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TERRA À VISTA de Antônio Almiro de Amorim Ferreira

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TERRA À VISTA

de

Antônio Almiro de Amorim Ferreira

CAPÍTULO 1

CONDESSA MARIA ARENGA (fala com o guarda do rei)_O rei ordenou que eu viesse. Como é, vai liberar a catraca ou vou ter que dá na sua cara?

REI DE PORTUGAL (vê a condessa e pede que ela entre. Ele está com os dedos no nariz)_Minha querida, entre, espero que não se importe com os maus odores é que esse maldito guarda está a peidar por todo o castelo é caso de enterrar vivo essa criatura podre.

CONDESSA MARIA ARENGA (debocha e pergunta sobre a rainha)_O guarda, sei. (balança a mão no rosto e faz cara de nojo) Onde está a rainha?

REI DE PORTUGAL (responde já abraçando a condessa)_Foi visitar os pobres, é uma alma caridosa, nossos miseráveis estão bem acompanhados.

CONDESSA MARIA ARENGA (aceita os afagos do rei)_E se lembrou de mim para quebrar o galho. (eles se beijam)

REI DE PORTUGAL (bebe mais um cálice de rum)_E como eu posso esquecer a mais bela mulher do reino de Portugal.

CONDESSA MARIA ARENGA (o segura por trás)_Se o rei diz, então é verdade.

REI DE PORTUGAL (se vira e a abraça novamente)_Tudo o que o rei diz é verdade, mesmo que não seja, mas não em relação a você minha querida. (eles se beijam)

CONDESSA MARIA ARENGA (levanta a tampa de um baú e olha o que tem dentro sem que o rei perceba)_O rei decidiu quando mandará Pedro Álvares Cabral picar a mula para as Índias?

REI DE PORTUGAL (oferece uma bebida a Condessa e bebe também)_Sim, dentro de algumas semanas, mas por que o interesse minha querida?

CONDESSA MARIA ARENGA (rouba um anel que está sobre a cômoda real)_Acho que deveria enviar Agripa.

REI DE PORTUGAL (com o cálice na mão relata)_Esta missão é muitíssimo importante para Portugal, por isso preciso de um conhecedor dos mares e Cabral é esse homem e é de confiança, ele vai chegar às índias por um novo caminho.

CONDESSA MARIA ARENGA (defende Agripa)_Mas deve lembrar que Agripa é um excelente navegador.

REI DE PORTUGAL (o rei a abraça novamente e a beija)_Agripa é o chefe da guarda do rei, preciso dele aqui.

A Condessa coloca um sonífero na bebida do rei, ele dorme e ela vasculha o

quarto a procura do mapa, ela encontra o mapa que está escondido atrás de um quadro da rainha em uma pequena caixa de madeira.

CONDESSA MARIA ARENGA (vasculha o quarto real)_Onde este idiota terá colocado o maldito mapa? Humm, que lindo colar, fica melhor em mim do que naquela rainha meio quilo. _Aqui está, pouca imaginação tem esse meu rei, todo mundo esconde seus segredos atrás dos quadros. (ri)

A condessa foge com o mapa e o entrega a Agripa seu amante, o rei enfurecido descobre o roubo e manda prender a condessa, mas não encontra o mapa e condena a condessa a morte na guilhotina.

Agripa com as chaves da masmorra abre a cela da condessa e eles fogem.

AGRIPA (fala sussurrando para a condessa)_Os guardas estão completamente bêbados, vamos minha querida, é hora de sair deste lugar imundo.

CONDESSA MARIA ARENGA (Cospe no chão)_Eu amaldiçoo essa terra...

AGRIPA (apressa a condessa)_Vamos logo ou ficará aqui para enfrentar a guilhotina.

Conde Aspilcueta bêbado é levado por Bela do Congo nas costas

CONDE ASPILCUETA (completamente bêbado)_Onde está o rei? Onde está o rei? Eu exijo falar com o rei. O que tenho eu a dizer a ele? Pois bem, como o responsável pelas finanças, digo-lhe que vamos aumentar os impostos, o povo tem que pagar mais impostos, e como fazer o povo pagar mais impostos, ora, pois, obrigando essa gentalha a trabalhar o dobro, pois não é possível que nós, a classe abastada deste reino tenha que se contentar com bebida de segunda por causa deste povo preguiçoso, ora pois.

BELA DO CONGO (reclama)_Maldição, sobrou pra mim carregar esse bafo de rum azedo nas costas. Ai que me esquenta os neuvo.

AGRIPA (ordena)_Cuidem para que esse bêbado não estrague tudo.

CONDE ASPILCUETA (grita)_Agripa, eu quero uma audiência com o rei, Agripa, eu exijo ser recebido por vossa majestade o rei de Portugal.

AGRIPA (ordena)_leve-o até o porto, Miguel estará lá e irá recebê-los.

CAPÍTULO 2

Ao entrarem na caravela...

CONDESSA MARIA ARENGA (faz cara de nojo)_Vamos, mas antes vou sacudir minhas sandálias.

AGRIPA (pergunta)

_Por que isso minha querida, nem a poeira de Portugal levará em seus delicados pés?

CONDESSA MARIA ARENGA (responde)_Não meu querido, é que pisei em algo desagradável no momento da fuga.

AGRIPA (coloca a mão no nariz)_Que fedor!

BELA DO CONGO (com os dedos no nariz)_Nem a velhota fede tanto, cruzes.DONA MINERVINA (pergunta)_Disseste alguma coisa escrava indecente?

BELA DO CONGO (responde)_Eu? Mudinha minha filha da cabeça aos pés.

DONA MINERVINA (reclama com os dedos no nariz)_Essa peste desta cadela é que anda a cagar por todos os cantos, maldição.

CONDESSA MARIA ARENGA (referindo-se a Catarina, sua cadela de estimação)_Oh! Meu amorzinho maltrataram você querida da mamãe, diz pra mim?

