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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA GERMANA PIMENTEL STEFANI PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES ENCAMINHADOS COM DIAGNÓSTICO DE ALERGIA A PROTEÍNA DO LEITE DE VACA AO AMBULATÓRIO DE REFERÊNCIA DE GOIÂNIA ENTRE 2011 E 2012 Goiânia 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA

TROPICAL

E SAÚDE PÚBLICA

GERMANA PIMENTEL STEFANI

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES

ENCAMINHADOS COM DIAGNÓSTICO DE ALERGIA A PROTEÍNA DO

LEITE DE VACA AO AMBULATÓRIO DE REFERÊNCIA DE GOIÂNIA

ENTRE 2011 E 2012

Goiânia

2015

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TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA

DISPONIBILIZAR AS TESES E DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás

(UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o

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download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [x ] Dissertação [ ] Tese 2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor (a): GERMANA PIMENTEL STEFANI

E-mail: [email protected]

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [ X ]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor Não

Agência de fomento: Não Sigla:

País: UF: CNPJ:

Título: Perfil clínico-epidemiológico de pacientes encaminhados com diagnóstico de alergia a

proteína do leite de vaca ao ambulatório de referência de Goiânia entre 2011 e 2012

Palavras-chave: Alergia alimentar, leite de vaca, epidemiologia

Título em outra língua: Clinical and epidemiological profile of patients with the diagnosis of

cow's milk allergy referred to the tertiary ambulatory centre in

Goiânia between 2011 and 2012 Palavras-chave em outra língua: Food allergy, cow's milk, epidemiology

Área de concentração: Epidemiologia

Data defesa: (dd/mm/aaaa) 30/03/2015

Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública Orientador (a): João Bosco Siqueira Júnior

E-mail: [email protected]

*Necessita do CPF quando não constar no SisPG

3. Informações de acesso ao documento:

Concorda com a liberação total do documento [ X ] SIM [ ] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.

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__________________________ Data: ____ / ____ / _____

Assinatura do (a) autor (a)

1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo

suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados

durante o período de embargo.

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GERMANA PIMENTEL STEFANI

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES

ENCAMINHADOS COM DIAGNÓSTICO DE ALERGIA A PROTEÍNA DO

LEITE DE VACA AO AMBULATÓRIO DE REFERÊNCIA DE GOIÂNIA

ENTRE 2011 E 2012

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Medicina

Tropical e Saúde Pública da Universidade

Federal de Goiás para obtenção do Título

de Mestre em Epidemiologia

Orientador: João Bosco Siqueira Júnior

Goiânia

2015

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I

Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás

BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Aluna: Germana Pimentel Stefani

Orientador: João Bosco Siqueira Júnior

Membros:

1. Prof. Dr. João Bosco Siqueira Júnior

2. Prof. Dr. Otaliba Libânio de Morais Neto

3. Prof. Dr. Solomar Martins Marques

Data: 30/03/2015

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"Não ande apenas pelo caminho traçado,

pois ele conduz somente até onde os outros

já foram."

(Alexander Graham)

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Para Célia, minha amada mãe guerreira,

agora anjo de Deus, e para Alice,

minha amada filha, razão do meu viver.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. João Bosco Siqueira Junior, pela oportunidade,

confiança, motivação e paciência.

Às nutricionistas do Ambulatório de Alergia Alimentar - Cláudia Daud,

Ludimila Porto e Isabela Lima - por todo o apoio e trabalho conjunto na estruturação de

um serviço de referência e qualidade.

À Dra Mayra Rabelo, pela parceria e confiança.

À toda equipe do CAIS Deputado João Natal, que dá suporte ao Ambulatório de

Alergia Alimentar.

À Prof Dra Mariane Martins de Araújo Stefani, que me introduziu ao

apaixonante mundo da Imunologia ainda na graduação, pelo apoio.

Agradecimentos especiais:

À Deus, Senhor de todas as coisas, por minha vida, por minha saúde, e pela

oportunidade diária de crescimento pessoal.

À minha mãe Célia Pimentel (in memoriam), sempre minha maior

incentivadora, por ter sido meu maior exemplo de amor e fé.

A meu pai José Oscar Stefani, pelo amor e dedicação incondicionais, e por ter

me proporcionados as melhores condições para estudo e aprimoramento profissional. A

vocês, meus pais, minha eterna gratidão.

A meu marido Luciano Flores, pela compreensão, amor e companheirismo

cotidianos e pelo respeito e incentivo aos meus estudos e trabalho.

A minha irmã Fernanda, pelo apoio, carinho e respeito de sempre.

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SUMÁRIO

SUMÁRIO VIII

SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS XI

RESUMO XIII

ABSTRACT XIV

1 INTRODUÇÃO / REVISÃO DA LITERATURA 1

Fisiopatologia 2

Fatores de risco 6

manifestações clínicas 7

diagnóstico 10

tratamento 12

história natural da alergia alimentar 13

prevenção 14

alergia a proteína do leite de vaca 15

2 JUSTIFICATIVA 22

3 OBJETIVOS 24

Objetivo geral 24

objetivos especificos 24

4 MÉTODOS 25

Delineamento do estudo 25

local de estudo 25

fonte de dados 25

critérios de inclusão 26

critérios de exclusão 27

variáveis 27

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Análise de dados 28

Considerações éticas 29

5 RESULTADOS 30

Características epidemiológicas 30

aleitamento materno 31

manifestações clínicas 32

antropometria 35

uso de fórmulas especiais e dietas de exclusão 39

comorbidades 40

doença do refluxo gastroesofágico 40

outras comorbidades 42

atopia familiar 42

classificação da alergia alimentar 43

6 DISCUSSÃO 44

Limitações 52

7 CONCLUSÕES 54

8 RECOMENDAÇÕES 55

REFERÊNCIAS 57

ANEXOS 70

Anexo 1 – Parecer do Comitê de Ética 70

Anexo 2 – Formulário padronizado de primeira consulta 73

Anexo 3 - Formulário de encaminhamento e solicitação de fórmula infantil especial 75

Anexo 4 - Portaria nº 271 de 29 de dezembro de 2011 77

Anexo 5 - Artigo completo submetido a publicação 82

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FIGURAS, QUADRO E TABELAS

Figura 1 - Mudanças nos padrões das doenças alérgicas ao longo do tempo, em países

desenvolvidos. ........................................................................................................... 2

Figura 2 - Gráfico de intercessão entre tipos de sintomas apresentados pelos pacientes.33

Figura 3 - Frequência absoluta de sintomas referidos em história clínica, por sistema

orgânico acometido. ................................................................................................ 34

Figura 4 - Curva ajustada de peso para comprimento, referência OMS 2006 ................ 38

Figura 5 - Curva ajustada de comprimento para idade, referência OMS 2006 .............. 38

Figura 6 - Curva ajustada de peso para idade, referência OMS 2006 ............................ 38

Figura 7 - Índice de Massa Corporal para idade, referência OMS 2006 ........................ 39

Quadro 1 - Exemplos de síndromes clínicas associadas a alergia alimentar, classificadas

pelo mecanismo imunológico ................................................................................... 9

Tabela 1 - Tipos de fórmulas especiais solicitadas à SMS à abertura de processo 31

Tabela 2 - Tipo de fórmulas infantis utilizada no desmame dos pacientes ...................... 32

Tabela 3 - Distribuição de tipos de sintomas reunidos por sistema orgânico acometido,

estratificados por faixa etária dos pacientes ............................................................. 35

Tabela 4 - Classificação de dados antropométricos segundo escores Z, padrão OMS 2006,

estratificados por idade em meses ............................................................................ 37

Tabela 5 - Medicamentos em uso para tratamento de Doença do Refluxo

Gastroesofágico, à admissão ..................................................................................... 40

Tabela 6 - Distribuição, por faixa etária, de pacientes com diagnóstico de DRGE e em

uso de medicação para inibição da secreção ácida (ranitidina ou inibidores da bomba

de prótons) ................................................................................................................ 41

Tabela 7 - Frequência de diagnóstico prévio de doença atópica entre pacientes com

APLV ........................................................................................................................ 42

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SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

ALA Alfalactoalbumina

AM Aleitamento materno

AME Aleitamento materno exclusivo

APLV Alergia a proteína do leite de vaca

Asbai Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia

BLG Betalactoglobulina

cm Centímetros

CRD Component resolved diagnosis

DA Dermatite atópica

dp Desvio padrão

DRGE Doença do Refluxo Gastroesofágico

Faa Formula de aminoácidos

FeH Formula extensamente hidrolisada

FPIS Formula de proteína isolada de soja

g grama

IBP Inibidor de bomba de prótons

IC Intervalo de confiança

IgA Imunoglobulina A

IgE Imunoglobulina E

IL-10 Interleucina 10

IL-4 Interleucina 4

IMC Índice de Massa Corporal

kDa kiloDaltons

kg Kilograma

LV Leite de vaca

MS Ministério da Saúde

m meses

n Número da amostra

NCHS 2000 National Center of Health Statistics versão 2000

ns Não significativo

OMS / WHO Organização Mundial de Saúde / World Health Organization

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OR Odds Ratio

RAST Radioallergosorbent test

Sinasc Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos

SMS Secretaria Municipal de Saúde

TGF-beta Fator transformador de crescimento beta

TPO Teste de provocação oral

TPODCPC Teste de provocação oral duplo cego placebo controlado

Treg Linfócito T regulador

UHT Ultra high temperature; temperatura ultra alta

X2 Qui quadrado

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RESUMO

INTRODUÇÃO: A prevalência de alergia a proteína ao leite de vaca (APLV) tem

aumentado nos últimos anos, acometendo especialmente lactentes jovens. O diagnóstico

é fundamentalmente clínico, baseado em testes de provocação, e pouco dependente de

exames complementares. Seu tratamento demanda adesão rigorosa a dieta de exclusão de

alimentos com proteínas lácteas, o que, para lactentes, implica em uso de fórmulas

infantis especiais. OBJETIVO: Caracterizar clínica e epidemiologicamente os pacientes

encaminhados ao Ambulatório de Alergia Alimentar da Secretaria Municipal de Saúde de

Goiânia, com solicitação de fórmulas especiais e diagnóstico prévio de APLV.

MÉTODO: Foi realizado um estudo descritivo, observacional e transversal e a partir de

dados secundários coletados de formulário padronizado de primeira consulta.

RESULTADOS: Foram admitidos 449 pacientes (55% sexo masculino) entre janeiro de

2011 e maio de 2012. A idade média de admissão foi de 11,34 meses (±8,03), e a idade

média de início de sintomas sugestivos de APLV foi de 3,87 meses (±4,19). Quase 90%

dos pacientes iniciaram sintomas no primeiro ano de vida. Houve predomínio de

encaminhamentos realizados por gastropediatras e solicitação de fórmulas extensamente

hidrolisadas. Observou-se nestes pacientes predominância de casos não mediados por IgE

(88,4%), de apresentação tardia, com manifestações clínicas mais associadas a sintomas

digestórios (91,3%) e sistêmicos (33,4%). Menores de um ano apresentaram

significativamente mais sintomas digestórios que lactentes mais velhos. À admissão,

13,3% dos lactentes menores de 6 meses apresentavam déficit de peso (peso/idade z<-2).

A estimativa média de duração do aleitamento materno foi de 136,5 dias. Mais de 80%

das crianças utilizaram leites com proteína intacta de leite de vaca ao desmame, apesar de

haver antecedente familiar de atopia em mais de 75% dos casos. Para metade dos

pacientes que utilizaram fórmulas de soja, o início de consumo se deu antes de 6 meses

de vida. A proporção de lactentes com diagnóstico de doença do refluxo gastroesofágico

(DRGE) foi de 68%, sendo que 90% destes estavam em uso de medicação para inibição

da acidez gástrica. CONCLUSÃO: O reconhecimento precoce dos casos de APLV e

instituição de terapia nutricional adequada (fórmula infantil especial e dieta de exclusão

balanceada) podem reduzir o impacto negativo da doença sobre o crescimento das

crianças. São necessários mais estudos que verifiquem a associação entre APLV e DRGE

nessa amostra.

Palavras-chave: Alergia alimentar, Leite de vaca, Epidemiologia

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ABSTRACT

INTRODUCTION: In recent decades, the prevalence of cow's milk allergy

(CMA) has increased. The disease affects especially young infants. The diagnosis is

essentially based on clinical aspects and challenge tests, usually with no need of

laboratorial tests. Its treatment demands strict adherence to elimination diet, with

avoidance of milk protein and involves the use of special hypoallergenic formulas for

infants. OBJECTIVE: to characterize clinical and epidemiological aspects of patients

who requested special formulas due to previous diagnosis of cow 's milk allergy and were

referred to the Municipal Health Centre of Food Allergy of Goiânia. METHODS: This

was a descriptive, observational, cross-sectional study based on secondary data collected

from a standardized first consultation's form. RESULTS: Between January 2011 and May

2012, 449 patients (55% male) were admitted. The mean age at admission was 11.34

months (± 8.03), while the average age of onset of symptoms suggestive of food allergy

was 3.87 months (± 4.19). Almost 90% of the patients presented symptoms during the

first year of life. Referrals were mostly made by pediatric gastroenterologists, and the

majority of requested formulas were extensively hydrolysed type. Absolute

predominance of not-IgE-mediated cases was noted (88,4%), typically with late

presentation and preponderance of digestive (91.3%) and systemic (33.4%) symptoms.

Children under one year have had significantly more digestive symptoms than older

infants. At admission time, 13,3% infants younger than 6 months were underweight (z < -

2 weight-for-age score). The mean estimated duration of breastfeeding was 136.5 days.

Despite the family history of atopy in 75% of cases, over 80% of children used milk with

intact cow's milk protein at weaning. Half the patients using soy formulas have started

their consumption before 6 months of life. The proportion of infants with the diagnosis of

Gastro Esophageal Reflux Disease (GERD) was 68%, and 90% of them were taking acid

suppressors drugs. CONCLUSION: Early recognition of cases of CMA and proper

nutritional care institution (special formula and balanced elimination diet) can reduce the

negative impact of the disease on the growth of children. Further studies are needed to

verify the association between CMA and GERD in this sample.

Key words: food allergy, cow's milk, epidemiology

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1 INTRODUÇÃO / REVISÃO DA LITERATURA

Reações adversas a alimentos envolvem qualquer tipo de reação ou sintoma que

ocorra após a ingestão de alimentos. Estas reações podem ser tóxicas e não tóxicas. As

reações tóxicas envolvem aquelas provocadas por toxinas bacterianas e por efeitos

farmacológicos ou tóxicos próprios do alimento. As reações não tóxicas podem ser de

dois tipos: intolerância alimentar não imune (como a intolerância a lactose) e alergia

alimentar. Considera-se alergia alimentar como aquela reação adversa de

hipersensibilidade a alimentos em que há participação de mecanismos imunológicos

(BOYCE et al., 2010; BRUIJNZEEL-KOOMEN et al., 1995; ORTOLANI;

PASTORELLO, 2006).

As doenças alérgicas constituem atualmente um problema de saúde pública

global, estão incluídas no grupo de doenças crônicas não transmissíveis e afetam até 30%

da população (PRESCOTT et al., 2013; RING et al., 2012). Nas últimas décadas

verificou-se mundialmente um aumento significativo na incidência e prevalência das

doenças alérgicas em geral, como asma, rinite, dermatite atópica e alergia alimentar

(PRESCOTT, 2011; STATES et al., 2013). Parece existir uma tendência de

deslocamento da epidemia mundial de asma e rinite alérgica ocorrida há 20 anos para

uma atual epidemia de alergia alimentar (figura 1) (PRESCOTT; ALLEN, 2011).

Existe uma grande variação entre taxas de prevalência de alergia alimentar nas

diversas regiões do mundo (BOYE, 2012a). A prevalência de alergia referida por

pacientes e familiares é até 10 vezes maior que a alergia comprovada por exames e testes

de provocação (VENTER; ARSHAD, 2011). Além disso, ocorre uma variação natural de

frequência da doença ao longo da vida, e também uma mudança no perfil de alérgenos

alimentares mais comuns entre a infância e a vida adulta. Em alguns estudos, a

prevalência de alergia percebida, mas não confirmada, por pacientes ou pais chega a

60%, o que evidencia a dificuldade de diferenciação entre reações adversas gerais e

verdadeiras alergias. Estima-se que a prevalência real de alergia alimentar seja de 6%

entre crianças e 3% entre adultos (BOYCE et al., 2010; SILVA et al., 2008).

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Figura 1 - Mudanças nos padrões das doenças alérgicas ao longo do tempo, em países desenvolvidos

(Australia, Nova Zelândia, Hong Kong, Cingapura)

A epidemia de sensibilização e alergia respiratória ocorrida nas décadas de 80 e 90 parece estar se

deslocando para uma epidemia de sensibilização e alergia alimentares a partir dos anos 2000.

Fonte: Adaptado de (PRESCOTT; ALLEN, 2011).

Até o momento não há grandes estudos nacionais ou regionais que tenham

avaliado com acurácia a prevalência de alergia alimentar (BOYE, 2012b; ROSARIO-

FILHO et al., 2013). Inquérito epidemiológico multicêntrico realizado em consultórios de

gastroenterologistas pediátricos de 20 cidades brasileiras apontou uma prevalência de

sintomas suspeitos de alergia alimentar em 7,4% de 9478 crianças, sendo a prevalência

de suspeita de alergia a proteína do leite de vaca de 5,7% (VIEIRA et al., 2010).

FISIOPATOLOGIA

Durante toda a vida, o trato digestório (TD) dos humanos está exposto a

milhares de partículas estranhas contidas em alimentos ingeridos, substâncias inaladas e

microorganismos comensais e patogênicos. A função nutritiva do TD é indiscutível, e

proteínas alimentares estão entre os ingredientes essenciais ao crescimento e manutenção

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dos organismos. Entretanto, essas proteínas alimentares são todas potencialmente

antigênicas, independente de sua função ou origem, e portanto são capazes de induzir

resposta imune específica, a qual pode levar a inflamação e doença. A capacidade de

discernimento entre que proteína deve ser vista como própria e que proteína deve ser

vista como patogênica pelo sistema imune é que permite o equilíbrio entre tolerância e

reação inflamatória. Quando uma resposta imune inadequada é direcionada a antígenos

protéicos comuns e inócuos, ocorre a alergia alimentar (MOWAT, 2003).

