto o agrícola precisavam de mudanças urgentes”,

pois se desenvolveram com a premissa de que os recursos eram ilimitados. Contudo, o

planeta se mostrou pequeno em face à avidez em relação ao consumo de matérias tanto pela

indústria quanto pela agricultura.

Diante dessas circunstâncias, era necessário definir um rumo que almejasse a

correção dos problemas existentes. Neste cenário é que se desenvolve o conceito de

desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade, apreendidos basicamente como o

equilíbrio entre três fatores pilares do desenvolvimento (econômicos, sociais e ambientais).

No caso da agricultura, criou-se o termo agricultura sustentável, na tentativa de

conciliar as expectativas sociais da produção de alimentos e ambiente sadios, com os

interesses das corporações sediadas nos países mais ricos, integrantes dos organismos

internacionais e que lucram com o método convencional, e por isso, não firmariam uma

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proposta que ferisse seus interesses comerciais imediatos. Desta forma, o termo agricultura

sustentável, assim como o desenvolvimento sustentável, passou a ser utilizado por diversas

instituições, firmas e sujeitos, com finalidades e intencionalidades distintas, causando uma

confusão em torno do próprio conceito.

Conforme Darolt (2002), no final dos anos de 1980 e durante toda a década de 1990,

o conceito amplamente difundido foi o de agricultura sustentável. Muito amplo e repleto de

contradições, este conceito deve ser considerado não como um conjunto de práticas

agrícolas, mas mais como um objetivo a ser atingido.

Para Altieri (1999) a relevância do termo agricultura sustentável se destaca pela

abrangência de suas preocupações ao integrar a produtividade dos sistemas agrícolas com os

aspectos econômicos, sociais e ambientais. O autor também sugere que se deve fazer mais

que transformar as práticas tradicionais. Novas técnicas devem ser desenvolvidas, mas

seguindo vários dos princípios orientadores observados na agricultura tradicional,

preocupações presentes também na Agroecologia.

No Brasil, e em todo mundo o termo sustentável muitas vezes é utilizado como

marketing para promoção comercial, como exemplo, tem-se com frequência o patrocínio de

grandes eventos por empresas produtoras de agrotóxicos, que se autodenominam

sustentáveis. Diante destes acontecimentos fica evidente que embora a agricultura

sustentável represente um avanço desejado, pelo reconhecimento oficial da inconformidade

do modelo convencional, é também um retrocesso em relação as contra-correntes da

agricultura que possuem normas claras, pois a afirmação do crescimento econômico como

fundamento da sustentabilidade se contrapõe às críticas sobre o predomínio da dimensão

econômica no processo de desenvolvimento.

Assim, apesar de promover um discurso de integração entre o econômico, social e

ambiental, a ideia de sustentabilidade vem sendo promovida no sentido de incorporar à

dimensão econômica, alguns elementos de conservação ambiental. A lógica do crescimento

econômico não é questionada e entende-se que esse crescimento é fundamental para se

atingir melhorias sociais. Portanto, optamos por não utilizar o conceito de agricultura

sustentável.

A partir do exposto, decidimos utilizar o termo agricultura de base ecológica para

agrupar as correntes que, em nossa opinião, fundamentam a Agroecologia, pois entendemos

que a Agroecologia absorve conhecimentos de correntes da agricultura de base ecológica.

A seguir, apresentamos informações sobre cada uma dessas correntes.

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2.3.4. Agricultura biodinâmica

No ano de 1924, o filosofo austríaco Rudolf Steiner, apresentou uma alternativa de

agricultura diferenciada e, baseado na ciência espiritual da antroposofia, lançou os

fundamentos da agricultura biodinâmica.

Conforme Khatounian (2001), a Alemanha foi o berço da química agrícola, a qual foi

cristalizada sob a denominação de Biologische Dynamische Landwirtschaft (Agricultura

Dinâmica Biológica) em 1924, por Rudolf Steiner, mais tarde difundida como biodinâmica.

O que motivava os agricultores da época a procurar esse método era o declínio das lavouras

e criações submetidas às tecnologias e adubos químicos.

Esse método preconizava a moderna abordagem sistêmica, entendendo a

propriedade como um organismo e destacava a presença de bovinos como

um dos elementos centrais para o equilíbrio do sistema. Foi bastante

difundido nos países de língua e/ou influência germânica. A escola

biodinâmica foi a primeira a estabelecer um sistema de certificação para

seus produtos. O método biodinâmico de agricultura é acompanhado na

educação pela Pedagogia Waldorf e na saúde pela Medicina Antroposófica

(KHATOUNIAN, 2001, p. 25-26).

Comparando a unidade de produção como um organismo, a agricultura biodinâmica

difere das demais correntes. Pratica o uso de preparados biodinâmicos, que têm por objetivo

vitalizar as plantas e estimular o seu crescimento. Os preparados são substâncias de origem

mineral, vegetal e animal, as quais altamente diluídas são aplicadas em pequenas

quantidades no solo, plantas e compostos. Realiza as intervenções agrícolas seguindo um

calendário astronômico, concedendo atenção especial à disposição da lua e dos planetas

(DAROLT 2002).

As práticas agrícolas biodinâmicas possuem seu próprio sistema de certificação,

fiscalização e credenciamento de agricultores. São legalmente consideradas como produção

orgânica, ou seja, uma unidade de produção biodinâmica também é orgânica, porém uma

unidade de produção orgânica não é necessariamente biodinâmica.

Segundo Khatounian (2001), no Brasil, a agricultura biodinâmica foi inicialmente

ligada à colônia alemã, e se estabeleceu na fazenda Estância Demétria, em Botucatu. Em

seguida, essa unidade assumiu novas funções e se dividiu em outras organizações, que

atuam na formação de pessoal, certificação e divulgação.

Assim como as demais formas de produção alternativas ao modelo convencional, a

agricultura biodinâmica preza pela diversificação e integração das explorações vegetais,

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animais e florestais; pela adoção de práticas que primam pela reciclagem de resíduos

vegetais e animais e; pelo uso de nutrientes de baixa solubilidade e concentração.

Várias práticas utilizadas pela agricultura biodinâmica, também são usadas pela

Agroecologia. Com maior frequência podemos observar o uso de preparados biodinâmicos

(na Agroecologia, mais conhecidos como “caldas” ou “supermagro”) para adubação do solo

e como repelente de insetos, por possuírem em seus compostos esterco animal, variados

tipos de ervas e minerais.

2.3.5. Agricultura natural

A agricultura natural, de acordo com Khatounian (2001), surgiu no Japão, nas

décadas de 1930 e 1940 através de um movimento de caráter filosófico-religioso que

resultou em uma organização conhecida como Igreja Messiânica. Tem como figura central

Mokiti Okada, o qual realizou experimentos de campo, motivado pelo princípio da

purificação e respeito à natureza, a partir da observação de problemas enfrentados em

algumas áreas agrícolas japonesas.

Um dos pilares desse movimento foi o método agrícola denominado Shizen Noho

(método natura) ou agricultura natural. Esse método agrícola foi influenciado pelo

fitopatologista Masanobu Fukuoka, preconizando a menor alteração possível no

funcionamento natural dos ecossistemas, e defendendo a menor intervenção possível no solo

e a renúncia por insumos externos à propriedade rural, alimentando-se diretamente do Zen-

Budismo (tipo de meditação contemplativa que busca levar o praticante à experiência direta

da realidade) (KHATOUNIAN, 2001).

Para Fukuoka, o sucesso da agricultura natural só ocorreria quando o agricultor

estivesse espiritualmente saudável. Seus estudos tinham base em uma natureza livre da

interferência e intervenção humana e propõe recuperar a natureza da destruição causada pela

ação dos homens.

Segundo Assis (2005), Fukuoka defendia a ideia de artificializar o menos possível o

sistema de produção agrícola, mantendo-o o mais parecido possível com o sistema natural.

Desta forma estabeleceu quatro princípios que aproximam a agricultura natural do “fazer

nada. 1) não revolver o solo; 2) não utilizar fertilizantes; 3) não capinar; 4) não utilizar

agrotóxicos. A busca, neste caso, é do máximo aproveitamento dos processos que já ocorrem

espontaneamente na natureza, com o menor gasto possível de energia” (p. 18).

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De acordo com Assis (2005), Okada e Fukuoka defendem ideias semelhantes quanto

à base teórica, porém na prática há uma diferença, por parte dos sistemas de produção

idealizados por eles. Esta diferença refere-se ao manejo da matéria orgânica no solo, pela

preparação de compostos orgânicos, tida como importante apenas para os seguidores da

filosofia de Okada.

[...] as técnicas de cultivo de agricultura natural fundamentam-se no

método natural de formação do solo, contando com a força da natureza e

com todos os conhecimentos técnicos científicos adquiridos ao longo da

evolução humana. Assim, preconiza-se na agricultura natural, a adoção de

um sistema de exploração agrícola que venha acelerar o processo de

reversão do solo desgastado. Essa recuperação do solo é processada

durante a fase de exploração agrícola, a fim de que o trabalho de reversão

não seja antieconômico (MIYASAKA; NAKAMURA, apud ASSIS, 2005,

p. 17).

Atualmente, a agricultura natural tem se concentrado no uso de microrganismos que

são benéficos à produção vegetal e animal, conhecidos pela sigla EM (microrganismos

eficazes). “Esses microrganismos foram selecionados pelo Professor Teruo Higa, da

Universidade de Ryukiu, e são difundidos e comercializados pela Igreja Messiânica”

(KHATOUNIAN, 2001, p. 27). No Brasil, a difusão inicial da agricultura natural esteve

ligada à colônia japonesa, na qual a Igreja Messiânica se estabeleceu. Atualmente, a

agricultura natural inclui canais empresariais, voltados à comercialização e à certificação.

Segundo informações do site Planeta Orgânico, a Fundação Mokiti Okada

desenvolve a agricultura natural no Brasil desde 1979. Essa fundação divulga a tecnologia

da produção de alimentos saudáveis ao ser humano e ao meio ambiente, praticado pela

agricultura natural, através da capacitação de agricultores do Brasil, e também de outros

países da América Latina, Europa e África. Também realiza a certificação de produtos da

Agricultura natural através da certificadora Mokiti Okada.

A agricultura natural compõe uma das mais significativas fontes de inspiração para o

aperfeiçoamento das técnicas de produção orgânica. A Agroecologia também é influenciada

pelas técnicas utilizadas na agricultura natural, como por exemplo, não revolver o solo e não

utilizar agrotóxicos, porém com pouca ênfase.

2.3.6. Agricultura biológica

Segundo Darolt (2002), no inicio dos anos 1930, o biologista e político Dr. Hans

Müller trabalhou na Suíça em estudos sobre fertilidade de solo e microbiologia. Originou-se

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destes estudos a agricultura organo-biológica, que mais tarde ficou conhecida como

agricultura biológica. Esta tinha como objetivos iniciais priorizar os aspectos

socioeconômicos e políticos da produção, ou seja, buscava a autonomia do agricultor e um

sistema de comercialização direta. Essas ideias só vieram a se concretizar por volta da

década de 1960, quando o médico austríaco Hans Peter Rusch difundiu esse método.

Nesse período, as preocupações da corrente de agricultura biológica tinham forte

ligação com o movimento ecológico, primando pela ideia de proteção do meio ambiente,

melhoria da qualidade biológica dos alimentos e o desenvolvimento de fontes de energia

renováveis.

De acordo com Khatounian (2001), no início dos anos 1960, já incorporando a crítica

aos produtos do pós-guerra, organiza-se na França o movimento de agricultura biológica,

tendo como fundador, Claude Aubert, o qual publica o livro L’Agriculture Biologique:

pourquoi et comment la pratiquer (Agricultura Biológica: porquê e como praticar), em 1974.

Assim como a agricultura orgânica de Howard, a proposta sintetizada por Aubert não se

vincula a uma doutrina filosófica ou religiosa particular. Configura-se como uma abordagem

técnica, a qual preza por um relacionamento equilibrado com o meio ambiente e de melhor

qualidade da produção.

Segundo Assis (2005) o trabalho de Claude Aubert foi influenciado pelas ideias do

biólogo francês Francis Chaboussou, que em 1980, publicou Les plantes malades des

pesticides (Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos). Nesta obra, o autor demostra que se

uma planta estiver em bom estado nutricional ela torna-se mais resistente ao ataque de

pragas e doenças e, que o uso de agrotóxicos causa desequilíbrio nutricional e metabólico à

planta, deixando-a mais vulnerável e provocando alterações na qualidade biológica do

alimento.

Para Khatounian (2001) a síntese organizada por Aubert é beneficiada pela

considerável experiência acumulada nos 50 anos anteriores, podendo delinear com minúcia

os fundamentos técnicos e científicos de uma nova agricultura.

As propostas técnicas da agricultura biológica e orgânica são praticamente idênticas.

A diferenciação reside mais no sentido da origem da palavra do que em termos conceituais e

práticos. Para a Agroecologia, a maior contribuição da agricultura biológica é a prioridade

que se dá aos aspectos socioeconômicos e políticos da produção, primando pela autonomia

do agricultor, e pelo sistema de comercialização direta, identificados na Agroecologia

através das feiras livres e na comercialização em domicílio.

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2.3.7. Permacultura

De acordo com Jacintho (2007), a permacultura foi desenvolvida na Austrália por

Bill Mollison, nas décadas de 1970 e 1980, a partir dos pressupostos da agricultura natural

definidos por Fukuoka. Ela foi influenciada pela visão sistêmica sob a ótica da teoria de

Gaia, e também a incorporou aspectos básicos da ocupação humana no planeta, como a

produção alimentar, habitação, oferta de água, saneamento, geração e oferta de energia,

entre outros. Convergente com a proposta de Fukuoka, a permacultura propõe um modo

inteiramente novo de enfocar a agricultura, utilizando a natureza como modelo.

Segundo Jacintho (2007), no final dos anos 1970 a permacultura foi concebida como um

método de agricultura permanente. Atualmente ela se apresenta como uma proposta para

uma “cultura humana” permanente. Em 1974, surge o termo Permaculture, cunhado pelos

cientistas Bill Mollison e David Holmgren. Surgido na Austrália, o termo difundiu-se pela

América do Norte e Europa, chegando à América Latina e ao Brasil em meados dos anos

1980.

A permacultura é definida como:

A elaboração, a implantação e a manutenção de ecossistemas produtivos

que mantenham a diversidade, a resiliência e a estabilidade dos

ecossistemas naturais, promovendo energia, moradia e alimentação

humana de forma harmoniosa com o ambiente (MOLLISON, 1999 apud

JACINTHO, 2007, p. 37).

Dentre o método de desenho e ocupação de solo permacultural, estão inseridos os

conhecimentos de diversas áreas do conhecimento, que prezam objetivamente pelo saber

empírico das comunidades onde se aplica. Assim, são valorizados os conhecimentos e

práticas locais, para acomodar a ocupação humana de forma que seja mantido a diversidade

e a estabilidade do ecossistema natural.

Um termo bastante utilizado na permacultura é o de design, o qual se refere ao

planejamento e projeto executivo de um desenho de ocupação humana produtiva e

sustentável do agroecossistema, utilizando os recursos locais sem que seja alterada as

condições do meio ambiente. As ações são realizadas com base em muita observação e,

como resultado desta “observação”, pode se afirmar que enquanto a agricultura tradicional é

intensiva em trabalho humano e a industrial em energia fóssil, o design permacultural é

intensivo em informação e planejamento (JACINTHO, 2007).

Conforme Khatounian (2001), a permacultura, diferente de outras escolas, ocupa-se

também de assuntos urbanos como a construção de cidades ecologicamente adaptadas, que

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minimizam as necessidades de energia, materiais e esforços externos e, maximizam os

mecanismos naturais que podem contribuir para a satisfação das necessidades urbanas.

No Brasil, país que possui uma natureza predominantemente florestal, a

permacultura possui um potencial de contribuição ainda pouco explorado.

A Agroecologia se aproxima da permacultura quando, assim como esse modelo

alternativo, também preza pela interdisciplinaridade dos conhecimentos científicos e pelos

saberes tradicionais, objetivando que a ocupação humana ocorra de forma menos impactante

possível e seja mantida a diversidade e estabilidade do ecossistema natural, em uma relação

harmônica entre pessoas e meio.

2.3.8. Agricultura regenerativa

Conforme Darolt (2002), a agricultura regenerativa, surgiu a partir da agricultura

orgânica proveniente das ideias de Howard e Rodale. Este modelo reforça o fato de o

agricultor buscar sua independência pela potencialização dos recursos encontrados e criados

em sua própria unidade de produção agrícola ao invés de buscar recursos externos. Em 1995

Jules Pretty publicou a obra Regenerating Agriculture, considerada um marco dessa

corrente, que não teve a mesma difusão que as demais.

Segundo Ehlers (1994), o termo agricultura regenerativa surgiu nos EUA, por Robert

Rodale (1983) quando este utilizou teorias de hierarquia ecológica para estudar os processos

de regeneração nos sistemas agrícolas, ao longo do tempo. Essa agricultura tem como

objetivo a regeneração e manutenção das culturas e de todo o sistema de produção alimentar,

incluindo comunidades rurais e os consumidores. A regeneração deve levar em conta,

aspectos econômicos, questões ecológicas, éticas e de eqüidade social.

Conforme Assis (2005), no Brasil, a experiência mais conhecida e que mais se

aproxima da agricultura regenerativa é a do suíço Ernst Götsch, o qual na região sul da

Bahia, desenvolveu um sistema agrossilvicultural para recuperação de áreas degradadas,

onde privilegiou a produção agrícola por meio de poda intensa das árvores, de forma a

induzir o rejuvenescimento, o vigor e o crescimento das plantas, aliados a elevada

incorporação de biomassa ao solo e o controle intensivo da sucessão vegetal.

Assim como na Agroecologia, a agricultura regenerativa considera no sistema de

produção alimentar aspectos econômicos, ecológicos, éticos, de equidade social.

Enfatizamos o respeito pelo consumidor, o qual na Agroecologia é de grande importância.

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2.3.9. Agricultura orgânica

A agricultura orgânica, por ser a corrente mais difundida no Brasil e na maior parte

do mundo, tem sido identificada pelos consumidores como sinônimo das denominações das

diferentes correntes de produção não industrial e/ou convencional.

Conforme Jesus apud Assis (2005), a agricultura orgânica se originou na Inglaterra,

com o agrônomo Albert Howard, que trabalhou na Índia durante longo período, adquirindo

experiência no período de 1899 a 1940, em uma forma de agricultura baseada na

manutenção de níveis elevados de matéria orgânica no solo. Howard fez diversas críticas ao

modelo de agricultura industrial, ressaltando que a conservação da fertilidade do solo é a

primeira condição para se ter um sistema de agricultura sustentável.

Segundo Khatounian (2001) “Howard observava que a adubação química produzia

excelentes resultados nos primeiros anos, mas depois os rendimentos caíam drasticamente,

enquanto os métodos tradicionais dos camponeses indianos resultavam em rendimentos

menores, mas constantes” (p. 26). Em 1940, Howard publica An Agricultural testament (Um

Testamento Agrícola), um clássico em agricultura ecológica.

Ainda de acordo com Khatounian (2001), a escola orgânica inglesa se fundamenta no

âmbito da agricultura e dos recursos naturais, não se ligando a nenhuma concepção de

caráter filosófico-religioso. Em 1943, inspirada por Rodale, Eve Balfour publica na

Inglaterra The Living Soil (O Solo Vivo), defendendo uma agricultura sustentável com

métodos orgânicos. A obra torna-se um ponto de aglutinação de ideias e debates que dará

origem à The Soil Association (Associação do Solo), principal entidade orgânica do Reino

Unido.

Conforme Darolt (2002) os princípios da agricultura orgânica foram inseridos no

Brasil no início da década de 1970, data em que se começava a repensar o modelo

convencional de produção. Entre 1973 e 1995, o desenvolvimento da agricultura orgânica

foi lento em todo país, passando por diferentes etapas ligadas a contextos socioeconômicos e

movimentos de ideias contrárias à agricultura convencional.

De acordo com Assis e Romeiro (2002), a agricultura orgânica é uma prática agrícola

que possui características técnicas adaptadas em função do contexto social em que se insere,

pois pode seguir uma lógica capitalista, enfatizando a produção para o mercado externo na

perspectiva empresarial, e uma lógica familiar, que produz alimentos para subsistência e

para o mercado local, com administração da família na produção.

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A agricultura orgânica, assim como a Agroecologia possui um enfoque ecológico

para produção, porém não questiona as relações convencionais do mercado que intensificam

as desigualdades sociais. A agroecologia, por sua vez, é mais ampla, haja vista que leva em

consideração relações socioeconômicas e processos biológicos em conjunto, procurando

compreender o agroecossistema como um todo, ou seja, as relações entre animais, pessoas,

plantas e solo.

Desse modo, é importante diferenciar a agroecologia da produção orgânica, pois,

muitas vezes, elas são tratadas como análogas, porém, existem diferenças entre essas duas

alternativas produtivas.

2.4. Similitudes e diferenças da agricultura orgânica e da Agroecologia

Na agricultura orgânica, procura-se produzir alimentos livres de qualquer tipo de

insumos químicos e com sabor original que atenda às expectativas do consumidor. A busca

por produtos orgânicos leva a uma pressão de mercado que favorece a produção com base

em altas tecnologias, externas à propriedade; na monocultura e no objetivo principal de

lucro. A prática eminentemente mercantil pode colocar em risco a sustentabilidade do

sistema, pois costuma desconsiderar o equilíbrio entre o social, o econômico e o ecológico.

Se depender do mercado, a produção orgânica tem futuro garantido, pois é a corrente

alternativa que mais cresce e é difundida atualmente, em virtude da aceitação do produto

limpo, livre de agrotóxicos (ASSIS e ROMEIRO, 2002).

Contudo, autores como Altieri (2004), Caporal (2008), Leff (2001a, 2001 e 2002),

Candiotto, Carrijo e Oliveira (2008), entre outros, afirmam que a Agroecologia é bem mais

complexa que a agricultura orgânica, conforme já apontamos ao tratar sobre essas duas

correntes.

Portanto, na perspectiva da Agroecologia, o processo de produção agrícola deve estar

vinculado ao desenvolvimento ambiental, social e econômico das propriedades e famílias

rurais, com base em práticas de base ecológica. Assim, é fundamental um profundo

conhecimento do funcionamento dos ecossistemas e agroecossistemas inseridos em uma

propriedade rural ou em uma microbacia hidrográfica, aliado a uma preocupação política e

social de manutenção e fortalecimento da agricultura familiar.

De maneira geral, podemos afirmar que todas as práticas agroecológicas estão

inseridas na corrente da agricultura orgânica, que, por sua vez, é uma das correntes da

chamada agricultura de base ecológica. Por outro lado, as práticas agroecológicas, apesar de

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fazerem parte da agricultura orgânica, possuem peculiaridades que as tornam mais restritas

que as da agricultura orgânica, pois a Agroecologia está intimamente vinculada à agricultura

familiar e/ou camponesa, sendo um tipo de agricultura de pequena escala, caracterizada pela

policultura, pela mão-de-obra familiar, por sistemas produtivos complexos e diversos,

adaptados às condições locais, voltados para o consumo familiar e mercados locais e

regionais, valorizando as práticas agrícolas e culturais dos agricultores familiares, como o

saber fazer acumulado historicamente. No entanto, todos esses elementos teóricos que

compõem a Agroecologia dificilmente são encontrados nas Unidades de Produção e Vida

Familiares. Assim, as pesquisas com foco na realidade empírica, são fundamentais para

verificar os elementos da Agroecologia que estão presentes nas UPVFs situadas nos mais

diversos lugares.

Segundo a EMBRAPA (2006), o referencial teórico ganha um caráter palpável

quando aplicado às realidades locais, que podem validar os princípios e enriquecer a

concepção teórica da Agroecologia. Neste sentido, com base no debate teórico e no

conhecimento de experiências empíricas de estabelecimentos rurais com produção orgânica

na região Sudoeste do Paraná, nos propusemos a estabelecer uma tipologia para considerar

diferentes formas de agricultura orgânica e, entre estas, identificar UPVFs que se aproximam

da Agroecologia. Posteriormente, esse exercício teórico será aplicado nos estabelecimentos

rurais com agricultura orgânica dos municípios de Itapejara D´Oeste, Salto do Lontra e

Verê, localizados no Sudoeste do Paraná e objetos da pesquisa de mestrado. Assim,

estaremos estabelecendo uma relação dialética entre teoria e prática, de modo que a

abstração teórica será aplicada empiricamente.

2.4.1. Proposta de tipologia para a agricultura orgânica

Um primeiro aspecto a ser observado reside no conceito de estabelecimento rural e

de Unidade de Produção e Vida Familiar (UPVF). Enquanto um estabelecimento rural

corresponde a qualquer estabelecimento situado no espaço rural, independente do tamanho,

atividade ou gestão, o conceito de UPVF é especifico para estabelecimentos rurais da

agricultura familiar e/ou camponesa. Apesar de haver uma separação entre estabelecimento

rural patronal e estabelecimento rural familiar, optamos por utilizar o termo UPVF (que

também corresponderia a um estabelecimento rural familiar), em virtude deste englobar não

somente a dimensão produtiva da unidade familiar, mas também os diversos elementos que

compõem essa unidade como uma unidade de vida, para além da simples produção. Dentro

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da unidade produtiva, que é foco de pesquisas das ciências sociais aplicadas e das agrárias,

existem também pessoas, com relações sociais, políticas, valores culturais, sentimentos,

identidades, etc.

Ao limitar a abordagem à esfera produtiva, elementos socioculturais fundamentais da

família rural acabam sendo esquecidos, prejudicando o próprio processo de análise da

multidimensionalidade da agricultura familiar e/ou camponesa. Portanto, ao utilizar o

conceito de UPVF, além da consideração da dimensão produtiva do estabelecimento rural

familiar, busca-se apreender questões sociológicas que envolvem a família e suas relações

sociais diversas estabelecidas no cotidiano vivido.

Partimos do pressuposto de que a produção orgânica é desenvolvida em

estabelecimentos rurais, sejam UPVFs (estabelecimentos rurais familiares) ou não

(estabelecimentos rurais patronais). Essa produção, pode se dar em todo o estabelecimento,

envolvendo todas as atividades produtivas destes, ou somente em parte dele, isto é, quando

há uma coexistência entre agricultura orgânica e agricultura convencional. Acreditamos que

um estabelecimento rural que combina a agricultura orgânica com a convencional, não pode

ser chamado de estabelecimento rural orgânico, mas sim, parcialmente orgânico. Estes,

também não podem ser classificados como agroecológicos.

Outro elemento importante reside no chamado processo de transição orgânica. De

forma geral, as instituições de assistência técnica em agricultura orgânica e as certificadoras

de alimentos orgânicos, exigem que o estabelecimento rural fique no mínimo três anos sem

utilizar nenhum agroquímico, para ser considerado um estabelecimento rural orgânico. Esse

tempo é justificado pela necessidade de eliminar as possíveis fontes de contaminação do

próprio estabelecimento, caso este tenha praticado a agricultura convencional. Entendemos

que nesse período de três anos, o estabelecimento deve ser chamado de estabelecimento

rural em transição para a agricultura orgânica, não devendo ser considerado ainda, um

estabelecimento orgânico.

Portanto, para que um estabelecimento rural possa ser chamado de orgânico, é

preciso que ele seja totalmente orgânico e que tenha passado pelo processo de transição. Na

tentativa de diferenciar os estabelecimentos rurais que tem uma produção especializada,

daqueles onde há algum tipo de diversificação produtiva, optamos por estabelecer a seguinte

classificação, que serve para todos os estabelecimentos rurais com agricultura orgânica,

independente do fato da produção ser ou não utilizada para o consumo de seu proprietário ou

de sua família: 1) aqueles estabelecimentos rurais que produzem e comercializam até dois

tipos de produtos no ano, estão englobados na categoria especializado; 2) os

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estabelecimentos rurais onde se produz e se comercializa até 5 tipos de produtos no ano,

compõem a categoria pouco diversificado; 3) Já os estabelecimentos que produzem e

comercializam mais de 5 tipos de produtos no ano, fazem parte da categoria diversificados.

Por sua vez, os estabelecimentos rurais com agricultura orgânica podem ser divididos

em dois grandes grupos: empresarial e familiar. Elencamos a seguir, algumas características

que diferenciam tais grupos. O estabelecimento rural com agricultura orgânica empresarial

é regido por uma intencionalidade (SANTOS, 1996) econômica que estamos chamando de

capitalista, que tem por objetivo principal a obtenção de lucros e a acumulação de capital.

O estabelecimento é gerenciado por uma empresa, com CNPJ (Cadastro Nacional de

Pessoa Jurídica), onde são comuns estratégias como a contratação de trabalho assalariado,

uso de tecnologias convencionais, insumos externos e certificação por auditagem. Nesses

estabelecimentos predomina a racionalidade hegemônica e as verticalidades (SANTOS,

1996), onde as redes são amplas, os mercados consumidores distantes e as temporalidades e

territorialidades são influenciadas pela lógica economicista do capitalismo globalizado. Há

pouca preocupação com benefícios locais e com o fortalecimento das horizontalidades e da

agricultura familiar e/ou camponesa.

O estabelecimento rural com agricultura orgânica familiar diferencia-se do

empresarial pelo fato de ser um estabelecimento da agricultura familiar e/ou camponesa e,

portanto, uma UPVF.

Para classificar uma UPVF, procuramos reformular a proposta de Candiotto (2007 e

2011), analisando a Lei no

11.326, de 24 de julho de 2006 que “Estabelece as diretrizes para

a formulação da Política Nacional de Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares

Rurais.”, de modo que consideramos como familiar as UPVFs que possuem as seguintes

características:

1. Estabelecimentos rurais com até 50 hectares;

2. Gestão familiar ou feita por um ou mais membros da família;

3. Mão de obra predominantemente familiar (mais de 50% dos trabalhadores

permanentes);

4. Maior parte da renda proveniente de atividades agrícolas e para-agrícolas (mais de

50%);

5. Residência na propriedade de pelo menos dois membros da família.

Apesar desses cinco parâmetros, entendemos que, para ser considerado familiar (ou

uma UPVF), o estabelecimento deve atender no mínimo aos parâmetros de número 1, 2 e 3.

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66

No entanto, é preciso analisar empiricamente cada estabelecimento, através de pesquisas de

campo e do contato com as famílias, para verificar se trata-se de uma UPVF ou não.

Os estabelecimentos rurais (ou UPVFs) com agricultura orgânica familiar podem

ser subdivididos em dois grandes grupos: moderno e tradicional. Uma Unidade de

Produção e Vida Familiar orgânica moderna se encontra no limiar entre a Unidade de

Produção e Vida Familiar orgânica tradicional e o estabelecimento rural com agricultura

orgânica empresarial, pois pode apresentar características de ambos.

A Unidade de Produção e Vida Familiar orgânica moderna, apesar da gestão

familiar, corresponde a uma empresa (com CNPJ), que utiliza de tecnologias convencionais,

insumos externos e geralmente contrata mão de obra assalariada. A certificação costuma ser

por auditagem e os mercados acessados podem ser locais, regionais, nacionais e até

internacionais. Nessas unidades, a intencionalidade é eminentemente econômica, apesar da

opção pela agricultura orgânica poder estar vinculada a uma intencionalidade ideológica da

família (busca por uma produção que não afete a saúde dos agricultores e consumidores,

preocupação com a conservação ambiental).

Na tentativa de diferenciar a intencionalidade econômica, dividimos esta em

intencionalidade econômica capitalista, onde o lucro e a acumulação são os objetivos

principais e onde predomina uma lógica de crescimento constante da produção e da

empresa; e intencionalidade econômica básica, onde o principal objetivo é a sobrevivência

da família e sua qualidade de vida. Nesta, busca-se o lucro, porém sobretudo a manutenção

da família no campo e na agricultura.

Acreditamos que as Unidades de Produção e Vida Familiares orgânicas modernas

podem ser gerenciadas tanto pela intencionalidade econômica capitalista quanto pela

intencionalidade econômica básica, ou mesmo por ambas. Nessas UPVFs há uma

coexistência entre o que Santos (1996) denomina verticalidades e horizontalidades, ou entre

a racionalidade hegemônica e as contra-racionalidades. Assim, pode também haver uma

coexistência entre temporalidades/ritmos rápidos e temporalidades mais lentas, que devem

ser analisadas caso a caso.

Já a Unidade de Produção e Vida Familiar orgânica tradicional, é regida por

temporalidades mais lentas, apesar de poderem também apresentar ritmos mais rápidos,

porém em menor intensidade. Nessas UPVFs, a opção pela agricultura orgânica está ligada a

uma intencionalidade econômica básica (de sobrevivência da família na agricultura, de

ritmos mais lentos) e, geralmente, a uma intencionalidade ideológica, sobretudo ligada à

saúde da família.

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67

A UPVF pode ser cadastrada como empresa no sistema “simples”, mas a lógica do

crescimento constante não é a prioridade. O acesso a tecnologias convencionais é menor que

nas outras categorias e tais tecnologias costumam coexistir com tecnologias antigas,

rudimentares e alternativas. A mecanização é menor, assim como o uso de insumos externos.

Predominam horizontalidades e redes locais, apesar da existência de verticalidades

(relações com instituições, empresas e mercados extra-locais). Os mercados consumidores

são eminentemente locais e regionais e essa categoria é a que mais se aproxima das contra-

racionalidades, ou seja, da construção de racionalidades alternativas à hegemônica. Nesse

sentido, estratégias de comercialização direta (feiras, cestas, entre outras) e de mercado justo

e economia solidária são fundamentais para o fortalecimento dessas contra-racionalidades e

da autonomia das famílias agricultoras.

Na Unidade de Produção e Vida Familiar orgânica tradicional, assim como nas

demais, a produção pode ser especializada, pouco diversificada ou diversificada. Contudo,

nessa categoria, as UPVFs especializadas possuem certificação, seja por auditagem ou

participativa. Já as UPVFs diversificadas e pouco diversificadas, pode ou não haver

certificação, seja ela por auditagem ou participativa.

Nesse universo de categorias de estabelecimentos rurais com agricultura orgânica

proposto, entendemos que somente as Unidades de Produção e Vida Familiares orgânicas

tradicionais diversificadas podem ser consideradas como UPVFs agroecológicas, com

ritmos mais lentos. Por sua vez, elas podem ser subdivididas em UPVFs agroecológicas

com certificação por auditagem; UPVFs agroecológicas com certificação participativa; e

UPVFs agroecológicas não certificadas. Contudo, as UPVFs não certificadas dependem da

credibilidade e da confiança por parte dos consumidores, pois ao não possuir o selo de

orgânico, podem haver questionamentos sobre a qualidade dos alimentos produzidos.

Além desses elementos, entendemos os estabelecimentos rurais ou as UPVFs

envolvidos em atividades de pesquisa, extensão, assistência técnica e certificação

influenciam sobremaneira no diálogo entre o conhecimento tradicional/empírico dos

agricultores com o conhecimento técnico-científico, ambos fundamentais para o avanço da

dimensão produtiva da agricultura orgânica e da agroecologia. Ao mesmo tempo, a

participação dos agricultores em cursos, palestras e outros eventos de formação e

capacitação na área da agricultura orgânica e da agroecologia, tende a aproximar essas duas

modalidades do conhecimento.

Considerando que é necessário estabelecer diálogos entre o conhecimento científico

– pautado na compreensão da dinâmica de funcionamento dos agroecossistemas, na

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otimização do uso dos recursos internos à UPVF, no manejo dos adequado dos recursos

naturais e em uma visão holística da UPVF – com o conhecimento empírico dos

agricultores, que se dá pela experimentação e pela troca de saberes, esses espaços de

convívio são de suma importância para a consolidação da Agroecologia.

O organograma abaixo sintetiza a proposta de tipologia apresentada.

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Organização: CANDIOTTO, L.Z.P; MEIRA, S.G. 2013.

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70

São diversos os sujeitos envolvidos com a produção de alimentos orgânicos nos municípios

pesquisados, produção esta que envolve as dimensões econômica (produção, processamento

e comercialização), ambiental, social, política e ética. Ao ter como foco as

intencionalidades, temporalidades e territorialidades da Agroecologia e da agricultura

orgânica desenvolvida em Unidades de Produção e Vida Familiares, nos próximos capítulos

buscamos realizar um diagnóstico e aplicar a metodologia proposta para compreendermos

tais elementos, considerando a atuação de agricultores, técnicos gestores e entidades nas

diversas relações que estabelecem no território.

