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OS MATERIAIS DIDÁTICOS NO ENSINO NORMAL DA PARAÍBA (1886-1930)

Carlos Augusto de Amorim Cardoso (Universidade Federal da Paraíba)[email protected]

Maria Adélia Clementino Leite (Universidade Federal da Paraíba) [email protected]

Palavras- chave: História da educação; práticas escolares; educação geográfica

INTRODUÇÃO

As analises e pesquisas sobre o livro didático e as disciplinas escolares no Brasil são recentes e constituem hoje um amplo e variado campo de pesquisa na área de história da educação. Os livros e materiais didáticos são utilizados como fontes para os pesquisadores por sua importância na compreensão do cotidiano escolar. Assim, a pesquisa enfatiza o livro enquanto objeto físico, direcionando o olhar para as diversas maneiras de entender o caráter pedagógico do livro e da prática escolar, através do currículo, das formas de leitura, das metodologias de ensino, do cotidiano escolar, das disciplinas escolares, da circulação de modelos pedagógicos, das estratégias editoriais etc.

Dessa corrente de análise, destacam-se o projeto LIVRES no Brasil, com base na Universidade de São Paulo <http://www2.fe.usp.br/estrutura/livres/index.htm>, em que estão organizados acervos de livros escolares produzidos e utilizados no Brasil a partir da introdução do moderno ensino de massas no final do século XIX e inícios do século XX. No exterior, o projeto EMMANUELLE na França <http://www.inrp.fr/she/emmanuelle.htm>; MANES <http://www.uned.es/manesvirtual/ProyectoManes/proyecto.htm> e CEINCE <http://www.ceince.eu> na Espanha são três importantes grupos de organização de pesquisas da cultura escolar.

Com a pesquisa centrada na análise de livros destinados às Escolas Normais e no antigo ensino secundário, as investigações sobre história das disciplinas escolares são baseadas nos programas e nos livros didáticos recomendados para as disciplinas, e que tinham como referência básica o ensino ministrado nas escolas do Rio de Janeiro e São Paulo. Desse modo, tivemos como foco as propostas dos livros, os programas e as formas de usos das metodologias de ensino, a exemplo das excursões escolares, usadas na escola no ensino da geografia e também aplicadas a outros conhecimentos.

Com o objetivo de buscar a contribuição da geografia no ensino normal enquanto disciplina escolar na Parahyba do Norte, foi realizado um levantamento dos manuais pedagógicos existentes em bibliotecas escolares públicas e particulares, assim como o levantamento e análise dos materiais didáticos utilizados na Escola Normal (EN) da Paraíba, do início do seu funcionamento, em 1886, até os anos de 1930, quando concebido como Instituto de Educação. Vale recordar que grande parte dos materiais didáticos e dos compêndios utilizados na EN foram gerados por seus autores e produzidos visando a formação do magistério primário, especialmente no que diz respeito aos conhecimentos pedagógicos, psicológicos, metodológicos e didáticos, tendo em vista as exigências educacionais e sociais que norteavam a formação de professores para atuar na educação primária.

Nesse sentido, defronta-se, juntamente com esse conjunto de temas e de idéias no âmbito das Ciências da Educação com o tema das escolas normais. Se a temática retorna é porque adquire a perspectiva de que escolas normais – e as normalistas – são ambientes e realidades dispostas no tempo e no espaço, tais como expressas no romance A Normalista, de Adolfo Caminha e no filme Parahyba Mulher Macho, dirigido por Tizuka Yamasaki para citar dois exemplos; o primeiro da literatura, do gênero romances e a segunda uma “literatura fílmica”. A junção das experiências acima

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citadas exprime de maneira bastante clara como a EN e o movimento geral da sociedade são expressões das correlações de forças político-ideológico da modernidade.

No campo da geografia, o movimento apresenta-se com uma grande maioria dos pesquisadores apresentando uma geografia fantástica, uma geografia das coisas interessantes e inusitadas que se fixam no espaço. A EN é para a geografia um eixo aglutinador de perspectivas diversificadas, com várias possibilidades analíticas. O que parece carente de fundamentos é fixar a EN tal qual se firmam os objetos geográficos. As escolas normais são a institucionalização da educação e a contribuição para a profissionalização do magistério primário.

Nesse estudo sobre os materiais didáticos da Escola Normal, foram utilizadas fontes bibliográficas e documentais; edições da Revista ERA NOVA (1921-1925); levantamento historiográfico da história da Escola Normal da Paraíba e livros ou compêndios (Manual de Pedagogia Moderna (teoria e prática) para uso das Escolas Normais e Institutos de Educação – de Everardo Backheuser, 1928; Tratado de Pedagogia – para o uso das Faculdades de Filosofia, das Escolas de Professores e Institutos de Educação, de Monsenhor Pedro Anísio, de 1955 e Práticas Escolares, de Antônio D’Ávila, de 1958).

Contextos: Escola Normal, Materiais Didáticos e Compêndios

A criação da Escola Normal faz-se dentro de um contexto político-educacional bastante preciso, porém repleto de multiplicidade. No Brasil, grosso modo, três períodos de modificações básicas para a institucionalização da escola são fundamentais; o período em que a educação era ministrada pela Companhia de Jesus, orientada pelo governo português; o período da implantação de cursos de preparação de professores e o período caracterizado pela normalização nacional das políticas educacionais.