Miguel olha e desdenha da Condessa Maria Arenga

MIGUEL (com cara de debocha)_Eu hein!AGRIPA (pergunta)_Esta tudo correndo como combinamos?

MIGUEL (responde)_Sim senhor.

CONDESSA MARIA (pergunta sobre o mapa)_Então meu querido, onde está o mapa?

AGRIPA (responde)_Você sabe que ele está seguro comigo, não vou colocar a minha e a sua vida em risco, afinal, estamos cercados de ratos por todos os lados. Tenho ou não tenho razão?

CONDESSA MARIA ARENGA (fala ao ouvido de Agripa)_Bem observado, mas sei que no mapa não existem apenas orientações para se chegar as terras do novo mundo, há muito, muito mais lá e eu sei disso.AGRIPA (se vira e responde)_E muitos já morreram tentando tê-lo em mãos, uma preciosidade, não acha?

CONDESSA MARIA ARENGA (ironiza)_Tudo tem o seu preço, não é verdade?

AGRIPA (responde)_Preocupe-se com o bêbado do seu marido e com os parentes dele, o mapa está seguro comigo.

CONDESSA MARIA ARENGA (responde)_Essa gentalha não é a maior das minhas preocupações, mas o ouro e os diamantes das terras do novo mundo.

AGRIPA (pergunta)_Como você conseguiu enganar o rei e tirar do castelo o mapa que levaria Pedro Álvares Cabral as terras do novo mundo?CONDESSA MARIA ARENGA (responde e ri)

_Vocês homens realmente não sabem do que uma mulher é capaz quando realmente quer uma coisa.

AGRIPA (avisa)_O rei não a perdoará minha querida.

CONDESSA MARIA ARENGA (irritada responde) _Aquele calhorda, corno, idiota. Mal sabe ele que está com o mapa falso. Aquele mapa vai levar Pedro Álvares Cabral para a morte. (risadas)

CONDE ASPILCUETA (acorda da bebedeira)_Ai! Ai! Ai! Dói, ai! Como dói minha imperial cabeça. Nossa, não foi bem o tipo de aposento que exigi do imperador. Onde é que estou? Agripa, Agripa, quando é que o Imperador irá me

receber, estou pronto para nosso encontro.CONDESSA MARIA ARENGA (irritada)_Trate de fechar essa sua boca, será que não percebe o que está acontecendo a sua volta, será que vou ter que estapeá-lo para enxergar a realidade.

CONDE ASPILCUETA (olha para todos os lados e pergunta)_Humm! Estamos no mar, mas pra onde estamos indo?

CONDESSA MARIA ARENGA (responde)_Posso lhe garantir, pra bem longe de Portugal.

MIGUEL (fala a Agripa sobre o roubo de parte dos suprimentos)_Senhor, roubaram parte de nossos suprimentos. O que vamos fazer?

AGRIPA (sussurra)_O importante Miguel é que não falte para nós, entendeu?

MIGUEL (pergunta)_O que devo fazer então Senhor?

AGRIPA (responde)_Jogue ao mar o primeiro que se atrever a roubar nossa comida. Isso servirá de exemplo.

A Condessa escuta a conversa de Agripa e Miguel

CONDESSA MARIA ARENGA (em pensamento)_Preciso encontrar logo esse mapa, não passarei fome nessa maldita caravela.

A Condessa aproveita a bebedeira de Agripa e Miguel e procura o mapa entre as coisas de Agripa.

CONDESSA MARIA ARENGA (revira os aposentos de Agripa)_Onde está, onde será que esse idiota pode ter escondido esse maldito mapa.

AGRIPA (pergunta)_Procurando alguma coisa minha querida?

CONDESSA MARIA ARENGA (abraça Agripa e o beija)_Sim e só você pode me dar o que eu procuro humm!!!

Eles se beijam e Agripa esquece o flagra, agripa dorme e a Condessa aproveita para continuar procurando o mapa. A

Condessa não encontra o mapa entre os pertences de Agripa, mas sua busca continua...

As dificuldades começam e a fome domina a todos, Miguel avisa Agripa sobre o aumento da tensão a bordo por causa da fome.

MIGUEL (preocupado)_Não sei até quando poderei controlar a todos, já me ameaçam, vão acabar saqueando o pouco de suprimento que ainda temos o que faço senhor?

AGRIPA (irritado)_Atire ao mar aquele que se atrever a roubar nossos suprimentos, não vou permitir que esses mortos de fome estraguem meus planos.

A Condessa Maria Arenga encontra o mapa, mas é flagrada pelo Conde que a ameaça, eles entram num acordo, Agripa desconfia e procura o mapa e a Condessa revela que está de posse dele.CONDESSA MARIA ARENGA (encontra o mapa e fala pra si mesmo)_(risos) Meu querido pensou que só você se daria bem nessa história, vamos ver quem vai voltar para a Europa coberta de ouro.

CONDE ASPILCUETA (escondido aparece)_Nós minha querida, pelo que vejo, voltaremos de braços dados cobertos de ouro, encontrou o mapa não é?

CONDESSA MARIA ARENGA (irritada)_Está bêbado, não sabe o que está dizendo.

CONDE ASPILCUETA (irritado ironiza)_Minha querida esposa, não queira saber o que um bêbado como eu pode fazer com informações tão preciosas como estas.

CONDESSA MARIA (abraça o marido e sai com ele)_Muito bem, acho que temos muito o que conversar não é meu querido esposo?

CONDE ASPILCUETA (se alegra)_Com certeza minha querida esposa.

AGRIPA (preocupado)_Miguel, Miguel, viu se alguém andou rondando o compartimento de cargas?

MIGUEL (responde)_Não, mas por quê?

AGRIPA (irritado)_Alguém roubou o maldito mapa. Ameace atirar todos no mar até que o mapa apareça.

MIGUEL (preocupado)_Se souberem da existência desse mapa as coisas irão piorar senhor.

CONDESSA MARIA ARENGA (irônica balança o mapa)_Procura por isso meu querido?

