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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
André Luis Dias Santos
GEOLOGIA, PETROGRAFIA E EVOLUÇÃO METAMÓRFICA DAS ROCHAS META-KOMATIÍTICAS DA UNIDADE INFERIOR DO
GREENSTONE BELT DE UMBURANAS, BAHIA, BRASIL
Salvador 2008
ii
André Luis Dias Santos
GEOLOGIA, PETROGRAFIA E EVOLUÇÃO METAMÓRFICA DAS ROCHAS META-KOMATIÍTICAS DA
UNIDADE INFERIOR DO GREENSTONE BELT DE UMBURANAS, BAHIA, BRASIL
Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientadora: Profª. Angela Beatriz de Menezes Leal
Salvador 2008
iii
TERMO DE APROVAÇÃO
André Luis Dias Santos
GEOLOGIA, PETROGRAFIA E EVOLUÇÃO METAMÓRFICA DAS ROCHAS META-KOMATIÍTICAS DA
UNIDADE INFERIOR DO GREENSTONE BELT DE UMBURANAS, BAHIA, BRASIL
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
BANCA EXAMINADORA Profª Dra. Angela Beatriz de Mezeses Leal - IGEO/UFBA - Orientadora Prof. Dr. Luiz Rogério Bastos Leal - IGEO/UFBA MSc. Violeta de Souza Martins Borges - CBPM
Salvador, 3 de dezembro de 2008
iv
SUMÁRIO
SUMÁRIO................................................................................................. iv LISTA DE FIGURAS................................................................................. vi LISTA DE FOTOGRAFIAS........................................................................ vii LISTA DE FOTOMICROGRAFIAS........................................................... ix LISTA DE TABELAS................................................................................. xi RESUMO................................................................................................... xii ABSTRACT................................................................................................ xiv AGRADECIMENTOS................................................................................. xvi
CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 19 1.1 Apresentação....................................................................................... 19 1.2 Importância do tema............................................................................ 20 1.3 Objetivos do trabalho........................................................................... 21 1.4 Localização e vias de acesso.............................................................. 21 1.5 Trabalhos anteriores........................................................................... 24 1.6 Características gerais dos Greenstone Belts....................................... 25 1.7 Características gerais das rochas komatiíticas.................................... 27
CAPÍTULO 2
2. MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................... 30 2.1 Revisão Bibliográfica............................................................................ 30 2.2 Trabalhos de Campo............................................................................ 30
2.3 Métodos Petrográficos......................................................................... 31
2.4 Métodos Químicos............................................................................... 31
2.5 Tratamento de Dados Analíticos.......................................................... 32
CAPÌTULO 3
3. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL................................................ 34
3.1 O Cráton do São Francisco................................................................. 34
3.2 O Bloco Gavião.................................................................................... 38
v
CAPÍTULO 4 4. ASPECTOS GEOLÓGICOS DO GREENSTONE BELT DE UMBURANAS............................................................................................ 43 4.1 Unidade Inferior.................................................................................... 46 4.1.1 Rochas meta-komatiíticas e Meta-basaltos basais........................... 46 4.1.2 Rochas calcissilicáticas, meta-vulcânicas félsicas e máficas, meta-
carbonatos e formações ferríferas............................................................. 49 4.1.3 Quartzitos, meta-conglomerados e meta-cherts............................... 52 4.2 Unidade Média..................................................................................... 54 4.3 Unidade Superior................................................................................. 57 4.4 Rochas graníticas intrusivas................................................................ 59 4.4.1 Maciço granítico de Umburanas....................................................... 59 4.4.2 Maciço Serra do Eixo....................................................................... 61 4.5 Coberturas Terciárias/Quarternárias.................................................... 61
CAPÍTULO 5 5. GEOLOGIA, PETROGRAFIA E EVOLUÇÃO METAMÓRFICA DAS ROCHAS META-KOMATIÍTICAS DA UNIDADE INFERIOR DO GREENSTONE BELT DE UMBURANAS................................................. 63 5.1 Geologia............................................................................................... 63 5.2 Petrografia............................................................................................ 65 5.3 Evolução metamórfica.......................................................................... 70 5.4 Geoquímica das rochas meta-komatiíticas.......................................... 71
CAPÍTULO 6 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 77
CAPÍTULO 7
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 80
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Mapa de localização da área de estudo e vias de
acesso(SEI,DERBA,2007).......................................................... 23
Figura 1.2 Aspecto geral de rochas meta-komatiíticas, mostrando os cristais de olivina de forma alongada. Greenstone belt de Barberton, África do Sul. A. Amostra de mão. B. Fotomicrografia.......................................................................... 28
Figura 3.1 Cráton do São Francisco com as principais seqüências
vulcanossedimentares. GB= Greenstone Belt. Adaptado e modificado de Alkmin 1993 et al. (1993).................................... 36
Figura 3.2 Localização do Cráton São Francisco, esboço geológico e
compartimentação geotectônica do Estado da Bahia (Adaptado e modificado de Barbosa & Dominguez 1996)......... 37
Figura 3.3 Mapa geológico simplificado da área de estudo, destacando
as principais unidades geológicas da região, bem como o greenstone belt de Umburanas e as ocorrências de rochas meta-komatiíticas associadas (Adaptado e modificado de Cunha & Fróes 1994)................................................................. 41
Figura 4.1 Coluna estratigráfica esquemática do Greenstone Belt de
Umburanas, segundo Cunha & Fróes (1994)............................. 44
Figura 4.2 Mapa geológico simplificado da porção sul do Greenstone Belt de Umburanas (adaptado e modificado de Cunha & Fróes, 1994)........................................................................................... 45
Figura 5.1 Diagrama ternário AFM [Al2O3-(FeO+Fe2O3 +TiO2)-MgO] de
Jensen (1976, in Viljoen et al. 1982) para classificação de rochas ultramáficas. As rochas meta-ultramáficas do GBU plotam no campo do peridotito Komatiítico................................. 73
Figura 5.2 Diagrama ternário MgO-CaO-Al2O3 para komatiitos e rochas
afins, adaptado de Viljoen et al. 1982. Evidenciando os altos teores de MgO para as amostras do GBU. I = Basaltos toleíticos; II= Basaltos komatiíticos; III= Peridotitos komatiítos.. 74
vii
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 3.1 Fotografia 3.1-Feição característica do embasamento
gnáissico-migmatítico do Bloco Gavião na área de estudo. Ponto: UM-107. Coordenadas: 198899/8420226.....................
38
Fotografia 3.2 Fotografia 3.2 - Feição característica do embasamento
gnáissico-migmatítico do Bloco Gavião na área de estudo. Ponto: UM-107. Coordenadas: 198899/8420226..................... 39
Fotografia 4.1 Intercalação entre rochas meta-vulcanicas máficas e rochas
meta-ultramáfica da Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM-01A. Coordenadas: 227320/8434644...................................... 47
Fotografia 4.2 Intercalação entre as rochas meta-vulcânicas máficas e
félsica na Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM-102. Coordenadas: 227980/8433528............................................... 50
Fotografia 4.3 Aspecto geral dos quartzitos de idade arqueana da Unidade
Inferior do GBU. Ponto: UM-104. Coordenadas: 229240/8433940....................................................................... 53
Fotografia 4.4 Aspecto geral dos meta-conglomerados associados aos
quartzitos da Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM 104. Coordenadas: 229240/8433940............................................... 54
Fotografia 4.5 Aspecto dos meta-andesitos da Unidade Média do GBU.
Ponto: UM-105. Coordenadas: 230663/8434296..................... 55
Fotografia 4.6 Aspecto dos meta-carbonatos da Unidade Superior do GBU. Ponto: UM-103. Coordenadas: 228799/8433928.................... 57
Fotografia 4.7 Aspecto da fácies tonalilítica do maciço de Umburanas, com
enclaves máficos. Ponto: UM-109. Coordenadas: 241613/8434202...................................................................... 60
Fotografia 4.8 Aspecto da fácies tonalilítica porfirítica do maciço de
Umburanas. Ponto: UM-109. Coordenadas: 241613/8434202...................................................................... 60
Fotografia 4.9 Aspecto da fácies granítica do maciço de Umburanas
cortado por veios pegmatíticos. Ponto: UM-106. Coordenadas: 233574/8434382............................................... 61
Fotografia 5.1 Aspecto geral da ocorrência de meta-komatiítos da Unidade
Inferior do GBU. Ponto: UM-100/UM-01. Coordenadas: 227320/8434644....................................................................... 64
viii
Fotografia 5.2 Detalhe das rochas meta-komatiíticas da Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM-100/UM-01. Coordenadas: 227320/8434644....................................................................... 64
ix
LISTA DE FOTOMICROGRAFIAS
Fotomicrografia 4.1 Aspecto geral das texturas nematoblástica e granoblástica. Rocha meta-vulcânica máfica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01B2. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Tit= titanita. Aumento de 200X................................................................................
47
Fotomicrografia 4.2 Detalhe do veio de epídoto seguindo a orientação da rocha. Rocha meta-vulcânica máfica. Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01B1. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Epi=Epídoto. Aumento de 100X...........
49
Fotomicrografia 4.3 Aspecto geral das texturas granoblástica e
lepidoblástica. Rocha meta-vulcânica félsica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-02. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 25X............. 51
Fotomicrografia 4.4 Plagioclásio apresentando o processo de sericitização
e saussuritização. Rocha meta-vulcânica félsica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-02. Nicóis cruzados. Aumento de 500X........................................... 52
Fotomicrografia 4.5 A. Cristais de moscovita associada à biotita. Nicóis
paralelos. Aumento de 200X. B. Cristal de plagioclásio saussuritizado e sericitizado. Nicóis cruzados. Aumento de 200X. Rocha meta-vulcânica félsica da Unidade Média do GBU. Amostra UM 07. Tit=titanita; Mos=moscovita; Plg=plagioclásio;Bio=biotita.......................................................................... .......................................................... 56
Fotomicrografia 4.6 Detalhe da moscovita preenchendo fratura com
minerais opacos associados. Rocha meta-vulcânica félsica da Unidade Média do GBU. Amostra UM-07. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X................................................................................ 57
Fotomicrografia 4.7 Detalhe do contato interdigitado entre grãos de
carbonato. Rocha meta-carbonato da Unidade Superior do GBU. Amostra UM-03-B. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X................................ 58
Fotomicrografia 4.8 Detalhe da presença de biotita e quartzo no contato
entre os grãos de carbonato. Rocha meta-carbonato da Unidade Superior do GBU. Amostra UM-03B. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Bio=Biotita, Qtz=Quarto. Aumento de 200X........................................................... 59
x
Fotomicrografia 5.1 Aspecto geral da serpentina. Rocha meta-ultramáfica
da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01A. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X............................................................................... 66
Fotomicrografia 5.2 Detalhe da olivina de forma ovalada sendo
parcialmente alterada para serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 25X............................................................................. 67
Fotomicrografia 5.3 Detalhe do intercrescimento de tremolita e antofilita.
Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-08-A. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Trem=Tremolita; Ant=Antofilita. Aumento de 100X................................................................................ 67
Fotomicrografia 5.4 Fotomicrografia 5.4 - Detalhe da alteração da antofilita
por serpentina. Rocha meta-ultramáfica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12B. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Serp=Serpentina, Ant=Antofilita. Aumento de 200X............................................................ 67
Fotomicrografia 5.5 Detalhe da substituição pseudomórfica da antofilita
pelo talco. Rocha meta-ultramáfica. Amostra UM11. A.Nicóis Paralelos. B.Nicóis cruzados. Ant=Antofilita, Trem=Tremolita. Aumento 200X..................................... 68
Fotomicrografia 5.6 Detalhe da formação do mineral opaco por substituição
pseudomórfica. Rocha meta-komatiítica. Amostra UM-01. A .Nicóis Paralelos.B.Nicóis cruzados. Aumento de 25X............... 68
Fotomicrografia 5.7 Detalhe dos minerais opacos na massa de serpentina.