Os jesuítas, durante os dois séculos de sua permanência (1549–1759), desenvolveram um movimento de catequização dos índios que, graças ao regime de padroado celebrado entre Portugal e o Vaticano, “os religiosos estavam submetidos diretamente à autoridade do rei e caberia a eles através das missões, majoritariamente jesuítas, realizarem essa tarefa de catequização dos índios”. (KULESZA, 2010, p. 127). Com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, através do Alvará de 28 de Julho de 1759, instalou-se uma desordem na educação brasileira, uma vez que o ensino passou a ser ministrado por professores leigos. Segundo Romanelli (1997), a expulsão resultou em inúmeras dificuldades para o sistema educacional, conforme podemos verificar:

[...] da expulsão até as primeiras providências para a substituição dos educadores e do sistema jesuítico transcorreu um lapso de 13 anos. Com a expulsão desmantelou-se toda uma estrutura administrativa do ensino. A uniformidade da ação pedagógica, a perfeita transição de um nível escolar para outro, a graduação, foram substituídas pela diversificação das disciplinas isoladas. Leigos começaram a ser introduzidos no ensino e o estado assumiu, pela primeira vez, os encargos da educação. (ROMANELLI, 1997, p. 30).

As reformas pombalinas tentaram substituir o sistema jesuítico. Entretanto, foram medidas fragmentárias, tais como, as aulas régias que perduraram até aproximadamente a instauração da primeira república em 1889, quando passaram a ser chamadas de cadeiras isoladas. As instituições de ensino eram isoladas e funcionavam sobre o controle do Estado. O funcionamento pedagógico ministrado por um professor titular da cadeira e as aulas em casas alugadas e os prédios escolares só passaram a ser do patrimônio público quando da substituição da organização escolar das cadeiras isoladas para os novos modelos dos grupos escolares.

Do exame do contexto social à época, percebe-se a não existência de preocupação por parte dos dirigentes políticos com a elevação do ensino com qualidade. É o que se depreende de Pinheiro (2003):

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[...] o contexto sócio-econômico e político brasileiro não era propicio à destinação de investimentos para a instrução pública, pois não havia ainda nação brasileira, mas simplesmente uma colônia, a que não era permitido, por exemplo, desenvolver atividades industriais, exceto, naturalmente, o beneficiamento da cana-de-açúcar, prioritariamente controlado pelo capital estrangeiro. Do ponto de vista político, podemos dizer que a colônia era totalmente gerenciada pelos portugueses que abarcavam os melhores empregos civis e militares, até mesmo os negócios mais rendosos (PINHEIRO, 2003, p. 61).

Assim, compreende-se que, depois da expulsão dos jesuítas, as atividades educacionais passaram a ser financiadas e totalmente administradas pelo governo metropolitano, que pouco se interessou em oferecer um sistema educacional eficiente. O Estado assumiu alguns encargos em relação à instrução. As chamadas aulas régias, classes avulsas de disciplinas que compunham o que mais tarde seria identificado como ensino secundário, buscaram preencher o vácuo deixado pela ausência da Companhia de Jesus.

Segundo Marcílio (2005), “as reformas pombalinas no campo da instrução pública constituem expressão do iluminismo português, que foi essencialmente reformista e da política mercantilista e fisiocrata”, tendo no Marquês de Pombal, a figura central que regulamentou a instrução primária e secundária leiga e gratuita no Brasil.

Um pouco mais tarde, no Império, a organização da sociedade civil era embrionária e poucos foram os grupos sociais com capacidade organizativa de pressionar o Estado por maiores investimentos para a educação. Vale lembrar que, à época, a economia brasileira era baseada nas atividades agrárias e o contingente populacional era majoritariamente concentrado no campo e em boa parte formado por escravos sem direito à educação. Diante dessas condições, a instrução escolar não se constituía em necessidade que suscitasse nos grupos sociais subalternos movimentos reivindicatórios de acesso à escola.

Segundo Haidar (1972), a criação dos Liceus favorecia também aos alunos das classes menos abastadas, uma vez que, “os estudos nos Liceus não eram totalmente gratuitos, o aluno pagava apenas 20R$000 por ano, o equivalente à quarta parte do que se pagava no Colégio Pedro II”. (HAIDAR, 1972, p, 105). Os estudos no Liceu, escola secundária, eram de seis anos regulares com base num programa de estudos menos pretensioso que o do Colégio Pedro II, mas reunia com cuidado com os estudos das letras e o ensino dos elementos das ciências.

Ainda de acordo com Marcílio (2005), a educação da maioria das classes populares baseava-se a uma transmissão essencialmente oral. A igreja foi um dos vínculos importantes dessa cultura oral, que exerceu através de vários meios dos sermões dominicais, das liturgias das missas, dos coros de crianças, das procissões e das festas religiosas do Brasil. Durante o período imperial, houve várias tentativas de implementação do curso de preparação para os professores, segundo Stamatto (2009):

[...] a primeira, foi à utilização da estrutura do curso secundário já existente na capital da província. No programa do Liceu (ou do Ateneu) [...] acrescentava-se uma ou duas disciplinas chamadas pedagógicas. Por esta maneira, quem quisesse tornar-se professor, frequentava o curso oferecido no Liceu e matriculava-se também nestas disciplinas, o que tornava a formação do magistério um apêndice do curso secundário. A segunda experiência foi a de acrescentar um curso, geralmente de dois anos, logo após a conclusão dos estudos primários feitos desta vez em uma escola primária “Modelo”. Assim, havia a complementação dos estudos elementares em; mais de dois anos, para; quem quisesse exercer o magistério. Por fim, a última experiência, foi a implantação de um curso normal dentro do Liceu, mas independente do curso secundário já ministrado pela escola. (STAMATTO, 2009, p. 34)