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CAPÍTULO III. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA

AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE ITAPEJARA D’OESTE – PR

3.1. Caracterização geral do município

O município de Itapejara d’Oeste teve sua emancipação política em 1964, originária

do desmembramento dos municípios de Francisco Beltrão e Pato Branco (Prefeitura

Municipal de Itapejara d' Oeste, 2013). O mapa 01 apresenta a localização do município no

contexto da Região Sudoeste e do Estado do Paraná.

Mapa 01 - Localização do município de Itapejara d’Oeste, Paraná, Brasil.

Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA, S.G. 2013.

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O município possui uma área de 254 Km² e uma população de 10.531 habitantes,

sendo 54% urbana e 46% rural (IBGE, 2010). As principais atividades econômicas estão no

setor agropecuário, sendo que os produtos agrícolas mais cultivados são soja, milho, trigo e

feijão, conforme indicado no gráfico a seguir.

Gráfico 01 – Principais produtos agrícolas do município de Itapejara d’Oeste/PR, safra

2009.

Fonte: IBGE (2009). Org. MEIRA, S.G. (2013).

Ao analisarmos o gráfico 01 fica claro que a maior parte das terras agrícolas é

ocupada por lavouras temporárias, onde são cultivados os produtos apresentados no gráfico

02. Porém é perceptível também o aumento de 1985 para 1995/96 de quase mil hectares da

área ocupada com pastagens plantadas e a redução de aproximadamente 4 mil hectares de

lavouras plantadas no mesmo período, sendo que as matas e florestas naturais tiveram um

aumento gradual de 1985 a 2006. Esses dados indicam que além da diminuição de atividades

agrícolas que foram substituídas por florestas, houve um aumento da atividade pecuária

leiteira no município e na região Sudoeste, tanto em pequenos, como em grandes

estabelecimentos.

29.115

24.021

12.000

3.400 1.400 480

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

Série1 Quantidade produzida em toneladas

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Gráfico 02 – Utilização das terras – Área dos estabelecimentos (ha), Itapejara d’Oeste/PR

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1985, 1995/96, 2006. Org. MEIRA, S.G. (2013).

Os dados do gráfico 03, comprovam o crescimento da produção leiteira no município

de Itapejara d’Oeste. Essa produção é bastante significativa, pois caracteriza uma renda

mensal garantida, apesar de oscilações no preço pago pelo leite.

Gráfico 03 – Evolução histórica da produção leiteira no município de Itapejara d’Oeste/PR.

Quantidade de leite produzido (litros/ano)

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1985, 1995/96, 2006 e IBGE Cidades 2010. Org.

MEIRA, S.G. (2013).

123

16.441

920

2.844

1.028 112

461

12.619

2.226

3.763

1.857 242

356

11.819

2.110 1.213

2.800

115 0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

Lavouras Permanentes

Lavouras Temporárias

Pastagens Naturais

Pastagens Plantadas

Matas e florestas Naturais

Matas e florestas

plantadas

1985

1995/96

2006

2.487.000 3.828.000

9.219.000

16.574.000

0

2.000.000

4.000.000

6.000.000

8.000.000

10.000.000

12.000.000

14.000.000

16.000.000

18.000.000

1985 1995/96 2006 2010

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As atividades agropecuárias do município, principalmente a produção de grãos

(commodities agrícolas) representam a agricultura convencional, com uso intensivo de

agroquímicos, tecnologias e maquinários modernos. A agricultura orgânica representa uma

pequena parcela de agricultores, os quais se fortalecem com apoio de entidades que

incentivam esta forma de produção, como veremos a seguir.

3.2. Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia

Em Itapejara d’Oeste a agricultura orgânica e a Agroecologia começaram a se

desenvolver entre os anos de 2001 e 2002, por iniciativa da Secretaria Municipal de

Agricultura e Meio Ambiente em parceria com o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor

(CAPA) - o qual contribuiu prestando assistência aos produtores no processo de conversão

das propriedades - e com a EMATER (Instituto Paranaense de Assistência Técnica e

Extensão Rural). Aproximadamente 90 produtores foram capacitados para produzir de forma

orgânica, porém, atualmente, há apenas 13 produtores divididos em agroecológicos e

orgânicos, que contam como parceiros além das entidades acima citadas, uma empresa

denominada ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) e a Cooperativa de Crédito Rural

com Interação Solidária (CRESOL). (SAQUET, et al. 2012).

Além das entidades já citadas atuam ainda como parceiras indiretas da produção

orgânica no município de Itapejara do Oeste, o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura

Familiar (SINTRAF) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). Estas entidades atuam

de modo parcial, com intervenções ligadas à qualidade de vida e melhoria das condições de

trabalho dos agricultores familiares. Há também uma parceria para a comercialização dos

produtos da agricultura familiar, entre eles os produtos orgânicos, com a Cooperativa de

Comercialização da Agricultura Familiar Integrada (COOPAFI).

Em entrevista realizada com o secretário de agricultura e meio ambiente do

município V.L., este enfatiza que a secretaria disponibiliza um técnico para atuar na

produção orgânica e agroecológica. Outros dois técnicos são cedidos pela EMATER e a

ATER. Do total de alimentos, aponta que o município adquiriu aproximadamente 40% de

alimentos orgânicos (hortaliças e frutas) para fornecer a merenda escolar, através dos

programas PAA e PNAE, no ano de 2012.

Apesar de a secretaria disponibilizar um técnico para apoio a produção orgânica e

agroecológica, atualmente há um orçamento de 10% do total da secretaria, destinados à

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questão da agricultura orgânica. Os principais produtos adquiridos para merenda escolar são

banana, mamão, laranja, batata e mel.

A secretaria também possui um programa de coleta do lixo reciclável,

periodicamente, e das embalagens de agrotóxicos, realizada uma vez por ano na área rural

do município. Existe uma política para o controle do uso de agrotóxicos, com orientações,

cursos e palestras para os agricultores. O lixo produzido nas UPVFs “é coletado pelo

programa Meio Ambiente Limpo a cada noventa dias seguindo o roteiro dos ônibus

escolares” (V.L. informação verbal, 2012).

O secretário acredita que a agroecologia tende a se desenvolver no município e os

agricultores que estão praticando atualmente, irão servir de exemplo para outros. Porém,

afirma que esta questão depende dos dirigentes, gestores e técnicos para incentivar e orientar

a produção livre de insumos químicos. Em nível de região Sudoeste o secretário de

agricultura e meio ambiente aponta que a agricultura orgânica e a Agroecologia estão se

desenvolvendo, mas assim como no município de Itapejara d’Oeste, necessitam ainda de

maior apoio institucional.

Na entrevista com o responsável pela ATER e SINTRAF, A.E.Z., presidente destas

entidades que atuam juntas, aponta que no município de Itapejara d’ Oeste existe uma

organização chamada de fórum das entidades da agricultura familiar, e nela estão

congregadas SINTRAF, CLAF, COOPAFI e CRESOL. As ações desenvolvidas focadas em

agroecologia são realizadas em conjunto através deste fórum. O SINTRAF atualmente como

sindicato, está com uma nova metodologia de trabalho, prestando mais assistência para os

agricultores. O sindicato busca ajudar a resolver as questões de produção do agricultor, seja

na área da pecuária, agricultura e agroecologia.

Desde a sua formação em 2003, o SINTRAF tem o intuito de trabalhar com a

Agroecologia. Formou-se através de uma necessidade de fornecer habitação rural e dentro

de seu estatuto o apoio à agricultura orgânica está incorporado.

A assistência técnica prestada pelo SINTRAF é feita individualmente conforme o

interesse de cada agricultor. As atividades são divididas entre os técnicos e são realizadas

em conjunto com as outras entidades parceiras. A.E.V. é responsável em acompanhar a

produção de hortaliças, frutas e pequenas culturas.

O principal destino da produção orgânica de Itapejara d’ Oeste, é a comercialização

com a APROVIVE de Verê, no caso da uva; COOPAFI, na venda direta ao consumidor e;

em supermercados. Pretendem organizar uma feira da agricultura familiar, dando ênfase

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para os produtos orgânicos. Os principais produtos orgânicos comercializados são laranja,

tomate, morango, pimentão, vagem, pepino, cenoura, beterraba, alface, uva e o rabanete.

De acordo com A.E.V., os avanços ocorridos na produção de alimentos orgânicos

estão ligados aos programas sociais do governo federal como a comercialização para a

merenda escolar, através do PAA e PNAE. A divulgação que referente à qualidade dos

alimentos orgânicos é apontada como outro fator positivo, que vem influenciando as pessoas

a consumir tais produtos. O melhor preço ofertado pelos produtos está assegurando o

interesse dos agricultores em plantar de forma orgânica. As dificuldades relacionadas à

produção são a falta de mão de obra e principalmente no envelhecimento da população do

campo.

Os agricultores orgânicos de Itapejara d’ Oeste encontram-se organizados pela

Associação do Produtores Agroecológicos de Verê (APAV). Através do CAPA, alguns

conseguiram obter certificação. Porém o município já conseguiu emendas do governo

federal com implementos agrícolas como trator, roçadeira, pulverizador, enxada rotativa,

para formar uma organização própria.

Para A.E.V., a principal dificuldade relacionada à comercialização de orgânicos é a

falta de uma organização dos agricultores. Apenas a COOPAFI não é suficiente. É

necessário trabalhar uma forma mais organizativa, com um local especifico para a

comercialização.

Na COOPAFI, o entrevistado, foi o presidente J.B., Ele relata que a COOPAFI é uma

cooperativa que atua com a produção de alimentos, comercializando hortaliças, frutas e

doces. Grande parte dos produtos da COOPAFI é comercializada através dos programas

PAA e PNAE. Existe também um trabalho com produtos que são produzidos em grande

escala como a soja, tanto convencional quanto orgânica, que é adquirida para os programas

de fabricação de biodiesel.

A cooperativa foi formada em 2007, com o propósito de trabalhar apenas com

produtos orgânicos e agroecológicos, mas infelizmente não conseguiu seguir apenas nessa

linha em virtude da pequena quantidade de produção. No entanto, sabemos que a COOPAFI

também tem uma posição política de defender a agricultura familiar, independente do fato

desta ser orgânica ou convencional. Para o entrevistado, o objetivo da COOPAFI em relação

à Agroecologia é conseguir ampliar o número de produtores, e consequentemente de

produtos para serem comercializados fora do município.

A principal organização dos agricultores orgânicos do município se dá através do

CAPA, que presta assistência técnica. Há também uma indústria (APROVIVE), localizada

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77

no município de Verê, que produz suco de uva orgânica e agrega agricultores dos

municípios de Verê, Itapejara d’ Oeste e São Jorge d’ Oeste.

De acordo com J.B., os principais produtos orgânicos do município são a uva e as

hortaliças. Estão investindo na produção de laranja, mas estas se encontram em fase de

crescimento. Os avanços apontados por J. B. estão na conscientização dos agricultores, que

perceberam a necessidade de trabalhar com produtos diferenciados em suas UPVFs,

geralmente pequenas.

Para o entrevistado a agricultura orgânica é muito mais simples de se trabalhar, mas

atualmente o modo de produção convencional implantou um pensamento diferente para os

agricultores, mudando sua cultura. “Quem trabalha convencionalmente esqueceu seu

passado de vinte anos atrás, optando pelo modo mais prático de produzir. Na agricultura

orgânica se trabalha com a natureza, quando se utiliza algo químico, ela não consegue

mais ajudar na produção.” (J.B., informação verbal, 2011).

O presidente da COOPAFI, também é agricultor e sócio da empresa ATER. Ele diz

consumir alimentos orgânicos, na qual a origem é do próprio mercado do produtor

(COOPAFI) e de feiras da região. Desde 1990 atua com a agricultura orgânica, com projetos

em Francisco Beltrão, na Cooperativa de Prestação de Serviços Cooperiguaçu, trabalhando

na CRESOL e atualmente na COOPAFI. Busca conhecimentos sobre o assunto,

principalmente em cursos promovidos pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná

(UTFPR) e em reuniões pelas as entidades.

A principal dificuldade encontrada na produção orgânica é o volume de produção,

pois segundo ele, os produtores devem produzir em grande quantidade para viabilizar a

propriedade. Já na comercialização, o principal problema está na baixa produção. Existe

demanda para comercialização em centros maiores, mas faltam produtos. Na certificação o

problema maior é o não reconhecimento da Rede Ecovida, porém essa informação está

equivocada, pois a Rede Ecovidaé reconhecida como órgão certificador.

O representante da COOPAFI entende que a agricultura orgânica no município de

Itapejara d’ Oeste tende a aumentar em número de famílias. Em nível de região Sudoeste, se

torna mais difícil pelo relevo plano de alguns municípios, o que facilita o desenvolvimento

da agricultura convencional através da utilização intensa de máquinas para o preparo das

lavouras, mas na grande maioria também existe a tendência de aumento.

Na CRESOL, o entrevistado foi V.L., presidente da cooperativa. Ele relata que a

forma de atuação da CRESOL está na linha de crédito para agricultores familiares. A

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cooperativa surgiu há dez anos e atende agricultores que possuem até 80 hectares de terra,

fornecendo financiamentos para investimentos ligados ao PRONAF.

O presidente reside no município há 46 anos. Sua formação é o primário (4ª série do

Ensino Fundamental). Além de presidente da CRESOL é agricultor e consome alimentos

orgânicos oriundos dos agricultores que vendem de forma direta. Para ele, agricultura

orgânica e a agroecologia possuem o mesmo significado, porque nas duas existem poucos

produtores. Há também a diferenciação de preço. Aponta que a agricultura orgânica tende a

aumentar no município se houver um incentivo para o pequeno agricultor e para a

manutenção de jovens na agricultura. Em nível de região Sudoeste ele acredita que irá ter

avanços, pelos programas do governo e incentivos atuais.

O dirigente da CRESOL afirma que “em cidade de pequeno tamanho como Itapejara

d’Oeste o produto orgânico não tem valor, pois exige uma mudança na mentalidade das

pessoas e há muita negligência do poder publico” (V.L., informação verbal, 2011).

A EMATER de Itapejara d’Oeste atua com fruticultura, olericultura, grãos e leite

principalmente. O entrevistado L. M., especificamente trabalha bastante com um projeto

para proteção de fontes e nascentes juntamente com as entidades da agricultura familiar e a

secretaria de agricultura e meio ambiente. Esse projeto prevê atender de 30 a 40 fontes por

ano, gratuitamente para pequenos agricultores familiares. Alguns agricultores que trabalham

com olericultura orgânica possuem água de baixa qualidade.

A EMATER não possui uma atuação direta com Agroecologia e agricultura

orgânica, pelo fato, segundo L.M., de a prefeitura ter convênio com o CAPA da cidade de

Verê, que trabalha apenas nessa área, acompanhando os agricultores. Então, diz que a

EMATER deixa a parte de agricultura orgânica para estas entidades e atende a outros

setores.

O entrevistado entende que agricultura orgânica é a produção de alimentos livres de

agrotóxicos, usando produtos naturais a base de adubos orgânicos. Já a agroecologia pensa

toda a propriedade, qualidade da água. “É produzir e pensar com sustentabilidade”. (L.M.,

informação verbal, 2011).

Para o representante da EMATER, as dificuldades dos produtores estão relacionadas

à certificação e ao desânimo, pois a maioria, quando encontra alguma dificuldade na

produção acaba usando produtos químicos para combatê-la. Vê o futuro da agricultura

orgânica e da Agroecologia no município de Itapejara d’Oeste com dificuldades de

crescimento, em virtude da falta de mão de obra, dificuldades de comercialização, e falta de

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interesse dos agricultores em produzir de forma orgânica, pois hoje praticar a agricultura

convencional é mais fácil.

O STR atua em conjunto com a secretaria da agricultura e meio ambiente, EMATER

e CRESOL, subsidiando o pequeno agricultor. A entidade não possui uma atuação direta

com a agricultura orgânica e a Agroecologia, segundo informações do entrevistado V.S.. O

objetivo da entidade em relação à agricultura orgânica e a Agroecologia é estar junto com as

entidades que já oferecem algum trabalho nessa área.

Segundo V.S., os principais produtos orgânicos do município são hortaliças e frango

orgânico. Existem muitas dificuldades em produzir orgânicos, por falta de preço e custo

maior. “Na comercialização o problema está na competição com os produtos convencionais.

A certificação deveria ter um processo mais simplificado, diferenciando um produto

orgânico do convencional.” (informação verbal, 2011). Entende que a agricultura orgânica é

a produção sem agrotóxicos. A Agroecologia defende o mesmo conceito. Ele acredita que

este tipo de produção tanto no município de Itapejara d’Oeste quanto no Sudoeste do Paraná

tende a crescer com o trabalho que as entidades estão fazendo no município.

3.3. Intencionalidades dos técnicos e gestores

As intencionalidades do secretário de agricultura e meio ambiente em relação à

agricultura orgânica podem ser consideradas positivas, pelo fato da Secretaria ter um técnico

e possui orçamento específico destinado à agricultura orgânica. As intencionalidades podem

ser denominadas como ideológicas e econômicas básicas, pois a secretaria trabalha para o

incentivo da agricultura orgânica em pequenas propriedades de agricultores familiares, com

o objetivo principal de aumentar a comercialização para a merenda escolar, garantindo

alimentação saudável para os alunos não só do município, mas também da região.

Para os entrevistados da ATER e SINTRAF, “a agricultura orgânica é como se

fosse um galho de uma árvore e a agroecologia é a árvore inteira”. (A.E.V. informação

verbal, 2011). Esta fala deixa claro o conhecimento que possui em relação à agricultura

orgânica e a Agroecologia. A fala deste sujeito evidencia uma intencionalidade ideológica e

econômica básica, pois durante toda a entrevista demonstra acreditar e trabalhar para que a

agricultura orgânica seja promovida no município, trazendo melhorias de renda para os

pequenos agricultores e qualidade de vida para produtores e consumidores.

As intencionalidades da COOPAFI, com a produção orgânica também são mais

voltadas aos aspectos econômicos, pois na fala do entrevistado J.B. este aponta que os

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agricultores devem produzir em grande quantidade para viabilizar a propriedade, pois existe

a demanda para comercialização, mas faltam produtos. Porém, também demonstra uma

intencionalidade ideológica, ao enfatizar a importância do conhecimento tradicional

empregado na produção há duas décadas.

A CRESOL é citada como parceira da agricultura orgânica, principalmente pelo

acesso ao PRONAF que os agricultores fazem através da cooperativa. Contudo, não há

diferenciação na documentação para acessar o crédito para a produção orgânica e para a

convencional, sendo este um entrave para o financiamento da produção orgânica. As

intencionalidades do entrevistado não são claras. Apenas podemos apontar o pouco

conhecimento em relação à agricultura orgânica e a Agroecologia, e até mesmo uma

perspectiva negativa em relação ao futuro da produção, quando diz que em municípios

pequenos a produção orgânica não tem valor.

A EMATER, não trabalha diretamente com a agricultura orgânica e a Agroecologia,

demonstrando que nessa instituição não há uma preocupação com o desenvolvimento dessas

iniciativas. O entrevistado demonstra um conhecimento bastante coerente em relação ao

significado e diferença de agricultura orgânica e Agroecologia. Porém, pelo relato que faz da

agricultura orgânica desenvolvida no município, evidencia pouco conhecimento empírico da

mesma, e demonstra não acreditar no avanço desta forma de cultivo, tanto no município,

como na região.

Podemos afirmar que o STR, através da entrevista realizada, não possui

intencionalidades relacionadas à agricultura orgânica e a Agroecologia, pois não atua

diretamente com estas formas de produção. Mesmo assim, essa entidade é citada como

parceira, talvez pelo fato da maioria dos agricultores entrevistados serem sócios do STR.

Além disso, o entrevistado demonstra conhecimento mínimo da produção orgânica e

agroecológica, principalmente quando afirma que o custo deste tipo de produção é maior.

De modo geral, percebemos que a CRESOL e o STR, não tem uma preocupação

efetiva com a agricultura orgânica, pois no discurso dos entrevistados, eles não demonstram

conhecimentos relevantes. A EMATER, embora não tenha uma relação direta com a

agricultura orgânica praticada no município, trabalha a questão da qualidade da água, de

suma importância para a produção de alimentos saudáveis. Contudo, continua atuando

dentro da lógica da agricultura convencional.

Para melhor compreensão da Agroecologia e da agricultura orgânica no município de

Salto do Lontra, apresentamos a seguir as informações dos agricultores.

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3.4. Agricultores orgânicos e agroecológicos de Itapejara d’Oeste

Atualmente 12 famílias trabalham com produção orgânica no município de Itapejara

d’Oeste. Contudo, trabalhamos com sete UPFVs nessa pesquisada. A seguir, apresentamos

as informações referentes a essas UPVFs.

3.4.1. A. P. e família

A família vive no município e na UPVF, situada na localidade de Palmeirinha, há 53

anos. Residem na propriedade três pessoas, sendo o casal e um filho. O filho trabalha em

uma fábrica de jeans na cidade. V. P (esposa de A. P.) trabalha exclusivamente na

propriedade e A. P., além do trabalho na UPVF, esporadicamente trabalha como pedreiro.

A.P. têm 52 anos e estudou até a 5ª série. V.P. têm 42 anos e estudou até a 4ª série. A gestão

da UPVF é familiar.

A UPVF é parcialmente orgânica e possui 4,8 hectares divididos da seguinte forma: 1

hectare com cultura temporária (milho); 1,3 hectares com parreiral (2.500 pés de uva tipo

francesa); 0,5 hectares com uma sanga (pequeno rio), mata e capoeira; aproximadamente 1

hectare de pastagens permanentes e; uma pequena área com hortaliças. No que diz respeito

ao maquinário, possuem quirereiro (motor elétrico), enciladeira com aproximadamente 20

anos de uso e um tobata, utilizado na lavoura e para transporte da uva (o motor tem

aproximadamente 30 anos). Para auxiliar na produção e facilitar a mão de obra o agricultor

utiliza um pulverizador adaptado ao tobata no parreiral. Estes equipamentos evidenciam

temporalidades lentas presentes na UPVF.

A trajetória da família com a produção orgânica iniciou em 2005, com a produção de

uva. Aprenderam a cultivar de forma orgânica com o CAPA através de reuniões, cursos e

divulgações realizadas pela entidade. Começaram a desenvolver a agricultura orgânica

porque acreditam na importância desta para a saúde da família e do consumidor, e porque é

uma alternativa de renda. Estas considerações demonstram a intencionalidade ideológica e

econômica básica com a produção de orgânicos.

Em relação à produção vegetal, produzem milho de forma convencional (80 sacas

por ano) para consumo na UPVF. De forma orgânica, produzem hortaliças e frutas para

consumo familiar. Na safra de 2011/2012 produziram 7 mil kg de uva (destes

comercializaram 5 mil kg). O rebanho animal é composto por suínos, bovinos e aves de

granja. Possuem quatro vacas em lactação, que produzem aproximadamente 800 litros de

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leite por mês. Na produção agroartesanal, destacam o queijo e doce de uva para consumo

próprio, além da produção de vinho (1.500 litros por safra).

A uva é comercializada de forma direta na propriedade. Comercializavam uvas com

a Associação de Produtores Vitivinicultores de Verê (APROVIVE) para a fabricação de

suco, porém pelo baixo valor pago R$ 1,00 o Kg (safra de 2010/2011), optaram nesta safra

por comercializar em casa a produção de uva in natura. O vinho é comercializado na

propriedade (chegam a vender 50 litros por dia de vinho doce, na época de fabricação) e no

mercado da COOPAFI. O leite é comercializado com o laticínio Alto Alegre de Verê e

recebem R$ 0,71 por litro.

Em relação aos insumos externos adquirem adubo de aviário. Deixam curtir seis

messes para depois utilizar na produção orgânica. As mudas de uva foram adquiridas com

no CAPA e vieram do Rio Grande do Sul. Na foto a seguir podemos observar parte do

parreiral.

Foto 01. Parte do parreiral de A.P.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012.

No parreiral podemos observar que a produção é organizada de forma moderna. A

estrutura é feita com palanques de concreto e arame de aço, indicando uma temporalidade

mais rápida, porém nesse pequeno espaço também podemos visualizar o emprego de bambu

para segurar as parreiras, coexistindo assim uma tecnologia doméstica fruto do

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conhecimento tradicional (ritmo lento), com uma forma de organização e materiais

modernos (ritmo rápido).

A maior parte da mão de obra é do casal (A.P. e V.P.). Apenas contratam

trabalhadores temporários na época da colheita e poda da uva. A renda familiar é

proveniente das atividades agrícolas desenvolvidas. Destacam o leite como produto mais

rentável, além do salário do filho proveniente de trabalho externo à UPVF.

Quanto ao aspecto ambiental a UPVF não possui SISLEG, a captação de água é de

poço protegido e fonte, sendo que a água da fonte é para os animais e a do poço para

consumo da família. A água diminui apenas em épocas de estiagem, não apresentando

problemas com a qualidade. O esgoto doméstico é direcionado para uma fossa séptica. O

lixo orgânico é utilizado como adubo e os dejetos dos animais também são utilizados como

adubo que, junto com a adubação verde de avica, aveia e azevem, propiciam uma boa

conservação e qualidade do solo na UPVF.

Para a família, a concepção de agricultura orgânica está pautada em uma agricultura

que evita a intoxicação das pessoas por agrotóxicos e proporciona produtos mais saudáveis,

garantindo melhor qualidade na saúde. Mas apontam que o mais difícil é controlar o ataque

de insetos aos orgânicos (usam repelente orgânico Dipel). Em relação à Agroecologia,

compreendem-na como similar à agricultura orgânica.

Após a inserção na agricultura orgânica reduziram a produção convencional de milho

e ampliaram as pastagens para o gado leiteiro e a produção de uvas, propiciando aumento

significativo na renda familiar e a redução de gastos com medicamentos, alimentos e

insumos, melhorando consequentemente, a saúde da família. Pretendem expandir a produção

orgânica e deixar de cultivar de forma convencional.

Apontam como desvantagens a falta de certificação, de mão de obra e deficiências na

assistência técnica do CAPA, EMATER e Prefeitura Municipal. Analisam que é essencial o

apoio do governo municipal para melhorar a produção e a comercialização dos alimentos

orgânicos. Possuíam assistência técnica do CAPA, mas atualmente trabalham com os

conhecimentos próprios.

Apontam como entidades parceiras o SINTRAF, COOPAFI, APROVIVE e STR,

através das quais participaram de palestras sobre pastagens e produção orgânica de uva.

Também apontam a CRESOL como parceira, pois através desta cooperativa acessaram o

PRONAF investimento para a compra de ordenha mecânica e novilhas, construção de

barracão, moedor de milho e mudas de parreira. As relações com as entidades, inclusive de

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outro município, evidenciam territorialidades presentes através dos meios de

comercialização e de busca de conhecimento sobre a produção agrícola.

Nesta família, observamos a presença da intencionalidade ideológica e econômica

básica com a produção orgânica, pois produzem orgânicos como alternativa de renda, mas

também pensando na qualidade de vida da família e dos consumidores. Quanto às

temporalidades, através das construções (uma casa com arquitetura bastante moderna, e uma

bem simples) e das técnicas utilizadas na produção, podemos dizer que existe um ritmo mais

acelerado, mas que coexistem com um ritmo lento, fruto da intencionalidade ideológica, pois

através dos saberes tradicionais e maquinários antigos, cultivam a produção, frutas e

verduras para o consumo da família, e uva e derivados para comercialização.

Através da tipologia proposta, enquadramos esta família como de agricultores

familiares, pois a UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é familiar, a maior parte da

renda é proveniente de atividades agrícolas e a família reside na propriedade. Como a UPVF

possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, entendemos que a família possui

uma intencionalidade econômica básica, mas prevalece uma intencionalidade ideológica. A

produção é diversificada, mas não possuem certificação. Sendo assim, podemos classificar

esse estabelecimento rural como uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação.

3.4.2. A.C.C. e família

A família de A.C.C. reside no município e na UPVF, localizada na comunidade de

Rio Gavião, há 26 anos. A família é composta por três pessoas, sendo o casal e um filho.

A.C.C. têm 68 anos estudou até a 6ª serie do ensino fundamental, a esposa L.C. têm 62 anos,

possui o 2º grau completo (Ensino Médio). O filho I.C. têm 28 anos e estudou até a 4ª série.

A UPVF é parcialmente orgânica e os três componentes da família trabalham em atividades

agrícolas. A gestão é familiar.

O estabelecimento possui 22 hectares. Aproximadamente 7 hectares são cultivados

com culturas temporárias (trigo, milho, soja e feijão); 2,5 ha são compostos por mata; 2,5

hectares por silvicultura (eucalipto); 1 hectare de parreiral, e o restante com hortaliças,

frutas, pastagens permanentes e benfeitorias. Quanto às benfeitorias, possuem uma casa de

alvenaria, uma garagem, dois paióis e um chiqueiro de madeira, além de um aviário de

alvenaria.

Em relação aos maquinários, possuem carroça e um forrageiro antigo, com 20 anos

de uso. Utilizam ainda trator da associação de moradores da comunidade. Para auxiliar na

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produção orgânica o agricultor usa pulverizador, carriola e máquina costal de 20 litros

(utilizada para pulverizar caldas contra os insetos que atacam as parreiras). Estes

implementos auxiliam no transporte de insumos e manutenção do parreiral.

Optaram em trabalhar com agricultura orgânica há aproximadamente 9 anos, através

da produção de uvas. Aprenderam a cultivar orgânicos com o CAPA, por meio de cursos,

palestras e visitas em outras propriedades e em outros estados, como no Rio Grande do Sul.

Começaram a produzir desta forma porque acreditam na importância da produção de

alimentos mais saudáveis, pela questão ambiental e principalmente pelo trabalho ser seguro

em relação à saúde. O objetivo da família é continuar a trabalhar com orgânicos, pois a

UPVF já passou pelo processo de conversão na parte trabalhada sem agrotóxicos. Esses

aspectos evidenciam uma intencionalidade ideológica.

Na produção vegetal destacam a uva cultivada de forma orgânica. A quantidade da

produção varia de acordo com os fatores climáticos, mas oscila entre 9.000 a 16.000 kg por

safra. Comercializam a uva in natura com a APROVIVE e a APAV (ambas do município de

Verê), em mercados locais e diretamente na propriedade. A produção de soja, milho, trigo e

feijão são convencionais. O milho e o trigo são consumidos na propriedade, mas assim como

os outros grãos também são comercializados em cerealistas da região. A produção de

hortaliças e frutas é orgânica e consumida pela família. A uva é o único produto que tem

certificação pela Rede Ecovida (certificação participativa).

A produção animal é representada por suínos, bovinos e peixes para consumo.

Retiram mel, também para consumo, mas o excedente é comercializado de forma direta.

Possuem três vacas em lactação e aves de granja, produzidas em aviário integrado à empresa

Agrogen. Essa integração com produtos para o mercado global evidencia uma temporalidade

mais rápida. Os produtos transformados são o vinho (aproximadamente 900 litros por ano),

4 kg de queijo por dia e doce de uva. Eles são consumidos pela família e vendidos de forma

direta, na própria UPVF ou de porta em porta.

A família considera como entidades parceiras a Prefeitura Municipal e a CRESOL,

através da qual realizam financiamentos via PRONAF. Vale ressaltar que para iniciar a

produção orgânica a família acessou um financiamento especial denominado Paraná 12

meses. O CAPA oferece apoio técnico à produção orgânica. Através destas entidades a

família participa de cursos e palestras, e em sua UPVF ocorreu um curso sobre a poda de

parreiras. Estes aspectos demonstram as territorialidades da família com algumas entidades e

com outros agricultores.

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Na foto a seguir, podemos observar parte do parreiral, da plantação de eucaliptos e

da barreira com cipreste, ficando evidente a organização desse espaço e o emprego de

máquinas para cultivar o solo e as parreiras.

Foto 02. Parreiral e plantação de eucaliptos de A.C.C.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012.

Entendem por agricultura orgânica, a não utilização de agrotóxicos e a mínima

intervenção no solo. Quanto à Agroecologia, relacionam-na com árvores e matas, porém

demonstram não saber diferenciar estas formas de cultivo.

A família não contrata trabalhadores permanentes, apenas temporários uma vez por

ano, para a colheita da uva. A renda é composta por duas aposentadorias e pela venda dos

produtos agrícolas. Apontam que a renda melhorou após a conversão para a produção

orgânica, pois não gastam mais que R$ 500,00 por safra para produzir as uvas e o gasto é

apenas com mão de obra para colher. Também houve diminuição dos gastos com insumos

em geral.

A família vê vantagens com a produção orgânica, pois não utilizam agrotóxicos,

produzem alimentos saudáveis sem risco à saúde e ainda melhoraram a renda familiar,

confirmando intencionalidades ideológicas e econômicas básicas com a produção de

orgânicos. Como dificuldades, apontam a falta de incentivos e cooperação por parte do

poder público.

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Quanto ao aspecto ambiental da UPFV, relatam que encaminharam o SISLEG, mas

ainda não foi concluído o processo. A captação de água é feita em poço e fontes. O poço

tubular é para o abastecimento da casa e a captação das águas das nascentes destina-se ao

aviário. As fontes de água estão preservadas e protegidas com a mata ciliar recuperada, mas

durante períodos de estiagem as águas diminuem. Tanto a água do poço como das fontes e

nascentes possuem ótima qualidade, segundo a família. O esgoto doméstico é direcionado

para fossa séptica, com exceção da água do tanque (utilizada para lavar roupas) que é

destinada a uma fossa com pedras. O lixo orgânico, como restos vegetais e alimentos é

utilizado para alimentação dos peixes. Já os dejetos suínos são direcionados para o açude e o

esterco das vacas é curtido e utilizado na produção de hortaliças. O solo apresenta um pouco

de erosão que se origina nas terras do vizinho, mas a adubação verde com aveia, nabo e

ervilhaca, as curvas de nível e rotação de cultura suavizam este problema.

Nesta UPFV, estão presentes as intencionalidades ideológicas e econômicas básicas

em relação à produção orgânica. Quanto às temporalidades, através do maquinário e das

técnicas utilizadas na produção e a integração de aves, podemos dizer que existe um ritmo

mais acelerado.

Aplicando a tipologia proposta, consideramos esta família como de agricultores

familiares, pois a UPVF possui menos de 50 hectares, a gestão é familiar, a maior parte da

renda é proveniente de atividades agrícolas e a família reside na propriedade. Como a UPVF

possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, entendemos que a família possui

uma intencionalidade econômica básica, prevalecendo uma intencionalidade ideológica. A

produção é diversificada e possuem certificação. Assim, podemos classificar esse

estabelecimento rural como uma UPVF parcialmente orgânica com certificação.

3.4.3. M.M. e família

A família de M.M. vive no município e na UPVF, localizada na comunidade de

Barra Grande, há 43 anos. Residem na UPVF oito pessoas, sendo M.M., sua esposa e seus

pais, mais um casal de funcionários que possui dois filhos. M.M. têm 57 anos e sua esposa

I.M. têm 50 anos. Ambos concluíram o Ensino Médio. Seu pai têm 80 anos e sua mãe 79

anos. Possuem ainda um casal de filhos que não reside na propriedade, ambos possuem

ensino superior. A forma de gestão é familiar com quatro trabalhadores da família mais dois

trabalhadores permanentes. Além destes, também são contratados trabalhadores temporários

para a colheita da uva.

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A UPVF possui 35 hectares, divididos da seguinte forma: 15 hectares com culturas

temporárias (soja, milho e feijão) e pastagem; 1,5 hectares de parreiral, 5 hectares de mata

nativa; 2 hectares de plantação de eucaliptos; 5 hectares ocupados com três açudes, além de

frutas e hortaliças. As benfeitorias presentes são duas casas de alvenaria, uma casa de

madeira, um galpão para máquinas, um estábulo de madeira e um chiqueiro de alvenaria.

Para produzir o agricultor têm alguns equipamentos como bombas pulverizadoras, máquina

costal, carroça, trator, forrageiro (com motor elétrico) e batedor de cereais. A UPVF é

parcialmente orgânica.

A família começou a trabalhar com produtos orgânicos em 2003. Produziam uva para

uma empresa de Santa Catarina, que prestava assistência técnica. Mais tarde esta empresa

faliu. A partir desta experiência, a família aprendeu a cultivar orgânicos. Então, receberam

orientação da prefeitura através da EMATER e em um segundo momento, assistência

técnica do CAPA, além de cursos e palestras. Através da CRESOL acessam o PRONAF

para financiamento das lavouras.