Rocha meta-komatiitica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12D. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X........................................... 69
Fotomicrografia 5.8 Mineral opaco de coloração castanho associado a
serpentina de menor grau de alteração. Rocha meta-komatiitica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM12-C. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X............................................................ 69
Fotomicrografia 5.9 Detalhe do cristal de olivina acicular sendo substituído
por serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12A. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 25X..............................
69
xi
Fotomicrografia 5.10 Detalhe do cristal de olivina de forma ovalada sendo
substituído por serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12A. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 100X................................................................................ 70
Fotomicrografia 5.11 Textura spinifex, Apresentando cristais alongados de
olivina sendo substituído por serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12D. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 100X........................................................................... 70
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1 Análises químicas em rocha total de elementos maiores (%
peso) e traço (em partes por milhão. ppm) composição das rochas meta-komatiíticas do Greenstone Belt de Umburanas....
72
xii
RESUMO
O Greenstone Belt de Umburanas (GBU), de idade arqueana, está localizado
na porção centro-oeste do Estado da Bahia. Encontra-se inserido no segmento
crustal do Bloco Gavião (BG), no Cráton do São Francisco. O GBU é formado por
três unidades litoestratigráficas principais que encerram três ciclos vulcânicos: (i)
Unidade Inferior, contendo, na base, rochas vulcânicas meta-ultramáficas
komatiíticas, acompanhadas de meta-basaltos toleiíticos e meta-dacitos compondo o
primeiro ciclo vulcânico, seguidas por quartzitos com leitos meta-conglomeráticos,
meta-sedimentos químico-pelíticos (BIF’s, cherts, meta-carbonatos e rochas
calcissilicáticas) e pulsos discretos de meta-vulcânicas félsicas, atribuídas ao
segundo ciclo vulcânico; (ii) Unidade Média, dominada por rochas meta-vulcânicas
félsicas do terceiro ciclo vulcânico, com intercalações subordinadas de seus
equivalentes piroclásticos, epiclásticos e de derrames máficos e; (iii) Unidade
Superior, constituída essencialmente de meta-carbonatos.
As rochas meta-komatííticas da Unidade Inferior, objeto de estudo,
apresentam-se como faixas tectonicamente interrompidas, seguindo os contatos
com o embasamento e com os maciços graníticos de Umburanas e Serra do Eixo.
Apresentam coloração variando de cinza a cinza esverdeado, granulação fina e uma
foliação incipiente. As principais ocorrências dessas rochas estão situadas na Folha
topográfica de Brumado, próximo a estrada de ferro, nas imediações da Serra do
Sucuiu e na Folha cartográfica de Tanhaçu, na Serra do Eixo, mais precisamente
nas imediações da Fazenda Eixo da Serra.
Estudos petrográficos realizados nas rochas meta-komatiíticas revelaram a
presença de textura spinifex reliquiar, nos tipos mais preservados do processo de
serpentinização, bem como uma associação mineralógica secundária, constituída
por serpentina, talco, tremolita e antofilita, naquelas rochas com grau de
transformação hidrotermal/metamórfica mais elevada, refletindo, dessa forma,
modificações químicas que acompanharam a circulação de fluidos.
As rochas meta-komatiíticas foram classificadas como peridotitos komatiíticos.
Possuem altos teores de MgO (~33%), Cr (4067 ppm) e Ni (1488 ppm) e baixos
xiii
conteúdos de álcalis (~0,05%). As razões CaO/Al2O3 e Al2O3/TiO2 caracterizaram as
rochas meta-komatiíticas em komatiitos empobrecidos em Al.
Palavras Chave:
Rocha meta-komatiítica; Textura spinifex; Greenstone belt Arqueano;
serpentinização.
xiv
ABSTRACT
The Umburanas´s Greenstone Belt (GBU), of archean age, is located in the
middle western portion of Bahia´s State. It is founded in the crustal segment of
gavião Block (BG), in the São Francisco´s Craton. The GBU is made it by three main
litostratigraphic units that closes the volcanic cycles: (i) Lower Unit, contend, in you
base, komatiites meta-ultramafic volcanic rocks, followed by meta-basalts toleitic nad
meta-dacites compound the firs volcanic cycle, followed by quartzites with stream
bed of meta-conglomeratic, chemistry-pelitics meta-sediments (BIF´s, cherts,
metacarbonates and calcissilicatics rocks) and discrete pulses of felsic meta-
vulcanic, attributed to the second volcanic cycle; (ii) Middle Unit, dominated by felsic
meta-volcanic rocks of the third volcanic cycle, with subordinated intercalation of its
equivalence in pyroclastic, epiclastic and meta-carbonates.
The meta-komatiitics rocks of Lower Unit, object of this study, shows as na
interruped tectonic bands, following the contacts with the basement and with the
bulks granitics of Umburanas and the Eixo´s Moutain Range. It is presented a
coloration that varies from gray to green-gray, fine granulation and an incipient
foliation. The mainly occurance of these rocks are situaded in the Brumados´s
topographic Sheet, close to iron road, in the mediations of Sucuiu Mountain Range in
the cartographic Sheet of Tanhaçu, in the Eixo´s Mountain range, more necessarily
in the mediations of Eixo´s Mountain Range Farm.
Petrographic studies made it in the meta-komatiites rocks reveal the presence
of relic spinifex strucuture, in the more preserve types of the serpetinization process,
as well a secondary mineralogical assemble, constitued by by serpentine, talc,
tremolite and antofilite, in those rocks with a hydrothermal/metamorphic
transformation degree higher, reflecting, in some how, chemistry modification that
follows the flow´s circulations.
The meta-komatiitics rocks were classified as komatiitics peridotites. Having
high content of MgO (~33%), Cr (4067 ppm) and Ni (1488 ppm) and lower contents
of alkalis (~0,05%). The proportion CaO/Al2O3 and Al2O3/TiO2 characterizing the
meta-komattietics rocks as an impoverishment in Al.
xv
Keys-words:
Meta-komatiitic rocks; Spinifex texture; Archean Greenstone belt;
Serpentinization.
xvi
AGRADECIMENTOS
Gostaria de expressar meus agradecimentos a todas as pessoas e
Instituições que, de forma direta ou indireta, contribuíram durante minha trajetória
acadêmica.
Ao Instituto de Geociências da UFBA e a Companhia Baiana de Pesquisa
Mineral (CBPM) pelo apoio logístico.
Aos amigos da Corcovado Granitos, Carlos, Fábio, Genivaldo, Jayme, João,
Marivaldo, Miguel, Paulo e Verônica pela amizade e apoio proporcionado ao longo
dos dois anos em que lá estagiei e em especial à Adriana, pela prestatividade e a
Cláudia, não só pela compreensão, mais também pela amizade, conhecimentos
repassados e constante apoio nas atividades profissionais.
Aos funcionários do Instituto de Geociências pela forma atenciosa com que
sempre fui tratado, em especial, Alberto, André, Bossal, Caetano, Claudionor,
Deraldo, Gil, Joida e Mércia.
Aos professores do IGEO/UFBA, em especial à Antônio Marcos, Aroldo Misi,
Flávio Sampaio, Haroldo Sá, João Lamarck (in memoriam), Luiz Rogério Leal,
Marcelo Lima, Maria José Rêgo, Olívia Oliveira, Tânia Araújo e Telésforo Martinez.
A Professora Angela Leal, que foi de fundamental importância, pois seu
conhecimento, agregado a sua sensibilidade e prazer de ensinar, me mostrou por
onde seguir, questionou afirmações e sugeriu soluções, com muita dedicação
sempre acessível incentivando durante todo tempo.
Aos amigos do IGEO/UFBA, pelas discussões, sugestões e pela força de
suas presenças. Em especial à Ana Carla, Ana Carolina, Ana Luiza, Ana Maciel,
Andresa, Antonio Jorge, Bruno (Oceanografia), Carlito, Carlos Emanoel, Cristiane,
Denis Érico, Fabiane, Fernandinha, Gisele, Henrique, Jailma, Joilma, Manuel, Uyara,
xvii
Marcos, Natali, Patrícia, Rodrigo, Rosenilda, Sâmia, Tatiane, Tiago Drumont, Weider
e Zilda.
Aos meus grandes amigos da “turma do Bahia”, Diego Melo, Denise, Gilcimar,
Eraldo, Jofre, Lisálvaro, Marcelo Silva e Natanael, que estão presentes além da
minha vida acadêmica. São cinco anos de convivência, desde os primeiros
semestres do dominó, passando pelos babas, domingos de Fonte Nova, São João,
Reveillon, viagens diversas. Enfim, foram múltiplos os momentos onde
compartilhamos alegrias e até tristezas.
A minha namorada Val, “presente” em todos os momentos, por sua grande
contribuição na minha vida. Demonstrando amor, carinho, companheirismo,
dedicação, paciência, lealdade entre outras características que à torna tão especial.
Sei que posso contar com ela pro que der e vier.
.
Aos meus avós, seu Zeca e D. Dete. As minhas tias, Bárbara, Graça e
Perpétua. Aos meus irmãos Fernando Segundo e Leonardo Dias. E aos meus pais
Fernando e Valdenira, por terem contribuído das mais diversas formas desde o
tempo da “Escolinha Mundo da Criança”, me ensinando o que não se aprende em
nenhuma escola, me mostrando os caminhos corretos a seguir, me acompanhando
nas situações difíceis da vida. Formando o alicerce para minha grandeza interior. A
vocês, não basta um muito obrigado!!!.
Enfim, Parabéns a todos aqueles que se sentiram vitoriosos com esta
conquista, mais uma vez MUITO OBRIGADO e peço que continuem a me apoiar
pois muitos desafios estão por vir, apenas comecei....
__________________________CAPÍTULO 1
19
1- INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 1.1 Apresentação
O estudo dos terrenos pré-cambrianos tem grande importância para o
entendimento da evolução da Terra e na descoberta de jazidas minerais associadas.
Os trabalhos realizados nestes terrenos expõem as dificuldades na correlação entre
suas unidades litoestratigráficas e relação temporal, em virtude dos sucessivos
eventos tectônicos e metamórficos que foram submetidos ao longo do tempo.
O Greenstone Belt de Umburanas (GBU) está localizado na parte centro-
oeste do estado da Bahia. Está incluído no segmento crustal Bloco Gavião (BG), no
Cráton do São Francisco. De acordo com Cunha & Fróes (1994), o GBU é formado
por três unidades litoestratigráficas principais que encerram três ciclos vulcânicos: (i)
Unidade Inferior, contendo, na base, rochas vulcânicas meta-ultramáficas
komatiíticas com textura spinifex, acompanhadas de metabasaltos e metadacitos
toleiíticos compondo o primeiro ciclo vulcânico, seguidas por quartzitos com leitos
conglomeráticos, metassedimentos químico-pelíticos (BIF’s, cherts, metacarbonatos
e rochas calcissilicáticas) e pulsos discretos de metavulcânicas félsicas, atribuídas
ao segundo ciclo vulcânico; (ii) Unidade Média, dominada por rochas metavulcânicas
félsicas do terceiro ciclo vulcânico, com intercalações subordinadas de seus
equivalentes piroclásticos, epiclásticos e de derrames máficos e; (iii) Unidade
Superior, constituída essencialmente de metacarbonatos.