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Desde 1889, o sistema político republicano brasileiro trouxe mudanças adotadas no país. O regime baseado no sistema presidencialista teve como uma das principais preocupações a educação. A educação no Brasil, nesta época, era predominantemente mantida pelo Estado e atendia aos interesses e as exigências de uma elite dominante. Pinheiro (2003) reforça dizendo que

[...] a mudança do regime político monárquico para o republicano não significou alteração na política clientelista, que, pelo contrário, foi se aperfeiçoando e acabou por se consolidar com prática política dominante. Assim, o planejamento da organização escolar se fazia precariamente, estando a distribuição geográfica de cadeiras isoladas à mercê dos interesses de cada liderança política provincial/estadual/municipal. (PINHEIRO, 2003, p. 83).

O ideário republicano destacava a educação como um dos seus pilares e transformou-se em um dos seus símbolos, apropriando-se da instituição escolar como uma conquista do povo realizada pela República. Tal discurso formulado ou formulou-se através da construção de várias ações, entre elas, a de construções de prédios escolares nas primeiras décadas do século XIX.

Como resultado desse processo, foi fundada durante a primeira década do século XIX, em todo território nacional, uma Escola Normal (EN) essencialmente feminina, dotada de escolas-modelo anexas destinadas à prática pedagógica. Estas desencadearam o processo de profissionalização do nosso magistério primário.

A primeira EN brasileira foi criada em Niterói, Rio de Janeiro pela Lei Provincial de 4 de abril de 1835, que iniciou suas atividades em outubro do mesmo ano. O curso tinha duração de dois anos e o objetivo era preparar professores para o ensino de primeiras letras. A partir da criação da escola no Município da Corte, várias Províncias criaram Escolas Normais a fim de formar o quadro docente para suas escolas de ensino primário. Desde então, o movimento de criação de escolas normais no Brasil esteve marcado por diversos movimentos de afirmação e de reformulações o que possibilitou que o Ensino Normal atravessasse a República. A criação das escolas normais públicas nas províncias teve de se adaptar ao ensino secundário ministrado nos Liceus, escolas inicialmente compostas pelo sexo masculino. “Os diversos Liceus provinciais constituíram referências fundamentais para o desenvolvimento do ensino normal, emprestando seus professores, suas instalações e seus regulamentos para as novas escolas” (KULESZA, 1998, p. 5).

Com algumas necessidades educacionais em cumprir o quadro de professores, houve uma emergência em criar novas escolas. Assim, durante as primeiras décadas do nosso século, foram criadas Escolas Normais para o sexo feminino, na qual, destinavam-se as práticas pedagógicas para o ensino profissional do magistério primário.

O ensino nas escolas normais, assim como nas demais escolas, era baseado nos modelos do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro. Este, por sua vez, era inspirado no ensino secundário francês. Complementarmente, uma especialista analisa que

[...] os conteúdos propostos serviram também para uma formação moral baseada no ideário de civilização, cujos valores eram disseminados como universais, mas praticados com exclusividade pela elite. A seleção de textos literários realizava-se tendo em vista a apreensão de valores como a prudência, a justiça, a coragem e a moderação. As disciplinas foram sendo organizadas para atender, portanto, a tais objetivos sociais e de formação de valores (BITTENCOURT, 2004, p 72).

Assim, pode-se verificar que os modelos pedagógicos das escolas normais traziam características européias como resultado do período colonial brasileiro. Na Parahyba do Norte, a criação da primeira Escola Normal (EN) desde muitos anos era um das matérias principais dos presidentes da província, quando o assunto fosse Instrução Pública. A EN da Paraíba foi institucionalizada no Império com

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características semelhantes a outras Escolas Normais, especialmente, a do Rio de Janeiro e a Escola Normal da praça, na capital paulista, modelos para tantas outras.

A defesa da criação de uma escola de formação de professores na Parahyba pode ser observada em 1874, durante o governo do Barão do Abiahy (Silvano Euvídio Carneiro da Cunha), quando, em relatório, destacou a importância do preparo do professor como elemento indispensável para a qualidade do ensino e realçou a necessidade de criação “de uma EN, para ambos os sexos onde sejam preparados os que se destinarem ao professorado”. (MELLO, 1956, p. 56).

O Barão de Abiahy realçava tanto a criação de uma EN que, ainda no seu governo, deu início a construção de um edifício situado na Rua Nova (hoje General Osório), que por muito tempo serviu como sede da EN oficiali. Ainda em 1874, o Barão promulgou a Lei nº 546, criando uma cadeira de EN no Lyceu Paraibano. Essa formulação não vigorou por muito tempo, em virtude da Lei nº 633, de Julho de 1876 tê-la suprimidoii.

Segundo Mello (1956), a questão da supressão da cadeira, talvez isso tenha sido o fator decisivo para a desativação, juntamente em virtude da frequência de apenas oito alunas na cadeira da EN do Lyceu. Outro foi a seca que abateu a Paraíba, que no

[...] ano de 1877 trouxe-nos o grande cataclisma da seca que aniquilou as energias da Paraíba. [...] a Instituição Pública quase que desapareceu, uma vez que o professorado, sem receber vencimentos, por anos seguidos, viu-se na contingência de abandonar as escolas, para procurar, noutro meio de vida, sua manutenção [...], a seca, além de deixar a instrução completamente desorganizada custou à Província à supressão de 42 escolas das 107 que possuía no início do ano de 1877. (MELLO, 1956, 56-7).

