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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Discriminação e Classificação de Cafés Usando Espectroscopia de Absorção UV-Visível e Análise Quimiométrica Multivariada Por Urijatan Teixeira de Carvalho Polari Souto Orientador: Prof. Dr. Edvan Cirino da Silva Co-Orientador: Prof. Dr Mário Cesar Ugulino de Araújo João Pessoa-Março de 2005.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Discriminação e Classificação de Cafés Usando Espectroscopia de

Absorção UV-Visível e Análise Quimiométrica Multivariada

Por

Urijatan Teixeira de Carvalho Polari Souto

Orientador: Prof. Dr. Edvan Cirino da Silva

Co-Orientador: Prof. Dr Mário Cesar Ugulino de Araújo

João Pessoa-Março de 2005.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

Discriminação e Classificação de Cafés Usando Espectroscopia de

Absorção UV-Visível e Análise Quimiométrica Multivariada

Por

Urijatan Teixeira de Carvalho Polari Souto

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Orientador: Prof. Dr. Edvan Cirino da Silva

Co-Orientador: Prof. Dr Mário Cesar Ugulino de Araújo

João Pessoa-Março de 2005.

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Dissertação defendida em 31 de Março de 2005 e aprovada pela banca

examinadora constituída pelos professores:

_______________________________________

Prof. Dr. Edvan Cirino da Silva Universidade Federal da Paraíba – UFPB

(Orientador)

_______________________________________

Prof. Dr. Mário César Ugulino de Araújo Universidade Federal da Paraíba – UFPB

(Co-Orientador)

________________________________________

Prof. Dr. Sergio Ricardo Bezerra dos Santos Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas-CEFET-Al

_________________________________________

Prof. Dr. Wallace Duarte Fragoso Universidade Federal da Paraíba - UFPB

João Pessoa, 31 de Março de 2005.

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Dedico em especial a minha querida mãe,

Mariseth Teixeira de Carvalho,

pela paciência e compreensão.

Ao meu pai Fernado Polari, pela amizade .

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por me ter concedido a vida.

Aos meus avós maternos e paternos pela paciência e compreensão em minha infância.

Ao tio José Maria Teixeira de Carvalho.

Ao Prof. Dr. Edvan Cirino da Silva, aos esclarecimentos, conselhos, contribuições,

amizade e orientação durante todo o mestrado.

Ao Prof. Dr. Mário Ugulino, pela oportunidade de trabalho, amizade, confiança e co-

orientação.

Aos demais professores do LAQA pelas sugestões, contribuições acadêmicas e

científicas.

A todos que fazem a família LAQA, pela convivência agradável e a amizade cultivada

nestes anos de trabalho.

Ao meu amigo e irmão Marcio Coelho (Coelhão).

A todos os amigos da graduação e pós-graduação, pela amizade e convivência agradável

e a todos que contribuíram para a realização deste trabalho.

Ao pesquisador Sérgio Henriques Saraiva, da Embrapa Rio de Janeiro que auxiliou nos

momentos mais importantes para a continuidade deste trabalho.

Ao amigo Biólogo Randolpho Marinho pela colaboração nas orientações botânicas e

morfológicas no estudo do café.

Aos amigos Fransico e Gilbero Nogueira das indústrias de torrefação São Braz e Santa

Clara pelo fornecimento das amostras de café.

A Capes, bela bolsa fornecida.

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“Discriminação e Classificação de Cafés Usando Espectroscopia de

Absorção UV-Vis e Análise Quimiométrica Multivariada”

Aluno: Urijatan Teixeira de Carvalho Polari Souto Orientador: Prof. Dr. Edvan Cirino da Silva

Resumo

Neste trabalho, propõe-se uma metodologia para discriminação e

classificação de cafés cafeinados e descafeinados usando espectroscopia de

absorção UV-Vis e métodos de reconhecimento de padrões supervisionados

(HCA e PCA) e não-supervisionados (SIMCA).

Uma análise exploratória dos dados usando HCA e PCA revelou a

presença de dois grupos de amostras de cafés (cafeinados e descafeinados), os

quais foram identificados e caracterizados após a rotulação das amostras.

Posteriormente, um modelo SIMCA para cada classe foi construído, validado e

usado na classificação das amostras do conjunto de previsão. Para esta finalidade,

um nível de significância de 5% para o teste-F foi adotado. Além disso, o

algoritmo Kennard-Stone foi usado para realizar a partição dos conjuntos de

amostras para a modelagem SIMCA. Constatou-se que todas as amostras de

cafés foram incluídas em sua própria classe. Tal eficiência indica uma boa

capacidade de previsão dos modelos SIMCA construídos.

Os resultados da análise por HCA e PCA demonstram a viabilidade da

estratégia proposta para discriminação entre cafés cafeinados e descafeinados. A

previsão bem-sucedida dos modelos SIMCA mostra que a metodologia proposta

também é útil para finalidades de classificação. Assim, recomenda-se o uso de

medidas de absorção UV-Vis do extrato aquoso do café e métodos de

reconhecimentos de padrões visando à discriminação e classificação de cafés

cafeinados e descafeinados. Além disso, a estratégia proposta pode ser uma

ferramenta útil para o controle de qualidade de cafés submetidos ao processo de

descafeinação na indústria de torrefação, bem como dos disponíveis nas

prateleiras de estabelecimentos comerciais.

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“Discrimination and Classification of Coffees by Using UV-Vis

Absorption Spectroscopy and Multivariate Chemometric Analysis”

Aluno: Urijatan Teixeira de Carvalho Polari Souto

Orientador: Prof. Dr. Edvan Cirino da Silva

Abstract A methodology for discrimination and classification of caffeinated and

decaffeinated coffees using UV-Vis absorption spectroscopy and methods of

unsupervised (HCA and PCA) and supervised (SIMCA) pattern recognition is

proposed.

An exploratory analysis of the data by using HCA and PCA revealed the

presence of two clusters of coffee samples (caffeinated and decaffeinated), which

were identified and characterized after labelling the samples. Subsequently, a

SIMCA model for each class was built, validated and used in the classification of

the samples from the prediction set. For this purpose, a significance level of 5%

for the F-test was adopted. Moreover, the Kennard-Stone algorithm was used to

carry out the partition of the samples sets for SIMCA modelling. It was verified

that all the samples of coffees are included in its own class. Such a finding

indicates a good prediction ability of the constructed SIMCA models.

The results of exploratory analysis by HCA and PCA demonstrate the

viability of the proposed methodology for discrimination among caffeinated and

decaffeinated coffees. The successful prediction of SIMCA models shows that

the proposed strategy is useful also for classification purposes. Thus, it is

recommended the use of UV-Vis absorption measurements of the aqueous

extract from coffees and methods of pattern recognition for discrimination and

classification of caffeinated and decaffeinated coffees. Moreover, the proposed

strategy can be an useful tool for the quality control of coffees submitted to

decaffeination process in the toasting industry, as well as of the available in the

racks of supermarkets.

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SUMÁRIO Pág LISTA DE FIGURAS ii LISTA DE TABELAS iv LISTA DE ABREVIATURAS v RESUMO vi ABSTRACT vii

CAPÍTULO 1 1

INTRODUÇÃO 1 1.1 Aspectos Gerais da Cafeicultura 1 1.2 Composição Química do Café 2 1.3 Indústria de Torrefação 7

1.3.1 Transformações Físico-Químicas do Café 7 1.3.2 Processo de Descafeinação 10

1.4 Qualidade do Café 11 1.4.1 Importância do Controle de Qualidade do Café 13

1.5 Espectroscopia na Região do Ultravioleta e Vísivel 15 1.6 Quimiometria 17

1.6.1. Reconhecimento de Padrões 17 1.6.1.1 Fundamentação Teórica da PCA 18

1.6.1.2 Fundamentação Teórica do HCA 20 1.6.1.3 Fundamentação Teórica do SIMCA 23

1.7 Classificação e Discriminação de Cafés 25 1.7.1 Trabalhos Relatados na Literatura 26

1.8 Apresentação e Objetivos do Trabalho 27

CAPÍTULO 2 29

MATERIAIS E MÉTODOS 29 2.1 Aquisição das Amostras 29 2.2 Instrumentação 29 2.3 Procedimento 29

2.3.1 Obtenção dos Extratos Aquosos 29 2.3.2 Obtenção dos Espectros 30

2.4 Software 30 2.4.1 O Algoritmo Kennard-Stone 30

2.4.1.1 Selecionado os Conjuntos de Amostras 31

CAPÍTULO 3 32

RESULTADOS E DISCUSSÃO 32 3.1 Escolha da Região Espectral de Trabalho 33 3.2 Pré-tratamento dos Dados Aplicado às Amostras 36 3.3 Pré-tratamento dos Dados Aplicado às Variáveis 36 3.4 Análise Exploratória dos Dados 37

3.4.1 Aplicando HCA 37 3.4.2 Aplicando PCA 40

3.5 Modelagem e Classificação Usando SIMCA 44

CAPÍTULO 4 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES 49 4.1 Propostas de Trabalhos Futuros 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51

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LISTA DE FIGURAS

Figura 3.7 – Gráfico dos Pesos x Variáveis . Amostras de cafés cafeinados e

descafeinados

41

Figura 3.8 – Gráfico dos Resíduos x Influência . Amostras de cafés cafeinados

e descafeinados

42

Figura 3.9 Gráfico dos escores de PC1 versus PC2. Amostras de cafés

descafeinados-DESC

42

Figura 1.1- Uma visão em corte do Fruto do Cafeeiro. 3

Figura 1.2- Estrutura química da cafeína. 4

Figura 1.3-Espectro de absorção UV da cafeína 4

Figura 1.4 Estrutura geral dos Ácidos Clorogênicos 6

Figura 1.5- - Estrutura química da trigonelina. 9

Figura 1.6- Espectro de absorção UV da trigonelina. 9

Figura 1.7- Estrutura química espacial do ácido 5-ACQ. 12

Figura 1.8- Espectro de absorção UV do ácido 5-ACQ. 12

Figura 1.9 –Representação das PCs. 19

Figura 1.10-Ilustração geométrica do coeficiente de correlação de Pearson 22

Figura 1.11- Representação gráfica de modelos SIMCA. A, B, e C. 24

Figura 1.12- Previsão da amostra Y com um modelo SIMCA . 25

Figura 2.1 - Princípio do algoritmo Kennard-Stone 31

Figura 3.1- Espectros eletrônicos de absorção obtidos dos extratos das

amostras de cafés envolvendo toda região operacional do instrumento.