As rochas komatiíticas são rocha ígneas com alto teor de MgO (18-33%) e
são encontradas predominantemente nos greenstone belts arqueanos (e.g. Arndt &
Nisbet 1982). A composição química dos komatiitos fornece informações da
composição mantélica e história termal da Terra. Invariavelmente, as ocorrências de
komatiitos foram submetidas a processos de alteração pós-magmáticos, como
hidrotermalismo, metamorfismo, contaminação crustal. Desta forma, a presença de
mineralogia primária, bem como inferências sobre origens de komatiitos, em tempos
arqueanos, é tarefa difícil.
20
Neste trabalho será realizado o estudo geológico, petrográfico e geoquímico
preliminar, bem como a caracterização da evolução metamórfica das rochas meta-
komatiíticas da Unidade Inferior do Greenstone Belt de Umburanas.
1.2 Importância do tema
A Unidade Inferior do GBU atinge extensões de até 17,5 quilômetros e largura
exposta variando atingindo até 1,5 quilometro. Compreendendo diversas
subunidades apresentando variadas litologias. Do ponto de vista metalogenético o
GBU, pelos seus atributos litológicos e estruturais, são altamente favoráveis para
diversos tipos de depósitos minerais, incluindo ouro em zonas de cisalhamento;
sulfetos maciços de metais – base em vulcânicas máficas a félsicas; NI-Cu-EGP-Cr
em vulcânicas komatiíticas e sills associados; ferro e manganês associados a
formações ferríferas; além de depósitos de minerais industriais (magnesita, talco,
vermiculita, calcários e dolomitos para insumos agrícolas, etc.) e de gemas e pedras
ornamentais.
O estudo da composição química de rochas komatiíticas é importante, pois
através dele é possível ter conhecimento da temperatura e profundidade da fusão
mantélica gerada, fornecendo, portanto, informações das condições e evolução do
manto. A ocorrência mais restrita dos komatiitos em tempos neoproterozóico e sua
quase ausência no fanerozóico são usadas como evidência da mudança das
condições químicas e termais da geodinâmica do manto da Terra.
Embora o calor dos impactos meteóricos, formação do núcleo, e altas
concentrações de núcleos radioativos são usados para sugerir a temperatura de
formação da Terra nos dias atuais, somente líquidos komatiiticos fornecem
evidências quantitativa das altas temperaturas do manto Arqueano.
21
1.3 Objetivos do trabalho
O presente estudo tem como objetivo maior contribuir no entendimento dos
processos atuantes na Terra primitiva no âmbito de seqüências
vulcanossedimentares do tipo Greenstone Belts. Para tal, a pesquisa é realizada
através de dados geológicos, petrográficos e geoquímicos obtidos nas rochas meta-
komatiíticas da Unidade Inferior do Greenstone Belt de Umburanas.
Como objetivos específicos destacam-se:
- Individualizar as diferentes litologias das unidades estratigráficas do Greenstone
Belt de Umburanas (GBU);
- Caracterizar petrograficamente as rochas meta-komatiíticas da Unidade Inferior
do GBU;
- Caracterizar o comportamento geoquímico das rochas meta-komatiíticas e
classificando-as através de uma nomenclatura adequada;
- Caracterizar a evolução metamórfica das rochas meta-komatiíticas, através das
associações mineralógicas primárias e/ou secundárias.
1.4 Localização e vias de acesso
A área de estudo está localizada na porção sudoeste do estado da Bahia,
abrangendo as cidades de Brumado, Aracatu e Tanhaçu, englobando as Folhas
topográficas de Brumado (SD.24-Y-A-I) e Tanhaçu (SD.24-Y-A-II), na escala de
1:100.000 (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia). Perfaz
uma área de aproximadamente 332 Km2, entre as coordenadas geográficas
41º30’00’’ e 41º22’00’’, de longitude W e 14º05’00’’ e 14º15’00’’ de latitude S (Figura
1.1).
O acesso à região é realizado a partir de Salvador pela BR-324 até a cidade
de Feira de Santana, posteriormente através da BR-116 até o município de Vitória
da Conquista e, em seguida, pela BR-407 até a cidade de Brumado.
A região apresenta clima semi-árido e prolongados períodos de estiagem,
estando inserida no “Polígono das Secas”. Seus solos são classificados como
latossolos eutróficos ou distróficos e luvissolos eutróficos, sustentando uma
vegetação do tipo caatinga arbórea aberta (com ou sem palmeiras).
O relevo da região está representado por patamares do médio rio de Contas e
pediplano sertanejo. A drenagem pertence à Bacia Hidrográfica do rio de Contas,
possuindo vários riachos, entre eles o Gentio e o Olho d’Água do Ouro.
22
23
Figura 1.1 – Mapa de localização da área de estudo e vias de acesso. Font
2007
Figura 1.1 – Mapa de localização da área de estudo e vias de acesso.
24
1.5 Trabalhos anteriores
Os primeiros estudos geológicos na região foram realizados por órgãos
estatais, como a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e federais,
como o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), no início da década de 70. Essas
pesquisas tiveram como objetivo a realização de levantamentos geológicos,
geofísicos e geoquímicos, em várias escalas, para reconhecimento de
unidades geológicas/litológicas no Estado da Bahia. A partir desses
levantamentos geológicos básicos caracterizou-se uma série de seqüências de
rochas vulcanossedimentares, como Rio Itapicuru, Umburanas, Mundo Novo,
Riacho de Santana e Rio Salitre.
Mascarenhas (1973) notou a semelhança dessas seqüências
vulcanossedimentares com terrenos do tipo Greenstone Belts descritos em
outras regiões cratônicas do mundo, sugerindo uma origem semelhante para
as assembléias supracrustais da região entre Contendas do Sincorá e
Brumado, entre as quais incluíam as rochas vucanossedimentares de
Umburanas.
Silveira et al. (1980) realizaram trabalhos detalhados e sistematizados a
respeito das litologias vulcanossedimentares, epimetamórficas, que afloram na
região da Vila de Umburanas, que foram incluídas por Pedreira et al. (1975) no
denominado Complexo Brumado.
Posteriormente, Mascarenhas et al. (1984), assumindo a idéia já
configurada no trabalho de Silveira et al. (1980), admitiram a desvinculação das
litologias da seqüência vulcanossedimentar de Umburanas (Silveira et al.1980)
daquelas do Complexo Brumado (Pedreira et al. 1975) e foi atribuído a
denominação de Complexo de Umburanas e o “status” de provável estrutura do
tipo Greenstone Belt.
Cunha et al. (1994) reavaliando os terrenos granitos-gnaíssicos-
migmatiticos na região do Bloco Gavião e os domínios vulcanossedimentares
dessa região, dividiram em quatro complexos denominados: Complexo Ibitira-
25
Brumado, Complexo Boquira, Complexo Riacho de Santana e Complexo
Licínio de Almeida. O Complexo Ibitira-Brumado foi reconhecido como uma
seqüência vulcanossedimentar com várias similaridades com Greenstone Belts
arqueanos. As litologias vulcanossedimentares que ocorrem na região de
Umburanas foram caracterizadas como um dos segmentos do Complexo
Ibitira-Brumado.
Vários outros pesquisadores têm contribuído para o conhecimento
geológico da região onde se situa a seqüência vulcanossedimentar de
Umburanas, dentre eles, destacam-se: trabalhos de abrangência regional, com
enfoques petrográficos, geotectônicos e geocronológicos (e.g. Marinho &
Sabaté 1982, Cordani et al. 1985, Santos-Pinto et al. 1993, Bastos Leal et al.
2003, Menezes Leal et al. 2007, e os trabalhos de exploração mineral
desenvolvidos por Silva & Lopes (1977) e Cunha et al. (1994).
1.6 Características gerais dos greenstone belts
Os greenstone belts são cinturões que, em geral, ocorrem de forma
alongada, constituídos mais dominantemente de rochas vulcânicas de
diferentes composições: máficas, félsicas e intermediárias associadas a rochas
sedimentares, formações ferríferas bandadas, cherts e rochas vulcanoquímicas
que ocorrem do Arqueano ao Paleoproterozóico entre corpos gnáissicos e
intrusões graníticas.
O termo “greenstone” é utilizado porque essas estruturas contem rochas
basálticas que quando metamorfisadas ficam com a cor esverdeada e também
pelo fato do baixo grau metamórfico (predominando fácies xisto verde e, em
menor proporção fácies anfibolito) aos quais as rochas são submetidos, pois
em geral estas estruturas encontram-se protegidas por segmentos crustais.
Normalmente os terrenos greenstone apresentam-se dentro de um
cráton, em geral associados às rochas da série tonalito-trondhjemito-
granodiorito (TTG) que são um dos principais componentes dos terrenos
26
arqueanos, os quais marcam o início da formação de crosta continental,
posteriormente estes terrenos são comumente intrudidos por granitóides.
Existem varias propostas de modelos de evolução geotectônica para os
greenstone belts, sendo sugeridos diversos ambientes de formação, como rifts
continentais colapsados, arcos de ilha e bacias back-arc, entre outros. Os
greenstone belts são essencialmente constituídos por rochas vulcânicas,
dominado por basaltos e, em menor quantidade, por rochas sedimentares.
Observa-se que ao longo do tempo a quantidade de sedimentos contidos nos
greenstones aumentou, assim como a quantidade de rochas máficas
diminuíram. Esta mudança é atribuída à maturidade que o processo de
tectônica de placas vem sofrendo ao longo da historia geológica da Terra.
Sequências do tipo greenstone belts são distribuídas em toda a história
geológica do Arqueano ao Fanerozóico. Um dos mais conhecidos greenstone
belts no mundo é de Barberton, na África do Sul, em que ouro foi descoberto
pela primeira vez. Vários trabalhos de detalhes (e.g. Parman et al 2001, 2003,
Chavagnac 2004) foram realizados no greenstone belt de Barberton
abordando estudos nos aspectos geológicos, geoquímicos e sua história
mantélica evolutiva, o que o torna um parâmetro para o estudo de outros
greenstone belts do mundo. Entretanto, vários outros greenstone belts
arquenos destacam-se por sua importância espacial e temporal, como os da
Província Superior do Canadá, na América do Norte (e.g. Polat & Kerrich 2001,
Cousens et al 2002), os da Austrália (e.g. Bateman et al. 2001, Beresford et al.
2002), os do Cráton do Dharwar, na Índia (e.g. Manikyamba et al. 2004,
Srivastava et al. 2004) e os do Escudo Báltico, na Europa (e.g. Puchtel et al.
1999).
Na Plataforma Sul Americana inúmeros greenstone belts (~2.9 a 3.2
Ga.) são reconhecidos no Cráton São Francisco, Estado da Bahia, entre eles
destacam-se os de Umburanas (Cunha & Fróes 1994, Bastos Leal et al 2003,
Menezes Leal et al 2007), Contendas-Mirantes (Marinho 1991), Riacho de
Santana (Silveira & Garrido 2000, Menezes Leal et al 2006) e Mundo Novo
(Peucat et al 2002).
27
1.7 Características gerais das rochas komatiíticas
Komatiitos são rochas ultramáficas derivadas do manto. Elas possuem
baixos teores de SiO2 (40-45%), K2O (<0.5%), Al2O3 (0,8-1,0) e altos teores de
MgO (geralmente maior que 18%), Ni (> 400ppm), Cr (> 8000 ppm) e Co (>
150ppm) (e.g. Arndt & Nesbit 1982). Foram assim nomeados por ocorrerem, ao
longo do rio Komati na África do Sul. As rochas komatiíticas ocorrem
predominantes no Arqueano, a maioria apresenta idades superiores a 2,0 Ga,
embora haja registro dessas rochas no Neoproterozóico e Fanerozóico. Essa
restrição quanto à idade é atribuída ao resfriamento secular do manto, que
pode ter sido até 500°C mais quente, em média, durante o início do Arqueano.