Observa-se, assim, que o projeto de criação da EN foi esquecido por alguns anos, só reaparecendo em 1881, quando a então Província da Parahyba do Norte volta à normalidade após período de seca e com o aparecimento das chuvas. O governo então, reorganiza o ensino paraibano com um plano de reforma contido no relatório apresentado pelo diretor da Instrução Pública, Ivo Magno Borges da Fonseca, em 1880, ao Presidente da Província Justino Alves Carneiro. Esse plano foi posto em execução através da Lei de 30 de agosto de 1881, em que a criação da EN aparecia liderando as propostas de reforma do ensino na província.

Em 1883, o presidente da província José Ayres do Nascimento faz mais um apelo em prol da criação de uma EN para ambos os sexos, aproveitando a estrutura do Lyceu Paraibano, e anuncia:

Não se recuse à mocidade paraibana tão assinalado serviço; cuidemos do seu futuro intelectual, cuidando de educar e preparar-lhe mestres. Criemos, por assim dizer esse viveiro de preceptores. Com as circunstâncias da Província são essas críticas, fundemos uma Escola Normal modesta para ambos os sexos, aproveitando, conforme mais conveniente for, o corpo docente do Liceu. O que cumpre é começar, deixando ao futuro alargar e melhorar a obra encetada. (MELLO, 1956, p. 62-63).

Tendo em vista o surto reformista iniciado em 1881, para a criação de uma cadeira da EN no Lyceu, ampliou-se o projeto para a criação de uma EN. Assim, em 7 de dezembro de 1883, foi sancionada a lei Nº 761, no governo do então presidente José Ayres do Nascimento, que “ [...] transformou o Liceu Paraibano numa Escola Normal de dois graus, sendo o primeiro grau compreendido pelo ensino elementar destinado à formação de professores e o segundo grau destinado a um conhecimento mais prático e com um maior desenvolvimento das cadeiras do primeiro grau” (CARDOSO, 2007, p. 118).

O grande passo do ensino, na Paraíba, foi dado com a Lei nº 30, de 30 de Junho de 1884, que cria a EN sendo instalada pelo Presidente da Província Antônio Sabino Monte, a 7 de Abril de 1885. A escola veio funcionar efetivamente em 1886. Quando a EN passa a ser um importante ambiente elemento de formação das mentalidades, a administração pública finda por tentar encontrar um lugar

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apropriado para a sua instalação. É desta forma, portanto, que a escola passa a se deslocar na cidade de acordo com as configurações urbanas movimentando-se no sentido de melhor adequar-se ao espaço e ao conjunto da sociedade nos seus vários aspectos simbólicos e sociais.

Assim, a EN foi então, instalada no primeiro andar do prédio do Lyceu Paraybano, em seguida, funcionou em um prédio na Rua Nova (atual Rua General Osório), onde hoje encontra-se a Biblioteca Pública do Estado. Em 1888, a EN formou a primeira turma de professoras diplomadas, fato de grande importância nos meios educativos da Paraíba. De acordo com Mello (1956, p.69), as normalistas que abriram o caminho a essa falange de educadores que integram o professorado conterrâneo foram: D. Amália Garcez Alves de Lima, Aquilina Amélia de Oliveira, Anna Higina Bitencourt Pessoa e Felismina Etelvina de Vasconcelos. Acrescentaria, dentre outras, Anayde Beiriz, ex-normalista, turma dos anos de 1920, importante nas disputas políticas da Província da Parahyba, personagem na película de Tizuca Yamazaki.

No ano de 1909, a escola foi deslocada para reconstrução do prédio, pois encontrava-se em “prédio inadequado, sem acomodações precisas, sem mobiliário apropriado e destituído de condições de higiene”. Com isso, as aulas passaram a acontecer nas dependências do Palácio do Governo, vizinho ao Lyceu Parahybano. Durante a permanência da EN no Palácio do Governo em 1909, o prédio da Rua General Osório passou por reformulações gerais, sendo quase todo destruído, restando somente as paredes mestras. Reconstruído e ampliado, chegou a desapropriar uma casa e um terreno vizinho para a instalação da Escola Modelo anexa. As escolas modelos eram uma das exigências para que as alunas se tornassem mestres de acordo com as prescrições de um ensino ativo.

Em 1911 retornou ao seu prédio na Rua General Osório e em 1919, a EN passou a funcionar em prédio próprio na Praça Comendador Felizardo Leite, hoje atual Tribunal da Justiça do Estado da Paraíba.

A EN instalada em 1919, seguiu normas vigentes dos moldes escolares da época, com prescrições higiênicas e pedagógicas, que condizem com a iluminação, a ventilação e o asseio das aulas. A partir deste período, as aluna dispuseram, então, de uma biblioteca, de um gabinete de química e física, de museu de história natural e de produtos industriais. A EN foi considerada um estabelecimento de ensino modelo, saudou a década de 1930 com um acentuado conceito. Bem instalada, a EN teve condigno mobiliário e a aparelhagem pedagógica necessária ao seu integral funcionamentoiii.