32

Figura 3.2- Espectros eletrônicos de absorção obtidos dos extratos das

amostras de cafés abrangendo apenas a região de trabalho. 33

Figura 3.3 – Dendrograma obtido pelo método Single Linkage . Amostras de

cafés cafeinados “x” e descafeinados “⋅”

38

Figura 3.4 – Dendrograma obtido pelo método Complete Linkage. Amostras

de cafés cafeinados “x” e descafeinados “⋅”

38

Figura 3.5 – Dendrograma obtido pelo método 1-Pearson. Amostras de cafés

cafeinados “x” e descafeinados “⋅”

39

Figura 3.6- Gráfico dos escores de PC1 versus PC2. Amostras de cafés

cafeinados-CAF (azul) e descafeinados-DESC (vermelho).

40

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Figura 3.10 Gráfico dos escores de PC1 versus PC2. Amostras de cafés

cafeinados-

43

Figura 3.11 – Gráfico da variância residual. Amostras de cafés cafeinados 45

Figura 3.12– Gráfico da variância residual. Amostras de cafés descafeinados 45

Figura 3.13 – Gráfico dos pesos x variáveis . Amostras de cafés cafeinados 46

Figura 3.14 –. Gráfico dos pesos x variáveis. Amostras de cafés descafeinados 46

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Resultados da aplicação dos modelos SIMCA ao conjunto de

previsão. Amostras cafeinadas (CAF) e amostras descafeinadas (DESC). 47

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LISTA DE ABREVIATURAS Blends- Misturas de vários tipos de café ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária CNNPA- Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos UV-Vis- Espectroscopia na região do Ultravioleta e Visível PCA- Análise de Componentes Principais(Principal Component Analysis)

HCA- Análise Hierárquica de Agrupamentos(HCA-Hierarchical Cluster Analysis) PCs- Componentes principais Scores- Variáveis transformadas Loadings-Pesos Dendrograma- Gráfico bidimensional que examina as distâncias interpontos correspondentes a todas amostras do conjunto de dados. SIMCA- Modelo independente usado para a classificação (Soft Independent Modeling of Class Analogy) Fcal-Valor calculado para o teste F

Fcrit-Valor crítico adotado para o teste F ANOVA- Análise de Variância LDA- Análise discriminatória Linear (Linear Discriminant analysis) SDA- Análise discriminatória a passo sábio (Stepwise discriminant analysis) KS- Kennard-Stone ICP-AES- Espectrometria de Emissão Atômica em plasma com plasma acoplado (Inductively Coupled Plasma Atomic Emission Espectrometry) ANN- Rede Neural Artificial (Artificial Neural Network)

HPLC- Cromatografia Líquida de Alta Performance (High Performance Liquid Chromatography)

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C A P Í T U L O 1

INTRODUÇÃO

1.1. Aspectos Gerais da Cafeicultura

O cafeeiro pertence ao gênero coffea da família Rubiácea e apresenta

aproximadamente sessenta espécies. A maioria das espécies cresce em condições

silvestres, especialmente nas zonas intertropicais. Embora de importância econômica

nacional e mundial, somente duas das espécies, a arábica (coffea arábica L) e robusta

(coffea Canephora Pierre), apresentam características botânicas, genéticas,

agronômicas, morfológicas e químicas distintas [1].

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) [2] realiza pesquisas com genética e

melhoramento do cafeeiro, desenvolvendo inúmeros cultivares e linhagens de café com

a finalidade de aumentar a produtividade e vigor. Além disso, promove-se uma melhoria

na adaptação do cafeeiro a novas áreas para a cafeicultura, aumentando a lucratividade e

viabilizando seu cultivo em regiões não produtivas.

Entre os diversos cultivares, destacam-se, para a espécie arábica, as variedades

Catuaí Amarelo e Vermelho, Icatu Vermelho e Amarelo, Obatã, Tupi, Mundo Novo,

Acaiá e Borbom Amarelo; para a espécie robusta, as variedades Apoatã, Guarini e

Conilon podem ser mencionadas.

Em relação aos cultivares das espécies arábica e robusta há algumas

características específicas como, por exemplo, o Catuaí Vermelho ou Amarelo que são

plantados em regiões de solo com característica pouco produtiva. Estes apresentam

resistência à ferrugem. O Bourbon Amarelo é cultivado quando se deseja obter uma

colheita precoce, possibilitando uma melhor utilização de máquinas e mão-de-obra,

sendo usado para a obtenção de cafés do tipo Gourmet que são cafés destinados

especialmente à exportação. A variedade Apoatã possui a característica de ser resistente

aos nematóides (vermes que prejudicam as raízes do cafeeiro) e apresenta uma maior

importância sócio-econômica, quando se deseja atender diretamente a indústria de café

solúvel [2]. Portanto, compreende-se que, dependendo do cultivar e suas linhagens,

ambos exercerão influência direta na qualidade da bebida, principalmente quando as

indústrias de torrefação realizam a elaboração dos seus blends. Como resultado, têm-se

bebidas com determinados padrões de qualidade, ou seja, para cada marca de café

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comercializado (Santa Clara, São Braz, Maratá, Kimimo, Nordestino, Mellita, Cirol,

etc.) há um Blend específico.

A área de café cultivada no Brasil ocupa atualmente 2,7 milhões de hectares,

compreendendo cerca de 6 bilhões de pés que se distribuem em mais de dois municípios

de 13 estados da Federação [3]. Em decorrência dessa vasta ocupação geográfica e da

diversidade de climas e solos, o Brasil possui a característica vantajosa de produzir

vários tipos de café.

1.2. Composição Química do Café

A composição química do café depende da variedade da espécie escolhida, local

de cultivo e métodos de colheita, processamento e armazenamento. Por exemplo, a

espécie Coffea arábica L apresenta concentrações mais elevadas de carboidratos,

lipídeos e trigonelina, sendo considerada de melhor qualidade, enquanto a Coffea

Canefhora Pierre exibe bebida neutra em relação às suas características organolépticas

determinadas por análise sensorial (prova da xícara) e maiores teores de fenólicos e

cafeína [4].

Uma atenção especial dever ser dada à composição química dos grãos do café,

pois esta responde diretamente pela qualidade da bebida. Entretanto, não se pode

esquecer a associação que existe entre a composição dos grãos e a das outras partes do

fruto do cafeeiro em virtude da forte inter-relação entre elas, como se pode notar na

Figura 1.1.

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Figura 1.1 - Uma visão em corte do fruto do cafeeiro.

A cafeína (1,3,7-trimetilxantina) é o principal alcalóide na composição química

do café, cuja estrutura e espectro eletrônico de absorção são apresentados nas Figuras

1.2 e 1.3. Esse composto é encontrado na polpa (Figura 1.1), no citoplasma do grão e

ligado à parede celular. Particularmente nos grãos crus, os teores de cafeína podem

variar em função da origem genética. De fato, segundo estudos realizados por Charrier e

Berthaud [5], existe uma expressão diferenciada do genótipo para a síntese da cafeína, a

qual varia de uma espécie para outra. Além disso, essas diferenças são influenciadas

pela interação que ocorre entre o genótipo (conjunto dos genes de um indivíduo) e o

ambiente. Assim, entre cultivares distintos ou não, colhidos no mesmo local na mesma

época ou em épocas diferentes, podem ocorrer diferenças em concentrações de cafeína

por causa da influência do genótipo sobre a síntese desse alcalóide.

De acordo com estudos realizados por Pimenta [6], os grãos de cafés

provenientes de uma colheita com predominância de frutos verdes apresentam maior

teor de cafeína. Constatou-se também que a redução dos teores de cafeína nos frutos que

permaneceram na planta ocorre devido a uma provável atividade microbiana nos frutos

e nos grãos ocasionando a seca dos frutos na planta ou no chão.

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Figura 1.2 - Estrutura química da cafeína.

Figura 1.3 - Espectro de absorção UV da Cafeína.

A espécie C.bengalensis não produz a cafeína, sendo indicada para experimentos

de manipulação genética. No café da espécie arábica, os teores de cafeína variam entre

0,6 a 1,5% [1], enquanto no café robusta encontra-se aproximadamente o dobro de

cafeína. Este dado é importante quando se pretende produzir o café descafeinado ou

com baixo teor desse alcalóide. Embora seu sabor amargo característico e sua alta

estabilidade térmica sejam conhecidos, o que promove sua elevada retenção após o

processo de torrefação, não há elucidação quanto à sua contribuição sensorial na bebida

do café [7].

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Os grãos crus contêm sacarose e uma série de polissacarídeos (arabinogalactana,

galactomanana e celulose). Os teores de polissacarídeos presentes nos grãos do café

arábica crus encontram-se na faixa de 44 a 55%, contribuído significativamente para o

aroma [8].

Os constituintes de natureza ácida dos grãos compreendem basicamente os

ácidos não-voláteis como oxálico, málico, cítrico, tartárico e pirúvico e os ácidos

voláteis representados pelo acético, propiônico, valérico e butírico [8].

O óleo no grão do café encontra-se concentrado na forma de gotículas

armazenadas e distribuídas nas células de todas as regiões da semente, porém nos

melhores cafés ocorre uma distribuição mais intensa de lipídeos nos extremos da

semente [8].

O teor de umidade presente no café após a secagem deve estar compreendido

entre 11 e 13% [6]. A alta umidade é característica de regiões de clima quente e úmido

pode ser prejudicial à qualidade dos grãos.

A permanência do café na árvore ou no chão após a maturação prejudica a

qualidade dos grãos, sendo afetada pela ação de agentes microbianos (leveduras, fungos

e bactérias) que os infectam, principalmente os provenientes de frutos de café no estádio

(período) cereja. Nessa fase, os frutos atingem o ponto máximo da maturação,

decorrente de processos do metabolismo bem característico de frutos climáticos [6]. Isto

porque nessa fase há um teor elevado de umidade em sua polpa e altos teores de

açúcares. Assim, os microorganismos em seu desenvolvimento produzem suas próprias

enzimas que agem sobre os componentes químicos da mucilagem (designação de

compostos viscosos produzidos por plantas), especialmente sobre os açúcares. Com

isso, ocorre uma fermentação e degradação das paredes celulares, resultando na

produção de compostos indesejáveis (o ácido propiônico e o butírico) nas fases mais

avançadas do processo de fermentação. Como resultado, obtêm-se grãos do tipo preto e

ardidos que prejudicam a qualidade da bebida, ou seja, esta apresenta gosto ruim sendo

denominada de “bebida do tipo rio” [6].