AGRIPA (irritado)_Enlouqueceu, vai ficar por aí agora desfilando com o mapa.

CONDESSA MARIA ARENGA (guarda o mapa no peito)

_Não se preocupe meu querido, essa gentalha toda só quer saber o que vão comer e mais nada.

AGRIPA (alerta)_tenha cuidado condessa, não sabe o risco que está correndo andando por aí com esse mapa.

CONDESSA MARIA ARENGA (abraça Agripa por trás)_Risco eu correria sem ele debaixo dos meus olhos, e em minhas mãos, melhor, em meus peitos.

CONDESSA MARIA ARENGA (chama Catarina)_Catarina, amor da mamãe, venha pra mamãe, venha.

O barco é atingido durante a noite por uma tempestade, o pouco alimento que ainda se tinha se perde, A fome atormenta a todos, Catarina se transformar em banquete para os famintos.

CONDE ASPILCUETA (ar sério)_Minha querida é preciso tomarmos uma providência, meus parentes não suportam mais comer aquela lavagem que Miguel nos trás.

CONDESSA MARIA ARENGA (ironiza)_Pois se deem por satisfeitos, não demorará muito e não terão nem essa lavagem para comer.

CONDE ASPILCUETA (pergunta)_O que está querendo dizer com isso senhora minha esposa?

CONDESSA MARIA ARENGA (se assusta)_O que é isso, o que está acontecendo?

CONDE ASPILCUETA (responde)_Bom, bêbado eu não estou, isto só pode ser uma tempestade.

BELA DO CONGO (vomita)_Ai que estou a querer botar as tripas para fora. Ai que saudade da minha terra, nunca passei por isso, dormia o dia todo e a noite jogava uma conversa com um guerreiro de minha tribo e o trouxa me trazia carne de javali para saciar minha fome.

DONA MINERVINA (reclama)_Escrava preguiçosa, por isso foi pega pelos senhores de escravos.

BELA DO CONGO (irritada)_Se não fosse o balanço e o enjoo, juro que dessa vez eu dava na cara dessa velha. Ai que me esquenta os neuvo.

AGRIPA (grita)_Miguel, Miguel, vire a caravela ou vamos morrer.

MIGUEL (tenta controlar a caravela)_Estou tentando, estou tentando.

CONDESSA MARIA ARENGA (pergunta)_Agripa, o que está acontecendo, estamos afundando, é isso?

AGRIPA (responde)_Acalme-se, isto não vai acontecer, não pode acontecer.

NO DIA SEGUINTE APÓS A TEMPESTADE…

MIGUEL (expõe a grave situação)_Senhor está tudo perdido, o que vamos fazer?

AGRIPA (põe a mão na cabeça)_Estamos arruinados, Miguel, arruinados.

MIGUEL (reclama)_Eles querem comer e não há nada para dá-los.

AGRIPA (irritado)_Que se atirem ao mar atrás dos peixes, não me infernize mais com essa história Miguel.

CONDESSA MARIA ARENGA (chama Catarina)

_Catarina, Catarina, venha cá com a mamãe minha querida. Porque estão olhando assim para meu bebê?

CONDE ASPILCUETA (olha fixamente para Catarina)_Minha querida, queremos apenas que tome alguma providência não temos o que comer, o que vamos fazer?

CONDESSA MARIA ARENGA (pega Catarina no colo)_E eu é que vou saber, atirem-se ao mar, lá está cheio de peixes.

CONDE ASPILCUETA (irritado)_Cuidado minha querida, suas palavras podem se voltar contra você.

MIGUEL (preocupado)

_Agripa, precisa recuperar o mapa, estamos perdidos aqui no meio do nada, preciso do mapa agora.

AGRIPA (responde)_Não se preocupe, recupero o mapa, preocupe-se com esses mortos de fome.

CONDESSA MARIA (pergunta)_Está perdendo o controle da situação meu querido?

AGRIPA (irritado)_Você é a responsável, preciso que me dê o mapa agora ou não vamos chegar a lugar algum. Miguel está com a bússola, mas somente ela não nos ajudará.CONDESSA MARIA (irritada)_É claro ou acha que quero morrer aqui junto desses miseráveis.

AGRIPA (estica a mão)_Então, me dê o mapa.

CONDESSA MARIA ARENGA (tira o mapa dos peitos)_Pra que esse nervosismo todo meu querido, está aqui o mapa, claro, já tenho copiado as informações que me interessam.

CONDE ASPILCUETA (pergunta ironicamente)_Minha querida não está sentindo falta de nada?

CONDESSA MARIA ARENGA (responde)_Não, não sinto absolutamente falta de nada, eu estou de dieta, vocês é que morram de fome.CONDE ASPILCUETA (pergunta)

_Tem certeza, não sente falta de nada mesmo?

CONDESSA MARIA ARENGA (pergunta por catarina)_Bem, espera, Catarina, onde está Catarina?

CONDE ASPILCUETA (mostra um osso e o lambe)_Bem minha querida, aqui está o que restou de Catarina.

CONDESSA MARIA ARENGA (irritada)_Oh! Oh! Oh! Meu bebê, o que fizeram com meu bebê? E não deixaram nada pra mim bando de esfomeados...

Agripa e Miguel com o mapa conduzem a caravela, mas a fome e a sede

aumentam e a desidratação faz com que todos percam as forças e desmaiem.

AGRIPA (preocupado)_Vamos logo chegar às terras do novo mundo, antes que essas pessoas se tornem canibais e comecem a comer umas as outras.

MIGUEL (olhar arregalado)_Pois eu não duvido de nada.

CAPÍTULO 3

A Condessa come escondida umas bolachas que ela enfiou no vestido. O Conde Aspilcueta ronca deitado no chão. A Condessa Maria Arenga com a boca cheia de bolacha vê as primeiras montanhas das terras do novo mundo, cospe a bolacha e grita “TERRA À VISTA”.

CONDESSA MARIA ARENGA (grita feito louca)_Terra à vista, terra à vista, terra à vistaaaaa...