Com a pesquisa apontada para a análise dos livros e das formas de uso dos objetos e das técnicas de ensino na EN no que diz respeito à geografia, enfatiza-se os debates ocorridos na revista de costumes Era Nova (1921 – 1925), e nos compêndios sobre as técnicas e conteúdos trabalhados na EN da Paraíba no que diz respeito especificamente ao ensino da geografia.

Nessa revista encontram-se preocupações, alertas e a demonstração de descaso de professores e governantes quanto à melhoria do ensino, especificamente de geografia e ao uso de materiais. Tal realidade pode ser percebida nos relatos do professor Abel da Silva:

Estava aqui na capital para resolver alguns problemas particulares, quando recebi a visita de dois amigos, os professores Sizenando Costa e Eduardo Medeiros, os quaes monstrando-me o original de um trabalho que anteriormente já obtivera parecer favorável dos illustres srs. Dr. M. Tavares Cavalcante e Coronel João de Lyra Tavares. Trata-se dos mappas-mudos para o estudo da chorographia do Brasil: uma applicação muito intelligente e curiosa de cartographia, esta afamada cartographia hoje ainda tão cotada nos cursos e que eu já adoptava, nesta capital desde 1891, do que podem dar prova os muitos meus ex-alumnos ahi vivos. (REVISTA ERA NOVA, 1921, exemplar nº 11).

Em outra ocasião, em relação ao uso do mapa-mundi nas escolas, inicia-se sua utilização em abril de 1919 com a adoção pelo Conselho do Ensino, que enunciou e aprimorou parecer, opinando pela adoção dos mapa-mundi nas escolas públicas. Esse parecer foi assinado por nomes respeitados como: Dr. Eduardo Pinto, Mons. Odilon Coutinho, Dr. Flavio Maroja, Conego João Milanez e

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Professor José Gomes Coelho. Em 1919, o governo do Estado, decreta a Lei nº 1025, de 17 de julho de 1919, determinando a doação oficial do referido parecer para as escolas publicas. Ainda assim, mesmo depois do decreto, as escolas não estavam utilizando os mapa-mundi. Segundo Abel, as justificativas dadas pelos autores do serviço gráfico para a falta de conclusão dos trabalhos se deram em virtude da falta de pagamento do auxílio que o governo lhes prometera.

Nos relatos do professor Abel da Silva pode-se observar várias críticas em relação à falta de valorização para com os recursos didáticos produzidos pelos próprios professores da Paraíba, uma vez que, existiam trabalhos realizados pelo Eduardo Medeiros e Sizenando Costa sobre a confecção de mapa-mundi. Entre esses, podem ser citados outros trabalhos que foram “ignorados, e sepultados na indiferença bolorenta dos invejosos e dos indolentes”: José Coelho fez a sua Chororaphia da Parahyba; Manuel Tavares fez a sua História da Parahyba; e, João Lyra seus vários opúsculos e outros que poderiam ser incluídos no gênero didático.

Na pesquisa realizada no Instituto Historiográfico e Geográfico da Paraíba (IHGP) e na Biblioteca Central da UFPB, encontram-se exemplares da Revista “ERA NOVA” dos anos de 1921 a 1925 destacando as discussões que estavam sendo realizadas no que diz respeito à criação da Escola Normal da Paraíba do Norte e aos assuntos pedagógicos. Os artigos analisados foram classificados de acordo com a edição, a data/ano e os conteúdos/temas. A revista foi construída por intelectuais nos anos de 1921 a 1925. A mesma era editada quinzenalmente e visava o desenvolvimento literário dos seus leitores. Na exuberância de suas especificidades, esclarecia assuntos referentes “ao industrial, ao comerciante, ao leitor burguês, e ao leitor letrado”, enfocava também, questões políticas e de administração pública, esportista e assuntos pedagógicos. A revista também atendia o universo feminino, com páginas de poesias, romances e dicas de belezas. Vale salientar que as capas eram ilustradas, na maioria das edições com uma foto de uma mulher. Nas discussões sobre os assuntos pedagógicos, a revista editou alguns exemplares sobre a criação da EN na Paraíba, do autor Abel da Silvaiv, que se mostrava preocupado com a situação das escolas. Em relatório à Comissão da Administração do governo propõe duas medidas urgentes: a construção de prédios escolares com exigências pedagógicas e a sustação das nomeações efetivas de leigos para cargos de professores. A primeira não pôde ser executada por falta de meios econômicos, mas o governo optou pela segunda, que oportunizou grande estimulo para a freqüência na EN.

Nas discussões sobre aspectos pedagógicos, Abel da Silva (1921) aponta a finalidade das EN: “Aprender e ensinar – o aluno entra no 1ª anno do curso após um exame summario dito de admissão. D’ahi vai aprendendo, nas lições theoricas, as disciplinas que compõe o curso. E chega, assim, ao derradeiro anno. No 3º e 4º anno vai ouvir lições, sempre theoricas, de Pedagogia e de Pedalogia”. (ABEL, 1921). Assim como aconteceu em outras províncias, a disciplina de Pedagogia era local privilegiado para formação profissional das normalistas. A Pedagogia foi introduzida na EN desde a sua concepção em 1884. A mesma era estreitamente associada à moral e ministrada, até a reforma de 1910, pelo diretor da escola.