Optaram pela produção orgânica por que entendem que o agrotóxico utilizado na

lavoura é prejudicial à saúde. Assim, o objetivo desde o início foi reduzir o uso de

agrotóxicos, o que evidencia uma intencionalidade ideológica com a produção orgânica. No

entendimento da família, a agricultura orgânica é aquela que não utiliza adubos químicos e

venenos. Em relação à produção vegetal, possuem grãos, uva, laranja, pêssego, hortaliças.

Foto 03. Produção de hortaliças e ao fundo parreiral na propriedade de M.M

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012.

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A foto revela que mesmo possuindo um parreiral bastante moderno, a família produz

hortaliças para consumo, evidenciando a coexistência de técnicas modernas empregadas na

produção orgânica de uva, e de conhecimentos tradicionais na produção de hortaliças,

portanto de temporalidades rápidas e lentas.

A produção animal é representada por aves caipiras, peixes e suínos. Beneficiam

doces de uva e laranja. São produzidos entre 1.500 a 2.000 litros de suco por ano. A

produção convencional é de suínos, peixes e grãos. O restante é orgânico. Comercializam os

grãos com cerealistas da região. Os suínos são comercializados com um frigorífico em

Francisco Beltrão, e também consomem na família. Com os peixes, fazem filé (tilápia) e

comercializam em casa e restaurantes. As hortaliças são para consumo. Laranjas, aves

caipiras, doces de uva e laranja são comercializados na COOPAFI. O suco de uva é

comercializado para merenda escolar através dos programas PAA e PNAE.

Produzem as mudas de hortaliças na UPVF e fazem compostagem com adubo de

aviário, cinzas e palhas. Os insumos externos são: sementes de milho e soja, parte das mudas

de hortaliças cultivadas e adubo de aviário para a compostagem.

Como a UPVF é parcialmente orgânica, o agricultor diz que aumentaria a produção e

ampliaria a área de plantio orgânico se houvesse diferença no pagamento da produção. Após

a conversão de parte da UPVF para a agricultura orgânica, a família vendeu uma parte da

terra e também não ampliou a produção. A produção não é certificada, pois o agricultor

perdeu a certificação há três anos, por utilizar insumos proibidos. A renda familiar também

não foi alterada, pois há grande utilização de mão de obra. Apenas diminuíram os gastos

com insumos. Desta forma, a fonte de renda provém da agricultura e atividades para-

agrícolas. A maior parte vem de duas aposentadorias dos pais de M.M.

No aspecto ambiental a UPVF possui nascente própria protegida, desde a década de

1980 e dizem que não têm problemas com a qualidade e falta de água. O esgoto doméstico é

destinado para uma fossa negra, com exceção da água do tanque que vai diretamente para o

solo. O lixo orgânico vai para a compostagem e depois é utilizado como adubo. O solo está

bem conservado.

A família admite que existem muitas vantagens com a produção orgânica começando

com a qualidade dos produtos mais saudáveis, produção barata devido ao fato de não usar

agrotóxicos, valorização do trabalho na agricultura e prazer em oferecer produtos de

qualidade para o consumidor. Quanto às dificuldades a família citou a proibição, pela

Secretaria de Saúde, do uso de venenos para o combate das formigas, sendo utilizada para o

controle a calda sulfocáustica, que quando chove não funciona. Na produção de uvas relatam

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que a dificuldade está em não ter como estocar, devido ao ciclo de produção que é rápido e a

produção é grande. Também apontam que deveria ter uma política de preços mínimos, uma

vez que falta valorização dos produtos orgânicos pelos representantes políticos. O acesso ao

crédito deveria ser subsidiado e os agricultores orgânicos precisam se unir.

Para melhorar a comercialização dos produtos orgânicos, apontam que precisaria de

maior diversificação na produção e divulgação, e para o fortalecimento da organização dos

produtores teria que ter uma assistência técnica contínua. Para melhorar a produção, o

agricultor gostaria de ter um tratorzinho com roçadeira para fazer a limpeza dos pomares, e

uma fábrica de sucos e doces na UPVF para evitar o transporte e agregar valor à produção.

Nesta família, observamos a intencionalidade ideológica, e também a econômica

básica, pois apesar da preocupação com a saúde, dizem que produziriam mais se houvesse

melhor preço dos produtos orgânicos. Quanto às temporalidades, o conhecimento tradicional

e as técnicas domésticas utilizadas na produção de hortaliças evidenciam um ritmo mais

lento, porém também produzem com maquinários modernos as demais produções. Portanto,

não podemos dizer que não existe um ritmo acelerado presente, até mesmo pelas

territorialidades presentes, pois estão inseridos em relações de mercado para a

comercialização da produção orgânica.

Esta família é de agricultores familiares, pois a UPVF possui menos de 50 hectares,

com gestão familiar, onde maior parte da renda é proveniente de atividades agrícolas e para-

agrícolas e a maior parte da família reside na propriedade. Como a UPVF, possui gestão

familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, mesmo não possuindo certificação, a família

possui intencionalidade ideológica e econômica básica e a produção é diversificada,

podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação.

3.4.4. N.A. e família

A família, composta por um casal e um filho, reside no município e na UPVF,

localizada na comunidade de Volta Grande há 35 anos. N.A. têm 61 anos, a esposa O.A. têm

57, ambos e ambos estudaram até a 4ª série. O filho L.A. têm 33 anos e possui o ensino

médio incompleto. Os três trabalham na UPVF, apenas contratam trabalhadores temporários

em época de colheita de uva. A gestão é familiar e a UPVF é parcialmente orgânica.

O estabelecimento possui 14 hectares divididos em: 4 hectares com culturas

temporárias (milho e soja); 1 hectare de parreiral; 1 hectare de mata nativa; 2,4 hectares de

pastagens permanentes, e um açude. Quanto às benfeitorias, possuem estrebaria e chiqueiro

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em madeira e casa mista. Para auxiliar na produção, possuem trator, pulverizador (foto 04) e

forrageiro elétrico (da década de 1980). Esta imagem demonstra a utilização de tecnologias

relativamente modernas adaptadas à pequena produção. Isso indica a presença de

temporalidades mais rápidas.

Foto 04. Pulverizador manual da UPVF de N.A.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012.

A família começou a trabalhar com a agricultura orgânica/agroecologia no ano de

2002, optando por esse sistema através das experiências que tiveram vendendo produtos na

APROVIVE e também em uma excursão que fizeram ao Rio Grande do Sul (Bento

Gonçalves). Aprenderam através do CAPA e com o técnico dessa instituição. Optaram pela

agricultura orgânica para não plantar mais fumo.

Na produção vegetal destaca-se o milho (700 sacas na safra 2010/2011), soja (300

sacas na safra 2010/2011) comercializados com cerealistas da região, uva (1.500 kg

comercializada in natura com a APROVIVE), além de hortaliças e frutas para consumo. Na

produção animal, possuem suínos, bovinos, peixes, aves caipiras e de granja, voltados para o

consumo familiar. Os ovos são para consumo e comercializam o excedente com os vizinhos.

Também produzem leite (aproximadamente 2.000 litros mensais), comercializados com o

laticínio Bom Sucesso, a R$ 0.69 por litro. Quanto aos produtos transformados, possuem

açúcar mascavo, queijo, embutidos e vinho para consumo.

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Para produzir de forma orgânica o agricultor adquire alguns insumos como

ingredientes para caldas com o CAPA e mudas de uvas de viveiros de Verê.

A fonte de renda é proveniente da comercialização dos produtos agrícolas e duas

aposentadorias (como agricultores). Na visão da família a agricultura orgânica é aquela que

produz sem veneno. Os objetivos com a produção orgânica é a saúde, e pretendem continuar

produzindo. Não abandonaram ou ampliaram atividades agrícolas depois da conversão de

parte da propriedade para a agricultura orgânica. Ampliaram o parreiral e a renda melhorou

bastante. Estes aspectos demonstram uma intencionalidade econômica básica e ideológica.

As vantagens da agricultura orgânica para a família seria a renda proveniente da

venda da uva, devido a existência de uma unidade beneficiadora que compra a fruta e a

transforma em sucos e doces com a certificação orgânica (APROVIVE). Também

consideram fácil comercializar a uva e o custo de produção é baixo. Na produção de uva,

apresentam como dificuldade a demanda por mão de obra na época da colheita, além de

fatores climáticos, como excesso de chuva quando as frutas estão maduras, prejudicando a

qualidade do produto.

Para aumentar a produção e a comercialização da agricultura orgânica o agricultor

sugere que deveria ter maior apoio político. A família considera como entidades parceiras a

CRESOL, STR, APROVIVE, CAPA e EMATER, mesmo participando pouco de encontros

ou reuniões feitas por estas entidades.

Para melhorar a produção a família acessa o crédito bancário (PRONAF) para

financiar a produção de leite com a compra de mais vacas. Também fizeram financiamento

para construção do parreiral.

Em relação as aspecto ambiental a UPVF possui fonte e poço de nascentes de água

próprias para o consumo, porém quando ocorrem estiagens a água diminui

consideravelmente. O esgoto doméstico é destinado à fossa séptica. O lixo orgânico é

utilizado direto como adubo e os dejetos dos animais são aplicados diretamente no pasto. A

situação do solo é boa, devido à adoção da adubação verde, plantio direto e curvas de nível.

Podemos afirmar que a família possui uma intencionalidade ideológica, mesclada

com uma intencionalidade econômica básica, pois para eles a produção orgânica vem em

primeiro lugar para benefício da saúde, e a comercialização da uva constitui uma fonte de

renda importante. Quanto às territorialidades, estas estão presentes nas relações com as

entidades parceiras, na assistência técnica, comercialização e financiamento da produção.

Esta família, de acordo com a tipologia proposta nesta pesquisa, é de agricultores

familiares, pois a UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é realizada pelo casal, que

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93

reside no estabelecimento, e a renda é proveniente de atividades agrícolas. Como a UPVF

possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, tem certificação participativa

(da uva), a família possui intencionalidade ideológica e econômica básica e diversificada

produção, apontamos como uma UPVF parcialmente orgânica com certificação.

3.4.5. N.S. e família

N.S. reside no município, desde que nasceu. Na UPVF, localizada na Linha Ipiranga,

reside com a família há 22 anos. A família é composta por quatro pessoas, N.S. que têm 54

anos estudou até a 3ª série, sua esposa I.S têm 40 anos, estudou até a 4ª série. Seu filho D.S.

têm 16 anos e estuda na casa familiar rural. O outro filho do casal S.S., têm 21 anos e

estudou até o 2º ano do Ensino Médio. A gestão da propriedade é familiar e nela trabalham

os quatro membros da família.

A UPVF possui 13,3 hectares e está dividida da seguinte maneira: 4,8 hectares com

culturas temporárias (milho), do qual é feito silagem para alimentar os animais, áreas com

frutas e hortaliças, piquetes com pastagens, matas e capoeiras em volta de um córrego; 1

hectare com parreiral, com 2.300 pés de uva concórdia e 400 pés de uva bordeux. Produzem

em torno de 5.000 kg por safra, sendo que 700 kg são usados para fazer vinho. O restante é

comercializado com a APROVIVE.

Produzem mel e aves caipiras para consumo, e em média 2.100 litros de leite por

mês, que são comercializados a R$ 0,67 o litro com o laticínio Bom Sucesso. Quanto aos

produtos transformados, fazem queijo, doces e conservas. Destes, comercializam doces de

uva e conservas de pepinos. Em relação aos maquinários, possuem carroça e trilhadeira (sem

uso), forrageiro, trator, plantadeira, roçadeira, máquina pulverizadora costal e bomba,

enciladeira, ordenhadeira e resfriador.

Na foto 05 podemos observar parte da produção de hortaliças e o local de ordenha

das vacas. Esta imagem evidencia temporalidades lentas explícitas, através da pequena

produção de hortaliças cultivadas para consumo e uma construção bastante simples, em

madeira. Porém, nesta construção, utilizada como estrebaria, está presente uma ordenha

mecânica moderna. Na UPVF, fica clara a coexistência de temporalidades lentas e rápidas,

através das construções e maquinários existentes.

A família começou a trabalhar com agricultura orgânica em 2004 através do CAPA,

Prefeitura Municipal e a Empresa Sudoeste. Aprenderam com o CAPA a cultivar de forma

orgânica, frequentando palestras, encontros e acompanhamentos feitos por esta entidade

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durante três/quatro anos. Optaram por esta forma de cultivo pela saúde que os alimentos

orgânicos propiciam e pela diminuição dos gastos com agrotóxicos. Também foi uma forma

de incentivo, a garantia da compra da produção de uva pela APROVIVE.

Foto 05. Horta e estrebaria da família de N.S.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012.

Sobre a agricultura orgânica relatam que as práticas adotadas são boas, mas é difícil

cultivar, principalmente porque no caso desta UPVF, todos os vizinhos utilizam agrotóxicos.

Pretendem produzir de forma orgânica até quando for viável, pois o agricultor observa que a

produção orgânica está diminuindo. “As pessoas estão desanimando e existem poucas

chances desta forma de produzir continuar”. Esta afirmação evidencia a intencionalidade

econômica com forte presença.

No processo de conversão, o agricultor abandonou o plantio de fumo, pois tinha

pouco lucro e usava muito veneno. Contudo, não ampliou nenhuma atividade após a

inserção na agricultura orgânica. O agricultor aponta algumas desvantagens em relação à

produção orgânica, como aumento de trabalho e os preços praticados no mercado, que são

baixos por não possuírem certificação. O agricultor salienta que para melhorar a produção e

a comercialização dos produtos agroecológicos, primeiramente o clima deve correr bem. É

necessário fazer um trabalho de conscientização com o consumidor e o produto orgânico

deve ter um preço diferenciado.

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95

A família considera como entidades parceiras o CAPA, COOPAFI, SINTRAF,

CRESOL e CLAF, nas quais participa de palestras e reuniões. Estas relações demonstram as

territorialidades diversificadas e a participação em redes de agricultores e técnicos.

Em relação ao aspecto ambiental, o esgoto doméstico é direcionado para uma fossa

séptica. O lixo orgânico é utilizado como adubo, os dejetos dos animais são depositados em

uma esterqueira desprotegida e a adoção de curvas de nível e cobertura verde propicia uma

boa conservação de solos.

Essa família, mesmo sendo consciente dos benefícios que a produção orgânica trás

para saúde, demonstra uma intencionalidade econômica com a produção orgânica, pois

pensam até mesmo em parar de produzir se não tiverem retorno financeiro satisfatório com a

produção orgânica. Coexistem temporalidades lentas e rápidas na UPVF.

De acordo com a tipologia proposta, esta família é de agricultores familiares, pois a

UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é feita pela família, a maior parte da renda é

proveniente de atividades agrícolas e toda família reside na propriedade. Como a UPVF

possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, não possui certificação,

prevalece a intencionalidade econômica e a produção é diversificada, podemos dizer que é

uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação.

3.4.6. O.F. e família

A família reside no município há 53 anos e na UPVF, O.F. reside há 50 anos. A

família é composta pelo casal, três filhos e uma filha, mas atualmente estão na propriedade o

casal e dois filhos. Apenas O.F. trabalha na UPVF e o restante de sua família não quer mais

residir no meio rural. O agricultor têm 60 anos e estudou até a 4ª serie, sua esposa I.F. têm

63 anos e possui o ensino fundamental completo. Quanto aos filhos, F.F. têm 33 anos, A.F.

29 anos e J.F. 19 anos. Os três possuem a formação de técnico agrícola. A filha F.F., têm 18

anos e possui ensino médio completo.

A UPVF possui 8,5 hectares, divididos da seguinte forma: 4,8 hectares arrendados

para o plantio de culturas temporárias (trigo e soja); área destinada a frutas e verduras, matas

e capoeira e dois açudes. Em relação às benfeitorias, possui casa e chiqueiro mistos, e paiol

de madeira. Quanto aos maquinários, possui carroça, forrageiro, motor elétrico e alguns

implementos de tração animal (foto 06).

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Esta foto representa uma temporalidade lenta presente, pois atualmente não é comum

vermos no meio rural a utilização de equipamentos com tração animal, sendo estes, quando

existentes, utilizados em pequenas produções.

Foto 06. Carroça com tração animal na UPVF de O.F.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012.

A família começou a trabalhar com agricultura orgânica há oito anos e optou por esta

forma de cultivo por ser mais saudável (“evitar o câncer”), e por ser uma produção mais

barata. Aprendeu a cultivar orgânicos com agricultores de São Jorge d’Oeste e com o auxilio

do técnico do CAPA, de Verê.

Em relação à produção vegetal, há presença de grãos (soja e trigo), olerícolas como

alface e chuchu; mandioca (1.500 pés), batata e frutas, principalmente abacate e ponkan.

Com exceção dos grãos, os demais produtos são comercializados na COOPAFI e

diretamente nas casas dos consumidores. Na produção animal possui peixes e suínos para

consumo e venda esporádica. As formas de comercialização evidenciam as territorialidades,

através das relações estabelecidas como mercado e de forma direta com os consumidores.

A fonte de renda da família é proveniente das aposentadorias como agricultores do

casal, comercialização da produção vegetal e animal e trabalho urbano dos filhos,

evidenciando a intencionalidade econômica básica com a produção orgânica. A forma de

gestão é familiar. Não contratam trabalhadores.

O.F. não possui uma concepção formada do que é agricultura orgânica ou

agroecologia. Quando optou pela produção orgânica o agricultor abandonou a produção

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convencional de tomates. As vantagens com a produção orgânica estão relacionadas com a

saúde da família, demonstrando intencionalidade ideológica. Quanto às dificuldades na

produção, aponta a falta de mão de obra e a utilização de agrotóxicos pelos vizinhos

convencionais.

Para melhorar a produção e a comercialização o agricultor sugere melhorias como o

aumento nos preços dos produtos orgânicos. O agricultor alega que se aumentassem os

preços teria maior produção e maior diversificação. Para ele há necessidade de uma

associação para conseguir investimentos. Sugeriu também que a COOPAFI deveria mudar a

forma de comercialização, contratar mais um funcionário e abrir aos sábados à tarde.

Quanto as aspecto ambiental da UPVF, a captação da água feita em fonte protegida,

a qual não apresenta problemas com a quantidade. O lixo orgânico é utilizado para alimentar

os peixes. Os dejetos dos animais são utilizados como adubo, e para conservação do solo é

realizado plantio direto.

Nesta UPVF estão presentes a intencionalidade econômica básica e ideológica com a

produção orgânica, pois são conscientes dos benefícios que este tipo de produção trás para

saúde. Mesmo sendo aposentados e tendo outras fontes de renda, a comercialização de

produtos orgânicos complementa a renda familiar. Estão inseridos em ritmos mais lentos

com relação à produção.

Esta família é de agricultores familiares, pois a UPVF com menos de 50 hectares, a

gestão é familiar, e mesmo com os trabalhos externos a maior parte da renda é proveniente

de atividades agrícolas e arrendamento de parte da terra e, parte da família reside na

propriedade. Como a UPVF, possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica,

não possui certificação, prevalece a intencionalidade econômica básica e a produção é

diversificada, podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação.

3.4.7. F.C.S. e família

A família de F.C.S. reside no município e na UPVF, localizada na comunidade de

Coxilha Rica há 63 anos. Na UPVF, residem 15 pessoas, distribuídas em quatro casas. São

quatro mulheres, seis homens e cinco crianças. Trabalham na UPVF, quatro pessoas, o

proprietário F.C.S. sua esposa um filho e uma nora. Em relação aos trabalhadores, F.C.S.

têm 63 anos, sua esposa O.S. têm 64 anos e ambos estudaram até a 4ª série. O filho C.S. têm

35 anos, estudou até a 8ª serie, a nora têm 29 anos e possui ensino médio completo. A gestão

da propriedade é familiar. Contratam mão de obra quando necessário, mas sem regularidade.

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A UPVF possui uma área total de 30,7 hectares, sendo parcialmente orgânica. Deste

total, 17 hectares são arrendados e cultivados de forma convencional; 1 hectare é de estufas

com produção de hortaliças; 7,5 hectares de mata nativa; 4 hectares de pastagens

permanentes e também possui áreas com frutíferas. Em relação às benfeitorias, há cinco

casas mistas, um paiol, um estábulo, um chiqueiro e um galpão para máquinas de madeira,

além de oito estufas (foto 07). O maquinário utilizado é forrageiro, trator, pulverizador,

tobata nova (de uso coletivo). Possuem ainda carroça e trilhadeira, mas não utilizam mais.

Os maquinários demonstram à presença de temporalidades rápidas, com equipamentos e

tecnologias adaptadas a produção orgânica, mas também a coexistência de temporalidades

lentas, com maquinários bastante antigos (mesmo não utilizados).

Foto 07. Estufa de hortaliças na UPVF de F.C.S.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 19/07/2012.

A foto mostra parte das estufas da propriedade, onde podemos observar o

planejamento da produção, pois possui hortaliças em variados estágios de crescimento.

Também ficam evidentes práticas utilizadas na agricultura orgânica, como a cobertura do

solo nos canteiros (protegendo o solo, e mantendo as hortaliças limpas) e a presença de

plantas espontâneas. O planejamento da produção demonstra uma temporalidade mais

rápida, assim como a utilização de estufas para produção, pois desta forma a família garante

o fornecimento constante da produção para os locais onde comercializa.

A família começou a trabalhar com a agricultura orgânica em 2005, quando um dos

filhos de F.C.S deixou de trabalhar em um frigorifico do município e voltou a trabalhar na

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propriedade, com a intenção de desenvolver a agricultura orgânica e deixar de utilizar o

agrotóxico. Aprenderam a cultivar de forma orgânica com a ajuda técnica do CAPA que foi

importante para conhecer a agricultura orgânica e depois, através dos cursos e das palestras,

a família continuou aprimorando os conhecimentos. Optou por este tipo de produção,

principalmente pela questão da saúde da família.

Em relação à produção vegetal, são produzidos milho, trigo e soja de forma

convencional. O restante da produção vegetal é orgânica, com os cultivos de feijão e

mandioca, comercializados diretamente nas casas; alface, chicória, cenoura, rabanete,

beterraba, repolho, couve-flor, brócolis, laranja, limão, bergamota. As frutas são

comercializadas nas casas na cidade aos sábados pela manhã. As hortaliças, além desta

forma de comercialização, são entregues em supermercados três vezes por semana, e

também com a COOPAFI, para a merenda escolar, através dos programas PAA e PNAE.

Possuem suínos, bovinos e aves caipiras para consumo. Os ovos são comercializados de

forma direta e o mel para o PAA. Parte de tudo o que produzem é consumido pela família. A

produção orgânica é toda certificada pela Rede Ecovida.

Para menor dependência de insumos externos, são produzidas mudas de hortaliças,

adubo e húmus, calda bordalesa e calda sulfocáustica. Os insumos adquiridos fora da UPVF

são mudas, adubos orgânicos, óleo de nim e supermagro. A fonte de renda da UPVF provém

da produção agrícola e de três aposentadorias - duas como agricultores familiares e uma por

deficiência (irmão de F.C.S) - e do trabalho urbano de quatro pessoas na construção civil.

Em relação ao aspecto ambiental, a UPVF possui SISLEG, a captação de água é feita

em uma fonte protegida e outra não. A fonte que não é protegida, apenas tem a vegetação

nativa em volta, não apresentando falta em épocas de estiagem, apenas gosto ruim quando a

quantidade diminui. As águas utilizadas no chuveiro e vaso sanitário são direcionadas a uma

fossa enquanto a água utilizada na lavagem da roupa e cozinha é direcionada para o solo. O

lixo orgânico vai para compostagem e posteriormente é utilizado como adubo. As práticas

de conservação de solo são a adubação orgânica (compostagem), cobertura com nabo e

aveia, curvas de nível e plantio direto.

Para a família, a agricultura orgânica representa “mais qualidade de vida e vida mais

longa”. Esta afirmação confirma a presença da intencionalidade ideológica. As perspectivas

em relação à produção orgânica são de melhoramento da produção. Precisaria de um

acompanhamento e assistência técnica maior, sobretudo da EMATER. Segundo F.C.S. as

universidades teriam que promover a divulgação da agricultura orgânica e ajudar fornecendo

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100

assistência técnica para o conhecimento das doenças das plantas. O CAPA atualmente é

quem fornece assistência semanalmente.

Para aumentar à produção orgânica a família arrendou partes da UPVF para o cultivo

convencional. Assim, sobrou tempo para dedicar-se à horticultura orgânica, evidenciando

uma intencionalidade econômica com a produção orgânica. Após a conversão para

agricultura orgânica houve a redução dos custos com a produção e melhorou a alimentação

da família. Também diminuiu a necessidade da compra de alimentos em supermercados. A

produção do próprio alimento é a principal vantagem apontada pelo entrevistado.

As dificuldades estão relacionadas à produção de mudas no inverno e a falta de

financiamentos específicos ainda constitui um desafio para os agricultores orgânicos e

agroecológicos. Para melhorar a produção e a comercialização o agricultor sugere que

deveria ter uma produção maior de produtos e conscientização dos consumidores,

conseguindo assim uma maior valorização dos produtos orgânicos. Além disso, abrir as

UPVF para visitas dos consumidores seria uma oportunidade importante para o

conhecimento da produção livre de insumos químicos. Há necessidade de fortalecimento da

organização dos produtores segundo F.C.S. Seria vantajoso unir forças para receber maiores

financiamentos, através de uma linha de crédito específico e uma certificação com

fiscalização mais eficiente, evitando assim a contaminação dos produtos pelos agricultores

que não tem as condições necessárias de produção.

A família considera como entidades parceiras a CRESOL, Prefeitura Municipal,

Associação São José (comunidade), STR e SINTRAF. Participam de palestras e encontros

da Rede Ecovidae CRESOL. Acessaram o PRONAF para o investimento em estufas, na

compra de plásticos e outros materiais necessários para manter a produção de mudas. Estas

relações com as entidades, através da comercialização, financiamentos e participação em

palestras e cursos confirmam as territorialidades presentes.

A análise tipológica desta UPVF evidencia que ela pode ser classificada como de

agricultores familiares, tradicional, parcialmente orgânica com certificação, intencionalidade

econômica básica e ideológica, com produção diversificada e certificação participativa.

Nesta UPVF, há presença de intencionalidade econômica básica e ideológica em

relação à produção orgânica. Coexistem temporalidades lentas e rápidas. As territorialidades

são evidenciadas através das relações com as entidades e comercialização dos produtos

orgânicos. De acordo com a tipologia proposta, esta família é de agricultores familiares.

Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, possui

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101

certificação participativa, e a produção é diversificada, podemos dizer que é uma UPVF

parcialmente orgânica com certificação.

3.5. Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no

município de Itapejara d’Oeste/PR

O mapa 02 destaca os produtores trabalhados nesta pesquisa e os principais produtos

cultivados em cada UPVF, a fim de espacializarmos as informações sobre a Agroecologia e

a agricultura orgânica do município Itapejara d’Oeste.

Mapa 02 – Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Itapejara d’Oeste /PR.

Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA, S.G. 2013.

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Conforme podemos observar no mapa, os agricultores estão bem distribuídos no

município. Apenas dois localizam-se na mesma comunidade e a produção orgânica é

representada principalmente pela uva.

Aplicamos a tipologia proposta no capítulo II, com cada um dos agricultores

pesquisados no município de Itapejara d’Oeste, com o intuito de classificarmos como

familiares ou não, orgânicos ou agroecológicos, a partir de dados quantitativos e qualitativos

e características específicas levantadas através do diagnóstico e das visitas realizadas em

cada UPVF.

O quadro a seguir apresenta as variáveis, já aplicadas aos agricultores, que propomos

para dizer se são ou não familiares.

Quadro 01 - Classificação de agricultores familiares de Itapejara d’Oeste/ PR.

Agricultor UPVF até

50 hectares

Gestão

familiar

Mão de obra

familiar

Renda Residência

A.P. X X X X X

A.C.C. X X X X X

F.C.S. X X X X X

M.M. X X X X X

N.A. X X X X X

N.S. X X X X X

O.F. X X X X X

Elaboração: MEIRA, S.G. e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (2013).

Esta síntese aponta que os sete agricultores pesquisados são familiares, pois nenhuma

UPFV é maior que 50 hectares, a gestão dos estabelecimentos é realizada familiar, assim

como a maior parte da mão de obra empregada. A fonte de renda é proveniente da

agricultura, de atividades relacionadas e aposentadorias como agricultores. Em todos os

casos, parte da família, pelo menos dois membros residem na UPFV. A partir desta análise

temos elementos para classificá-los como orgânicos ou agroecológicos, como veremos no

quadro 02.

Analisando o quadro, percebemos que todas as UPVFs do município de Itapejara

d’Oeste são parcialmente orgânicas. Quatro delas possuem certificação e três não são

certificadas, por isso nem uma propriedade é considerada agroecológica. O fato de serem

parcialmente orgânicas está relacionado com a maioria das UPFVs ter como principal

produto orgânico a uva.

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103

Quadro 02 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Itapejara d’Oeste/PR.

Agricultor Emp Fam Trad Mod Total Parc Trans IEB IEC Ideo Esp P

div Div

Cert.

Part.

Cert.

Aud.

Sem

Cert. Classific.

A.P. X X X X X X X

UPVF

Parcialmente

Orgânica sem

certificação

A.C.C. X X X X X X X

UPVF

Parcialmente

Orgânica com

certificação

F.C.S. X X X X X X X

UPVF

Parcialmente

Orgânica com

certificação

M.M. X X X X X X X

UPVF

Parcialmente

Orgânica sem

certificação

N.A. X X X X X X

UPVF

Parcialmente

Orgânica com

certificação

N.S. X X X X X X X UPVF

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Parcialmente

Orgânica sem

certificação

O.F. X X X X X X X

UPVF

Parcialmente

Orgânica sem

certificação

Elaboração: MEIRA, S.G. e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (2013).

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105

São diversos os sujeitos envolvidos com a produção de alimentos orgânicos em

Itapejara d’Oeste, produção esta que envolve as dimensões econômica, ambiental, social,

política e ética. Ao ter como foco neste trabalho as territorialidades, temporalidades e

intencionalidades, considerando a atuação de agricultores, técnicos gestores (Secretario

municipal de agricultura e meio ambiente) e entidades (ATER, SINTRAF, CRESOL, CLAF,

COOPAFI), observamos que são diversas as relações que estabelecem, evidenciando que

são múltiplas as territorialidades envolvidas na produção orgânica.

A ATER e o SINTRAF, são as entidades que mais se mostram preocupadas com o

bem estar dos agricultores e dos consumidores, e buscam promover a agricultura orgânica.

Contudo, como a ATER é uma empresa privada, fica nítida que sua intencionalidade é muito

mais econômica capitalista do que ideológica. Já o SINTRAF possui uma intencionalidade

mais ideológica do que econômica.

As temporalidades presentes também demonstram a complexidade da agricultura

orgânica, uma vez que coexistem no município de forma geral, e em cada UPVF, distintas

temporalidades, ritmos e modos de fazer agricultura orgânica, evidenciando o tempo das

coexistências, da simultaneidade.

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106

CAPÍTULO IV. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA

AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE SALTO DO LONTRA - PR

4.1. Caracterização geral do município

O município de Salto do Lontra localiza-se na região Sudoeste do Paraná e foi criado

no ano de 1964, a partir de seu desmembramento do município de Francisco Beltrão

(Prefeitura Municipal de Salto do Lontra, 2012). O mapa 03 apresenta a localização de Salto

do Lontra no contexto da região Sudoeste e do estado do Paraná.

Mapa 03 - Localização do município de Salto do Lontra, Paraná, Brasil.

Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA, S.G. 2013.

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107

O município de Salto do Lontra possui uma área de 312,717 Km² e uma população

de 13.689, sendo 54% urbana e 46% rural (IBGE, 2010). As principais atividades

econômicas estão no setor agropecuário e os produtos agrícolas mais cultivados são soja,

milho, mandioca e trigo, conforme indicado no gráfico 04.

Gráfico 04 – Principais produtos agrícolas do município de Salto do Lontra/PR, safra 2009.

Fonte: IBGE (2009). Org. LEITE, M. C; MEIRA, S.G. (2013).

Na tentativa de caracterizar a ocupação do espaço agrário do município, fica nítido

no gráfico 05, que a maior parte das terras é ocupada por lavouras temporárias, onde são

cultivados os produtos apresentados no gráfico 04.

Gráfico 05 – Utilização das terras – Área dos estabelecimentos (ha), Salto do Lontra/PR

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1985, 1995/96, 2006. Org. LEITE, M. C; MEIRA,

S.G. (2013).

470

20.782

413

5.776

151 1.363 219

13.107

1.288

9.668

249

3.088

401

13.523

934

10.618

167

5.346

0

5000

10000

15000

20000

25000

Lavouras permanentes

Lavouras temporárias

Pastagens naturais

Pastagens plantadas

Matas e florestas

plantadas

Matas e florestas naturais

1985

1995/1996

2006

36.050

18.200

12.000 9.200

1.119 1.080

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

Milho Soja Mandioca Trigo Fumo Feijão

S… Quantidade produzida em toneladas

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3.499.000 6.286.000

14.550.000

24.100.000

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

30.000.000

1985 1995/96 2006 2010

Apesar da maior parte das terras serem ocupadas por lavouras temporárias,

observamos que de 1985 para 2006 houve uma redução de quase 7 mil hectares das áreas de

lavouras temporárias, em contraste com um aumento de quase 5 mil hectares de pastagens

plantadas e de 4 mil hectares de matas e florestas naturais. Esses dados indicam que além do

abandono de atividades agrícolas que foram substituídas por florestas em determinadas áreas

(sobretudo áreas de alta declividade), houve um incremento da atividade pecuária leiteira no

município e na região Sudoeste, que se constata pelo aumento das áreas de pastagens

plantadas.

Os dados do gráfico 06 confirmam esse crescimento da produção leiteira em Salto do

Lontra. Essa produção é bastante significativa para os pequenos agricultores, pois

caracteriza uma renda mensal garantida, apesar das oscilações no preço pago pelo leite.

Gráfico 06 – Evolução histórica da produção leiteira no município de Salto do Lontra/PR.

Quantidade de leite produzido (litros/ano).

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1985, 1995/96, 2006 e IBGE Cidades 2010. Org.

LEITE, M. C; MEIRA, S.G. (2013).

De maneira geral, as atividades agropecuárias do município estão pautadas em

técnicas da agricultura convencional, com uso intensivo de agroquímicos e mais

recentemente, com a entrada de produtos transgênicos. Os agricultores que trabalham com

agricultura orgânica são poucos, conforme veremos posteriormente.

4.2. Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia

Em Salto do Lontra as discussões relacionadas à Agroecologia e a agricultura

orgânica tiveram início em 1997, através do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural,

por iniciativa do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e

Secretaria Municipal de Agricultura. As primeiras atividades foram de sensibilização,

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mobilização e capacitação dos agricultores, através de um grupo de Agroecologia criado no

âmbito do Projeto Integrado dos Municípios do Reservatório da Usina de Salto Caxias

(PRÓ-CAXIAS). Fizeram parte das ações deste projeto as seguintes etapas:

desenvolvimento técnico, repovoamento dos rios e lagos e o apoio à cadeia produtiva da

piscicultura, em parceria com outras organizações e envolvimento do Serviço Brasileiro de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), (SAQUET, et al. 2012).

As principais instituições parceiras no trabalho com a agricultura orgânica no

município atualmente são: o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR); o Instituto

Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER); a Prefeitura Municipal de

Salto do Lontra; a Cooperativa de Crédito Solidário (CRESOL); a Cooperativa de

Comercialização da Agricultura Familiar Integrada (COOPAFI) e a Cooperativa de Leite da

Agricultura Familiar (CLAF). Em cada uma dessas entidades realizamos entrevistas com o

responsável de cada entidade e também com os técnicos, a fim de compreendermos de que

forma cada uma vem trabalhando e discutindo a questão da Agroecologia e da agricultura

orgânica em Salto do Lontra, para apreendermos quais são suas territorialidades,

temporalidades e intencionalidades nesse contexto.

Iniciamos a discussão com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que atua na

organização dos agricultores, principalmente nas questões relacionadas à previdência, acesso

ao crédito e apoio a Agroecologia e agricultura orgânica. Como o presidente do sindicato é

um militante da Agroecologia, busca sempre inserir essa linha de trabalho na entidade,

procurando organizar os agricultores para que produzam sem insumos químicos.