Os alérgenos alimentares capazes de desencadear reação adversa do tipo

alérgica geralmente apresentam como características comuns serem glicoproteínas

hidrossolúveis, termoestáveis, resistentes a ácidos e proteases, com peso molecular entre

10 e 70kDa (SILVA et al., 2008). Os alérgenos alimentares mais comuns variam

conforme a idade dos pacientes. Entre crianças, leite de vaca, soja, ovo e trigo são os

mais frequentes, enquanto entre adultos predominam amendoim, castanhas, peixes e

crustáceos (BOYCE et al., 2010; ORTOLANI; PASTORELLO, 2006; SILVA et al.,

2008).

O trato digestório contempla o maior órgão linfoide do organismo. O epitélio

intestinal é interface direta entre o ambiente externo e o sistema imunitário mucoso, e a

interação entre células epiteliais intestinais, células dendríticas mucosas, flora bacteriana

intestinal e alérgenos alimentares é de particular importância para determinar a

ocorrência de tolerância ou alergia (MOWAT, 2003).

Entende-se por tolerância oral o mecanismo de supressão periférica específica da

resposta imunológica celular e humoral a um determinado antígeno através da exposição

prévia ao mesmo por via oral. Os linfócitos maduros, presentes nos tecidos linfóides

periféricos e locais, se tornam não funcionantes ou hiporresponsivos pela administração

oral prévia do antígeno, promovendo seu acesso ao corpo por uma rota natural e

tornando-o parte do “self” (TITUS; CHILLER, 1981).

Existem três mecanismos principais implicados no fenômeno da tolerância oral

induzida por antígeno: deleção clonal, anergia clonal e supressão ativa. A deleção clonal,

ou apoptose de células efetoras, é o mecanismo pelo qual clones de linfócitos são

eliminados por morte celular ao entrarem em contato com o antígeno. A anergia clonal é

um processo em que clones antígeno-específicos são funcionalmente inativados, mas não

destruídos. Neste caso o linfócito pode deixar de expressar o receptor para o antígeno ou

pode ocorrer um bloqueio a nível do receptor, não permitindo que o antígeno se ligue a

este. No mecanismo de supressão ativa, os clones de linfócitos passam a não mais

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responder frente a uma estimulação antigênica, devido à secreção in situ de citocinas

inibidoras, tais como IL-4, IL-10 e TGF-beta, produzidas por outros linfócitos. Este

mecanismo justifica ainda a ocorrência de sensibilização a um antígeno sem ocorrência

de alergia: apesar de o organismo reconhecer uma proteína como alergênica e inclusive

produzir anticorpos contra ela, a supressão ativa permite o não desenvolvimento de

doença - manifestação clínica de alergia. Desta forma, apesar da positividade de testes

com dosagens de IgE específica, não ocorre qualquer manifestação clínica ao contato

com o alérgeno (BERIN; SAMPSON, 2013; BISCHOFF; CROWE, 2005).

Sabe-se hoje que existem inúmeros fatores importantes ao adequado

desenvolvimento de tolerância oral, dependentes tanto do antígeno em si quanto do

ambiente e do hospedeiro. Entre eles estão incluídos a natureza da própria proteína, sua

dose e forma, a flora intestinal, o muco, a integridade da barreira epitelial, a IgA

secretória, o tipo de processamento e apresentação do antígeno, os receptores “toll-like”

ativados, as citocinas presentes e induzidas no microambiente de resposta, a

predisposição genética, entre outros. A interação de todos estes fatores vai culminar na

ativação de linfócitos T naive, que serão primados para exercer seu papel efetor. O tipo

de ativação de linfócito T vai determinar o perfil de resposta àquele antígeno específico

apresentado. A ativação do perfil T regulador é o que induz tolerância oral. Perfis Th2 e

Th1 estão relacionados a alergia alimentar e doença inflamatória, respectivamente

(SAKAGUCHI et al., 2008).

A expansão de células T regulatórias (Treg) tolerogênicas é fundamental para a

manutenção do mecanismo de tolerância oral. A forma com que o antígeno alergênico é

apresentado ao sistema imunológico de mucosas determina o tipo de mecanismo de

tolerância predominante. Baixas doses de antígeno favorecem o mecanismo de supressão

ativa, enquanto altas doses parecem favorecer anergia e deleção. Por sua vez, antígenos

de baixo peso molecular e hidrossolúveis levam a anergia/deleção, enquanto antígenos de

maior peso molecular e lipossolúveis induzem supressão ativa. Altas doses de antígeno

administradas por via oral parecem resultar em apresentação sistêmica do antígeno

(BISCHOFF; CROWE, 2005).

Numa situação normal de tolerância, em que a barreira epitelial intestinal está

intacta e outros mecanismos de defesa da imunidade inata preservados, a exposição a

baixas doses de antígenos leva à produção de IgA secretora. Ocorre a predominância de

secreção de IL-10 e TGF-. Não há produção de IgE específica, e eosinófilos e

mastócitos permanecem em estado de repouso. Isto determina o estado de inflamação

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controlada que caracteriza a mucosa normal. Por outro lado, a alteração da

permeabilidade mucosa associada a exposição a alta carga antigênica determina a

ativação de células apresentadores de antígenos, o que resulta em ativação de linfócitos B

produtores de IgE e polarização para resposta imune Th2 com produção de IL-4, IL-5 e

IL-13. A ativação de mastócitos leva à liberação de várias citocinas, incluindo TNF-, e

secundariamente o recrutamento e ativação de eosinófilos e neutrófilos. Juntos, esses

eventos induzem a alteração da função intestinal, inflamação e manifestações de alergia

alimentar (BISCHOFF; CROWE, 2005; WERSHIL; FURUTA, 2008).

A manutenção da tolerância oral é dependente da presença e secreção de

citocinas como TGF- e IL-10 e ativação preferencial de células comprometidas com o

perfil regulador, como linfócitos T CD4+CD25

+ (Treg naturais), linfócitos Th3, linfócitos

Tr1, entre outras. A inibição da atividade de Treg e estímulo de outros padrões de

resposta estão associados a quebra de tolerância e desenvolvimento de doenças –

alérgicas, inflamatórias ou auto-imunes. A ocorrência de alergia alimentar, portanto, está

associada à ruptura da homeostase intestinal e quebra da tolerância oral. Na evolução

natural da alergia alimentar, porém, pode ocorrer a aquisição de tolerância, fenômeno

ativo em que a modulação do sistema imune permite que o alérgeno volte a ser tolerado

pelo organismo, com "cura" da doença (BERIN; SAMPSON, 2013; SAKAGUCHI et al.,

2008).

A exposição a alérgenos alimentares através de rotas não orais, como a pele ou

mucosa respiratória, tem sido cada vez mais reconhecida como via potencialmente

importante para ocorrência de alergia alimentar. A exposição e sensibilização também

podem ocorrer sem a ingestão direta do alérgeno, mas através do leite materno, em

lactentes amamentados (BERIN; SAMPSON, 2013).

Outros fatores, internos e externos, podem estar associados à quebra da tolerância

oral e consequente indução de alergia alimentar. Dentre eles destacam-se a composição

da microbiota intestinal, infecções, fatores dietéticos,etc. (BERIN; SAMPSON, 2013;

RAUTAVA et al., 2005; WERSHIL; FURUTA, 2008).

Uma vez ocorrida a sensibilização alérgica ao antígeno, há quatro tipos possíveis

de mecanismos imunológicos efetores indutores de alergia alimentar (BURKS et al.,

2012; SILVA et al., 2008):

1) Mediado por IgE: ocorre ativação de linfócitos B e plasmócitos, com produção

de anticorpos IgE específicos contra o alérgeno alimentar e desencadeamento de reações

imediatas, a partir da degranulação de mastócitos e liberação de histamina e outros

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mediadores. Os sintomas geralmente iniciam-se até duas horas após a exposição. O

sistema orgânico mais frequentemente acometido é a pele, que pode apresentar pápulas,

placas urticariformes, prurido, angioedema de lábios, olhos, orelhas, mãos e pés. A

reação pode ser desde local, com apenas pápulas ou hiperemia perioral; ou sistêmica,

com urticária gigante, angioedema e acometimento de outros órgãos, culminando em

anafilaxia.

2) Não mediado por IgE, no qual as células imunológicas estão envolvidas em

reações tardias, que se iniciam de algumas horas após o contato com o alimento até após

alguns dias. É o tipo predominante nos quadros clínicos exclusivamente gastrointestinais;

portanto mais associada a sintomas digestivos e inespecíficos;

3) Misto, com envolvimento de células e anticorpos, como na esofagite

eosinofílica, dermatite atópica e asma. Pode haver, portanto, exacerbação aguda e

subaguda da doença de base após a exposição ao alérgeno;

4) Mediado por células, de manifestação principalmente cutânea, crônica, como

na dermatite herpetiforme e dermatite de contato alérgica.

Alguns autores consideram o tipo 4 - mediado por células, como uma variante do

tipo não-IgE-mediado (SILVA et al., 2008).

Tradicionalmente observa-se maior prevalência de alergia mediada por IgE

(60%), com ocorrência de reações precoces, até duas horas após exposição ao estímulo

danoso. Em lactentes, os sistemas mais frequentemente acometidos são digestório e

cutâneo (BOYCE et al., 2010; SAMPSON, 2003).

FATORES DE RISCO

Vários fatores de risco são relacionados à ocorrência de alergia alimentar

(BISCHOFF; CROWE, 2005). Certamente o principal fator de risco é a presença de

atopia familiar: pais e/ou irmãos com asma, rinite alérgica, dermatite atópica ou alergia

alimentar. Quando há dois parentes em primeiro grau atópicos, existe risco de até 80% de

desenvolvimento de atopia na criança (LACK, 2012). O antecedente pessoal de doença

atópica também é importante fator de risco para alergia alimentar. Entre crianças

atópicas, a prevalência de alergia alimentar é expressivamente maior, especialmente nos

casos de dermatite atópica grave, podendo chegar a 40% (FIOCCHI et al., 2010;

ORANJE et al., 2002; RONA et al., 2007).

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Outros fatores de risco são: sexo masculino (especialmente para alergia a

amendoim durante a infância), presença de polimorfismos genéticos, obesidade,

prematuridade, introdução precoce de alimentos sólidos antes de 4 meses de idade ou

após os 7 meses, introdução de leite de vaca total antes de doze meses, alterações de

permeabilidade mucosa intestinal, infecções intestinais, interações inadequadas com a

flora intestinal comensal, alterações imunológicas locais ou sistêmicas, obesidade

(LACK, 2012; SNIJDERS et al., 2008). O consumo excessivo ou deficiente de vitamina

D está associado a maior incidência de atopia (PRESCOTT, 2013).

Corroborando a favor da hipótese da Higiene, segundo a qual infecções e o

contato não higiênico poderiam conferir proteção contra o desenvolvimento de doenças

alérgicas, verificou-se que crianças nascidas de parto cesáreo apresentam maior risco de

alergia alimentar, assim como aquelas submetidas a antibioticoterapia indiscriminada nos

primeiros anos de vida (AMANCIO et al., 2012; EGGESBØ et al., 2003; LACK, 2012;

STRACHAN, 1989).

O uso abusivo de antiácidos também tem sido implicado como fator de risco para

desenvolvimento de resposta alergênica a alimentos (CIANFERONI; SPERGEL, 2009;

DEMUTH et al., 2013; UNTERSMAYR; JENSEN-JAROLIM, 2008; VANDENPLAS et

al., 2009).

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

A alergia alimentar pode manifestar-se de diversas formas, atingindo o organismo

ora de forma leve e localizada, ora de forma generalizada e potencialmente fatal. Não há

sinais ou sintomas que sejam patognomônicos de alergia alimentar. O tipo de mecanismo

imunológico envolvido determina os tipos de manifestações clínicas e o intervalo de

tempo entre a exposição ao alérgeno e o aparecimento dos sintomas (PERRY; PESEK,

2013).

Cerca de 60% dos casos de alergia alimentar são mediados por IgE, ocorrem em

até duas horas após a ingestão do alérgeno e apresentam clinicamente reações imediatas

tais como anafilaxia, urticária, angioedema, náuseas, vômitos, diarreia, dores abdominais,

tosse e broncoespasmo. As manifestações cutâneas costumam ser as mais frequentes,

apesar de não obrigatórias (SILVA et al., 2008; SKRIPAK et al., 2007).

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Nas alergias não mediadas por IgE ou mistas as reações são mais tardias e

ocorrem mais de duas horas após a ingestão do alérgeno. Os sintomas relativos ao trato

digestório (diarreia ou obstipação, cólicas, distensão abdominal, vômitos, regurgitações,

hematoquezia, etc.) são predominantes, mas também podem ocorrer sintomas

respiratórios (rinoconjuntivite, tosse crônica, estridor laríngeo, asma) e/ou cutâneos

(urticária, dermatite atópica grave). Especialmente entre lactentes, a APLV pode

manifestar-se, ainda, como doença do refluxo gastresofágico de difícil controle,

proctocolite alérgica, enteropatia alérgica, enterocolite, constipação intestinal crônica e

cólicas exacerbadas do lactente associada à recusa alimentar e a desaceleração ponderal,

não responsiva às medidas de apoio ou medicamentosas. Alguns quadros bastante

inespecíficos, tais como baixo peso isolado ou irritabilidade isolada, podem mais

raramente estar associados a APLV (BOYCE et al., 2010; VANDERHOOF, 2010;

WALKER-SMITH, 1995).

O quadro 1 expõe de forma resumida as manifestações clínicas mais típicas para

cada mecanismo de doença.

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Quadro 1 - Exemplos de síndromes clínicas associadas a alergia alimentar, classificadas

pelo mecanismo imunológico

Mecanismo imunológico Síndromes Características clínicas

Mediado por IgE

Urticária / Angiodema Desencadeada por ingestão ou contato

direto na pele ou mucosa

Rinoconjuntivite/ Asma

Acompanha as reações alérgicas

induzidas por alimentos, mas raramente

como sintoma isolado. Pode ser

desencadeada por inalação de proteínas

alimentares

Anafilaxia Rapidamente progressiva, envolve pelo

menos 2 sistemas

Anafilaxia induzida pelo

exercício

A anafilaxia é induzida pelo alimento

se há ingestão seguida de exercício

Síndrome da alergia oral

Prurido, leve edema confinado a

cavidade oral. Raramente avança para

além da boca (<10%) ou anafilaxia (1-

2%)

Mistos

Dermatite atópica (DA)

Associada com alergia alimentar em 30

– 40% das crianças com DA

moderada/grave

Esofagite eosinofílica

Gastroenteropatia eosinofílica

Sintomas variam de acordo com o local

e o grau de inflamação eosinofílica

Asma

Rara como sintoma isolado, mas está

presente na maioria das reações

sistêmicas

Mediado por células

Coloproctite alérgica Fezes com muco e sangue, sem

comprometimento do estado nutricional

Enterocolite induzida por

proteína

Exposição crônica: vômitos, diarreia e

baixo ganho ponderoestatural

Reexposição após restrição: vômitos,

diarreia, desidratação até 2 horas após

ingestão

Hemossiderose pulmonar Anemia, pneumonias e infiltrados

pulmonares recorrentes

Fonte: Adaptado de (AMANCIO et al., 2012)

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DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da alergia alimentar é baseado no quadro clínico e em testes de

provocação ou desencadeamento. As reações alérgicas são reprodutíveis e estereotipadas

à exposição ao alérgeno, apesar de a magnitude e gravidade das reações não serem

necessariamente sempre iguais (BURKS et al., 2012; FIOCCHI et al., 2010; SICHERER;

SAMPSON, 2010).

A abordagem diagnóstica em caso de suspeita de alergia alimentar deve iniciar-se

pela coleta de história clínica completa, a qual deve incluir informações sobre as

manifestações clínicas, possíveis desencadeantes, intervalo entre alimentação e início de

sintomas, quantidade ingerida, modo de preparo do alimento, sistemas orgânicos

acometidos, gravidade, reprodutibilidade da reação conforme nova exposição, relação

com exercícios ou infecções, antecedentes pessoais patológicos e familiares

(especialmente de doenças atópicas), amamentação (e, se atual, dieta materna). Pode ser

necessário solicitar o diário alimentar do paciente. Exame físico completo pode

evidenciar comprometimento de pele e fâneros, olhos, narinas (rinite), pulmões (asma),

abdome, e ainda sistêmico. Avaliação antropométrica é fundamental para verificação de

estado nutricional e posterior direcionamento terapêutico (AMANCIO et al., 2012;

BOCK, 2003; PERRY; PESEK, 2013).

Exames laboratoriais e de imagem são complementares à história clínica e nem

sempre imprescindíveis. Exames gerais como hemograma (contagem de eosinófilos) e

dosagem de IgE total pouco contribuem para o diagnóstico etiológico, mesmo que muito

alterados. Em casos de alergia mediada por IgE, podem ser úteis as dosagens "in vitro" de

IgE específica para o alimento e suas frações (atualmente pela técnica de Immunocap ou,

antigamente, RAST) e os "prick-test" (teste cutâneo de leitura imediata com extratos

padronizados ou "in natura", "in vivo"). Podem ocorrer falso-positivos, devido a

sensibilização alérgica sem presença de doença, e também falso-negativos, especialmente

em menores de 2 anos. Atualmente também estão disponíveis a dosagem de componentes

de frações protéicas (CRD - component resolved diagnosis), que permite o diagnóstico de

reatividade cruzada entre alimentos. Pacientes com alergias múltiplas e

polissensibilizados podem se beneficiar da determinação de IgE específicas pela técnica

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de microarray (ImmunoCAP-ISAC®) (AMANCIO et al., 2012; BÉGIN; NADEAU,

2013; FIOCCHI et al., 2010; MAJAMAA et al., 1999).