AGRIPA (pergunta)_O que está louca está a gritar?

MIGUEL (responde)

_A fome deve tela enlouquecido.

Agripa olha e vê também as montanhas no horizonteAGRIPA (levanta e olha no horizonte)_Espera, ela não enlouqueceu não ou estou louco também, veja aquelas montanhas no horizonte.

MIGUEL (também olha e vê as montanhas)_É verdade, são as terras do novo mundo.

O índio Acarajé Tacoé recebe os nobres e estropiados viajantes com água de coco e uma cesta repleta de acarajé. falando em um portunhol meio confuso ele os recebe de braços abertos e lhes oferece a hospitalidade tupiniquim.

ÍNDIO ACARAJÉ TACOÉ (se apresenta)_Eu sou Acarajé Tacoé chefe da tribo dos tabanacara e esta é a terra Do sol, calor é aqui mesmo. Meu povo os recebe de braços abertos, homem branco de além-mar.

AGRIPA (espantado)_Mas essa criatura do demônio fala Português, que loucura é essa?

CONDESSA MARIA ARENGA (se esconde atrás de Agripa)_Não serão canibais?

CONDE ASPILCUETA (se esconde também atrás de Agripa e se desculpa)_Se forem canibais eu já digo que minha carne não está lá essas coisas, tem muito run misturado, vai fazer mal para a gastrite sabe seu Acarajé.

CONDESSA MARIA ARENGA (estapeia o Conde)_Seu covarde, seja homem pelo menos neste momento.

ÍNDIO ACARAJÉ TACOÉ (faz cara de nojo)_Não, tribo recebe povo de além-mar de braços abertos, tribo não come gente branca, carne ruim, estragada.

CONDE ASPILCUETA (aponta o dedo e ri)_Eu disse, eles já experimentaram e viram que não vale a pena.

AGRIPA (chama o índio chefe para falar em particular)_Chegue aqui nobre chefe Acarajé Cafuné, me diga uma coisa como foi que aprendeu a falar nossa língua?

ÍNDIO ACARAJÉ TACOÉ (relata)_Acarajé Tacoé, cafuné é na vossa mãe. Um homem chamado Sardinha esteve aqui e povo da tribo comeu ele, mas carne estava estragada e povo ficou doente, mas grande espírito do mar veio para curar os doentes, seu nome era Pedro Álvares Cabral, ele fundou vila, trouxe povo de além-mar, sua gente mora na vila da curva, logo ali.

CONDESSA MARIA ARENGA (olha no horizonte)_Gente e não é que tem uma vila lá mesmo.

AGRIPA (surpreso)_Espera, o senhor disse Pedro Álvares Cabral, eu ouvi bem, foi esse nome mesmo?

ÍNDIO ACARAJÉ TACOÉ (responde)_Sim, homem branco de além-mar não está enganado, grande espírito do mar Pedro Álvares Cabral, chegou aqui, salvou tribo da maldição do sardinha e fundou vila para povo de além-mar.

AGRIPA (põe a mão no queixo)_Foi o próprio Pedro Álvares Cabral que elaborou este mapa, maldito, de nada adiantou minha querida você ter roubado o mapa do rei, Cabral tem outras cópias com certeza, mas nem precisa ele sabe o caminho.

CONDESSA MARIA ARENGA (alegra-se)_É claro que adiantou, estamos aqui nas terras do novo mundo e vamos encontrar as minas de ouro e diamante antes que Cabral volte com a esquadra

do rei; Afinal temos o mapa das ricas minas.

AGRIPA (pergunta)_E como vamos chegar a essas minas, Cabral deixou seus capangas aqui justamente para que tomem conta da preciosidade que escondem essas terras.

CONDESSA MARIA ARENGA (demonstra charme)_Nada que uma bela mulher e um pouco de run não conseguem arrancar do líder desses capangas.

AGRIPA (concorda)_Tens razão minha querida, tens razão.

Eles são levados pelo Índio Acarajé Tacoé até a vila da curva e apresentados ao Chefe da vila Tibério Porcaro, homem

de confiança de Cabral, amigo de infância de Agripa.

AGRIPA (surpreso)_Se não é meu grande amigo Tibério Porcaro, o que faz nessas terras distantes?

TIBÉRIO PORCARO (pergunta surpreso)_O que faz aqui neste fim de mundo o homem de confiança da família real?

AGRIPA (responde ressabiado)_Vim a serviço de nossa majestade para a segurança das minas de ouro e diamante.

TIBÉRIO PORCARO (em dúvida) _Mas Cabral não disse nada sobre isso quando aqui nos deixou em seu retorno a Portugal.

AGRIPA (reforça)_Pois foi Cabral que aconselhou o rei para que me enviasse, sou homem de confiança do rei, ninguém mais preparado que eu para proteger as riquezas de Portugal.

TIBÉRIO PORCARO (cumprimenta a todos) _Pois bem, se o rei os enviou então sejam bem vindos, a vila é pequena mas segura.

CONDE ASPILCUETA (põe os dedos no nariz)_Onde fica o palácio do rei nessas terras selvagens, a senhora minha mãe precisa de um banho bem quente pois cagaste em toda a roupa e está a feder.

CONDESSA MARIA ARENGA (lamenta)_É uma cruz essa que carrego.

TIBÉRIO PORCARO (revela)_Não existe palácio neste fim de mundo mas temos uma tapera bem grande, vou pedir que meus homens expulsem os miseráveis degredados que lá estão para que todos se alojem lá.

AGRIPA (ordena)_Que assim seja feito e logo.

Eles são levados em carroças até a tapera…

CONDESSA MARIA ARENGA (faz cara de nojo)_E essas mulheres, quem são?

TIBÉRIO PORCARO (revela)

_Essa é a tapera da bocarra, são mulheres perdidas senhora, não converse com elas, são pecadoras, degradadas de Portugal.

AGRIPA (sorri)_Pelo menos nossa diversão está garantida Miguel.

MIGUEL (olha os peitos de uma das mulheres)_Lindas pecadoras degradadas.