Os komatiítos mais recentes (0.088 Ga) são provenientes da Ilha de Gorgona,
no platô oceânico do Caribe (Parman & Grove 2005).
A assinatura geoquímica primária de komatiitos no Arqueano fornece
importantes informações da composição mantélica, história termal e ambiente
tectônico (Nesbitt et al.1979, Nisbet 1982; Sun 1987, Arndt 1994, Sproule et al.
2002, Grove & Parman 2004, Chavagnac 2004). Vários estudos experimentais
têm sugerido que magmas komatiíticos são formados por alto grau de fusão
parcial (temperaturas de fusão em torno de 1400-1600°C), através de pluma
mantélica (e.g., Campbell et al. 1989, Sproule et al. 2002). Invariavelmente, as
ocorrências de komatiitos foram submetidas a processos de alteração pós-
magmática, incluindo, atividades hidrotermais, contaminação crustal e
metamorfismo. Desta forma, a presença de mineralogia primária, bem como
inferências sobre a origem de komatiitos em tempos Arqueanos é uma tarefa
difícil.
Independente dos processos pós-magmáticos, komatiitos arqueanos são
divididos em dois grupos: komatiitos empobrecidos em alumínio e enriquecidos
(e.g., Arndt & Nesbitt 1982, Fan & Kerrich 1997, Sproule et al. 2002). Os
enriquecidos em Al são caracterizados por possuir razões Al2O3/TiO2 e
CaO/Al2O3 próximas do condrito, respectivamente ~20 e ~1.1-1.5, menores
abundâncias de elementos incompatíveis, empobrecimento de elementos
terras raras leves e disposição plana dos elementos terras raras pesados, com
28
razões Gd/Yb ~1. Por outro lado, os komatiitos empobrecidos em Al são
caracterizados por apresentar razões Al2O3/TiO2 (~15) e CaO/Al2O3 (0.19-2.81),
elementos incompatíveis enriquecidos, padrões de elementos terras raras
plano a levemente fracionados e razões Gd/Yb variando entre 1.2-2.8.
A mineralogia primaria das rochas komatiíticas é composta por olivina
fosterítica, piroxênio cálcico, e muitas vezes, anortita e cromita. Uma parte
considerável dos komatiitos mostra uma textura e morfologia cumulática.
É muito difícil komatiitos não metamorfisados na crosta terrestre.
Portanto, komatiitos deve ser tecnicamente denominado de “meta-komatiitos".
A mineralogia metamórfica dos komatiitos é parcialmente controlada pela
composição, pois o caráter e o conteúdo dos fluidos durante o metamorfismo
controlam a assembléia metamórfica de um meta-komatiito.
Uma característica distintiva dos komatiitos é a textura spinifex, que
consiste de longos e aciculares fenocristais de olivina (ou pseudomorfos de
minerais de alteração da olivina) causado pela rápida cristalização, devido
também ao rápido resfriamento do líquido magmático. A figura 1.2 mostra uma
fotografia de amostra de mão (A) e do aspecto petrográfico de uma textura
spinifex (B).
A B
Figura 1.2 – Aspecto geral de rochas meta-komatiíticas, mostrando os cristais de olivina de forma alongada. Greenstone belt de Barberton, África do Sul. A. Amostra de mão. B. Fotomicrografia.
29
__________________________CAPÍTULO 2
30
2- MATERIAIS E MÉTODOS ______________________________________________________
Para atender os objetivos propostos, a pesquisa foi desenvolvida
durante 12 meses no Instituto de Geociências na Universidade Federal da
Bahia, sendo adotados os seguintes procedimentos: Revisão bibliográfica;
Trabalhos de campo e Trabalhos de laboratório.
2.1 Revisão Bibliográfica
Foi realizada uma revisão bibliográfica da literatura existente sobre o
contexto geológico regional onde está inserido o Greenstone Belt de
Umburanas. Este estudo foi acompanhado por um exame minucioso da
literatura referente ao tema “komatiítos” em geral, incluindo aí ocorrências
brasileiras e de outros países. Nesta etapa foram reunidas informações tanto
abordando aspectos fisiográficos, geológicos e informações mais especificas
como estudo da petrografia, geoquímica e evolução metamórfica.
2.2 Trabalhos de Campo
Duas campanhas de campo foram realizadas com o objetivo de
reconhecer o contexto geológico que compõe e Greenstone Belt de
Umburanas, em particular sua Unidade Inferior e de seu embasamento, além
de amostragens sistemáticas das diferentes estruturações nas rochas
ultramáficas para análises petrográficas e químicas.
A primeira missão de campo foi realizada no período de 01 a 05 de
fevereiro de 2006 pelos Profs. Luiz Rogério B. Leal e Ângela Beatriz M. Leal e
pela geóloga Denise Canabrava.
A segunda viagem foi realizada no período de 30 de outubro a 02 de
novembro de 2008. Participaram dessa campanha de campo o Prof. Luiz
Rogério B. Leal, os graduando André Luis Dias, Joilma Prazeres e a geóloga
31
Natali Barbosa. Foram descritos cerca de 10 afloramentos e coletadas 6
amostras. Todos os afloramentos visitados foram fotografados.
Os trabalhos de campo tiveram apoio logístico da Companhia Baiana de
Pesquisa Mineral (CBPM). Foram utilizados as seguintes bases cartográficas:
Folhas Topográficas de Brumado (SD.24-Y-A-I) e Tanhaçu (SD.24-Y-A-II), na
escala de 1:100.000.
2.3 Métodos Petrográficos
Nessa etapa foi realizada a identificação dos minerais constituintes,
assim como a descrição de suas relações texturais nos diferentes tipos de
rocha. Os resultados das avaliações petrográficas foram importantes para o
estabelecimento da classificação da rocha, seqüência de cristalização,
definição de diferentes litotipos e para seleção de amostras para realização de
análises geoquímicas e isotópicas. As lâminas delgadas foram confeccionadas
no Laboratório de Laminação da CBPM.
Os estudos petrográficos foram realizados no laboratório de Mineralogia
e Petrografia do IGEO/UFBA utilizando o microscópio binocular Olympus
modelo BX41. Para as fotomicrografias foi utilizado o fotomicroscópio binocular
de fabricação NIKON, modelo Japan Opitiphot-Pol, do Laboratório de
Metalogênese/Instituto de Geociências/UFBA.
2.4 Métodos Químicos
Nessa etapa foram selecionadas um total de 13 (treze) amostras das
rochas meta-komatiíticas da Unidade Inferior do GBU. A preparação das
amostras foi realizada no Laboratório de Preparação de Amostas do
Departamento de Geoquímica/UFBA, seguindo as seguintes etapas: britagem,
quarteamento e a moagem no shater box. As análises químicas foram
efetuadas no Acme Analytical Laboratories, Vancouver, Canada. Os elementos
maiores (SiO2, Al2O3, Fe2O3, CaO, MgO, Na2O, K2O, MnO, TiO2, P2O5 e Cr2O3)
e alguns elementos traços (Ba, Nb, Ni, Sr, Sc, Y, and Zr) foram dosados por
32
Espectrômetro de Emissão ICP (Jarrel Ash AtomComp Model 975 /Spectro
Ciros Vision) e os outros elementos traços e terras raras por Espectrômetro de
Plasma Induzido (ICP-MS: Perkin-Elmer ELAN 6000). Perda ao fogo (LOI) foi
estimada pela ignição em 1g de amostra a 950°C por 90 minutos. A
reprodutibilidade analítica (1σ) obtida através de 20 medidas repetidas do
padrão SO-18) foi menor que 0.1 % para todos os elementos maiores, exceto
para SiO2 (1 σ = 0.3 %) e Al2O3 (1 σ = 0.16 %) e de 0.45% a 6.89% para
elementos traços, exceto para Ta, o qual teve um erro mais alto de 17.8%.
2.5 Tratamento de Dados Analíticos
Os dados das análises químicas de rocha total foram processados e
estudados com auxílio do programa para tratamento de dados mineralógicos e
petrológicos Minpet for Windows (versões 2.0 e 2.2, Minpet Geological
Software; Richard 1985), os mapas de localização e geológico foram
confeccionados a partir dos softwares Arc Gis 9.2/Arc Map e Corel DRAW x3, e
a digitação do texto da presente monografia no programa Microsoft Word.
33
__________________________CAPÍTULO 3
34
3- CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL ______________________________________________________
O Greenstone Belt de Umburanas (GBU) está localizado na parte centro-
oeste do estado da Bahia. Está inserido no segmento crustal do Bloco Gavião
(BG), no Cráton do São Francisco (CSF) (Figura 3.1), que conforme a definição
de Almeida et al. (1981), correspondem por sua extensão e limite à Província
do São Francisco.
3.1 O CRÁTON DO SÃO FRANCISCO
O Cráton do São Francisco (CSF) representa uma grande unidade
cratônica da Plataforma Sul-Americana e do território brasileiro (Figura 3.1).
Estende-se além do Estado da Bahia pelos Estados de Sergipe, Pernambuco,
Goiás e Minas Gerais. A evolução orogênica desta unidade geotectônica
cessou no final do Ciclo Geotectônico Transamazônico, que ocorreu entre 1,8 a
2,4 Ga. Segundo dados isotópicos e geocronológicos três episódios
geotectônicos mais importantes atuaram neste Cráton, mostrando idades
distintas: (i) em torno de 2,0 Ga, o Ciclo Transamazônico (Hurley et al. 1967,
Cordani 1973); (ii) em torno de 1,1 Ga, o Ciclo Espinhaço e, (iii) outro em torno
de 0,7 Ga, o Ciclo Brasiliano (Almeida 1971, Brito Neves & Cordani 1973). Vale
frisar que há controvérsias quanto à atuação do Ciclo Espinhaço no
embasamento do Cráton do São Francisco, pois alguns autores (e.g. Alkmin et
al. 1993) consideram que a deformação observada na "Cordilheira do
Espinhaço" ocorreu durante o Evento Brasiliano, e não no Evento Espinhaço.
No Estado da Bahia, o CSF, de forma resumida, está separado em
domínios geológicos, discriminados a seguir (Figura 3.2):
a) terrenos graníticos-gnáissicos-mogmatíticos arqueanos de médio a alto grau
metamórfico, composto por várias associações litoestratigráficas. A natureza
composicional reflete a participação de componentes vulcânicos, plutônicos e
sedimentares, sob variadas formas e extensões, compondo em grande maioria,
o embasamento e/ou a infraestrutura das seqüências vulcanossedimentres
35
precambrianas. Estes terrenos granitos-gnaissicos-migmatíticos formam
segmentos crustais, representados pelos Blocos Gavião, Guanambi-Correntina,
Serrinha, Mairi (metamorfisados na fácies anfibolito) e Jequié (metamorfisado
na fácies granulito) (Barbosa & Dominguez 1996; Barbosa & Sabaté 2004).
Estes segmentos continentais são compostos predominantemente por
ortognaisses félsicos, paragnaisses, migmatitos, anfibolitos, enderbito,
charnoquitos e rochas plutônicas, além de seqüências vulcanossedimentares
(Bastos Leal 1998; Barbosa & Sabaté 2004).
b) seqüências vulcanossedimentares do tipo greenstone belts, formadas
durante o Arqueano a Paleoproterozóico, associadas aos terrenos graníticos-
gnaissicos-migmatíticos arqueanos (ex: Contendas-Mirante, Umburanas,
Itapicuru, Mundo Novo, Riacho de Santana) (e.g., Bastos Leal et al. 1998).
c) Cinturão móvel paleoproterozóico denominado de Itabuna-Salvador-Curaçá.