Os compostos fenólicos, conhecidos por ácidos clorogênicos, apresentam

estrutura molecular geral mostrada na Figura 1.4. Essas substâncias são encontradas

nos grãos de café em teores que variam de 7 a 12%, sendo que o seu teor gira em torno

de 11 % e 7,5 % para as espécies robusta e arábica, respectivamente [9]. Entretanto,

seus teores são superiores aos médios da cafeína (1,1% para a espécie arábica e 1,8%

para a espécie robusta) nos grãos verdes.

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De acordo com a literatura [6], os ácidos clorogênicos respondem

significativamente pela adstringência da bebida, provavelmente devido à presença de

um grupo fenólico em sua estrutura. Além disso, em virtude de determinadas condições

adversas envolvendo os grãos (colheita inadequada, problemas no processamento, etc.),

as polifenoloxidases atuam sobre os polifenóis diminuindo sua ação oxidante sobre os

aldeídos, propiciando a oxidação dos ácidos clorogênicos, transformando-os em

quinonas (dicetonas).

Figura 1.4 - Estrutura geral (representada no plano) dos ácidos clorogênicos, onde R = H, OH e OCH3. 1.3. Indústria de Torrefação

A indústria realiza a torrefação de misturas de café de vários tipos, espécies de

diferentes locais de cultivo, idades, etc. A essas misturas é atribuído o nome de blends,

os quais são utilizados quando se busca uniformidade e boa qualidade para o produto

natural. Em seguida, os grãos crus são transformados em café torrado e finalmente

moídos.

1.3.1. Transformações Físico-Químicas do Café

A alta temperatura usada durante o processo de torrefação (pirólise) desencadeia

transformações físicas e químicas dos grãos. A torrefação se processa com

movimentação de ar aquecido a 260 oC através dos grãos, para que ocorra a

transferência de calor do ar par o grão. No início do processo de torrefação, o grão perde

sua água mantendo-se a uma temperatura em torno de 100 a 104 oC. Neste ponto, ocorre

essencialmente a perda de água, não havendo ainda a formação do sabor do café [10].

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Quando a temperatura do grão estiver em torno de 204 oC, a absorção de calor

pelo grão é intensamente aumentada pela liberação de calor nas reações de pirólise,

ocorrendo o desenvolvimento do sabor do café, a degradação e síntese de compostos.

Embora se processe em altas temperaturas, a torração não queima os grãos, porque ela

ocorre dentro das células e na ausência de ar. Os produtos da pirólise são carboidratos,

cetonas, aldeídos, furfural, ésteres, aminas, ácidos graxos, sulfetos, gás carbônico e

açúcares caramelizados. Todos esses constituintes contribuem para o desenvolvimento

do sabor do café. Essa reação se processa em intervalos de tempo muito curto e deve ser

paralisada, abruptamente no ponto de torração desejado. Sendo determinado pela

mudança de coloração dos grãos. Durante o período de pirólise, a cor do grão muda de

marrom-palha para quase preto no transcorrer das transformações químicas. O tempo de

torrefação é de 12 a 15 min independentemente dos tipos de grau de torrefação que

podem ser clara, média ou escura em função de suas temperaturas. Para a torrefação

clara, a temperatura encontra-se abaixo de 220 oC, para a torrefação média a

temperatura é fixada em torno de 220 oC e, para a escura, acima de 270 oC. Contudo,

para a torrefação comercial (torrefação média) a temperatura deve ser fixada em torno

de 220 oC [10].

As proteínas do café estão livres no citoplasma ou ligadas aos polissacarídeos da

parede celular, sendo totalmente desnaturadas durante a torração. Cafés de qualidade

superior apresentam maior teor de proteínas solúvel e aminoácidos. As proteínas são

fontes da maioria do aroma e sabor característicos do café; com a torrefação, essas

substâncias se desnaturam em temperaturas inferiores a da pirólise. Além disso, ocorre

hidrólise das ligações peptídicas das moléculas protéicas com liberação de aminas e

carbonilas [10].

No grão cru, a sacarose é encontrada em torno de 7% sendo termicamente

instável, decompondo-se a uma temperatura de aproximadamente 130 oC. Durante a

torrefação, a sacarose é transformada em produtos caramelizados, que são responsáveis

pela cor marrom do café torrado. Ela sofre inicialmente desidratação, seguida de

hidrólise, transformando-se em açúcares redutores, em virtude da elevação de

temperatura na pirólise [10]. Estes são desidratados, polimerizados e parcialmente

degradados a compostos orgânicos voláteis, água e gás carbônico ou reagem com os

aminoácidos e proteínas ou com outros componentes do café. Cerca de 90% da sacarose

presente nos grãos crus são degradados por uma leve torrefação e a degradação

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completa ocorre mediante uma torrefação escura. Alguns cafés torrados mostram um

pequeno resíduo de glicose e frutose.

Durante a torrefação, os compostos fenólicos são gradualmente decompostos,

resultando na formação de voláteis que respondem pelo aroma, materiais poliméricos

(melanoidinas) e liberação de gás carbônico. Os ácidos clorogênicos são hidrolisados

produzindo os ácidos caféico e quínico, cujos sabores são mais amargos e adstringentes

que os dos outros ácidos devido à presença do fenol em sua estrutura (Figura 1.4).

O café verde contém a trigonelina (1-metil ácido nicotínico), composto cuja

estrutura química é apresentada na Figura 1.5 e espectro eletrônico de absorção na

Figura 1.6. Essa substância é a principal fonte de ácido nicotínico, cuja quantidade

aumenta com a torrefação. Sua degradação pode também gerar compostos aromáticos

com anéis nitrogenados, tal como a piridina que é encontrada em café torrado. As

pirazinas, oxazoles e tiazoles, também são constituintes do aroma do café torrado [11].

Figura 1.5 - Estrutura da trigonelina.

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Figura 1.6 - Espectro eletrônico de absorção UV da trigonelina.

A cafeína é uma substância que se mantém relativamente estável durante a

torrefação, sendo possível monitorar a intensidade de torrefação mediante o teor de

cafeína (constante) e de ácidos clorogênicos. Dados relativos aos teores de cafeína no

grão indicam que a perda de massa ocorre mais por sublimação que por decomposição

[10]. Todavia, o teor de cafeína pode ser realçado devido à perda de outros componentes

durante o processo de torrefação.

Além dos compostos descritos, existem vários outros que se encontram no café

torrado, entre os quais poderíamos citar: os aldeídos (etanal e piruvaldeído, por

exemplo), cetonas (propanona, 2,3-butanodiona, etc), álcoois (sobretudo o 3-metil-2-

buteno-1-ol) e ácidos carboxílicos (butírico, por exemplo) [11]. Todavia, merecem

destaque os ácidos clorogênicos, a cafeína e a trigonelina por responderem

significativamente pela qualidade final da bebida.

1.3.2. Processo de Descafeinação

O processo de descafeinação é de grande importância industrial e sócio-

econômica quando nos referimos à comercialização e consumo de cafés descafeinados,

principalmente na Europa, EUA e Japão. Além disso, esse tipo de produto destina-se a

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uma parte da população que sofre de problemas em relação ao consumo da cafeína, ou

seja, pessoas sensíveis aos seus efeitos farmacológicos [7].

Em relação ao processo de descafeinação, cuja finalidade é diminuir a

concentração da cafeína nos grãos crus do café, a redução ocorre mediante o uso de

solventes que podem ser água, gás carbônico, acetato de etila e diclorometano. Contudo,

a escolha do solvente é de fundamental importância para realização da extração da

cafeína, sendo a seletividade uma característica indispensável. Por esta razão, utiliza-se

geralmente o diclorometano, pois não ocorre extração significativa dos outros

compostos (trigonelina e ácidos clorogênicos) que contribuem para a qualidade do café

[12].

Para a realização do processo de descafeinação, inicialmente os blends são

elaborados e, em seguida, os grãos são imersos no solvente mediante o qual a cafeína é

extraída. Depois, os grãos são aquecidos o suficiente para retirar os resíduos do solvente

quando este for o diclorometano, o qual é bastante volátil em virtude do baixo ponto de

ebulição (cerca de 40 oC). Ao término do processo, a cafeína e o solvente são

aproveitados. As demais etapas na indústria de torrefação são as mesmas que as

realizadas no caso dos cafés cafeinados, ou seja, os grãos são torrados, moídos e

embalados para o consumo [7].

1.4. Qualidade do Café

A qualidade do café é dependente de diversos fatores relacionados a todas as

etapas da produção, ou seja, desde a escolha da espécie e as transformações durante a

torrefação até o preparo da bebida. De fato, a composição química dos grãos, bem como

os métodos de colheita, processamento e armazenamento, afetam significativamente a

qualidade da bebida do café [8,9,13]. Não obstante a influência desses vários fatores,

não se pode deixar de destacar a estreita correlação entre a qualidade e a composição

química do café.

Nota-se que tanto a presença quanto à concentração de certos compostos no café

contribuem para o aroma e sabor característicos das bebidas. Entre eles, destacam-se a

cafeína, a trigonelina e os ácidos clorogênicos, os quais, segundo a literatura [11,13,14]

são facilmente solubilizados em água quente. Assim, a presença e a quantidade dessas

substâncias no extrato aquoso oferece uma indicação da boa qualidade da bebida, bem

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como uma possível distinção entre os diferentes tipos de cafés (cafeinados e

descafeinados, por exemplo).

Os ácidos clorogênicos são os principais compostos fenólicos presentes no

extrato aquoso do café, sendo dependentes da formulação dos blends. Entretanto, eles

podem ser degradados durante a torrefação em virtude da sua instabilidade frente ao

tratamento térmico. Esses compostos apresentam propriedades sensoriais variadas, entre

as quais destacam-se o amargor e a adstringência. Os principais grupos de ácidos

clorogênicos são: cafeoilquínicos, feruloilquínicos e os dicafeoilquínicos, sendo cada

um constituído de três isômeros [15]. Contudo, o ácido clorogênico mais relevante

presente no extrato aquoso é o ácido caféico (5-cafeoilquínico ou 5-ACQ), segundo

estudo relatado na ref. [13]. A estrutura química (derivada da ilustrada na Figura 1.4,

onde R = OH) e o espectro eletrônico de absorção na região UV do ácido 5-ACQ são

mostrados nas Figuras 1.7 e 1.8.

Figura 1.7 - Estrutura molecular do ácido 5-ACQ.

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Figura 1.8 - Espectro de absorção UV do ácido 5-ACQ.

A cafeína contribui para o amargor do extrato aquoso, porém sua presença é

fundamental em virtude de suas propriedades fisiológicas [13,14]. Os teores de cafeína

no extrato aquoso dependem também da elaboração dos blends e do tipo de

processamento durante a torrefação, em especial o processo de descafeinação.