Nas alergias não mediadas por IgE, a interpretação de exames é ainda mais

complexa. Neste caso, a maioria dos exames se destina à investigação de outras

possibilidades de diagnóstico diferencial (MAJAMAA et al., 1999). No caso de

comprometimento gastrintestinal, achados endoscópicos e de biópsias podem sugerir,

mas não definir, processos alérgicos (MANSUETO et al., 2012). O teste cutâneo de

leitura tardia ("Patch test") ainda não tem extratos e técnica padronizados, devendo ser

interpretado com cautela (VENTER et al., 2013).

O teste de provocação oral (TPO) é o procedimento ideal para comprovação

diagnóstica de alergia alimentar (FIOCCHI et al., 2010; NOWAK-WEGRZYN et al.,

2009). Diante da suspeita de alergia alimentar, está indicada dieta de exclusão completa

de alérgeno para o paciente (e sua mãe nutriz), e/ou, no caso de APLV, uso fórmula

especial hipoalergênica por duas a quatro semanas, seguido de enfrentamento com este

alimento suspeito (TPO). Existem três modalidades de execução do TPO: 1) aberto,

quando o paciente sabe que está ingerindo o alimento implicado na suspeita de alergia; 2)

simples cego, em duas etapas, quando o paciente não sabe se está ingerindo o alérgeno ou

um placebo; 3) duplo-cego placebo-controlado, em duas etapas, quando nem o paciente e

nem o médico sabem se na etapa está ocorrendo o teste com o alérgeno ou com placebo.

Neste caso é necessário um segundo elemento da equipe, geralmente nutricionista, que

determine a ordem e o conteúdo de cada fase e só revele esta informação ao final do

teste. O fato de ser duplo-cego minimiza a interpretação equivocada de sintomas

subjetivos e de sinais clínicos leves e inespecíficos (como hiperemia perioral ou espirros)

como relacionados a alergia alimentar (NIGGEMANN; BEYER, 2007; NOWAK-

WEGRZYN et al., 2009; SAMPSON et al., 2012).

Caso os sintomas reapareçam, o teste é considerado positivo e está indicada

continuação da dieta de exclusão (e uso de fórmula especial se for o caso). Caso não

reapareçam os sintomas, afasta-se o diagnóstico de alergia. O teste de provocação não

deverá ser realizado em casos de anafilaxia, devido ao risco potencial de reação grave. O

teste considerado padrão-ouro seria o teste de provocação oral duplo-cego placebo-

controlado (TPODCPC), porém sua difícil execução praticamente inviabiliza sua

aplicação na prática clínica. Os testes simples-cego e aberto são mais utilizados na prática

clínica. Ainda assim, devido à dificuldade de sua padronização, os dados de literatura não

são uniformes (CORREA et al., 2010; FIOCCHI et al., 2010; LINS et al., 2010;

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NOWAK-WEGRZYN et al., 2009; SAMPSON et al., 2012; VENTER et al., 2007). Para

casos de alergia puramente não mediada por IgE de reação gastrintestinal pura, como

proctocolite mucosa do bebê, a provocação pode ser realizada em ambiente domiciliar

(FIOCCHI et al., 2010).

A classificação da alergia alimentar quanto ao mecanismo fisiopatológico

(mediada por IgE, não mediada por IgE ou mista) pode ser realizada a partir da

associação entre o intervalo de tempo desde a exposição ao alérgeno alimentar até o

início dos sintomas e dos tipos de manifestações clínicas (BÉGIN; NADEAU, 2013;

PERRY; PESEK, 2013). Exames complementares são coadjuvantes.

TRATAMENTO

O tratamento clássico da alergia alimentar consiste em dieta de exclusão completa

do alérgeno. Para tanto, o paciente deve receber completa orientação sobre como excluir

o alérgeno e seus derivados, evitando contaminações. Isto envolve o aprendizado de

leitura de rótulos de alimentos, medicamentos e cosméticos, bem como estratégias de

segurança alimentar. Para alguns alimentos, como leite de vaca, soja, trigo e ovo, há

alguns substitutos disponíveis. Para lactentes menores de 2 anos, fórmulas infantis

nutricionalmente completas e de alergenicidade reduzida devem substituir o leite de vaca

e fórmulas regulares (AMANCIO et al., 2012; BOYCE et al., 2010; FIOCCHI et al.,

2010; KOLETZKO et al., 2012; SILVA et al., 2008; VENTER et al., 2013).

O paciente deve receber instruções sobre reatividade cruzada entre alimentos.

Especialmente nos casos mediados por IgE, é importante que o paciente porte um plano

de emergência para situações de escapes ou exposição inadvertida ao alérgeno. Em casos

selecionados, poderá ser prescrito dispositivo de adrenalina autoinjetável (AMANCIO et

al., 2012; FIOCCHI et al., 2010).

Toda a família e cuidadores devem estar familiarizados com a doença e

permanecerem alertas. Suporte nutricional deve ser oferecido, uma vez que dietas de

restrição inadequadas podem levar a subnutrição e comprometer o crescimento de

crianças e adolescentes (BERNI CANANI et al., 2013; MEHTA et al., 2013a;

TOPOROVSKI et al., 2007; WEBER et al., 2007).

Recentemente uma série de outras alternativas de tratamento vêm sendo estudadas

e protocoladas. As imunoterapias para alimentos se destinam especialmente a pacientes

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com doença mediada por IgE, persistentes ou com quadros graves. O princípio básico das

imunoterapias é promover a indução de tolerância oral a partir da dessensibilização do

doente ao alérgeno (TANG; MARTINO, 2013). Ocorre a administração de doses do

alérgeno alimentar inicialmente muito pequenas, e que aumentam progressivamente,

através de diversas rotas de apresentação (oral, sublingual, subcutânea, etc.). Os objetivos

finais são principalmente aumentar o limiar segundo o qual se desencadeia a reação

alérgica e reduzir o risco de reações graves à exposição ao alérgeno, e não

necessariamente eliminar o risco de reações ao consumo de grandes quantidades do

alimento. Laboratorialmente verifica-se a redução dos níveis de IgE específica e elevação

dos níveis de IgG4 específicas. As terapias que mais têm apresentado sucesso são:

Imunoterapia Oral (especialmente para leite de vaca), Imunoterapia Sublingual,

Imunoterapia Oral com proteínas desnaturadas pelo calor (realizada com alimentos

processados, assados em condições controladas) e Imunoterapia Subcutânea (para

amendoim, com muitas reações adversas). Estes protocolos têm disponibilidade ainda

limitada a centros de pesquisa e a pacientes selecionados criteriosamente (BU et al.,

2013; KATTAN; WANG, 2013; METCALFE et al., 2013; NETTING et al., 2013;

SAMPSON; NOWAK-WĘGRZYN, 2012; STADEN et al., 2007).

Em relação ao tratamento medicamentoso, a utilização de fármacos limita-se a

dois objetivos. Para o resgate de crises agudas causadas por exposição ao alérgeno

destacam-se os anti-histamínicos, corticosteroides e broncodilatadores. Para modificação

da evolução natural da doença, o uso de ervas tradicionais chinesas e anti-IgE (anticorpo

monoclonal omalizumabe) parecem promissores mas ainda não são recomendados

formalmente (KATTAN; WANG, 2013; SAMPSON; NOWAK-WĘGRZYN, 2012).

HISTÓRIA NATURAL DA ALERGIA ALIMENTAR

O leite de vaca é o alimento mais comumente relacionado à alergia alimentar na

infância, seguido de ovo, soja, trigo, castanhas e peixes. Já entre adultos, há maior

proporção de alérgicos a castanhas e frutos do mar (FIOCCHI et al., 2010;

OSTERBALLE et al., 2005). A história natural da doença nesses dois grupos também é

distinta. Crianças tendem a apresentar quadros transitórios, restritos à primeira infância,

com aquisição de tolerância imunológica à proteína alergênica por volta dos 2 a 5 anos na

maioria dos casos, especialmente para casos não mediados por IgE. Por sua vez, adultos

alérgicos a castanhas e frutos do mar tendem a não desenvolver tolerância, permanecendo

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alérgicos por toda vida, inclusive com risco de reações fatais (SANTOS et al., 2010;

SKRIPAK et al., 2007; WOOD, 2003).

Uma vez que as alergias alimentares a leite de vaca, soja, ovo e alguns outros

alimentos tendem a ser transitórias e restritas à infância, é preconizado que estes

pacientes sejam reavaliados a cada 6 a 12 meses para verificação de aquisição de

tolerância (AMANCIO et al., 2012; KOLETZKO et al., 2012; SILVA et al., 2008).

Eventualmente pode ocorrer sensibilização concomitante a vários alérgenos

alimentares, tanto por reação cruzada devido a semelhança proteica, quanto por

sensibilização não relacionada. No primeiro caso, pode-se citar reação cruzada possível

entre leite e carne de vaca, entre leites de mamíferos, entre látex e frutas, etc. Pode

ocorrer ainda sensibilização concomitante, como entre leite de vaca e soja, que acontece

em até 40% dos pacientes com alergia não mediada por IgE (KLEMOLA et al., 2002;

SICHERER, 2001).

PREVENÇÃO

O principal fator de proteção contra alergia alimentar seria o aleitamento materno

exclusivo até 4 a 6 meses de idade (AMANCIO et al., 2012; BADINA et al., 2012;

FLEISCHER et al., 2013; GRIMSHAW et al., 2013; KRAMER; KAKUMA, 2012a;

SILVA et al., 2008). A dieta materna isenta de leite de vaca durante a gestação e lactação

não interfere no aparecimento da doença da criança e, portanto, não é mais recomendada

mesmo para famílias de risco (FIOCCHI et al., 2010). Para crianças não amamentadas, o

uso de fórmulas parcialmente ou extensamente hidrolisadas nos primeiros quatro meses

de vida está relacionado a menor incidência de doença atópica na infância. A introdução

de alimentação complementar deve ocorrer de preferência junto com aleitamento

materno, e não antes dos 4 meses de vida nem depois dos 7 meses. O atraso na introdução

de alimentos potencialmente alergênicos como ovo e trigo para além dos 7 meses de

idade parece aumentar o risco de sensibilização (BADINA et al., 2012; GREER et al.,

2008; KATZ et al., 2010; KRAMER; KAKUMA, 2012b; SNIJDERS et al., 2008). A

suplementação de ômega 3 para gestante de 3º trimestre e nutriz de 1º trimestre parece

reduzir a incidência de doenças alérgicas na fase pré-escolar, mas não está

completamente definida (JENMALM; DUCHÉN, 2013; PELÉ et al., 2013; ROMERO et

al., 2013). A suplementação dietética com probióticos e simbióticos apresenta resultados

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controversos e também não está formalmente recomendada (KUITUNEN, 2013; LAU,

2013; PERONI; BONER, 2013).

ALERGIA A PROTEÍNA DO LEITE DE VACA

Entre lactentes menores de um ano de idade, pelo menos 80% das alergias

alimentares devem-se ao leite de vaca (LV) (BOYCE et al., 2010). Este alimento

constitui a base da nutrição infantil de lactentes jovens não amamentados, sendo muitas

vezes o primeiro elemento oferecido após o desmame. A elevada prevalência de APLV

justifica a necessidade de maior enfoque no estudo da alergia causada pelo LV.

Epidemiologicamente, a prevalência de percepção de APLV é bem superior à

prevalência de APLV confirmada. Não há consenso sobre a taxa de prevalência de APLV

no mundo, mas estima-se que esteja entre 2 e 5% durante a infância (GUPTA et al.,

2011; OSBORNE et al., 2011; RONA et al., 2007; VENTER et al., 2008). É

definitivamente mais comum nos primeiros anos de vida, com forte tendência a aquisição

de tolerância ainda na infância. O LV é responsável por até 20% das anafilaxias por

alimentos. Cerca de 60% dos pacientes apresentam doença mediada por IgE

(AMANCIO et al., 2012; FIOCCHI et al., 2010; KATTAN et al., 2011).

O LV é composto por diversos tipos de proteínas potencialmente alergênicas,

sendo as mais importantes a caseína e as proteínas do soro beta-lactoglobulina e alfa-

lactoalbumina. A caseína (Bos d 8) representa aproximadamente 80% das proteínas do

LV total, é subdividida em 4 isoformas (alfa-s1, alfa-s2, beta e kappa) e é a maior

responsável por sensibilização alérgica. A beta-lactoglobulina (BLG, Bos d 5) é a

proteína de soro mais abundante e não está presente no leite materno. Por ser altamente

resistente a hidrólise ácida e à ação de proteases, é mais absorvida de forma intacta pelo

trato digestório. A alfa-lactoalbumina bovina (ALA, Bos d 4) apresenta homologia

estrutural à alfa-lactoalbumina humana de 73,9% (RESTANI et al., 1999). A albumina

sérica bovina (Bos d 6) é a proteína responsável por reações cruzadas com carne bovina.

Em geral, as proteínas do LV preservam sua atividade biológica mesmo após

processamentos como fervura, pasteurização, processamento em temperatura ultra alta

(UHT) e evaporação para produção de leite em pó (FIOCCHI et al., 2010).

Clinicamente a APLV apresenta poucas particularidades. Pode manifestar-se

como qualquer outra alergia alimentar, tanto com sintomas mediados por IgE quanto não

mediados por IgE ou mistos. Os sintomas de pele estão presentes em 5 a 90% dos casos,

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e os gastrintestinais em 32 a 60% dos casos. Quadros respiratórios puros, como asma,

são raramente causados por APLV. Quadros gastrintestinais específicos como

proctocolite, enterocolite e enteropatia induzidas por proteína alimentar estão diretamente

relacionados a APLV como causa principal (AMANCIO et al., 2012; FIOCCHI et al.,

2010; SILVA et al., 2008; VENTER et al., 2013).

O reconhecimento das frações alergênicas específicas pode contribuir para a

definição de prognóstico em APLV mediada por IgE. Pode-se quantificar a IgE

específica para as frações de leite através de testes de puntura de leitura imediata com

extratos padronizados e através da dosagem de IgE específica para a fração. A presença

de anticorpos para caseína representa maior chance de persistência da alergia, enquanto a

presença de anticorpos para as frações do soro representa maior chance de tolerância a

pequenas quantidades de LV processado ou com hidrólise parcial (AMANCIO et al.,

2012).

Assim como para qualquer outra alergia alimentar, o tratamento da APLV é

essencialmente baseado na dieta de exclusão do leite de vaca por determinado tempo.

Essa dieta de exclusão deve incluir o leite em si, todos os derivados lácteos e produtos

que possam ter proteínas intactas do leite (FIOCCHI et al., 2010; SILVA et al., 2008).

Para tanto, é imprescindível a correta orientação da família do alérgico para o

reconhecimento desses produtos, através da leitura de rótulos e bulas (MUÑOZ-

FURLONG, 2003). Os profissionais de saúde médicos e nutricionistas devem receber

treinamento especializado para adequadamente transmitirem as informações a seus

pacientes (GUSHKEN et al., 2009; SOLE et al., 2007; TOPOROVSKI et al., 2007). A

execução da dieta de exclusão nem sempre é simples, e pode acarretar em negativo

impacto social e psicológico para a família (BOLLINGER et al., 2006; JONES;

SCURLOCK, 2006; SICHERER et al., 2001; WEBER et al., 2007).

Os primeiros dois anos de vida são fundamentais para o crescimento e

desenvolvimento da criança. Restrições alimentares inadequadas nesta fase podem levar a

risco nutricional importante com impacto na saúde global da criança (PEREIRA;

PEREIRA, 2008). Para o lactente com APLV, dois perigos são iminentes: dieta de

exclusão incompleta e ineficiente, com persistência da doença pelo contato com o

alérgeno; e dieta de exclusão sem substituição nutricional adequada, com subnutrição de

macro ou micronutrientes (MEDEIROS et al., 2004). Estudo multicêntrico brasileiro

revelou déficit nutricional (z escore <-2 para peso e estatura para idade) além do esperado

para lactentes com suspeita de APLV (padrão NCHS 2000) (VIEIRA et al., 2010).

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Em substituição ao leite, podem-se utilizar fórmulas infantis especiais como

alternativas nutricionais adequadas às necessidades e possibilidades da criança. Caso a

mãe ainda amamente a criança, o aleitamento pode e idealmente deve ser mantido, e a

mãe é quem também deve aderir à dieta de exclusão de todo e qualquer produto lácteo

(AMANCIO et al., 2012; BOYCE et al., 2010; FIOCCHI et al., 2010; MOFIDI, 2003b).

A indicação de fórmula especial depende da idade da criança e do seu

diagnóstico. Em termos nutricionais energéticos, fórmulas de proteína isolada de soja

(FPIS), extensamente hidrolisadas (FeH) e elementares (de aminoácidos, Faa) são

semelhantes. Elas devem seguir padrões internacionais de qualidade e de composição,

definidos pelo Codex Alimentarius (KEMP et al., 2008; KLIENMAN, 2009; MÉRELLE

et al., 2000).

Apesar de serem uma alternativa nutricional, as fórmulas de soja não são

consideradas hipoalergênicas. Além disso, devidos aos teores de fitoestrógenos, alumínio

e fitatos, e possíveis influências sobre os sistemas reprodutores das crianças (ainda sob

estudo), as sociedades brasileira, americana e europeia de alergia, gastroenterologia e de

pediatria não recomendam seu uso em menores de seis meses de idade (DINSDALE;

WARD, 2010). As fórmulas a base de proteína isolada de soja teriam indicação restrita a

pacientes maiores de seis meses de idade com APLV mediada por IgE (BHATIA;

GREER, 2008; BOYCE et al., 2010; DINSDALE; WARD, 2010; OSBORN; SINN,

2006a; SILVA et al., 2008).

As fórmulas extensamente hidrolisadas podem ser à base de proteínas do soro de

leite ou de caseína e passam por hidrólise química de forma a apresentarem a maior parte

de peptídeos de até 1500 daltons. Estas fórmulas são, por definição, comprovadamente

aceitas por pelo menos 90% de pacientes sabidamente alérgicos (AGOSTONI et al.,

2007; MOFIDI, 2003a).

As fórmulas de aminoácidos são elementares, têm como fonte protéica 100% de

aminoácidos livres e são portanto isentas de alergenicidade (ISOLAURI et al., 1995;

KOLETZKO et al., 2005).