CONDE ASPILCUETA (pisca para uma das mulheres)_Eu acho...

CONDESSA MARIA ARENGA (irritada)_Cale-se seu imprestável, você não acha nada.

CONDESSA MINERVINA (suada põe a mão na barriga e solta puns)_Ai que estou a cagaire de novo, a carne daquela cadela deveria estar envenenada.

CONDESSA MARIA ARENGA (tapa o nariz com os dedos)_Pois leve vossa mãe para cagaire em meio a floresta, não estou a suportar a fedentina.

Puns e gritos são ouvidos vindos da moita

CONDESSA MINERVINA (irritada)_Ai! Ui! Jesuis, Santa Maria, acuda-me escrava preguiçosa, ora pois, limpe logo minha bunda que estão os mosquitos que nesta terra te aos montes a querer me levar com eles.

ESCRAVA BELA DO CONGO (reclama)_Pois sempre sobra para um escravo infeliz limpar a bunda de uma velha cagona.

CONDESSA MINERVINA (irritada)_Estais a reclamar? Não sei onde estou que não lhe dou uns corretivos.

TIBÉRIO PORCARO (olha discretamente para Bela do Congo) _É escravo ou escrava a negrinha?

CONDESSA MARIA ARENGA (discretamente)_Ambos, modernidades de Lisboa.

CONDE ASPILCUETA (ar autoritário)_Quando chegarmos ao palácio colocaremos o escravo no tronco.

CONDESSA MARIA ARENGA (irritada)_Se tiver um tronco por aqui meu querido, colocarei você nele, deixe Bela do Congo em paz. Já foi dito que não existe palácio neste fim de mundo, ora pois.

TIBÉRIO PORCARO (mostra o casebre) _Aqui estamos, está é a melhor tapera da Vila, fiquem a vontade.

CONDESSA MINERVINA (com um lenço no rosto tenta diminuir o calor)_Fico a imaginar qual seria a pior, venha logo escrava imprestável, traga minhas bagagens.

ESCRAVA BELA DO CONGO (reclama)_Olha, vou avisar, dou na cara dessa velha, aí ela vai ver a mão calejada no

meio da cara. Ai que me esquenta os neuvos.

CONDESSA MARIA ARENGA (faz cara de nojo)_Esqueça a velha e leve logo essas tralhas pois estou cansada, precisando de um agradável banho.

TIBÉRIO PORCARO (convida) _Amigo Agripa, eu o espero a noite para falarmos de negócios.AGRIPA (fala sussurrando)_Temos muito o que conversar, estarei lá.

Capítulo 4

Agripa, a Condessa Maria Arenga, o Conde Aspilcueta, Dona Minervina, Bela do Congo e Miguel vão a festa de boas vindas e encontram com Tibério Porcaro, o Índio Acarajé Tacoé, Assunção filha do

Índio Acarajé Tacoé e Vicente filho de Tibério Porcaro

TIBÉRIO PORCARO (faz as apresentações)_Sejam bem vindos. Agripa, esse é meu filho Vicente, meu braço direito.

Eles se cumprimentam e Vicente fica de olhos arregalados para a Condessa Maria Arenga

VICENTE (beija a mão da Condessa Maria Arenga)_Senhora, seja bem vinda as terras do novo mundo.

BELA DO CONGO (estica a mão em direção a Vicente)_Epa! Também quero beijo de mão.

DONA MINERVINA (bate na mão de Bela do Congo)_Mas é descarada mesmo, olhe se o rapaz irá beijar essa mão a feder bunda.

BELA DO CONGO (reclama)_Essa velha só me tirando, dou na cara dela. Ai que me esquenta os neuvo.

O Índio Acarajé Tacoé coloca cordões no pescoço de todos, seus rostos são pintados e os recém chegados passam pela cerimonia de purificação.

BELA DO CONGO (aponta com o dedo)_A velhota ficou igual aqueles espantalhos usados nas plantações de azeitonas em Portugal. (gargalhadas e bate os pés no chão)

DONA MINERVINA (acha que Bela do Congo está dançando)_Mas a escrava está possuída pelo demônio, veja se isso é dança para apresentar a pessoas da alta sociedade Portuguesa, ora pois.

VICENTE (fala ao ouvido da Condessa Maria Arenga)_Senhora, é de rara beleza, porque se arriscar nesta terra selvagem cheia de perigos?

CONDESSA MARIA ARENGA (responde)_Chega um momento na vida que devemos arriscar sem medo de perder, já me sinto vitoriosa estando ao lado de um homem tão gentil.

VICENTE (fala sussurrando no ouvido da Condessa Maria Arenga)

_Me encanta vossa beleza, dou lhe o que quiser mas seja minha.

CONDESSA MARIA (pergunta)_O que eu quiser?

VICENTE (responde)_Sim, o que quiser.

CONDESSA MARIA ARENGA (fala no ouvido de Vicente)_Eu quero chegar as minas de ouro e diamantes, quero que me leve lá e aí nos livramos dessa gentalha toda.

VICENTE (se empolga)_Pode ter certeza que eu a levarei até lá e daremos um jeito de nos livrar de todos eles.

ÍNDIA ASSUNÇÃO(sussurra a Agripa)

_Deve ter cuidado com Vicente e a Condessa, sinto que eles podem se tornar perigosos.

AGRIPA (bebe um cálice e responde)_Obrigado, quanto a condessa sei bem com quem estou lidando já Vicente se atravessar meu caminho não terei piedade.

MIGUEL (aparece correndo)_Agripa, temos que sair daqui agora, a esquadra de Pedro Álvares Cabral está desembarcando na praia neste momento.

AGRIPA (ordena)_Pegue os cavalos e a carroça, enquanto estão todos na praia nós estaremos a caminho das minas.

CONDESSA MARIA ARENGA (ouve o que Miguel fala a Agripa)_Nada disso meu querido, irei com você.

CONDE ASPILCUETA (ordena)_Todos iremos.