A trigonelina não apresenta estabilidade térmica sendo bastante sensível a

torrefação. A utilização de blends diferentes não afeta significativamente o teor final de

trigonelina no produto, pois os cafés do tipo coffea Árabica L e Robusta apresentam

quantidades similares de trigonelina.

Algumas metodologias foram avaliadas (ref. [13]) ao serem utilizadas para a

obtenção de extrato de café verde e torrado (ambos moídos) com o uso de solvente

barato. Nesse caso, utilizou-se a água destilada e deionizada, as quais foram aquecidas a

uma temperatura de 90 oC, a fim de verificar a mais apropriada para a análise de

compostos não voláteis presentes nos extratos aquosos. Todas as metodologias

avaliadas permitiram a extração simultânea dos compostos de interesse e, entre os

ácidos clorogênicos, verificou-se que o ácido 5-ACQ é componente majoritário. Para

quantificar ácido 5-ACQ, trigonelina e cafeína, empregou-se a cromatografia líquida de

alta performance (HPLC) e detecção espectrofotométrica [13].

A determinação da qualidade da bebida do café é comumente realizada por meio

do teste sensorial conhecido como prova da xícara [16,17]. Neste teste, provadores

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treinados experimentam o café (a ser degustado) e o classifica de acordo com os

diferentes padrões de bebida em função do sabor e aroma [18-19]. Contudo, esse

procedimento tem um caráter muito subjetivo haja vista que os instrumentos usados são

pessoas [16,17].

1.4.1. Importância do Controle de Qualidade do Café

A importância do controle de qualidade, sobretudo de café descafeinado, reside

no fato de algumas pessoas apresentarem sensibilidade aos efeitos da cafeína. De

fato, a ingestão de 250 mg de cafeína (o equivalente a duas ou três xícaras de café

forte) pode causar um aumento da freqüência cardíaca devido à cardiopatia

isquêmica, com crises de angina [20]. Isso ocasiona palpitações devido a

extrassístoles e aumento da pressão sanguínea arterial que é prejudicial

principalmente para pessoas que apresentam problemas graves de hipertensão.

Conseqüentemente, aumenta o risco de enfarto, derrames cerebrais e problemas

renais como exemplo, circulação [20].

Em relação aos efeitos metabólicos, ocorre um aumento nos níveis de hormônios

de pessoas que não fazem o uso regular da cafeína (como a renina, as catecolaminas,

a insulina e o hormônio da paratireóide). Esses efeitos são prejudiciais às pessoas que

sofrem de hipertensão arterial grave, diabetes mellitus e obesidade [20].

Quanto aos efeitos gastrintestinais, a cafeína estimula a secreção gástrica de

ácido clorídrico e da enzima pepsina no ser humano quando ingerida em doses de

250 a 500 mg. Esta quantidade corresponde a 2-4 xícaras de café forte, sendo

prejudicial a pacientes que sofrem de úlcera péptica e duodenal [20].

A cafeína também afeta o sistema nervoso central, atuando como um poderoso

estimulante que proporciona no organismo do indivíduo uma menor sensação de

cansaço e sonolência e uma atividade intelectual mais rápida e vívida [20]. Essas

alterações podem ser ocasionadas pela ingestão de 500 mg de cafeína, onde esse

conteúdo equivale a quatro ou cinco xícaras de café. Cabe ressaltar que para as

pessoas que sofrem de insônia, a cafeína interfere nos estágios normais do sono.

Além disso, pessoas com alterações psiquiátricas como, por exemplo, reações de

pânico, esquizofrenia e sintomas maníacos depressivos, apresentam maior

sensibilidade aos efeitos dessa substância [20]. Portanto, é fundamental a realização

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do controle de qualidade de cafés submetidos ao processo de descafeinação nas

indústrias de torrefação, bem como dos disponíveis em estabelecimentos comerciais.

1.5. Espectroscopia na região do Ultravioleta e Visível

Uma descrição sucinta dos fundamentos da espectroscopia de absorção na região

UV-Vis aplicada a compostos orgânicos é realizada nesta seção, pois o uso dessa

técnica é proposto, neste trabalho, para a realização das medidas. Contudo, para uma

discussão pormenorizada pode-se recorrer a livros-textos especializados, a exemplo dos

citados aqui.

A espectroscopia de absorção UV-Vis utiliza radiação eletromagnética cujos

comprimentos (λ) se encontram na faixa de 200 a 780 nm [21]. Quando estimulada com

esse tipo radiação, a molécula do composto pode sofrer transições eletrônicas por

ocasião da absorção de energia quantizada. O registro gráfico da resposta do sistema ao

estímulo denomina-se espectro eletrônico de absorção.

A absorção de energia UV-Vis produz modificação na estrutura eletrônica da

molécula em conseqüência de transições envolvendo, geralmente, elétrons π de

ligações e elétrons de valência n (não ligantes). Isto requer que a molécula contenha

pelos menos um grupo funcional insaturado (C=C, C=O, por exemplo) para fornecer os

orbitais moleculares π e π * ou n e π *. Tal centro de absorção é chamado cromóforo,

sendo responsável principalmente pelas transições *ππ → e *πn→ . Estas

resultam da absorção de radiações eletromagnéticas que se enquadram em uma região

espectral experimentalmente conveniente [21-22], ao contrário das transições *σn→

e *σσ→ que requerem geralmente radiações mais energéticas (λ < 200 nm).

As bandas de absorção podem ser caracterizadas por dois parâmetros

fundamentais: a posição e a intensidade. A posição corresponde normalmente ao “λ” da

radiação eletromagnética responsável pela transição eletrônica, enquanto a intensidade

depende, entre outros fatores, da energia dos orbitais moleculares e probabilidade de

transição.

A energia necessária para as transições eletrônicas envolvendo a absorção de

radiação UV-Vis depende primariamente do tipo de ligação (ou seja, da presença de

cromóforo) e, por último, da estrutura molecular [21-24]. Todavia, é possível ocorrerem

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mudanças significativas na posição e intensidade das bandas em decorrência de, por

exemplo, uma conjugação entre ligações duplas ou quando o cromóforo C=C encontra-

se conjugado com um grupo C=O na estrutura da molécula e vice-versa.

Os espectros de absorção UV-Vis apresentam geralmente bandas largas

resultantes da sobreposição dos sinais provenientes de transições vibracionais e

rotacionais ao sinal associado à transição eletrônica. Além disso, nos espectros

obtidos com a amostra em fase condensada, a estrutura espectral fina é removida

dando lugar a bandas lisas, carentes de detalhes e com baixa resolução. Além disso,

observam-se alterações tanto na posição como na intensidade das bandas originadas

de interações entre suas moléculas e as do solvente [21,22]. De fato, um aumento na

polaridade do solvente promove usualmente deslocamentos da banda para

comprimentos de onda maiores (efeito batocrômico) se a transição associada é do

tipo ππ → *. Contudo, um deslocamento contrário (efeito hipsocrômico) é

observado quando o cromóforo sofre uma transição do tipo π→n * devido ao

aumento da energia entre os dois orbitais moleculares envolvidos. Efeitos

envolvendo um aumento (hipercrômico) ou uma diminuição (efeito hipocrômico) na

intensidade da banda de absorção também podem ser observados como resultado

dessas interações.

Espectros eletrônicos de absorção podem também apresentar problemas de

sobreposição de bandas associadas a duas ou mais substâncias presentes em uma

amostra por causa da natureza alargada das bandas e da modesta correlação entre o

espectro e a estrutura molecular. Com efeito, substâncias com estruturas moleculares

muito diferentes, mas contendo o(s) mesmo(s) cromóforo(s), podem apresentar

espectros UV-Vis com perfis similares e bandas localizadas nas mesmas regiões de

comprimentos de onda [21,22]. Nesses casos, as pronunciadas sobreposições espectrais

dificultam a classificação e discriminação de amostras, especialmente quando

apresentam diferenças pequenas em suas composições químicas. Apesar disso, é

possível extrair informações discriminatórias relevantes dos dados de espectros

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eletrônicos de absorção, principalmente quando se recorre a certas ferramentas de

análise multivariada oferecidas pela Quimiometria.

1.6. Quimiometria

A Quimiometria é o ramo da Química que utiliza ferramentas estatísticas e

matemáticas na resolução de problemas envolvendo dados químicos [25-27]. Os

métodos utilizados podem se enquadrar em três categorias, a saber: planejamento e

otimização experimental, reconhecimento de padrões e classificação e calibração

multivariada.

A aplicação dos métodos quimiométricos multivariados têm sido impulsionada pela

grande quantidade de dados gerados por técnicas instrumentais (espectrofotometria

UV-Vis, por exemplo), bem como pela disseminação no uso de microcomputadores

em laboratórios químicos.

Há diversos tipos de técnicas quimiométricas para análise multivariada, as quais

podem se enquadrar em duas categorias principais: os métodos de análise exploratória

ou reconhecimento de padrões e os de calibração multivariada [26-28]. Neste trabalho,

as ferramentas quimiométricas usadas pertencem ao primeiro grupo, razão pela qual se

faz a seguir uma descrição resumida apenas desses métodos.

1.6.1. Reconhecimento de Padrões

As técnicas de reconhecimento de padrões podem ser reunidas em duas

categorias: (a) supervisionadas e (b) não-supervisionada. As que se enquadram no

primeiro grupo são usadas apenas para examinar se existem similaridades e diferenças

entre objetos (amostras químicas, por exemplo) de um conjunto de dados. Os métodos

supervisionados, por outro lado, são usados quando o objetivo é construir um modelo

para classificar amostras futuras.

Para um reconhecimento de padrão não-supervisionado, pode-se recorrer a dois

métodos bastante conhecidos que são a Análise de Componentes Principais (Principal

Component Analysis-PCA) e a Análise Hierárquica de Agrupamentos (Hierarchical

Cluster Analysis-HCA) [27,29].

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1.6.1.1. Fundamentação teórica da PCA

A PCA é uma técnica quimiométrica multivariada que tem por objetivo reduzir a

dimensionalidade dos dados originais, facilitando a visualização das informações mais

importantes associadas a esses dados. Neste trabalho, utilizou-se a técnica PCA como

uma das ferramentas para análise exploratória dos dados, motivo pelo qual realiza-se,

nesta seção, uma descrição geométrica sucinta dos seus fundamentos.