No tratamento da APLV estão indicadas como alternativa inicial,

preferencialmente, fórmulas extensamente hidrolisadas para os casos de mecanismo não

mediado por IgE ou misto e para casos mediados por IgE em menores de 6 meses de

idade. Para maiores de 6 meses com doença mediada por IgE, pode-se utilizar fórmula de

soja igualmente. Para casos de anafilaxia, esofagite eosinofílica e síndrome de Horner,

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preconiza-se o início do tratamento com fórmulas de aminoácidos (AMANCIO et al.,

2012; FIOCCHI et al., 2010; SILVA et al., 2008).

As fórmulas especiais podem ser utilizadas como ferramenta diagnóstica na

suspeita de APLV. Para tanto, devem ser utilizadas em substituição às fórmulas regulares

e associadas a dieta de exclusão completa de derivados de leite de vaca por um período

de duas a quatro semanas. Em seguida, deve-se voltar a utilizar fórmula regular a base de

leite de vaca e verificar se os sintomas associados inicialmente a provável APLV

retornam, confirmando assim o diagnóstico (LINS et al., 2010).

No seguimento do paciente com diagnóstico de APLV, a cada seis a doze meses

está indicada a realização de teste de desencadeamento oral para verificação do estado de

tolerância, exatamente como se procede para confirmação diagnóstica, exceto para os

pacientes com antecedente de anafilaxia (KOLETZKO et al., 2012; SILVA et al., 2008).

A história natural da APLV é de bom prognóstico. A maior parte dos pacientes

adquire tolerância ainda na infância (SPERGEL, 2013; WOOD et al., 2013). Para

pacientes com manifestações não mediadas por IgE o prognóstico é ainda melhor, com

mais de 80% de tolerância até os 3 anos de idade. Para quadros mediados por IgE,

entretanto, tem-se observado uma mudança no perfil de tolerância. Até a década de 90

era esperado que 50% das crianças desenvolvessem tolerância por volta de 1 ano de

idade. Atualmente admite-se que aos 12 anos de idade pouco mais de 60% dos pacientes

com APLV IgE-mediada estarão consumindo leite (FIOCCHI et al., 2010; KATTAN et

al., 2011; VENTER et al., 2013). Há que se ressaltar ainda que a APLV pode ser a

primeira manifestação da marcha atópica (BARNETSON, 2002; MARCH et al., 2008).

ASSOCIAÇÃO ENTRE APLV E DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO

Refluxo gastroesofágico é a passagem de conteúdo gástrico ao esôfago, com ou

sem vômitos ou regurgitações. É um processo fisiológico que ocorre muitas vezes ao dia

em crianças, adolescentes e adultos normais, às vezes com sintomas. Nos primeiros

meses de vida, a frequência de regurgitações e vômitos é bastante elevada, o que leva os

pais a procurarem auxílio médico. O refluxo gastroesofágico fisiológico atinge cerca de

dois terços dos lactentes saudáveis e não determina comprometimento orgânico crônico.

Já a prevalência de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) varia, conforme a idade e

população em estudo, de 8 a 20% (DENT et al., 2005). A diferenciação entre refluxo

fisiológico e DRGE é muitas vezes difícil clinicamente. O diagnóstico é

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fundamentalmente clínico, poucos são os exames complementares confiáveis, e o

tratamento de escolha quando não há complicações é baseado em medidas posturais, já

que as drogas disponíveis não têm grande eficácia comprovada (FERREIRA et al., 2014).

É consenso na literatura que alguns pacientes com DRGE o desenvolvem tendo

como causa direta a APLV (LIGHTDALE; GREMSE, 2013; RUIGÓMEZ et al., 2010;

VANDENPLAS et al., 2009). Estima-se que isto ocorra entre 16 e 42% dos lactentes

com DRGE, especialmente nos menores de 6 meses de vida. Os mecanismos que

levariam a esta relação causa-efeito direta ainda não estão totalmente esclarecidos, mas

sugere-se que envolvam alterações de motilidade gastrintestinal secundárias a estímulos

neuronais anormais, provocados por citocinas e outras substâncias liberadas quando há

reações de hipersensibilidade (LACONO et al., 1996; SEMENIUK; KACZMARSKI,

2008; VANDENPLAS et al., 2011).

Há entretanto, outra linha de pesquisadores que associa o excesso de uso de

inibidores ácidos ao aumento de incidência de alergia alimentar (DEMUTH et al., 2013;

UNTERSMAYR; JENSEN-JAROLIM, 2008). A digestão proteica que ocorre pela

acidez gástrica diminui a passagem de proteínas íntegras ao intestino, reduz a ligação de

proteínas alimentares à IgE e é um dos mecanismos de tolerância oral. Assim sendo, o

uso abusivo de medicamentos supressores de ácidos por pacientes também tem sido

implicado como fator de risco para desenvolvimento de resposta alergênica a alimentos e

ainda explicaria o surgimento de "novas" alergias, como da mandioca (CIANFERONI;

SPERGEL, 2009; DEMUTH et al., 2013; TRIKHA et al., 2013; UNTERSMAYR;

JENSEN-JAROLIM, 2008; VANDENPLAS et al., 2009; YANG, 2012).

Diante da suspeita de APLV associada a DRGE, os últimos consensos

internacionais recomendam o teste terapêutico com dieta de exclusão de leite de vaca

para a criança (e sua mãe caso amamente), com utilização substitutiva de fórmula infantil

extensamente hidrolisada ou de aminoácidos por um período específico e curto de duas a

quatro semanas, seguido obrigatoriamente de provocação com a fórmula anteriormente

consumida. Esta seria uma forma de se tentar evitar o uso inadvertido de medicação

antirrefluxo. Não há indicação de tratamento empírico com drogas antirrefluxo para

lactentes jovens (VANDENPLAS et al., 2009).

O tratamento medicamentoso preconizado para DRGE inclui antiácidos anti-H2

(ranitidina ou similar) ou inibidor da bomba de prótons (omeprazol ou similar) por pelo

menos 2 semanas. Ranitidina é um antagonista de receptor de histamina utilizado

frequentemente para tratamento de DRGE mas tem a particularidade de rapidamente

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induzir taquifilaxia, com perda de potência em cerca de 6 semanas de uso. Os inibidores

de bomba de prótons (IBP) são as medicações mais potentes para supressão da produção

ácida, porém só tem uso oficial liberado a partir de 12 meses idade e não são livres de

efeitos colaterais como cefaléia, diarreia, náuseas, constipação. Procinéticos agem

aumentando o clearence esofágico, aumentam o tônus do esfíncter esofágico inferior e a

velocidade de esvaziamento gástrico. Não há evidencias que apoiem seu uso no

tratamento de DRGE, especialmente considerando que ainda apresentam muitos efeitos

colaterais, em mais de 30% dos pacientes, incluindo reações extrapiramidais

(LIGHTDALE; GREMSE, 2013; NELSON et al., 2000; SEMENIUK; KACZMARSKI,

2006; VANDENPLAS et al., 2009).

AMBULATÓRIO DE ALERGIA ALIMENTAR DA SECRETARIA MUNICIPAL DE

SAÚDE DE GOIÂNIA

O aumento recente da prevalência de APLV entre lactentes implicou diretamente

no aumento do consumo de fórmulas infantis especiais. Estas fórmulas substitutas,

juntamente com dieta de exclusão do alérgeno, são a base do tratamento da APLV na

primeira infância. Conforme o tipo de fórmula especial, o aumento de custo em relação

às fórmulas regulares varia de 50 a 800%. O alto valor agregado às fórmulas especiais e a

necessidade absoluta de consumo pelos pequenos pacientes geraram a demanda de

suporte do poder público como mantenedor do fornecimento desses insumos de alto

custo. No Brasil, entretanto, não há uma política uniforme de dispensação de fórmulas

especiais, sendo que conforme o local, ora o Estado, ora o Município se responsabilizam

pelo fornecimento das fórmulas.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia mantém desde 2006 um

ambulatório de especialidade que atende crianças com diagnóstico de alergia alimentar.

O ambulatório é referência local para tratamento e dispensação de fórmulas infantis

especiais. Todas as crianças do município de Goiânia que necessitam de fórmula especial

a ser fornecida gratuitamente são atendidas neste mesmo ponto, por equipe especializada

(médico pediatra alergista e nutricionista).

O objetivo do ambulatório é prestar assistência médica e nutricional aos pacientes

encaminhados para dispensação de fórmulas infantis especiais, e desta forma regular o

fornecimento desses alimentos de alto custo. O programa é restrito a moradores do

município de Goiânia. Para acesso a esse atendimento, o paciente deve ser encaminhado

por seu médico assistente, pediatra ou especialista, tanto da rede pública de saúde quanto

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da rede privada, para abertura de processo de solicitação de fórmula especial. Existe um

formulário de encaminhamento específico (Anexo 3), no qual o médico assistente

prescreve o tipo de fórmula desejada ao seu paciente (soja, sem lactose, extensamente

hidrolisada com ou sem lactose, de aminoácidos).

Em tese, ao serem encaminhados os pacientes já possuem diagnóstico de APLV e

já estão em tratamento para esta doença. É aberto um processo na Secretaria de Saúde no

Paço Municipal. Os pacientes recebem visita domiciliar da assistente social do distrito

sanitário correspondente ao seu endereço, sendo então direcionados à consulta médica.

Os pacientes de toda a cidade são direcionados a um único ambulatório de especialidade.

O programa é de amplo conhecimento por prescritores e a portaria municipal que

normatiza e regula o ambulatório está publicada em veículo de comunicação de amplo e

gratuito acesso (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, 2012) (Anexo 4).

A partir de então, inicia-se seguimento ambulatorial especializado, que objetiva:

confirmar ou descartar o diagnóstico; verificar a necessidade de fórmula especial, que

tipo e em que volume; programar desencadeamento com outra fórmula ou leite; estimular

manutenção de aleitamento materno; orientar dieta geral da criança e da mãe nutriz;

orientar dieta de exclusão adequada aos alimentos envolvidos na alergia; orientar conduta

e cuidados aos escapes; ensinar leitura de rótulos e fornecer receitas alternativas. São

realizados retornos periódicos, em média a cada 3 a 4 meses, previamente agendados,

para verificação da situação clínica e realização de evolução de dieta e/ou provocação

quando apropriado. Em todos os retornos é revista a rotina alimentar e realizada

intervenção nutricional quando necessário. São entregues impressos com as orientações

importantes por escrito, bem como receitas caseiras que facilitem a adesão à dieta

proposta. Os pacientes são acompanhados até adquirirem tolerância oral. As fórmulas

especiais são dispensadas, via de regra, até os 2 anos de idade para os ainda não

tolerantes. Testes de provocação oral são realizados periodicamente (a cada 4 a 12 meses

conforme cada caso) para verificação da aquisição de tolerância oral.

Fórmulas infantis especiais constituem parte significativa dos gastos em compras

da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia – cerca de 6 milhões de reais anuais. A

prevalência estimada de alergia alimentar entre crianças está crescendo a cada década.

Portanto, a quantidade de crianças que recebem fórmulas especiais tende a se ampliar a

cada ano, expandindo também os valores gastos pelo poder público municipal.

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2 JUSTIFICATIVA

A prevalência de alergia ao leite de vaca entre crianças tem aumentado nos

últimos anos. As apresentações clínicas podem ser diversas, e muitas vezes associadas a

comorbidades, o que torna o diagnóstico clínico e laboratorial imprecisos. Existem

fatores de risco clássicos, como antecedente familiar de doença atópica e prematuridade,

e outros que tem-se destacado mais recentemente, como o uso de medicações antiácidas e

a introdução precoce ou tardia de alimentos complementares. O tratamento da APLV

demanda adesão rigorosa a dieta de exclusão de alimentos com proteínas lácteas, o que,

para lactentes, implica em uso de fórmulas infantis especiais e pode se traduzir em risco

nutricional e prejuízo pondero-estatural caso o manejo não seja adequado.

O custo financeiro das fórmulas especiais é bastante superior ao das fórmulas

infantis de partida e de seguimento cuja fonte é leite de vaca. As fórmulas de

aminoácidos chegam a ser quase dez vezes mais onerosas do que as fórmulas regulares

de leite de vaca. Apesar de serem consideradas alimento, no primeiro ano de vida, em

especial nos primeiros 6 meses, essas fórmulas passam a ser a única fonte nutricional da

criança doente, podendo então até ser considerada medicamento, essencial à sobrevida.

Sob essa premissa, justifica-se auxílio do poder público às famílias desses pacientes

através da dispensação das fórmulas especiais. Como a prevalência da alergia alimentar

tem aumentado, a dispensação destas fórmulas especiais e o custo a elas associado

também tiveram incremento significativos (AGUIAR et al., 2013; GUPTA, R. et al.,

2013; SLADKEVICIUS; GUEST, 2010a, 2010b; SLADKEVICIUS et al., 2010).

Frente a esse consequente incremento de demanda por fórmulas infantis especiais,

onerosas ao Sistema Público de Saúde, torna-se necessária uma melhor caracterização da

população-alvo de programas assistenciais, de forma a otimizar a assistência médico-

nutricional e preservar o uso adequado e racional dos recursos públicos. Através deste

conhecimento é possível também formular estratégias de prevenção, atuar sobre fatores

de risco modificáveis, capacitar para diagnóstico precoce e instituição de tratamento

adequado, evitando dietas de exclusões desnecessárias ou incompletas, enfim

favorecendo o pleno crescimento e desenvolvimento da população infantil. Pode-se ainda

subsidiar intervenções que pretendam racionalizar o uso e a dispensação de fórmulas

infantis especiais.

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Apesar dos elevados gastos dispensados pelo poder público municipal para

compra de fórmulas especiais, observa-se a ausência de avaliações anteriores sobre a

população contemplada com esses produtos em Goiânia. Nesta perspectiva, este trabalho

busca preencher essa lacuna no conhecimento por meio de uma avaliação dos pacientes

encaminhados com diagnóstico de APLV ao serviço público de referência da cidade.

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3 OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Caracterizar clínica e epidemiologicamente os pacientes encaminhados com

diagnóstico prévio de alergia a proteína do leite de vaca admitidos no Ambulatório de

Alergia Alimentar da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, a partir de dados

colhidos em prontuário de primeira consulta, ocorrida entre janeiro de 2011 e maio de

2012.

OBJETIVOS ESPECIFICOS

Descrever as manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes encaminhados

com diagnóstico prévio de APLV;

Classificar o tipo de reação adversa a proteína do leite quanto ao mecanismo

fisiopatológico;

Classificar estado de nutrição dos pacientes

Descrever as características do aleitamento materno e desmame

Descrever comorbidades associadas, incluindo Doença do Refluxo

Gastroesofágico;

Determinar frequência de utilização de fórmula de soja antes de seis meses de

vida.

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4 MÉTODOS

DELINEAMENTO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo observacional, descritivo e transversal, com utilização de

dados coletados a partir de formulário padronizado de primeira consulta, a qual ocorreu

entre janeiro de 2011 e maio de 2012.

LOCAL DE ESTUDO

Goiânia, Goiás. Ambulatório de Alergia Alimentar da Secretaria Municipal de

Saúde de Goiânia, localizado no CAIS Deputado João Natal.

Goiânia é a capital do estado de Goiás e conta com uma população estimada de

1.412.364 milhões de habitantes para o ano de 2014 (Datasus, 2014)(BRASIL et al.,

2014). De acordo com dados do Sistema de Informação de Nascidos Vivos (Sinasc), o

número de nascidos vivos entre 2010 e 2011 em Goiânia, por mães domiciliadas na

capital foi de 40.722 (MINISTÉRIO DA SAÚDE. BRASIL., [S.d.])

A rede municipal de saúde conta com um Ambulatório de Alergia Alimentar que

é referência local para acompanhamento dos pacientes portadores de alergia alimentar e

para regulação da dispensação de fórmulas infantis especiais. Atende a todas as crianças

do município de Goiânia que são encaminhadas para recebimento de fórmula especial a

ser fornecida gratuitamente pelo governo municipal.

Para acesso a esse atendimento, o paciente deve ser encaminhado por seu médico

assistente, pediatra ou especialista, tanto da rede pública de saúde quanto da rede privada,

indistintivamente, para abertura de processo de solicitação de fórmula especial. Dessa

forma, os dados disponíveis no prontuário de primeira consulta e aqui analisados

referem-se à história clínica e condução prévia do paciente por seu médico assistente.

FONTE DE DADOS

Foi utilizado como fonte de dados um formulário médico específico, padronizado,

o qual é preenchido na primeira consulta do paciente encaminhado ao serviço para

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recebimento de fórmula infantil especial (Anexo 2). Não foram compilados e analisados

dados referentes a consultas subsequentes.

Na primeira consulta esse formulário, que foi padronizado desde novembro de

2010, é preenchido pelo médico alergista. São verificados dados de história clínica,

história alimentar, medidas antropométricas, exames complementares, e ao final é feita

avaliação favorável ou contrária à dispensação da fórmula especial. É realizada

orientação médica e nutricional sobre a doença, sua evolução natural, seu tratamento,

com reforço na necessidade de adesão à dieta de exclusão, com explicação detalhada

sobre ingredientes, rótulos, sinônimos e esclarecimento de dúvidas.

Como para admissão neste ambulatório os pacientes devem ser encaminhados por

médico assistente, teoricamente já devem apresentar diagnóstico prévio e estarem em

vigência de tratamento (dieta de exclusão de leite de vaca, mesmo que ainda sem uso de

fórmula especial). Os dados coletados no prontuário de primeira consulta serão, portanto,

reflexo da história clínica e condução prévia do paciente por seu médico assistente.

Como o referido ambulatório atende em um mesmo ponto e pela mesma equipe

especializada a todas as crianças do município de Goiânia que necessitam de fórmula

especial a ser fornecida gratuitamente pelo governo municipal, pode-se dizer que este é

um estudo de base populacional.

Todo o fluxograma, critérios e modo de funcionamento deste programa são

determinados por um protocolo específico vigente desde 2010, o qual foi posteriormente

transformado em uma portaria municipal publicada em diário oficial (SECRETARIA

MUNICIPAL DE SAÚDE, 2012).