Corresponde a uma mega estrutura existente ao longo da costa brasileira que,
no Estado da Bahia bifurca-se no segmento Salvador-Curaçá, exposto na
porção nordeste, enquanto o segmento Itabuna-Salvador ocorre no sudeste do
Estado. Possui uma evolução complexa e envolve o retrabalhamento de rochas
arqueanas e paleoproterozóicas e uma volumosa granitogênese de idade
paleoproterozóica. Estes segmentos são formados principalmente por tonalitos
e charnoquitos com enclaves máfico-ultramáficos e, mais raramente, por
rochas supracrustais (Barbosa & Dominguez 1996; Barbosa & Sabaté 2004).
d) Coberturas plataformais do Mesoproterozóico, compostas por rochas de
natureza silissiclástica (Supergrupo Espinhaço) e do Neoproterozóico
constituídas por rochas de composição carbonática (Supergrupo São
Francisco).
e) Faixas de dobramentos Neoproterozóicas Araçuaí, Sergipana e Formosa do
Rio Preto.
f) Coberturas Fanerozóicas.
36
Figura 3.1 - Cráton do São Francisco com a indicação do Greenstone Belt de Umburanas. GB=
Greenstone Belt. Adaptado e modificado de Alkmin et al. (1993).
GB
GB Contendas-Mirante
GBU
GB Mundo
37
1- Coberturas Fanerozóicas 2- Faixas de Dobramentos (AP –Araçuaí; SE –
Sergipana; RR – Formosa do Rio Preto) 3- Coberturas Plataformais do Neoproterozóico
(Supergrupo São Francisco) 4- Coberturas Plataformais do Mesoproterozóico
(Supergrupo Espinhaço) 5- Cinturões Móveis do Paleoproterozóico 6- Seqüência Sedimentar e Metassedimentar do
Arqueano 7 e 8 – Blocos Arqueanos (BJ-Bloco Jequié, BG-
Bloco do Gavião; GC-Bloco Guanambi-Correntina; P-
Bloco Paramirim; M-Bloco Mairi, DS-Domínio
Sobradinho, Dm-Domínio Macururé.)
Figura 3.2 – Localização do Cráton São Francisco, esboço geológico e compartimentação geotectônica do Estado da Bahia (Adaptado e modificado de Barbosa & Dominguez 1996).
38
3.2 O BLOCO GAVIÃO
O Bloco Gavião (BG) situado na porção setentrional do Cráton do São
Francisco expõe um dos mais bem preservados segmentos de crosta
arqueana, de idade 3.2-3.4 Ga (U-Pb Shrimp) (Martin et al. 1991, Marinho
1991, Nutman & Cordani 1993, Bastos Leal 1998, apud Barbosa & Sabaté
2004). O BG é constituído por terrenos graníticos-gnássicos com variáveis
graus de migmatização, formado por tonalitos-trondhjemitos, granodioritos
(suites TTG) e granitos estando metamorfisados na fácies xisto verde a
anfibolito (Fotografias 3.1 e 3.2). Seu limite oeste é marcado por sistema de
cavalgamento dos terrenos graníticos-gnáissicos-migmatíticos arqueanos sobre
os sedimentos Mesoproterozóico do Supergrupo Espinhaço, o limite leste é
definido por falhamentos de empurrão resutantes da tectônica que transportou
os terrenos granulíticos do Bloco Jequié sobre as rochas do Greenstone Belt
Contendas Mirantes. O limite norte é parcialmente coberto por rochas
sedimentares do Meso-Neoproterozóico representadas, respectivamente, pelos
Grupos Chapada Diamantina e Bambuí e, o limite sul é representado pelo
contato com a faixa móvel Araçuaí evoluídos durante o Brasiliano (Bastos Leal
1998, Bastos Leal et al. 2003).
Fotografia 3.1- Feição característica do embasamento gnáissico-migmatítico do Bloco Gavião na área de estudo. Ponto: UM-107. Coordenadas: 198899/8420226
39
Fotografia 3.2 - Feição característica do embasamento gnáissico-migmatítico do Bloco Gavião na área de estudo. Ponto: UM-107. Coordenadas: 198899/8420226
A evolução primitiva do BG (Bastos Leal 1998, Bastos Leal et al. 1998,
Barbosa & Sabaté 2004) é marcada pela formação de núcleos granitóides, a
partir de vários episódios de plutonismo TTG com idades variando entre 3,1 5 e
3,42 Ga (métodos Rb/Sr, Pb-Pb rocha total e mono zircão e U-Pb). As idades
modelo Sm-Nd (entre 3.3 to 3.6 Ga) e εNd negativos nestes granitóides,
indicam o envolvimento de crosta siálica na gênese destas rochas. Este
plutonismo é bem exemplificado pelos maciços de Sete Voltas, Boa Vista/Mata
Verde, Bernarda, Aracatu e Lagoa da Macambira. Entre 3,1 e 2,5 Ga atividades
vulcânicas e sedimentares atingiram o BG com a formação dos greenstone
belts de Umburanas e Contendas Mirante e por intrusão de granitóides
(Malhada de Pedras e Lagoa da Macambira) há cerca de 2,8 e 2,5 Ga (método
Rb-Sr).
Durante o Paleoproterozóico (entre 2,0 e 1,8 Ga método Rb-Sr), o Bloco
Gavião foi deformado e metamorfisado regionalmente intrudido por granitos de
diferentes composições nas unidades arqueanas vulcano-sedimentares e nos
40
terrenos gnaíssicos-migmatíticos. Através de dados isotópicos de Sr e Nd,
Bastos Leal et al. (1998) sugeriram que estes granitos foram formados através
da reciclagem de crosta continental primitiva durante a evolução do ciclo
Transamazônico.
A figura 3.3 mostra o mapa geológico simplificado da área de estudo,
destacando as principais unidades geológicas da região, bem como o
greenstone belt de umburanas e as ocorrências komatiíticas associadas.
41
Figura 3.3 - Mapa geológico simplificado da área de estudo, destacando as principais unidades geológicas da região, bem como o
greenstone belt de Umburanas e as ocorrências de rochas meta-komatiíticas associadas (Adaptado e modificado de Cunha & Fróes
1994).
42
____________________________CAPÍTULO 4
43
4 - ASPECTOS GEOLÓGICOS DO GREENSTONE BELT DE UMBURANAS
O Greenstone belt de Umburanas (GBU) representa uma estrutura
geológica com distribuição geográfica restrita, configuração em forma de
“bengala”, delineado entre os maciços graníticos arqueano Serra do Eixo e
paleoproterozóico de Umburanas e os terrenos gnáissicos-migmatíticos
arqueanos do embasamento (Figura 3.3).
Seu arranjo litoestratigráfico é representado por três unidades
geológicas principais (Cunha & Fróes 1994) (Figuras 4.1 e 4.2): (i) Unidade
Inferior, inclui derrames ultramáficos e máficos na base (meta-komatiítos e
basaltos toleíticos) e discretos pulsos de meta-vulcânicas félsicas, seguidos
por quartzitos, meta-conglomerados, meta-cherts e calcissilicáticas. O topo
desta unidade é representado por metavulcânicas félsicas atribuídas ao
segundo ciclo vulcânico, ocorrendo também nesta unidade, níveis de meta-
carbonatos e formação ferrífera. Em adição, vale assinalar a ocorrência de
intercalações dos derrames ultramáficos e máficos com os sedimentos
químico-clásticos, indicativas de que estas rochas foram formadas
contemporaneamente; (ii) Unidade Média, é constituída dominantemente por
meta-vulcânicas félsicas (com composições originais de andesitos, dacitos e
riolitos), representantes do terceiro ciclo vulcânico, ocorrendo também
intercalações subordinadas de meta-vulcânicas máficas, meta-tufos xistosos,
meta-carbonatos e formação ferrífera. No topo, a unidade média é
representada por meta-basaltos e; (iii) a Unidade Superior, é formada
essencialmente por sedimentos químicos, compostos predominantemente
por meta-carbonatos.
Tanto as rochas do GBU como os terrenos gnáissicos-migmatíticos do
embasamento foram submetidos a múltiplos eventos tectonometamórficos. A
estruturação tectônica regional é representada por duas fases de
deformações compressivas e três eventos de cisalhamentos (Cunha & Fróes
1994). Dentre as estruturas cisalhantes, destaca-se o terceiro evento,
44
representado por zonas de cisalhamentos regionais com "trend" geral NW-
SE, em forma de feixes semi-paralelos de falhas, corredores de
milonitização e bandas de estruturas tectônicas de diferentes unidades
geológicas.
As paragênese minerais presentes nas unidades geológicas do GBU
são compatíveis com fácies metamórfica, variando entre o xisto verde e
anfibolito. Adicionalmente, nas zonas de cisalhamento, observam-se,
fenômenos de retrometamorfismo da fácies anfibolito para xisto verde com
hidrotermalismo associado (Sampaio-Filho 1985; Cunha & Fróes 1994).
Finalmente, as rochas do GBU são deformadas por efeito da
colocação das intrusões graníticas transamazônicas dos maciços de
Umburanas e Paracatu-Boqueirão (Cunha & Fróes 1994; Santos-Pinto et al.
1993).
Figura 4.1 – Coluna estratigráfica esquemática do Greenstone Belt de Umburanas, segundo Cunha & Fróes (1994).
45
Figura 4.2 - Mapa geológico simplificado da porção sul do Greenstone Belt de Umburanas (adaptado e modificado de Cunha & Fróes, 1994).
46
A seguir serão descritos os aspectos de campo e petrográficos dos tipos
litológicos que ocorrem nas três unidades litoestratigráficas do GBU, bem como das
rochas graníticas intrusivas (Umburanas e Serra do Eixo).
4.1 UNIDADE INFERIOR
Esta unidade encontra-se exposta de forma continua principalmente na porção
nordeste, sudeste e oeste da área. Compreendem os seguintes tipos litológicos:
4.1.1 Rochas meta-komatiíticas e Meta-basaltos basais
As rochas meta-komatiiticas serão descritas com mais detalhe no capítulo 5
por constituir o objeto desse estudo.
As rochas meta-máficas da Unidade Inferior do GBU, está localizada na
porção sudeste e leste da cidade de Umburanas (Figura 4.2). Exibem contatos
tectônicos com o embasamento e com os maciços graníticos de Umburanas e Serra
do Eixo, estão intercaladas com as rochas meta-komatiíticas (Fotografia 4.1). São
representadas essencialmente por actinolita xisto, de coloração cinza esverdeada a
cinza escuro, granulação fina a muito fina, constituída essencialmente por actinolita,
plagioclásio e subordinadamente por cristais de quartzo, titanita e minerais opacos.
Ocorrem veios preenchidos por epídoto.
47
Fotografia 4.1 - Intercalação entre rochas meta-vulcanicas máficas e rochas meta-ultramáfica da Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM-01A. Coordenadas: 227320/8434644
Petrograficamente foi possível identificar um conjunto de rochas que
apresentam mineralogia mais transformada, essencialmente os plagioclásios e os
anfibólios. As rochas possuem granulação variando de fina a média, predominando
as texturas nematoblástica e granoblástica (Fotomicrografia 4.1).
Fotomicrografia 4.1- Aspecto geral das texturas nematoblástica e granoblástica. Rocha meta-vulcânica máfica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01B2. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Tit= titanita. Aumento de 200X.
48
A associação mineralógica fundamental é composta por anfibólio (actinolita) e
plagioclásio que juntos ocupam cerca de 80% do volume total da rocha.