Na década de 1980, o STR trabalhava a questão da Agroecologia e da agricultura

orgânica em parceria com a Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural

(ASSESOAR), uma ONG de agricultores familiares sediada no município de Francisco

Beltrão, que também atua nessa linha em municípios do Sudoeste paranaense. Desde os anos

1980, o sindicato defende a Agroecologia. De acordo com o entrevistado, no passado muitos

grupos faziam esse trabalho com a Agroecologia, mas atualmente o número é reduzido.

Os objetivos e propósitos do STR, em relação à Agroecologia e a agricultura

orgânica, partem do debate da preservação do meio ambiente. “Quando se preserva o meio

ambiente já está dentro de um processo que dá para dizer que você debate muito a questão

da Agroecologia” (T.S., informação verbal, 2012). Trabalham com os agricultores levando e

buscando informações, fazendo intercâmbios com outras regiões para que, não só a entidade,

mas também os agricultores tenham interesse, reconheçam a importância de preservar o

meio ambiente e produzam alimentos de qualidade.

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Do total de associados no sindicato do município, havia um grupo de 25 famílias que

trabalhavam com a Agroecologia, mas atualmente são apenas cinco famílias, localizadas nas

comunidades de 1º de Maio, Santa Terezinha, Bom Fim, São Luis e Pio X. O STR, não

possui técnico para acompanhar estas famílias. Quando realizaram um trabalho em conjunto

com a CRESOL, CLAF e STR, um técnico foi preparado para trabalhar com as entidades

nessa área, mas atualmente, o mesmo trabalha apenas na CRESOL.

O presidente do STR afirma que praticamente inexiste uma organização de

agricultores orgânicos no município. Existia uma associação até 2011, mas esta foi

desativada em virtude da queda do número de agricultores envolvidos. Atualmente quem dá

sustentação para os agricultores é a COOPAFI. “Já havia uma discussão antiga, portanto

tinha um grupo que produzia, que já fazia adubação verde para não usar os químicos”

(T.S., informação verbal, 2012). Isso se deu nos anos 1990 com o projeto Pró-Caxias, época

em que a agricultura orgânica teve maior evidência no município.

As entidades ligadas à agricultura familiar da região Sudoeste, com participação das

entidades da microrregião da Fronteira, criaram, em março de 2003, uma Cooperativa de

Comercialização da Agricultura Familiar, (FERRAZ et al., 2008). Posteriormente essa

cooperativa se tornou a Cooperativa de Comercialização da Agricultura Familiar Integrada

(COOPAFI). Segundo informações da responsável pela COOPAFI em Salto do Lontra,

desde a criação da cooperativa há aproximadamente 10 anos, produtos convencionais e

orgânicos são comercializados pela COOPAFI. Os objetivos e propósitos da cooperativa em

relação à produção orgânica são organizar os agricultores familiares para produzir e vender

alimentos saudáveis e levar até eles as informações necessárias para que esses alimentos

sejam de boa qualidade e possam contribuir para prevenção de vários tipos de doenças,

provenientes do uso de agrotóxicos.

Das famílias associadas à COOPAFI, apenas sete produzem orgânicos, sendo que

cinco são totalmente orgânicas, uma combina a agricultura orgânica com a convencional e

uma está em processo de transição. Em relação à assistência técnica que a COOPAFI presta

aos agricultores, pode ser tanto individual, repassando informações aos agricultores que

possuem dúvidas, repassadas por um técnico; ou coletiva, através da capacitação em grupo,

levando informações para outras pessoas, valorizando assim a produção orgânica e

conscientizando os agricultores.

Para se associar na COOPAFI, o agricultor paga uma taxa com valor de R$ 100,00.

Para manter a cooperativa são cobrados 3% das vendas realizadas. O valor arrecadado é

utilizado no pagamento dos funcionários e de despesas em geral.

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111

Quanto aos problemas enfrentados pela entidade, está à dificuldade de obter a

certificação dos produtos, como destaca a entrevistada. Os produtos orgânicos

comercializados no mercado da COOPAFI não são certificados nem identificados

adequadamente. “Quem sabe que é produto orgânico procura bem mais. Quando se fala que

tem um orgânico a questão é diferente, as pessoas procuram mais, mas ainda não está

identificado” (informação verbal, 2012).

A cooperativa também organiza a produção para ser comercializada através dos

programas governamentais PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa

Nacional de Alimentação Escolar). Porém, como não podem comprovar que os produtos são

orgânicos, pois não há certificação destes, deixam de receber 30% a mais (pagos para

produtos orgânicos) e comercializam a produção como convencional. Quanto à disposição

dos produtos na cooperativa, estão tentando diferenciar os produtos orgânicos dos

convencionais, porém até o momento, não verificamos essa diferenciação.

Outra entidade citada como parceira da agroecologia e da agricultura orgânica em

Salto do Lontra é a CRESOL, embora questionemos essa “parceria”, por esta ser uma

cooperativa de crédito, que, apesar de ter uma linha específica de financiamento para a

Agroecologia e a agricultura orgânica, não diferencia o acesso ao financiamento da

produção convencional. Para aprovar o crédito, um dos critérios é a apresentação das notas

da compra de insumos, como sementes e adubos, o que é contraditório e dificulta o acesso

do agricultor agroecológico ao financiamento, uma vez que na produção agroecológica

geralmente utiliza-se sementes crioulas e insumos do próprio estabelecimento rural.

Na CRESOL foram entrevistados um técnico e o presidente da cooperativa. Estes

relatam que dos 1.300 associados, aproximadamente seis trabalham com agricultura

orgânica. O próprio presidente da cooperativa trabalhou 11 anos na agricultura orgânica e a

partir de 2011 voltou a utilizar insumos químicos em sua lavoura, afirmando que não tem

mais tempo e paciência para o manejo orgânico, pois divide seu tempo entre o trabalho na

propriedade e na cooperativa. Atualmente, mantém apenas um parreiral orgânico com 1.000

pés, e a soja, que era orgânica, voltou a ser cultivada de forma convencional.

A cooperativa, em si, não presta assistência técnica a agricultores orgânicos. A

assistência técnica para a produção de grãos é realizada pela empresa Gebana, que

comercializa, sobretudo, soja para países europeus.

Os entrevistados da CRESOL, afirmam que a associação de produtores orgânicos no

município está parada. A comercialização em 2011 foi realizada, e os agricultores faziam

essa comercialização através do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ, da

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associação para o PAA. Porém, a associação não está mais em atividade. No início a

associação trabalhou com 33 associados, depois baixou para 12 o número de sócios. Esses

associados plantavam soja e vendiam a maior parte para a empresa Gebana, sediada no

município de Capanema - PR. “O pessoal quando entra em um negócio novo pensa que vai

entrar para ganhar dinheiro com isso. Mas não é assim, tem que conhecer primeiro para

depois saber o que é entidade, o que é associação e tal. O outro pessoal que entrou e foi

ficando com a menor fatia, de repente foi se afastando” (informação verbal, 2012). Para os

entrevistados existe uma seleção natural, pois os agricultores iniciaram com empolgação,

mas depois a associação ficou restrita a uns 10 associados e foi diminuindo a questão do

plantio de soja, restando apenas os persistentes. Quatro produtores se desligaram da

associação e passaram a negociar direto com a empresa Gebana.

O técnico da CRESOL relata que desempenhava funções na Secretaria de

Agricultura e que trabalhou com agricultores orgânicos durantes cinco anos. Também Fazia

visitas, relatórios e todo o planejamento da propriedade, no período de 2000 a 2005. Após

2005 passou a desempenhar apenas funções na CRESOL.

No município os agricultores certificados são os que trabalham em parceria com a

Gebana. Até 2005 era o IBD (Instituto Biodinâmico) quem certificava, mas a partir do

fechamento da associação à própria Gebana passou a certificar.

Em relação aos problemas com a certificação, destacam que o custo é muito alto. “O

IBD, por exemplo, é muito poderoso para o pequeno agricultor. Vinham fazer a inspeção

para nós dentro do grupo e era R$ 3.600,00 até R$ 4.000,00, dependendo da área do

inspetor, quanto de área iria atuar na associação, e aquilo tudo era pago, desde a diária, o

deslocamento, quilometragem. Hoje o pessoal já está procurando outro tipo de inspeção,

tipo a inspeção da Rede Ecovida” (informação verbal, 2012), que é mais barata e mais

acessível.

Outro entrevistado foi o secretário de agricultura do município, A.N.B. Quando

questionado sobre a existência de políticas de apoio a agricultura orgânica, o secretário diz

apenas que “existe um começo”, porém não há orçamento específico para tal, nem mesmo a

disponibilização de um técnico para orientação dos agricultores orgânicos.

O secretário relata que não há a aquisição de produtos orgânicos para a merenda

escolar através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Governo Federal e do

Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), porque os produtores não tem

certificação. São adquiridos produtos da agricultura familiar de agricultores que produzem

de forma orgânica, porém não há uma especificação no produto nem mesmo agregação de

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valor pelo fato de não ser certificado. Ele acredita que os agricultores não são certificados

em virtude do custo da certificação.

A fala do secretário demonstra o desconhecimento e a falta de integração das

entidades que trabalham com a agricultura orgânica e a Agroecologia no município, pois

conforme já exposto através da COOPAFI, são comercializados produtos da agricultura

familiar, orgânicos e convencionais, através do PAA e PNAE.

Outro entrevistado foi um técnico da COOPAFI, que afirmou ter iniciado seus

trabalhos com agricultura orgânica através de alguns treinamentos feitos pelo Instituto

Maytenus no município, a aproximadamente oito anos atrás. Posteriormente ele realizou

capacitação em Francisco Beltrão com a EMATER, que não trabalha exclusivamente com

agricultura orgânica, mas que abordou o tema. Iniciou seu trabalho realizando visitas aos

produtores e procurando orientá-los. Afirmou ter tido dificuldade no início. Também busca

conhecimentos sobre agricultura orgânica com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural -

SENAR.

Em relação às principais dificuldades relatadas sobre a produção orgânica, destaca

que cada cultura tem sua especificidade. Para o técnico, as principais dificuldades quanto à

comercialização estão na falta de conscientização dos consumidores. “Existem problemas

também de regularidade, tem época do ano que tem produto, tem época que não tem, e isso

às vezes desestimula o consumidor” (informação verbal, 2012).

Quando surge algum problema que não consegue solucionar através da COOPAFI,

disse que recorre a parceiros como outros técnicos da EMATER ou ao agrônomo da

Secretaria da Agricultura e até mesmo a vigilância sanitária. Observamos que o técnico

conhece os fundamentos da agricultura orgânica e acredita que essa seja uma alternativa

para a agricultura familiar. No entanto, percebemos que não há uma intencionalidade

explícita de apoio e preocupação com o desenvolvimento da agricultura orgânica no

município. O apoio fica mais no discurso do que na prática.

4.3. Intencionalidades dos técnicos e gestores

Na tentativa de apreender as intencionalidades do secretario em relação à agricultura

orgânica, primeiramente observamos que seu discurso é favorável à agricultura orgânica e

tentou passar uma mensagem favorável a essa forma de agricultura. Contudo, ele se mostrou

inseguro e com pouco conhecimento sobre o tema. A principal intencionalidade

demonstrada com a entrevista está em mostrar aos pesquisadores da universidade que há

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uma preocupação com a questão, porém, percebemos que não há efetivamente uma

intencionalidade em incentivar a agricultura orgânica no município – onde predomina a

agricultura convencional. A afirmação de que os agricultores não são certificados e nem

orgânicos, indica o desconhecimento do secretário a respeito do assunto. O fato de apenas

dizer que falta infraestrutura e de não apresentar alguma proposta de apoio, indica que a

agricultura orgânica não faz parte da plataforma de governo do município.

Analisando a entrevista do técnico e do presidente da CRESOL percebemos que suas

intencionalidades, assim como da entidade, é mais econômica do que ideológica, pois o

presidente deixou de cultivar toda sua propriedade de forma orgânica em função de um

trabalho melhor remunerado na cooperativa de crédito. O técnico também deixou de

desempenhar atividades relacionadas à agricultura orgânica e atualmente trabalha

exclusivamente na cooperativa. De modo geral, percebemos que a CRESOL, assim como a

Secretaria de Agricultura do município, não tem uma preocupação efetiva com a agricultura

orgânica, apesar de apoiar a causa no discurso. Ambos comentam sobre o declínio do

movimento, e justificam esse declínio pelo fato dos técnicos, que apoiavam a agricultura

orgânica, terem se retirado. Percebemos que estes sujeitos estão inseridos em ritmos mais

acelerados da produção orgânica e embora considerem a importância da produção para

saúde e preservação do meio ambiente, suas intencionalidades visam o lucro.

Em relação ao discurso da entrevistada responsável pela COOPAFI, fica evidente no

que possui um bom conhecimento sobre o assunto, inclusive por ser adepta da agricultura

orgânica. Apesar do desânimo demonstrado em relação aos consumidores e aos poucos

agricultores envolvidos, ela acredita na viabilidade da agricultura orgânica e da

Agroecologia e possui intencionalidades vinculadas à preocupação com o desenvolvimento

destas. Contudo, a intencionalidade da COOPAFI está mais ligada a questões econômicas do

que em contribuir para o fortalecimento da agricultura orgânica.

Quanto ao futuro da agroecologia no município destaca que o desafio é grande. “Em

geral se tem pouca expectativa para trabalhar com orgânicos. Falta muita conscientização

da população em valorizar o produto orgânico. As pessoas não tem consciência que nem

sempre o produto orgânico é tão vistoso como os outros, mas é muito mais saudável. Não só

em Salto do Lontra, mas em toda a região, deveria ter um projeto muito bem elaborado e

ampla divulgação para trabalhar a questão dos orgânicos” (informação verbal, 2012).

Estas considerações vêm de encontro com a fala do presidente do STR, que enfatiza

ser um grande desafio produzir de forma agroecológica, mas afirma que há espaço aberto,

um campo para se expandir, mesmo com as pessoas ainda sendo bastante fechadas a esta

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forma de produção, por falta de mão de obra e as maiores facilidades de se trabalhar com o

convencional. Entende que há uma dificuldade grande para produzir orgânicos, mas em

geral existe potencial para expansão. Ao questionarmos sobre a situação da agricultura

orgânica e da Agroecologia na região Sudoeste, possui um pensamento positivo, pois

acredita nisso. “É um campo muito grande para ser explorado e que alguém vai explorar”

(informação verbal, 2012).

Pelo relato deste entrevistado fica evidente sua intencionalidade e também do STR

como ideológica em relação à Agroecologia e a agricultura orgânica, sendo ele um militante

da causa, conhece muito bem a trajetória da agricultura orgânica no município de Salto do

Lontra, pois faz parte da mesma. Sem dúvidas, há uma busca por lucro com a venda dos

produtos, mas a Agroecologia é uma bandeira de luta e uma forma de vida para o

entrevistado. Estas considerações nos levam a apontar um ritmo mais lento na forma de

pensar e fazer Agroecologia.

Para melhor compreensão da Agroecologia e da agricultura orgânica no município de

Salto do Lontra, apresentamos no próximo item os agricultores envolvidos com este tipo de

produção.

4.4. Agricultores orgânicos e agroecológicos de Salto do Lontra

Informações coletadas em 2012 apontam que apenas sete famílias trabalham com

produção orgânica no município de Salto do Lontra. Contudo, trabalhamos com seis

famílias, pelo fato destas já terem sido pesquisadas em outros projetos, permitindo assim um

maior aprofundamento da análise das mesmas (como apontamos na introdução). Desta

forma, neste item realizamos um diagnóstico das UPVFs pesquisadas e a aplicação da

tipologia proposta no capítulo 2 deste trabalho.

4.4.1. E.F. e família

Esta família localiza-se na comunidade São Luiz e reside no município e na Unidade

de Produção e Vida Familiar (UPVF) há 40 anos. A família é composta por cinco pessoas,

sendo que quatro trabalham na propriedade. São dois homens, duas mulheres e um bebê. A

gestão da UPVF é familiar. O filho de E. F. possui 24 anos e estudou até o primário (4ª

série). Sua esposa tem 25 anos e concluiu o Ensino Médio. E. F. tem 54 anos e também

estudou até o primário. Sua esposa tem 55 anos e também possui Ensino Médio completo.

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116

A propriedade é totalmente orgânica e possui 17 hectares, divididos da seguinte

forma: 7,5 hectares de soja, trigo, aveia e milho; 4,5 hectares de pastagens plantadas,

naturais e culturas permanentes; 2,5 hectares ocupados por matas e 0,5 hectares de barreiras

com reflorestamento. No que diz respeito às benfeitorias, a família possui duas casas

(mistas), paiol, estábulo e chiqueiro, todos de madeira, além de um galinheiro de alvenaria.

Possuem um trator e uma carpideira de uso coletivo, além de uma plantadeira (pé de pato e

grade) própria. Esses maquinários apontam temporalidades com ritmos mais acelerados,

pois a maior parte das máquinas utilizadas é moderna, embora coexistam equipamentos mais

antigos ainda utilizados.

A família trabalha com agricultura orgânica desde 1999. No início da produção,

quem auxiliou foi um irmão de E. F. Optaram por essa forma de produção para deixarem o

uso de agrotóxicos, pois causavam muita dor de cabeça e mau cheiro. Como objetivos da

agricultura orgânica, pretendem aumentar o cultivo de produtos para continuar produzindo e

acreditam que este tipo de produção tende a melhorar. Não abandonaram nenhuma atividade

agrícola após a inserção na agricultura orgânica, mas passaram a produzir também soja e

trigo. Após a conversão para a agricultura orgânica a renda familiar aumentou e perceberam

a redução de gastos, principalmente com insumos.

Produzem milho (200 sacas a cada 2,42 ha), soja (120 sacas a cada 2,42 ha), trigo (90

sacas a cada 2,42 ha), hortaliças, frutas, leite, em média 800 litros por mês, suíno, queijo,

tudo orgânico. Destes comercializam soja, trigo, leite, queijo (10 kg/semana). O trigo e a

soja são comercializados e certificados pela empresa Gebana. O leite é comercializado na

CLAF e o queijo na COOPAFI. As frutas, hortaliças e suínos são somente para consumo. As

formas de comercialização indicam parte das relações efetivadas pela família, ou seja, das

territorialidades, sobretudo no aspecto econômico.

Atualmente recebem assistência técnica da empresa Gebana, para quem produzem

soja e trigo. Fazem compostagem orgânica para horta na propriedade, e quanto aos insumos

externos, adquirem sementes, adubos e, medicamentos naturais para combater as pragas

(óleo de neem) da Gebana. As mudas de hortaliças são adquiridas no mercado do produtor.

Esse vínculo com a empresa Gebana, com a COOPAFI e com a CLAF também

indica uma territorialidade econômica diversificada e a participação em redes, pois os canais

de comercialização são variados. No entanto, como a Gebana presta assistência técnica para

a produção de grãos, sua influência nas ações desenvolvidas na UPVF e nas

intencionalidades da família, acaba sendo grande.

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117

A fonte de renda da família é proveniente de atividades agrícolas e uma

aposentadoria. A gestão da UPVF é familiar, e apenas a família trabalha na propriedade. Na

comunidade existe a prática de ajuda mútua entre famílias através da troca de dias de

serviços, fato que indica uma temporalidade lenta e outra territorialidade (mais ligada à

dimensão sociocultural), onde ainda são realizadas atividades de trabalho coletivas.

A foto 08 mostra uma área em frente a uma das casas da UPVF, com terraplanagem,

onde será construída uma nova casa de alvenaria.

Podemos observar na imagem, que a mecanização na UPVF é intensa, pois nela está

presente (ao fundo) uma lavoura mecanizada e em primeiro plano uma mudança no perfil do

terreno, para a construção de uma nova casa. As construções de madeira denotam

temporalidades lentas, pois são antigas, e bem conservadas, mas a nova casa de alvenaria,

arquitetura e materiais modernos que será erguida na propriedade, denota uma

temporalidade mais recente.

As tecnologias utilizadas, como plantio direto, sistema de piqueteamento e manejo da

pastagem (Sistema Voisin) também demonstram, assim como os maquinários, que nesta

UPVF as temporalidades ligadas à dimensão produtiva-econômica possuem ritmo acelerado.

Contudo, também é perceptível na imagem uma pequena produção não mecanizada de

mandioca, milho e frutas, o que nos leva a compreender que em um mesmo espaço, em uma

mesma UPVF, coexistem diferentes temporalidades, ou seja, diferentes ritmos de produção e

de vida. As temporalidades mais rápidas estão ligadas às atividades agropecuárias

responsáveis pela renda familiar, enquanto as temporalidades mais lentas, que também

podem ser entendidas como rugosidades, estão nas atividades voltadas ao consumo familiar.

A família aponta como entidades parceiras, a Gebana, através da assistência técnica,

o STR, a CRESOL, a CLAF e a associação da comunidade, entidades nas quais são

associados. Também realizaram cursos de capacitação com o SENAR e Gebana. Essas

parcerias demonstram que existem redes nas quais a família está integrada, seja como

sócios, no processo de capacitação para a produção ou na comercialização. Essas redes por

sua vez, indicam territorialidades dessa família com instituições diversificadas, que também

possuem diferentes intencionalidades no que tange a agricultura orgânica e a Agroecologia.

Fizeram financiamento para adquirir o trator, plantadeira, pneus e equipamentos para

máquinas agrícolas. O último financiamento que fizeram foi para o custeio da lavoura,

através da CRESOL.

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Foto 08. Terraplanagem para a construção de uma nova casa na UPVF de E. F.

Fonte: MEIRA, S. G. Trabalho de campo, 12-07-12.

A propriedade tem SISLEG, captam água de poço e da rede pública e dizem não ter

problemas com falta e qualidade da água. A água utilizada é destinada a uma fossa séptica e

o lixo orgânico é utilizado como adubo. Os dejetos dos suínos são destinados em uma

esterqueira. A situação dos solos é boa. A conservação é feita com curvas de nível; adubação

verde para o milho; e rotação de culturas (trigo, milho e soja).

Quando questionados sobre o que compreendem por agricultura orgânica e

agroecologia dizem ser a agricultura sem uso de defensivos químicos. Quanto às vantagens e

possibilidades da agricultura orgânica, apontam a não contaminação por não utilizarem

agrotóxicos, e o melhor preço dos produtos. Quanto às dificuldades, apontam que a capina

manual e as pragas são difíceis de combater apenas com o uso de insumos naturais. Faltam

equipamentos na agricultura orgânica, principalmente para a retirada de plantas indesejadas

nas lavouras.

Para melhorar a produção e comercialização dos alimentos orgânicos/agroecológicos,

apontam que seria necessário aumentar o número de financiamentos, auxílios aos

produtores, maiores investimentos em medicamentos naturais que combatam as pragas, além

da divulgação da produção e de palestras para consumidores e produtores, para que eles

conheçam as vantagens de se produzir e consumir um produto orgânico.

Nesta família, observamos tanto a intencionalidade ideológica quanto a econômica,

pois apesar de produzirem orgânicos para aumento da renda, no caso do trigo e soja, também

produzem alimentos para consumo e comercialização. Quanto às temporalidades, através do

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maquinário e das técnicas utilizadas na produção, podemos dizer que existe um ritmo mais

acelerado, mas que coexistem com um ritmo lento, fruto da intencionalidade ideológica, que

através de saberes tradicionais, cultivam frutas e verduras para o consumo da família.

Através da tipologia proposta, enquadramos esta família como de agricultores

familiares, pois a UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é familiar, a maior parte da

renda é proveniente de atividades agrícolas e a família reside na propriedade. Como a UPVF

possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, entendemos que a família possui

uma intencionalidade econômica básica, prevalecendo uma intencionalidade ideológica. A

produção é diversificada e possuem certificação. Assim, podemos classificar esse

estabelecimento rural como uma UPVF agroecológica com certificação.

4.4.2. F.P. e família

A família reside no município há 50 anos, e na atual residência, situada na Vila Rural

Nova Brasília, há 12 anos. O casal tem descendência italiana. Residem na UPVF cinco

pessoas, sendo que todos desenvolvem atividades na mesma. São duas mulheres (mãe e

filha) e três homens (pai e dois filhos). A gestão da UPVF é familiar e não contratam mão de

obra externa.

F. P. têm 55 anos e estudou até o ginásio (7ª série). Sua esposa tem 52 anos e fez o

primário (4ª série). Os filhos homens têm 27 e 25 anos e concluíram o ensino médio. A filha

tem 16 anos e está cursando o 1º ano do ensino médio.

A UPVF possui apenas 5.180 m² e é totalmente orgânica. Segundo F.P., ela está

dividida aproximadamente da seguinte forma: 600 m² com culturas temporárias (milho e

mandioca), 550 m² com culturas permanentes (cana-de-açúcar) e 440 m² de pastagem

permanente. O restante do estabelecimento rural é ocupado com uma casa de alvenaria em

bom estado de conservação (44 m²), um paiol, um estábulo de madeira e uma estufa com

irrigação (264 m2), além de uma área com frutíferas e mudas de palmeira real.

A família trabalha com a produção orgânica há 11 anos. Optaram por esse sistema

através de um projeto da EMATER e aprenderam técnicas de cultivo e manejo através de

cursos oferecidos pela própria EMATER. Como objetivos com a agricultura orgânica,

apontam a saúde do produtor e do consumidor.

Cultivam de forma orgânica: milho, mandioca, cenoura, pepino, alface, repolho,

beterraba, brócolis e cana-de-açucar. A mulher também faz pão-de-açúcar. Esses produtos

são comercializados de forma direta, em restaurantes, lanchonetes e feira livre

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quinzenalmente, e de forma indireta para o PAA e PNAE (através da COOPAFI). Criam

suínos e frangos para consumo familiar. Produzem açúcar mascavo apenas para o consumo

da família.

Não possuem certificação, mas destacam a importância de ter, pois ganhariam mais

na venda e comercialização dos produtos. Também entendem que seria uma forma de

garantia de que o produto é livre de agrotóxicos.

Produzem na UPVF mudas/ramas de mandioca, batata-doce, compostagem (feita

com esterco e capim) e caldas. Adquirem fora, na COOPAFI, sementes de couve, alface,

beterraba, mudas de hortaliças orgânicas e compostagem orgânica.

A renda familiar é proveniente de atividades agrícolas, em média dois salários

mínimos e de uma aposentadoria de F. P. Quando questionados sobre o que é agricultura

orgânica, respondem que é a não utilização de agrotóxicos, “trabalhar para salvar a

natureza” e em prol da saúde. Sobre a agroecologia assinalam que trabalha a questão da

mata ciliar e a agricultura orgânica trabalha mais com alimentos. É explícita a dificuldade

em conceituar a agricultura orgânica e agroecologia, mas possuem um amplo conhecimento

empírico de como produzir alimentos orgânicos.

Após a inserção na agricultura orgânica deixaram de plantar pepinos para a empresa

Cantu (Empresa de beneficiamento e processamento de frutas e verduras), apontando que

mesmo sendo orgânico não havia valorização do produto. Passaram a produzir mais

hortaliças, e construíram uma estufa com gotejamento. Após a conversão para a agricultura

orgânica a renda familiar melhorou. Houve a redução de gastos principalmente com

insumos. Esse elemento indica a construção de novas territorialidades a partir da inserção na

agricultura orgânica e um processo de desterritorialização, que entendemos ser positivo, a

partir do abandono das relações com a empresa CANTU.

Como vantagens da produção orgânica, apontam a saúde e a procura dos

consumidores por produtos orgânicos. Quanto às dificuldades, dizem que a produção é mais

lenta, e ocorre maior ataque de pragas que provocam doenças. Para melhorar a produção e a

comercialização dos alimentos orgânicos/agroecológicos, dizem ser necessário um

acompanhamento técnico. O custo do supermagro (biofertilizante) é alto e a área de plantio é

pequena. Precisariam melhorar as condições financeiras e ter uma propriedade maior para

garantir quantidade e melhor preço pela produção orgânica.

Realizam o controle de insetos e doenças através de compostos com ervas, uréia

orgânica e calda bordalesa. O controle das plantas espontâneas é feito com dessecante

orgânico (preparado com repolho e sal) e manualmente, parte é deixada no canteiro para

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cobertura do solo. Para preparar o solo a família utiliza enxada, picão, máquina manual de

borrifar. Porém, gostariam de ter uma tobata (micro trator) para fazer canteiros. Enfatizam

que faltam tecnologias adaptadas e acessíveis para a produção orgânica.

A produção de insumos próprios e a falta de equipamentos denotam temporalidades

lentas nessa UPVF. Contudo, as formas de manejo com insumos da própria UPVF são

indicadores de relativa autonomia da família em relação aos insumos externos.

Na foto 09, é possível observar como é realizada a preparação do solo e a

organização do espaço para cultivo da produção, bem como alguns dos materiais utilizados.

Foto 09. Canteiros de hortaliças na UPVF de F. P.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 12-07-2012.

O solo é preparado de forma manual para o plantio das hortaliças. As estufas são

improvisadas com sombrite na cobertura e bambu para sustentação. A irrigação por

gotejamento demonstra a utilização de uma técnica que ameniza o emprego de mão de obra

na produção de hortaliças. Esses elementos evidenciam o conhecimento tradicional

empregado na produção. Desta forma, apontamos que esta UPVF é trabalhada em ritmo

mais lento.

A captação de água é da rede pública e de um poço. Nunca tiveram problemas com

falta e qualidade de água. Quanto ao destino das águas e esgoto, relatam que a água do

tanque utilizado para lavagem de roupas vai para o solo, a água da cozinha, vaso sanitário e

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do chuveiro vai para a fossa séptica. Utilizam o lixo orgânico direto como adubo e

compostagem. Os dejetos animais são utilizados como adubo. O solo está bem conservado.

Realizam adubação e cobertura verde.

Apontam como entidades parceiras a EMATER, ASSESSOAR, COOPAFI, STR.

Participaram de cursos de capacitação e palestras realizadas pela EMATER e Prefeitura

Municipal. Essas relações evidenciam as territorialidades presentes e a participação em

redes.

Nesta família, observamos com maior evidencia a intencionalidade ideológica, pois

apesar de produzirem orgânicos para aumento da renda, a maior preocupação é com a saúde.

Quanto às temporalidades, o conhecimento tradicional e as técnicas domésticas utilizadas na

produção, evidenciam um ritmo mais lento, porém não podemos dizer que não existe um

ritmo acelerado presente, pois estes estão inseridos em relações de mercado para a

comercialização da produção orgânica.

Esta família é de agricultores familiares, pois a UPVF, possui apenas 5.180 m², a

gestão é familiar, maior parte da renda é proveniente de atividades agrícolas e toda família

reside na propriedade. Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional, totalmente

orgânica, mesmo não possuindo certificação, a família possui intencionalidade econômica

básica e prevalece a intencionalidade ideológica e a produção é diversificada, podemos dizer

que é uma UPVF agroecológica sem certificação.

4.4.3. T.S. e Z.S.

Apenas o casal reside na UPVF atualmente, localizada na comunidade 1º de maio.

Moram no município e na propriedade há 29 anos. O filho e a nora também trabalhavam

com produção orgânica na UPVF, porém não residem mais na propriedade.

O estabelecimento rural tem 6,05 hectares e é totalmente orgânico. As fontes de

renda da UPVF consistem em atividades agrícolas, fabricação de massas na COOPAFI por

Z.S. e o salário de presidente do STR, de T.S. A gestão da UPVF é realizada pelo casal e

não contratam mão de obra.

Trabalham de forma orgânica desde 1983. Aprenderam através das próprias

experiências e mais tarde com cursos e palestras oferecidos pela ASSESOAR. Como

objetivos em produzir orgânicos, buscam melhorar a qualidade de vida da família e dos

consumidores e enfatizam que enquanto tiverem condições de saúde cultivarão desta forma.

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Quando questionados sobre o que é agricultura orgânica, respondem que é o local

onde se planta uma parte convencional e a outra de forma orgânica. Já a agroecologia, para

eles, é ampla e tem como objetivo proteger a natureza para esta retribuir, é saúde, proteção e

bem estar.

De forma orgânica produzem milho, feijão, mandioca, olerícolas (repolho, cebola,

alface, couve-flor, beterraba, chicória, brócolis, cenoura, temperos verdes e alho); frutas

como banana, pêssego, laranja, bergamota, ponkan, jabuticaba, manga, uva, figo, melancia,

morango, maçã, carambola e acerola; café e amendoim. Também criam aves caipiras, aves

de granja, suínos, bovinos para produção de leite e carne.

Quanto aos produtos transformados, trabalham com bolachas, pães, doces de frutas,

massa de alho, mel, geléias, café, ervas medicinais, requeijão e salame. Produzem ainda

artesanatos com porongo, palha de milho e esponja vegetal.

Tudo o que produzem (grãos, frutas, olerícolas, produtos processados e artesanato) é

comercializado no mercado da COOPAFI e em uma feira livre, realizada aos sábados pela

manhã na avenida central da cidade. O leite é entregue na CLAF. O mel em Curitiba e em

Santa Catarina, e os pães e bolachas no PAA e PNAE. Além disso, anualmente participam

também de diferentes feiras em Salto do Lontra, Francisco Beltrão, São Jorge d’Oeste,

Salgado Filho e Curitiba (Feira dos Sabores). As formas e locais de comercialização

evidenciam as relações e por consequência as territorialidades da Agroecologia praticada

nesta UPVF. A participação em redes locais e extra-locais para a comercialização é ampla e

denota territorialidades múltiplas em termos de relações econômicas.

Utilizam na lavoura e nos canteiros o esterco bovino produzido na UPVF, urina e

super magro. Compram as sementes e mudas da ENATUR e da ASSESSOAR, além de

realizarem trocas com os vizinhos. Essas trocas indicam temporalidades mais lentas e

territorialidades socioculturais tradicionais.

Em relação à parte ambiental, já fizeram a averbação na matrícula do imóvel

ambiental das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal (SISLEG). Captam água

de poço e nunca tiveram problemas com falta e qualidade na água consumida. Para

destinação das águas e esgoto possuem fossa séptica. O lixo orgânico e dejetos animais são

utilizados como adubo. O solo é protegido com cobertura verde (plantas forrageiras, como

aveia, azevem e avica).

Após inserção na agricultura orgânica deixaram de produzir soja e fumo. Dizem que

a renda aumentou e os gastos com insumos externos diminuíram. Como vantagens apontam

o custo menor da produção, possibilidade de utilizar recursos próprios e atender à demanda

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por produtos orgânicos. Como dificuldades apontam a falta de mão de obra; escassez de

adubo orgânico para compara; a falta de recibos e notas fiscais dos insumos utilizados na

produção, necessários para conseguirem recursos financeiros do PRONAF; falta de seguro

em caso de perda da produção (tem que fazer um seguro pessoal); inexistência de uma linha

de investimento e custeio diferenciada, na CRESOL, para promover a agricultura orgânica e

a Agroecologia, pois, como já citado, a maioria dos insumos utilizados na produção orgânica

é produzido na UPVF (sementes, adubos).

As entidades parceiras são a COOPAFI, CLAF, ASSESOAR, STR, CRESOL e

associação da comunidade. Estão sempre participando de cursos e palestras. Estas relações

deixam claro que embora a produção agroecológica na UPVF tenha um ritmo mais lento

pelos equipamentos utilizados, conforme demonstrado na foto 03, às relações que este casal

de agricultores possui com as entidades ligadas a agricultura orgânica, a Agroecologia no

município e com o mercado, evidenciam a participação em redes, ritmos mais rápidos e uma

temporalidade mais dinâmica, indicando uma coexistência entre temporalidades e

territorialidades distintas em uma mesma UPVF.

Para facilitar a produção gostariam de ter um micro trator (tobata) para transportar os

produtos preparar o solo para plantio e fazer os canteiros, pois o manejo do solo e transporte

de insumos é realizado através de equipamentos com tração animal como grade (foto 10),

arado e carroça. Estes equipamentos evidenciam temporalidades/ritmos mais lentos da

produção orgânica desenvolvida nesta UPVF.

Foto 10. Grade para tração animal na UPVF de T. S. e Z.S.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 12-07-12.

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Para melhorar a produção e comercialização dos alimentos orgânicos, enfatizam a

necessidade de baixar o preço da mão de obra e de incentivar as pessoas a produzir de forma

orgânica e saudável. A esse respeito, dizem que a pastoral teria que fazer (como já fazia no

passado) cursos de medicina tradicional, promovendo o uso de chás e pomadas naturais.