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Foram incluídos os pacientes com diagnóstico prévio de APLV encaminhados

para fornecimento de fórmula infantil especial pela SMS e atendidos no Ambulatório de

Alergia Alimentar, cuja admissão ocorreu entre janeiro de 2011 e maio de 2012.

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CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos os pacientes cuja solicitação inicial seja de fórmula infantil a

base de leite de vaca sem lactose, a qual está indicada para pacientes com intolerância a

lactose e não APLV.

VARIÁVEIS

As variáveis pesquisadas a partir do prontuário de primeira consulta foram assim

divididas:

a) informações demográficas: sexo, data de nascimento, data da consulta, idade do

paciente, idade materna, condições especiais (institucionalização, adoção);

b) dados sobre o encaminhamento: motivo do encaminhamento, nome do

prescritor, especialidade do prescritor (pediatra, alergista, gastropediatra, nutricionista ou

outro), tipo de fórmula solicitada;

c) dados sobre histórico neonatal: idade gestacional (prematuridade), peso de

nascimento, classificação quanto a idade gestacional (adequado, pequeno ou grande para

idade gestacional (LUBCHENCO LO, HANSMAN C, DRESSLER M, 1963),

intercorrências neonatais

d) dados sobre histórico alimentar: tempo de aleitamento materno exclusivo,

predominante e desmame total, oferta de fórmula na maternidade/berçário, introdução de

fórmula infantil - idade e tipo, introdução de fórmula especial - idade e tipo, primeiro

contato com leite de vaca integral, idade de introdução de dieta complementar (alimentos

sólidos), troca de fórmula, escapes com leite de vaca e sintomas relacionados

e) história clínica associada a alergia alimentar/APLV: idade de início de

sintomas, idade de diagnóstico de alergia alimentar, tempo de latência entre exposição ao

alérgeno e início dos sintomas (maior ou menor que 2 horas), presença de sinais e

sintomas por sistema orgânico acometido. Para sintomas digestórios foram pesquisados

os itens dor abdominal/cólica, diarreia, constipação, vômitos e náuseas, distensão

abdominal, flatulência, sangue nas fezes, refluxo/regurgitações/soluços. Para sintomas

cutâneos foram pesquisados: urticária, angioedema, prurido, rash cutâneo, dermatite

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crônica, Síndrome da Alergia Oral (pápulas periorais associadas ou não a angioedema de

lábio quando da ingestão de alérgeno fresco). Para sintomas respiratórios foram

considerados tosse, broncoespasmo, prurido de orofaringe, edema de laringe, rinite e

coriza. Para sintomas sistêmicos foram pesquisados baixo ganho de peso, inapetência,

anafilaxia, cefaleia, otite.

f) dieta de exclusão atual para alimentos (leite de vaca, soja, trigo, ovo, carne de

vaca e outros). A dieta de exclusão é considerada adequada quando, a partir do

questionamento ao familiar sobre os cuidados com a alimentação, verifica-se que o

paciente não ingere qualquer fonte de proteína de leite de vaca, inclusive derivados de

leite e alimentos que contenham traços de leite, e que não ocorrem escapes ou exposições

inadvertidas ao alérgeno. Quando a mãe ainda amamenta a criança, também é pesquisado

se a nutriz segue a dieta de exclusão adequadamente.

g) comorbidades e uso de medicação, incluindo especificamente o tipo e tempo de

uso de antiácidos no caso de pacientes com doença do refluxo gastroesofágico.

h) antecedente pessoal e familiar de doença atópica- asma, rinite, dermatite

atópica e/ou alergia alimentar. São anotados os parentes em primeiro grau (pai, mãe,

irmãos) com relato de atopia.

i) dados antropométricos - peso e comprimento/estatura aferidos no momento da

consulta - e alterações em exame físico

j) exames laboratoriais previamente realizados

k) Impressões diagnósticas: a classificação fisiopatológica da APLV em mediada

por IgE, não mediada por IgE ou mista é realizada a partir da interpretação da história

clínica relatada (especialmente os tipos de sintomas e o intervalo de tempo entre

exposição ao leite a ocorrência de manifestações clínicas), do relatório médico de

encaminhamento e, quando disponíveis, dos exames complementares.

ANÁLISE DE DADOS

Os dados coletados no prontuário de primeira consulta e aqui analisados referem-

se à história clínica e condução prévia do paciente por seu médico assistente, e portanto

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traçam o perfil do paciente encaminhado ao serviço. Não foram analisados dados sobre a

conduta do ambulatório no seguimento destes pacientes.

Os dados foram compilados em banco de dados utilizando o aplicativo EpiInfo

(CDC, 2008). Foi realizada estatística descritiva das variáveis acima apresentadas.

Dados antropométricos (peso e comprimento para idade, peso para comprimento e

índice de massa corporal) foram classificados através do programa WHO Anthro

software 2011 e comparados com a curva padrão (WHO, 2011).

Os testes estatísticos analíticos utilizados foram:

1) Teste de qui-quadrado de tendência linear para a determinação de tendência dos

seguintes desfechos de acordo com a faixa etária: sistema acometido, dados

antropométricos e a distribuição de pacientes com diagnóstico de DRGE e em uso de

medicação inibidoras da secreção ácida;

2) Teste t para comparação de médias de dados sobre aleitamento materno, entre a

amostra e dados nacionais oficiais.

Considerou-se nível de significância de 5% e intervalo de confiança de 95% nos

testes estatísticos.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Federal de Goiás (CEP/UFG), CAAE 06373112.9.0000.5083, parecer número 122.483,

sob anuência da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. (Anexo 1)

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30

5 RESULTADOS

CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS

No período entre janeiro de 2011 e maio de 2012 foram matriculados e atendidos

457 novos pacientes no programa de dispensação de fórmulas infantis especiais da SMS

Goiânia. Destes, oito pacientes (1,75%) foram excluídos do estudo devido à solicitação

de fórmula a base de proteína de leite de vaca sem lactose. Esses pacientes representam

1,10% dos nascidos vivos entre 2010 e 2011 em Goiânia, por mães domiciliadas na

capital de acordo com os dados do Sistema de Informação de Nascidos Vivos.

Foram incluídas, neste estudo, 449 crianças com idade média de 11,34 meses

(desvio padrão (dp) =8,03) e mediana de 9,0 meses de vida (intervalo de 1-65 meses),

sendo 247 (55%) do sexo masculino. O peso de nascimento variou entre 740g e 4250g

(média 2954g, dp=473g e mediana 3050g). Setenta e oito crianças (17,37%) nasceram

prematuras, sendo a idade gestacional mais precoce de 25 semanas. Entre os recém-

nascidos pré-termo, 35 (44,9%) foram considerados prematuros tardios (idade gestacional

maior que 34 semanas). Setenta e quatro bebês (16,48%) necessitaram de internação

prolongada devido a intercorrências neonatais. Foram consideradas adequadas, pequenas

e grandes para idade gestacional respectivamente 86,1%, 11.7% e 2,2% dos pacientes.

Seis crianças eram adotadas (1,3%) e uma criança institucionalizada (0,2%).

A idade média das mães dos pacientes foi de 30,58 anos (intervalo de 14-45 anos;

dp=5,75).

Fórmulas especiais foram solicitadas por gastropediatras em 280 ocasiões

(62,4%), seguidos por pediatras em 136 casos (30,3%), por alergistas em 26 casos (5,7%)

e por outros profissionais médicos ou não médicos (nutricionistas) em 7 casos (1,6%).

A frequência do tipo de fórmula solicitada à SMS no momento da abertura do

processo na consta na tabela 1.

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31

Tabela 1 - Tipos de fórmulas especiais solicitadas à SMS à abertura de processo

Fórmula solicitada n %

Extensamente hidrolisada sem lactose 268 59,7

Soja 85 18,9

Fórmula de aminoácidos 69 15,4

Extensamente hidrolisada com lactose 19 4,2

Parcialmente hidrolisada 8 1,8

ALEITAMENTO MATERNO

Apenas 81 pacientes (18,0%) ainda estavam em aleitamento materno no momento

da avaliação. Entre os lactentes com até 6 meses de vida, 28,5% foram admitidos em

aleitamento misto (41/144). Nenhum paciente estava em aleitamento exclusivo no

momento da consulta. A mediana de aleitamento materno exclusivo foi de 1,50 mês

(intervalo de 0-10 meses, média 2,29, dp=2,29), sendo que 48% dos pacientes (n=215)

receberam aleitamento exclusivo por menos de 1 mês e 138 (30,73%) não foram nunca

amamentados exclusivamente ao seio. Entre os 114 lactentes de 0 a 5 meses, 60 (52,6%)

não foram amamentados exclusivamente ao seio, 22 (19,3%) foram assim amamentados

por menos de 30 dias, 16 (14,0%) por 30 a 60 dias, 09 (7,9%) por até 3 meses e 07

(6,1%) por menos de 4 meses.

A média de aleitamento total foi de 5,7 meses (intervalo de 0-60,5 meses,

dp=5,99). A estimativa média de duração do aleitamento materno foi de 136,5 dias.

Houve oferta de fórmula infantil ainda na maternidade ou berçário para 150 (52,4%) de

286 pacientes cujas mães conseguiam alegar a informação.

A idade média de introdução de fórmula infantil foi de 2,7 meses (dp=3,24;

mediana 1,5 meses). O tipo de fórmula utilizada para desmame pode ser visualizada na

tabela 2. Mais de 80% das crianças (n=365) utilizaram leites com proteína intacta de leite

de vaca ao desmame (fórmulas infantis regulares a base de leite de vaca, seja de partida

ou de seguimento; fórmula de leite de vaca sem lactose ou leite de vaca).

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32

Tabela 2 - Tipo de fórmulas infantis utilizada no desmame dos pacientes

Fórmula solicitada n %

Fórmula infantil de partida 314 69,9

Fórmula infantil parcialmente hidrolisada HA 44 9,8

Leite de vaca 28 6,2

Fórmula infantil de seguimento 22 4,9

Soja 20 4,5

Extensamente hidrolisada sem lactose 14 3,1

Fórmula de aminoácidos 3 0,7

Extensamente hidrolisada com lactose 3 0,7

Fórmula de leite de vaca sem lactose 1 0,2

A introdução de alimentação complementar não láctea ocorreu em média aos 5,4

meses (dp=3,01), e a idade média de introdução de leite de vaca total foi de 7,23 meses

(intervalo de 0,3 - 21 meses).

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O início de sintomas sugestivos de alergia alimentar ocorreu em média aos 3,87

meses (dp=4,19; 0-36 meses), sendo que 31,5% dos pacientes (n=141) já apresentavam

sintomas no primeiro mês de vida e 75% dos pacientes antes dos seis meses de vida

(n=337). A idade média ao diagnóstico de APLV foi de 6,67 meses (n=271, intervalo de

0,25-48 meses). Aos doze meses de idade, 89% dos pacientes já apresentavam

diagnóstico de APLV.

O sistema orgânico mais frequentemente acometido por sintomas foi o trato

digestório. Do total de 449 pacientes, 410 (91,31%) referiram algum sintoma

gastrintestinal, sendo que 51,4% (n=231) apresentaram vômitos ou náuseas, 47,9%

(n=215) apresentaram diarreia, 47,7% (n=214) apresentaram refluxo, regurgitações ou

soluços, e 27,4% (n=123) apresentaram sangue nas fezes.

Em seguida, as queixas principais incidiram sobre sintomas sistêmicos ou

inespecíficos, referidos por 164 pacientes (36,50%). Baixo ganho ponderal (n=91;

20,3%), inapetência (n=58; 12,9%) , irritabilidade (n=50; 11,1%) e alterações do sono

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33

(n=11; 2,5%) foram os sintomas mais relatados. Somente três pacientes apresentaram

antecedente de quadro sugestivo de anafilaxia. Sintomas respiratórios foram queixados

por 70 pacientes (15,6%), com destaque para broncoespasmo (n=44; 9,8%), tosse

(n=27;6,0%), coriza / rinite (n=18; 4,0%) e otite (n=13; 2,9%). Não houve relato de

queixa de edema de laringe ou prurido de orofaringe. Entre os sintomas cutâneos

referidos por 56 pacientes (12,47%), destacam-se a dermatite (75%) e urticaria (25%).

Sintomas do trato digestório apareceram como sintomas exclusivos para 209

pacientes (46,5%), seguidos por sintomas sistêmicos isolados em dez casos (2,22%).

Apenas 39 pacientes não se queixaram de sintomas gastrintestinais (8,68%).

A intercessão entre tipos de sintomas apresentados pelos pacientes é apresentada

na figura 2. A combinação entre sistemas orgânicos acometidos por sintomas mais

frequente foi sistema digestório e sistêmico (n=119; 26,50%). A frequência absoluta de

apresentação de sintomas é apresentada na figura 3.

Figura 2 - Gráfico de intercessão entre tipos de sintomas apresentados pelos pacientes

Os números representam a quantidade de pacientes que apresentou cada sintoma ou conjunto de

sintomas. Em verde sintomas relacionados ao trato digestório, em roxo sintomas sistêmicos ou

inespecíficos, em azul sintomas do trato respiratório e em laranja sintomas cutâneos.

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34

Figura 3 - Frequência absoluta de sintomas referidos em história clínica, por sistema

orgânico acometido.

Representação dos sintomas relatados pelos pacientes, categorizados por sistema orgânico acometido:

sintomas sistêmicos em roxo, sintomas cutâneos em laranja, sintomas digestórios em verde e sintomas

respiratórios em azul. *n total =449

70

44

0

0

18

27

13

410

49

215

112

152

64

214

123

231

56

5

42

3

4

7

14

164

11

50

91

58

3

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

TRATO RESPIRATÓRIO

Broncoespasmo

Edemade laringe

Prurido de orofaringe

Rinite / Coriza

Tosse

Otite

TRATO DIGESTÓRIO

Constipação

Diarreia

Distensão Abdominal

Dor abdominal / Cólicas

Flatulência

Refluxo / Regurgitação / Soluços

Sangue nas fezes

Vômitos e náuseas

PELE E MUCOSAS

Angioedema

Dermatite

Prurido

Rash

Sd Alergia Oral

Urticária

SINTOMAS SISTÊMICOS

Alteração de Sono

Irritabilidade

Baixo Ganho de peso

Inapetência

Anafilaxia

(n*)

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35

A distribuição dos tipos de sintomas conforme sistema acometido e estratificada

por faixa etária é apresentada na tabela 3. Após estratificação por faixa etária, observou-

se uma tendência significativa de redução da frequência de sintomas digestórios com o

aumento da faixa etária (0 a 5 meses: 93,8%; >24 meses: 80,6%; X² tendência linear=

7,60; p<0,01). Observou-se também uma tendência de aumento da frequência de

sintomas respiratórios com o avançar da idade (0 a 5 meses: 8,8%; >24 meses19,4%;

X²tendência linear = 6,09, p<0,05), assim como de sintomas cutâneos (X² tendência

linear=10,12; p<0,01). Esta tendência não é verificada para sintomas sistêmicos.

Tabela 3 - Distribuição de tipos de sintomas reunidos por sistema orgânico acometido,

estratificados por faixa etária dos pacientes

Sintoma /

Idade

n Digestório

(%)

Respiratório

(%)

Cutâneo

(%)

Sistêmico

(%)

Geral 449 410

(91,3)

70

(15,6)

56

(12,5)

150

(33,4)

0-5 meses 114 107

(93,8)

10

(8,8)

04

(3,5)

33

(28,9)

6-11 meses 160 151

(94,4)

24

(15)

23

(14,4)

51

(31,9)

12-24 meses 139 123

(88,5)

29

(20,9)

21

(15,1)

55

(39,6)

>24 meses 36 29

(80,6)

07

(19,4)

08

(22,2)

11

(30,6)

p* <0,01 <0,05 <0,01 0,22

* teste de X2 de tendência linear

ANTROPOMETRIA

Dados antropométricos foram compilados e classificados segundo padrões de

referência da Organização Mundial de Saúde (2006), adotados pelo Ministério da Saúde

do Brasil e são apresentados na tabela 4. Para todos os parâmetros avaliados, as crianças

prematuras tiveram sua idade corrigida para o equivalente a 40 semanas de idade

gestacional. Em geral, observa-se déficit de peso, comprimento e índice de massa

corporal (IMC) em relação à população normal, com desvio da curva para baixo e para

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36

esquerda quando comparada à curva padrão. O percentual de déficit de peso (peso baixo

ou muito baixo; z<-2 para peso/idade) chega a 13,3% entre menores de 6 meses, porém

não se observa tendência de modificação significativa conforme faixa etária. Observa-se

tendência estatisticamente significante de redução do estado de magreza conforme IMC à

medida que se avança de lactente jovem até 24 meses (0 a 5 meses: 15,4%; >24 meses:

9,7% X² tendência linear= 5,26; p=0,022) bem como redução do estado de magreza

acentuada com a idade. ( (X2

de tendência linear=3,85; p<0,05). Em média, 12,1%

(dp=1,33) da amostra encontra-se com peso para idade abaixo do esperado e 10,5%

(dp=1,42) apresenta baixa estatura. As curvas de peso para comprimento, comprimento

para idade, peso para idade e IMC para idade são apresentadas nas figuras 4-7.

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Tabela 4 - Classificação de dados antropométricos segundo escores Z, padrão OMS 2006, estratificados por idade em meses

0-5m

(n=120)

6-11m

(n=153)

12-23m

(n=139)

≥24m

(n=32)

Geral p*

Peso/comprimento %Z<-3dp Magreza acentuada 2,5 2,6 0,7 6,5 2,3 0,89

%Z<-2dp Magreza 10,2 11,9 5,8 16,1 9,8 0,65

Média

dp

-0,6

±1,22

-0,54

±1,32

-0,58

±1,08

-0,55

±1,33

-0,57

±1,22

Comprimento/idade %Z<-3dp Muito baixa estatura 6,8 2 4,4 3,2 4,1 0,31

%Z<-2dp Baixa estatura 12 4,7 15,3 12,9 10,5 0,32

Dp ±1,6 ±1,36 ±1,31 ±1,29 ±1,42

Peso/idade %Z<-3dp Muito baixo peso 6,7 3,3 4,3 6,5 4,7 0,56

%Z<-2dp Baixo Peso 13,3 11,1 11,5 16,1 12,1 0,95

Dp ±1,39 ±1,29 ±1,28 ±1,47 ±1,33

Índice de Massa

Corporal/idade

%Z<-3dp Magreza acentuada 2,6 3,3 0 0 1,8 <0,05

%Z<-2dp Magreza 15,4 13,3 5,8 9,7 11,2 <0,05

%+1<z<+2dp Risco de sobrepeso 5,1 12 9,4 9,7 9,1 0,375

%z>+2dp Sobrepeso 0 1,3 0,7 6,5 1.1 0,08

Média -0,81 -0,59 -0,49 -0,49 -0,61

Dp ±1,16 ±1,31 ±1,06 ±1,28 ±1,19

*Teste de X2 de tendência linear.