Subordinadamente assinala-se à presença de clorita, biotita, quartzo, titanita e
apatita.
Os anfibólios possuem uma representação volumétrica expressiva com cerca
de 65% do volume total da rocha. É representado essencialmente por cristais de
actinolita subédricos com tamanho médio 0,5 mm. Seu pleocroismo varia de verde
claro a verde escuro. Os cristais de actinolita encontram-se orientados, exibindo
contatos em geral retos.
Os plagioclásios representam cerca de 17% - 28 do volume da rocha
ocorrendo como matriz e fenocristais. São subédricos (de 0,05mm a 5,66 mm grãos)
por vezes deformados e orientados. De uma forma geral os grãos de plagioclásio
não apresentam geminação, encontram-se microfraturados, além de sericitizados e
saussuritizados.
O quartzo ocorre sob forma de cristais anédricos ( de 0,08 a 7,6mm).
Apresentam-se, sob forma de veios acompanhando a xistosidade da rocha. Possui
extinção levemente ondulante e contatos em geral curvos.
A titanita está presente sob forma de concentrações granoblásticas com
tamanho em torno de 4,8mm. Ocorre em cristais subédricos isolados e formando
agregados. De coloração castanha, os cristais acompanham a orientação da rocha.
Os minerais do grupo do epídoto são diminutos, anédricos, verde a verde
escuro. Ocorrem sob forma de veios acompanhando a xistosidade da rocha
(Fotomicrografia 4.2).
Os minerais opacos (magnetita e ilmenita) ocorrem anédricos a subédricos,
proveniente da alteração dos anfibólios, em geral associados a titanita.
49
A clorita ocorre sob forma de cristais anédricos a subédricos ( de 0,03 a
0,30mm) coloração verde musgo apresentando fraco pleocloismo. Exibem contatos
do tipo curvos.
A apatita está presente em poucas amostras do conjunto estudado não
ultrapassando 2%. Geralmente é acicular ou hexagonal, por vezes formando
agregados, apresentando coloração verde pálido. Exibe contatos do tipo reto.
Fotomicrografia 4.2- Detalhe do veio de epídoto seguindo a orientação da rocha. Rocha meta-vulcânica máfica. Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01B1. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Epi=Epídoto. Aumento de 100X
4.1.2 Rochas calcissilicáticas, meta-vulcânicas félsicas e máficas, meta-
carbonatos e formações ferríferas.
Esta sucessão litológica ocorre a oeste e leste da cidade de Umburanas.
Ocupa as porções mais basais expostas do GBU, delineando os seus contornos em
contato com o seu embasamento e com os maciços graníticos circunjacentes.
Apresenta extensões de até dezessete quilômetros e espessuras expostas com
cerca de 1,5 quilômetro (Cunha & Fróes 1994). Suas litologias dominantes são as
rochas calcissilicálicas, seguidas das meta-vulcânicas félsicas, meta-vulcânicas
máficas e dos sedimentos vulcanogênicos xistificados. Ocorrem também, em
50
proporções subordinadas, níveis de meta-carbonato (mármore) e de formação
ferrífera (Figuras 4.1 e 4.2).
As rochas calcissilicáticas ocupam preferencialmente as porções mais basais
dessa sucessão, sendo intercaladas e sobrepostas pelas rochas meta-vulcânicas
félsicas e os sedimentos vulcanogênicos xistosos, os quais, com maior incidência
ocorrem em posições superiores as meta-vulcânicas félsicas. As meta-vulcânicas
máficas, mais raras, ocorrem em várias posições dentro desta sucessão e também
intercalada com as rochas meta-vulcânicas félsicas (Fotografia 4.2). As rochas meta-
vulcânicas máficas e félsicas representam o segundo ciclo vulcânico do GBU (Figura
4.2).
Fotografia 4.2 - Intercalação entre as rochas meta-vulcânicas máficas e félsica na Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM-102. Coordenadas: 227980/8433528
Máfica Félsic
Nesta seqüência litológica foram amostradas apenas as rochas meta-
vulcânicas félsicas. A seguir seu detalhamento petrográfico. As rochas meta-
vulcânicas félsicas da Unidade Inferior do GBU possuem granulação variando de
média a fina, predominando as texturas inequigranular, lepidoblástica e
granoblástica (Fotomicrografia 4.3).
51
Fotomicrografia 4.3 - Aspecto geral das texturas granoblástica e lepidoblástica. Rocha meta-vulcânica félsica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-02. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 25X.
A associação mineralógica fundamental é composta por quartzo e plagioclásio
ocupando cerca de 70% do volume total da rocha. Subordinadamente assinala-se à
presença de Biotita, moscovita e minerais opacos.
O quartzo possui uma representação volumétrica expressiva com cerca de
51% do volume total da rocha. Apresenta cristais anédricos e muitas vezes
arredondados, com tamanho variando entre 0,11 a 1,98mm, conferindo a rocha uma
textura granoblástica (Fotomicrografia 4.3). Exibe contatos em geral curvos.
Os plagioclásios representam cerca de 26% do volume da rocha. Ocorrem
como cristais anédricos à subédrico (tamanho de 0,11 a 0,66mm). Os cristais,
quando geminados, apresentam a geminação segundo a lei da albita, sendo a
maioria isentos de geminação. É comum a presença dos processos de sericitização
e sausuritização (Fotomicrografia 4.4). Apresentam contatos variados, sendo mais
comum do tipo reto.
52
Fotomicrografia 4.4 - Plagioclásio apresentando o processo de sericitização e saussuritização. Rocha meta-vulcânica félsica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-02. Nicóis cruzados. Aumento de 500X.
A biotita está presente sob forma de palhetas tabulares e formando
agregados com tamanho em torno de 0,22 mm. Encontra-se orientada, conferindo à
rocha a textura lepidoblástica (Fotomicrografia 4.3). Os cristais de biotita ocorrem
mais freqüentemente entre os grãos de plagioclásio, exibindo em geral contatos
retos.
A moscovita apresenta cristais subédricos com tamanho em torno 0,44mm.
Encontra-se quase sempre associada a biotita, exibindo a mesma orientação,
prevalecendo contato do tipo reto.
Os minerais opacos são cristais anédricos de coloração castanha quase
sempre associada à biotita.
4.1.3 Quartzitos, meta-conglomerados e meta-cherts
Esta é uma sucessão de rochas altamente silicosas que se apresenta
sobreposta ou intercalada à sucessão basal, formando faixas lenticulares. Ocorre
próximos a cidade de Umburanas (Figura 4.2).
Os quartzitos compreendem alternâncias de leitos com granulação variada,
maciços a bandados, geralmente intercalados com leitos de conglomerados e de
53
meta-chert. Exibem registros de intenso cisalhamento e de recristalização. Possuem
várias colorações, predominando as tonalidades cinza, esbranquiçada, amarelada e
esverdeada (Fotografia 4.3).
Os meta-conglomerados se apresentam como leitos ou camadas intercalados
nos quartzitos. Os seus cristais diminuem de tamanho em direção ao topo das
camadas. Os clastos são de composição dominantemente silicosa, provavelmente
de quartzo. A matriz possui composição semelhante à dos quartzitos (Fotografia
4.4).
Os meta-cherts apresentam-se com granulação fina, esbranquiçados a cinca-
escuro, maciços ou com alternâncias de bandas milimétricas a centimétricas, claras
(silicosas) e escuras (carbonosas e/ou ferruginosas). Suas camadas possuem
espessuras variando entre alguns centímetros até em torno de três metros.
Fotografia 4.3 - Aspecto geral dos quartzitos de idade arqueana da Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM-104. Coordenadas: 229240/8433940
54
4.2 UNIDADE MÉDIA
Fotografia 4.4 - Aspecto geral dos meta-conglomerados associados aos quartzitos da Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM 104. Coordenadas: 229240/8433940
4.2 UNIDADE MÉDIA
Esta unidade corresponde a quase metade da superfície exposta do GBU.
Quase que em sua totalidade o seu limite inferior está em contato tectônico com o
maciço granítico de Umburanas. Com as demais unidades os contatos são em parte
tectônico e transicionais, quando originalmente preservados.
A Unidade Média é constituída predominantemente por rochas meta-vulcânicas
félsicas, com intercalações de meta-vulcânicas máficas, meta-tufos, meta-
grauvacas, meta-carbonatos e formações ferríferas. Esta unidade representa o
terceiro ciclo vulcânico do GBU (Figuras 4.1 e 4.2).
As rochas meta-vulcânicas félsicas são predominantemente representadas por
meta-dacitos e meta-riolitos, com participação subordinada de meta-andesitos
(Fotografia 4.5). As rochas meta-vulcânicas félsicas da Unidade Média apresentam
granulometria mais grossa e um menor grau de deformação, quando comparadas
com as rocha meta-vulcânicas félsicas pertencentes à Unidade Inferior.
55
Fotografia 4.5 - Aspecto dos meta-andesitos da Unidade Média do GBU. Ponto: UM-105. Coordenadas: 230663/8434296
Petrograficamente as rochas meta-vulcânicas félsicas da Unidade Média do
GBU possuem granulação variando de média a grossa, predominando as texturas
lepidoblástica e granoblástica granular.
A associação mineralógica fundamental é composta por quartzo e plagioclásio
ocupando cerca de 70% do volume total da rocha. Subordinadamente assinala-se à
presença de biotita, moscovita e minerais opacos.
O quartzo possui uma representação volumétrica expressiva com cerca de
42% do volume total da rocha. Apresenta cristais com tamanho variando de 0,09 a
7,2 mm. Exibem contatos em geral curvos. Ocorrem também sob forma de veios
seguindo a mesma orientação da rocha.
Os plagioclásios representam cerca de 36% do volume total da rocha.
Ocorrendo como cristais anédricos à subédrico, com tamanho médio de 0,95mm.
Raros cristais apresentam a geminação segundo a lei da albita, devido a alteração e
deformação existente. Os cristais de plagiclásio apresentam-se sericitizados e
56
sassuritizados (Fotomicrografia 4.5B). Os contatos em sua maioria são embaiados a
retos.
A biotita ocorre como cristais anédricos a subédricos com tamanho em torno
de 0,15mm. Encontram-se orientadas, conferindo a rocha à textura lepidoblástica.
Exibem em geral contatos retos
A moscovita apresenta cristais subédricos a euédricos com tamanho
variando de 0,05 a 0,18mm. Encontra-se quase sempre preenchendo fraturas e
associada à biotita (Fotomicrografia 4.5A), acompanhando a orientação e
prevalecendo contato do tipo reto.
Os minerais opacos são cristais anédricos de coloração castanha quase
sempre associada à moscovita e biotita.
A titanita está presente sob forma de concentrações granoblásticas com
tamanho em torno 1,3mm. Ocorre como cristais subédricos isolados e formando
agregados. De coloração castanha, preferencialmente associados a biotita.
Fotomicrografia 4.5- A. Cristais de moscovita associada à biotita. Nicóis paralelos. Aumento de 200X. B. Cristal de plagioclásio saussuritizado e sericitizado. Nicóis cruzados. Aumento de 200X. Rocha meta-vulcânica félsica da Unidade Média do GBU. Amostra UM 07. Tit=titanita; Mos=moscovita; Plg=plagioclásio; Bio=biotita.
57
Fotomicrografia 4.6 - Detalhe da moscovita preenchendo fratura com minerais opacos associados. Rocha meta-vulcânica félsica da Unidade Média do GBU. Amostra UM-07. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X.