Na tapera…

CONDE ASPILCUETA_Bela do Congo se apresse criatura, vamos partir agora.

DONA MINERVINA (abana o lenço no rosto)_Ai que já me cago toda só de pensaire em tal viagem.

BELA DO CONGO (reclama)

_Tudo eu, tudo eu, burro de carga, tomara que canibais comam a velha antes que me cague toda novamente.

CONDESSA MINERVINA (vai atrás de Bela do Congo)_Disseste alguma coisa escrava impertinente?

BELA DO CONGO (levanta as mãos para cima)_Quem? Eu? Estou aqui a pensar com meus parafusos.

CONDESSA MARIA ARENGA (sorri)_Pois aperte bem esses parafusos pois estão bem descontrolados, vamos que é chegada a hora.

AGRIPA (vê Vicente e pergunta?)_O que ele faz aqui?

CONDESSA MARIA ARENGA (entra na frente de Vicente e responde)_Vicente irá nos levar em segurança até as minas de ouro e diamante.

AGRIPA (sobe na carroça)Então vamos, não demora e os homens de Cabral estarão na Vila e saberão que partimos.

MIGUEL (pega as rédeas da carroça)_Não podemos perder tempo.

ÍNDIA ASSUNÇÃO (chega)_Vou também, conheço os perigos da floresta, poderei ajudar.

AGRIPA (sorri)_Sem demora, vamos todos.

CONDESSA MINERVINA (balança o lenço no rosto)_Aí como balança essa porcaria.

ÍNDIO BOCA DE ANTA (entra na frente da carroça)_Querer comer carne branca.BELA DO CONGO (olhos esbugalhados)_Dessa eu me escapei.

DONA MINERVINA (aponta para Bela do Congo)_Ora pois, coma a escrava que não serve para nada.

BELA DO CONGO (levanta na carroça)_Mas olha só que velhota mal agradecida, não sirvo para nada, e limpar essa bunda cagada quem o faz. Come a velha seu boca de mula que é

carne nobre. Ai que me esquenta até os neuvo.

ÍNDIO BOCA DE ANTA (irritado)_Boca de mula é a da sua avó.

BELA DO CONGO (pergunta)_De onde essa criatura desalmada conhece minha avó?CONDESSA MARIA ARENGA (balança a mão)_Vá comer o diabo que aqui não tem carne boa a ser comida.

AGRIPA (pede ajuda a índia Assunção)_Pode nos ajudar?

ÍNDIA ASSUNÇÃO (desce da carroça)_Sim, vou falar com ele. Debotoco, lamurica, dafunta, chimungo dabunta.

BELA DO CONGO (aponta para a Condessa Minervina)_Da bunda é com a velha cagada aqui, pode comer seu boca santa.

CONDESSA MINERVINA (bate o lenço em Bela do Congo)_Mas que desaforada, dou uma na cara dessa escrava imprestável.

BELA DO CONGO (cara de nojo)_Pela cara ela falou da carne podre da velha.

CONDESSA MINERVINA (balança o lenço no rosto)_Olha escrava, não lhe dou um corretivo pois estou a cagaire de medo mas espera que vai ser ver comigo.

ÍNDIA ASSUNÇÃO (relata)

_Ele disse que não vai comer carne branca estragada mas quer seguir em viagem pois seus olhos se encantaram com carne queimada.

BELA DO CONGO (reclama)_Epa! Isso de carne queimada é comigo? Dou na cara desse índio boca de mula.

A viagem continua…

AGRIPA (pergunta)_E agora, o que é isso?

VICENTE (responde)_Esse é o velho do cajado, ele vive na floresta, muitos o temem, dizem que é um bruxo.

VELHO DO CAJADO (sobe na carroça)

_Vou com vocês para as minas de ouro, conheço os perigos da floresta e posso ajudar.

BELA DO CONGO (faz cara feia)_Mais uma cangalha velha, espero não ter que limpar a bunda também.

CONDESSA MARIA ARENGA (põe os dedos no nariz)_Limpar a bunda não creio mas a catinga teremos que suportar.

BELA DO CONGO (reclama)_Não é só o bruxo que fede, alguém saltou os gases aí. Se apertem pra lá, que coisa, ficam me encochando aqui.

CONDE ASPILCUETA (com os dedos no nariz)_Foi a mula que puxa a carroça.

CONDESSA MARIA ARENGA (com os dedos no nariz)_Fácil culpar a mula ela não tem como se defender.

CONDESSA MINERVINA (com o lenço no nariz)_Foi a escrava pode conferir o rabo cagado.

BELA DO CONGO (se irrita e se levanta)_Agora vou dá na cara da velha, me segura que dou na cara dessa velha.

AGRIPA (grita)_Vamos parar com essa confusão que a carroça vai a se desmanchar com tanta gente em cima.

Capítulo 5

Na cabana do Velho do Cajado…

VELHO DO CAJADO (mostra a cabana no meio da floresta)_Vamos passar a noite em minha cabana, pela manhã continuamos a viagem.

BELA DO CONGO (sente algo lhe encostando)_Que isso? É velho do cajado ou velho do porrete que isso que tá me encochando aqui não tem nada de cajado não.

CONDESSA MINERVINA (reclama)_Estais a bolinar uma Condessa escrava desalmada?

BELA DO CONGO (irritada)_E eu lá vou perder meu tempo apalpando bunda de velha, era só o que me faltava.CONDE ASPILCUETA (pergunta)

_Quem peidou na minha frente?

CONDESSA MINERVINA (responde com o lenço no nariz)_Ora pois, claro que fostes a escrava desalmada.

BELA DO CONGO (levanta e reclama)_Olha, isso tá virando Bullying, dou na cara dessa velha ingrata. Ai que me esquenta os neuvo.

AGRIPA (irritado)_Vamos parar que eu quero dormir, teremos um longo dia amanhã, vou dizer a verdade, não merecia tal castigo.

CONDESSA MARIA ARENGA (pergunta)_Quem está a roncar feito um porco selvagem?