Seja uma matriz Xnxp de dados multivariados onde “n” linhas correspondem aos

objetos (amostras de café, por exemplo) e nas “p” colunas são dispostos os valores das

variáveis (medidas espectrais) para cada amostra. A matriz X pode ser representada

graficamente em um sistema cartesiano ortogonal cujos eixos são definidos pelas “p”

variáveis; as amostras são então localizadas nesse sistema como “n” pontos cujas

coordenadas são dadas pelos valores das variáveis. Quando a matriz X contém no

máximo 3 colunas (isto é, p≤3) é possível representá-la graficamente, o que possibilita a

visualização de eventuais agrupamentos de amostras. Isso ocorrerá caso as amostras

possuam composição química (qualitativa e quantitativa) similar, o faz com que as

variáveis medidas apresentem valores próximos para suas coordenadas. Entretanto,

quando p>3 torna-se muito difícil visualizar os dados geometricamente, pois neste caso

a dimensionalidade do sistema extrapola o espaço tridimensional. Para contornar esse

problema, pode-se empregar a técnica PCA descrita a seguir.

Ao aplicar uma PCA à matriz X, os dados são projetados nas direções (ou eixos)

perpendiculares do espaço multidimensional contendo a maior quantidade de

informação possível (variância máxima), como ilustrado na Figura 1.9. Esses eixos são

denominados componentes principais (Principal Components-PCs), nos quais as

amostras assumem novos valores conhecidos, usualmente, como escores (Figura 1.9).

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Figura 1.9 - Representação das duas primeiras PCs, onde os círculos representam as amostras.

A primeira componente principal (PC1) contém, entre todas as possíveis PCs, a

maior variância dos dados originais. A segunda componente PC2, por sua vez, porta a

segunda maior quantidade de informações associadas aos dados e assim

sucessivamente. Este método permite reduzir a dimensionalidade da matriz X, ou seja,

todas as amostras podem ser agora representadas em um novo sistema contendo um

número menor de eixos coordenados com pouca perda de informação. Assim, as

informações presentes nas variáveis originais são projetadas de modo que 90% ou mais

da variância dos dados originais estejam contidas nas primeiras PCs, preferencialmente

em PC1 e PC2 [27,28]. Com isto, torna-se possível:

i. reduzir a dimensionalidade do sistema;

ii. detectar a formação de agrupamento(s) de amostras;

iii. detectar a presença de amostra(s) anômala(s);

iv. identificar que variáveis contribuem mais para essas diferenças;

v. mostrar de que forma uma amostra é diferente da outra, etc.

A importância das próprias variáveis originais na definição das características de

uma da amostra pode ser avaliada por meio dos pesos. Estes representam o valor do

cosseno do ângulo entre uma PC e um eixo correspondente a uma dada variável. A

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visualização dessa importância pode ser realizada por meio dos gráficos dos pesos

versus variáveis. Por outro lado, para cada PC modelada, uma certa quantidade de

informação permanece sem ser explicada. Essa parcela é chamada de resíduos, a qual

pode ser visualizada nos gráficos de resíduos [27,28].

1.6.1.2. Fundamentação teórica da HCA

A técnica HCA é outra ferramenta de reconhecimento de padrões não-

supervisionada útil para investigar as relações existentes entre amostras (ou variáveis)

associadas a um conjunto de dados multivariados. Ela pode ser de dois tipos:

aglomerativa ou divisiva [29]. Para o primeiro caso, cada amostra é considerada

inicialmente um grupo e, de acordo com suas semelhanças, elas vão sendo agrupadas

em subgrupos até que todas formem um único grupo. No segundo caso, ocorre o

contrário, todas as amostras constituem um único grupo que será dividido em subgrupos

de acordo com as similaridades entre elas, até que cada amostra forme um único grupo.

Em uma análise por HCA, as distâncias interpontos, correspondentes às “n”

amostras no espaço p-dimensional da matriz X, são usadas para representar os dados em

um gráfico bidimensional chamado de dendrograma (Seção 3.4.1). Por meio do

dendrograma, pode-se visualizar o(s) eventual (is) agrupamento(s) de amostras

formadas(s) em função das distâncias interpontos.

A construção dos dendrogramas é efetuada com base na proximidade existente

entre as amostras no espaço mutidimensional. Para isso, realiza-se um cálculo da

distância entre as amostras do conjunto de dados a fim de obter uma medida de

similaridade. Há várias maneiras de se calcular as distâncias interpontos associadas

às amostras, entre elas destacam-se: a distância de Mahalanobis e a Euclidiana [26-

28], sendo esta última a mais comumente utilizada. A distância Euclidiana (dxy) entre

as amostras x e y no espaço p-dimensional (p = nº de variáveis medidas) é calculada

como:

( ) ( ) ( )22

222

11 ii y-x++y-x+y-x=d

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(1)

onde xi e yi são as coordenadas das amostras x e y na i-ésima dimensão do espaço

multidimensional (onde i varia de 1 a p).

Os dendogramas também podem ser construídos em função da similaridade (Sxy)

entre as amostras x e y, a qual pode ser calculada usando a equação mostrada a seguir:

max

xyxy d

d-1=S (2)

em que xyd é a distância entre as amostras x e y e maxd é a distância máxima entre

todas as amostras consideradas

Todavia, neste trabalho utilizou-se como medida de distância entre as amostras o

coeficiente de correlação de Pearson (Ckj) [30] descrito a seguir.

Para descrever geometricamente o significado do coeficiente de correlação de

Pearson, considere o gráfico da Figura 1.10, no qual são representadas três amostras

(a1, a2 ou a3) no espaço definido por três variáveis medidas (p=3). Neste caso, estamos

supondo que a matriz dos dados originais X possui uma ordem de 3 x 3.

Figura 1.10 – Ilustração geométrica do coeficiente de correlação de Pearson.

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Como se pode observar na Figura 1.10, a cada amostra associa-se um vetor-

posição com origem no sistema cartesiano e extremidade definida pelas coordenadas

que localizam cada amostra no espaço das varáveis. Sendo assim, o coeficiente de

correlação (Ckj) de Pearson [30], definido pelo cosseno do ângulo (θ) entre dois vetores

quaisquer ak e aj (^

jkoaa ), é calculado pela expressão:

(3)

onde ka e ja são as normas (tamanho) dos vetores ak e aj e jk a,a é o produto

interno entre eles. Essas quantidades são calculadas usando as expressões:

21p

1i

2iaa

/

= ∑

=

(4)

jiki

p

1ijk aaaa ⋅= ∑

=,

(5)

onde “p” é o número de variáveis medidas.

Para um conjunto de dados envolvendo “n” amostras, têm-se n(n-1)/2 valores de

Ckj para os pares não repetidos de vetores-linhas associados. Estes valores podem ser

utilizados como medidas de distância (ou similaridade) entre as amostras, as quais

podem ser utilizadas na construção dos dendogramas.

Tendo determinado as distâncias entre os pares de amostras inicia-se o

agrupamento daquelas com maior similaridade. Para os agrupamentos são utilizadas

diversas técnicas de conexão, entre elas destacam-se: a conexão simples e completa

(single-link e complete-link) e o centróide-link [26, 27,29].

As técnicas descritas nesta seção permitem realizar apenas um reconhecimento

de padrões não-supervisionados, não sendo possível classificar uma amostra futura

como pertencente a um ou outro grupo caracterizado inicialmente. Para isso, é

necessário o emprego de técnicas de reconhecimento de padrões supervisionados, a

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exemplo do método SIMCA (Soft Independent Modeling of Class Analogy) utilizado

neste trabalho.

1.6.1.3. Fundamentação teórica do SIMCA

O SIMCA possibilita a construção de um modelo para cada classe de amostras

do conjunto de treinamento. Para isso, aplica-se uma PCA para modelar a forma e a

posição do objeto (ou estrutura) formado pelas amostras no espaço multidimensional

para definição de uma classe. Como resultado, uma caixa (embalagem) é construída

para cada classe e a classificação de novas amostras (previsão) é realizada

verificando em qual das embalagens a amostra se enquadra.

Diferentes formas para as embalagens podem ser obtidas em uma modelagem

SIMCA dependendo do número de PCs necessário para descrevê-las. Assim, uma linha,

um plano e um paralelepípedo representam modelos com uma, duas e três componentes

principais, respectivamente, como se pode observar na Figura 1.11.

Figura 1.11 - Representação gráfica de modelos SIMCA. A, B, e C representam as amostras de três diferentes classes; X e Y são amostras desconhecidas. As amostras, da classe A ocupam uma linha, da classe B um plano e a classe C um cubo.

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A Figura 1.12 ilustra como é realizada a classificação de uma amostra

desconhecida (Y) usando o modelo SIMCA baseado, neste caso, em uma caixa

unidimensional. Para isso, o parâmetro “a” é convertido em uma variância e é dividido

pela variância residual (usada para medir as tensões no agrupamento da classe A) a fim

de determinar um valor para Fcalc. Um valor para Fcrit (em geral com 95% de confiança)

é escolhido e comparado ao valor de Fcalc. A amostra Y seria classificada como

pertencente à classe das amostras A se o Fcalc < Fcrit.

Figura 1.12 - Previsão da amostra Y com um modelo SIMCA para a classe de amostras A. “c” é o resíduo de PCA; “b” é a distância entre a fronteira e a projeção de Y na PC e “a” é a proximidade de Y da caixa A, calculada por: a2 = b2 + c2.

1.7. Classificação e Discriminação de Cafés

No Brasil, a classificação de cafés crus é realizada de acordo com a resolução

CNNPA no 12 (1978) da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) [31].

Segundo essa resolução, no processo de classificação são consideradas apenas as

características físicas dos grãos (tipo, peneira, etc.) e sensoriais da bebida (prova da

xícara) [17].

Em virtude das limitações apresentadas pelos procedimentos preconizados pela

ANVISA (sobretudo o teste da xícara), é fundamental o desenvolvimento de

metodologias que ofereçam resultados menos subjetivos. Além disso, relata-se na Seção

1.4.1 a importância do controle de qualidade de cafés submetidos ao processo de

descafeinação na indústria de torrefação. Diante dessa problemática, realizou-se uma

pesquisa bibliográfica sobre a temática dessa dissertação. Verificou-se que poucos

trabalhos exploram medidas físico-químicas e instrumentais (sobretudo

espectroscópicas) para discriminação e classificação de cafés, principalmente

objetivando o controle de qualidade desse produto.