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38

Figura 4 - Curva ajustada de peso para comprimento, referência OMS 2006

Figura 5 - Curva ajustada de comprimento para idade, referência OMS 2006

Figura 6 - Curva ajustada de peso para idade, referência OMS 2006

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39

Figura 7 - Índice de Massa Corporal para idade, referência OMS 2006

USO DE FÓRMULAS ESPECIAIS E DIETAS DE EXCLUSÃO

No momento da admissão ambulatorial, 323 crianças (71,9%) já haviam

consumido fórmulas extensamente hidrolisadas (FeH) - com ou sem lactose - com

finalidade de tratamento e dieta de substituição, sendo a mediana de início de uso aos

5,5 meses (0,3 - 53 meses). As fórmulas de aminoácidos (Faa), por sua vez, foram

consumidas por 65 pacientes (14,5%) a partir de idade mediana de 5,0 meses (0,8-22

meses). Em 57 casos (17,6%) houve necessidade de substituição de FeH por Faa,

considerando-se falha de tratamento com fórmula extensamente hidrolisada, sendo que

o tempo médio de uso de FeH para então troca por Faa foi de 1,69 meses (±2,21;

mediana 1,0).

Fórmulas de soja foram consumidas por 297 pacientes (66,1%), a partir de uma

idade média de 6,57 meses (0,3 - 49 meses), sendo que 146 pacientes (49,2%) tinham

menos de 6 meses de idade ao iniciar seu consumo (32,5% de toda a amostra). Dados

disponíveis para 139 pacientes evidenciaram que as FPIS foram prescritas em 75,5%

dos casos por pediatras (n=105) e em 22,3% dos casos por gastropediatras (n=31).

Na ocasião do primeiro atendimento, a proporção de pacientes que relatavam

estarem realizando dieta de exclusão para alimentos era: leite de vaca 75,9%; soja

52,6%, ovo 14,0%, trigo 9,1%, outros alimentos 8,7%; e dieta de restrição de frutose

3,3%. Não haviam dados disponíveis sobre se a dieta de exclusão foi orientada para fins

de prevenção de novas sensibilizações ou de tratamento de alergia alimentar múltipla.

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40

A dieta de exclusão completa para leite de vaca, a qual é a base do tratamento da

APLV, foi considerada adequada, sem evidência de escapes ou contaminações, para

55% dos pacientes (137/249). Da mesma forma, a dieta de exclusão da mãe nutriz foi

considerada adequada em 46,9% dos casos (26/49). As informações sobre dieta de

exclusão estavam disponíveis para 71,1% dos 350 pacientes admitidos já consumindo

dieta complementar e 60,5% das 81 mães ainda em aleitamento à admissão.

COMORBIDADES

DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO

A prevalência de pacientes admitidos com diagnóstico prévio de DRGE foi de

67,9% (n=305), sendo que 274 destas crianças (89,83%) estavam em uso atual de

inibidores da secreção ácida (ranitidina e/ou inibidores de bomba de prótons). A

mediana de idade de início de medicação antirrefluxo foi aos 3,0 meses de idade (0,2-29

meses), e ao completarem 6 meses de vida 77,8% dos pacientes (n=237) com este

diagnóstico já haviam iniciado tratamento medicamentoso. A mediana de início de cada

classe medicamentosa, em meses de idade, foi: ranitidina 2,0 (0,1-60), IBP 6,0 (0,5-28),

procinético 3,0 (0,1-60). Os esquemas de uso de medicação para DRGE à admissão são

demonstrados na tabela 5.

Tabela 5 - Medicamentos em uso para tratamento de Doença do Refluxo

Gastroesofágico, à admissão

Medicamentos n %

Ranitidina 20 7,58

Inibidor de Bomba de Prótons (IBP) 40 15,15

Procinético 10 3,79

Ranitidina + Procinético 103 39,01

IBP + Procinético 83 31,44

Ranitidina + IBP 08 3,03

Total 264 100

A distribuição por faixa etária do diagnóstico de DRGE e do uso de medicação

inibidora da secreção ácida (ranitidina ou IBP) constam na tabela 6. Não foi observada

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41

tendência estatisticamente significante entre faixas etárias para as variáveis proporção

de pacientes com diagnósticos de DRGE e proporção de pacientes em uso de medicação

antiácida.

Tabela 6 - Distribuição, por faixa etária, de pacientes com diagnóstico de DRGE e em

uso de medicação para inibição da secreção ácida (ranitidina ou inibidores da bomba de

prótons)

0-5 meses

(%)

6-11 meses

(%)

12-23 meses

(%)

≥24 meses

(%)

Geral

(%)

DRGE 78

(68,4)

112

(70)

92

(66,2)

23

(63,9)

305

(67,9)

Medicação

antiácida

71

(62,3)

84

(52,5)

72

(51,8)

19

(52,8)

246

(54,8)

À admissão no ambulatório, como parte da investigação complementar diante da

suspeita de DRGE, 39 pacientes haviam realizado endoscopia digestiva alta, com

achado de esofagite em 35 pacientes e de duodenite em 34 pacientes. A idade média dos

pacientes era de 22,19 meses (10-65meses). Seis pacientes preencheram critério para

diagnóstico de doença eosinofílica gastrintestinal. Cinquenta e cinco pacientes

submeteram-se a pHmetria esofágica de 24 horas, tendo-se verificado índice de refluxo

médio de 15,75 (intervalo de 1,12 - 60,1); sendo em 29,1% dos casos menor que 5,

valor de referência de normalidade. Radiografia contrastada de esôfago, estômago e

duodeno foi realizada por 45 pacientes, sendo em 39 casos com demonstração de

episódios de refluxo e em nenhum caso demonstrou-se anormalidade anatômica.

Cintilografia esofágica foi executada por 27 pacientes, com achados sugestivos de

DRGE em todos os casos.

ATOPIA PESSOAL

Apenas 35 dos 449 pacientes apresentava como antecedente pessoal o

diagnóstico prévio de doença atópica (asma, rinite, dermatite atópica), com distribuição

conforme tabela 7. Quarenta e sete crianças (10,5%) apresentaram o diagnóstico de

Lactente sibilante (Síndrome do bebê chiador).

Seis pacientes apresentaram relato anterior de reação alérgica clara a outros

alimentos: banana (1), amendoim (1), manga (1), tomate (1, com anafilaxia), ovo (2).

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42

Tabela 7 - Frequência de diagnóstico prévio de doença atópica entre pacientes com

APLV

Tipo de doença atópica n % % do total

(449)

Asma 17 48,6 3,79

Rinoconjuntivite alérgica 07 20 1,56

Dermatite atópica 3 8,6 0,67

Asma + Rinoconjuntivite 5 14,3 1,11

Asma + Dermatite atópica 1 2,9 0,22

Rinoconjuntivite + Dermatite 1 2,9 0,22

Asma + Rinoconjuntivite + Dermatite 1 2,9 0,22

OUTRAS COMORBIDADES

Dezenove crianças apresentaram diagnóstico concomitante de intolerância a

frutose/sacarose. Treze pacientes eram neuropatas portadores de atraso de

desenvolvimento neuropsicomotor. As outras comorbidades apresentadas pelos

pacientes foram: síndromes genéticas (6), cardiopatias congênitas (6),

mielomeningocele (1), doenças metabólicas - tirosinemia (1), galactosemia (1),

glicogenose (1)- , atresia de esôfago (2), estenose de piloro (1), displasia

broncopulmonar (3), bronquiolite obliterante (1), laringomalácea (1), distúrbios de

deglutição (2), hepatite auto-imune (1), Síndrome nefrótica (1), hiperplasia adrenal (1),

doença celíaca (2), sequelas de infecções congênitas (2). Destas, apenas galactosemia e

glicogenose determinam necessidade de uso de fórmula especial independentemente da

presença de alergia alimentar.

ATOPIA FAMILIAR

Dos 333 familiares que souberam relatar, 255 (76,58%) referiram história

positiva de doenças atópicas (asma, rinite, dermatite atópica ou alergia alimentar) entre

parentes de primeiro grau do paciente. A queixa mais comum foi de rinite alérgica (167

casos; 65,5%) seguida por asma (112 casos; 43,9%), alergia alimentar (79 casos; 31%) e

dermatite atópica (27 casos; 10,6%). Em relação ao parentesco, houve relato positivo de

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atopia na seguinte ordem: mãe (70), pai e mãe (47), pai (39), irmão (39), mãe e irmão

(31), pai e mãe e irmão (15), pai e irmão (14).

CLASSIFICAÇÃO DA ALERGIA ALIMENTAR

Baseando-se nos dados clínicos de prontuário desta primeira consulta

ambulatorial, os pacientes admitidos foram classificados no formulário quanto ao

diagnóstico em: APLV não mediada por IgE (397 casos, 88,4%), APLV mista (n=35,

7,8%) e APLV mediada por IgE em 3,8% (17 casos). Apenas três pacientes

apresentaram história clínica sugestiva de anafilaxia. Para 128 pacientes (28,5%) a soja

também foi implicada na ocorrência de alergia, e para 21 (4,7%) deles outros alimentos

também foram associados à doença, considerando-se alergia alimentar múltipla.

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6 DISCUSSÃO

Em todo o mundo, o recente e real incremento de casos de alergia alimentar,

incluindo APLV, tem disparado maior interesse da comunidade científica em

reconhecer melhor a doença para traçar melhores estratégias diagnósticas e terapêuticas

(PRESCOTT et al., 2013; RONA et al., 2007). Neste estudo, o reconhecimento de

peculiaridades regionais, tais como a predominância de casos não mediados por IgE, o

comprometimento precoce do ganho ponderal, o baixo índice de aleitamento materno e

a elevada associação com diagnóstico prévio de DRGE, pode contribuir para o melhor

direcionamento de ações de saúde pública.

A alergia a proteína do leite de vaca apresenta maior prevalência entre lactentes

jovens, podendo atingir de 2 até 8% das crianças, conforme local e metodologia de

estudo (BEN-SHOSHAN et al., 2012; CHAFEN et al., 2010). Poucos dados estão

disponíveis sobre incidência e prevalência desta doença no Brasil. Estudo observacional

conduzido por Vieira et al através de contato telefônico com gastropediatras brasileiros

sugere prevalência de 5,4% e incidência de 2,2% (VIEIRA et al., 2010). Estudo

multicêntrico brasileiro de Naspitz et al. evidenciou prevalência de sensibilização a

alérgenos alimentares através da IgE específica significativamente maior entre crianças

atópicas que entre controles. Para o caso específico de leite de vaca, a positividade de

IgE específica pela técnica RAST foi de 20,3% entre atópicos e 3,2% de controles

(NASPITZ et al., 2004).

Nesta dissertação foi traçado o perfil clínico de pacientes em uso de fórmulas

infantis especiais atendidos em um ambulatório especializado, sendo que a amostra

representa 1% dos lactentes nascidos vivos de mães domiciliadas na cidade no período.

Este estudo não permite o cálculo da prevalência ou incidência da alergia alimentar em

Goiânia.

CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA

Observou-se nesta amostra predominância absoluta de quadros não mediados

por IgE (88,4%) e com sintomas relacionados ao trato digestório (91,3%). Pacientes

foram encaminhados por médicos especialistas, gastropediatras, em mais de 60% dos

casos, o que aumenta a chance de interpretação verdadeira de doença, e não superestima

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a interpretação equivocada de pais, típica da alergia alimentar (GUPTA, R. S. et al.,

2013).

Em um estudo retrospectivo conduzido em Uberlândia- MG, observou-se que,

de 228 pacientes com alergia alimentar confirmada, 73,68% apresentaram quadros não

mediados por IgE. Os sintomas mais frequentes foram náuseas e vômitos (51,7%), dor

abdominal (45,6%), diarreia (32,0%) e sangue nas fezes (31,1%). Leite de vaca foi o

alérgeno causador de 90% desses casos de alergia alimentar (COSTA et al., 2014).

Recente publicação de Aguiar et al descreveu características do Programa de

avaliação da indicação e uso de fórmulas infantis especiais para alergia a proteína do

leite de vaca - PAIUFA- da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Naquele

Estado, a dispensação de fórmulas especiais é de responsabilidade estadual e não

municipal, e está concentrada no referido centro universitário. O estudo analisou

amostra de 214 pacientes de até 3 anos de idade (média 9,0 meses) selecionados num

período de 2,5 anos e verificou predominância de sintomas digestórios em 81,8% (mais

comuns diarreia, sangue nas fezes e vômitos), seguidos de cutâneos em 36,9% (urticaria

e dermatite atópica nesta ordem). Não houve descrição de casos de anafilaxia (AGUIAR

et al., 2013).

O inquérito de Vieira et al entre gastropediatras de 20 diferentes cidades

brasileiras evidenciou predomínio absoluto de queixas gastrintestinais, perfazendo

96,2% de acometimento em lactentes menores de 6 meses de idade, 82,4% entre 6 e 12

meses e 79,3% entre 12 e 24 meses, com diferença estatisticamente significante entre as

faixas etárias. Apresentaram sintomas digestórios exclusivos 46,5% dos pacientes. Os

sintomas mais comuns foram vômitos e regurgitações (53,5%), cólicas (34,0%), diarreia

sem sangue (18,9%), constipação (15,7%), sangue nas fezes não-diarreicas (14,5%) e

diarreia sanguinolenta (6,3%). Sintomas sistêmicos também constaram como segunda

queixa mais frequente neste estudo, atingindo de 24,5% das crianças em média.

Sintomas respiratórios (19,5%) foram mais comuns que sintomas cutâneos (18,2%)

nesta amostra (VIEIRA et al., 2010).

Este estudo está, portanto, de acordo com as casuísticas nacionais no que

concerne a predominância de sintomas digestórios e sistêmicos, desencadeados por

mecanismos não mediados por IgE. Isto, entretanto, difere da literatura internacional,

que coloca os quadros mediados por IgE com prevalência estimada de 60%, sintomas

cutâneos como predominantes, e sintomas gastrintestinais afetando 25 a 50% dos

pacientes (KOLETZKO et al., 2012; SICHERER, 2003; VENTER et al., 2013).

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A escassez de casos encaminhados por anafilaxia ao leite (apenas 3 casos)

também difere da literatura internacional, segundo a qual em algumas populações a

anafilaxia chega a ser manifestação em 10% dos casos de APLV, mas reflete dados

epidemiológicos nacionais, em que raramente são citados. Inquérito nacional entre

alergistas associados da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai)

registrou 16 casos de anafilaxia em menores de 5 anos, num período de 24 meses, sendo

4 casos devido a alimentos - ovo em três casos e leite de vaca em apenas 1 caso

(BERND et al., 2010). Na América Latina, alimentos foram desencadeantes da maior

parte das reações alérgicas graves em lactentes de até 4 anos (47,1%), sendo o leite de

vaca responsável por 27,5% dos casos, a causa mais comum (SOLE et al., 2011).

Pode-se especular algumas razões para as divergências encontradas entre a

literatura internacional e a brasileira. Os estudos nacionais são realizados em sua maior

parte por serviços de gastropediatria e não de alergia pediátrica. Poucos centros de

referência no país possuem as duas especialidades em conjunto. Há uma tendência

natural, neste caso, de os pacientes apresentarem sintomas predominantemente

gastrintestinais, e menos cutâneos e respiratórios; e de a alergia alimentar ser

classificada como não mediada por IgE. Além disso, os pacientes com quadros

mediados por IgE e que já completaram mais de 6 meses de idade beneficiam-se das

fórmulas de soja como terapia preferencial. Estas fórmulas (FPIS) são atualmente as de

mais fácil aceitação pelos pacientes, têm menor custo e são mais facilmente encontradas

no mercado. Como seu custo é o mais próximo das fórmulas regulares, é de se esperar

que menos pacientes necessitem de auxílio do poder público para consumi-las

regularmente. Em relação à anafilaxia, esta é uma doença grave, potencialmente fatal,

mas de notificação frequentemente negligenciada por socorristas e pelos próprios

pacientes. Muitas vezes os pacientes anafiláticos são tratados apenas em serviços de

emergência, não por especialistas em conjunto.

ANTROPOMETRIA

Em relação aos achados da análise de dados antropométricos, é notória a elevada

prevalência de déficit de peso para idade e IMC para idade quando comparada à curva

de normalidade da OMS (2006). Vieira et al encontraram déficit de peso para idade

variando de 9,8 a 20,7% conforme idade, mas consideraram como curva referência o

padrão americano NCHS 2000 de crianças não amamentadas (VIEIRA et al., 2010). Já

no estudo potiguar, que usou como referência as curvas OMS 2006, observou-se déficit

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de IMC para idade em 8,7% das crianças admitidas já em uso de fórmula especial, e em

41,7% dos pacientes em uso de leite de vaca (AGUIAR et al., 2013). No estudo de

Costa et al, o déficit de peso para idade foi de 18.4%, de comprimento para idade de

15.9% e de IMC para idade de 15,4% (COSTA et al., 2014).

Em se tratando de alergia alimentar na infância precoce, alguns fatores

contribuem para a determinação de estados de sub- e desnutrição. A própria doença

pode determinar sintomas como vômitos, diarreia, inapetência e recusa alimentar, que

determinam menor ganho calórico, e também síndromes disabsortivas ou perdas

intestinais de nutrientes por aumento de permeabilidade mucosa. Além disso, tanto o

atraso no diagnóstico e instituição de tratamento dietético adequado quanto dieta de

restrição desbalanceada e desnecessária também estão associados a pior desempenho de

peso e estatura (MEHTA et al., 2013a; PEREIRA; PEREIRA, 2008).