4.3 UNIDADE SUPERIOR
A Unidade Superior aflora exclusivamente ao longo da Serra do Algodão, na
porção oeste da cidade de Umburanas (Figura 4.2). Consiste essencialmente em
meta-carbonatos, de granulação fina a média. Localmente apresentam-se de
coloração castanha avermelhada (Fotografia 4.6)
Fotografia 4.6 - Aspecto dos meta-carbonatos da Unidade Superior do GBU. Ponto: UM-103. Coordenadas: 228799/8433928
58
Petrograficamente as rochas meta-carbonáticas dessa unidade possuem
granulação variando de fina a média.
A associação mineralógica fundamental é composta por carbonato (dolomita)
ocupando cerca de 90% do volume total da rocha. Subordinadamente assinala-se à
presença de quartzo e biotita.
O carbonato (dolomita) possui uma representação volumétrica expressiva
com cerca de 90% do volume total da rocha. Forma cristais euédricos a subédricos
de tamanho variando entre 0,66 a 2,3mm. Apresenta geminação polissintética e
contatos do tipo reto e interdigitado (Fotomicrografia 4.7 A e B).
O quartzo apresenta-se como cristais anédricos (0,33 a 1mm), intersticiais
entre os grãos de dolomita e exibindo contatos curvos (Fotomicrografia 4.8 A e B).
A biotita apresenta cristais subédricos em forma de palhetas (de 0,22 a
1,1mm). Estes minerais são encontrados quase que em sua totalidade no contato
entre os grãos de dolomita, com contato do tipo reto.
Fotomicrografia 4.7 - Detalhe do contato interdigitado entre grãos de carbonato. Rocha meta-carbonato da Unidade Superior do GBU. Amostra UM-03-B. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X.
59
Fotomicrografia 4.8 - Detalhe da presença de biotita e quartzo no contato entre os grãos de carbonato. Rocha meta-carbonato da Unidade Superior do GBU. Amostra UM-03B. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Bio=Biotita, Qtz=Quarto. Aumento de 200X.
4.4 Rochas graníticas intrusivas
Localmente essas rochas compreendem os maciços graníticos de Umburanas
e Serra do Eixo (Figura 4.2).
4.4.1 Maciço granítico de Umburanas
Abrangem boa parte da área, distribuído no centro e nas margens do GBU e
apresentam contato tectônico com o mesmo. Exibe uma associação de fácies
tonalíticas, granodioríticas a graníticas.
A fácies tonalítica apresenta coloração cinza a cinza escura, granulometria
fina a média, fracamente orientados, muitas vezes contendo enclaves máficos
(Fotografia 4.7). Pode ocorrer uma fácies porfirítica exibindo fenocristais de
plagioclásio (Fotografia 4.8).
A fácies granodiorítica apresenta-se acinzentada, fanerítica fina, grossa a
porfirítica. A fácies granítica é a mais expressiva na região de estudo. São cinza a
róseas, de granulação fina a média, porfiríticas e levemente orientadas. Apresenta-
se cortada por veios pegmatíticos centimétricos (Fotografia.4.9)
60
Fotografia 4.7 - Aspecto da fácies tonalilítica do maciço de Umburanas, com enclaves máficos. Ponto: UM-109. Coordenadas: 241613/8434202
Fotografia 4.8 - Aspecto da fácies tonalilítica porfirítica do maciço de Umburanas. Ponto: UM-109. Coordenadas: 241613/8434202
61
Fotografia 4.9 - Aspecto da fácies granítica do maciço de Umburanas cortado por veios pegmatíticos. Ponto: UM-106. Coordenadas: 233574/8434382
4.4.2 Maciço Serra do Eixo
Este maciço ocupa grande parte da área de estudo (Figura 4.2). Possui uma
composição dominantemente granítica a granodiorítica, apresenta coloração cinza a
rosada, com foliação incipiente. É porfiritico, exibindo fenocristais de plagioclásio
orientados.
4.5 Coberturas Terciárias/Quarternárias
Encontram-se amplamente distribuídas. Suas maiores áreas de ocorrência
são aos redores da vila de Umburanas (Figura 4.2). São sedimentos areno-
argilosos, geralmente inconsolidados, de coloração amarela a avermelhada. Estas
coberturas englobam os depósitos de tálus e os terraços aluvionares.
62
__________________________CAPÍTULO 5
63
5 - GEOLOGIA, PETROGRAFIA E EVOLUÇÃO METAMÓRFICA DAS ROCHAS META-KOMATIÍTICAS DA UNIDADE INFERIOR DO GREENSTONE BELT DE UMBURANAS
______________________________________________________ 5.1 Geologia
Na Unidade Inferior do Greenstone Belt de Umburanas ocorrem as
seqüências de rochas meta-ultramáficas. Apresentam-se como faixas
tectonicamente interrompidas, seguindo os contatos com o embasamento e com os
maciços graníticos de Umburanas e Serra do Eixo (Figura 4.2). As principais
ocorrências de rochas meta-komatiíticas estão situadas na Folha topográfica de
Brumado, próximo a estrada de ferro, nas imediações da Serra do Sucuiu e na Folha
topográfica de Tanhaçu, na Serra do Eixo, mais precisamente nas imediações da
Fazenda Eixo da Serra.
Os afloramentos de rochas meta-komatiíticas não são de grande amplitude
areal e, em geral, apresentam alto grau de alteração, sendo possível em campo
reconhecer processos de serpentinização que, associado aos processos de
intemperismo, dificultam o reconhecimento dessas litologias na seqüência
vulcanossedimentar (Fotografias 5.1 e 5.2).
As rochas apresentam uma coloração variando de cinza a cinza esverdeado,
granulação fina e uma foliação incipiente. A mineralogia primaria (olivina e piroxênio)
nesta rocha é completamente substituída por minerais secundários, como sepentina,
tremolita e clorita. Em raros casos é possível identificar vestígios de olivina e
piroxênios primários, bem como a textura spinifex.
64
Fotografia 5.1 - Aspecto geral da ocorrência de meta-komatiítos da Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM-100/UM-01. Coordenadas: 227320/8434644
.
Fotografia 5.2 - Detalhe das rochas meta-komatiíticas da Unidade Inferior do GBU. Ponto: UM-100/UM-01. Coordenadas: 227320/8434644
65
5.2 Petrografia
As rochas ultramáficas da Unidade Inferior do GBU caracterizam-se por
apresentar associação mineralógica secundária (serpentina, talco, tremolita,
antofilita - Amostras UM-12A, UM-12C e UM-12D.), em função do grau de
transformação metamórfica, embora, em algumas amostras, se reconheça algumas
assembléias minerais primárias, como olivina e piroxênio (Amostras UM-06, UM-
08A, UM-12B, UM-11, UM-01A e UM-01). Em função das características
mineralógicas e porcentagens em que os minerais secundários ocorrem na rocha,
podemos classificar as rochas em serpentinitos ou antofilita-serpentina-tremolitito. A
seguir será feito uma descrição das principais formas de ocorrência destes minerais,
as relações texturais, bem como uma evolução metamórfica desses tipos litológicos.
A serpentina possui uma representação volumétrica expressiva ocorrendo
como uma massa, sendo produto de alteração principalmente das olivinas e da
antofilita, apresentando hábito fibroso (Fotomicrografias 5.1 A e B).
A olivina ocorre raramente nestas rochas. Quando presente está sob forma
de cristais euédricos a subédricos, com tamanho variando de 0,60 a 1,2mm,
geralmente transformada em serpentina em seu núcleo (Fotomicrografias 5.2 A e B).
O piroxênio, representado mais comummente pelo diopsídio, ocorre como
cristais euédricos a subédricos, de tamanho 0,5mm a 1,6 mm e coloração amarelo
pálido, fracamente pleocroíco, exibindo contatos retos.
A tremolita ocorre sob forma de cristais alongados de coloração verde a
verde amarelada, formando agregados fibrosos, exibindo contatos retos.
(Fotomicrografias 5.3 A e B).
A antofilita ocorre como cristais de prismas longos ou formando agregados
fibrosos de tamanho 0,08 a 0,5 mm. Apresenta-se mais freqüentemente associado
aos minerais opacos, tremolita e ao talco, exibindo contatos do tipo reto
(Fotomicrografias 5.4 A e B).
66
O talco ocorre formando prismas curtos com tamanho médio de 0,15mm,
apresentando-se associado a tremolita e aos minerais opacos (Fotomicrografias 5.5
A e B).
Os minerais opacos são cristais anédricos a subédricos de coloração
castanho bastante escuro (provável magnetita) e castanho (provável ilmenita). A
magnetita é mais comum quando o grau de serpentinização é mais elevado
(Fotomicrografias 5.6, 5.7, 5.8 A e B).
De forma geral, foi possível observar cristais de olivina com alteração parcial
(Fotomicrografias 5.2 A e B). Esta alteração dá origem ao ortoanfibólio (antofilita) e a
serpentina. A tremolita apresenta-se com lamelas de intercrescimento de antofilita
(Fotomicrografias 5.3 A e B). A antofilita é substituída de modo pseudomórfico pelo
talco (Fotomicrografias 5.5 A e B). A serpentina formada tardiamente altera a
antofilita e consome a olivina (Fotomicrografias 5.4 A e B). Minerais opacos
formados posteriormente podem se apresentar como produto de substituição
pseudomórfica (Fotomicrografias 5.6 A e B).
Fotomicrografia 5.1- Aspecto geral da serpentina. Rocha meta-ultramáficas da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01A. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X.
67
Fotomicrografia 5.2 - Detalhe da olivina de forma ovalada sendo parcialmente alterada para serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 25X.
Fotomicrografia 5.3 - Detalhe do intercrescimento de tremolita e antofilita. Rocha meta-ultramáfica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-08-A. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Trem=Tremolita; Ant=Antofilita. Aumento de 100X.
Fotomicrografia 5.4 - Detalhe da alteração da antofilita por serpentina. Rocha meta-ultramáfica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12B. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Serp=Serpentina, Ant=Antofilita. Aumento de 200X.
Trem
Ant
Serp
Ant
68
Trem
Ant
Fotomicrografia 5.5- Detalhe da substituição pseudomórfica da antofilita pelo talco. Rocha meta-ultramáfica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-11. A.Nicóis Paralelos. B.Nicóis cruzados. Ant=Antofilita, Trem=Tremolita. Aumento 200X.
Fotomicrografia 5.6- Detalhe da formação do mineral opaco por substituição pseudomórfica. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-01. A. Nicóis Paralelos. B.Nicóis cruzados. Aumento de 25X.
Onde o grau de alteração foi bastante elevado às rochas apresentam-se
constituídas quase que exclusivamente por serpentina e grandes cristais de minerais
opacos de coloração bastante escura (provavelmente magnetita) (Fotomicrografia
5.7), e coloração castanha, sendo que o segundo se faz presente com menor grau
de serpentinização, com os minerais de serpentina formando uma massa azulada
(Fotomicrografia 5.8). Nestes litotipos foi possível observar cristais fantasmas de
olivina com formas ovaladas ou aciculares, totalmente substituídos por serpentina
(Fotomicrografias 5.9 e 5.10). Apresentam uma textura que lembra superficialmente
a textura spinifex de lavas ultrabásicas (Fotomicrografia 5.11).
69
Fotomicrografia 5.7- Detalhe dos minerais opacos na massa de serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12D. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X.
Fotomicrografia 5.8 - Mineral opaco de coloração castanho associado a serpentina de menor grau de alteração. Rocha meta-komatiitica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM12-C. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 200X.
Fotomicrografia 5.9- Detalhe do cristal de olivina acicular sendo substituído por serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12A. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 25X.
70
za
Fotomicrografia 5.10- Detalhe do cristal de olivina de forma ovalada sendo substituído por serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12A. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cru dos. Aumento de 100X.