A conscientização da população no município é considerada um dos instrumentos possíveis

para a valorização da Agroeocologia. Isso, junto com o abastecimento de um nível maior de

produção no mercado, poderia melhorar o aspecto comercial da produção orgânica. Mas

infelizmente no inverno há um problema de abastecimento no mercado de hortaliças.

Podemos afirmar que esse casal de agricultores tem uma intencionalidade ideológica,

mesclada com uma intencionalidade econômica básica, pois para eles a produção orgânica

vem em primeiro lugar para benefício da saúde, tanto do produtor como dos consumidores.

A Agroecologia para eles é um modo de vida, apesar da comercialização dos produtos ser

importante para a renda familiar. No entanto, em termos de consumo, a família produz a

maior parte dos alimentos que consome. O casal é uma referência em Agroecologia no

município, tendo também atuação em entidades da agricultura familiar.

Esta família, de acordo com a tipologia proposta nesta pesquisa, é de agricultores

familiares, pois a UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é realizada pelo casal,

residentes no estabelecimento, e mesmo com os trabalhos externos, a maior parte da renda é

proveniente de atividades agrícolas. Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional,

totalmente orgânica, mesmo não possuindo certificação a família possui intencionalidade

econômica básica e prevalece a intencionalidade ideológica e diversificada produção,

apontamos como uma UPVF agroecológica sem certificação.

4.4.4. J.F. e família.

O proprietário J.F., reside no município há 40 anos e na UPVF localizada na

comunidade São Luiz, desde 1984 (há 28 anos). É natural de Santa Catarina. Atualmente

três pessoas residem na UPVF (uma mulher e dois homens), sendo que todas trabalham na

propriedade. A tomada de decisões é feita pelo casal. J. F. têm 53 anos, a esposa M.C. 49 e o

filho B. F. 21 anos. Além das atividades agrícolas possuem uma renda externa,

aposentadoria por auxilio doença de M.C.

O total da propriedade é de 13 hectares, divididos da seguinte forma: 7,5 hectares de

culturas temporárias (trigo, soja), três hectares com pastagem permanente, uma área não

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especificada de mata nativa. O restante da UPVF é ocupado com construções casa (mista),

estábulo, paiol e chiqueiro (madeira).

Contratam mão-de-obra temporária, geralmente de três pessoas em 10 dias por ano

para trabalhar na limpeza da lavoura. Também trocam dias de serviços com os vizinhos,

demostrando uma territorialidade sociocultural tradicional e de valorização de ações

coletivas, resquício de uma temporalidade mais lenta. Destacam que existe na comunidade a

prática da ajuda mútua entre famílias, principalmente na época de limpeza das lavouras.

Identificam-se como agricultores orgânicos. Trabalham com essa forma desde 2001.

Começaram através de incentivos dos irmãos e empresas que trabalham com orgânicos,

destacando que com a soja orgânica se têm um lucro maior.

Aprendeu a cultivar de forma orgânica com um técnico agrícola, com a ajuda de um

irmão e com palestras realizadas pela Empresa Tozan. Atualmente a UPVF é 100%

orgânica. Nesse sentido, a empresa teve um importante papel para a adesão da família à

agricultura orgânica, pois apresentou uma garantia de escoamento da produção de grãos.

Isso indica uma territorialidade econômica com essa empresa e uma temporalidade mais

rápida, pois a família acaba tendo que cumprir metas e procedimentos de produção definidos

pela empresa.

Optaram por essa produção, por ser mais saudável, e pela vantagem econômica que a

produção orgânica proporciona à pequena propriedade, onde o produto orgânico é mais

valorizado. Consideram esses fatores como principais vantagens.

Entendem por agricultura orgânica uma produção sem veneno, mais saudável.

Acredita que Agroecologia e agricultura orgânica são diferentes, sendo que a “Agroecologia

seria mais simples”.

Em relação à produção vegetal, possuem a soja (em sete hectares) e vendem para a

Gebana, que paga 45% a mais do valor pago para o convencional. No caso do trigo,

produzem em média 125 sacas a cada 2,42 hectares. A empresa paga 20 % a mais.

Produzem para o consumo o milho (60 a 100 sacas por cada 2,42 hectare), mandioca,

hortaliças (alface, repolho e beterraba) e frutas.

Na produção animal destacam o leite. Com três vacas em lactação produzem em

média 1.000 litros por mês, que são comercializados na CLAF, com valor de R$ 0,75 por

litro (valor pago em junho de 2012). Possuem suínos, bovinos, aves caipiras, angolas e de

granja e ovos para consumo próprio. Na produção agroartesanal produzem manteiga, açúcar

mascavo e doce para consumo próprio.

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Em relação aos maquinários, possuem um batedor de cereais próprio, um quirereiro

que se adapta ao trator, dois tratores em conjunto com dois irmãos e também usam o trator e

a enciladeira da associação de moradores da comunidade.

Consideram a soja e o trigo como as culturas mais importantes economicamente. Na

foto 11, podemos observar uma das áreas de plantio de grãos, com cobertura verde.

Foto 11. Lavoura Mecanizada na UPVF de J.F.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo 12-07-2012.

Nas UPVFs em que a maior produção é de grãos observamos que as paisagens são

mais monótonas, evidenciando o maior emprego de maquinário agrícola na lavoura, o que

nos remete a compreensão de que nestas UPVFs, os ritmos são mais acelerados, pois há

maior emprego de tecnologias agrícolas. Geralmente não se deixa de produzir frutas e

hortaliças para o consumo da família, mas a ênfase é a produção para o mercado.

Para o controle/manejo de insetos e doenças usam dipel. Para combater plantas

espontâneas usam a enxada e a carpideira de mão, indicando resquícios de uma

temporalidade mais lenta.

Os insumos adquiridos fora da UPVF (desde sementes, mudas e medicamentos), são

fornecidos pela Gebana, empresa com a qual possuem contrato e comercialização da

produção. Compram de outros agricultores adubo de aviário, fato que pode prejudicar a

qualidade dos alimentos produzidos em virtude do uso de medicamentos nas aves.

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Após a inserção na agricultura orgânica reduziram a produção de milho, feijão e

mandioca e ampliaram a produção de soja. Destacam que houve uma alteração na renda

familiar, e também observaram redução nos gastos com medicamentos e insumos.

Para a família, as vantagens da agricultura orgânica são o melhoramento da renda e

da saúde. Nas dificuldades, destacam-se a falta de tempo, pois dá muito trabalho e falta mão

de obra na hora da limpeza da lavoura (destacam que não tem mais trabalhadores para

contratar no campo e a juventude está indo para as cidades).

Acreditam que para melhorar a produção e a comercialização dos alimentos

orgânicos, são necessários incentivos econômicos e políticos para os produtores e uma maior

união destes produtores para se fortalecerem e não trabalharem sozinhos.

Possuem a certificação da ECOCERT, sendo a soja e o trigo certificados. O custo é

pago pela Gebana e descontado no pagamento da produção. Enfatizam que existem

vantagens com a certificação e não há desvantagens, porém não especificam as mesmas.

Destacam que o filho é quem realiza a contabilidade dos custos da produção. Ele faz

um controle sistematizado e possui computador e internet. O uso da internet no campo é

cada vez mais frequente, demonstrando também uma temporalidade mais acelerada, pois

podem ter qualquer informação de qualquer parte do mundo no instante em que desejarem.

Esse aspecto pode ser positivo ou negativo, porém, indica uma temporalidade mais rápida e

a possibilidade de inserção em redes virtuais diversas.

Destacam como parceiros na agricultura orgânica a Gebana, através do fornecimento

de mudas, assistência técnica e comercialização; e a CRESOL (J.F. é associado), pelos

financiamentos realizados tanto de custeio como de investimento através do PRONAF.

Também são associados da CLAF, STR e associação da comunidade São Luiz. Participam

de eventos, reuniões, palestras, geralmente os realizados pela empresa Gebana. As relações

com entidades e associações demonstram territorialidades econômicas e socioculturais da

família. A ligação com uma empresa de exportação pode ser considerada uma verticalidade

presente no campo, pois produzem para o mercado global.

Em relação ao aspecto ambiental, apontam que o consumo de água mensal é de 8 a

10 mil litros/mês. A captação da água é do poço tubular da comunidade. Na UPVF existem

duas fontes protegidas para o uso dos animais e três nascentes protegidas, mesmo assim, em

períodos de estiagem possuem problemas com falta de água. No poço da comunidade é

realizado tratamento da água utilizada para consumo. Não possuem SISLEG. Na UPVF há

um pequeno córrego.

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O destino dos dejetos humanos é para a fossa com pedras. Com relação ao lixo seco,

há coleta pública, porém não tem funcionado de forma satisfatória, pois os intervalos de

recolhimento são bastante amplos (chegando a cinco messes). O lixo orgânico é usado direto

como adubo. Os dejetos dos animais são usados como adubo.

As práticas utilizadas na UPVF para conservar o solo estão no plantio de cobertura

verde (com ervilhaca, aveia e palha de trigo). Consideram bom o estado de conservação dos

solos, assim como sua fertilidade. O plantio é realizado é realizado de forma direta, com

menor impacto no solo. Realizam rotação de culturas e possuem barreiras na UPVF.

Realizam periodicamente análise do solo. Quanto aos insumos externos utilizam apenas

calcário.

Nesta família, mesmo sendo conscientes dos benefícios que a produção orgânica trás

para saúde, demonstrando a presença da intencionalidade ideológica, a intencionalidade

econômica com a produção orgânica prevalece, pois além de estarem inseridos em ritmos

mais acelerados da produção, possuem contratos firmados com uma empresa, que exporta a

produção que tem como maior objetivo o lucro.

De acordo com a tipologia proposta, esta família é de agricultores familiares, pois a

UPVF, possui menos de 50 hectares, a gestão é feita pelo casal, a maior parte da renda é

proveniente de atividades agrícolas e toda família reside na propriedade. Como a UPVF,

possui gestão familiar, é tradicional, totalmente orgânica, possui certificação por auditagem,

prevalece à intencionalidade econômica básica e a produção é diversificada, podemos dizer

que é uma UPVF totalmente orgânica com certificação e não uma UPVF agroecológica.

4.4.5. P.F. e família.

O proprietário da UPVF, P. F., reside no município há 40 (quarenta) anos e há 31

anos no estabelecimento na comunidade Pio X. A descendência da família é portuguesa e

italiana, três pessoas residem e trabalham na UPVF, duas destas trabalham somente meio

período. A família é composta por dois homens e uma mulher. A tomada de decisão na

UPVF é feita pelo pai e filho.

P.F. é agricultor e também trabalha como pedreiro, possui a 4ª série e têm 57 anos.

D.F. tem 51 anos é professora e agricultora e possui magistério (formação de docentes). O

filho T.F. é técnico agrícola, agricultor e trabalha na COPEL (Companhia Paranaense de

Energia), tem 22 anos. A renda média familiar é de R$ 30.000,00 por ano. Não contratam

mão-de-obra. Destaca que na comunidade não há ajuda mutua entre as famílias.

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O total da UPVF é de 18 hectares, sendo dividida da seguinte maneira:

aproximadamente oito hectares de culturas temporárias (milho, trigo e soja, rotacional) meio

hectare de pomar (uvas e frutas), quatro hectares de mata nativa, quatro hectares de

silvicultura (4.000 pés de eucaliptos), dois alqueires de pastagem permanente.

Quanto à produção vegetal, produzem além dos grãos (soja, milho, trigo),

comercializados com a Gebana, hortaliças, frutas e verduras para consumo. Na produção

animal, possuem suínos e leite somente para consumo, mel e bovinos (o excedente é

comercializado). Produzem ainda queijo, vinho, doces, conservas e embutidos para consumo

familiar.

Trabalham com agricultura orgânica desde 1999. Aprenderam a cultivar orgânicos

através de cursos, orientações e incentivos da Gebana. A UPVF é totalmente orgânica.

Na foto 12 a seguir podemos observar parte do pomar, da área de lavoura, e da mata

e também um equipamento agrícola (pé de pato) da associação da comunidade, utilizado

para arar o solo.

Foto 12. Paisagem presente na propriedade de P. F.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo 12-07-12.

Os elementos presentes na foto evidenciam a diversidade de ritmos da UPVF, que

mesmo tendo como principal produto os grãos, produzem frutas e verduras cultivadas sem a

adição de agrotóxicos para o consumo da família.

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Quanto às benfeitorias existentes na UPVF, há uma casa de alvenaria, paiol de

madeira e um chiqueiro de alvenaria desativado. Em relação aos maquinários destacam o

trator, a plantadeira de uso próprio e o pé de pato de uso coletivo, estes maquinários

evidenciam ritmos mais acelerados na produção.

Não diferenciam agricultura orgânica de agroecologia. Consideram que a agricultura

orgânica agride menos o meio ambiente em relação à agricultura convencional.

Optaram por essa forma de produção pela questão econômica, sendo que a

remuneração é maior. Os objetivos atuais com a agricultura orgânica são melhorar a

qualidade de vida e evitar intoxicações. Estas afirmações demonstram que primeiramente

tiveram uma intencionalidade econômica em produzir orgânicos, mas com o passar do

tempo à intencionalidade ideológica também se fez presente, pela conscientização da melhor

qualidade de vida que a alimentação saudável oferece.

Os insumos necessários para a produção, como sementes, mudas, adubo,

medicamentos, são adquiridos com a Gebana e nas casas agropecuárias. Realizam o

controle/manejo de insetos e doenças através de produtos fornecidos pela Gebana. As

plantas espontâneas são retiradas manualmente. A certificação da produção é realizada pelo

Instituto Biodinâmico (IBD).

Não abandonaram nenhuma atividade agrícola após a inserção na agricultura

orgânica, só diminuíram a produção de milho, e ampliaram a de soja. Após a conversão para

a agricultura orgânica houve uma melhoria na renda familiar.

Em relação aos aspectos ambientais, a UPVF possui SISLEG. A captação de água é

de rede pública e poço. Relatam que quanto a qualidade da água da nascente já realizaram

análises e a mesma apresentou coliformes fecais. A água do poço coletivo possui cor

esbranquiçada, porém nunca tiveram problemas com falta de água. O destino das águas de

esgoto doméstico é uma fossa com pedras. O lixo orgânico é destinado para compostagem.

Os dejetos animais (bovinos) servem como adubo onde são depositados diretamente na

pastagem. As práticas de conservação do solo são a adubação verde com plantas

forrageiras.

Acreditam que para o crescimento do número de UPVFs orgânicas e agroecológicas

precisaria mais divulgação através dos meios de comunicação da importância da produção

orgânica.

Nesta família também prevalece à intencionalidade econômica com a produção

orgânica. São conscientes dos benefícios que este tipo de produção trás para saúde,

demonstrando a presença da intencionalidade ideológica. Estão inseridos em ritmos mais

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132

acelerados da produção e da relação desta com o mercado, pois possuem contratos firmados

com a Gebana que exporta a produção. As relações de trabalho da família também

demonstram um ritmo mais acelerado, pois além do trabalho com a agricultura, todos

realizam outro tipo de trabalho, indicando territorialidades econômicas e socioculturais

diversificadas.

Esta família é de agricultores familiares, pois a UPVF, possui 18 hectares, a gestão é

familiar, mesmo com os trabalhos externos a maior parte da renda é proveniente de

atividades agrícolas e toda família reside na propriedade. Como a UPVF, possui gestão

familiar, é tradicional, totalmente orgânica, possui certificação por auditagem, prevalece à

intencionalidade econômica básica e a produção é diversificada, podemos dizer que é uma

UPVF totalmente orgânica com certificação.

4.4.6. M.L.S e família.

O proprietário M.L.S reside no município de Salto do Lontra há 41 anos e há 35 na

propriedade, localizada na comunidade Bom Fim. A área total da propriedade é de 23,7

hectares, subdivididos em: 9 hectares de culturas temporárias (milho, soja, aveia, azevém);

0,2 hectares de culturas permanentes (pêssego, ponkan, laranja bahia, tangerina) 5 hectares

de pastagens permanentes (potreiro); 5,5 hectares de mata nativa; e, 4 hectares de capoeira.

A gestão da propriedade é familiar. Trabalham na UPVF três adultos. M.L.S e a

esposa trabalham permanentemente, o filho E.S. como faz faculdade em Realeza, retorna

para propriedade, na sexta-feira. Quem mais trabalha com a agricultura orgânica é o filho e a

esposa. A família contrata empregados temporários.

A família trabalha com agricultura orgânica desde 2001, iniciaram por incentivo de

uma empresa que buscava soja orgânica (Gebana). Aprenderam a cultivar orgânicos através

de cursos (SEBRAE e Instituto Maytenus) e também por meio do programa Pró-Caxias. Os

objetivos que contribuíram nessa escolha foram aumento da renda e a garantia da saúde da

família, por não utilizar agrotóxicos e consumirem alimentos saudáveis.

A UPVF já foi totalmente cultivada de forma orgânica, mas atualmente o cultivo

orgânico é restrito a frutas, verduras e frangos. Comercializam a produção na feira livre, que

ocorre todos os sábados pela manhã, na avenida principal da cidade e também no PAA e

PNAE, através da COOPAFI.

As vantagens da produção orgânica destacadas pela família estão na maior ênfase no

aspecto econômico para obtenção de lucros, mais autonomia e independência na escolha do

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133

valor dos produtos, e menores custos de produção. Porém, a questão da qualidade de vida e

melhores condições de saúde também são presentes.

Apontam como desvantagens as dificuldades de combater pragas e doenças nos

cultivos, além da falta de incentivos por parte do município e do governo, escassez de

acompanhamento e assistência técnica sistemática e duradoura e também falta de mão de

obra, já que o filho fica pouco na propriedade e atualmente é ele quem organiza a produção

orgânica. Há trocas de experiências com outros produtores, mas segundo E.S., longe de ser

um acompanhamento contínuo.

A respeito das organizações de produtores, apontam que mais entidades e

cooperativas são criadas, mas não são fortalecidas aquelas que já existem. São sócios de

uma associação chamada Primavera da comunidade de Bom Fim, do STR, da COOPAFI e

da CRESOL.

Através da CRESOL e do Programa Fome Zero financiaram um carro (Strada), para

escoar a produção. Também realizaram financiamentos para plantio de soja (atualmente

convencional), para equipamentos, como resfriador de leite e adubo.

Na produção orgânica desta UPVF observamos um ritmo mais lento, pois utilizam de

conhecimentos tradicionais para a produção e vão realizando experimentos, como por

exemplo, a utilização de cascas de ovos, que serve como repelente de insetos que atacam as

hortaliças (foto 13).

Foto 13. Horta da família de M. L. S.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo 12-07-12.

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134

Nesta UPVF, coexistem, bastante explícitas, a intencionalidade econômica e a

ideológica em relação à produção orgânica, pois M.L.S deixou de produzir soja orgânico,

porque não estava mais compensando financeiramente. Mas o filho E.S. e a mãe

continuaram a produzir frutas, hortaliças e frangos orgânicos, pois acreditam que a pequena

propriedade pode ser viabilizada através da produção orgânica, tendo retorno tanto

financeiro, quanto benefícios, relacionados à qualidade de vida. A produção convencional,

conduzida pela lógica capitalista, retrata um ritmo mais acelerado, mas a produção orgânica,

como já apontado, retrata um ritmo mais lento através do emprego de tecnologias

domésticas. Sendo assim, podemos apontar que a maior especificidade desta UPVF é a

coexistência, a simultaneidade tanto de intencionalidades como de temporalidades.

De acordo com a tipologia proposta, esta família é de agricultores familiares, pois a

UPVF, possui menos de 50 hectares, e a gestão é familiar, a renda é proveniente de

atividades agrícolas e maior parte da família reside na propriedade. Como a UPVF, possui

gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, não possui certificação, e a produção é

diversificada, podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica sem certificação.

4.5. Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no

município de Salto do Lontra/PR

A fim de espacializarmos as informações sobre a Agroecologia e a agricultura

orgânica do município de Salto do Lontra, apresentamos um mapa com os produtores

trabalhados nesta pesquisa e os principais produtos cultivados em cada UPVF (mapa 04).

Como podemos observar no mapa a maior parte dos agricultores que trabalha com

produção orgânica (quatro famílias), estão situados em comunidades próximas, na parte

noroeste do município. As outras duas famílias localizam-se mais ao sul e apenas uma fica

próxima à área urbana.

Aplicamos a tipologia proposta no capítulo II, com cada um dos agricultores

pesquisados, com o intuito de classificarmos como familiares ou não, orgânicos ou

agroecológicos, a partir de dados quantitativos e qualitativos e características específicas

levantadas através do diagnóstico e das visitas realizadas em cada UPVF.

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135

Mapa 04 – Produtores agroecológicos e orgânicos do município de Salto do Lontra/PR.

Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA, S.G. 2013.

O quadro 03 apresenta estas informações de forma sistematizada.

Quadro 03 - Classificação de agricultores familiares de Salto do Lontra/PR.

Agricultor UPVF até 50

hectares

Gestão

familiar

Mão de obra

familiar

Renda Residência

E.F. X X X X X

F.P X X X X X

J.F X X X X X

M.L.S X X X X X

P.F X X X X X

T.S X X X X X

Elaboração: MEIRA, S.G. e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (2013).

Esta síntese, aponta que os seis agricultores pesquisados que produzem alimentos

orgânicos no município de Salto do Lontra são familiares, pois nenhuma UPVF é maior que

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50 hectares, a gestão dos estabelecimentos é realizada por parte ou por toda família, assim

como a mão de obra empregada. A fonte de renda maior, mesmo existindo outras, é

proveniente da agricultura e de atividades relacionadas. Em todos os casos, pelo menos dois

membros da família residem na UPVF. A partir desta análise temos elementos para

classificá-los como orgânicos ou agroecológicos, como veremos no quadro 04.

As temporalidades presentes também demonstram a complexidade da agricultura

orgânica e da Agroecologia desenvolvida no município, uma vez que coexistem no

município de forma geral, e em cada UPVF, distintas temporalidades, ritmos e modos de

fazer agricultura orgânica e Agroecologia, evidenciando o tempo das coexistências, da

simultaneidade.

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Quadro 04 – Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Salto do Lontra/PR.

Elaboração: MEIRA, S.G. e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (2013).

Agricultor Emp Fam Trad Mod Total Parc Trans IEB IEC Ideo Esp P.

div Div

Cert

Part

Cert

Aud

Sem

Cert Classific

E. F. X X X X X X X

UPVF

Agroecológica

com

certificação

F.P. X X X X X X X

UPVF

Agroecológica

sem

certificação

J.F. X X X X X X X

UPVF

Totalmente

orgânica com

certificação

M.L.S. X X X X X X X

UPVF

parcialmente

orgânica sem

certificação

P.F. X X X X X X X

UPVF

Totalmente

orgânica com

certificação

T.S. X X X X X X X

UPVF

Agroecológica

sem

certificação

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138

Analisando o quadro desenvolvido percebemos que três dos seis agricultores são

agroecológicos, dois possuem a UPVF totalmente orgânica e um possui a UPVF parcialmente

orgânica.

São diversos os sujeitos envolvidos com a produção de alimentos orgânicos no

município de Salto do Lontra, produção esta que envolve as dimensões econômica (produção,

processamento e comercialização), ambiental, social, política e ética. Ao ter como foco neste

trabalho as territorialidades, temporalidades e intencionalidades dos sujeitos que trabalham

com a agricultura orgânica e a Agroecologia desenvolvida em UPVFs, pudemos apreender os

objetivos (explícitos e alguns implícitos) em relação a essa forma de agricultura, considerando

a atuação de agricultores, técnicos gestores e entidades (EMATER, CRESOL, CLAF, STR,

COOPAFI) e as diversas relações que estabelecem, evidenciando que são múltiplas as

territorialidades envolvidas na produção orgânica e agroecológica.

Analisamos que, principalmente as entidades, quando trabalhadas como sujeitos, têm

uma intencionalidade econômica capitalista na produção de orgânicos, pois se mostram

preocupadas em alcançar meios de comercializar os produtos objetivando lucro e garantindo a

venda destes. O STR é a entidade que mais se mostra preocupada com o bem estar do

agricultor e dos consumidores. Assim, apontamos que esta entidade tem intencionalidade

mais ideológica do que econômica.

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139

CAPÍTULO V. CONFIGURAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA E DA

AGROECOLOGIA NO MUNICÍPIO DE VERÊ – PR

5.1. Caracterização geral do município

O município de Verê foi criado em 24 de junho de 1963, desmembrado do município

de Dois Vizinhos. Ele localiza-se na região Sudoeste do Paraná (figura 05) e possui área

territorial de 311,801 Km². Sua população em 2010 era de 7.878 habitantes, sendo que 58%

deste total vivem na área rural e 42%, na cidade (IBGE, 2010).

Mapa 05 – Localização do município de Verê, Paraná, Brasil

Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA,S.G. (2013)

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140

As principais atividades econômicas estão no setor agropecuário e os produtos

agrícolas mais cultivados são soja, milho e trigo. Também estão presentes, em menor

quantidade, a produção de mandioca, feijão, e cana de açúcar, conforme indicado no gráfico

07.

Gráfico 07 – Principais produtos agrícolas do município de Verê/PR, safra 2009.

Fonte: IBGE (2009). Org. MEIRA, S.G. (2013).

Gráfico 08 – Utilização das terras – Área dos estabelecimentos (ha), Verê/PR

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1985, 1995/96, 2006. Org. MEIRA, S.G. (2013).

43.800

19.060

9.750 5.280 3.740 3.000

0 5.000

10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 40.000 45.000 50.000

2009

1769

21.829

212

5479

1093 276 210

13963

4968

4263 2810 491 1.082

14.666

835

5.687

4.125

359 0

5000

10000

15000

20000

25000

Lavouras Permanentes

Lavouras Temporárias

Pastagens naturais

Pastagens plantadas

Matas e/ou florestas naturais

Matas e/ou florestas

plantadas

1985

1995/96

2006

Quantidade produzida em toneladas

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141

Apesar da maior parte das terras serem ocupadas por lavouras temporárias,

observamos que de 1985 para 2006 houve uma redução de quase 7 mil hectares das áreas de

lavouras temporárias, em contraste com um aumento de quase 3 mil hectares de matas e

florestas naturais. As pastagens plantadas nestes períodos não sofreram grandes variações.

Esses dados indicam que além do abandono de atividades agrícolas que foram substituídas

por florestas em determinadas áreas (sobretudo áreas de alta declividade), houve um

incremento da atividade pecuária leiteira no município e na região Sudoeste. Mesmo com uma

certa estabilidade das pastagens naturais e plantadas, as áreas destinadas a essa cultura são

consideráveis, indicando o aumento da produção de leite (gráfico 09).

Acreditamos que a explicação mais adequada para esse crescimento das matas naturais

está relacionada ao abandono de áreas onde a mecanização é difícil, bem como à maior

exigência legal de averbação e, consequentemente, de recomposição de áreas de preservação

permanente e de reserva legal.

Gráfico 09 – Evolução histórica da produção leiteira no município de Verê/PR. Quantidade de

leite produzido (litros/ano)

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário – 1985, 1995/96, 2006 e IBGE Cidades 2010. Org.

MEIRA, S.G. (2013).

Os dados do gráfico confirmam o crescimento da produção leiteira em Verê, que se

apresenta como uma garantia de renda para as famílias do campo. O trabalho despendido para

ordenhar as vacas exige uma dedicação diária à atividade.

As atividades agropecuárias do município estão pautadas em técnicas da agricultura

convencional, com uso intensivo de agroquímicos e maquinários. Na paisagem do município

lavouras de soja, milho e pastagens, junto com pequenas manchas de matas são

predominantes. Verê é o município mais expressivo em produção orgânica da região, como

veremos nos próximos itens.

3.022.000 3.779.000

13.048.000

21.163.000

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

1985 1995/96 2006 2010

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142

5.2. Trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia

A produção agroecológica e orgânica no município de Verê iniciou-se na década de

1990. As primeiras manifestações surgiram por parte de agricultores que começaram a

produzir orgânicos em estufas e vender em uma pequena feira que havia na cidade e

diretamente aos consumidores. Com o apoio do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor

(CAPA), que atua no município desde 1997, a organização dos agricultores, assistência

técnica e comercialização da produção foram fortalecidas. Em parceria com o CAPA, foi

fundada a Associação dos Produtores Agroecológicos de Verê (APAV), em agosto de 2001,

com a finalidade de organizar a comercialização dos produtos orgânicos e agroecológicos em

um espaço diferenciado (SAQUET, et al. 2012).

O CAPA atua com a agricultura orgânica e agroecológica no Brasil há 35 anos, desde

1978, e no sudoeste do Paraná desde setembro de 1997, com núcleo no município do Verê. O

objetivo inicial do CAPA esteve na geração de renda para os pequenos produtores familiares,

na busca pela melhoria da saúde dos agricultores e permanência da população do campo, em

especial dos jovens. A atuação do CAPA viabilizou a agricultura orgânica e agroecológica,

através de cursos de formação e assistência técnica para os interessados nesta forma de

produção, auxiliando na comercialização e na constituição de grupos para planejamento e

troca de experiências.

O CAPA é uma entidade religiosa, vinculada à igreja luterana, com uma perspectiva

de trabalho em grupo e um forte incentivo à produção de alimentos orgânicos, com destaque

para a olericultura (hortaliças e legumes) e fruticultura (com ênfase para a produção de uva).

Contudo, nos últimos anos, o plantio de maçã, pêra, pêssego, ameixa e citrus (laranja e

bergamota) vem crescendo no município de Verê por meio do incentivo desta instituição.

Essa entidade realiza um acompanhamento técnico junto às Unidades de Produção e

Vida Familiares (UPVFs), que pode ser semanal, quinzenal, mensal, dependendo da demanda

e da necessidade de cada agricultor durante o processo de cultivo dos alimentos orgânicos.

Também é importante salientar que o CAPA é constituído por uma equipe multidisciplinar

que busca levar formação aos agricultores, cobrando deles apenas a participação em palestras,

reuniões e trabalhos de campo, onde são repassados ensinamentos e técnicas de produção

vinculadas à agricultura orgânica e Agroecologia. Não há cobrança de taxa para os membros

do CAPA, pois trata-se de uma ONG que está ligada à Igreja Evangélica de Confissão

Luterana no Brasil, em que os recursos vem via igreja, que tem financiadores de ONGs

internacionais alemãs, além de convênios com prefeituras municipais.

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O CAPA acompanha 39 famílias que trabalham com a agricultura orgânica e

agroecológica nos municípios de Verê, São Jorge e Itapejara d´Oeste. Parte destes agricultores

são certificados pela Rede Ecovidano sistema participativo, instituído pelo governo federal na

legislação do Sistema Nacional de Avaliação de Conformidade. A entidade em questão

trabalha com a Rede Ecovida, pois acredita que esta possui uma proposta diferente por que se

refere ao sistema de certificação por garantia, ou seja, Sistema Participativo de Garantia.

É importante ressaltar que a Rede Ecovidabusca trabalhar dentro de uma perspectiva

participativa, com o envolvimento de grupos e trocas de conhecimento de forma solidária.

Porém, há inúmeras famílias que também trabalham com uma agricultura sem o uso de

insumos químicos, mas que não são certificadas, umas por que ainda não se encaixam no

processo e outras por que não tem interesse.

Conforme entrevista realizada com representante do CAPA em Verê, a instituição

atende entre 40 e 50 famílias que produzem de forma agroecológica, mas de forma indireta,

acompanha entre 100 e 150 famílias. É também o CAPA que organiza os projetos para a

comercialização nos mercados institucionais, através do Programam de Aquisição de

Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Com o fortalecimentos da agricultura orgânica no município outras entidades foram

surgindo com o apoio do CAPA. Primeiramente a APAV, e em seguida a Associação de

Produtores Vitivinicultores de Verê (APROVIVE) e a Cooperativa de Alimentos da

Agricultura Familiar (COAFA).

A APAV foi criada em agosto de 2001, com o auxilio do CAPA, porém é uma

associação dos agricultores. Através da APAV foi viabilizado um espaço para a

comercialização dos produtos orgânicos do município, localizado na cidade de Verê. A

associação possui um veículo que coleta alimentos das UPVFs, facilitando o escoamento da

produção. No espaço físico do mercado, os alimentos são embalados e rotulados, para serem

comercializados no próprio mercado ou transportados para mercados locais ou para escolas e

outros estabelecimentos comerciais. A comercialização no mercado da APAV permite reduzir

atravessadores, sendo benéfica para produtores e consumidores. (GAIOVICZ, 2011). A

APAV, também funciona como um meio de acesso aos recursos governamentais (PAA e

PNAE).

De acordo com Gaiovicz (2011), a APAV organizou um sistema de comercialização

com os supermercados de Verê e dos municípios vizinhos, com a montagem de bancas e

fixação de preços estabelecidos pela associação. Também há um estímulo para a participação

em feiras da região e para preparação e entrega de sacolas em domicílio.

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144

Desde 2004, outra associação de agricultores foi criada no município. Trata-se da

Associação dos Produtores Vitivinicultores de Verê (APROVIVE), direcionada

especificamente aos produtores de uva orgânica do município. O CAPA também teve

importante participação na criação da APROVIVE.

A APROVIVE é resultado do incentivo de uma agroindústria de Santa Catarina, a

Sucoeste, que se instalou na região estimulando a produção de uva. Os agricultores que

começaram a produzir tiveram apoio financeiro das prefeituras para a construção dos

parreirais, mas na primeira safra a indústria faliu e não teve como comprar a uva destes

agricultores. Com isso, as prefeituras e a secretaria municipal de agricultura passaram a se

preocupar com o destino da uva produzida para a fabricação do suco e do vinho, as quais não

eram apropriadas para consumir in natura. A partir disso, o CAPA foi chamado para dar

apoio a esses agricultores e surgiu a ideia da construção de uma indústria de sucos, a indústria

de sucos Viry. A indústria foi idealizada e pertence à APROVIVE sendo que esta está em

projeto para aumentar a produção de geléia e inserir também a produção de sucos e derivados

de frutas cítricas. (GAIOVICZ,2011).

O município de Verê também conta com uma Cooperativa de Alimentos da

Agricultura Familiar (COAFA). Trata-se de uma cooperativa criada com apoio do CAPA,

com o intuito de auxiliar o público que não é certificado. São agricultores que muitas vezes

também fazem uma agricultura mais limpa, sem uso abusivo de venenos. Através desta

cooperativa também são comercializados produtos para o PAA e PNAE.

Dessa forma, o CAPA assumiu a comercialização, mas nem todos os agricultores

continuaram a produzir de forma orgânica, mas continuaram a produzir uva. Para os

agricultores orgânicos que restaram, foi conseguido através de projeto via política de

desenvolvimento territorial da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), órgão do

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), um recurso para a compra de equipamentos

para a fabricação do suco de uva pela APROVIVE.

O CAPA atualmente atende 17 agricultores da APROVIVE, 60 associados da APAV e

60 a 70 associados na COAFA, somando um público beneficiário considerável. De forma

direta são cerca de 30 famílias que recebem visita e acompanhamento, além das escolas que

também recebem apoio por meio da educação ambiental.

Em relação à comercialização da produção orgânica dos agricultores com os quais o

CAPA atua, esta tem por destino o mercado institucional, as redes de supermercado com 50 a

70% da produção, e a demanda local, formando uma boa demanda e estabelecendo

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145

territorialidades da instituição. O técnico do CAPA afirma que essa demanda poderia ser

maior se tivesse mais oferta, ou seja, mais agricultores envolvidos.

Outra instituição citada nas entrevistas como parceira dos agricultores foi a

Cooperativa de Crédito Rural e Interação Solidaria (CRESOL), mesmo não tendo nenhuma

atuação específica com a agricultura orgânica. Porém, por ser um sistema que oferece crédito

aos agricultores, é considerada uma parceira.

O Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), que é a

instituição pública responsável pela assistência técnica e extensão rural no estado do Paraná, é

citado por agricultores e técnicos como uma entidade parceira. Contudo, cabem ressalvas em

relação a essa participação, pois não há um trabalho específico em agricultura orgânica. Ao

contrário, historicamente a EMATER vêm sendo uma das principais incentivadoras de

práticas da agricultura convencional (uso de agroquímicos, sementes híbridas e transgênicas,

mecanização, etc.). No município de Verê, a EMATER vem trabalhando principalmente com

três cadeias produtivas: o leite, grãos e fruticultura.