Em ambulatório especializado de gastropediatria, crianças paulistas em dieta de

exclusão para leite de vaca apresentaram consumo calórico, proteico, lipídico e de

cálcio e fósforo significativamente inferiores que crianças sem restrição dietética, o que

se refletiu em avaliações antropométricas significativamente inferiores entre os restritos

(MEDEIROS et al., 2004). Em geral, é de se esperar que crianças com alergia alimentar

apresentem menor crescimento e deficiências nutricionais (MEHTA et al., 2013b;

ROBBINS et al., 2014). Um estudo, ao contrário, observou não haver diferença

antropométrica entre alérgicos a leite e controles, quando a dieta de exclusão foi

adequada (BERRY et al., 2015). Na presente amostra, nota-se especialmente o

comprometimento precoce, antes dos seis meses de vida, do estado nutricional dessas

crianças. Neste momento extremamente vulnerável da vida, a ausência de aleitamento

materno exclusivo, a presença de sintomas digestórios como vômitos e diarreia, e a

dificuldade em se instituir terapêutica adequada em curto tempo podem ser fatores

associados a alto índice de déficit nutricional (13,3% dos menores de 6 meses com peso

para idade z<-2). Ademais, o intervalo médio entre o início dos sintomas e o início do

consumo de FeH, a primeira escolha para a grande maioria dos casos de APLV, foi de

1,63 meses, tempo relativamente longo para bebês menores de 6 meses.

ALEITAMENTO MATERNO

O aleitamento materno exclusivo até pelo menos 4 meses de vida parece ser a

medida até o momento mais eficaz para prevenção de alergia alimentar, apesar de ainda

haver controvérsias (GREER et al., 2008; GRIMSHAW et al., 2013; KRAMER;

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KAKUMA, 2012a; LONGO et al., 2013; MURARO; HALKEN; et al., 2014;

SNIJDERS et al., 2008). Apresenta inúmeras vantagens, tais como ser nutricionalmente

completo e adaptado ao organismo humano, ter composição variável no tempo

conforme necessidade do organismo, ter fatores imunológicos de proteção como IgA

secretora e fator bífido, promover maior vínculo do binômio mãe-filho, estar pronto

para consumo na temperatura ideal, não ter risco de contaminação, estar diretamente

relacionado à redução de morbidade e mortalidade infantil por pneumonia e diarreia,

prevenir a longo prazo doenças crônico-degenerativas como diabetes e obesidade (Horta

& Victora, 2013).

Dados da II Pesquisa Nacional sobre Aleitamento Materno demonstraram

prevalência de aleitamento materno exclusivo aos 6 meses de idade de 41,0% (IC 39,7-

42,4) para o Brasil, e 32,7% (IC 29,5 - 36%) para Goiânia, sendo ambos interpretados

como indicadores ruins segundo classificação da OMS. Goiânia apresentou o segundo

pior índice entre todas as capitais brasileiras. A mediana de aleitamento materno em

menores de um ano foi de 341,59 dias (IC 331,79-352,43) no Brasil e de 310,95 dias

(IC 288,5-340,37) em Goiânia (MINISTÉRIO et al., 2009; VENANCIO et al., 2010).

Na amostra deste estudo, as médias e medianas de aleitamento materno exclusivo e total

foram significativamente inferiores aos dados da capital. A média de aleitamento total

foi de 5,7 meses (0-60,5 ±5,99). A estimativa média de duração do aleitamento materno

foi de 136,5 dias, inferior à da média da cidade de Goiânia (310,95 dias) e do Brasil

(341,59 dias). Tem-se neste caso também viés de seleção, pois se a admissão no

ambulatório parte de um pedido de fórmula especial, fica claro que a manutenção do

aleitamento exclusivo não foi possível, mesmo na vigência de dieta de exclusão

materna. Não explica porém a baixa proporção de aleitamento total, e tampouco a

escassez de pacientes que foram admitidos ainda em aleitamento (apenas 18%), já que a

idade mediana dos pacientes (9,0 meses) é inferior à estimativa de duração do

aleitamento total na cidade (~10,3 meses). Não foram encontrados outros dados

nacionais que relacionem aleitamento materno e alergia alimentar.

Ainda segundo a II Pesquisa Nacional sobre Aleitamento Materno, em Goiânia,

o consumo de outros leites que não leite materno apresentou proporção de 16,7% para

recém-nascidos, 21,8% para lactentes de 30-60 dias de vida, 33,3% entre 60-90 dias,

39,8% entre 90 e 120 dias, e 47,2% entre 4 e 6 meses de idade (BORTOLINI et al.,

2013; MINISTÉRIO et al., 2009). A média de introdução de fórmula infantil

complementar nesta amostra foi precoce, aos 2,7 meses (±3,24; mediana 1,5 meses).

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Aos 4 meses de idade, 75,5% das crianças da amostra já estavam consumindo fórmulas

infantis. A idade média de introdução de leite de vaca total foi de 7,23 meses (0,3 - 21

meses), sendo atualmente recomendado somente a partir de 12 meses (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE PEDIATRIA SBP, 2012).

Mais de 80% das crianças utilizaram leites com proteína intacta de leite de vaca

ao desmame, sendo a fórmula infantil de partida o tipo predominante. O leite de vaca

total foi o terceiro tipo mais comum de leite ao desmame, apesar de já não ser mais

recomendado nem pela Sociedade Brasileira de Pediatria nem pelo Ministério da Saúde

do Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010; SOCIEDADE BRASILEIRA DE

PEDIATRIA SBP, 2012). Apesar da elevada proporção de pacientes relatar antecedente

de atopia familiar (76,58%), menos de 10% dos bebês foram desmamados com fórmulas

de alergenicidade reduzida, parcialmente hidrolisadas. Atualmente, o consumo de

fórmulas hidrolisadas (parcialmente ou extensamente) no momento do desmame e por

cerca de 4 meses é considerado medida de prevenção de doenças atópicas para crianças

com antecedente familiar de atopia (pai, mãe e/ou irmãos com antecedente de asma,

rinite alérgica, dermatite atópica e/ou alergia alimentar) (FIOCCHI et al., 2010;

FLEISCHER et al., 2013; MURARO; HALKEN; et al., 2014; OSBORN; SINN,

2006b).

Antes de completarem 6 meses de vida, 32,5% de todos os pacientes da amostra

já haviam consumido fórmula de soja. O consumo de fórmula de soja entre menores de

6 meses de idade foi de 44,8% (43/96) em estudo nordestino (AGUIAR et al., 2013).

Atualmente, as sociedades nacionais de pediatria e alergia não recomendam esta

conduta, seguindo as recomendações oficiais de órgãos internacionais (AMANCIO et

al., 2012; FIOCCHI et al., 2010; KOLETZKO et al., 2012; SILVA et al., 2008;

VENTER et al., 2013). Ademais, para quadros não mediados por IgE, que representam

a maioria dos pacientes desta amostra, a fórmula infantil de escolha para tratamento

inicial seria do tipo extensamente hidrolisado e não de proteína isolada de soja. O

elevado consumo de FPIS nesta amostra poderia estar relacionado à facilidade de

acesso, maior variedade de marcas no mercado e custo bem inferior ao de fórmulas

hidrolisadas.

Fórmulas extensamente hidrolisadas conceitualmente devem ser bem toleradas

por pelo menos 90% dos pacientes alérgicos a leite. O índice de insucesso de uso de

fórmula hidrolisada com necessidade de troca para fórmula de aminoácidos nesta

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amostra foi de 17,65% e é superior ao habitualmente propagado pela indústria (até 10%)

(KOLETZKO et al., 2012).

A introdução de alimentação complementar em vigência de aleitamento materno

está relacionada a indução de maior estado de tolerância e menor risco de alergia. O

período entre 4 e 7 meses de vida parece ser o ideal para introdução de alimentos,

inclusive de maior potencial alergênico, e tem sido denominado janela de tolerância

(PRESCOTT et al., 2008). Para lactentes de risco para atopia, o uso de fórmulas

hidrolisadas ao desmame está associado e menor risco de doenças alérgicas que o uso de

fórmulas regulares (BADINA et al., 2012; GREER et al., 2008; GRIMSHAW et al.,

2013; SNIJDERS et al., 2008). Nesta amostra, observamos que a introdução de dieta

não láctea ocorreu dentro deste período "ideal", em média aos 5,4 meses, sendo que

apenas três pacientes relataram que este início se deu antes dos 4 meses de idade.

Publicação do Ministério da Saúde do Brasil descreveu que 21,9% das crianças

goianienses já recebiam sucos aos 120 dias de vida; entre 0-3 meses 1,3% consumiam

frutas e 0,6% dos lactentes consumiam comida salgada; e entre 3 e 6 meses de idade

21,4% consumiam frutas e 14,3% consumiam comida salgada. O consumo de bolachas

e salgadinhos foi observado entre 10,5% das crianças de 3-6 meses e entre alarmantes

54,5% dos lactentes de 6-9 meses (MINISTÉRIO et al., 2009), o que confirma a

dificuldade da população em seguir os Dez passos para alimentação saudável propostos

pelo Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Considerou-se que pouco mais da metade dos pacientes (55%) realizava dieta de

exclusão apropriada para alergia alimentar, e menos de metade das mães lactantes

(47%) cumpriam esta dieta adequadamente. Estes dados revelam a dificuldade das

famílias e também dos profissionais em lidar com restrições alimentares, especialmente

pelo fato de o leite de vaca e a soja serem alimentos base de boa parte das receitas

cotidianas. Sabe-se que a dieta de exclusão para qualquer alimento envolve não apenas a

retirada do alimento em si, mas de todos os seus derivados e possíveis contaminantes.

Isto deve incluir a leitura de rótulos de alimentos, cosméticos e

medicamentos4444444444 e noções de segurança alimentar (MURARO; WERFEL; et

al., 2014; SILVA et al., 2008). Estudo brasileiro sobre desempenho de pais de crianças

em dieta de exclusão na identificação de produtos industrializados contendo ou não leite

de vaca demonstrou que a minoria dos pais já orientados sobre leitura de rótulos soube

relacionar nomes técnicos como caseína e lactoalbumina a sinônimos de leite de vaca

(WEBER et al., 2007). Outro estudo brasileiro sobre rotulagem e alergia alimentar

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revelou que menos de 60% das famílias tinham hábito de ler rótulos de alimentos, e que

48% tinham dúvidas nessas leituras. Somente um de 52 entrevistados foi capaz de

analisar corretamente todos os rótulos testados em um exercício prático (GUSHKEN et

al., 2009). Estudo sobre o conhecimento de pediatras e nutricionistas sobre tratamento

de APLV revelou erro conceitual no que se refere às principais recomendações

terapêuticas, inclusive em relação aos substitutos de leite de vaca, rotulagem e consumo

de cálcio (TOPOROVSKI et al., 2007).

ASSOCIAÇÃO COM DRGE

Sintomas de DRGE e APLV podem se sobrepor, o que dificulta o diagnóstico e

o manejo clínico. É preciso muito cuidado na avaliação destes pacientes, tanto para

diferenciar refluxo fisiológico de refluxo doença, quanto para atribuir o real valor do

leite na patogênese da DRGE individualmente (SICHERER, 2003). A confusão destas

condições e seus tratamentos simultâneos frequentemente provocam exageros tanto em

tratamento farmacológico quanto em dieta de exclusão desnecessários (FERREIRA et

al., 2014).

Nesta amostra, queixas de vômitos/náuseas e refluxo/regurgitação/soluços foram

as mais comuns entre os pacientes, referidas respectivamente por 51,45% e 47,66% das

crianças. Observou-se ainda elevada prevalência de diagnóstico prévio de DRGE

(67,9%), e ainda quase 90% destes pacientes estavam medicados com drogas antiácidas,

cujo início ocorreu em mediana muito precoce (3,0 meses de idade). As medicações

mais habitualmente prescritas foram: associação ranitidina e procinético (39%), IBP e

procinético (31,4%) e IBP isolado (15,2%).

Observou-se início precoce, já aos 3-4 meses de vida, dos sintomas que levaram

à suspeita de APLV. Há que se considerar, porém, que nestes primeiros meses de vida é

que se completa a maturação do trato digestório humano. Sintomas como cólicas, dor

abdominal, flatulência, soluços, regurgitações, alterações de sono e irritabilidade são

muito comuns e fazem parte deste processo fisiológico (LIGHTDALE; GREMSE,

2013; VANDENPLAS et al., 2009). A supervalorização destes sintomas e a

interpretação equivocada deste fenômeno como patológico pode contribuir para o

incremento no diagnóstico de alergia alimentar e levar a intervenções precoces e

inapropriadas (FERREIRA et al., 2014). Há que se atentar, portanto, para as

possibilidades de superdiagnóstico de DRGE, superdiagnóstico de APLV associada a

DRGE e consequentes intervenções terapêuticas inadequadas - restrição dietética e

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supermedicação. Mais estudos são necessários para caracterizar a real associação entre

DRGE e APLV nesta população. Não foi encontrada casuística nacional relacionando

APLV e DRGE.

LIMITAÇÕES

Este estudo apresenta algumas limitações que constituem vieses e interferem na

sua validação externa. Destaca-se que este é um estudo descritivo, baseado em dados

secundários coletados a partir de prontuário. O fato de o prontuário ser padronizado

minimiza a perda de informações relevantes.

Na seleção desta população de estudo pode-se deparar, entretanto, com alguns

tipos de viés. Como só são atendidos pacientes encaminhados, pode haver viés de

encaminhamento. São igualmente atendidos pacientes da rede pública e privada de

saúde, o programa é de amplo conhecimento por prescritores. Como mais de dois terços

das solicitações foram realizadas por especialistas, e no caso dos gastropediatras por

todos os especialistas atuantes na cidade, minimiza-se este viés.

Há que se ressaltar o viés de memória, especialmente em relação aos dados

coletados sobre uso de fórmula na maternidade, aleitamento materno e início de

sintomas e de uso de fórmulas infantis.

Alguns fatores de risco clássicos de alergia alimentar não puderam ser avaliados,

como o tipo de parto e uso abusivo de antibiótico no primeiro ano de vida.

Também não estavam disponíveis dados sobre distribuição geográfica da

amostra no município e nível socioeconômico das famílias. O nível socioeconômico

pode tornar esta amostra diferente do todo que utiliza fórmulas especiais. Famílias que

não necessitam de ajuda de custo para consumo destes insumos provavelmente se

inscrevem no programa menos frequentemente. Finalmente, o tipo de fórmula prescrita

também pode justificar a solicitação ou não do benefício. Atualmente, comparando com

o preço de mercado varejista de fórmulas infantis regulares, fórmulas de soja custam

cerca de 1,5 a 3 vezes mais, fórmulas extensamente hidrolisadas com lactose custam 2 a

3,5 vezes mais, fórmulas extensamente hidrolisadas sem lactose custam 4 a 5 vezes

mais, e fórmulas de aminoácidos custam 6 a 8 vezes mais. Portanto, o impacto no

orçamento doméstico do consumo de fórmulas especiais pode ser maior em 50% a

800%, e certamente isto é um determinante na solicitação de fórmula à rede pública.

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As inferências aqui realizadas foram baseadas principalmente nas queixas

clínicas apresentadas pelas mães dos pacientes. Sabe-se que o diagnóstico clínico é um

processo subjetivo e suscetível a interpretações discordantes, tanto entre observadores

quanto entre momentos distintos por um mesmo observador. Apesar de a baixa

reprodutibilidade limitar a utilidade do diagnóstico clínico, no caso da APLV, este é a

principal ferramenta diagnóstica disponível. Dados sobre testes de provocação oral para

confirmação diagnóstica não puderam ser coletados.

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7 CONCLUSÕES

Este estudo permitiu, de forma inédita, a caracterização clínica e epidemiológica

dos pacientes atendidos no ambulatório de alergia alimentar da SMS de Goiânia. O

reconhecimento de peculiaridades desse grupo de pacientes permitirá o delineamento de

ações de saúde pública que visem a melhor assistência médico-nutricional aliada ao uso

racional de recursos públicos. Destacam-se predominância absoluta de casos não

mediados por IgE, de apresentação tardia, com manifestações clínicas mais associadas a

sintomas digestórios e com comprometimento precoce do estado nutricional. O

reconhecimento precoce dos casos de APLV e instituição de terapia nutricional

adequada (fórmula infantil especial e dieta de exclusão balanceada) podem reduzir o

impacto negativo da doença sobre o crescimento das crianças.

A taxa de lactentes amamentados ao seio foi muito baixa, inferior às médias

local e nacional, e deve ser um alvo de ação para prevenção primária em saúde pública.

São necessários mais estudos que verifiquem a associação entre APLV e elevada

proporção de lactentes com diagnóstico de DRGE e em uso precoce de medicação para

inibição da acidez gástrica observados nessa amostra.

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8 RECOMENDAÇÕES

A partir da interpretação dos dados obtidos neste estudo, são vislumbradas

sugestões para intervenção em saúde pública. Estas ações devem visar tanto a prevenção

primária de novos casos através da modulação de fatores de risco modificáveis quanto o

adequado manejo de casos já estabelecidos. Sugere-se:

Incentivo ao aleitamento materno exclusivo até pelo menos 4 meses de vida, com

fortalecimento das estratégias de rede básica, tanto pública quanto privada, com

abordagem desde a gestação e intensificação de ações de promoção de aleitamento

como os Hospitais Amigo da Criança;

Capacitação de especialistas, pediatras, médicos da atenção básica visando:

- prescrição adequada de fórmulas infantis ao desmame, quando o aleitamento

não for possível, especialmente atentando-se ao antecedente familiar de atopia,

- reconhecimento precoce de sinais de APLV e introdução de tratamento efetivo

(fórmula substituta e dieta de exclusão), atentando-se a avaliação nutricional e pondero-

estatural,

- confirmação do diagnóstico através de testes de provocação dentro de curto

espaço de tempo (2 a 4 semanas), e no caso de provocação positiva, manutenção do

tratamento por tempo determinado (4 a no máximo 12 meses)

- diferenciação com maior precisão entre DRGE e APLV, evitando diagnósticos

conjuntos precoces, condutas precipitadas e uso abusivo de medicações,

- desestímulo ao consumo de fórmulas de soja antes de 6 meses de idade,

- desestímulo o consumo de leite de vaca total e seus derivados no primeiro ano

de vida,

- orientação para alimentação saudável, seguindo os Dez passos propostos pelo

Ministério da Saúde,

- orientação adequada para introdução de dieta complementar somente a partir

de 17 semanas de vida (idealmente a partir de 6 meses), sem restrições outras além do

alérgeno já conhecido,

Integração de outros profissionais de saúde, como enfermeiros e nutricionistas, nas

ações acima descritas, quando lhes for tecnicamente possível,

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Reforço na divulgação e otimização do acesso ao ambulatório de alergia alimentar

da SMS, que realiza testes de provocação de forma segura, protocolada e adequada,

por equipe especializada e treinada.