Além dos artigos assinados e das reportagens da revista citados no texto, registra-se ainda, no período de vigência da mesma, outros artigos e reportagens com abordagens de interesse educacional: Assuntos Pedagogicos – Em Prol do Ensino – Um Bello Gesto, no exemplar nº 12 de 15 de setembro de 1921; Uma página de José Verissimo – Pedagogia Necessaria, no exemplar nº 19 de 15 de janeiro de 1922; Livro de Eudésia Vieira – Pontos de História do Brasil, na revista nº 21 de 15 de fevereiro de 1922; VII Congresso Brasileiro de Geografia, na revista nº 27 de 01 de junho de 1922 e A Prol do Ensino, O Governo Camilo de Holanda cria uma Escola Normal no Alto Sertão, no exemplar nº 36 de 01 de novembro de 1922.

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Materiais didáticos e compêndios da EN

Uma das obras que foi destacada por apresentar os conteúdos direcionados para as escolas normais, é a obra de Everardo Backheuser “Manual de Pedagogia Moderna – Teoria e Prática para o uso das EN e Institutos de Educação” (1928). Esse livro apresenta uma exposição crítica de problemas pedagógicos; busca ensinar lições claras e precisas. Procura conceituar a Educação e a Pedagogia e as relações entre alguns ramos do conhecimento, especialmente a Filosofia, a Sociologia, a Geografia, entre outros. Aborda o papel do professor e estabelece os princípios cardeais da Escola Nova.

Outra obra de destaque é “Práticas Escolares”, de Antônio D’ Ávila (1958), um livro destinado para as escolas normais e com orientações para o ensino primário. A obra traz questões pertinentes sobre a estrutura da escola, aspectos referentes à seleção dos alunos, programas e horários, métodos pedagógicos, prática de ensino nas escolas normais para a prática da leitura, da linguagem oral e da escrita, da aritmética, da história, da geografia, e das tarefas para casa. Esses serviam de orientação para os professores quanto aos problemas referentes à prática do ensino.

Ressalta-se também a obra “Tratado de Pedagogia”, de Monsenhor Pedro Anísio (1955). É um compêndio destinado ás Escolas de Professores e Institutos de Educação. Enfatiza a evolução histórico–filosófica da pedagogia, destacando os conceitos e as finalidades da Educação e da Pedagogia, os movimentos e as idéias educativas na antiguidade etc. O Tratado destaca também a Pedagogia de Rousseau quando enfatiza o “Emílio” e os princípios filosóficos da Escola Nova. Reflete os princípios referentes ao Educador e as comunidades educativas, ao sujeito da educação, e aos meios educativos e à teoria do método.

Nas discussões referentes às excursões escolares, destaca-se a obra “Manual de Pedagogia Moderna, de Everardo Backheuser. O autor é um dos três geógrafos considerados como os grandes renovadores do ensino da geografia, juntamente com Fernando Raja Gabaglia e Delgado de Carvalho. Foi professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, participou da primeira iniciativa de criação do Curso Superior Livre de Geografia da Sociedade de Geografia do Rio de Janeirov entre os anos de 1926 e 1927, ministrou um curso de excursões pelo Distrito Federal e pretendia implantar e difundir a geografia moderna no país. Com relação aos conteúdos metodológicos da disciplina de Geografia, especificamente, as técnicas de ensino, excursões escolares, Backheuser (1928) relata que “excursões escolares são viagens de estudos, que detém lucros e vantagens para o homem, alarga seus conhecimentos e seu espírito, ganha erudição que, por ser adquirida ao objetivamente e não livrescamente é de memória mais duradoura”. Nesse sentido, o professor precisa ser o guia, embora discreto e hábil, na qual orienta os alunos sem dogmatismos e proporciona aos mesmos dissertarem sobre o que lhe esta diante dos olhos. E deste modo,

conquista um ambiente social muito mais largo de que saberá oportunamente tirar a utilidade. [...] A excursão escolar é um em pequeno o que a viagem é para os adultos. Será, portanto um excelente meio educativo, pois visa desenvolver nas crianças o outro espírito do guia observar não há opção na ação e a capacidade dias para mim e exploração (BACKHEUSER, 1928, p, 320).

Na opinião de Backheuser, a escolha para a realização das excursões escolares deverá estar relacionada com o ano escolar e o desenvolvimento intelectual dos alunos da classe, sua extensão depende destes fatores. Por sua vez, D’Ávila (1958), diz que, “o ponto de partida para o conhecimento geográfico é a observação, observação da localidade, a princípio, de seu solo, do céu, do tempo, da vida, do trabalho, da vida das plantas e dos animais, o homem em suas relações com o ambiente”. A geografia é como viagem de descobrimento de um mundo ignorado e é o próprio aluno, não o professor, quem deve realizar a interessante exploração. A excursão geográfica na própria escola não possui todos os materiais de observação necessários à aprendizagem, motivo pelo

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qual a excursão escolar representa uma projeção da classe sobre outros ambientes, de onde recolhem dados e materiais para o trabalho.

Ainda a respeito da prática de excursão escolar, para o autor afirma que ela “proporciona interesse, animação, realismo e caráter concreto ao estudo de Geografia” relacionado ao trabalho da escola, quando revela sólida base docente na apreciação das belezas naturais, e quando “faz que a criança simpatize com todas as classes sociais e as diversas formas do trabalho humano e por fim exercita a observação direta e imediata que é o instrumento principal do trabalho geográfico”. (D’ÁVILA, 1958, p. 266). Percebe-se que a excursão escolar é vista como um aspecto positivo no desenvolvimento da aprendizagem do aluno, a qual, proporciona uma relação de interdisciplinaridade que possibilita a construção de outros conhecimentos a partir de uma excursão, uma visita para conhecer outras realidades além do seu ambiente escolar.