No entanto, um dos entrevistados da EMATER, N.B. afirma que essa falta de atuação

com a agricultura orgânica e a Agroecologia se dá em virtude do município já ter uma

entidade que trabalha exclusivamente este tipo de produção, o CAPA. Assim, afirma que a

EMATER trabalha mais com a questão ambiental, com a uma produção sustentável, no que se

refere ao controle e menor uso de agroquímicos. Para justificar essa lacuna, ressalta que,

como a EMATER é um órgão que representa o governo, ela não pode escolher uma fatia de

produtores, pois trabalha com programas de governo e com programas municipais. Dessa

forma não se vincula diretamente com a produção orgânica/agroecológica, indicando que não

há uma intencionalidade em desenvolver e ampliar a agroecologia em Verê ou mesmo em

outros municípios paranaenses.

Ainda segundo o técnico entrevistado, faltam pesquisas sobre a questão

orgânica/agroecológica, mas a EMATER sempre está participando das reuniões e debates

com o CAPA. Coloca que a produção orgânica/agroecológica não consegue suprir a demanda

por alimentos em larga escala, fato muito comentado por aqueles que buscam minimizar a

importância e a complexidade de agroecologia.

Já o Sindicato dos trabalhadores rurais (STR) de Verê, exerce diferentes funções de

apoio trabalhista e sindical aos agricultores familiares, não agindo diretamente no âmbito da

produção. O STR não atua de forma direta com a agricultura orgânica e Agroecologia, mas

participa de todos os encontros e também faz um trabalho em um programa na radio, onde

tem o espaço para o debate sobre o produto orgânico. Dessa forma, pode-se ressaltar que o

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146

Sindicato trabalha dentro de uma ótica de incentivo e motivação para a produção de alimentos

orgânicos/agroecológicos, buscando levar informação e apoio as entidades que trabalham no

município.

Em entrevista realizada com o secretário de agricultura M. J., este destacou que no

município não existe uma política especifica que apoie a agricultura orgânica. A prefeitura

apenas cede um técnico que trabalha junto ao CAPA. Assim, a secretaria busca acompanhar e

apoiar as iniciativas do CAPA e da APAV. Não há orçamento especifico destinado à

produção orgânica e agroecológica, nem estrutura para esse tipo de trabalho. Dos oito técnicos

da Secretaria, apenas um trabalhava em parceria com o CAPA e outro na COAFA.

A Secretaria não tem nenhum registro dos produtos e da quantidade adquirida nos

programas institucionais (PAA e PNAE). O entrevistado afirma que talvez a Secretaria de

educação faça o controle do que é destinado a esses mercados.

Quanto à política de controle do uso de agrotóxicos, destaca que em Verê existe a

proibição do herbicida “2 4 D” no controle de ervas daninhas por meio de uma lei municipal.

Contudo, o Secretário mostra-se preocupado com o uso de agrotóxicos, ao afirmar que “as

pessoas pensam que a palavra agrotóxico é mais leve e ameniza os fatos, do que estar

falando em veneno, até por questão de venda, por que as agropecuárias estão preocupadas

apenas em vender, pois ganham porcentagem na hora da venda. Então, quanto mais eles

puderem vender melhor para eles”. (informação verbal, 2012). Nesse sentido, a Secretária

afirma que se preocupa em fazer alguns cursos para que o agricultor consiga pelo menos

diminuir o uso de agrotóxicos.

M.J. entende que a agricultura orgânica e a agroecologia são percebidas como uma

excelente saída sobretudo para a saúde, principalmente em relação ao câncer. Por isso, a

preocupação em tentar reduzir a quantidade de veneno e, de preferência, conseguir investir

mais na agroecologia. Como o trabalho é maior, o preço também precisa ser melhor para

aqueles que trabalham com agroecologia.

Como problemas para o desenvolvimento da agroecologia, foram apontados pelo

secretario de agricultura a falta de incentivo estadual e municipal; a dificuldade em se cultivar

orgânicos, sobretudo o trabalho braçal; e a falta de conhecimento dos agricultores sobre os

efeitos nocivos do uso de agrotóxicos. No entanto, parte dessas ações deveria ser executada

pela própria Secretaria de Agricultura, que apesar de um discurso favorável à agricultura

orgânica, pouco vem fazendo para implementar um processo de conversão e de fortalecimento

dessas iniciativas frente o agronegócio.

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5.3. Intencionalidades dos técnicos e gestores

Analisando a trajetória da agricultura orgânica e da Agroecologia em Verê, através da

atuação das entidades que atuam com estas formas de cultivo, podemos dizer que as mesmas

se originaram e se fortalecem no município a partir da presença do CAPA, que foi

incorporando instituições para somar forças no trabalho com a agricultura orgânica e a

Agroecologia.

Os entrevistados da EMATER, afirmam que a entidade trabalha com a questão

ambiental, e apóia uma produção mais sustentável. Também participam de debates e reuniões

realizadas pelo CAPA, porém, demonstram um discurso confuso em relação as questões

pertinentes a agricultura orgânica e agroecológica, afirmando que como existem outras

instituições que trabalham com isso no município, não evidenciam interesse em atuar nesta

área. Como a EMATER é um órgão comandado pelo governo do estado, sua atuação está

vinculada a intencionalidades políticas do governo vigente, que nada vem fazendo em termos

de políticas públicas de apoio à agricultura orgânica e, muito menos, à Agroecologia.

Para o entrevistado da CRESOL, A.S., a Agroecologia seria um processo mais

complexo que a agricultura orgânica, pois considera o manejo de toda a propriedade (reservas

florestais, a proteção da água, a policultura). Embora o entrevistado possua um conhecimento

bastante coerente em relação a agricultura orgânica e a Agroecologia, não possui uma

intencionalidade específica em relação a estas formas de cultivo.

As contradições apresentadas na fala do secretário de agricultura M. J., demonstram

uma grande diferença entre o discurso e as ações efetivadas. A disponibilização de um técnico

para acompanhar o CAPA é a única ação efetiva por parte da prefeitura. Por outro lado,

apesar da secretaria se mostrar preocupada com o uso de agrotóxicos, não foi apresentado

nenhum projeto ou ação voltado a essa questão. Fica claro que a secretaria trabalha para a

manutenção do modelo da agricultura convencional. As poucas ações na área da agricultura

orgânica ocorrem mais por pressão do CAPA e de agricultores do que por uma

intencionalidade política e ideológica de apoio a uma agricultura que vise ser sustentável.

Desta forma, a secretaria de agricultura e o seu representante também não possuem uma

intencionalidade definida em relação a produção orgânica e agroecológica do município.

Segundo o entrevistado do STR A.C.C., que é presidente da entidade e também

agricultor, o sindicato trabalha pela qualidade de vida. Ele afirma que a instituição defende

uma produção de qualidade e, preferencialmente orgânica, não só verduras, mas também de

carne, queijo, leite, pois parte da perspectiva de que “o produto que não serve para o produtor

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não serve também para vender” (informação verbal, 2011). Pelo discurso do entrevistado,

podemos dizer que ele possui uma intencionalidade ideológica em relação à agricultura

orgânica e a Agroecologia, porém sua fala é mais de agricultor do que de representante do

STR.

Quando observamos a APAV, percebemos que além do respeito ao consumidor há

valorização cultural e ambiental, facilitando o contato direto com os produtos e também com

os produtores. Isso permite estabelecer uma relação afetiva entre os envolvidos, pois os

interesses dos consumidores e dos produtores são atendidos através da garantia do consumo

de alimentos saudáveis. A funcionária entrevistada da APAV, F.C., também é agricultora

orgânica e, assim como a instituição que representa, suas intenções com a produção

agroecológica e orgânica são ideológicas e econômica básica.

No entanto, destaca-se no município de Verê o trabalho do CAPA, seja no apoio

técnico à produção, seja no processamento e comercialização de produtos oriundos da

agricultura orgânica. As intencionalidades do CAPA e também do entrevistado J.A.L, são

evidentemente ideológicas, pois a atuação do CAPA está voltada ao fortalecimento da

agroecologia, por meio da qual visa ampliar a autonomia e a qualidade de vida das famílias

agricultoras, garantindo apoio para resolver problemas ligados à produção. Todavia, também

percebemos uma intencionalidade econômica básica, pois a entidade busca viabilizar

mecanismos de comercialização, seja de forma direta com os consumidores, seja em

mercados institucionais do governo federal, como o PAA e PNAE.

De maneira geral, o trabalho das entidades no município é de grande importância para

o desenvolvimento da agricultura orgânica/agroecológica, uma vez que são as entidades que

viabilizam a comercialização e estimulam a produção de forma consciente e limpa. No

entanto, a atuação do CAPA em Verê é um diferencial positivo, fundamental para o

desenvolvimento deste município no contexto da produção orgânica e sobretudo

agroecológica da região Sudoeste do Paraná.

5.4. Agricultores orgânicos e agroecológicos de Verê

No município de Verê há atualmente 27 agricultores, classificados como

agroecológicos ou orgânicos. Considerando essa quantidade de UPVFs, optamos por

pesquisar e apresentar treze, as quais já possuíamos algum conhecimento.

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5.4.1. V.B. e V.L.C.B

A UPVF localiza-se na comunidade Colônia Nova e o casal reside na propriedade há 8

anos, apesar de trabalharem na mesma há 30 anos. V.B. reside no município há 53 anos e a

esposa há 30 anos. Os entrevistados foram V.B., de 55 anos e V.L.C.B., de 48 anos.

Atualmente apenas o casal continua vivendo na propriedade, pois as duas filhas vivem na

cidade no município de Verê.

A gestão da propriedade é familiar e o casal desempenha a maioria das funções juntos.

Não contratam pessoas para trabalhar, trocam dias de serviço com os vizinhos, o pai e o

irmão. A UPVF é parcialmente orgânica.

A área total da propriedade é de 12,1 hectares, atualmente distribuídos da seguinte

maneira: 4,84 hectares de culturas temporárias (milho, soja, feijão, moranga, amendoim,

pipoca, batata e mandioca,); 20 pés de culturas permanentes (pomar); alguns pés de banana;

6,05 hectares de pastagens permanentes; 1,21 hectare de mata nativa, capoeira, reserva legal e

silvicultura; 6,05 hectares de pastagens plantadas (forrageiras: aveia, azevem e ervilhaca),

sendo que parte desta pastagem é cultivada em áreas também utilizadas para o plantio de

milho e soja, nos períodos de entre-safra. Há também um açude com peixes para o consumo.

Na última safra de milho colheram 200 sacas, com semente comum e sem adubo

químico, mas utilizaram agrotóxico para limpar. Possuem suínos e galinhas e plantam

verduras no sistema orgânico para consumo da família. Tiram entre 800 e 1.000 litros de leite

por mês, com quatro vacas em lactação. Não possuem ordenha mecânica, comercializam o

leite com o laticínio Alto Alegre e recebem R$ 0,64 por litro. Também fazem queijo, açúcar

mascavo e rapadura, mas somente para o consumo. O melado também é para o consumo da

família e, se sobra um pouco, vendem para conhecidos e amigos.

Boa parte dos alimentos orgânicos produzidos são vendidos na APAV. Disseram que

se produzissem mais, teriam a venda garantida. Para o quilo de mandioca, a APAV paga R$

0,70. Como tiraram 400 kg de um espaço pequeno, isso rendeu R$ 300,00. Se tivessem

plantado milho nesse espaço, colheriam meio saco, o que renderia em dinheiro R$ 10,00.

Então, é por isso que acreditam que a agricultura orgânica viabiliza a pequena propriedade

financeiramente.

Não há retorno de produtos que são direcionados para a comercialização, pois a

quantidade que vai para a merenda escolar é definida anteriormente e todas as semanas

entregam alguma coisa para a APAV repassar para a merenda escolar.

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Quanto à renda dizem que varia, pois com os fretes que V.B. faz, com sua

caminhonete Ford F 4000, na safra chega a tirar R$ 5.000,00 só de frete por mês. A renda

agrícola mensal provém do leite e dos produtos orgânicos, que no momento entregam na

APAV. A mandioca e as frutas (laranja e ponkan principalmente) são vendidas para a

merenda escolar através do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), nos municípios de

Verê, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos.

Em relação aos maquinários, compraram uma caminhonete e um micro trator (tobata)

(foto 14), há 4 anos. Têm um motor elétrico há 8 anos para triturar o milho e fazer forragem,

além de um motor a gasolina para o engenho e debulhador de milho, há 30 anos.

Foto 14. Pequeno trator para trabalhos diversos

Fonte: MEIRA, S.G.Trabalho de campo, 30/06/2012.

O campo aos poucos se moderniza, mas ao mesmo tempo mantém objetos, técnicas e

saberes do passado. Portanto, percebemos que coexistem as temporalidades na UPVF da

família B., através das técnicas que utilizam e de sua participação em entidades como a

APAV, STR e cooperativas de crédito como a CRESOL.

O uso de ferramentas como a enxada para limpar o terreno, corresponde a uma

temporalidade mais antiga, a um ritmo mais lento que ainda permanece. O fato de utilizarem

as fases da lua para plantar, também. Já a posse de celular, antena parabólica na propriedade e

de uma caminhonete e um trator usado para serviços diversos, bem como a inserção em redes

através da atuação em entidades já citadas, leva a temporalidades mais recentes, a um ritmo

mais rápido, e evidencia as territorialidades da família.

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Essa família trabalha com agroecologia há 10 anos. Optaram por este tipo de

agricultura para ter uma alimentação diferenciada e saudável (com menos venenos), para

cuidar da natureza e da sustentabilidade ambiental, e também para ampliar o lucro, pois a

renda familiar aumentou depois que passaram a comercializar os produtos orgânicos, se

tornando hoje, a cultura mais importante economicamente para família. Optaram pela renda e

pela saúde. Afirmam que se pudessem, trabalhariam só com orgânicos em virtude da saúde.

Aprenderam a cultivar alimentos orgânicos através de palestras, visitas e acompanhamento

dos técnicos do CAPA (Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor).

Para o casal entrevistado, “a agricultura orgânica se encaixa com a Agroecologia, que

envolve todo sistema, não tem uso de veneno, é natural, ajuda a biodiversidade, melhora a

saúde e não destrói a natureza” (informação verbal, 2012). A parte orgânica da UPVF é

pequena porque têm pouca mão de obra. A agricultura orgânica está nas áreas destinadas à

mandioca, batata, pipoca e amendoim. Afirmam que se tivessem mais mão de obra,

cultivariam toda propriedade de forma orgânica e acham que daria mais lucro.

Quanto às sementes utilizadas na produção, a pipoca foi adquirida através de troca na

Casa Familiar Rural do município de São Jorge d’Oeste. A semente de amendoim é própria; a

de batata doce adquiriram com uma conhecida. As sementes de moranga e abóbora foram

compradas no mercado. As mudas de mandioca vieram de Marmeleiro, através de uma irmã.

Para controle de insetos utilizam um repelente composto por uma mistura de 1 litro de

álcool, 30g de pimenta em grão, 3 cabeças alho e meia cebola. Utilizam 30 ml desse

concentrado em 20 litros de água. Quanto às plantas espontâneas, o controle é feito com a

enxada.

A certificação dos produtos é vista como importante. O casal afirmou que têm

certificação, mas nunca houve fiscalização na UPVF, pois são somente dois técnicos para

fazer a fiscalização. A propriedade é certificada pela Rede Ecovida.

Quando começaram a plantar orgânicos, mantiveram as lavouras de soja e milho

convencional. Relatam que o trabalho para colher e lavar cerca de 200 kg de mandioca é

grande e penoso, sobretudo quando chove.

Segundo V.B., as vantagens da agricultura orgânica são; a) a produção mais saudável

b) o lucro que deriva de um custo de produção mais baixo, sendo possível observá-lo mesmo

sem fazer cálculos. Quanto às desvantagens, o agricultor aponta que a produção orgânica

precisa de maior uso de mão de obra, (sobretudo para limpar a terra), pois há falta mão de

obra. Não há assistência do governo, e uma política de incentivos aos jovens para que eles

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fiquem trabalhando no campo. Além disso, V.B. tem problema na coluna, o que dificulta o

trabalho na lavoura.

Quanto ao aspecto ambiental, a UPVF, possui SISLEG, tem duas fontes de água

protegidas com mata, utilizam a água do poço artesiano da comunidade (como reserva), além

da água da fonte. Nunca fizeram análise e também nunca tiveram problemas com falta e

qualidade da água. Para as águas utilizadas na casa possui fossa séptica. O lixo orgânico é

usado como adubo, através de compostagem. Os dejetos animais são utilizados na lavoura. O

lixo reciclavel é levado até a cidade para coleta.

O solo encontra-se bem conservado, e com boa fertilidade. Faz plantio direto e tem

curva de nível, para conservar o solo. O consorciamento de cultura é feito esporadicamente.

Podemos perceber que o casal tem uma intencionalidade ideológica forte quando

falam de agroecologia e agricultura orgânica, ao destacar a questão da saúde e da consciência

ambiental. Porém, a intencionalidade econômica também é presente, sobretudo a partir do

momento em que a família percebeu que a agricultura orgânica gera uma renda satisfatória.

De modo geral, podemos observar que nessa UPVF predomina o tempo médio, que

pode variar de 10 a 100 anos. Por relacionar-se aos acontecimentos que contemplem durações

mais longas, é possível identificar permanências e mudanças técnicas, econômicas e sociais

efetivadas.

Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e parcialmente orgânica,

entendemos que a família possui uma intencionalidade econômica básica, prevalecendo uma

intencionalidade ideológica. A produção é diversificada e possuem certificação. Assim,

podemos classificar esse estabelecimento rural como uma UPVF parcialmente orgânica com

certificação.

5.4.2. V.J. e família

Foram entrevistados V.J. (44 anos) e N.J. (39 anos). Ambos nasceram no município,

na comunidade de Águas do Verê, onde residem. O casal têm dois filhos, mas somente a filha

e o casal vivem na UPVF. O filho fez curso técnico em agropecuária e foi contratado pela

CRESOL de Dois Vizinhos.

V.J tem a terra em conjunto com a mãe, mas cada um usa uma parte do terreno. No

total, a propriedade possui 17,66 hectares. A parte em que N. e V. trabalham é 5 hectares,

cultivados de forma orgânica, divididos em: 9 mil m2 de parreira, 7 mil m

2 de horta e 2 mil m

2

de potreiro.

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Faz 12 anos que produzem orgânicos. A renda é boa, chegando a mais de um salário

por mês. Entregam segunda-feira e quinta-feira na APAV. Quando a produção é baixa, eles

mesmos levam até a cidade, mas, na maioria das vezes, o carro da APAV recolhe. Entregam

frutas (bergamota e laranja), recebendo R$ 1,20 por kg de fruta. O que é maior, de melhor

aparência vai para escola, enquanto as frutas menores são usadas para suco. A associação

ainda perde safra porque não tem onde armazenar tudo. O suco sai embalado para congelar e

no verão, a APAV entrega-o nas escolas. No inverno, mandam as frutas in natura.

Todo produtor tem seu planejamento junto a APAV, realizado no início da safra para

entregar no PAA. Por mês, a família planta duas bandejas de brócolis, duas de couve flor,

uma de repolho, 25 m2 de canteiro de cenoura e 10m

2 de rabanete. Então, fazem o

planejamento interno da produção para nunca ficar sem produto. Assim, quase não há sobras.

O que sobra, vai para cozinha da APAV e eles transformam em doces, geleias e conservas.

Plantam feijão para consumo. Há três anos, plantavam tudo embaixo do parreiral e

vendiam tudo na APAV. Alguns vizinhos vinham buscar, e vendiam a R$ 3,00 o kg, enquanto

o convencional estava a R$ 1,80 Kg. Plantam mandioca e batata só para o consumo próprio.

Vendem amendoim e milho de pipoca, tudo orgânico. A APAV liga para pedir se tem

produção disponível para venda destes itens. Se aumentar a horta, vão plantar mais

amendoim. “Dá bastante mão de obra, mas vende bem” (informação verbal, 2012). Também

plantam tomate, cenoura, pepino, repolho, rabanete, feijão de vagem, tempero, brócolis couve

flor e vagem.

Produzem uva francesa (2.000 pés). Colheram 8 mil kg na safra de 2010/2011. Essa

safra (2011/2012) teve uma queda alta, de modo que a produção caiu para 4.500 kg. Tudo foi

vendido na APAV pra fazer suco.

Também produzem leite, de 700 a 800 litros por mês. Têm seis vacas em lactação e

comercializam o leite no laticínio Bom Sucesso. Recebem R$ 0,67 o litro.

A cana não cresceu em 2012, então não fizeram açúcar mascavo e melado, mas fazem

sempre para o consumo da família. V. diz que “os filhos perdem e devagar alguns vão

resgatando o que o pai gostava de fazer” (informação verbal, 2012).

Possuem suínos, bovinos, patos, ovelhas e galinhas caipiras para consumo. Fazem

suco para guardar para o consumo, de bergamota, laranja e tangerina, além de conservas e

geleia. Fazem extrato de tomate com o que o mercado não aceita para venda in natura. Tudo o

que não vendem é transformado para o consumo familiar. A família afirma que vende tudo o

que produz, não tendo problemas com a falta de comercialização. Mesmo estando fora do

planejado, a APAV aceita produtos, porque tem muita saída.

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Para o casal, a Agroecologia é uma maneira de melhorar as condições de vida e as

condições financeiras e de saúde. O que se gasta é a semente e seu trabalho, mas produz-se

tudo em volta da casa. Os adubos são compostagem de ovelha e folhas. Produzem mudas e

produtos pra controlar os insetos. Só compram sementes.

O controle dos insetos é feito através de urina de vaca, folha de angico, arruda, dipel,

pironim, triconat, bebinat, mas para passar na muda, para fortificar, para o grilo não cortar as

mudas colocam envolta garrafa pet, com aproximadamente 15 cm de altura. Assim, grilos,

formigas, rugas e lesmas não conseguem subir na muda, porque escorregam. Foi V. J. quem

inventou essa técnica, disseminada posteriomente para outros agricultores. “O produtor vai

tentando inventar técnicas na prática para suprir suas necessidades” (informação verbal,

2012). Por exemplo, técnicas usadas no tomate (faz fogo na estufa quando é frio). Usam

homeopáticos para os animais há 5 anos e só fazem vacinas da febre aftosa e carbúnculo. Não

usam antibióticos.

Na opinião do casal, seria necessário mais apoio do governo para que outros

agricultores aderissem à produção de alimentos orgânicos. Afirmaram que tentaram buscar

recursos mas há muita burocracia e dificuldades de acesso. “O cara tem que ser teimoso pra

trabalhar, tem que gostar e todo dia estar ali dando uma olhada” (informação verbal, 2012).

V. J. não incentiva ninguém a plantar. Diz que começou por curiosidade, pra ver se dava

certo. Por utilizar mais mão de obra, o trabalho cansa, porém não é um trabalho penoso. Pelo

menos não usa veneno. As plantas espontâneas são tiradas na foice e na enxada, e parte é

deixada como cobertura do solo, pois isso protege a planta e depois que cresce não suja o

produto por ter cobertura na terra.

V. J. começou com a uva há 12 anos, e depois de um ano começou a plantar verduras.

Plantava 6,05 hectares de roça mecanizada e não queria deixar isso, mas no final do ano

acabava tudo em dívida, pois ao pagar o financiamento, não sobrava quase nada. Agora, essa

parte é arrendada. Trocou com sua mãe, um pedaço de terra menor e mais próximo, para

plantar milho orgânico. Usa o trator da associação para plantar o milho.

Fizeram cursos do CAPA, a esposa participa quando é sobre horta, e V. J. quando é

sobre parreira. Optaram pela Agroecologia para fazer um teste. Não pensou naquele momento

em lucro ou outra coisa, “mas tava enjoado de usar veneno” (informação verbal, 2012).

Melhorou muito a alimentação, com produtos mais saudáveis. A cultura que mais rende é o

brócolis porque colhe várias vezes (30 a 40 dias) em um único pé. A salsa e a cebolinha

também rendem bem.

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Tem certificação da Rede Ecovida. O estabelecimento rural tem o selo registrado no

Ministério da Agricultura. Diz que cada produtor tem um código que é nacional, e ele tem o

seu próprio registro.

Quanto a mão de obra, só contratam na colheita da uva e não trocam dias de serviços,

pois “não há mais mão de obra para isso” (informação verbal, 2012). A família possui

algumas ferramentas e máquinas antigas. Usam carroça, enxada e arado de tração animal.

Têm uma trilhadeira do ano 1977 e um motor a gasolina, também do ano 1977, usado como

forrageiro para a moenda de cana.

Foto 15. V.J com os bois e a carroça

Fonte: MEIRA, S.G. trabalho de campo, 03/07/2012.

O agricultor diz não ter interesse em adquirir equipamentos novos. Acha que tem que

trabalhar manualmente por conta da saúde, para se exercitar.

Quanto às temporalidades, observamos que o trabalho é feito todo de forma manual,

com tração animal, por opção dos agricultores, indicando um ritmo lento. Ao mesmo tempo,

são sócios de entidades e estão sempre buscando técnicas rústicas que se adaptam à produção

agroecológica. Então, podemos dizer que essa família vive e trabalha em um ritmo mais lento,

mas também está inserida em temporalidades mais recentes, através de sua atuação política e

das redes que estabelece com o mercado, sobretudo da APAV (via PAA ou venda em

mercado próprio).

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Os dois se preocupam com o aspecto ambiental. A água para consumo vem de poço

artesiano. Para horta tem fonte própria. Já tiveram problemas com falta de água no verão. O

esgoto do banheiro e chuveiro tem fossa séptica. Para a pia da cozinha tem um buraco com

pedra, o lixo seco. A coleta de lixeiro ocorre uma vez por semana. Com o lixo orgânico

alimentam os animais e usam pra adubo, assim como o esterco animal. A propriedade tem

SISLEG e faz divisa com o rio Chopim. Para conservar o solo usam adubação verde e

entendem que a fertilidade do solo está boa.

Quanto ao lazer da família participam de igreja, festas, assistem TV, realizam visitas

entre familiares.

Percebemos que a intencionalidade do casal em produzir orgânicos é ideológica, pois

em primeiro lugar apontam a saúde como objetivo da produção orgânica. No entanto, a renda

também aparece como objetivo, porém é complementar a outras atividades, como o leite.

A UPVF da família, de acordo com a tipologia estabelecida é agroecológica, pois a

terra que pertence a família é toda cultivada sem o uso de insumos químicos; a maior parte do

trabalho é realizado pelo casal e pela filha, que residem na UPVF; as atividades são

diversificadas, possuem apenas 5 hectares de terra, comercializam mais de cinco produtos, e

possuem produção para consumo familiar.

Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, entendemos

que a família possui uma intencionalidade econômica básica, prevalecendo uma

intencionalidade ideológica. A produção é diversificada, e possuem certificação.

Classificamos essa UPVF como agroecológica com certificação, que dentro da tipologia

proposta, estaria no grupo das UPVFs mais próximas dos fundamentos da Agroecologia.

5.4.3. D.C. e F.C.

A família é composta por quatro pessoas, mas apenas o casal reside na UPVF. Uma

das filhas estuda em Dois Vizinhos e a outra reside no Rio Grande do Sul. O casal está no

estabelecimento rural desde 1981, há 31 anos. O entrevistado foi D.C., que é quem trabalha na

propriedade. Ele não contrata mão de obra, mas troca dias de serviço com alguns vizinhos.

A propriedade tem apenas 2,42 hectares e a reserva ocupa mais de 20% da

propriedade. Têm 6 estufas, 35 pés de citrus, alguns pés de pera, maça, pêssego e ameixa,

mandioca, batata doce, milho, alho. Toda a produção é orgânica. Plantaram aveia para

alimentar as ovelhas e depois vão plantar de 1.000 a 1.200 pés de abobrinha a partir de

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setembro de 2012. Têm 3 bezerros, 5 ovelhas, suíno e galinhas de granja para o consumo,

além de uma cabra para produção de leite.

Produz alface, pepino, vagem, feijão, frutas (citrus), abobrinha, repolho, tomate,

rúcula, chicória. A cultura mais importante é a alface e o tomate, cada um em sua época.

Chegam a colher 700 kg de tomate por estufa, e comercializam a R$ 2,50 o kg. Não fazem

geleias e conservas em casa, pois levam para a cozinha da APAV. Os alimentos “de segunda”

são industrializados na cozinha da Associação. A APAV paga o valor in natura para o

produtor, mas a transformação dos produtos agrega valor, com este recurso são pagas as

contas de luz, telefone, água, funcionários e despesas com o transporte dos alimentos.

Quanto às construções, possuem 6 estufas, casa e chiqueiro. Os maquinários utilizados

são: uma trilhadeira (foto 16) que fica no meio da lavoura coberta com lona, e funciona a

diesel. Também possuem uma microtobata, do ano 1973. O milho é plantado com a tobata e

enxada.

Foto 16. Trilhadeira

Fonte: MEIRA,S.G. Trabalho de campo, 30/06/2012.

Possuem lavador de cenoura, beterrada, batata doce, mandioca, amendoim. Lavam 40

kg de produto por vez, facilitando bastante o trabalho. Os objetos utilizados para produção

caracterizam temporalidades existentes na UPVF. Eles são simples, mas modernos ao mesmo

tempo, pois é tecnologia adaptada para a produção orgânica em pequena escala, como uma

plantadeira de cenoura. Desta forma, coexistem equipamentos antigos e modernos, de

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temporalidades distintas. Há que se considerar também a atuação política e o envolvimento

desta família com as entidades parceiras da Agroecologia no município. Sucatas de carroça

são utilizadas para decoração. A UPVF é bem cuidada e organizada.

As sementes são compradas. Algumas são crioulas, e D. C. acha fácil comprar as

sementes, mas diz que o preço é caro por ser orgânica. “O pessoal paga mais pela semente,

mas vendem mais caro. Os consumidores entendem que o orgânico vale mais” (informação

verbal, 2012).

Entende por “Agroecologia em primeiro lugar a saúde da família. Não adianta ter

estufas e trabalhar com química. Em segundo lugar, consciência de mandar um pé de alface

ou qualquer hortaliça para uma criança consumir na escola” (informação verbal, 2012).

D.C. relata que a Agroecologia é mais ampla que a agricultura orgânica, mas não entra em

detalhes.

A dificuldade que relata é na mão de obra, pois D.C trabalha sozinho na propriedade

durante a semana. Tudo que produzem é vendido. Há 12 anos comercializam na APAV, mas

já plantavam alguns produtos orgânicos antes. Nunca perderam nada. Quando produzem mais,

vendem mais barato. Entregam na APAV, que vende no mercado, para o PAA e para a

merenda escolar. Também comercializam em casa e nos bairros da cidade. No sábado, quando

têm excedentes, vendem para pessoas que não vão comprar na APAV.

Fazem as mudas, mas só para uso próprio. Fazem supermagro para usar nas estufas,

com esterco de vaca, de suíno de boa qualidade sem químico, melado, leite e alguns produtos

que vem de Marechal Candido Rondon: fósforo e potássio. Fornecem para outros agricultores

que encomendam. A atuação do produto é de repelente e adubo foliar. Também fazem calda

bordaleza. Possuem barreira de capim no limite da propriedade, como forma de proteger sua

produção, dos agrotóxicos usados por vizinhos.

No início do cultivo de alimentos orgânicos, sofreram muito com os insetos

(vaquinha). A Rede Ecovida não aceitava o uso do Dipel (agora aceitam). O insumo que D. C.

mais usa é o super magro, no pepino e na abobrinha. No tomate, quase não usa insumos, pois

afirma que o solo está controlado. Na alface deixa alguma cobertura verde (plantas

espontâneas) no solo.

D.C foi um dos primeiros a ter certificação no município. Diz que faz 10 anos que a

produção orgânica aumentou em Verê. Aponta que para mais produtores se interessarem, “já

foi tentado de tudo e mais um pouco, mas o pessoal não quer pegar na enxada, porque dá

serviço. Ninguém quer pegar no pesado” (informação verbal, 2012).

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A certificação é uma garantia, uma prova que o consumidor tem. D. C. não vê

desvantagem nisso e tem selo da Rede Ecovida. As caixas vão separadas para Curitiba, todas

identificadas com o código do produtor. Se der problema, sabe de quem é.

Aprendeu a cultivar com o CAPA e faz parte do conselho. Diz que o papel do CAPA é

incentivar o pequeno a plantar sem veneno, mas demorou para acreditar que iria dar certo.

Antes plantava milho, feijão e mandioca. Mudou para os orgânicos depois que fizeram a

estufa. Novos produtores tem que ter consciência. “Jovem é difícil, querem trabalhar na

cidade e os com idade é complicado porque dá mais trabalho. Se fosse há 20 anos atrás, a

agroecologia poderia ser diferente. Mais pessoas se interessariam.” (informação verbal,

2012).

A fonte de renda da propriedade está nos orgânicos produzidos e em um salário que a

esposa recebe da APAV, pois trabalha há 12 anos no mercado da associação. Porém, ela não é

registrada porque se fosse não conseguiria se aposentar como agricultora. O casal tem bloco

de produtor em conjunto, sendo registrados como agricultores. A renda com a produção é

satisfatória. Afirma que se em 2,42 hectares plantasse milho e soja, teria no máximo duas

safras, e consequentemente duas rendas. Assim, têm renda mensal e semanal, pois o que

entrega na APAV recebe mensal e o que vende fora, recebe semanal. “Quem tem pouca terra

tem que plantar verdura para sobreviver” (informação verbal, 2012).

A caminhonete da APAV vem buscar os produtos e são cobrados R$ 2,00 por viagem.

Quando vai comercializar nas residências, leva de tobata.

O que mandam de produto não volta nada, porque a produção é planejada. Na merenda

é tudo planejado, as escolas que dizem o quanto querem por semana e é feito um projeto com

a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), conforme o pedido das escolas. A

APAV manda produtos para colégios estaduais de Pato Branco, Francisco Beltrão e Verê.

Quando não tinham planejamento, conta que em um ano onde todos os agricultores orgânicos

plantaram tomate, tiveram que vender a preço convencional.

D.C. diz que já participou e ainda participa de cursos. O agricultor não começa a

produzir sem ter o curso, sempre participa das atividades, como festa das sementes e cursos

realizados. Pretende começar a fazer os cálculos depois do curso “De olho na qualidade rural”

que fizeram. Mesmo sem fazer os cálculos, diz que sobra um bom dinheiro.

Já fez financiamento para as estufas há 6 anos atrás, mas agora não tem nenhum

financiamento. A APAV tem um fundo rotativo para auxiliar os agricultores.

Não tem SISLEG. Tem fonte protegida para consumo da água de casa e poço

artesiano. Tem fossa séptica pra tudo (tanque, banheiro, pia). O lixo reciclável doa para

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pessoas que recolhem os resíduos para sobrevivência. O lixo orgânico, resto de comida, serve

de alimento para os peixes.

O solo está fértil. Fez análise e vai usar apenas uma tonelada de calcário este ano.

Planta arroz para o consumo e vende o excedente. Aproveita a galhada da poda das árvores da

cidade para fazer lenha e das folhas, compostagem.

D.C. trabalha com a intenção e conscientização ideológica de produzir um alimento

mais saudável, não apenas pra família, mas para os consumidores. Sua intencionalidade com a

agroecologia também se remete a viabilizar financeiramente a pequena propriedade.

Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, entendemos

que a família possui uma intencionalidade econômica básica, prevalecendo uma

intencionalidade ideológica. A produção é diversificada, e possuem certificação. Portanto,

classificamos esta UPVF como agroecológica com certificação.

5.4.4. Família C.

A família é composta por cinco pessoas. Residem no município de Verê e na

propriedade na Vila Colonial há 50 anos, desde que chegaram do Rio Grande do Sul. Os

entrevistados foram V. C. e a esposa C.C. A gestão da propriedade é familiar e não contratam

mão de obra. Às vezes trocam dias de serviço com alguns vizinhos.

A propriedade tem 21,78 hectares e o uso do solo é distribuído da seguinte forma: 2,42

hectares de culturas temporárias (milho e mandioca); 1,21 hectares de cultura permanente

(parreiral e frutas); 3,63 hectares de pastagens permanentes; 1,21 hectares de reflorestamento;

área de capoeira; e área de reserva legal (20%).

Produzem 2,42 hectares de milho e mandioca (4 a 5 toneladas) por ano;

comercializaram em média 500 kg de frutas em 2011, mas esse ano, 2012 venderam em torno

de 3.000 kg. Quem cuida da horta é a esposa. Um filho ajuda V. no trabalho com as vacas e

outro cuida das frutas.