Ampliação do estudo atual com recrutamento de novos pacientes, inclusão de dados

socioeconômicos e de informações sobre os testes de provocação oral e evolução

natural (desenvolvimento de tolerância oral)

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ANEXOS

Anexo 1 – Parecer do Comitê de Ética

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Anexo 2 – Formulário padronizado de primeira consulta

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Anexo 3 - Formulário de encaminhamento e solicitação de fórmula infantil especial

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Anexo 4 - Portaria nº 271 de 29 de dezembro de 2011

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Anexo 5 - Artigo completo submetido a publicação

Revista: Pediatric Allergy, Immunology and Pulmonology

TITLE PAGE

FULL ARTICLE TITLE

Early impairment of nutritional status in cow's milk allergic infants in Central

Brazil

FULL FIRST AND LAST NAMES, highest academic degrees, e-mail addresses,

and institutional affiliations for all authors; designated corresponding author e-

mail address

Germana Pimentel Stefani, Pediatric Allergist and Immunologist,

[email protected] , Municipal Health Secretariat - Goiânia-GO

João Bosco Siqueira Junior, Associate professor, Department of Public Health,

Institute of Tropical Pthology annd Public Health, Federal University of Goias

Corresponding author: Germana Stefani - [email protected]

WORD COUNTS FOR THE ABSTRACT : 231

WORD COUNTS FOR THE TEXT: 1997

THE INSTITUTION AT WHICH THE WORK WAS PERFORMED

Federal University of Goias and Municipal Health Secretariat of Goiania, Goias,

Brazil

THE SOURCE OF FINANCIAL SUPPORT:

No financial support.

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Early impairment of nutritional status in cow's milk allergic infants in Central

Brazil

ABSTRACT

BACKGROUND: In recent decades, the prevalence of cow's milk allergy (CMA) has

increased. The disease affects especially young infants, and treatment demands strict

adherence to elimination diet and may cause negative impact in children's growth.

OBJECTIVE: To characterize clinical aspects and nutritional status of patients who

requested special formulas due to previous diagnosis of cow 's milk allergy and who

were referred to a tertiary centre in Central Brazil. METHODS: This was a descriptive,

observational, cross-sectional study based on secondary data collected from a

standardized first consultation's form. RESULTS: Between January 2011 and May

2012, 449 patients (55% male) were admitted. The mean age at admission was 11.34

months (± 8.03), while the average age of onset of symptoms suggestive of food allergy

was 3.87 months (± 4.19). Predominance of not-IgE-mediated cases was noted (88,4%),

typically with late presentation and preponderance of digestive (91.3%) and systemic

(33.4%) symptoms. At admission time, 13,3% infants younger than 6 months were

underweight (z<-2 weight-for-age score). The proportion of infants with the diagnosis

of Gastroesophageal Reflux Disease (GERD) was 68%, and 90% of them were taking

acid suppressors drugs. CONCLUSION: Early recognition of cases of CMA and proper

nutritional care institution (special formula and balanced elimination diet) can reduce

the negative impact of the disease on the growth of children. Further studies are needed

to verify the association between CMA and GERD in this sample.

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ABREVIATION LIST

CMA Cow's Milk Allergy

GERD Gastroesophageal Reflux Disease

BMI Body Mass Index

WHO World Health Organization

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Early impairment of nutritional status in cow's milk allergic infants in Central

Brazil

BODY OF PAPER

INTRODUCTION

In recent decades, the prevalence of cow's milk allergy (CMA) has increased

worldwide. The estimated prevalence of food allergy is 6% between children1,2

. A

recent national survey of allergies in the United States showed an increase in the

prevalence of food allergies from 3.4% in 1997–1999 to 5.1% in 2009–2011. Cow’s

milk is the food most frequently implicated in the cause of food allergy between

infants2.

Clinical manifestations of CMA may be diverse, and can range from localized,

mild symptoms to systemic, potentially fatal ones. The immunological mechanisms

involved in food allergy can be mediated by IgE antibodies, cells and both. The

diagnosis is essentially based on clinical aspects and challenge tests, sometimes with no

need of laboratorial tests. The treatment of CMA demands strict adherence to

elimination diet, with avoidance of milk protein, and includes the use of special

hypoallergenic formulas for infants1,3

. Extensively hydrolyzed whey formulas (with or

without lactose), aminoacid formulas and soy formulas are the alternative infant

especial formulas commercially available in Brazil.

Milk is an essential element in non-breastfed children’s diet, and is frequently

the first food introduced after weaning. The first two years of life are critical to growth

and development of children. Inadequate dietary restrictions at this stage can lead to

important nutritional risk, with impact on the overall child’s health4. For infants with

CMA, two threats are imminent: incomplete and inefficient elimination diet, with

persistence of the disease due to continuous contact to the allergen; and elimination diet

without proper nutrition replacement, which results in macro and/or micronutrients

deficiencies5. A Brazilian multicenter study showed nutritional deficit (z score <-2 for

weight-for-age and height-for-age) higher than expected for infants with suspected

CMA6.

Substitutive hypoallergenic formulas may be costly to patients themselves and to

public health system which provides these formulas. The aim of the present study is to

characterize clinical aspects and nutritional status of patients who requested special

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formulas due to previous diagnosis of cow 's milk allergy and who were referred to a

tertiary centre of allergy and immunology in Central Brazil.

METHODS AND MATERIALS

This was a descriptive, observational, cross-sectional study based on secondary

data collected from a standardized first consultation's form. There were included

patients with previous diagnosis of CMA whose admission in the tertiary centre of food

allergy care occurred between January 2011 and May 2012. These patients were

referred for free provision of special infant formula by the Municipal Health Centre of

Goiânia, in Central Brazil.

Data from age, sex, breastfeeding period, weaning, introduction of

complementary formulas, clinical history associated to food allergy and anthropometric

parameters were obtained from the patient first consultation's records.

Anthropometric data (weight-for-age, height-for-age, weight-for-length and

body mass index-for-age) were classified by World Health Organization (WHO) Anthro

software program 2011 and compared to the standard curve7.

It was performed a descriptive analysis of the variables. The chi-square test for

linear trend was applied in cases of sample stratification by age. It was considered a

significance level of 5% and 95% confidence interval of the statistical tests.

The study was approved by the Human Research Ethics Committee of Federal

University of Goiás.

RESULTS

Between January 2011 and May 2012, 449 patients (55% male) were admitted

and included in the study. The mean age at admission was 11.34 months (±8.03

months). The onset of symptoms suggestive of food allergy occurred on average at 3.87

months (sd ±4.19; 0-36 months). In the first month of life, 141 patients (31.5%) had

already shown symptoms and 337 (75%) patients did it before six months of age. At

twelve months, 89% of patients already had a diagnosis of CMA.

Referrals were mostly made by pediatric gastroenterologists (280; 62,4%), and

the majority of requested formulas were extensively hydrolysed type (287; 63,9%),

followed by soy formulas (85; 18,9%) and aminoacid formulas (69; 15,4%).

Absolute predominance of not-IgE-mediated cases was noted (397 cases;

88,4%), typically with late presentation and preponderance of digestive (91,3%) and

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87

systemic (33,4%) symptoms. With increasing age, a statistically significant trend of

reduced frequency of digestive symptoms was observed (0 to 5 months: 93,8%, >24

months: 80,6%; X² for linear trend =7,60, p<0,01). There was also a trend of increasing

frequency of respiratory symptoms (0-5 months: 8,8%;> 24% months = 9,4; X² for

linear trend = 6,09, p <0,05) as well as cutaneous symptoms (X² for linear trend =

10,12; p <0,01).

The digestive tract was the body system most often affected by symptoms. Of

the 449 patients, 410 (91,31%) reported some gastrointestinal symptoms: 231 (51,4%)

had vomiting or nausea, 215 (47,9%) had diarrhea, 214 (47,7%) had reflux,

regurgitation or hiccups, and 123 (27,4%) had bloody stools. Then, the main complaints

focused on systemic or nonspecific symptoms, reported by 164 patients (36,50%). Low

weight gain (91; 20,3%), lack of appetite (58; 12,9%), irritability (50; 11,1%) and sleep

disorders (11; 2,5%) were the most common systemic symptoms. Only three patients

had a history of suggestive of anaphylaxis. Respiratory symptoms were reported by 70

patients (15,6%), especially bronchospasm (44; 9,8%), cough (27; 6,0%), runny nose /

rhinitis (18; 4,0%) and otitis media (13; 2,9%). Dermatitis and urticaria were the

cutaneous symptoms reported by 56 patients (12,47%).

Symptoms of the digestive tract appeared as unique symptoms for 209 patients

(46.5%), followed by isolated systemic symptoms in ten cases (2.22%). Only 39

patients did not complain of gastrointestinal symptoms (8.68%).

Gastroesophageal Reflux Disease (GERD) was previously diagnosed in 305

(67.9%) patients, and 274 of these children (89.83%) were in current use of acid

secretion inhibitors (ranitidine and/or proton pump inhibitors). The median age of onset

of antireflux medication was at 3.0 months of age (0.2-29 months).

In general, there is an universal deficit of growth indicators (weight-for-age,

length-for-age and body mass index (BMI)-for-age) compared to reference population.

At admission time, 16 (13.3%) infants younger than 6 months were underweight (z<-2

weight-for-age score) (table 1). There was no statistically significant trend difference

between age groups, though. BMI deficit, in turn, tends to significantly decrease with

age advance from young infants up to 24 months (0-5 months: 15.4%; >24 months:

9.7%; X² linear trend = 5,26; p= 0.022). On average, 12.1% (± 1.33) of the sample is

considered underweight and 10,5% (± 1.42) is stunted. Due to the amount of preterm

infants (n=78, 17,4%), all anthropometric data of these patients were analyzed

considering the adjustment for 40 weeks of gestational age.

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88

Figure 1 shows the curves of weight-for-length, height-for-age, weight-for-age

and BMI-for-age, compared to WHO reference curves. The curves of this sample

presents deviation down and to the left when compared to the standard curve,

demonstrating the impairment in all the growth parameters.

DISCUSSION

The recent increase of cases of food allergy, including CMA, has triggered great

interest in the scientific community to better recognize the disease and to improve

enhanced diagnostic and therapeutic strategies8. In the present study, the recognition of

peculiarities from a specific sample, such as the predominance of non-IgE mediated

cases, the early impairment of the nutritional status of the allergic infants and the high

association with prior diagnosis of GERD, can contribute to better targeting public

health actions.

In a Brazilian retrospective study, of 228 patients with confirmed food allergy,

73.68% had manifestations of non-IgE mediated disease. The most common symptoms

were nausea and vomiting (51.7%), abdominal pain (45.6%), diarrhea (32.0%) and

bloody stools (31.1%). Cow's milk was the causative allergen for 90% of cases of food

allergy9. Recent publication of Aguiar et al described a sample of 214 patients up to 3

years of age (mean 9.0 months) selected over a period of 2.5 years and found out a

prevalence of digestive symptoms in 81.8% (most common diarrhea, bloody stools and

vomiting) followed by 36.9% patients with cutaneous involvement (urticaria and atopic

dermatitis)10

.

Vieira et al conducted a multicenter study with pediatric gastroenterologists

from 20 different Brazilian cities and 9478 patients6. This study revealed an absolute

predominance of gastrointestinal complaints, totaling 96.2% of impairment in children

aged under 6 months, 82.4% between 6 and 12 months and 79.3% between 12 and 24

months, with a statistically significant difference between age groups. Digestive

symptoms were present as unique complaints for 46.5% of patients. The most common

symptoms were vomiting and regurgitation (53.5%), cramps (34.0%), diarrhea without

blood (18.9%), constipation (15.7%), blood in non-diarrheal stool (14, 5%) and bloody

diarrhea (6.3%). Systemic symptoms were also the second most frequent complaints in

this study, reaching 24.5% of children on average. Respiratory symptoms (19.5%) were

more common than skin symptoms (18.2%) in this sample6.

The present study is, therefore, according to the national studies in terms of the

predominance of digestive and systemic symptoms triggered by non-IgE-mediated

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89

mechanisms. This, however, differs from the international literature, which estimates

the prevalence of IgE-mediated cases in 60%, with predominance of skin symptoms,

and gastrointestinal symptoms affecting only 25-50% of patients11–13

. Regarding the

analysis of anthropometric data, we observed a high prevalence of children diagnosed as

wasted and/or underweight. Vieira et al found weight-to-age deficit ranging from 9.8 to

20.7% according to age6. In a Brazilian northeast city study, there was a deficit of BMI-

for-age in 8.7% of children admitted already in use of special formula, and in 41.7% of

patients using cow's milk protein10

. In the study by Costa et al, they found deficits of

weight-for-age for 18.4% of patients, length-for-age for 15.9% patients and BMI-for-

age for 15.4% of patients9.

Many issues may contribute to the determination of malnutrition involving food

allergy in early childhood. The disease itself can cause symptoms such as vomiting,

diarrhea, loss of appetite and food refusal, which determine lower calorie intake. Also,

disabsorptive syndromes or intestinal nutrient losses by increased mucosal permeability

and inflammation may play a role. In addition, both the delay in diagnosis and dietary

treatment institution suitable as unbalanced and unnecessary restriction diet are also

associated with poorer performance on weight and height gain4,14

. According to a

Brazilian study in São Paulo, children submitted to cows' milk protein exclusion diet

have had diminished intake of calories, protein, lipid and calcium and phosphorus;

significantly lower than children without dietary restriction. It significantly reflected as

lower anthropometric measurements when compared to normal referrals5. In general, it

is expected that children with food allergies have a lower growth and nutritional

deficiencies15,16

. One study, by contrast, noted no difference in anthropometric data

between allergic to milk and controls when the elimination diet was adequate17

. In this

sample, it is noted early impairment of the nutritional status of the infants, especially

before six months of life. In this extremely vulnerable time of life, the absence of

exclusive breastfeeding, the presence of digestive symptoms such as vomiting and

diarrhea, and the difficulty in instituting appropriate therapy in a short time may be

factors associated with high malnutrition rate (13,3% of children under 6 months with

weight-for-age z score <-2).

In this study, we observed strong association between CMA and GERD. When

not properly controlled, GERD alone causes low weight and height gain. It was

observed early onset of the symptoms that led to the suspicion of CMA, since the 3-4

months-old. One must consider, however, that the first months of life are the period

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90

when the full maturation of the human digestive tract occurs. Symptoms such as

cramping, abdominal pain, flatulence, hiccups, regurgitation, sleep disturbances and

irritability are common and are part of this physiological process18,19

. The overvaluation

of these symptoms and the misinterpretation of this phenomenon as pathological may

contribute to the increase in the diagnosis of food allergy, and also lead to early

inappropriate interventions 20

. Therefore, it is necessary to attempt to the possibilities of

overdiagnosis of GERD alone, CMA alone and CMA associated with GERD and its

consequent inadequate therapeutic interventions - dietary restriction and excessive

pharmacological treatment.

Early recognition of cases of CMA and proper nutritional care institution

(special formula and balanced elimination diet) can reduce the negative impact of the

disease on the growth of children. Further studies are needed to verify the association

between CMA and GERD in this sample.

AUTHOR DISCLOSURE STATEMENT

The authors declare that there is no conflict of interests regarding the publication

of this paper.

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94

FIGURE LEGENDS

Figure 1: Growth parameters curves from patients with cow's milk allergy from

Goiânia, Brazil, compared to World Health Organization standards

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Table 1 - Anthropometric data classification according to Z scores, WHO 2006 standard, stratified by age in months

<0-5m

(n=112)

6-11m

(n=156)

12-23m

(n=140)

≥24m

(n=34)

General P*

Weight-for-

length/height

%Z<-3dp Severely wasted 2,5 2,6 0,7 6,5 2,3 0,81

%Z<-2dp Wasted 10,2 11,9 5,8 16,1 9,8 0,38

Mean

sd

-0,6

±1,22

-0,54

±1,32

-0,58

±1,08

-0,55

±1,33

-0,57

±1,22

Length/height-for-age %Z<-3dp Severe Stunted 6,8 2 4,4 3,2 4,1 0,16

%Z<-2dp Stunted 12 4,7 15,3 12,9 10,5 0,44

sd ±1,6 ±1,36 ±1,31 ±1,29 ±1,42

Weight-for-age %Z<-3dp Severe underweight 6,7 3,3 4,3 6,5 4,7 0,29

%Z<-2dp Underweight 13,3 11,1 11,5 16,1 12,1 0,86

sd ±1,39 ±1,29 ±1,28 ±1,47 ±1,33

Body Mass Index-for-

age

%Z<-3dp Severely wasted 2,6 3,3 0 0 1,8 <0,05

%Z<-2dp Wasted 15,4 13,3 5,8 9,7 11,2 <0,01

%+1<z<+2dp Possible risk of

overweight

5,1 12 9,4 9,7 9,1 0,70

%z>+2dp Overweight 0 1,3 0,7 6,5 1.1 0,90

Mean -0,81 -0,59 -0,49 -0,49 -0,61

sd ±1,16 ±1,31 ±1,06 ±1,24 ±1,19

*X2 for linear trend test