No que diz respeito à realização das excursões escolares, essas eram desempenhadas desde o primeiro ano, quando se iniciava com visitas a espaços físicos da escola e, em seguida, à circunvizinhança do estabelecimento. Em outro momento, as excursões iriam mais longe, como no próprio bairro. Nessa excursão, o campo de exploração era realizado mais cientificamente.

Segundo Backheuser, para a realização das excursões escolares são necessários os três fatores sucessivos: “o preparo da excursão - esse acontece quando o professor aguça a curiosidade no aluno, em conhecer o lugar, o mesmo indicará livros que possam esclarecer a questão; a realização da excursão – o professor instigará os alunos para que façam pesquisas, observem as coisas que os rodeiam; as conclusões a tirar – o professor fará com que a classe descreva por escrito, após o ter feito aos pedaços oralmente, toda ou certas partes da excursão, expondo suas indagações, reflexões e críticas.

Vale salientar que, segundo as orientações do autor supracitado, não é recomendável fazer das excursões geográficas, excursões passeios, piqueniques divertidos, mas verdadeiras aulas de observação e de coleta de material. Como resultado, a excursão deve deixar proveito, alguma coisa que sirva para discussões ou relatos, ponto de partida para os estudos. Assim, Backheuser (1928), acentua que “excursões é uma viagem de estudos e há dois modos de viajar, às cegas e de olhos abertos”, desta forma compete a todos aproveitar essas viagens da melhor forma possível. Assim, viajar de olhos abertos consistiria em documentar o viajante previamente sobre a região a percorrer, lendo os livros que dela tratem, examinando os álbuns de fotografias, e lá chegando, procurar não só se por em contato com o que de mais importante houver na sua natureza, mas suas indústrias, no seu comercio e na sua cultura, como envidar esforços para conviver com a sociedade local. Verá os museus e as fabricas e os sítios pitorescos, ouvirá cursos e conferencias, e, se não puder freqüentar as casas particulares, deve procurar assistir espetáculos públicos onde a alma popular se expanda (BACKHEUSER, 1928, p. 321 ).

Na opinião do autor, um programa útil será aquele que se aproveita de conhecimentos pessoais adquiridos anteriormente e no momento dos trabalhos. As excursões escolares deverão seguir um fundamento educativo, não uma ordem hierárquica. Uma significação importante do ponto de vista da geografia é que, mesmo tendo por base os conhecimentos dessa disciplina para as excursões, Backheuser as entendia como uma espécie de projetos e não apenas que os fatos ou os fenômenos geográficos devessem ser objetos de sua realização. Assim, “o que se pode dizer em conclusão e com segurança é que as excursões escolares bem praticadas, ‘de olhos abertos’, são muito recomendáveis, cumprindo a todos os professores de orientação moderna proporcioná-las frequentemente a seus alunos (grifo do autor, BACKHEUSER, 1928, p. 326). Por fim, percebe-se que a realização de excursões escolares de geografia não restringe apenas aos trabalhos de geografia. Não são apenas os fatos ou fenômenos geográficos aqueles que devem fazer objeto de sua realização. Conjuntamente com a geografia podemos numa excursão adquirir noções de História, de Ciências Físicas e Naturais, de Aritmética, de Geometria, de Desenho, de Modelagem, de Educação Física e acima de tudo de linguagem oral e escrita, permitindo, assim uma interdisciplinaridade na aprendizagem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao contextualizar a criação das escolas normais, o inicio do magistério como a ação dos jesuítas no período colonial, pode-se perceber que nesse período a educação era voltada para a catequização dos índios, e só posteriormente, veio ser direcionada para os filhos dos colonizadores.

No período imperial verificam-se os primeiros passos de mobilização de acesso à escola para todos. E, quanto à formação de professores observam-se indícios de iniciativas de implementação de escolas destinadas à formação de professores. É tanto que ainda no período imperial surge a primeira EN no Brasil e também aqui na Paraíba, que tinham como objetivos formar professores para as escolas primárias.

Com relação ao período republicano, observa-se que a educação passou por uma fase de discussões e afirmações, e a EN, enquanto instituição de ensino laica, gratuita e para todos, o início das maiores investidas ideológicas nas instituições escolares e no conjunto normativo. No que diz respeito à primeira EN da Paraíba, curioso notar, sua equiparação a outras escolas normais de grandes centros educacionais, pois na paisagem urbana esse estabelecimento de instrução é destaque na cidade.

A EN instala-se com o objetivo de dar uma melhor formação e suprir a falta de professores para atuação em sala de aula. Constatação da necessidade de difundir escolas na capital, bem como em todo o interior do Estado. Modificada ao longo do tempo, a EN procura comportar um ensino cuja eficácia atingisse a formação dos professores.

O estudo sobre a primeira EN da Paraíba configura-se como exemplo particular de todo esse processo de descaracterização que atinge a formação dos professores. Os cursos da EN nasceram sem autonomia e identidade própria, uma vez que, sua instalação, quadro de professores, leis, decretos e regulamentos eram adotados do Liceu Paraibano. Assim, também como os conteúdos e normas eram baseados nas Escolas Normais do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Desta maneira, a ênfase no significado de como eram realizadas as aulas de geografia nas escolas normais observa-se que as técnicas usadas tinham como objetivo principal o melhoramento do ensino, na qual, se utilizavam de excursões escolares para a construção de um conhecimento que não se restringia apenas aos estudos de Geografia, mas a todos os conhecimentos: matemáticos, físicos, biológicos, em fim, tinham uma visão ampla sobre o ensino.