Possuem 13 vacas em lactação, que produzem 4.500 litros por mês em média. Vendem

para o laticínio Alto Alegre e recebem R$ 0,74 o litro. Comentam que começaram a produzir

leite orgânico, mas não recebiam a mais por isso. Mesmo assim, usam homeopáticos e tentam

evitar o antibiótico.

Tem bovinos, suínos e aves para consumo e vendem ovos excedentes. A mulher faz

extrato de tomate, queijo, geleias, compota de milho verde, ervilha, doces, mas só para o

consumo. Também tem uva para o consumo.

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Tem trilhadeira do ano 1978, motor a diesel de 1973, motor elétrico e moedor de

milho. Diz que o município é dividido em setores que usam tratores de associações. Pagam

R$ 70,00 a hora.

Optaram em produzir de forma orgânica pela saúde e qualidade do alimento. Desde

2000 trabalham forte com Agroecologia e para o consumo sempre plantaram de forma

orgânica. Há 16 anos trabalhavam com fumo e desistiram por causa da mão de obra e

problemas de saúde em virtude dos venenos. Tiveram bons resultados financeiros com o

fumo, mas acham que não valia a pena.

Foto 17. Galpão de fumo desativado

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 02-07-12.

Nesta foto podemos observar o galpão de fumo, que indica uma temporalidade e uma

territorialidade que deixaram de existir a partir do abandono da atividade. Há 16 anos não

produzem mais essa cultura, mas preferiram manter o galpão, que acaba marcando a

paisagem. Ao lado há uma nova plantação de frutas orgânicas. Na UPVF também está sendo

construída uma moderna estrebaria e sala de ordenha, o que sinaliza a coexistência de

temporalidades e uma nova territorialidade, ligada à produção de leite.

Tem apoio técnico do CAPA desde o início da produção orgânica, em 1997. Fizeram

diversos cursos para apreender a produzir e todo mês tem reunião. Antes de receber o

pagamento, são passadas algumas orientações pelos técnicos.

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Quando faltam produtos na APAV, produzem brócolis, beterraba, cenoura, repolho e

alface para esta associação.

O controle dos insetos é feito com produtos orgânicos que os técnicos receitam,

encontrados em lojas de produtos agropecuários em Verê. “No início da produção é bem

difícil, mas depois facilita. A própria terra se adapta” (informação verbal, 2012). Para as

plantas espontâneas, usam a enxada.

Apontam que para mais produtores trabalharem com agricultura orgânica, esses devem

ter vontade, porque mercados têm, falta conscientização dos próprios agricultores.

O que plantam conseguem vender. Para o orgânico, é pago 30% a mais do que o

convencional na merenda escolar. A assistência técnica ainda é um ponto fraco, pois a

demanda é grande e faltam técnicos. Com a substituição do fumo pela produção orgânica,

afirmam que o gasto com remédios foi reduzido em 90%.

As dificuldades em plantar são ligadas ao tempo (condições climáticas), e se não

conseguem controlar algum inseto. Para o plantio de hortaliças a associação tem os

equipamentos necessários. O que mais dificulta o aumento da produção é a mão de obra.

São certificados pela Rede Ecovida, e diz que o pessoal da rede faz visitas a cada seis

meses ou um ano para vistoriar. V.C. diz que podem requerer o selo para vender direto. Na

merenda vai a quantidade maior, então não vai o selo. A certificação tem o custo do valor de

um saco de milho por ano. Acham importante a certificação como garantia para quem produz

e para quem consome. No início, as pessoas vendiam sem os produtos serem certificados, por

interesse em ganhar mais. Tiveram que fazer campanha no rádio e divulgaram quem

realmente era produtor orgânico, para a população não ser enganada.

Por pagar mais, as pessoas não reclamam, pois sabem que é saudável. Também

vendem em casa, mas é pouco. São associados na APAV, CRESOL e em uma associação de

agricultores da comunidade.

Quanto à questão ambiental, nunca tiveram problema com falta de água, que vem de

uma nascente protegida, tem SISLEG na propriedade. Para as águas da cozinha e vaso tem

fossa séptica. Não há coleta de resíduos, o lixo orgânico vai para lavoura e para horta, assim

como o esterco. Na lavoura, fazem plantio direto e no inverno, consorciamento de aveia,

ervilhaca e azevem. Dizem que depois que plantaram ervilhaca o solo melhorou bastante.

Entendemos que as intencionalidades da família com a agricultura orgânica são

ideológicas, pois a preocupação com a saúde foi um dos motivos para deixarem a produção de

fumo. Porém, também está presente a intencionalidade econômica básica na produção

orgânica, fato normal e compreensível, pois é a garantia de sobrevivência da família.

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A UPVF possui gestão familiar, é tradicional e parcialmente orgânica. A produção é

diversificada, e possuem certificação. Assim, classificamos esta UPVF como parcialmente

orgânica com certificação.

5.4.5. D.M. e família

Os entrevistados foram L. M. e D. M. L. M. reside há 10 anos na propriedade e veio de

Francisco Beltrão, mas D.M. vive no município desde que nasceu e na UPVF há 22 anos.

Apenas o casal trabalha na UPVF. L. M. estudou até 8a série e têm 32 anos. D. M. estudou até

4a série e têm 56 anos. A propriedade tem 28 hectares e compraram mais 2,5 hectares

recentemente. Plantam soja, milho, aveia e grama. A pastagem ocupa 3,63 hectares e a reserva

(mata), 4,84 hectares.

Para L.M., a agricultura orgânica consiste em não usar químico. “É bom pra saúde,

não usar veneno” (informação verbal, 2012). Só o parreiral é orgânico e, para controle

biológico, usam a calda bordaleza.

O parreiral é orgânico há 8 anos desde que construíram. Quando começaram, a

prefeitura incentivou, doando mudas e os pilares para construção do parreiral. Mesmo assim,

gastaram R$ 8.000,00 de arame. O parreiral abrange 2,42 hectares e tem 3 mil pés de uva. O

agricultor fez cursos pra aprender cultivar de forma orgânica e o técnico do CAPA

acompanha. Dizem que se não der mais lucro, vão parar, pois não estão satisfeitos com a

renda gerada. O parreiral não mudou muito a renda da família. As dificuldades em produzir a

uva orgânica estão ligadas ao maior trabalho braçal empregado.

Comercializa a uva na APROVIVE, e em casa. Na ultima safra (2011/2012) venderam

mais de 500 kg na propriedade. Não deixaram de produzir outras coisas, mas se não tivessem

o parreiral cuidariam mais do outro sítio, que tem eucalipto plantado. O suco produzido na

APROVIVE tem certificação da Rede Ecovida. Na última safra colheram entre 7 e 8 mil kg

de uva.

Utiliza calda bordaleza, que compra pronta para passar no parreiral. Recebe um preço

melhor por ser orgânico e diz que não teve custos para ter certificação. Pagou R$ 1.000,00

para se associar na APROVIVE. O dinheiro foi usado para compra de equipamentos e para

estruturar a associação.

A renda mensal da família (R$ 3.000,00) é toda proveniente da UPVF. Contratam mão

de obra quando precisam para roçar ou na época de colheita da uva. Não costumam trocar dias

de serviço, apenas eventualmente com um familiar. Quanto ao maquinário, possuem

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forrageiro, enciladeira, ordenha mecânica e resfriador, quando precisam de trator, pagam por

hora para um familiar realizar os trabalhos.

A plantação de soja e milho é convencional, mas afirmam que no milho não usam

veneno, pois ele é plantado para servir como silagem.

Produzem 13.000 litros de leite por mês e vendem no Laticínio Verê. Recebem R$

0,78 por litro. Tem suínos e galinhas caipiras para consumo. L.M. faz gel eia e

doce de uva também para o consumo. Não produzem hortaliças.

A foto 18 demonstra a atividade leiteira, os animais para ordenha são selecionados

(vacas Holandesas e Jersey) e a pastagem organizada em piquetes (Sistema Voisin),

evidenciando um ritmo mais acelerado deste tipo de produção.

A cultura mais importante economicamente é o leite. Apontam que a parreira, se

comparada com a soja por área plantada, produz mais, mas também dá mais trabalho.

Foto 18. Bovino leiteiro e pastagem

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 29/06/2012.

No que se refere ao aspecto ambiental, a água utilizada é de fonte e nunca tiveram

falta de água. Tem dois açudes, com traíra e carpa para consumo. Não tem SISLEG. Tem

fossa séptica para o banheiro e não há coleta pública de lixo. O esterco animal fica no pasto.

Faz adubação verde, usam calcário e cama de aviário no solo. Faz plantio direto nas lavouras.

Percebemos que nesta UPVF a intencionalidade em produzir uva orgânica é

totalmente econômica. Apesar de terem consciência de que o orgânico é melhor para saúde,

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deixam claro que a uva rende pouco. Quanto às temporalidades observamos modernos

equipamentos e investimentos na ordenha do leite que é a cultura mais rentável e uma

dedicação maior a essa atividade. Portanto, percebemos que vivem em um ritmo mais rápido,

acompanham as novidades do mercado quanto à questão do leite, e estão sempre se

especializando, em busca de lucros maiores.

Apesar da UPVF ser familiar, por ter menos de 50 hectares e pelo fato do casal residir

e trabalhar na mesma, consideramos que se trata de uma UPVF parcialmente orgânica não

diversificada, pois o único produto orgânico é a uva, e nem mesmo hortaliças são cultivadas

para o consumo.

Predomina uma intencionalidade econômica mais capitalista do que básica nessa

família. A produção é pouco diversificada, e possuem certificação da uva. Assim,

classificamos esta UPVF como parcialmente orgânica com certificação.

5.4.6. A.M. e família

A família reside na comunidade de Linha Boa Esperança, no município de Verê, desde

que nasceram. Na propriedade moram quatro pessoas, sendo o casal, A.M. de 60 anos, sua

esposa C.M. de 63 anos, a filha de 28 anos e seu filho de três anos.

Além da renda proveniente da produção na UPVF, A.M. e C.M. recebem aposentadoria,

uma por invalidez e outra como agricultor, sendo que os dois possuem o ensino fundamental

incompleto. A filha possui o ensino médio completo e ajuda na gestão da UPVF. É o casal e a

filha que realizam as atividades da UPVF, não ocorrendo à contratação de serviços externos.

A UPVF é totalmente orgânica, tem 7,2 hectares divididos em: 1,5 hectares de

lavouras temporárias e horticultura (feijão, tomate, repolho, beterraba, uma estufa de

feijão/tomate e remédios naturais) (foto19); 1,5 hectares de mata nativa e capoeiras; 3,5

hectares de pastagens e áreas livres e 0,7 hectares de benfeitorias. Possuem equipamentos

como máquina de pulverização e utilizam o trator da associação de moradores da

comunidade.

A diversa produção de hortaliças e plantas medicinais, cultivados de forma tradicional

evidenciam uma temporalidade lenta e uma intencionalidade ideológica, pois a família produz

orgânicos principalmente pela questão da saúde e acredita veementemente na cura de doenças

através de remédios homeopáticos.

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Foto 19. Produção de hortaliças e plantas medicinais

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 29/06/2012.

A família trabalha à aproximadamente cinco anos com a produção de orgânicos para

comercialização, mas sempre produziu sem veneno para consumo próprio. Aprenderam a

cultivar de forma orgânica com o CAPA e ASSESOAR.

Optaram por esta forma de produção quando C.M. começou a participar do projeto

Terra Solidária (projeto de parceria entre a CUT e STR). A partir de então, a família adotou a

agricultura orgânica como forma melhorar a saúde, pois o agricultor tem problemas no

pulmão. A comercialização da produção orgânica foi um objetivo complementar para a

família na geração de renda, demonstrando uma intencionalidade ideológica e econômica

básica na produção de orgânicos.

Nesta UPVF são produzidos insumos como sementes e adubo, e ainda vendem

sementes de cebola para fora. O produtor adquire as mudas na APAV e na agropecuária.

Cultivam de forma orgânica produtos como própolis, feijão, tomate, repolho e morango e no

queijo, doces, conservas, carne de ave e leite, são usados alguns produtos convencionais,

como ração, açúcar e medicamentos para os bovinos. Os produtos comercializados como,

própolis, feijão, tomate, repolho e morango, são vendidos em casa e na APAV. Leite, carne e

aves são comercializados em um laticínio e na APAV, respectivamente. A produção de leite

na UPVF é de 800 litros mensais, mas apenas 500 litros são comercializados, entregues para o

lacticínio Alto Alegre. A comercialização de própolis e aves de granja é feita apenas por

encomenda.

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Nos aspectos ambientais, a UPVF não possui SISLEG e a captação de água é

proveniente de uma fonte própria e de um vizinho. A água do esgoto tem por destino uma

fossa séptica. O lixo orgânico e os dejetos animais são utilizados como adubo, estando o solo

em boa conservação sendo realizada adubação verde.

Para a família, a agricultura orgânica é uma forma de produzir tudo na propriedade,

com uso de compostos e repelentes que agridem menos o meio ambiente. A Agroecologia

para C.M. é “tudo que é natural que a natureza faz plantar naturalmente junto com o mato

sem colocar nenhum produto” (informação verbal, 2012), visto que o “mato” em si renova a

terra sem colocar adubos e outros insumos.

Como vantagens da agricultura orgânica, a família percebeu a melhoria na saúde,

alimentação e na renda, mas ainda apontam como dificuldade a falta de mão de obra.

Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, entendemos

que a família possui uma intencionalidade econômica básica, prevalecendo uma

intencionalidade ideológica. A produção é diversificada e possuem certificação participativa,

de modo que podemos classificar esse estabelecimento rural como uma UPVF agroecológica

com certificação.

5.4.7. B.B. e família

A família de B.B. reside na comunidade de Vila Colonial, desde 1972. Na UPVF

moram nove pessoas, divididas em duas casas, a de B.B. que tem 67 anos e sua esposa A.B.

com 65 anos e a de G.B. de 38 anos e sua esposa D.B. de 32 anos, mais duas crianças do casal

e a irmã de G.B. e seus dois filhos jovens.

A gestão da UPVF é feita por B.B. e G.B. B.B. e A.B. recebem aposentadoria como

agricultores, G.B. realiza apenas as atividades de agricultor e sua esposa D.B. é agente de

saúde.

A UPVF possui 26 hectares, mas desse total são utilizados pela família 8 hectares. O

restante é arrendado. Esses 8 hectares estão divididos da seguinte maneira: quatro de culturas

temporárias; três de matas (RL e APP); o restante está dividido entre benfeitorias e pastagens.

Entre as benfeitorias da UPVF, estão duas casas, uma de alvenaria e outra mista, um paiol de

madeira, um chiqueiro e um galpão para máquinas. A família possui um trator, um batedor de

cereais, uma plantadeira, uma grade, uma máquina para arrancar mandioca e uma colhedeira

de milho.

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A parte cultivada pela família não recebe nenhum tipo de insumo químico. A principal

fonte de renda é proveniente das atividades agrícolas. Como renda complementar, possuem

duas aposentadorias como agricultores e o trabalho urbano. Destacamos que são agricultores

familiares e a gestão e trabalho da UPVF também é familiar, não ocorrendo dessa forma

contratações externas.

A família trabalha com agricultura orgânica desde 2000. Aprenderam através do

incentivo do CAPA e optaram por esta forma de produção devido a intoxicações que

ocorreram na família em virtude do uso de agrotóxicos. A família tem o objetivo de se manter

produzindo e implantar um sistema de irrigação para ter regularidade no cultivo.

A UPVF não está em processo de conversão por ser totalmente orgânica, mas não

ocorreu o abandono de antigas práticas agrícolas e a ampliação de novas. Apenas destacam

que a renda aumentou no início e que os gastos da família diminuíram.

A UPVF adquire a maior parte dos insumos externamente, como sementes, adubos e

medicamentos, na Bio Orgânica, localizada no município de Realeza. Produzem de forma

orgânica: soja, milho, mandioca, feijão e frutas da época e, de forma convencional, mel, carne

suína, bovina e de aves, que são comercializados através do programa Fome Zero e na Bio

Orgânica. A produção de leite é totalmente voltada para o consumo da família. Os produtos

dessa UPVF possuem certificação, como a soja e o milho pelo IBD, além da mandioca, feijão,

frutas e fubá pela Rede Ecovida.

A UPVF não possui SISLEG, a captação de água é de fontes e da rede pública de

abastecimento, que tem boa qualidade, mas falta nos períodos de estiagem. A água do esgoto

tem por destino fossa séptica. O lixo orgânico e os dejetos animais são destinados a

compostagem. O solo está em boa conservação e são realizadas práticas de proteção como a

cobertura do solo e plantio direto.

A família aponta que a vantagem da agricultura orgânica é o menor custo (porém

produz em menor quantidade). B.B. afirma que o máximo que produz são 150 por hectare.

Com o uso do veneno a produção é maior, “se a gente se achasse no dinheiro e nas lógicas do

capitalismo, já teria parado a produção agroecológica, mas esse não é o nosso objetivo.

Ficamos na canoa e temos que remar contra as correntes. O nosso objetivo é a saúde e o

cuidado com o meio ambiente” (informação verbal, 2012). As dificuldades apontadas são os

compradores (europeus) em crise, com pouco dinheiro, valor instável, dificuldade de provar

renda (produção) para conseguir financiamento, perda de safras por causa da dificuldade de

controlar as pragas e falta de linhas de crédito diferenciadas. Acredita que para melhorar a

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produção da agricultura orgânica é necessário incentivo, acesso ao crédito, maior facilidade

para os agricultores familiares acessarem os programas de governo.

Entendemos que as intencionalidades em relação à produção orgânica são ideológicas e

econômicas básicas, pela preocupação com a saúde e meio ambiente, mas também como fonte

de renda. As temporalidades presentes evidenciam a simultaneidade de ritmos lentos e mais

rápidos através das territorialidades estabelecidas com o mercado e com o trabalho

desenvolvido.

Como a UPVF, possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, possui

certificação, a família possui intencionalidade ideológica e econômica e a produção é

diversificada, podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica com certificação.

5.4.8. D.C. e família

Nesta UPVF moram D.C., sua esposa I.C. e seus dois filhos, L.C. e E. C.. A UPVF

localiza-se na Vila Colonial no município de Verê. O casal e seus dois filhos é quem realizam

as atividades da UPVF e tem contratado um trabalhador permanente para a horticultura, são

agricultores familiares e a gestão é feita pelo casal. A divisão do trabalho ocorre da seguinte

forma: o casal e o empregado na horta, D.C trabalha no CAPA e I.C. na cozinha da APAV

alguns dias na semana. Possuem certificação pela Rede Ecovida.

A UPVF possui 13,6 hectares, sendo eles divididos em: três hectares de culturas

temporárias; dois hectares de reflorestamento; um hectare de pastagens; um de açude; um

hectare de mata nativa; cinco hectares de culturas permanentes (uva, pera, pêssego, laranja e

erva mate) e 0,6 hectares de benfeitorias. Na UPVF, existe um estábulo, um paiol, uma estufa

e a casa.

Produzem de forma orgânica uvas (niágara, bordô e francesa), pera, pêssego, laranja,

erva-mate (5.000 pés), hortaliças em estufas (foto 20), ponkan, bergamota, nozes, maçã e

morango. De forma convencional, leite, queijo, doces, conservas, ovos. A erva-mate é

comercializada na Ervateira de Palmas e os demais produtos na APROVIVE, APAV e

diretamente na UPVF.

A foto representa a diversidade de hortaliças cultivadas, e também a coexistência de

um sistema de irrigação moderno, com uma tecnologia doméstica (garrafas pet em torno dos

pés de brócolis) utilizada para os insetos não alcançarem o miolo da planta, pois a garrafa pet

é lisa, assim os insetos deslizam. Estes elementos evidenciam ritmos lentos e rápidos.

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Foto 20. Estufas de hortaliças na propriedade de D.C.

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 02/07/2012.

Nesta UPVF são produzidas as mudas e outros insumos são externos, como as

sementes, adubo (compram adubo de aviário composto) e medicamentos que da APAV e de

uma empresa agropecuária. Não estão em processo de conversão, abandonaram os cultivos

convencionais e ampliaram a plantação de eucaliptos. Porém a produção animal e de

transformados utiliza-se de ingredientes e insumos convencionais, como açúcar e ração, não

podendo, por isso, ser considerada orgânica. Houve um aumento na renda e uma redução nos

gastos com medicamentos e insumos.

Outro aspecto importante está no contato que D. C. possui com pesquisadores da

UTFPR na área da agronomia, de modo que sua UPVF é usada para alguns experimentos por

parte desses pesquisadores. Isso indica uma territorialidade que poucos agricultores têm.

A família trabalha com agricultura orgânica há 12 anos, I.C. aprendeu por meio do

D.C. que é Técnico Florestal e também por meio de cursos. Optaram pela agricultura orgânica

quando D.C. começou a participar do CAPA e também por causa da saúde. Pretendem

continuar a produzir orgânicos, mas diminuir a horta e aumentar a fruticultura.

Destacam como vantagens da produção orgânica, a boa aceitação dos produtos.

Vendem o que produzem e sempre faltam produtos. Como dificuldade, apontam a falta de

mão de obra.

Acreditam que para melhorar a produção, deveria ser criada uma central de produtos

agroecológicos, que articulasse produtores de diferentes municípios. Estas articulações que a

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família possui e os trabalhos realizados pelo casal evidenciam territorialidades múltiplas –

decorrentes do contato de D. C. com instituições variadas - e a coexistência de

intencionalidades ideológicas e econômicas, como ocorre na maior parte das UPVFs

analisadas. No entanto, percebemos que a intencionalidade econômica não é básica, mas sim

capitalista, apesar de D. C. fazer parte da equipe técnica do CAPA, que trabalha a

Agroecologia como um movimento ideológico, algumas declarações demonstram que o

objetivo dessa UPVF está mais ligado à expansão econômica e produtiva do que em um modo

de vida.

Quanto aos aspectos ambientais, observamos que a UPVF possui SISLEG, a captação

de água é de fontes da UPVF e da rede pública e que ocorre falta de água no período de

estiagem. A água do esgoto tem por destino o semidouro. O lixo orgânico e os dejetos animais

são utilizados como adubo e o solo é manejado com adubação verde e rotação de culturas.

Classificamos esta UPVF como parcialmente orgânica com certificação, pois embora a

gestão seja familiar, a produção diversificada e certificada pela Rede Ecovida, nem toda a

produção é orgânica e a intencionalidade que prevalece, é a econômica capitalista.

5.4.9. I.Z. e família

A família reside na linha Baldo/Vista Alegre no município de Verê. I.Z. vive na

propriedade há 47 anos, juntamente com a esposa e dois filhos. I.Z têm 56 anos, a esposa C.Z.

têm 51 anos, o filho J.Z. têm 24 anos, e a filha M.Z. têm 18 anos. As quatro pessoas

trabalham na UPVF, que é parcialmente orgânica. A renda é proveniente de atividades

agrícolas e paraagrícolas.

A UPVF de 21,8 hectares é dividida da seguinte maneira: 3,63 hectares de parreiral;

1,5 hectares de milho; 1 hectare de nogueiras e eucaliptos; 7,3 hectares de mata nativa e

capoeira; 2 hectares com pastagem permanente e araucárias; 1 açude e benfeitorias. Em

relação às benfeitorias a UPVF, possui 2 casas, paiol, galpão de madeira e um estábulo misto.

Com relação aos equipamentos, possuem carroça, trilhadeira, forrageiro, motor

elétrico, trator, ordenhadeira e resfriador. Para combater as pragas, utilizam calda bordalesa e

calda sulfocáustica (que reduz em 85% o ataque de pragas no parreiral). Gostariam de adquirir

pulverizador e uma máquina para moer a uva. Recentemente instalaram uma antena de

internet na casa, evidenciando a coexistência de temporalidades rápidas (com acesso a

informações globais a qualquer instante) e temporalidades mais lentas, como a utilização de

máquinas de tração animal (carroça, trilhadeira).

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Na produção vegetal destaca-se a uva (35.000 kg na safra de 2012), comercializada

com a APROVIVE e na UPVF. O milho (500 sacas, utilizado para silagem), feijão, mandioca,

frutas e hortaliças, são para consumo. Na produção animal, possuem suínos, bovinos, aves de

granja e peixes somente para consumo. Aves caipiras e ovos também são produzidos para o

consumo familiar e o excedente é vendido. A produção de leite é a atividade mais importante

economicamente. São coletados 4 mil litros de leite mensais, comercializados com o laticínio

Alto Alegre de Verê. Na produção agroartesanal estão presentes: queijo, apenas para

consumo, doces de frutas e geleias, conservas, vinagre e vinho (foto 22) para consumo e

comercialização na UPVF e em mercados de Francisco Beltrão.

Foto 21. Produção transformada de frutas

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 04/06/2012.

A foto evidencia temporalidades lentas, ligadas à produção agroindustrial artesanal e à

casa de madeira bastante antiga utilizada para armazenar produtos.

A gestão é familiar e só contratam trabalhadores temporários nos períodos de colheita

da uva. Entendem por agricultura orgânica a não utilização de agrotóxicos na produção e por

Agroecologia a produção sem veneno e mais natural.

Trabalham com agricultura orgânica desde 2004 e, recentemente adquiriram mais 900

mudas de videira. O agricultor trabalha com parreiral desde os quatro anos de idade. Fez

vários cursos e visitas em outras propriedades para aprender, e recebe assistência técnica do

CAPA. Os objetivos com a prática orgânica estão ligados ao baixo custo da produção e à

renda. Produzem na UPVF as mudas e sementes que utilizam.

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Com a produção orgânica, abandonaram algumas atividades e ampliaram o parreiral,

expondo que a renda aumentou e os gastos diminuíram. Percebem como vantagens dessa

produção, os baixos custos (reduz cerca de 60%) e maiores lucros (70%), além da obtenção de

produtos mais saudáveis e da comercialização direta ao consumidor e in loco. Como

dificuldades, apontam a comercialização (perda de produção) e falta de mão de obra. A uva

possui certificação pela Rede Ecovida.

Para melhorar a produção e a comercialização dos produtos agroecológicos, o

agricultor entende que são necessários: incentivo financeiro para a construção de benfeitorias,

para produção de vinho, vinagre, geleia e outros, além da divulgação da produção com os

consumidores, abertura para o mercado externo (Curitiba, por exemplo) e cursos apropriados

para cada tipo de produção.

Quanto aos aspectos ambientais, não possuem SISLEG, a captação de água é de fonte

protegida da UPVF, não ocorrendo problemas com a quantidade e qualidade da água. Com o

lixo orgânico e os dejetos animais, fazem compostagem. No solo, fazem adubação verde.

Classificamos esta UPVF como parcialmente orgânica com certificação, pois embora a

gestão seja familiar, a produção diversificada e certificada pela Rede Ecovida, nem toda a

produção é orgânica. Prevalece a intencionalidade ideológica da família em relação a

produção orgânica, pois prezam pela saúde e bem estar porém também está presente a

intencionalidade econômica com a produção.

Como a UPVF, possui gestão familiar, é tradicional, parcialmente orgânica, possui

certificação, a família possui intencionalidade ideológica e econômica e a produção é

diversificada, podemos dizer que é uma UPVF parcialmente orgânica com certificação.

5.4.10. I. C. e família

A família reside no município de Verê há 60 anos e na UPVF, localizada na Vila Colonial,

há 48 anos. Moram na propriedade quatro pessoas, o casal, um filho e uma neta. I.C. e a esposa

J.C. têm 70 anos, o filho tem 49 anos e a neta 19. Todos desenvolvem trabalhos na UPVF, porém

o filho e a neta também trabalham na cidade.

A UPVF possui 4,4 hectares, dividida da seguinte forma: 2,4 hectares com lavoura

temporária (milho e soja convencional), que estão arrendados; parreiral com 2.500 pés de uva

(produção de 15.000 Kg na safra de 2011); horta com cultivos de verduras e tubérculos para

consumo familiar; mata nativa e reflorestamento; área com pastagem permanente. Possuem

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ainda 100 pés de laranja, 100 pés de pêssego em fase de crescimento (ainda não está

produzindo), e alguns pés de ponkan.

Criam suínos, bovinos, ovos e produzem leite para consumo. Na produção de

transformados possuem queijo e embutidos para consumo. Comercializam a uva e os ovos, em

casa, na APAV e na APROVIVE. A uva possui certificação pela Rede Ecovida. As relações com

o mercado evidenciam as territorialidades econômicas diversificadas, comum na maioria das

outras UPVFs pesquisadas.

A UPVF é parcialmente orgânica com gestão familiar. A renda da família é proveniente de

duas aposentadorias como agricultores, atividades agrícolas e trabalho urbano. Contratam

trabalhadores temporários na colheita da uva.

Produzem orgânicos para vender desde 2001/2002, mas faz 25 anos que plantam para o

consumo de forma orgânica. Aprenderam a cultivar desta forma através de cursos promovidos

pela ASSESOAR e CAPA. Utilizam para a produção, um pulverizador com tração manual (foto

22) e um trator da associação. Gostariam de adquirir um tobata para limpar o parreiral.

Foto 22. Pulverizador com tração manual

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 02/07/2012.

As tecnologias adaptadas à pequena produção evidenciam o uso de maquinários, porém

com baixa tecnologia (como o pulverizador da foto). Assim como na maioria das UPVFs,

coexistem temporalidades lentas e rápidas, difíceis de serem mensuradas. No entanto,

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percebemos várias temporalidades lentas e territorialidades múltiplas, ligadas à produção de

leite, de uva e de outros produtos, que são comercializados de formas distintas.

Com relação aos insumos adquiriram mudas de uva em Bento Gonçalves-RS através do

CAPA. Não abandonaram nenhuma atividade após inserção na agricultura orgânica, mas

ampliaram o parreiral. A renda aumentou e os gastos com medicamentos diminuíram. Percebem

como vantagens da agricultura orgânica o preço (pagam mais pelo orgânico) e a saúde (sabem o

que consomem). Como dificuldades, apontam a falta de assistência técnica, aumento da mão de

obra e a dificuldade de combater algumas plantas invasoras. Estas afirmações evidenciam a

intencionalidade ideológica e econômica básica na produção de orgânicos.

Em relação aos aspectos ambientais, a UPVF não possui SISLEG, a captação de água é

realizada em um poço da UPVF e na rede pública. O esgoto tem por destino fossa séptica, o lixo

orgânico a compostagem e o minhocário, e os dejetos animais também vão para o minhocário.

Fazem rotação de culturas para proteger o solo.

Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e parcialmente orgânica,

entendemos que a família possui uma intencionalidade ideológica e econômica básica. A

produção é diversificada, e possuem certificação participativa. Classificamos esta UPVF

como parcialmente orgânica com certificação.

5.4.11. M.T. e família

A família reside na comunidade Barra do Marrecas, no município de Verê. M.T. reside

no município e na UPVF há 48 anos. A família é constituída por cinco pessoas. M.T. têm 50

anos e possui ensino superior. A esposa L.T. têm 49 anos, o filho F.T. têm 26 anos e ambos

cursaram o ensino fundamental. A filha M.T. têm 19 anos e cursa enfermagem. A neta têm 1

ano de idade. Todos desenvolvem atividades na UPVF, mas quem mais toma conta da

propriedade é L.T., pois o marido é vice-prefeito e o filho também trabalha fora, ocorrendo

contratações somente no período de colheita da uva. A renda é proveniente do trabalho rural e

urbano e a gestão é compartilhada pelo casal.

A UPVF possui 14,7 hectares e é parcialmente orgânica. Está dividida da seguinte

forma: 7 hectares de culturas temporárias (milho, soja e feijão) convencionais; 1 hectare de

parreiral (foto 23); 3 hectares de mata nativa; 500 pés de silvicultura; 3 hectares de pastagens.

Produzem de forma orgânica uva, vinho e vinagre, feijão, mandioca, hortaliças e frutas e, de

forma convencional, carne de suíno e bovino, leite, ovos, doces, milho e soja. Comercializam

a uva in natura, vinho e vinagre na UPVF, nas feiras e na APROVIVE. Os grãos

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convencionais, milho e soja, são vendidos em uma empresa do município. A uva tem

certificação participativa da Rede Ecovida.

Foto 23. Parreiral de M.T.

Fonte: Arquivo do Geterr, 2011.

A foto evidencia uma produção moderna de uvas, porém na propriedade também

observamos construções bastante antigas, demonstrando a coexistência de temporalidades.

Em relação às benfeitorias possuem uma casa mista, paiol, estábulo, chiqueiro e galpão para

máquinas, de madeira, indicando ritmos lentos.

Possuem equipamentos manuais e trator para roçar e pulverizar o parreiral (próprio e

da associação), trilhadeira, forrageiro, motor elétrico, motor a gasolina e trator (próprios).

Trabalham com agricultura orgânica há 8 anos e aprenderam esta forma de cultivo por

meio do CAPA. Optaram pela agricultura orgânica por ser um produto melhor e possuem a

pretensão de ampliar a produção.

Com relação aos insumos produzem na UPVF, apenas adubo, adquirindo de fora,

sementes convencionais, mudas, adubo orgânico e caldas para o parreiral e adubos químicos

para lavoura, além de medicamentos convencionais para os animais.

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A família não abandonou nenhuma atividade convencional após inserção na

agricultura orgânica, aumentaram a produção de derivados da uva. A renda aumentou e os

gastos com medicamentos e insumos diminuíram significativamente.

Percebem como vantagens da agricultura orgânica o valor do produto, superior ao

convencional, o baixo custo de produção e a venda fácil e garantida, mas como dificuldades

apontam a insuficiente assistência técnica. Estas informações evidenciam a intencionalidade

ideológica e econômica básica presentes na produção orgânica.

Já em relação aos aspectos ambientais, a UPVF não possui SISLEG, a captação de

água é de fonte e de um poço, não ocorrendo problemas com a falta da mesma. O esgoto tem

por destino fossa com pedra. O lixo orgânico e os dejetos animais são utilizados como adubo.

O solo está em boa conservação, sendo realizado plantio de aveia e rotação de culturas.

Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e parcialmente orgânica,

entendemos que a família possui uma intencionalidade ideológica e econômica básica. A

produção é diversificada, e possuem certificação. Assim, podemos classificar esse

estabelecimento rural como uma UPVF parcialmente orgânica com certificação.

5.4.12. N.M. e família

A família reside na comunidade de Boa Esperança, no município de Verê, há 50 anos.

É constituída por seis pessoas. As atividades da UPVF são realizadas por todas as pessoas da

família, ocorrendo contratações de trabalhadores externos para a colheita da uva. A renda é

proveniente de uma aposentadoria e do trabalho rural.

A UPVF é totalmente orgânica e possui 3 hectares divididos em: parreiral; área com

hortaliças; mata nativa; benfeitorias. Possuem uma casa de madeira e uma de alvenaria, paiol

e estábulo de madeira. Quanto aos maquinários possuem carroça, arado de tração animal,

roçadeira e motor a gasolina para triturar o milho (ano 1972).

Na produção vegetal destaca-se a uva, hortaliças e frutas cítricas (300 kg por ano),

tomate (900 kg/ano), repolho (200 kg/ano), alface, couve-flor e cenoura. Essa produção é

comercializada com a APAV e APROVIVE (uva). Produzem ainda queijo, doces e vinho

apenas para o consumo. Na produção animal, possuem suínos e bovinos para consumo, e leite

(300 litros mensais), comercializado com o laticínio Alto Alegre de Verê.

Como podemos visualizar na imagem a seguir, a produção de leite representa um

ritmo lento na UPVF, pois os bovinos não possuem genética específica para a produção e a

ordenha é realizada de forma manual em um estábulo bastante rústico.

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Foto 24. Vacas sendo preparadas para ordenha

Fonte: MEIRA, S.G. Trabalho de campo, 29/06/2012.

Trabalham com o parreiral há aproximadamente seis anos, cultivando uva dos tipos

Francesa e Concórdia. Posteriormente, começaram a cultivar hortaliças. Optaram pela

agricultura orgânica por ela trazer benefícios à saúde, remédios naturais, valores éticos

ligados ao cuidado da natureza e, por demandar de menos trabalho.

A uva é cultivada de uma forma bastante moderna, porém a intencionalidade

ideológica é evidenciada por uma forte afetividade com a terra e com o lugar de vivência, pois

produzem hortaliças para consumo principalmente pela questão da saúde e, também para

melhorar a renda familiar (intencionalidade econômica básica).