Fotomicrografia 5.11- Textura spinifex, Apresentando cristais alongados de olivina sendo substituído por serpentina. Rocha meta-komatiítica da Unidade Inferior do GBU. Amostra UM-12D. A. Nicóis Paralelos. B. Nicóis cruzados. Aumento de 100X.
5.3 Evolução metamórfica
A partir do estudo petrográfico foi possível esboçar algumas considerações à
cerca da evolução metamórfica local.
A rocha ultramáfica inicial, provavelmente um peridotito komatiítico, era
composta majoritariamente por olivina e piroxênios. Um processo metamórfico,
acompanhado pela introdução de fluido aquoso, causou, inicialmente, a
transformação de piroxênio em tremolita. Durante essa substituição do piroxênio
Foram analisados elementos maiores e traços em 13 amostras das rochas
meta-komatiticas (Tabela 5.1). Estes elementos químicos foram utilizados para
classificar as rochas a partir de diagramas de classificação propostos na literatura
(e.g. Jesen 1976, Viljoen et al 1982) e cálculo das razões Al2O3/TiO2 e CaO/Al2O3.
5.4 Geoquímica das rochas meta-komatiíticas
ígneo pela tremolita, houve sobra de Fe, responsável pela geração dos finos opacos.
Com o progresso das transformações metamórficas acompanhadas de percolação
de fluido aquoso, formou-se antofilita em substituição a tremolita (Fotomicrografia
5.3) e a olivina. A transformação de olivina na antofilita se deu por poucas
modifiações químicas por ambas serem silicatos de Mg. Com a continuação do
processo metamórfico, acompanhado do aporte de fluido aquoso, houve, a seguir, a
formação de serpentina, que altera preferencialmente olivina e antofilita
(Fotomicrografias 5.2 e 5.4), e do talco, sendo que este substitui, de modo
pseudomórfico, a antofilita (Fotomicrografia 5.5), a qual, em termos de teor de sílica,
muito se aproxima do talco. Portanto, as texturas de substituição dos anfibólios e da
olivina por serpentina e talco não refletem, necessariamente, variação das condições
metamórficas, que foram de fácies xisto verde a anfibolito inferior, mas, sim,
modificações químicas que acompanharam a circulação de fluidos.
Como demonstrado nos capítulos precedentes, as litologias da Unidade
Inferior do Greenstone Belt de Umburanas foram envolvidas em episódios de
alteração que dificultam as interpretações quanto à sua gênese e seu contexto
geotectônico. A geoquímica de rocha total foi empregada como ferramenta para
caracterização composicional a fim de permitir a investigação dos possíveis
ambientes geológicos e processos de geração a partir das assinaturas destas,
complementando os dados oriundos de outros estudos.
71
72
Tabela 5.1 – Análises químicas em rocha total de elementos maiores (% peso) e traço (em partes por milhão. ppm) representando a composição das rochas
meta-komatiíticas do Greenstone Belt de Umburanas.
AMOSTRA
UM-01 BR-JC-
59B BR-JC-
59C BR-JC-
59H BR-JCd-
711D UM-12D UM-11 BR-JCd-
707B UM-12ª UM-12B UM-12C BR-JC-
691C BR-JCd-
702L precisãoσ (%)
Rocha Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito Komatiito peridotit
o peridotito
peridotito
peridotito
peridotito
peridotito
peridotito
peridotito
peridotito
peridotito
peridotito
peridotito
peridotito SiO2 40.27 39.4 39.2 40 41.02 42.85 45.65 42.92 41.32 35.95 43.48 41.7 43.79 0.3 TiO2 0.16 0.11 0.07 0.09 0.09 0.15 0.21 0.09 0.27 0.24 0.28 0.15 0.28 0.01 Al2O3 3.81 2.3 2.6 2.9 4.29 3.32 4.67 3.6 6.64 5.74 6.33 5.7 2.5 0.16 Fe2O3 8.23 9.04 9.81 9.03 8.45 13.86 7.33 8.12 6.52 9.53 9.54 10.40 10.01 0.08 MnO 0.11 0.13 0.13 0.11 0.1 0.12 0.10 0.17 0.07 0.11 0.04 0.13 0.15 0.01 MgO 35.56 34.8 34.3 35.6 34.86 33.82 29.16 32.59 33.86 33.65 32.80 28.6 31.17 0.03 CaO 0.08 0.65 0.6 0.05 1.17 0.11 5.08 2.11 0.76 1.00 0.23 3.9 4.07 0.05 Na2O 0.01 0.06 0.04 0.02 0.02 0.01 0.03 0.04 0.01 0.01 0.01 0.06 0.05 0.06 K2O 0.04 0.04 0.05 ---- ---- 0.04 0.04 0.01 0.04 0.04 0.04 0.03 ---- 0.5 P2O5 0.01 ---- ---- ---- ---- 0.02 0.01 0.07 0.58 0.03 0.17 ---- 0.01 0.02 CO2 0.03 1.6 1.1 0.28 0.06 0.02 0.03 0.06 0.02 0.1 ---- - LOI 11.40 10.93 11.03 11.09 10.74 5.90 6.90 10.38 10.20 12.60 7.40 8.64 8.31 - TOTAL 99.71 99.06 98.93 99.17 100.74 100.26 99.20 100.10 100.30 98.96 100.34 99.41 100.34 - (Al2O3/ TiO2) 24 21 37 32 48 22 22 40 25 24 23 38 9 ---- (CaO/Al2O3) 0.02 0.28 0.23 0.02 0.27 0.03 1.09 0.59 0.11 0.17 0.04 0.68 1.63 mg# 81 86 84 86 80 71 80 80 84 78 77 79 76 ---- Cr 2600 6700 6400 6013 ---- 5070 7320 ---- 640 3710 60 2166 ---- 0.01 Ni 1499 2680 2661 2220 ---- 900 1035 1950 371 759 170 1932 1687 6.8 Co 61.10 ---- ---- ---- ---- 124.20 96.60 ---- 64.80 93.80 67.40 ---- ---- 0.8 Nota: A precisão de 1σ é calculada para 20 analises repetidas para o padrão SO-18.
73
Verifica-se que as rochas possuem altos teores de MgO (em média, 33%
em peso), baixos conteúdos em álcalis (em média, 0,05%), Cr e Ni muito
elevados (em média, 4067 e 1488ppm, respectivamente) e razão CaO/Al2O3 de
0,36. Para determinar o possível protólito, os resultados das análises químicas
foram plotados em diagramas discriminantes de rochas ultramáficas. Nos
diagramas ternários Al2O3-(FeO+Fe2O3+TiO2)-MgO (Figura 5.1) e MgO-CaO-
Al2O3 (Figura 5.2), verifica-se que as rochas analisadas plotam no campo dos
peridotitos komatiíticos.
Figura 5.1 - Diagrama ternário AFM [Al2O3-(FeO+Fe2O3 +TiO2)-MgO] de Jensen (1976, in
Viljoen et al. 1982) para classificação de rochas ultramáficas. As rochas meta-ultramáficas da
Unidade Inferior do GBU plotam no campo do peridotito komatiítico.
74
Figura 5.2 - Diagrama ternário MgO-CaO-Al2O3 para komatiitos e rochas afins, adaptado de
Viljoen et al. 1982. No diagrama observa-se os altos teores de MgO para as amostras meta-
komatiíticas da Unidade Inferiro do GBU. i = Basaltos toleíticos; ii= Basaltos komatiíticos; iii=
Peridotitos komatiítos.
Como visto no item 1.6, as rochas komatiíticas arqueanas, independente
dos processos pós-magmaticos podem ser divididos em dois grupos: komatiitos
empobrecidos e enriquecidos em alumínio (e.g. Arndt & Nesbet 1982, Fan &
Kerrich 1997, Sproule et al 2002). Os enriquecidos em Al são caracterizados
por possuir razões Al2O3/TiO2 e CaO/Al2O3 próximas do condrito,
respectivamente ~20 e ~1.1-1.5. Por outro lado, os komatiitos empobrecido em
Al são caracterizados por apresentar razões Al2O3/TiO2 (~15) e CaO/Al2O3
(0.19-2.81).
No caso das rochas meta-komatiíticas da Unidade Inferior do GBU a
razão CaO/Al2O3 é menor do que 1, exceto para duas amostras (UM-11C e BR-
JC-702C) que apresentaram teores de CaO maior que os demais, e a razão
75
Al2O3/TiO2 variou entre 9-48, média ~28, caracterizando-os, de forma geral,
como komatiitos empobrecidos em Al. Essas características químicas podem
ter sido modificadas secundariamente durante o metamorfismo, obliterando
assim as características químicas originais da rocha.
76
__________________________CAPÍTULO 6
77
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS ___________________________________________________________________
Neste trabalho apresentamos a geologia, petrografia, evolução
metamórfica e a geoquímica preliminar das rochas meta-komatiíticas da
Unidade Inferior do Greenstone Belt de Umburanas (GBU), porção centro-oeste
do Estado da Bahia, permitindo as seguintes considerações:
1- As rochas meta-komatiíticas não são de grande amplitude areal,
tendo suas principais áreas de ocorrências na Folha topográfica de Brumado,
próximo a estrada de ferro, nas imediações da Serra do Sucuiu e na Folha
topográfica de Tanhaçu, na Serra do Eixo, mais precisamente nas imediações
da Fazenda Eixo da Serra.
2- Apresentam-se intercaladas com meta-basaltos, dunitos, peridotitos e
gabros, representando o primeiro ciclo vulcânico do GBU. As rochas possuem
coloração variando de cinza a cinza esverdeado, granulação fina e uma
foliação incipiente. Em geral, apresentam alto grau de alteração relacionado a
processos de serpentinização.
3- Através do estudo petrográfico detalhado das transformações
mineralógicas, as rochas estudadas foram divididas em dois grupos: o primeiro
apresenta assembléias de minerais primários (olivina e diopsídio) e menor grau
de alteração, sendo classificado como antofilita-serpentina-tremolitito. O
segundo grupo apresenta uma associação mineralógica secundária
predominante (serpentina, tremolita, antofilita, talco) com alto grau de alteração
e classificado como serpentinitos.
4- De uma maneira geral, onde o grau de alteração foi bastante elevado
às rochas apresentam-se constituídas quase que exclusivamente por
serpentina e grandes cristais de minerais opacos, sendo possível observar
cristais fantasmas de olivina com formas ovaladas ou aciculares (sugerindo a
textura spinifex), totalmente substituídos por serpentina.
78
5- As texturas de substituição dos anfibólios e da olivina por serpentina e
talco não refletem, necessariamente, variação das condições metamórficas,
que foram de fácies xisto verde a anfibolito inferior, mas, sim, modificações
químicas que acompanharam a circulação de fluidos.
6- As rochas estudadas possuem altos teores de MgO (~33%) , baixos
álcalis (~0,05%), Cr e Ni muito elevados (em média, 4067 e 1488 ppm,
respectivamente). As razões CaO/Al2O3 e Al2O3/TiO2 caracterizaram as rochas
meta-komatiíticas em komatiitos empobrecidos em Al.
7- Utilizando diagramas de classificação propostos na literatura
observamos que o protólito das rochas meta-komatiíticas da Unidade Inferior
do GBU são de composição peridotitos komatiíticos enriquecidos em MgO.
Essa composição foi confirmada também pelos estudos petrográficos, que
apresentaram mineralogia primária (olivina, piroxênio) que foi transformada
pelo processo metamórfico, acompanhado por fluidos aquosos, para uma
mineralogia secundária (serpentina, tremolita e antofilita) e pelos aspectos
texturais (textura spinifex) característicos de derivação de lavas ultrabásicas.
79
__________________________CAPÍTULO 7
80
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