Assim, procurou-se identificar nos livros as discussões referentes às técnicas utilizadas nas escolas normais referentes ao ensino da disciplina de geografia, especificamente, ao uso das excursões escolares e a própria criação da escola. É nesta linha que se pretende deixar algumas contribuições decorrentes da pesquisa para servirem de referências para futuros estudos sobre materiais didáticos e sobre as práticas pedagógicas utilizadas nas escolas normais, e em especial, na disciplina de geografia.

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REFERÊNCIAS:

BACKHEUSER, E. Manual de Pedagogia Moderna (teoria e prática) para uso das Escolas Normais e Institutos de Educação. Rio de Janeiro, Globo, 1928.BEZERRA, V. M. F., SOUSA, J. A. de., KULESZA, W. A. . Reflexos do Debate Educacional Moderno nos Manuais Pedagógicos. V Congresso Brasileiro de História da Educação – Ensino e a Pesquisa em História da Educação. De 09 a 12 de novembro – Aracaju-Sergipe. Universidade Federal da Paraíba/ CNPq. 2008. (CD ROM). (mimeo.)BITTENCOURT, C. M. F. . Conteúdos e métodos de ensino de História: breve abordagem Histórica. In: ___.Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo. Cortês. 2004.CARDOSO, C. A. de A. . A Geografia nos materiais didáticos no ensino primário e normal da Paraíba (1886-1930). Projeto de Pesquisa (PIBIC/CNPq/UFPB). (2009–2010).____. O lugar da escola na cidade: a escola normal da Parahyba no início do século XX. Revista Terra Livre - Ano 23, v. 1. n. 28. São Paulo, 2007, p. 109-128.CARDOSO, L. P. C. (2006). A venerada Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro: percursos e iniciativas na institucionalização do saber geográfico na primeira metade do século XX. In: ‘Usos do Passado’ — XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ, p. 1-8. [disponível em http://www.rj.anpuh.org/Anais/2006/conferencias/Luciene%20P%20Carris%20Cardoso.pdf].CUNHA, O. O. C. da. O Barão de Abiaí. João Pessoa, 1941, s/e. Acervo digitalizado do Grupo de Pesquisa Ciência, Educação e Sociedade (GPCES) e CD Rom Escola e Modernidade na Paraíba (1910 – 1930). CUNHA, C. S.S. A Formação do Professor das séries iniciais e a disciplina intelectual: o caso do IEP. Dissertação de Mestrado – CE – UFPB. João Pessoa – PB. 1996.D’ÁVILA, Antônio. Práticas escolares. 8ª Edição. Saraiva. São Paulo. 1958.KULESZA, W. A. . A institucionalização da Escola Normal no Brasil (1870-1910). IV Congresso Ibero-americano de Historia de La Educación Latinoamericana;Santiago (Chile) de 24 a 29 de maio de 1998. (mimeo.).HAIDAR. M . L. M. O Ensino Secundário no Império Brasileiro. Grijalbo, editora da Universidade de São Paulo. São Paulo. 1972. MARCÍLIO, M. L. . História da Escola em São Paulo e no Brasil. Imprensa Oficial do estado de São Paulo – Instituto Fernand Braudel. São Paulo. 2005. MELLO, J. B. de. Evolução do Ensino na Paraíba. 2ª edição. Imprensa Oficial. João Pessoa - PB. 1956.PINHEIRO, A. C. F. Ensino Público na Paraíba: das origens até 1889. In: MARIANO, S &SÀ, A.N.M (orgs). Histórias da Paraíba – Autores e Análises sobre o Século XIX; Edições CCHLA. Editora Universitária UFPB. João Pessoa. 2003.REVISTA ERA NOVA. Exemplares: 01, de 27 de Agosto de 1921; 07, de 01 de julho de 1921; 08, de 15 de Julho de 1921; 09, de 01 de Agosto de 1921; 10, de 15 de Agosto de 1921; 11, de 01 de Setembro de 1921.ROMANELLI, O. O. História da Educação no Brasil (1930/1973). 19º edição. Editora Vozes. Petrópolis – Rio de Janeiro. 1997.STAMATTO. M. I. S. Formação e profissionalização docente: da tutela da igreja ao controle do estado – Brasil Colonial, Imperial e Primeira República. In: ANANIAS, M. & PINHEIRO, A. C. F. Educação, direitos humanos e inclusão social: histórias, memórias e políticas educacionais. In: Volume 2. Editora Universitária – UFPB. João Pessoa – PB. 2009.

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NOTAS

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i O terreno dessa construção foi doado por um casal que, igualmente à grande parte a população, apreciava a criação da EN. A data de 26 de Março de 1874 marca a colocação da primeira pedra da escola edificada. (CUNHA, 1996, p. 84).ii Ver MELLO, 1956, p. 55.iii Ver editorial O novo prédio da Escola Normal. In: Jornal A União, de 15 de maio de 1917.iv Iniciou no Magistério em 1889, para substituir seu pai Professor Joaquim Silva. No ensino público iniciou como Inspetor Escolar em comissão na administração do desembarcador José Peregrino de Araújo. v Sobre a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro ver Cardoso (2006).