Destacam que a agricultura orgânica é um tipo de cultivo sem uso de veneno. Para

produzir e combater pragas utilizam enxofre molhado para os fungos, dipel, óleo de nim,

calda e super-magro. A uva possui certificação pela Rede Ecovida, as hortaliças não possuem.

Percebem como vantagens da agricultura orgânica os alimentos mais saudáveis, a

produção em estufa fora de época, como o tomate, por exemplo, e os melhores preços. Como

dificuldades, apontam a falta de mão de obra, de incentivos financeiros e de orientações

técnicas. Destacam ainda que, para melhorar a produção e a comercialização de orgânicos,

deveriam ser organizadas feiras e disponibilizados produtos direto ao consumidor.

Já em relação aos aspectos ambientais, a UPVF não possui SISLEG, a captação de

água é de uma fonte, não ocorrendo problemas com a falta da mesma. O esgoto tem por

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destino fossa séptica. O lixo orgânico tem uso direto como adubo e compostagem e os dejetos

animais são utilizados como adubo. O solo está com boa conservação com adubação verde.

Como a UPVF possui gestão familiar, é tradicional e totalmente orgânica, a família

possui uma intencionalidade econômica básica, mas prevalece uma intencionalidade

ideológica. A produção é diversificada e possuem certificação (da uva), podemos classificar

esse estabelecimento rural como uma UPVF agroecológica com certificação.

5.4.13. R.C.

O estabelecimento rural está localizado na comunidade da Linha Belé, no município

de Verê. O proprietário R.C. reside no município e na propriedade há 48 anos, desde seu

nascimento. R.C. trabalha com agricultura somente nos finais de semana, pois de segunda a

sexta trabalha na área urbana. Dessa forma, sua fonte de renda é proveniente do trabalho

urbano e rural. Contrata trabalhadores temporários para a limpeza do parreiral e para a

colheita da uva. Trabalha com equipamentos manuais e mecânicos (roçadeira, trator,

pulverizador e canteirador), da APROVIVE.

A propriedade é totalmente orgânica e possui 3 hectares cultivados com uva e outras

frutas (toda produção é orgânica). A uva (3.000 pés) é comercializada com a APROVIVE, e

diretamente na propriedade; o caqui (380 pés), pêssego (150 pés), laranja (60 pés), e nozes

(35 pés) são comercializados na COAFA, APAV e na propriedade.

D.C. trabalha com uva orgânica há 10 anos e com as demais frutas há 2 anos.

Começou a produzir orgânicos pela preocupação com saúde. Possui certificação pela Rede

Ecovida. Os produtos são: vinho, uva, caqui, pêssego, laranja e nozes, comercializados na

APROVIVE, nos mercados do município de Verê, na COAFA, na APAV e no

estabelecimento rural. Percebe como vantagens da agricultura orgânica, o baixo custo para

produzir, os lucros obtidos e a prevenção de doenças. Como dificuldades aponta, a falta de

mão de obra e o controle de insetos na uva.

Com relação aos aspectos ambientais, não possui SISLEG, a captação de água é de um

poço e de fontes próprias, não ocorrendo problemas de escassez. O esgoto tem por destino

fossa negra. O lixo orgânico e os dejetos animais são utilizados como adubo. O solo está em

boa conservação e como prática de proteção, é realizada cobertura verde com aveia e azevem.

Mesmo tendo seu estabelecimento totalmente orgânico, o entrevistado não é um

agricultor em tempo integral. Sua produção é diversificada, ele possui certificação e até uma

intencionalidade ideológica, combinada com a econômica básica. Porém, como a agricultura é

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secundária, não classificamos o estabelecimento como uma UPVF, pois apesar de ser

orgânico, não corresponde a um estabelecimento da agricultura familiar.

5.5. Considerações sobre a produção de alimentos agroecológicos e orgânicos no

município de Verê – PR.

Apresentamos um mapa com os agricultores agroecológicos e orgânicos trabalhados

neste município e os principais produtos cultivados em cada UPVF, a fim de espacializar

essas informações.

Mapa 06. Produtores Orgânicos e Agroecológicos de Verê/PR

Fonte: IBGE (2010). Elaboração: MEIRA, S.G. (2013).

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Conforme podemos observar no mapa, há uma concentração de agricultores orgânicos

no município de Verê, na localidade de Vila Colonial. A produção orgânica é representada

principalmente pela uva, frutas e hortaliças.

Pelo fato da criação da APROVIVE, que compra uvas orgânicas in natura e as

transforma em suco, a venda da produção de uvas é garantida. Da mesma forma, o fato da

APAV possuir um mercado próprio e do CAPA organizar a comercialização de alimentos

orgânicos através de programas institucionais do governo federal, como o PAA e PNAE,

permitem aos agricultores ter garantias no escoamento e comercialização do que produzem.

Isso pode ser considerado como um avanço e como um incentivo para os agricultores.

Assim como no outros municípios estudados, aplicamos a tipologia proposta no

capítulo II com cada um dos estabelecimentos rurais pesquisados no município Verê. Essa

classificação visa distinguir os estabelecimentos rurais das Unidades de Produção e Vida

Familiares, e aqueles que praticam agricultura orgânica dos que praticam a Agroecologia.

Para tanto, os dados das entrevistas foram fundamentais nessa diferenciação. O quadro a

seguir apresenta as variáveis, que propusemos para dizer se são ou não familiares.

Quadro 05 - Classificação de agricultores de Verê /PR.

Agricultor UPVF até 50

hectares

Gestão

familiar

Mão de obra

familiar

Renda Residência

A.M. X X X X X

B.B. X X X < X

D.C. X X X X X

D.C. e I.C. X X X X X

D.M. X X X X X

I.Z. X X X X X

I.C. X X X X X

M.T. X X X X X

N.M. X X X X X

R.C. X _ < < _

V.B. X X X X X

V.J. X X X X X

Família C. X X X X X

Elaboração: MEIRA, S.G. e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (2013).

Esta síntese aponta que dos treze produtores de alimentos orgânicos de Verê, 12 são

familiares, sendo assim UPVFs. O único estabelecimento que não foi considerado UPVF,

apesar de ter menos que 50 hectares, apresenta apenas um residente; pouca renda proveniente

de atividades agrícolas; gestão individual e não familiar; e pouco emprego de mão de obra nas

atividades agrícolas. A partir desta análise, a tipologia aplicada aos estabelecimentos rurais de

Verê está sintetizada no quadro 04.

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Quadro 06 - Classificação de agricultores orgânicos e agroecológicos de Verê/PR.

Agricultor Emp. Fam. Trad. Mod. Total Parc. Trans. IEB IEC Ideo. Esp. P

div

Div. Cert.

Part.

Cert.

Aud.

Sem

Cert.

Classific.

B.B. X X X X X X X X UPVF

Parcialmente

Orgânica com

certificação

A.M. X X X X X X X UPVF

Agroecológica

com

Certificação

D.C. X X X X X X X UPVF

Agroecológica

com

certificação

D.C. e I.C. X X X X X X X UPVF

Parcialmente

Orgânica com

certificação

D.M.

X X X X X X UPVF

Parcialmente

Orgânica com

Certificação

I.Z. X X X X X X X UPVF

Parcialmente

Orgânica com

Certificação

I.C. X X X X X X X UPVF

Parcialmente

Orgânica com

Certificação

M.T. X X X X X X X UPVF

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Parcialmente

Orgânica com

Certificação

N.M. X X X X X X X UPVF

Agroecológica

com

Certificação

R.C. X X X X X Estabelecimento

orgânico com

certificação

V.B. X X X X X X X UPVF

Parcialmente

Orgânica com

Certificação

V.J. X X X X X X X UPVF

Agroecológica

com

Certificação

Família C. X X X X X X X UPVF

Parcialmente

Orgânica com

Certificação

Elaboração: MEIRA, S.G. e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (2013).

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Analisando o quadro, percebemos que são oito UPVFs parcialmente orgânicas, oito

UPVFs agroecológicas e um estabelecimento orgânico. O diferencial deste município é que

todos os produtores de alimentos orgânicos possuem certificação de pelo menos um produto.

Assim como no município de Salto do Lontra e Itapejara d’Oeste, são diversos os

sujeitos envolvidos com a produção de alimentos orgânicos em Verê, envolvendo as

dimensões econômica, ambiental, social, política e ética. As territorialidades, temporalidades

e intencionalidades são evidenciadas pela atuação de agricultores, técnicos gestores (ex

Secretário municipal de agricultura) e entidades (CAPA, APROVIVE, APAV, COAFA).

Observamos que são diversas as relações estabelecidas entre agricultores, empresas e

técnicos, confirmando as múltiplas territorialidades da produção orgânica e agroecológica. As

ações do CAPA, APAV e APROVIVE evidenciam a forte presença da intencionalidade

ideológica na produção orgânica e agroecológica, porém a presença da intencionalidades

econômicas básicas e capitalistas no município também é expressiva, pois estas mesmas

entidades almejam mercados cada vez maiores e mais distantes.

As temporalidades presentes também demonstram a complexidade da agricultura

orgânica, uma vez que coexistem no município de forma geral, e em cada UPFV, distintas

temporalidades, ritmos e modos de fazer agricultura orgânica, evidenciando o tempo das

coexistências, da simultaneidade.

As territorialidades também são múltiplas e híbridas, pois estão ligadas a vínculos que

cada agricultor e cada UPVF possui em termos de assistência para a produção, capacitação,

canais de comercialização e de certificação, além de relações sociais diversificadas, inclusive

entre membros de uma mesma família.

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185

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O debate e as experiências sobre formas de agricultura de base ecológica como

alternativas à agricultura convencional vêm crescendo nos últimos anos, apesar de diferentes

dinâmicas conforme o lugar analisado. Os principais objetivos desses tipos de agricultura

estão na busca pela redução do uso de agrotóxicos, fungicidas, inseticidas, adubos químicos e

outros elementos disseminados pelo pacote da “Revolução Verde”.

Nos municípios pesquisados, também é bastante perceptível o papel de ONG’s e

outras instituições que apoiam de alguma forma a produção de alimentos livres de

agroquímicos por parte de agricultores familiares, que estão assumindo um compromisso em

defesa da saúde humana e da preservação e conservação ambiental.

As ações das entidades que atuam com a Agroecologia e a agricultura orgânica nos

municípios de Itapejara d’Oeste, Salto do Lontra e Verê, evidenciam intencionalidades

distintas em relação aos fundamentos e ao papel que a agricultura orgânica e mais

profundamente a Agroecologia desempenha e pode desempenhar nesses municípios. Essas

intencionalidades são decorrentes de objetivos locais e extra-locais, ou seja, de

horizontalidades e verticalidades.

Essas relações entre agricultores, instituições e técnicos conduz a diversas

territorialidades, sejam elas de origem econômica (ligadas à técnicas de produção,

comercialização e certificação), sociocultural (práticas desenvolvidas, métodos de produção e

manejo, ajuda mútua, cooperativismo), ambiental (preocupação com a preservação e

conservação do meio ambiente, sustentabilidade, saúde de agricultores e consumidores) e

política (apoio à políticas públicas como o PAA e PNAE, falta de assistência técnica, discurso

favorável à Agroecologia sem ações efetivas). Essas territorialidades coexistem e são de

difícil identificação.

Da mesma forma, as territorialidades carregam consigo diferentes temporalidades,

pois conforme o vínculo existente com uma empresa ou instituição, o tempo destas acaba

influenciando a vida dos agricultores, seja através de contratos, exigências em termos de

produtividade, uso de tecnologias, entre outros elementos. Procuramos distinguir

temporalidades mais rápidas, ligadas à dinâmica da economia capitalista e ao uso de

tecnologias, de temporalidades lentas, fruto de relações locais e antigas entre os agricultores.

Desde o início da pesquisa, sabíamos que apreender essas intencionalidades,

territorialidades e temporalidades seria algo difícil e incompleto, pois as relações são

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186

inúmeras e nosso olhar pode apenas captar alguns aspectos da realidade. No entanto, nos

lançamos nesse desafio e certamente aprendemos muito com esse exercício de análise.

A construção de estratégias de inclusão econômica ou social conduzem a

intencionalidades, territorialidades e temporalidades diversas, que correspondem à

intervenções simbólicas e materiais, que territorializam o espaço e vão se materializando

através de objetos e ações.

O agir social cria e modifica territórios, que se registram no conjunto da produção, das

trocas, da comercialização e do consumo. A partir disso, as relações estabelecidas ocorrem

dentro de um campo de poderes. No caso dos municípios estudados, em Salto do Lontra,

existem territorialidades diferentes entre o CAPA e o STR - que associam a Agroecologia

com qualidade de vida e proteção ambiental - e a COOPAFI, EMATER e CRESOL, que

apesar do discurso, fundamentam-se na lógica econômica capitalista, não atribuindo grande

importância às experiências identificadas nas UPVFs pesquisadas. Em Itapejara d’Oeste não é

diferente, porém a existência de uma empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

(ATER) é um diferencial em relação aos demais municípios.

Já no município de Verê, considerado o mais avançado em termos de agricultura

orgânica e de Agroecologia, o papel do CAPA – assim como nos outros municípios – vem

sendo fundamental para esse avanço. Além de atuar diretamente com os agricultores, o CAPA

também vem dialogando com outras instituições e viabilizando aspectos fundamentais,

ligados à capacitação para produção, comercialização, organização e certificação. A criação

da APAV e APROVIVE indica que o CAPA vem contribuindo para a autonomia dos

agricultores orgânicos, da mesma forma que vem fortalecendo princípios da Agroecologia

entre eles. Mesmo assim, também existem indícios de uma disputa entre agricultura orgânica

– mais direcionada a nichos de mercado – e a Agroecologia – mais complexa e preocupada

com a qualidade de vida e autonomia dos agricultores.

Não podemos deixar de enfatizar que os agricultores familiares são os principais atores

na luta pela efetivação da produção agroecológica, pois buscam garantir a sobrevivência de

suas famílias. Porém essa sobrevivência está ligada a intencionalidades econômicas (básicas

ou capitalistas), mas também a outras intencionalidades, como a preocupação com a saúde da

família e dos consumidores, a redução das ações de degradação ambiental no estabelecimento

rural, a utilização de recursos oriundos do próprio estabelecimento (adubos e defensivos

orgânicos, fontes de aquecimento e energia), entre outras. Dessa forma, esses agricultores

imprimem suas ações através do tempo e territorializam o espaço onde vivem, apesar de

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187

serem amplamente influenciados pelas intencionalidades das instituições e dos técnicos de

alguma forma envolvidos com a questão agrária e agrícola.

Com a tipologia proposta e aplicada, buscamos dialogar com o conceito de

intencionalidades, entendendo que o conhecimento geográfico pode contribuir na busca de

integração entre conhecimentos científicos e tradicionais, em virtude de sua perspectiva

multidimensional. Optamos por discutir as intencionalidades que são eminentemente

econômicas, aquelas que também carregam uma perspectiva ideológica em relação à

agroecologia como uma relação mais harmônica com a natureza, assim como aqueles que

possuem uma intencionalidade mais política, pelo fato de elogiar a iniciativa da agricultura

orgânica e da Agroecologia, mas que não operacionalizam ações que contribuam para a

mesma.

Sabemos que existem outros elementos e características que podem ser considerados

para a elaboração de tipologias relacionadas à agricultura orgânica e à Agroecologia, pois a

realidade é multifacetada e complexa, mas as intencionalidades e as temporalidades são

fundamentais na configuração de objetos e ações, e consequentemente, no uso do território e

na transformação do espaço geográfico. Elas influenciam a materialidade dos lugares, assim

como as relações sociais, ao mesmo tempo em que os objetos e as ações existentes exercem

influência sobre objetos e ações futuros, conforme afirmava Santos (1996).

Portanto, o processo de territorialização da agricultura orgânica e da Agroecologia nos

municípios analisados, é decorrente de intencionalidades divergentes mas coexistentes, e

conduzem a criação de novas territorialidades e temporalidades nas UPVFs e nos próprios

municípios.

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d’oeste - PR, 09 de dez. 2011.

A.M. e C.M. Entrevista concedida a Suzana Gotardo de Meira e Lunéia Catiane de Souza.

Verê - PR, 29 de jul. 2012.

A.N.B. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Maristela da Costa leite. Salto do

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30 de jun. 2012.

D.M. L.M. Entrevista concedida a Suzana Gotardo de Meira e Lunéia Catiane de Souza. Verê

- PR, 29 de jun.2012

E.F. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Maristela da Costa leite. Salto do

Lontra - PR, 12 de jul. 2012.

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d’oeste - PR, 20 de jul. 2012.

F.P. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Maristela da Costa leite. Salto do

Lontra - PR, 12 de jul. 2012.

I.C e J.C. Entrevista concedida a Suzana Gotardo de Meira e Lunéia Catiane de Souza. Verê -

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I.Z. E FAMÍLIA. Entrevista concedida a Suzana Gotardo de Meira e Lunéia Catiane de

Souza. Verê - PR, 04 de jun. 2012.

J.A.L. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Lunéia Catiane de Souza. Verê - PR,

09 de dez. 2011.

J.B. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Débora Luzia Gomes. Itapejara d’oeste

- PR, 09 de dez. 2011.

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M.J. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Lunéia Catiane de Souza. Verê - PR,

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Lontra - PR, 12 de jul. 2012.

M.M. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Débora Luzia Gomes. Itapejara

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d’oeste - PR, 19 de jul. 2012.

N.B e F.A.F. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Lunéia Catiane de Souza.

Verê - PR, 16 de dez. 2011.

N.M. Entrevista concedida a Suzana Gotardo de Meira e Lunéia Catiane de Souza. Verê - PR,

29 de jun. 2012.

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V.C. e C.C. Entrevista concedida a Suzana Gotardo de Meira e Lunéia Catiane de Souza.

Verê - PR, 02 de jul. 2012.

V.J. e N.J. Entrevista concedida a Suzana Gotardo de Meira e Lunéia Catiane de Souza. Verê

- PR, 03 de jul. 2012.

V.L. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Débora Luzia Gomes. Itapejara

d’oeste - PR, 09 de dez. 2011.

V.S. Entrevista concedida a Talita Caroline Dambros e Débora Luzia Gomes. Itapejara

d’oeste - PR, 16 de dez. 2011.

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195

APÊNDICE 1. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA AGRICULTORES

AGROECOLÓGICOS E/OU ORGÂNICOS

Data:

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA UPVF

1. Proprietário: Entrevistado: _______________________

2. Endereço: Tel: ________________

3. Tempo de residência no município: ___________ Na UPVF: ___________

4. Origem étnica/descendência:___________________ Onde nasceu/cidade e Estado:

______________________________________________________________________

5. Quantas pessoas residem na UPVF?_________________ Destas, quantas pessoas trabalham

na UPVF?

6. Moradores da propriedade e funções:

( ) mulheres:______________________________________________

( ) homens:_____________________________________ ( ) crianças: _____________

7. A gestão da UPVF é feita da forma coletiva ou individualizada? (tomada de decisões) ( )

familiar / ( ) chefe / ( ) casal / ( ) membro da família / ( ) contratado

8. Como são definidas as atividades dos membros da família?

Membro da

família

(residentes)

Ocupação

(trabalho realizado)

Escolaridade Idade Sexo

F M

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196

9. Qual a renda média familiar? _______________________________________________

10. Quem decide o que fazer com o dinheiro? ( ) Homem ( ) Mulher ( ) Casal ( ) Família

11. Quem fica com o dinheiro? ( ) Homem ( ) Mulher

RENDA EXTERNA

Renda Tipo de Trabalho Membro da Família

Aposentadoria

Trabalho rural

Trabalho urbano

Agroindústria

12. Contrata mão-de-obra? ( ) S ( ) N Quantos? ( ) H ( ) M (quantificar)

( ) Temporários / Período:______________________ ( ) Permanentes

Para quais atividades? ____________________________________________________

13. Existe na comunidade a prática da ajuda mútua entre famílias? ( ) S ( ) N Especificar

(quando, como)________________________________________________

______________________________________________________________________

TABELA USO DO SOLO

Atividade Área (hectare) Espécie cultivada

Total da propriedade

Culturas Temporárias

Culturas Permanentes

Área de horticultura

Mata e Capoeiras (RL e APPs)

Reflorestamento / Silvicultura

Pastagens

Açude

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197

BENFEITORIAS

Tipo Material Estado

conservação

Metragem m2

Casa

Paiol

Estábulo

Chiqueiro

Aviário

Galpão de Fumo

Galpão para

Máquinas

Esterqueira

Estufa

Cisterna

Aquecedor de Água

Outros

MAQUINÁRIO E EQUIPAMENTOS PARA PRODUÇÃO

AGROECOLOGICA

Tipo Estado de conservação Uso

P C A

Carroça

Arado Tração Animal

Batedor de cereais

Trilhadeira

Forrageira

Motor Elétrico

Motor Diesel

Motor a Gasolina

Trator

Outros

P = próprio C = coletivo A= alugado

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198

DADOS SOBRE AGROECOLOGIA

14. O que entende por agricultura orgânica?___________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

15. O que entende por agroecologia?_________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________

16. Como é feito o manejo agroflorestal? __________

__________________________________________________________________

17. Como faz o controle/manejo de insetos e doenças? __________________________

_____________________________________________________________________

18. Como faz o controle/manejo das plantas espontâneas? ________________________

______________________________________________________________________

19. O que deve ser feito para o crescimento do número de UPVF's agroecológicas? ____

______________________________________________________________________

20. Você se identifica como: ( ) agricultor orgânico ( ) agroecológico ( ) Outro______

Por quê?______________________________________________________________

______________________________________________________________________

21. Desde quando trabalha com agricultura orgânica/agroecologia?

22. A iniciativa partiu de quem (homem ou mulher) para a produção orgânica/agroecológica?

( ) Homem ( ) Mulher ( ) Filhos ( ) Família

23. Como aprendeu a cultivar de forma orgânica?

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24. A UPVF: ( ) é 100% agroecológica ( ) Parcial ___________________________ ( )

está em processo de transição

25. Porque optou pela agricultura orgânica/agroecologia?

26. Quais seus objetivos atuais com a agricultura orgânica/agroecologia?______

___________________________________________________________________

27. Quais insumos são produzidos na UPVF?

Sementes___________________________________________________________________

____________________________________________________________

Mudas______________________________________________________________________

___________________________________________________________

Adubo______________________________________________________________________

___________________________________________________________

Medicamentos_______________________________________________________________

____________________________________________________________

Matéria Orgânica_____________________________________________________

___________________________________________________________________

28. Quais insumos são adquiridos fora da UPVF?

Sementes___________________________________________________________________

___________________________________________________________

Mudas______________________________________________________________

Adubo______________________________________________________________________

___________________________________________________________

Medicamentos_______________________________________________________________

____________________________________________________________

29. Abandonou alguma atividade agrícola após inserção na agricultura orgânica/agroecologia

( ) S ( ) N

Oque?______________________________________________________________

Porquê?_____________________________________________________________

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30. Ampliou alguma atividade agrícolas após inserção na agricultura orgânica/agroecologia?

( ) S ( ) N

Qual:_______________________________________________________________

Porquê?_____________________________________________________________

31. Após a conversão para a agricultura orgânica/agroecologia alterou a renda familiar?

( ) S ( ) N Por quê? ____________________________________________________

32. Após a família optar pela agricultura orgânica/agroecologia observou-se a redução de

gastos (medicamentos, alimentos, insumos)? ( ) S ( ) N

Especificar__________________________________________________________________

___________________________________________________________

33. Quais as vantagens da agricultura orgânica/agroecologia?

34. E as dificuldades da agricultura orgânica/agroecologia (vegetal, animal, agroindustrial?

35. Quais os equipamentos e/ou tecnologias que você utiliza na agricultura orgânica?

36. Existe algum equipamento que você gostaria de ter?

37. Na sua opinião, o que ainda falta de tecnologias adaptadas à agricultura orgânica?

38. Participa de feiras: ( ) S ( ) N

Que feira: convencional ou ecológica? _____________ Periodicidade: ____________

39. O que deve ser feito para melhorar a produção e comercialização dos alimentos

orgânicos/agroecológicos?

40. A UPVF tem certificação? ( ) S ( ) N. Quem faz a certificação?

41. Quais produtos são certificados?_________________________________________

___________________________________________________________________

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201

42. Qual o custo com a certificação?_________________________________________

__________________________________________________________________

43. Existe vantagens com a certificação? ( ) S ( ) N Quais?____________________

___________________________________________________________________

44. E desvantagens? ( ) S ( ) N Quais?____________________________________

___________________________________________________________________

PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO (convencional e agroecológica)

45. A família calcula os custos de produção das atividades desenvolvidas na UPVF?

( ) S ( ) N / Como?:_____

46. Meios de transporte utilizados para comercializar a produção da UPVF: _________

47. Há retorno de produtos comercializados? ( ) S ( ) N/ Como?:__________________

48.

Produção Vegetal

Produto Produção

mensal/anual

A C Quantidade

comercializada

Forma de

comercialização

Consumo

e Doação

Período

de

produção

49. Qual a renda mensal oriunda da produção vegetal?

Geral:_________________________________________

Orgânica:__________________________________________

50. Quais os membros da família que estão mais envolvidos na produção vegetal?

___________________________________________________________________

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202

Produção Animal

Produto A C Produção

Mensal/anual

Quantidade

comercializada

Forma de

comercialização

Consumo

E Doação

Leite/L

Suíno/Kg

Boi/Kg

Aves

Caipiras/Cab.

Aves

Granja/Cab.

Peixes/Kg

Ovos

Mel

Outros

Observar forma de armazenamento

Tabela do rebanho atual

Categoria Nº total de animais

Bovinos

Vacas em lactação

Suínos

Ovinos

Animais de tração

Equinos

Aves Caipiras

Aves de Granja

Outros

51. Qual a renda mensal e/ou anual oriunda da produção animal? __________________

Geral:________________________________________________

Orgânica:_______________________________________________

52. Quais os membros da família que estão mais envolvidos na produção animal?

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203

___________________________________________________________________

Produção agroartesanal

Produto Produção

mensal

A C Quantidade

comercializada

Forma de

comercialização

Consumo

E Doação

Período

de Prod.

Queijo/Kg

Açúcar

Mascavo/Kg

Embutidos/Kg

Doces/Kg

Conservas/Kg

Vinho/L

Outros

53. Por que optaram pela atividade agroartesanal? ______________________________

___________________________________________________________________

54. Os alimentos agroartesanais são produzidos em agroindústria ( ) Sim ( ) Não/ ( )

Individual ( ) Coletiva. Tem inspeção ( ) Sim Qual? ( )Não. Por quê? _____________

55. Qual a renda mensal oriunda da produção agroartesanal? ______________________

Geral:

Orgânica:

56. Quais os membros da família que mais se envolvem na produção agroartesanal?

___________________________________________________________________

57. Na produção é utilizado algum ingrediente não ecológico? ( ) S ( ) N

O que é utilizado? _______________________________________________________

Onde?_________________________________________________________________

58. Qual a cultura mais importante economicamente?____________________________

RELAÇÕES PARA FORA DA UPVF

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204

Quais são as entidades parceiras da agricultura orgânica/agroecologia?

Entidades (cooperativa,

associação, sindicato)

Vínculo (associado, dirigente)

( ) Mulher ( ) Homem

Forma de Atuação da entidade

59. Participou/participa de eventos, cursos, palestras? ( ) S ( ) N

Nome do Curso Entidade

Crédito

60. Fez/Faz algum tipo de financiamento? ( ) S ( ) N Qual finalidade?:

Custeio ( ) ________________ Investimento ( ) ______________________________

Fontes __________________________________________________________

ASPECTO AMBIENTAL

Uso da água na UPVF:

61. Tem estimativa do consumo total mensal de água? ( ) S ( ) N Qual? _______

62. Capta água da propriedade? ( ) S ( ) N Onde: (X) Poço / ( ) Fonte / ( ) Rede pública / ( )

Rio ______________ Situação da fonte ou poço: _____________

63. Número de fontes existentes na UPVF? ________ ( ) protegidas ( )desprotegidas

64. Possui nascentes? ( ) S ( ) N / nº:___ Situação: ( ) protegidas ( )desprotegidas

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205

65. Tem SISLEG? ( )S (X)N

66. Existe rios na UPVF? ( ) Sim ( )Não. Quantos ___________________________

67. Realiza algum tratamento da água utilizada para consumo? ( ) S ( ) N

Qual? ______________________________________________________________

Quem teve a iniciativa?

68. Realiza práticas de conservação da água? ( ) S ( ) N

69. Quais as formas (possíveis) de contaminação da água?

70. Já fez ou costuma fazer análise da água utilizada para consumo? ( ) S ( ) N Onde:_______

Quando: _______ Resultado: _________ Quem teve a iniciativa?

71. Tem problema com falta d’água? ( ) S (X) N

Quando?

____________________________________________________________

72. Tem problema com qualidade das águas utilizadas? ( ) S ( ) N

73. Qual (cor, mau cheiro, gosto ruim)?________________________

Destino de lixos e dejetos

74. Qual o destino das águas e esgoto? Tanque: ______________ Cozinha: _________ Vaso

sanitário: ____________________ Chuveiro: ________________________

75. Sanemento: ( ) rede / ( ) fossa séptica / ( ) sumidouro / ( ) rio / ( ) outro:

______________________

76. Disposição do lixo seco: ( ) coleta pública / ( ) reutilização / ( ) queima / ( )

outro:___________________ Periodicidade da coleta: ___________________

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206

77. Qual a destinação do lixo orgânico? ( ) descartado ( ) uso direto como adubo ( )

compostagem. Onde descarta ou armazena o lixo orgânico? ________________

78. Qual a destinação dos dejetos animais? ( ) esterqueira ( ) lagoa ( ) rio (X) adubo

Situa

ção:________

79. A propriedade tem algum tipo de licenciamento ambiental?

(queijaria, aviários...) ___________________________________________

Manejos e conservação do solo

80. Quais as práticas utilizadas na UPVF para conservar e ou recuperar o solo, melhorando

sua fertilidade?

Prática Geral Orgânico

Cobertura vegetal

Plantio direto

Adubação verde

81. Situação dos solos (Observar)

( ) ravinas

( )

voçorocas

( )

sulcos ( )

boa conservação

82. Como prepara o solo para o plantio?

( ) Plantio direto ( ) Cultivo mínimo ( ) Plantio Convencional Ou: ___________

83. Faz consorciamento de culturas em sua propriedade? Que tipo de plantas você usa?

84. Como está a fertilidade do solo em sua propriedade?

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207

85. Que limites você identifica para manter ou ampliar a fertilidade de sua propriedade?

84. Realiza práticas de conservação do solo? ( ) S ( ) N ( ) terraceamento ( ) adubação verde

( )

rotação de cultura ( )

cordões vegetais ( ) plantio em nível ( ) reflorestamento ( ) alternância de capinas( )

Outros Qual? ______________________________________

PREPARADOS ORGÂNICOS

Tipo de

preparado

Finalidade Onde é

aplicado

Onde foi

Adquirido

TABELA ASPECTOS RELACIONADOS À PRODUÇÃO

Atividades S/N Onde Como Resultado

Faz análise de solo

Usa agrotóxico

Utiliza Calcário

Utiliza Adubo Químico

Usa Inseminação Artificial

Usa Sal Mineral

Faz as Vacinações

Faz Desverminação

Faz teste de Mastite

Faz Piqueteamento de Potreiro

Utiliza Silagem

Utiliza pó de pedra

Outros

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208

SAÚDE

Membro

da família

Problemas

de saúde

Tem

acompanhamento

médico?

É diagnosticada em

casa?

Quem cuida? (ajuda

cuidar)

S ( ) N ( )

S ( ) N ( )

S ( ) N ( )

S ( ) N ( )

S ( ) N ( )

LAZER

Membro da família Atividades

( ) Visitas/ ( ) Igreja / ( ) TV/ ( ) esportes/ ( ) bailes/ ( )outros:______

( ) Visitas/ ( ) Igreja / ( ) TV/ ( ) esportes/ ( ) bailes/ ( )outros:______

( ) Visitas/ ( ) Igreja / ( ) TV/ ( ) esportes/ ( ) bailes/ ( )outros:______

85. Na sua opinião, quem é o agricultor que mais produz orgânicos no município?

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209

APÊNDICE 2. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA GESTORES

Entrevistado (a):___________________________Instituição:_____________________

Data:___________________ Município: _____________________________________

Tel. ( ) ___________________ Email_______________________________________

Questões para o secretário (a) de agricultura

1. Existe uma politica do município para apoio da agricultura orgânica/agroecologia?

( ) S ( ) N Quais as diretrizes?

2. Existe orçamento do município para apoio da agricultura orgânica/agroecologia?

( ) S ( ) N Quanto? (valor, porcentagem)

3. Qual a estrutura que o município disponibiliza para o trabalho com agroecologia/AO? (física,

pessoas)

4. O município adquire produtos orgânicos/agroecológicos para a merenda escolar? ( ) S ( ) N

Quais produtos?

5. Existe algum registro dos produtos e da quantidade adquirida?

6. Existe política de controle do uso de agrotóxicos no município? (permitidos e proibidos) ( ) S

( ) N Qual?

7. Existe uma política de redução do uso de agrotóxicos no município? (permitidos e proibidos)

( ) S ( ) N Qual?

8. Há coleta do lixo nas comunidades rurais? ( ) S ( ) N Qual a frequência?

9. E as embalagens de agrotóxicos?

10. Como vê o futuro da agricultura orgânica/agroecologia no município? (perspectivas, desafios)

11. Como vê o futuro da agricultura orgânica/agroecologia na região Sudoeste?

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APÊNDICE 3. ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA TÉCNICOS

Entrevistado (a):___________________________Instituição:_____________________

Função Desempenhada:___________________________________________________

Data:___________________ Município: _____________________________________

Tel. ( ) ___________________ Email_______________________________________

Questões referentes ao município e instituição

1. Qual a forma de atuação da instituição/entidade? Que atividades são desenvolvidas?

2. Desde quando a instituição/entidade atua com agricultura orgânica agroecologia?

3. Quais os objetivos e propósitos da instituição/entidade em relação à agricultura

orgânica/agroecologia?

4. A instituição/entidade presta assistência a quantas famílias que trabalham com agricultura

orgânica/agroecologia? Em quais comunidades?

5. Como se dá o processo de assistência aos agricultores (metodologia)? (Individual, associativa,

formação continuada, periodicidade do acompanhamento, etc.)

6. Além desta existem outras instituições/entidades parceiras que atuam com agricultura

orgânica/agroecologia dentro e fora do município:

Instituição Referência (contato)

7. Qual o destino da produção orgânica/agroecológica da instituição/entidade?

8. Há cobrança de alguma taxa para os membros da instituição/entidade? ( ) S ( ) N Qual?

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9. Existe organização dos agricultores orgânicos/agroecológicos no município? ( ) S ( ) N

Qual?

10. Como surgiu a organização dos agricultores orgânicos/agroecológicos no município?

11. Quais os principais produtos orgânicos do município?

12. Quais os avanços e problemas na produção de alimentos orgânicos no município?

13. Quais os avanços e problemas na comercialização da produção orgânica do município?

Questões ao técnico

1. Tempo de residência no município em que desenvolve o trabalho____________.

2. Qual é a sua formação profissional? Instituição?

3. O que entende por agricultura orgânica?

4. O que entende por agroecologia?

5. Quanto tempo atua com agricultura orgânica/agroecologia?

6. Além dessa função desenvolve outras atividades? ( ) S ( ) N Quais?

7. Consome produtos orgânicos/agroecológicos? ( ) S ( ) N Origem__________

8. Como iniciou seu trabalho com agricultores orgânicos/agroecológicos?

9. Onde busca conhecimentos sobre agricultura orgânica/agroecologia?

10. Quais as principais dificuldades relatadas em relação à produção? (Em quais produtos)

11. Quais as principais técnicas utilizadas para solução dos problemas? (insetos, fungos, doenças,

plantas invasoras).

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12. Quais as principais dificuldades são relatadas em relação à comercialização?

13. Quando os problemas não são solucionados pela instituição a quem recorrem?

14. Como supera os problemas que surgem no trabalho com agricultura orgânica/agroecologia?

15. Os agricultores aos quais você presta assistência possuem certificação? ( ) S ( ) N Qual?

Quantos?

16. Quais os problemas relacionados à certificação?

17. Como vê o futuro da agricultura orgânica/agroecologia no município? (perspectivas, desafios)

18. Como vê o futuro da agricultura orgânica/agroecologia na região Sudoeste?