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1.7.1. Trabalhos relatados na literatura

Pardo e colaboradores [32] propuseram dois métodos para discriminação de

quatro blends de café comercial, contendo até 12 tipos de cafés, os quais são

consumidos como expresso. Para isso, os autores utilizaram um sensor de gases

(chamado nariz eletrônico) baseado em medidas de condutância. A técnica PCA foi

empregada para fazer a discriminação dos diferentes tipos de cafés expressos, enquanto

a ferramenta ANN (Artificial Neural Network) [33] foi usada com a finalidade de

classificação. As amostras sofreram diferentes tipos de preparos que resultaram em

diferentes fases (amostra em grãos, pó e líquida) e sucessivas extrações foram

realizadas. Apesar dos bons resultados da classificação (exceto para as amostras de café

líquido), o sensor usado para detecção de gases está sujeito a problemas de deriva nos

sinais e o uso de ANN para construir os modelos de classificação pode tornar a

metodologia trabalhosa.

Maeztu et al [34] desenvolveram e avaliaram métodos multivariados para

caracterização e classificação de cafés expressos (CE). Os cafés foram caracterizados

quantitativamente de acordo com os conteúdos de sólidos totais, sólido totais sobre o

filtrado, lipídios, cafeína, trigonelina e ácidos clorogênicos determinados por HPLC e

análise sensorial. A técnica PCA foi usada para discriminar as amostras de CE Arábica

e Robusta, sendo a PC1 responsável por esse resultado. Por outro lado, as amostras de

torrefato (café torrado com adição de açúcar) e Robusta Natural foram separadas pela

PC2. A aplicação de análise discriminante permitiu a classificação de cada amostra de

CE em seu respectivo grupo com 100 % de acerto. Não obstante a eficiência na

discriminação e classificação das amostras, o uso de HPLC na determinação de vários

parâmetros físico-químicos usados como descritores torna a metodologia proposta

dispendiosa e consumidora de tempo.

Várias ferramentas de reconhecimento de padrão foram utilizadas por Martín et

al [35] para propor um procedimento visando à discriminação de amostras de cafés

torrados. Para isso, foram utilizados 11 descritores químicos, designadamente os

conteúdos de polifenóis totais (POL), aminoácidos livres totais (AA), extrato aquoso

(EXT), 5-(hidroxi-metil)furfural (HMF), cafeína (CAF), manganês (MN), magnésio

(MG), ferro (FE), cálcio (CA), sódio (NA) e potássio (K). A determinação desses

parâmetros foi realizada por diferentes técnicas analíticas, a saber: POL e AA foram

determinados por espectrofotometria, HMF e CAF por HPLC em fase reversa e

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detecção UV, o EXT por gravimetria e os metais por ICP-AES (Inductively Coupled

Plasma Atomic Emission Espectrometry). Observou-se que entre os grupos de amostras

apareceram, sobretudo, devido aos descritores HMF e MG. Todavia, a diferenciação

entre as três classes conhecidas a priori somente foi conseguida mediante a aplicação de

análise discriminante linear e do SIMCA. O primeiro método usou apenas o parâmetro

HMF para fazer uma boa discriminação, enquanto o SIMCA necessitou dos descritores

HMF, MG e MN para diferenciar com boa eficiência. Um estudo de correlação entre os

descritores foi também realizado e as justificativas para algumas correlações foram

propostas baseando-se no conhecimento do processo químico envolvido durante a

torrefação. A aplicação de HPLC e ICP-AES para a determinação de vários descritores

químicos, apesar de bem-sucedida, implica um procedimento oneroso e, por usar HPLC,

também demorado.

1.8. Apresentação e Objetivos do Trabalho

Neste trabalho, propõe-se uma metodologia para classificar cafés cafeinados e

descafeinados com o intuito de auxiliar o controle de qualidade em indústrias de

torrefação e estabelecimentos comerciais. Para isso, a estratégia proposta utiliza:

i) A espectroscopia de absorção molecular na região do UV-Vis, cuja

instrumentação e manutenção não são tão dispendiosas quanto às requeridas, por

exemplo, pela HPLC, e técnicas de reconhecimento de padrão não-

supervisionado (HCA e PCA) e supervisionado (SIMCA).

i) Modelos PCA e HCA construídos a partir de dados espectrais visando à

discriminação de amostras de vários tipos de café torrados (cafeinados e

descafeinados).

ii) Modelos SIMCA para classificar cafés cafeinados e descafeinados durante o

processo de descafeinação em indústrias de torrefação, bem como de cafés

disponíveis nas prateleiras de estabelecimentos comercias.

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C A P Í T U L O 2

MATERIAS E MÉTODOS

2.1. Aquisição das Amostras

As amostras de cafés cafeinados e descafeinados foram adquiridas em

supermercados e indústrias de torrefação da cidade de João Pessoa-PB no período de

fevereiro/2004 a outubro/2004. Ao todo foram 87 amostras, sendo 33 de cafés

descafeinados e as demais amostras de cafeinados.

2.2. Instrumentação

Um espectrofotômetro UV-Visível com arranjo de fotodiodos Hewlett Packard,

modelo HP 8453, foi utilizado para obtenção dos espectros. Este equipamento encontra-

se disponível no Laboratório de Instrumentação e Automação em Química

Analítica/Quimiometria (LAQA)- DQ-UFPB.

2.3. Procedimentos

2.3.1. Obtenção dos Extratos Aquosos

Conforme metodologia descrita nas ref. [13,36], pesou-se 1,0 g de cada amostra

de café e realizou-se a extração em quatro etapas sucessivas usando cerca de 50 ml de

água destilada de cada vez, mantendo-se a temperatura na faixa de 90–98oC. O volume

do extrato aquoso obtido para cada amostra foi de aproximadamente 200 ml, sendo

recolhido em béquer de 250 ml. Após o resfriamento, todos os extratos foram diluídos

na proporção de 1:20 (v/v) com água destilada. Em seguida, alíquotas de 2,5 ml foram

transferidas para balões volumétricos de 50 ml usando pipeta volumétrica, aferindo-se

os balões com água destilada.

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2.3.2. Obtenção dos Espectros

Os espectros eletrônicos de absorção dos extratos aquosos das 87 amostras de

café foram registrados em toda faixa operacional do espectrofotômetro (190 a 1100

nm), com uma resolução de 1nm. No entanto, apenas a região compreendida entre 220 e

350 nm (130 variáveis correspondentes aos comprimentos de onda) foi aproveitada para

o tratamento quimiométrico dos dados, pelas razões discutidas na Seção 3.1.

Como o tempo de varredura de um espectro obtido com espectrofotômetro HP

8453 é estimado como 0,1 s, os espectros foram varridos durante 1s para melhorar a

relação sinal/ruído. Para isso, os espectros foram armazenados no microcomputador

pelo próprio software do equipamento para o posterior cálculo da média dos sinais de

absorbância. Os dados associados aos espectros médios foram depois submetidos ao

tratamento quimiométrico.

As medidas espectrofotométricas foram realizadas usando água destilada como

“branco” e uma cubeta de quartzo com 1cm de caminho óptico.

2.4. Software

Para a construção dos modelos Quimiométricos (HCA, PCA e SIMCA), foram

utilizados os pacotes Unscrambler 7.5 (CAMO) e Estatística 6.0 (STATSOFT). O

algoritmo Kennard-Stone [37-39], escrito em Matlab 6.1, foi utilizado na partição do

conjunto de dados para a modelagem SIMCA. Uma descrição concisa do princípio

básico desse algoritmo é realizada a seguir.

2.4.1. O Algoritmo Kennard-Stone

O algoritmo Kennard-Stone (KS) [37-39] é uma técnica clássica para extrair um

subconjunto representativo de objetos (amostras) de um determinado conjunto de dados.

A Figura 2.1 ilustra a aplicação do KS a um conjunto de 6 (seis) amostras representadas

no espaço bidimensional.

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Figura 2.1 - Princípio do algoritmo Kennard-Stone.

O algoritmo KS seleciona as amostras maximizando as distâncias Euclidianas

[26-28] mínimas entre os objetos já selecionados (Figura 2.1) e os remanescentes, de

acordo com as etapas descritas abaixo:

i. o KS seleciona, inicialmente, as 2 amostras mais distantes entre si (1 e 2);

ii. calcula as distâncias Euclidianas remanescentes indicadas pelas setas;

iii. guarda as distâncias menores em relação às amostras já selecionadas

(31, 51 e 42, 62);

iv. da lista de distâncias, o KS seleciona o objeto com a maior distância

(ou seja, a amostra 4) e, assim por diante, até um número fixado a priori.

2.4.1.1. Selecionado os Conjuntos de Amostras

Neste trabalho, a seleção das amostras para a modelagem SIMCA foi realizada

aplicando o KS separadamente a cada classe de cafés das quais foram extraídos os

subconjuntos de calibração, validação e previsão.

As amostras de calibração foram inicialmente selecionadas e as amostras

remanescentes foram divididas, alternadamente, em validação e previsão conforme o

resultado da escolha do KS. Assim, foram selecionadas da classe de cafés cafeinados 30

amostras de calibração, 12 de validação e 12 para a previsão. No caso da classe de

descafeinados, foram selecionadas 13, 10 e 10 amostras para os conjuntos de calibração,

validação e previsão, respectivamente.

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C A P Í T U L O 3

RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Escolha da Região Espectral de Trabalho

Os espectros de absorção UV-Vis dos extratos aquosos das 87 amostras de café,

obtidos em toda região operacional do instrumento de medida, são apresentados na

Figura 3.1.

Figura 3.1 - Espectros eletrônicos de absorção obtidos dos extratos das amostras de

cafés envolvendo toda região operacional do instrumento.

A escolha da região de trabalho foi norteada pela inspeção dos espectros obtidos

e informações da literatura referentes às bandas características no espectro dos

compostos mais relevantes do extrato aquoso do café, nomeadamente a cafeína, o ácido

5-ACQ e a trigonelina [13-15].

A Figura 3.1 mostra a ausência total de bandas acima de 350 nm evidenciando

que os compostos mencionados são transparentes à radiação nessa região. Por outro

lado, a ocorrência de bandas fortes na região abaixo de 220 nm pode ser atribuída à

absorção dos ácidos clorogênicos, bem como à cafeína cujo espectro de absorção UV é

mostrado na Figura 1.3. De fato, a exemplo das enonas (cetonas α,β-insaturadas) [22],

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esses compostos contêm em sua molécula (Figuras 1.2 e 1.4) o cromóforo C=C (em

conjugação com o grupo C=O) que é responsável por uma absorção intensa, tipicamente

entre 215-250 nm [22], associada à transição *ππ → . No entanto, essa região foi

desprezada em virtude do ruído instrumental [21] associado aos sinais de absorbância

com valores maiores que 3 unidades. Por conseguinte, a faixa de comprimentos de onda

entre 220 e 350 nm foi então escolhida para o tratamento quimiométrico dos dados.

Nessa região, encontram-se realçadas na Figura 3.2 as bandas do espectro de apenas

duas amostras, sendo uma de café cafeinado e outra de descafeinado.