BELA DO CONGO (acusa o Velho do cajado)_Isso é coisa do velho da bengala.

VELHO DO CAJADO (responde serenamente)_É vossa avó pois estou quieto aqui no meu canto. Culpe o conde bêbado.

BELA DO CONGO (reclama e pergunta)_Mas de novo, de onde conhecem minha saudosa avó?

MIGUEL (se levanta)_Calem-se, ouçam.

VELHO DO CAJADO (revela)_É o cabeça inchada a rodar a floresta em busca de suas vítimas.

BELA DO CONGO (põe as mãos na cabeça)_Meu pai eterno que leve a velha que já está a hora da morte e nos deixe em paz.CONDESSA MINERVA (levanta e se esconde debaixo de um cobertor)_Ora pois, quem está a beira da morte? Que leve a escrava desalmada que para nada serve.

CONDE ASPILCUETA (ordena)_Calem-se o som está aumentando.

VELHO DO CAJADO (levanta)_Esta vindo em direção a cabana, teremos que escolher alguém para que o cabeça inchada leve.

ÍNDIA ASSUNÇÃO (põe a mão no peito)_Vamos lutar.

ÍNDIO BOCA DE ANTA (fala)_Debotoco, timbuca, nanuca.

ÍNDIA ASSUNÇÃO (responde)_Carumbê, chibata naruga.

VELHO DO CAJADO (fecha os olhos e fala)_Vent aquilon ferá. Vent aquilon ferá. Vent aquilon ferá. (um forte vento toma a cabana)

AGRIPA (olha para o alto)_Parou.

MIGUEL (suando)_Foi embora.

CONDESSA MINERVINA (escondida debaixo do cobertor)

_Jogue a escrava desalmada lá fora para ver se foi embora mesmo.

BELA DO CONGO (irritada)_Coloque a cabeça da velha pra fora, se tiver ido não arrancará os poucos miolos que ela tem.CONDESSA MARIA ARENGA (pede a arma de Miguel)_Me dê essa arma, parece que aqui não tem homem, vou olhar se o cabeça inchada foi embora.

VELHO DO CAJADO (adverte)_Cuidado, o cabeça inchada é traiçoeiro, ele vai ficar esperando uma oportunidade para trocar de cabeça. (música de suspense)

CONDESSA MARIA ARENGA (pergunta)_Não podem fazer nada?

ÍNDIA ASSUNÇÃO (olha pela janela)_Podemos, vamos ficar calados até o amanhecer, aqui na cabana ele não entrará.

VELHO DO CAJADO (com calma)_Ele não nos atacará com o nascer do sol.

ÍNDIO BOCA DE ANTA (revela)_É uma criatura das trevas.

BELA DO CONGO (põe as mãos na cabeça)_Meu pai eterno, onde eu fui enfiar minha nobre existência.

CONDESSA MINERVINA (escondida debaixo do cobertor)

_Nobre existência, pois fala sério escrava desalmada lá tem alguma nobreza.

BELA DO CONGO (fecha a mão em direção a Condessa Minervina)_Se eu não tivesse tão neuvosa dava na cara da velha bunda azeda.

AGRIPA (irritado)_Vamos parar e ficar quietos ou querem que essa mula sem cabeça arranque as de vocês que para nada serve?Ao amanhecer, todos saem apavorados e sobem na carroça, a viagem continua...

AGRIPA (pede pressa)_Vamos logo, não temos muito tempo, logo os homens de Cabral estarão em nosso encalço.

DONA MINERVINA (reclama)_Ai que não estou a aguentar tantos solavancos nesta carroça.

BELA DO CONGO (irritada)_Que fique aqui então para ser levada pelo Cabeça Inchada.

CONDESSA MINERVA (chora)_Estão vendo o que recebo dessa escrava desalmada por protegê-la.

BELA DO CONGO (debocha)_Me proteger, conta outra que essa piada é velha.

CONDESSA MINERVINA (irritada)_Não sei onde estou que não dou uma na cara dessa escrava desalmada.

CONDESSA MARIA ARENGA (irritada)

_Vamos parar, não quero saber de brigas até o fim dessa viagem.

VICENTE (olha para a Condessa Maria Arenga)_Logo chegaremos ao local onde foi encontrado ouro e diamantes.

FinalVELHO DO CAJADO (aponta o cajado)_É o cabeça Inchada, corram.

CONDESSA MINERVINA (grita)_Que leve a escrava desalmada.

BELA DO CONGO (se defende)_Nem na hora da morte essa velha picareta me esquece.

CONDE ASPILCUETA (corre)_Picando a mula.

CONDESSA MINERVINA (grita)_Irás abandonar a própria mãe?

CONDE ASPILCUETA (continua correndo)_Que se lasque, eu quero é viver.

CONDESSA MARIA ARENGA (põe as mãos na cintura)_Olha, mas que canalha.

AGRIPA (dá a mão a Condessa Maria Arenga para descer da carroça)_Sempre fostes, vamos minha querida.

VICENTE (grita)_Vamos lutar.

ÍNDIA ASSUNÇÃO (esconde atrás da árvore)_ Eu tô é fora.

ÍNDIO BOCA DE ANTA (esconde atrás da árvore)_Saindo pela moita.

MIGUEL (aponta com o dedo)_Vamos por ali.

VELHO DO CAJADO (olhos esbugalhados)_O cabeça Inchada pegou a escrava.

CONDESSA MINERVINA (se desespera)_Ai que me caguei toda, quem irá me limpar se o Cabeça Inchada levou a escrava desalmada.

CONDE ASPILCUETA (suado relata)_Nossa! A escrava desalmada deu uma joelhada bem no queixo do Cabeça Inchada.

VELHO DO CAJADO (debocha)_Além da cabeça, agora o queixo inchado.

CONDE ASPILCUETA (suado relata)_Meu pai eterno, a escrava desalmada deu uma chave de braço no cabeça inchada.

VELHO DO CAJADO (olha para cima e pra baixo)_Passou voando um dente aqui do cabeça inchada.