Figura 3.2 - Espectros de absorção na região selecionada do extrato aquoso de duas

amostras de café (cafeinado em vermelho e descafeinado em azul).

Nota-se que as ocorrências espectrais na região considerada podem estar

relacionadas à transição eletrônica *πn→ sofrida pelas moléculas da cafeína, do

ácido 5-ACQ e da trigonelina. Com efeito, esses compostos contêm em sua estrutura

molecular (Figuras 1.2, 1.5 e 1.7) o grupamento C=O que pode responder pelo

surgimento das bandas *πn→ . Contudo, em virtude das diferenças nas interações

intramoleculares principalmente entre esse cromóforo e as ligações duplas olefínicas

conjugadas, as bandas desses três compostos encontram-se centradas em comprimentos

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de onda diferentes (λ’s). Esses λ’s também diferem do λ típico da banda de absorção

pela carbonila (≈ 280 nm) quando este cromóforo encontra-se isolado na molécula de

um composto e um solvente apolar é usado na obtenção do espectro [22]. Uma

explicação para esses comportamentos espectrais diferentes é apresentada abaixo.

As bandas, cujo máximo de absorção ocorre em torno de 320 nm, surgem

provavelmente devido à presença dos ácidos clorogênicos (sobretudo, o 5-ACQ) [13].

Esta atribuição pode ser corroborada tomando como base o espectro eletrônico de

absorção do ácido 5-ACQ apresentado na Figura 1.8, bem como o estudo realizado por

Maeztu et al [34]. De fato, nesse trabalho o ácido 5-ACQ, após ter sido extraído do

café, foi determinado por HPLC com detecção espectrofotométrica realizada em 325

nm.

Salienta-se que a banda de C=O dos ácidos clorogênicos ocorre em torno 320

nm resultante de um deslocamento batocrômico pronunciado em relação à posição

típica da banda da carbonila. Tal efeito pode ocorrer em virtude da conjugação desse

grupamento com ligações C=C do etileno e anel aromático presentes na estrutura

molecular (Figuras 1.4 e 1.7). Essa interação intramolecular promove uma diminuição

da energia dos orbitais π* decorrente de uma forte superposição que é favorecida pela

disposição planar dos grupos. Esse mesmo comportamento espectral pode ser observado

nas enonas, cujas bandas *πn→ da carbonila ocorrem tipicamente entre 310 e 330

nm [22].

Argumentos semelhantes podem ser considerados para justificar a atribuição das

bandas que ocorrem por volta de 290 nm às absorções pelas moléculas da trigonelina.

Para corroborar essa inferência, pode-se verificar a presença de uma banda de absorção

em torno de 290 nm no espectro eletrônico da trigonelina mostrado na Figura 1.6. Além

disso, no trabalho descrito por Vitorino et al [13] realizou-se a quantificação da

trigonelina no extrato aquoso de café usando HPLC e detecção espectrofotométrica em

289 nm. Todavia, observa-se um deslocamento batocrômico menos expressivo da

banda, provavelmente devido à ausência da conjugação entre o cromóforo C=O e o

C=C e à menor interação com os elétrons π do anel piridínico (Figura 1.5).

As bandas centradas ao redor de 275 nm nos espectros da Figuras 3.1 e 3.2

podem ser atribuídas à absorção pelo cromóforo C=O da cafeína, o que está de acordo

com a banda observada no espectro eletrônico desse composto mostrado na (Figura

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1.3). Adicionalmente, o artigo citado na ref. [36] fornece informações que corroboram a

atribuição realizada. De fato, ao registrar o espectro eletrônico de absorção da cafeína

presente no extrato de café, observa-se a banda da carbonila por volta de 275 nm. No

entanto, a banda da cafeína apresenta, ao contrário dos casos anteriores, um

deslocamento hipsocrômico em relação à posição típica da banda da carbonila isolada.

Esse efeito pode ser atribuído à interação entre as moléculas da cafeína (as quais contêm

dois grupos C=O, Figura 1.2) e as moléculas polares da água presentes no extrato. Essa

interação possibilita a formação de ligações de hidrogênio envolvendo cromóforos

C=O, ocasionando um abaixamento pronunciado da energia dos orbitais não-ligantes

“n”. Neste caso, o deslocamento hipsocrômico (envolvendo dois C=O por molécula de

cafeína) prevalece sobre o efeito batocrômico decorrente das interações entre os orbitais

“π” no interior da molécula.

3.2. Pré-Tratamento dos Dados Aplicado às Amostras

Como se pode notar na Figura 3.2 os espectros não apresentam problemas de

variação sistemática da linha-de-base nem variações aleatórias associadas a ruídos nos

dados. Sendo assim, não houve necessidade da realização de nenhum pré-

processamento (correção de linha base, suavização, etc.) aplicado às amostras

analisadas.

3.3. Pré-Tratamento Aplicado às Variáveis

Uma pré-seleção de variáveis foi efetivamente realizada na Seção 3.1, ao se

definir a região de trabalho associada a uma faixa de comprimentos de onda onde há

informações úteis ao tratamento dos dados. Para isso, recorreu-se ao conhecimento

físico-químico do sistema em estudo, ou seja, às bandas de absorção eletrônica

características dos compostos de maior relevância presentes no extrato aquoso do café.

Com isso, foram eliminadas as variáveis das regiões que não possuem informações

relevantes para a construção dos modelos quimiométricos, nomeadamente as situadas

abaixo 220 nm e acima de 350 nm.

O pré-processamento aplicado às variáveis consistiu na centralização na média

dos dados da matriz original. Esta operação matemática corresponde a mover o sistema

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de coordenadas para o centro dos dados, tornando-os melhores condicionados para o

tratamento quimiométrico. Esse procedimento deve ser realizado quando se deseja

construir modelos baseados em componentes principais [27], pois desse modo as PCs

conseguem atravessar efetivamente os dados nas direções contendo maior variância. Por

outro lado, o escalonamento da variância não foi realizado, pois as variáveis envolvidas,

por serem do tipo espectroscópica, possuem unidade similar e magnitudes de mesma

ordem de grandeza.

3.4. Análise Exploratória dos Dados

Uma análise exploratória foi inicialmente realizada com o propósito de

investigar se existem similaridades e/ou diferenças entre as amostras do conjunto de

dados. Para isso, as técnicas HCA e PCA foram utilizadas como ferramentas de

reconhecimento de padrões não-supervisionadas.

3.4.1. Aplicando HCA

Inicialmente, a aplicação da técnica de HCA à matriz dos dados originais,

associados aos espectros das 87 amostras de café, resultou nos dendrogramas mostrados

na Figura 3.3 e 3.4. Para a construir os dendrogramas, a ligação dos grupos de amostras

foi efetuada usando, inicialmente, os processos single-link e complete-link com

distâncias Euclidianas [26-28].

O dendrograma da Figura 3.3 aparenta não exibir qualquer formação nítida de

agrupamento(s) de amostras a distâncias pequenas, nomeadamente menores que 0,2.

Contudo, a distâncias maiores que 0,6, verifica-se, após a rotulação das amostras, a

formação de um agrupamento associado à categoria de cafés cafeinados (xxx). As

amostras de cafés descafeinados (⋅⋅⋅) formam grupos maiores apenas para distâncias

maiores que 0,9, nas quais ocorrem também a mistura entre as duas categorias de

amostras.

No dendrograma da Figura 3.4, pode-se observar a formação dos dois

agrupamentos de amostras (cafeinadas e descafeinadas) a distâncias pequenas. Porém,

os grupos se encontram fragmentados em pequenos subgrupos, os quais se misturam a

distâncias ligeiramente maiores.

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0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4

Distância

xx.................xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx................

Figura 3.3 – Dendrograma obtido pelo método single-link com distância Euclidiana

(Equação 1). Amostras de cafés cafeinados (xxx) e descafeinados (⋅⋅⋅).

0 2 4 6 8 10 12

Distância

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...........xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx......x........xxxxxxxxx........

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Figura 3.4 – Dendrograma obtido pelo método complete-link com distância Euclidiana

(Equação 1). Amostras de cafés cafeinados (xxx) e descafeinados (⋅⋅⋅).

Todavia, os melhores resultados para os dendrogramas foram obtidos usando o

coeficiente de correlação de Pearson, Ckj (Seção 1.6.1.2), como medida de distância e

agrupamento de vetores (amostras) baseado no processo single-link. Desse modo, a

nova aplicação da técnica HCA à matriz dos dados espectrais das 87 amostras de café

resultou no dendrograma mostrado na Figura 3.5. Pode-se observar que a uma distância

próxima a 0,015 configura-se a formação de dois grandes agrupamentos de amostras.

De fato, após a rotulação dessas amostras, constata-se que os dois grupos revelados

indicam a existência de duas categorias de cafés: cafeinados (xxx) e descafeinados (⋅⋅⋅).

Além disso, é notável no dendrograma a maior similaridade (menor dispersão dentro da

classe) apresentada pelas amostras de cafés cafeinados quando comparadas com as

amostras descafeinadas. Esta inferência baseia-se no fato das amostras cafeinadas terem

se agrupado a uma distância muito menor que as amostras descafeinadas.

Comportamentos similares podem ser observados nos gráficos das Figuras 3.6, 3.13 e

3.14 discutidas nas Seções 3.4.2 e 3.5.

0,000 0,005 0,010 0,015 0,020 0,025 0,030

Distância

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.................................

Figura 3.5 - Dendrograma obtido por single-link e distância baseada nos valores de Ckj

(Equação 3). Amostras de cafés cafeinados (xxx) e descafeinados (⋅⋅⋅).

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3.4.2. Aplicando PCA

A aplicação da PCA à matriz dos dados originais resultou no gráfico dos escores

apresentado na Figura 3.6. Como 85% da variância dos dados foram descritos por PC1

e 15% por PC2, isto significa que toda informação relevante foi projetada em um plano

definido por PC1 e PC2 possibilitando assim a realização do reconhecimento de

padrões. Com efeito, o gráfico da Figura 3.6 mostra a formação de dois agrupamentos

de amostras que correspondem à classe dos cafés cafeinados (em azul) ou descafeinados

(em vermelho), cuja identificação foi realizada após a rotulação das amostras. Estas

inferências corroboram as obtidas mediante a interpretação do dendrograma da Figura

3.5.

Figura 3.6 - Gráfico dos escores de PC1 versus PC2 aplicado ao conjunto das 87

amostras de cafés. Cafeinados-CAF (azul) e descafeinados-DESC (vermelho).

A Figura 3.6 mostra que a separação das duas classes de amostras ocorre ao

longo da PC2. Por outro lado, o gráfico da Figura 3.7 mostra que os maiores valores de

pesos correspondem aos comprimentos de ondas associados às bandas de absorção da

cafeína (em 275 nm), trigonelina e ácidos clorogênicos (entre 290 e 320 nm). Embora as

variáveis associadas à banda dos ácidos clorogênicos e da trigonelina exerçam alguma

influência, a separação das duas classes de cafés foi determinada pela variável de maior

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peso correspondente à banda de absorção da cafeína. O gráfico da Figura 3.7 também

evidencia uma dimensionalidade inerente [27] dos dados igual a dois, ratificando o

resultado da análise baseada na percentagem da variância explicada (Figura 3.6).

Figura 3.7 - Gráfico dos pesos versus variáveis para PC1 (azul) e PC2 (vermelho).

Uma análise do gráfico de resíduos e influência, apresentado na Figura 3.8,

revela que as amostras apresentam pequeno valor residual e influência, indicando neste

caso que não há presença de amostras com comportamento anômalo ao modelo.

A Figura 3.6 também revela uma dispersão aparentemente maior das amostras

dos cafés descafeinados (em vermelho) em relação às amostras cafeinadas (em azul).

No entanto, essa informação parece mais evidente no gráfico dos escores construído

para cada classe de cafés (Figuras 3.9 e 3.10), principalmente quando se observa a

distribuição das amostras ao longo da PC2. Uma explicação para esse comportamento

pode ser baseada em informações encontradas na ref. [2], segundo as quais pode existir

uma variabilidade considerável na elaboração dos blends, bem como no processo de

descafeinação entre os diferentes fabricantes [7,12]. De fato, as amostras de cafés

cafeinados, embora mais aglutinadas em seu grupo, apresentam uma dispersão

expressiva que pode ser atribuída a uma não-homogeneidade ao elaborar os blends, ou

seja, ao misturar cafés de vários tipos, espécies, locais de cultivo, etc [1,10,12].

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Figura 3.8 - Gráfico de resíduos e influência (leverage) para as classes de amostras de

cafés cafeinados e descafeinados.

Figura 3.9 - Gráfico dos escores de PC1 versus PC2 para as amostras de cafés

descafeinados. CD: Cirol, MD: M: Melita, SCD: Santa Clara, PAD: Pão de Açúcar.

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Figura 3.10 - Gráfico dos escores de PC1 versus PC2 para as amostras de cafés

cafeinados. SB: São Braz, NORD: Nordestino, M: Maratá, SCP: Santa Clara Prêmio, K:

Kimmimo.

É importante observar na Figura 3.9 uma separação das amostras de cafés

descafeinados por fabricante (exceto a de MD e PAD), o que não ocorreu com as

amostras cafeinadas (Figura 3.10). Uma justificativa para esse comportamento pode

residir no fato da diminuição da cafeína nas amostras descafeinadas implicar uma menor

influência de sua informação espectral na modelagem PCA. De fato, com a redução do

teor de cafeína (e, portanto, da intensidade de sua banda de absorção em 275 nm,

Figura 2), a contribuição das bandas dos ácidos clorogênicos e trigolina é realçada.

Sendo assim, é possível que as diferenças associadas aos blends e ao processo de

descafeinação entre os diferentes fabricantes tenha exercido uma maior influência na

modelagem PCA a ponto de resultar na separação das amostras. A influência desses

fatores pode também ter sido responsável pelo fato da amostra de café MD e PAD terem

se aglutinado às amostras SCD, especialmente pela dificuldade de assegurar

homogeneidade na composição dos blends [12].

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3.5. Modelagem e Classificação Usando SIMCA

Um modelo SIMCA foi construído para cada classe de cafés (cafeinados e

descafeinados) revelada, por ocasião da aplicação das técnicas não supervisionadas

HCA e PCA. Os modelos obtidos foram validados e depois usados para prever

(classificar) amostras futuras de cafés dos dois tipos.

A seleção dos conjuntos de amostras para a modelagem SIMCA foi realizada de

acordo com o procedimento descrito na Seção 2.4.1.1. O SIMCA gerou os modelos

individuais cujo conjunto de treinamento compreendia as amostras de calibração e

validação. A caixa para as amostras da classe dos cafés cafeinados abrange 98% de

variância ao longo de PC1 e 1% para ao longo de PC2, enquanto para a dos

descafeinados contém 97% de variância ao longo de PC1 e 3% relacionada a PC2.

A dimensionalidade do modelo SIMCA, a qual no presente estudo foi

determinada ser igual a 2 (dois) para ambas as classes de cafés, pode ser inferida do

gráfico de variância residual construído para cada classe (Figuras 3.11 e 3.12). Esses

gráficos são considerados ferramentas de diagnóstico usadas para determinar a

dimensionalidade inerente (rank) do modelo. Neste caso, como a dimensionalidade

inerente foi 2 (dois), foram necessários apenas duas componentes principais para cada

modelo SIMCA.

Por meio do uso de outra ferramenta de diagnóstico, designadamente o gráfico

dos pesos versus variáveis, pode-se observar na Figura 3.13 a(s) variáveis que mais

influenciaram o modelo SIMCA para a classe dos cafés cafeinados. Neste caso, tais

variáveis encontram-se mais relacionadas aos comprimentos de onda na região de

absorção da cafeína.

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Figura 3.11 - Gráfico da variância residual para as amostras na classe de cafés

cafeinados.

.

Figura 3.12 - Gráfico da variância residual para as amostras da classe de cafés

descafeinados.

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Figura 3.13 - Gráfico dos pesos versus variáveis para as classes de amostras de cafés

cafeinados.

Analogamente, o gráfico dos pesos versus variáveis, mostrado na Figura 3.14,

possibilita investigar que variáveis mais influenciaram a construção do modelo SIMCA

para a classe dos cafés descafeinados. Ao contrário do caso anterior, as variáveis

espectrais associadas à região de absorção dos ácidos clorogênicos e a trigonelina se

mostraram mais influentes.

Figura 3.14 - Gráfico dos pesos versus variáveis para a classe de amostras de

cafés descafeinados.

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Para a validação dos modelos SIMCA, estes foram utilizados na classificação

das amostras de validação contidas no conjunto de treinamento. Como resultado,

observou-se que todas as amostras de validação cafeinadas e descafeinadas foram

classificadas como pertencente às suas respectivas classes, indicando que nenhuma

amostra apresenta anomalia (características distintas) que pode prejudicar a modelagem.

Tendo realizado a validação dos modelos SIMCA, estes foram usados na

classificação das amostras dos dois conjuntos de previsão para um nível de significância

de 5% para o teste-F. Os resultados são apresentados na Tabela 1, onde se pode notar

que todas as amostras de cafés cafeinados (CAF) e descafeinados (DESC) foram

incluídas em sua própria classe pelo modelo SIMCA correspondente. Esta alta

percentagem de acertos (100 % das amostras classificadas corretamente) indica uma

notável capacidade de previsão dos modelos SIMCA construídos para classificação de

amostras de café.

Tabela 1 - Resultados da aplicação dos modelos SIMCA ao conjunto de previsão.

Amostras cafeinadas (CAF) e amostras descafeinadas (DESC).

Amostras (CAF) Amostras (DESC) SIMCA (CAF) SIMCA (DESC)

1 1 * *

2 2 * *

3 3 * *

4 4 * *

5 5 * *

6 6 * *

7 7 * *

8 8 * *

9 9 * *

10 10 * *

11 – * –

12 – * – (*) Amostra incluída em sua própria classe.

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Finalmente, para avaliar a robustez dos modelos estes foram testados na previsão

(classificação) das amostras cafeinadas (CAF) usando o modelo SIMCA da classe das

descafeinadas (DESC) e vice-versa. Os resultados mostraram que nenhuma das

amostras de café de uma classe foi classificada como pertencente à outra classe.

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C A P Í T U L O 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES

Neste trabalho, desenvolveu-se uma metodologia para classificar e discriminar

cafés cafeinados e descafeinados visando ao controle de qualidade desses produtos. Para

isso, utilizou-se a espectroscopia de absorção UV-Vis e métodos para reconhecimento

de padrões não-supervisionados (HCA e PCA) e supervisionados (SIMCA).

A escolha do extrato aquoso do café para implementação da estratégia proposta

foi motivada pelas razões expostas a seguir. Primeiro, nesse meio são comumente

encontradas três substâncias (cafeína, trigonelina e ácido clorogênico) que

respondem diretamente pela qualidade da bebida do café. Em segundo lugar, isto

viabiliza o uso da espectroscopia UV-Vis, a qual é uma técnica cuja instrumentação e

manutenção não são tão dispendiosas quando comparadas, por exemplo, com as

requeridas pela HPLC. E, por último, por explorar medidas espectrais associadas a

bandas de absorção características dos compostos mais relevantes do extrato aquoso

do café.

O uso combinado da espectroscopia eletrônica de absorção e das ferramentas

HCA e PCA possibilitou que cafés cafeinados e descafeinados de diferentes marcas

comerciais fossem separados. Além disso, a aplicação bem sucedida dos modelos

SIMCA demonstra a utilidade da estratégia proposta para fins de classificação de

cafés cafeinados e descafeinados, apesar da limitação das informações contidas nos

espectros. De fato, em virtude de sua baixa resolução, modesta correlação com a

estrutura molecular e das extensas sobreposições de bandas, torna-se inconveniente

realizar a classificação das amostras de café mediante uma simples inspeção visual

dos espectros.

Diante dos resultados, recomenda-se o uso de espectros eletrônicos de absorção

(obtidos do extrato aquoso do café) e modelos SIMCA para classificar cafés submetidos

ao processo de descafeinação nas indústrias de torrefação, bem como dos disponíveis

nas prateleiras de estabelecimentos comerciais.

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4.1. Propostas de Trabalhos Futuros

Para melhorar a eficiência da metodologia proposta ou desenvolver outros trabalhos

em continuação envolvendo a temática dessa dissertação, pretende-se:

i) Utilizar técnicas de seleção de variáveis, a exemplo do Algoritmo das Projeções

Sucessivas (APS) [40], a fim de construir modelos de classificação mais robustos.

ii) Usar a espectroscopia eletrônica de absorção e métodos de reconhecimento de

padrões supervisionados na construção de modelos quimiométricos destinados à

classificação de cafés comerciais expressos e solúveis;

iii) Aplicar a espectroscopia no infravermelho próximo (NIR-Near InfraRed) e modelos

quimiométricos baseados em medidas de refletância difusa da borra do café a fim de

classificar cafés descafeinados e cafeinados.

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