CONDESSA MARIA ARENGA (bate palmas)_Bela do Congo lhe deu uma bela surra.

Todos olham admirados para Bela do Congo

BELA DO CONGO (bate as mãos e as coloca na cintura)_E tenho dito e se quiser apanhar mais estou a disposição. Que foi gente, aprendi tudo na tribo onde nasci na África.

AGRIPA (revela)_Mas a cabeça inchada, que está inchada e quebrada é de Pedro Álvares Cabral.

VICENTE (aponta o dedo e fala a Bela do Congo)

_Você espancou um legítimo representante da coroa portuguesa.

CONDESSA MARIA ARENGA (surpresa)_Mas e não é Pedro Álvares Cabral em cabeça e corpo.

PEDRO ÁLVARES CABRAL (reclama)_Ai, ui, ai que me lasquei todo nessa terra selvagem, bem que minha mãe me disse, vá para as montanhas Francesas e fique longe de Lisboa ou vai acabar se lascando e não deu outra.

BELA DO CONGO (põe as mãos na cabeça)_Quem se lascou fui eu, meu pai eterno dei uma coça em Cabral.

PEDRO ÁLVARES CABRAL (acalma a todos)

_Não se preocupe que estava mesmo com a espinhela caída e pelo menos ela voltou ao lugar.

AGRIPA (pergunta)_Onde estão seus homens? Veio para nos prender?

PEDRO ÁLVARES CABRAL (responde)_Ficou louco, vim avisá-los que estão no caminho errado e tem muito ouro e diamantes pra todo mundo se esbaldar e antes que o rei leve tudo pra ele vamos fazer a festa.

AGRIPA (olha desconfiado)_Então vamos logo.

MIGUEL (grita)_Subam na carroça.

PEDRO ÁLVARES CABRAL (é levado nas costas por Bela do Congo)_Eu mostro o caminho. Obrigado querida.

BELA DO CONGO (sorri)_Disponha, aqui estou para o que der e vier.

AGRIPA (percebe a fuga de Vicente e a Condessa Maria Arenga)_Vicente e a Condessa fugiram no cavalo de Pedro Álvares Cabral.

CONDE ASPILCUETA (pragueja)_Que o cabeça Inchada os leve para o inferno.

PEDRO ÁLVARES CABRAL (revela)_Foram para as minas de ouro e diamante, vamos logo.

AGRIPA (grita)_Subam todos na carroça rápido.PEDRO ÁLVARES CABRAL (aponta com o dedo)_É ali, vejam quanto ouro e diamantes no mesmo lugar.

BELA DO CONGO (arregala os olhos e põe as mãos no rosto)_É lindo demais da conta gente.

ÍNDIO BOCA DE ANTA (aponta o dedo para si mesmo)_Quem, eu?

BELA DO CONGO (põe as mãos na cintura e faz cara de brava)_Tenha-se ao respeito que aí parece o cruzamento do javali com a hiena, veja

só, falo dos lindos diamantes. (pega um diamante) _Olha isso que coisa chique.

CONDESSA MINERVINA (tenta tomar o diamante de Bela do Congo)_Pois coloque aqui no embornal que escravo não tem direito a diamantes.

BELA DO CONGO (dá tapas na mão da Condessa Minervina)_Tira a mão que esse aqui é de Belinha do Congo minha filha.

CONDESSA MINERVINA (enche o embornal de ouro e diamantes)_Pois não lhe dou um corretivo pois estou ocupada a pegar ouro e diamantes espalhados por todos os lados, ai! Jesus!

BELA DO CONGO (se exibe)

_Picando a mula e rica.

ÍNDIO BOCA DE ANTA (se oferece)_Eu te levo.BELA DO CONGO (pergunta)_Pra onde criatura?

ÍNDIO BOCA DE ANTA (revela)_Para onde quiseres, a floresta é perigosa, corre perigo andando sozinha por aí.

BELA DO CONGO (sorri)_Olha eu, rica, cheia dos ouro e diamante e um índio caído nos meus pés, me dei bem nessa história rapaiz.

CONDESSA MINERVINA (irritada)_Mas a escrava desalmada deve estar louca se pensas que a deixarei ir.

CONDE ASPILCUETA (balança as mãos)

_Pois deixe que vá, agora estamos ricos, compraremos um monte de escravos em Paris quando chegarmos lá.

VELHO DO CAJADO (revela)_Pois eu vou com Cabral para as índias, tenho muito que aprender por lá.

AGRIPA (revela)_Eu ficarei aqui, Índia Assunção tem muito o que ensinar sobre a floresta.

MIGUEL (revela)_Irei com Cabral, o mar é meu lugar.

Agripa e a índia Assunção entraram para o interior

e nunca mais se teve notícias deles.

Condessa Maria Arenga e Vicente roubaram a

caravela de Agripa e foram para a Inglaterra e não

se teve mais notícias dos mesmos.

Conde Aspilcueta e Condessa Minervina foram

para a França de carona em uma caravela francesa ,

lá perderam tudo nos cassinos e acabaram em um

asilo limpando bundas.

Bela do Congo e Índio Boca de Anta foram vistos

pela última vez em uma aldeia na praia ao sul de

Vila da Curva onde eram os reis.

Velho do Cajado e Miguel foram para a Índia e

aprenderam Ioga e meditação.

O cabeça Inchada não passa de uma lenda, pode ser

que ele esteja por aí ainda e tenha virado um

político, vai saber.

O Índio Acarajé Tacoé aprendeu falar bem o

Português e colocou uma barraca na praia para

vender acarajé aos viajantes das caravelas que por

lá apareciam.

Tibério Porcaro ficou viúvo se casou com uma das

mulheres da taberna da bocarra e voltou a Portugal

onde morreu de velhice.

Pedro Álvares Cabral teve o silêncio de todos

comprado com ouro e diamantes e em 1500 chegou

e deu o grito “Terra à vista” e ficou com os créditos

da história.